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    Limites e possibilidades da Agroecologia como base parasociedades sustentveis

    GOMES, J. C. C. ; BORBA, M. F. S. . Limites e possibilidades da Agroecologia como basepara sociedades sustentveis. Cincia e Ambiente, Santa Maria, v. 29, 2004.

    A origem da agroecologia, como afirma Susanna Hecht, to antiga quanto asorigens da agricultura. As agriculturas tradicionais, indgenas ou camponesas,quando analisadas pelos pesquisadores, revelam sistemas agrcolas complexosque incorporam o uso de recursos renovveis localmente disponveis emdesenhos que integram comportamentos ecolgicos e estruturais de solo evegetao em base a conhecimentos tradicionais gerados durante muitos e muitosciclos produtivos, transmitidos entre geraes. No entanto, a Agroecologia comocampo de produo cientfica, bem como a aplicao de seus princpios na

    agricultura, na organizao social e no estabelecimento de novas formas derelao entre sociedade e natureza surge a partir dos anos 1970 do sculopassado. Atualmente, o tema objeto de polticas pblicas, tanto de organizaesdo Estado como da Sociedade.

    Com este artigo, pretende-se contribuir para a ampliao do debate sobre aspossibilidades do uso do referencial cientfico da agroecologia como instrumentopara a construo de sociedades sustentveis, o que envolve perspectivasmultidimensionais, neste caso organizadas a partir de uma breve reviso sobrefundamentos epistemolgicos, metodolgicos, sociolgicos e tecnolgicos.

    Inicialmente, preciso localizar a perspectiva agroecolgica e suas possibilidadesno debate terico. que em alguns ambientes se discute se a agroecologiarepresenta ou no um novo paradigma. Cabe lembrar que o conceito deparadigma, como formulado por Tomas Kuhn referia-se a uma espcie de cdigointerno prpria cincia, representando um conjunto de regras, mtodos etcnicas utilizados para identificar e resolver problemas, bem como as respostasaceitas como vlidas por uma determinada comunidade cientfica em umdeterminado contexto histrico. Ou seja, quando adere a um paradigma umpesquisador aceita ao mesmo tempo teoria, mtodos e normas reconhecidas eaprovadas pelo grupo que o pratica, quase sempre em uma mescla inseparvel.Mais tarde Fritjof Capra e Boaventura de Sousa Santos ampliaram o conceitoconferindo-lhe a possibilidade de explicar a relao da cincia com a sociedade e

    at mesmo de explicar os arranjos sociais em cada contexto histrico.

    O conceito de incomensurabilidade, que tanta polmica causou na obra de TomasKuhn, dizia que dois cientistas ou duas pessoas que professam paradigmasdiferentes, quando esto na mesma posio e olham para o mesmo ponto vemsempre coisas diferentes. Assim, o que nasce seria incomensurvel com o quemorre, no havendo, pois, nem ressurreies nem re-encarnaes, a passagems seria possvel entre pensamentos comensurveis. S depois de passadosmuitos anos ou sculos seria possvel afirmar a morte de um paradigma edeterminar a data aproximada em que ocorreu. A passagem entre paradigmas a

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    transio paradigmtica seria assim, semi-cega e semi-invisvel (Sousa Santos,2000).

    Nos ambientes acadmicos e nas instituies de pesquisa, a busca do novo noocorre somente pelo carter de vanguarda que sempre deve existir nestesambientes, mas pela convico crescente da impossibilidade do atual paradigmapara responder certas questes suscitadas no contexto da atual crise do modelocivilizatrio, cuja dimenso mais aparente a crise ecolgica, mas que tambm social, econmica, cultural, institucional, etc. Isto remete para um aparenteparadoxo. Se os sinais de falncia do paradigma atual ou as evidncias da crise,que a mesma coisa, so to claros, por que os cientistas no aderemmaciamente novos ares paradigmticos? Uma explicao plausvel que amaioria deles ainda no percebeu que o paradigma vigente o maior responsvelpela crise em que a humanidade encontra-se mergulhada. Assim a base

    epistemolgica do paradigma vigente representa o maior obstculo a uma rupturaparadigmtica, reforando o que o prprio Kapra definiu como crise depercepo.

    Se for vlida a suposio de que grande parte dos tcnicos e cientistas ainda nopercebeu que a partir da base epistemolgica que orienta o atual paradigma impossvel promover qualquer ruptura e que a sua manuteno por mais tempoaumenta os riscos de colapso dos principais sistemas ecolgicos e socioculturaisdo planeta, ento h que se buscar em algumas das mais importantes correntesfilosficas da modernidade a explicao para esta suposio.

    O empirismo, corrente filosfica inaugurada por Bacon, tinha como objetivo odomnio sobre a natureza utilizando a experincia e os sentidos como fonte doconhecimento. Bacon parte dos fatos empricos do mundo natural para promover advida crtica com respeito ao saber tradicional, da investigao metdica e daclassificao sistemtica da informao baseada em dados objetivos, da rigorosaexperimentao e da aplicao essencialmente prtica de todo o conhecimento.Um dos reflexos da corrente filosfica empirista na cincia contempornea, arepetio experimental utilizando metodologias indutivas, pratica dominante emnossas academias at os dias de hoje.

    O racionalismo, corrente filosfica que pertence Descartes surge em oposio afilosofia empirista. Segundo a doutrina filosfica racionalista os conhecimentos

    vlidos e verdadeiros sobre a realidade so procedentes da razo e no dossentidos e da experincia. A tese do reducionismo, segunda regra do mtodo deDescartes, cada dificuldade deve ser dividida em tantas partes quanto sejapossvel e necessrio para melhor poder resolv-las teve com reflexo aespecializao de tcnicos e cientistas. Alm do reducionismo, a filosofiaracionalista teve outro reflexo sobre a cincia contempornea: a interpretao daspequenas partes, levada ao extremo, resultou na tendncia acompartimentalizao do saber.

    Por sua vez, o positivismo de Auguste Comte estabelece uma srie de afirmaescom pretenso de verdade, relacionadas com o modo de entender a natureza. O

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    conhecimento positivo aquele proveniente dos sentidos e define que os fatosso os nicos objetos possveis de conhecimento. Assume a f no progresso dacincia como nica forma de conhecimento vlido: a cincia proporciona um

    conhecimento puramente descritivo que deve se estender a todos os campos dosaber, incluindo o homem. Para Comte o saber positivo designa o real emoposio ao quimrico, o contraste do til ao ocioso, a oposio entre a certeza ea dvida, ope o preciso ao vago. Mas principalmente o conceito positivo expresso como contrrio de negativo. A busca da certeza e da verdade tambmfoi incorporada s praticas acadmicas, como mxima quase absoluta.

    De forma resumida, portanto, pode-se dizer que o paradigma da cincia ocidentalencontrou alguns de seus fundamentos no empirismo (o conhecimento obtido pelaexperincia repetida), no racionalismo (a reduo do todo a partes pequenas paramelhor estud-las, e que teve como corolrio a especializao); e no positivismo,

    ou conhecimento objetivo e verdadeiro sobre a realidade estudada e a supremaciaincontestvel da cincia na produo do conhecimento vlido. Para a pesquisaagronmica, o empirismo representa o experimento, a parcela experimental; oreducionismo a especializao e a compartimentalizao do saber; j opositivismo representa a verdade, a certeza, o conhecimento neutro e universal.

    Ento, estudar epistemologia tem o sentido de ir alm das aparncias, da falsailuso da busca do conhecimento objetivo, da obteno do conhecimento vlido,neutro e verdadeiro. Tem tambm como objetivo desmistificar a existncia demonoplio da cincia sobre o conhecimento, mostrando que existem outrasformas de conhecimentos hoje reconhecidos como fontes de conhecimentostambm vlidos, ainda que produzidos fora dos ambientes acadmicos. Que noexiste apenas a busca do conhecimento desinteressado sobre como as coisasfuncionam. A epistemologia nos ajuda a mostrar que essa coisa chamadacincia apenas uma construo social, o que no significa que no seja muitoimportante.

    Neste caso a Agroecologia representa um poderoso instrumento e umanecessidade para a ruptura com a tradio epistemolgica nascida no empirismo,no racionalismo e no positivismo. No entanto, aagroecologia pode representar umavano paradigmtico somente para queles que esto em busca do novo, o queinfelizmente ainda representa uma minoria nas academias e instituies depesquisa contemporneas. Na Agroecologia, vista como disciplina ou princpio

    cientfico, as premissas tericas so radicalmente diferentes de alguns princpiosoriundos de correntes filosficas que moldaram a produo do conhecimento eat o arranjo social na moderna sociedade ocidental. A base epistemolgica daAgroecologia incorpora a complexidade, a dvida, a incerteza, pretende ser interou transdisciplinar, sua pauta a temtica e no a disciplina, reconhece ossaberes tradicionais e cotidianos como tambm vlidos.

    A partir da, a segunda grande questo proposta pela agroecologia anecessidade de uma reviso metodolgica que permita superar a aplicao linearda estrutura metodolgica das cincias naturais incorporando tambm a dascincias sociais. Ou pelo menos que se possa trabalhar na perspectiva de um

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    pluralismo metodolgico, o que j vem sendo praticado em alguns casos. Seagora no mais importa apenas o domnio humano sobre a natureza, se o queinteressa a promoo de uma relao mais harmoniosa entre a sociedade e a

    natureza, ento h que se trabalhar com os mtodos que explicam a sociedade eno s com os que ensinam a explicar e a dominar a natureza ( o que Prigogine& Stengers, 1994, denominam Nova Aliana), j que no h mais como obviarque sociedade e natureza mantm uma mtua determinao onde uma conformaa outra.

    A tradio de pesquisa fundada no empirismo, no racionalismo e no positivismofez da parcela experimental e do laboratrio o lcus preferencial de sua aocotidiana. Isto ajudou a aperfeioar um dos ritos sagrados da pesquisa cientfica, ocontrole das variveis e o rigor experimental, ambos importantes para a aplicaode testes estatsticos, por exemplo. Mas por outro lado tambm teve como

    resultado o distanciamento entre os pesquisadores e o meio real onde operamagricultores e produtores rurais. Ou seja, provocou uma dissociao entre aproduo e a aplicao do conhecimento. Mas no s isso, tambm provocou aadoo de uma falsa concepo de que existe uma certa linearidade nasnecessidades e demandas de pesquisa, o que por sua vez provocou o quasecompleto esquecimento de alguns pblicos, que tem tido escasso acesso sPolticas pblicas.

    O que se pretende que a incorporao de estruturas metodolgicas at entopouco usadas na pesquisa agropecuria permita reforar uma prtica cientficaque prime no s pelo rigor, mas que promova a democratizao do conhecimentovia aplicao de tcnicas e mtodos de pesquisa. A adoo dos princpios dapesquisa participativa, da pesquisa-ao, do uso de metodologias comodiagnstico participativo, leitura de paisagem, etc. permitem o re-encontro deprodutores e usurios de conhecimento, de forma abrangente e democrtica. Arelao entre sujeitos com conhecimentos diferentes capazes de articular umterceiro nvel de conhecimento o que Paulo Freire propunha com o mtododialgico.

    Ou seja, os princpios da Agroecologia tambm so instrumento para organizarpolticas pblicas, inclusive de Cincia e Tecnologia ou de Pesquisa eDesenvolvimento que contribuam para que o conhecimento possa ser apropriadode forma equnime. Sem a pretenso de receita, isso possvel desde que se

    aceitem alguns pressupostos. Em primeiro lugar por intermdio de um processode prospeco de demandas baseado no dilogo que de voz e vez a muitosatores sociais que no tem tido facilidade de expressar as suas necessidades.Principalmente os de recursos mais escassos, que vivem em locais maisafastados ou que tem dificuldades para desenvolver mecanismos de organizaoe participao, os pblicos da reforma agrria, os quilombolas, as populaesindgenas.

    Outro ponto importante para a Agroecologia a prpria participao, no paralegitimar interesses poderosos ou propostas de fora para dentro ou de cimapara baixo. Para a Agroecologia a agricultura fruto de um processo de

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    coevoluo entre uma sociedade especfica e seu ecossistema, portanto, trata-sede realidade complexa que envolve processos sociais e ecolgicos. De tal formaque, numa viso ampliada do desenvolvimento rural, busca abordar a realidade

    desde uma viso mais integral, onde ambos processos, ecolgicos e sociais,sejam considerados, a ponto de que a interveno ao mesmo tempo em quedestape fragmentos pouco visveis da realidade estudada, seja apropriada pelosatores sociais envolvidos. Neste sentido, a participao condio essencial, pois instrumento de mobilizao social que fortalece os laos comunitrios e osentido comum, com a finalidade de desencadear processos de ao socialcoletiva nos quais as pessoas reconhecem o valor dos recursos e demaiselementos constituintes de uma condio local (muitas vezes assinalada comomarginal), com fins de estabelecer planos de longo prazo; numa perspectiva dedesenvolvimento endgeno. Para a Agroecologia a incorporao da participaocomo pressuposto epistemolgico permite ganhos em conhecimento e em

    criatividade, assim como estabelecer processos transformadores de longo prazo.A participao verdadeira tampouco aquela que trs embutida a idia moral detutela ou de favor. Estas no so coisas fceis de realizar, at mesmo porqueexistem barreiras de ordem institucional e pessoal, produto de uma cultura quesempre considerou a produo do conhecimento como uma coisa universal, eno como construo scio-histrica que ocorre em espaos de interesses, dedisputas e de conflitos. O que ocorre no s de forma ampliada na sociedade, mastambm internamente nas instituies (j que estas tendem a reproduzir o queocorre nas sociedades onde esto inseridas). Ainda assim, os princpios tericosda Agroecologia poderiam ser usados como instrumento para tirar a atividadecientifica da redoma, da torre de marfim, fazendo com que o cientista assumatambm o seu carter cidado, a responsabilidade sobre o que faz, saindo dacomunidade restrita de pares para a comunidade estendida de pares (Funtowicz &Ravetz, 1993), do laboratrio e da parcela para atuar junto e com os agricultores eprodutores rurais.

    Outra grande perspectiva da Agroecologia sua dimenso sociolgica. Para aagroecologia como disciplina cientfica no existe um conhecimento de carteruniversal ou a-histrico, que sirva para todos e em qualquer lugar. Ao contrrio,pblicos especficos necessitam polticas tambm especficas. Isto representaimplicaes para as instituies pblicas, principalmente para as que atuam emprogramas de P&D e que pretendem pautar suas aes por objetivos sociais (no

    se deveria esperar outra coisa de Instituies Pblicas do Estado). Por objetivossociais entende-se a busca de modelos de desenvolvimento no pautados apenaspelo crescimento econmico, importante mas insuficiente para que a prpriasociedade possa sustentar-se. A agroecologia se caracteriza por uma abordagemintegral da agricultura, onde as variveis sociais tem papel de alta relevncia. Ouseja, ainda que parta da anlise da unidade de produo em sua dimensotcnica (estratgias de artificializao ecocompatveis da natureza para aproduo de alimentos), a agroecologia pretende sobretudo entender as mltiplasformas de dependncia que o funcionamento da poltica, da economia e asociedade geram sobre os agricultores.

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    A compreenso de muitas coisas que ocorrem nos campos da fisiologia, damicrobiologia, da bioqumica, entre outros, o que vai proporcionar as condiestecnolgicas para a transio agroambiental. Talvez seja esta a mais marcada

    diferena entre os sistemas agroecolgicos e os sistemas convencionais deagricultura, ou seja, enquanto os sistemas convencionais so cada vez maisintensivos em insumos qumicos e energticos, isto , em capital, os sistemassustentveis agroecolgicos so intensivos em conhecimentos.

    Outro grande desafio a superar o de suprir a necessidade de insumosadequados ao novo formato tecnolgico. Para a pesquisa a tarefa a dedescobrir ou validar insumos que viabilizem a independncia dos agricultores, eque no representem apenas uma mera substituio de pacote. (Isto de certaforma j est ocorrendo). necessrio pesquisar prticas de agricultores, outrasfomentadas empiricamente por organizaes de desenvolvimento, adaptaes de

    tecnologias originrias de outros contextos, inclusive sintetizando tecnologias eprocessos desenvolvidos na pesquisa convencional, sempre no sentido deinstrumentalizar os agricultores e diminuir sua dependncia e no para que umpequeno grupo se aproprie do conhecimento.

    Outro segmento de importncia estratgica o de recursos genticos. A busca demateriais que proporcionem a ampliao da base gentica fundamental noaumento da diversidade e na possibilidade de produo de novos germoplasmas.Para isso sero fortalecidas as aes voltadas para o manejo sustentvel dabiodiversidade existente na regio, como o caso das espcies pouco cultivadase/ou nativas e a busca de parcerias estratgicas com instituies dos centros deorigem das culturas de interesse regional.

    neste sentido que a agroecologia atua na vanguarda da produo doconhecimento, mantendo uma ao proativa, antecipando-se aos anseios dasociedade, mantendo de forma permanente a reflexo crtica sobre o carter desuas aes e de suas relaes com a sociedade, sobre o papel do Estado e dasPolticas Pblicas e P&D. Para isso os pesquisadores em agroecologia soconstantemente instigados a realizar uma reflexo sobre sua prpria prtica. Asperguntas para que? e para quem? fazemos o que fazemos devem serpermanentes.

    Estes so temas centrais na busca do novo paradigma, onde a nova forma de

    conhecimento deve ser prtica sem perder o rigor na sua obteno; e ainda queseja obtido de forma sofisticada, pela aplicao de metodologias especficas,deve ser democraticamente apropriado.

    Para concluir, a Agroecologia surge como instrumento adequado no s para apromoo de um estilo de agricultura mais respeitoso com a natureza, mastambm para tratar da produo, validao e circulao do conhecimento, para adefinio de polticas pblicas de Cincia & Tecnologia e de Pesquisa &Desenvolvimento que tenham como preocupao a construo de uma sociedadesustentvel.

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    A Agroecologia como princpio cientfico no tem a pretenso de impor umcaminho nico para a histria, tampouco se submete ao pensamento nico. Nomascara o jogo de interesses e conflitos na sociedade, ao contrrio, pressupe

    que a diferena a base para a sustentabilidade em suas mltiplas dimenses. AAgroecologia prega princpios ticos, por isso no aceita linearmente que maistecnologia significa mais produtividade e portanto menos fome ou misria. Osdados esto a: produtividade e misria, ambas esto aumentando. Por isso, aAgroecologia pode fortalecer aes e polticas pblicas que pretendam aequidade, a incluso social e a cidadania. Para a Agroecologia episteme,mtodo e tcnica s tm sentido no contexto scio-histrico, ou seja, refuta aneutralidade, a pretenso verdade e a universalidade da Cincia & Tecnologia eda Pesquisa & Desenvolvimento. No existe um determinismo tecnolgico,cientfico ou econmico. Tudo questo de concertao social onde todos osatores tem o direito de indicar o que mais lhes convm.

    Com esta proposta pretende-se que a Agroecologia, em sua perspectivaepistemolgica, seja uma conquista contra a iluso do saber imediato; em suaperspectiva metodolgica, uma construo terica; na perspectiva sociolgica, uminstrumento de empoderamento da sociedade; na perspectiva tecnolgica umacomprovao emprica. Reduzi-la a somente uma destas dimenses podersignificar abrir mo do que ela tem de mais significativo: exatamente a suamultidimensionalidade.

    Bibliografia

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