luís augusto may, a malagueta, biografia. · segundo historiografia, luís augusto may esteve ao...
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Biografia, imprensa e política em Luís Augusto May: um redator controvertido no
Império do Brasil.
Myriam Paula Barbosa Pires Gouvêa1
Resumo: Este trabalho objetiva apresentar resultados parciais de pesquisa Doutoral que trata
de mapear e analisar aspectos da vida do político, militar e redator Luís Augusto May.
Seus periódicos foram A Malagueta e A Malagueta Extraordinária. Estes, circularam na
Corte do Rio de Janeiro e constam enquanto principais fontes para a investigação que traz
como recorte os anos de 1782 – nascimento de May – e 1850, ano de sua morte.
Palavras-chave: Luís Augusto May, A Malagueta, Biografia.
Abstract: This paper aims to present partial results of a PhD research that tries to map and
analyze aspects of the life of the political, military and editor Luís Augusto May. His
periodicals were The Malagueta and The Extraordinary Malagueta. They circulated in
the Court of Rio de Janeiro and are as main sources for our investigation that brings as a
cut the years of 1782 - birth of May - and 1850, the year of his death.
Key Works: Luís Augusto May, The Malagueta, Biography.
1 Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em História-PPGH/ UFJF. Bolsista CAPES.
Luís Augusto May – sua história e a imprensa de seu tempo.
Luís Augusto May nasceu em Lisboa no ano de 1782. Começou sua carreira
como militar. Entrou para o Exército aos 16 anos, ascendendo a capitão de artilharia.
Segundo historiografia, Luís Augusto May esteve ao de José Bonifácio integrando o
Batalhão Acadêmico de Coimbra à época da ocupação francesa2. Outros nomes de peso
na política luso-brasileira foram seus contemporâneos em Portugal, como: Dom Rodrigo
de Souza Coutinho, afilhado de Marquês de Pombal; José da Silva Lisboa, futuro censor
e também redator de jornais no Rio de Janeiro - o Visconde de Cairú; entre outros que
serão abordados adiante. Nesse sentido, Augusto May foi contemporâneo daquela que
Kenneth Maxwell, em estudo célebre, chamou de “Geração de 1790”. Ou seja, homens
preocupados com o futuro das relações entre Portugal e sua colônia americana3.
Apesar de haver divergências de datas nos cargos os quais ocupou no início
dos oitocentos, consta que a pedido da Coroa foi funcionário da Secretaria de Legação
Estrangeira em Londres. Em 1810, como reconhecimento de seu trabalho, tornou-se
Oficial Adido ao Estado Maior do Exército. Naquele mesmo ano, Augusto May chegou
ao Brasil como intérprete dos trabalhadores suecos da fábrica de ferro de São João de
Ipanema, em Sorocaba4. Segundo o historiador Hélio Vianna, na intenção de manter seu
cargo de militar, correspondia-se a respeito com políticos de destaque, como o Marquês
de Aguiar; com o Conde da Barca, João Paulo Bezerra e com Tomás Antônio Vila Nova
Portugal, todos auxiliares do monarca d. João VI. Ciente de seu valor e da necessidade
de se fazer lembrar, May passou boa parte de sua vida enviando correspondências com
2 Helio Vianna. Contribuição à imprensa brasileira. 3 Kenneth Maxwell. Chocolates, piratas e outros malandros – ensaios tropicais. ”A geração de 1790 e a
ideia de Império luso-brasileiro”. 4 Isabel Lustosa. Insultos impressos: a guerra dos jornalistas da independência (1821-1823). São Paulo:
Companhia das Letras, 2000, p. 157.
súplicas por audiências com o Governo; por maior reconhecimento profissional - fosse
pleiteando melhorias de salário e/ou cargos, fosse pensões e honrarias. Como demonstram
estudos da historiadora Camila Borges, a concessão de títulos e cargos constituía-se uma
regra no reinado de d..João VI, tempo em que cargos e títulos eram conquistados por
“amizade” ou “merecimento” diante de serviços prestados ao reino5. Camila observou
que tal prática foi mantida na maioria dos casos por d. Pedro I durante seu reinado, a qual
Augusto May tanto fez uso com seu próprio punho por meio de uma infinidade de
pedidos. Segundo destacou a pesquisadora Isabel Lustosa, “May era ambicioso, não pedia
pouco”6. Os documentos manuscritos encontrados no Arquivo Biográfico do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB) trazem os sucessivos pedidos de honrarias e
títulos de nobreza que Augusto May solicitou para si e para seu filho. Em meio a inúmeras
tentativas, conquistou em 1818 o hábito da Ordem de Cristo7. Dois anos depois
conquistou uma pensão por meio do decreto de d. João VI “por préstimo e honra com
que tem servido como Oficial da Secretaria de Estado dos negócios da Marinha”8.
No que concerne a sua inclinação política, exposta muitas vezes em seu
periódico, é possível notar já no primeiro número de A Malagueta, seu esforço em deixar
claro não ser “constitucional por contrato, nem corcunda por inclinação, nem
republicano”9. A divulgação de uma espécie de plano de trabalho do periódico era prática
comum dos redatores ou editores da época. Fato este que não o impediu de continuar suas
investidas em uma carreira política de destaque por meio de súplicas ao monarca, que
passou a ser, no pós independência, d.Pedro I. Em meio às intensas convulsões da política,
em pleno curso de debates em torno da independência, lançou em setembro de 1822 o
escrito “Exposição de motivos dirigidas por May a Sua Alteza Real, o príncipe d. Pedro
I, pelos quais o aconselha a contemporizar, adiando a Aclamação e substituindo-a pela
6 Camila Borges da Silva. “O liberalismo exaltado e a crítica às ordens honoríficas: as visões de Estado e
sociedade de Cipriano Barata e Frei Caneca”. Revista Maracanan, v.10, n.10, jan./dez. 2014, p.121. 6 Lustosa. Op. cit. p.158. 7 Segundo Camila Borges da Silva, a Ordem de Cristo, de São Bento de Avis e de Santiago eram ordens
militares que foram criadas no período medieval e que serviam a todos os monarcas portugueses. Além de
condecorações honoríficas, também conferiam títulos e honrarias àqueles que prestavam serviços ao
Estado. Camila Borges da Silva. Op. cit. p.121. 8 Lustosa. Op. cit. p.159. 9 A Malagueta, n.1, 1821. Interessante ressaltar que a hipótese é que tal inclinação política vai sendo
remodelada conforme o avançar dos acontecimentos e, consequentemente, diante das transformações dos
contextos.
Aclamação da Regência em todo o Reino”. O documento referia-se ao “perigo” de
separação de províncias (especialmente a de Pernambuco) ou de uma delegação do poder
real português, da Bahia para o Norte, na pessoa do Infante d. Miguel ou da Princesa
Maria Thereza10. Do mesmo modo, questões pessoais apareciam como tema e se
confundiam com o curso da política do Império. Uma delas pode ser notada no manuscrito
intitulado de “Última campanha epistolar de May junto a d. Pedro I”. Neste documento
agia por dois lados. De um, aconselhava o Imperador e de outro pedia indenizações pelas
espoliações verbais (publicadas na imprensa) e físicas que tem passado11. O redator não
via com bons olhos a presença de José Bonifácio ao lado de d. Pedro I e escrevera
oferecendo aconselhamento de forma recorrente. No Malagueta de estréia, em dezembro
de 1821, May destacou d. Pedro I tal qual um jovem príncipe abandonado “entregue ao
charlatanismo de outrem”12.Devido a este perfil direto e ofensivo de sua escrita, neste
período envolveu-se em inúmeras querelas. Segundo destacou Carlos Rizzini, em junho
de 1823 May publicou a Carta que a Sua Magestade Imperial dirige ao Redator13.
Conflito reflexo de distintas posições acerca do encaminhamento das decisões políticas.
O periódico “O Espelho”, segundo consta, publicava artigos escritos pelo Imperador
d.Pedro I e pelo seu secretário Francisco Gomes da Silva, o “Chalaça”. Há quem afirme
que fazia uso da pena para o jornal publicar, o Marquês de Rezende. Como resultado de
uma destas querelas, muito citadas na historiografia e vinculada às questões relacionadas
ao futuro da Assembléia Constituinte (May foi espancado duas vezes por motivos
distintos -1823 e 1829), houve consequências físicas no episódio em que May foi
espancado, tendo sua mão deformada.
Pelo que se pode notar a partir da leitura crítica de parte das
correspondências publicadas na imprensa, detectada por Hélio Vianna14, May agia como
uma figura “sinuosa”, no sentido que jogava com seus interesses e o poder para obter
10 IHGB. Manuscritos Biográficos. Coleção do Marquês de Olinda. Luís Augusto May. “Exposição de
motivos dirigidas por May a Sua Alteza Real, o príncipe d. Pedro I, pelos quais o aconselha a
contemporizar, adiando a Aclamação e substituindo-a pela Aclamação da Regência em todo o Reino”
Gaveta 95. lata 216, doc.14,. 30/09/1822. s/pg. 11 Hélio Vianna. Coleção Achegas à Biografia do Malagueta. Seção IV. IHGB. 12 A Malagueta, nº1, 1821. 13 Carlos Rizzini. O livro, a tipografia e o jornal no Brasil (1500-1800). São Paulo: Imprensa Oficial do
estado,1988, p. 391. 14 VIANNA, Hélio. D. Pedro I –Jornalista. São Paulo: Edições Melhoramentos,1967.
vantagens/estabilidades políticas e financeiras, não obstante as mesmas lhe fossem
negadas por muitas vezes. Em minha proposta, procurarei compreender esta figura
controvertida, politicamente “camaleônica”, de forma mais profunda e abrangente,
buscando perceber as razões que o levaram a seguir tais opções e a investigar como
muitos destes caminhos se deram. O corte cronológico foi escolhido em função de ser
este marco que oferece mapeamento acerca de seu percurso pessoal, profissional e,
quem sabe, intelectual. Apesar de ainda serem esparsas as fontes que revelariam mais
detalhadamente muitas de suas motivações de vida, foi possível encontrar algumas
indicações, como de localização de moradia em São Cristóvão15. Seu gráfico de vida
mostra que estivera, portanto, intimamente relacionado a inúmeras situações desde que
chegou ao Brasil e, mais intensamente, com a fundação de seu jornal. Nesse sentido,
divulgando suas opiniões por meio de seu impresso, May se serviu da imprensa para
múltiplas atividades, uma delas para deixar sua marca no tempo, seus questionamentos
para seu público integrando um grupo de identificação política complexo muitas vezes
distinta do entendimento do Imperador ou de seus homens de confiança, como José
Bonifácio, Chalaça ou o Marquês de Resende. Conforme destacado, todos eles escreviam
em outros periódicos e promoveram muitas querelas com o periódico de May. De acordo
com Isabel Lustosa o perfil de escrita de May trazia um “tom pesado” de questionamento
das decisões do governo. Não obstante esta preocupação, procura-se aqui evitar
enquadrar a personagem em quadros dicotômicos, como tem sido alertado por estudos
recentes16
Como se pode notar, de presença política e intelectual salpicada pelas inúmeras
fases pelas quais passou, muito devido aos constantes embates enfrentados, Luís
Augusto May foi figura marcante na Corte Fluminense durante os anos de 1810 a 1850.
Através de seus periódicos, interferia nas questões políticas mais prementes de seu
tempo. Tendo sido publicado durante 12 anos, embora com interrupções, “A Malagueta”
foi órgão de intensa atividade servindo como instrumento que descortinou muito do
cotidiano político da Corte. Segundo Araújo Porto Alegre, May foi redator que tanto
15 Idem. p. 23. 16 Camila Borges da Silva ressaltou o risco de enquadrar um ator histórico como integrante de um grupo
dotado de única postura política, sendo, desse modo, mais frutífero compreendê-lo por sua ação isolada,
que pode pender ora para um lado, ora para outro. Camila Borges da Silva. Op. cit., p.122.
“deu o que falar” no tempo da independência. Para ele, “...era homem laborioso,
excêntrico; e de uma sagacidade ao encarar ao acontecimentos”17. Seu periódico, existiu
em três séries com 122 números totais, de agosto de 1821 a dezembro de 183318. Vale
dizer que poucos jornais foram cronologicamente tão longe, uma vez que o contexto
prejudicava as atividades de imprensa de opinião. Em termos práticos o jornal passou por
quatro fases, cada uma sendo produzido em uma tipografia. Durante os doze anos em que
esteve circulando na Corte o referido periódico obteve quinhentos assinantes, o que para
a época no que se refere a condições políticas e técnicas é bastante significativo. Nesse
sentido, o jornal de May se expandia com um número bastante expressivo para a época,
considerado como “o mais popular na corte”. Lustosa completou que “sua publicação era
um ato de destemor de um cidadão comum” frente à pena de homens poderosos. A autora
destacou ainda redatores polêmicos como Gonçalves Ledo e Januário da Cunha Barbosa
estavam sob a proteção da maçonaria enquanto Augusto May “andava só”19. Isto posto,
cabe frisar que por meio de seu jornal May participava ativamente da política e usava a
imprensa como um espaço para sua voz, uma voz “ardida” aos olhos daqueles que foram
se forjando como seus adversários20. Tal postura lhe impingiu o epíteto de O Malagueta.
Em junho de 1823, mês caro ao redator, o jornal Diário do Governo publicou versos
alusivos a Luís Augusto May e ao seu impresso21.
“Que demônio há tão danado,
que não teme a cutilada,
dos fios secos da espada,
do terrível May armado?”22
17 Araújo Porto Alegre. “Discurso de Araújo Porto Alegre em homenagem aos finados sócios e ilustres
funcionários públicos. Revista do Instituo Histórico e Geográfico Brasileiro, vol XV, pag. 384, 1852. 18 Francisco Innocêncio Silva. “Luís Augusto May”. Dicionário Biobibliográfico Português. vol. XIII,
p.341. 19 Lustosa. Op. cit. p.160. 20 A respeito dos embates na imprensa, no que chamou de arena política, ver: Marcello Otávio Néri de
Campos Basile. Anarquistas, Rusguentos e Demagogos: os liberais exaltados e a formação de uma esfera
pública na corte imperial (1829-1834), 2000, p. 327. [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro:
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro. 21 Foi em junho de 1823 que ocorreu a primeira invasão à casa de May, quando este aguardava a visita de
José Bonifácio para uma conversa. Nelson Werneck Sodré. História da imprensa no Brasil, 1960.Op.cit.
p.73. 22 Diário do Governo.17.06.1823 / Apud. IHGB. Hélio Vianna. Coleção Achegas à Biografia do
Malagueta. “Panfletos contra o Malagueta”,1960.
Além de tantas atividades e posições ocupadas no jogo do funcionalismo público,
de acordo com Sacramento Blake, Augusto May foi eleito para a 1ª Legislatura do
Império por Minas gerais como suplente do deputado Marquês de Valença. Após 1840,
exerceu alguns cargos comissionados, como Oficial de Gabinete de Holanda Cavalcanti,
o Visconde de Albuquerque23. Nessa época, a pedido de Holanda Cavalcanti, May
produziu obras de análises da situação geográfica do Império Do Brasil. O curso desta
pesquisa tem revelado, assim, uma face de Augusto May como um escritor de obras que
tratam de distintos temas, descortinando uma nova face do redator. Como produtores de
novos hábitos culturais, redatores, livreiros e impressores foram da mesma maneira
produtores de sentido de mundo; de percepções ligadas à inserção dos indivíduos em um
tempo novo. A análise mais ampla e vertical de suas ações e ideias políticas quando
cotejadas com importantes nome/políticos do Império, indivíduos de notável destaque
político, aparece como um dos caminhos de suprir ainda a escassez de informações sobre
sua existência. Isto posto, vale ressaltar que investigar os porquês de suas escolhas
enquanto sujeito demonstra-se pesquisa altamente instigante para colaborar nos estudos
da conformação do ambiente sócio-político e cultural do Império do Brasil.
Luís Augusto May e a historiografia da imprensa24.
“(...) Assim, ele se apresentava no campo raso da liberdade de
imprensa. Liberdade que, pelos tempos fora; havia de passar por
tantos altos e baixos. À mercê das lutas políticas e dos governos
que a enfrentariam. (...) Do grande Jean Jacques pretendia
Augusto May seguir a independência de espírito e a sinceridade
combativa...Com maior ou menor confiança em si próprio; a
verdade é que se lançou ao combate das ideias e da luta de forma
com toda a energia e todo o desassombro permitidos pela época.
23 BLAKE, Sacramento Augusto Vitorino do. “Luís Augusto May”, Dicionário Biobibliográfico Brasileiro,
vol v., p.364. 24 Debate acerca de clássicos no assunto. A este respeito, ver Ítalo Calvino. Por que ler os clássicos? São
Paulo: Companhia das Letras, 1993.
E também a verdade é que era uma época difícil para a imprensa
brasileira” .
(Hélio Vianna,1945)
Desde o início da década de 1990 crescera o número de obras que versam sobre o papel
da imprensa enquanto sujeito / agente e produto dos contextos históricos. Nestas obras, muitas
foram (e são) as temáticas escolhidas para pesquisa que contemplam a atividade em torno
desta. Quanto ao redator Luís Augusto May, entretanto, ainda carece de estudos que
privilegiem sua relevância no cenário político em que esteve envolvido, seja em torno da
independência ou posteriormente, nas Regências ou Segundo Reinado. Menções a respeito de
periódicos lançados e redigidos por May aparecem na historiografia a partir do final do século
XIX. Para este trabalho, destaco aqueles de maior vulto datados a partir de 1945. Embora
sejam de enorme auxílio para esta pesquisa, estes estudos apresentam características de
compêndio, em que demonstram grande preocupação em levantar e sistematizar uma enorme
gama de informações em um único volume, não reservando espaço para análises mais
contundentes. Ademais, mostraram uma imprensa muito influenciada pela política d e u m
m o d o b a s t a n t e d i c o t ô m i c o em que Luís Augusto May é entendido enquanto
integrante de um grupo pró ou contra governo central
Hélio Vianna ,em suas obras: Contribuições à história da imprensa no Brasil, de
1945 e D. Pedro I –Jornalista, registrou muitos dados biográficos a respeito da personagem
Augusto May. Além de destacar seu perfil veemente de linguagem, sua postura de
enfrentamento, com sua pesquisa, esclareceu muitos nós vinculados aos diálogos trazidos pelo
jornal Malagueta identificando, inclusive, através do cotejo das cartas publicadas com seu
original manuscrito 25,os autores camuflados atrás de pseudônimos, como por exemplo o
monarca d. Pedro I e seu Secretário de Gabinete, Francisco Gomes da Silva, o Chalaça. Foi
fundamental ainda a indicação do autor para o estudo do tema dos Arquivos da Família
Imperial, hoje Arquivo do Museu Imperial de Petrópolis o qual guarda um grande número de
cartas de Augusto May em seu conjunto somado a outros documentos.
25 Além disso, conforme indicado nesta proposta, em coleção de recortes de jornais da década de 40
a 60 organizou muitas informações que hoje são guardadas pelo IHGB. ver: IHGB. Helio Vianna.
Coleção Achegas à Biografia do Malagueta, 1960.
Outra obra compêndio que merece destaque, é História da imprensa no Brasil, de
Nelson Werneck Sodré. Sua pesquisa, inserida no contexto a que vivia o autor, a influência
marxista traz uma imprensa participante da esfera política restrita à direita ou à esquerda. A
respeito do jornal A Malagueta, insere a imprensa do período em posições políticas bilaterais,
entre a “independência e a liberdade”. Destaca a popularidade do jornal e a independência de
May frente a grupos políticos. Ressalta ainda os ataques de outros periódicos ao redator26.
Carlos Rizzini, por sua vez, dedicou seis páginas a Luís Augusto May. Assim como os
citados, seu estudo é centrado em suas questões biográficas factuais na esfera política
bidimensional, destacando Augusto May enquanto integrante de uma postura única, a favor ou
contra a luta por seus direitos políticos. Desse modo, destacou envolvimentos significativos do
redator em seu contexto, classificando a atividade de May como um “jornalismo de combate”.
Assim, conflitos com José Bonifácio e com o monarca d. Pedro I aparecem como um importante
caminho de compreensão dos principais problemas que o incipiente império atravessava. Este
estudo, embora seja insuficiente, breve e de tom informativo, nos ajuda a perceber quem foi a
figura pública de Luís Augusto May27.
Como destacado anteriormente, os periódicos cuja redação eram de responsabilidade
de Augusto May, apesar de bastante citados, no entanto, ainda necessitam de uma análise mais
ampla e detida, a fim de se poder compreender o papel deste português nos processos com os
quais se envolveu28. Ao trabalhar com percurso biográfico de um redator por meio de seus
principais impressos (A Malagueta e A Malagueta extraordinária) e daqueles com os quais
mais dialogava, acredita-se estar contribuindo para um olhar diacrônico no que diz respeito à
26 Nelson Werneck Sodré,Historia da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro; Civilização Brasileira,
1960,p.71. 27 O autor nos informa muito sobre outros jornais em diálogo com tais questões indicando assim caminhos
para a ampliação de pesquisas. Carlos Rizzini. O livro a tipografia e o jornal no Brasil 1500-1822. São
Paulo: Imprensa Oficial do Estado / Imesp, 1988,pp.379-383 Importante catalogação de jornais e revistas
do Rio de Janeiro, ver: “Catálogo de Jornais e Revistas do Rio de Janeiro existentes na Biblioteca
Nacional (1808-1889)”. Anais da Biblioteca Nacional. v. 85. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca
Nacional, 1881, pp. 1- 208. Edição fac-similar.
28A respeito dos embates na imprensa, no que chamou de arena política, ver Otávio Néri de Campos
Basile. Anarquistas, Rusguentos e Demagogos: os liberais exaltados e a formação dUma o uma esfera
pública na corte imperial (1829-1834), 2000, p. 327. [Dissertação de Mestrado]. Rio de Janeiro:
Instituto de Filosofia e Ciências Sociais. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sobre o debate
historiográfico pode-se encontrar em: Istvan Iancsó. Independencia: história e historiografia. São Paulo:
EdUSP/FAPESP,2005.
apreensão da complexidade das ideias e ações na construção das relações de poder no Brasil
recém independente29. Ademais, com seu viés opinativo contribuiu para o enraizamento de uma
nova forma de opinião pública, e de uma postura de ação humana inovadora, ou seja, de crítica
direta aos acontecimentos divulgando-os e reformulando-os a seu modo através de suas
páginas30. Ao iniciar o levantamento das fontes, nota-se a grande gama de contextos a que May
se viu inserido, uma vez que esteve presente no Brasil desde 1810 até sua morte em 1850. Ou
seja: quarenta anos de atividades vinculadas ao Estado, seja enquanto militar, funcionário
público, deputado por três vezes ou o que arriscamos chamar de redator-vigília.
Uma obra de fôlego que contempla as relações políticas dos impressos no entorno
da independência e que destinou espaço para análise de Luís Augusto May, é Insultos
Impressos, a guerra dos jornalistas da independência, de Isabel Lustosa. Além de dados
biográficos, os quais nos auxiliam a perceber aspectos relativos à personalidade bem como às
motivações da personagem, a autora enfatiza a importância de relações entre “O Malagueta”, e
homens poderosos da política, como, José da Silva Lisboa, por exemplo31. Em relação às
características de sua escrita, Lustosa destaca “seu estilo pesado” bem como seu tom
pedagógico “com que se dirigia ao príncipe e à opinião pública”32. Nas palavras da autora,
“May, ao longo de sua trajetória desempenharia os contraditórios papéis de adepto a um projeto
liberal, crítico do governo e seu mais constante bajulador”. Paralelamente, ressalta que “em
meio aos circunslóquio em que vinham envolvidas suas críticas, havia muito bom senso,
29 Entretanto, tal qual construtor de modos de pensar e de agir pode ser entendido como intelectual cuja
principal atuação passou, em determinado período, a se mostrar mais contundente através da imprensa.
Jean-François Sirinelli. “Os intelectuais”. In: René Rémond (org.). Por uma história política. 2ªed. Rio
de Janeiro: FGV, 2003, pp. 231- 270. Sobre o crescimento dos intelectuais à sombra da Coroa. Ver:
Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves. “Intelectuais Brasileiros nos Oitocentos: A constituição de uma
‘família’ sob a proteção do poder imperial (1821-1838)”. In: Maria Emília Prado (org.). O Estado
como vocação. Ideias e práticas políticas no Brasil oitocetista. Rio de Janeiro: ACCES, 1999, pp. 9 -
32.
30 Os estudos sobre a construção da cidadania no Brasil recebem atenção de um grupo de historiadores
ligados ao Núcleo de Estudos do Oitocentos (CEO/PRONEX). Um desses estudos resultou na obra
organizada por José Murilo de Carvalho e por Lúcia Maria Pereira das Neves. Repensando o Brasil dos
oitocentos. Cidadania, Política e liberdade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,2009 31 Isabel Lustosa. Insultos impressos: a guerra dos jornalistas da independência (1821-1823). São Paulo:
Companhia das Letras, 2000. 32 Isabel Lustosa. Insultos impressos: a guerra dos jornalistas da independência (1821-1823). São Paulo:
Companhia das Letras, 2000, pp. 159-160.
pensamento bastante razoáveis e conhecimento de matéria constitucional”33. Este estudo,
embora com grandes limitações, é o que dedica mais atenção ao personagem Luís Augusto May
– objeto desta pesquisa.
Outra obra que muito nos ajuda a pensar a atividade dos livreiros, editores e redatores
no incipiente império e cuja análise destaca a esfera da política de forma ampliada, em diálogo
incessante com a esfera cultural é da autora Lúcia Maria Bastos Pereira das Neves: Corcundas
e Constitucionais: a cultura política da independência (1820-1822). Em sua pesquisa, Lúcia
Neves compôs um quadro detalhado de como eram as relações entre ideias liberais, escrita e
intelectualidade à época da independência. Quanto ao personagem aqui tratado, a autora
destacou sua ascendência enquanto funcionário público e militar (de praça a oficial). Conforme
destacou, era comum àqueles homens de letras depender de atividades paralelas ou de recursos
próprios para sobreviverem em tempos difíceis para viver atividade em torno da leitura em
geral. Complementarmente, integrava um grupo no qual sua postura, que tomava novos
aspectos provindos do Iluminismo, ou seja, homens que transformavam ideias em projetos e
em ações efetivas na interferência da realidade34.
Sendo assim, montar um quadro biográfico deste redator que remou muitas vezes contra
a maré das decisões do Governo pode elucidar pistas acerca de muitos aspectos sócio-políticos
e culturais na formação de um Brasil que se formava imperial35. Como se sabe, a partir de 1821,
com a possibilidade de retorno do monarca d. João VI para Portugal se acirraram as lutas
políticas no Brasil sobretudo na Corte, de modo que a imprensa foi palco importante em dois
movimentos, forjando e sendo forjada pelos acontecimentos. Isto posto, é possível
compreender, que Luís Augusto May foi personagem ímpar na história que cerca o processo
de independência como também posteriormente. Em outras palavras, a escrita direta e
veemente de May bem como de outros homens de letras, redatores do período, incomodava o
poder central e seus apoiadores. O período crítico de nossa separação de Portugal impôs aos
homens de pensamento a necessidade de uma ação intensa. Alguns periódicos e panfletos, eram
33 Idem. Op.,cit.,pag.173. 34 Lúcia Maria Bastos Pereiras das Neves. Corcundas e constitucionais...pp 74-76. 35 A perspectiva de recolhimento de pistas para compor um quadro dos caminhos percorridos por Luís
Augusto May atende ao que preconizou Ginzburg sobre o profícuo viés do recolhimento de pistas, ou seja,
vestígios que estão (ou não) disponíveis para serem interpretados pelo historiador. Cf. Carlo Ginzburg.
Mitos, emblemas e sinais. Morfologia e História. 2ªed.São Paulo: Cia das Letras,1980.
acusados pelo governo de incendiários e de provocarem a dissolução da Constituinte36. Apesar
de ter convivido dentro do aparelho de estado como funcionário público, militar e por vezes
deputado, Luís Augusto May enfrentava o poder central todas as vezes que pensava estar
lutando por melhorias pessoais ou civis. Devido a isso, recebeu a alcunha de “O Malagueta”,
uma referência ao incômodo que causava aos homens poderosos do governo.
Os documentos e o terreno profícuo na composição de uma história de vida
“O mundo acionado pela imprensa tem sua própria comédie
humaine,tão rica e complexa que não caberia entre as capas de um só
livro”
(DARNTON, 1987)
Para a metodologia de análise das fontes, cabe ressaltar a especificidade do
uso da imprensa no interior da historiografia. Durante muitos anos, a utilização da
imprensa como fonte foi vista com de maneira desconfiada pelos historiadores. A
subjetividade ligada à natureza e às intenções dos discursos e as influências pouco
precisas referentes a estas publicações afastaram os estudiosos deste tipo de fonte.
Somente a partir dos anos 1970 e, mais intensamente 1990, novas pesquisas
contribuíram para que o receio inicial se transformasse em um interesse crescente sobre
os impressos. Apesar de tais publicações estarem em constante articulação e diálogo
com a sociedade e o tempo em que se inserem, a imprensa não deve ser pensada como
reflexo do contexto. São importantes enquanto produtores e disseminadores de
valores e práticas, que muitas vezes não aparecem em uma leitura inicial ou desatenta.
Desta forma, a pesquisa que contempla a imprensa como fonte e objeto não deve
prescindir de refinada leitura a ser ainda cotejada com outros tipos de documentos,
conforme sinalizado acima. Como fontes impressas principais nos serviremos dos já
referidos jornais de Luís Augusto May: A Malagueta e A Malagueta Extraordinária.
Outros periódicos contemporâneos a estes últimos serão utilizados como fontes de apoio
na busca de informações capazes de auxiliarem as respectivas indagações.
36 Carlos Rizzini, Op.cit, p.19.
Outro conjunto de fontes que será utilizado nesta pesquisa, são os
manuscritos que cortam sua trajetória profissional. Nesse sentido, serão contempladas
cartas com Súplicas de Augusto May ao Imperador ou ao seu secretário de gabinete,
Francisco Gomes da Silva, o “Chalaça”. Serão analisadas com base em documentos que
comprovam sua aproximação intelectual e ativa com importantes nome/políticos do
Império como um modo, entre outras motivações, de se infiltrar cada vez mais nas
redes circunscritas aos homens de cultura e de poder político. As cartas, citadas acima,
serão contempladas na pesquisa como um instrumento relevante capaz de conter aspectos
enfáticos às suas relações sociais. Sendo assim, à luz do método proposto por Skinner,
acreditamos que tais documentos podem revelar muitas das intenções de May. Intenções
estas, presentes na superfície do texto ou, quem sabe, nas camadas subterrâneas de
contextos que um documento, segundo o autor, pode contemplar. Relações entre texto e
contexto que muito nos ajudarão a compreender pontos cruciais da curva biográfica do
sujeito/agente Luís Augusto May. Paralelamente, tentaremos alcançar algumas das
repercussões destas “falas”, identificadas nestes contextos37. Algumas delas podem ser
encontradas pelo próprio diálogo travado pelos jornais. Nesse sentido, uma notícia ou
opinião repercutia intensamente nas páginas de outros impressos. Já os contextos são
vistos aqui como vinculados às opções que o militar, político e redator Augusto May
possuiu para que suas tomadas de posição fossem feitas; ou melhor, para que suas
escolhas fossem tomadas. Em outras palavras: indagações que integram esta pesquisa:
para aonde ir? O que fazer? Que motivações o levaram a ir para um caminho e não por
outro? Aspectos de difícil apreensão, entretanto, primordiais no entendimento e na
reconstrução dos caminhos percorridos por uma vida.
Outro conjunto documental que muito nos servirão são as obras escritas por
May as quais estão guardadas na Seção Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional e,
ao que consta, nunca receberam tratamento analítico38. Para a apreensão de sua
37Ver: Skinner, Quentin. As fundações do pensamento politico moderno. São Paulo: Companhia das etras,1999. A este
respeito, ver ainda: Maria Lucia Garcia Palhares-Burke. As muitas faces da história-Nove entrevistas. São Paulo: Ed. UNESP, 2000, pp.307-339.
383838 Obras encontradas até o momento. Seção Manuscritos da Fundação Biblioteca Nacional. 1)
Apontamento sobre a situação do Brasil, antes de 07/04/1831, a partir de um discurso do Deputado May.
2) Observações acerca da capitania do Grão Pará no Estado do Brasil cujo o primeiro ponto e a situação
representatividade enquanto deputado na Câmara, da Assembleia Geral Legislativa do
Império, utilizaremos a gama de informações dispostas no Diário da Câmara dos
Deputados à Assembleia Geral Legislativa do Império do Brasil39. Enxergamos este
como um documento importante para a percepção mais profunda da face política de May.
No esforço de estruturação da pesquisa, a biografia aparece como uma
possibilidade metodológica de se alcançar aspectos do universo micro, relacionando-se
de forma relevante para a compreensão do processo histórico que se forjava. Segundo
Regina Xavier,
“ao serem revalorizadas nestas últimas décadas, as biografias históricas,
trouxeram consigo um profícuo debate sobre o papel do indivíduo na
história, problematizando sua liberdade de ação frente às normas e/ou
estruturas sócias”40.
Desse modo, para compor um quadro biográfico intelectual que formou seu modo
de pensar e de agir, utilizar-se-á a noção renovada de biografia41. Para Carlos Rojas os
novos estudos de biografia integram uma preocupação dos historiadores acerca da
renovação da noção de indivíduo. Desse modo, o autor destaca que o indivíduo deve ser
visto não como um ponto de partida da história, mas, ao contrário, como um resultado
criado pelo desenvolvimento desta. Para o autor, a biografia põe em relação dois
dela e mais cousas relativa a sua geografia; 3) "Mapa das cidades, praças, vilas". "Mapa das vilas e
lugares da Ilha Grande de Joanes na Foz do Rio Amazonas". Extra - Todas observações já feita da
capitania do Grão Pará (1751-1806) mapa dos lugares fortificados (praças, castelo...) 4) Observações
sobre o estado dos corpos militares da capitania do Grão Pará, sua força, seu complemento, sua
manutenção, suas vantagens e inconvenientes em caso de guerra na capitania com algumas outras
reflexões próprias. Em anexo lista de oficiais dos regimentos, lista de oficiais do novo corpo da artilharia
de 1803, lista dos oficiais do regimento da infantaria de linha, destacados vindos do Rio de Janeiro em
10802, com algumas observações. Seção Obras Raras: 1) Observações sobre a navegação do Amazonas
por ocasião de baixarem por ele vários rios peruanos em 1844 e outros pontos de política externa que tem
relação com o Brasil.2) Biografia de Manuel Inocêncio Pires Camargo e 1822; 3) Cita-se um escrito
“memórias” que ainda não foi encontrado. 39 Diário da Câmara dos Deputados à Assembleia Geral Legislativa do Império do Brasil, 1826 e 1830.
Disponível em: www2.camara.gov.br/atas/legislações/pdf/1826 e 1830. 40 Regina Célia Lima Xavier. “Biografando outros sujeitos, valorizando outra história: estudos sobre
experiência dos escravos”. Benito Nisso Schmidt (org.). O Biográfico. Perspectivas Interdisciplinares.
Santa Cruz do Sul: EDUNISC,2000, v.1, p97-130. 41 Sobre o conceito de indivíduo e sua complexa relação com o meio, ver: Calos Antonio Aguirre Rojas.
“La biografia como gênero historiográfico. Alguns reflexiones sobre sus possibilidades actuales”. In:
SCHMIDT, Benito Bisso. O Biográfico. Perspectivas Interdisciplinares. Santa Cruz do Sul: EDUNISC,
2000, v.1, pp. 9-47.
elementos principais que são de um lado, o indivíduo, e de outro, seu meio e sua época/
seu contexto histórico, devendo estes se influenciarem mutuamente -sem primazia de um
lado ou do outro. Em outras palavras: o indivíduo constitui parte do contexto. No que toca
a esta proposta de pesquisa, tentar-se-á, desse modo, compreender os porquês de muitas
de suas escolhas frente às opções que suas relações com sua época (e os respectivos
agentes nela inseridos) se colocam à sua frente42. A biografia nos chegou como
possibilidade através das sugestivas da micro-história, como uma pequena escala da
história social, que pode ser visto na obra de Sabina Loriga43. De acordo com a autora, o
retorno da biografia sob nova roupagem remete a um desejo dos historiadores de captar
experiências do cotidiano; “de subjetividades outras”, e do desejo de trazer para o
primeiro plano da história os excluídos. O que, segundo afirma, análises totalizantes não
foram capazes de dar conta44 .
Conforme demonstram o conjunto de fontes primárias e secundárias aqui
apresentadas, o indivíduo Luís Augusto May possui em seu percurso de vida uma
riqueza de documentação, de movimentos e de relações que exigem e instigam uma
pesquisa mais ampla e atenta. Sendo assim, acredita-se que a possibilidade de uma
pesquisa balizada pelos caminhos escolhidos (que serão enriquecidos com mais três
anos de leituras e pesquisas) possa vir a contribuir para a compreensão de muitas das
relações entre política e cultura impressa em parcela do Brasil Reino e em boa parte
do Brasil Imperial.
42 Debate acerca do papel da narrativa biográfica nos estudos históricos, ver: Márcia de Almeida Gonçalves.
Em terreno movediço – biografia e história na obra de Octávio Tarquínio de Sousa. Rio de Janeiro:
EdUERJ/FAPERJ,2009. Alertas de como tratar uma biografia de forma a cuidar o rigor teórico-
metodológico, ver também: ver a introdução de Jacques Le Goff. São Luís. Biografia. Rio de Janeiro.
Record,1999. Interessante debate relacionando biografia e impressos pode ser visto em: Rodrigo Camargo
de Goddoi. Um editor no Império: Francisco de Paula Brito (1809-1861). UNICAMP, 2014.Tese de
Doutorado. 43 Sabina Loriga. “A biografia como problema”. In: Revel, Jacques. Jogos de escalas: a experiência da
microanálise. Rio de Janeiro, FGV,1998, pp.225-250. 44 Idem,p.225. Um debate acerca da micro-história pode ser encontrado em: Giovanni Levi. Herança
imaterial. Trajetória de um exorcista no Piemonte do século XVII. Rio de Janeiro. Civilização Brasileira,
2000. Ver introdução de Jacques Revel. Ver ainda: Carlo Ginszbug. A micro história e outros ensaios. Rio
de Janeiro: Bertrand, 1991.