livro kimbundu
TRANSCRIPT
7
Resumo ................................................................................................... 9As línguas bantas .................................................................................. 11As línguas bantas em Angola ............................................................ 21Primeiras publicações em línguas bantas .......................................... 25O kimbundu .......................................................................................... 27As classes no kimbundu ..................................................................... 33
Classes I e II ..................................................................................... 34Classes III e IV .................................................................................. 35Classes V e VI ................................................................................... 36Classes VII e VIII ............................................................................... 37Classes IX e X ................................................................................... 38Classe XI ............................................................................................ 40Classe XII ........................................................................................... 41Classe XIII .......................................................................................... 42Classe XIV .......................................................................................... 43Classe XV ........................................................................................... 45
Quadros comparativos das gramáticas de Heli Chatelain, Gram-matica Elementar do Kimbundu, de José Luiz Quintão, Gramáticade Kimbundo, dos Missionários do Vicariato Geral de Malange,Elementos da Gramática de Quimbundo e do padre António daSilva Maia, Gramática de Kimbundo ................................................ 48
Índice
8
O alfabeto ............................................................................................... 61A constituição silábica do kimbundu ................................................ 65O tom ..................................................................................................... 69Comentário ............................................................................................. 73Bibliografia .............................................................................................. 77
ANEXOS
Concordâncias ......................................................................................... 81Misoso (contos) ..................................................................................... 83Jisabu (provérbios) ................................................................................ 87
FIGURAS
Figura 1 Famílias linguísticas existentes em África e os dois sub-ramos da Níger-Cordofânia ................................................ 12
Figura 2 Origem e difusão das línguas bantas. Proposta deHeine, Bloff e Vossen (1977) ............................................ 13
Figura 3 Classificação proposta por Guthrie ................................... 15Figura 4 Classificação das línguas bantas com a inclusão da zona J 16Figura 5 As línguas bantas em Angola ........................................... 22Figura 6 Capa de Arte da Lingua de Angola ..................................... 26Figura 7 Capa de Diccionario da lingua bunda, ou angolense explicada
na portugueza, e latina e, em 1805, Collecção de observaçõesgrammaticaes sobre a lingua bunda, ou angolense ................... 26
Figura 8 Heli Chatelain ........................................................................ 28Figura 9 Distribuição geográfica do kimbundo .............................. 31
9
R E S U M O
Pretendemos com este estudo fazer uma descri-ção das classes e seus prefixos, do alfabeto, dotom e das várias ocorrências silábicas emkimbundu tendo como base as gramáticas de HeliChatelain, Grammatica Elementar do Kimbundu, deJosé Luiz Quintão, Gramática de Kimbundo, dosMissionários do Vicariato Geral de Malange, Ele-mentos da Gramática de Quimbundo e do padre Antó-nio da Silva Maia, Gramática de Kimbundo,apoiando-nos no Ensaio de Diccionario Kimbúndu-Portuguez de J. D. Cordeiro da Matta.Não deixaremos antes de fazer uma breve rese-nha histórica tanto das línguas bantas como dopróprio kimbundu.Procuramos ao longo do estudo mostrar as dis-crepâncias existentes entre os autores. No finalapresentamos em anexo quadros comparativosdos prefixos de concordância segundo os auto-res e dois pequenos contos e alguns provérbiosda tradição oral do kimbundu.
PALAVRAS-CHAVE: bantu(a), kimbundu, classes, pre-fixos.
11
Para o continente africano Greenberg propõe em1963, na sua obra The Languages of Africa, uma classifi-cação em quatro grandes famílias de línguas africanas:Afro-Asiática, Nilo-Sahariana, Níger-Cordofânia e Khoi-san. As três últimas famílias são faladas exclusivamenteem África, sendo que a primeira, a Afro-Asiática estárepresentada também no Médio-Oriente. Duas outrasfamílias também podemos encontrar representadas emÁfrica: a Indo-Europeia através do africânder e aAustronésia pelas línguas de Madagáscar (v. fig. 1). Afamília Niger-Cordofânia é composta por dois grandesramos — o Cordofânio e o Níger-Congo, incluindo esteúltimo numerosos grupos para sul do Sahara — os Bantu.A palavra «bantu» significa «pessoas» e é formada a par-tir de *-ntu, o radical do bantu comum (e proto-bantu,a proto-linguagem, o ponto de início das línguas bantas)para «pessoa», temos muntu = pessoa e bantu = pessoas,em que mu- é prefixo de singular e ba- prefixo de plural.O termo bantu foi proposto por W. H. Bleek em 1860.
As línguas bantas
12
Figura 1Famílias linguísticas existentes em África
e os dois sub-ramos da Níger-Cordofânia
http
://w
ww.
natio
nson
line.
org/
onew
orld
/afr
ican
_lan
guag
es.h
tm
O proto-bantu é a língua ancestral de 500-600 línguasbantas na África sub-equatorial Oeste, Central, Este eSudeste. Há aproximadamente 6800 línguas faladas nomundo, a banta ocupa aproximadamente 10%. Para amaioria dos autores, o bantu era falado há 5000-4000anos atrás, na fronteira da Nigéria com os Camarões (no
Indo-Europeu
Níger-Cordofânia
Afro-AsiáticaNilo-SaharianaCordofâniaNíger-CongoKhoisanAustronésia
13
vale central Benue, a Leste da Nigéria) e os seus descen-dentes espalharam-se por toda a África sub-equatorial (v.fig. 2).
É uma família de centenas de línguas cujo número defalantes se aproxima dos 220 milhões. O país com maiornúmero de falantes é o Congo-Kinshasa e a língua bantacom mais locutores é o Suaíli. As línguas bantas formamuma família no sentido em que partilham traços comuns,sendo a distribuição por classes um dos mais marcantes.O povo bantu pertence a este grupo linguístico, nãoconstituindo um grupo isolado mas sim uma união de
Figura 2Origem e difusão das línguas bantas.
Proposta de Heine, Bloff e Vossen (1977)
And
rade
, 20
07:
23
14
vários povos ao qual pertencem, segundo uma classifica-ção feita pela semelhança da linguagem. Portanto nãodevemos falar em língua banta e sim em línguas bantas,ou civilizações bantas, porque inúmeras são as línguas eas civilizações ou povos que estão enquadrados nestegrupo, tendo em comum o elo do parentesco da lingua-gem que sugere, pela grande semelhança, um troncocomum de origem, mas que apresentam no entantodiversidades sociais, culturais e políticas, mudançasessas ocorridas provavelmente ao longo do tempo. Estasemelhança da linguagem faz supor evidentemente umalíngua (proto-bantu) e até mesmo um lugar comum deorigem desses povos, que acabou por dar, devido a cir-cunstâncias históricas, os diversos grupos com a suacultura e língua diferentes (embora identifiquemos oparentesco linguístico).
Desde o início do século xx os linguistas têm vindo aclassificar as línguas bantas. Em 1971, Guthrie apresen-tou uma proposta (v. fig. 3) de classificação e codifica-ção, baseada sobretudo em critérios geográficos e deparentesco, que mais tarde é revista por Tervuren e SIL,acrescentando-lhe a zona J. (v. fig. 4)
Zona A: Sul dos Camarões e Norte do GabãoZona B: Sul do Gabão e Oeste do CongoZona C: Noroeste, Norte e Centro do CongoZona D: Nordeste, Este da República Democrática doCongo, Ruanda e BurundiZona E: Sul do Uganda, Sudoeste do Quénia e Noroesteda Tanzânia
15
Zona F: Norte e Oeste da TanzâniaZona G: Centro e Este da Tanzânia e costa suaíliZona H: Sudoeste do Congo e Norte de AngolaZona K: Este de Angola e Oeste da ZâmbiaZona L: Sul da República Democrática do Congo e Oestee Centro da ZâmbiaZona M: Este e Centro da Zâmbia, Sudoeste da Tanzânia
e Sudeste da República Democrática do CongoZona N: Malaui, Centro de Moçambique e Sudeste daZâmbiaZona P: Sul da Tanzania e Norte de MoçambiqueZona R: Sudoeste de Angola e Noroeste da NamíbiaZona S: Zimbabué, Sul de Moçambique e Este da Áfricado Sul.
Figura 3Classificação proposta por Guthrie
http
://w
ww.
bant
u-la
ngua
ges.c
om/z
ones
.htm
l
17
A estrutura silábica das línguas bantas baseia-se emCV, VCV, CVCV, VCVCV. Muitas línguas bantas têm emposição inicial NC, podendo a N ser silábica ou não.
a)
Ataque Rima
Núcleo
m b a
b)
Ataque Rima Ataque Rima
Núcleo Núcleo
Ø m j i
A hipótese a) refere-se a mba.ka que em kimbundusignifica multidão e mostra a consoante /b/ pré-nasali-zada com a respectiva nasal homorgânica, enquanto quena hipótese b) observamos o prefixo da classe 3, (m-) dosuaíli, a formar uma nasal silábica na palavra m.ji (cidade).
18
A principal característica das línguas bantas é o usogeneralizado de prefixos. Cada substantivo pertence auma classe e cada língua pode ter um total de dezanoveclasses. A classe a que corresponde é indicada pelo pre-fixo do substantivo. Os adjectivos e os verbos concor-dam com aquele, apresentando um prefixo concordante.O plural é indicado pela mudança de prefixo.
Na página seguinte apresentamos a lista de classessegundo Guthrie e a sua caracterização semântica.
Fazemos desde já notar que as classes 20-23 sãoraras, sendo que a classe 20 na maior parte dos casos éaumentativa, embora, possa ser diminutiva em algumaslínguas. A classe 21 designa aumentativo e pejorativo. Aclasse 22 só se encontra em ganda, e é o plural da classe20 e de alguns nomes da classe 5. A classe 23 é umlocativo. (Andrade, 2007: 31)
19
CLA
SSE
PREF
IXO
NÚ
MER
O
11m
u-Si
ngul
ar d
e 2
12ba
-Pl
ural
de
1
13m
u-Si
ngul
ar d
e 4
14m
i-Pl
ural
de
3
15i-
Sing
ular
de
616
ma-
Plur
al d
e 5
17ki
-Si
ngul
ar d
e 8
18bi
-Pl
ural
de
7
19N
-Si
ngul
ar d
e 10
10N
-Pl
ural
de
9 e
1111
du-
Sing
ular
de
11
12ka
-Si
ngul
ar d
e 13
13tu
-Pl
ural
de
12
14bu
-
15ku
-
16pa
-17
ku-
18m
u-
19pi
-
VALO
R SE
MÂ
NTI
CO
Sere
s hu
man
os e
obj
ecto
s pe
rson
ifica
dos.
Árv
ores
e p
lant
as;
part
es d
o co
rpo;
alg
uns
subs
tant
ivos
der
ivad
os;
algu
ns e
mpr
és-
timos
do
árab
e.
Part
es d
o co
rpo
pare
s; fr
utos
; al
guns
líq
uido
s; co
isas
cole
ctiv
as;
noçõ
es a
bstr
acta
s.
Art
efac
tos
de u
tilid
ade
gera
l; no
mes
de
língu
as;
pess
oas
com
def
eito
s fís
icos
.
Ani
mai
s; gr
ande
qua
ntid
ade
de e
mpr
éstim
os d
o ár
abe,
ing
lês,
port
uguê
s, hi
ndi,
etc.
Obj
ecto
s co
mpr
idos
e d
elga
dos.
Cat
egor
ia p
ara
dim
inut
ivos
.
Nom
es a
bstr
acto
s (q
ualid
ades
).
Subs
tant
ivos
ver
bais
(in
finiti
vos)
. Situ
acio
nal
Dife
rent
es t
ipos
de
loca
tivos
.D
irec
cion
alIn
terio
ridad
e
Dim
inut
ivos
.
Clas
ses e
a su
a ca
ract
eriz
ação
sem
ântic
a se
gund
o G
uthr
ie
21
As línguas bantas de Angola (v. fig. 5) pertencem àszonas H, K e R tal como propostas em 1971 por Guthriee nelas podemos observar, como características gerais demaior relevância, segundo Fernandes (2002: 68-69) oseguinte:
• Os nomes são caracterizados por prefixosque indicam o singular e o plural. O númerode classes, segundo estudos actuais sobrealgumas línguas de cada uma das três zonaslinguísticas, é de 18. No entanto, a classe 15é verbo-nominal, reunindo nela, portanto,nomes e verbos. As classes 16, 17 e 18 sãoclasses locativas e indicam a superfície,direcção e a interioridade, respectivamente.Nestas classes não existe a oposição singu-lar, plural;
• os substantivos são classificados em funçãodos seus prefixos do singular e do plural;
As línguas bantas em Angola
23
• a maior parte das línguas é tonal, isto é, paraalém do acento, existe um determinado tom;
• não há diferença entre masculino e feminino;• o sistema vocálico é simétrico, quer dizer
que este sistema comporta uma vogal central(a) e um número idêntico (2) de vogais ante-riores (i, e) e de vogais posteriores (u, o);
• algumas consoantes orais não aparecem deforma isolada por serem sempre pré-nasa-lizadas, quer dizer, precedidas de consoantesnasais;
• não existem artigos.
25
No ano de 1624, a 4 de Março, a Cartilha da DoutrinaCristã, do padre jesuíta Mateus Cardoso, acaba de serimpressa e é este o livro que primeiro se editou numalíngua africana falada no hemisfério Sul. Estava escritoem português e em quicongo. Anos mais tarde, em 1642,na cidade de Lisboa, é impresso o primeiro catecismo emkimbundu. Havia sido organizado pelo padre FranciscoPacconio e tinha o título de Gentio de Angola sufficientementeinstruido nos mysterios da nossa santa fé.
Em 1659, o missionário capuchinho italiano, padreJacinto Brusciotto Vetralla, escreve uma gramática, comvocabulário da língua quicongo, editada em Roma. Nofrontispício da obra, em latim, pode ler-se Regulaequaedam pro difficillimi congensium idiomatis faciliori captu adGrammaticae normam redactae.
Mais tarde, ainda no século XVII, em 1697, o padrejesuíta Pedro Dias publica em português a primeira des-crição gramatical da língua africana kimbundu Arte daLingua de Angola (fig. 6), «advertencias de como se ha de
Primeiras publicações em línguas bantas
26
ler, & escrever esta Lingua» afirma o jesuíta nas primei-ras linhas da sua obra. O livro era dedicado à Virgem doRosário, «Mãy, e Senhora dos mesmos Pretos».
Em 1804, o monge capuchinho Bernardo Maria deCannecattim publica, em Lisboa, o Diccionario da lingua bun-da, ou angolense explicada na portugueza, e latina e, em 1805,Collecção de observações grammaticaes sobre a lingua bunda, ouangolense (fig. 7) com uma segunda edição em 1859.
«No anno 1864 foi publicado um trabalhogrammatical por Francina, sob o titulo: ‘Elementosgrammaticaes da lingua bunda.’ Infelizmente este livroabortou como os precedentes, não conseguindo fran-quear ao publico o conhecimento d’esta lingua, [...]nunca nos foi possivel obter ou mesmo ver um unicoexemplar.» (Chatelain, 1889: XVII-XVIII)
Figura 6 Figura 7
27
A descrição pioneira de Pedro Dias para as classesnominais do kimbundu é importante para a abordagem dasintaxe da língua. «Tem doze particulas para adjectivar osubstantivo com os adjectivos. Oito saõ para o singular.v. g. Ri, v, i, qui, ca, cu, lu, tu. Para o plural saõ asseguintes: A, i, gi, tu.» (Dias, 1697: 2) [...] «Os linguasperitos trocaõ hu)as particulas naõ mudaõ o sentido daoraçaõ; porèm nunca ja mais poem as particulas doplurar no singular, quando querem significar qualquercousa singular.» (Dias, 1697: 36)
A Cannecattim também não escapou a existência de«letras, ou syllabas iniciaes» para o singular e o plural edá-nos conta disto mesmo na sua Collecção de observaçõesgrammaticaes sobre a lingua bunda, ou angolense onde escre-via:
«He notavel na lingua Bunda, que aquillo, que namaior parte dos Idiomas se distingue pelas termina-ções, ella o da a conhecer, não por estas, mas sim
O kimbundu
28
pelas letras, ou syllabas iniciaes, como succede nosingular, e plural dos nomes, e nas differentes vozes,e inflexões dos verbos.» (Cannecattim, 1804: XVIII)
Quanto à origem da língua e a sua relação com asoutras línguas africanas só, mais tarde, em 1888-1889,através do suiço Heli Chatelain (Fig. 8), benemérito, filó-logo e folclorista, podemos encontrar a palavra kim-bundu definida correcta e historicamente como língua eé então estabelecida a sua distinção em relação às lín-guas quicongo e umbundo. Nessa gramática é tambémfeito um estudo empírico do folclore e são reunidas fá-bulas africanas e poesia tradicional.
«Na litteratura portugueza e estrangeira esta lin-gua era conhecida até hoje sob o nome de ‘lingua
Figura 8
29
bunda,’ ao passo que entre os brancos de Angola émais conhecida como ‘o ambundo’. Scientifica-mente, porém, nem uma nem outra d’estas denomi-nações é admissível: a primeira por ser quasi umtermo obsceno na lingua que pretende designar, asegunda porque significa ‘os pretos’ e não a sua lin-guagem, ambas por não serem usadas pelos indige-nas que fallam a lingua em questão. ‘Kimbundu’pelo contrario, é o termo vernaculo, dizendo os pre-tos d’Angola, os a-mbumdu: o kimbundu, em kim-bundu, fallar kimbundu, mas nunca: fallar ambundoou bundo ou bunda. Os vocábulos mu-mbundu, umpreto, ou uma preta, a-mbundu, pretos ou pretas eki-mbundu, linguagem de pretos constam como basecommum mbundu e dos prefixos mu-, a-, ki-, signi-ficando mu- pessoa, a- pessoas e ki- linguagem. Concor-da com isto com o que se nota nas linguas da familiabantu, á qual peretence também o nosso kimbundu,sendo o prefixo ki- o que mais s’emprega n’ellas paradesignar linguagem. Algumas tribus pronunciam-otxi- (tyi), xi-, si-, isi-, se-, outras preferem-lhe osprefixos u- ou lu-, outras, mais raras, contentam-secom a base sem acrescentamento de prefixo algum.Assim, sem sahirmos da Provincia de Angola, osConguezes ou Exi-Kongo chamam á sua linguaki-xikongo, os habitantes do Bailundo e do Bihe, osI-mbundu, á sua u-mbundu, ao passo que os Akua--Mbamba denominam o seu dialecto simplesmente‘mbamba’. É pois nossa opinião que, se quizermosfallar correctamente, devemos dizer ‘o kimbundu’,
30
‘o umbundu’, mas não ‘a língua ki-mbundu ouu-mbundu’, porque ki- e u- já significam língua. Nãorecommendamos tampouco o uso de ‘l inguambundu’ a não ser que se lhe junte: d’Angola ou deBenguella (=Bangela) para obviar á confusão que,de outra forma, seria inevitavel.» (Chatelain, 1889:XI-XII)
O kimbundu pertence pois ao grande tronco das lín-guas africanas designado por «bantu» e que, segundoRaymond Gordon, é a língua mbundu cujos nomes alter-nativos são: luanda, lunda, loande, loanda mbundu,kimbundu, kimbundo, north mbundu, nbundu, n’bundo,dongo, ndongo, kindongo cujos dialectos são: njinga(ginga, jinga), mbamba (kimbamba, bambeiro), mbaka(ambaquista), ngola. Pertence à família Níger-Congo,Mbundu (H.20).
Segundo a SIL o kimbundu tem o seguinte tronco:
• Niger-kongo• Atlântico-kongo
• Volta-kongo• Benué-kongo
• Bantóide• Bantóide meridional
• Bantu estreito• Bantu central
• H• Mbundo (H.20)
31
Figura 9
O grupo etnolinguístico Ambundu ocupa uma áreaque se estende desde o interior para o litoral e dominaas províncias do Bengo, Kuanza Norte, Norte da provín-cia do Kuanza Sul, Malanje e Luanda, tendo como lín-guas vizinhas o kikongo, a Norte, o kioco, a Este, e, aSul, o umbundo e o ganguela. Na fig. 9 podemos ver adistribuição geográfica do kimbundu e quais as provín-cias de Angola onde se fala esta língua.
GanguelaOvimbundo
Kioco
NÃO BANTUKhoisan
AmboHereroXindonga
Haneca-HumbeKongoKimbundu
Luanda
Novo Redondo
Benguela
Moçâmedes
Nova Lisboa
Luso
Vila Serpa Pinto
Malanje Henrique de Carvalho
Cabinda
1 24
3
7
86
5
1 Bengo2 Kuanza Norte3 Uíje4 Malanje
5 Kuanza Sul6 Viye7 Lunda Norte8 Lunda Sul
Ela
bora
do p
elo
auto
r a
part
ir de
Fer
nand
es,
2002
: 57
33
É no século XIX, com a publicação por parte deChatelain da Grammatica Elementar do Kimbundu, que asclasses do kimbundu são pela primeira vez anotadas.Daí para a frente os autores abandonam a velha gramá-tica descritiva onde nominativo está para sujeito,acusativo para os complementos directos, ablativo paraindicações circunstanciais e dativo para os complemen-tos indirectos e que havia inspirado as anteriores.
Os substantivos em kimbundu são divididos emquinze classes. Reconhecemos a qual classe pertencecada nome pelo seu prefixo, ou seja, a forma inicial dapalavra. Quanto ao género dos substantivos (masculinoe feminino), com exceção de poucos, os nomes emkimbundu são usados indiferentemente para ambos osgéneros. As classes em kimbundu tal como em todas aslínguas bantas são monoclasses. Existem no entantoexcepções das quais apresentamos de seguida algumas:
Riala (homem) Muhatab (mulher)
As classes no kimbundu
34
Mulume (marido) Mukaji (esposa)Tata (pai) Mama (mãe)Rikolombolo (galo) Sanji (galinha)Kisutu (bode) Hombo (cabra)
CLASSES I e II
Na classe I estão agrupadas todas as palavras com oprefixo mu- no singular e que designem seres racionais(pessoas). As palavras da classe I fazem o plural aomudar o prefixo mu- para a- e são da classe II.
SINGULAR
Mona1 = filho, criançaMudiakimi = velho sábioMuhatu = mulherMukongo = caçadorMuloji = feiticeiroMusuri = ferreiro, forjadorMutabi = carreteiro d’águaMutambi = pescador de an-
zolMutona = pescador de rede
PLURAL
Ana = filhos, criançasAdiakimi = velhos sábiosAhatu = mulheresAkongo = caçadoresAloji = feiticeirosAsuri = ferreiros, forjadoresAtabi = carreteiros d’águaAtambi = pescadores de an-
zolAtona = pescadores de
redes
1 Mona que tem o prefixo mo- tem como radical ana, ao juntar-se-lheo prefixo mu-, o encontro da vogal u + a origina a vogal o.
35
CLASSES III e IV
As palavras da classe III têm mu- como prefixo singu-lar. A esta classe pertencem os seres inanimados (irracio-nais, objectos). O plural faz-se na classe IV, substituindoo mu- por mi-.
SINGULAR
Muenge = canaMukete = cavaloMukila = rabo, caudaMulela ou Mulele = panoMulongi = conselho, exem-
plo, parecerMulundu = montanhaMunia = espinhoMutandala = quedaMutelendende = ribombo,
trovãoMutoto = barro, lodo, lama
Mutue = cabeçaMuvu = anoMuxima = coraçãoMuxitu = bosque, mata, flo-
resta
PLURAL
Mienge = canasMikete = cavalosMikila = rabos, caudasMilela ou Milele = panosMilongi = conselhos, exem-
plos, pareceresMilundu = montanhasMinia = espinhosMitandala = quedasMitelendende = ribombos,
trovõesMitoto = barros, lodos,
lamasMitue = cabeçasMivu = anosMixima = coraçõesMixitu = bosques, matas, flo-
restas
36
CLASSES V e VI
Na classe V estão agrupados os nomes que começampelo prefixo ri- (muitas vezes escrito di-) no singular eque fazem o plural na classe VI, substituindo o ri- porma-. Em alguns nomes o prefixo ri- não é substituído porma- ao formar o plural, mas é precedido por ele.
Ritari (pedra), pode ser escrito ditadi. Variedades di-alectais fazem o ri- soar como di-1.
SINGULAR PLURAL
Riala = homem Mala2 = homensRibengu = rato Mabengu = ratosRilonga = prato Malonga = pratosRilu (Riulu) = céu Maulu = céusRimi = língua, idioma Marimi = línguas, idiomasRitari = pedra Matari = pedrasRiunda = flecha Mariunda = flechas
1 A este propósito Cannecattim anotava a existência do prefixo ri- enão di-, considerando Riala e não Diala (Cannecattim, 1805: 8). Já antesescrevia: «Os Ambundos confundem no principio da palavra a letra r coma letra d, [...] umas vezes parece que pronunciam Riála, o homem; outraDiála, porém a verdadeira pronunciação he Riála, mas não se devecarregar muito a lingua sobre a letra r, ou a syllaba ri, como se faz noPortuguez, a pronuncia deve ser mais branda, o que se deve observar emtodas as palavras que principião com a syllaba ri, como são todos osnomes da quarta declinação na voz do singular.» [...] «Eu que varias vezesexaminei este particular, me tenho servido da mesma letra R porqueparece que a pronunciação se aproxima mais á letra R do que a D, sebem que não seja hum R aberto e claro, mas hum R sumido e brando,proferido com a ponta da lingua junta aos dentes no acto da pronun-ciação.» (Cannecattim, 1805: 2 e 152) «Por seu lado Quintão (1934: 12)
37
CLASSES VII e VIII
Na classe VII estão agrupados os nomes que são ini-ciados pelo prefixo ki- e fazem o plural na classe VIII,substituindo ki- por i-.
SINGULAR PLURAL
Kiala = unha Iala = unhasKimbanda = curandeiro Imbanda = curandeirosKimbungo = lobo Imbungo = lobosKinama = perna Inama = pernas
Dentro desta classe estão agrupados todos os nomesno aumentativo, porque o kimbundu forma o aumenta-tivo através do prefixo ki-.
Seguem alguns exemplos da formação dosaumentativos.
PORTUGUÊS KIMBUNDU AUMENTATIVO
Boi Ngombe KingombeMulher Muhatu Kihatu
escreve «r ou ri (nunca sem i) — equivale em Luanda a ri brando, comaproximação a di; no interior sôa como di, com aproximação a ri brando.»
Na verdade estes dois sons que têm o mesmo ponto de articulação[+ant] e [+cor] distinguem-se nos seus traços redundantes por o [R] ser[+son] e [+cont] contrariamente ao [d].
Ao longo deste trabalho adoptámos a formulação /ri/.2 Não se diz maala. Quando ocorrem duas vogais /a/ em simultâneo,
somente uma prevalece.
38
CLASSES IX e X
Na classe IX os nomes no singular não apresentamprefixo de classe e o plural faz-se na classe X, colocandoo prefixo ji- antes do nome. Reconhecemos um nomecomo pertencendo a esta classe por exclusão, ou seja,quando não reconhecemos os prefixos das outras classesna palavra do singular. Alguns nomes podem gerar con-fusão como é o caso de Tulu (peito), Tuku (cauda; plu-ma; pena), Tumba (naco), Tumbu (umbigo), Tunda (ser-tão; Oriente) que pertencem a esta classe e podem serconfundidos como pertencentes à classe XIII.
SINGULAR
Fundu = feira, mercado,praça
Imbia = panelaImbua = cãoInzo = casaIxi = terra, naturalidadeMama = mãeMvula = chuva, maréNdandu = parente, primo,
abraçoNdenge = pequeno, inferior,
criançaNgangula = ferreiroNgiji = rio, riacho, conhecido
Ngombe = boi
PLURAL
Jifundu = feiras, mercados,praças
Jimbia = panelasJimbua = cãesJinzo = casasJixi = terras, naturalidadesJimama = mãesJimvula = chuvas, marésJindandu = parentes, primos,
abraçosJindenge = pequenos, infe-
riores, criançasJingangula = ferreirosJingiji = rios, riachos, conhe-
cidosJingombe = bois
39
Obs.: Muitas palavras desta classe que começam por/i/, quando escritas numa frase, observamos que o /i/desaparece e é substituído por um apóstrofe.
Ex.: Inzo = ’nzo = casa; Imbua = ’mbua = cão; Ixi= ’xi = terra, naturalidade.
Jingombo = umbigos, adivi-nhos, fugitivos
Jinguzu = forçasJinhoka ou Jinioka = cobrasJinhoki ou Jiniiki = abelhasJinjila = caminhos, pássarosJipambu = atalhos, encruzi-
lhadas, fronteirasJipange = irmãosJipoko = facasJisanji = galinhasJitata = pais
Ngombo = umbigo, adivi-nho, fugitivo
Nguzu = força, vigorNhoka ou Nioka = cobraNhoki ou Niiki = abelhaNjila = caminho, pássaroPambu = atalho, encruzi-
lhada, fronteiraPange = irmãoPoko = facaSanji = galinhaTata = pai
40
CLASSE XI
Na classe XI estão incluídos os nomes cujo prefixo nosingular é lu- e que fazem o plural acrescentando aosingular o prefixo da classe VI, ma-.
SINGULAR PLURAL
Lubambu = corrente Malubambu = correntesLukuaku = mão Malukuaku = mãosLumbu = muro Malumbu = murosLumuenu = espelho Malumuenu = espelhos
Obs.: O termo Malukuako é pouco usado, sendo maisconhecido o termo Maku.
No interior ocorrem variantes em que muitos nomesque começam pelo prefixo lu-, fazem o plural como ossubstantivos da classe X. Estes nomes são os que deri-vam de um nome colectivo e o prefixo lu- passa a indicarum objecto único a partir deste nome.
Ex.: Ndemba = cabelo/Lundemba = cabelo (um)/Jindemba = cabelos.
41
CLASSE XII
Na classe XII o prefixo do singular é ka- e no plural étu-. O diminutivo em kimbundu é feito colocando-se oprefixo ka- a preceder o nome.
Ex.: Hoji = leão — Kahoji = leãozinho; Ritari =pedra — Karitari = pedrinha.
Muitas vezes na formação do diminutivo o prefixo daclasse que vai diminuir desaparece.
Ex.: Muhatu = mulher/Kahatu = mulherzinha; Kima= objecto, coisa/Kama = coisinha.
SINGULAR PLURAL
Kakuria = bocado de comida Tumakuria = bocados decomida
Kamona = filhinho Tuana = filhinhosKa’nzo = casinha Tu’nzo = casinhasKauta = arma pequena Tumauta = armas pequenas
42
CLASSE XIII
A classe XIII tem no singular o prefixo tu- e faz oplural acrescentando ao singular o prefixo da classe VI,ma-. São raríssimos os nomes em kimbundu pertencen-tes a esta classe (encontrámos quatro, sendo que doissão empréstimos). Muitos nomes que começam por tu-na realidade pertencem à classe IX, onde tu- não é pre-fixo de classe, mas pertence ao radical da palavra Tulu(peito), Tuku (cauda; pluma; pena), Tumba (fatacaz;naco), Tumbu (umbigo), Tunda (sertão; Oriente).
SINGULAR PLURAL
Tubia = fogo, lume Matubia = fogosTuji = excremento Matuji = excrementosTujola = tesoura Matujola = tesourasTuxinha = toucinho Matuxinha = toucinhos
43
CLASSE XIV
Na classe XIV estão incluídos os nomes que começampelo prefixo u- no singular e fazem o plural acrescen-tando ao singular o prefixo da classe VI, ma-.
SINGULAR PLURAL
Uanda = rede, tipóia Mauanda = redes, tipóiasUanza = esperma Mauanza= espermasUenji = negócio Mauenji = negóciosUhaxi = doença Mauhaxi = doençasUina = toca, buraco Mauina = tocas, buracosUlungu = canoa Maulungu = canoasUsuku = noite, escuridão Mausuku = noites, escuridõesUta = espingarda, arma Mauta = espingardas, armasUtokua = cinza, cisco Mautokua = cinzas, ciscos
Muitas vezes o prefixo mau- pode ser encontradocomo mo-, ou ma-. Poderemos então ver escrito Mauta,Mota ou Mata com o mesmo significado, espingardas;Mausuku ou Mosuku = noites.
Na classe XIV estão incluídos os nomes abstractos etambém as profissões. Esses nomes derivam de nomesconcretos.
A respeito dos termos abstractos os Missionários doVicariato Geral de Malange escreviam «As línguas africa-nas são muito pobres em termos abstractos.
Encontramos, todavia, um certo número de termosabstractos, cuja característica é o prefixo u.
Ex.: umonha — a preguiça; ukumbu — a soberba;
44
unjinji — a avareza; ufusa — a ingratidão; unzambi —a divindade; ungana — a realeza; undenge — a infân-cia.» (1944: 12)
NOMES ABSTRACTOS
E PROFISSÕES
Ukulu = antiguidade
Utona = profissão de pesca-dor
Unzangala = juventude,mocidade, rapaziada
Umvama = riquezaUngamba = profissão de
carregadorUngana = senhoriaUnguma = inimizade, rivali-
dadeUnzambi = divindadeUpange = fraternidadeUkamba = amizade, camara-
dagemUkota = maioridade, supe-
rioridade
NOMES CONCRECTOS
E PROFISSÕES
Mukulu = velho, maior, ante-passado
Mutona = pescador
Muzangala = rapaz, jovem
Mvama = ricoNgamba = carregador
Ngana = senhor, senhoraNguma = inimigo, rival
Nzambi = DeusPange = irmãoRikamba = amigo, camarada
Rikota = mais velho, superior
45
CLASSE XV
A classe XV engloba os nomes que têm no singular oprefixo ku- e fazem o plural acrescentando ao singular oprefixo da classe VI, ma-. Quase todos esses nomes sãoinfinitivos verbais que muitas vezes em kimbundupodem também ter o sentido de substantivo. Assim, porexemplo, Kuria pode significar tanto o verbo comerquanto pode ter o significado de o comer, isto é, comida.
SINGULAR PLURAL
Kufua = morte Makufua = mortesKuinhi = dezena Makuinhi = dezenasKunua = bebida Makunua = bebidasKuria = comida Makuria = comidasKutunga = costura Makutunda = costuras
46
Ao quadro apresentado e retirado de Angola: Povos eLínguas (Fernandes, 2002: 72) os autores apresentam maistrês classes — as locativas —, sendo a 16, a 17, e a 18,bhu, ku e mu, respectivamente.
As gramáticas de kimbundu existentes até à dataconsideram dez classes, cada uma delas com singular eplural. Esta não compreensão das classes em que sedividem as línguas bantas originalmente e a falta de estu-dos globais acerca destas levou os gramáticos da épocaa apresentar vários erros que podemos facilmente cons-tatar.
Chatelain e Quintão estão de acordo no fundamen-tal, sendo a gramática de Quintão, no essencial, igual àde Chatelain. Logo na primeira página do Prólogo,Quintão escreve «Confesso que nesta tarefa, fui muitoauxiliado pela gramática de Heli Chatelain e pelo dicio-nário de J. D. Cordeiro da Matta; ambos estes livros,
CLASSE PREFIXOS
SINGULAR PLURAL SINGULAR PLURAL
1 2 mu a3 4 mu mi5 6 di ma7 8 ki i14 6 (+ 14) u ma+u11 6 (+ 11) lu ma+lu13 6 (+ 13) tu ma+tu15 6 (+ 15) ku ma+ku9 10 Ø – i ji12 13 ka tu
47
especialmente o primeiro, tive de, frequentemente, con-sultar e compulsar para uma coordenação mais ade-quada e atingir o fim a que me propuz.» (1934: 1) Naverdade as divergências de Quintão com Chatelainresumem-se ao uso dos prefixos ri- ou di- na classe IV
e ao prefixo i- na classe IX. Entre os Missionários eChatelain não há qualquer divergência, entre o padreMaia e os restantes autores os contrastes são maiores.
Nas páginas seguintes apresentamos um quadro com-parativo das quatro gramáticas estudadas, relativo aosprefixos de cada uma delas e à divisão em classes.
CLASSE CHATELAIN QUINTÃO MISSIONÁRIOS MAIA
11.a mu – a mu – a mu – a mu/u – ma/a12.a mu – mi mu – mi mu – mi mu/u – i13.a ki – i ki – i ki – i ki/e – î14.a ri – ma di – ma ri – ma o/i/e – ma15.a u – mau u – mau u – mau u – mau16.a lu – malu lu – malu lu – malu m/n/o – o la1
17.a tu – matu tu – matu tu – matu lu – malu18.a ku – maku ku – maku ku – maku ku – maku19.a Ø – ji i; Ø – ji Ø – ji ka – aka/maka10.a ka – tu ka – tu ka – tu ka – u
1 Hoje há uma grande tendência para mudar o prefixo do plural o la (6.a classe)em a; ex.: angombe, os bois — por o langombe. (Maia, 1957: 14)
48
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Pert
ence
m à
Prim
eira
Cla
sse
os s
ubst
antiv
os,
que
ordi
nà-
riam
ente
des
igna
m p
esso
as.
Sing
ular
mu-
/u-,
plur
al m
a-/
a-. (
p. 1
3)
HE
LI C
HAT
ELA
IN
1888
-188
9
À p
rimeir
a cla
sse (
I) pe
rtenc
emto
dos
os n
omes
de
entes
raci
onaes
(pes
soas
), qu
e co
meç
am n
osin
g. po
r m
u-.
Ex.:
mub
ika.
Est
es f
orm
am o
seu
plu
ral,
mud
ando
o p
ref.
mu-
em
a-.
Ex.
: mut
u, p
essoa
, pl.
atu
pesso
as.
Exc
epçõ
es ap
aren
tes:
mon
a pe
r-te
nce
á cl
. I
por
ser
cont
rac-
ção
de m
uana
(u+
a=o)
, e
faz
plur
. an
a co
ntra
cção
de
aana
(a+a
=a).
Mui
ii, l
adrã
o, te
m o
pl.
eii p
orco
ntra
cção
de
aiii (
a+i=
e). (
p. 1
)
JOSÉ
LU
IZ Q
UIN
TÃO
1934
A e
sta
clas
se p
erte
ncem
os
nom
es d
e en
tes
raci
onai
s(p
esso
as)
cujo
s pr
efix
os d
osin
gular
e p
lura
l sã
o: m
u-;
a-,
ex.:
mut
u;
atu,
pe
ssoa
;m
ubik
a, a
bika
, es
crav
o.M
ona,
filh
o, p
erte
nce
à 1.
a
clas
se,
pois
é c
ontr
ação
de
muan
a (u
+a=
o),
e fa
z no
pl.
ana,
co
ntra
ção
de
aana
(a+
a=a)
, M
uiii,
lad
rão,
tem
opl
. eii
, co
ntra
ção
de
aiii
(a+
i=e)
. (p
. 14
)
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refi
xo d
o si
ngul
arda
1.a c
lasse
é m
u- e
o d
opl
ural
é a
-.Pa
ra a
for
maç
ão d
o pl
u-ra
l ba
sta
subs
titui
r o
pref
ixo
do s
ingu
lar
pelo
do p
lura
l.Pe
rten
cem
à l
.a cl
asse
,or
dinà
riam
ente
, os
sub
s-ta
ntiv
os q
ue d
esig
nam
pess
oas.
Qua
ndo
se e
ncon
tra u
mno
me
que
prin
cipi
a po
rm
u e
que
desi
gna
umen
te
raci
onal
sa
be-s
elo
go
que
pert
ence
à
l.a cl
asse
. (p
. 10
)
CLASSE I
49
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Pert
ence
m à
Seg
unda
Cla
sse
os n
omes
que
ger
alm
ente
desig
nam
coi
sas.
Sing
ular
mu-
/u-,
plur
al î
-.(p
. 13
)
HE
LI C
HAT
ELA
IN
1888
-188
9
À c
l. II
per
tenc
em o
s no
mes
de e
ntes
inan
imad
os (c
oisa
s) q
uetê
em n
o sin
g. o
pre
f. m
u-.
Exc
epç.:
mun
dele
, o
bran
co p
l.m
inde
le.
Est
a cl
. ab
rang
e qu
asi
todos
osno
mes
de a
rvor
es e
plan
tas
(vid
ave
geta
tiva)
.Fo
rma
o se
u pl
., m
udan
do o
pref
. sin
g. m
u- e
m m
i-.E
x.:
muk
anda
pl.
mik
anda
. (p
.2)
JOSÉ
LU
IZ Q
UIN
TÃO
1934
A
esta
cl
. pe
rten
cem
os
nom
es d
e en
tes
inan
imad
os(c
oisa
s),
cujo
s pr
efix
os d
osin
g. e
pl.
são:
mu-
; m
i-.E
sta
cl.
abra
nge
quás
i to
dos
os n
omes
de
árvo
res e
plan
tas.
(p.
15)
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refi
xo d
o si
ngul
arda
2.a
clas
se e
mu-
, com
ona
l.a
clas
se,
mas
o p
re-
fixo
do p
lura
l é
mi-.
Para
a f
orm
ação
do
plu-
ral
bast
a su
bstit
uir
opr
efix
o do
sin
gula
r pe
lodo
plu
ral.
Pert
ence
m,
gera
lmen
te,
a es
ta c
lass
e os
nom
esde
sign
ativ
os d
e co
isas
.(p
. 10
)
CLASSE II
50
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Sing
ular
ki
-/e-
, pl
ural
î-
.(p
. 13
)
HE
LI C
HAT
ELA
IN
1888
-188
9
À c
l. II
I pe
rtenc
em o
s no
mes
que
no s
ing.
têe
m o
pre
f. ki
-.
Form
a o
seu
pl.,
mud
ando
o pr
ef.
sing.
ki-
em i
-.A
bran
ge t
odos
os
augm
enta
ti-vo
s. E
x.:
kiha
tu =
mul
hero
na(d
e m
uhat
u, m
ulher)
. Par
a a
for-
maç
ão d
o pl
. d’
este
s ve
ja-s
eno
N.o
17*
a fo
rmaç
ão a
nalo
gado
pl.
dos
dim
inut
ivos,
cuja
sre
gras
são
tam
bem
app
licav
eisao
s au
gmen
tativ
os.
Ant
igam
ente
era
a c
l. do
sob
ject
os
inan
imad
os;
hoje
incl
ue
tam
bem
pe
ssoa
s e
anim
aes.
(p.
3)
*Ve
r o
que
está
esc
rito
a pr
o-pó
sito
da c
lasse
10.
JOSÉ
LU
IZ Q
UIN
TÃO
1934
A e
sta c
l. pe
rtenc
em t
odos
os
nom
es,
cujo
s pr
efix
os
dosin
g. e
pl.
são:
ki-;
i-.
Abr
ange
tod
os o
s au
ment
ati-
vos,
ex.:
kiha
tu =
mul
hero
na(d
e m
uhat
u, m
ulhe
r).
As
regr
as p
ara
a fo
rmaç
ãodo
s au
men
tativ
os,
são
asm
esm
as q
ue p
ara
a fo
rmaç
ãodo
s dim
inut
ivos
na X
cl.
Ant
i-ga
men
te e
ra a
cl.
dos
obje
c-to
s in
anim
ados
; ho
je c
on-
tém
ta
mbé
m
pess
oas
ean
imais
. (p
. 15
)
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refi
xo d
o si
ngul
arda
3.a
clas
se é
ki-
e do
plur
al é
i-.
Para
a f
orm
ação
do
plu-
ral
bast
a su
bstit
uir
opr
efix
o do
sin
gula
r pe
lodo
plu
ral.
Pert
ence
m a
est
a cl
asse
os
subs
tant
ivos
qu
epr
inci
piam
po
r ki
- e
todo
s os
aum
enta
tivos
.(p
. 10
)
CLASSE III
51
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Sing
ular
o-/
i-/e-
, pl
ural
ma-
. (p
. 13
)
HE
LI C
HAT
ELA
IN
1888
-188
9
À c
l. IV
per
tenc
em o
s no
mes
que
têem
no
sing.
o p
ref.
ri-. N
o pl
ur. o
pre
f. m
a- t
oma
olo
gar
do p
ref.
sing.
ri-.
Ex.
: rit
ari
pl.
mat
ari.
Qua
ndo
o pr
ef.
d’es
ta c
l.ap
pare
ce n
’out
ra p
arte
da
ora-
ção
que
conc
orda
co
m
ono
me,
este
mui
tas
veze
s ca
re-
ce d
o se
u pr
efix
o. (
p. 4
)
JOSÉ
LU
IZ Q
UIN
TÃO
1934
A e
sta
cl.
pert
ence
m t
odos
os n
omes
, cu
jos
pref
ixos
do
sing.
e p
l. sã
o: d
i-; m
a-.
Qua
ndo
o pr
ef.
sing
. de
sta
cl.
apar
ece
nout
ra p
arte
da
oraç
ão,
conc
orda
ndo
com
ono
me,
ês
te
deix
a m
uita
sve
zes
de l
evar
o s
eu p
ref.
(p.
15)
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refi
xo d
o si
ngul
arda
4.a
clas
se é
ri-
e o
dopl
ural
é m
a-.
Para
a f
orm
ação
, do
plu-
ral
bast
a su
bstit
uir
opr
efix
o do
sin
gula
r pe
lodo
plu
ral.
Pert
ence
m a
est
a cl
asse
os n
omes
que
, no
sin
gu-
lar,
co
meç
am
por
ri-.
(p.
10)
CLASSE IV
52
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Sing
ular
u-
, pl
ural
m
au-.
(p.
13)
HE
LI C
HAT
ELA
IN
1888
-188
9
A c
l. V
tem
por
pre
f. sin
g. u-
,e
por
pref
. pl
. m
au-.
Ex.
: ut
a pl
. m
auta
.O
pre
f. u-
ser
ve p
ra a
for
ma-
ção
de n
omes
abs
tracto
s, qu
esig
nific
am a
qua
lidad
e ca
racte
ris-
tica
ou o
offi
cio d
o en
te r
epre
-se
ntad
o pe
lo n
ome
conc
reto
de q
ue o
abs
tract
o se
der
iva.
Ex.
: hax
i, o
doen
te, u
haxi
, doen
ça,
Nza
mbi
, D
eus,
unza
mbi
, div
in-
dade
. (p
. 5)
JOSÉ
LU
IZ Q
UIN
TÃO
1934
A e
sta c
l. pe
rtenc
em t
odos
os
nom
es,
cujo
s pr
efix
os
dosin
g. e
pl.
são:
u-;
mau
-.N
esta
cl. e
nas
VI,
VII e
VII
I, o
pref
. do
pl. m
a-, a
ntep
õe-se
ao
do s
ing.,
fica
ndo:
mau
-, m
alu-,
mat
u-,
mak
u-,
no p
l. O
pre
f.ma
u- p
ode
cont
rair-
se e
m m
o-,ex
.: m
ölun
gu
=
mau
lung
u(a
+u=o
). Ta
mbé
m s
e di
z ma
taou
möta
em
lug
ar d
e ma
uta.
O p
ref.
u, s
erve
par
a a
for-
maç
ão d
e no
mes
abs
trat
os,
sevi
ndo-
lhes
de
base
out
ros
nom
es,
ex.:
haxi
, o
doen
te;
uhax
i, do
ença
; N
zamb
i, D
eus,
unza
mbi
, di
vind
ade;
nda
ndu,
pare
nte,
und
andu
, pa
rent
esco
.(p
. 16
)
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refi
xo d
o si
ngul
arda
5.a
clas
se é
u-
e o
dopl
ural
é m
au-.
Para
a f
orm
ação
do
plu-
ral
bast
a su
bstit
uir
opr
efix
o do
sin
gula
r pe
lodo
plu
ral.
Pert
ence
m a
est
a cl
asse
os n
omes
que
, no
sin
gu-
lar,
prin
cipi
am p
or u
-, e
todo
s os
nom
es a
bstra
c-to
s. (p
. 11
)
CLASSE V
53
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Sing
ular
m-/
n-/o
-, pl
ural
ola-
. (p
. 13
)
HE
LI C
HAT
ELA
IN
1888
-188
9
A c
l. V
I te
m n
o sin
g. o
pre
f.lu
-, qu
e no
pl.
se m
uda
emm
alu-
. E
x.:
lum
bu
pl.
mal
umbu
.N
o se
rtão
mui
tos
nom
es q
ueco
meç
am p
or l
u- n
ão f
or-
mam
o p
l. co
mo
esta
cl.,
mas
sim c
omo
a cl
. IX
: sã
o os
que
se
deri
vam
de
um
no
me
colle
ctiv
o e
indi
cam
um
obje
cto
unic
o, d
esta
cado
da
colle
ctiv
idad
e. E
x.:
lund
emba
= u
m c
abell
o, p
l. jin
dem
ba.
(p.
5)
JOSÉ
LU
IZ Q
UIN
TÃO
1934
A e
sta
cl.
pert
ence
m t
odos
os n
omes
, cu
jos
pref
ixos
do
sing.
e p
l. sã
o: l
u-;
mal
u-.
No
Sert
ão,
mui
tos
nom
esqu
e co
meç
am p
or l
u-,
não
form
am o
pl.
com
o es
ta c
l.,m
as s
im c
omo
a cl.
IX; s
ão o
squ
e se
der
ivam
de
um n
ome
cole
ctiv
o e
indi
cam
um
obje
cto
únic
o, s
epar
ado
daco
lect
ivid
ade,
ex.:
lunde
mba
=um
ca
belo
, pl
. jin
dem
ba;
lüng
uba,
um
am
endo
im,
pl.
jingu
ba;
lumb
ozo,
uma
bata
ta,
pl.
jimbo
zo.
(p.
16)
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refi
xo d
o si
ngul
arda
6.a
clas
se é
lu-
e o
dopl
ural
mal
u-.
Para
a f
orm
ação
do
plu-
ral
bast
a su
bstit
uir
opr
efix
o do
sin
gula
r pe
lodo
plu
ral.
Pert
ence
m a
est
a cl
asse
os n
omes
que
, no
sin
gu-
lar,
prin
cipi
am p
or l
u-.
São
mui
to
pouc
os
ossu
bsta
ntiv
os q
ue p
erte
n-ce
m a
est
a cl
asse
. (p.
11)
CLASSE VI
54
HE
LI C
HAT
ELA
IN
1888
-188
9
A c
l. V
II t
em n
o sin
g. o
pre
f.tu
-,
e no
pl
. m
atu-
. Sã
ora
riss
imos
os
nom
e d’
esta
clas
se.
Em
m
uito
s no
mes
qu
eco
meç
am p
or t
u-,
esta
syl
laba
faz
part
e do
rad
ical
, e
este
sno
mes
per
tenc
em à
cl.
IX. E
x.:
tulu
, pe
ito,
pl.
jitul
u. (
p. 6
)
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refi
xo d
o si
ngul
arda
7.a
clas
se é
tu-
e o
do
plur
al é
mat
u.Pa
ra a
for
maç
ão d
o pl
u-ra
l ba
sta
subs
titui
r o
pref
ixo
do s
ingu
lar
pelo
do p
lura
l.Pe
rten
ce a
est
a cl
asse
um o
u ou
tro n
ome
que,
no
sing
ular
pr
inci
pia
por
tu-.
A e
sta
clas
se d
evem
per
-te
ncer
ape
nas
umas
trê
spa
lavr
as.
As
pala
vras
tuku
, ca
uda;
tul
u, p
eito
;tu
mba
, na
co;
tum
bu,
umbi
go p
erte
ncem
à 9
.a
clas
se.
(p.
11)
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Sing
ular
lu-
, pl
ural
mal
u-.
(p.
13)
CLASSE VIIJO
SÉ L
UIZ
QU
INT
ÃO
1934 —
55
HE
LI C
HAT
ELA
IN
1888
-188
9
A c
l. V
III
tem
no
sing.
o p
ref.
ku-
e no
pl.
mak
u-.
Qua
sito
dos
os n
omes
d’es
ta c
l. sã
oin
finiti
vos,
nom
es v
erba
es.
Sóad
mitt
em o
plu
r., q
uand
o o
uso
lhes
dá
uma
signi
ficaç
ãoco
ncre
ta.
As
cl. IV
, V, V
I, V
II, V
III,
têem
om
esm
o pr
ef.
pl.
ma-
; po
rém
na c
l. IV
est
e pr
ef.
pl.
subs
titue
o pr
ef.
sing
., en
quan
to q
uena
s cl
. V,
VI,
VII
, V
III
lhe
fica
antep
osto.
(p.
6)
JOSÉ
LU
IZ Q
UIN
TÃO
1934
A e
sta
cl.
pert
ence
m t
odos
os n
omes
, cu
jos
pref
ixos
do
sing.
e p
l. sã
o: k
u-;
mak
u-.
Todo
s os
nom
es d
esta
cl.
são
infin
itivo
s, (s
ubst
antiv
osve
rbai
s. Só
adm
item
o p
lur.,
quan
do o
uso
lhe
s dá
um
asi
gnif
icaç
ão c
oncr
eta.
(pp
.16
-17)
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refix
o do
sin
gula
r é
ku-
e o
do
plur
al
ém
aku-
.Pa
ra a
for
maç
ão d
o pl
u-ra
l ba
sta
subs
titui
r o
pref
ixo
do s
ingu
lar
pelo
do p
lura
l.Pe
rten
cem
a e
sta
clas
seos
nom
es ver
bais.
(p.
11)
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Perte
ncem
à O
itava
Clas
se os
nom
es g
eral
men
te v
erba
is.
Sing
ular
ku-
, pl
ural
mak
u-.
(pp.
13-
14)
CLASSE VIII
56
CLASSE IXH
ELI
CH
ATE
LAIN
1888
-188
9
A c
l. IX
car
ece
de p
refix
o no
sing.
, e
form
a o
plur
., an
te-
pond
o ji-
no
sing
. E
x.:
hoji
pl.
jihoj
i.R
econ
hece
m-s
e os
no
mes
d’es
ta c
l. pe
la au
sencia
de
qual-
quer
dos
pref
. da
s ou
tras
classe
s.O
s no
mes
da
cl. I
X p
odem
ter
por
inic
ial q
ualq
uer
das
letra
sse
guin
tes: h
-, p-
, j-,
x-, s
-, f-,
n-,
a-,
e-,
i-, o
-, m
-. (E
xc.:
sing.
mu-
e p
l. m
i-),
t- (E
xc.:
sing.
tu-
cl.
VII
e p
l. tu
- cl
. X
), k-
(Exc
.: ki-
, ka-
, ku-
), l-
(Exc
.: lu
-).Po
de h
aver
alg
uma
duvi
da s
óqu
ando
um
no
me
com
eça
por
tu-,
ku-,
lu-.
N’e
sse
caso
bast
a pe
rgun
tar
a um
ind
i-ge
na o
pl.
do n
ome.
JOSÉ
LU
IZ Q
UIN
TÃO
1934
Est
a cl
. ca
rece
de
pref
ixo
desin
g.; o
u se
o t
em, d
eve
esta
rre
pres
enta
do n
as n
asais
n o
um.
A l
etra
i,
inic
ial d
e alg
uns
nom
es é
euf
ónic
a e
pref
ixa-
se a
os n
omes
, qu
e do
utra
form
a, s
eria
m m
onos
sílab
os,
ex.:
inzo
, in
ji, i
ngo,
imbu
a. Ê
ste
i, ca
i ig
ualm
ente
qua
ndo
ono
me
é pr
eced
ido
de v
ogal
,co
mo,
o’n
zo.
Rec
onhe
cem
-se
os
nom
esde
sta
cl.
pela
aus
ênci
a de
qualq
uer
dos
pref
. da
s ou
tras
cl.
Ant
igam
ente
era
est
a, a
clas
sedo
s an
imai
s, h
oje
cont
émta
mbé
m p
ara
pess
oas
e co
i-sa
s.
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refix
o do
plu
ral
da9.
a clas
se é
ji-.
O p
refix
odo
sin
gula
r nã
o ex
iste.
Para
a f
orm
ação
do
plu-
ral
bast
a ac
resc
enta
r o
pref
ixo
do
plur
al
aono
me.
Pert
ence
m a
est
a cl
asse
os n
omes
que
pri
nci-
piam
por
m-
ou n
- e
umou
out
ro q
ue c
omeç
apo
r tu
-, be
m c
omo
osno
mes
de
or
igem
estr
ange
ira.
Not
a: O
s su
bsta
ntiv
osco
m o
pre
fixo
próp
rio
dest
a cl
asse
pod
em f
icar
sem
pre
no
sing
ular
,qu
ando
tiv
erem
alg
uma
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Sing
ular
ka
-,
plur
al
aka-
.(p
. 13
)
57
Todo
s os
que
têe
m j
i- no
pl.
pert
ence
m á
cl.
IX.
Ant
igam
ente
era
est
a a
cl.
dos
anim
aes;
hoje
usa
-se
tam
bem
para
pes
soas
e c
oisa
s.Q
uasi
toda
s as
pala
vras
estr
an-
geira
s, se
m e
mba
rgo
da s
uafo
rma
inic
ial,
form
am o
pl.
com
o es
ta c
l. E
x.:
kaba
lu,
cava
llo p
l. jik
abal
u.Q
uand
o um
nom
e te
m p
orle
tra
inic
ial
um i
- el
ide-
sees
te i
- no
pl.
Ex.
: in
zo,
casa
,pl
. jin
zo (
i+i=
i). (
p. 7
)
Quá
si
toda
s as
pa
lavr
ases
tran
geir
as,
sem
em
barg
oda
sua
for
maç
ão i
nici
al,
for-
mam
o p
l. co
mo
esta
cl.,
ex.
kaba
lu,
cava
lo,
pl.
jikab
alu.
Qua
ndo
um n
ome
tem
por
i- ili
de-s
e ês
te i
- no
pl.,
ex.
inzo
, pl
. jin
zo (
i+i=
i).N
o pl
. os
nom
es d
esta
cl.
pode
m o
miti
r o
pref
ixo
ji,qu
ando
são
seg
uido
s de
ja
(gen
itiv
o),
ex.:
ndan
du
jamu
ndele
= j
inda
ndu
ja mu
ndele
.(p
. 17
)
pala
vra
com
que
con
-co
rdem
, ex
cept
o se
fôr
um
pron
ome.
E
x.:
ngom
be j
iiari,
doi
s bo
is;
jingo
mbe
j’a
mi,
os m
eus
bois
. (p
p.
11-1
2)
CLASSE IX (cont.)
58
CLASSE XH
ELI
CH
ATE
LAIN
1888
-188
9
A c
l. X
tem
no
sing.
o p
ref.
ka-
e no
pl
. o
pref
. tu
-.C
ompe
hend
e es
ta c
l. to
dos
os n
omes
dimin
utivo
s. E
stes
for
-m
am-s
e, p
refi
xand
o ka
- ao
nom
e qu
e se
que
r di
min
uir.
A f
orm
ação
do
pl.
dos
dim
i-nu
tivo
s ap
rese
nta
algu
ma
diff
icul
dade
, po
rque
de
ixa
subs
istir
em
mui
tos
caso
s o
pref.
plu
r. da
cla
sse
do n
ome
dim
inui
do,
com
o se
vê
nos
exem
plos
. N
ote-
se:
1) q
ue n
acl
. IX se
mpre
se om
itte o
seu
pre
f.pl
., 2)
que
nas
cl.
I e
III
o se
upr
ef.
sing
. e
pl.
se e
limin
aalg
umas
vez
es ao
pas
so q
ue n
asou
tras
cl. s
empr
e se
conser
va.
JOSÉ
LU
IZ Q
UIN
TÃO
1934
A e
sta
cl.
pert
ence
m t
odos
os n
omes
, cu
jos
pref
ixos
do
sing.
e p
l. sã
o: k
a-;
tu-.
Com
pree
nde
todo
s os
dim
i-nu
tivos
e
form
am-s
e,pe
rfix
ando
ka
ao n
ome
que
se q
uer
dim
inui
r (n
o sin
g.).
A f
orm
ação
do
pl.
dos
dim
i-nu
tivo
s, a
pres
enta
alg
uma
dific
ulda
de,
porq
ue e
m m
ui-
tos
caso
s, o
pre
f. pl
ur.
dacl
asse
do
nom
e di
min
uido
,su
bsis
te,
com
o se
vê
nos
exem
plos
.N
ote-
se q
ue n
a cl
. IX, s
empr
ese
om
ite o
seu
pre
f. pl
., e
que
nas
cl. I
e I
II, o
seu
pre
f.sin
g. e
pl.
se i
limin
a alg
umas
MIS
SIO
NÁR
IOS
DO
VIC
ARIA
TO
GE
RAL
DE M
ALAN
GE
1943
O p
refi
xo d
o si
ngul
arda
10.
a cl
asse
é k
a- e
odo
plu
ral
é ti-
.Pa
ra a
for
maç
ão d
o pl
u-ra
l ba
sta
subs
titui
r o
pref
ixo
do s
ingu
lar
pelo
do p
lura
l.Pe
rten
cem
a e
sta
clas
se,
sobr
etud
o, o
s di
min
uti-
vos.
O
s no
mes
qu
epr
inci
piam
por
ka-
são
mui
to p
ouco
s. (p
. 12
)
PAD
RE A
NT
ÓN
IO
DA
SILV
A M
AIA
1957
Pert
ence
m à
Déc
ima
Cla
sse
espe
cial
men
te o
s di
min
uti-
vos.
Sing
ular
ka-
, pl
ural
u-.
(pp.
13-1
4)
59
Not
a: A
s de
scriç
ões
apre
sent
adas
nas
pp.
48-
59 e
stão
gra
fada
s co
nfor
me
as e
diçõ
es c
onsu
ltada
s.CH
ATE
LAIN
, H
eli
(188
9).
Gra
mmat
ica E
lemen
tar
do K
imbu
ndu,
2.a
ed.,
1964
, N
ew J
erse
y: T
he G
regg
Pre
ss I
ncor
pora
ted.
QU
INTÃ
O,
José
Lui
z (1
934)
. G
ramá
tica
de K
imbu
ndo,
Lisb
oa:
Des
cobr
imen
to.
MIS
SIO
NÁ
RIO
S D
O V
ICA
RIA
TO G
ERA
L D
E M
ALA
NG
E (
1944
). E
lemen
tos d
a G
ramá
tica
de Q
uimb
undo
, Mala
nge.
MA
IA,
padr
e A
ntón
io d
a Si
lva
(195
7).
Gra
mátic
a de
Kim
bund
o, 2.
a ed
., 19
64,
Cucu
jães
.
Cada
vez
por
ém,
que
o pr
ef.
da c
lass
e de
sapp
arec
e na
for
-m
ação
do
dim
inut
ivo
sing
.ta
mbe
m n
ão a
ppar
ece
no p
l.E
x.:
kaha
tu p
l. tu
hatu
(de
kam
uhat
u).
Kau
lung
u po
deco
ntra
hir-
se
em
kolu
ngu
(a+
u=o)
.
veze
s,
ao
pass
o qu
e na
sou
tras
cl
asse
s se
mpr
e se
cons
erva
.Q
uand
o o
pref
ixo
da
cl.
desa
ppar
ece,
na
form
ação
do d
imin
utiv
o sin
g. t
ambé
mnã
o ap
arec
e no
pl.,
ex.:
kaha
tupl
. tu
hatu
(d
e ka
muh
atu)
.Ka
ulun
gu p
ode
cont
rahi
r-se
em k
olung
u (a
+u=
o).
CLASSE X (cont.)
61
Segundo os vários autores o alfabeto do kimbundu éconstituído pelas vogais /a/, /e/, /i/, /o/, /u/ e pelasconsoantes /b/, /d/, /f/, /g/, /h/, /j/, /k/, /l/,/m/, /n/, /p/, /r/, /s/, /t/, /v/, /x/ e /z/. Note-seque /c/, /q/, /w/, /y/ não existem.
Quanto à pronúncia Chatelain (1889: XXII) escreve:
«Vogaes: a, e, i, o, u, como em portuguez (valoralphabetico).
Obs.: 1) Na pronuncia rapida e ante vogal = i v. g.pange ami = pangiami.
2) i e u ante vogal = semi-vogaes v. g. iiii, uiua. Cf.portuguez: aia, agua. As excepções são marcadascom accento agudo v. g. kizúa, ngejía.
3) au, ai, eu, ou: Sendo finaes teem o acento tonicona 1.a vogal v. g. rikau, pron. rikáu; sai, pr. sái;sendo seguidos de consoante teem o accento naultima vogal v. g. sai-ku, pron. saí-ku; kubauka, pr.kubaúka.
O alfabeto
62
Consoantes: b, d. f, j, k, l, m, n, p, t, v, z, como emportuguez.
Obs.: m e n não nazalizam a vogal antecedente, massim a consoante immediata. Ambos representam o nasal:
m ante as labiaes b, v, no sertão tambem ante p e f(mb, mv, mp, mf).
n ante as dentaes brandas d, z, j, e a guttural brandag (nd, nz, nj, ng).
g é sempre duro e nasal = ng; nge e ngi = ngue e nguiem portuguez.
h é sempre aspirado, nunca mudo.r ou ri (nunca sem i) equivale em Loanda a ri bran-
do, com approximação a di, no interior sôa comodi, com approximação a ri brando.
s é sempre = ç, nunca = z.x é sempre = x e ch em xaque, cheque.
Syllabização: 1) Todas as syllabas devem acabar emvogal.
2) m e n precedendo consoante sempre se devemescrever e pronunciar juntamente com a consoantev. g. ambula = a-mbu-la imvo = i-mvo, ndongo =ndo-ngo, ngenji = nge-nji.
3) au, ai, eu, ou finaes contam por duas syllabas (a-u, a-i, e-u, o-u), mas na pronuncia rapida sôamcomo diphtongos.»
Ainda relativamente às vogais escrevem os Missioná-rios do Vicariato Geral de Malange (1944: 4) que o /e/«pode ter dois sons: aberto como o e de fé; fechado,
63
como o e de medo, quando seguidos das consoantes n oum, contanto que não sejam puras. Ex.: — menha água;henda amor.»
No que diz respeito às consoantes /m/ e /n/ cabeacrescentar que são nasais homorgânicas que se arti-culam no início da sílaba com outras consoantes. Aque-las não possuem o valor real de consoante, mas servemcomo sinais gráficos (como se fossem um til), e represen-tam o som nasal, isto é, as consoantes que são por elasprecedidas têm o som nasalado e são proferidas numa sóemissão de voz. O /m/ ante as labiais /b/ e /v/ «nosertão tambem ante p e f» Chatelain (1889: XXIII)(Mbengu [m ÉbeN Égu], Imvo [im Évo]) e o /n/ antes de/d/, /g/, /j/ ou /z/ (Ndombe [n Édom Ébe], Nganga[NÉgaNÉga], Njibiri [nÉZibiri], Nzumbi [n ÉzumÉbi].
Constata-se também a existência de variedades dia-lectais em que as consoantes são trocadas — /r/ por /d/ (kitari ou kitadi — dinheiro).
Na sua gramática, Chatelain (1889: XXIII) deixa claroque a sílaba tónica recai como regra geral na penúltimasílaba, sendo esta sílaba, portanto, a que tem maior forçana pronúncia. Alguns autores, como é o caso de Cor-deiro da Matta, destacam a sílaba tónica com o uso doacento gráfico, sendo que Chatelain dispensa o uso domesmo; uma vez que considera que já está implícito queesta sílaba é a que tem maior intensidade na pronúncia.Para Chatelain e outros autores, os acentos servemsomente para as excepções à regra geral.
Segundo Mingas (2000: 36) «o quimbundo tem cincovogais (duas anteriores, duas posteriores e uma central),
64
com quatro graus de abertura. Esta língua não apresentanenhuma vogal nasal. Interessa, entretanto, sublinharque as vogais que seguem uma consoante pré-nasal rea-lizam-se nasalizadas, quando pronunciadas por locutoresda variante.
As consoantes comportam sete séries, nomeada-mente: labial, dental, pré-palatal, palatal, apical, velar eglotal.»
A mesma autora apresenta-nos para as vogais (Min-gas, 2000: 36):
ANTERIOR CENTRAL POSTERIOR
1.o grau [i] [u]2.o grau [e] [o]3.o grau [E] [ç]4.o grau [a]
Para as consoantes (Mingas, 2000: 38):
Orais Fortes (surdas) [p] [f] [t] [s] [S] [k] [h]Fracas (sonoras) [b/B] [v] [d] [z] [Z]
Nasais Fortes (nasais) [m] [n] [¯]Fracas (pré-nasais) [mb] [Mv] [nd] [nz] [nZ] [¯g]
Contínuas [l] [y] [w]
BILA
BIA
L
LABI
OD
ENTA
L
APIC
AL
PRÉ-PA
LATA
L
PALA
TAL
VEL
AR
GLO
TAL
65
O kimbundu segue a regra de constituição silábicamais comum à maioria das línguas do mundo, CVCV.
Apresentamos de seguida as várias ocorrências e asua descrição no esqueleto.
V imbanda = i.mba.nda (curandeiros)CV mutue = mu.tue (cabeça)CGV munia = mu.nia (cachorrinho)NCV mbulu = mbu.lu (fim)NCGV imbia = i.mbia (casa)
A constituição silábica do kimbundu
66
a) observamos sílabas de Ataque vazio como emi.mba.nda;
Ataque Rima
Núcleo
Ø i
b) observamos sílabas de Ataque não ramificado sim-ples como em mu.tue;
Ataque Rima
Núcleo
m u
67
c) observamos sílabas de Ataque ramificado comoem mbu.lu
Ataque Rima
Núcleo
m b u
d) observamos sílabas de núcleo ramificado como emmu.nia
Ataque Rima
Núcleo
n i a
68
O kimbundu apresenta três tipos de Ataque: ramifica-do quando domina duas posições do esqueleto que cor-respondem a duas concoantes; não ramificado simplesquando domina uma posição no esqueleto que corres-ponde a uma consoante ou nenhuma (vazio):
simplesnão ramificado
vazioAtaque
ramificado
Em kimbundu a Rima é sempre não ramificadapodendo ter um núcleo ramificado ou não:
não ramificado(Vogal)
Rima não ramificada = Núcleoramificado(Vogal e Glide)
Em kimbundu as sílabas acabam em vogal não exis-tindo sílabas de rima ramificada (ver exemplos acima);
As ocorrências /au/, /ai/, /eu/, /ou/ em final depalavra equivalem a duas sílabas, embora numa veloci-dade de elocução elevada possam parecer ditongos, porex.: [Rikáw] no lugar de [Rikáu] sendo <ri.ka.u>; passa-se o mesmo que em latim vulgar em que a passagem doritmo tonal ao intensivo motiva o desaparecimento daqualidade da vogal com traço fónico diferente.
69
Algumas línguas bantas, entre elas o kimbundu,fazem-se valer da intensidade com um valor fonéticoque recai preferencialmente sobre a penúltima sílaba dapalavra.
O facto de o kimbundu ter sido estudado principal-mente por missionários e funcionários administrativos preo-cupados com objectivos imediatos e em acomodar os tonsescutados à sua estrutura linguística, de lembrar que oportuguês não é uma língua tonal, leva a que as gramáticase dicionários da época, por si só, não nos ofereçam meiospara uma marcação dos tons na escrita. Em 1891, no seutrabalho As Linguas de Angola, Ladislau Batalha (professor)tinha como objectivo «o de mostrar e conseguir que secomprehenda a organisação e meios de que se serve a lin-guagem agglutinativa para verter os pensamentos e as idéiasem phrases sonoras, cadenciadas e harmonicas.» (Batalha,1891: 8) As «phrases sonoras, cadenciadas e harmonicas»haviam sido vertidas para a escrita com os sons que quemos registava podia reproduzir com o seu código de escrita.
O tom
70
Mesmo hoje uma pesquisa in loco seria dificultada pelaassimilação de outras línguas, o português e vizinhas,por parte dos falantes. A língua portuguesa, à época dasdescrições existentes do kimbundu, devia ser «faladacorrectamente por quem desejar candidatar-se à cidada-nia portuguêsa», assim estava escrito nos Estatutos dosIndígenas da Guiné, Angola e Moçambique.
«A forma mais usual de indicar os tons mais comunsconsiste em sobrepor à vogal os símbolos: ´ (tom alto),` (tom baixo), ‡ (tom ascendente) e fl (tom descendente).Na grande maioria das línguas tonais são os núcleos silá-bicos as unidades portadoras de tom.» (Andrade, 2007:93)
Em Quintão os acentos «Servem para indicar as excep-ções à regra geral e para distinguir um vocábulo de outroseu parónimo. [...] na penúltima: entoação particular deparónimo.» (Quintão, 1934: 13) Para Maia «As sílabas (sonspronunciados com uma só emissão de voz) das palavras doQuimbundo são pronunciadas todas com tal clareza que àprimeira vista parece nenhuma estar acentuada.
Há, porém, sílabas acentuadas dentro das palavras —o que só se aprende a fazer e a distinguir com o uso ea prática da Língua.» (Maia, 1964: 6)
As línguas tonais valem-se da duração, ou seja, daoposição entre vogais longas e vogais breves. Normal-mente as vogais longas ocorrem de uma elisão. Se ostons são iguais, permanecem e inversamente combinam-se em ascendente-descendente, descendente-ascendente,etc. Certos pares de palavras, caso dos parónimos, só sedistinguem pelos tons: ex.: kubanga (fazer), e kubánga
71
(pelejar); hama (cama) e háma (cem); kuloua (enfeitiçar)e kulóua (pescar); njila (caminho) e njíla (pássaro), etc.o que mostra que fonemas aparentemente iguais, masdiferentes em tons são também eles diferentes nos seussignificados independentemente do contexto em que seencontram.
O acento agudo com que está marcada a sílaba tónica«não é tonico, não existe na pronuncia de uma lettraparticular, mas na entoação de toda a palavra. [...] demodo que a antepenultima e a ultima ou esta só soammais claras e que na emissão da ultima a expiração vogalfica como que suspendida.» (Chatelain, 1899: 153)
73
Ao longo da História o continente africano foi sendousado pela Europa como depósito de degredados earmazém de escravos. O kimbundu, língua em que apalavra cadeia não existia, necessitou de um emprés-timo do português para a incorporar. Por exemplo, aconhecida canção do movimento de libertação MPLA:«Doutor Netoé mu caleia, ngongoé» (O Doutor Netoestá na cadeia, que sofrimento). Sabemos também queo árabe, o francês, o inglês, o português e o africânderao longo de vários séculos deixaram uma quantidadeconsiderável do seu vocabulário em muitas línguas afri-canas.
O kimbundu, à semelhança das outras línguas bantas,não tem tradição escrita. Os primeiros a escrevê-la e aestudar-lhe as regras gramaticais foram os missionárioscapuchinhos e jesuítas de Ambaka. Fizeram-no com ofim de ensinar a língua portuguesa e o catecismo aosafricanos. Foram eles que introduziram os princípios or-tográficos ainda hoje vigentes.
Comentário
74
Nos séculos XIX e XX surgem estudiosos do kimbundu,de onde destacamos Héli Chatelain. A este sucedeu-lheJosé Luiz Quintão cujas diferenças com Chatelain sãoanotar o prefixo di- em lugar de ri- no singular da classe4, a organização da obra por ter agrupado todos os exer-cícios no final e finalmente ter acrescentado uma parte devocabulário. É ainda de salientar o anotar das «Diferençasprincipais entre o dialecto do Sertão e o de Luanda»(Quintão, 1934: 200) que se apresentam de seguida e quejá estavam expostas em Chatelain (1889: 150):
— Em logar de ng de Loanda, encontra-se, às vezes,no Sertão l, ex: ngoji, corda, ngatu, colhér; loji, lutu.
— Em Loanda é facultativo dizer: lumata ou numata,bokola ou bokona, no Sertão prefere-se o n.
— No Sertão o p e o f são geralmente precedidos danazal m, ex: mpexi em vez de pexi, cachimbo.
— O ri que em Loanda sôa quási como em português,e que eu nêste compêndio substituo por di, sôa noSertão como di (em umbundu: li).
— Ao ui final de Loanda, corresponde no Sertão ue,ex: ditui, dizui = ditue, dizue, orelha, voz.
— O x de muitas palavras, pronuncia-se no Sertãocom tx (umbundu: c), ex: muxi, muxima = matxi,mutxima, pau, coração.
— Ao som de tx, corresponde o som de ch, usado noNorte de Portugal.
— No Sertão preferem as formas completas às abre-viadas, ex: kiabu em vez de kiá, ngoho em vez dengó, já e só.
75
— Em muitas palavras há uma pequena diferênça, ex:L. mungaa, sal, S. mongua; L. nhiki, ou nhoki, S.nhuki, abelha; L. kindala, agora, S. kindaula; L.diju, S. dizu, dente: etc.
— Em vários pontos do Sertão conta-se assim: moxi,kadi, tatu, uana, tana, samanu, sambuadi, dinake,divua, dikumi (de 1 a 10); makumi a ladi, (20)makumi a tatu (30), etc.»
Das outras duas gramáticas, a dos Missionários doVicariato Geral de Malange reproduz em versão abre-viada o que as anteriores já tinham estudado, enquantoque a do padre Maia está em flagrante contradição comtodas as outras nomeadamente quanto aos vários prefi-xos do kimbundu.
Parece-nos que o autor de qualquer uma destas gra-máticas pretendia frutos de entendimento mínimos erápidos. A sua preocupação não era o estudo da língua,mas sim fazer uma ferramenta, ainda que rudimentar.Para dar ordens era necessário ser entendido, sendo omesmo também válido para as almas.
A primazia da fala sobre a escrita é, ainda hoje emdia, uma realidade que se observa em sociedades onde orural se sobrepõe ao urbano, como acontece em África.É comummente aceite a importante presença da tradiçãooral ao longo da História de África. Os contos e osprovérbios têm lugar de destaque nas tradições bantas,pois são estes que vão transportar o passado até ao pre-sente.
77
ANDRADE, Ernesto d’ (2007). Línguas Africanas — BreveIntrodução à Fonologia e à Morfologia, Lisboa: A. Santos.
BAIÃO, padre Domingos Vieira (1946). O Kimbundu semMestre, Porto: Imprensa Moderna.
BATALHA, Ladislau (1891). A Lingua de Angola, Lisboa:Companhia Nacional Editora.
CANNECATTIM, Bernardo Maria de (1804). Diccionario dalingua bunda, ou angolense explicada na portugueza, elatina, Lisboa: Impressão Regia.
CANNECATTIM, Bernardo Maria de (1805). Collecção deobservações grammaticaes sobre a lingua bunda, ou angolense,Lisboa: Impressão Regia.
CHATELAIN, Heli (1889). Grammatica Elementar doKimbundu, 2.a ed., 1964, New Jersey: The Gregg PressIncorporated.
DIAS, Pedro (1697). Arte da Lingua de Angola, oferecida aVirgem Senhora N. do Rosario, Mãy, e Senhora dos mesmosPretos, pelo P. Dias da Companhia de Jesu, 1.a ed., Lis-boa: Officina de Miguel Deslandes, 2.a ed., Rio de
Bibliografia
78
Janeiro: 2006.FERNANDES, João; Zavoni Ntondo (2002). Angola: Povos e
Línguas, Luanda: Editorial Nzila.GORDON, Raymond G., Jr. (ed.), (2005). Ethnologue:
Languages of the World, Fifteenth edition. Dallas, Tex.:SIL International. Versão on-line em http://www.ethnologue.com/ (acedido em 30-12-2008).
MAIA, padre António da Silva (1957). Gramática deKimbundo, 2.a ed., 1964, Cucujães.
MATTA, J. D. Cordeiro da (1893). Ensaio de DiccionarioKimbúndu-Portuguez, Lisboa: Casa Editora AntónioMaria Pereira.
MINGAS, Amélia A. (2000). Interferência do Kimbundu noPortuguês Falado em Lwanda, Lisboa: Campo das Letras.
MISSIONÁRIOS DO VICARIATO GERAL DE MALANGE (1944).Elementos da Gramática de Quimbundo, Malange.
QUINTÃO, José Luiz (1934). Gramática de Kimbundo, Lis-boa: Descobrimento.
http://www.bantu-languages.com (acedido em 30-12-2008).
81
A concordância faz-se, em kimbundu, através do pre-fixo do substantivo que inicia a frase e lhe serve desujeito. Apresentamos de seguida quadros dos prefixosnominais e concordantes descritos pelos autores por nósestudados e a sua aplicação prática. Exemplos em Baião,1946: 26.
PREFIXOS NOMINAIS
CLASSE CHATELAIN QUINTÃO MISSIONÁRIOS MAIA
11.a mu – a mu – a mu – a mu/u – ma/a12.a mu – mi mu – mi mu – mi mu/u – i13.a ki – i ki – i ki – i ki/e – î14.a ri – ma di – ma ri – ma o/i/e – ma15.a u – mau u – mau u – mau u – mau16.a lu – malu lu – malu lu – malu m/n/o – o la1
17.a tu – matu tu – matu tu – matu lu – malu18.a ku – maku ku – maku ku – maku ku – maku19.a Ø – ji i; Ø – ji Ø – ji ka – aka/maka10.a ka – tu ka – tu ka – tu ka – u2
Concordâncias
82
PREFIXOS CONCORDANTES
CLASSE CHATELAIN QUINTÃO MISSIONÁRIOS MAIA
11.a ua – a ua – a ua – a ua – a12.a ua – ia ua – ia ua – ia ua – ia13.a kia – ia kia – ia kia – ia kia – ia14.a ria – ma dia – ma ria – ma/a lia – a15.a ua – ma ua – ma ua – ma/a ua – a16.a lua – ma lua – ma lua – ma/a ia – ia17.a tua – ma tua – ma tua – ma/a lua – a18.a kua – ma kua – ma kua – ma/a kua – a19.a ia – ji ia – ja ia – ja ka – a10.a ka – tu ka – tua ka – tua ka – ua
11.a Mubika uami uakala umoxi Abik’am iakala atatuO meu escravo era um Os meus escravos eram três
12.a Mukolo uami uakala umoxi Mikolo iami iakala itatuA minha corda era uma As minhas cordas eram três
13.a Kialu kiami kiakala kimoxi Ialu iami ikala itatuA minha cadeira era uma As minhas cadeiras eram três
14.a Rilonga riami riakala rimoxi Malonga mami makala matatuO meu prato era um Os meus pratos eram três
15.a Uta uami uakala umoxi Mauta mami makala matatuA minha arma era uma As minhas armas eram três
16.a Lumbu luam iluakala lumoxi Malumbu mami makala matatuO meu muro era um Os meus muros eram três
17.a Tubia tuam ituakala tumoxi Matubia mami makala matatuO meu fogo era um Os meus fogos eram três
18.a Kuria kuami kuakala kumoxi Makuria mami makala matatuA minha comida era uma As minhas comidas eram três
19.a Mbiji iami iakala imoxi Jimbiji jami jakala jitatuO meu peixe era um Os meus peixes eram três
10.a Kamona kami kakala kamoxi Tuana tuami tuakala tutatuA minha criança era uma As minhas crianças eram três
83
MisomoContos
I
Eme ngateletele nganaKimalauezu kia TumbaNdala, uakexiriê ni mukajiê, ku rima ria kukala angaakalâ mukaji ê anga uizauimita. Muene kana kariêxitu, maji usema ngó mbiji.O riala, ki aia mu tamba,ubeka ndumba ria jimbiji.O jimbiji anga jilengela mungiji iengi. O riala angauambela o muhatu, uixi:«Ngi ririkile huta,» anga omuhatu uririka o huta, anga oriala riia bu ngiji, bu alengeleleo jimbiji anga ubanga-bu ofundu iê anga uria. Ki azubile,
Eu contava(do) senhorKiamaluezu de TumbaNdala que estava com mulherd’elle, atrás de ser e estavam,a mulher d’elle veiu (a) con-ceber. Ella não comiacarne, mas antojava só peixe.O homem, quando ia pescar,trazia quantidade de peixes.Os peixes pois refugiaram-separa rio outro. O homem poisdisse á mulher, disse:«Prepara-me comida,» e amulher preparou o comer, e ohomem foi para o rio, ondetinham fugido os peixes e fezlá o seu fundo e comeu. Tendo
84
uixi: «Ngiia mu tamba,» angautakula o uanda. Luariangakakuateriê kima, lua kaiarikiomuene, o lua katatu angauivua uanene anga uivuamoxi a menia muixi:«Kinga, mbata mukuenumukua-mona.» Kia azubile okukinga anga uivua ringimuixi: «Sunga kiá!» Anga usungakimbiji kionene anga u ki tamuhamba anga umateka okuenda. Maji o jimbiji josojakexile mu kaiela o kimbiji eki,o riala anga rivua-jinga ngómu iangu: ualalá! ualalá! —Ki akexile kiá mu bixila kubata, o muhatu uendele ku mukauirila ni akua-riembu riê.Ki abixirile ku bata,o riala anga ribana o mbijipala ku i banga. O muhatu peanga anga uambela o riala, uixi:«Banga-iu!» O riala uixi:«Nguami.» O muhatu angaumateka o ku i banga. Maji ombiji iakexile mu kuimba,ixi: «Ki u ngi banga, ngibang’ami kiambote.» Ki azubileanga u i ta mu ’mbia,
acabado, disse: «Vou pescar,»e lançou a rede. A primeiravez não apanhou nada, asegunda o mesmo, a terceiravez então sente(a) pesada eouve dentro da agua dizendo:«Espera, porque o teu amigo épai de familia.» Tendo já espe-rado então ouve outra vez,dizendo: «Puxa já!» E puxouum peixão grande e pôl-o namuhamba e começou aandar. Porém os peixes todosestavam a seguir o peixão este,o homem e ouve continuam sóno capim: ualalá! ualalá! —Estando elle já para chegar emcasa, a mulher foi ao seuencontrocom os vizinhos d’ella.Tendo chegado em casa, ohomem então deu o peixepara ser feito. A mulherporém disse ao homem, disse:«Escama-o tu!» O homem disse:«Não quero.» A mulher poiscomeçou a escamal-o. Mas opeixe estava a cantar,dizendo: «Escamando-me tu,escama-me bem.» Tendo acabadoentão ella o pôz na panella,
85
maji o mbiji iakexirilê hanjimu kuimba. O mbiji ki iabile,o muhatu anga uririkamalonga matanu angaukuvitala o riala ni akuariembu riâ; ene anga a ri tunâ.Muene anga uria k’ubeka uê.Ki azubile anga ukatula orixisa ni pexi iê anga u ri zalamu kanga, anga uivua murivumu uixi: «Ngitundilakué?» O muhatu uixi:«Tundila ku makanda me’nama.» O mbiji ia mukumbuile: «Ku inama ié, kuuenioriatela o matuji, kueneku ngitundila!» — O muhatuuixi: «Tundila mu kanu.» —«Mu kanu, mu ua ngi miniina,muene mu ngitundila?»O muhatu uixi: «Sota buosobu uandala. O mbiji ixi:«Eme ze ngitund’ ó!» anga omuhatu ubaza bu ’axaxi. Ombiji anga iiê.
mas o peixe estava ainda acantar. O peixe estavaprompto, a mulher entãoarranjou pratos cinco e convi-dou o marido e os vizinhosd’elles; elles porém recusaram.Ella pois comeu sósinha.Tendo acabado então tirou aesteira e o cachimbo seu eextendeu-a no chão, e ouviu nabarriga dizendo: «Sahirei poronde?» A mulher disse:«Sahe pelas plantas dospés.» O peixe lhe respondeu:«Pelos pés teus, com que costu-mas pizar as porcarias, por ahihei-de sahir!» — A mulherdisse: Sahe pela bocca.» —«Pela bocca, em que tu meenguliste, por ahi hei-de sahir?»A mulher disse: «Procura ondequer que desejes.» O peixe disse:«Eu pois saio lá!» e amulher rebentou no meio.O peixe porém foi-se embora.
(Chatelain, 1889: 147-149)
86
II
Encontrámos formigas no caminho;o senhor veado as apanhou e aspôz na algibeira. Postas na algibeiraellas o mordem. O sr. leopardodisse: és sandeu.
Tuansange jinzeu mu njila;na ngulungu ua ji voto ió uaji te njibela. Uate mu njibela,ja mu numata. Ngama ’ngouambe: u kiouna.
(Chatelain, 1889: 149)
87
1. Sasa o ingo, i ku tolole o xinguCria a onça, (que) ella te parta o pescoço
2. Xixikinia uatumine nzambaA formiga (já) mandou (ao) elephante
3. Muzueri uonene kalungêO fallador grande não tem razão
4. Tubia tua ri zemba ni fundangaO fogo odeia-se com a polvora (reciprocamente)
5. Ukembu ua petu, moxi isutaBelleza de almofada, dentro trapos
6. Hima katariê ku mukila uêO macaco não repara no rabo d’elle
7. Uene ou uenda ni muzumbu kajimbirilêQuem está ou anda com beiço não perde (o caminho)
8. Uabinga Nzambi, kasukê muximaQuem pede a Deus, não desespera
(Chatelain, 1889: 131-132)
JisabuProvérbios