malinowski, bronislaw - os argonautas do pacífico ocidental

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    OsArgonautas do Pacifico Ocidental"'".' . . . . . . '.

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    As popula~ costeiras dasDhas dos M a r e s do SuI, com muito r~as . vex~, sao, ou eram antes da sua extin~o, peritas em navega~io e comer-cio. Algumas delas desenvolveram exce1entes tipos de canoas de navega~o~ alto mar, nas quais embarcavam para expedi~ comerdais distantes ouincursOes de guerra e conquista. Os Papua-Melanesios, que habitam a costa aas i lhas longfnquas da Nova Guin~ nio sao excep~oa esta regra. Trata-se, ....;de um modo geral, de marinheiros corajosos, artesios habilidosos e nego-dantes argutos. Os centros de manufactura de artigos importantes, como a ..... cerimica, inStnunentos de pedra, amaas, c : e S t a r i a ina e omamentos valiosos, .distribuem-se por diferentes loCais, de acordo com a habilidade dos habitan- . .'tes, a tradi~o tribal que herdaram ou as condi~ propfdas oierecidas pela .regiio; por isso, estes produtos sao comerdallzados atraves de vastas regiOes, .chegando a percorrer-se centenas de quil6metros. '. .

    Entre as virias tribos estabeleceram-se formas de trocas definidas aolongo de rotas comerdais precisas. Uma das formas de comerdo intertribalmais notive! e a que existe entre os Motu de Port Moresby e as tribos do Golfode Papua. Os Motu navegam centenas de qui16metros em canoas pesadas e . . .desajeitadas chamadas lakatoi , que t e r n ve1as caracterlsticas em forma de tena- ,.:'.'.zes de caranguejo. Trazem cerimica e omamentos feitos com conchas - e anti-gamente traziam liminas de pedra - para os Papuas do Golfo, dos quaisobtem, em troca, sagti e as pesadas canoas escavadas em troncos de more,que mais tarde utilizam para a constru~io das suas laka to it,

    Mais a .Leste, na costa Sui, vive a popula~io maritima e diligente dosMailu, que liga 0extremo oriental da Nova Guin~ A s tribos da costa Central,atraves de expedies comerdais anuais2 Por fim, os nativos das ilhas e dosarquipeIagos dispersos pelo Extremo Oriental, manrem constantes rela~OescomerGiais entre si. 0 livro do Prof. Seligman oferece-nos uma excelente des-cri~o deste tema, espedalmente das rotas comerdais mais proximes entre as

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    18 \ E t h n o l o g i l avarias ilhas habitadas pelos Massim do Sui s. Existe~ todavia, outro sistemacomercia1 muito a!argado e altamente comple~~",qlle inclui nas suasr~-ca~oes, nao s6 as' ilhaspr6ximas do Extrema' Oriental, ,mas tambem asLuisiadas, a Ilha de Woodlar~ 0ArquipeIago de Trobriand e 0 grupo deEntiecasteaux, penetrando no continente da Nova Guine e influenciando indi-rectamente vanas, regiOes distantes, como a Dba de Rosse1 e algumas partesda costa Norte e Sui da Nova Guine. Este sistema comerdal, 0Kula, e 0temaque me proponho descrever neste volume e tomar-se-a evidente que se tratade um fen6meno econ6mico de considerive1 importincia te6rica. Reveste-sede um significado extremo na vida, tribal d08 nativ08 que vivem dentro do seucircuita, sendo a sua importincia totalmente reconhecida pelos pr6prios, cujasideias, ambi~, desejos e vaiciades estio directamente re1acionados com 0J < u l a . '

    " , II, ,Antes de prosseguir com a descri~o do J < u l a , s e r a conveniente fazer uma

    desai~o dos metodcs utilizad08 na reeolha do material etnogrcifico. Em qual-quer ramo do conhecimento, os resultados de uma pesquisa cientffica devem,-\~ser apresentados de maneira to~te neutra e honesta. Nao ocorreria a nin-",;'guem fazer uma contribui~o eXperimental no Ambito da ci&:t.ciaisica ou qui-, qUca sem dar conta detalhada de tod08 08 passos das experiencias que efec-tueu, uma desai~o exacta dos instrumentos utilizados, ciamaneira como asobserva~ foram conduzidas" do seu nUmera, da quantidade de tempo queIhe foi dedicado e do grau de aproxima~o com 0qual cada medida oi reali-zacla. Nas ciencias menos exactas, como na Biologia ou na Geologia; isto naopode ser feito de forma tao rigorosa, mas qualquer estudioso fara 0seu melhorde maneira a omecer ao leitor toda i as condi~ em que as experiendas ouobserva~ foram efectuadas. Lamentavelmente, na Etnografia, onde a apre-senta~o desinteressada dessa informa~o se toma talvez ainda mais necessa-ria, isto nem sempre tem sido devidamente explicitado e muitos autores limi-tam-se a apresentar os dados adquiridos, fazendo-os emergir, perante n6s, apartir da mais completa obscuridade, sem qualquer referenda aos processosutilizados para a sua aquisi~o. ",';: ' '

    Seria facil citar obras de grande reputa~o e de cunho cientffico reco-nheddo, -em que somes confrontados com generaliza~Oes por atacado, semqualquer informa~ao relativa a s experiencias que conduziram os autores assuas conclusOes. Nao encontramos a{ nenhum capitulo ou paragrafo espe-cial dedicado a descri~o das condi~Oes sob as quais as observacoes foramefectuadas e as informa~Oes recolhidas. Ora eu penso que a linha que separaos resultados da observa~o directa e as declara~Oes e interpretac;5es nativasdas inferenclas do autor baseadas no seu senso comum e capacidade depenetracao psicologica 4 56 pode ser tracada com base nessas fontes etno-grcificas de inquestionavel valor ~entffico. Na verdade, um sumano como 0

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    '.~ )- _ .:" :,t " . , . : ~ . : , . / . , ! . _ . _ I ~t . : . . . o : , : . " . . _. ~: t< : : . . ' . . ' :que esta inclufdo no quadro abaixo (Div. IV deste'cap(tulo), deveria ser sem-pre exibido, de forma a que, num olhar rapido,' 0 leitor possa avaliar comprecisio 0grau de conhecimento pessoal do autor sobre os factos que des-creve e formar uma ideia re1ativamenteas condi~Oes de obten~ao de infor-ma~ao junto dos nativos.

    Se pensarmos na ciencia hist6rica, nenhum autor esperaria ser levado a. serio se envolvesse as suas fontes em misterio e falasse do passado como se 0estivesse a adivinhar. Na Etnografia, 0 autor ~, simuHaneamente, 0 seu pro-prio cronista e historiador; e embora as suas fontes sejam, sem ddvida, facil-mente acessveis, elas sio tambem altamente dUbias e complex as; nao estaomateria1izadas em documentos fixos e concretos, mas sim no comportamentoe na mem6ria dos homens vivos. Na Etnografia, a distincia entre 0materialinformativo brute - tal como se apresenta ao investigador nas suas observa-.~Oes,nas declara~ dos nativos, no caleidosc6pio da vida tribal - e a apre-senta~ao final confirmada dos resultados ~, frequentemente, enorme. 0Etn6grafo tem que salvaguardar essa distincia de anos laboriosos, entre 0momento em que desembarca numa ilha -nativa e faz as suas primeiras tenta-tivas para entrar em contacto com os nativas e 0perfodo em que escreve a sua :versao final dos resultados. Uma ideia gera! e breve das atribcla~Oes de um -Etn6grafo, tal como eu as vi~ pode ~ mais luz sobre esta questio do que. qualquer longa discussio em abstracto. '~,_

    .....:. . . ,Imagine 0 leitor que,-de repente, desemb~' ~zinho r l u n t a praia tropi-

    c : a 1 , perto de uma aldeia nativa, rodeado pelo seu material, enquanto a lanchaou pequena baleeira que 0 trouxe navega a~ desaparecer de vista. Uma vezque se instalou na vizinhanea de um homem branco, comerciante ou missio-rulrio, nao tem nada a fazer senao comecar imediatamente 0seu trabalho etno-grafico. Imagine ainda que ~ um principiante sem experiencia anterior, semnada para 0 guiar e ninguem para 0 ajudar, pois 0homem branco esta tem-porariamente ausente, ou entio impossibilitado ou sem interesse em perdertempo consigo. Isto descreve exactamente a minha primeira inicia~ao no tra-balho de campo na costa Sui da Nova G~. Lembro-me bem das longas visi-tas que efectuei as povoaes durante as primeiras semanas e da sensacso dedesanimo e desespero depois de muitas tentativas obstinadas mas imiteis como objectivo frustrado de estabeledmento de urn contacto real com os nativosou da obten~ao de algum material. Atravessei periodos de desinimo, alturasem que me refugiava na leitura de romances, tal como um homem levado abeber numa crise de depressio e t~dio tropical.

    Imagine-se, agora, 0leitor, entrando pela primeira vez na aldeia, sozinhoou na companhia do seu cicerone branco, Alguns nativos juntam-se em seuredor, espedalmente se pressentirem ~ue ha tabaco. Outros; mais distintos e

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    idosos, mantem-se sentados onde estio. 0 seucompanheiro branco tem a sua"forma habitual de lidar com os nativ08 e nio compreende, nem parece querercompreender, a maneira como v.oc:e,enquanto Etn6grafo, os tera de abordar.A primeira visita deixa-o com a esperan~ de que, quando voltar sozinho, ascoisas correrio melbor. Essa era, pelo menos,a minha expectativa .

    -.".Re gre sse i na primeira oportunidade e depressa reuni uma audienda aminha volta. Umas sauda~ em pidgin-Engl ish- de ambas as partes e algu-mas trocas de tabaco instalaram uma atmosfera de amabilidade mutua. Tenteientio passar ao assunto. Primeiro, para COUl t !9U ' com temas que nio levan-tassem suspeitas, comec:ei a fazen. tecnologia. Alguns nativos estavam ocu-pados a fabricar um ou outro objecto. Era adl observa-Ioe e obter os nomesdas ferramentas e mesmoalgumas express5es tecnicas sobre os procedimen-tos, mas logo se esgotou 0 assunto. S preciso Dio 'esquecer que 0 pidgin--Engl ish e um instrumento muito imperfeito para expressar ideias e que, antes

    I de se alcan~ urn treino razoave1 na constru~o de perguntas e compreensiode tespostas, a sensa~oe a de que nunc. se vira a atingir uma comunica~of!uente com os nativos; e eu era incapaz de estabelecer qualquer conversa claraou detalhada com e1es.Estava dente de que 0~r remedio para ultrapas-sal isto era empreender a recolha de dados amaetos e, entio, e1aborei umcenso da aldeia, registei genea1ogias, tracei pianos e recolhi 08 termos quedesignam .as formas de parentesco. Mas tudo isto era material morta quepouco adiantava para 0 conhecimento da verdadeira ~entalidade ou com-portamento nativo, uma vez que eu nem sequer podia adquirir uma boa inter-preta~o local de nenhum destes temas nem a1can~ aquilo que poderemos.designar como 0 sentido da vida tribal. Relativamente a s suas ideias sobre are1igiio e a magia, as suas cren~ na feiti~ e nos espiritos, nada era con-seguido, para alem de alguns temas superficiais de folclore deturpados devidoao constrangimento do p idg in-E nglish . .:

    A informa~o que recebi de alguns brancos residentes na regiio, emboravaliosa a sua maneira, foi mais desencorajadora do que qualquer outra relad-onada com 0meu proprio trabalho. Ali estavam aque1es que; vivendo luianosno local, com oportunidades constantes de observar os nativos e de comunicarcom e 1 e s , pouco ou nada sabiam com exactidio a seu respeito. Como podia eu,entio, em poucos meses ou mesmo num ano, esperar supera-los e irmais alem?A l e m disso, a maneira como os meus informadores brancos falavam dos nati-vos e expunham as suas opiniOes era, naturalmente, a de mentes destreinadas. e pouco acostumadas a formular 08seus pensamentos com algum grau de con-s is rencia e predsio. Na sua maioria, e quer se tratasse de um administrador oude um comerciante, estavam, comb ser ia de esperar, marcados por preconcei-... ... .

    Inicialmente utilizado em contexto chin&, 0pidgin-Engl ish nfere-se genericamente aapropria~ locaia rudimentarel da Ungu a Ingleaa, para comunica~o entre indiger.as eforaateiros geralmente comerdantes. (Nota de .revillo dentffica.)

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    C on diflies a deq uad as a o tra ba Ih o etn ogr4 Jico . C om o j e i referi, 0mais impor-tante e manterrno-nos afastados da companhia de outros homens brancos enum contacto 0mais estreito possivel com 08nativos, 0 que 16 pode ser real- .mente conseguido acampando nas suas prcSprias povoa~. ~ muito recon- .fortante estabelecer uma base na propriedade de urn branco por causa dosmantimentos e em caso de doenca ou satura~io da vida indfgena. Mas ela deveestar sufidentemente afastada de modo a Ilio se tomar no local onde se vivepermanentemente e de onde se sai a horas fixas com 0objectivo de ir traba-lhar na aldeia, Nio deve estar sequer tio pr6xima que permita urn acessonipido e a qualquer momenta para distra~io. Isto porque 0 nativo Ilio eocompanheiro natural de um homem branco, e depois de se ter estado a traba-lhar com e1edurante algumas horas, observando 0modo como arranja os seusjardins, escutando as suas informa~ sobre folclore ou discutindo os seuscostumes, e natural que se anseie pe1a companhia dos nossos semelhantes. Masse se estiver 16, nurna aldeia com diffdl acesso a outros brancos, sai-se para urn \

    Malinowski: Os Argonautas do P l ld J ic o Oc i de n ta l 2 1tos e opiniOes predpitadas, habituais nohomem pnitico comurn mas tio repug- \!)nantes para uma mente que lutava porurna perspectiva objectiva e dentffica COdos factos. 0habito de tratar com uma frivolidade arrogante 0que e realmente-~ serio para 0 Etn6grafo e a negligencia votada aquilo que, para este, e umtesouro dentffico ':refuo-me a s peculiaridades e autonomia mentais e cultu-rais -, estas caracteristicas, comuns entre os escritores amadores de segunda,"eram a t6nica dominante no espfrito da maioria dos residentes brancost, .

    De facto, foi apenas quando me encontrei sozinho na regiio que a minhaprimeira obra de pesquisa etnogrMica na costa SuI comecou a avancar; des-cobri entio, a minha casta, onde residia 0segredo do verdadeiro trabaIho decampo. Qual e, afinal, esta magia do Etn6grafo pela qual ele e capaz de evo-car 0 verdadeiro espirito dos nativos, a verdadeira imagem da vida tribal?Como de costume, 0sucesso s6 pode ser obtido atraves de urna aplka~io sis-tematica e padente de urn determinado ruimero de regras de born senso e deprincipios dentfficos bem definidos e Ilio atraves de qualquer atalho miracu-loso que leve aos resultados desejados sem esfor~ ou problemas. Os prind-pios do metoda podem ser agrupados em'tres items prindpais: em primeirolugar, como e 6bvio, 0 investigador deve guiar-se por objectives verdadeira-mente dentificos, e conhecer as normas e aiterios da etnografia modema; emsegundo lugar, deve providendar boas condi~ para 0seu trabalho, 0quesignifica, em termos gerais, viver efectivamente entre os nativos, longe de Ioutros homens brancos; finalmente, deve recorrer a urn c e r r o mimero de meto-dos especiais de recolha, manip~do e registando as suas provas. Falemosurn pouco destas tres pedras basilares do trabalho de campo, comecando pelamais elementar: a segunda.

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    passeio solitario de cerca de uma hora, regressa-se e depots, de forma natural,procura-sea convivenda dos nativos, desta vez p a r a resolver a solidio, comose faria com qualquer outra companhia. E, atraves deste relacionamento natu-ral, aprende-se a conhece-Ios e a famil iar izar-se com os seus costumes e cren-~ de forma muito mais conveniente do que quando se recorre a um infor-mador pago e muitas vezes aborrecido.

    Exis te uma diferen~ enor:ne entre uma escapeIa esporidica na companhiados nativos e um contacto real com eIea. 0 que significa isto? Da parte doEtn6grafo, signifka que a sua vida na aldeia - no iniao uma aventura muitasvezes estrcqlha e desagradave1, outras vezes intensamente interessante - assumedepressa um c :urso natural em harmonia progressiva com aquilo que 0 rodeia.Pouco tempo depois de me estabelecer em Omarakana (Dbas Trobriand),comecei, de certa forma, a partiapar na vida da aldeia, a esperar com impa-dencia peIos acontecimentos importantes ou festivos e a interessar-me pessoal-mente peIos mexeri~ e pelas pequenas ocorrindas locais. Acordava todasas manhis pa ra um dia que se me apresentava mais ou menos semeIhante aode um nativo. 5afa de debaixo do meu mosquiteiro e observava a vida da

    .ialdeia despertando em meu redor ou aqueIes que jii t inham comeeado a seu'.' trabalho, consoante ahara ou a esta~o do ano, pois as ~as eram iniciadasde acordo com as necessidades do trabalho. A medida que dava 0meu pas-seio matinal pela aIdeia, podia apreciar deta1hes Intimas da vida famiIiar, dehigiene corporal, .cozinha au cuI i ruUia ; podia observar os preparativoS para 0dia de trabalho, as pessoas iniciando as suas inc:umbencias ou grupos dehomens e muIheres ocupados co:n algumas tarefas ar tesana is . Brigas, piadas,cenas famillares, acontecimentos triviais, por vezes ciramaticos, mas sempresignificativos, constituiam a atmosfera da minha vida clWia, tal como a de1es.Deve ser Iembrado que 0 facto de os nativas me verem diariamente fez comque deixassem de se interessar, recear ou mesmo de ficar conelicionados peIaminha presenca, deixando eu de constituir um elemento perturbador da vidatribal que queria estuciar, de alteni-la com a minha aproxima~o, como sem-pre acontece com um recem-chegado a uma comunidade seIvagem. De facto,como sabiam que iria meter 0nariz em tudo, mesmo onde um nativo hem edu-cado nao sonharia faze-Io, acabaram por me encarar como parte integrante dassuas vidas, um mal ou um aborrecimento necessirio, mitigado por donativosem tabaco.

    Mais tarde, durante 0 elia, qualquer coisa que acontecesse se tornava defacilalcance e difici1mente escapava ao meu conhecimento. Alarmes sobre aaproxima~o do feiticeiro ao fun do dia, uma ou duas grandes brigas impor-tantes e desentendimentos dentro da comunidade, casos de doenca, tentati-vas de cura e mortes, ritos magieos que tinham de ser executados, tudo istose passava mesmo a rente dos meus olhos, por assim dizer, a minha porta e,por isso, Ilio tinha de perseguir nenhum destes casas com receio de que meescapassem. E devo insistir que de ada vez que se passa algo dramatico ou

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    Malinowsk i: O s Argonau f a s d o P lm ftc o O c id en ta l 23importante e essendal Investiga-lo no preciso momenta em que ocorre, poisos nativos Dio conseguem entao deixar de falar do assunto e estao demasiadoexcitados para se mostrarem reticentes e demasiado interessados para se tor-narem pardmoniosos nos detaIhes. Tambem muitas e muitas vezes nao cum-pri a etiqueta, facto que os nativos, ja familiarizados comigo, nao hesitaramem apontar. Tive de aprender a comportar-me e, ate certo ponto, adquiri asensibilidade para 0que entre os nativos se considerava boas e mas manei-ras. Foi gracas a isto, e a capaddade em apreciar a sua companhia e partilharalguns dos seus jogos e diversOes, que me comecei a sentir em verdadeirocontacto com os nativos. E esta e , certamente, a condi~o previa para poderlevar a cab~ com exito 0 trabalho de ~ampo.

    v .I .:~, .Mas 0Etn6grafo MO tem apenas de l a nea r e s redes no local certo e espe-rar que algo caia ne1as.Tem de ser urn cacador activo e conduzir para la a sua .presa e segui-Ia ate aos esconderijos mais.inacesslveis. Isto leva-nos aos meto-dos mais activos de persecu~o dos testemunhos etnogrcificos. Como f'li men-donado no final da Divisio In, 0Etn6grafo tent de inspirar-se no conheci-Mento dos resultados mais recentes da pesquisa dentffica, nos seus principiose objectivos. Nio me you a1argar sobre este assunto, excepto numa chamadade aten~o, para evitar a possibilidade de equivoco. Estar treinado ~ actuali-zado teoricamente nio significa estar carregado de ideias preconcebidas, Sealguem empreende uma missio, determiilado a comprovar certas hip6teses, e Ise e incapaz de a qualquer momento alterar as suas perspectivas e de as aban-

    I donar de livre vontade perante as evidencias, escusado e dizer que 0seu tra-batho s e r a indtil. Mas quantos mais problemas ele levar para 0campo, quantamais habituado estiver a moldar as suas teorias aos factos e a observ ar estesUltimos na sua rela~o com a teoria, em me1hores condi~ se encontrara paratrabalhar. As ideias preconcebidas sao prejudiciais em qualquer trabalho den-tffico,mas a prefigurac;ao de problemas e 0dom principal do investigador den-tffico, e estes problemas sio reve1ados ao observador, antes de mais, pelos estu-dos te6ricos.

    Em Etnologia, os esfo~ iniciais de Bastian, Tylor, Morgan e dos Vo lk e r -psychologen alemies reformularam a informa~io mais antiga e em bruto dosviajantes, missionarios, etc., e demonstraram-nos quao importante e a aplica-~a" de concepes mais profundas em detrimento de outras mais superfidaise equivocass, .o conceito de animismo substituiu 0 de fetichismo. ou culto demo-maco,.; ambos termos sem significado. A compreensio dos sistemas de rela-~oes c1assificat6rias abriu caminho as pesquisas de sociologia nativa maisrecentes e brilhantes do trabalho de campo da escola de Cambridge. A ami-lise psicologica dos pensadores alemies propordonou imensas Informacoes

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    ,- ,~;:,;,;~lrl"." ..:_~l-.~.". .~~.'~d; :: :. (.:. ~~:J~. ;; ~~.; :.~. \ . .J"~~'; 'valiosas a partir das r e c e n l e s expe4i~ . temis em Africa, na America'do SuIe no Pacfico,~quanto .~ obrcupte6ricas de Frazer, Durkheim e outros ja ~piraram diversos investigadores de campo e continuario, sem ddvida, a faze-- 1 0 durante multo tempo; conduzindo-os ~ novos resultados. 0 investigadorde ~Q ori~ta-se .fpndaqlentalmente segundo a inspira~o da teoria. Ec l . a r o ' 'que ~ .pode ser ao ~esmo tempo um pensador e investigador te6ricoe, ness e c asa ,' pode val~ ge s i propr io para obter esUmulo. Mas estas duas4m ~ ~o ciU~rentes~, PQr issei' na pesquisa efectiva tem de se r separadas, ,tanto: n o ~ ~ como nas ~ndi~de trabalho. . . .' . '., .-.1: '4' . :'.. , I .'.. 'CoIllP, sempre ~~ntece quando 0interesse cientifico se passa a debrucar~ ~ r e .d~do t e r r e n o a~a{ apenas explorado pe1a curiosidade de ama- .dores, a Etnologia introduziu lei e ordem num mundo que parecia ca6tico ecaPrich~. Transformou para n6s essemundo fantastico, bravio e indesaiti- .vel dos ~lvagens,. num certo n1 1m ero de comunidades bem ordenadas,govem,adas po~leis, compor,tando-se e pensando segundo prindpios consis- .tentes. 0 te rmo se lv ag em , independentemente da sua acep~o original, t!conotado com. ideias de liberdadedesenfreada, de irregularidade, de algoextrao~o e extremamente bizarro. No pensamento popular, imagina-seque os nativos vivem no s e i C j ) daNatureza, mais oumenes como podein egos-tam, v{~'4~ temores in,a)ptrolados e ~ fantasmag6ricas. A cienciamodema ~o~tra que, pele) contnUio, as soas institui~ sociais tem umaorganiza~Q'Jlluito defini.da.e que NO govemados pe1a autoridade, lei e ordemna s ' &uaS r$es pUblicas ~ pessoais, .e sta ndo e sta s Ult ima&, para a l e m disso,sob 0~nt:rolo de la~ extremamen'te complexos de parentesco e de pertenca .elinica. De fa cto , encontramo-los emaranhados numa maIha de deveres, fun-~Oes e privilt!gios que correspondem a uma elaborada organiza~o tribalcomunitiriae de parentesce, As su a& ~ e praticas Dio carecem, de modonenhum, de alguma C9D&i&tbcia, e 0conhecimento que possuem do mundoext~or t! sufi~te p~a os guiar na maior parte das suas irduas empresas eactividades. Da mesma forma, tambem as suas produ~ artisticas Dio care-e em , so b nenh~ aspecto, de significado e b e le za .. .Longees~ a posi~o do actual Etn6grafo relativamentea famosa respostahimuito dada por uma autoridade representativa a quem foi perguntado quaiseram as maneiras e c os tumes dos nativos, ao que tera respondido: Nenhunsc os tu m es e maneiras de animals! 0Etn6grafo, com a s suas tabelas de termosde pa.rentesco, genealogias, mapas, pianos e diagramas, prova a existencia deuma organiza~o ampla e exaustiva, demonstra a constitui~o da tribo, do ela,da familia, e cia-nos um retrato dos nativos sujeitos a um c6digo apertado decomportamento e boas maneira&, perante 0qual, por comparacao, a vida nacorte de Versalhes ou no Escorial se apresentaria livre e faaP.

    Por tudo isto, a primeira meta do trabalho de campo etnografico e for-necer um esquema claro e fume da constitui~o social, bem como destacar asleis e normas de todos os fen6menos culturais, libertando-os dos aspectos

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    Malinowski:Os Argonau t a s do P a dftc o O d de n ta l 2Sirrelevantes. 0 esqueleto fume da vida tribal deve' ser estabelecido logo no ~infcio. Este objective impi>e,em primeiro lugar, a obriga~ao fundamental de C Ouma dp.scri~aocompleta dos fen6menos, sem procurar 0que e sensacional esingular e ainda menos 0que e risivel ou bizarre. J a passou 0 tempo em quepodiamos tolerar relatos nos quais os nativos nos eram apresentados comouma caricatura distorcida e infantil do ser humano. Este quadro e falso e, talcomo muitas outras falsidades, foi aniquilado pela Ciencia. 0,Etn6grafo decampo deve cobrir seria e sobriamente os fen6menos em cada aspecto estu-dado da cultura tribal, nio estabelecendo diferencas entre aquilo que e lugarcomum, mon6tono ou vulgar, e aquilo que 0surpreende por ser espantoso eraro. Ao mesmo tempo, toda a amplitude da cultura tribal deve ser pesqui-sada em to do s o s s eu s a sp e ct os . A consistenda, a lei e a ordem que se revelamem cada aspecto contribui, simultaneamente, para a constru~o de um todocoerente., ,o Etn6grafo que se predisponha a estudar apenas a religiao ou a tecno-logi~ ou a organiza~ao social esta a isolar artificialmente um campo de pes-quisa, 0que prejudicara seriamente 0seu trabalho.

    -' .. , VI "Depois de estabelecida esta regra muito geral, vamos aprofundar algu-mas considera~ mais espedficas sobre 0metodo. De acordo com0que aca-:bou de ser dito, 0Etn6grafo no terreno tern0dever de destacar todas as regrase normas da vida tribal, tudo 0que e permanente e fixo; deve dar conta daanatomia da sua cultura e da constitui~ao da sua sociedade. Mas estas coisas,embora aistalizadas e estabelecidas,nao estaof omm lada s em lado algum. Naolui um c6digo de leis esaito ou explidto de qualquer outra forma, e toda atradi~o tribal, toda a estrutura da sodedade esta insaita no mais escorrega-dio de todos os materiais: 0 ser humano. E nem mesmo na mente ou mem6-ria humana estas leis se encontram definitivamente formuladas. Os nativosobedecem a forcas ou ordens do c6digo tribal sem as compreenderem, damesma forma que obedecem aos seus instintos e aos seus impulsos, sendoincapazes de enunciar uma simples lei de psicologia.As normas das institui-~es nativas sao urn resultado automatico da intera~ao das forcas mentais datradi~ao e das condicoes materiais do ambiente. Tal como a um membrohumilde de qualquer institui~ao modema - qu~r se trate do Estado, da Igrejaou do Exercito-, que lh e per tence e ne la esta inser ido mas nio tern a percepcaoda ac~o integral resultante do todo, e ainda menos a capacidade de discur-sar sobre ela, tambem a urn nativo seria inlitil questionar em termos socio-16gicosabstractos. A'diferenca e que na nossa sociedade todas as instituiestern os seus membros pensantes, os seus historiadores, os seus arquivos edocumentos, enquanto numa sodedade nativa nao existe nada disto. Feita talconstata~ao, e preciso encontrar urn expediente para ultrapassar esta dificul-

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    26\ Ethno lo .PI., ~ ,_,:.~~.fo.:~: '. .: ~Ji....:~l" , i. : . .. .

    ,", . " " .. J:j~ .1:\.: t - . i t . . . ~ ! . i .! I. : . .~j.i;L.~~:~:~";:-' 1~~'~ .to~.. ~~d~~1 ; 0 . expeqiente ooN.ifte, para um Etn6grafo, na recolha de ,testemunhos. concretoli e I1a ~~o ~ suas pr6prias indu~e gene ra l i z aes . Assim.-i, a.p~~do, ~to ~,Qbvio.ldas a verdade ~ que Dio oi resolvido, ou pelol.(, men~ ~o fo i posto em pratica na Etnografia ate ao momenta em que 0 tra-0 balhQde,~po coJ;J\~" a set realizado por homens de aencia.AIm do mais,r~. nio ~ f4dl conceber as apJica~ con~ deste metoda quando passado a~~ ,P!~~~ n em p6-lil$ em funcionamento de forma sistematica e consistente..; c. c .~ril nio poss iUl \os questionar o s nativos relativamente a re gra s a bs-:~'~.~~'qas,eJ:n08 ~mpre inquirl-los relativamente ao modo como seria tratado!;,.d~t~o ~Assim, pot exemplo, querendo indagar como Jidariam comf' o~ q~C9JIlQ,op~ seria inutil colocara questao nestes termos:. C o lI\()e quea~ e punem um aiminoso? - pois nem sequer seria pas-': sfveJ'en.Cpntraras palavras~dequadas paraexpressar esta pergunta na Hnguati.nativa,' C ? U em pidgin e .~,u1n caso imagUWio au, melhor ainda, uma ocor-':'"qa'~ estimql~io 9 nativo a exprimir a su a opiniio e a fornecer infor-~,'ma~o profusa. Um aro ~al desencadeara entre os nativos umaonda de dis-';"~~'~ocara e x p r e s s 5 e s de indigna~o, mostra-Ios-a a tamar partido - e< _ _ , ca4~'-um'dos . depoimentosevidenciara provave1mente uma riqueza de dife-':;~rentes'pol?;\osde vis~ de censurasmorais, reve1 and o, ao mesmo tempo, 0: mecanismq. socia l accionado pelo crime. cometido. Com este procedimento,,r'~iafadltev~:::los a f a 1 a r deoutros casos simi1ares, lembrando outros aconte-~entoe,'ou'adiscuti-Ios e m to da s a s suas implica~e aspec tos . A partir, d este ~~ que deve CQ~rira maior g ama de faetos possfvel, as conc lu s5esi ".,-\.....' ,,;ob~-&e por simples ind:u~o. 0tratamento . c i e n t ( f i c o difere domero senso, .e ormnn, em primeiro lugar, porque um investigador ampJiara muito mais a" perfei~o e mmuci.a do inqumto, de fo~ esaupulosamente met6dica e sis-tematica;'em segundo lugar, porque a sua mente, treinada cientificamente,conduzira a pesquisa atrav~8 de pistas realmente pertinentes, a metas de_importinci.a ~ectiva. De factp, o objectiv~ do treino cientffico ~ dotar 0 inves-, tigador empirico de um mtqJa m e n 4 d pelo qual s e pos sa orientar e definir 0seuCaminho_ ' ,.(. .' '.R eg ressand o ao nOSSO exemplo, 08 van08 casas discutidos reve1ario ao'EtruSgrafoil maquinaria soc ia l da puni~o. Esta e uma parte, urn aspecto daautoridade tribal. Imagine-se que, para alent disso e atraves de um metodosimilar ae ila~o a partir de dados conaetcs, e1eobtem informa~o sobre aJideran~ na .guerra, nos empreendimentos econ6micos, em festividades tri-bais - entio tera afinal encontrado todos os dados necessaries para respondera questoes sobre governo tribal e autoridade social. Notrabalho de campoefectivo, a compara~o dos dados e a tentativa da sua articula~o revelaraofalhas e lacunas frequentes na informa~ic, 0que, por seu tumo, incitara aoprosSeguimento da investiga~o .. Pe1aminha propria experiencia, posse dizer que muitas vezes os proble-mas pared.am claramente resolvidos e!e com~ a esaever urn pequeno ras-

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    27 J "" cunho preliminar dos resultados. E era 56 nessa altura que me apercebia dasenormes defidencias que me mostravam onde residiam novos problemas e meencaminhavam para novo trabalho. Na verdade, gastei alguns meses entre aminha primeira e a segunda expedi~ao e mais de urn ano entre esta e a pos-terior, revendo 0meu material e preparando-o para publicacao. Mas de cadayez que o. fazia estava ciente de que teria de voltar a reescreve-lo, Este pro-

    i!. cesso de cruzamento entre trabaIho construtivo e observao pareceu-me par-, t icularmente produtivo e penso que nao poderia ter realmente prosseguido. sem e!e. Refiro este troco da minha pr6pria hist6ria apenas para demonstrarque 0que foi dito ate agora nao e urn programa vazio, mas sim resultado de, uma experienda pessoal. Neste volume, apresenta-se a desai~ao de uma..~grande institui~io multiacetada e com a qual se reladonam variadissimas. ..,actividades associadas entre si. Para quem relicta sobre 0assunto, tomar-se-ae.. claro que a informa~o sobre um fen6meno tao complexo e com tantas rami-t: fica~Oesnao poderia ser obtida com algum grail de exactidao e perfei~io sem..uma interac~o constante entre tentativas construtivas e verifica~6es empfri-cas. De facto, elaborei um esboco d,a institui~o Kula pelo menos meia dUziade vezes enquanto me encontrava no campo enos intervalos entre as minhasexpedies. De cada vez que 0fazia surgiam novos problemas e dificuldades.. A recolha de dados conaetos sobre uma vasta garna de faetos e , portanto,um dos pontos principais no metoda do trabalho de campo. 0 dever obriganio a mera enumera~o de alguns exemplos mas ao enunciado tanto quantapossfvel exaustivo de todos os casas verificados; e, nesta recolha de casos,quanta maisclaro for 0mapa mental maioi' s e r a 0seu exito. Mas, sempre queos dados da pesquisa 0pennitirem, este mapa mental deve ser transfonnadoem alga de conaeto, materializado num diagrama, num plano ou numa tabelasin6ptica exa.ustiva dos casas verificados. l e i ha muito que nos habituamos aencontrar em todos os livros aceitaveis sobre nativos uma lista completa ouwna tabe1a da terminologia de parentesco, incluindo todos os dados relativosa este assunto e nao apenas algumas rela~ ou designa.es estranhas ou forado comum. Na investiga~o relativa ao parentesco, 0encadeamento das rela-~ umas nas outras leva, naturalmente, a constru~o de tabe1as geneal6gicas.J a praticado por autores fundadores reconhecidos como Munzinger e, se bemme 1embro, Kubary, este metodo veio a ser desenvolvido em plenitude nos tra-balhos do Dr. Rivers. Tambem no estudo dos dados concretos das transa~6esecon6micas - com vista a drcula~io e ao percurso hist6rico de urn objectovalioso - 0principio da perfei~ao e da profundidade permitiu a constru~io detabelas de transa~ semelhantes aquelas que encontramos no trabalho doProf. Seligman I. Foi seguindo oexemplo do Prof. Seligman nesta materia queconsegui ~tabe1ecer algumas das regras mais dificeis e detalhadas do Kula.Quando possiveJ, 0metoda de redu~o da infonna~o a carta.s ou tabelas sin6p-ticas deve ser extensivo ao estudo de praticamente todos os aspectos da vidanativa. Todos or tip os de transac~oes econ6micas podem ser estudados

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    . ,~.28 . EtImDlogill . :. . .,seguindo casas reais reladonad08 entre si e registados numa certa siri6ptica;,t ambem aqui se deve mnceber uma tabela incluindo todas as oferendas e pre-sentes habituais em determinada sociedade, uma tabela que inclua uma defi-ni~o socio16gi~ cerimonial e ecoruSmica para cada item. Sistemas de ~series .reladonadas de cerim6nias, tipoe de ados legais tambem podem serregistados de forma a que cada entrada possa set'definida sinopticamente sobvibias categorias. Alem disso, os recenseamentos geneal6gicos de cada comu-nidade estudados mais em detalhe, mapas extensivos, pIanos e diagramas ilus-trando a pl'Opriedade de terra cultivada, os privllegios de caca e pesca, etc. ser-virio amodocumentos fundamentais de pesquisa etnografica. '

    i- : Uma gertea10gia nio e mais do que uma carta sin6ptica de reIa~ de .parentesco articuladas entre si. 0&eJ,l'valor como instrumento de pesquisaamsiste no facto de permitir ao investigador formular quest5es a si proprioin I I b s t r a c t o , -quest6es que podem, ao mesmo tempo, ser colocadas eoncreta-mente ao informante nativo. Como documento, 0 seu valor consiste no factode fomecer diversos dados autenticad08, apresentados segundo um esquemanatural de assoda~ Umcarta sin6ptica 'cia magia preenche a mesma fun-~o. Como instrumento de pesq~ uti1izei-a e o m 0 tim de averiguar, porexemplo, as ideias sobre as caracteristicas do podermigicO. CoP ' l uma carta arente, p o c : I i a abordar de maneira f'dle cxmvenier.\tediferentes t6picos e regis-tar as'respectivas pratiCa&e ~ cxmtidas em ada um. Assim, atraves deuma ila~o g e r a l para todos oscasos [.J ', pude encontrar resposta para 0meuproblema abstracto. Nio posso aqui tecer mais considera~ reIativas a dis-cussio desta questio, pois isso impUcaria algumas preds5es no que respeita,por exemplo, a dif~ entre 0 registo "de dados conaetos e reais, como agenealogia, e aque1e que visa resumir os ccntomos de um costume ou crenca,tal como seria 0 case do, registo de um sistema magico.

    Voltando mais uma vez a questio da honestidade metodo16gica, ja dis-cutida na Divisio a queria agora salientar que 0 procedimento relativo aapresenta~o de dados concretos dispostos em tabela deve ser aplicado, antesde mais, a s proprias aedenciais do Btn6grafo. Ou seja, urn Etn6grafo que pre-tenda ser respeitado devera patentear dara e concisamente, sob a forma detabela, aquilo que no seu trabaIho resulta das suas pr6prias observacoesdirectas e aquilo que, por seu tumo, resulta de uma recolha indirecta de infor-ma~o~ A tabela seguinte pode servir de exemplo para este procedimento, aomesmo tempo que permitira ao leitor aferir a aedibilidade de qualquer decla-ra~io que tenha especial interesse em verificar. Com a ajuda desta tabela edas muitas referencias dispersas ao longo do texto relativas a forma, a s cir-cunstindas e ao grau de exactidio com que alcancei cada dado concreto,espero ter eliminado qualquer eventual obscuridade relativa a s fontes destelivro.

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    I' ".j. " . ... '.Malinowski: Os A r go n au tQ S d o P a d fic o O c id en fa lPRIMIRA ExPEDI< ;AO, Agosto de 1914-Mar~ de 1915.Mar~, 1915. Na aldeia de Dikoyas (llha de Woodlark) cbservacso dealgumas oferendas cerimoniais. Obtencao de informacdo preliminar.SEcuNoA ExPEDI

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    30\ . , EthnD lo gill ,

    Para resumir 0 primeiro ponto fundamental do metodo, digamos que).. ada feri6meno deve ~ analisado tendo em conta t oda a gama poss1:V~ das": suas manifesta~ eonCJ:etq, estudando eada uma'atraves de uma investiga- ~oexaustiva deexemplos detaJhados. 5e pcssfvel, os resultados devem ser'r . dispostos em tabela numaespede de carta sin6ptica, visando a sua utiliza~o: " ; j simultinea comoinstrumento de estudo e como documento etno16gico. Comw, a ajuda destes docwnentose da'anal ise dos dados rea is , e possivel perspecti-\j.j' var com'clareza 0contexto da culturanativa, no sentido mais lato do termo,(L bem como a sua constitui~o Social. Este metodo pode se r designado como 0t : . : ; mtto do d,4 do c umenta o e stlltf stiC IJ IJtravisde pro vas conc re flls. . '~ ; " : , ; : ~ ' ~ ~ ! t i f ; : ' : ' ; I ~ ~ ; ~ : ~ f : ~~ ~ i \ i ~ Y h >. . . ' . ' . ' . . . . ; . ; ~ , . ' i ' : ;: ' ; ; ' ; , , ; ' ; , :"~n;',~';'Nio e necess8riorepetitque::'aeste r e s p e i U ; ; ; 6 ~ a b a J h o 'de'~p~Ci~ti-

    fico esta muito acima da meJhor das produ~ de amadores. Existe no entanto, um ponto no qual estes Ul timoa fr equen tement e s e destacam. Refiro-me a des-. s : ai~o de alguns tra~ fntimos c i a vida nativa que nos trazem aqueles aspec-t . : tosque:s6 um contacto prolongado' e de grande proxinUdade com os nativos...pode'tori\ai familiares. Os resultadoede alguns trabalhos cientificos ~ sobre-t,\_tudo aqueles habitualmente designados como trabaIho de p ro sp ecc ao -:~~presentam;' por ass im ' 'dizer,' um excelente esqueleto c i a cOnstitui~o tribal,!. 'j m a s falta-lhe a came e 0sangue. :Aprendemos muito sabre 0enquadramento~"da lOciedade em ca~ mas naoamseguim08aperceber-nos ou imaginar den-'. tro dele as rea1idadesda vida hllllW ia, 0fluxo rotineiro dos acontecimentos:, dWios,' as onduccasianais de agita~o' provocadas por uma festa ou eeri-:: .m6nia -ou qualquer acontedmento particular. 'No momento de organizar as',normase preceitos dos costumes locais, resumindo-os a uma f6rmula alcan-.i9lda atrava c i a reco1ha de dados e declara~ des nativos, acabamos por con-""cluirque esta precisio eestranha a vida real que nunca adere rigidamente ai_ qualquer norma.Toma-se entio necessario complementar este ponto de vistac : atraves da "'.lserva~o da maneira como determinado costume e posto em pra-. tica..do com.portamento dos nativos mediante as regras fo~uladas de modo.. tio preciso pelo Btn6grafo e dasmuitas excep~ que ocorrem quase sempret' nos fen6menos socio16gicos. . .,' '., .: S2 todas as conclus6es forem:apenas baseadas nos re la tos dos informan-tes ou deduzidas apartir de documentos objectives, toma-se claramente,'impossivel actuaUza-las com dados efectivamente observados do comporta-mento real. E esta e a razio pela 'qual determinados trabalhos de amadoresresidentes a longo prazo - como comerciantes e agricu1tores instruidos, medi-cos e administrativos e, claro es~' alguns dos missionarios Inteligentes e sen-. satos aos quais a Etnografia tanto deve - ultrapassam em plasticidade e. riqueza vivencial a maior parte dos relat6rios puramente cientfficos. Mas se 0. investigador de campo treinado puder adoptar 'as condi~ de vida acima

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    Malinowski: Os ArgonautM, do Pf lc { f ico Oc iden t fl l 3 1..... '_ .. . _" ~,. : : . .'

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    desaitati; 'fiCara: em m~ito melhor posi~o para entrar verdadeiramente em 'contacto com os nativos do que qualquer outro residente branco, pois nenhumdos outros vive efectivamente numa aldeia nativa, excepto durante periodosmuito curtos, dado que cada qual mantem as suas pr6prias ocupacoes, 0quelhes absarve a maior parte do seu tempo. Aim disso, 0facto de as suas rela-~Oescom 0nativo serem determinadas pelas posi~oes respectivas de comer-dante, missionirio ou administrativo pode leva-los a necessidade de coagi-lo,transfonrui-Io, influencici-Io ou usa-lo, 0que torna uma observa~lo real, objec-tiva e imparcial impossivel, impedindo uma atmosfera de sinceridade, pelomenos no caso dos missionaries e dos administrativos. .

    Viver numa aldeia com 0Unico prop6sito de observar a vida nativa per-mite acompanhar repetidamente costumes, cerim6nias e transac~Oes e acu-mular exemplos das suas crencas e do modo como sio realmente vividas. Eassim 0corpo e 0 sangue da verdadeira vida nativa depressa dario substan- ,cia ao esqueleto de construes abstradas. Esta e a rwo porque, trabaIhandosob as condi~ previamente descritas, 0Etn6grafo consegue acrescentar algo,de essencial ao esboco rudimentar da constitui~io tribal, enriquecendo-a comin11meros detalhes do. comportamento, do ceruUio e dos pequenos incidentes.Ele esta, entio, apto para afirmar drcunstancialmente se urn acto e publico ouprivado; para desaever como uma assembleia publica se comporta e qual asua aparenda; pode, entio, julgar se urn acontedmento e vulgar ou extraor-dinario e emocionante; se os nativos 0aimprem de fonna sincera e seria ouem tom. de brincadeira, de forma superficial ou deIiberada e com zelo.

    Por outras palavras: existem vanos fen6menos. de grande impo~daque MO podem ser recclhldos atraves de questioruUios ou da analise de docu-mentos, mas que tem de ser observados em plena fundonamento. Chamemo--lhes os imponde rab i l i a c ia v ida real . Ne1es se incluem coisas como a rotina deum dia de trabalho, os ponnenores relacionedos com a higiene corporal, amaneira de comer e de cozinhar; a ambienda das conversas e da vida socialem volta das fogueiras da aldeia, a existenda de fortes amizades ou hostili-dades e os fluxos dessas simpatias e desagrados entre as pessoas, 0modo sub-til mas inequivoco como as vaidades 'e ambies pessoais tern reflexos sobreo comportamento do indivfduo e as reac~ emocionais de todos os que 0 'rodeiam, Todos estes faetas podem e devem ser dentificamente formulados eregistados, mas e necesscirio que isso seja feito MO atraves do registo super-ficial de pormenores, como acontece normalmente com observadores MO trei-nados, mas com urn esforco de penetra~io na atitude mental que eles expres-sam. E esta e a razio porque 0 trabalho dos observadores cientificamentequalificados, desde que seriamente aplicado no estudo destes aspectos, pro-duzini, aeio eu, resultados de valor acrescentado. A te agora isso tern side eitoapenas p a r ' amadores, logo, de urn modo geral, com urn valor relativo.

    Na verdade, se nos lembrarmos que estes faetos Imponderaveis masmuito importantes da vida real fazem parte da verdadeira substancia do-i ' '-~.'. " ,

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    32 E_L __ '- . .JlflHlWguI .,;, .:.tecido social , que sio eles que tecem 08 indmeros fios que mantem a c:oesiofamiliar, dAnica, comunitaria e tribal, 0seu significado toma-se claro. Os con-tomos mais aistalizados dosagrupamentos sociais, tais como determinadosrituais, deveres econ6micos e legais, obriga~, oferendas cerimoniais e ges-tos formais de reconhedmento, embora igualmente significativos para 0estu-dioso, sio na realidade sentidos de forma menos pungente pelo individuo queos cumpre. Aplicando isto a n6s proprios, todos sabemos que vida familiarsignifica antes de mais a atmosfera do lar: todos os pequenos aetos incomen-suraveis e aten~ nos quais esmo expressos a afei~o, 0 interesse rmituo, aspequenas preferencias e as pequenas antipatias que constituem a intimidade.Factos como 0 de podermos vir a he rda r de certa pessoa ou 0 de devermosacompanhar 0carro funercirio de oull'a, embora sociologicamente pertencam .a defini~io de familia e de vida familiar, sio colocados em segundo planoquando encaramos a perspectiva pessoa l daquilo que a familia significa ver-dadeiramente para n6s. .omesmo se aplica a uma comunidade nativa, e se 0Etn6grafo quer fazerchegar a vida real dessa comunidede: ate aos seus leitores, Ilio deve, sob qual-quer pretexto negligendar estes faetas. Nenhum dos aspectos - 0 intimo e 0legal - deve ser desprezado. No entanto, geralmente, .os relatorioe etnognifi-cos Ilio contemplam os dois, mas apenas um ououtro ~ e, ate agora, os aspec-tos da intimidade tern side os mais negligendados. Muito para alem do Ambitoestrito das re1a~ famlliares, este aspecto fntimo, expresso pelos detaIhestfpicos de intera~o e pelos padr6es de comportamento Interpessoal, existeem todas as re1a~ sodais, mesmo naquelas que ligam entre si osmembrosde uma mesma tribo ou de tribos diferentes, hostis ou nio, que se encontramem qualquer situa~o social. Bsta vertente e diferente da moldura legal darela~o definida e cristalizada e tem de ser estudada e afirmada nos seus pr6-prios termos,Da mesma forma, quando se estudam os aetos formais da vida tribal- como qualquer tipo de cerim6nias, rituais, festividades, etc. -, os detalhes ea varia~io dos comportamentos devem ser apresentados a par do enquadra-mento geral dos acontecimentos. A importancia deste procedimento pode serilustrada com 0seguinte exemplo, Muito tem side dito e esaito sobre 0con-ceito de sobrevrvenda, Ora, 0 caracter de sobrevivenda de determinada ati-tude Ilio se pode expressar melhor do que nos aspectos acess6rios de um com-. portamento, na forma como ele e levado a cabo. Tomemos qualquer exemplo .da nossa pr6pria cultura, quer se trate da pompa e circunstancia de uma ceri-m6nia de Estado ou de um costume pitoresco dos mhidos da rua; a sua meraesquematizacao 1130 nos dira se 0ritual ainda vibra com vigor nos cora~Oesdaque1es que 0cumprem e da audiencia ou se e encarado como um costumemoribundo, apenas mantido em nome da tradi~o. Mas se observarmos eregistarmos os dados relativos ao comportamento, o grau de vitalidade doaeto tomar-se-a evidente. Nio lui ddvida de que, do ponto de vista quer da

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    Malinowski: O s Argonau ta s do P a d jic o O c id en ta l '3 3ana l i se sodol6gica quer da psicol6gica, em todas as perspectivas te6ricas, 0modo e 0 tipo de comportamento observado na representacao de urn acto eda maxima importancia. 0 comportamento e um facto, urn facto relevante, ecomo tal, pode ser registado. Insensato seria 0homem de ciencia que negli-genciasse toda esta classe de fen6menos, prontes a ser recolhidos, ainda que0,fizesse por nao vislumbrar a sua utilidade te6rica! . E 6bvio que, no que respeita ao metoda real de observacic e registo notrabalho de campo destes imponderab i l ia d a oida reale do c om p o rta m en to g en u{ no ,a equacacpessoal do observador se toma mais proeminente do que na reco-lha de dados etnograficos cristalizados, Mas tambem aqui 0esforco principaldeve ir no sentido de deixar os faetos falarem por si. Se, ao fazer uma rondadiaria na aldeia, determinados incidentes, formas caracteristicas de comer, deconversar, de trabalhar [... ] sao observados repetidamente, devem ser imedia-tamente apontados. E tambem importante que este trabalho de recolha e ano-ta~ao das impressOes comece logo no inicio do trabalho em determinadaregiao. As peculiaridades subtis, que impressionam enquanto sao novidade,passarao despercebidas A medida que se tomem familiares. Outras, ao con-trario, 56 se evidenciarao no decurso de urn conhecimento mais profundo dascondies locais. Um diario etnografico, levada a cabo sistematicamente aolongo do t empo de trabalho numa regiio, seria 0 instrumento ideal para estetipo de estudo. E se, a par daquilo que e 0normal e apico, 0Etn6giafo ano-tar cuidadosamente os pequenos e grandes desvios a norma, ele estara a bali-zar os dois extremes entre os quais se movimenta a normaIidade.

    Ao observar as cerim6nias ou outres acontecimentos tribais [..1 neces-sario nao 56 apontar as ocorrencias e detalhes que sio prescritos pela tradi~aoe costumes, apresentando-os como sendo 0 essencial do acontecimento, mastambem registar cuidadosa e fielmente, uma apes outra, as ac~Oesdos acto-res e dos espectadores. Esquecendo por um momenta que conhece e com-preende a estrutura destas cerim6nias e os principais dogmas ne1as subjacen-tes, 0Etn6grafo deve simplesmente dcixar-se envolver na amblencia de umaassembleia de seres humanes e observar se estes se comportam de forma seriaou jocosa, com compenetracio ou com frivolidade, se se encontram com 0estado de espirito habitual ou especiaImente entusiasmados, e por ai ' adiante.Concentrando-se constantemente neste aspecto da vida tribal e com 0 objec-tivo permanente de 0registar e expressar em termos de factos reais, uma quan-tidade de material s6lido e significative recheara as suas notas. Encontrar-se-aentao em condicoes de colocar correetamente 0 acontecimento no seio davida tribal, quer dizer, de demonstrar 0 seu caracter excepcional ou comum,de compreender se este implica ou nao alteracces profundas no comporta-mento habitual dos natives. Isso permitir-Ibe-a ainda uma apresentacao clarae convincente de todo 0material.

    Neste tipo de trabalho, e ainda aconselhavel que, de vez em quando, 0Etn6grafo ponha de lado a maquina fotografica, 0bloco de notas e 0 lapis e

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    . intervenha noque se esta a passaro Pode partic:~parnos jogos 'doS nativas; pode.': a~mpanha-lOs nas suas visitas e passeios, sentar-se ouvindo e partilhando as;. su as conversas. Nio se i se isto e igualmente fici1 para toda a gente - talvez a'"'.natureza eslava seja mais plistica eespontaneamente mais selva gem do que." 'a dos europeus ocidentala-, mas .embora 0grau de sucesso possa variar, todos""devem tentar. Destes mergulhQS.1'Ulvida dos nativos;" que eu empreendi r e -. quentemente Dio apenas devido ao estudo mas porque toda a gente precisa.: de companhia humana' - eme r g i a sempre a clara aensa~o de que 0 seu com-portamento e a sua maneira de ser, em todos os tipos de Opercit;Oes tribais, sec tomavam mais transparentese fadlmente eompreensfveis do que me eram"antes.0leitor encontrara t odas estas considera95es metodo16gicas ilustradas,~ uma vez, nos capftUlos seguintes. _ r,

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    .s. : ,,' ,.: :.;... ;.: , :.~ ~ . .~... vm . '), . \ . ':' ,,:.,' Por fim, passemos ao terceiroe Ultimo objecdvc do trabalho de campo

    cientffico, ao Ultimo tipo de fen6menos que devem ser registados com vista.'", a um.retrato completo e adequado da cultura nativa. P~ alem do contomo'. firme da cons~itui~o tribal e dos temas c : u l t u r a i s aistallzados que formam 0esqueleto; para alem dos dados da vida: quotidiana e do comportamento, comum, que sio, por ass im dizer, a sua c a m e esangue, tambem 0esplrito - . ,as visOes, opini6es e express6es dos natlvos - deve ser registado. Isto porque,, em cada actoda vic!i tribal existe, em primeiro lugar, a rotina presaita peto; costume e tradi~o, depois 0modo como e levada a cabo e, por fim"o comen-tario.que susdta,de acordo com a sua mentalidade. Um homem que se sub-,mete a virias obriga~Oes costumeiras e que actua segundo a tradi~io, fa-l0impeUdo por certos motivos, acompanhado de certos sentimentos, guiadopor certas ideias. Estas ideias, sentimentos e Impulses sao moldados e con-dicionados pela cultura em que se encontra e, como tal, sao uma peculiari-dade etnica dessa &Odedade. Logo, devemos esfo~nos por estuda-los eregista-Ios. .' .

    Mas s e r a que isto e possfvel? Seni que estes estados subjectivos MO siodemasiado abstractos e inefiveis? E mesmo partindo do principio de que aspessoas sentem, pensam ou experimentam realmente certos estados psicol6-gicos de acordo com a imposi~o dos costumes, a verdade e que a maioriade1asIlio e certamente capaz de exprimir estas ideias por palavras. ~ da,maiorimportincia garantir este wti.t;no ponto, e e talvez esta a verdadeira dificul-dade no estudo dos factos da psicologia social. Sem tentar resolver 0 problema.teoricamente ou entrar demasiado no terreno da metodologia gera!, passareidirectamente lquestio dos meios praticos para ultrapassar algumas das difi-culdades que ele implica. .Em primeiro lugar, hique dizer que aqui nos restringimos a formas este-reotipadas de pensa r e sentir. Como sodologos, Dio nos interessa 0 que A ou

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    .< , ;~.~ ". \:. ; ' . . . ' . : . , ~ , :> . ' , . . ~ \ ! .1 . 1 , '. . ~ - ; . . : : . . . 'M alinow ski: O s A rg on au ta d o P a dJ ico O c id en ta l 358 possam sentir enquanto individuos, no decurso atidental das suas propriasexperiencias pessoais; apenas nos interessa 0que sentem e pensam enquantomembros de uma determinada comunidade. Ora, nesta qualidade, os seusestados mentais sao marcados por um cunho especffico, tomam-se estereoti-pados peIas instituies onde vivem, pela infl.uencia da tradi~ao e do foidore,. pelo proprio veiculo do pensamento, ou seja, pela linguagem. 0 ambientesocial e cultural em que se movem fo~-os a pensar e a sentir de determinadamaneira. Assim, um homem que viva numa comunidade poliandrica naopode experimentar os mesmos sentimentos de chime que um mon6gamoestrito experimenta, embora potencia1mente 0 sentimento possa existir. Umhomem que viva dentro da esfera do Kula mo pode tomar-se permanente esentimentaImente ligado a alguns dos seus bens, embora os valorize acima detudo. Estes sao exemplos simples, mas ao longo do texto deste livro encon-. traremos outros melhores. '

    Assim, poderemos resumir 0terce1romandamento do trabalho de campoda seguinte forma: encontrar os modos apicos de pensar e sentir, correspon-dentes a s institui~ e a cultura de uma determinada comunidade, t: : formu-lar os resultados da forma mais convincente. Qual sera 0procedimento paraisso? Os melhores escritores etnogrcificos - mais uma veza Cambridge Schoolcom Haddon, Rivers e Se l i gman na pnmeira linha dos Etn6grafos ingleses -, sempre se esforcaram por dtar verbat im os depoimentos de importdncia fun-damental. Os mesmos autores insistem ainda na utiliza~o dos termos nati-:vos de c1assifica~ao, tm n in i te ch nid sociol6gicos, psicol6gicos e industriais, e

    , ';na transmissio, taoprecisa quanto possfvel, da descri~ao verbal do pensa-)mento nativo. 0 Etn6grafo pode dar um passo importante nesta linha ao, ,",aprender a' lingua indigena e ao utillza-la como instrumento de pesquisa.Trabalhando em lngua Kiriwi deparei, de initio com dificuldades, quandoregistava as minhas notas ja traduzidas. Muitas vezes a tradu~o roubava aotexto as suas caracteristicas significativas - omitia os seus pontos de vista -,de forma que, gradualmente, fui impelido a escrever algumas frases impor-tantes tal como eram faladas na lngua nativa. A . medida que 0meu dominicda lngua progredia, passei a esaever cada vez mais emlingua Kiriwi, ateque, por Bm , dei por mim a escrever exclusivamente nessa lingua, tirandonotas rapidamente, palavra por palavra, de cada afirma~o. Mal cheguei a esteponto, apercebi-me de que, ao mesmo tempo que estava a adquirir um mate-riallinguistico abundante, recolhia tambem uma serie de documentos etno-graficos que deviam ser reproduzidos tal como os havia registado, indepen-dentemente da forma como os utilizasse na elabora~ao do meu trabalho final 10.Este c o rp u s in sc rip tio n u m K ir iu iin ie n siu m pode vir a ser utilizado nao apenaspor mim mas por todos aqueles que, pela sua maior acuidade e habilidade deinterpretacio, possam encontrar pontos que escaparam a minha aten~ao; istoa semelhanca do que se passa com outros escritos que constituem a base dasvarias interpreta~ de culturas antigas e pre-historicas: s6 que estas inscri- \

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    '. ,~OesetnogrMicas sao todas deeifravels e daras, foram quase todas traduzidascompletamente e sem ambiguidades e guamecidas com comentarios cruzadosdos nativos ou schol ia procedentes de fontes vivas.

    Nada mais a acrescentar sobre este tema, uma vez que mais a rente urn.i capitulo inteiro (Capitulo XVIll) sera dedicado a este tema e a sua ilustra~ocom varies textos nativos. 0 Corpus sera obviamente publicado posteriormente.

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    IX

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    As consideracoes feitas ate aqui indicam entao que 0objectivo do traba-lho de campo etnogrcffico deve ser alcancado atraves de tres vias: .1) A o rg an iza o d a tr ibo e a a n atom ia d a s ua c ultu ra deve ser registada numesquema fume e claro. 0 metodo de d oc um e nta pio c on cre ta e e s~ ts tic a e 0meio

    a utilizar para a defini~o desse esquema.2) Dentro desta trama, devem ser' inseridos os imponde rab i l i a d a v id a r ea le 0 tip o d e c om p o rtam e nto . Os respectivos dados devem ser recolhidos atravesde observacoes minuciosas e detalhadas, sob a forma de uma espede de dia-rio etnogrMico, s6 possfvel atraves de um contacto Intlmo com a vida nativa.

    3) Deve ser apresentada uma recolha de depoimentos etnogrcificos, nar-rativas caracterfsticas, ocorrencias tlpicas, temas de folclore e f6rmulas magi-cas sob a forma de um co rpus i ns c ri p ti onum , como documentos da mentalidadenativa.

    Estas tres linhas de abordagem levam ao objectivo final que um Etn6grafonunca deve perder de vista. Este objectivo e, resumidamente, 0 de com-preender 0ponto de vista do nativo, a sua rela~o com a vida, pereeber a suavisao do seu mundo. Temos de estudar 0Homem e devemos estudar 0 quemais profundamente 0preocupa, au seja, aquilo que 0 liga a vida. Em cadacultura, os valores sao ligeiramente diferentes; as pessoas aspiram a fins dife-rentes, seguem impulsos diferentes, anseiam por diferentes formas de felici-dade. Em cada cultura encontramos diferentes institui~6es atraves das quaiso homem persegue os seus interesses, diferentes costumes pelos quais satis-faz as suas aspiracoes, diferentes c6digos de leis e moralidade que recom-pensam as suas virtudes ou punem os seus erros. Estudar as institui~Oes, cos-. tumes e c6digos ou estudar 0comportamento e a mentalidade sem 0empenho. na compreensao subjectiva do sentimento que as move, sem perceber a essen-cia da sua felicidade e, em minha opiniao, desprezar a maior recompensa quepodemos esperar algum dia obter a partir do estudo do Homem.. 0 leitor encontrara estas consideracoes gerais ilustradas nos capfrulos

    seguintes. A i. encontraremos 0selvagem esforcando-se por satisfazer algumasdas suas aspiracces, tentando cumprir os seus valores, perseguindo a sua pr6-pria ambi~ao social. Acompanha-lo-emos nas suas dificeis e perigosas empre-sas, movido por uma tradicao de mi s sOes magicas eheroicas, en1eado no seupr6prio romance. ~ possive! que, ao lermos 0relato destes costumes remotos

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    Malinowski: O s A rgoMU tas do PadjiaJ Ociden ta l 37sejamos invadidos por um sentimento de solidariedade para com as dilig~n-das e ambies destes nativos. TaIvez a mentalidade do Homem chegue atenOs, nos s e i i ! . revelada a traves destes caminhos nunca antes percorridos. Padeser que, percebendo a~buma forma muito distante e estra-nha para n6s, se acenda alguma luz sabre a nosse, S e assim for, e 86 assim,poderemos pensar que a nosso esfo~ para entender~, as suasinstituir;aes e costumes valeu a pena, e acreditar que, tambem n6s, tirmnosalgum proveito do Kula.

    . . .~

    ~ 1961 by Bronislaw Malinowski. Reprinted by permission of John Hawldns & : AsIodates,Inc. Tradu~ de Ana Paula Cores. Revislo dentffica de Maria Carde i ra da SUvae Jill OilS.1 As hiri, como sao ch am ad as e stas expedi~ na JIngua M otu, loram d escritu clara e d eta-lhadamente pelo capitio P. Barton, em The M tL mtsim rl o f B ritillf N ew G uina , de C. G.Seli~ Cambridge, 1910, cap. v m .

    2 Cfr. B.Malinowski, The Malibu, in TlTl I I6IIC tUmIof th4 1t Society o fS . A u s tr a lia , 1915, cap.IV , 4, pp. 612 a 629.JOb. ci t . , cap. X L. M a ls uma vez, neste ponto do m~o, stamos em dfvida para ann a Cambridge Schoolof Anthropology, por ter intrqduzido a ve rdade lt a forma dentUica de lidar com a ques-tao. Nas obras de Haddon, Rivers e Se l i gman , a c:Ustin~o entre indu~ e observa~o eebisemp re d aram e nte e xp osta . podendovisuallzaMe com predalo perfelta as amd ies soba s q ua is 0 t ra baJho loi r ea li za do.

    S Possa aponw desde J i l qu e howe a lg um as ag ra d4 ve 11 e x~ , para mendonar ape-nas os m eu s amigos: Billy H~ nas Trobrland, M. Raffael BNdo, outro comerdantede p e o l a s , e 0missi01Wio, Sr. M . Ie. Gilmour.

    Segundo um Mbito uti! d a te rm in olo gia d en tU ic a, u ti1 iz el 0 termo Etnosr af Ia ' pa ra 01resultados emp ri co s e de sc ri ti vo s cia denda do Hom~ e 0tmno Btnologla para teo-r ia s e spe c:u la ti va s e c ompa ra tiv as ., A lend Uia 4u torid ad e d e an tanho que conslde rava 0 1 nat i9 0 8 anima1escos e sem COl-tumes villa m esm o a ser ultrapassacla pot um au tor l'K'erlle que, re fe rin do- se a os Mu simd o S w_ c om qu em viveu e trab alhou em estrelto am tacto d urante m uitos e m uitos anos,

    diz: En sin amo s e ste s h om e ns s em le i a s er o be cIie nte s, eiteI homens desumanos a amar,e e ste s h om en s &elvagens a m ud ar. B a inda : GuiadOl na !Ua co nd uta ap enas p elos se usinstintos e impulsos e govemados pelaa IUUpaix&!s inmntroladu ... ; Sent lei, desu-m anos e ae1vagensl. Uma deturpa~o tio groaelra do verdadeiro estado d as c ois as d ili-d lm en te s erf a inventada, m esm o por algubn que quiaesIe pa rod ia r 0ponto de vista doMissioMrlo. Otado do Rev. C.W. Abe l , da London MissiOl\lU')' Society, S t w a g e U fo In NnGuinta , &emdata.

    I Por exemplo, a : . tabelas de drcula~o das valiosas lAminas de machado, c i b . cit . , pp . 53 1,5 3 2 -, Neste U vro, aim d a tab ela men, que nJo pe rt ence exac: tamente lcluee de documentoaque aqui refiro, 0 l e ito r encont ra rl i apenas a lgumas amostras de tabelas sin6pticas. talcomo a lista dos parceiros do Kula mendonada e analisacla no Capftulo xm , Divislo n,a lista de ofertas e presentes no Capitulo VI, Divisio VI, apenas desc:rita to nAo d11' :" ,n< :t :' I.

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    \\3 8 Ethnolog iaem tabela; os dados sin6pticos de uma expedi~o Kula no Capitulo X VI e a tabelas demagia Kula apresentadas no Capitulo xvn. Nio quis, aqui, sobrecarregar 0relato comgnfficos, etc., preferindo reserva-los a~ apublica~o integral do meu material.

    10 Pouco tempo depois de adoptar esta medida recebi uma carta do Dr. A. H.Gardiner, 0conhccido cgipt610go, aconselhando-me a fazer isso mesmo. Do seu ponto de vista dearque610go, eram evidcntes as enormes possibilidades de que um t:b6grafo disp6e paraobter um corpo de fontes esaitas, semelhante aos que nos chegaram de culturas anees-trais, com a vantagem de poderem ser c la ri fi cadas g ra9 '8 ao conhedme:\to~vida"daque1a cultura em tod os os seus aspectos. ---- -.:>:

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