liberdade e criatividade no behaviorismo radical: uma análise ilustrativa do filme “a vila”
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Liberdade e Liberdade e Criatividade Criatividade
no no Behaviorismo Behaviorismo
Radical:Radical:
Uma análise Uma análise ilustrativa do ilustrativa do filme “A Vila”filme “A Vila”
Comportamento Social eComportamento Social e
Práticas CulturaisPráticas Culturais
“O comportamento socialcomportamento social pode ser definido como o comportamento de duas ou mais pessoas em comportamento de duas ou mais pessoas em
relação a uma outra ou em conjunto em relação relação a uma outra ou em conjunto em relação ao ambiente comumao ambiente comum. (...) Há, é claro, muitos fatos
referentes a governos, guerras, migrações, condições econômicas, procedimentos culturais etc. – que nunca
se prestariam ao estudo se as pessoas não se juntassem e se comportassem em grupo, mas ainda assim continua a questão de se saber se os dados
básicos são fundamentalmente diferentes. Aqui nos interessamos pelos métodos das ciências naturais como vimos funcionando na Física, na Química, na
Biologia, e com os termos aplicados ao campo do termos aplicados ao campo do comportamentocomportamento. Até onde nos levarão no estudo do
comportamento de grupos?”
(Skinner, 1953, p. 171)
“Uma prática culturalprática cultural é um conjunto de contingências entrelaçadas de reforçamento, no
qual o comportamento e os produtos comportamentais de cada participante funcionam
como eventos ambientais com os quais o comportamento de outros indivíduos interage”
(Glenn, 1988, p. 167)
“É sempre o indivíduo que se indivíduo que se comportacomporta, e que se comporta
com o mesmo corpo e de acordo com os mesmos
processos usados em uma situação não social. (...) O
comportamento do indivíduo explica o fenômeno do grupo”
(Skinner, 1953, p. 171)
• Ambiente Ambiente socialsocial
• Estímulo Estímulo socialsocial
• Reforço Reforço socialsocial
Instalação e manutenção de Instalação e manutenção de práticas culturais para garantir a práticas culturais para garantir a
sobrevivência da culturasobrevivência da cultura
• Educação instalação/aprendizagem de respostas adequadas à cultura
• Controle coercitivo punição de respostas inadequadas
• Regras “metacontingências cerimoniais” (Glenn, 1986)
• Manutenção reforçamento de respostas adequadas
Objeto de análise: “A Vila”Objeto de análise: “A Vila”
• Comunidade caracterizada pelo isolamento e por regras rígidas no
que diz respeito aos limites/fronteiras com a floresta, onde vivem “Aqueles-
de-quem-não-falamos”.
• Alguns rituais e regras devem ser seguidos para manter a segurança
dos membros da cultura.
• Os limites da floresta não devem ser violados de forma alguma.
EducaçãoEducação
“A educação é o estabelecimento de estabelecimento de comportamentoscomportamentos que serão vantajosos
para o indivíduo e para os outros em algum tempo futuro. (...) A educação dá ênfase à aquisição do comportamentoaquisição do comportamento em lugar
de sua manutenção. (...) Ao preparar o indivíduo para as situações que ainda não surgiram, os operantes discriminativos são colocados sob controle de estímulos que
provavelmente ocorrem nessas situações.”
(Skinner, 1953, p. 226)
Cena 1Cena 1
EscolaEscola
Contexto da cena:Contexto da cena:
Crianças encontram um animal morto de forma
violenta e estranha
Professor “ensina” as crianças a responder diante
desse estímulo
Tentativa de “instalar” uma única resposta pré-determinada
• Indução da resposta-alvo dicas cada vez mais explícitas sobre a
resposta
Tecnologia de ensino
método “socrático”
Escola como Agência de Escola como Agência de ControleControle
Regras preenchem o “espaço” entre a resposta e a conseqüência
da resposta do indivíduo
• coloca os operantes discriminativos sob controle de estímulos que provavelmente provavelmente
estarão presentesestarão presentes em situações futuras
Os indivíduos não precisam estar Os indivíduos não precisam estar em contato com as conseqüências em contato com as conseqüências “naturais” de seu comportamento “naturais” de seu comportamento para que este se mantenhapara que este se mantenha
O que mantém o O que mantém o comportamento é a comportamento é a
fuga/esquiva da conseqüência fuga/esquiva da conseqüência aversiva do não seguimento da aversiva do não seguimento da regra sobre o comportamento e regra sobre o comportamento e
o reforço social por seguir a o reforço social por seguir a regraregra
ResultadosResultados
A curto prazocurto prazo inibem a variabilidade de respostas
...conseqüentemente, impedem a instalação de repertórios de comportamentos criativos
Pode tornar os indivíduos Pode tornar os indivíduos insensíveis às conseqüências insensíveis às conseqüências
futuras para respostas não mais futuras para respostas não mais adequadasadequadas
A longo prazolongo prazo diminui a probabilidade de resolução de novos
problemas que surjam inesperadamente no ambiente do
grupo
...conseqüentemente, torna o grupo vulnerável à mudanças inesperadas
Tornaria a cultura impermeável Tornaria a cultura impermeável à mudanças e à evoluçãoà mudanças e à evolução
LiberdadeLiberdade
• tomar contato com as
contingências naturais
• seguir regras torna o indivíduo incapaz de “sentir-se livre”
• controle coercitivo através de regras de conduta, regras morais, regras sociais etc.
AlternativasAlternativas• Instalação de repertórios de
comportamentos novos e criativos
• Variabilidade de respostas diante de situações novas e inesperadas
• Tais respostas poderiam, então, ser selecionadas até que se chegasse a uma ou mais respostas que fossem
adequadas ao contexto e à resolução de problemas novos
Controle CoercitivoControle Coercitivo
“Embora não possamos evitar o controle, ele pode assumir muitas
formas, algumas coercitivas outras, não. Coerção é uma subcategoria subcategoria do controledo controle. (...) Podemos definir
objetivamente coerção, identificá-la em situações práticas e fazer algo a
este respeito.”
(Sidman, 1989, p. 47)
“As culturas em geral controlam seus membros através de estímulos estímulos
aversivosaversivos, quer como reforçadores negativos que fortalecem o
comportamento desejado, quer como punições que suprimem o
comportamento indesejado. Assim, as culturas asseguram que seus
membros são responsáveisresponsáveis pelo que fazem e os membros ‘se sentem’
responsáveis”.
(Skinner, 1989, p. 48)
Cena 2Cena 2
CaixaCaixa
Contexto da cena:Contexto da cena:Os “Anciões” – primeiros moradores da comunidade – mantém uma caixa
trancada em suas casas
Essa caixa é um segredo inviolável para essas pessoas
Quando há um risco para a comunidade, os Anciões abrem suas
caixas...
Manutenção das Práticas Manutenção das Práticas CulturaisCulturais
“Quando falamos de um planejamento deliberado da cultura queremos indicar a introdução de uma prática
cultural por causa de suas por causa de suas conseqüênciasconseqüências.”
(Skinner, 1953, p. 240)
CaixaCaixa tem função de S AversivoS Aversivo
Evoca respostas emocionais aversivas: tristeza, medo, raiva...
etc. condicionadas ao S Av
mantém o comportamento de esquivaesquiva desse S (e cessa as
respostas aversivas condicionadas)
A permanência dos indivíduos na Vila –
cultura isolada – onde não há a contingência
ambiental aversiva “causadora” desses sentimentos “ruins”
pode ser interpretada como uma resposta resposta
de esquivade esquiva da condição aversiva anterior: violência
urbana.
“Abrir a Abrir a caixacaixa” para
os integrantes dessa cultura
significa provocar
novamente, mesmo que
em intensidade
muito menor, aqueles sentimentos e emoções aversivas dos quais eles
pretendem se proteger na Vila
Primeiro elo da cadeia comportamental que
estabelece e mantém as práticas culturais para aqueles indivíduos que
estão sob controle dessa estimulação.
• Primeira geraçãoPrimeira geração prática cultural é mantida por
fuga/esquiva da estimulação aversiva (violência urbana e
sentimentos e emoções condicionadas...)
• Segunda geraçãoSegunda geração prática cultural mantida por controle
coercitivo, seguimento de regras e reforçamento social
Cena 3Cena 3
Morte do Morte do paipai
Contexto da cena:Contexto da cena:
Lucius vai até a reunião do conselho dos Anciões e pede para atravessar a floresta
Ele quer ir para as Cidades em busca de remédios que não existem na comunidade
Na cena anterior ele percebe que outro personagem, Noah, havia entrado na
floresta e não havia sofrido ataques das criaturas
Os Anciões não permitem que ele vá, a pedido de sua mãe... Ele fica
inconformado...
Lucius não responde mais sob controle da contingência cerimonial (regra)
Observa que não há conseqüências para o comportamento de Noah (= entrar
na floresta)
• entra em contato com a entra em contato com a contingência “real” contingência “real”
passa a ser controlado pela passa a ser controlado pela contingência e não pela contingência e não pela
regraregra
Mãe estabelece novo contato com contato com conseqüências aversivasconseqüências aversivas da resposta
de entrar na floresta/ir para a cidade
• narrar a morte violenta do painarrar a morte violenta do pai
Provoca reações emocionais aversivas condicionadas –
provavelmente mais fortes que as de “quebrar a regra” – em Lucius, como forma de provocar o mesmo tipo de
conseqüência aversiva que mantém seu próprio comportamento
Tentativa de manter a prática cultural colocando novamente o indivíduo sob
controle de conseqüências conseqüências
aversivasaversivas mais fortes manter o controle do comportamento de
fuga/esquiva
Cena 4Cena 4
““Você Você pretende viver pretende viver para sempre?”para sempre?”
Contexto da cena:Contexto da cena:
Lucius sofre um ataque violento de Noah e está entre a vida e a morte
Ivy, sua noiva e filha do chefe da comunidade – Mr. Walker – pede permissão
para atravessar a floresta em busca de remédios que podem salvar Lucius
Mr. Walker concede permissão à ela sem antes convocar o conselho de Anciões
Nesta cena ele argumenta com os Anciões sobre os motivos de sua decisão...
Necessidade de emissão de respostas diferentes para a resolução
de problemas novos (nunca antes vivenciados)
Conseqüência imediata que mantém a prática comportamental
não é mais adequada à contingência ambiental
Variabilidade Variabilidade ComportamentalComportamental
• Morte de Lucius põe em risco a
sobrevivência da sobrevivência da culturacultura:
Crime violento vai contra a “razão de ser”
da comunidade
“As culturas também mudam ou perecem, e não devemos esquecer que são
criadas pela ação ação individualindividual e sobrevivem
apenas através do comportamento de comportamento de
indivíduosindivíduos.”
(Skinner, 1953, p. 251)
Para manter a prática cultural estabelecida é necessário que haja uma mudança na regra permitir que uma
pessoa atravesse a floresta e vá à cidade
Bem maior = bem da Bem maior = bem da culturacultura
Bem da cultura = Bem da cultura = sobrevivência dos sobrevivência dos
indivíduosindivíduos
“A sobrevivência temporária de uma cultura não é a prova de sua
excelência. Todas as culturas atuais obviamente sobreviveram, muitas
delas sem mudar muito por centenas de anos, mas isto pode não significar que sejam melhores que outras que
pereceram ou sofreram modificações drásticas em circunstâncias mais
competitivas”
(Skinner, 1953, p. 242)
“Mr. Walker:Mr. Walker: Quem você acha que continuará esse
lugar? Esta vida? Você planeja viver para
sempre?
Nosso futuro depende deles... É em Ivy e Lucius
que este estilo de vida continuará.”
A manutenção das práticas culturais da comunidade depende da sobrevivência dos indivíduos dessa
comunidade
É através dos indivíduos que as práticas culturais são mantidas e
transmitidas de geração para geração
Uma prática só tem valor para a sobrevivência da cultura se tem valor de sobrevivência para os indivíduos
dessa cultura
““O ambiente O ambiente determina o determina o
indivíduo indivíduo mesmo mesmo
quando este quando este altera o altera o
ambiente”ambiente”
(Skinner, (Skinner, 1953, p. 251)1953, p. 251)