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Liderança Feminina
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ÍNDICE
A realidade das mulheres no mundo do trabalho .......................................................3
Liderança feminina: seis CEOs apresentam suas ideias sobre o tema ............................7
O sonho grande de ter mais mulheres brasileiras na liderança .................................. 13
O dia a dia de uma engenheira no Exército brasileiro................................................17
A rotina da presidente da Microsoft Brasil ............................................................. 23
O dia a dia da advogada que assessora fusões &aquisições bilionárias ....................... 29
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade civil pode transformar políticas públicas .............................................................. 34
Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização social que gera milhares de reais em renda para artesãs brasileiras ................................... 40
Conheça a história da astrofísica brasileira premiada pela Unesco ............................ 45
‘Minha vontade é impactar muita gente’, diz Marcela Trópia, que planeja ser a vereadora mais nova de Belo Horizonte ........................................ 49
Do mercado financeiro a uma revolução no terceiro setor ......................................... 53
Na Prática recomenda: livro ‘Faça Acontecer’, de Sheryl Sandberg ............................. 58
Liderança feminina está em pauta. De altas executivas, como a diretora do FMI Christine Lagarde e a COO
do Facebook Sheryl Sandberg, a profissionais nas mais diversas áreas e países, as mulheres (e também os homens) estão batalhando pela causa no dia a dia, discutindo desigualdade de gêneros e propondo soluções.
O que está em jogo, no final das contas, é simples de explicar: igualdade de oportunidades para homens e mulheres no mercado de trabalho, desde recrutamento e seleção até as políticas de promoção e crescimento profissional. As formas de se atingir esse objetivo, por outro lado, não são tão simples assim.
Mesmo diante desse cenário complexo, um número cada vez maior de empresas está abrindo espaço para discussões sobre liderança feminina – e não só porque a diversidade é a escolha moralmente correta, mas porque rende frutos financeiros. Impacta no bolso dos acionistas. Segundo uma pesquisa de 2015 da consultoria McKinsey chamada “Diversity Matters”, companhias mais diversas em termos de gênero têm faturamento até 15% acima da média de suas indústrias. Ainda há muito pela frente, é
verdade. Apenas 9% das posições de CEOs do mundo são ocupadas por mulheres e o gap de gêneros, causado por uma série de fatores, ainda é significativo em todos os níveis hierárquicos. No Brasil, segundo o mesmo relatório, as mulheresrepresentam em média apenas 6% daequipe de altos executivos.
Conhecer as histórias de mulheres que venceram esses desafios é uma forma de se inspirar e ganhar fôlego para reverter o cenário desigual. Este material traz algumas dessas histórias, como a trajetória da tenente Carolina Reis, primeira mulher na Diretoria de Obras de Cooperação do Exército brasileiro, Paula Bellizia, presidente da Microsoft no Brasil que lidera uma gigante tecnológica em uma das indústrias com menor inclusão feminina, e Fernanda Bastos, advogada e sócia do escritório Souza, Cescon, Barrieu & Flesch, que lida no dia a dia com fusões e aquisições bilionárias.
“É importante que o líder seja um exemplo das atitudes que acredita e defende”, resume Paula. “Ele precisa manter uma equipe diversa, refletindo o mercado no qual atuamos para podermos entender melhor as demandas dos consumidores e clientes e gerar criatividade e inovação.” Boa leitura!
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Introdução
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A realidade das mulheres no mundo do trabalho
Em um recente relatório,
intitulado “The Future of Jobs”,
o Fórum Econômico descreve
suas previsões sobre como será o
mercado de trabalho nos próximos
anos, levando em conta os principais
componentes sociais, tecnológicos
e econômicos que atuam sobre
o mercado global. O documento
chama atenção para a urgência das
questões de diversidade e igualdade
de gênero na força de trabalho, e
critica o ritmo lento dos avanços
nessa área.
As chances de uma mulher conseguir uma posição de liderança
ainda são muito menores que as dos homens (28%) e apenas 9%
dos CEOs do mundo são do sexo feminino; entenda esses dados
em um infográfico interativo
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A realidade das mulheres no mundo do trabalho
“É tempo para uma mudança
fundamental em relação à questão do
talento e da diversidade, seja de gênero,
idade, étnica ou orientação sexual”,
escrevem os autores. Na última década,
apenas 3% do gender gap econômico
global foi fechado. As chances de uma
mulher conseguir uma posição de
liderança ainda são muito menores que
as dos homens (28%) e apenas 9% dos
CEOs do mundo são do sexo feminino.
Mulheres ainda são minoria em tais
campos por diversas razões e, se um
cuidado extra não for aplicado pelas
empresas na hora de pensar sobre o
futuro, há um risco de dificultar ainda
mais o sonho de eliminar o hiato
profissional entre homens e mulheres.
No gráfico a seguir, é possível ter
uma visão mais aprofundada sobre a
representatividade das mulheres nas
diversas indústrias e níveis de carreira:
Clique para abrir gráfico >
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O relatório estima que homens perderão
cerca de 4 milhões de empregos e
ganharão outro 1,4 milhão. Quase um
novo posto para cada três perdidos. No
caso das mulheres, já subrepresentadas,
a expectativa é de um novo emprego
para cada cinco eliminados.
Os autores do documento finalizam
pedindo atenção especial ao tema
e sugere uma série de medidas, de
mecanismos de responsabilidade
empresarial a programas de
tratamento e mentoria. E um ponto
valioso da conclusão é lembrar que
a responsabilidade não termina
no escritório. Uma empresa tem a
oportunidade de impactar sua cadeia
de valores e tornar-se uma influência
externa que garanta neutralidade,
inspira meninas e jovens e desenvolva
parcerias com a sociedade civil, entre
outras possibilidades. São ações que
podem fazer toda a diferença, agora e
no futuro.
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A realidade das mulheres no mundo do trabalho
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Os homens são o outro sexo, mas não o sexo oposto. A paridade de gêneros é uma batalha que nós precisamos vencer juntos, porque é uma questão de interesse global.
– Christine Lagarde, diretora do Fundo MonetárioInternacional (FMI)
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Liderança feminina: seis CEOs apresentam suas ideias sobre o tema
Em 2014, a Organização
das Nações Unidas criou
a HeForShe, uma nova
campanha em prol da igualdade
de gêneros. O tema é um dos
Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável, que dão sequência
aos Objetivos do Milênio.
A atriz Emma Watson, então
recém-nomeada embaixadora da
boa vontade da ONU Mulheres,
foi a escolhida para apresentar a
campanha, que busca angariar
o apoio de homens em prol das
mulheres. Seu delicado discurso em
Nova York foi muito bem recebido –
e visto mais de sete milhões de vezes
no Youtube, na versão original –,
e o debate ganhou espaço.
Durante o Fórum Econômico Mundial, em Davos, líderes de
empresas como Twitter, McKinsey e Unilever discutiram o tema
em um painel mediado por Emma Watson, embaixadora da
ONU Mulheres
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Liderança feminina: seis CEOs apresentam suas ideias sobre o tema
Uma das ramificações do HeForShe é
o projeto IMPACT 10x10x10, em que
10 universidades, 10 chefes de estado
e 10 CEOs de grandes empresas se
comprometem em dar grandes passos
rumo à igualdade de gêneros em seus
respectivos campos até 2020.
Um relatório recente da McKinsey &
Co., uma das empresas comprometidas,
diz que a igualdade de gênero pode
significar um estímulo de até US$ 28
trilhões na economia mundial até 2025.
No último Fórum Econômico Mundial,
que aconteceu em janeiro, seis dos dez
líderes empresariais viajaram a Davos
para apresentar propostas e avanços
em um painel moderado por Emma e
colegas. Confira abaixo os destaques de
cada um:
McKinsey & Co.“A igualdade não é apenas um
tema moral, mas econômico e de
performance”, disse o CEO Dominic
Barton. “Nossa missão é atrair, manter
e desenvolver os melhores talentos e
também ter um impacto duradouro
em nossos clientes. E não estamos
cumprindo essa primeira parte.”
Ele segue dizendo que 41% dos mais
de 21,000 funcionários da consultoria
são mulheres, mas elas estão menos
representadas em cargos de liderança.
“Não tem como dizer [que está certo]
enquanto não forem 50%”, disse.
Barton chama de “solavanco” o plano
que criaram para avançar. “Chegar
dos 24% atuais aos 40% em cargos de
liderança sênior, em cinco anos, vai
exigir muito esforço.”
PricewaterhouseCoopers“Equipes diversas são equipes mais
fortes, que fazem decisões melhores,
e isso está nos dados”, resumiu o
CEO Dennis Nally. “Quando pessoas
diferentes lidam com um desafio, a
solução encontrada é muito mais
criativa do que seria com apenas
homens brancos.”
Na PwC, contou, a igualdade de
gêneros já é uma realidade nos
cargos de entrada, mas não na
liderança. “No nível de sócios e
acima, apenas 20% são mulheres”,
diz. “É um desafio de negócios:
não apenas atrair os talentos, mas
mantê-los.”
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Nally aposta na análise de dados
para descobrir exatamente onde
devem agir. “Estamos em 157 países
pelo mundo, e queremos intervir no
processo de administração das carreiras
das pessoas”, falou. “Achamos que o
problema tem a ver com dados e com
fazer a pergunta na hora certa.”
O empresário concluiu dizendo que,
em uma pesquisa interna recente com
jovens funcionários, a PwC constatou
que esta é uma geração focada em
atingir um equilíbrio. Homens e
mulheres não diferem em termos de
flexibilidade, estilo de trabalho ou como
querem conduzir suas vidas – não há
diferenças de gênero nesse sentido.
“Então temos que atrair e manter este
talento e garantir que o terreno seja
o mesmo para ambos os gêneros”,
resumiu. “Caso contrário, eles vão buscar
essas oportunidades em outro lugar.”
Schneider ElectricPara Jean-Pascal Tricoire, CEO da gigante
de energia europeia, “seria estúpido nos
privarmos de 50% do talento do mundo”.
Em um campo onde pensar diferente é
chave para o crescimento, ele diz que
a inovação vem da criatividade, e ecoa
Nally da PwC. “Uma comunidade mais
inclusiva e equilibrada é fundamental
para a inovação”, disse. “Uma sala só
com homens… É triste.”
Dentre os líderes presentes, o desafio
de Tricoire era substancial. Quando
assumiu o posto, apenas 3% dos cargos
de liderança da Schneider Electric
eram ocupados por mulheres. Hoje,
são 20%. “É insuficiente, mas um grande
progresso.”
UnileverA abordagem da Unilever, uma das
maiores empresas do mundo, faz jus ao
seu tamanho. Como o CEO Paul Polman
explica, é a ideia de agir não apenas
dentro da companhia, mas também nas
áreas em que faz negócios.
“O maior impacto acontece na cadeia
de valores”, disse. Lá, segundo ele,
estão cinco milhões de mulheres
que dependem da Unilever para seu
sustento – e muita gente que pode ser
pressionada para entrar nos eixos.
Por isso, a empresa se comprometeu
com olhar todo e cada tema pelo prisma
das mulheres. Os ângulos são três:
Liderança feminina: seis CEOs apresentam suas ideias sobre o tema
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direitos das mulheres (como direito à
propriedade e à segurança), habilidades
e oportunidades (como usar marcas e
redes para criar empregos).
“É usar nossa escala e influência pelas
mulheres”, resumiu. “Em qualquer
coisa que avaliamos, elas são melhores
investimentos.”
TupperwareDo ponto de vista dos negócios,
as mulheres são um recurso
subaproveitado. Investir nelas,
portanto, significa um enorme
retorno sobre investimento. É o que
diz o CEO Rick Goings antes de suscitar
outra discussão.
“Muito dessa conversa sobre igualdade
de gênero acontece no mundo
desenvolvido”, disse. “Entendo a
questão de quebrar o teto de vidro e é
maravilhosa, mas a conversa precisa
avançar para esses outros mercados,
que têm 85% da população feminina.”
Ele acredita que a próxima era de
trabalho, pós-automação, será uma
marcada pelo trabalho autônomo,
em que soft skills como motivação e
resiliência serão importantes.
“Hoje, focamos nessa trabalhadora
autônoma ao oferecer acesso à
microfinanças, kits de venda gratuitos e
treinamento”, explicou. “No México e na
Indonésia, vimos essas mulheres saírem
da classe baixa para classe média,
aumentarem a autoestima, se sentirem
como líderes e se conectarem com
outras mulheres.”
O impacto não se restringe a elas,
continua Goings. Companheiros e
filhos também passam a tratá-las
com mais respeito.
AccorHotelsUm de apenas dois CEOs compro-
metidos com instituir pagamento
igualitário até 2020, Sebastien Bazin
diz que a decisão é polêmica mas veio
naturalmente. “Tentei achar uma única
razão para não fazer isso, e ninguém
deu uma boa.”
“Mas é preciso avaliar o gap, que é
extremamente diferente entre as
empresas e segmentos”, disse. A Accor
Hotels está presente em 92 países e
emprega cerca de 200,000 pessoas. Aqui,
a chave e delegar para gerentes de hotel
implementarem a política em cada uma
das propriedades.
2. Liderança feminina: seis CEOsapresentam suas ideias sobre o tema
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Outro plano para criar lideranças
igualitárias é inusitado. O empresário
criou um comitê “sombra”, formado
por seis homens e seis mulheres. As
equipes serão trocadas anualmente e
terão acesso a todos os documentos
confidenciais que o CEO tem e lidarão
com os mesmos desafios e decisões,
ao mesmo tempo que ele. Antes de
decidir algo, Bazin vai consultar as
decisões do comitê.
Por fim, Bazin também tocou no
assunto maternidade.“Após ter um
filho, você volta uma pessoa diferente,
suas prioridades sofreram reajustes,
você pensou sobre a organização e seu
papel”, falou. “Você é ainda mais valiosa
agora e eu quero que você volte.”
TwitterÚnico representante do Vale do Silício,
que lida com frequentes discussões
sobre baixa representatividade
feminina, o COO Adam Bain garantiu
que a mudança começa já em 2016.
Os quadros da empresa verão mais
diversidade em posições tecnológicas
e de liderança e, para retirar qualquer
preconceito inconsciente, as ofertas de
salário são feitas sem que empregadores
saibam os nomes do possível funcionário.
“Queremos que as pessoas que formam
a empresa reflitam a imensa diversidade
dos usuários”, resumiu.
Além da revisão frequente de métricas,
o Twitter também investe em conversar
diretamente com seus funcionários para
conseguir insights sobre como melhorar
a empresa. “Um exemplo é que ouvimos
de mulheres em posição de liderança
que elas queriam mais mentorias, então
começamos um programa”, contou.
Outro veio de uma dificuldade
enfrentada por novas mães, que
consideram um desafio amamentar seus
filhos em viagens de negócios. “Então
agora há um sistema de remessas global
em que é possível mandar seu leite
materno para sua família.”
Clube do livro feminista Emma Watson também criou
recentemente um clube do livro
virtual, “Our Shared Shelf”, dentro do
site goodreads.com. A primeira obra
escolhida por ela foi “My Life on the
Road”, de Gloria Steinem. O grupo conta
com quase cem mil inscritos.
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Liderança feminina: seis CEOs apresentam suas ideias sobre o tema
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Histórias inspiradoras
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O sonho grande de ter mais mulheres brasileiras na liderança
Dar um impulso na carreira
de mulheres no Brasil
todo, nos mais diversos
setores. Essa é a ideia por trás da
startup Impulso Beta, fundada pela
empreendedora Renata Moraes.
O projeto surgiu em 2014, quando
Renata estava terminando o MBA
no Insper e começou a pensar em
construir algo que pudesse ajudar
as mulheres a chegar mais longe
em suas carreiras. “Estava muito
inspirada em algumas iniciativas
e empresas fora do Brasil e
sentia que havia necessidade de
ferramentas por parte das
mulheres e das empresas
preocupadas com diversidade de
gênero. Vi que naquele momento
existia uma real oportunidade, eu
me sentia preparada e queria muito
me lançar a esse desafio”, conta.
A empreendedora Renata Moraes, do Impulso Beta, compartilha
dicas para as mulheres que querem impulsionar suas carreiras e
chegar ao topo nas empresas
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O sonho grande de ter mais mulheres brasileiras na liderança
A oportunidade de mercado, como é
dito no jargão dos empreendedores,
estava ali. Nunca se falou tanto sobre
a importância de ter mais mulheres
na liderança das empresas. Numa
linha de raciocínio apoiada por nomes
como Sheryl Sandberg, do Facebook, e
Christine Lagarde, do FMI, argumenta-
se que a igualdade de gênero é uma
questão não só de direitos como também
de economia – em uma pesquisa recente,
a McKinsey revelou que a igualdade
feminina no mundo do trabalho somaria
novos EUA e China ao PIB global.
“O Brasil ainda é um país com
muitas desigualdades entre homens
e mulheres no mercado de trabalho.
Mesmo as mulheres sendo já maioria
na universidade e tendo participação
quase igual no mercado de trabalho,
são minoria absoluta nas posições
de liderança de todos os setores”, ela
explica. Já podemos considerar como
fato: o problema existe, e precisa ser
resolvido. Se, por um lado, políticas
públicas e corporativas são parte da
solução, Renata também acredita no
protagonismo feminino e mudança
de atitude como forma de acelerar a
carreira de mulheres rumo ao topo. É aí
que entra a Impulso Beta.
Ao mesmo tempo, não é como se o
“comichão” do empreendedorismo
não estivesse começando a falar alto
a Renata. Filha de empreendedores e
formada em Jornalismo pela USP, ela
não havia se encontrado no ambiente
das redações. Depois te ter começado a
carreira na revista de maior circulação
do país, mudou de área e foi trabalhar
na Fundação Estudar – na época
uma empresa de cinco pessoas, onde
ela fez de tudo um pouco. “Foi na
Estudar que me descobri, de fato,
empreendedora. Tive a oportunidade
de criar vários produtos do zero e me
sentir empreendendo num ambiente
protegido”, conta.
Seu próximo passo foi, de fato, rumo
ao empreendedorismo, criando a
ImpulsoBeta. “Nossa missão é contribuir
para que as mulheres atinjam seus
objetivos profissionais e impulsionar
negócios por meio do talento feminino.
Acreditamos que a igualdade de gênero
no mercado de trabalho é bom para as
mulheres, as famílias, as empresas e a
sociedade com um todo”, ela explica.
Atualmente, a empresa aposta em
cursos e workshops presenciais e online
voltados para mulheres que querem
acelerar suas carreiras, além de uma
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plataforma online de liderança feminina
lançada em 8 de março.
A seguir, Renata compartilha com
exclusividade dicas para as mulheres
que querem impulsionar suas carreiras
rumo à liderança. Confira:
1. Rompa crenças limitantes de que
realização pessoal e profissional só
podem andar juntas se reduzirem
suas ambições de carreira.
2. Escolha bons parceiros para a vida:
se for se casar, certifique-se que
a pessoa torce pelo seu sucesso e
valoriza tanto sua carreira quando a
sua própria.
3. Escolha uma empresa que acredita
em mulheres: as mudanças no
mercado ainda são lentas, mas
há empresas comprometidas em
encontrar soluções para incluir
mulheres e outras que estão
satisfeitas com o status quo. Para
as empreendedoras, isso pode ser
aplicado em relação aos clientes.
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O sonho grande de ter mais mulheres brasileiras na liderança
4. Não espere que seu trabalho fale por
você. Sim, você tem que trabalhar
duro. Mas tem que saber promover
suas realizações, buscar visibilidade
e construir relacionamentos que
abram oportunidades. Ninguém fará
isso por você.
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Nós chamamos meninas de ‘mandonas’, mas não fazemos o mesmo com meninos porque já é esperado que eles liderem. O que acontece então é que quando as mulheres fazem coisas que as tornam líderes, não gostamos delas e portanto não as promovemos.
– Sheryl Sandberg, COO do Facebook
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O dia a dia de uma engenheira no Exército brasileiro
Carolina Reis sempre gostou
de visitar obras. Quando era
pequena, ia acompanhada
pelo pai, engenheiro militar que
adorava lhe ensinar matemática.
Hoje tenente moderna – que,
no linguajar militar, quer dizer
recente – na Diretoria de Obras de
Cooperação do Exército e também
engenheira, segue a tradição.
A opção pela carreira veio cedo.
Na oitava série, incentivada pela
família, Carolina prestou concurso
para o Colégio Militar do Rio de
Janeiro. Passou em quarto lugar e
decidiu ali, em meio às formaturas
cerimoniais, que queria ser militar
também. “O companheirismo do
Exército é diferente. O oficial tira algo
da própria farda para colocar na sua,
por exemplo”, diz.
“Qualquer posto pode ser alcançado por qualquer mulher que
achar que pode”, diz a tenente moderna Carolina Reis. Ela é a
primeira mulher a chegar na Diretoria de Obras de Cooperação,
que superintende a execução de obras e serviços de engenharia
por órgãos militares
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O dia a dia de uma engenheira no Exército brasileiro
Estudiosa, também gostava do currículo
aprofundado. Decidiu estende-lo
ao estudar no Instituto Militar de
Engenharia (IME), onde entrou em
2008. A instituição, que fica na capital
carioca, é a mesma que formou seu
pai, que possui seu nome gravado no
salão nobre do lugar. “O IME permite
que uma mulher tenha uma carreira
militar completa, até alcançar o posto
de general”, resume ela, que é a primeira
mulher engenheira a chegar na Diretoria
de Obras de Cooperação.
Representadas A história é resultado de uma série
de conquistas recentes na luta pela
igualdade de gêneros. As brasileiras do
Exército, que somam mais de 22 mil,
representam cerca de 6% da força total. É
um número baixo, mas crescente desde
2012, quando a então presidente Dilma
Rousseff sancionou uma lei permitindo
que vagas em áreas combatentes fossem
abertas também para elas.
A primeira mulher a integrar o Exército
só foi oficialmente reconhecida pela
organização mais de um século depois.
Maria Quitéria de Jesus Medeiros, ou
soldado Medeiros, pertencia ao Batalhão
de Voluntários do Imperador e lutou pela
Independência do Brasil em 1822.
Famosa entre os pares, foi condecorada
por Dom Pedro I como Cavaleiro da
Imperial Ordem do Cruzeiro depois da
guerra – e aproveitou para pedir que ele
escrevesse uma carta para seu pai, a
quem havia desobedecido ao se alistar.
Em 1996, ela ganhou o título de Patrono
do Quadro Complementar de Oficiais
e hoje tem seu retrato em todos os
quarteis do país.
As primeiras integrantes oficiais mesmo
vieram em 1943, na Segunda Guerra
Mundial. Eram enfermeiras e voluntárias.
Meio século depois, em 1992, a Escola
de Administração do Exército, na Bahia,
teve sua primeira turma feminina
matriculada – até então, as poucas
mulheres presentes atuavam em
cargos majoritariamente administrativos
e de saúde.
Ainda nos anos 1990, seguiram-se
outras opções de serviço na área de
saúde, como médicas e dentistas, e na
área técnica, que inclui profissionais
diversas como advogadas, psicólogas,
professoras e jornalistas. A Aeronáutica,
que tem a maior parte das militares
ativas e 36 aviadoras, abriu suas portas
em 1995, assim como a Marinha. O
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próprio IME passou a admitir mulheres
(e, consequentemente, engenheiras
militares) apenas em 1997.
Finalmente, no início de 2016, a Força
Terrestre divulgou seu primeiro edital para
ingressantes do sexo feminino na área
bélica – leia-se: combatentes. As primeiras
quarenta oficiais vão passar pela
tradicional Academia Militar das Agulhas
Negras (AMAN), entre outros espaços, e
devem concluir seus estudos em 2021.
Como a carreira militar é longeva
e baseada em tempo de serviço, se
alguma delas for se tornar a primeira
comandante brasileira, só ganhará o
título em idos de 2060.
Igualdade Carolina diz que o fato de ser pioneira –
e precoce, já que a carreira militar
começa com o título de tenente – não
lhe afetou na prática. “Sempre ouvi que,
intelectualmente, homens e mulheres
são iguais. Ponto. Parágrafo. E no serviço
público você tem a vantagem de prestar
concurso. Após chegar no posto, ninguém
pode te tirar.” Inclusive, quando chegou à
Diretoria de Obras de Cooperação (DOC),
não sabia que era a primeira mulher a
ocupar um posto no órgão.
O dia a dia de uma engenheira no Exército brasileiro
A boa recepção dos colegas, baseada
também nas condições de igualdade e
mérito reforçadas pela própria estrutura
do Exército, fortalece sua ideia de que
não tolher as ambições femininas é
fundamental. “Qualquer posto pode
ser alcançado por qualquer mulher
que achar que pode”, diz. “A grande
responsabilidade das mulheres é fazer
jus ao posto quando chegar nele.”
Ela destaca que os mesmos valores do
Exército que a atraíram desde a escola –
contribuir para o desenvolvimento do
Brasil, crescimento meritocrático e
vontade de fazer grande – também a
fizeram se identificar com a Fundação
Estudar, da qual é bolsista.
Da rotina de universitária militar,
que envolve tirar serviço armado e
treinamento físico, ela também tirou
lições que mantém. “Lá, você precisa se
superar e descobre que é muito mais
capaz do que imaginava. Não ando por aí
escalando paredes, mas sei que posso”,
diz. “Foi muito mais que apenas uma
excelente formação em engenharia.”
Pelo Brasil Hoje em Brasília, ela ajuda a controlar
as obras (cerca de 20) dos batalhões
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de Engenharia de Construção (são
11). Participa do controle de gestão e
acompanha planejamentos e controles
financeiros destes empreendimentos –
que diferem das empresas tradicionais,
por exemplo, no fato de que não se cobra
mão de obra e não se lucra.
Carolina se formou-se em engenharia
de fortificação e construção em 2012. Para
quem nunca ouviu o termo, ela explica:
“É basicamente engenharia civil, que
ganhou esse nome quando começou a
ser ensinada também aos não-militares”.
O IME possui um dos melhores (e mais
concorridos) cursos do país na área e lá,
além do currículo básico, os engenheiros
estudam também temas específicos do
universo militar, como paióis e explosivos.
Durante a graduação, Carolina também
participou da empresa junior e desenvolveu
projetos de pesquisa. Para ela, a própria
natureza de sua engenharia é coletiva, já
que envolve liderar equipes expressivas em
obras de grande escala, e ensinou muito
sobre trabalho em time e relacionamento
com pessoas – habilidades que ela aplica
diariamente no trabalho em campo.
Já diplomada, mudou-se para Santa
Catarina, onde fica o 10º Batalhão de
Engenharia de Construção. Lá, trabalhou
na rodovia Caminhos da Neve, obra
que, quando concluída, ajudaria no
escoamento da produção de maçãs
local, a maior do país. “Cerca de trinta
por cento das maçãs eram perdidas pelo
chacoalhar dos caminhões e só aquela
obra evitaria a perda de alimentos,
de produção de trabalho”, diz. O
sentimento de que está construindo algo
duradouro para o país está por trás de
sua motivação. “Gosto muito de saber
que o que estou executando se reflete
diretamente para a nação.”
A vida de transferências pelo território
nacional a levou também à Amazônia,
local de enormes obstáculos (e
aprendizados) logísticos. “A Amazônia
é um lugar que todo brasileiro deveria
conhecer”, diz. Em muitos rincões
brasileiros, especialmente no Norte,
onde ficam quatro dos 11 batalhões, a
presença do Exército é muito mais
forte. “É importante saber dessa
realidade do Brasil.”
Atenção constante O dia a dia de uma engenheira militar
é diferente da colega civil em uma área
crucial: militares estão constantemente
em treinamento. “Por que quem é
O dia a dia de uma engenheira no Exército brasileiro
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combatente faz simulações de guerra e
quem é engenheiro precisa estar sempre
adestrado?”, pergunta ela. “Porque se
algum dia enfrentarmos uma guerra e
uma ponte for destruída, por exemplo,
precisamos ser capazes de reconstruí-
la. As obras são importantes para nos
mantermos atualizados.”
Pode parecer uma possibilidade
distante (felizmente), mas é real no
quartel e envolve conhecer a fundo as
particularidade do país. Quais são as
dificuldades e facilidades envolvidas na
construção de uma rodovia em época de
chuvas no Norte, por exemplo? Ou como
lidar com as baixas temperaturas no Sul,
capazes de fazer uma máquina congelar?
Carolina precisa saber.
Como uma situação pode surgir a
qualquer momento, a tenente, que quer
ascender na carreira, está sempre a
postos. “Isso influencia todos os aspectos
das nossas vidas ao exigir uma postura
coerente e capacidade de dar exemplo
para exercer a liderança de fato”, diz. “Se
alguém me ligar, preciso colocar a farda e
ir trabalhar.”
O dia a dia de uma engenheira no Exército brasileiro
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Se você investir em uma menina ou mulher, está investindo em todas as outras pessoas porque ela frequentemente é o centro da família. Se não fizermos isso, não liberamos esse potencial do que é possível fazer para toda uma família, comunidade ou sociedade.
– Melinda Gates, co-presidente da Fundação Bill e Melinda Gates
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A rotina da presidente da Microsoft Brasil
Quando coloco meu iPhone
e meu Windows Phone na
mesa, a reunião para”,
brinca Paula Bellizia,
presidente da Microsoft Brasil há
um ano. É também uma mensagem
sobre “a nova Microsoft”, que hoje
se vê como um meio e não como
um fim.
Ela explica: não se trata mais de
colocar um PC em cada mesa e
democratizar a tecnologia – a
primeira intenção da empresa,
quando ainda crescia dentro de
uma garagem –, mas de empoderar
pessoas e organizações a fazer mais
com a tecnologia.
Uma das poucas mulheres no topo da indústria tecnológica, a
executiva Paula Bellizia fala sobre carreira, diversidade e as
prioridades da empresa no país; “Programação é habilidade
básica para fazer parte da força de trabalho do século 21”
“
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A rotina da presidente da Microsoft Brasil
Ter um leque muito mais amplo que
nos dias de startup ajuda. Além de
software e hardware (que hoje incluem
tablets e celulares), a Microsoft hoje
oferece videogames, soluções para
negócios, servidores, ferramentas de
desenvolvimento e serviços de nuvem,
entre outros. Em 2015, faturou cerca de
US$ 93,5 bilhões.
Essa nova missão corporativa, que vem
tomando forma nos últimos anos, foi
parte do que fez Paula aceitar o cargo. “A
empresa está abrindo sua plataforma e
era o momento de viver a transição”, diz,
destacando o uso crescente de open source.
Formada em Computação e Ciência da
Computação na Unesp, Paula fez pós-
graduação em Marketing na ESPM e
MBA na FIA/USP. Começou trabalhando
na área de Marketing da Whirlpool,
onde ficou por sete anos. Em seguida,
foi gerente de grupo de produtos na
Telefônica por dois anos antes de se
juntar à Microsoft.
Ocupou os postos de gerente de vendas
para pequenas e médias empresas e
diretora de marketing e operações, e
saiu com uma década de casa. Após um
breve período no Facebook, assumiu a
presidência da Apple no Brasil e ocupou
a cadeira por outros dois anos.
Planejava um período sabático quando
recebeu o convite da Microsoft, com
quem sempre manteve uma política
de portas abertas. “Um dia, recebi uma
ligação e me disseram: ‘Vem ser a líder
no Brasil’. Não dormi!”, ri.
Juventude Dentro do campo de responsabilidade
social, os principais focos de Paula no
Brasil são os setores de educação e
empreendedorismo, que têm grande
potencial de impacto e podem melhorar
cenários em grande escala.
De projetos de apoio à qualidade do ensino
e acesso facilitado a tecnologias nas escolas
públicas às incubadoras e competições de
startups como a Imagine Cup, a ideia da
Microsoft é ajudar a juventude brasileira a
se desenvolver usando as plataformas da
empresa – e assim se consolidar cada vez
mais no mercado.
Ela também aponta que a maior parte
dos empreendedores do país é jovem
e que cerca de 60% dos universitários
brasileiros querem ter seus próprios
negócios no futuro.
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Ou seja, não vão faltar clientes em busca
das ferramentas tecnológicas corretas no
futuro próximo.
Em código Num mundo cada vez mais tecnológico,
faz todo sentido propagar a importância
da programação. Mais que importante,
ela se torna na verdade fundamental. De
acordo com empregadores como Paula,
programar já é uma habilidade básica da
força de trabalho atual.
A presidente conta que sua filha, de 8
anos, já demonstrou entusiasmo pela
linguagem. Faz bem. “As instituições
de ensino estão à frente de um grande
desafio, que é formar jovens com
competências específicas para o século
21”, diz. “E aprender a programar permite
que os usuários se tornem criadores e
desenvolvedores de tecnologia, além
de acelerar o desenvolvimento de suas
carreiras. É uma grande oportunidade
para os jovens.”
Fazer uso inteligente de tecnologia em
salas de aula, como incluir programação
na grade curricular, também pode
preencher lacunas educacionais e
potencializar cada vez mais os alunos.
“A linguagem de programação, por
exemplo, contribui para desenvolver em
crianças e jovens o raciocínio lógico e a
habilidade para resolver problemas, uma
vez que exercita capacidades cognitivas
básicas para enfrentar a realidade
complexa que os rodeia.”
Liderança Para Paula, a capacidade de solucionar
problemas lógicos é característica
essencial de um bom líder, assim como
criatividade, boa comunicação, abertura,
foco no resultado e pensamento crítico.
E como é impossível acertar o
tempo todo, aprender com os erros
é fundamental. “Na Microsoft, nossa
cultura é fundamentada na mentalidade
de crescimento, que é a crença de que
você pode aprender sempre”, resume.
“Para isso, é necessário assumir riscos e
mover rapidamente quando cometemos
erros, reconhecendo que as falhas
acontecem na jornada para a excelência.”
Ela garante que não faltaram erros
e deslizes em sua própria trajetória.
“Aprendi que as chances de dar certo
com só um número, uma meta ou um
jeito de engajar as pessoas são muito
A rotina da presidente da Microsoft Brasil
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pequenas, porque as pessoas pensam:
‘ah, a meta é só dela’”, exemplifica. O que
muda é como se encara, e o que se tira,
de cada situação.
No dia a dia, Paula opta por uma
rotina intensa e estima que passa
cerca de 70% de seu tempo fora
do escritório. Também é adepta do
home office e da flexibilidade, que lhe
permitem passar tempo com os filhos –
e incentiva sua equipe a fazer o mesmo,
desde que estejam online no Skype às
17h. “Acho que temos que rasgar os
modelos tradicionais e estou tentando
fazer isso, de colocar as cadeiras em
círculos a analisar, caso a caso, os
trajes de trabalho.”
A mentalidade aberta às mudanças se
estende para todas as áreas. Para se
manter à frente de uma indústria tão
competitiva e disruptiva, é essencial
buscar novas maneiras de pensar e
produzir. A ideia principal, esclarece, é
quem não faz gol leva um.
“As mudanças não só técnicas, mas
conceituais, estão cada vez mais
dinâmicas, e quem se prende a uma
forma de pensar e trabalhar perde
oportunidades”, explica. “Estar aberto
para crescer e aprender constantemente
é, para mim, a forma de se adaptar a esta
nova realidade.”
Diversidade Ter uma presidente mulher significa,
na maior parte do tempo, colocar o
tema da diversidade em pauta. Num
mercado mundial onde as mulheres
ainda ocupam apenas 9% das posições
de liderança, há uma pressão crescente
para aprimorar esse quadro.
“É importante que o líder seja um
exemplo das atitudes que acredita e
defende”, diz Paula. “Um líder precisa
manter uma equipe diversa, e me refiro
a experiência, gênero, perfil e idade,
refletindo o mercado no qual atuamos
para podermos entender melhor as
demandas dos consumidores e clientes e
gerar criatividade e inovação.”
Em um país em que 50% das pessoas
são mulheres e 53% se identificam
como pardos ou negros, ela quer ver
este espelhamento dentro da
corporação. “Se você não tem essas
pessoas representadas, não vai atendê-
las bem”, fala. Para garantir que o
quadro mude, já instituiu políticas
novas no processo de recrutamento,
A rotina da presidente da Microsoft Brasil
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como exigir que haja um homem e
uma mulher entre dois finalistas.
Além disso, a Microsoft gerencia
programas voltados especificamente para
mulheres. Uma campanha de março,
#MeninasPodemProgramar, buscou
ensinar o básico da linguagem a jovens
brasileiras com idades entre 13 e 29 anos.
É uma das maneiras que Paula e sua
equipe encontram para tentar engajá-
las com a profissão e assim incentivar
o crescimento da presença feminina
na chamada família STEM, que inclui
ciência, tecnologia, engenharia e
matemática e onde o gap entre os dois
sexos é grande.
“Só quero que a gente traga
oportunidades iguais”, resume.
Carreiras Hoje com seu nome na porta mais
importante do prédio, Paula diz que
sonhou com o cargo pela primeira vez
há muitos anos – e que não poderia
ter chegado lá sem a ajuda de outros
líderes, como a diretora que a promoveu
quando ela estava grávida de sete meses.
“Você encontra muita gente que pode
transformar sua vida”, diz. Compartilhe esse material com seus amigos
A rotina da presidente da Microsoft Brasil
A diversidade de experiências, seja
dentro de uma própria empresa ou em
várias, é para ela, fonte importante de
crescimento. “Não existem duas culturas
iguais, mas há aprendizados em todas”,
fala. “Isso contribuiu muito para minha
visão de mundo e amadurecimento
profissional. No mundo da tecnologia,
a inovação é palavra de ordem e ela é
impulsionada pela diversidade.”
Aos jovens, ela aconselha: assuma riscos
e mergulhe de cabeça nas experiências,
seja numa empresa, órgão público, ONG
ou em seu próprio negócio. Se você
mantiver a cabeça aberta, o aprendizado
é uma consequência natural. E tome suas
próprias decisões. “Sua carreira é 100%
sua. Não diga depois que não cresceu
porque a empresa não deixou”, resume.
Seja comentando sobre novas
iniciativas educacionais, Big Data ou
reconhecimento de íris, Paula sabe
que ocupa um lugar privilegiado na
revolução tecnológica.
Entusiasmada, ela sintetiza: “O futuro
é demais”.
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As mulheres realizam dois terços do trabalho mundial, mas ganham somente 10% da renda. Elas precisam de oportunidades, treinamento e suporte para tirarem o máximo dessas oportunidades. E quando uma mulher tem a possibilidade de alcançar seus sonhos, tudo é possível.
– Beatriz Perez, CSO da Coca-Cola Company
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O dia a dia da advogada que assessora fusões & aquisições bilionárias
As vezes, operações
bilionárias não podem
esperar. “Se o cliente precisar
de mim no fim de semana, eu vou.
É como se fosse segunda e terça”,
explica a advogada Fernanda Bastos,
sócia do escritório Souza, Cescon,
Barrieu & Flesch. Há mais de vinte
anos em Fusões & Aquisições, ela
estima ter atuado em 150 operações
e resume o perfil profissional da área
em poucas palavras: “Tem que ter
muita garra”.
Com 20 anos de experiência, Fernanda Bastos comanda as
operações do escritório Souza Cescon e está constantemente
se atualizando; “Não se trata apenas de aplicar o direito,
mas aplicá-lo dentro de um pensamento econômico”, diz
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O dia a dia da advogada que assessora fusões & aquisições bilionárias
O ritmo pesado, noites longas, prazos
urgentes e grandes valores envolvidos
diariamente fazem parte da rotina – e
Fernanda adora. “Quando escolhi o
Direito, eu queria ser juíza”, lembra ela,
que é bolsista da Fundação Estudar e
graduou-se na Universidade Estadual do
Rio de Janeiro (UERJ). “Só que no quinto
período estagiei em direito societário e
não quis mais saber de concurso.”
A área de Fusões & Aquisições, também
conhecida como M&A, de Mergers
& Acquisitions, faz parte do guarda-
chuva de direito societário. De maneira
resumida, uma fusão é uma operação
societária em que duas ou mais
sociedades comerciais se unem em uma
só, enquanto uma aquisição é a compra
de um negócio ou empresa por outra
empresa ou entidade comercial.
Ambas são muito frequentes no Brasil
e seguem uma série de regras. “Pode ser
mineração, telecomunicações, óleo e
gás… É preciso entender um pouco de
cada um desses negócios para poder
formatar uma operação perante os
órgãos de controle”, explica ela, que
trabalha com o setor energético na
maior parte do tempo. “Sempre temos a
assistência de advogados especialistas,
mas é bom ter uma noção.”
A variedade de temas é uma das coisas
que mais lhe atrai e garante um dia a
dia dinâmico. Na semana da entrevista,
Fernanda tinha recém-concluído
uma operação com uma empresa
farmacêutica e já estava preparando um
outro processo que seria regulado pelo
Banco Central.
O trabalho começa muito antes dos
contratos, explica Fernanda sobre o
dia a dia no escritório Souza Cescon –
que inclusive estará recrutando jovens
advogados na conferência de carreiras
Ene Jurídica, promovida pelo Na Prática.
“Há auditoria da empresa, falamos dos
problemas que ela tem, quais são suas
restrições operacionais – às vezes é
algo regulatório, como um estrangeiro
que queira adquirir controle de uma
empresa de aviação brasileira”, diz.
Depois de conhecer a estrutura, ela passa
a acomodar as restrições em acordo com
ambas as partes.
Às vezes leva tempo. O processo mais
longo que Fernanda comandou, a
aquisição da Niely Cosméticos pela
L’oréal, durou três anos. “Quando
chegamos na empresa, era um negócio
familiar: sem contas auditadas, sem
organização jurídica de documentos,
sem avaliação profissional”, lembra.
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“Precisamos preparar a empresa e
guiá-la por todo o processo.” Depois de
assinados os contratos, o escritório
ainda passou seis meses cumprindo
as condições de transferência.
Mercado internacional A advogada estima que 80% de suas
operações envolvam alguma parte
internacional. Interessada em saber
mais, decidiu fazer um mestrado na
Columbia University, em Nova York,
em 2006. Era seu segundo diploma do
tipo. (O primeiro, em Direito Societário,
foi obtido no IBMEC.)
“Quando escolhi Columbia, um LLM
[mestrado específico da área] ainda
representava um grande diferencial”,
lembra. Além de ser mais bem vista
pelos clientes, que encaravam o diploma
como um selo de aprovação, Fernanda
foi tão visada pelos grandes escritórios
brasileiros que desistiu de passar um
tempo nos EUA. Voltou como advogada
sênior e tornou-se sócia em 2011.
“Também aprendi como funciona a
lei americana, então quando trabalho
com estrangeiros consigo traçar
paralelos entre as leis e mostrar quais
são as diferenças”, exemplifica. “É uma
comparação que os ajuda muito a
entender as coisas no Brasil.”
O aspecto mais business da área de
Fusões & Aquisições é outra coisa que
ela destaca. “Não se trata apenas de
aplicar o direito, mas aplicá-lo dentro de
um pensamento econômico”, diz. Não
raro seus clientes pedem que ela comece
se envolvendo bem antes dos contratos
finais, ainda no começo das negociações.
“Em geral a dupla de empresas já vem
formada, mas há alguns processos, como
processos competitivos para venda,
em que a empresa nos contrata para
analisar as diversas propostas de compra
oferecidas e ajudá-la a ver o impacto das
condições em relação aos preços que ela
quer”, diz.
A avaliação feita por Fernanda e sua
equipe de nove pessoas inclui análise das
cláusulas e dos riscos envolvidos. “Preciso
entender bem as atividades para ver se o
contrato está adequado para o dia a dia
da empresa”, diz. “A indenização cobre
isso ou aquilo, por exemplo? As cláusulas
são formatadas para complementar a
avaliação econômica que o cliente deu.”
O dia a dia da advogada que assessora fusões & aquisições bilionárias
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Equilíbrio Como sócia, Fernanda tem
uma série de outras responsabilidades
administrativas, como controle de
faturamento e de metas. Também tem
obrigações de gestão. “A parte mais
difícil de se tornar um advogado sênior
é gerir pessoas”, diz. “Conseguimos ser
treinados juridicamente, mas é um
negócio de pessoas e tenho que
deixá-las motivas, interessadas,
disciplinadas. É fundamental.”
Para quem se interessa por uma carreira
em Fusões & Aquisições, diz ela, é preciso
ter qualidade jurídica – mas não só
isso. Persistência perante os obstáculos,
capacidade de comunicar-se claramente
e lidar com partes diferentes também
são importantes, além de muita energia.
Mãe de gêmeas pequenas, Fernanda
precisou mudar um pouco sua rotina
para cuidar delas. Ao invés de trabalhar
quatorze horas por dia do escritório,
conta, sai às 19h e encara o home
office noite adentro quando as crianças
dormem. “Não tem uma jornada porque
o trabalho só acaba quando termina”, ri.
O dia a dia da advogada que assessora fusões & aquisições bilionárias
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Acredito que nunca houve uma compreensão tão ampla de que as mulheres devem ser participantes igualitárias nos nossos lares, nas nossas sociedades, em nossos governos e em todos outros lugares, e sabemos que o mundo está sendo refreado em todos os sentidos porque elas ainda não o são.
– Emma Watson, atriz e embaixadora da ONU Mulheres
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‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade civil pode transformar políticas públicas
Em 2007, o Rio de Janeiro
oficializou sua candidatura
para ser sede dos Jogos
Olímpicos e Paraolímpicos de
2016. O projeto enviado ao Comitê
Olímpico Internacional – os pré-
requisitos do COI são famosos
pela minúcia e preenchem
milhares de páginas – previa
obras de transporte público e
infraestrutura em quatro regiões,
que seriam um legado para a
população após o evento.
A beleza natural, o bom momento
econômico brasileiro e o fato de
que a cidade seria a primeira
anfitriã da América do Sul foram
alguns dos motivos que levaram
o Rio a ganhar de gigantes como
Chicago, Madri e Tóquio.
O ‘Meu Rio’ nasceu há oito anos, quando a capital foi
anunciada como sede das atuais Olimpíadas; cofundadora
do projeto, Alessandra Orofino acredita no poder das
demandas cidadãs para mudar a gestão pública
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‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade civil pode transformar políticas públicas
Em 2008, empolgada com a chance de
melhorar sua terra natal, Alessandra
Orofino cofundou a Meu Rio com um
amigo, Miguel Lago. Ela estava na cidade
em um ano sabático, enquanto se
preparava para estudar na Universidade
Columbia, em Nova York.
“Vimos que o Rio mudaria muito rápido
e havia uma era de ouro começando,
com investimentos federais e estaduais”,
lembra. “Mas como acontece com todo
processo de mudança urbana, não se
tem necessariamente o cidadão no
centro do processo. Se ele não tiver
oportunidade de entrar na disputa, os
resultados acabam orientados por outros
interesses mais bem articulados.”
A ideia tornou-se levar o cidadão
para a arena de decisões de políticas
públicas, e os jovens decidiram criar
uma plataforma que ajudasse a
fortalecer a cidadania e a expressão
da vontade popular.
Ao criar uma rede em que pessoas
pudessem se juntar e que oferecesse
instrumentos de ação e compreensão
sobre o processo político, os cidadãos
poderiam se mobilizar de maneira mais
eficaz. Era algo novo, numa época em
que redes sociais e petições online ainda
não eram tão difundidas.
A dupla ficou quase um ano trabalhando
sem investimentos. Após o período
de testes, com uma visão mais clara
e um modelo sustentável e alinhado,
começaram a buscar capital.
“Quando começamos, mapeamos os
contatos na nossa rede e fomos passando
o chapéu”, ri ela. “A primeira rodada
foi menor. Nós mostramos resultados
e a segunda rodada melhorou. Nunca
usamos editais ou pedimos nada para
os governos.”
As sugestões de temas, que podem
ser enviadas por qualquer membro
da comunidade, são revistas por uma
equipe de cinco pessoas. Entre os
critérios utilizados estão alinhamento
com a visão de cidade da organização
(democrática, justa, aberta) e urgência
(é um projeto sendo votado naquela
semana, por exemplo?).
Em seguida, as demandas são levadas
aos “supervoluntários” e membros mais
ativos da comunidade, quando possível
dentro de suas áreas de preferência e
expertise, como saúde ou transporte.
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Aprovadas, passam a ser alavancadas
internamente e voltam à rede como
campanhas de mobilização.
O projeto cresceu – há 200 mil membros
cadastrados só no Rio – e deu tão certo
que se espalhou. Em 2011, surgiu a rede
Nossas Cidades, que inclui também
Minha Blumenau, Minha Campinas,
Minha Curitiba, Minha Ouro Preto, Meu
Recife, Minha Sampa, Minha Garopaba
e Minha Porto Alegre. Versões em Belém,
João Pessoa e Oiapoque estão em vias de
aprovação.
História O interesse de Alessandra por gestão
pública começou no Canadá, quando ela
tinha 13 anos. Sua mãe foi convidada
para dar aulas na Universidade McGill,
em Montreal.
Alessandra aprendeu francês lá, na parte
francófona do país, e quis continuar
estudando no idioma. De volta ao Rio,
matriculou-se numa escola francesa.
Ao se formar, conta, estudar na França
pareceu algo natural.
“Eu queria muito estudar ciências
políticas, porque tinha visto muitas
diferenças na provisão de serviços
públicos entre os países”, fala. “Eu queria
saber por que a nossa é tão deficitária e
como podemos melhorar.”
Com bolsa do governo francês, começou
os estudos no famoso instituto Sciences
Po, em Paris. O currículo, no entanto,
era muito voltado para a gestão pública
francesa e desanimou a brasileira.
Terminou o primeiro ano e voltou ao
Brasil nas férias de verão, indecisa.
No meio tempo, adquirir experiência
lhe pareceu a melhor decisão. Estagiou
no Instituto Promundo, atuando em
campanhas contra a violência contra a
mulher e contra a criança, e viajou para a
Índia, onde trabalhou numa ONG parceira
pelo fim da desigualdade de gênero.
Foi em Nova Déli que a ideia de estudar
em Columbia, também muito forte em
ciências políticas, tomou forma. “Eu
estava conversando com uma professora
minha de Paris, que na verdade dava
aula em Nova York, e ela disse que
eu deveria aplicar”, lembra. “Como a
relação institucional é forte entre as
duas instituições e eu tinha boas notas,
poderia pedir equivalência.”
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade civil pode transformar políticas públicas
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Na Índia mesmo, Alessandra se
preparou para as provas específicas para
aprovação em universidades americanas,
como os SATs e o teste de inglês TOEFL.
Fez todas na embaixada americana da
cidade e enviou sua application. Passou.
Com a aprovação, vieram outros
problemas. Além dos custos de vida
serem bastante altos na cidade, ainda
havia o preço da universidade, cerca
de US$ 60 mil por ano. (Na França, a
Sciences Po era gratuita.)
Para dar um jeito, a carioca adiou a
matrícula em um ano e voltou ao Rio
para trabalhar. “Juntei cada centavo”,
diz. Atuou numa consultoria e traduziu
de tudo, fosse português, inglês, francês,
espanhol ou italiano. Ao mesmo tempo
em que colocava a Meu Rio de pé,
tornou-se bolsista da Fundação Estudar,
que pagou parte dos custos.
Crescimento Uma vez em Nova York, Alessandra ainda
tinha uma conta para fechar. Acabou
conquistando um trabalho tipo dois-em-
um, que lhe ajudou nos custos de ensino
e lhe ensinou como funcionava uma
ONG ao mesmo tempo.
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade civil pode transformar políticas públicas
“Cheguei lá com seis meses de dinheiro
e corri atrás de um estágio autorizado
que, ao invés de me pagar um salário,
pagaria parte da minha tuition”, explica.
Encontrou a pequena Purpose, onde foi a
quarta contratada.
A ONG, uma consultoria estratégica que
tem hoje mais de 100 funcionários, atua
como incubadora de movimentos sociais
voltados para a mobilização de pessoas –
justamente como a Meu Rio.
Em quatro anos de casa, Alessandra
foi de estagiária à mais jovem
diretora de estratégia. No dia a
dia, avaliava o impacto que uma
iniciativa queria ter e desenhava as
possibilidades. Que tipos de políticas
públicas ajudariam a alcançar aquele
objetivo? Em que lugares? Qual seria
a melhor abordagem?
Foi uma escola. “A Purpose acabou
surgindo”, explica. “Às vezes só temos
que estar abertos e abraçar o que vem.”
De casa Formada, voltou ao Rio em 2014 e
dedica-se ao Nossas Cidades, que tem 33
funcionários, como diretora executiva.
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“Vivemos de doações, que vem
basicamente dos membros que
participam e veem valor nessa proposta”,
diz ela sobre o modelo de negócios, que
inclui desenvolvimento de plataformas
e gastos com a equipe que pesquisa os
temas e mobiliza a rede. “Já tivemos duas
mil pessoas doando pequenas quantias.”
Alessandra é a responsável pelo
relacionamento com grandes doadores e
representa a organização em palestras e
eventos. Também está constantemente
identificando metodologias de mobilização
e aprimorando as ferramentas da
organização – e ainda supervisiona a parte
de operações da instituição, que inclui a
gestão de pessoas e financeira.
A rotina é puxada, mas ela não liga.
“A ideia inicial fez jus ao que nós
imaginávamos”, diz. “Diziam que o jovem
só quer ir pra praia, mas não é verdade!
Somos dessa geração e sabemos que o
jovem quer mudar a cidade. Em 2013,
uma chave virou e demonstrou que
estávamos certos: as pessoas querem,
sim, falar de política.”
Munidos de informação e desenvolvendo
demandas específicas – ao pensar numa
clínica de família no bairro e não só na
saúde como um todo, por exemplo –,
os brasileiros são capazes de criar
mobilizações fortes e organizadas,
que trazem resultados. “É um
ecossistema amplo, que superou
as expectativas de todos.”
RealidadeOito anos depois, as Olimpíadas enfim
chegaram ao Rio de Janeiro. Pragmáticos,
os cariocas já pensam num legado
diferente, que envolva a mitigação de
problemas e prestação de contas. É a
chamada ressaca olímpica.
“As pessoas removidas já foram
removidas, mas para onde? Como
mudamos as injustiças que surgiram
pelo caminho?”, exemplifica Alessandra.
“Vamos manter as mudanças positivas
e encarar as negativas, sem negar a
cidadania a ninguém.”
Mesmo com o evento ainda em
curso, as demandas já se solidificam.
“A atuação da Meu Rio é contínua”,
resume Rodrigo Arnaiz, diretor da
organização. “E algumas pautas
centrais, como mobilidade urbana,
sustentabilidade, educação e segurança
pública, acabam tendo mais destaque
durante os grandes eventos.”
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade civil pode transformar políticas públicas
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Entre as atuais campanhas da Meu Rio
estão a convocação de agentes de apoio
à educação especial, trazida por mães
de alunos com deficiência – o concurso
público da prefeitura foi feito, mas os
novos agentes nunca foram chamados
– e a mudança de nome da estação São
Conrado de metrô.
A mobilização é demanda dos moradores
da Rocinha, que querem que o ponto,
construído para os Jogos e vizinho à
comunidade, se chame São Conrado-
Rocinha. “É uma questão de afirmação e
orgulho territorial”, diz Rodrigo.
Há também a campanha de apoio à CPI
Olímpica, para investigar contratos entre
empreiteiras e prefeitura. Após pressão
popular e uma avalanche de emails
lideradas pelo Meu Rio, que começou em
março, cidadãos conseguiram o número
mínimo de assinaturas de vereadores
para instalar a CPI.
Quando o presidente da Câmara
municipal resolveu segurar o pedido,
a rede pressionou novamente com
um “telefonaço” para seu gabinete e
intervenções urbanas, que atraíram
a mídia. Após duas sessões – na
segunda, os membros da Meu Rio foram
impedidos de entrar pelo presidente da
CPI –, um vereador contrário ao inquérito
conseguiu uma liminar para impedi-lo. O
processo está parado desde maio, mas a
mobilização continua.
“Percebemos que todas as ações feitas
para impedir a CPI motivaram mais as
pessoas, que perceberam que existem
interesses duvidosos por trás desse
esforço de abafar as investigações”, diz
Rodrigo. “E é importante lembrar que
essa é apenas a segunda CPI que vai
contra os interesses do prefeito e da base
governista na Câmara que consegue ser
instalada desde 2012.”
Para Alessandra, o processo inteiro é um
ciclo virtuoso: cada campanha fortalece
sua crença de que este é o caminho
certo. “Nem parei para pensar se fazia
essa escolha profissional. Tivemos a ideia
e, quando vimos, estávamos fazendo”,
fala. “É apaixonante fazer o que você
ama e ver que milhares de outras
pessoas também se interessam.”
‘Nossas Cidades’: como um projeto da sociedade civil pode transformar políticas públicas
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Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização social que gera milhares de reais em renda para artesãs brasileiras
Quando tinha 15 anos, Alice
Freitas ficou um ano na
Tailândia aprendendo o
idioma local.
Questionada sobre a escolha de
um destino tão fora da caixa,
ainda mais nos anos 1990, ela se
surpreende. Não tinha pensado
nisso antes. “Fui criada numa
família muito livre, que me deixou
desenhar minhas próprias ideias, e
talvez isso tenha me encorajado a
nunca ter medo do diferente”, diz.
Um traço que veio a calhar quando
decidiu tornar-se empreendedora
social por profissão. “Meu apetite
para risco é muito alto e para
empreender você precisa disso.”
Alice Freitas conta o que aprendeu sobre negócios sociais e
empreendedorismo ao longo de dez anos à frente da Rede Asta
e com suas viagens pelo mundo; “Não dá para pensar dentro
da caixa”
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Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização social que gera milhares de reais em renda para artesãs brasileiras
Ao voltar da viagem, interessou-se
pela carreira diplomática. Dona de
boas notas, estudou Direito na UFRJ
e chegou perto de concluir o curso de
Relações Internacionais na Universidade
Estácio de Sá. Mudou de rumo quando
trabalhava em uma multinacional e
uma amiga lhe propôs uma viagem de
três meses pela Ásia, com o propósito de
pesquisar iniciativas sociais.
As duas venderam todas as roupas
de executiva para bancar as passagens.
“Visitei uma favela pela primeira vez
na vida quando fomos fazer o projeto
da viagem e foi assim que descobri
o mundo social – não fazia o menor
sentido eu ter estudado tanto para
promover bem só para mim mesma”,
lembra. Uma vez fora do país, passaram
por Índia, Bangladesh, Tailândia e
Vietnã. “Fiquei apaixonada por geração
de renda e decidi que era aquilo que
queria fazer.”
De volta ao Rio, explorou as
possibilidades do terceiro setor e passou
dois anos no grupo cultural Afroreggae.
No meio tempo, outra amiga, Rachel
Schettino, teve uma ideia: criar uma
maneira de vender produtos feitos à mão
e gerar renda para os produtores.
Investindo dinheiro do próprio bolso,
começaram a validar o modelo.
Treinaram e viveram com 30 artesãs
que confeccionavam artesanato com
jornal em uma cooperativa de catadores,
eventualmente conquistando a confiança
da comunidade.
Depois foram abordadas por outros
grupos, também interessados nas
possibilidades d e venda. Para atendê-los,
acabaram montando a primeira rede de
venda direta de produtos artesanais do
Brasil, que batizaram de Rede Asta.
“Depois disso, nunca mais paramos”,
resume Alice, que ocupa o cargo de
diretora executiva. Citada como exemplo
de negócio inclusivo pela ONU, a Rede
Asta emprega mais 900 artesãs em
10 estados brasileiros e faturou R$ 2,2
milhões em 2015 – mais de R$ 900 mil
em renda gerada para os produtores –
vendendo roupas e peças de decoração.
Break even O caminho não foi uniforme. Nos primeiros
dias, em 2005, Rachel enchia uma sacola,
saltava do ônibus em Copacabana e batia
de porta em porta oferecendo os produtos
em lojas de decoração. “Começamos
sacoleiras”, brinca Alice.
41
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Com um pouco mais de tempo,
montaram um quiosque no Shopping
Tijuca. Não tiveram retorno financeiro
por dois anos. Rachel vendeu o carro
e as duas faziam pequenos trabalhos,
ainda acreditando que daria certo. “Era
muita tentativa e erro mas, para cada
cinquenta nãos, ganhávamos dois sims
que superavam tudo em questão de
alegria”, lembra.
Quando conseguiram investimento,
contrataram uma consultoria para
investigar o setor de venda direta, então
algo novo no país. Muitos dos cenários
analisados, no entanto, falharam na
prática. “No papel todo mundo queria ser
sócio do negócio mas, durante um ano,
nada daquilo funcionou.”
Foi com Rosane Rosa, a terceira sócia,
que a organização começou a entrar nos
eixos em termos de business. Especialista
em canais de venda e com experiência
em empresas do varejo, como Ponto Frio
e Casa e Vídeo, ela se apaixonou pela
ideia e trouxe sua expertise.
Crescimento Hoje o modelo de negócios funciona em
breakeven e tem receita diversificada, já
que só a venda dos produtos –
via e-commerce ou nos dois pontos
físicos no Rio – não consegue bancar
todos os projetos.
Além de oferecer para varejo e para
atacado, que é seu maior foco, a Asta
ainda capta recursos e vende serviços
de capacitação para empresas. A Coca-
Cola, por exemplo, pagou para que
a organização treinasse um grupo a
utilizar garrafas pet e latinhas na criação
de artesanato na Amazônia.
“Negócios sociais, no Brasil e no mundo,
ainda são experimentais, não dá para
pensar dentro da caixa”, explica Alice,
lembrando que não há ainda uma
legislação nacional específica para esse
tipo de empreitada.
Para que a Asta cresça mais, ela diz
que um novo modelo de negócios será
implementado em 2017. A prioridade
será o público B2B: atualmente, seus 800
clientes corporativos correspondem a
56% do faturamento.
“Um empreendedor não faz nada
sozinho e precisa reunir as pessoas
certas na hora certa”, resume. “Precisa ter
Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização social que gera milhares de reais em renda para artesãs brasileiras
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visão de gestão e uma noção de impacto
social, especialmente em relação à base
da pirâmide.”
Foi uma lição que ela sentiu na pele,
lidando com a desconfiança das
primeiras artesãs no começo da
história. Ter boas habilidades de
comunicação também ajuda nessa
hora. “Quanto maior for sua capacidade
de contagiar as pessoas, maiores serão
suas chances.”
Feminismo Todos os meses, um grupo produtivo
diferente faz uma visita às lojas
físicas, em Ipanema e Laranjeiras, para
acompanhar o movimento e a recepção
aos produtos. “A gente se realiza demais,
porque é muito bom ver que seu trabalho
impacta não só a sua vida mas também
as vidas de outras pessoas”, diz.
Construir um negócio social, para ela,
serve como um legado para a sociedade
ao realizar pequenas revoluções. Nessa
linha funciona um dos focos da Rede
Asta: o empoderamento feminino.
Mulheres compõe a grande maioria dos
grupos produtivos do negócio e 90% da
renda da mulher é investida na família,
explica Alice.
O efeito cascata de uma iniciativa
positiva como a geração de renda é
sentido pelos filhos, pela vizinha e, de
certa forma, por toda a comunidade.
“O avanço que vejo em relação ao
feminismo e ao empoderamento da
mulher é que se começou a falar muito
sobre isso, algo que não acontecia há
dez anos”, lembra. “O assunto se tornou
público e isso é positivo porque faz com
que a gente consiga fazer o resultado
acontecer mais rápido.”
Escolhas Como um negócio social visa reinvestir
os lucros em si mesmo, pode ser uma
escolha profissional inicialmente difícil de
explicar para pessoas sem familiaridade
com o tema. “Quando resolvi não ser
diplomata, minha família não entendeu
nada e ninguém sabia dizer o que eu
fazia. ‘Você podia estar em Nova York
mas está fazendo fuxico de tampinha nas
favelas!’, me disse minha madrinha”, ri
Alice, hoje motivo de orgulho da família.
É também uma escolha por um estilo
de vida. “Não faz sentido ganhar setenta
vezes mais que aquela pessoa que você
apoia ganha”, resume. “Optamos por uma
vida simples e por viver com o suficiente.”
Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização social que gera milhares de reais em renda para artesãs brasileiras
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Do Rio à Amazônia, ela criou uma organização social que gera milhares de reais em renda para artesãs brasileiras
É algo que ela já passa para a próxima
geração. Ao ler um livro para o filho de
três anos, ele apontou uma discrepância:
as joias preciosas no braço da
personagem não eram de lixo reciclável.
“Ele dizia: ‘mamãe, é lixo!’, porque eu
sempre uso colares de vidro de shampoo
ou borracha de bicicleta”, diverte-se.
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Conheça a história da astrofísica brasileira premiada pela Unesco
Uma descoberta científica
vem sempre acompanhada
de ansiedade, que deve
ser domada a todo custo. É preciso
guardar o grito dentro do si, às
vezes por meses, até que tudo
tenha sido checado e rechecado.
É um mundo de exatidões, que
não mistura empolgação com
dados. Basta lembrar dos neutrinos
recordistas que, no fim, não eram
mais rápidos que a luz coisa
nenhuma – um cabo é que estava
mal conectado.
Ciência é uma carreira para mulheres? “Todas as mulheres têm
condições de serem boas cientistas”, defende Thaisa Bergmann,
premiada astrofísica brasileira que atualmente se dedica ao
estudos de buracos negros
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Conheça a história da astrofísica brasileira premiada pela Unesco
A astrofísica Thaisa Bergmann
experimentou essa mistura de emoções
em 1991. Ela observava uma galáxia
quando notou um sinal estranho
nos dados: gás girando em altíssima
velocidade. Era a assinatura de um
buraco negro supermassivo, com a
massa de bilhões de sois. Seu orientador
pediu que ela refizesse tudo. Estava certa.
Conseguir observar um buraco negro no
ato da captura de matéria é difícil, e a
brasileira Thaisa foi a primeira pessoa a
observar um supermassivo em atividade
em uma galáxia considerada inativa. A
descoberta foi recebida mundialmente
como um avanço. “Quando me dei conta
do que era, fiquei dias emocionada”,
conta. “Descobri um evento que acontece
há cada 10 mil anos numa escala
humana de tempo.”
Em 2015, para coroar uma carreira
renomada, vieram louros também de
fora das ciências. Thaisa ganhou um dos
cinco prêmios anuais L’Oréal-UNESCO
For Women in Science, que conta com
cerimônia na Université Paris-Sorbonne,
pôsteres espalhados pela avenida
Champs Elysées e bolsa de US$ 100 mil.
“Por onde passávamos, enxergávamos
nossas caras”, ri.
A importância do prêmio, para ela, foi
além da visibilidade. “Ficamos muito
felizes em sermos reconhecidas também
pela população e pelas famílias, que às
vezes não entendem o que toma tanto
nosso tempo”, conta. “Essa parte foi bem
importante para mim, porque eles viram
que o que eu fazia era importante.”
Raízes do interesse Thaisa sempre
gostou de ciências, mas chegou a
cursar um semestre de arquitetura
antes de se dar conta que não era
aquilo. Logo estava nas aulas de Física
da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRS), onde trabalha e dá aulas
até hoje, no comando do Grupo de
Pesquisas em Astrofísica.
A paixão pela astrofísica em particular
veio pouco depois, em uma iniciação
científica. “Meu professor me deu
leituras, começamos a fazer um pequeno
trabalho na área de astronomia e fui
gostando cada vez mais”, lembra.
O empurrão final veio da orientadora
Miriani Griselda Pastoriza, famosa
astrônoma brasileira. “Ela amava galáxias
com núcleos ativos, que têm alguma
característica peculiar no centro”, diz.
“Fiquei fascinada pelo tópico.”
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Observando discos Atualmente, uma
galáxia é classificada como ativa quando
o buraco negro supermassivo em seu
centro está captando matéria – e as
publicações de Thaisa ajudaram a criar
essa definição. Tal captura gera o que
físicos chamam de efeitos de feedback,
que permitem as observações. (Um
buraco negro em si, vale lembrar, nunca
foi visto.)
A forte radiação que parece sair do
centro dele na verdade vem da
estrutura que o envolve, chamada de
disco de acreção. Antes de cair lá dentro,
o que acontece aos poucos, a matéria
gira de maneira similiar à água escoando
pelo ralo.
É aqui que Thaisa realmente se
especializou. “Do próprio disco saem
jatos de partículas, devido ao intenso
campo magnético”, explica. “Mesmo nas
partes mais externas há ventos, como os
ventos solares, e um gás muito quente
que se levanta e evapora – tudo isso
empurra o gás e acabamos enxergando
essa atividade.”
Hoje, com cerca de 5 mil menções, ela
integra o grupo dos cientistas brasileiros
mais citados do mundo, mas diz nem
ter notado a ascensão. “Foi uma grata
surpresa”, resume.
Liderança feminina A cada seis meses,
a professora e seus alunos elaboram
projetos e entregam propostas de
observação à universidade. Se forem
aceitas, ganham alguns meses para
observar as estrelas – mas não do jeito
que se imagina.
“No começo da minha carreira, eu ia
até o observatório, deixavam o
telescópio na minha mão e eu passava
a noite lá”, lembra ela, que trazia os
dados em fitas magnéticas. “Agora, a
gente baixa os dados da internet. As
coisas vão mudando.”
E se hoje é raro que ela olhe pela ocular
para o céu, a sofisticação tecnológica
compensa o romantismo decrescente.
“Num telescópio como o Gemini, com
seis horas eu já tenho uma resposta
científica”, diz.
Além do Gemini, Thaisa tem acesso ao
Hubble, ao Chandra e ao Spitzer, todos
da NASA e que oferecem tipos de dados
diversos. “São instrumentos que usamos
Conheça a história da astrofísica brasileira premiada pela Unesco
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para medir as coisas, como a luz que se
dispersa em diferentes comprimentos
de onda e então estudamos cada
cor”, exemplifica.
Questionada sobre a representatividade
feminina na ciência – de acordo com a
Unesco, apenas 30% dos pesquisadores
do mundo são mulheres –, ela é direta:
todas as mulheres têm condições de
serem boas cientistas.
“Mulheres enxergam assuntos de
uma maneira um pouco diferente
dos homens e isso adiciona”, conclui.
“Ter um conhecimento amplo de tudo
deveria ser o objetivo de todas as áreas
de conhecimento.”
Conheça a história da astrofísica brasileira premiada pela Unesco
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‘Minha vontade é impactar mui-ta gente’, diz Marcela Trópia, que planeja ser a vereadora mais nova de Belo Horizonte
Em 2016, aos 21 anos, Marcela
Trópia planeja ser eleita
a vereadora mais jovem
da capital mineira. Para ela, no
entanto, a idade é secundária: seu
interesse pela gestão pública já é
antigo. “Sempre gostei de projetos e
de criar novas oportunidades para
os alunos”, diz, lembrando-se dos
tempos de grêmio escolar.
Para ela, idade não será um problema; estudante da Fundação
João Pinheiro, Marcela Trópia é bolsista da Fundação Estudar
e, aos 21, quer trazer para pauta temas como empoderamento
feminino e novas formas de fazer política
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‘Minha vontade é impactar muita gente’, diz Marcela Trópia, que planeja ser a vereadora mais nova de Belo Horizonte
Atualmente cursa o último ano de
Administração Pública na Fundação João
Pinheiro, uma escola técnica de governo
voltada para a formação de profissionais
da área. Com renome internacional,
a escola figura como melhor curso
de Administração Pública do país em
diversos rankings. Com um processo
seletivo bastante concorrido, também
possui uma característica única no
ensino superior brasileiro: seus alunos,
após concluírem o curso, são nomeados
para uma posição inicial de carreira no
Poder Executivo de Minas Gerais.
Marcela, que é bolsista da Fundação
Estudar, está nos estágios iniciais do
que será sua primeira campanha
política. Não é novata no assunto, visto
que ajudou outros candidatos no ciclo
passado, mas está se acostumando aos
desafios únicos da área.
“É difícil motivar as pessoas, que
são voluntárias porque não temos
dinheiro nesse momento, e ter ideias
que caibam dentro desses esforços”,
conta a pré-candidata. “E também há
a gestão de tempo, é uma correria
danada.” (Vale lembrar que muito do
que é uma campanha eleitoral,
incluindo arrecadação e movimentação
financeira, só pode começar de fato no
segundo semestre.)
A mensagem em si ela garante que já tem
bem desenhada. Envolve a importância
da política local, do empoderamento
feminino – dos 41 vereadores em Belo
Horizonte, apenas uma é mulher – e de
maneiras diferentes de fazer política,
como criar um aplicativo para monitorar
a atuação de um representante e
acompanhar seus votos.
“Minha vontade de impactar muita
gente é muito grande, então estou me
colocando à disposição para fazer política
de um jeito diferente”, explica. “Quando
me perguntam quais são minhas
bandeiras, eu pergunto: Quais são as
suas? Eu estou aqui pra ser demandada e
não para impor, então vamos conversar.”
Experiências profissionais Além de cuidar da pré-campanha,
Marcela atualmente estagia na Secretaria
de Estado de Planejamento e Gestão de
Minas Gerais. A tarefa principal é ajudar
a redesenhar os processos de recursos
humanos do Estado, que datam de 1980.
Antes disso, trabalhou na gestão anterior
do governo estadual e na consultoria
50
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FALCONI. Marcela queria experimentar
algo diferente na faculdade e foi
aconselhada pelo irmão e por um
amigo consultor na empresa, ex-bolsista
da Fundação Estudar. Passou um ano
trabalhando em um projeto de grande
porte de uma empreiteira
e saiu impressionada com a eficácia
das ferramentas.
“Durante nosso treinamento em Excel e
soluções de consultoria, fiquei revoltada
porque não aprendíamos aquilo
na faculdade”, ri. “Quando eu tinha
qualquer dúvida, os consultores me
ensinavam cinco maneiras de resolver
aquilo, aprendi muito.”
Levou da experiência novos
conhecimentos de gestão e de
ferramentas, como indicadores e planos
de ação, que aplica inclusive na pré-
campanha. Saiu, no entanto, com a
certeza de que a paixão era mesmo pela
gestão pública: “Quando há pessoas boas
participando, as coisas acontecem. É
muito bacana trabalhar mudando a vida
dos outros.”
Amadurecimento E se política é a arte de governar, um
bom político deve desenvolver sempre
que possível sua capacidade de diálogo.
Nas sessões de coaching que faz para
se preparar para as eleições – Marcela
é uma de 16 candidatos escolhidos
pela rede RAPS para um programa-
piloto de desenvolvimento de lideranças
políticas –, ela reflete sobre as
características como essa.
“A grande missão de um líder é saber
onde quer chegar e como motivar as
pessoas a acreditarem que aquilo é
realmente importante para o grupo”,
resume. “E tem que saber escutar: em
toda reunião que você for fazer, seja o
último a falar.”
Além do auxílio da coach, ela destaca
as redes que criou na Fundação Estudar,
que inclui colegas bolsistas e sua
turma do programa Imersão do Na
Prática, com quem ela mantém contato
desde 2014.
Foi em encontros como esses que
Marcela se viu inspirada a ir além e
vislumbrou sua candidatura. “Vi que eu
podia ser candidata, fazer coisas no meu
bairro, ser mais ativa, que eu podia fazer
mais”, explica. “A rede me ajudou muito
a entender que meu propósito maior é
melhorar a vida das pessoas.”
‘Minha vontade é impactar muita gente’, diz Marcela Trópia, que planeja ser a vereadora mais nova de Belo Horizonte
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Quando pensa em como engajar
jovens na gestão pública, Marcela
sugere que participem em qualquer
nível de política local: de conselhos
municipais às audiências públicas,
passando pelos diretórios centrais
de estudantes, redes de solidariedade
ou ocupação de espaços públicos.
Sonha com indivíduos cada vez
mais ativos e que transformem suas
cidades da maneira que quiserem,
seja proativamente acionando a
prefeitura para consertar um buraco na
rua ou cuidando, em grupo, de
uma horta comunitária.
Para conseguir a cadeira na Câmara,
que será decidida em outubro, a mineira
precisa angariar pelo menos quatro mil
votos por Belo Horizonte. Está confiante.
“Brinco que minha meta é subir no palco
da reunião anual da Fundação Estudar
em 2017”, diz. “Já que subi da última vez
para dizer que seria candidata, agora
quero mostrar que fui eleita.”
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‘Minha vontade é impactar muita gente’, diz Marcela Trópia, que planeja ser a vereadora mais nova de Belo Horizonte
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Do mercado financeiro a uma revolução no terceiro setor
Ela disse um sonoro não ao
abonadíssimo mercado
financeiro de Londres para
começar do zero no incerto mundo
das ONGs. Daniela Barone Soares,
40 anos, havia decidido que não
correria mais atrás do primeiro
milhão, do segundo… A virada
aconteceu em 2004, exigiu a troca
de apartamento e o corte de alguns
mimos e fricotes, mas lhe caiu
muito bem.
Uma das brasileiras mais destacadas na Inglaterra, Daniela
Barone fala sobre liderança feminina e terceiro setor e dá dicas
para quem está pensando em mudar de carreira
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Do mercado financeiro a uma revolução no terceiro setor
Essa mineira de Belo Horizonte –
aluna AAA do curso de economia da
Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp) e pós-graduada na meca dos
administradores, a escola de negócios de
Harvard com bolsa da Fundação Estudar
– é um dos nomes mais respeitados do
terceiro setor na Inglaterra.
Já foi chamada de “anjo dos negócios”
pelo jornal The Guardian e, em
2009, entrou para o ranking das 100
personalidades “que fazem o Reino Unido
mais feliz”, do jornal The Independent.
Foi dessa maneira que a revista Claudia
apresentou Daniela em uma matéria de
destaque em 2010. Aquele foi um período
de muita visibilidade da carreira de
Daniela, que naquele momento recebia
o reconhecimento pela mudança radical
de carreira feita anos antes.
Daniela teve uma carreira muito bem-
sucedida no mercado financeiro antes
de entrar no terceiro setor, onde há
mais de dez anos lidera a ONG Impetus.
A organização arrecada doações para
entidades filantrópicas e ensina a elas
gerenciamento, administração e formas
de obter financiamentos, uma área de
trabalho recente, baseada no know-how
do mercado financeiro.
A convite da ImpulsoBeta, Daniela
aceitou compartilhar um pouco de
sua jornada profissional e inspirar
pessoas em movimentos ousados de
carreira em busca de seus sonhos.
Fiquem com a Daniela:
O que você planejava para a carreira na época da faculdade?Na época, eu sabia que queria fazer a
diferença, mas não sabia ainda como.
Tinha pensado em seguir carreira
política, brevemente, mas na área social
não via muitas alternativas que tivessem
o meu perfil. Fui trabalhar no setor
financeiro, combinando meu interesse na
área com a visão de que a experiência no
setor abriria portas futuramente.
Com menos de 30 anos você já era vice-presidente do BancBoston Capital. Como foi esse momento da sua carreira, estando na liderança tão cedo?O BancBoston Capital na Inglaterra tinha
uma estrutura super flat, a hierarquia
era muito pouca. Era um escritório
pequeno, cobrindo toda a Europa, então
era muito empreendedor. Eu focava
mais nos países Ibéricos e Itália — desde
construir relacionamentos para co-
investimento até efetuá-los e integrar o
54
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conselho. Era uma mistura de estratégia,
análise, finanças e empreendedorismo,
pois estávamos apenas começando a
fazer investimentos em private equity
nas empresas desses países.
Acho que em private equity, em geral,
é necessário bastante thick skin (pele
grossa). Time pequeno, muita viagem,
o tempo todo, trabalho bem intenso,
num ambiente quase exclusivamente
masculino. E bom humor unido a
competência é essencial.
Em que momento você começou a decidiu mudar seus rumos profissionais?Eu gostei da minha experiência de
private equity e venture capital. Mas
encontrei algo que faz muito mais
sentido pra mim. Na verdade, sempre fiz
voluntariado, geralmente diretamente
com as pessoas carentes. Quando
estava trabalhando em private equity,
tive a oportunidade de ajudar uma
CEO de uma ONG a fazer um plano de
negócios, a estruturar a organização,
a pensar mais estrategicamente. Esse
foi meu grande ‘insight’: ver que as
habilidades que adquiri no meu MBA e
na carreira em private equity e venture
capital, onde se tem uma visão mais
abrangente de negócios, eram muito
relevantes para o terceiro setor. Então
veio a determinação de combinar essas
habilidades de negócios, gerenciamento
e empreendedorismo com algo onde
eu pudesse fazer uma diferença social
maior e mais significativa.
E como foi a adaptação para o terceiro setor?A adaptação foi fácil e difícil. Fácil pois
foi imensamente gratificante. Difícil
pois no ano seguinte recebi menos de
salario do que tinha pago de imposto
no ano anterior. Fácil porque realmente
escolhi uma posição onde minhas
habilidades eram incrivelmente úteis
e em demanda. Difícil porque tinha
muito o que aprender em relação ao
setor, à dinâmicas do setor e o constante
malabarismo de fazer ‘mais com
menos’, pois recursos são sempre
escassos em relação ao problema social
que se quer resolver.
Quais são para você suas principais realizações profissionais e pessoais?Estou há quase 10 anos no comando da
Impetus. Nesse período, a organização
passou de uma startup de duas pessoas
full-time para uma organização de
Do mercado financeiro a uma revolução no terceiro setor
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excelente reputação e reconhecimento
na Inglaterra, dez vezes maior em
receita, com 45 funcionários e tendo
investido e escalonado mais de 50
instituições, alcançando mais de 250
mil pessoas no ano passado. Ter dado
forma a essa organização incrível foi
um grande privilegio.
Pessoalmente, construí uma carreira
onde tenho participação ativa em
todos os três setores da economia e
adoro isso. No terceiro setor como CEO
da Impetus, no setor corporativo como
Diretora Não-Executiva dos Conselhos
de Administracao da Evora S.A. holding
no Brasil e da Halma Plc na Inglaterra,
e no setor publico como co-fundadora
do Education Endowment Foundation,
um fundo de £140m (R$ 630 milhões)
do Departamento da Educção da
Inglaterra, alem de participação
ativa em duas grandes iniciativas do
Primeiro Ministro David Cameron: Big
Society Capital (o primeiro banco de
investimentos sociais no mundo) e,
mais recentemente, o G8 Social Impact
Investment Taskforce, onde participei
como chair de uma das iniciativas,
sendo homenageada pelo Chanceller,
George Osbourne.
Do mercado financeiro a uma revolução no terceiro setor
Que dicas você dariam para mulheres que estão passando por uma transição de carreira?Bem, depende muito da carreira e da
trajetória de cada um. Em geral, pela
minha experiência, eu diria:
• Busque se autoconhecer, veja
profundamente o que motiva você.
• Traduza suas motivações em pré-
requisitos para o que você busca.
• Converse com muita gente que já fez
este percurso que você quer fazer e
veja o que se aplica a você.
• Se tiver oportunidade, experimente!
Teste o campo onde quer atuar, sem
compromissos de longo prazo (engaje-
se em projetos, voluntariado, etc). Teste
suas hipóteses na prática.
• Ainda que seu primeiro emprego na
nova área não seja o que você sonhou,
persista. Sua determinação e amor ao
que faz criarão oportunidades dentro
ou fora dessa primeira posição.
E para mulheres que aspiram chegar a uma posição de alta liderança, qual o conselho?A história de cada pessoa é diferente,
então não existem caminhos
predefinidos. Importante em qualquer
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caminho é o autoconhecimento e
autoaprimoramento. Saber como
contribuir em cada situação, saber
onde investir seu tempo e habilidades,
saber o que se quer e aonde se quer
chegar. Definir, por si própria, o que
sucesso significa – e avaliar-se de acordo,
honestamente. Entender profundamente
o que motiva e energiza você e então ir
atrás de uma carreira coerente com isso.
Para mim, liderança natural é aquela
que combina paixão com competência e
disciplina na implementação..
Do mercado financeiro a uma revolução no terceiro setor
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Na Prática recomenda: livro ‘Faça Acontecer’, de Sheryl Sandberg
Faça Acontecer” é um livro
sobre os desafios que as
mulheres enfrentam para
progredir em suas carreiras e a
experiência pessoal de sua autora
nessa trajetória. Foi escrito por
Sheryl Sandberg, atual COO do
Facebook, ex-vice-presidente de
operações do Google e uma das
dez mulheres mais poderosas
do mundo segundo ranking da
revista Forbes.
Quem recomenda a obra é
Anamaíra Spaggiari, coordenadora
da unidade de carreiras, envolvida
nos programas de formação de
lideranças da Estudar: o Laboratório
e o LABx. “O livro ajuda a entender
certas especificidades na carreira
da mulher e as dificuldades que ela
assume no crescimento dentro das
empresas”, justifica.
Inauguramos um novo espaço no portal, em que pessoas da
equipe e rede da Fundação Estudar recomendam e comentam
livros que marcaram sua carreira. A primeira indicação é de
Anamaíra Spaggiari, coordenadora da organização
“
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Na Prática recomenda: livro ‘Faça Acontecer’, de Sheryl Sandberg
Desde que a edição original, “Lean In”,
foi lançada em 2013, o livro vendeu mais
de 2,25 milhões de cópias no mundo
todo e desencadeou um movimento que
já conta com cerca de 21 mil grupos de
discussão sobre liderança feminina em
97 países.
Para Anamaíra, o livro faz-se útil em
qualquer idade, mas tem impacto
especial quando é lido no início da vida
profissional – tanto por homens quanto
por mulheres.
“Na minha faculdade, tinha um grupo
feminista muito organizado, mas com o
qual eu não tinha muita identificação. Eu
não entendia como esse tipo de questão
se apresentava no meu dia a dia”, conta
Anamaíra, que estudou Comunicação
Social na Universidade Federal de Juiz de
Fora (UFJF-MG).
“Foi quando eu comecei a minha carreira
que eu percebi como certos obstáculos
para as mulheres são reais. E é aí que
você consegue fazer muitas associações
com o conteúdo do livro”, completa.
Em 2011, quando foi eleita presidente
da AIESEC de Juiz de Fora, uma das
primeiras tarefas de Anamaíra era
escolher o time que estaria com ela na
organização. Preencheu as seis vagas
disponíveis com mulheres. “Eu estava
consciente dessa decisão, de que elas
eram as melhores, mas fui muito
criticada por isso, algumas pessoas
achavam absurdo a equipe ser toda de
mulheres e julgavam que alcançaríamos
menos resultados por isso”, conta.
Fatores internos Dos onze capítulos
do livro, apenas três tratam de alguma
forma do equilíbrio entre trabalho e
família e da questão da maternidade –
assuntos que costumam ser centrais em
outras obras sobre o tema.
O foco principal está em como as
mulheres podem tomar as rédeas
de suas próprias carreiras e crescer
profissionalmente, em um momento que
o preconceito de gênero continua sendo
uma realidade no mundo todo.
A novidade que Sheryl traz talvez seja
também seu posicionamento mais
controverso: ela foca nos obstáculos
internos que limitam a ascensão das
mulheres no mercado de trabalho. Para
ela, um importante fator que impede
o avanço feminino está relacionado à
própria autoconfiança das mulheres.
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“Uma das coisas que me empolgaram no
livro foi mostrar como a própria mulher
acaba, sem querer, autossabotando
sua carreira, ao se enxergar como mais
frágil ou se colocar para trás”, conta
Anamaíra. “Isso não quer dizer que não
existam fatores externos. Claro que
existem barreiras que as mulheres ainda
enfrentam no local de trabalho, sutis ou
nem tanto, mas o livro também pondera
bem esses pontos”, completa.
Relatos pessoais Em “Faça Acontecer”, Sheryl não tem
medo de admitir suas próprias fraquezas,
falhas e dúvidas. O texto está recheado
de relatos de experiências pelas quais ela
própria passou, inclusive no Facebook.
Ela escreve sobre como se sentia
mal durante a infância quando as
pessoas a chamavam de “mandona”,
as dúvidas sobre seu potencial durante
a universidade (mesmo estando entre
os melhores alunos de sua turma em
Harvard) e como quase aceitou trabalhar
para o Facebook por uma remuneração
bem menor, por se sentir insegura em
fazer uma contraproposta salarial ao
CEO da empresa, Mark Zuckerberg.
Ao mesmo tempo, traz diversas pesquisas
e estatísticas que dão suporte a suas
constatações. Cita, por exemplo, um
estudo da consultoria McKinsey & Co.
mostrando que, enquanto os homens
são promovidos com base no potencial
que demonstram, as mulheres precisam
apresentar realizações para subir de cargo.
A mensagem para as mulheres é clara
desde o começo do livro: negocie por
você mesma. Todas as pessoas precisam
aceitar mulheres em posições de
liderança, inclusive as próprias mulheres.
“A Sheryl coloca a mulher como
protagonista da sua carreira. Ao trazer
essa perspectiva da autossabotagem,
ela permite que a leitora veja o que
pode fazer de diferente e melhor.
Independentemente do preconceito
que ainda possa existir no ambiente,
a mudança deve começar por nós
mesmas”, conclui Anamaíra.
Na Prática recomenda: livro ‘Faça Acontecer’, de Sheryl Sandberg
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TEXTO
Ana Pinho
Lecticia Maggi
Rafael Carvalho
PARCERIAImpulso Beta
DESIGNDanilo de Paulo Marcos Torres Renata Monteiro
FOTOS Reprodução
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