logica entre pergunta e resposta resumo

15
GRUPO PAIDÉIA FACULDADE DE EDUCAÇÃO UNICAMP Elaboração de Projetos de Pesquisa: Fundamentos lógicos. Texto de apoio (versão preliminar) Silvio Sánchez Gamboa Ante todo, hay que saber plantear los problemas. Y a pesar de lo que se diga, en la vida científica los problemas no se plantean por sí mismos. Precisamente este sentido del problema da el carácter del verdadero espíritu científico. Para el espíritu científico cualquier conocimiento es una respuesta a una pregunta. Si no ha habido pregunta no puede haber conocimiento científico. Nada se da, todo se construye” (BACHELARD,G. Epistemologia , Barcelona Anagrama , 1989: 189). Introdução Este texto tem uma pretensão didática e está dirigido a alunos interessados na elaboração de projetos de Iniciação Científica Os projetos de pesquisa se caracterizam por organizarem os procedimentos para conseguir a elaboração do diagnóstico exaustivo sobre um problema concreto, localizado no mundo da necessidade humana. O mundo da necessidade por ser complexo aberto e desafiante, exige procedimentos que exigem um rigor lógico. Esse rigor deve acompanhar os diversos passos que vão desde a localização do problema, sua transformação em questões e perguntas à elaboração das respostas para esses problemas. O diagnóstico sobre um problema se compõe de duas grandes fases ou momentos: a primeira se refere à identificação do problema e a segunda se refere à maneira como obtemos respostas para esse problema. Entre essas duas fases se estabelece uma relação dialética de mutua implicância e elucidação e obedece a uma unidade entre momento ou pólos contrários e a um movimento de afirmação, negação e negação da negação, traçando um caminho de ida e de volta, da pergunta (ponto de partida), à resposta (ponto de chegada) e desta, de novo, á pergunta. Primeira fase: o problema. Nesse momento, o projeto deverá explicitar os seguintes tópicos: a) localização da problemática concreta no mundo da necessidade (situação problema); b) identificação dos indicadores do problema ou a recuperação de dados preliminares ou antecedentes sobre o problema; c) elaboração de um quadro de questões que oriente a busca de respostas para esse problema; d) elaboração de uma pergunta-síntese que articule o quadro de questões. Segunda fase: A elaboração das respostas para esse problema. O projeto devera prever a forma de obtenção elaboração das respostas para esse problema. Essa forma de prever ou projetar a maneira da construção das respostas se conhece como “metodologia” do projeto e contêm os seguintes tópicos:

Upload: roberto-dacuna

Post on 11-Nov-2015

1 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Epistemilogía

TRANSCRIPT

  • GRUPO PAIDIA

    FACULDADE DE EDUCAO

    UNICAMP

    Elaborao de Projetos de Pesquisa: Fundamentos lgicos.

    Texto de apoio (verso preliminar)

    Silvio Snchez Gamboa

    Ante todo, hay que saber plantear los problemas. Y a pesar de lo que se diga,

    en la vida cientfica los problemas no se plantean por s mismos. Precisamente

    este sentido del problema da el carcter del verdadero espritu cientfico. Para

    el espritu cientfico cualquier conocimiento es una respuesta a una pregunta.

    Si no ha habido pregunta no puede haber conocimiento cientfico. Nada se da,

    todo se construye

    (BACHELARD,G. Epistemologia , Barcelona Anagrama , 1989: 189).

    Introduo

    Este texto tem uma pretenso didtica e est dirigido a alunos interessados na

    elaborao de projetos de Iniciao Cientfica

    Os projetos de pesquisa se caracterizam por organizarem os procedimentos para

    conseguir a elaborao do diagnstico exaustivo sobre um problema concreto, localizado no

    mundo da necessidade humana. O mundo da necessidade por ser complexo aberto e

    desafiante, exige procedimentos que exigem um rigor lgico. Esse rigor deve acompanhar os

    diversos passos que vo desde a localizao do problema, sua transformao em questes e

    perguntas elaborao das respostas para esses problemas.

    O diagnstico sobre um problema se compe de duas grandes fases ou momentos: a

    primeira se refere identificao do problema e a segunda se refere maneira como obtemos

    respostas para esse problema. Entre essas duas fases se estabelece uma relao dialtica de

    mutua implicncia e elucidao e obedece a uma unidade entre momento ou plos contrrios

    e a um movimento de afirmao, negao e negao da negao, traando um caminho de ida

    e de volta, da pergunta (ponto de partida), resposta (ponto de chegada) e desta, de novo,

    pergunta.

    Primeira fase: o problema. Nesse momento, o projeto dever explicitar os seguintes

    tpicos:

    a) localizao da problemtica concreta no mundo da necessidade (situao problema); b) identificao dos indicadores do problema ou a recuperao de dados preliminares ou

    antecedentes sobre o problema;

    c) elaborao de um quadro de questes que oriente a busca de respostas para esse problema; d) elaborao de uma pergunta-sntese que articule o quadro de questes.

    Segunda fase: A elaborao das respostas para esse problema. O projeto devera prever a

    forma de obteno elaborao das respostas para esse problema. Essa forma de prever ou

    projetar a maneira da construo das respostas se conhece como metodologia do projeto e contm os seguintes tpicos:

  • a) definio de fontes onde poderemos obter informaes para a elaborao das respostas pertinentes ao quadro de questes e pergunta-sntese;

    b) seleo de instrumentos, materiais, tcnicas para coletar, organizar e sistematizao das informaes necessrias construo das respostas;

    c) explicitao de hipteses (respostas esperadas) ou dos resultados esperados da pesquisa que podero orientar as diversas estratgias da organizao das respostas;

    e) definio de um quadro de referncias tericas que fornecem as categorias para analisar as respostas e interpretar os resultados. Esse quadro ajuda a localizar o projeto num campo

    epistemolgico especfico ou no contexto de uma rea do conhecimento.

    f) previso de condio para a realizao do projeto (indicadores da viabilidade tcnica do projeto..

    Entretanto o tratamento cientfico dos problemas exige a compreenso de conceitos

    relacionados com a especificidade desse conhecimento cientfico que tentaremos expor nesta

    comunicao, organizada nas seguintes partes: a) breve recuperao do contexto do

    surgimento da episteme (cincia), entendida como uma forma disciplinada de elaborar as respostas aos diversos problemas que desafiam ao conhecimento humano b) as exigncias do

    conhecimento cientfico e c) os projetos de pesquisa seu contedo e a sua forma.

    Esperamos que esta breve introduo metodologia da pesquisa possa contribuir para

    a compreenso da especificidade do conhecimento cientfico e para o aprimoramento do

    planejamento de projetos de Iniciao Cientfica.

    1. A necessidade histrica do conhecimento cientfico.

    Para entender a necessidade do conhecimento cientfico nas diversas atividades

    humanas nos remetemos a suas origens e a seus pressupostos histrico-filosficos.

    No contexto da sociedade da Grcia antiga localiza-se a necessidade de desenvolver

    formas mais precisas e rigorosas de obter respostas para as indagaes, as dvidas, os

    problemas, as questes e perguntas surgidas no mundo da necessidade prprio dessa sociedade.

    A episteme (ou cincia) surge num contexto de grandes mudanas econmicas, sociais

    e polticas. Com o fim da realeza, incio da aristocracia, surgem em conseqncia uma srie

    de desordens e conflitos.

    As questes bsicas que se discutiam eram:

    Como estabelecer uma nova organizao social diferente ordem e harmonia

    perdidas?

    Como preservar a unidade e a coeso se no existe o rei ou a monarquia?

    Como formar os cidados para a construo da nova sociedade?

    A resposta surge com a organizao da "Polis" embrio das atuais cidades, em

    substituio ao antigo "Demos" que se formava ao redor da realeza.

    Com a "Polis" na "gora" onde as transaes comerciais e as discusses sobre a vida

    da cidade acontecem e dirigem seus destinos; a resposta surge tambm com a instituio da

    democracia a todos os que tem direito cidadania.

    Na "polis" o que se verifica supremacia do logos ("palavra", "discurso" e "razo") e

    aquele que a domina tem o reconhecimento de estar com a verdade; e, como o logos o

    critrio para tudo, surge a criteriologia ou crtica s diversas formas de conhecimento como

  • uma das regras primordiais de sistematizar, normatizar e assegurar o conhecimento que

    propiciasse a transformao daquela realidade.

    Para tanto era necessrio criticar as formas de conhecimento predominantes na

    sociedade fundada na realeza. Essas formas de conhecimento so conhecidas como

    racionalidade mtica mythos e o senso comum doxa que ofereciam respostas s mltiplas indagaes colocadas pela sociedade. Nesse contexto, surgem os primeiros filsofos

    indagando sobre a possibilidade de obter respostas diferentes s oferecidas pelo mythos e a doxa. Eles procuravam novas formas para elaborar respostas que oferecessem um conhecimento mais confivel e vlido para a nova sociedade que se constitua. Sociedade que

    exigia a participao dos cidados e a construo de respostas validadas e no de respostas

    advindas de foras superiores, reveladas pelo mito e impostas pelo poder da realeza,

    abaixadas como verdades incontestadas ou um conhecimento alternativo oferecido pela

    opinio do homem comum (doxa) sem nenhuma sistematizao ou pretenso de verificao.

    Buscava-se um novo conhecimento para uma nova sociedade. A polis exigia algumas regras ou normas disciplinares que assegurassem a validade consensual para os

    cidados.

    A forma mtica do conhecimento tinha respostas para toda as questes formuladas,

    havia quase sempre uma historia povoada de deuses e foras do alm, que respondia s mais

    intrincadas questes elaboradas a partir da necessidade de desvelar os mistrios do mundo e

    do prprio homem.

    Com o surgimento dos primeiros filsofos para os quais a resposta para todas as

    questes relativas a um fato ou fenmeno no est nos mitos, nem nas foras superiores,

    situadas para alm dos fenmenos, cabe, ento outras alternativas, como as oferecidas pela

    observao direta e cotidiana dos fenmenos e pela confiana nos sentidos (empeiria). Coloca-se como a alternativa o conhecimento comum (doxa). Mas essas respostas tambm so insuficientes, mas indicam novos caminhos para a busca de respostas mais confiveis e

    vlidas. Surge assim a necessidade de disciplinar essa busca, elaborando algumas regras

    iniciais para a nova forma de conhecimento denominado de episteme.(conhecimento cientfico).

    Essas regras iniciais oferecidas pelos primeiros filsofos, nos ajudam a compreender

    as bases do conhecimento cientfico moderno e contemporneo.

    2. Especificidade do conhecimento cientfico

    Se considerarmos a tese geral de que todas as perguntas tm respostas, cabe perguntar,

    se todas as respostas tm um mesmo grau de veracidade ou validade. A razo mtica

    (religies) oferece resposta para todas as indagaes e os mistrios. Assim, as religies

    oferecem, s pena de perderem seguidores, respostas, ou mesmo explicaes para todos os

    fenmenos, atribuindo a foras ou entidades que se colocam alm dos mesmos, a capacidade

    explicativa ou a revelao das respostas verdadeiras, exigindo do indagador apenas a crena

    nessas verdades ou nas verses oferecidas pela autoridade ou a tradio religiosa ou mtica. J

    o senso comum oferece sua opinio ou seu palpite sobre qualquer indagao ou mistrio, sem propiciar nenhuma prova ou verificao, permitindo do indagador sua credibilidade ou

    no, ou sua adeso movida pela lgica do bom senso. Consideramos que essas respostas so oferecidas ou elaboradas sem a preocupao com critrios ou regras. Nesse sentido so

    respostas no disciplinadas.

  • A proposta dos primeiros filsofos gregos pautada pela disciplinaridade na

    elaborao das respostas. A Sofia (sabedoria) como a episteme (cincia) buscam oferecer respostas disciplinadas.

    A disciplina comea no contexto do problema e na forma concreta de elaborar as

    perguntas. Essas condies dizem referncia a um sujeito concreto (motivado pelo mundo da

    necessidade) que indaga sobre um objeto determinado, tambm concreto.

    Quem indaga sobre o qu, quais as circunstncias, as condies, qual o contexto da

    problemtica onde se situa o indagador, quais suas motivaes, seus interesses sobre esse

    objeto ou fenmeno.

    Uma vez definido esses contexto problemtico onde surgem as indagaes e as

    perguntas passvel elaborar respostas claras e concretas.

    Sem essas condies de clareza e especificidade impossvel obter respostas. No

    podemos obter respostas claras a partir de perguntas confusas, dispersas ou imprecisas.

    Com base nessas condies de podemos obter repostas disciplinadas, de acordo com

    os seguintes critrios ou regras de jogo: critrios com relao ao objeto ou fenmeno, ao

    sujeito, relao entre o sujeito e o objeto (mtodo), s limitaes das respostas (historicidade

    do conhecimento) e critrios de compreenso dos elementos e os processos num todo

    orgnico numa lgica construda.

    2.1. A primeira regra do conhecimento cientfico consiste em buscar as respostas dos

    fenmenos nos prprios fenmenos.

    As respostas sobre a natureza, os fenmenos humanos, sociais, polticos e ticos esto

    na prpria natureza fsica ou humana. Para obter essas respostas preciso observar cuidadosa

    e sistematicamente os objetos que indagamos.

    Por exemplo, se pretendemos conhecer a fonte comum da qual surgiram os diversos

    objetos da natureza devemos procurar resposta na prpria natureza. Assim diversas pesquisas

    oferecem hipteses ou respostas provisrias sobre a matria prima que comum a todas as coisas, ou sobre as diversas formas que adquire uma mesma natureza. Esses primeiros

    pesquisadores filsofos preocuparam-se em desvendar o que a "physis" ou natureza? e qual

    o seu princpio nico ou "arkhe"?

    Para os representantes da Escola de Mileto que atuou at 459 a.C e que teve como

    principais representantes: Tales de Mileto, Anaximandro, Anaximenes e Herclito, esse

    principio nico era respectivamente a gua, o "ilimitado", o ar e o fogo. Para Pitgoras de

    Crotona esse princpio no estava numa matria especfica como a gua, a terra o ar ou fogo.,

    mas na forma que as diversas matrias adquirem, isto , nas figuras, nas dimenses e

    quantidades, representadas pelo nmero.

    O conhecimento epistmico ou cientfico tem uma segunda regra na busca das

    respostas, alm de procurar as repostas no prprio objeto ou fenmeno.

    2.2. Essa segunda regra faz referncia ao papel do sujeito e s capacidades, habilidades

    que o sujeito utiliza para buscar a s respostas.

    De acordo com os primeiros filsofos o sujeito deve deixar de lado a fantasia e as

    crenas impostas pelas autoridades e confiar na capacidade de seus sentidos (empeiria), de tal

    maneira que a relao com os fenmenos ou objeto deve ser feita atravs da sensibilidade.

    Deve-se utilizar todos os sentidos para obter respostas. Olhar, ouvir, tatear, cheirar, degustar

  • com cuidado, ateno, demoradamente, de forma sistemtica para obter informaes vlidas

    para elaborar respostas s perguntas sobre os diversos fenmenos. Essa sensibilidade desde

    os primrdios da episteme vem sendo ajudada pela tecnologia. A tecnologia vem se

    desenvolvendo sob o princpio de ampliar e aguar a sensibilidade humana. Isto , a

    tecnologia, alarga as capacidades da percepo humana: por exemplo ver mais longe, de

    forma mais fina, mais concentrada, ultrapassando limites, obstculos e barreiras como a falta

    de iluminao, (telescpios, microscpios, raios -X, aparelhos de luz infravermelha, micro-

    cmaras . Escutar melhor com as tecnologias como radares, sonares, ultra-som. Sentir melhor

    atravs de sensores, ressonncia magntica etc. Outras tecnologias, ajudam memria e na

    organizao de dados e de informaes como o moderno computador. Mas todas essas

    tecnologia, no tem sentido se por trs dela no esta a sensibilidade atenta do pesquisador

    que interpreta os sinais, os registros e as informaes.

    2.3. O terceiro princpio da episteme se refere relao concreta de um sujeito e um

    objeto do conhecimento. Essa relao estabelecida pelo metodo, que significa caminho .

    O primeiro mtodo cientfico registrado na episteme grega, foi o mtodo geomtrico.

    Que consiste em definir um ponto de partida e um ponto de chegada para poder traar um

    caminho. Entretanto o mtodo geomtrico diferencia-se de qual outro caminho porque este,

    exige, alm do ponto de partida e de chegada, a volta ao ponto de partida. Deve conseguir ir e

    voltar. Deve fazer o caminho de volta. Isto , no se perder. Nesse processo, necessrio ir

    articulando os passos de tal maneira que possamos voltar pelo mesmo caminho. Na medida

    em que o caminho ascende do particular para o geral, por exemplo, de essa forma, deve traar

    o caminho da decida. Do geral para o particular. O mtodo cientfico deve cuidar que os

    passos , sejam articulados de tal maneira que exista uma coerncia lgica nos processos e

    permita, verificar o caminho quantas vezes seja preciso. O mtodo deve garantir a

    possibilidade de conferir, reconstituir, repassar, refazer, voltar sobre a experincia , validar e

    revalidar

    Mas, os mtodos, dependem de como o sujeito aborda o objeto. Entendendo o

    conhecimento como resultante da relao de um sujeito que quer conhecer e um objeto a ser

    conhecido; a maneira como este sujeito aproxima-se do objeto para produzir o conhecimento

    se d diferentemente e esta abordagem ir depender de sua formao cultural que determinou

    a sua viso de mundo. Essas vises de mundo tentam articular todos os elementos que

    compem uma realidade ou fenmeno e influenciam os tipos de abordagens, denominadas de

    terico-metodolgicas.

    O mtodo o caminho para o conhecimento, considera os passos percorridos para

    conseguir as respostas, integra a descrio das fontes, dos instrumentos e tcnicas para coleta,

    organizao e tratamento de informaes, ainda descreve a formas das anlises realizadas

    sobre os dados e informao visando a construo das respostas.

    Diferentes concepes de realidade determinam diferentes mtodos. Os diversos

    mtodos podem ser agrupados em formas de abordar (abordagens) os problemas ou de colocar

    os pontos de partida.

    Algumas das abordagens mais conhecidas so:

    A cincia moderna que trabalha com uma diversidade muito grande de mtodos pode

    ser organizada em vrias abordagens terico-metodolgicas.

  • Por exemplo Habermas no livro Conhecimento e interesse (1982) considera trs

    grandes abordagens da cincia moderna. Segundo ele, de acordo com a aproximao do

    sujeito em relao ao objeto esta pode ser classificada em trs tipos:

    Abordagem emprico-analtica

    Esta abordagem caractersticas dos que apresentam uma viso idealista do mundo

    onde o conhecimento acontece tendo como pressuposto um objeto dado (a priori) que est ai para ser percebido e conhecido inserido numa realidade esttica que tem suas prprias leis cabendo ao homem apenas descobri-las (adequatio intellectus ad rei) e explic-las.

    O Processo de construo do conhecimento na abordagem emprico-analtica implica

    a viso de uma realidade que pode ser recortada em partes cada vez menores e isolar essas partes e para representar esse processo utiliza um discurso hipottico-dedutivo pois parte do

    todo para as partes. Do geral para o particular. Esse modelo exige, para ser objetivo, o

    afastamento ou desidentificao do sujeito em relao ao objeto ou fenmeno estudado.

    Abordagem fenomenolgica

    Considera-se esta abordagem tambm dos que apresentam uma viso idealista de

    mundo. Para este tipo de abordagem o conhecimento no est centralizado no objeto e sim no

    sujeito (a priori), a verdade relativa a cada sujeito que, em relao com o objeto (adequatio

    res ad intecllectu), interpreta-o e explica-o ao seu modo. O processo de construo do

    conhecimento na abordagem fenomenolgica um processo indutivo pois vai das partes para

    o todo. Diferentemente da abordagem empirico-analitica a abordagem fenomenolgica exige

    a aproximao e a identificao do sujeito em relao ao objeto ao fenmeno estudado.

    Abordagem dialtica

    A abordagem dialtica caracterstica dos que apresentam uma viso materialista de

    mundo; nela o conhecimento construdo por uma relao dialtica entre sujeito objeto os

    quais esto dentro de um contexto de realidade histrica (cultura). No uma simples

    adequao e uma descoberta, mas, uma construo de algo novo que modifica ambos durante

    o processo.

    O processo de construo do conhecimento nesta abordagem conforme o nome indica,

    um processo dialtico que vai primeiramente do todo para as partes e depois das partes para

    o todo realizando a sntese e relacionando-o ao contexto. Na abordagem dialtica necessrio

    uma relao, ora de aproximao e ora de afastamento. Ora com predomnio do subjetivo, ora

    do objetivo.

    Na poca contempornea, Habermas (1982) desenvolve estudos que relacionam a

    pesquisa cientfica com essas vises de mundo. Em todo trabalho cientfico, o pesquisador

    est orientado por interesse relacionados com as vises de mundo e com as pretenses que os

    pesquisadores tem com relao ao objeto ou fenmeno que estudos. Assim, ele aponta trs

    grandes interesses que orientam o trabalho de conhecimento da realidade. Interesses que

    explicitaremos a seguir.

    Interesses que orientam os processos de elaborao do conhecimento

    O que motiva o sujeito a procurar conhecer um objeto, um fenmeno ou um fato?

    Quais os interesses que existem por trs deste processo de busca pelo conhecimento?,

    Conforme vimos anteriormente Habermas em seu trabalho relativo aos interesses que

    motivavam as pesquisa ou a produo do conhecimento nos Estados Unidos da Amrica

    classificou estes interesses, para instrumentaizar seu trabalho em trs tipos, de acordo com a

    forma de abordagem do sujeito em relao ao objeto que so respectivamente o interesse

    tcnico de controle, o interesse dialgico de consenso e o interesse crtico emancipador os

  • quais respectivamente so utilizados para garantir o controle; para aprimorar a comunicao e

    interagir ou para transformar e emancipar.

    A tabela abaixo apresenta os enfoques bsicos da pesquisa de acordo com Habermas;

    emprico analtico, histrico hermenutico e crtico dialtico; para ele esses enfoques

    correspondem aos trs tipos de interesses humanos que orientam a produo do conhecimento

    cientifico: o tcnico de controle, o dialgico de consenso e o crtico emancipador;

    Tabela 1 Relao entre tipos de abordagens metodolgicas; interesse que motivam a pesquisa

    e Dimenses fundamentais da vida humana

    Enfoque Interesse Conjunto lgico

    Emprico analtico Tcnico de controle Trabalho/tcnica/informao

    Histrico hermenutico Dialgico, consensual Linguagem/consenso/interpretao

    Crtico dialtico Crtico, emancipador Poder/emancipao/critica

    A estes trs enfoques relatados anteriormente correspondem ainda trs conjuntos

    lgicos;

    o conjunto trabalho/tcnica/informao est subjacente o enfoque emprico - analtico: o

    conjunto linguagem/consenso/interpretao est subjacente ao enfoque histrico-

    hermenutico e o conjunto poder/emancipao/critica est subjacente ao dialtico ou crtico

    emancipador.

    Esta classificao apresentada por Habermas se fundamenta na proposio que

    apresenta o pensamento humano como inseparvel das trs dimenses fundamentais da vida

    humana; o trabalho, a linguagem e o poder, as quais se relacionam com os trs tipos de

    interesses humanos; o tcnico de controle, o prtico de consenso e o crtico emancipador.

    Quando o interesse tcnico e de controle que motiva a pesquisa, esta se planeja para

    propiciar informaes que permitam manipular e controlar os objetos investigados, atravs de

    processos tambm controlados e objetivados.

    Quando o interesse prtico de consenso motiva a investigao se projeta para o auxlio

    da interpretao e a interao dos sujeitos, quer dizer, para revelar as formas de comunicao

    e interao, para compreender a inter-subjetividade em relao a possveis significados das

    aes ,os discursos, os gestos, os ritos, os textos, etc. para propiciar normas e atuao entre os

    homens e os grupos humanos.

    Quando o interesse crtico emancipador orienta a pesquisa, a atividade intelectual

    reflexiva se organiza para desenvolver a crtica e alimentar a prxis (reflexo-ao) que

    transforma o real e libera o sujeito dos diferentes condicionantes.

    Estes interesses bsicos da pesquisa se apresentam igualmente nos diferentes enfoques

    cientficos ou tendncias epistemolgicas da pesquisa social e educativa.

    O enfoque emprico analtico tem sua origem e seu desenvolvimento mais

    significativo nas cincias naturais e exatas e utiliza tcnicas predominantemente quantitativas.

  • Estas tcnicas garantem a objetividade dos dados, de origem emprica. Os procedimentos

    utilizados delimitam o objeto como totalidade factual, atravs de tcnicas de laboratrio,

    desenhos experimentais, instrumentos de observao e de registro, se isola, disseca e congela.

    Uma vez delimitado o objeto como um todo emprico, isolado e dissecado, este sofre

    uma diviso em suas partes ou variveis (processo analtico). Busca-se o maior nmero de

    informaes possveis, o controle rigoroso das variveis atravs de formalizaes

    matemticas, se identificam as causas e efeitos, se medem as inter-relaes entre suas partes

    constitutivas, se organizam e se cruzam informaes de tal forma que permita manipular

    melhor o objeto; quer dizer, buscam-se as melhores condies possveis para conseguir um

    mximo de manipulao e controle sobre o objeto ou fenmeno, dividindo-o

    progressivamente em partes menores ( maior nmero de variveis). O controle ser mais

    efetivo dependendo do grau de sofisticao que ofeream as tcnicas ou instrumentos.

    Certamente, o interesse que orienta esses processos o tcnico de controle.

    O enfoque histrico hermenutico, mais utilizado nas cincias humanas e sociais,

    concebe o real como fenmenos "contextualizados", preocupa-se com a capacidade humana

    de produzir smbolos para comunicar significados; por isto o processo cognitivo se realiza por

    meio de mtodos interpretativos. Os fenmenos no so isolados ou analisados, so

    compreendidos atravs de um processo de recuperao de contextos e significados.

    Outra suposio bsica deste tipo de interpretao consiste no predomnio de

    elementos subjetivos prprios da interpretao. O eixo central do conhecimento no est no

    objeto e sim no sujeito que interpreta, que conhece, que lhe d sentido ao mundo e aos

    fenmenos. O critrio de verdade no reside na pretendida objetividade ( ser fiel ao objeto), a

    verdade resultado do consenso inter-subjetivo da comunidade cientfica. Seu carter relativo

    ( verdade para este grupo) se faz ainda mais relativo quando o consenso ocorre em um

    determinado momento, em um contexto ou em um cenrio histrico especfico( verdade em

    um determinado grupo em determinado momento; em outro momento ou contexto outra

    verdade, outro o significado),razo pela qual este enfoque se denomina tambm historicismo,

    ou histrico-hermenutico. o interesse que comanda este processo cognitivo o prtico de

    consenso.

    O enfoque crtico dialtico trata de apreender o fenmeno em seu trajeto histrico e

    em suas inter-relaes com outros fenmenos. Busca compreender os processos de

    transformao, suas contradies e suas potencialidades. Para este enfoque o homem conhece

    para transformar e o conhecimento tem sentido quando revela as alienaes, as opresses e as

    misrias da atual fase de desenvolvimento da humanidade; questiona criticamente os

    determinantes econmicos, sociais e histricos e da potencialidade da ao transformadora. O

    conhecimento crtico do mundo e da sociedade e a compreenso de sua dinmica

    transformadora propiciam aes(prxis) emancipadoras.

    A prxis, elevada categoria epistemolgica fundamental se transforma em critrio de

    verdade e de validade cientfica. a prxis significa reflexo e ao sobre uma realidade

    buscando sua transformao; transformao orientada para a consecuo de maiores nveis de

    liberdade do indivduo e da humanidade em seu trajeto histrico ( interesse crtico)

    2.4. A quarta regra da episteme a crtica permanente dos resultados. A crtica do

    conhecimento.

    Algumas expresses so indicadores dessa preocupao com a crtica permanente:

    Duvido logo existo (duvido ergo sum (Santo Agostinho)

    A dvida metdica que precede o pensamento (cogito ergo sum (Descartes)

    Verificao, comprovao, falsao (Popper)

  • Vigilncia epistemolgica (Bachelard)

    Conhecimento do conhecimento (Morin)

    A cincia moderna exerce uma crtica interna: confrontando, os procedimentos, os resultados

    e critrios de aceitao.

    Entretanto parece que a crticas externa, oriunda de outras esferas do conhecimento,

    influenciam, em forma decisiva, nas grandes avanos do conhecimento cientfico. O mesmo

    senso comum indaga sobre os benefcios da cincia, sobre sua utilizao contra a vida no

    mundo e a sobrevivncia do Gnero humano A cincia tambm indagada sobre seus

    pressupostos, seus fundamentos e suas implicaes sociais e ticas (a filosofia, a

    epistemologia e as teorias do conhecimento)

    2.5. A quinta regra refere-se necessidade de articular o processo do conhecimento

    numa teoria o uma viso de totalidade.

    Pesquisas feitas pelos primeiros cientistas indagaram sobre a existncia de uma ordem

    comum e nica que organiza todos os elementos da realidade (teoria) pretendia-se saber se

    todas as formas, dimenses e movimentos obedecem a uma lei que equilibra todos os objetos

    localizados no universo. Depois de muitas observaes e registros, Parmnides obtm

    algumas respostas. Segundo ele, s o ser existe; o ser imvel e imutvel o principio nico

    da natureza, onde todos os objetos se localizam harmonicamente. Com Parmnides temos o

    incio da metafsica que concebe o mundo como um todo articulado por essncias imateriais e

    imveis. A aparente mobilidade dos elementos, regulada pelas leis da esttica. Parmnides

    afirma " que o Ser e, o No-Ser, no . O Ser no est em devir, o ser no se move. O Ser

    imvel. Conseqentemente se o Ser imvel, imutvel, sempre idntico a s mesmo e, por

    conseguinte, a multiplicidade de seres irreal e ilusria. O ser Imutvel idntico a s mesmo,

    o Ser uno." ( CHAU, 1994: 75)

    Para ilustrar a teoria de Parmnides seu discpulo Zeno apresenta seus "paradoxos"

    onde procura demonstrar e relatividade do movimento por meio de exemplos como o do

    movimento de uma flecha em direo a seu alvo, onde tenta demonstrar que o movimento no

    existe e sim uma sucesso de momentos em sua trajetria at atingir o alvo.

    Entretanto outro filsofo encontra respostas diferentes. o caso Herclito. De acordo

    com Herclito (540-580 a.C.), tudo tem uma unidade, mas polarizada por contrrios. O

    principio da natureza o movimento. Na sua viso o mundo um eterno fluir, como um rio e

    a vida um eterno vir a ser. Em um de seus mais famosos fragmentos, afirma: "Nos mesmos

    rios entramos e no entramos, somos e no somos", ou seja, " No podemos entrar duas vezes

    no mesmo rio porque suas guas no so as mesmas e ns no somos os mesmos". "A vida

    se transforma em morte, a morte em vida; o mido , se seca; o seco, umedece; a noite se torna

    dia, o dia se torna noite; a viglia cede ao sono, o sono cede viglia; o jovem se torna velho,

    o velho se faz criana. O mundo um perptuo renascer e morrer, rejuvenescer e envelhecer.

    Nada permanece idntico a si mesmo." ( CHAUI, Marilena. 1994: 67)

    Surgem assim duas perspectivas ou vises de mundo opostas. A viso esttica de um

    mundo regulado por leis fixas contidas nos fenmenos. E outra viso que concebe o mundo

    em processo de transformao permanente.

    Vemos assim que se confrontam duas grandes vises de mundo:

    A viso idealista de Parmnides que considera o mundo esttico; com uma lei a que

    estamos presos onde o ser humano igual em todo o processo histrico e onde tudo est

    dentro de uma caixa preta pronto para ser conhecido. A viso idealista originou as concepes

    fixistas nas quais predominam as leis da esttica onde qualquer elemento tende ao repouso.

  • A viso materialista de Herclito, para o qual o mundo dinmico e catico no

    existindo uma lei previa qual o ser humano estaria preso, este tem condies de modificar-se

    com a histria.

    A viso materialista originou concepes dinmicas, com predomnio da dialtica

    onde qualquer elemento tende ao movimento.

    Desde esses primrdios da cincia , aparece a necessidade de amparar e articular os

    resultados do conhecimento numa teoria que organiza as respostas obtidas a partir das

    indagaes sobre a realidade. Essas teorias no so neutras. Todas elas implicam numa viso

    de mundo.

    3. O PROJETO DE PESQUISA CIENTFICA

    Os projetos de pesquisa se caracterizam por organizarem os procedimentos para conseguir a elaborao de um diagnstico exaustivo sobre um problema concreto, localizado no mundo da necessidade humana. O mundo da necessidade por ser complexo aberto e desafiante, exige procedimentos que exigem um rigor lgico. Esse rigor deve acompanhar os diversos passos que vo desde a localizao do problema, sua transformao em questes e perguntas elaborao das respostas para esses problemas.

    O diagnstico sobre um problema se compe de duas grandes fases ou momentos: a primeira se refere identificao do problema e a segunda se refere maneira como obtemos respostas para esse problema. Entre essas duas fases se estabelece uma relao dialtica de mutua implicncia e elucidao e obedece a uma unidade entre momentos ou plos contrrios e a um movimento de afirmao, negao e negao da negao, traando um caminho de ida e de volta, da pergunta (ponto de partida), resposta (ponto de chegada) e desta, de novo, pergunta.

    Primeira fase: o problema. Nesse momento, o projeto dever explicitar os seguintes tpicos: g) localizao da problemtica concreta no mundo da necessidade (situao problema); h) identificao dos indicadores do problema ou a recuperao de dados preliminares ou

    antecedentes sobre o problema (levantamentos e reviso de literatura); i) elaborao de um quadro de questes que oriente a busca de respostas para esse

    problema; j) elaborao de uma pergunta-sntese que articule o quadro de questes. Segunda fase: A elaborao das respostas para esse problema. O projeto devera prever a forma de obteno das respostas para esse problema. Essa forma de prever ou projetar a maneira da construo das respostas se conhece como metodologia do projeto e contm os seguintes tpicos: d) definio de fontes onde poderemos obter informaes para a elaborao das respostas

    pertinentes ao quadro de questes e pergunta-sntese; e) seleo de instrumentos, materiais, tcnicas para coletar, organizar e sistematizao das

    informaes necessrias construo das respostas; f) explicitao de hipteses (respostas esperadas) ou dos resultados esperados da

    pesquisa que podero orientar as diversas estratgias da organizao das respostas; k) definio de um quadro de referncias tericas que fornecem as categorias para analisar

    as respostas e interpretar os resultados. Esse quadro ajuda a localizar o projeto num campo epistemolgico especfico ou no contexto de uma rea do conhecimento.

    l) previso de condio para a realizao do projeto (indicadores da viabilidade tcnica do projeto)

  • Fases

    1. Pergunta

    2. Resposta

    1. Projeto de pesquisa

    (nfase na pergunta)

    Problema: a) Situao problema (espao, tempo e movimento), b)

    Indicadores, c) antecedentes, estudos

    preliminares, d) questes norteadoras,

    e) Pergunta sntese.

    objetivos

    Justificativa

    Metodologia. previso de: a) fontes, b) instrumentos, c) tcnicas, d)

    organizao e sistematizao de

    resultados, e) hipteses.

    Referencial terico: Definio de

    termos-chave, categorias de anlise,

    Referncias para a discusso e

    interpretao de resultados

    2. Relatrio, TTC,

    Monografia

    (nfase na resposta)

    Introduo (atualizao do projeto):

    justificativa,

    problema, pergunta,objetivo e

    metodologia: (como foi realizada a

    pesquisa)

    Captulos (elaborao da resposta) Apresentao e organizao das

    respostas,

    Discusso de resultados Interpretao das respostas

    Concluses e recomendaes

    A investigao ou pesquisa um processo metdico que eqivale a buscar algo a partir de vestgios ou de pistas. uma forma de elaborar respostas rigorosas e sistemticas para as indagaes sobre a realidade .

    As duas partes da pesquisa, as relacionadas com a elaborao da pergunta e a elaborao da

    resposta devem ser explicitas nos projetos: A primeira parte do projeto deve apresentar a

    articulao entre o mundo da necessidade, o problema, seus indicadores, as questes e a

    pergunta e, a segunda, relativa a previso das formas da elaborao da resposta deve explicitar

    a metodologia (fontes, instrumentos, procedimentros) e sinalizar o campo o horizonte

    disciplinar ou interdisciplinar desde se pretende analisar discutir e interpretar os resultados.

    3.1 . As necessidades concretas, os problemas, as questes e as perguntas

    Toda pesquisa surge no mundo concreto da necessidade e esta se transforma em uma situao problema (problematizao). Pesquisamos quando surge a suspeita, a dvida, o conflito, a crise, a indagao,. Para que a pesquisa se torne um processo concreto, precisamos localizar o campo problemtico, considerando as dimenses de espao, tempo e movimento. Essa primeira fase, denominada de situao problema. Sobre essa situao concreta elaboramos um primeiro levantamento para identificar os indicadores ou sintomas do problema (contexto emprico). Essa busca pode ser acompanhada de uma reviso bibliogrfica sobre o problema em questo, ou sobre pesquisas que tenham abordado a mesma problemtica para identificar nessa reviso de literatura registros e antecedentes sobre o problema (contexto terico).

    Contexto emprico do problema (situao problema)

    Indicadores do problema, sintomas,

    manifestaes. primeiros levantamentos,

    registros, ndices, casos significativos,

    exemplos

    SITUAO PROBLEMA

    Espao (descrio do lugar, instituio, contexto social

    onde se situa a necessidade e o problema a ser estudado)

    Tempo (perodo ou durao do problema, atual ou

    enraizado no passado)

    Movimento: formas de manifestao, expresso e

    ocultamento do problema, aparncias, e revelaes

    Contexto terico do problema (Saberes acumulados, antecedentes registrados)

    ANTECEDENTES (Reviso de literatura)

    Estudos anteriores sobre a mesma problemtica

    Uma vez localizado o problema num contexto especfico e identificado seus indicadores, necessrio traduzir essa problemtica em um corpo de indagaes na forma

  • de frases interrogativas. Essas indagaes, no incio, podem ser diversas, considerando diversos pontos de vista e diferentes dimenses do problema (econmica, social, poltica, cultural, educacional, psicolgica, pedaggica, administrativa, etc). As indagaes mltiplas sero qualificadas, selecionando as mais significativas, as melhor elaboradas, as que articulam outras indagaes. Essas indagaes selecionadas se transformam nas questes que vo orientar as buscas e o processo de elaborao das respostas.

    MUNDO DA NECESSIDADE, SITUAO PROBLEMA

    DVIDAS, SUSPEITAS, CURIOSIDADES, INDAGAES MLTIPLAS (diversas indagaes, mltiplos olhares) SOBRE O PROBLEMA CONCRETO (SITUADO, DATADO E SE MANIFESTANDO)

    QUESTES NORTEADORAS DA PESQUISA (quadro de questes)

    PERGUNTA SNTESE (Questo bsica)

    Um erro muito comum nos projetos de pesquisa consiste em juntar muitas questes desconexas ou referidas de forma desarticulada as vrias dimenses do problema. Para solucionar essa dificuldade, recomenda-se que as questes sejam articuladas em torno de uma pergunta sntese ou de uma questo bsica.

    SITUAO

    PROBLEMA

    MULTIPLAS

    INDAGAES

    QUADRO DE

    QUESTES:

    QUESTO 1

    QUESTO 2

    QUESTO 3

    QUESTO 4

    QUESTO 5.....6......7....

    PERGUNTA SNTESE

    OU QUESTO BSICA

    Uma vez elaborada a pergunta-sntes ou questo bsica que deve conduzir a pesquisa, o projeto deve prever, os processos da elaborao da resposta. O projeto tem um item denominado metodologia que aponta para a elaborao da resposta a essa pergunta.

    3. 2. A metodologia : fontes, instrumentos, procedimentos, hipteses.

    A metodologia, no projeto se refere s fontes onde poderemos obter informaes para elaborar a resposta. As fontes referem-se tambm s tentativas de localizar a resposta perguntando-se: "Onde poderia ter respostas a estas perguntas?". A metodologia tambm dever considerar os instrumentos e tcnicas para coletar e organizar as informaes e as formas de anlise dessas informaes.

  • Metodologia nos projetos

    Previso de: a) fontes: bibliogrficas, documentares, vivas, observao direta ou participante, experimentais,

    modelos (iconogrficos, ciberespaciais, metafricos).

    b) instrumentos de coleta de informaes e dados: fichas, questionrios, entrevistas, dirios de campo,

    gravador, vdeo, tabelas de registro, materiais e instrumentos equipamentos, protocolos, de quadro de

    medidas e parmetros, modelos informatizados.

    c) tcnicas de tratamentos de dados e informaes: quantitativas (estatsticas, computacionais)

    qualitativas (anlise de contedo, interpretao e anlise do discurso)

    d) organizao e sistematizao de resultados. Esquemas, tabelas, ndices frmulas, teoremas,

    proposies silogismos, argumentaes.

    e) hipteses (respostas parciais provisrias que orientam a coleta e a organizao de resultados).

    Junto com a metodologia o projeto deve indicar as categorias de analise e as maneiras de interpretar os resultados luz de referenciais tericos.

    Referencial terico definio de :

    a) campo disciplinar ou interdisciplinar : rea de conhecimento (classificao do CNPq) b) definio de palavras-chave (definio de termos bsicos, ttulo)

    c) Categorias de anlise (conceitos que identificam o fenmeno, objeto, evento, fato e as partes que o constituem,

    constructos e definio de variveis)

    d) Articulao de categorias (quadro de categorias, Sistemas de referncias, campo conceptual)

    e) apropriao e/ou elaborao de teorias, referncias para discutir resultados

    f) Paradigma epistemolgico. Horizonte amplo da interpretao da resposta

    apresentao dos PROJETOS DE PESQUISA

    A apresentao dos projetos de pesquisa deve conter as seguintes partes bsicas

    a) problema e questes

    b) metodologia para elaborar as respostas a essas questes, entretanto a forma de apresentar um projeto de pesquisa exige a explicitao de outros requisitos que apresentamos a seguir.

    g) justificativa do projeto; h) objetivos gerais e especficos; i) fontes, onde poderemos obter informaes para a elaborao das respostas para a

    pergunta, ou quadro de questes proposto; j) instrumentos, materiais, tcnicas para coletar, organizar e sistematizar as informaes

    necessrias para a elaborao das respostas; m) quadro de referncias tericas que fornecem as categorias para analisar as respostas e

    interpretar os resultados. Esse quadro ajuda a localizar o projeto no contexto de uma rea do conhecimento cientfico.

    n) indicadores da viabilidade tcnica do projeto e o) hipteses (respostas esperadas), ou resultados esperados da pesquisa.

    O projeto deve considerar tambm a viabilidade tcnica da pesquisa, os impactos e resultados

    esperados ou as hipteses de trabalho que orientam a busca de informaes para elaborar as

    respostas. As hipteses so consideradas como respostas parciais ou provisrias que orientam

    a pesquisa e que uma vez confirmadas, se transformam nas respostas buscadas ou a tese a ser

    confirmada.

  • Dentre os anexos necessrios esto o cronograma que define quando desenvolver cada etapa da pesquisa, os modelos de instrumentos e os levantamentos prvios que apresentam uma maior aproximao ao problema concreto e justificam a pesquisa

    A seguir podemos ver um exemplo de apresentao de projetos

    Forma (mtodo de exposio) Apresentao do projeto

    Considerar critrios de rigor do trabalho cientfico (normas tcnicas, IBNT)

    CAPA (AUTOR, TTULO, LOCAL E DATA) FOLHA DE ROSTO (AUTOR. TTULO. Instituio, rea, orientao. Local e data). SUMRIO E NDICES (siglas, tabelas, figuras, quadros, anexos) RESUMOS INTRODUO: justificativa do estudo, objetivo geral, apresentao das partes do projeto. PROBLEMA: situao problema (espao, tempo, movimento), antecedentes (reviso bibliogrfica) , indicadores (estudos preliminares) questes norteadoras, questo principal ou pergunta-sntese.

    OBJETIVOS: geral e especficos (relativos ao diagnstico de um problema, fenmeno, ou objeto). Utilizar verbos ativos: caracterizar, descrever, analisar, compreender, diagnosticar, medir,

    dimensionar, tipificar, classificar, comparar, explicitar, revelar, sistematizar, interpretar, relacionar.

    Evitar objetivos de interveno pedaggica, administrativa, extenso (contribuir, propiciar, facilitar,

    possibilitar, favorecer, etc.)

    METODOLOGIA: fontes, instrumentos, materiais, tcnicas de sistematizao e organizao de dados, informaes e resultados, estratgias, procedimentos e hipteses de trabalho.

    REFERENCIAL TERICO: recorte disciplinar, termos, conceitos e categorias, teorias, perspectiva epistemolgica.

    RESULTADOS ESPERADOS (hipteses, teses, orientaes da prova) contribuies possveis. VIABILIDADE TCNICA DO PROJETO: Recursos, oramentos, projeto financeiro. BIBLIOGRAFIAS E LISTA DE FONTES. ANEXOS (Cronograma. Modelos de instrumentos, Roteiros. Lista de materiais. Delineamentos Experimentais. Levantamentos prvios. Oramentos).

    CONCLUSES

    Assim como na "polis", na mudana de sociedade tribal para a sociedade democrtica

    houve necessidade de se desenvolver novas formas de obter respostas para os problemas

    formulados por esta sociedade, pois o conhecimento mtico (mitus) e o senso comum (doxa)

    no davam mais conta dos problemas apresentados pelo novo modelo de sociedade; hoje,

    diante desta nova e complexa sociedade que se apresenta com caracterstica entre outras do

    grande volume e intercmbio de conhecimentos e informaes, mais uma vez se faz

    necessrio mudar os mtodos de produo do conhecimento, buscando maiores graus de rigor

    cientfico a fim de garantir o carter transformador do conhecimento e de minimizar o risco de

    reduzir o conhecimento a um saber tcnico passvel de ser controlado por interesses que

    buscam a manuteno dos poderes dominantes e as atuais formas de produo social.

    Neste sentido, necessrio uma constante anlise epistemolgica dos instrumentos,

    das tcnicas, dos mtodos, das teorias e das vises de mundo que esto sendo utilizadas ou

    praticadas na pesquisa ou na produo do conhecimento a fim de avaliar o grau de coerncia

    entre estes diversos aspectos da produo do conhecimento de acordo com a os interesses

    humanos que orientam e articulam e a viso de mundo que est em jogo em cada uma das

    abordagens epistemolgicas e das metodologias utilizadas para elaborar esse conhecimento.

  • BIBLIOGRAFIA

    CALAZANS, Julieta (Org.). Iniciao cientfica: construindo o pensamento crtico. 2.ed. So Paulo: Cortez, 2002

    CHAU, Marilena. Convite filosofia; 2a Ed. So Paulo: Editora tica,1995

    CHAU, Marilena. Introduo filosofia; 2a Ed. So Paulo: Editora Brasiliense; 1994

    DEMO, Pedro. Educar pela pesquisa. Campinas, SP: Autores Associados, 2000. DEMO, Pedro. Introduo metodologia da cincia. So Paulo: Atlas, 1985. DEMO, Pedro. Pesquisa: princpio cientfico e educativo. So Paulo: Cortez, 1990. FAZENDA, Ivani. Metodologia da pesquisa educacional. So Paulo: Cortez, 1999. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. So Paulo: Atlas, 1988

    HABERMAS, Jurgen. Conhecimento e Interesse. In Os Pensadores, So Paulo: Abril

    Cultural, 1983 pp. 278-312

    HESSEN, Johannes, Teoria do Conhecimento, 8a .Ed. Coimbra-Portugal; Ed. Coimbra;

    1987. SNCHEZ GAMBOA, Slvio, Pesquisa em Educao: Mtodos e epistemologias. Chapec SC:

    Argos, 2007. SNCHEZ GAMBOA, Slvio. Fundamentos para la investigacin educativa: pressupostos

    epistemolgicos que orientam al investigador; Santa F de Bogot: Cooperativa de Editorial

    Magistrio;1998. VIANNA, Heraldo Marelim. Pesquisa em educao: a observao. Braslia: Plano Editora, 2003.