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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MAIO/2013 - ANO XVI - N o 196 O ESTAFETA Reprodução No último dia 13 de Maio, comemo- ramos a data em que ocorreu a abolição da escravatura. Mesmo passados 125 anos, o Brasil ainda está longe de ser uma nação livre de desigualdades raci- ais. Uma análise dos indicadores eco- nômicos e sociais dos últimos vinte anos revela, porém, que o país tem avan- çado. Pesquisa do IBGE mostra que a população de brasileiros que se autodeclaram pretos ou pardos no Ensi- no Superior dobrou em dez anos, sal- tando de 19% para 38%. Como resulta- do, cresceu o percentual de negros em quase todas as carreiras universitárias. Ao mesmo tempo, a distância que sepa- ra branco de não-brancos no país, em termos de renda per capita, também di- minuiu. A queda da desigualdade racial no acesso à educação teria sido resultado de um processo vivido nas últimas duas décadas. No entanto, a desigualdade só será de fato combatida com a melhoria da educação básica na rede pública. Com esse investimento na base haveria me- nos violência, menos crise de mão-de- obra e menos desigualdade. Constatamos, hoje, que há maior fa- cilidade de acesso às universidades. A estabilidade econômica no país nos úl- timos vinte anos e a melhoria da quali- dade de vida das pessoas e do sistema educacional concorreram para isso. A maior presença de negros no ensino superior e a diminuição da desigualda- de racial, em termos de renda, se correlacionam, também, com a expansão da n ova classe média, que se benefi- ciou da valorização do salário mínimo, do crescimento da economia e de pro- gramas sociais focados nos mais pobres. Como resultado, em 2001, de acordo com um estudo realizado pela Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República, 31% da população preta e parda estavam na classe média. Dez anos depois, já são 50%. No entanto, mesmo dentro deste segmento ainda há desi- gualdades. A luta pela extinção da escravidão no Brasil constituiu-se numa das mais longas e difíceis já registradas pela História do país. Iniciada nas primeiras décadas do sécu- lo 19, estendeu-se até 1888, ocupando, por- tanto, o cenário político por quase um sécu- lo, e envolveu, ao longo de seu desenvolvi- mento, os mais diversos segmentos da so- ciedade brasileira. Por mais de três séculos, a escravidão seria a mola mestra da vida econômica. Pre- teridos os índios, o escravo negro esteve presente, com maior ou menor intensidade, em todos os setores de atividades. De norte a sul, nas lavouras, nos serviços domésti- cos, nas ruas. Em toda a parte, enfim, en- contrava-se o cativo. Foi expressiva sua participação na população brasileira, equi- valendo, por vezes, a mais de um terço do total de habitantes do país. A posse de escravos era símbolo de status social, pois indicava riqueza, capaci- dade de produção, poderio do dono. Sua libertação representou a quebra da estrutu- ra de produção que nos legara o regime co- lonial e exigiu ajustes que provocaram pro- fundas modificações econômico-sociais. Não é de se estranhar, portanto, a longa luta para extinção do cativeiro. O vulto de inte- resses nele envolvidos explica a resistência de quase um século. O movimento abolicionista, que ganhou força a partir de 1870, foi marcado por avanços e recuos, com pequenas vitórias e grandes derrotas. Me- didas libertadoras de alto alcance propos- tas no Parlamento resultaram em leis mode- radas e dilatórias, que reprimiam o impulso revolucionário. Estudos e pesquisas atuais apontam que a questão servil é vista, agora, como fenô- meno vinculado às mudanças econômico- sociais que operaram no Brasil, a partir da segunda metade do século 19. Nessas mu- danças estavam presentes a conexão entre o desenvolvimento do capitalismo industri- al e a superação do cativeiro como sistema de trabalho. Por isso, é importante lembrar a evolução dos interesses capitalistas que, numa primeira etapa – a mercantil –, exigi- ram o aparecimento da escravidão nas áre- as coloniais, e, a partir do momento em que a produção industrial passou a comandar as atividades econômicas, determinaram-lhe a extinção. Essas mudanças não poderiam ser feitas de forma abrupta; exigiam cautela, pois eram poderosos os interesses escravocratas. As mudanças econômico-sociais que se processaram no país e a repulsa interna- cional a um regime social tão condenável moralmente provocaram o descrédito da es- cravidão, que foi perdendo terreno no con- ceito comum, e estimularam o aparecimen- to de um espírito antiescravista, gerando o movimento abolicionista. Ocorreram, então, a desagregação do sistema servil e fugas em massa, que desarticularam de vez o escra-vismo, extinto, finalmente, após qua- se um século de lutas. O negro estava livre do cativeiro. Mas estaria livre também da condição de inferi- oridade que uma sociedade de brancos lhe impusera? A abolição da escravatura Imagem do Paço Imperial, no Rio de Janeiro, momentos antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 de maio de 1888. A Princesa Isabel era aguardada pela população para cumprir seu dever constitucional - o de apor sua assinatura no Decreto aprovado pelo Senado na manhã do mesmo dia.

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Informativo O ESTAFETA número 196, do mês de Maio de 2013, da Fundação Christiano Rosa, de Piquete/SP.

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Page 1: Maio 2013

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MAIO/2013 - ANO XVI - No 196

O ESTAFETAReprodução

No último dia 13 de Maio, comemo-ramos a data em que ocorreu a aboliçãoda escravatura. Mesmo passados 125anos, o Brasil ainda está longe de seruma nação livre de desigualdades raci-ais. Uma análise dos indicadores eco-nômicos e sociais dos últimos vinteanos revela, porém, que o país tem avan-çado. Pesquisa do IBGE mostra que apopulação de brasileiros que seautodeclaram pretos ou pardos no Ensi-no Superior dobrou em dez anos, sal-tando de 19% para 38%. Como resulta-do, cresceu o percentual de negros emquase todas as carreiras universitárias.Ao mesmo tempo, a distância que sepa-ra branco de não-brancos no país, emtermos de renda per capita, também di-minuiu.

A queda da desigualdade racial noacesso à educação teria sido resultadode um processo vivido nas últimas duasdécadas. No entanto, a desigualdade sóserá de fato combatida com a melhoriada educação básica na rede pública. Comesse investimento na base haveria me-nos violência, menos crise de mão-de-obra e menos desigualdade.

Constatamos, hoje, que há maior fa-cilidade de acesso às universidades. Aestabilidade econômica no país nos úl-timos vinte anos e a melhoria da quali-dade de vida das pessoas e do sistemaeducacional concorreram para isso. Amaior presença de negros no ensinosuperior e a diminuição da desigualda-de racial, em termos de renda, secorrelacionam, também, com a expansãoda n ova classe média, que se benefi-ciou da valorização do salário mínimo,do crescimento da economia e de pro-gramas sociais focados nos mais pobres.Como resultado, em 2001, de acordo comum estudo realizado pela Secretaria deAssuntos Estratégicos da Presidênciada República, 31% da população preta eparda estavam na classe média. Dez anosdepois, já são 50%. No entanto, mesmodentro deste segmento ainda há desi-gualdades.

A luta pela extinção da escravidão noBrasil constituiu-se numa das mais longas edifíceis já registradas pela História do país.

Iniciada nas primeiras décadas do sécu-lo 19, estendeu-se até 1888, ocupando, por-tanto, o cenário político por quase um sécu-lo, e envolveu, ao longo de seu desenvolvi-mento, os mais diversos segmentos da so-ciedade brasileira.

Por mais de três séculos, a escravidãoseria a mola mestra da vida econômica. Pre-teridos os índios, o escravo negro estevepresente, com maior ou menor intensidade,em todos os setores de atividades. De nortea sul, nas lavouras, nos serviços domésti-cos, nas ruas. Em toda a parte, enfim, en-contrava-se o cativo. Foi expressiva suaparticipação na população brasileira, equi-valendo, por vezes, a mais de um terço dototal de habitantes do país.

A posse de escravos era símbolo destatus social, pois indicava riqueza, capaci-dade de produção, poderio do dono. Sualibertação representou a quebra da estrutu-ra de produção que nos legara o regime co-lonial e exigiu ajustes que provocaram pro-fundas modificações econômico-sociais.Não é de se estranhar, portanto, a longa lutapara extinção do cativeiro. O vulto de inte-resses nele envolvidos explica a resistênciade quase um século. O movimentoabolicionista, que ganhou força a partir de1870, foi marcado por avanços e recuos, compequenas vitórias e grandes derrotas. Me-didas libertadoras de alto alcance propos-tas no Parlamento resultaram em leis mode-

radas e dilatórias, que reprimiam o impulsorevolucionário.

Estudos e pesquisas atuais apontam quea questão servil é vista, agora, como fenô-meno vinculado às mudanças econômico-sociais que operaram no Brasil, a partir dasegunda metade do século 19. Nessas mu-danças estavam presentes a conexão entreo desenvolvimento do capitalismo industri-al e a superação do cativeiro como sistemade trabalho. Por isso, é importante lembrar aevolução dos interesses capitalistas que,numa primeira etapa – a mercantil –, exigi-ram o aparecimento da escravidão nas áre-as coloniais, e, a partir do momento em quea produção industrial passou a comandaras atividades econômicas, determinaram-lhea extinção. Essas mudanças não poderiam serfeitas de forma abrupta; exigiam cautela, poiseram poderosos os interesses escravocratas.

As mudanças econômico-sociais quese processaram no país e a repulsa interna-cional a um regime social tão condenávelmoralmente provocaram o descrédito da es-cravidão, que foi perdendo terreno no con-ceito comum, e estimularam o aparecimen-to de um espírito antiescravista, gerando omovimento abolicionista. Ocorreram, então,a desagregação do sistema servil e fugasem massa, que desarticularam de vez oescra-vismo, extinto, finalmente, após qua-se um século de lutas.

O negro estava livre do cativeiro. Masestaria livre também da condição de inferi-oridade que uma sociedade de brancos lheimpusera?

A abolição da escravatura

Imagem do Paço Imperial, no Rio de Janeiro, momentos antes da assinatura da Lei Áurea, em 13 demaio de 1888. A Princesa Isabel era aguardada pela população para cumprir seu dever constitucional- o de apor sua assinatura no Decreto aprovado pelo Senado na manhã do mesmo dia.

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Página 2 Piquete, maio de 2013

Imagem - Memória

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204

Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues Ramos

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETA

Fundado em fevereiro / 1997

Reprodução

No dia de Natal do ano de 1887, olorenense Dr. Antônio Rodrigues de Azeve-do Ferreira, proprietário da Fazenda SantaEulália, no Piquete, reuniu todos os seusmais de 70 escravos e participou-lhes que,no Natal do ano seguinte, 1888, receberiamsuas cartas de liberdade sem condição al-guma e transformar-se-iam em meeiros oudiaristas, conforme melhor lhes aprouvesse.No entanto, tal atitude chegou tarde. De-pois dessa declaração, segundo ele, “fica-ram vadios, exigentes, insubordinados e,afinal, em fins de março, retiraram-se de mi-nha casa”. Era o ocaso de um período man-tido pela mão de obra negra nas inúmerasfazendas valeparaibanas produtoras de café– principal produto de exportação do país.O que aconteceu com o Dr. Rodrigues deAzevedo na Santa Eulália foi o resultado deum processo histórico que vinha se arras-tando havia muito tempo.

A escravidão era uma instituiçãoonipresente no Brasil. Havia escravos emtodos os municípios do Império e era no tra-balho deles que se assentavam todas as ati-vidades produtivas. A relutância em abolir aescravidão não decorria somente de seuvalor econômico, mas encontrava-se pro-fundamente enraizada na cultura e nos va-lores das classes dominantes do país comoum todo.

A escravidão era a principal forma detrabalho no Brasil durante o século 19, tan-to nas áreas agroexportadoras como naque-

las dedicadas à cultura de subsistência.Esse apego à escravidão devia-se ao fatode que os escravos eram os únicos que tra-balhavam, quer nas cidades, quer no cam-po.

O fim da escravidão no Brasil foi um pro-cesso lento e gradual, ocupando politica-mente todo o século 19. Pressões internaci-onais, principalmente a inglesa, concorre-ram para impedir o tráfico de negros da Áfri-ca. A libertação dos escravos nos impériosportuguês, francês e dinamarquês e, princi-palmente, nos Estados Unidos, em 1865,deixavam a Monarquia em situaçãodesconfortável. Em 1866, a sociedadeabolicionista de Paris pediu ao ImperadorD. Pedro II que acabasse com a escravidão.Para o monarca, a medida era problemática,já que a sustentação do regime dependiados senhores de escravos. O movimentoabolicionista foi crescendo de maneira len-ta, mas progressiva. A abolição era defendi-da pelos que viam nessa instituição as ra-zões do atraso do país. As leisemancipadoras aprovadas pelo parlamentotiveram importante resultado psicológico,pois condenavam a escravidão a desapare-cer gradualmente. Isso forçou os proprietá-rios de escravos a pensarem em soluçõesalternativas para o problema de mão de obra.Foi, porém, apenas quando os escravosdecidiram abandonar as fazendas, em nú-mero cada vez maior, como em Piquete, de-sorganizando o trabalho, que os fazendei-

ros se viram obrigados a aceitar como inevi-tável a abolição. Em 13 de maio de 1888 aPrincesa Isabel assinou a Lei Áurea, queextinguia a escravidão no Brasil. A decisãodesagradou os fazendeiros, que exigiam in-denização pela perda de seus “bens”. Comonão conseguiram, aderiram ao movimentorepublicano, como forma de pressão.

O fim da escravidão não melhorou a con-dição sócioeconômica dos ex-escravos. Semformação escolar nem profissão definida,para a maioria deles a simples emancipaçãojurídica não lhes mudava a condição subal-terna, muito menos ajudava a lhes promo-ver a cidadania e a ascensão social.

Cento e vinte e cinco anos são passa-dos desde aquele 13 de Maio. Parece muitotempo, mas foi ontem.

13 de Maio de 1888

A escravidão era a principal forma de trabalho no Brasil durante o século 19, tanto nas áreas agroexportadoras como naquelas dedicadas à cultura desubsistência. “Escravos em cafezal em 1882”. Foto de Marc Ferrez.

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O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, maio de 2013

DidaFoi num encontro da Renovação

Carismática Católica promovido pelo padresalesiano Jonas Abib, em Areias, em 1976,que Maria Olga da Costa Frota passou poruma forte e marcante experiência espiritualque mudou o curso de sua vida. Profunda-mente tocada e sob os influxos do EspíritoSanto, apaixonou-se por Jesus Cristo. Apartir de então achou que devia cuidar maisdas coisas de Deus. Passou, então, avivenciar o amor de Cristo e testemunhar aoração como momento importante de suavida.

Filha de Raymundo dos Santos Frota eMaria Cristina da Costa Frota, Dida, como éconhecida por todos, nasceu na cidade doRio de Janeiro, antigo Distrito Federal, em19 de outubro de 1934. Em 1938, o pai, queera Capitão de Artilharia do Exército, mu-dou-se com a família para Piquete. Veio trans-ferido para a Fábrica de Pólvora, chefiar o 5ºGrupo e trabalhar nas obras do Trotil. Alémda esposa e dos filhos (Hercílio, Odaísa,José Edson, Dida e Maria Emília), trouxeconsigo a irmã, a professora Maria Loetítiada Costa Frota.

Dida iniciou seus estudos no Grupo Es-colar da Fábrica, mas os interrompeu em1944, com a transferência do pai para a for-taleza de Santa Cruz, no Rio de Janeiro. Con-ta que foi das muradas dessa fortaleza queassistiu à chegada de navios e “destroyers”com milhares de soldados brasileiros vin-dos da Europa, no final da II Guerra Mundi-al. “Depois, ainda juntei-me à multidão quecalorosamente recebeu os soldados da FEB,no centro da cidade”, ressalta Dida.

Em julho de 1949, nova transferência: afamília retornou para Piquete. O pai, que jáse encontrava doente, morreu poucos me-ses depois. Sem seu chefe, a família preci-sou se reorganizar. Foi, então, que o coro-nel Monte convidou sua tia, a professoraMaria Loetítia (Dona Letícia) para lecionarno Jardim da Infância, e sua irmã Odaísa paratrabalhar como contadora no Departamen-to Educacional da Fábrica.

Dida cursou o Ginásio e a Escola Normalda FPV, formando-se professora em 1951. Pordois anos lecionou no Curso de Aplicação

Duque de Caxias. Depois, ingressou no ma-gistério estadual. Lecionou por pouco tem-po nas Escolas Agrupadas do Bairro da Ta-buleta e efetivou-se na Escola ProfessorDarwin Félix. Aplicada nos estudos, cursou,na Faculdade Salesiana de Lorena, EstudosSociais, e, na Fatea, História.

Maria Olga da Cosa Frota, por váriosmotivos, é uma pessoa rica e especial. Por-tadora de grande sensibilidade artística, bomhumor e facilidade de comunicação, nummundo em que o tempo é cada vez menor emais precioso, em que somos obrigados atrabalhar cada vez mais para sobreviver, res-tando pouco tempo para leitura e medita-ção, Dida antecipou sua aposentadoria e,em 1982, passou a cuidar cada vez mais dascoisas de Deus. Acompanha a missão doPadre Jonas desde o início da Canção Nova.Com um grupo de jovens, cursou Radia-lismo, em Santos, formando-se em Locução.Esse conhecimento empregou na rádio, aten-dendo a chamados e pedidos de oração, ena evangelização.

Perseverante na fé, foram inúmeros osencontros, seminários e grupos de estudodos quais participou. Faz parte da Comuni-

dade Aliança – compromis-so que renova todo dia 2 defevereiro, dia de Nossa Se-nhora das Candeias. Às sex-tas-feiras, coloca-se a servi-ço na Canção Nova. Às ter-ças, com um pequeno gru-po, dedica-se à formação.Faz, há muito tempo, partedo Apostolado da Oração.

Desde que se consa-grou a Deus, em 1976, Ma-ria Olga da Costa Frota éexemplo de cristã devota-da e comprometida emvivenciar e levar a todoso Evangelho.

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

Quais são nossas metas na vida? Sa-bemos até onde queremos chegar ou bus-camos sempre algo a mais? O que nos tra-duz o sucesso?

A competitividade – por vezes irracio-nal – que enfrentamos na sociedade fazcom que estejamos sempre à busca de car-gos mais altos, maiores salários, os quais,por sua vez, permitirão maiores gastos,mais prazeres. Este é o mote da ascensãosocial e é saudável se nos garante satisfa-ção pessoal. Torna-se, porém, um proble-ma, quando há frustração por se estaraquém de determinada posição “invejada”.

Experimentei a sensação de uma socie-dade mais igualitária, em que a distribui-ção de renda é justa. Observei que as pes-soas buscam, é claro, melhores condiçõesde vida, mas isso não significa, necessari-amente, contas bilionárias, iates gigantes-cos, mansões cinematográficas... Existem,certamente, os donos de fortunas imen-sas, que têm tudo o que o capitalismo podeoferecer. No entanto, como a base da pirâ-mide social é atendida em todas as suasnecessidades, não se observa uma buscainsana para atingir seu topo, onde hápouquíssimos privilegiados. Dessa forma,a ganância desmedida, a constante frus-tração por nunca se “ter o suficiente” épouco percebida. Com isso, as pessoasvivem mais felizes, divertem-se com o quelhes é permitido e – essencial – estão sa-tisfeitas, estão realizadas.

Pra que perseguir o impossível? Nãodigo que não seja direito de todos possuirum iate de extremo luxo. Mas, pergunto:não ter esse iate faz com que sejamos me-nos felizes? Se a resposta for sim, aí evi-dencia-se um problema, pois nos sentire-mos frustrados durante todo o tempo pornão atingir esse “objetivo”. E, afinal, esteiate é para nos deixar felizes ou apenaspelo doentio prazer de ostentar o título de“dono de um iate imenso”?

Vamos viver, meus amigos. Vamos per-seguir nossos sonhos, que devem ser“nossos” realmente. Vamos buscar o su-cesso, o nosso sucesso. Não devemos vi-ver à busca de sonhos que sabemos ina-tingíveis, de sonhos de outrem, pois, as-sim, seremos eternos frustrados. Atenção:não estou falando de passividade, de acei-tação total da “dura realidade”. Nessecaso, evidencia-se o comodismo, que nãoé saudável e leva à estagnação. Temos,sim, que buscar o crescimento pessoal, querealizar todos nossos sonhos; este é omote de uma vida saudável e feliz.

Realizei, recentemente, um sonho hámuito acalentado. A sensação foi indes-critível. E, com base nele, já estou sonhan-do novamente... Para isso me preparo cons-tantemente e me programo... Vejo muitosamigos – ou nem tão amigos – também re-alizando seus sonhos... Está aí um ingre-diente essencial da felicidade: ficar felizcom a felicidade dos outros.

Sempre mais... Sempre mais feliz! Sem-pre mais realizado!

Sempre mais feliz...

Dida e Padre Jonas Abib

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O ESTAFETA Piquete, maio de 2013Página 4

A palavra alforria é dada como liberdadeconcedida ao escravo através de dispositi-vo jurídico, pela qual se reconhece o direitode uma pessoa escravizada ser alienada daposse de outra que se apresentacomo seu proprietário. Proprieda-de essa obtida por compra, heran-ça ou conquista pela força. Os pro-prietários de escravos tinham nes-sa referência um símbolo de rique-za ao qual se associava até o direi-to de vida e morte.

Possuir ainda que apenas umescravo no período colonial reco-nhecia ao possuidor o direito dovoto, isto é, de cidadania. Assim,também o número de escravos deum proprietário era um índice deriqueza na classificação dos com-ponentes da sociedade de Corte,garantindo-lhes, por exemplo, ex-tensão de propriedade, produtospara exportação e valor de mão deobra.

A literatura econômica coloni-al é rica desses indicadores infor-mantes da natureza da ocupação da terra,trabalho e valores de produção.

Conquistar a alforria era benesse cedidapelo proprietário por questões religiosas, portestamento, ou pela venda do direito atra-vés de contrato celebrado entre as partes.

Entretanto, na prática da pesquisa dadocumentação, verifica-se que na comple-xidade do período do final da escravidão noBrasil nem sempre ser forro ou forra signifi-cava ser livre. Pois bem. Alforriada uma pes-soa, admitia-se ter ela condição para con-tratar serviços, ou seja, receber pagamentopor prestação de serviços. No entanto, paraque, geralmente no caso da compra do di-reito à alforria, o escravo ou escrava acu-mulasse o pecúlio do valor obtido por ser-viços extras prestados para terceiros ou parao próprio senhor ou senhora a que estavasubmetido. No caso, era o chamado “negrode ganho”, usado para tarefas paralelas ao

A alforriaseu ofício principal. Isso quando o forro oua forra aceitavam contrair a dívida da alforria,como se fosse um empréstimo a ser amorti-zado com seus serviços. O dramático de

todo o processo era o de que o valor dadívida se avolumava e os contratos os obri-gavam a levar um cotidiano semelhante àantiga condição escrava.

Não dispondo de recursos para arcarcom o valor estipulado, os forros faziamcontrato de locação de serviços com seucredor. Reclamações havia de que, emborasatisfeitas as exigências, cobranças eramestendidas. A duração dos contratos, mui-tas vezes, se estendia por anos, tanto quan-to às atividades laboriais, quanto às penasaplicadas aos que as descumprissem. Re-sultavam daí negociações entre libertandose credores. Sem deixar de considerar que aocorrência comum era a de que as condi-ções dessas negociações eram muito desi-guais e desfavoráveis para os recém-liber-tos. Existem muitos documentos para com-provação desse costume e as análises dospesquisadores têm gerado muitas publica-

ções elucidativas desse período, somenteagora objeto da mais detalhada análise. Opróprio valor do trabalho contratado comlibertandos sujeitava-se a uma agenciamento

de baixo custo, isto é, de trabalhobarato. Afinal, tratava-se de con-trato pelo qual o subalterno eradesvalorizado – pessoas livres epobres também locavam seu tra-balho. Mas o trabalho do libertan-do valia ainda menos. E este aca-bava concordando, ao menos for-malmente, com as condições des-vantajosas a ele oferecidas. Do-cumentos na justiça demonstramsuas denúncias. Contudo, as in-tervenções do Estado nessas re-lações trabalhistas eram tímidas,e, se favorecessem, privilegiavamo credor. Assim foi até o final doséculo 19. Os contratos acabavamrepresentando apenas uma espé-cie de acomodação de conflitosgerados pelo sistema escravista.Conclusão a que chegam os tra-balhos acadêmicos dedicados à

temática aqui considerada.O que sobrenadava a todas essas con-

dições? Simplesmente, perpetuavam-se asrelações de poder comandadas pela socie-dade escravista.

Hoje, reconhecida a herança da desigual-dade gerada pelo sistema, tenta-se sobre-pujar a dívida compensando-a pela propos-ta da lei de cotas raciais nos ingressos aoensino superior. Isso porque as raízes his-tóricas deixaram os negros defasados nosseus direitos de cidadania. Pois, afinal, aabolição trouxe a liberdade de ir e vir, morar,trabalhar por conta de contratos, mas nãodeu emancipação, ou seja, direito à igualda-de. Daí a ideia de atender à justiça social porum instrumento complexo de compensação.O que gera muita discussão numa sociedaeenraizada na desigualdade.

Dóli de Castro Ferreira

Dentre os muitos problemas que com-põem o universo da educação hoje, desta-co a mudança do perfil do educando. O jo-vem de hoje não é o mesmo do passado, elidar com esta diferença torna-se questãofundamental para que se possa avançar nosindicadores do rendimento escolar, e,consequentemente, melhor prepará-lo parao ingresso no mundo do trabalho.

Nas duas últimas décadas houve umaestrondosa revolução nos meios de comu-nicação ou na tecnologia da informação. Emparte, isto marcou profundamente a novageração, que começou a interagir nesse uni-verso racionalizado e eficaz da tecnologia.Há estudos que comprovam que a geraçãonascida a partir de meados dos anos 90 so-freu o impacto dessas novas informações –é a chamada Geração Z. O Z vem de “zapear”,neologismo que denota a hiperatividade deuma pessoa ao alternar constantemente oscanais de televisão via controle remoto, oque indica ansiedade e desatenção. Daí,podemos inferir o perfil dessa nova gera-ção: por dominar com facilidade os recur-

sos da World Wide Web interage fazendovárias coisas ao mesmo tempo: assiste TV,fala ao celular, envia e recebe mensagens,utiliza o computador, entre outras tarefas.Acostumados a enxurradas de informações,são indivíduos multitarefados e, conse-quentemente, desatentos, desfocados e in-dividualistas – conforme nos atestam osestudiosos dessa geração.

A crítica que se faz é que o excesso deinformações não tem garantido a reflexão,nem sempre redunda em formação. Essas in-formações não se convertem em conheci-mento estruturado, mesmo se o indivíduopassar horas navegando na rede mundialde computadores. Logo, observamos que areflexão cede espaço para o reflexo. Este éato que se faz diante de determinada cir-cunstância sem refletir. O uso equivocadoda tecnologia, portanto, leva aoautomatismo, não à reflexão.

Diante desta questão, só nos resta ques-tionar: como a escola pode se adaptar parareceber esses jovens sem, contudo, perdersua função social? Como tornar a aula um

espaço crítico de conhecimento e reflexãose os jovens em seu cotidiano, fora dosportões da escola, lidam com a informaçãode uma forma diferente? Qual o papel da fa-mília neste conturbado contexto?

Por tratar-se de uma complexidade socialimportante, reflexões buscando meios de tra-balhar com os conflitos advindos desta cir-cunstância devem ocorrer o mais breve possí-vel, com riscos de se esvaziar a aula. Nestaperspectiva, sugiro capacitação dos profes-sores, reuniões para se discutir a questão dasnovas tecnologias na escola, bem comoreplanejamento das aulas. Hoje, não se admiteum professor que não conheça as tecnologiaseducacionais. Cabe aos gestores educacionaisa promoção dessa capacitação.

Para que os membros da chamada Gera-ção Z tenham uma postura crítica em rela-ção às tecnologias, fazendo delas uma im-portante ferramenta para alcançar o conhe-cimento e não um fim em si mesmo, caberá anós, educadores, pais, sociedade em geral,provocar nos jovens este novo olhar.

Evelize Chaves

Você conhece a Geração Z?

“Escravos em Colheita, Vale do Paraíba”, Foto de Marc Ferrez, 1885

Rep

rodu

ção.

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O ESTAFETA Página 5Piquete, maio de 2013

O cheiro de livro novo é quase umalucinante. O cheiro de livros velhos, usa-dos, manuseados, lidos e relidos, é conta-giante. Porque ler ainda é um prazer que mereservo para as horas de tranqüilidade, mes-mo com toda tecnologia que temos nesseséculo XXI.

Aprendi, desde muito cedo, a gostar daleitura, mesmo que nunca tenha sido esti-mulada a ler e tampouco tenha ganhado umlivro como incentivo. Isso não foi nenhumempecilho.

Na escola liam-se os livros obrigatóriospara cada série. Foi lá que conheci Macha-do de Assis, José de Alencar, Aluísio de Aze-vedo, entre outros. Faziam parte da leituraobrigatória curricular, mas muitos dos meuscolegas apenas pegavam o resumo com al-guém para apresentar como trabalho esco-lar. Nada sabiam das minúcias das estórias.

No entanto, muito antes dos livroscurriculares, eu lia outro tipo de literatura: arevista Seleções e os gibis. Minha tia pos-suía um baú trancado a sete chaves e a mi-nha curiosidade de saber o que havia den-tro dele era enorme.

Um dia percebi que o cadeado que tran-cava o baú estava aberto, para minha sur-presa e meu deleite. Sem saber o que iriaencontrar nele, eu o abri com o maior cuida-do, sem fazer barulho, tranquei a porta doquarto para não ser surpreendida mexendonaquilo que não deveria.

Mas minha surpresa aconteceu de outramaneira e de forma muito mais encantadorado que imaginei: dentro do baú havia umacoleção de “coisas para serem lidas”. Des-de revista de fotonovela, até as revistas Se-leções e os gibis da época, em preto e bran-co. Instantaneamente me apaixonei pelaSeleções e comecei ali mesmo, desconsi-derando o perigo de ser pega em flagrante,a ler uma delas. Naquela época essa revistanão trazia nenhuma gravura ou figura, ape-nas letras e um traço ao final de cada artigo.

Claro que minha tia descobriu minhagrande “arte”, mas liberou o conteúdo dobaú para mim, desde que eu não lesse asrevistas de fotonovelas. Nem liguei para talproibição, porque essa leitura não era a queme interessava.

Lendo Seleções aprendi muitas e novaspalavras. Meu vocabulário cresceu e se en-riqueceu, tomei conhecimento de aconteci-mentos e situações que minha cabecinha desete, oito anos sequer poderia imaginar queexistissem.

Lia a revista e marcava as palavras quenão conhecia, depois consultava um dicio-nário na escola, já que em casa não havia.Depois, voltava ao texto para lê-lo nova-mente já com o entendimento que havia ti-rado do dicionário.

Era um exercício absolutamenteprazeroso para mim, e que eu fazia com muitaconstância, já que não tinha ninguém aquem perguntar ou tirar dúvidas. E acho quese tivesse essa pessoa, eu faria exatamentecomo fiz.

Assim, quando cheguei à idade de lerMachado, Alencar e outros, eu o fazia tam-bém com muito prazer e de maneira natural,porque o hábito da leitura havia começadocedo, por conta de velho baú fechado comcadeado.

Hoje, mesmo com o computador,notebook, tablet e-book, nada disso me tirao prazer de folhear um livro da estante, detê-lo nas mãos numa livraria, ler e de fazerminhas próprias anotações, riscos e rabis-cos nos livros de papel. Reler os livros quejá li muitas e muitas vezes, mas que sempremerecem novos destaques e anotações.

Ter um livro novo nas mãos e poderdegustá-lo é um prazer sem tamanho. Eumesma me surpreendo com esse sentimentoprazeroso de abrir um livro novo, conhecera estória, sentir sua textura, seu cheiro, suaspersonagens, sua vida pronta para ser co-nhecida.

Confesso que não leio os livros que es-tão na lista dos dez mais. Nunca me preocu-pei com isso. Continuo lendo GuimarãesRosa, Saramago, Fernando Pessoa e seusheterônimos, Nélida, Lya, Machado, Clarice,Cecília, Drumond, Brecht, entre outros bonsautores. O prazer é sempre o mesmo, mas aforma de senti-lo é renovada. Ler é apren-der, é viajar sem sair fisicamente do lugar. Éviver outras vidas sem deixar de ser nósmesmos. É um prazer e, ao mesmo tempo,uma necessidade que não para, que não ésaciada nunca. Ao término de um livro, queoutro venha contar novas estórias, apresen-tar novos personagens e outras situações.

Conforme já escreveu o poeta: “Gostodo Pessoa na pessoa da rosa no Rosa e seique a poesia está para prosa Assim como oamor está para amizade. E quem há de negarque essa lhe é superior”.

Ler é ganhar outros mundos, mais co-nhecimentos, estar perto de fatos já passa-dos, é vivenciar a aventura humana nessaterra. Eunice Ferreira

Livros a mancheiasMeu querido filho Toninho, hoje, 04 de

maio, faz 12 anos que você partiu – tão jo-vem, tão alegre.

Sua presença nos fazia bem – era umconvite para a vida.

Sem você nossa casa ficou vazia.Tudo me faz lembra-lo, até a natureza – a

serra, as manhãs de sol, as noite de lua cheia,os campos verdejantes que nos rodeiam –,todas essas delicadezas que aqui em Pique-te são tão bonitas.

Quando rapazes passam de bicicleta emdireção aos ribeirões, eu me lembro de você.

Quando jovens passam em direção abailes, bem vestidos e charmosos, eu melembro de você.

Quatro festas me fazem recordar com in-tensidade de você: o dia do seu aniversário,o dia das Mães, Natal e Ano Novo. Datasimportantes, revestidas de muito afeto ecarinho, a nossa família reunida, beijos eabraços, presentes e pratos saborosos.

Quanta alegria no dia do seu nascimen-to! Você esperado com amor e ansiedade –o enxovalzinho, a escolha do seu nome.

Depois, novas alegrias – o seu batiza-do, os seus padrinhos.

Mais tarde, o balbuciar das primeiras sí-labas e o desabrochar das primeiras pala-vras.

E lá distante, o Jardim da Infância, o Gru-po Escolar, o domínio da cartilha e a organi-zação do pensamento em frases e pequenasredações.

Fatos e acontecimentos foram se suce-dendo, muitos, todos importantes: o servi-ço militar, a farda verde – você parecia umpapagaio, os desfiles nas datas cívicas, ojuramento à Bandeira. E eu assistindo a tudo,tudo gravando na memória e no coração.

A sua infância e adolescência me emoci-onavam. Eu o contemplava demoradamentee ia descobrindo as belezas na vida que pal-pitava nos seus gestos.

Pena que tudo passou tão depressa!Hoje, vivo de lembranças e saudade. Umador profunda me atravessa, pois sei que asua viagem não terá volta.

O que me consola é a certeza de quevocê, amado filho, repousa no seio benditodo Criador.

Durante toda a vida eu o abençoei. Ago-ra quero que você me consiga dos Anjos eSantos do céu uma bênção especial, a fimde que continue tendo forças para suportara sua ausência, até o nosso reencontro naCasa do Pai.

Carinhosamente,Isabel Prado

Piquete, 04 de maio de 2013.

12 anos sem meu filho

O prazer [da leitura] é sempre o mesmo, mas a forma de senti-lo é renovada.

Ler é aprender, é viajar sem sair fisicamente do lugar. É viver outras

vidas sem deixar de ser nós mesmos. É um prazer e, ao mesmo

tempo, uma necessidade que não para, que não é saciada nunca.

Page 6: Maio 2013

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, maio de 2013

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroFábula semântica

As amazonas

Quando a Fábrica Presidente Vargas se

encontrava no auge de suas atividades, a

baia era um repartimento pertencente aos

Serviços Gerais, local onde se recolhiam os

cavalos. Alguns dos animais pertenciam à

própria Fábrica, outros tinham seus donos

entre os militares que lhe prestavam servi-

ço. A baia localizava-se onde hoje fica a casa

do Superintendente da FPV.

Alemar Bangoin e Regina Previtera resi-

diam na Vila Militar. Aos sábados, pela ma-

nhã, elas costumeiramente aparelhavam dois

puros-sangues e saíam cavalgando pelas

ruas modestas de Piquete. Chamava a aten-

ção, primeiramente pela simpatia das mes-

mas e, depois, pela beleza do porte e trotear

dos animais. Quando passavam pela Praça

da Bandeira, justamente no horário em que

todos ali se reuniam para uma conversação

amigável ou engraxar sapatos, todos instin-

tivamente deixavam de fazer o que faziam e

passavam a observar aquele quadro tão raro.

As mesmas dobravam a esquina da casa do

saudoso seu Marinho e se perdiam pelas

ruas da Vila Duque de Caxias.

Certa manhã de junho, um dos engraxa-

tes, por maldade, vendo que as amazonas

adentravam a Praça, riscou uma bombinha e

atirou-a nas patas dos animais. Um deles

priscou furioso. Logo, porém, foi dominado

pela amazona, que lhe ferrou a virilha com a

espora de aço.

Os espectadores limitaram-se a trocar

olhares, sem, contudo, dizerem nada...

– Após abraçá-la, ela se enfanicou.– Ela o quê?– Enfanicou... Desmaiou, seu desas-

sisado!– Que grilo é esse?– Ignorante, tolo, inepto...– Não engrossa, bicho! Quer desabafar,

tô ouvindo, mas manera no plá ou te douum chega pra lá, legal?

– Não se apoquente. Deixe de gun-gunar...

– Dancei de novo. Gum... gum...– Gungunar, resmungar... Deixa-me

historiar no que deu meu derriço com a Jô.– “Oriço”?– Deus! Derriço, amigo de diálogo, é

namoro, compreende?– Saco! Diz logo namoro, um chega-mais,

uma transa... Português claro, cara!– Fui educado para falar elegantemente

nossa língua mãe. Ela, como planeava dizer,estava em estado de delíquio sobre meusmembros superiores, eu rendido ante à vi-cissitude, pasmo diante do incogitado.

– Vai pra... deixa pra lá! Taca pra frente!– Dei início a uma compressão metódica

na partes musculares de seu corpo e dasarticulações com o propósito de vigorá-la.

– Peraí! Você abraçou a mina, ela teveum xilique e você esfregando a dona pravoltar do desmaio. É isso?

– Muito precisa sua sinopse.– Deixa a frescura... Ela voltou do des-

maio?– Não apenas reanimou-se como lançou-

me uma tabacada.– Tamancada?!

– Um tabefe, seu insciente...– Tabefe... manjo. Bofetão na cara. O res-

to se for palavrão, fique com ele. Por que otapa?

– Como sabe, tenho imperfeições nosolhos. Os eixos antero-posteriores são lon-gos demais, de maneira que a imagem de umobjeto situado no infinito se torna aquémda retina...

– Morei... Você é meio ceguinho, mes-mo. E o tapa?!

– Pois atente! Olvidei meu instrumentalde lentes para auxiliar a visão e quando aten-deram à entrada domiciliar, enlacei quem seaportou e não era a Jô.

– Era o pai dela!– Não se divirta, que o ocorrido foi sé-

rio. Era a mãe da mãe dela!– Cara, que legal! Você entrou numa com

a coroa? Que barato!– Instante em que levei a bofetada. Nin-

guém, naquela família, aceitou minhas es-cusas.

– Te acharam com cara de tarado!– Nem a Jô quer saber mais deste que

lhe fala...– Você não morou no motivo...– Meu equívoco, evidente.– Bulhufas, seu panaca, seu bolha! A

gata não aguenta mais esse papo furado.Embarca na canoa do que se transa ou sóvai papear com espelho. Isso porque o caraa tua frente é igual a ti, com a diferença denão poder te mandar pra...

Moral: em época de seca não se fala embanho.

Não houve, por parte da nossa socieda-de, ao longo dos anos, a preocupação emresgatar e preservar a memória dos temposda escravidão. Pouco era falado dessa nó-doa na história pelos descen-dentes de escravos.

A história pouco conheci-da da experiência dos últimosescravos do Brasil oitocentistacoincide, infelizmente, com umprofundo silêncio sobre a tra-jetória de seus descendentes.Homens e mulheres que vivemno Vale do Paraíba guardam nassuas memórias familiares par-tes da história que não foramregistradas nos documentosescritos, nos livros escolarese nas memórias oficiais.

Memórias do cativeiroProcurando romper com esse silêncio,

nos últimos anos, diversas entrevistas fo-ram feitas com D. Nair Porfírio e Celina deBarros, filha e neta de ex-escravos. Nas inú-

meras conversas, o passado presente nasnarrativas das entrevistadas pode ser con-tado e estimulado através das inúmeras fo-tografias de família carinhosamente guarda-

das. Portadoras de vastopatrimônio memorialístico, foramtestemunhas da superação e dasconquistas de seus pais e avós– Geraldino Porfírio, Eulália eBenedita. Após o 13 de maio de1888, contrariando todas as ex-pectativas, esses ex-cativosconstituíram uma das mais res-peitadas e expressivas famíliasde Piquete. Seu Geraldino foi umdos que preservaram a memóriado Jongo, manifestação da cul-tura negra ainda presente emarcante em Piquete. AC

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Foto Arquivo Pró-Memória

Page 7: Maio 2013

O ESTAFETAPiquete, maio de 2013 Página 7

Um dia desses Bibiu deu adeus e partiu.Deixou-nos saudosos e, na nossa memóriafragmentada, as marcas do passado se pro-puseram remissivas, mas vivazes.

Lembro-me da jovem Bibiu na casa dospais, seu Benedito Elias e dona Tide. Famí-lia numerosa, de gente boa e trabalhadeira.Até que apareceu o Zé Gomes. Namoraram,noivaram e se casaram.

A casa do casal Benedito Elias e Tideera sempre alegre. Várias meninas e poucosmeninos. Não citarei o nome de todos por-que poderei esquecer algum. Tenho a im-pressão de vê-los todos no entra e sai dobar e padaria da família. Em idade escolar docurso primário, era minha amiga mais próxi-ma a Tereza, liderança por ser mais velha,mas, principalmente, mais forte, decidida eindependente.

Imitávamos os filmes que assistíamos nocinema ao lado, o cine Piquete, no casarãoonde hoje há uma igreja evangélica.

Éramos pré-adolescentes ruidosos eaborrecidos, como todos nessa idade ricade experiências, de teimosias, birras, echatíssimos. Os mais velhos da família Eliasnão nos davam bola, só vigiavam, mas nãonos maltratavam. Dona Tide era só ternura.As moças da casa trabalhavam bastante eencaminhavam-se para o casamento.

Carmem já havia se casado com o Ismaelde Almeida. Lavínia já iniciava o namoro como Zé Carlos, filho de seu Carrinho (Carlos Ri-beiro da Silva Jr.) e dona Nena. Casaram-se.

E nós crescíamos e íamos aprendendo avida. Um dos meninos, o “Borrachudo”,morreu precocemente, vítima de queimadu-

ras. Deixou-nos impressionados com essetipo de morte.

Até que um dia houve uma alteração – apadaria passou para as mãos de seu Pencke,que ali foi morar com a família. O casal Eliasmudou-se para a casa ao lado e montou umasorveteria. Que delícia os picolés nas tar-des calorentas! Mas, da padaria ficaram in-deléveis o gosto da empadinha e o sabordos rebuçados de Dona Tide. O quintal eranosso local de brincadeira e dois novosmeninos entraram na roda: Bismarque eItamar. Roda, mesmo, pois não sei por quecargas d’água achamos por bem organizaruma roda e brincarmos com tarefas e opini-ões divididas e cotejadas no conjunto. OBismarque, o menino mais velho da famíliaPencke, era “namorado” de uma das meni-nas, já não me lembro bem de qual delas. O

Bibiu e nósItamar era meu “namorado”, um menino lou-ro, muito infantil, parecia inteligente.

Do lado mais adulto, eles nos observa-vam e controlavam. Bibiu era sempre atare-fada, mas uma presença constante. Quandoprecisava, cortava nossas asas. A ternurado olhar de Dona Tide estava nela, sempremuito séria e compenetrada de seus deve-res. Tereza era a “mandona” da turma. Ain-da frequentávamos o grupo escolar. Terezaera minha colega de classe. Estamos na fo-tografia de formatura. Daí em diante o tem-po engoliu muita coisa.

Bibiu, casada, morava perto da irmãCarmem, na pracinha hoje chamada DonaLeonor Guimarães, onde impera um belís-simo ipê amarelo. Estava sempre presentecom o Zé nas quermesses, festas e cultosda antiga matriz – o casal sempre junto.

Bibiu e José Gomes ficaram casadosmuito tempo – comemoraram todas as bo-das de união feliz e amor. O amor que reno-va a chama.

Rodeados de sobrinhos celebravam avida. O jardim florido localizava a moradiadeles. Outro dia, não faz muito tempo, vi aliumas orquídeas soberanas em seu segredofeminino. Era bom vê-los ao portão, sorri-dentes, afetuosos e cheios de esperanças.Agora uma das partes se deslocou, talvez amais sensível, testemunha de um passadoque nos ilumina, transformado em memóriadoce que se reserva aos felizes e aos sábi-os. Foi bom tê-la entre nós, e entre nós per-manece a expressão suavizada, como sím-bolo vivo e chama forte.

Dóli de Castro Ferreira

Fot

o A

cerv

o pe

ssoa

lA Serra da Mantiqueira limita o municí-

pio de Piquete com o estado de Minas Ge-rais. Mantém extensas áreas de Mata Atlân-tica preservada, reserva da biosfera, que sãoverdadeiras preciosidades. Biosfera é a por-ção terrestre, aquática e aérea do nosso pla-neta onde a vida se faz presente. Reservasda biosfera são reservas naturais criadaspela UNESCO. A ideia básica é a criação de“museus vivos” do que de melhor existe emtermos de natureza no planeta, como amos-tras dos principais ecossistemas de hoje a

serem preservados para as gerações futu-ras. Nessa categoria estão incluídos nãosomente belos cenários naturais como tam-bém zonas ou paisagens típicas, raras ouem perigo. São, na verdade, reservasbiogenéticas. No Brasil, a Reserva daBiosfera da Mata Atlântica é a pioneira dasreservas brasileiras. Essa floresta é a maisrica em biodiversidade do mundo, onde vi-vem 15% de todas as espécies animais evegetais do planeta. No entanto, é tambéma mais ambientalmente agredida: resta pou-

co mais de 8% de sua cobertura original.Daí a importância de preservá-la.

Proteger a vida não é somente uma pre-missa ética, mas uma necessidade especialdo ser humano. O homem depende da diver-sidade de animais, plantas e microorganis-mos para a produção de alimentos e medica-mentos e para seu prazer estético. Essabiodiversidade é fundamental, também, paraa estabilidade climática e ambiental do pla-neta. Devemos, portanto, proteger o biomaMata Atlântica... Essa atitude é vital!

A Serra da Mantiqueira preserva a vida...

Fotos Arquivo Pró-Memória

Page 8: Maio 2013

O ESTAFETA Piquete, maio de 2013Página 8

Quem assimilou bem o conteúdo de umalicenciatura está convencido de que, até ofinal da adolescência, o ser humano aindanão desenvolveu a contento suas capaci-dades cerebrais.

Continuando nas fontes abalizadas, afir-mam os médicos que a gravidez de uma ado-lescente implica risco porque seu corpo nãoapresenta as condições ótimas para gestar,parir e amamentar.

Quando focalizamos um casal adulto,queremos admitir que estamos diante depessoas responsáveis. Mas uma observa-ção superficial da vida de ambos nos revelaque, com dificuldade, poderiam sustentardois filhos. No entanto ousaram colocar dezcrianças neste mundo.

Mês passado, uma aluna esfaqueou, naescola, um colega que zombava de seu so-taque nordestino; algum tempo antes umamãe aguardou a filha à saída da escola paraajudá-la a cortar o rosto da colega que aincomodava.

Constatamos que adolescentes e adul-tos irresponsáveis incham a população dascidades com crianças violentas que a pró-pria escola não está conseguindo orientar.

Consequência: delinquência em tenraidade.

O adolescente infrator não pode ser re-colhido a presídios.

Quando crianças e adolescentes apre-sentam as fragilidades criminais, a socieda-de é que deve ser trancafiada na cadeia.

A sociedade designa seus lugares-tenen-tes para cada atividade. Encarregou a famí-lia, a escola, o Conselho Tutelar e os juizadosde cuidar de seus incapazes.

Que tipo de pai deixa o filho criança pas-sar a noite sentado na rua fumando “crack”?

Que tipo de mãe deixa a filha adolescen-te passar a noite sozinha em um baile “funk”?

Que tipo de escola expõe os alunos atanta violência ?

Que tipo de conselheiro, que tipo de juizdeixam florescer uma Cracolândia?

Quando os inimputáveis cometem pe-quenos delitos podem ser monitorados den-tro da própria família.

Mas, quando, por infelicidade, chega-rem a cometer crimes, só deverão deixar aFundação Casa após completar 18 anos, comprofissão e encaminhados para emprego.

Só a partir deste momento a sociedadepode considerar-se livre de responsabilida-de.

O Brasil não deu importância a uma polí-tica de migração.

O pequeno agricultor e o sertanejo dosemiárido ficaram ao deus-dará, desistiramde suas atividades e buscaram outros lo-cais para sobreviver.

A migração para as grandes cidades foifeita sem planejamento criando um amonto-ado de alojamentos miseráveis.

Quando o governador paulista MárioCovas entregava as chaves de moradiaspopulares, um rapaz disse à repórter: “Fi-nalmente, eu vou poder caminhar dentro deminha casa”.

Sabemos que milhares de brasileiros fa-zem suas necessidades fisiológicas no mato;e, no rio, tomam banho, lavam suas roupase vasilhas.

Um barraco na periferia é muito pior doque isso.

Nem todo pobre é criminoso. Mas a po-breza pode ser o estopim da revolta.

Principalmente entre crianças e adoles-centes expostos a todo tipo de propagan-da.

Agora que é moda criar faculdades, ébom que se multipliquem as FAU – Facul-dade de Arquitetura e Urbanismo para queas cidades brasileiras se tornem habitáveis,com ar puro e água potável.

E que, neste pouco tempo que me restade vida, eu consiga realizar o meu grandesonho: a Casa 1.0, o mínimo razoável de ha-bitação para todas as famílias brasileiras.

Abigayl Lea da Silva

Falhamos todos

Poucos dias atrás, um jovem de umadas comunidades rurais que atendo pro-curou-me após a celebração da eucaristia,disse-me que não tinha mais fé. Ele faloualgo que me surpreendeu: “ Se eu acreditarem Deus, terei muita raiva dele, a vida é tãodifícil, se Deus existe ele é muito injusto,pois nunca faz nada para mudar as coisas.”Naquele momento dei alguns conselhos, oanimei a continuar crendo e o abençoei.Suas palavras representam os sentimen-tos, com relação à religião, comuns a mui-tos jovens de nosso tempo. Não raras ve-zes, Deus parece um conceito irrelevantepara a vida. O grupo dos que se declaramsem religião é o que mais tem crescido, se-gundo os últimos sensos demográficosrealizados em nosso país.

A perda da esperança em Deus tambémpode fazer parte de nossa caminhada defé. Como cristão, acredito que ninguémnesse mundo tenha tido tanta fé como Je-sus de Nazaré. Ele tinha tanta intimidadecom Deus, que o chamava de Paizinho, eensinava seus amigos a também chamá-loassim. No momento da morte, porém, o sen-timento de Jesus com relação a Deus eramuito parecido ao de muitas pessoas, so-bretudo o de muitos jovens de nosso tem-po. O evangelista Marcos registrou em seuevangelho as últimas palavras de Jesus:“Eloi, Eloi, lamá sabactâni?, Meu Deus,meu Deus, por que me abandonastes?”(Mc 15, 34).

O texto de S. Marcos, o mais antigo dosevangelhos, nos permite supor que Jesustenha morrido sem compreender por que

Deus não havia interferido naquela situa-ção injusta pela qual passava, e faztransparecer uma enorme decepção de Je-sus para com Deus. Nesse momento dolo-roso Jesus foi profundamente solidário aosque se decepcionam com Deus, aos que sesentem abandonados até mesmo por ele, aosque morrem se sentindo desamparados.

Na verdade, nossa fé, nosso conheci-mento, nossa esperança são limitados, emuitas vezes nos encontramos no abando-no, na incompreensão, na desesperança,essa é a condição do ser humano. Nessesmomentos Deus se torna, em nossa experi-ência, alguém indiferente, um ser frio, alheioaos nossos penares. Conforme S. Marcos,foi essa a derradeira experiência que Jesusfez de Deus. No último capítulo de seu evan-gelho, porém, S. Marcos relata o momentoem que algumas mulheres foram ao tùmulode Jesus para ungir o cadáver. Ao chega-rem, viram que a pedra havia sido retirada,entraram e viram um jovem sentado ao ladodireito, vestido de branco. Ele disse às mu-lheres: não fiquem assustadas. Vocês estãoprocurando Jesus de Nazaré que foi crucifi-cado? Ele ressuscitou! Não está aqui! Ve-jam o lugar onde o puseram. O relato de S.Marcos mostra que embora nossa humani-dade seja sempre incapaz de compreenderDeus e os seu desígnios, e não seja raroperdermos a esperança e a fé quando nossentimos desamparados e muitas vezes tam-bém repitamos: Meu Deus, meu Deus, porque me abandonastes? Podemos confiarque, ainda que intuamos o contrário, sem-pre estamos sob o olhar paterno de Deus,

ele não havia abandonado Jesus à própriasorte, embora Jesus tenha morrido comessa impressão.

A falta de fé também é, de certa forma,um modo de o ser humano experienciarDeus, é fruto da precariedade humana e desua incapacidade de compreender a gran-deza de Deus. Os grandes místicos nor-malmente relatam experiências de profun-das crises de fé. Um Deus compreendido edescritível não é Deus, Deus, embora re-velado em seu filho Jesus, permanece emseu mistério e não deixa de ser inefável.Arrisco afirmar que a maior parte daquelesque se declaram descrentes em nosso tem-po, na realidade reivindicam uma divinda-de que possa continuar habitando o mis-tério e agindo independente de nossos do-mínios. Reivindicam igualmente o direitode não compreender o agir de Deus, comoJesus não o compreendeu no momento desua morte, e ainda assim estar sob os seusmisteriosos cuidados paternos.

Acreditando ou não em Deus, esperan-do ou não, o ser humano está sempre su-jeito ao seu amor e à sua bondade. Deusnão desampara a nenhum de nós, mesmoque não tenhamos fé e nos sintamos porele abandonados. Sua ação no mundo e nahistória de cada um de nós não dependede nossa fé mas de sua graça e de sua bon-dade. Mesmo que pareça estar alheio, elenos conduz misteriosamente. Acho que, noíntimo, aquele jovem intui isso; assim, mes-mo sem crer, tem sido cristão econtinua frequentando sua comunidadeassiduamente. Pe. Fabrício Beckmann

Um Cristão sem fé

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