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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS NÚCLEO INTERINSTITUCIONAL DE ESTUDOS DA VIOLÊNCIA E CIDADANIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA
DROGAS ILÍCITAS
Reflexo sobre os homicídios em Cuiabá
LINDOMAR APARECIDO TÓFOLI
CUIABÁ/MT
2014
1
LINDOMAR APARECIDO TÓFOLI
DROGAS ILÍCITAS
Reflexo sobre os homicídios em Cuiabá
Monografia apresentada ao Instituto de Ciências Humanas e Sociais, da Universidade Federal de Mato Grosso – UFMT, como requisito parcial para obtenção do título de Especialista em Gestão de Segurança Pública, sob orientação do Prof. Esp. Gênison Brito Alves Lima.
CUIABÁ/MT
2014
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DROGAS ILÍCITAS:
Reflexo sobre os homicídios em Cuiabá
LINDOMAR APARECIDO TÓFOLI
Monografia aprovada e julgada adequada para a concessão do Grau de
ESPECIALISTA EM GESTÃO DE SEGURANÇA PÚBLICA concedido pela
Faculdade de Administração, Economia e Ciências Contábeis da Universidade
Federal de Mato Grosso.
Avaliação final: 9,5
Orientador: Prof. Esp. Gênison Brito Alves Lima
Profa. Dra. Delma Perpétua O. Souza
Membro da Banca UFMT
3
Agradeço
À Deus, por me propiciar este momento de
realização;
Aos colegas de trabalho, pelo apoio recebido
para o desenvolvimento deste estudo.
4
Dedico, aos meus pais, com imenso carinho, por
constituírem a base de tudo que sou.
5
RESUMO
Trata-se de uma análise sobre as drogas ilícitas e sua associação com a
criminalidade, com enfoque para o homicídio, segundo Inquéritos Policiais e Boletins
de Ocorrência da Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa de Cuiabá-MT,
referente aos homicídios ocorridos de 2.010 a 2012. Utilizou-se análise de
frequência simples e da associação com o emprego do teste qui-quadrado. Dos 584
Inquéritos registrados, foi realizado exame toxicológico em 285, dos quais 217
apresentaram positividade para algum entorpecente no organismo, sendo a maior
proporção para cocaína (36,5%). Verificou-se maior proporção de homicídios entre o
sexo masculino, sem associação significativa (94% p>0,05), em relação ao sexo
feminino, da raça/cor parda, (59,6%, p> 0,05), na faixa etária de 24 a 40 anos com
associação significativa (84,4%, p< 0,002), solteiros (78,3%, p <0,012), com baixa
escolaridade (67,9%, p<0,001)., sendo motivado do homicídio a dívida por drogas.
Observou-se também que a maior ocorrência de homicídios associados com drogas
no organismo foi em bairros localizados na periferia, ocorridos nos finais de semana,
durante a madrugada. A alta proporção de casos excluídos do estudo por ter
realizado exame toxicológico sugere a necessidade de ações para que sejam os
mesmos sejam efetivados para melhor conhecer o perfil das vitimas a fim de
contribuir para com as políticas públicas de prevenção.
Palavras-chave: Drogas; Criminalidade; Homicídios; Cuiabá-MT, 2014.
6
ABSTRACT
This is an analysis about illicit drugs and its relationship with crime, focusing on the
crime of murder, second Surveys Police and Police Station police reports of
Homicides and Protection of Person of Cuiabá-MT, referring to homicides of 2010 to
2012. We used simple frequency analysis and association with the use of chi-square
test. Of the 584 recorded surveys was conducted drug testing in 285, of which 217
were positive for some numbing the body, and the highest proportion for cocaine
(36.5%). A higher proportion of homicides among males, no significant association
(94% p> 0.05), in relation to the female sex, race / mulatto (59.6%, p> 0.05) aged 24-
40 years, with a significant association (84.4%, p <0.002), single (78.3%, p <0.012),
with low education (67.9%, p <0.001)., and motivated murder debt for drugs. It was
also observed that the prevalence of homicides associated with drugs in the body
was in neighborhoods located on the periphery, occurred on weekends, late at night.
The high proportion of cases excluded for having conducted drug testing suggests
the need for actions that are the same take effect to better understand the profile of
the victims in order to help with the public policies of prevention.
Keywords: Drugs; Criminality; Murders; Cuiabá-MT 2014.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................. 8 CAPÍTULO I REVISÃO DE LITERATURA – DROGAS: ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO-CONCEITUAIS .................................................................................................... .......11 1.1 EFEITOS DAS DROGAS ...................................................................................... 14
CAPÍTULO II VIOLÊNCIA, CRIMINALIDADE E DROGAS ILÍCITAS ........................................... ...18 2.1 DROGAS E HOMICÍDIOS ................................................................................. ...22 2.2. CONSIDERAÇÕES SOBRE O PERFIL DA VÍTIMA DE HOMICÍDIOS RELACIONADOS A DROGAS ILÍCITAS ................................................................... .23 2.3 PRINCIPAIS ARMAS UTILIZADAS NA PRÁTICA DE HOMICÍDIOS.....................26 CAPÍTULO III DROGAS ILÍCITAS E HOMICÍDIOS NO MUNICÍPIO DE CUIABÁ – ANÁLISE DE RESULTADOS ........................................................................................................... 31 3.1 ANÁLISE DE DADOS LEVANTADOS JUNTO A DELEGACIA DE HOMICÍDIOS E PROTEÇÃO A PESSOA DE CUIABÁ-MT..........................................31 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................................... .37 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................ 39 ANEXOS – DEMONSTRATIVOS DOS RESULTADOS..............................................42
8
INTRODUÇÃO
A criminalidade é um fenômeno crescente que preocupa todos os
segmentos da sociedade atual. Nesse contexto buscam-se explicações, bem como
medidas que possam auxiliar no controle e diminuição da violência, que atinge e
coloca em risco a sociedade de maneira vertiginosa.
Segundo Zaffaroni (1991, p. 270), fatores como exclusão social e
desemprego, dentre outros, são comumente relacionados à criminalidade.
Entretanto a análise ao contexto social e noticiários nos leva a acreditar que grande
parte dos crimes, inclusive o de homicídio, pode estar relacionada ao uso e ao
tráfico de drogas ilícitas, ao uso de arma de fogo, que de forma violenta vem
atingindo, em tese, principalmente jovens do sexo masculino.
Este estudo apresenta uma análise sobre a relação entre drogas ilícitas e
criminalidade decorrente tanto do uso como também do tráfico, sendo importante
observar que a dependência química não raras vezes pode levar o indivíduo a
romper laços com os valores sociais, perdendo seus vínculos com a família, trabalho
e amigos, em face do envolvimento em delitos para satisfazer a necessidade do uso
de tais substâncias. Considera-se ainda que o tráfico de drogas ilícitas se apresenta
como fator desencadeante de diversas atividades delituosas que vão além da
produção e comércio de tais substâncias, pois envolvem violência e corrupção,
dentre outros crimes, para que elas sejam mantidas.
O presente estudo tem como objetivo geral analisar a associação entre
drogas ilícitas e a prática de homicídios em Cuiabá no período entre 2010 a 2012.
Como objetivos específicos buscamos identificar as características demográficas
(sexo, cor/raça, idade das vítimas e estado civil), estimar usuários de drogas,
identificar as características do crime (arma utilizada, motivação, dia da semana e
bairro) e analisar a associação de usuários de drogas em relação às características
demográficas e do crime.
Trata-se de um estudo descritivo de caráter exploratório. Segundo Gil
(1995), este tipo de estudo tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e
modificar conceitos e idéias, objetivando a formulação de problemas mais precisos
e/ou levantando hipóteses para estudos posteriores. Por meio de técnica
9
bibliográfica e documental de pesquisa, com utilização dos métodos dedutivo e
abordagens qualitativa e quantitativa.
Como base teórica foram analisados artigos científicos, monografias e
doutrinas sobre o tema visando conceituar drogas ilícitas, seu aspecto histórico, sua
difusão global e local, bem como estabelecer a possível relação entre drogas ilícitas
e a prática de homicídios em Cuiabá no período compreendido entre os anos de
2.010 e 2.012, a fim de traçar o perfil das vítimas de homicídio.
Foi feito um levantamento de dados através da análise de Inquéritos
Policiais e Boletins de Ocorrência da Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa
de Cuiabá-MT referente aos homicídios ocorridos de 2.010 a 2.012, a fim de verificar
o percentual daqueles vinculados as drogas ilícitas, bem como identificar o perfil das
vítimas e o contexto em que ocorreram os crimes de homicídio e classificar em alta
(acima de 79%), média (entre 40% e 79%) e baixa (menos de 40%) a proporção de
homicídios associados a drogas em Cuiabá entre os anos de 2010 e 2012. Foram
analisados 584 Inquéritos Policiais (586 casos de mortes no total), dos quais 283
resultaram em resposta positiva ou negativa para o uso de entorpecentes,
restringindo-se a pesquisa a 283 casos a serem abordados. Os demais casos não
foram abordados diante da subnotificação de dados nos Inquéritos, em que não foi
possível obter respostas em razão dos problemas encontrados: falta de informação
nos Inquéritos Policiais, falta de reagentes para realização de exame toxicológico e
de dosagem alcoólica, bem como ausência de urina da vítima quando da realização
de laudo de necropsia. Necessário ressaltar que nos 283 Inquéritos analisados, em
dois deles constatou-se a ocorrência de dois homicídios, totalizando o montante de
285 ocorrências neste estudo.
Os dados foram analisados estatisticamente através de frequência simples,
bem como através da utilização do teste qui-quadrado1, com seus intervalos de
confiança, por meio do qual se verificou a associação de dependência entre as
variáveis. Assim, buscou-se verificar o percentual dos homicídios associados às
drogas ilícitas, identificar o perfil das vítimas e o contexto em que ocorreram os
1 Criado no ano de 1900 pelo matemático britânico Karl Pearson (1857-1036), o Qui Quadrado,
simbolizado por X², é um teste de hipóteses que se destina a encontrar um valor da dispersão para
duas variáveis nominais, e avaliar a associação existente entre variáveis qualitativas. O teste do Qui-quadrado constitui a base da Estatística das pequenas amostras de populações normais, servindo para medir a confiança de resultados estatísticos, testar hipóteses, etc.
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crimes de homicídio, vez que no intuito de obter recursos para manutenção do
próprio vício, as vítimas em alguns casos não conseguem saldar seus débitos junto
ao fornecedor e acabam assassinadas em razão disso.
Buscou-se assim descrever o perfil das vítimas de homicídio e sua relação
entre as drogas ilícitas, no intuito de auxiliar no planejamento estratégico de políticas
voltadas para a prevenção e eventual redução dos efeitos nocivos da droga para
usuário e a sociedade.
Para tanto, o presente estudo encontra-se estruturado em três capítulos: no
primeiro é feita uma breve análise histórica e conceitual sobre drogas, bem como
uma abordagem ao uso de drogas e suas conseqüências. O segundo capítulo trata
sobre a relação entre drogas, criminalidade e violência; e o terceiro capítulo
apresenta uma análise dos dados e resultados obtidos por meio da pesquisa
documental junto à Delegacia de Homicídios e Proteção a Pessoa de Cuiabá e a
Gerência de Estatística da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso.
Nas considerações finais constatamos a associação significativa entre a
variável uso de entorpecente (cocaína) analisada com outras características
demográficas, dentre as quais estado civil (solteiro), faixa etária (entre 24 a 40
anos), bem como escolaridade (ensino fundamental completo e incompleto),
motivado por dívida de drogas.
Como sugestão foi abordada a necessidade da criação de políticas públicas
voltadas para o público adulto, para homens solteiros, na faixa etária citada, visando
o oferecimento de cursos de qualificação profissional e possibilidade de tratamento
da dependência química em locais apropriados a serem criados nos Bairros de
periferia da Capital, para através da educação reduzir e prevenir a ocorrência de
homicídios, reinserir as pessoas no mercado de trabalho, com melhoria da
autoestima e preservação da força produtiva de trabalho na economia local.
11
CAPÍTULO I
REVISÃO DE LITERATURA – DROGAS: ASPECTOS HISTÓRICOS E TEÓRICO-CONCEITUAIS
Substâncias capazes de provocar alterações do humor, dos sentimentos e
dos sentidos, atualmente definidas como drogas, estão presentes na história da
humanidade desde os primórdios tempos e vem sendo utilizadas para as mais
diversas finalidades, tais como religiosas, culturais e curativas, variando conforme o
contexto histórico e cultural das diversas sociedades. Nesse sentido, Passos (2002,
p. 34) explica que diversas civilizações antigas faziam uso de plantas como a
papoula, a coca e a maconha em rituais religiosos, em práticas medicinais, culturais
e, até mesmo, bélicas.
Sobre a prática do uso de drogas ao longo da história da humanidade, cabe
destacar:
É certo que o homem vem-se utilizando, desde sua origem, de substâncias químicas, encontradas em plantas e animais, extraídas ou transformadas por meio de técnicas simples que ele logo aprendeu a dominar. Ingerindo-as ele conseguia modificar rapidamente seu estado de espírito ou seu modo de agir, quando isto lhe convinha. Encontrou assim o ópio, o álcool etílico e uma variedade de substâncias euforiantes e alucinógenas. (GRAEFF, 1989, p. 11).
Em análise ao assunto, Barreto (1986, p. 19) comenta que: “o uso e o
comércio dos tóxicos estão enraizados desde a antiguidade nos costumes e hábitos
dos povos [...]” Para o referido autor, não obstante o consumo de drogas seja uma
prática antiga, somente a partir do final do século XIX e início do século XX, passou
a ser objeto de preocupação de diversas sociedades, levando os Estados a
buscarem mecanismos para restringir seu comércio e uso, tendo início o processo
de criminalização das drogas. Sobre esse aspecto, Vargas (2001, p. 196) explica
que no decorrer do século XX, o uso de algumas substâncias rotuladas como drogas
passou a ser considerado como um problema de ordem pública, levando à
implementação de políticas repressivas, inclusive com a criminalização da produção
do comércio e do consumo de determinadas drogas para uso não terapêutico.
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As drogas são conceituadas como substâncias que podem ser utilizadas
para a fabricação de medicamentos, significando a cura de muitas enfermidades.
Contudo podem ser extremamente nocivas, tornando-se um problema tanto para
aqueles que usam, como também para a sociedade como um todo. Por esta razão,
o comércio de determinadas substâncias é considerado crime, sendo o uso também
proibido por lei.
Segundo Croce e Croce Júnior (2004, p. 546-551), a criminalização das
drogas se justifica pelo fato de que existem substâncias que levam o usuário a ter
sensações agradáveis, entretanto a grande maioria é nociva ao organismo humano,
causando graves malefícios e por vezes seqüelas irreversíveis.
Outro fator apontado pelos autores é a ação das drogas sobre o sistema
nervoso central, o que pode levar a alterações no estado mental ou psíquico
causando desequilíbrios na conduta e na personalidade do indivíduo. As drogas
capazes de provocar alterações no sistema nervoso central são aquelas definidas
como "psicotrópicas", termo este que significa: psico - relacionada ao psiquismo, ao
que o indivíduo sente, pensa e faz; e trópico - que se refere ao termo tropismo, ou
seja: ter atração por.
Sobre o assunto, Mansur (1989, p. 16), comenta que as drogas psicotrópicas
atuam sobre o cérebro do indivíduo, alterando sua maneira de pensar, sentir ou agir.
A autora ressalta que as alterações psíquicas causadas pelo uso de drogas variam
de acordo com o tipo de substância consumida e, ainda, que as drogas psicotrópicas
podem ser divididas em três grupos, dependendo da forma de ação no cérebro,
podendo ser: depressoras, estimulantes ou perturbadoras, sendo estes os principais
efeitos das drogas no organismo, conforme será oportunamente analisado em tópico
específico do presente estudo.
Conforme explicam Croce e Croce Júnior (2004, p. 546-551), diversos são
os motivos que podem levar os indivíduos a se tornarem usuários de drogas, tais
como dificuldades financeiras, falta de perspectiva, influências negativas, diversão,
entre outras inúmeras razões, sendo ponto em comum a necessidade de fugir de
uma realidade indesejada. Sob esta ótica, Vargas e Nunes (1993, p. 21) assim
discorrem sobre o assunto:
13
O uso da droga, a vontade de usar, a necessidade atrelam-se a diversas situações como questões sociais, econômicas, emocionais, má influência, entretenimento, dentre outras. O uso dessas substâncias, sem finalidade nutritiva, mas defensiva (atuante contra a insegurança, timidez, curiosidade, necessidade de auto afirmação ou na procura do prazer), em específico [...] no combate à angústia existencial que altera momentânea e discretamente o equilíbrio intrapsíquico, tem aumentado celeremente. Assim, quando os mecanismos reguladores da personalidade ou os psicossociais substitutivos não são suficientes para reequilibrar a personalidade ou a homeostase, os indivíduos empreendem o caminho do uso das drogas de forma compulsiva, na tentativa de encontrarem tranqüilidade interior.
Desta forma, no que se refere aos aspectos psicológicos e psicossociais, o
uso de drogas, e conseqüente dependência destas, pode estar relacionado a uma
certa incapacidade de o indivíduo lidar com a própria realidade, conforme explica
Sielski (1999, p. 23) ao afirmar que diversas são as razões que podem levar o
indivíduo a fazer uso de drogas, sendo que tais razões variam ainda de acordo com
a história e realidade individual de cada pessoa, sendo, portanto impossível
“determinar uma causa exclusiva/linear para que este se torne um usuário ou
dependente de drogas”, mas um ponto em comum é o fator psicológico, a
insatisfação com a própria realidade.
Tiba (2009, p. 18) explica que inicialmente a droga pode causar uma
sensação de prazer, devido a uma grande liberação de neurotransmissores (como a
dopamina), o que pode levar o indivíduo a desejar cada vez mais essa sensação de
prazer e conseqüente dependência da substância.
Importa ressaltar, porém, que o uso abusivo de drogas acaba se tornando
um problema a mais, pois a sensação de “bem-estar” supostamente propiciada pela
substância é efêmera, suas consequências são bastante nocivas e ultrapassa a
esfera dos problemas individuais, uma vez que seus reflexos negativos atingem toda
a sociedade.
O consumo indevido de drogas tem sido entendido como uma importante
questão social da atualidade, com ênfase para a dependência química, vista como
um fenômeno gerador de diversas conseqüências maléficas à sociedade com um
todo, sendo ainda comumente relacionada à criminalidade, sob a ótica de que o
comércio de drogas ilícitas é praticado com o apoio de uma estrutura criminosa
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voltada para o tráfico e, sendo grande também o número de delitos praticados por
usuários, seja por estarem sob o efeito dos tóxicos, seja pela necessidade de obter
recursos financeiros para adquiri-los. Por esta razão o uso e/ou comércio de drogas
vem sendo considerado como um dos fatores que contribuem para o aumento da
criminalidade que, não raras vezes, culmina em homicídios.
1.1. EFEITOS DAS DROGAS
Quanto aos seus efeitos, segundo Tiba (2009, p. 12) as drogas são
classificadas como depressoras, estimulantes ou perturbadoras – alucinógenas:
Drogas depressoras provocam a diminuição do funcionamento da atividade
cerebral, razão pela qual são chamadas de depressoras da atividade do sistema
nervoso central. São exemplos delas: álcool, barbitúricos, diluentes, cloreto de etila,
clorofórmio, ópio, morfina, etc.
Drogas estimulantes provocam aumento da atividade cerebral e recebem o
nome técnico de "estimulantes da atividade do SNC". O indivíduo que faz uso desse
tipo de droga fica mais agitado do que o normal. Pode-se citar como exemplo a
cocaína, o crack, a nicotina - presente no cigarro, a cafeína e as anfetaminas.
Drogas perturbadoras não provocam aumento ou diminuição da atividade
cerebral, mas causam um funcionamento fora do normal ao cérebro, levando o
individuo a ficar perturbado. Por esta razão essas drogas são também chamadas de
alucinógenas e recebem o nome técnico de "perturbadoras da atividade do SNC".
Algumas dessas espécies de drogas são vegetais, a exemplo do THC - presente na
maconha; a mescalina; certos tipos de cogumelos, e outras. Contudo, algumas
podem ser de origem sintética como o LSD-25, o Êxtase (ecstasy) e os
anticolinérgicos.
O uso de drogas é entendido com uma questão de consequências negativas
para a sociedade em geral, sendo objeto de preocupação dos mais diversos
segmentos. Nesse sentido segundo Barreto (1986, p. 19), os problemas gerados
pelas drogas já se tornaram uma questão mundial e, “[...] a sua compreensão,
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análise e solução estão intimamente ligadas a aspectos de ordem econômico-
cultural, políticopsicológica e jurídico-social”.
Os efeitos das drogas podem variar conforme o indivíduo que dela faz uso,
mas também conforme o tipo de droga utilizada. Nesse sentido, cabe destacar as
seguintes definições:
Drogas tóxicas são substâncias químicas naturais ou sintéticas, que têm a faculdade de agir sobre o sistema nervoso central, com tendência ao tropismo pelo cérebro que comanda o corpo, alterando a normalidade mental ou psíquica, desequilibrando a conduta e a personalidade. (CROCE & CROCE JR, 2004, p. 546).
Infere-se daí que as drogas causam alterações no comportamento do
indivíduo, e que tais alterações dependem do tipo de droga, podendo variar ainda
conforme a quantidade utilizada e tolerância individual. De acordo com a
Organização Mundial de Saúde (OMS), as drogas são definidas como “qualquer
substância não produzida pelo organismo que tem a propriedade de atuar sobre um
ou mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento”.
Para Katzung (2003, p. 1), droga pode ser entendida como sendo: “[...]
qualquer substância capaz de produzir uma alteração em determinada função
biológica através de suas ações químicas. Na grande maioria dos casos, a molécula
da droga interage com uma molécula especifica no sistema biológico, que
desempenha um papel regulador”.
No Brasil, a Lei nº. 11343/06, em seu artigo 1º, parágrafo único define:
“consideram-se como drogas as substâncias ou os produtos capazes de causar
dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas
periodicamente pelo Poder Executivo da União”. Para Croce e Croce Júnior (2004,
p. 546-551), a ação das drogas pode ocorrer de diversas maneiras provocando
diferentes efeitos no organismo, conforme o tipo de droga, a quantidade utilizada e
até mesmo as peculiaridades do indivíduo. Contudo, seus efeitos maléficos no
organismo são indiscutíveis, uma vez que tais substâncias causam alterações ao
comportamento do usuário, sendo que, na grande maioria dos casos, causam a
dependência fazendo com que o indivíduo passe a ter um desejo compulsório pelo
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uso das drogas, fato este, não raras vezes, que pode levar à frustração, não só pelo
uso, como também pela chamada “abstinência”.
A dependência é assim explicada por Vargas e Nunes (1993, p. 19):
“qualquer indivíduo com dependência por uma droga não pode mais renunciar ao
seu uso, porque esta situação dependencial reside na perda da vontade para romper
com ela. O impulso de seguir usando a droga escapa da liberdade do indivíduo,
ainda que, na maioria das vezes, ele não tenha uma clara consciência desse fato”.
Para os referidos autores, a dependência, uma vez configurada, em via de regra
requer tratamento que possibilite o fim do comportamento compulsivo, pois
dificilmente o usuário conseguirá se abster do uso droga sem ajuda especializada.
Nesse contexto, a cocaína e seus derivados são citados por Croce e Croce
Júnior (2004, p. 550) como exemplos de drogas extremamente nocivas e explicam o
comportamento comum à maioria dos usuários:
[...] Cessado o efeito, ocorrem tristeza, melancolia, apatia, inapetência, cefaléia, diminuição do interesse pelo trabalho, falta de ambição, negligência na higiene pessoal, distúrbios cardíacos e respiratórios e uma intensa depressão cortical caracterizada por indisposição mental, exaustão física e dificuldade de concentração que pode em alguns casos, levar ao suicídio, desenvolvida paulatinamente na mesma ordem em que se instalou a manifestação do estado de exaltação; e, de permeio, comportamento estereotipado, ilusões paranóides, insanidade cocaínica e tendência à violência.
Para os referidos autores, a droga pode causar sensações de prazer ao
indivíduo que faz uso, levando a uma satisfação e sentimento de bem-estar e por
este motivo podem ser bastante atrativas. No entanto, a busca por esta sensação de
prazer pode se tornar constante, causando a dependência tanto física quanto
psicológica. Ressaltam que nem todos os indivíduos que fazem uso de droga
acabam, necessariamente, se tornando dependentes delas. Contudo, não se pode
prever se uma pessoa se tornará, ou não, um dependente químico. Por esta razão é
importante a prevenção, a fim de evitar que ocorra a primeira experiência, ou
quando o indivíduo já está dependente, buscar meios de ajudá-lo a interromper o
uso ou reduzir os danos causados ao seu organismo.
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É possível inferir assim, que a problemática das drogas é entendida como
um fator causador de diversos problemas não só ao indivíduo como à sociedade em
geral, sob a ótica de que seus malefícios vão além da pessoa do usuário, afetando
toda a sociedade, pois além da violência e dos delitos cometidos devido aos efeitos
ou até mesmo para a obtenção das drogas, seu uso alimenta e mantém o tráfico, o
qual não raras vezes ocorre por meio de grandes organizações criminosas gerando
um aumento da criminalidade, com alto número de homicídios, conforme será
oportunamente analisado no presente estudo.
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CAPÍTULO II
VIOLÊNCIA, CRIMINALIDADE E DROGAS ILÍCITAS
Uma das grandes preocupações da sociedade atual é o aumento da
violência urbana, criminalidade e crime organizado. Diariamente os meios de
comunicação veiculam noticias sobre os mais diversos crimes, tais como seqüestro,
roubo, homicídio, entre outros, revelando assim a insegurança vivida pela população
e a dificuldade do Estado na manutenção da segurança. Desta forma, a violência é
assunto comum não só nos noticiários, como também na sociedade como um todo,
que clama por segurança e busca compreender os fatores determinantes para esse
aumento contínuo da criminalidade. No entanto, conforme explicam Cerqueira e
Lobão (2004, p. 1):
Entender o que leva as pessoas a cometer crimes é uma tarefa árdua. Afinal, não há consenso sobre uma verdade universal [...] mesmo que esta se refira a uma determinada cultura, em um dado momento histórico. Como explicar que em uma comunidade onde haja dois irmãos gêmeos, um deles enverede pela via do narcotráfico, ao passo que o outro prefira seguir o caminho da legalidade?
Cabe destacar o comentário de Meyer (2005, p. 01), segundo o qual a
violência: “É uma preocupação e um fantasma que atravessa nossas conversas
familiares, nosso fazer profissional, as rodas de conversa de amigos e nos assombra
a tal ponto que é percebida, nas pesquisas de opinião, como sendo um dos
problemas que mais afetam a população urbana brasileira”. Para a referida autora, a
criminalidade e violência tem se tornado tão comum e corriqueira que podem ser
consideradas como algo natural e inerente às sociedades atuais.
Para Silva Filho & Oliveira (2002, p. 3):
Essa violência intensa e continuada tende a difundir na população uma sensação de desproteção e fragilidade, com crescente descrédito na capacidade do Estado para controlar a criminalidade,
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fazendo-a considerar anacrônica, ingênua e inoportuna a invocação de direitos – principalmente dos "bandidos" – e a clamar por mais medidas coercitivas do Estado [...].
Existem diversas explicações para o aumento dos fenômenos sociais
violência e criminalidade, tais como a desigualdade social, o desemprego e a
desestrutura familiar, porém, não raras vezes, a criminalidade e violência podem
estar relacionadas ao uso e tráfico de drogas, vez que esta atividade mobiliza uma
estrutura ilegal, o narcotráfico, que movimenta vultuosas quantias de dinheiro,
tornando difícil a repressão por parte do Estado, na medida em que envolve diversas
outras condutas delituosas, como o comércio ilegal de armas, a formação de
quadrilha, a corrupção, homicídios, entre outros:
[...] O uso de drogas ilícitas resulta no aumento da violência e criminalidade em geral. Chacinas, disputas de ponto de venda, assaltos, prostituição, aliciamento de menores, contrabando de armas, dentre outros crimes graves, passaram a povoar o cotidiano das grandes cidades (ARDAILLON e DEBERT, 1987, p. 136).
A relação entre drogas ilícitas e criminalidade, decorre tanto do uso como
também do tráfico, e é comum usuários se envolverem em delitos para satisfazer
sua necessidade de fazer uso de tais substâncias, uma vez que delas já se tornaram
dependentes. Essa dependência é assim explicada por Maranhão (2004, p. 388):
[...] um estado psíquico e, às vezes, também físico, resultante da interação entre um organismo vivo e uma substância, caracterizado por um comportamento e outras reações que incluem sempre compulsão para ingerir a droga, de forma contínua ou periódica, com a finalidade de experimentar seus efeitos psíquicos e às vezes para evitar o desconforto de sua abstinência. A tolerância pode existir ou faltar e o indivíduo pode ser dependente de mais de uma droga. A dependência, assim, implica o uso de doses crescentes e a existência de uma síndrome de abstinência.
A dependência pode levar o usuário, em momento de crise de abstinência
da droga, a fazer uso de meios ilícitos para consegui-la, desrespeitando assim
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limites morais e legais em prol da sua satisfação. Sobre a crise de abstinência
Vargas e outros (2003, p. 12) explicam que “com o decorrer do tempo, as
substâncias, repetidas vezes utilizadas, passam a integrar como um novo elemento
defensivo, os mecanismos reguladores da personalidade. Quando elas faltam, o
organismo protesta com diferentes e diversas reações físicas e/ou psíquicas [...]”.
Nesse sentido pode-se mencionar o crack, droga bastante utilizada nos dias atuais e
altamente causadora da dependência química:
De poder sobrenatural, o crack sempre vicia a pessoa quando do seu primeiro experimento e o que vem depois é a tragédia certa. A partir de então a sua nova vítima está condenada a engrossar as fileiras de um gigantesco e crescente exército de dependentes químicos da droga que, em conseqüência passa também a matar e morrer pelo crack. (MARQUES, 2010, p.1).
Além do comércio de drogas ilícitas movimentarem diversas outras
atividades ilegais, também o uso pode contribuir para o aumento da criminalidade,
vez que a necessidade premente de fazer uso da substância pode levar o indivíduo
ao cometimento de delitos. Por esta razão, o uso e o tráfico de drogas muitas vezes
estão relacionados a outros crimes, tais como furto, contrabando, formação de
quadrilha, corrupção, homicídio, entre outros, conforme analisa Maranhão Neto
(2003, p. 18): “[...] tudo isso associado ao crime organizado, favorecido pela venda
de drogas e também pela corrupção e impunidade, que, infelizmente, predominam
em nosso País. Daí a figura do binômio „droga-crime‟‟.
Outra questão relacionada a drogas e que contribui para o aumento da
violência é a disputa por territórios e poder entre facções, que não raras vezes
culmina em homicídios e outros delitos. Em análise sobre a relação entre tráfico de
drogas e criminalidade, Zaluar (2004, p. 44) comenta que “não é, porém, a cocaína
que mata, mas o tráfico, pela forma como se organizou”.
A produção e o comércio de substâncias ilícitas geralmente são geridos por
grandes organizações criminosas que fazem uso de grande quantidade de armas e
praticam inúmeros atos de violência. Sobre esse aspecto, Grecco Filho (2002, p. 1)
comenta que “[...] a toxicomania, além da deterioração pessoal que provoca, projeta-
se como problema eminentemente social, quer como fator criminógeno, quer como
21
enfraquecedora das forças laborativas do país, quer como deturpadora da
consciência nacional”.
A relação entre droga e criminalidade é comentada por Zaluar (2007, p. 3):
O crime organizado transnacional aumentou em muito a violência em alguns setores, especialmente o do tráfico de drogas. Os que ocupam posições estratégicas nas grandes redes de conexões transnacionais podem ter rápidos ganhos em razão de uma combinação de poucos limites institucionais, violência e corrupção. Mundialmente, eles fomentam práticas subterrâneas e violentas de resolução de conflitos: as ameaças, a intimidação, a chantagem, a extorsão, as agressões, os assassinatos e, em alguns países, até mesmo o terrorismo.
Assim é que diariamente são noticiadas pela mídia a ocorrências de crimes,
não raras vezes praticados com violência, relacionados ao comércio ou consumo de
drogas ilícitas, conforme afirma Zaluar (2004, p. 53): “[...] a conexão do tráfico de
drogas ilícitas com outras modalidades criminosas é uma verdade atual”. Para a
referida autora, o tráfico de drogas é uma categoria de crime organizado, cuja
expansão e institucionalização no Brasil teve início nos anos 80 e vem sendo um
dos fatores de aumento das estatísticas de homicídios.
Minayo (2006) afirma que fatores como o processo de urbanização e
globalização bastante intensificado a partir da década de 1980 tem como
conseqüência negativa o agravamento da exclusão social, traduzido pelo
considerável aumento das chamadas “favelas”, onde o Poder Público nem sempre
consegue se fazer presente, sendo comum a convivência de crianças e
adolescentes com a realidade do tráfico de drogas, tornando-se usuários e, não
raras vezes, participando ativamente desta atividade, pois diante das dificuldades
financeiras e da ausência do Poder Público, o.tráfico aos poucos foi tomando espaço
na vida de pessoas que, desprovidas de recursos financeiros e com mínimas
perspectivas de conseguir emprego formal, encontram nesta atividade ilegal a
possibilidade de realizar seus sonhos de consumo, além de adquirir uma forma de
“status e respeito” na comunidade em que vive.
Fato inegável, pois de conhecimento público, é que diariamente ocorrem
delitos dos mais diversos, muitos dos quais culminam em homicídios, em razão do
22
tráfico e/ou uso de drogas ilícitas. Em face desta realidade, o Poder Público vem
buscando a criação de mecanismos que visem não só reprimir o tráfico de drogas,
mas também prevenir o uso de tais substâncias. Nesse sentido, a Lei nº. 11.343/06,
denominada novíssima Lei de Drogas, apresenta sensíveis modificações em relação
à lei anterior, no que se refere a determinadas matérias, a exemplo da nova ordem
incriminadora em face do consumidor de correlatas substâncias, contida no artigo
28, do referido dispositivo, que determina penas de “advertência sobre os efeitos da
droga”, “prestação de serviços à comunidade”, “medida educativa de
comparecimento a programa ou curso educativo”. A referida Lei apresenta uma
despenalização em relação ao usuário dependente de drogas e, em contrapartida,
uma maior rigidez para aqueles que cometem o crime de tráfico.
Dentre as diversas inovações percebem-se algumas alterações quanto aos
procedimentos a serem adotados de acordo com esse dispositivo legal, buscando
assim uma adequação à atual realidade jurídico-social. Espera-se que esta Lei
possa atingir os objetivos para os quais foi criada, revelando maior eficácia no
combate ao crime de tráfico e possibilitando a recuperação daqueles que são
usuários de drogas. Ressalte-se, contudo, que a lei, por si só, não resolverá o
problema, pois é fundamental que o Estado disponibilize a estrutura necessária para
o efetivo cumprimento da Lei, dentre as quais a fiscalização efetiva do cumprimento
de penas alternativas à prisão, conforme acima citadas.
2.1 DROGAS E HOMICÍDIOS
Dentre os diversos crimes comumente relacionados ao uso e/ou comércio de
drogas, o homicídio é um dos que vem causando grande preocupação no seio da
sociedade. Segundo Cardia (1999, p. 118), é inegável a existência da relação entre
tráfico de drogas e violência urbana, uma vez que o tráfico propicia uma rede de
atividades criminosas que não raras vezes levam ao homicídio, seja por cobranças
de dívidas, necessidade de capitalização ou obtenção de recursos para aquisição da
droga ou mesmo disputa de territórios entre traficantes.
Guimarães (1998, p.15) explica que é bastante comum usuários de drogas
praticarem roubos, assaltos e latrocínios a fim de obter recurso para quitar débitos
contraídos junto aos traficantes, até por que, muitas vezes os usuários são
23
ameaçados e até mesmo assassinados por não conseguirem saldar suas dívidas
que, em face da inadimplência, condenam o usuário devedor à “pena de morte”.
Assim é que o temor de ser assassinado pelo traficante, não raras vezes
leva o usuário devedor ao cometimento de crimes, os quais em muitos casos
culminam em homicídios, para conseguir recursos e quitar seus débitos, bem como
adquirir drogas, sendo comum também usuários se submeterem às ordens de
traficantes para a prática dos mais diversos delitos.
Desta forma, as vítimas de homicídios relacionados às drogas podem ser
tanto os traficantes, nas disputas por territórios, como também os usuários em razão
de não pagamento de débitos contraídos para aquisição de drogas ou, não raras
vezes, pessoas que embora não possuam qualquer envolvimento com tais
substâncias ilícitas, acabam sendo vítimas de assaltos, seqüestros relâmpagos e
outros delitos praticados por indivíduos ligados ao consumo e/ou tráfico de drogas.
2.2 CONSIDERAÇÕES SOBRE O PERFIL DA VÍTIMA DE HOMICÍDIOS
RELACIONADOS A DROGAS ILÍCITAS
O crime de homicídio é, sem dúvida, o que suscita maior temor na
sociedade, pois é o mais gravoso pela sua conseqüência nefasta, sendo por esta
razão aquele de maior repercussão divulgado pela mídia, principalmente quando
cometido por meio de extrema violência. Importante ressaltar que grande parte
desses crimes estão relacionados ao uso e/ou comércio de drogas e, nesse
contexto, diversos são os fatores que contribuem para a ocorrência desse crime
letal, devendo, portanto, serem considerados fatores como o perfil da vítima e a
motivação do agressor que culminaram na prática do crime.
Nesse sentido, é importante que o estudo do delito considere a vítima não
apenas como sujeito passivo, pois há determinadas situações em que agressor e
vítima não ocupam lados opostos na relação. Muitas vezes a própria vítima tem
papel preponderante para o resultado, sendo este fenômeno bastante comum nos
homicídios relacionados a drogas ilícitas, seja naqueles cometidos entre traficantes
em razão de “disputas por território”, seja em razão de cobrança de dívidas oriundas
24
da compra de drogas pelo usuário, ou para “queima de arquivo”. Desta forma, para a
elucidação do crime é importante considerar a relação entre vítima e agressor.
Em estudo sobre vitimologia, Bitencourt (1991, p. 18) leciona que: “[...] a
relação delinquente-vítima pode revelar e fornecer – como tem sido alcançado pelos
adeptos da doutrina – uma espécie de chave quanto à gênese do delito”. Assim é
que existem diversas classificações quanto aos tipos de vítimas, cabendo destacar
aqui os tipos de vítimas segundo a classificação apresentada por Oliveira (2005, p.
194):
a) Vítima completamente inocente ou vítima ideal. É aquela vítima que não teve nenhuma colaboração para o desencadeamento do evento danoso. É o caso dos crimes em que o delinqüente é o único culpado, sendo a pessoa que suportou o dano completamente inocente. Um exemplo clássico é a vítima de bala perdida. Também poderíamos enquadrar aqui o absolutamente incapaz vítima de estupro.
b) Vítima menos culpada que o delinquente ou vítima por ignorância. Nesse grupo estão as pessoas que de alguma forma contribuem para o acontecimento do crime. Essas vítimas possuem um grau de culpa, sendo, no entanto, pequeno em relação ao do ofensor. Essa culpa geralmente é conseqüência da ignorância ou ingenuidade da vítima.
c) Vítima tão culpada quanto o delinquente ou vítima voluntária. Nessa terceira espécie estão as vítimas cuja participação é fundamental para a consumação do crime, ou seja, participam ativamente do evento criminoso, sendo que sem essa participação tal fato não teria ocorrido.
d) Vítima mais culpada que o infrator ou vítima provocadora. Trata-se da vítima que através de sua conduta, incita, provoca o infrator de tal forma que ele acaba cometendo a infração. É ela quem desperta no delinquente a vontade, o desejo de cometer o crime. Podemos citar a título de exemplo os casos de lesões corporais e homicídios privilegiados cometidos após injusta provocação da vítima.
e) Vítima como única culpada. Essa modalidade de vítima se divide em três tipos: vítima infratora ou agressora; vítima simuladora e a vítima imaginária.
Infere-se daí que, com base na classificação acima, há uma relação entre o
grau de inocência da vítima e o grau de culpa do agressor, sendo importante a
análise deste aspecto para a elucidação de muitos casos. Sobre esse aspecto,
Oliveira (2005, p. 136) explica que historicamente, no âmbito do Direito Penal:
25
[...] o comportamento da vítima passou a ser considerado foco de análise no campo da dogmática penal e não poderia deixar de ser desconsiderado na avaliação da responsabilidade do autor, sob pena de sobrecarregá-lo com uma culpa que não é só sua.
A análise ao perfil da vítima deve tomar como base os conceitos da
Vitimologia Criminal, cuja abordagem engloba os aspectos psíquicos e sociais do
indivíduo e seu comportamento que pode, ou não, dar ensejo à sua morte. Sobre o
conceito de vitimologia cabe destacar a lição de Moreira Filho (2005, p. 23), segundo
o qual vitimologia é:
[...] um ramo da Criminologia, que estuda cientificamente as vítimas visando adverti-las, orientá-las, protegê-las e repará-las contra o crime [...] a Vitimologia deve, também, oferecer à sociedade meios capazes de dificultar a ação dos delinqüentes habituais e erradicar de nosso convívio o denominado criminoso ocasional, tornando a vida das pessoas, principalmente das grandes cidades, mais seguras e ao mesmo tempo, por intermédio de ampla campanha, diminuir a criminalidade, atingindo a nova dupla penal vítima-criminoso.
Na análise do homicídio associada a drogas ilícitas, a vítima pode tanto ser
classificada como menos culpada que o delinqüente, quando se trata, por exemplo,
de vítima de latrocínio cometido por usuário a fim de obter recursos para a compra
de droga e satisfação de seu vício, ou, em outros casos, a vítima pode ser tão
culpada quanto o agressor, quando mesmo tendo conhecimento dos riscos que
envolvem a sua conduta, pratica a ação que culmina na sua morte. Nesse sentido é
comum o homicídio de usuários em razão de inadimplência de débitos contraídos
junto a traficantes, conforme explica Almeida (2013, p.34):
Outra prática, ligada aos acertos de conta, quando um usuário não consegue quitar as dívidas do tráfico, recebe como punição a tortura e um prazo para efetuar o pagamento. Se ainda assim, não consegue sanar seus dividendos com o tráfico, a punição é a morte.
Sob esta ótica, o comportamento da vítima de homicídio que possuía algum
envolvimento com uso e/ou tráfico de drogas pode ser um fator que tenha induzido
26
ao ato criminoso, devendo, portanto ser considerado para a elucidação do crime
bem como para criação de mecanismos, por parte do Poder Público, que visem
prevenir e reprimir os crimes de homicídio.
2.3 PRINCIPAIS ARMAS UTILIZADAS NA PRÁTICA DE HOMICÍDIOS
Conforme será oportunamente demonstrado no presente estudo, os
homicídios são cometidos com a utilização de diversos tipos de armas, sendo
importante assim, apresentar seu conceito, cabendo ressaltar que não há unicidade
doutrinária quando se trata de definir o que vem a ser uma arma.
Segundo Fragoso (1971, p.76) arma pode ser conceituada como: “[...] o
instrumento em condições de ser utilizado ou que pode a qualquer instante ser posto
em condições de ser usado para o ataque ou a defesa”. Sendo assim, qualquer
material que possa ser utilizado para ferir ou matar, enfim, que seja utilizado com a
finalidade lesiva, é considerado uma arma. Silva (2000, p. 77) não concorda com
essa posição e explica: “a ofensividade é natural da arma, ou seja, a qual se
considera por si mesma, devido a sua fabricação e pela sua finalidade de
construção”. De acordo com o referido autor, não pode ser considerado uma arma o
objeto que eventualmente é utilizado para esse fim, mas apenas aqueles que são
produzidos com a finalidade ofensiva.
Sendo assim, ainda segundo Silva (1971, p. 76), as armas são classificadas
em próprias e impróprias, considerando armas próprias aquelas fabricadas com a
finalidade específica de ferir, como os punhais, as espadas, as armas de fogo, e
outras diversas. As armas impróprias, também conhecidas como arma branca, são
aqueles objetos fabricados com outro fim e que eventualmente são utilizados para
ferir ou matar, como as tesouras, os estiletes, as facas, os machados, pedras e
pedaços de madeira ou barras de ferro.
Segundo definição apresentada pelo Decreto nº 3.665, de 20 de novembro
de 2000 (R-105), armas de fogo são:
Armas que arremessam projéteis empregando a força expansiva dos gases gerados pela combustão de um propelente confinado em
27
uma câmara que, normalmente, está solidária a um cano que tem a função de propiciar continuidade à combustão do propelente, além de direção e estabilidade ao projétil. (art. 3º, inciso XIII)
Sobre a arma de fogo, Silva (2000) afirma: “arma de fogo, geralmente, é um
instrumento natural com o qual são disparados projéteis pela combustão ou da
pólvora ou de outro explosivo”.
O Decreto nº 3.665/00 também definiu em seu artigo 3º os aspectos
conceituais sobre as diversas armas de fogo:
Art 3º Para os efeitos deste regulamento e sua adequada aplicação, são adotadas as seguintes definições: [...] LXVII – Pistola: arma de porte grande, geralmente semiautomática, cuja única câmara faz parte do corpo do cano e cujo carregador, quando em posição fixa, mantém os cartuchos em fila e os apresenta sequencialmente para o carregamento inicial e após cada disparo; há pistolas de repetição que não dispõem de carregador e cujo carregamento é feito manualmente tiro a tiro, pelo atirador; LXVIII – pistola-metralhadora: metralhadora de mão, de dimensões reduzidas, que pode ser utilizada com apenas uma das mãos, tal como uma pistola; LXXIV – Revólver: arma de fogo de porte, de repetição, dotada de um cilindro giratório posicionado atrás do cano, que serve de carregador, o carregador, o qual contém perfurações paralelas e equidistas do seu eixo e que recebem a munição, servindo de câmara;
Os calibres de uso restrito, bem como a vedação ao uso de simulacro de
armamento utilizado pelas Forças Armadas são dispostos no artigo 16 da Lei
11.343/06:
O Decreto nº 5123/04 dispôs em seu artigo 11 o conceito de arma de fogo
de uso restrito, mantendo a definição da legislação anterior: “aquela de uso
exclusivo das Forças Armadas, de instituições de segurança pública e de pessoas
físicas e jurídicas habilitadas, devidamente autorizadas pelo Comando do Exército,
de acordo com a legislação especifica”.
Quanto ao mecanismo de funcionamento, armas de fogo podem ser
automáticas, semi-automáticas e de repetição, no entanto, há também aquelas
operadas “tiro à tiro” ou “tiro simples”, e, ainda, as que funcionam em modo “burst-
28
fire”, ou seja, as armas automáticas capazes de disparar três projéteis ao mesmo
tempo, aumentando o poder de fogo da mesma.
O decreto 3.665/00 dispôs sobre o funcionamento das armas de fogo em
seu artigo 3º:
Art. 3º Para os efeitos deste Regulamento e sua adequada aplicação, são adotadas as seguintes definições: [...] X - arma automática: arma em que o carregamento, o disparo e todas as operações de funcionamento ocorrem continuamente enquanto o gatilho estiver sendo acionado (é aquela que dá rajadas); [...] XVI - arma de repetição: arma em que o atirador, após a realização de cada disparo, decorrente da sua ação sobre o gatilho, necessita empregar sua força física sobre um componente do mecanismo desta para concretizar as operações prévias e necessárias ao disparo seguinte, tornando-a pronta para realizá-lo; [...] XXIII - arma semi-automática: arma que realiza, automaticamente, todas as operações de funcionamento com exceção do disparo, o qual, para ocorrer, requer, a cada disparo, um novo acionamento do gatilho.
Arma automática é conceituada por Teixeira (2001, p.17) como: “[...] aquela
que com apenas um aperto do gatilho (e mantendo-o pressionado) dispara
ininterruptamente até que a capacidade do carregador (“pente”) seja totalmente
esgotada”. As armas automáticas tem maior poder de fogo, pois podem disparar
diversos projéteis em um só segundo. Os tiros são sequenciais e podem ser
acionados pressionando-se o gatilho uma única vez. Sobre as armas automáticas,
Faccioli (2010, p. 377) afirma: “[...] é aquela em que o atirador pode manter a arma
em disparos contínuos até que seja suspenso o comando de disparo (gatilho) ou
termine a munição do compartimento de recarga (carregador)”. As metralhadoras, os
fuzis e pistolas como a Glock Auto (Áustria), HK - Heckler & Koach (Alemanha) e
Beretta M9 (Itália) são algumas das armas de funcionamento automático.
As armas de tiro simples são aquelas que precisam ser municiadas de forma
manual após o disparo, geralmente, esse tipo de arma tem capacidade de até dois
tiros, possuindo um cano para cada tiro, possui percussores separados, sendo
necessário acionar o percussor (independente do gatilho) para efetuar o tiro.
Possuem esse sistema: a espingarda, as garruchas ou bacamartes, as quais são
29
pouco utilizadas nos dias atuais, sendo mais utilizadas por caçadores ou por
atiradores esportivos.
Teixeira (2001, p.16) exemplifica as armas de tiro simples: “são os
bacamartes (utilizados, por exemplo, pelos bandeirantes, no Brasil no século XVIII),
que eram grandes armas de canos longos, semelhantes a um fuzil, carregadas pela
boca do cano”.
As armas de repetição foram essenciais para o desenvolvimento das armas
de fogo utilizadas atualmente, com o sistema elaborado por Samuel Colt, quando
inventou o primeiro revólver. Sobre a invenção do revolver, Macnab (1999, p.07)
leciona:
No mundo da arma pessoal, o século XIX foi um tempo de progresso excepcional. Depois de Samuel Colt trazer o seu revólver de percussão para o mercado em 1835, e Horace Smith e Daniel B. Wesson introduzirem a primeira munição de revólver, a pistola tornou-se uma arma viável de combate.
As armas de repetição apresentam, em regra, apenas um cano, tem
capacidade para mais de uma munição, sendo que para uma cadência de tiro é
necessário que a arma seja “manobrada”, ou seja, necessita ser efetuado um
movimento com o ferrolho da arma ou com o percussor, eliminando o cartucho
deflagrado para que um novo cartucho posicione-se na câmara para o próximo
disparo.
Algumas armas de repetição são as carabinas, as espingardas pump-action,
os revólveres e rifles de precisão. Esse tipo de armamento é bastante utilizado no
tiro esportivo, e, apesar da maioria dos estados brasileiros terem substituído os
revólveres pela pistola, os mesmos ainda são utilizados por algumas forças de
segurança.
As espingardas pump-action são armas excelentes, por serem seguras para
quem as manuseia e ter elevado poder de fogo, curto alcance e Stopping Power
(poder de parada ou poder de cessar uma ameaça com apenas um tiro), sendo
muito utilizadas pelo mundo todo, assim como os rifles de repetição, que possuem
maior precisão em tiro de longa distância.
30
Sobre as armas de repetição e seu sistema de funcionamento, Facciolli
(2010, p. 377) conceitua:
[...] o sistema em que a arma necessita de um acionamento por parte do atirador em preparação para o disparo seguinte. Esta ação pode ser realizada mediante uma alavanca, manivela de culatra ou ferrolho, deslizamento de manopla ou telha (bomba), engatilhamento do martelo ou cão (ação simples de revólver), deslocamento do gatilho (dupla ação de revólver) etc.
Já o funcionamento das armas semi-automáticas é, geralmente, decorrente
dos gases que são expelidos com a queima da pólvora, proporcionando o recuo da
cápsula deflagrada, fazendo com que a mesma seja ejetada, e o novo cartucho
adentre a câmara de disparo. Esse tipo de arma tem boa precisão, sendo bastante
utilizadas por atiradores esportivos, forças militares e forças policiais.
Facciolli (2010, p. 377) explica que: “Semi-automático é o sistema em que o
carregamento ou a preparação para o seguinte disparo é efetuada automaticamente
em decorrência do disparo anterior”. Dentre outras, é possível citar como armas
semi-automáticas as pistolas, alguns modelos de carabinas, os rifles, fuzis e as
espingardas modernas.
Teixeira (2001, p. 17) ensina: “As semi-automáticas necessitam ter seus
gatilhos premidos a cada disparo que se deseje efetuar, ou seja, para se efetuar três
disparos, é necessário que se aperte o gatilho três vezes consecutivas, e assim por
diante”.
Em se tratando de homicídio relacionado ao uso e/ou tráfico de drogas
ilícitas, as armas de fogo costumam ser as mais utilizadas, conforme será
oportunamente demonstrado no presente estudo.
31
CAPÍTULO III
DROGAS ILÍCITAS E HOMICÍDIOS NO MUNICÍPIO DE CUIABÁ – ANÁLISE DE
RESULTADOS
A análise da relação entre drogas ilícitas e homicídios leva a inferir que
grande parte dos casos está relacionada à questão da exclusão social, característica
marcante do Brasil, em cujo contexto está inserido o município de Cuiabá que, a
exemplo das demais capitais brasileiras, historicamente vem passando por um
intenso processo de urbanização e conseqüente aumento da criminalidade e
violência relacionadas às desigualdades sociais. De maneira geral, pode-se afirmar
que ao lado de um intenso progresso tecnológico, a injusta distribuição de renda
aprofundou a estratificação social, privando grande parte da população da efetivação
de seus direitos fundamentais, realçando ainda mais o descompasso entre
progresso econômico e desenvolvimento social, fenômeno este que, em tese,
propicia o aumento da criminalidade e a prática de homicídios.
Este capítulo apresenta os dados obtidos por meio das pesquisas
documentais realizadas junto à Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa, em
que se buscou analisar os dados referentes aos homicídios associados às drogas
ilícitas.
3.1. ANÁLISE DE DADOS LEVANTADOS JUNTO A DELEGACIA DE HOMICÍDIOS
E PROTEÇÃO A PESSOA DE CUIABÁ-MT
A pesquisa quantitativa foi realizada junto ao Cartório Central da Delegacia
Especializada de Homicídios e Proteção a Pessoa de Cuiabá, onde foram
analisados um total de 586 ocorrências de homicídios registradas em 584 Inquéritos
Policiais referentes aos anos de 2010, 2011 e 2012, cabendo ressaltar que, em
razão do tema central do presente estudo, todos os Inquéritos analisados dizem
respeito somente ao crime de homicídios, não sendo considerados os de natureza
diversa, tais como: latrocínio, suicídio, afogamento e apurados como sendo morte
natural.
32
Em análise minuciosa junto aos Boletins de Ocorrência e Inquéritos Policiais
em tramitação, concluídos e arquivados junto ao Cartório Central da Delegacia de
Homicídios constatamos alguns problemas que impuseram limitações ao estudo.
Dentre os problemas encontrados verificou-se a ausência de informações nas cópias
dos Inquéritos Policiais, dentre as quais podemos citar falta de informações quanto
aos exames de dosagem alcoólica e toxicológicos, bem como a subnotificação dos
dados de Boletins de Ocorrência referentes ao seu preenchimento (escolaridade
estado civil, data do fato), que prejudicaram de certa forma o resultado final da
pesquisa.
Quanto aos exames de dosagem alcoólica foi possível perceber a ausência
em grande parte dos Inquéritos Policiais, muitas vezes diante da falta de reagentes
necessários para a realização do exame. Quanto aos exames toxicológicos,
notamos a impossibilidade de sua realização em alguns casos por falta de urina da
vítima quando da realização do exame de necropsia junto ao Instituto Médico Legal
(IML), em outros casos também por falta de reagente necessário para realização do
exame, bem como por falta de tal informação constante nos Inquéritos Policiais da
Delegacia de Homicídios.
Notam-se também casos em que não foi possível identificar efetivamente a
data da morte da vítima diante de seu avançado estado de decomposição ou por ter
sido encontrada apenas ossada humana, além da impossibilidade de identificação
da cor da pele da vítima em virtude de seu avançado estado de decomposição em
meio líquido (água) ou por seu contato com o fogo.
Considerando as circunstâncias acima citadas, do montante de 584
Inquéritos analisados, 305 não apresentaram resultados de teste toxicológico da
vítima diante da falta de informações, motivo pelo qual o presente estudo considerou
apenas os casos em que efetivamente obtivemos um resultado (positivo ou
negativo) quanto a presença do entorpecente no organismo da vítima de homicídio,
num montante de 283 Inquéritos Policiais. (Tabela 1).
Necessário ressaltar que em duas situações se apurou a existência de duas
vítimas em cada ocorrência, chegando à totalização de 285 vítimas objetos de
análise.
33
O Gráfico 1, Tabela 1 (em anexo), apresenta uma alta proporção de
ausência de informações quanto ao resultado do laudo de uso de entorpecentes
pelas vítimas, 52,2%, pelos motivos acima expostos. Em segundo lugar, dentre os
resultados válidos, notamos uma maior taxa do uso de cocaína pela vítima de
homicídio - 17,8%, seguido do resultado negativo para uso de entorpecentes -
11,6%, álcool, 6,0% para o uso simultâneo de duas substâncias entorpecentes
cocaína e maconha, 2,4% somente para uso de maconha, 2,2%, de vítimas que
usavam simultaneamente cocaína e álcool, e 1,2% para o uso simultâneo de
cocaína, maconha e álcool, verificando-se no caso predomínio para uso único ou
simultâneo de cocaína pelas vítimas de homicídio em 27,2% do montante total.
O Gráfico 2, Tabela 2 apresenta a quantidade de resultados positivos para o
uso de entorpecentes por vítimas de homicídio, qual seja 217 casos, considerados
apenas os casos em que foi possível obter um resultado de exame toxicológico.
Considerando apenas os resultados em que se obteve resposta válida
quanto ao uso ou não de drogas, nota-se a presença do uso exclusivo de cocaína
em 36,5% dos casos, com uso concomitante com maconha, cocaína e álcool, e
simultâneo das três substâncias, quais sejam, cocaína, maconha e álcool,
respectivamente 12,6%, 4,6%, 2,4%, notando a presença da cocaína em 56,1% dos
resultados, conforme descrição do gráfico de laudo de uso de entorpecentes em
anexo. (Gráfico 3).
Face essas considerações iniciais, passamos a analisar a relação de
dependência, ou seja, a associação entre variáveis, com o teste do qui-quadrado.
Para tanto, realizamos teste de hipótese, analisando os casos, conforme abaixo
citado:
Teste de Hipótese
H0: Não há associação entre as variáveis
H1: Há associação entre as variáveis
Rejeita-se H0 quando para o teste Qui-Quadrado seu valor de
significância<0,05. Quando for rejeitado, podemos afirmar a associação entre as
variáveis, e por isso dizemos que um valor é significativo e diretamente explicado
pelo outro.
34
Considerando o teste qui-quadrado, ao analisar as variáveis uso de
entorpecentes e sexo, podemos observar que, conforme representado no Gráfico 4,
não existe associação significativa entre as variáveis quando comparado homens e
mulheres (resultado p. valor 0,172), embora haja maior proporção de homicídios
com positividade para consumo de entorpecentes entre homens (94%). Nesse
sentido, cabe destacar que em pesquisa realizada pelo IPEA (2009), foi constatado
que “[...] o óbito por causa violenta vem aumentando seu peso na estrutura geral da
mortalidade no Brasil desde os anos 1980, afetando, principalmente, jovens do sexo
masculino”2. Nesse mesmo sentido, o Relatório Brasileiro sobre Drogas
disponibilizado pelo OBID aponta que: “[...] assim como em vários estudos
anteriores, o uso na vida de certas drogas foi maior para o gênero masculino, para:
maconha, cocaína, energéticos e esteróides anabolizantes”3.
Considerando as variáveis uso de entorpecente e Cor/Raça, observamos
que o resultado do p. valor é 0,092, e dessa forma não existe diferença significativa
quando comparada as variáveis, embora tenhamos constatado maior proporção de
homicídios de usuários de entorpecentes entre a raça parda (78,3%), conforme
Gráfico 5. Sobre o assunto Minayo (2006), afirma que o perfil nacional das vítimas
de homicídios no Brasil, em cujo contexto estão inseridos aqueles associados a
drogas, é basicamente: “(...) baixa escolaridade, baixa renda, baixa qualificação
profissional; sexo masculino, cor negra ou mulata” . Assim, considerando a raça
mulata, constatamos que o perfil das vítimas de homicídios em Cuiabá quanto à cor
da pele (raça/etnia) apresenta características dessa raça, uma vez que a presente
pesquisa apontou como principais vítimas pessoas de cor parda, evidenciando,
conforme explica Zaluar (2007), que “não são nem os aspectos raciais nem os
culturais, isoladamente, que explicam o comportamento das vítimas”. No restante, o
perfil da vítima em Cuiabá também se enquadra nas características citadas, quais
sejam: baixa escolaridade, estado civil solteiro e sexo masculino e da raça/cor não
branca.
2 Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA. Retrato das desigualdades de Gênero e Raça.
Brasília: IPEA: SPM:UNIFEM, 2008. Disponível em:http://www.ipea.gov.br/sites/000/2/pdf/081216_retrato_3_edicao.pdf . Acesso em 11/12/2014. 3 Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas – OBID. Relatório Brasileiro
sobre Drogas. Brasília, 2009. Disponível em: <http://www.obid.senad.gov.br/portais/OBID/biblioteca/documentos/Relatorios/328379.pdf> Acesso em 11/12/2014.
35
Ao analisarmos a variável idade da vítima e uso de entorpecentes
constatamos que o p.valor é 0,002. Existe uma diferença significativa no caso em
tela, e portanto, associação entre as variáveis. Notamos uma maior proporção de
homicídios com consumo de drogas entre as pessoas da faixa etária entre 24 e 40
anos de idade (54,4%), conforme demonstra o Gráfico 6.
Considerando as variáveis uso de entorpecentes e estado civil, o resultado
do teste qui-quadrado apresenta p. valor de 0,012, existindo associação entre as
variáveis, com maior exposição para os solteiros (78,3%). Conforme ensina Soares
(2003, p. 22), em relação ao estado civil, tanto do criminoso quanto da vítima de
homicídios associados a drogas, prevalecem os indivíduos solteiros, porém este
fenômeno pode estar ligado à faixa etária, vez que as ocorrências predominam entre
os jovens adultos (Gráfico 7).
Ao observarmos as variáveis uso de entorpecentes e escolaridade, o teste
qui-quadrado apresenta como p. valor 0,000, e, portanto, podemos afirmar que
existe associação entre as variáveis. Constata-se que existe uma maior proporção
com morte de usuários de drogas entre aqueles que possuem baixa escolaridade -
ensino fundamental completo e incompleto (67,9%) - Gráfico 8. Sobre a
escolaridade, Minayo (2006) aponta que a baixa escolaridade, entre outros, é fator
predominante no perfil da vítima de homicídios. Este dado deve ser analisado com
cuidado, pois a grande maioria dos casos não informa a escolaridade das vítimas.
Em relação às variáveis uso de entorpecentes e motivo do crime, podemos
observar como p.valor do teste qui-quadrado 0,000. Constatamos assim, a
existência de associação entre as variáveis com maior proporção para homicídios de
usuários de entorpecente motivados por dívida de drogas-34,6% (conforme Gráfico
9, em anexo), proporção considerada baixa diante do objetivo específico
apresentado no estudo. No que se refere à motivação para o homicídio associado a
drogas, Soares (2003, p. 32) explica que: “[...] a criminalidade aparece na cobrança
de dívida de tráfico, nos assaltos para cobrir a dívida ou aquisição de droga, como
também na luta pelo controle dos pontos de distribuição [...]”.
Considerando a arma utilizada na prática do crime, ao analisarmos tal
variável associada ao uso de entorpecentes, constatamos p. valor de 0,820. Assim,
não existe diferença significativa entre as variáveis, não sendo possível associá-las,
embora haja maior proporção de crimes praticados com uso de arma de fogo
36
vitimando usuários de entorpecentes (69,1%) - (Gráfico 10). Sobre o assunto,
Soares (2003, p. 18) explica que o número de óbitos por causas externas
provocadas por armas de fogo vem aumentando de forma considerável, sendo que a
presença de armas de fogo é uma variável facilitadora à ocorrência de homicídios.
Considerando a variável dia da semana e uso de entorpecentes, o teste qui-
quadrado apontou como p. valor 0,313, não existindo associação significativa entre
as variáveis na comparação entre os dias da semana, embora haja maior proporção
de casos ocorridos no domingo (22,1%). (Gráfico 11). Conforme informação
disponibilizada no Relatório Brasileiro sobre Drogas de 2009, desenvolvido pelo
Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas dispõe que a maior proporção
de crimes violentos ocorrem nos finais de semana (Relatório Brasileiro Sobre
Drogas. Brasília, 2009).
Considerando a variável uso de entorpecentes e período do dia, o p. valor
apresenta como resultado 0,021, existindo associação significativa entre as variáveis
na comparação entre os períodos do dia, com maior proporção para a madrugada
(38%). (Gráfico 12, Tabela 12).
Em relação aos Bairros em que ocorreram crimes de homicídios associados
a drogas, notamos maior proporção de morte de usuários em bairros de periferia,
quais sejam Alvorada (16), Jardim Vitória (14) e Pedra 90 (14). Esse fenômeno é
explicado por Castro e Abramovay (2002, p. 42), ao afirmarem que: “os jovens de
periferia apresentam descontentamento por sua exclusão social agravada,
circunstancialmente de forma violenta, buscam reconhecimento e valorização como
cidadãos”. (Tabela 13).
.
37
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A presente pesquisa buscou identificar o perfil das vítimas de homicídio
associados a drogas, segundo Inquéritos Policiais instaurados na Delegacia de
Homicídios de Cuiabá-MT, visando assim a obtenção de elementos que possam
auxiliar no planejamento estratégico de políticas públicas voltadas para a prevenção
e eventual redução do número de homicídios em Cuiabá.
Uma das limitações do estudo fora a exclusão de mais de 50% dos casos
registrados, havendo necessidade de ações que garantam a realização dos exames
toxicológicos e de dosagem alcoólica das vítimas de homicídio, bem como a
necessidade de zelar pela juntada das informações necessárias para identificação
dos dados das vítimas nos Inquéritos Policiais, evitando assim a subnotificação de
dados fornecidos.
Constatou-se maior proporção de vítimas de homicídio, usuárias de
entorpecente, entre homens, solteiros, de cor parda, com baixa escolaridade (ensino
fundamental completo e incompleto), praticados com uso de arma de fogo, em
bairros de periferia de Cuiabá, ocorridos no domingo.
É possível inferir, portanto, que a educação é um fator importante de
proteção para evitar riscos de morte prematura em decorrência do uso de drogas,
com maior exposição entre os solteiros residentes em bairros de periferia, em que a
ausência do Poder Público está diretamente relacionada ao aumento da
criminalidade e consequentemente, na maior proporção de ocorrências de crimes de
homicídio.
Constatamos no presente estuda a associação entre vítimas de homicídios
usuárias de entorpecente, com maior fator de exposição entre os solteiros, usuários
de cocaína, entre 24 e 40 anos de idade, motivados por dívida de drogas.
Diante das constatações acima citadas nas regiões mais carentes de
infraestrutura, sugerimos a criação de local apropriado para o primeiro atendimento
aos usuários de entorpecentes, integrado com oferecimento de cursos
profissionalizantes instalados nos Bairros Alvorada, Pedra 90 e Jardim Vitória,
visando a melhoria da autoestima e da qualidade de vida e reinserção no mercado
38
de trabalho, com intuito de prevenção e redução do número de homicídios, de tal
forma a se evitar a perda da força produtiva de trabalho diante do envolvimento com
drogas e prejuízos junto a economia local.
No entanto, é de conhecimento público que historicamente as políticas
públicas que envolvem projetos e programas de prevenção ao uso de drogas têm
como foco principal o público jovem, em especial adolescente.
Assim, sem deixar de lado as ainda reduzidas iniciativas voltadas para os
jovens, vez que são de fundamental importância, constatou-se a necessidade da
criação e desenvolvimento de políticas públicas específicas para o público adulto,
envolvendo tanto a prevenção como o tratamento ao uso de drogas, o que
possivelmente poderá contribuir para uma efetiva redução do número de homicídios
a ela associados.
Nesse sentido, a busca de parcerias com os setores privados da sociedade
e com as associações de bairro podem ser bastante proveitosas para o
desenvolvimento de ações que busquem propiciar o tratamento dos indivíduos que
já possuam envolvimento com drogas, bem como a sua qualificação para o mercado
de trabalho, promovendo assim a valorização desse público adulto ante a sociedade,
pois grande parte dessas pessoas podem não ter tido tais oportunidades quando
adolescentes, de forma que muitos chegam à fase adulta despreparados e com
poucas perspectivas de trabalho, fato este que somado ao contexto sócio-
econômico em que vivem, acabam propiciando o ingresso desses indivíduos no
submundo das drogas.
39
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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42
ANEXOS
DEMONSTRATIVOS DOS RESULTADOS
43
I - RESULTADOS
1.1. TOTAL DE HOMICIDIOS
No periodo de 2010 a 2012 foram registrados na Delegacia de Homicídios de
Cuiabá-MT 586 ocorrências de homicídios, sendo laudeados por entorpecentes
285, conforme Tabela Nº 1 e Gráfico Nº1.
Tabela 1 Distribuição de homicidios por uso de entorpecentes realizado no
periodo de 2010 a 2012 na Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014 (N=
586).
Entorpecentes
N
%
Álcool 34 5,8
Cocaína 104 17,8
cocaina/álcool 13 2,2
cocaina/maconha 36 6,0
cocaina/maconha/alcool 7 1,2
Maconha 14 2,4
maconha/álcool 5 0,8
não informado 305 52,2
Negativo 68 11,6
Total 586
Gráfico 1. Distribuição de homicídios por uso de entorpecentes realizado no
periodo de 2010 a 2012 na Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
44
1.2 HOMICÍDIOS E CONSUMO DE ENTORPECENTES De 586 homicídios ocorridos no período de 2010 a 2012 no município de Cuiabá realizou-se 285 exames toxicológicos.
Tabela 2. Distribuição de homicidios por uso de entorpecentes realizado no
periodo de 2010 a 2012 na Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
LAUDO N %
Positivo 217 76,1
Negativo 68 23,9
Total 285 100
Gráfico 2. Resultados de exame toxicológicos homicídios ocorridos período 2010 a 2012 segundo Delegacia de Homicídios de Cuiabá- MT, 2014.
1.3 HOMICÍDIOS E CONSUMO INDIVIDUALIZADO DE ENTORPECENTE
45
Tabela 3. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo substancias individualmente, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
*Teste Qui-quadrado
Gráfico 3. Resultado de consumo de entorpecentes segundo substâncias, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
Entorpecentes N % p. valor*
Alcool 34 11,9
Cocaína 104 36,5
Cocaína/álcool 13 4,6
Maconha 14 4,8
Maconha/álcool 5 1,7
Maconha/cocaína 36 12,6
Maconha/cocaína/álcool 7 2,4
Negativo 68 23,8
Não informado 4 1,7
Total 285 100,0 0,000
46
1.4 HOMICÍDIOS E SEXO Tabela 4: Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes
segundo o sexo, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014
*Teste Qui-quadrado
Gráfico 4. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo o sexo, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
Sexo N % P.valor*
Masculino 204 94,0
Feminino 13 6,0
Total 217 100,0 0,172
47
1.5. HOMICÍDIOS E COR/RAÇA Tabela 5. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a
cor/raça, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
*Teste Qui-quadrado
Gráfico 5. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a cor/raça, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
Cor/raça N % P.valor*
Branca 26 12
Negra 21 9,7
Parda 170 78,3
Total 217 100 0,092
48
1.6 HOMICÍDIOS E FAIXA ETÁRIA Tabela 6. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a idade, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014
Idade
Nº
%
p. valor*
Menor de 24 anos 71 33
24 a 40 anos 117 54,4
41 anos ou mais 27 12,6
Total 215 100,0 0,002 *Teste Qui-quadrado
Gráfico 6. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a idade, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
49
1.7 HOMICÍDIOS E ESTADO CIVIL Tabela 7. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a idade, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014
Estado Civil
Nº
%
p. valor*
Casado 16 7,4
Convivente 19 8,8
Divorciado 2 0,9
Separado 5 2,3
Solteiro 170 78,3
Viúvo 2 0,9
Não informado 3 1,4
Total 217 100,0 0,012 *Teste Qui-quadrado
Gráfico 7. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo o estado civil, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
50
1.8 HOMICÍDIOS E ESCOLARIDADE Tabela 8. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a escolaridade, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014
Escolaridade
Nº
%
p. valor*
Analfabeto 2 1,9
Fund. completo e incomp. 72 67,9
Médio completo e incomp. 32 30,2
Superior completo e incomp. 0 0
Total 106 100,0 0,000 *Teste Qui-quadrado
Gráfico 8. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a escolaridade, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
51
1.9 HOMICÍDIOS E MOTIVAÇÃO Tabela 9. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a motivação, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014
Motivação
Nº
%
p. valor*
Agressão verbal 4 1,8
Álcool 12 5,5
Ciúmes 5 2,3
Defesa do patrimônio 3 1,4
Drogas 75 34,6
Legítima defesa 4 1,8
Medo 9 4,1
Vingança 43 19,8
Passional 1 0,5
Não apurado 15 6,9
Não esclarecido 46 21,2
Total 217 100,0 0,000 *Teste Qui-quadrado
Gráfico 9. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a motivação do crime, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
52
1.10 HOMICÍDIOS E ARMA UTILIZADA Tabela 1.10 Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a arma utilizada, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014
Arma utilizada
Nº
%
p. valor*
Arma branca 61 28,1
Arma de fogo 150 69,2
Não esclarecido 2 0,9
Outros 4 1,8
Total 217 100,0 0,820 *Teste Qui-quadrado
Gráfico 10. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo a arma utilizada, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
53
1.11 HOMICÍDIOS E DIA DA SEMANA Tabela 11. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo o dia da semana, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014
Dia da semana
Nº
%
p. valor*
Domingo 48 22,1
Segunda 27 12,4
Terça 21 9,7
Quarta 29 13,4
Quinta 31 14,3
Sexta 24 11,1
Sábado 36 16,6
Não informado 1 0,4
Total 217 100,0 0,313 *Teste Qui-quadrado
Gráfico 11. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo o dia da semana, período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
54
1.12 HOMICÍDIOS E PERIODO DO DIA Tabela 12. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo o período do dia, anos de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014
Período do dia
Nº
%
p. valor*
Madrugada 81 38,0
Manhã 35 16,4
Tarde 27 12,7
Noite 70 32,9
Total 213 100,0 0,021 *Teste Qui-quadrado
Gráfico 12. Homicídios com positividade para consumo de entorpecentes segundo o período do dia, anos de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014.
55
1.13 HOMICÍDIOS E BAIRROS Tabela 13 Associação de Homicídios com consumo entorpecentes segundo os Bairros (local), período de 2010 a 2012. Delegacia de Homicídios de Cuiabá-MT, 2014
Bairro
N
%
Altos da Serra 11 3,9 Alvorada 16 5,6 Bela Vista 4 1,4 Cidade Alta 4 1,4 Distrito da Guia 5 1,7 Dom Aquino 7 2,5 Goiabeiras 4 1,4 Jardim Florianopolis 5 1,7 Jardim Passaredo 4 1,4 Jardim Vitoria 14 4,9 Lixeira 4 1,4 Novo Horizonte 4 1,4 Osmar Cabral 9 3,2 Pedra 90 14 4,9 Pedregal 5 1,7 Porto 4 1,4 Praieiro 2 ,7 Primeiro de Março 4 1,4 Santa Isabel 5 1,7 Tijucal 6 1,8 Tres Barras 6
1,4
OUTROS 178 62,4 Total 285 100,0