livro de poesia plnm 2b
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Rio
As águas vêm de longe,
trazem o mundo,
os montes a terra as pedras
os bichos pólen
as folhas e a luz
a chuva o granizo
e a sede dos homens
o rumor das noites e dos dias.
Rio vivo, quase mudo,
cheio de água
cheio de terra
cheio de tudo.
SELECÇÃO DE ADILSON
O MAR
O mar,
o meu mar.
todo o mar
do mundo
ao meu encontro.
Mar meu,
centro.
Mergulho
no mar.
Entro?
Ou entra
em mim
o mar?
EU SOU PORTUGUÊS AQUI Eu sou português aqui em terra e fome talhado feito de barro e carvão rasgado pelo vento norte amante certo da morte no silêncio da agressão. Eu sou português aqui mas nascido deste lado do lado de cá da vida do lado do sofrimento da miséria repetida do pé descalço do vento Nasci deste lado da cidade nesta margem no meio da tempestade durante o reino do medo. Sempre a apostar na viagem quando os frutos amargavam e o luar sabia a azedo.
Eu sou português aqui no teatro mentiroso mas afinal verdadeiro na finta fácil no gozo no sorriso doloroso no gingar de um marinheiro. Nasci deste lado da ternura do coração esfarrapado eu sou filho da aventura da anedota do acaso campeão do improviso trago as mãos sujas do sangue que empapa a terra que piso. Eu sou português aqui na brilhantina em que embrulho no alto da minha esquina a conversa e a borrasca eu sou filho do sarilho no gesto desmesurado nos cordéis do desenrasca.
Nasci aqui no mês de Abril quando esqueci toda a saudade e comecei a inventar em cada gesto a liberdade.o Nasci aqui ao pé do mar de uma garganta magoada no cantar. Eu sou a festa inacabada quase ausente eu sou a briga a luta antiga renovada ainda urgente. Eu sou português aqui o português sem mestre mas com jeito. Eu sou português aqui e trago o mês de Abril a voar
SELECÇÃO DE ADMILSON
Tudo de pernas para o ar
Numa noite escura, escura,
o sol brilhava no céu.
Subi pela rua abaixo,
vestido de corpo ao léu.
Fui cair dentro de um poço
mais alto que a chaminé,
vi peixes a beber pão,
rãs a comerem café.
Construí a minha casa
com o telhado no chão
e a porta bem no cimo
para lá entrar de avião.
Na escola daquela terra
ensinavam trinta burros.
O professor aprendia
a dar coices e dar zurros. SELECÇÃO DE EDWIGES
Rei, Capitão, Soldado, Ladrão
Rei, capitão,
soldado, ladrão,
menina bonita
do meu coração.
Não quero ter coroa,
nem arma na mão,
nem fazer assaltos
com um facalhão.
Quero ser criança,
quero ser feliz,
não quero nas lutas
partir o nariz.
Quero ter amigos
jogar futebol,
descobrir o mundo
debaixo do sol.
Rei, capitão,
soldado, ladrão,
não.
Mas quero a menina
do meu coração.
Poemas perdidos.
Real, real porque me abandonaste?
E, no entanto, às vezes bem preciso
de entregar nas tuas mãos o meu espírito
e que, por um momento, baste
que seja feita a tua vontade
para tudo de novo ter sentido,
não digo a vida, mas ao menos o vivido,
nomes e coisas, livre arbítrio, causalidade.
Oh, juntar os pedaços de todos os livros
e desimaginar o mundo, descriá-lo,
amarrado ao mastro mais altivo
do passado! Mas onde encontrar um passado? SELECÇÃO DE CLAUDINA