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Livros, literatura & histria
PASSAGENS BRASIL - FRANA
SANDRA REIMO | MICHEL RIAUDEL organizadores
ESCRITRIO DO LIVRO
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Livros, literatura & histria
PASSAGENS BRASIL - FRANA
SANDRA REIMO | MICHEL RIAUDEL organizadores
ESCRITRIO DO LIVRO
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SandraReimo,MichelRiaudeleautores.
Preparao:
ThoBonin
Normatizaoereviso:
BiancaMelynaFilgueira
Projetogrficoeeditorao:
EscritriodoLivro
Imagemdecapa:
TorredeBabel,PieterBrueghel,c.1563(detalhe)
Vinhetas:
DetalhesdeesboosdeVanGoghparaBarquesdepcheauxSaintesMaries(1888).
DadosdaCatalogaoAnglo-AmericanCataloguingRulesaacr2
MarceloDiniz-Bibliotecrio-crb2/1533
L784
Livros,literaturaehistria:passagensBrasil-Frana./Organizadores,SandraReimoe
MichelRiaudel;Colaboradores,FelipeQuintino[etal].
Florianpolis:Escritrio
doLivro,2017.
230p.;il.
Coletneadeartigos
isbn-13:978-85-94157-00-3(livroeletrnico)
1.Literatura-BrasilFrana.2.Histria-CulturaBrasileFrana.3.Histriada
literatura francesa e brasileira - Cultura. 4. Estudos literrios comparados. i. Reimo,
Sandra.ii.Riaudel,Michel.iii.Quintino,Felipe.iv.PassagensBrasil-Frana
cdu82.091(81+44)
cdu B869
840.9
EscritriodoLivro
DorothedeBruchard,editora
www.escritoriodolivro.com.br
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Sumrio
Notaprvia 7
Teriahavidoumboomlatino-americano? 11
MichelRiaudel
ZuenirVentura,histriaeculturanaFrananadcada
49
de1960:jornalismo,relaesdeamizadeevivnciasna
CasadoBrasil
FelipeQuintino
ApublicaodeGuimaresRosanaFranadosanos1960 79
MrciaValriaM.deAguiar
DaTireusedecartesCartomancienne,obruxodoRio 103
retraduzidonaFrana
milieAudigier
Anlisedopapelehistriadolivronosculoxx: 115
consideraes apartirdocasodaEditoraBrasiliense
noBrasildofinaldaIIGuerraMundial
PauloTeixeiraIumatti
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Coetzee,leitordeBarthes
AdrianoSchwartz
151
Cndido,ouootimistamultimiditico:daliteratura
francesaaocinemaetelevisobrasileiros
163
MariaCristinaPalmaMungioli
DanielaJakubaszko
AndersonLopesdaSilva
Frana,1971;Brasil,2013:duasediesdolivro
Paudeararaeamemriadarepresso
SandraReimo
FlamarionMaus
JooEliasNery
195
Organizadores/Autores 228
-
Notaprvia
Aimprensanobrasilcomeoumuitotardiamente.At1808,no
Brasil,colniadePortugal,eramproibidaspelametrpoleaexis
tncia de oficinas tipogrficas e a produo de qualquer tipo de
impresso.Em1808,atransfernciadaFamliaRealPortuguesade
Lisboa para o Rio de Janeiro propiciou a instalao da Impressa
Rgia,e,comela,houveoinciodaproduodelivrosnoBrasil.
AImprensaRgiadeteveomonopliododireitoimpressono
pasat1821.
Apartirde1821,comofimdomonopliorealparaimpres
soeumanovalegislaoabolindoacensuraprvia,comeama
chegaraoBrasilestrangeirosqueiniciamaindstriaeditorialno
pas. Entre os franceses, destaquemos Pierre Franois Plancher,
quechegouem1922eeditoualgunsperidicos,pequenasnovelas
e o Almanach Plancher; Eduardo Laemmert, que veio, em 1827,
paradirigirafilialbrasileiradaeditorafrancesaBoussageeAillau
ne,edepoisfundouaLivrariaUniversaleaLaemmerteditora;e
BaptisteLouisGarnier,quechegounoRiodeJaneiroem1944para
abrirumafilialdaLivrariaGarniereacabouexpandindoseusne
gcios, atuando tambm em edio. Por esses exemplos, v-se
como os editores franceses estiveram presentes na vida editorial
brasileiradesdeseusprimrdios.
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8
Osestudosreunidosnestelivroenfocaminter-relaescultu
rais entre Brasil e Frana no mbito da edio e da cultura im
pressaduranteosculoxx.
AbordandoatraduodaliteraturabrasileiranaFrana,Mi
chelRiaudelanalisacomonasdcadasde1950a1970houveuma
explosoeditorialemtornodaliteraturalatino-americana,desta
cadamente aquela vinculada ao realismo fantstico, e como esse
boomdeixoude ladoa literaturabrasileiranaquelemomento.O
instigante ttulo do artigo : Teria havido um boom latino-
americano?
Foi na Frana que Zuenir Ventura buscou formar-se como
jornalista.OartigodeFelipeQuintino,ZuenirVentura,histria
e cultura na Frana na dcada de 1960: jornalismo, relaes de
amizadeevivnciasnaCasadoBrasilreconstituiopercursode
Zuenir Ventura na dcada de 1960, momento em que a Frana
passaporprofundastransformaes.Ganhadordeumabolsado
governo francs, o jornalista estudou por um ano no Centre de
formationdesjournalistes,emParis.
Os artigos Da Tireuse de cartes Cartomancienne, o
bruxodoRioretraduzidonaFranaeApublicaodeGuima
res Rosa na Frana dos anos 1960, respectivamente de milie
AudigiereMrciaValriaM.deAguiar,debruam-sesobreques
tesrelacionadasatradueseediesfrancesasdeobrasdedois
autoresclssicosdaliteraturabrasileira,MachadodeAssiseGui
mares Rosa, e vinculam essas questes com os diferentes mo
mentos histricos das publicaes: incio da I Guerra Mundial
(1914),IIGuerraMundial(1939-1945)einciodosanos1960.
Paulo Teixeira Iumatti, em Anlise do papel e histria do
livronosculoxx:consideraesapartirdocasodaEditoraBra
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9
siliense no Brasil do final da II Guerra Mundial, observa como
informaes laboratoriais das propriedades do papel podem ser
utilizadasporhistoriadoresdo livrocontemporneodequalquer
continentecomodadoscomplementaressobservaessociocul
turaiseeconmicas.
NoartigoCoetzee,leitordeBarthes,opesquisadorAdriano
Schwartz aborda o escritor sul-africano J. M. Coetzee, vencedor
doPrmioNobeldeLiteraturaem2003,cujaobratraduzidano
Brasilhmuitosanos,tendosido,inclusive,comorarocomau
toresestrangeirosentrens,objetodeumvolumedeensaiosde
dicadosaele,comtextosdevriospesquisadoreslocais.Adria
noSchwartzabordaespecificamenteumromancedoautor,Di
riodeumanoruim,edemonstracomoessetextopossuiuminespe
radovnculocomaobradopensadorRolandBarthes.
Duasreleiturasbrasileirasparaocinemaeatelevisodaobra
Cndido,ouoOtimismo,dofilsofoeescritorfrancsVoltaire,so
enfocadas no artigo: Cndido, ou o otimista multimiditico: da
literaturafrancesaaocinemaetelevisobrasileiros,deautoria
deMariaCristinaPalmaMungiolieequipe.Asreleiturasanalisa
das so o filme Candinho (VeraCruz,1954), do diretor, produtor e
ator Amcio Mazzaropi (1912-1981), e a telenovela ta mundo
bom! (Globo,2016).
Oltimoartigodacoletnea,Frana,1971;Brasil,2013:duas
ediesdo livroPaudearara e amemriada represso, foi es
crito a seis mos por Sandra Reimo, Flamarion Maus e Joo
EliasNery.OestudoenfocaolivroPaudearara:laviolencemili
taireauBrsil,publicadoemfrancspelaeditoraFranoisMaspero
em1971,equesveioaserlanadonoBrasil,emportugus,em
2013, mais de quarenta anos depois da edio francesa. O artigo
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abordaatrajetriadosautoreseaorigemdomaterialpublicado,
inserindo esta obra no conjunto das denncias contra a tortura
executadaporagentesdoregimeditatorialbrasileiro.
Osestudosaquireunidosanalisam,pordiferentesperspecti
vas,casosdecorrelaesdeculturaimpressaentreBrasileFrana
nosculoxxcorrelaesestasqueseinserememumalongeva
histriadepermutasepassagens,naqualhmuitoscaptulosain
daaseremescritos.
Osorganizadores
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Teriahavidoumboomlatino-americano?
MichelRiaudel
A expresso boom latino-americano esconde o desnvel
considervel existente entre a recepo, na Frana, de uma nova
geraodeescritoreshispano-americanosnosanos60,eoconco
mitante refluxo da literatura brasileira. Por razes conjunturais e
estruturais,aediofrancesaeraentomaisvoltadaparaquestes
sociaisepolticas.Anica revelaodoperodo, JooGuimares
Rosa, do qual foram publicados quatro ttulos naquela dcada,
tambmahistriadeumdesencontro,precipitadopelamortedo
autorem1967.Serianecessrio,defato,esperarosanos80paraum
realreconhecimentodocampoliterrio,que,aindahoje,frgil.
Digamosdesdejoquantoabusivaeenganosaaexpresso
boomlatino-americano,anoserquenoseconsidereoBrasil
como um componente da Amrica Latina. O exame do fluxo de
tradues revela, com efeito, fortes disparidades entre um pas e
outro do subcontinente e, sobretudo, um ntido descompasso de
recepoentreomundoherdadodadominaohispnicaeaquele
originadodacolonizaoportuguesa.Severdadequealiteratura
brasileirasebeneficioudaprimeiraondalatino-americanadops
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guerra,elapermaneceualijada,noentanto,dagrandeviradarepre
sentadapeloboomdosanos601.
Aexpressoboomlatino-americano,noqueabsolutizauma
unidadegeoliterriabastanterelativa,perpetuaumailusocredita
da notadamente pela trajetria francesa da inveno da Amrica
latina, construo que se viu reinvestida no ps-guerra, em um
momentoemquearegioocupavaumlugarprivilegiadonocru
zamentodaspolaridadesLeste-OesteeNorte-Sul.Sobreelarepou
savam ento parte das esperanas revolucionrias dos socialistas
maisoumenosortodoxoseumaalternativahegemoniaestaduni
densenoOcidente.Espaodeumadescolonizaopercebidacomo
inacabada,cadanarbitadadoutrinaMonroeapster-seemanci
pado das tutelas europeias, mas tambm terra herdeira de uma
longahistriadeutopias,aregioinspiravaaosintelectuais,majo
ritariamenteprogressistas,sonhosdeumdesenvolvimentosoci
almenteequilibrado,menospredatrio dohumano queasprece
dentesrevoluesindustriais,eumapossvelreconciliaoentreas
tradies,oprimitivoeamodernidade;aparecia,almdisso,como
suscetveldereforara ligadosnoalinhados,emumtempoem
que o modelo sovitico j havia, para muitos, mostrado os seus
limites.
UmolharmacroscpicosobreaspublicaesvindasdoBrasil
aolongodessasdcadaspermiteconfirmaresseinteresseregional
provisoriamente homogneo por parte dos franceses, logo altera
do,porm,porumdiferencialconsidervelentreosautoresbrasi
leiros e seus vizinhos. Rigorosamente, deveramos ento falar de
boom hispano-americano. Contudo, mais do que tentar corrigir
umaverdadeapressadamenteformulada(queaindatem,decer
to, muito tempo pela frente e saber sobreviver aos fatos, menos
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13
teimosos que as ideias feitas), parece-nos til transformar esse
equvoco em uma alavanca para a compreenso dos respectivos
mecanismos derecepooperantes,retraandoachegadadalitera
turabrasileiranaFrananoperodoquevaidosanos40aos802.
Seaproduodoperodo1940-1945evidentementemuito
fraca(seisobrasdeautoresbrasileiroslanadasemfrancsemseis
anos), os anos 1946-1960 veem decolar as publicaes: perto de
quatrotraduesporano3,sendomaisdedoisterosassociados
literatura. A mar continuaria subindo nas dcadas seguintes:
maisdecincottulosanuaisnosanos60,pertodedozenopero
do 1971-1980, quase vinte entre 1981 e 1990. Mas essa expanso
nocontemplaaproduoliterria,quepassaaosegundoplano:
jno representariamaisqueum terodos livrospublicadosna
Frananosanos1961-1970enoaumentariasubstancialmentena
dcadaseguinte.Seriaprecisoesperarosanos80paraquealitera
turabrasileiravoltasseaocuparafrentedacena,comquasedois
terosdoslanamentos,comonops-guerra.Emoutraspalavras,
assistimosconcomitantemente,nosanos60,aoapogeudoboom
hispano-americanoeaorefluxorelativodaliteraturabrasileirano
mercado francs.Uma evoluo em sentidos contrrios que uma
anlisedetalhadavaipermitirafinaretentarcompreender.
Em perodo de guerra, as condies editoriais e das circulaes
literriassofatalmentemuitoatpicas.Entre1940e1945,contam-
seseisttulostraduzidosdoportugusdoBrasiltrsdosquais,
de maneira pouco surpreendente, envolvem discusses geoestra
tgicas ou de direito internacional. Graa Aranha, introduzido
nos meios diplomticos franceses no incio do sculo, prefacia
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14
umacoletneade textosdopensadore estadista JoaquimNabu
co4.PublicadapeloInstitutoInternacionaldeCooperaoIntelec
tual,antecessordaUnescosediadoemParis,essaantologia, sem
correspondentenoBrasil5,resultamanifestamentedeumavonta
de poltica, transmitindo um sinal pr-aliados em um momento
emqueoEstadoNovodeGetlioVargasaindanoescolheraofi
cialmente o seu lado. O Trait de droit international public de
Hildebrando Acioli transcreve trs volumes publicados poucos
anosantespelaoficialssimaImprensaNacional6.Em1943,lan
adoquasesimultaneamenteemportuguseemfrancsoTrait
de dlimitation de la frontire Nord du Brsil, de Brs Dias de
Aguiar7.Essabrochuradecercadesessentapginastalvezvisasse
asnegociaesdops-guerrasobreanovarepartiodomundo,
mas no aborda a fronteira franco-brasileira, cujo traado fora
decididoem1900,apsaarbitragemsuaencerrarumsculode
litgios. Em 1943-1944, algumas iniciativas atestam um esforo
recprocodeestreitaroslaosculturaisentrefrancesesebrasilei
ros:deumlado,oopsculodeCludiodeSousasobreumdrama
turgo emblemtico do esprito de independncia francs, Beau
marchais8. De outro, Charles Ofaire, um francs prximo dos
meiosdaresistnciagaullista,fundanoRiodeJaneiroumaedito
ra,aAtlntica,queeditaGeorgesBernanosepublicadoisclssi
cosdoromancebrasileirodosculoxix:Mmoiresdunsergentde
la milice9, traduzido pelo erudito hngaro refugiado no Brasil,
PauloRnai;eMmoiresdoutretombedeBrsCubas,docanni
coMachadodeAssis,emumaretraduodogeneralChadebecde
Lavalade10.Semsurpresas,atrocasedentoprincipalmenteem
sentidonico,doBrasilparaaFrana,efortementecondiciona
dapelopanodefundogeopoltico.
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15
Esse quadro vai mudar completamente no perodo 1946
1960.Emumlapsodetempodecertotrsvezesmaior,ovolume
decirculaesBrasil-Frana irdecuplicar,comcinquentaesete
ttulosemvezdosseisdafaseprecedente.Ouseja,umatriplica
o do ritmo anual das tradues. Mas vai sobretudo se tornar
muitomaissignificativodointeressefrancs.
Como vimos, dois teros das obras pertencem literatura.
Nove so coletneas de poemas. Apesar do que escreveu Benja
minPret11contraoengajamentodeseusparesjuntoresistn
cia francesa, a poesia, instrumento pico-lrico de mobilizao e
consolo,eraentoumgneroparaograndepblico.Otrabalho
editorial de Pierre Seghers, ele prprio antigo resistente, mostra
isso,mesmoporquesuacoleoAutourdumondeconvergecom
apreocupaodoMinistriodasRelaesExterioresemtrabalhar
peladifusodaculturafrancesa,oquepressupe,apartirdeen
to,tantotraduzirquantosertraduzido.
Seghersabreo leitor francsparaumgrandenomedomo
dernismobrasileiro,ManuelBandeira12.PublicaMuriloMendes13.
CasadocomMariadaSaudadeCorteso,filhadograndeintelec
tual e historiador portugus Jaime Corteso, Murilo Mendes se
estabelecenaItliaapartirde1957,depoisdeterpercorridoaEu
ropa de 1953 a 1955. De seus contatos decorrem alguns retratos-
relmpagodepoetasfrancesese,semdvida,atraduode1956.
Trs anos antes, Seghers conhecera Vincius de Morais, recente
mente nomeado segundo secretrio da embaixada em Paris, no
anodapublicaodesuasCinqlgies14.Outracoletneadeseus
poemasserialanadaem1960,novamentepelaSeghers15.
Modernistadesegunda linha,RibeiroCoutotambmmere
ceu, por duas vezes, a ateno dessa casa editora16. Ele j havia
-
16
publicado Rive trangre em 1951, na Presses du Livre franais,
ilustradomoporelemesmo.RivetrangreeJeuxdelapprenti
animaliernopossuemaparentementecorrespondentebrasileiro,o
quepodeserexplicadopelaresidnciafrancesadessepoetadiplo
mata.Almdisso,umapequenabrochuradeAdalgisaNeri,Au
del de toi, j havia sidoadaptada pelo poeta editor a partir de
uma traduo de Francette Rio Branco (Seghers, 1952). Paralela
mente,AntonioDiasTavaresBastosselecionava,prefaciavaetra
duziauma Anthologie de la posie brsilienne contemporaine17.
Emmeioaesse fervilhar,duaspeasde teatromenores tambm
conseguemseuespao18.
Masessaexpanso,evidentemente,beneficiaemprimeirolu
garoromance,umsetorqueparecedependermenosdecontatos
eafinidadespessoaisdoqueapoesia.Contam-sealgunsclssicos
patrimoniais: Jos de Alencar19, Alusio Azevedo20, Machado de
Assis21, Euclides da Cunha22; e tambm vrios contemporneos.
Osromancistasregionalistassurgidosnosanos30,sejamelesdo
Sul, como rico Verissimo23 ou, mais ainda, do Nordeste, como
JosLinsdoRego24eGracilianoRamos,25sobemrepresentados,
sinaldequeprevaleceumgostopeloestranhamentotropical,uma
buscadopitoresco.Oseditorestambmapostamnoromanceso
cial,mesmoquedequalidademedocre26.Eaediofrancesaper
maneceatentaprosamaisjovem,emparticularcomodiriode
Helena Morley27 e Prs du cur sauvage, de Clarice Lispector28.
Osdoisfenmenosmarcantesdoperodoso,contudo,acriao
deLaCroixduSudeosucessoconsiderveldeJorgeAmado.
Acoleo,planejadapelaGallimard29desde1945einaugura
da em 1952, confirma algumas constataes enunciadas acima.
Estamos ainda em um quadro de recepo latino-americana em
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17
que o Brasil tratado paritariamente com o conjunto hispano
americano30.A iniquidadedasrepresentaesnacionais,svezes
criticadaemseudiretor,RogerCaillois,cujoenraizamentoargen
tino conhecido,visade fatooutras reas: aAmricaCentral, a
Colmbia,aBolvia...Soapreciadosos textosque fazemdesco
brir sociedades distantes e, como escreve Roger Bastide, trazem
materiaisqueseroretomadospelosocilogoaomesmotempo
em que nos levam da floresta tropical at os pampas varridos
peloventodaAntrtica31.Convivem,nacoleo,literaturaecin
cias sociais. At 1970, quando se encerra sua primeira fase, so
publicadas cerca de cinquenta obras, sendo sete brasileiras: dois
ensaiosdeGilbertoFreyre32eumdeViannaMoog33,assimcomo
quatro romances, dois de Graciliano Ramos34, um de Gerardo
Mello Mouro35 e outro de Jorge Amado36. Trs escritores que
tmemcomumaorigemnordestina,ecujoengajamentopoltico
deumargematratamentosarbitrrioseperseguies.
Traduzidaem193837,aobradoescritorbaianoerapublicada
naFrana,apsaguerraeat1960,aoritmodecercadedoisli
vrosacadatrsanos38.DemaneiraquesuapresenaemLaCroix
duSud,toprezadaporoutrosescritores,apenasumaetapade
suacarreira,peripciaqueeleprprionoquisprolongar.Escri
tor popular, seno populista, temia ver-se enclausurado em um
circuitodemasiadolocaleelitista,preferindofalarhumanidade
atravsdoscanaisquecorrespondiamaseumilitantismodomo
mento: Les diteurs franais runis, da galxia comunista, Les
Tempsmodernes,Nagel...Eleitodeputadopelopcbem1945,exi
lou-senaEuropanoinciode1948,apsainterdiodeseuparti
doeacassaodosdeputadoscomunistas.Seuativismocolocou-
onocentrodosmeiosintelectuaisparisienses:
-
18
ConvivitambmcomLouisAragon,trabalheicomele
emtarefaspartidrias,Aragonfeztraduzirepublicar
doislivrosmeus.SearaVermelha,antesdaedioem
livro saiu em Lettres Franaises com xilogravuras de
Scliar;paraodesconhecidoescritorbrasileiro,queeu
era,umaglria.ComAragonnofuialmdaestima
literriaedaconvivnciapartidria,pormaisdeuma
vezesbarramosumnooutro:Aragonesuacorte,no
nascicorteso,nasciamigo.39
Em1949,seunovocargodesecretriodoPrmioMundialda
Paz,financiadopelaurss,nomenosestratgico.Oescritornos
contatambmque,em1950,Jean-PaulSartrepublicaCacaoem
Les Temps modernes, em 1961 foi avezde Quinquin la Flotte40.
Percebe-seoefeitomultiplicadordessasredesparaasuadifuso.
Massucessonoreconhecimento,eaaopolticatambmter
o seu preo: em 1950, ele expulso e permanecer proibido de
entrarnoterritriofrancspordezesseisanos41.Amadoencontra
refgionospasesdoLeste,particularmentenaTchecoslovquia,
onderecebeoprmioStlinem1952,antesderompercomoseu
engajamentopolticoemmeadosdosanos50evoltaraoBrasil.
SeimportanteobservardepertoarecepodeJorgeAma
do,porqueelaexemplareedificanteamaisdeumttulo.Sua
obranoentrounaFranapeloscanaislatino-americanos,ape
sardeeleosterfrequentado,naturalmenteequasepelaforadas
coisas.Aeficciadasafinidadespolticasdequeelesebeneficiou
s encontrava ento equivalente nos meios cristos. Contudo,
contrariamenteimpressoquesepossaterdeumreinadoabso
lutodoescritorbaianoentreos franceses,nessasegundametade
dosculoxx,astraduesdeJorgeAmadosofreriamumainter
rupodeumadcada,sendoretomadasapenasem1970comLes
-
19
Ptres de la nuit, dessa vez pela Stock42. Em outras palavras, os
anos 60, precisamente os do boom, passam paradoxalmente em
branco para o mais conhecido dos escritores brasileiros. A obra
disponvel de Jorge Amado continua evidentemente a circular,
mas ele no est mais l para promov-la. Pode-se explicar esse
refluxomomentneoporseudesengajamentocomocomunismo,
oupelainflexoemsuacriao,menospanfletriaemaispitores
caapartirdeGabriela,cravoecanela.Oupode-seobservarqueo
boomdizrespeitoaumanovageraodeescritoresenoaosno
mesjreconhecidos.
No tocante s letras brasileiras, para alm do caso Jorge
Amado,adcadamarcaainversodoscentrosdeinteresse:avi
trineliterriadops-guerracedelugaraodocumento.Aquiloque
estavaantes emsegundoplanonaproduo,embora jbastante
presentecomosclssicosdeGilbertoFreyre,mastambmcomos
dogegrafoJosudeCastro43,livrossobreaquestotnicaemi
gratria44, a f nas comunidades camponesas45, as relaes inter
nacionais46ouosdebatespolticos47,passamaocuparafrenteda
cena editorial francesa nos anos 60. Ao lado de curiosidades48,
algumasdecarterinstitucional49,esseslivrosindicavamostemas
que iriam crescer em importncia na dcada seguinte, que seria
tantomaispolticapelofatodehavernaFranaumamobiliza
o contra o Golpe de Estado de 1964 e a subsequente ditadura
militar.
No que os anos 60 tenham virado as costas aos assuntos
brasileiros:contam-secercadequarentatradues,dasquaisape
nasumquarto,porm,envolvealiteratura strictosensu.Seghers
reduzoritmodeseutrabalhodesbravadorcomumanovacolet
nea consagrada a Manuel Bandeira50 e uma antologia de Ceclia
-
20
Meireles51.AFranapermanecehermticasaudciasdomoder
nismo, Mrio de Andrade, Oswald de Andrade, Drummond...,
preferindo o lirismo, de qualidade, porm mais convencional.
EntreBandeiraeCecliaMeirelesvemesgueirar-seumareedio
panormica de La Posie brsilienne contemporaine 52. O editor
abre-secrnicasutildeRubemBraga53,masignoraadensidade
construtivistade seuamigo Joo CabraldeMeloNeto,dequem
aindahojeesperamosumacoletneaindividual.Epublicaomusi
clogoVascoMariz,especialistaemVilla-Lobos54.
A Michel Simon, tradutor habitual de Seghers, que deve
mosapublicaodoromancenaturalistadeAlusioAzevedo,Le
Multre,traduzidoporPierre-ManoelGahisto55.Acrescentemosa
esse clssico j antigo uma novidade romanesca, La Barque des
hommes, do romancista mineiro Autran Dourado56. Tradicional
mente voltada para a literatura estrangeira, a Stock publica seu
primeiro ttulobrasileiroem1962,oqual, sintomaticamente,o
comoventedepoimentodeumamoradoradefavela,CarolinaMa
riade Jesus57.Diriodeumamulherquevivedacatado lixona
periferia norte de So Paulo, o livro tornou-se emblemtico da
literatura dos excludos. O editor reincide dois anos mais tarde
com Ma vraie maison58. Mesma autora, mesma tradutora59, a
quem j devamos a verso francesa de trs romances de Jorge
Amadonosanos1950,edoisttulosdaCroixduSud.Gallimarda
incumbiriadosegundoromancedeClariceLispectoraserpubli
cadonaFrana,LeBtisseurderuines 60.
A grande aposta editorial da dcada ainda , contudo, Joo
Guimares Rosa, que tem quatro livros publicados. Seu conto
LheureetlachancedAugustoMatragahaviafigurado,em1958,
emumaantologia latino-americana61.Seu tradutor,omesmodo
-
21
ContinentdeVerissimoedoprimeiroromancedeAutranDourado
a cruzar o Atlntico, assina as trs coletneas de contos da di
tions du Seuil62, e o romance, cujos direitos haviam sido previa
menteadquiridospelaAlbinMichel63.Provadequeosprofissio
naisexperientesestoespreita.Emjaneirode1965,ocrticoAn
tonio Candido escreve um bilhete ao romancista, quando se en
contramambosemGnovaparaocongressoTerceiromundoe
comunidademundial,promovidopeloColumbianum:
MeucaroEmbaixador,
OntemconversandocomocrticouruguaioMonegal,
ouvidelequeconsideravocomaiorescritorempro
sadaAmricaLatina.Acheipouco.Mais tarde,con
versandocomoUngaretti,disse-meelequeoCaillois
consideravocomaiorescritoremprosadomundo,
nestemomento.Comov,averdadeprogride.Maseu
lhepeolembrarqueoprimeiroadiz-lofoiesteseu
criado64
Comoexplicarqueessaspublicaesnosetenhamconver
tido em um reconhecimento pblico e durvel? De fato, temos
queadmitirqueCortzar,VargasLlosa,Fuentes,Onetti,Sbato,
Garca Marquez, citados assim ao acaso, so, em graus diversos,
nomesbemmaisevocadoresparaoleitorfrancs.Asexplicaes
nopodemsersimplesnemunvocas.Oprimeirofeixedehipte
sesdiz respeitodiferena lingustica.Tantoemmatriade tra
dutores quanto de recursos universitrios, a comunidade hispa
nistaincomparavelmentemaisbemrepresentadanaFranaque
a dos lusitanistas65. O nvel de receptividade, de capacidade de
intervirnaimprensa,especializadaouno,aamplitudedobocaa
boca, a mutualizao dos meios (traduo, mediao...) entre as
-
22
diversas reas nacionais hispanfonas apresentam, comparativa
mente,umpotencialderessonnciasemequivalente.
Alnguatambmumafronteiraculturalquedefinefrater
nidades mais ou menos fortes. A latino-americanidade uma
conscincia sustentada por metanarrativas diferentemente parti
lhadas.Asolidariedadehispano-americanarepresentaumpaliati
voparaafragmentaodomundohispnicoemdiversasnaes,
enquanto podemos citar vrios exemplos de reaes centrpetas,
voltadasparaoseuprpriopas,porpartedeescritoresbrasilei
ros.AocontrriodeviageiroscomoOswalddeAndradeouMuri
lo Mendes, ou de diplomatas como Vincius de Morais ou Joo
Cabral, o turista aprendiz Mrio de Andrade no foi alm de
Iquitos e da fronteira amaznica Brasil-Bolvia. Carlos Drum
mond s viajou at a Argentina para ver sua filha, que ali fixara
residncia. Clarice Lispector desinteressou-se da traduo de
195466. No se trata de uma verdade geral: Guimares Rosa era
extremamenteatentocirculaodesuaobranoexterior,como
mostraavolumosacorrespondnciaquemantevecomseustradu
tores alemo, italiano, francs, estadunidense... Poliglota, ele po
dia, alm disso, apreciar as verses que lhe eram apresentadas.
Mas essas trocas, espontneas, no pressupem a insero em
umacoalizoregionaldeescritores.Oboomhispano-americano
repousou tambm sobre o efeito coletivo, que pressupunha uma
massa crtica suficiente para dar a impresso de um movimento
geracional. Uma andorinha, mesmo chamada Guimares Rosa,
nobastaparafazervero.
No cu literrio dos anos 60, Guimares Rosa poderia ter
sido a estrela brasileira da constelao latino-americana. Mas,
almdosobstculosanteriormentecitados,odispositivodoboom
-
23
passou por Barcelona, onde Carmen Barcells e Carlos Barral fo
ram, para muitos, a porta de entrada na Europa. O elo francs,
que ainda gozava de algum prestgio na repblica mundial das
letras, veio dar repercusso a esses recm-chegados. Lisboa no
podiaservirdetrampolimaosescritoresbrasileiros,quandomais
no fosse pelas distncias de todo tipo estabelecidas, de parte e
outra,entreaantigametrpoleeaantigacolniaoudareserva
demercadoquenopermitiaacirculaodoslivrosentreelas.A
situao poltica de Portugal, uma ditadura mais antiga e mais
estritaqueadeFranco,afundadaemumaguerrasujaparadefen
deroque lherestavade imprio,semCatalunhaparadeixaren
trarumarmais fresco,spodiaseduzir intelectuaisconservado
res,comoiriasetornar,demodocadavezmaismarcado,Gilberto
Freyre67.
Quem poderia ter encarnado a cor brasileira de um boom
verdadeiramentelatino-americano?Aalmadomodernismo,M
rio de Andrade, partira em 1945, aos 52 anos. Graciliano Ramos
estavamortohaviaonzeanosquando,em1964,saiusuasegunda
traduonaCroixduSud.Apsum inciopromissor,aobrade
ClariceLispector,demasiadoalheiaaoslugares-comunsdalitera
tura nacional, penava para ser editada e s comeou a ser reco
nhecidanoBrasilnasegundametadedosanos60.JorgeAmado,
comovimos,erapersonanongratanaFranaat1966.Ofrmito
GuimaresRosafoimitigadopeladificuldadedaobra,queexigia
muitodotradutoredosleitores.Omonumentoqueera,jemseu
ttulo,Grandeserto:veredas,comasuaredundnciaaumentati
vadesuperfcie(grande+sufixo-o),suaanttese(vastosespaos
semidesrticosvsosis68)seviupopularizadonaFranasobaim
provvel reduodeDiadorim.Oqueduma ideiadosdesafios
-
24
comosquaissedeparavaotrabalhodetransferncia,emumcon
textoderecursosemediaeseruditasbastantelimitados.Houve,
almdisso,entreosfatoresincidentais,ofalecimentoprecocedo
escritorem196769.Emummundoliterrioemquecresciaopapel
damdia,dasentrevistas,doseventos,emqueescrevercomeava
anobastar,emqueerabomassumirpessoalmenteadivulgao
dosprprioslivrosesteoutrotraodoboom,facilitadopela
presenaemParisdevriosde seusautores,GuimaresRosa
logonoestavamaislparasustentarsuaprosa,quepermaneceu
nolimbo,porassimdizer,atosanos9070.
Alm disso, nesses tempos, a cabea do pblico era, no to
canteaoBrasil,maispolticadoqueliterria;dacertascrticasa
esseuniversosvezesjulgadodemasiadoetreo71.Apsarevolu
ocubana,astensesrecrudescerameosEstadosUnidoscuida
vamdenodeixarumapeamestradesuaboavizinhanapas
sarparaoladosocialista.Jem1959,FidelCastrohaviasidorece
bidopelopresidente JuscelinoKubitschekepelodeputado Jnio
Quadros, destinado a suced-lo no comando da nao. Sinal de
forte instabilidade, este ltimo renunciou j em 1961, oito meses
depoisdetomarposse,deixandoasrdeasdopoderaopopulista
Joo Goulart. Enquanto se discutia a nacionalizao dos setores
estratgicos, enquanto os movimentos sociais agitavam o pas,
enquantoasligascamponesaspressionavamogovernoaproceder
aumareformaagrria,osmilitareseaalaconservadoraprepara
vamumGolpedeEstado,entrandoemaoem31demarode
1964.Aalaprogressista,hegemnicaentreosintelectuaiseosar
tistas,semobilizou,algunssendoforadosaoexlioeescolhendo
omaisdasvezesPariscomoresidncia,eaatenofrancesator
nou-secadavezmaissensvelsuacausa.
-
25
AosquatronovosttulosdeJosudeCastro72,vieramseso
mar,nessadcada,duastraduesdeFranciscoJulio73,lderdas
Ligascamponesas,duasdoarquitetocomunistaOscarNiemeyer74,
duasdoeconomistasocialistaCelsoFurtado75,umlivrodeMiguel
Arraes76eoutrodosocilogodadependncia,FernandoHenrique
Cardoso77.Emplenaefervescnciaps-68,eemummomentoem
quearesistnciabrasileiraseradicalizavana lutaarmada,oma
nual de guerrilha urbana de Carlos Marighella foi apadrinhado
por um coletivo de vinte e trs editores, em resposta censura
gaullista78.
Tambm encontraram espao os ensaios de cristos huma
nistas que antecedem o sucesso do popularssimo dom Helder
Cmara79.Oespectroamplo, indodeAlceuAmorosoLima80
Igrejadosoprimidos81.OdominicanoFreiBetto82eofranciscano
LeonardoBoff83logoretomariamessabandeira.Pode-severnisso
umdosefeitosdoVaticanoII,nessaqueseguesendoumaterrade
misso. Certos ttulos desse universo, como os de Pierre Weil84,
situam-sena fronteiradascinciassociais.Na insistnciados te
masetnogrficos,namarcaafricana85ounoprocessodeurbaniza
osedelineiaumreconhecimentodosmeiosintelectuais,certos
nomesassinalandoumrelativoenriquecimentodastrocasuniver
sitrias86.
Se os anos 60 constituram um perodo de declnio para a
literatura brasileira, as curvas iriam muito progressivamente se
reequilibrarao longodadcadaseguinte.Emproporo,aparte
literria(strictosensu)permanecesensivelmenteamesma,pouco
maisdeumquarto,masaduplicaodovolumedettulosassocia
dos ao Brasil faz com que aumente em nmeros absolutos87. A
uma maior diversificao dos escritores corresponde um melhor
-
26
acompanhamentoporpartedaediofrancesa,maissintonizada
comaatualidadebrasileira.Ofatomarcanteoforteretornode
JorgeAmado.Tendo-setornadoaexclusividadedomomentoda
Stock, esta recupera o tempo perdido com seis inditos88, uma
reedio89 e uma retraduo90. O percurso de Clarice Lispector
continua um pouco catico: a Gallimard assume um romance
difcil91,prevumacontinuaocomomagistralPassionselonG.
H., paga uma traduo que desistir de publicar, escaldada por
umarecepotmidaepela incertezaeconmicaconsecutivaaos
doischoquespetrolferosde1973ede1974.Olivropassarparaa
ditions des Femmes92, incio de uma longa aventura. Dois ro
mancesdeOsmanLins,obraexigente,soeditadosporDenol93,
aoscuidadosdamesmatradutoracujonomeiriacontarnasdca
das seguintes, associado ao de Cllia Pisa (que atua como uma
espciedeagente)eaodeAliceRaillard,prximadeAmadoeque
contaagoracomaconfianadeGallimard.elaqueintroduzAn
tnioOlintonaStock94,CamposdeCarvalhonaAlbinMichel95e
Joo Ubaldo Ribeiro na rua Sbastien Bottin96*. Michel Simon-
Brsilqueimaseusltimoscartuchosdepassadorcomumensaio,
para a Seghers, do prolfico romancista maranhense Josu Mon
tello97e,paraaGallimard,comaclebrepeadeArianoSuassu
na98,queentrariaemcartaznoThtredelOdonem1971,antes
de ser retomada no Festival de Avignon no ano seguinte. O ro
mancecentraldeAntonioCalladoseriaaterceiraeltimatradu
odeConradDetrez99,umlivroqueseassemelhasrupturase
descobertasdesseantigoseminaristabelganocontatocomoBra
sil dos anos 1960. Paralelamente Stock100 e Gallimard101, a
Flammarion investeporsuaveznas letrasbrasileiras,particular
mentecomumautorderomancenoirdestinadoafazersucesso,
-
27
Rubem Fonseca102 e, sobretudo, com o esforo pioneiro de Jac
ques Thiriot em dar a descobrir aos franceses alguns expoentes
domodernismo103.
Apoesiaempartetributriadeumalricadevotaeenga
jada104,aopassoqueMasperopublicaumacuriosidadedeumm
dicoleitordeBaudelaireedasMileumanoites,proibidanoBra
sil105. Toma-se a liberdade de adaptar mais do que traduzir, de
comporantologias106.nicaverdadeiraexceoaessalista,acole
tnea preparada por Jean-Michel Massa107, que anuncia a tardia
atualizaofrancesa,logoprolongadapelastraduesdeMriode
AndradeeOswalddeAndradenaFlammarion.
O exlio do dramaturgo Augusto Boal, criador do teatro do
oprimido, e sua particular colaborao com a cfdt [Confdra
tionfranaisedmocratiquedutravail],sindicatoquedefendiana
pocaumalinhaautogestionria,nosvaleramduasobrassituadas
nafronteiraentreacriaoeaintervenopoltica108.Aomesmo
tempo,emergeumimaginriobrasileirosuscitadopela literatura
infantojuvenil,tendofrenteoimensosucessodeJosMaurode
Vasconcelos,queincentivaStockaperseverar109.Nadamenosque
dezesseisttulosrecenseados110,oquefazlembrarqueastemticas
brasileirasnoestiveramausentesdaliteraturajuvenilfrancesano
sculoxix111.EssavogabeneficiaalgunsnomescannicosnoBra
sil,comoMonteiroLobato112,autorparaadultosquetambmem
balougeraesinteirascomseuStiodoPicapauamareloesuas
adaptaes de lendas do mundo inteiro. Ou o grande folclorista
LusdaCmaraCascudo113.Certosautores,svezesestabelecidos
naFrana,setornariamfamiliaresentreascrianas114.
Mencionemosrapidamenteoscercadesessentadocumentos,
ensaioseobrasdecinciassociais,dequejcitamosalgunsttulos
-
28
emnota.Aveiacrist115continuaacruzaroscaminhosdaoposi
oao regimemilitar116, emum tempoemquea IgrejaCatlica
brasileira abriga inmeras expresses da resistncia ditadura.
Emergemnovasvozesqueiroconquistarrenomeinternacional:
otericodaeducaoPauloFreire117,oantroplogoDarcyRibei
ro, que alerta sobre a situao dos amerndios118. Nesse perodo,
muitosuniversitriosbrasileiros,exiladosouno,passamporPa
ris, onde realizam e publicam suas pesquisas, como Milton San
tos119, Luciano Martins120, Gerd Bornheim121ou Jos Guilherme
Merquior122. Ktia de Queirs Mattoso, que ocupar nos anos
1980-1990aprimeiracadeiradeHistriadoBrasildeParisiv,es
creveemfrancssuaprimeiraobradereferncia123.
1980foioanodaanistiapolticaemBraslia,edavoltadoslti
mosexilados.Osmilitarescontinuavamnopoder,mastratava-se
agoradeencontrarumcompromissoparaorestabelecimentode
umregimecivil,umatransioqueaindairiadurarcincoanos.A
presenaemParisdemuitosbrasileirosforasemdvidaumdos
fatores que favoreceram o reconhecimento da produo intelec
tuale literriadeseupas.Seosanosdoboomforamparaesses
escritores uma sucesso de desencontros, os anos 80 seriam, de
algum modo, o do boom luso-americano. A implantao do
ensino do portugus passara por uma expanso significativa nos
anos70,preparandoaestruturaodeumacadeiaeducativamais
consistente,dosegundograuaoensinosuperior.Em1984,teriam
lugar as Assises du portugais, trs dias intensos que mobiliza
ramemParis todosossetoresdeatividade:economia,educao,
cultura, diplomacia... As Assises prepararam os anos Frana
-
29
Brasil (1986-1988), ao longo dos quais os poderes pblicos e a
equipedirigidaporGuyMartinireestimularamastrocaseacoo
peraoemtodososnveis.PoriniciativadoministroJackLange
dogovernosocialistaocorreraaprimeiraediodoBellestran
gres*, em maro de 1987, paralelamente ao Salon du Livre de
Paris,homenageandoosescritoresbrasileiros,cercadetrintano
mestendosidoconvidadosparaaocasio.
Com a quase duplicao do ritmo anual de publicaes de
autores brasileiros entre os anos 70 e a dcada seguinte, a curva
ascendente se prolongaria at o final do sculo. Pouco a pouco,
recuaaprimaziasocialepoltica:doisterosdaspublicaescon
cernem,denovo,literatura.Anne-MarieMtailicria,comMa
rio Carelli, a primeira coleo de Littrature brsilienne, antes
do surgimento da ditions Chandeigne em 1992. As manifestas
lacunas so progressivamente preenchidas: Machado de Assis,
Lispector,novosautoresaparecem
Pormotivosdediplomaciacultural,oudevidoaumamudan
adeolhar,aFranadavaa impresso (provisria? ilusria?)de
ter superado os descompassos de estratgia, debate e interesse
entresuaproduoliterriaeadoBrasil.Talveztenhasidoneces
srio, neste sentido, que as letras brasileiras ganhassem autono
mia, tanto em relao ao conjunto lusfono quanto ao bloco da
Amricalatina.Ohiatodochamadoboomlatino-americanote
riaacasopreparadoascondiesdeumdivrcioqueseriamtam
bmasdesuaemancipao?Edefuturas,elivres,concubinagens?
Traduo
MrciaValriaMartinezdeAguiar
-
30
notas
1. Sem entrar nos debates historiogrficos sobre os limites cronolgicos do
boom, acompanhamos aqui Emir Rodrguez Monegal (El boom de la novela
latinoamericana.Ensayo.Caracas:TiempoNuevo, 1972),queidentificaaspubli
caes (1963) e as tradues francesas (1966) de Rayuelae de La ciudad y los
perroscomoummomentocentraledecisivodofenmeno.Assinalemosdesde j,
entreoutrostraosdessafase,ainflexoliterriadotratamentoedastemticas
romanescasintroduzidaporumanovageraodeautores,assimcomoareao
quaseimediatadarecepoeuropeia,particularmenteafrancesa.
2. Tomamos por base o levantamento estabelecido por Estela dos Santos
Abreu(OuvragesbrsilienstraduitsenFrance=Livrosbrasileirostraduzidosna
Frana. 5a ed. Rio de Janeiro: Edies Biblioteca Nacional, 2004,), e o que ns
mesmos realizamosparaoboletimmensal Infos Brsil apartirdemeadosdos
anos80.
3. O ritmo das publicaes francesas de obras de autores brasileiros no en
treguerraseradedois livrosa cada trsanos.Essesdados, evidentemente, tm
umvalorapenasrelativoedevemserrelacionadoscomocrescimentoconstante
da produo editorial. Permitem, contudo, avaliar uma tendncia. Para um
estudonolongoprazo,vernossoprefcioaocatlogobibliogrficoFranceBrsil
queorganizamos(adpf,2005,hojedistribudopelaDocumentationfranaise)e
nosso artigo Literatura brasileira na Frana: veredas (In: D.O. Leitura. So
Paulo,anoxviii,n10,out.2000,p.22-26,en11,nov.2000,p.27-30).
4. Nabuco, Joaquim. Pages choisies. Traduo Victor Orban; Mathilde Po
ms.Paris:Institutinternationaldecooprationintellectuelle,1940.
5. Teremos ocasio de citar, a partir do levantamento de Estela dos Santos
Abreu,algunsttulosque,apesardeteremsidoaparentementetraduzidos,noo
foramapartirdeumaediobrasileirapreexistente.Omaisdasvezes,contudo,
levamo-losemconta,pordiversosmotivos.Umdelesquesotestemunhode
umavontadeporpartedequemosproduz,ouatendemaumdesejodaquelesa
quem se dirigem. Em todos os casos, so sintomticos de um quadro de
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31
recepo. s vezes, so escritos por brasileiros que residem na Frana. Uma
edio brasileira pode t-los sucedido, significando uma circulao s avessas,
tambmelaricadesentidos.Enfim,apartirdosanos60,essastraduesrfs
semultiplicam:trata-seentodeinstrumentosdesensibilizaoquecontornam
a censura brasileira. O que tambm eloquente do papel atribudo Frana
nessecontexto.
6. Acioli, Hildebrando. Trait de droit international public. Traduo Paul
Goul. Paris: Sirey, 1940-1942. 3 vol. [Tratado de direito internacional pblico.
RiodeJaneiro:ImprensaNacional,1933-1935].
7.Aguiar,BrsDiasde.TraitdedlimitationdelafrontireNordduBrsil.
TraduoLaMhaut.[s.l.]:[s.n.],1943[NasfronteirasdaVenezuelaeGuianas
britnicaeneerlandesa,1943].
8.Sousa,Cludiode.LeSieurdeBeaumarchais.RiodeJaneiro:Graf.Olmpi
ca,1943(semoriginalbrasileirocorrespondente).
9. Almeida, Manuel Antnio de. Mmoires dun sergent de la milice. Tra
duoPauloRnai.RiodeJaneiro:Atlntica,1944[Memriasdeumsargentode
milcias, 1854-1855]. provvel que o livro tenha contado com uma recomen
daodeBernanos,queapreciavaparticularmenteesseromance.
10. Machado de assis. Mmoires doutretombe de Brs Cubas. Traduo
RendeChadebecdeLavalade.Riode Janeiro:Atlntica [Memrias pstumas
deBrsCubas,1881].AtraduoseriareeditadapelaAlbinMichelem1948,com
um prefcio de Afrnio Coutinho e um estudo de AndrMaurois. A primeira
traduo,publicadaem1911,eradeAdrienDelpech.
11.Cf.Pret, Benjamin.Ledshonneurdespotes.Paris:Milleetunenuits,
2003[1aed.:fevereirode1945].
12.Bandeira,Manuel.Pomes.TraduoManuelBandeira;AnbalFalco;F.
H.Blank-Simon.Paris:Seghers,1960.Aseleofoifeitapeloprpriopoeta.
13. Mendes, Murilo. Office humain. Traduo Dominique Braya; Saudade
Corteso. Paris: Seghers, 1956. A seleo feita a partir das coletneas As
metamorfoses(1944),Mundoenigma(1942)ePoesialiberdade(1947).
14.TraduoJean-GeorgesRueff.CincoelegiasforampublicadasnoBrasilem
1943.
15. Recette de femme et autres pomes. Traduo Jean-Georges Rueff. Paris:
Seghers,1960.
-
32
16. Jeux de lapprenti animalier.Paris: Seghers, 1955eLe jour est long.Paris:
Seghers, 1958. A coletnea autotraduzida origina-se de uma edio portuguesa:
Dialongo.Lisboa:1944.
17.Paris:P.Tisn,1954.
18. figueiredo, Guilherme. Un dieu a dormi dans la maison. Traduo Vi
vianneIzambard;GrardCaillet.Paris:FranceIllustration, 1952.Ooriginalem
trsatos,Umdeusdormiu lemcasa,datade1945.Edaautoraparacrianas,
MariaClaraMachado,Pluft, le petit fantme.TraduoJean-PierrePerret;Mi
chelSimon-Brsil.Paris:LAvant-scne,1960.Pluft,ofantasminhade1957.
19. Alencar, Jos de. Le Guarany. Traduo eadaptao Vasco de Lacerda.
Paris:LaSixaine,1947[OGuarani,1864].
20. Azevedo, Alusio. Botafogo, une cit ouvrire. Traduo Henry Gunet.
Paris:ClubbibliophiledeFrance,1953[Ocortio,1890].
21. De Machado de Assis, alm da j mencionada reedio de Mmoires
doutretombe,AlaindeAcevedoproduzumQuincasBorbaparaaNagelem1955
[Quincas Borba, 1891]; e Francis de Miomandre traduz Dom Casmurro para a
Albin Michel em 1956 (traduo revisada por Ronald de Carvalho [Dom
Casmurro,1899]).
22.Cunha,Euclidesda.LesTerresdeCanudos.Paris:Julliard,1947,comum
prefciodeAfrnioPeixoto [Os sertes, 1902]. Amesma traduopublicada
simultaneamente no Rio pelas edies Caravela. O crtico oficial Afrnio
Peixoto recebe, alm disso, as atenes de um reconhecido tradutor da prosa
portuguesa do incio do sculo: Sinhazinha. Traduo Pierre-Manoel Gahisto.
Paris:Fasquelle,1949[Sinhazinha,1929].
23.Verissimo,rico.LInconnu.TraduoArmandGuibert.Paris:Plon,1955
[Noite,1954];LeTempset levent.LeContinent.TraduoJean-JacquesVillard.
Paris:Julliard,1955[primeirovolumedeOtempoeovento:Ocontinente,1949].
24. Rego, Jos Lins do. LEnfant de la plantation.Traduo Jeanne Worms-
Reims. Paris: Les Deux Rives, 1953 [Menino de engenho, 1932]; e Cangaceiros.
TraduoDenyseChast.Paris:Plon,1956[Cangaceiros,1953].
25.Ramos,Graciliano.Enfance.TraduoG.Gougenheim.Paris:Gallimard,
1956(LaCroixduSud)[Infncia,1945].
26. Dupr, Leandro [Maria Jos Dupr passou a assinar pelo nome do
-
33
marido].Noustionssix.TraduoClaudeLeLorrain.Paris:d.delaPaix,1949
[ramosseis,1943];Queiroz,DinSilveirade.Lleauxdmons.TraduoAn
dre Gama Fernandez. Paris: Julliard, 1952 [Margarida La Rocque, A ilha dos
demnios, 1949]; Lisboa, Rosalina Coelho. Les moissons de Can. Paris: Plon,
1955[AsearadeCaim,romancedarevoluonoBrasil,1952].
27.Morley,Helena.JournaldHelenaMorley.Cahiersdunepetiteprovinciale
la fin du xixe sicle. Traduo Marlyse Meyer. Paris: Calmann Lvy, 1960
[Minhavidademenina,cadernosdeumameninaprovinciananosfinsdosculo
xix,1942].GeorgesBernanos,queprefaciaolivro,foiumintermediriodecisivo
(cf.Meyer,Marlyse.Umatraduoesuascircunstncias.LiteraturaeSociedade,
n9,SoPaulo,p.278-290,2006.Disponvelem:.Acesso
em:13ago.2016.
28.Lispector,Clarice.Prsducursauvage.TraduoDeniseMoutonnier;
TerezaMoutonnier.Paris:Plon-Julliard,1954[Pertodocoraoselvagem,1942].
29. Um contrato assinado em 25 de outubro de 1945 estipula que o senhor
GastonGallimardencarregaosenhorRogerCaillois,queaceita,decomporuma
coleo de obras espanholas e portuguesas e ibero-americanas cujo ttulo ser:
LaCroixduSud,conformeprogramaaseracordadoentreeles.Prev-seum
ritmo anual de pelo menos quatro tradues. Cf. Mrian, Jean-Yves. Jorge
Amado na coleo La Croix du Sud de Roger Caillois. Amerika. Disponvel
em:.Acessoem:11ago.2016.
30. Esta mesma convergncia latino-americana preside Anthologie de la
posieibroamricaine,estabelecidaetraduzidaporFedericodeOns,naColeo
Unesco de obras representativas (prefcio de Ventura Garcia Calderon, Nagel,
Srie ibro-amricaine n 9, 1956, edio bilngue). Ali encontramos uma
consistente seleo de poemas de Manuel Bandeira, Guilherme de Almeida,
Mrio de Andrade, Jorge de Lima, Murilo Mendes, Ceclia Meireles, Carlos
DrummonddeAndradeeAugustoFredericoSchmidt.
31.Bastide,Roger.SousLaCroixduSud:LAmriquelatinedanslemi
roirdesalittrature.Annales.conomies,Socits,Civilisations,13eanne,n1,
p.31,1958.Disponvelem:.Acessoem:20ago.2016.
32.Freyre,Gilberto.Matres&esclaves.TraduoRogerBastide,1952[Casa
grande e senzala, 1933] e Terres du sucre. Traduo Jean Orecchioni, 1956
[Nordeste,1937].
https://goo.gl/sDanXUhttp://amerika.revues.org/4992http://goo.gl/zyYX6T
-
34
33.Moog,Viana.Dfricheursetpionniers:Parallleentredeuxcultures.Tra
duoViolantedoCanto,1963[Bandeirantesepioneiros,1954].
34. A Enfance, j mencionado, deve-se acrescentar Scheresse. Traduo
Marie-ClaudeRoussel,1964[Vidassecas,1938]
35. Mouro, Gerardo Mello. Le valet de pique. Traduo Wanda Pnicaut;
ViolantedoCanto,1966[Ovaletedeespadas,1965].
36.Capitainesdessables.TraduoVanina,1952[Capitesdeareia,1937].
37. Bahia de tous les saints. Traduo de Michel Berveiller; Pierre Hourcade.
Paris:Gallimard[Jubiab,1935].
38. A Capitaines des sables vm somar-se: Terre violente. Traduo Claude
Pessis.Paris:Nagel,1946[Terrasdosemfim,1942];LeChevalierdelEsprance.
ViedeLusCarlosPrestes.TraduoJuliaSoria;GeorgesSoria.Paris:d.Fran
ais runis, 1949 [O cavaleiro da esperana: vida de Lus Carlos Prestes, 1942];
Mar morto. Traduo Nol-A. Franois. Paris: Nagel, 1949 [Mar morto, 1936];
Cacao. TraduoJeanOrecchioni. PrefcioJean-Paul Sartre. Paris: Les Temps
modernes, 1954 (reeditado no ano seguinte por Nagel [Cacau, 1933]); Les Che
mins de la faim. Traduo Violante do Canto. Paris: d. Franais runis, 1951
[Seara vermelha, 1946]; La Terre aux fruits dor. Traduo Violante doCanto.
Paris:Nagel,1951[SoJorgedosIlhus,1944];Gabriela,filleduBrsil.Traduo
ViolantedoCanto;MauriceRoche.Paris:Seghers,1959[Gabriela,cravoecanela,
1958]; Les Deux morts de QuinquinlaFlotte. Traduo Georges Boisvert. Paris:
LesTempsModernes,1960[AmorteeamortedeQuincasBerrodgua,1961].
Ouseja,novettulosnoperodo1946-1960.
39.Amado,Jorge.Navegaodecabotagem.Apontamentosparaumlivrode
memriasquejamaisescreverei.RiodeJaneiro:Record,1992,p.101.Vertambm
suasConversationsavecAliceRaillard.Paris:Gallimard,1990.
40.Amado.Jorge.Navegaodecabotagem,op.cit.,p.209.JorgeAmadoerra
porumano:comodissemos,QuinquinlaFlottelanadoem1960.
41.Ibid.,p.551.
42.Amado,Jorge.LesPtresdelanuit.TraduoConradDetrez.Paris:Stock,
1970[Ospastoresdanoite,1964].
43.Freyre,Gilberto.Gographiedelafaim:lafaimauBrsil.PrefcioAndr
Mayer. Paris: d. ouvrires, 1949 [Geografia da fome, 1946]; Les problmes de
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lalimentationenAmriqueduSud.Paris:Dunod,1950[Osproblemasdaalimen
taodaAmricadoSul,1949];Gopolitiquedelafaim.TraduoVivianeIzam
bard.Paris: d.ouvrires,1952[Geopolticadafome,1951].
44. Ramos, Artur. Le mtissage au Brsil. Traduo M. L. Modiano. Paris:
Hermann,1952[AmestiagemnoBrasil,2004];Azevedo,Talesde.Leslitesde
couleurdansunevillebrsilienne.Paris:Unesco, 1953[Aselitesdecornumaci
dadebrasileira.Umestudodeascensosocial,1955];vila,FernandoBastosde.
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Genebra: Institut International Catholique de Recherches Socio-ecclsiales/Rio
deJaneiro:Agir,1956.
45.Chaves,MariadeMelo.Pionniersde la foi(tablissementduprotestan
tismeparmilespaysansduBrsil).TraduoEmileG.Lonard.Paris:LaCause,
1955(semcorrespondentenoBrasil).
46. Castro, Sylvio Rangel de. Discours prononc Athnes par lambassa
deur,souslesauspicesdelAssociationhellniquepourlesNationsUnies.Grfica
Chantenay,1952.OuVallado,Haroldo.Messageauxjuristesdelapaix.Paris:
Sirey, 1953 [Aos juristas da paz, 1947]. Tambm de H. Vallado, em 1962: D
mocratisationetsocialisationdudroitinternational:limpactlatinoamricainet
afroasiatique.Paris:Sirey,1962[DemocratizaoesocializaodoDireitoInter
nacional:osimpactoslatinoamericanoeafroasitico,1961].
47. Oliveira, Plnio Corra de. Rvolution et contrervolution. Prefcio D.
Pedro Henrique de Orlans e Bragana. So Paulo: ed. Catolicismo, 1960 [Re
voluo e contrarevoluo, 1959]. E, em 1975, Lglise et ltat communiste: la
coexistence impossible. Paris: d. Tradition, famille, proprit [A liberdade da
IgrejanoEstadocomunista,1963].
48.Citaremos,entreelas,doisopsculossobreopioneirobrasileirodaavia
o:Napoleo,Aluizio.SantosDumontet la conqutede lair.TraduoHor
tencia Homoir Rio-Branco. Rio de Janeiro: Ministrio das Relaes Exteriores,
1947;eVillares,HenriqueDumont.SantosDumont, leprede laviation.So
Paulo:[s.n.],1956[SantosDumont,Opaidaaviao,1956,resumodeQuemdeu
asasaohomem,1953].UmGuidedOuroPreto,deautoriadopoetaManuelBan
deiralanadoem1948(traduoMichelSimon-Brsil.RiodeJaneiro:Minist
riodasRelaesExteriores,1948[GuiadeOuroPreto,1938]).EolivrodePaulo
EmlioSallesGomessobreJeanVigo,queserinicialmenteescritoemfrancse
-
36
depoistraduzidonoBrasil(Seuil,1957[JeanVigo.TraduoElisabethAlmeida,
1984]).OautorhaviatrabalhadonaCinmathquefranaisecomLanglois,antes
defundarumaCinematecaequivalenteemSoPaulo.
49.Esses livros,nascidosdeumamanifestavontadepoltica,stm,defato,
umacirculao restritaemarginal.Houvevriosexemplos,vindosdeorganis
mos oficiais, do mundo diplomtico, s vezes editados no Brasil mesmo. Sem
leitoresouquase,so,emgeral,fadadosaumrpidoesquecimento.
50. Bandeira, Manuel. Manuel Bandeira, estudo, seleo de textos e biblio
grafiaporMichelSimon.Paris:Seghers,1965.
51.Meireles,Ceclia.Posies.TraduoGisleSlesingerTygel.Paris:Seghers,
1967.
52. Ainda dirigida, prefaciada e traduzida por Antonio Dias Tavares Bastos,
essa nova edio, publicada inicialmente em 1954, publicada em 1966 pela
Seghers.
53. Braga, Rubem. Chroniques de Copacabana, de Paris et dailleurs. Tra
duoMichelSimon-Brsil.Paris:Seghers1963[Aideti,Copacabana!,1960].
54. Mariz, Vasco. Hector VillaLobos: lhomme et son uvre. Paris: Seghers,
1967[HeitorVillaLobos:compositorbrasileiro,1989].
55.Azevedo,Alusio.Le multre.Paris:Plon, 1961 [O mulato, 1881].Michel
Simoncomplementaatraduocomumprefcio,umanotabibliogrficaeum
glossrio,oqueparaeleummododeprestarhomenagemaotradutor,falecido
em1948.SobrePierre-ManoelGahisto,verRivas,Pierre.Encontrosentrelitera
turas.Frana,Brasil,Portugal.TraduocoordenadaporDurvalrticoeMaria
LetciaGuedesAlcoforado.SoPaulo:Hucitec,1995,p.153-160.
56. Dourado, Autran. La Barque des hommes. Traduo Jean-Jacques Vil
lard.Paris:Stock,1966[Abarcadoshomens,1961].
57.Jesus,CarolinaMariade.LeDpotoir.TraduoViolantedoCanto.Paris:
Stock,1962[Quartodedespejo,diriodeumafavelada,1960].
58.Jesus,CarolinaMariade.Mavraiemaison.TraduoViolantedoCanto.
Paris:Stock,1964[Casadealvenaria,diriodeumaexfavelada,1961].
59.ViolantedoCantoentocompanheiradeMauriceRoche,engajado,por
seulado,nasvanguardasparisienses:TelQuel,Jean-PierreFaye
-
37
60. [A ma no escuro, 1961].ViolantedoCantocontinuara traduzirato
inciodosanos2000,assinandoseusltimostrabalhoscomYvesColeman.
61.Rosa,JooGuimares.LesvingtmeilleuresnouvellesdelAmriquelatine.
SeleoeprefcioJuanLiscano.Paris:Seghers,1958.DoBrasil,encontra-seain
daNiziaFigueira,pourvousservir,deMriodeAndrade,contotambmtra
duzido por Antonio e Georgette Tavares Bastos. O conto de Guimares Rosa
fecha sua primeira coletnea, Sagarana, publicada em 1946. Sobre a recepo
francesadoescritor,remetemosaoestudodeAguiar,MrciaValriaMartinez
de.ApublicaodeGuimaresRosanaFranadosanos1960,p.79dopre
sentevolume.
62.Rosa,JooGuimares.Buriti.Paris:Seuil,1961[Do-lalalo,Orecado
domorro,UmaestriadeamorsoemprestadosdeCorpodebaile,de1956].
Les nuits du serto. Traduo Jean-Jacques Villard, 1962 [Buriti, tambm de
Corpo de baile].E Hautes Plaines, 1969 [AestriadeLlio e Lina, Cara-de
bronze,Campogeral,sempredeCorpodebaile].
63.Rosa, JooGuimares.Diadorim.Paris:AlbinMichel, 1965[Grande ser
to:veredas,1956].
64. Correspondncia do Fundo Joo Guimares Rosa (Instituto de Estudos
Brasileiros).
65.Hojeexistemseisprofessoreshispanistasparacada lusitanistanoquadro
daxivaseodocnu[Conseilnationaldesuniversits]delnguasromnicas.
66.leituradasprovas,elaficoupreocupadacomosalongamentoseenobre
cimentosdeDeniseTeresa-Moutonnier.AcorrespondnciacomoeditorPierre
deLescuretambmpermitesuporquealgumascartasnochegaramatela.Ela
dirmaistardelamentarsuaindiferenadomomento.VeracronologiadeNa-
diaGotlibnodossiqueorganizamossobreClariceLispector.(Europe,n1003
1004,Paris,p.118-181,nov.-dez.2012).
67.Oquepodeser ilustradoporumdosramosdeseu lusotropicalismo:Les
Portugaiset les tropiques.Considrationssur lesmthodesportugaisesdintgra
tion de peuples autochtones et de cultures diffrentes europennes dans un nou
veau complexe de civilisation: la civilisation tropicale. Traduo Jean Haupt. A
obralanadajustamenteemLisboa,editadapelaComissoExecutivadasCo
memoraes do Quinto Centenrio da Morte do Infante Dom Henrique, o
-
38
Navegador, em 1961. Paradoxalmente, no momento em que os intelectuais
francesesdeesquerdaacolhiam-noabertamente,reconhecendoneleoinovador
queeleeraeumpensadordadiversidadetnica,elesepeatecer louvoresao
Mundoqueoportuguscriou,paraimensaalegriadaditadurasalazarista.
68.Veredas,termopoucocomum,maisfrequentementeassociadoideiade
trilhas.JooGuimaresRosabuscaentoduasvezesararidade,brincandocom
asharmoniasdapalavra e evocando simultaneamenteapassagem,aviagem,a
travessia,outroconceitochavedeseuuniverso.Suamortetambmalteroucon
sideravelmente as condies de gesto dos direitos autorais e de traduo da
obra,agoranasmosdeseusherdeiros.
69.AjovemditionsMtailifariaumanovatentativaem1982,aparentemen
tepoucoconclusivajquesemprosseguimento:Rosa,JooGuimares.Premi
resHistoires.TraduoInsOseki-Dpr[Primeirasestrias,1962].Ressurgeum
interessenadcadaseguinte,marcadapelanovatraduodeDiadorimrealizada
porMaryvonneLapouge-Pettorelli(AlbinMichel,1991),eareediodeHautes
plainespelaSeuilnomesmoano.E as trs traduesde JacquesThiriot:Rosa,
JooGuimares.Toutamia. Troisimes histoires.Paris: Seuil, 1994 [Tutamia:
terceiras estrias, 1985]; Sagarana. Paris: Albin Michel, 1997 [Sagarana, 1946];
MonOncleLe Jaguar.Paris:AlbinMichel, 1998[Meutiooiauaret.In:Estas
estrias,1967].Finalmente,aespciedeconsagraoquerepresentamosforma
tosdebolsodeDiadorim (traduoM.Lapouge-Pettorelli.Paris: 10/18, 1995)e
deMononcleLeJaguar(Paris:10/18,2000).
71.Ver,p.79dopresentevolume,Aguiar,Mrcia.ApublicaodeGuima
resRosanaFranadosanos1960.
72. Castro, Josu de. Le livre noir de la faim. Paris: d. Ouvrires, 1961 [O
livronegrodafome,1957];Gographiede la faim.Ledilemmebrsilien:painou
acier. Traduo Jean Dupont. Paris: Seuil, 1964, nova traduo [Geografia da
fome, 1946];Unezoneexplosive: leNordesteduBrsil.TraduoChristianePri
vat.Paris:Seuil,1965[Setepalmosdeterraeumcaixo,1965];Deshommesetdes
crabes. TraduoChristianne Privat. Paris: Seuil, 1966 [Homens e caranguejos,
1967].Uma terceira ediode Gographie de la faim, revista e aumentada, em
uma nova traduo de Lon Bourdon, ser lanada em 1973, sempre pela di
tionsOuvrires,umdoscanaisdaaocatlica(deesquerda).
73. Julio, Francisco. Les Ligues paysannes au Brsil. Paris: Maspero, 1966
[Queso ligascamponesas?,1962];Cambo(le joug).LafacecacheduBrsil.
-
39
TraduoAnnyMeyer.Paris:Maspero,1968.Essettulonotemcorrespondente
no Brasil: a edio estrangeira torna-se vital para tirar do isolamento a resis
tnciaaoGolpedeEstado.
74.Niemeyer, Oscar. Mon exprience Brasilia.Traduo JeanPetit.Paris:
ForcesVives,1963[MinhaexperinciaemBraslia,1961];Textesetdessinspour
Brasilia. Traduo Jean Petit. Paris: Forces Vives, 1965. Dele sero publicados,
mais tarde, sinal de uma presena duradoura: Centre musical e Universits en
Algrie.Paris: Separc, 1973; La forme en architecture.Paris:Metropolis, 1978 [A
formanaarquitetura,1978].
75.Furtado,Celso.LeBrsillheureduchoix.Lapolitiqueconomiquedun
paysenvoiededveloppement.TraduoJeanChouard.Paris:Plon,1964[APr
Revoluo brasileira, 1962]; Dveloppement et sousdveloppement. Paris: puf,
1966[Desenvolvimentoe subdesenvolvimento, 1961].MinistrodoPlanejamento
deJooGoulart,CelsoFurtadodefenderaseudoutoradoemeconomianaSor
bonne.Nadcadaseguinte,elepublicanaFrana:LAmrique latine.Traduo
EdouardBailby.Paris:Sirey,1970[Aeconomialatinoamericanaserpublicada
noBrasilem1975];Leseuaet le sousdveloppementde lAmrique latine.Tra
duoAblioDinizdaSilva.Paris:Calmann-Lvy,1970[Subdesenvolvimentoe
estagnaonaAmricaLatina/ProjetoparaoBrasil,1966et1968];Thoriedu
dveloppementconomique.TraduoAblioDinizdaSilva;JaninePeffau.Paris:
puf,1970[Teoriaepolticadodesenvolvimentoeconmico, 1967];Politiqueco
nomique de lAmrique latine. Traduo Edouard Bailby. Paris: Sirey, 1970; La
FormationconomiqueduBrsil,delpoquecolonialeauxtempsmodernes.Tra
duoJaninePeffau.Paris:Mouton/DeGruyter,1973[Formaoeconmicado
Brasil,1959];Lanalysedumodlebrsilien.TraduoEddyTreves.Paris:Anthro
pos,1974[Anlisedomodelobrasileiro,1972].
76.Arraes,Miguel.LeBrsil, lepouvoiretlepeuple.TraduoRochFaturi.
Paris: Maspero, 1969. Uma nova edio ampliada seria publicada no ano se
guinte. O governador de Pernambuco fora destitudo e preso pelos militares.
TendoaFranaserecusadoaacolh-lo,exilou-senaArglia.
77.Cardoso,FernandoHenrique.SociologiedudveloppementenAmrique
latine. Paris: Anthropos, 1969 [Mudanas sociais na Amrica Latina, 1969]. Se
riam publicados a seguir Politique et dveloppement dans les socits dpen
dantes.TraduoMylneBerdoyes.Paris:Anthropos, 1971[Polticaedesenvolvi
mento em sociedades dependentes. Ideologias do empresariado industrial brasi
-
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leiro e argentino, 1971] e Dpendance et dveloppement en Amrique latine.
Traduo Annie Morvan. Paris: puf, 1978 [Dependncia e desenvolvimento na
AmricaLatina:ensaiodeinterpretaosociolgica,1970].Oautorviveualguns
anosexiladoemParis,antesdevoltaraoBrasileseengajarnapoltica.Foipresi
dentedaRepblicade1995a2002.
78.Marighella,Carlos.Pour la librationduBrsil.TraduoConradDe
trez. Paris: Flammarion, Robert Laffont, Minuit, Maspero, Gallimard, Grasset,
Seuil,1969.Propondoumaversourbanaparaateoriaguevaristadofoco,esse
militantedaAlianaLibertadoraNacionalfoipegoemumaemboscadaeabatido
em4denovembrode1969.
79.Citemos,apenasnosanos70:Cmara,DomHelder.Lesconversionsdun
vque(entretiensavecJosdeBroucker).Paris:Seuil,1970;Pourarrivertemps.
Traduo annima. Paris: Descle de Brouwer, 1970; Rvolution dans lapaix.
Traduo Conrad Detrez. Paris: Seuil, 1970 [Revoluo dentro da paz, 1968];
Spirale de violence. Traduo annima. Paris: Descle de Brouwer [Espiral de
violnciaspublicadonoBrasilnoanoseguinte];Ledsertestfertile.Feuillesde
route pour les minorits abrahamiques. Traduo annima. Paris: Descle de
Brouwer,1971[Odesertofrtil,roteiroparaasminoriasabramicasspubli
cadoemportugusem1976];Prirepourlesriches.Zurique:PendoVerlag,1972
(semcorrespondente);Jaientendulescrisdemonpeuple.Traduodial.Paris:
La Procure-Croissance des Jeunes nations, 1975 [Eu ouvi os clamores do meu
povo(xodo,iii,7),DocumentosdosBisposeSuperioresreligiososdoNordeste,
1973].Apartirde1971,oDial(DiffusiondelinformationsurlAmriquelatine),
animadoporCharlesAntoine,desempenharumpapelessencialnatransmisso
dasnotciasrelativasaoBrasileIgrejaengajada.
80.UmapequenabrochuraassinadaporTristodeAtade(ouAthayde,pseu
dnimodeAlceuAmorosoLima),LInfluencedelapensefranaiseauBrsil,
publicadaem1968naAcadmiedes sciencesmorales etpolitiques (Institutde
France).TendopassadopelocentroDomVital,redutodoconservantismocat
lico,A.AmorosoLimaevoluiprogressivamenteparaumaoposiomoderadaao
regime militar. Essa edio, assim como o discurso de Remise de la mdaille
MachadodeAssisdelAcadmieBrsiliennedeLettreslAcadmieFranaise,em
7de junhode1973, lanadopelaFirmin-Didotnomesmoano,mostraos laos
entre acadmicos, Amoroso Lima tendo sido eleito para a Academia Brasileira
deLetrasem1935.
-
41
81.Fragoso,Dom.vangileetrvolutionsociale.TraduoP.J.P.Barruelde
Lagenest.Paris:LeCerf,1969.Umanoantesnasceraateologiadalibertao.
Tendoemsuasfileiraspadresextremamenteengajados,algunsdosquaisforam
torturados, a ordem dominicana foi, com a sua editora, um canal muito ativo
parasensibilizarosfrancesesparaasituaobrasileira.
82.Lglisedesprisons.TraduoCharlesAntoine.Paris:DescledeBrouwer,
1972[Dascatacumbas:cartasdapriso,19691971,publicadonoBrasilem1978].
Nessa mesma rbita dominicana: Alves, Mrcio Moreira. La paix est morte.
Traduo(doespanhol)PauleEscudier;GilbertManuel.Paris:DescledeBrou
wer, 1973 (no publicado no Brasil); Lglise et la politique au Brsil. Paris: Le
Cerf, 1974 [A Igreja e a poltica no Brasil, Brasiliense, 1979]. Mrcio Moreira
Alves tambmoautordeumlivro sobreoPortugaldosCravos, semcorres
pondentebrasileiro:LesSoldatssocialistesduPortugal.Paris:Gallimard,1975.
83. Boff, Leonardo. glise en gense: les communauts de base rinventent
lglise.TraduoFranoisMalley.Paris:DescledeBrouwer,1978[Eclesiognese:
ascomunidadeseclesiaisdebasereinventamaIgreja,1977].
84.Weil,Pierre.Relationshumainesdansletravailetlafamille.Paris:Dunod,
1964 [Relaes humanas no trabalho e na famlia. Civilizao brasileira, 1958];
Relationshumainesentrelesenfants,leursparentsetleursmatres.Paris:Dunod,
1964[Acriana,o lar,aescola, 1959].Depois,Rpressionet librationsexuelle.
Paris: [s.n.], 1971 [Mstica do sexo. Belo Horizonte: Itatiaia, 1976]; Le Sphinx:
mystre et structure de lhomme. Traduo Marie-Rose Grosjean. Paris: Lpi;
DescledeBrouwer,1972[Aesfinge:mistrioeestruturadohomem,1970].
85.Dieguesjr.,Manuel;Carneiro,Edison.LacontributiondelAfriquela
civilisation brsilienne. Traduo Michel Simon-Brsil; T. Tavares; G. Binon et
alii. Marselha: Imprimerie Sopic, 1967. O texto relaciona-se com um congresso
ocorridoemParis.EdisonCarneirotematriplaqualidadedeserumfolclorista
quetrabalhasobreaheranaafro-brasileira,ummilitantecomunistaeumamigo
deJorgeAmado.
86.DeMariaIsauraPereiradeQueiroz,quefoialunadeRogerBastide,pro
fessor da usp de 1938 a 1954: Os cangaceiros: les bandits dhonneur brsiliens.
Paris: Julliard, 1968 [manuscrito francs, Os Cangaceiros, 1977]; e, no mesmo
ano, Rforme et rvolution dans les socits traditionnelles. Paris: Anthropos
(nopublicadonoBrasil).EatesedeMariaLuizaMarclio,LaVilledeSoPau
lo:peuplementetpopulation,17501850.Rouen:d.delUniversitdeRouen,1968
-
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[AcidadedeSoPaulo:povoamentoepopulao,17501850,1973],queteruma
novaedioem1973.
87.Trintaedoisttulosparacentoedezesseislivrosdeautoresbrasileiros.
88.Amado,Jorge.LesPtresdelanuit.TraduoConradDetrez.Paris:Stock,
1970[Ospastoresdanoite, 1964];DonaFlor et sesdeuxmaris.TraduoGeor
getteTavares-Bastos.Paris:Stock1972[DonaFloreseusdoismaridos,1966];Te
rezaBatista.TraduoAliceRaillard.Paris:Stock, 1974[TerezaBatistacansada
deguerra,1972];Laboutiqueauxmiracles.TraduoAliceRaillard.Paris:Stock,
1976[Tendadosmilagres,1969];Levieuxmarin.TraduoAliceRaillard.Paris:
Stock,1978[Osvelhosmarinheiros,1961];TietadAgresteouLeretourdelafille
prodigue.TraduoAliceRaillard.Paris:Stock,1979[TietadoAgreste,1977].
89.Amado, Jorge.LesdeuxmortsdeQuinquinlaFlotte.TraduoGeorges
Boisvert.Paris:Stock,1971.
90. Amado, Jorge. Gabriela, girofle et cannelle. Traduo Georges Boivert.
Paris:Stock,1971.
91.Lispector,Clarice.Le Btisseur de ruines.TraduoViolantedoCanto.
Paris:Gallimard,1970[Amanoescuro,1961].
92.Lispector,Clarice.Lapassionselong.h.TraduoClaudeFarny.Paris:
d.desFemmes,1978[Apaixosegundog.h.,1964].Em1977,ClliaPisaeMa
ryvonne Lapouge haviam dirigido uma coleo de retratos de brasileiras, um
deles dedicado escritora: des Brsiliennes. Paris: d. des Femmes. Clarice
morreemdezembrode1977.
93.Lins,Osman.RetabledesainteJoannaCarolina.Paris:Denol,1971[Nove,
novena,1966];Avalovara.Paris:Denol,1975[Avalovara,1973].Ambostraduzi
dosporMaryvonneLapouge.
94.Olinto,Antnio.Lamaisondeau.TraduoAliceRaillard.Paris:Stock,
1973[Acasadgua,1969].
95. Carvalho, Campos de. La Lune vient dAsie. Traduo Alice Raillard.
Paris:AlbinMichel,1976[Aluavemdasia,1956].
96. Ribeiro, Joo Ubaldo. Sergent Getlio. Traduo Alice Raillard. Paris:
Gallimard,1978[SargentoGetlio,1971].
*NarueSbastienBottin,emParis,encontra-seasededaGallimard(n.t.).
-
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97. Montello, Josu. Un matre oubli de Stendhal, labb de SaintRal.
TraduoFrancetteRioBrancoDeramond;MichelSimon-Brsil.Paris:Seghers,
1970.
98.Suassuna,Ariano.LeJeudelamisricordieuseouLeTestamentduchien.
TraduoMichelSimon-Brsil.Paris:Gallimard,1970[Oautodacompadecida,
1957].Acrescentemos,deseuamigoHermiloBorbaFilho,oprimeirovolumede
uma tetralogia: Un chevalier de la seconde dcadence. Traduo Maryvonne
Lapouge.Paris:Stock,1975[Umcavaleirodasegundadecadncia,vol.1:Margem
daslembranas,1966].
99. Callado, Antnio. Mon pays en croix. Traduo Conrad Detrez. Paris:
Seuil,1971[Quarup,1967].
100. Pion, Nlida. La maison de la passion. Traduo Genevive Leibrich.
Paris:Stock,1979[Acasadapaixo,1973].
101.Carvalho,JosCndidode.LeColonelet le loupgarou.TraduoJos
CarlosGonzales.Paris:Gallimard,1978[Ocoroneleolobisomem,1964].
102. Fonseca, Rubem. Le Cas Morel, seguido de Bonne et heureuse anne.
TraduoMargueriteWnscher.Paris:Flammarion, 1979 [O caso Morel, 1973,
Feliz ano novo, 1975].Oeditorpublica tambmoromancede Ivanngelo,La
fteinacheve.TraduoMargueriteWnscher.Paris:Flammarion,1979[Afesta,
1976].Em1975,elehaviatraduzidoopintorJuarezMachado,Uneaventureinvi
sible[Idaevolta,1976].
103. Andrade, Mrio de. Macounama. Traduo Jacques Thiriot. Paris:
Flammarion,1979[Macunama,1928].Em1982,otradutorreneumaantologia
degrandestextosdeOswalddeAndrade:Anthropophagies;Mmoiressentimen
tauxdeJanotMiramar;SraphinGrandPont;ManifestedelaPosieBoisBrsil;
e Manifestes et textes anthropophages. Traduo Jacques Thiriot [Memrias
sentimentais de Joo Miramar; Serafim Ponte Grande; Do paubrasil antro
pofagiaesutopias].
104. De um bispo da libertao: Casaldliga, Dom Pedro. Fleuve libre,
mon peuple. Traduo Charles Antoine. Paris: Le Cerf, 1976 (coletnea de
poemas).Eumpoucomaisaonorte,Mello,Thiagode.Chantdelamourarm.
Paris:LeCerf,1979[seleodeAcanodoamorarmado,1979;Fazescuromas
eucanto,1965].
-
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105. Haddad, Jamil Almansour. Avis aux navigateurs. Le premier livre des
Sourates.Paris: Maspero, 1977 [Aviso aos navegantesou A Bela Adormecida no
Bosque.PrimeirolivrodasSuratas,1980].
106. Posies du Brsil. Transposio Nole Piot; Andr Piot. Paris: Presses du
compagnonnage,1972,incluiemversobilnguepoemasdeCarlosDrummond
de Andrade, Mrio de Andrade, Manuel Bandeira, Raul Bopp, Jorge de Lima,
Henriqueta Lisboa, Ceclia Meireles, Murilo Mendes, Vincius de Morais, Joo
Cabral de Melo Neto, Augusto Frederico Schmidt, Ascenso Ferreira, Joaquim
Cardozo, Antonio Brasileiro, e at um poema amerndio. E Michel Claude
TouchardassociaumacoletneadeVinciusdeMoraiseFerreiraGullarafoto
grafiasdeBernardHermannparailustrarRiodeJaneiro(Papeete,Taiti:d.du
Pacifique. Paris: Hachette, 1977). Poderamos acrescentar as medocres colet
neasdePedroVianna,Changeonsen lerythme.Autoedio, 1977;LeDcretse
cret.TraduoDenisePeyroche.Paris:J.Guyot,1977,cujasobrashojeestodis
ponveisonline.EospoemasdaartistaLliaAparecidaPereiradaSilva:Fleurs
deLlia eCredo incroyable,duascoletneas traduzidasporClaudeCotti.LaVa
renne-Saint-Hilaire:SocitacadmiquedesartslibrauxdeParis,1971e1978.
107.Andrade,CarlosDrummondde.Runion/Reunio.TraduoJean-Michel
Massa.Paris:Aubier-Montaigne,1973,ed.bilngue[seleodeReunio,1969].
108.Boal,Augusto.Thtrede lopprim.TraduoDominiqueLmann(es
panhol). Paris: Maspero, 1977 [Teatro do oprimido e outras poticas polticas,
1975];eJeuxpouracteursetnonacteurs.TraduoRgineMellac.Paris:Maspe
ro,1978[200exercciosejogosparaoatoreonoatorcomvontadededizeralgo
atravsdoteatro,1977].
109.Vasconcelos,JosMaurode.Monbeloranger.TraduoAliceRaillard.
Paris:Stock,1971[Meupdelaranjalima,1968];Rosinhamoncano.Traduo
AliceRaillard.Paris:Stock,1974[Rosinha,minhacanoa,1963];Allonsrveillerle
soleil. Traduo Alice Raillard. Paris: Stock, 1975 [Vamos aquecer o sol, 1974];
Bananabrava.TraduoAliceRaillard.Paris:Stock,1979[Bananabrava,1942].
110.Paraopblicojovem:Ferraz,Enias.Symphonieenfantine.Paris:dHal
luinetCie,1970.Paracrianas,trsttulosdeMariaAntonietaDiasdeMorais,
que jhaviapublicadoem1966 La baguette de Caapora pelaLaFarandole: La
Catharinette,peaemumato,adaptaoAnneBocquet-Roudy.Paris:Magnard,
1973(inspiradanotemafolclricodeAnaucatarineta);TroisgaronsenAmazo
-
45
nie.TraduoLcia deAlmeidaRodrigues.Paris:Nathan,1973[Trsgarotosna
Amaznia,1975];Tonicoetlesecretdtat.TraduoAnne-MarieMtaili.Paris:
Nathan, 1975 [Tonico e o segredo de Estado, 1980]. E tambm: nunes, Lygia
Bojunga. Anglique a de bonnes ides. Traduo Nomi. Paris: Messidor-La
Farandole,1979[Anglica,1975].EOstrovsky,Vivian.LesOreillons.Paris:J.P.
Delarge,1978[Caxumba!,1976].
111.VernossanotaLeBrsilpourlajeunesse,noportalLaFranceauBrsil
daBibliothquenationaledeFranceeFundaoBibliotecaNacional.Disponvel
em:.Acessoem:30ago.
2016.
112. La Vengeance de larbre et autres contes. Traduo Georgette Tavares-
Bastos.Paris:d.Universitaires[Urups,Negrinhaeoutroscontos,1918].
113.ContestraditionnelsduBrsil.TraduoBernardAllgude.Paris:Maison
neuveetLarose,1978[ContostradicionaisdoBrasil:confrontosenotas,1946].
114. Tanaka, Batrice. La fille du grand serpent et autres contes du Brsil.
Paris:LaFarandole,1973;Mayaoula53esemainedelanne.Paris:LaFarandole,
1975 [Maya ou a 53a. semana do ano, 1978]; La Montagne aux trois questions.
Paris: La Farandole, 1976 [A montanha das trs perguntas, 1987]; Pereira,
Nunes;Tanaka,BatriceBahira.LesageBahiraetsonfils.Paris:LaFarandole,
1979[Bahira.TraduoBatriceTanaka,1982].BatriceTanakafugiudaRom
nia, pas em que nasceu, no momento da ocupao alem em 1944. Viveu na
Palestina, depois morou por diversas vezes no Brasil, entre 1947 e 1960, onde
estudoudesenho.Tendoemseguidasetornadoparisiense,contribuiuparapo
pularizar junto s crianas francesas as culturas brasileira e vietnamita, entre
outras.DajornalistaLenyWerneck,queviveumuitosanosnaFrana:Mando
line.Paris:LaFarandole,1977[Bandolim,1980].
115.Demesters,Carlos.Adam: la condition humaine selon laGense.Tra
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Antoine.Paris:DescledeBrouwer,1978[Seisdiasnosporesdahumanidade,
1977]. A brochura coletiva Marginalisation dun peuple. Des vques brsiliens
prennent laparole.TraduoDial.Paris:Faimetdveloppement,1973[Margi
nalizao de um povo. Grito das Igrejas. Documento dos bispos do centrooeste,
1973].EtrsobrasdeCndidoMendesnascemnaFrana,semcorrespondente
https://bndigital.bn.br/francebr/frances/bresil_jeunesse.htm
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brasileiro:Justice, faimde lglise.TraduoFranoiseBonnal.Paris:Desclede
Brouwer,1977;LeMythedudveloppement.TraduoFranoiseBonnal.Paris:
Seuil,1977;ContestationetdveloppementenAmriqueLatine.TraduoFran
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116. Lopes, Aderito. LEscadron de la mort. So Paulo 19681971. Traduo e
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brasileiro)eBicudo,Hlio.Montmoignagesurlescadrondelamort.Traduo
Yves Materne. Prefcio Louis Joinet. Paris: Gamma, 1977 [Meu depoimento
sobreoEsquadrodaMorte,1976].NopublicadosnoBrasil:Annimo,Paude
arara.LaviolencemilitaireauBrsil.Paris:Maspero,1971(cf.,p.195dopresente
volume, artigo de Reimo, Sandra, Maus, Flamarion e Nery, Joo Elias,
Frana, 1971;Brasil, 2013:duas ediesdo livro Pau de Arara e amemriada
represso); e o dirio de Dinalva da Silva Ramos, Dinalva, jeune travailleuse
brsilienne.TraduoAngelo.Paris:d.Ouvrires,1971.
117.Freire,Paulo.Lducation:pratiquedelalibert.Traduosr.esra.Mar-
tialLesay.Paris:LeCerf,1971[Educaocomoprticadaliberdade,1967];Pda
gogiedesopprims,seguidodeConscientisationet rvolution.Traduocoletiva.
Paris:Maspero, 1974 [Pedagogia do oprimido, 1974eConscientizao: teoriae
prticadalibertao,1979];Lettres laGuineBissausurlalphabtisation:une
exprienceencoursderalisation.TraduoAlfredHerv-Guyer.Paris:Maspero,
1974[CartasGuinBissau: registrosdeumaexperincia emprocesso, 1977].E
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Maspero,1977[MultinacionaisetrabalhadoresnoBrasil,1979].
118. Ribeiro, Darcy. LEnfantement des peuples. Traduo Franois Malley
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10/18, 1979 [Os ndios e a civilizao: a integrao das populaes indgenas no
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119.Santos,Milton.LesVillesdutiersmonde.Paris:M.-Th.Gunin,Librai
ries techniques, 1971 [A urbanizao desigual. A especificidade do fenmeno
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liadoradaSilva,1980;depois,Manualdegeografiaurbana,1981];LEspaceparta
g.Lesdeuxcircuitsdelconomieurbainedespayssousdvelopps.Paris:M.-Th.
Gunin, Librairies techniques, 1975 [O espao dividido. Os dois circuitos da
-
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economiaurbanadospasessubdesenvolvidos,1979].AcrescentemosqueRivaldo
PintodeGusmoescrevecomOrlandoValverdeeogegrafoRaymondPbayle,
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tuio independente financiada pela Fundao Ford), La Population du Brsil:
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121.Bornheim,GerdAlberto.Heidegger.Ltreetletemps.Paris:Hatier,1976.
122.Merquior,JosGuilherme.LEsthtiquedeLviStrauss.Paris:puf,1977
[AestticadeLviStrauss, 1975].Ocrticoefilsofoserviucomodiplomatana
EmbaixadadoBrasilemParisde1966a1967.Foiemseguidaembaixadorjunto
Unescoem1990.DefendeuseudoutoradonaSorbonneem1972.
123.Mattoso,KtiadeQueirs.treesclaveauBrsil,xviexixesicles.Paris:
Hachette,1979[SerescravonoBrasil,1988].
*ProgramadoMinistriodaCultura,realizadoatravsdoCentrenationaldu
livre,quevisapromoo,naFrana,dediferentesliteraturasnacionais.(n.t.)
-
Zuenirventura,histriaeculturanafrana
nadcadade1960:jornalismo,relaesde
amizadeevivnciasnaCasadoBrasil
FelipeQuintino
EsteestudoreconstituiopercursodojornalistaZuenirVentura
naFrananadcadade1960,bemcomoasrelaesdeamizadee
experinciasvividasporeleemmomentodeprofundastransfor
maesnopas.Ganhadordeumabolsadogovernofrancs,Zue
nirestudouporumanonoCentredeformationdesjournalistes,
em Paris. Nesse perodo, enviou reportagens, como correspon
dente,paraojornalTribunadaImprensasobreapolticalocal,as
produesculturais,temasdocotidianoeapassagemdacomitiva
dovice-presidente JooGoulartnacidade.AsvivnciasnaCasa
doBrasil,ondeojornalistamorou,asdescobertasdavidacultural
eosimpactosdaGuerradaArgliaforamalgunspontoscitados.
AescolhadeZuenirporParistemrelaodiretacomasdiversas
possibilidades e encontros que a cidade poderia proporcionar,
comoumgrandecentrodeculturaedeirradiaodeideias.
Em seu estudo sobre o sculo xx na Frana, e em busca de
uma reflexo sobre a historiografia desse perodo, o historiador
Jean-FranoisSirinellidefendeahiptesedequeoquesedeuno
pasdesdeoinciodosanos1960provmdeumaoutrabaciade
-
50
escoamentoededecantaohistricas1.Marcadaporumahist
riadeguerrasporquaseumsculo(de1870a1962),aFranapas
sarianosanos60porprofundastransformaesdeordempolti
ca,econmicaecultural.DeacordocomSirinelli,opasfoiarras
tadopelamutaomaisrpidadesuahistria,abrindocaminho
paraumafaseampla,decercadevinteanos,
emqueessamudanaprossegueeproduzseusefeitos
em profundidade, a tal ponto que se pode falar de
umaverdadeirametamorfosedopas,emsuamorfo
logia social, mas tambm nas regras e normas que
regemebalizamemseuseiooscomportamentosindi
viduaisecoletivos.2
Em1958,erainstitudanaFranaaVRepblica,assumindoa
presidnciaogeneralCharlesdeGaulle.Em1959,foicriadooMi
nistrio da Cultura, dirigido por Andr Malraux. A dcada de
1960marcaomomentoemqueosvaloreseasprticasculturais
sofrem uma reviravolta considervel3. Alguns fatores, como o
crescimentoeconmico,oimpulsodemogrfico,oprolongamen
todaescolaridadeeomododevidaurbanocontriburamparao
desenvolvimentodosetorculturaleparaaentradadopasnacul
turademassa.Duastendnciasforampercebidasnotadamente:o
desenvolvimentodeumaculturajovemeaascensodateleviso4.
Amparadapelachegadadageraobabyboomeradolescnciae
suaprogressivapresenanasociedadedeconsumo,essatransfor
maodopasbeneficiatambmaimprensacotidiananacionale
regional.Entre1959e1968,adifusototalpassade6,9milhesde
exemplaresparamaisde8milhes,naimprensaregional.Nana
cional,chegaa5milhesdeexemplares5.
-
51
Emmeioaessasvriasmudanas,ojornalistaZuenirVentu
rachegavaemParisemoutubrode1960,com29anos,paraestu
darnoCentredeformationdesjournalistes(cfj).Eleeojornalista
RobertoMuggiatiganharam,nomesmoano,bolsadeestudosdo
governo francs para a formao no Centro. No ano anterior, o
ganhadordabolsanoBrasilforaojornalistaLuisEdgardeAndra
de,queatuouemOCruzeiro,JornaldoBrasil,entreoutrosvecu
losdecomunicao.
Criadoem1946pelos jornalistasPhilippeViannaye Jacques
Richet(queatuaramemumgrupoderesistnciadurantea inva
sonazista),oCentredeformationdesjournalistesseinstalouem
1955na ruadoLouvre,onde funcionaathoje.Comoestabeleci
mentodeensino tcnicoeprofissional,oCentroera,naocasio,
uma das poucas escolas de jornalismo na Frana6. Considerada
referncia por seus compromissos de tica e dignidade, a escola
tinha a tradio de receber inscries de candidatos estrangeiros
devriaspartesdomundo.Noanoda seleodeZuenireMag
giati,foramrecebidas580inscries,sendo483daFrana,eores
tante,deentidadesprofissionaisedoestrangeiro,principalmente
de candidatos africanos. Os brasileiros tiveram como colegas de
cursoafricanosdoTogo,CostadoMarfim,CamareseAltoVol
ta,pasesquetinhampassadopelaconquistadeindependncia.
EmParis,elesacompanharamasdiscussespelomovimento
delibertaodaArgliadodomniofrancsetambmosatosvio
lentos perpetrados pela Organizao do Exrcito Secreto (oas).
ViramosimpactosdoManifestodos121,emqueintelectuais,es
critores e artistas (Jean-Paul Sartre, Simone de Beauvoir, Andr
Breton,MargueriteDuras,FranoisTruffaut,entreoutros)contes
tavam a poltica francesa e alertavam a opinio pblica sobre a
violnciacometidapelastropasfrancesasnaArglia.
-
52
O professor Bernard Voyenne foi um dos que ministraram
aulaparaaturma.OprogramadocursotinhaasmatriasLngua
francesaeredao,Informaonasociedadecontempornea,Es
tudosprticosdaimprensa,Histria,instituiesegeografiaeco
nmica.Nesseperodo,a instituioerapresididapelo jornalista
Raymond Manevy, que esteve frente da escola de 1950 a 1961.
Autor de livros sobre a histria da imprensa francesa, Manevy
morreuem1961.Assumiuo jornalistaXavierDuguet,presidente
dainstituiode1961a1973.
Na lista dos alunos estrangeiros que estudaram na escola,
publicadapelaAssociaodosEstudantes (LAssociationdesan
cienslvesducfj),almdeZuenireMuggiati,constamos jor
nalistas brasileiros Luiz Amaral, Lus Edgar deAndrade, Snia
ArajoeJosRangel.Adocumentaodaescolarelataodesem
penhodeZuenirnossemestreseasatividadesqueestavampro
gramadasparaas friasdePscoa.Zuenir tevecomo tarefauma
pesquisanaregiodeGrenobleeestgionojornalDauphinLi
br. Para Muggiati, a escola programou pesquisa na regio de
MontpelliereestgionojornalMidiLibre.
Durante o perodo na Frana, Zuenir enviou matrias e re
portagensparaojornalTribunadaImprensa,depropriedadedo
polticoCarlosLacerda.Comocorrespondentedojornal,ondeele
atuava antes da viagem, escreveu textos sobre poltica, esportes,
cultura e cotidiano da Frana nos anos 60. O primeiro recebeu
avisodoredatordeplantonaediodecapadodia25deoutu
bro de 1960: Zuenir Ventura, correspondente do seu jornal em
Paris, mandou o seu primeiro artigo. Leia, hoje, na pgina 6.
ComottuloAforanuclear,oartigoabordouadiscusso,no
Palcio Bourbon, do projeto do governo francs de execuo de
-
53
umprogramadedefesanacionalqueincluaoestudoeafabrica
odearmasatmicas.Zuenirnoticiavaque,nofosseogeneral
DeGaulleo inspiradordoprojeto,haveriapoucaspossibilidades
deaprovao,jqueamaioria,pormotivosdiversos,seriahostil
sconcepesdedefesadogoverno.Otextotambmapontouas
divergnciaseresistncias,almdesustentarque,
na verdade, o que o governo quer, com a aprovao
doprojetodedefesa,aplicarateoriadapersuaso,
que consiste no princpio de que para incio de con
versaopasdeveestar forte,pois sassimestar em
condies de persuadir um eventual inimigo que
queiraperturbaraordem.7
Emnovembro,Zuenirinformavaosleitores,noSegundoCa
derno, sobre o lanamento em Paris do filme Os bandeirantes,
dirigidopelocineastafrancsMarcelCamusecomaparticipao
noelencodasatrizesbrasileirasLourdesdeOliveiraeLeiaGarcia.
Porcontadosucessodepblico,nacidade,deOrfeuNegro,seu
filmeanterior,anovaproduoeraaguardadacominteressepela
crtica.SegundodescriodeZuenir,LourdeseLeia,vestidasdos
ps cabea por Dior e falando um francs que surpreendeu os
locutoresdaRdioeTelevisoFrancesa,foramamaioratraodo
coquetelqueosrealizadoresdofilmeofereceramimprensapari
siensenaCasadaAmricaLatinaparacomemorarolanamento.
AestreiaocorreunocinemaMarignan,comapresenademile
seiscentos convidados. Apesar de o filme ter sido recebido com
entusiasmo pela plateia, que durante a projeo o aplaudiu trs
vezes,Zuenirapontouasfragilidadesdaproduo:
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54
Nasada,trechosdamsica(principalmentedasbra
sileiras)realmenteamelhorcoisadofilmeeram
assoviadas e os comentrios elogiavam sobretudo o
aspectoexticoepitorescoasmsicas,ocostume,
ofolclore;que,noentanto,foitratadocomexageroe
impreciso,apontodedarumafalsaideiadoBrasile
de algumas regies que o compem e onde foram
tomadas vrias cenas, como Cear, Bahia, Braslia.
Alis,estapreocupaoquasequetursticadequerer
mostrar a terra, transforma o filme numa sequncia
animadadecartespostaisetransfereparaumsegun
doplanoodesenrolardatrama,jporsissemmuita
consistncia.8
Tambm na rea de cinema, Zuenir escreveu logo depois
sobreumaquestodanouvellevague 9,dizendoqueamaioriadas
vedetesnofrequentaraaulasdeescolasdramticas,mastinham
emcomumapassagempelasfotografiaseoramodapublicidade,
principalmente em anncios de marcas de sabonetes. Segundo
constataodeZuenir,
h dez anos que essa instituio, conhecida como
conservatrio do sabonete, vem fornecendo artistas
para o cinema e depois que isso aconteceu pela pri
meiravez,malamoa-propagandasaidabanheira e
ummetteurenscnejaconvidaparaocinema.10
Para comprovar a tese, citava na matria dados biogrficos
dasatrizesJulietteMayniel,MylneDemongeoteAlexandraSte
wart(comsuasfotospublicadasnapgina),almdeinformarque
aprocuradosrealizadoresdecinemaporesseperfilnochegoua
criarproblemasparaosfilmespublicitriosporqueantesdaba
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55
nheiraesvaziarumaoutramocinha j seapresentaparaalardear
asqualidadesdetalouqualsabonete.
RealizadanoMuseudeArteM