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Munique MarderCamila Elis Casaril

Fábio Fernandes KochAlbari Gelson Pedroso

MANUAL BÁSICO DE BIOGÁS

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Tommy KarlssonOdorico Konrad

Marluce LumiNara Paula Schmeier

Munique MarderCamila Elis Casaril

Fábio Fernandes KochAlbari Gelson Pedroso

MANUAL BÁSICO DE BIOGÁS

1ª edição

Lajeado, 2014

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K18 Karlsson, TommyManual básico de biogás / Tommy Karlsson [et al]. -

Lajeado : Ed. da Univates, 2014.

69 p.

ISBN 978-85-8167-073-7

1. Biogás I. Título

CDU: 620.95:662.767.2

Catalogação na publicação – Biblioteca da Univates

As opiniões e os conceitos emitidos nos textos, bem como a exatidão, adequação e procedência, são de exclusiva responsabilidade dos seus autores.

Copyright: Os Autores.

Centro Universitário UNIVATESReitor: Prof. Ms. Ney José LazzariPró-Reitor de Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação: Prof. Ms. Carlos Cândido da Silva CyrnePró-Reitora de Ensino: Profa. Ms. Luciana Carvalho FernandesPró-Reitora de Ensino Adjunta: Profa. Ms. Daiani Clesnei da RosaPró-Reitor de Desenvolvimento Institucional: Prof. Ms. João Carlos BrittoPró-Reitor Administrativo: Prof. Ms. Oto Roberto Moerschbaecher

Editora UnivatesCoordenação e Revisão Final: Ivete Maria HammesEditoração: Marlon Alceu Cristófoli Revisão Linguística: Veranice Zen e Sandra Lazzari Carboni

Conselho Editorial da Univates EditoraTitulares SuplentesAugusto Alves Ieda Maria GiongoBeatris Francisca Chemin Rogério SchuckFernanda Cristina Wiebusch Sindelar Samuel Martim de ContoAdriane Pozzobon Simone Morelo Dal Bosco

Avelino Tallini, 171 - Bairro Universitário - Lajeado - RS, BrasilFone: (51) 3714-7024 / Fone/Fax: (51) 3714-7000

[email protected] / http://www.univates.br/editora

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Manual básico de biogás4

SUMÁRIO

1 Introdução ............................................................................................... 6

2 Histórico .................................................................................................. 72.1 A diferença entre gás natural e biogás .................................................... 72.2 História do biogás ..................................................................................... 82.3 O processo microbiológico ...................................................................... 92.3.1 Hidrólise ................................................................................................ 102.3.2 Fermentação ......................................................................................... 112.3.3 Oxidação anaeróbia ............................................................................. 112.3.4 Formação de metano ........................................................................... 122.4 Aspectos ambientais ............................................................................... 132.5 Aplicação .................................................................................................. 132.5.1 Purificação do biogás........................................................................... 132.5.2 Produção de calor ................................................................................ 132.5.3 Cogeração ............................................................................................. 14Literatura ........................................................................................................ 15

3 Substratos .............................................................................................. 173.1 Substratos para produção de biogás ..................................................... 173.2 Como escolher o substrato para produzir biogás? ............................. 183.3 Impacto do substrato sobre os microrganismos ................................. 183.4 Matéria seca e conteúdo orgânico......................................................... 203.5 Composição do substrato ...................................................................... 203.6 Toxicidade ............................................................................................... 223.7 Codigestão de vários substratos ............................................................ 223.8 Espessamento .......................................................................................... 223.9 Redução da granulometria/maior solubilidade .................................. 233.10 Materiais ricos em carboidratos ......................................................... 243.11 Materiais ricos em gordura ................................................................. 263.12 Dejeto ..................................................................................................... 273.13 Odor ........................................................................................................ 28

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Literatura ........................................................................................................ 30

4 Tecnologia: sua importância para a microbiologia .............................. 334.1 Start up .................................................................................................... 334.2 Desenho do processo .............................................................................. 344.3 Reator contínuo/descontínuo ................................................................ 354.4 Parâmetros fundamentais de operação ................................................ 374.4.1 Temperatura.......................................................................................... 374.4.2 Carga ...................................................................................................... 404.4.3 Retenção ................................................................................................ 424.4.4 Degradabilidade ................................................................................... 434.4.5 Carga orgânica e temperatura ............................................................ 444.4.6 Agitação................................................................................................. 444.4.7 Alcalinidade e pH ................................................................................ 45Literatura ........................................................................................................ 46

5 Substrato degradado = biofertilizante .................................................. 485.1 Função e uso do fertilizante ................................................................... 495.2 Valor nutricional ..................................................................................... 505.3 Efeitos sobre o solo ................................................................................. 515.4 Benefícios ambientais do uso do lodo como biofertilizante.............. 525.5 Transporte do biofertilizante ................................................................ 54Literatura ........................................................................................................ 55

6 Biogás no Brasil ..................................................................................... 566.1 Crise do petróleo e o proálcool ............................................................. 566.2 Primeiras experiências com o biogás ................................................... 576.3 Laboratórios sobre biogás ...................................................................... 606.4 Perspectivas futuras ................................................................................ 62Literatura ........................................................................................................ 64

CURRÍCULO DOS AUTORES ................................................................ 65

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1 Introdução

Em 2011, estive pela primeira vez no Brasil. Trabalhei junto com o professor Odorico no Laboratório de Biogás da Univates, em Lajeado (RS), realizando testes laboratoriais durante cinco meses. Odorico e eu conversávamos em sueco, pois eu não tinha muito conhecimento da Língua Portuguesa.

O diálogo com outras pessoas na cidade foi muito difícil, e eu decidi que, durante esses cinco meses, eu aprenderia a falar português para que pudesse me fazer entender de qualquer maneira. Eu senti que a barreira linguística existente entre nós foi muito limitante.

Quando voltei para a Suécia, não tinha com quem falar Português. Por esse motivo, quando visitei novamente Lajeado em 2013, pensei que teria que começar tudo de novo. Mas não, o português fluiu rapidamente e as reuniões, programadas para serem em inglês, pude acompanhar em português.

Então, em uma noite de outono, quando eu estava a caminho de casa, tive a ideia de escrever um manual do biogás, pois não havia tanta informação sobre esse assunto em português. Dias depois discuti minhas ideias com Odorico e essas discussões resultaram no livro que você está analisando. A barreira linguística que existia anteriormente já foi quebrada. O conhecimento é importante e precisamos dos livros, processados e divulgados.

Esperamos que você possa fazer bom uso deste manual a ponto de recomendar aos seus amigos, família e colegas de trabalho.

Boa leitura!

Lajeado, dezembro de 2013.

Tommy Karlsson

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2 Histórico

No século passado, e ainda hoje, são utilizadas grandes quantidades de combustíveis fósseis. Estes afetam negativamente o nosso ambiente e, por isso, tem-se a necessidade de substituí-los. A quantidade desses combustíveis é limitada sendo, portanto, uma fonte esgotável de energia.

Os combustíveis fósseis são os maiores contribuintes para as emissões dos gases do efeito estufa que afetam o nosso clima, pois, quando queimados, liberam carbono (CO2) que foi armazenado por milhões de anos.

2.1 A diferença entre gás natural e biogás

O gás natural é considerado um combustível fóssil, porque resulta da decomposição anaeróbia da matéria orgânica, composta por plantas e animais mortos, contidas por milhões de anos no fundo de lagos e mares. Na camada de sedimentos das rochas houve a influência de alta temperatura e pressão, o que deslocou a matéria orgânica para uma camada inferior rochosa, afetando a formação do gás natural por causa da alta pressão e temperatura.

Uma alternativa para substituir o gás natural é o biogás. O biogás e o gás natural têm o mesmo processo de formação, por meio da decomposição anaeróbia da matéria orgânica. A diferença entre eles é que o gás natural não é formado pela circulação do material orgânico presente na superfície terrestre. Com a queima do gás natural, o carbono retorna para seu ciclo na atmosfera e, quando o material orgânico Créditos: (www.fotoakuten.se)

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é convertido em biogás, não há liberação adicional de dióxido de carbono, e sim, o aproveitamento do potencial de energia que está armazenado na matéria orgânica.

A matéria orgânica, proveniente da agricultura, tem muito potencial para produção de biogás. Resíduos de atividades agrícolas e os dejetos de suínos, bovinos, aves, ovinos e caprinos são de grande interesse para geração de biogás. É importante que todos os resíduos descartados diariamente nas propriedades sejam reaproveitados pelo processo de digestão anaeróbia para que seja gerado o biogás.

2.2 História do biogás

O biogás sempre se formou a partir da decomposição anaeróbia da matéria orgânica. Desde os primórdios, isso vem acontecendo pela quebra da matéria orgânica em ambientes anóxicos no fundo do mar. Entretanto, demorou até o final do século XIX e início do século XX para que se começasse a explorar a técnica de como utilizar o gás produzido a partir do processo de digestão anaeróbia (sem oxigênio).

A China e a Índia foram os primeiros países a produzir biogás e a utilizá-lo como fonte de energia. A matéria-prima era oriunda de restos de comidas e dejetos em geral, sendo o biogás produzido utilizado para iluminação e cocção. Na segunda metade da década de 1900, esses países começaram a aproveitar o processo de digestão anaeróbica para geração de biogás com foco nos lodos de esgoto.

Inicialmente, o objetivo era reduzir a quantidade de lodo de esgoto, e não utilizar o biogás gerado. A crise do petróleo nos anos 70 fez com que o preço da energia subisse. Com isso, surgiu a

Créditos: (www.fotoakuten.se)

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necessidade de aproveitar o biogás produzido. Com esse objetivo, começou-se a realizar mais pesquisas, a fim de otimizar o processo de digestão anaeróbica da matéria orgânica.

Na década de 1980, difundiram-se os benefícios do processo de digestão anaeróbia e os resíduos de aterros, que estavam em más condições, foram perdendo espaço para a digestão anaeróbica. Isso se tornou muito popular na década de 1990, e muitos projetos de biogás foram sendo construídos na China e na Índia, alimentados por resíduos de indústrias de alimentos, frigoríficos, restaurantes, entre outros.

2.3 O processo microbiológico

O biogás é constituído por uma mistura de gás metano (CH4) e dióxido de carbono (CO2). Para que o biogás possa ser produzido a partir de materiais orgânicos, são necessários diferentes grupos de microrganismos, que atuam juntamente com uma série de fatores, como, por exemplo: pH, temperatura e tipo de substrato. Todos esses fatores afetam a composição do biogás produzido.

O metano se forma naturalmente o tempo todo, e um fator importante para que haja formação de gás metano a partir de material orgânico é que não tenha presença de oxigênio no ambiente.

Como mencionado anteriormente, o biogás se forma a partir de lama de lagos e pântanos e, também, no rúmen de ruminantes. Quanto melhor for a digestão por parte das bactérias produtoras de metano, melhor será a qualidade do biogás produzido. Normalmente

Créditos: (revistagloborural.globo.com)

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é denominado biogás o gás que ainda não passou pelo processo de purificação.

Geralmente o biogás bruto é constituído por um terço de metano, um terço de outros gases, como: H2S, O2, NH3 e um terço de dióxido de carbono. Se o biogás é purificado, ou seja, constituído apenas por metano, pode ser utilizado para geração de energia e como combustível veicular.

Na figura abaixo tem-se uma representação esquemática das etapas do processo de digestão anaeróbia, ou seja, a conversão da matéria orgânica em gases.

Representação esquemática das etapas da digestão anaeróbia. Créditos: (Tommy Karlsson)

2.3.1 Hidrólise

A digestão anaeróbia divide-se em quatro etapas, sendo a primeiras delas a hidrólise. Esta etapa é muito importante para uma instalação de biogás, pois o material orgânico submetido ao processo de digestão deve ser quebrado em pequenas moléculas para que os microrganismos consigam se alimentar delas. As bactérias disponíveis

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no biodigestor também segregam enzimas que rompem as moléculas de proteína e as transformam em aminoácidos, hidratos de carbono em açúcares simples e álcoois e graxas em ácidos graxos. A quebra das moléculas do material orgânico faz com que os microrganismos absorvam as pequenas partes do material orgânico e tirem proveito da energia que nelas estão contidas. A rapidez do processo depende do tipo de material e de como este é estruturado.

2.3.2 Fermentação

A segunda etapa do processo de digestão é a fermentação. O que acontece nesta etapa depende do tipo de material orgânico que é adicionado ao processo de digestão anaeróbia, assim como dos microrganismos que estão disponíveis no sistema. A maioria dos microrganismos que estava ativa na etapa de hidrólise também estará ativa nesta etapa. Os componentes menores derivados da ruptura de moléculas grandes na hidrólise continuam a ser quebrados em moléculas sempre menores.

Nesta etapa, ácidos são formados por meio das reações e dividem-se em ácidos orgânicos, álcoois e amoníaco, além de hidrogênio e dióxido de carbono. Exemplos de ácidos orgânicos são o acético, butírico e láctico. Os produtos formados dependem dos microrganismos disponíveis e de fatores ambientais. Os ácidos graxos formados durante a hidrólise não são quebrados durante a fase de fermentação, e sim, na etapa de oxidação anaeróbica, a terceira etapa da digestão.

2.3.3 Oxidação anaeróbia

É a etapa que antecede a formação de gás metano. Nesta etapa, as moléculas, rompidas durante as fases de hidrólise e fermentação, rompem-se em moléculas ainda menores pela oxidação anaeróbia, sendo necessário que haja boa interação entre os microrganismos produtores de metano.

Esta etapa também é conhecida como acetogênese. As bactérias acetogênicas convertem o material degradado nas etapas anteriores

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em ácido acético, hidrogênio e dióxido de carbono. Entretanto, essas bactérias não são resistentes a grandes quantidades de hidrogênio e, por este motivo, faz-se necessário que as bactérias metanogênicas consumam o hidrogênio. Mais informações sobre esta etapa podem ser obtidas na descrição da quarta e última etapa.

2.3.4 Formação de metano

Nesta última etapa, também conhecida como metanogênese, tem-se a fase de formação de metano, sendo o metano o produto da reação que mais nos interessa. O metano formado pelos microrganismos metanogênicos necessitam, para sua formação, de ácido acético e CO2 e de mais alguns produtos de menor importância. São subprodutos das três etapas anteriores, sendo na fase metanogênica também formados dióxido de carbono e água.

Infelizmente, os microrganismos metanogênicos são mais sensíveis a interferências do que os microrganismos que atuaram em fases anteriores da digestão anaeróbia, pois não pertencem ao mesmo grupo de microrganismos, chamado Archaea. As bactérias metanogênicas não são resistentes às perturbações de alterações no pH e substâncias tóxicas, as quais podem ser alteradas ao longo do processo.

É importante adaptar o processo para que as bactérias metanogênicas possam sentir-se da melhor maneira possível, pois é o gás metano que gera rentabilidade.

Créditos: (www.fotoakuten.se)

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2.4 Aspectos ambientais

O biogás, produzido pela conversão da matéria orgânica contida no ciclo natural da terra, deve ser decomposto de modo que não emita gases que contribuam para o aumento do efeito estufa. O melhor a se fazer é decompor o material em um biodigestor, para que o biogás possa ser aproveitado.

Fala-se em tratar o material em um biodigestor, ao invés deixá-lo se decompor livremente no ambiente, porque o metano é 22 vezes mais impactante do que o dióxido de carbono em se tratando de aquecimento global. Se o biogás é aproveitado de modo que o metano seja utilizado como combustível em substituição aos combustíveis fósseis, ter-se-á emissão de dióxido de carbono, o qual já pertence ao seu ciclo natural. Se o biogás é apenas queimado, sem que seja aproveitada a energia nele contida, ainda assim é mais vantajoso do que deixar o material orgânico se decompor naturalmente no meio ambiente, pois não haverá emissão de metano e sim, de dióxido de carbono. Outra opção é utilizar o material tratado como biofertilizante, disponibilizando ao solo os mesmos nutrientes contidos em terras agrícolas.

2.5 Aplicação

2.5.1 Purificação do biogás

A purificação do biogás consiste na remoção de sulfeto de hidrogênio e dióxido de carbono, a partir da dissolução dos gases H2S e CO2 por meio de lavagem com água pressurizada.

2.5.2 Produção de calor

Utilizar o biogás para produção de calor é a maneira mais fácil e barata de aproveitá-lo. Nesse caso, o biogás é queimado em uma caldeira, que está ligada a um tanque de armazenamento. Também é possível utilizar o biogás como fonte de energia para cocção e fins domésticos.

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2.5.3 Cogeração

Geralmente, as plantas de biogás visam à produção de eletricidade e calor a partir de um motor tipo Otto ou similar. Ao operar um motor de combustão interna, cerca de 30% do biogás são convertidos em eletricidade e os restantes 70% representam o calor.

Purificação do biogás. Créditos: (Tommy Karlsson)

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Literatura

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2. Schlamadinger, B., Apps, M., Bohlin, F., Gustavsson, L., Jungmeier, G., Marland, G., Pingoud, K., Savolainen, I (1997). “Towards a standard methodology for greenhouse gas balances of bioenergy systems in comparison with fossil energy systems.” Biomass and Bioenergy 13(6): 359-375.

3. Weiland, P. (2003). “Production and energetic use of biogas from energy crops and wastes in Germany.” Applied Biochemistry and Biotechnology 109(1-3): 263-274.

4. Zinder, S.H. (1984). Microbiology of anaerobic conversion of organic wastes to methane: recent developments. ASM News. 50: 294-298.

5. Dasonville, F. och Renault, P. (2002). Interactions between microbial processes and geochemical transformations under anaerobic conditions: a review. Agronomie. 22: 51-68.

6. Ding, S.Y., Xu, Q., Crowley, M., Zeng, Y., Nimlos, M., Lamed, R., Bayer, E.A. och Himmel, M.E. (2008). A biophysical perspective on the cellulosome: new opportunities for biomass conversion. Current Opinion in Biotechnology. 19: 218-227.

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8. Schink, B. (1997). Energetics of syntrophic cooperation in methanogenic degradation. Microbiological Molecular Biological Review. 61: 262-280.

9. Schink, B. (2002). Synergistic interactions in the microbial world. Antonie van Leeuwenhoek.: 81: 257-261.

10. Fuchs, G. (2008). Anaerobic metabolism of aromatic compounds. Annual New York Academy of Sciences. 1125: 82-99.

11. Sousa, D.Z., Pereira, M.A, Alves, J.I., Smidt, H., Stams, A.J.M. och Alves, M.M. (2008). Anaerobic microbial LCFA degradation in bioreactors. Water Science and Technology. 57: 439-444.

12. McInerney, M.J., Struchtmeyer, C.G:, Sieber, J. Mouttaki, H., Stams, A.J.M., Rohlin, L. och Gunsalus, R.P. (2008). Physiology, ecology, phylogeny, and genomics of microorganisms capable of syntrophic metabolism. Annual New York Academy of Sciences. 1125: 58-72.

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14. Zinder, S.H. (1993). Physiological ecology of methanogenesis. I Methanogenesis: Ecology, Physiology, Biochemistry and Genetics (Ferry, J.G., ed.). New York, Chapman and Hall: 128-206.

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3 Substratos

O material fornecido a um processo de biogás e o tipo de substrato a ser utilizado afetam a estabilidade e a eficiência do processo. A composição do substrato é importante para a quantificação e a qualidade do biogás, o que está diretamente ligado à quantidade de nutrientes e contaminantes potenciais (metais, patógenos, contaminantes orgânicos contidos na matéria orgânica). A escolha do material certo influencia no resultado do processo, na maximização da produção de energia e na boa qualidade de biogás.

3.1 Substratos para produção de biogás

Diferentes tipos de materiais orgânicos podem ser utilizados para a produção de biogás. A maior fonte de produção de biogás na Suécia, hoje, é o lodo de estações de tratamento de águas residuais municipais. Outros substratos comuns para a produção de biogás são os resíduos de frigoríficos, de indústria de alimentos e dejetos. Esses resíduos são tratados nas chamadas plantas de codigestão na Suécia. Exemplos de outros materiais também tratados nessas instalações incluem separadores de gorduras, resíduos da indústria de laticínios, soluções de açúcar a partir da indústria farmacêutica, forragem ensilada, trigo e escórias (resíduo da produção de etanol) entre outros.

Futuramente, outros resíduos provenientes do setor agrícola tornar-se-ão importantes substratos para produção de biogás. Os

Créditos: (http://www.brasilescola.com)

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materiais usados com menos frequência são algas, ervas, madeira (salgueiro) e penas de galinha.

3.2 Como escolher o substrato para produzir biogás?

Diversos materiais orgânicos podem ser decompostos em um biodigestor. Existem alguns materiais que têm mais potencial que outros. Isso porque alguns fatores devem ser levados em consideração, como a quantidade de substrato, a temperatura, o tempo de retenção etc., influenciando o pré- tratamento ao qual o material foi submetido na geração de biogás. Por exemplo, se o material vai ser digerido na presença de outro substrato ou não, pois muitas vezes adiciona-se inóculo para acelerar o processo de decomposição. A presença de substâncias tóxicas e lignina, que não são metabolizadas em um processo de digestão anaeróbia, também são limitantes na produção de biogás. Abaixo discute-se a importância da composição do substrato para os microrganismos e como pode ser avaliado o processo de geração de biogás.

3.3 Impacto do substrato sobre os microrganismos

A composição do substrato é muito importante para os microrganismos do processo e, portanto, também para a estabilidade e a produção de gás. O substrato deve atender às necessidades nutricionais dos microrganismos, ou seja, contém energia e componentes necessários para os reproduzir.

O substrato deve conter vários componentes que são necessários para a atividade dos microrganismos nos processos enzimáticos, tais como oligoelementos e vitaminas. Na produção de biogás um fator de extrema importância a ser levado em conta é a relação carbono: nitrogênio (C:N). É importante que essa relação não esteja muito baixa e que a proporção de nitrogênio seja inferior a de carbono. O processo pode ser facilmente afetado em razão da inibição das bactérias causada pela liberação de amônia, causando deficiência de nitrogênio no processo. A proporção ideal de carbono e nitrogênio

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dependerá de cada tipo de substrato, bem como das condições do processo.

Fatores que influenciam a relação C:N - o que é ideal para o processo:

1. Se o substrato for afetado por outros fatores, como, por exemplo, baixos níveis de fósforo e oligoelementos, esse fator pode causar um impacto sobre o funcionamento do processo muito maior do que a relação C:N.

2. A composição do substrato, ou seja, os componentes que realmente são responsáveis pela relação C:N., compostos de carbono que se degradam lentamente como a celulose, tornam o meio menos ácido se comparado com a maior parte de carbono que é a glicose, a qual se decompõe rapidamente. Há também carbono sob a forma de lignina, e esta não se decompõe durante o processo. Segundo a literatura, a relação C:N ideal em um processo de geração de biogás varia entre 20-30:1 no início do tratamento e entre 10-13:1 ao fim do tratamento. É muito importante para a quantidade de biogás e também porque a partir da relação há a formação de ácidos graxos, principalmente se a relação C:N for 30:1.

É importante que o substrato não seja muito diluído, ou seja, não deve conter muita água em relação à quantidade de substratos, pois pode comprometer a taxa de crescimento dos microrganismos. A quantidade de água a ser adicionada ao substrato depende do tipo de processo a ser utilizado. Um substrato muito diluído pode ser tratado por meio de diferentes técnicas, de modo a reter os microrganismos ou trazer a biomassa de volta ao processo.

O substrato que será tratado em um processo contínuo deverá conter, geralmente, entre 7% e 10% de sólidos totais (ST). O teor de sólidos secos dos lodos tratados em estações de tratamento de águas residuais é em torno de 4% e 6%. Outro fator importante é a disponibilidade de material para os organismos, já que a degradação do substrato deve aumentar o número de microrganismos, os quais podem acelerar o processo de geração de biogás obtendo melhor rendimento.

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3.4 Matéria seca e conteúdo orgânico

Grande parte dos materiais orgânicos estão sob forma líquida. Por isso, é difícil saber quanto material tem realmente disponível para degradação.

Para isso, é necessário descobrir a quantidade de sólidos que há disponível no substrato a partir da evaporação do líquido, o que proporcionará uma visão melhor da quantidade de matéria seca no substrato.

Para saber a quantidade de matéria orgânica contida no material, o primeiro passo é analisar o teor de matéria seca disponível. O material é seco em estufa à temperatura de 105°C durante 24 horas. Em seguida, é posto em uma mufla a 550°C durante duas horas, para que seja determinado o teor de sólidos voláteis, ou seja, o quanto volátil é a amostra. O cálculo é feito pela quantidade de matéria seca menos a quantidade de cinza restante.

MS: Matéria Seca é o que resta do material orgânico, o quanto de líquido foi evaporado. O resultado geralmente é dado em função do percentual de peso úmido.

SV: Sólidos voláteis é a perda de matéria por combustão, ou seja, expressa o teor de matéria orgânica de um material. É calculado pela diferença entre o material seco e o peso após a queima das cinzas. O resultado geralmente é dado em função do percentual de matéria seca.

3.5 Composição do substrato

A composição dos substratos tem quantidades diferentes de matéria orgânica e, portanto, a energia contida no material difere, ou seja, a quantidade de biogás a ser produzida e o teor de metano presente serão diferentes dependendo do substrato. Os microrganismos atuantes na digestão anaeróbia consomem pequenas quantidades de energia para seu crescimento e o restante de energia contida no substrato é convertida em biogás e metano.

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Experiências são realizadas em escala laboratorial por meio de sistema batelada ou contínuo para avaliar o potencial de geração de biogás de distintos substratos. Fazer ensaios laboratoriais é relevante, pois permite avaliar de forma confiável a quantidade de biogás que determinado substrato pode produzir para que posteriormente se pense em instalar uma planta de biogás.

A produção de biogás pode variar durante os testes realizados com o mesmo substrato. Essa variação deve-se ao inóculo, em que estão concentrados os microrganismos que realizam a degradação real do substrato, apresentando capacidades distintas para decompor o material. A temperatura de degradação e o tipo de pré-tratamento utilizado também influenciam na geração de biogás.

Resíduos domésticos, por exemplo, nem sempre têm a mesma composição, o que varia conforme o lugar e a época do ano em que o resíduo é coletado. A composição dos resíduos varia dependendo de onde e em que condições são gerados (tipo de solo, clima etc.). Além disso, as condições de armazenamento e Potencial de aproveitamento para fins de reaproveitamento, reciclagem, dos resíduos também liberam gases na atmosfera. Quando o resíduo é disposto de forma inadequada, pode também correr o risco

Composição do substrato.Créditos: (Tommy Karlsson)

Ensaios realizados em laboratório.Créditos: (Tommy karlsson)

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de organismos utilizarem parte da energia disponível no resíduo, diminuindo posteriormente o potencial de biogás.

3.6 Toxicidade

Toxicidade inclui todas as substâncias que podem afetar o processo de biogás. Muitas vezes, as substâncias que são tóxicas para a formação de metano são as mais vulneráveis.

É importante saber que, se o material utilizado para a produção de biogás estiver contaminado, pode ocorrer inibição no processo, ocasionado pelas reações entre os materiais contaminados. Se isso ocorrer, não é possível destinar o material pós-tratamento às áreas agrícolas.

3.7 Codigestão de vários substratos

Geralmente a codigestão de diferentes materiais apresenta melhor resultado, pois gera maior quantidade de biogás do que se for adicionado ao biodigestor apenas um tipo de substrato. A explicação para isso é que, quando os substratos são misturados, tem maior chance de conter todos os componentes que são importantes para o crescimento microbiano. A mistura pode, por exemplo, proporcionar melhor relação C:N. Além disso, se o substrato é complexo promove, o crescimento de vários tipos de microrganismos no biodigestor.

3.8 Espessamento

Se o material passar por uma prensa, é possível aumentar o teor de materiais secos do substrato. Isso é bom, pois reduz a carga volumétrica no digestor. O espaço restante pode ser completado com mais material orgânico, possibilitando, consequentemente, maior geração de biogás. Por outro lado, removendo a porção de água do

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substrato, também se estará removendo alguns nutrientes essenciais aos microrganismos, como, por exemplo, os sais.

3.9 Redução da granulometria/maior solubilidade

Existem diferentes pré-tratamentos que aumentam a quantidade de material de degradação contida no substrato. O mais comum é a desintegração mecânica, como, por exemplo, um moinho, misturador, parafuso ou cortadores rotativos. A decomposição pode também ocorrer por meios químicos, térmicos ou biológicos, aquecimento, adição de ácidos e bases, ultrassom, enzimas hidrolíticas e muito mais. Pela combinação de técnicas é possível obter maior grau de decomposição.

A eficiência do método depende da composição química e da estrutura do substrato. Por que determinado pré-tratamento aumentou a produção de biogás? Porque o pré-tratamento é positivo para os microrganismos, uma vez que a desintegração do substrato aumenta a solubilidade e, consequentemente, a disponibilidade de material orgânico. A moagem faz com que também a área total do material aumente. Muitos microrganismos, especialmente aqueles que estão ativos na etapa inicial de hidrólise são favorecidos com a moagem do material, quanto menor forem as partículas de maior superfície total. Quanto menor a granulometria do material orgânico no início da digestão anaeróbica (hidrólise), maior a eficiência dos microrganismos em degradar o material. Os microrganismos, quando unidos, secretam enzimas digestivas quase que simultaneamente, fazendo com que aconteça o rompimento da célula. Dessa forma, esses microrganismos terão vantagem competitiva em relação aos outros microrganismos que não têm acesso ao material, aumentando a taxa de degradação.

De acordo com o regulamento da UE EG 208/2006, o tamanho máximo das partículas é de 12 milímetros, ou seja, para

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obter boa degradação, o tamanho de partícula deve ser inferior a 12 milímetros. Vários estudos mostram clara correlação entre o tamanho de partícula e a produção de metano, podendo um tamanho máximo de partícula de degradação ser inferior a um milímetro. Partículas excessivamente pequenas podem causar problemas, como, por exemplo, o entupimento do equipamento em fábrica de grande escala.

Um pré-tratamento não aumenta necessariamente o potencial de geração de biogás, ou seja, a quantidade de biogás que pode ser extraída do mesmo substrato, mesmo se a etapa inicial de degradação for mais rápida. Os organismos no processo de biogás têm uma capacidade única para degradar os diferentes compostos. Muitas vezes, é necessário que apenas seja dado ao substrato o tempo suficiente para que ele se degrade. Esse é muito importante economicamente para uma planta de biogás, pois significa que o tempo de retenção pode ser menor sem que comprometa a produção de biogás.

3.10 Materiais ricos em carboidratos

Carboidratos referem-se a diferentes tipos de açúcares. Podem ser açúcares simples, como a glucose, dissacarídeos (duas unidades de açúcar ligadas entre si como na cana-de-açúcar), ou cadeias de açúcares (polissacarídeos). No grupo de polissacarídeos incluem-se a celulose, a hemicelulose, o amido e o glicogênio. Substratos típicos de hidratos de carbono são materiais baseados em plantas.

As características da taxa de degradação dos carboidratos no processo de geração de biogás são bastante distintas. Açúcares simples e dissacarídeos são degradados de maneira fácil e rápida, o que pode levar a problemas de

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instabilidade devido à quantidade de ácidos graxos que são formados. Quando o material de entrada contém quantidades elevadas desses açúcares, a hidrólise faz com que a degradação seja muito rápida, como também acontece na fermentação. As bactérias metanogênicas formam o metano lentamente e ainda degradam os ácidos graxos.

As bactérias formadoras de metano não têm tempo para degradar os ácidos graxos na mesma proporção em que são formados, ocorrendo a acumulação desses ácidos. Devido à acumulação de ácidos graxos, os materiais ricos em hidratos de carbono muitas vezes têm fraca capacidade de tamponamento, ocasionando a diminuição da alcalinidade. Para obter um bom equilíbrio no processo, os materiais com elevado teor de açúcar devem ser misturados com um material que contenha compostos mais recalcitrantes e de preferência, nitrogênio. Isto acontece porque as etapas iniciais do processo não devem ocorrer de forma acelerada.

Materiais que contêm muito açúcar se biodegradam rapidamente, como soluções de açúcares puros, frutas, batatas e beterrabas. Polissacarídeos são compostos que apresentam muitos açúcares e são comuns no material vegetal. Geralmente são pouco solúveis e a sua composição e estrutura variam, tendo velocidades de degradação diferentes em um processo de biogás. O amido é o polissacarídeo mais comum nos produtos alimentares e se encontram em batatas, arroz e massas, consistindo em cadeias lineares ou ramificadas de glicose que são rompidas com facilidade durante o processo. Substratos com amido em excesso provocam um cheiro azedo durante o processo.

Em materiais ricos em celulose, como palha ou silagem, o tratamento de pré-hidrólise determina a velocidade do processo e, como consequência, a formação de biogás. Créditos: (www.fotoakuten.se)

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A atomização do material pode aumentar a disponibilidade e a biodegradabilidade do substrato. Quanto menor for o tamanho das partículas, melhor será a acessibilidade por parte dos microrganismos. A pesquisa mostrou também que o pré-tratamento químico para romper a estrutura cristalina da celulose pode aumentar a taxa de degradação e proporcionar maior rendimento.

Da mesma forma, um pré-tratamento com diferentes enzimas acelera o processo de degradação. Os microrganismos no processo de biogás têm boa capacidade para decompor a celulose, desde que tenham tempo suficiente para exercer tal função.

3.11 Materiais ricos em gordura

Materiais ricos em gordura geralmente utilizados em processos de biogás são oriundos de frigoríficos, laticínios e óleo de cozinha. Como a proteína é rica em gordura, pode resultar em um biogás com elevado teor de metano, porém pode causar interferências no processo.

As gorduras são compostas principalmente por ácidos graxos e glicerol. O tipo de gordura depende da composição. Elas dividem-se em saturadas, monoinsaturadas e polinsaturadas, dependendo do tipo de ácido que as formam. A gordura saturada é encontrada em carnes e produtos lácteos; as polinsaturadas, em peixes e óleo de milho; as monoinsaturadas, em óleos vegetais e nozes. As gorduras saturadas têm um ponto de fusão mais elevado do que a gordura insaturada, tornando-o menos disponível para a biodegradação. Um pré-tratamento térmico pode aumentar a biodegradabilidade dessas gorduras.

Um aspecto da gordura é que os ácidos graxos têm propriedades tensoativas e, portanto, concentrações de espuma são formadas facilmente. Uma pesquisa realizada recentemente em 13 plantas de

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codigestão mostrou uma clara ligação entre a proporção de gordura no material utilizado e a frequência de formação de espuma. Também é comum para resíduos de frigoríficos a formação de espuma no tanque de mistura da planta de biogás.

O problema foi maior nos meses de verão por causa da alta temperatura, pois a hidrólise da gordura iniciou antes de esta ser colocada no biodigestor e o processo foi acelerado com o aumento da temperatura. Durante a hidrólise, a degradação das longas cadeias de ácidos graxos conduz à formação de espuma. Outro fator que ocasiona a formação de espuma são as altas concentrações de ácidos graxos no processo de biodigestão. Se os ácidos graxos são degradados lentamente durante a biodigestão, o risco de problemas de instabilidade é menor do que se o processo fosse diretamente carregado com altas concentrações de ácidos graxos de cadeia longa (LCFA). Há também soluções técnicas para os problemas de formação de espuma.

3.12 Dejeto

A composição dos substratos oriundos de animais tem características diferentes e apresenta potenciais distintos para a geração de biogás. Os dejetos dividem-se em duas categorias, fase líquida e seca, dependendo do teor de sólidos secos que contêm em cada fase. A fase sólida geralmente tem um alto teor de carbono e o teor de sólidos secos entre 27% é 70% maior que na fase líquida, pois também contém material fecal. Lodos são mais acessíveis à digestão, pois contêm maior quantidade de nitrogênio e teor de sólidos secos entre 5% e 10%.

G e r a l m e n t e , dejeto bovino apresenta menos potencial de

Créditos: (o autor)

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produção de biogás do que os de suínos e de aves. O motivo é que uma grande quantidade da matéria orgânica disponível no dejeto é degradada e convertida em metano nos estômagos dos animais ruminantes. Se o dejeto for degradado juntamente com outros tipos de materiais, tais como resíduos de alimentos ou de forragem, a troca gasosa pode ser maior. Algumas vezes, o dejeto bovino pode causar um efeito estabilizador no processo de biogás, quando há algum tipo de perturbação no processo.

Além disso, a diluição pode diminuir os níveis de componentes inibidores, tais como amoníaco ou ácidos graxos voláteis. O dejeto que apodrece também oferece muitos benefícios ambientais, sobretudo a redução das emissões de metano. Dejeto de suínos e aves contém mais proteína do que o dejeto bovino, o que pode resultar em inibição no processo causada pela amônia, quando eles são digeridos na ausência de material rico em carbono.

3.13 Odor

Em torno das plantas de biogás, há odores desagradáveis, os quais são resultado de vários compostos formados durante a decomposição do material orgânico. Exemplos de substâncias que causam os odores são sulfuretos, compostos de enxofre, aminas, compostos de nitrogênio, ácidos orgânicos e aldeídos. Os compostos aromáticos formados dependem da composição do material orgânico, dos microrganismos presentes no biodigestor e da operação do processo.

Mesmo escolhendo os materiais e com o controle adequado do processo, ainda assim se podem ter emissões de odor, uma vez que sempre se formarão compostos odoríferos, por fazerem parte do processo natural de decomposição no processo de biogás. No entanto, existem várias técnicas para reduzir e minimizar os odores, como, por exemplo, tratá-los por meio de um filtro biológico na saída do biogás.

A natureza do substrato influencia no rendimento do processo de biogás e também na estabilidade. Por isso, para o planejamento de uma instalação de biogás, é de suma importância que sejam

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garantidos a disponibilidade e o fornecimento de substratos apropriados. Dependendo do tipo de material, pode também ser importante analisar o tipo de pré-tratamento a ser utilizado, pois este tem um grande significado, em se tratando dos gases que são formados.

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à transformação nas unidades de biogás e de compostagem bem como aos requisitos aplicáveis ao chorume.

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4 Tecnologia: sua importância para a microbiologia

A fim de obter um processo satisfatório e estável com elevada produção de metano, é importante criar um ambiente favorável para os microrganismos, de modo que eles prosperem para fazer um bom trabalho. E é aqui que a tecnologia entra em cena, pois a partir dela podemos moldar o ambiente microbiano e, assim, levá-los a trabalhar e produzir ao máximo.

Os microrganismos no processo de biogás apresentam limitações, assim como todos os outros organismos vivos, e é necessário ajudá-los para que mantenham constantes a sua atividade. Nesse sentido, o operador deve proceder com cuidado e não alterar a atividade microbiana de forma brusca. Caso contrário, perturbará a interação entre os microrganismos. Muitos dos organismos ativos são sensíveis a grandes e rápidas alterações e, por isso, somente com o tempo poderão se adaptar às condições extremas. Utilizando a tecnologia certa se pode obter o máximo do rendimento. Este capítulo descreve alguns parâmetros que são cruciais para a estabilidade do processo de biogás e da atividade microbiana.

4.1 Start up

O processo de biogás ocorre naturalmente no meio ambiente, assim como os organismos que são ativos durante o processo de degradação. Exemplos de áreas em que o biogás é formado

Créditos: (jornalcorreiodasemana.com.br)

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naturalmente são: zonas húmidas, sedimentos de lagos, campos de arroz e no estômago dos ruminantes. Inicialmente, no biodigestor se pode adicionar dejeto bovino como sendo inóculo. O rúmen de um bovino atua basicamente como um reator de biogás em miniatura e nele estão todos os organismos necessários para a produção de metano. A temperatura do rúmen é mais elevada (39°C) do que, por exemplo, um sedimento, e os organismos que vivem no rúmen adaptam-se a uma temperatura mesofílica, a qual é adequada para a produção de biogás em reatores de biogás construídos.

No arranque de um biodigestor, os microrganismos adicionados devem ter tempo para se adaptar ao substrato, pois tanto este quanto o meio ambiente onde estão inseridos são diferentes do ambiente original, sendo importante os organismos poderem se adaptar ao processo para que a estabilidade seja obtida. Durante o período de adaptação, os microrganismos presentes no inóculo devem apresentar capacidade de sobreviver no novo ambiente, para que possam crescer. Embora os microrganismos que são fornecidos no inóculo desempenhem um papel no processo, quanto mais semelhantes forem as características do inóculo em comparação ao tipo de substrato adicionado ao biodigestor, mais rapidamente iniciará o processo de biodigestão.

Para que haja um processo que inicie rapidamente e de forma segura, é bom que, desde o início, se tenha uma comunidade microbiana estabelecida, adaptada a um substrato semelhante. Uma maneira de conseguir isso é iniciando o processo de biodigestão a partir de um processo que já está em funcionamento, ou seja, que utiliza um substrato semelhante.

4.2 Desenho do processo

A digestão é realizada em um tanque fechado na ausência de oxigênio, pois, do contrário, não haverá formação de metano. Alguns microrganismos do processo são denominados de facultativos no que se refere à utilização de oxigênio para os seus metabolismos, o que permite que uma pequena quantidade de oxigênio entre no processo sem causar perturbação.

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Os biodigestores ou reatores, como são chamados, podem ser construídos em aço ou concreto e serem equipados com bobinas de aquecimento e isolantes para a retenção de calor. O biogás é recolhido a partir da parte superior do reator, enquanto o substrato normalmente é bombeado para o processo. O resíduo é extraído por bombeamento e conduzido a um aterro para armazenamento.

O armazenamento dos substratos varia de acordo com o tipo de instalação da planta de biogás e das características do material. Também é comum que os substratos constituintes sejam misturados e/ou diluídos num tanque de armazenamento do substrato. É interessante que a digestão de materiais de origem animal, tais como resíduos de frigoríficos, resíduos domésticos, sejam precedidos por uma etapa de pasteurização, que habitualmente envolve o aquecimento do material a 70°C durante uma hora.

4.3 Reator contínuo/descontínuo

O processo de digestão pode ser conduzido de várias formas, dependendo do substrato a ser digerido. No reator de processo contínuo, o material é bombeado de forma contínua para seu interior o que permite que haja fluxo de matéria-prima ao longo do dia e, portanto, constante produção de biogás. Tal processo é possível se o substrato for líquido com níveis de sólidos inferiores a 5%, como, por exemplo, águas residuais municipais e industriais.

Créditos: (www.fotoakuten.se)

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O conteúdo de sólidos no lodo é entre 5% e 15%, lamas provenientes de estações de tratamento de esgotos podem ser introduzidas continuamente no processo. Essa é a denominada digestão semicontínua, com cerca de 1 a 8 bombeamentos por dia.

É normal dispor de teor de sólidos entre 20% a 25%, no início do processo, em materiais como resíduos vegetais e resíduos alimentares. Mediante a adição de materiais sólido-líquidos é possível que o material na entrada do biodigestor seja contínuo, o que é vantajoso para os microrganismos, pois haverá distribuição uniforme de material durante todo o dia. Isso facilita a interação entre os diferentes grupos de microrganismos na cadeia de degradação, e também reduz o risco de sobrecarga, caso se alimentem com uma grande quantidade de material em uma única vez. O fornecimento uniforme do substrato permite maior stress entre os microrganismos.

O oposto de um processo contínuo é um processo em descontínuo ou em batelada, ou seja, quando todo o material é digerido de uma só vez e o material é sempre o mesmo durante todo o processo de degradação. A este sistema não é adicionado novo material e a produção de metano geralmente é mais elevada no início e diminui com o tempo. Quando o material é digerido, este é retirado do reator e uma nova quantidade de substrato é adicionada. Um exemplo de um processo descontínuo é um aterro, no qual o resíduo é tratado no mesmo lugar por um longo tempo. A digestão anaeróbia por meio do processo em batelada também é comum na produção de biogás em pequenas propriedades, principalmente nos países asiáticos. Esse sistema é vantajoso a partir de um material orgânico. Algumas vezes nesse processo pode ser difícil conseguir alta e constante produção de biogás, principalmente se o material tem alto teor de sólidos.

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4.4 Parâmetros fundamentais de operação

4.4.1 Temperatura

A temperatura é um fator muito importante a ser considerado na digestão anaeróbia. O oxigênio liberado durante a degradação da matéria orgânica faz com que o composto aerado esquente. No processo de biogás são liberadas quantidades muito pequenas de energia em forma de calor. A maior parte da energia liberada pela respiração celular está diretamente ligada ao produto final, o metano. Este produto vai ser enérgico, enquanto o processo em si não aquece de forma significativa. Para que os microrganismos se desenvolvam da melhor maneira possível e gerem quantidades satisfatórias de biogás, é necessário que o calor seja fornecido externamente.

As temperaturas utilizadas para os processos de geração de biogás são em torno de 37°C para as fases em que atuam bactérias mesofílicas e de 55°C para as com bactérias termofílicas, desenvolvendo-se melhor os microrganismos em condições termofílicas. A digestão de culturas energéticas pode conseguir um processo estável entre 35°C a 50°C. Em alguns casos, boa parte da energia convertida em metano pode ser destinada para aquecer o processo.

O substrato que entra no biodigestor também pode precisar ser aquecido, principalmente nos meses de inverno. Uma vez determinada a temperatura do processo, esta deve ser mantida constante e não variar mais que +/- 0,5°C, para que seja obtido o melhor rendimento de geração de biogás. Pequenas variações de temperatura (no máximo +/- 2-3°C) podem ser toleradas, especialmente se o processo apresenta estabilidade na alcalinidade. A formação do metano é mais sensível a variações de temperatura do que os microrganismos atuantes de outro processo. A temperatura constante no biodigestor pode depender também da agitação dos reatores sendo importante que estejam bem isolados.

Digestão mesofílica

A faixa de temperatura em que atuam bactérias mesofílicas é entre 25°C e 40°C, porém o processo de geração de biogás tem maior

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rendimento acima de 32°C, pois a temperatura ideal para a formação de metano é entre 35°C e 37°C. Caso a temperatura de fermentação esteja abaixo da ideal, há a produção de ácidos graxos e álcoois pelos microrganismos que não foram perturbados pelas variações de temperatura, fazendo com que não haja formação de metano, resultando em decréscimo do pH e interrupção do processo.

Digestão termofílica

Entre 40°C e 50°C os microrganismos termofílicos são inativados, podendo causar a morte desses microrganismos, mesmo que existam no meio microrganismos termotolerantes sobreviventes. Estudos têm mostrado que aproximadamente 10% da flora microbiana de um processo anaeróbico pode ser mesofílica com espécies termofílicas. A faixa de temperatura em que atuam os microrganismos termofílicos é entre 50°C e 60°C, sendo a temperatura de funcionamento das plantas de biogás geralmente entre 50°C e 55°C. O calor faz com que os microrganismos tenham uma atividade entre 25% e 50% mais elevada do que a digestão mesofílica.

Que temperatura deve ser escolhida?

Geralmente o processo mais rápido se dá com temperatura mais elevada. O calor faz com que os microrganismos trabalhem mais rápido, desde que as espécies se adaptem ao clima, pois podem decompor o material orgânico em menos tempo, fazendo com que reduza o volume do biodigestor. A disponibilidade de alguns compostos orgânicos aumenta à medida que a temperatura é elevada. Devido à maior solubilidade, a viscosidade de alguns materiais torna-se baixa em condições termofílicas, facilitando a agitação. Outra vantagem da digestão termofílica é que a alta temperatura resulta em pasteurização natural do material, eliminando microrganismos causadores de doenças, tais como Salmonella. O tempo em que o material é exposto a altas temperaturas determina se o processo será ou não viável.

Na digestão termofílica é necessário o aquecimento do biodigestor e do substrato. Condições termofílicas também podem tornar o processo suscetível a perturbações, porque a temperatura

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ótima para os microrganismos é próxima da temperatura máxima suportada por eles, resultando em morte ou em inibição. Temperaturas baixas, porém não críticas, geram desequilíbrio no processo, afetando a formação de metano.

Outra explicação que comprova a perturbação no processo se dá pela taxa de degradação que aumenta em função da temperatura, gerando componentes potencialmente tóxicos. No que diz respeito à inibição de amoníaco, esta ocorre rapidamente, pois sua liberação é maior em temperatura elevada. O amoníaco é solúvel em água e está em equilíbrio com os microrganismos de forma inofensiva. À medida que a temperatura se desloca, maior quantidade de amoníaco gasoso é gerada.

Em algumas plantas de biogás na Suécia foi observado que a digestão sob temperatura em torno de 50°C a 51°C pode ocasionar um efeito positivo sobre a degradação de materiais ricos em nitrogênio. Em geral, os microrganismos que atuam na faixa termofílica são menos ativos e eficientes, se comparados aos microrganismos mesofílicos, os quais apresentam maior diversidade de organismos e podem, por esse motivo, ser mais estável e responder melhor às mudanças que ocorrem no meio. Essa diversidade explica por que o processo anaeróbio em temperatura mesófila tem maior grau de decomposição de determinados poluentes orgânicos do que em temperatura termofílica, mesmo que a quantidade de microrganismos ativos nessas duas faixas de temperatura seja a mesma. A biomassa microbiana proveniente da quantidade de substrato é menor no processo termofílico, o que resulta numa menor quantidade de lodo em excesso formado a partir da degradação termofílica.

Mudança de temperatura

Cada processo de biogás desenvolve sua própria microflora, a qual se adapta às condições prevalecentes, e os microrganismos interagem e se desenvolvem nesse ambiente.

É claro que leva algum tempo para que esses microrganismos estabeleçam uma microflora, mas também é necessário tempo para se modificarem e adaptarem-se a essas novas condições. Isso ocorre

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com os microrganismos constituintes que se adaptam às mudanças de temperatura.

Um processo mesofílico pode ser adaptado à temperatura termofílica, mas tal ajustamento requer tempo, pois nele organismos termofílicos estão presentes em pequenas quantidades para ter tempo para crescer, enquanto as espécies anteriormente ativas na faixa mesófílica gradualmente serão eliminadas ou inativadas pela temperatura elevada.

Um aumento na temperatura em torno de 1°C por dia pode ser uma orientação para a adaptação de um processo a temperaturas mais elevadas, apesar de haver alguns exemplos na literatura em que um aumento de temperatura instantânea também é favorável. Para todas as alterações é importante ter um processo estável, por exemplo, em relação à alcalinidade.

Pode ser difícil modificar a temperatura termofílica à mesofílica mantendo a produção de biogás. Muitas vezes, há muito poucas espécies mesófilas presentes no processo termofílico, porque foram eliminadas pela alta temperatura. As espécies termofílicas sobrevivem com segurança no decréscimo da temperatura, mas seu desempenho é lento na baixa temperatura, pois esta não é a melhor condição de trabalho para os microrganismos.

4.4.2 Carga

A geração de biogás é resultante da decomposição biológica da matéria orgânica. Se nenhum novo material é adicionado, o processo irá cessar. A carga é um termo que indica a quantidade de material novo agregado no processo por unidade de tempo, normalmente chamado carga orgânica. É importante saber o teor de sólidos totais (ST) e de sólidos voláteis (SV) contidos no substrato, a fim de fornecer a carga orgânica ideal para o processo de biogás. Sólidos totais é o material que resta quando há a evaporação da água do substrato e sólidos voláteis especifica a parte orgânica da matéria seca.

A carga orgânica deve ser adaptada à microflora que está ativa. O processo geralmente inicia com uma carga relativamente

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baixa, como, por exemplo, 0,5Kg.m3.dia-1 de matéria orgânica no biodigestor, a qual aumenta gradualmente conforme há o crescimento dos microrganismos.

Muitas vezes, podem-se levar vários meses até que se consiga obter a carga orgânica desejada, o que pode ser explicado pelo lento crescimento dos microrganismos anaeróbios. Se há poucos microrganismos presentes desde o início do processo e de repente é adicionada carga orgânica, os microrganismos presentes não são suficientes para degradar esse material, o que pode resultar na formação de ácidos graxos. Tal situação faz com que o processo de geração de biogás não seja estável porque o pH diminui, ocasionando desequilíbrio na cadeia de degradação.

Adaptação do substrato à temperatura

A quantidade de carga orgânica que pode ser adicionada ao biodigestor e a rapidez desse processo de adição dependem das características do substrato utilizado. Substratos fáceis de serem degradados são, por exemplo, águas residuárias de processos industriais a partir de alimentos com elevado teor de açúcar ou amido, enquanto que os substratos constituídos por fibras são difíceis de ser degradados, pois requer um longo período de adaptação.

Por outro lado, um substrato com grande potencial de degradação pode causar a acumulação de ácidos graxos, devido à rápida degradação. Substratos ricos em nitrogênio, tais como miudezas ricas em proteína, podem ser adicionados em pequenas quantidades, de modo a evitar a formação de amoníaco e gás sulfídrico.

Para que haja rápida adaptação dos microrganismos ao substrato é necessário que este não contenha substâncias tóxicas aos microrganismos, como metais pesados e diferentes poluentes orgânicos. O operador do biodigestor deve aumentar a carga orgânica gradual e constantemente, observando como será a resposta por parte dos microrganismos, a fim de manter a estabilidade do processo sob a forma de pH neutro e a produção de metano. Se isso for obtido, pode-se agregar sempre mais carga ao sistema.

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Para que seja obtido bom funcionamento do processo de biogás na faixa de temperatura termofílica, pode-se agregar carga orgânica ao biodigestor entre 4-5Kg de sólidos voláteis por m3.dia após a fase de arranque, enquanto que, em um processo que atua em faixa mesofílica, normalmente se pode adicionar ao sistema cerca de 2-3Kg de sólidos voláteis por m3.dia. Porém, outras quantidades podem ser obtidas. Em experiências realizadas em laboratório com digestão termofílica a partir de celulose e sorgo seco, foram obtidos 24Kg.m³.dia de sólidos voláteis, sendo a maior carga orgânica encontrada na literatura. Em resíduos alimentares a carga obtida foi de 13,5Kg.m³.dia de sólidos voláteis com tempo de retenção de 10 dias e, em outro estudo com o mesmo material, foi atingida carga orgânica de 6Kg.m³.dia de sólidos voláteis em um tempo de 20 dias.

Quando a carga orgânica adicionada ao processo atingir a quantidade necessária, deve-se continuar com o mesmo padrão de entrada. A carga deve ser mantida constante ao longo do processo e não variar mais que 10-15% durante a semana. Também é desejável que não haja variação na composição do substrato de entrada, porque os microrganismos estão adaptados às características do material de entrada antigo. Os microrganismos adaptam-se ao material agregado pouco a pouco e, por esse motivo, o substrato deve ser adicionado ao processo em pequenas proporções uniformes ao longo do dia. Os substratos que contêm bastante umidade, como lodos e lodos de estação de tratamento de esgoto, podem ser bombeados continuamente para dentro do biodigestor 20 vezes ao dia. No entanto, pode ser difícil atingir uma carga uniforme no decorrer do dia se o substrato utilizado é oriundo de material vegetal ou alimentar, pois têm elevado teor de sólidos totais e, por isso, muitas vezes é necessário que os substratos com essas características sejam diluídos a fim de facilitar a degradação.

4.4.3 Retenção

O tempo de residência é o tempo necessário para substituir todos os materiais (volume total) em digestor. Em um processo de biogás os hidrocarbonetos são convertidos em gás metano e dióxido de carbono. Dessa forma, há redução na quantidade de material

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sólido, pois o teor de sólidos voláteis diminuem durante o processo. Quando no processo é aplicado um novo substrato rico em carbono, este também será convertido em biogás.

O material resultante é constituído por água e sais dissolvidos, e por matéria orgânica digerida no biodigestor, chamado resíduo. No resíduo também há presença de certa quantidade de biomassa, pois microrganismos são cultivados durante o processo. O tempo de retenção de um processo de geração de biogás é de aproximadamente 10 e 25 dias, podendo ser maior.

4.4.4 Degradabilidade

Quanto mais tempo o substrato ficar retido no biodigestor, maior quantidade de gás metano poderá ser formada, pois a atividade dos microrganismos pode ser mantida. A eficiência da degradação é indicada pela percentagem de material orgânico degradado e convertido em biogás durante determinado tempo.

Em geral, os processos descontínuos de digestão, ou seja, os processos em batelada, apresentam maior grau de degradabilidade, podendo teoricamente chegar a 100%. Normalmente não é possível extrair todo o metano que estaria disponível em um determinado substrato, pois, além de ser praticamente limitado, pode não ser economicamente viável. No processo descontínuo, a produção de biogás geralmente é maior no início e diminui no decorrer dos dias, e sua eficiência de degradação varia de acordo com o substrato.

Substratos biodegradáveis não podem ter taxa de degradação maior que 90%, assim como substratos com alto teor de fibras não apresentam degradação superior a 60% da entrada da matéria orgânica durante o tempo de retenção no biodigestor. É comum que os biodigestores tenham um dispositivo de bombeamento para armazenar os resíduos, em que a degradação contínua do material orgânico e a produção de biogás possam ser realizadas durante um longo período.

Geralmente substratos com granulometria menor têm maior potencial para a produção de metano. É importante dispor de um

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ambiente coberto, a fim de evitar a liberação de metano e outros gases à atmosfera.

4.4.5 Carga orgânica e temperatura

O tempo de retenção e a carga orgânica adicionada devem ser controlados em relação um ao outro, para que se obtenha rendimento máximo de biogás. Geralmente o tempo de retenção é maior quando há carga elevada. Se um processo com curto tempo de retenção for muito carregado, existe o risco de o grau de digestão do material se tornar baixo. A temperatura também é importante para o tempo de retenção, pois, em um processo mesofílico, o tempo é de 15 dias, enquanto que um processo termofílico dura aproximadamente 10 dias. É comum, no entanto, que mesmo os processos termofílicos operados em um tempo de retenção um pouco mais prolongado (mínimo de 12 dias) tenham um funcionamento estável.

4.4.6 Agitação

O biodigestor deve estar equipado com algum tipo de agitador para misturar o substrato, como, por exemplo, diferentes tipos de misturadores mecânicos e bombas. A agitação facilita o contato entre o substrato, os microrganismos e os nutrientes, fornecendo temperatura uniforme ao longo do processo. É particularmente importante que os microrganismos hidrolíticos tenham contato com as várias moléculas que são rompidas no processo de digestão, de modo que suas enzimas possam ser disseminadas a uma grande superfície de contato do substrato.

A agitação também evita que o material se acumule no fundo do biodigestor e reduz o risco de formação de espuma. Além disso, facilita a transferência de hidrogênio a partir de metano e permite que os microrganismos realizem oxidação anaeróbia.

A agitação não deve ser muito forte porque, muitas vezes, os microrganismos crescem juntos em pequenos agregados, facilitando a sua cooperação estreita e de transferência de hidrogênio. A partir de uma agitação leve é promovida a formação de agregados e metano.

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A agitação contínua evita a sedimentação e o espaço no biodigestor pode ser ocupado da melhor maneira possível. Substratos com altos níveis de sólidos totais são geralmente mais difíceis de serem misturados em comparação aos líquidos. A agitação no tanque de substrato também é importante para evitar a sedimentação causada pelo excesso de carga orgânica.

4.4.7 Alcalinidade e pH

A geração de biogás obtém maior rendimento em pH neutros ou ligeiramente superior (pH entre 7,0 e 8,5). A fim de manter um pH neutro e estável é necessário que a alcalinidade do meio seja relativamente elevada e constante. A alcalinidade é uma medida da quantidade de substâncias alcalinas (básicas) presentes no processo de geração de biogás. Quanto maior for a alcalinidade, maior será a capacidade tampão do processo, que, por sua vez, promove um pH estável.

A alcalinidade é composta principalmente por íons de bicarbonato, os quais estão em equilíbrio com o dióxido de carbono. Embora o dióxido de carbono e íons de carbonato contribuam para a alcalinidade, a degradação dos substratos ricos em nitrogênio com altas proporções de proteínas e aminoácidos aumentam a alcalinidade, devido à liberação de amoníaco que reage com o dióxido de carbono, dissolvido para a formação de bicarbonato de amônio.

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5 Substrato degradado = biofertilizante

A degradação da matéria orgânica em um processo de biogás também gera resíduos, mas de boa qualidade que pode ser utilizado como biofertilizante. Os nutrientes minerais disponíveis no material orgânico (substrato) são concentrados no produto final já digerido. Se a digestão é realizada com substratos relativamente “limpos”, como dejetos, resíduos de alimentos e de material vegetal, o produto final pode ser usado como biofertilizante. Este produto não deve ser confundido com o produto residual, chamado lodo, o qual é obtido por meio da digestão de lodos de estações de tratamento de esgotos.

O lodo digerido, devido ao seu conteúdo de metais e poluentes orgânicos, nem sempre é apropriado para ser disposto em terras agrícolas. A qualidade e o conteúdo nutritivo da digestão são influenciados por vários fatores, incluindo o tipo de substrato, o método de pré-tratamento e as condições do processo (temperatura, tempo de retenção etc.), após a digestão e o armazenamento. Nesta seção é apresentado um resumo do material digerido como fertilizante com enfoque nos microrganismos presentes no substrato, no processo, nos biofertilizantes e no solo.

Créditos: (http:www.midianews.com.br)

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5.1 Função e uso do fertilizante

Na Suécia, cerca de 200.000 toneladas de fertilizantes são produzidas por ano, das quais cerca de 90% são destinadas para uso agrícola. Em comparação com o adubo químico, o uso de biofertilizantes é relativamente novo e por isso ainda existe a necessidade de desenvolvimento de tecnologias e pesquisas. É evidente que o biofertilizante proporciona rendimentos nas plantações na mesma magnitude que o adubo químico.

O lodo tem teor de sólidos entre 2% e 7%, ou seja, é similar ao teor de sólidos em suspensão. Em algumas plantas de biogás, tem-se divisão entre a parte líquida e a parte sólida, concentram-se na parte líquida os nutrientes, e naparte sólida a matéria orgânica.

Biofertilizantes líquidos contêm cerca de 7,2% de sólidos, que é aproximadamente igual ao teor de sólidos em suspensão.

Com o biofertilizante disposto em solo agrícola durante a semeadura, podem-se obter plantações com cerca de 20 cm de altura. Uma das vantagens do bom crescimento das plantações pode ser explicada pelo fato de o solo ter a competência de transportar os nutrientes no período em que os vegetais possuem as maiores necessidades nutricionais. Os agricultores que utilizam o biofertilizante acreditam que ele melhora o efeito do nitrogênio contido no dejeto líquido e também melhora as propriedades em termos de odor, patógenos e dispersão.

Créditos: (www.fotoakuten.se)

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5.2 Valor nutricional

Durante a decomposição da matéria orgânica num processo de biogás são liberados vários tipos de minerais. Nos biofertilizantes, os nutrientes (o nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K) e magnésio (Mg)) estão no solo e há disponibilidade destes para as plantas de maneira direta, além de conter diferentes tipos de oligoelementos, também essenciais para o crescimento.

O valor nutritivo do biofertilizante, ou seja, a concentração de diferentes produtos finais depende do substrato utilizado no processo de biogás e como este será executado. Uma vantagem disso é que nesse biofertilizante há uma grande quantidade de amônio, o qual é absorvido diretamente pelas plantas.

Uma vez que todo o material orgânico é convertido em biogás durante o processo de digestão anaeróbia, no biofertilizante também terá certa quantidade de carbono orgânica e nitrogênio. Uma parte dessa fração se concentra no solo e, com o passar do tempo, por meio dele mais nutrientes serão liberados. A fração orgânica tem um efeito estimulador sobre a atividade biológica do solo, sendo favorável para as plantas. No entanto, os biofertilizantes podem ter ausência de fósforo (P), o qual poderá ser adicionado como suplemento, a fim de evitar sua deficiência.

A grande quantidade de água contida nos resíduos (93%-98%) faz com que o transporte se torne caro e, ainda, que haja um risco de compactação do solo. O biofertilizante deve conter pelo menos 2 Kg/tonelada de nitrogênio de amônio e 3-4 Kg/tonelada de nitrogênio total. O conteúdo de nitrogênio pode ser aumentado com a adição de proteína ao substrato durante a geração de biogás. É importante considerar que grandes quantidades de proteínas podem resultar em problemas relacionados à inibição do amoníaco pelos microrganismos metanogênicos.

O teor de nutrientes contido no biofertilizante depende da composição do material que entra no biodigestor. Uma maneira de reduzir o volume de biofertilizantes é a partir da desidratação do lodo, já que resulta em uma fase líquida rica em nitrogênio e uma

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fase sólida com alto teor de fósforo. Um dos problemas na liberação de água é que podem ocorrer perdas de nitrogênio na forma de amoníaco (até 90%).

5.3 Efeitos sobre o solo

A qualidade de um solo é determinada por parâmetros físicos (porosidade, textura, teor de umidade), químicos (teor de umidade, pH) e biológicos (tipo, quantidade de microrganismos e sua atividade). A qualidade do solo é afetada pela composição do biofertilizante, no caso de poluentes químicos, os quais são tóxicos para os organismos presentes no solo. O material orgânico a partir de biofertilizante aumenta a capacidade de tamponamento do solo, da água e do ar no perfil do solo, além de afetar positivamente os microrganismos do solo.

Créditos: www.fotoakuten.se

A maioria dos microrganismos presentes no solo são heterotróficos, o que significa que eles usam compostos orgânicos de carbono como uma fonte de carbono e energia durante o crescimento. A adição de matéria orgânica ao biofertilizante conduz a uma estimulação generalizada do crescimento microbiano. Microrganismos desempenham um papel-chave na fertilidade do solo, à medida que a matéria orgânica mineraliza e libera vários nutrientes. Os microrganismos facilitam a nutrição das plantas,

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formando polissacarídeos que estimulam a formação de agregados estáveis e também os protege contra o ataque de doenças.

Além disso, o teor de nitrogênio mineral (amônio) presente no biofertilizante faz com que as plantas se desenvolvam bem, conduzindo a um aumento da proporção de carbono no solo pela secreção de raiz. O uso de adubos orgânicos pode levar à emissão de amônia (NH3) e gases de efeito estufa, como o óxido nitroso (N2O) e o metano (CH4). A amônia é liberada principalmente a partir do biofertilizante, enquanto o óxido nitroso e o metano são resultado do aumento da atividade microbiana no solo.

A amônia pode fixar-se no biofertilizante tanto durante o armazenamento quanto durante a aplicação. O método de distribuição tem grande importância para essas emissões, pois a dispersão na superfície leva a maiores perdas de nitrogênio do que a injeção superficial.

Os microrganismos transformam a amônia presente no solo em óxido nitroso. A degradação microbiana da matéria orgânica também pode levar a emissões de metano. A injeção superficial reduz essas emissões, pois, além da técnica de dispersão, o tipo de solo exerce grande influência no que se refere à magnitude das emissões. Por exemplo, solos arenosos conduzem a emissões de metano superiores às de solos argilosos.

5.4 Benefícios ambientais do uso do lodo como biofertilizante

Existem várias vantagens em usar o lodo da biodigestão como biofertilizante. A principal delas é a redução do uso de combustíveis fósseis e a dispersão dos nutrientes ao solo. A produção e o transporte de biofertilizantes resultam em um processo intensivo de energia que também levam a emissões de óxido nitroso, um gás de efeito estufa muito potente. A reciclagem dos nutrientes da cidade para o campo é necessária para, em longo prazo, não haver a lixiviação do solo. As plantas absorvem nutrientes do solo e os perdem na colheita, o que diminui a produtividade do solo, a menos que esses nutrientes sejam substituídos.

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Além disso, não se torna vantajosa a dispersão do dejeto não tratado nos solos; e, sim, deve-se dispersá-lo como biofertilizante. A disponibilidade de nutrientes do dejeto tratado para as plantas varia dependendo das espécies das plantas, mas, em geral, é relativamente inacessível e não pode ser diretamente absorvido pelas raízes das plantas. O resultado é um maior risco de lixiviação dos nutrientes do solo e das águas subterrâneas, e vindo a poluir os recursos hídricos,, podendo resultar na fertilização. Quando o dejeto passa por um tratamento anaeróbico, uma grande parte do nitrogênio ligado organicamente ao nitrogênio amoniacal é absorvido pelas plantas mais facilmente. A utilização do produto final (biofertilizante) após a digestão do dejeto reduz o risco de lixiviação do nitrogênio em terra agrícola.

A digestão anaeróbia do dejeto também reduz o risco de emissões de gases do efeito estufa, aumentando as emissões de metano e de óxido nitroso, respectivamente, em aproximadamente 20 e 300 vezes mais que as emissões liberadas pelo dióxido de carbono. Isso se dá pelo fato de o dejeto conter grande quantidade de material orgânico durante o armazenamento que pode degradar-se em metano, a não ser que este gás seja armazenado sob condições controladas, como ocorre durante o processo de digestão.

Os microrganismos são responsáveis por essa degradação a partir do trato gastrointestinal do animal, estando, portanto, presente

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no dejeto. A matéria orgânica do dejeto pode ser utilizada pelos microrganismos do solo como fonte de carbono e energia. E, quando isso ocorre, a digestão anaeróbia de resíduos é também benéfica, uma vez que reduz tanto o número de microrganismos patogênicos quanto a proporção de componentes odoríferos no dejeto.

5.5 Transporte do biofertilizante

Durante o transporte do biofertilizante, é necessário que os veículos sejam mantidos limpos para evitar contaminação. A unidade de biogás é obrigada a assegurar que os veículos que transportarão o material estejam limpos interna e externamente e que sejam limpos após cada utilização.

Sabe-se, por meio de estudos, que é difícil manter os veículos limpos para o transporte do dejeto e do biofertilizante, pois, independente do método de lavagem, sempre há lugares onde a limpeza é inacessível ou esquecida. Por isso, uma alternativa é a utilização de diferentes veículos ou dispor de tanques separados no veículo.

Um método de distribuição utilizado por uma usina de biogás na Suécia é o bombeamento dos biofertilizantes em tubulações enterradas para a dispersão nas áreas circundantes. Além de reduzir o número de viagens e de consumo de energia, impede que o biofertilizante esteja em contato com o transporte de entrada de substrato não higienizado pela empresa.

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Literatura

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2. Ekvall, A. (2005). Effektivitet av fordonsdesinfektion för transport av rötrest. SP Rapport 2005:1 Flessa och Beese 2000

3. Jarecki, M.K., Parkin, T.B., Chan, A.S.K., Hatfield, J.L. och Jones, R. (2008). Greenhouse Gas Emissions from Two Soils Receiving Nitrogen Fertilizer and Swine Manure Slurry. Journal of Environmental Quality. 37: 1432-1438.

4. Johansson Kajsa (2008). Biogas residues as fertilizers effects on plant growth and soil microbiolog. Examensarbete Institutionen för Mikrobiologi, SLU

5. Odlare, M. (2005). Organic Residues – A Resource for Arable Soils. Anhandling, Inst för Mikrobiologi, Sveriges Lantbruks Universitet. No. 2005:71Baky m fl 2006,

6. Rivard, , C.J., Rodriquez, J.B, Nagel, N.J., Self, J.R., Kay, B.D., Soltanpour, P.N. och Nieves, R.A.

7. (1995). Anaerobic digestion of municipal solid waste. Utility of process residue as a soil amendment. Applied Biochemistry and Biotechnology. 51-52: 125-135.

8. Rodhe, L, Pell, M och Yamulki, S. (2006). Nitrous oxide, methane and ammonia emissions following slurry spreading on grassland. Soil Use and Management. 22: 229-237.

9. Svensson, K, Odlare, M och Pell, M. (2004). The fertilizing effect of compost and biogas residues from source separated household waste. Journal of Agricultural Science. 142: 461-467.

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6 Biogás no Brasil

O potencial do Brasil na questão da geração e do aproveitamento de outras fontes energéticas diferentes do petróleo é conhecida há muito tempo; mas, somente na década de 70, essas fontes começaram a ser valorizadas, devido à crise mundial do petróleo. Até então este era o combustível mais usado em todo mundo.

6.1 Crise do petróleo e o proálcool

A crise do petróleo surgiu em 1973, quando as nações que participavam da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) formaram o mais forte cartel já visto na história, elevando os preços do petróleo bruto nos mercados internacionais. Esta crise trouxe sérios problemas de adaptação para os países importadores. As consequências foram imediatas na economia desses países em longo prazo. O setor energético deles teve que buscar ampliar suas fontes de alternativas energéticas, além de desenvolver tecnologias e adaptar seus padrões de consumo para a nova realidade imposta pela crise.

Nesse contexto de crise, o Brasil mostrava-se extremamente dependente, pois 80% do óleo bruto então consumido no país eram de fonte externa. Por isso, foi necessário estabelecer estratégias para contornar a crise. Logo iniciou-se a busca por outras fontes de energia, em substituição ao petróleo externo. Descobriu-se a presença de petróleo na Bacia de Campos (Rio de Janeiro), que começou a ser explorada somente em 1976. Posteriormente foi implantado o Proálcool, que estimulou a produção de álcool como combustível e abriu caminho para os biocombustíveis de forma geral. Essas medidas visavam ao atendimento das necessidades do atual mercado interno e do externo e da política de combustíveis automotivos.

Dentre o leque de novas opções de energia, o biogás surgiu como uma maneira interessante de contribuir com a superação da crise visto que o Brasil, na década de 70 e até hoje, é um grande gerador de biomassa por meio de seu rebanho de bovinos e suínos,

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que estão entre os maiores do mundo. Foi nesse contexto que, em 1977, surgiu o Projeto de Difusão do Biogás da Empresa Brasileira de Tecnologia e Extensão Rural (EMATER), executado no Estado de São Paulo e no Distrito Federal; porém o projeto não atingiu os objetivos propostos. Alegava-se que havia falta de conhecimento técnico sobre a construção e a operação dos biodigestores; o custo de implantação e manutenção era elevado; havia falta de equipamentos desenvolvidos exclusivamente para o uso de biogás e baixa durabilidade dos equipamentos adaptados para a conversão do biogás em energia; ausência de condensadores para água e de filtros para os gases corrosivos gerados no processo de biodigestão. Somam-se, ainda, a todos esses fatores a disponibilidade e o baixo custo da energia elétrica e do gás liquefeito de petróleo (GLP).

Cabe ainda dizer que, na época, o sistema político não favoreceu a implantação dos biorreatores e o sucesso da utilização do biogás, pois o modelo de governo vigente definia os investimentos de acordo com os acontecimentos da crise. Por isso, na década de 80, desativaram-se os programas que buscavam fontes alternativas de energia, entre elas o biogás. A herança dessa fase da história econômica do país foi a descoberta do potencial do Brasil e da viabilidade da implantação de biodigestores com vista à produção e à utilização do biogás.

6.2 Primeiras experiências com o biogás

Apesar das dificuldades da época, o interesse pelo biogás voltou a ganhar força nos anos 90. Dessa vez, o que motivava a implantação dos biodigestores não era apenas a conversão da biomassa em biogás, mas sim a geração de uma energia que pudesse dar suporte à matriz energética, caso houvesse novos aumentos no preço do petróleo. A preocupação agora era também voltada à questão ambiental, pois começava-se a falar em gases do efeito estufa e em aquecimento global. Foi nessa época que o país assinou com muitos outros o Protocolo de Kyoto. Este acordo envolvia países desenvolvidos e em desenvolvimento, propondo uma série de metas que deveriam ser alcançadas para diminuir a emissão dos gases do efeito estufa.

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Dentre os gases que causam o efeito estufa estão o metano e o dióxido de carbono, principais componentes do biogás, embora somente o metano tenha poder calorífico para ser aproveitado energeticamente. Na queima do metano é liberado dióxido de carbono. De todas as formas, a utilização do biogás ainda é benéfica. Além disso, o tratamento via biodigestão dos substratos diminui a sua carga orgânica e elimina agentes patogênicos, permitindo a aplicação do resíduo pós-tratamento no solo.

Nesse novo momento, os técnicos e produtores rurais já haviam adquirido certa experiência com o insucesso inicial dos biodigestores, permitindo que aos poucos o país mostrasse que sua utilização é possível e quase que indispensável para as condições locais. O Brasil também se viu estimulado a investir no biogás como fonte energética, devido às experiências bem sucedidas que começavam a surgir nos países desenvolvidos, o que acarretou o desenvolvimento de equipamentos específicos para o aproveitamento do biogás e trouxe confiança a investidores e consumidores.

Iniciou-se, contudo, uma nova etapa de desenvolvimento das fontes energéticas no país, juntamente com a implantação do Programa de Incentivo às Fontes Alternativas de Energia Elétrica (PROIFA), criado no setor do Ministério de Minas e Energia (MME), conforme a Lei nº 10.438, de 26 de abril de 2002, revisado pela Lei nº 10.762, de 11 de novembro de 2003. A finalidade do Programa, conforme descrito no Decreto nº 5.025, de 2004, consistia em aumentar a geração de energia elétrica a partir de fontes eólica, biomassa e pequenas centrais hidrelétricas (PCH) no Sistema Elétrico Interligado Nacional (SIN), promovendo a redução das emissões de CO2 na atmosfera e, consequentemente, adquirindo a Certificação de Redução de Emissão de Carbono, conforme o Protocolo de Kyoto.

Em novembro de 2009, o Brasil vivenciou uma grande pane na distribuição de energia elétrica. Por quatro horas, 18 dos 27 Estados da federação ficaram sem energia devido a um problema ocorrido na hidrelétrica de Itaipu, no momento de distribuição de energia para algumas linhas de transmissão. A Hidrelétrica Binacional de Itaipu é responsável pelo fornecimento de 19,3% da energia elétrica consumida no país. Esse evento foi um marco, pois, a partir do

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ocorrido, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) institui a chamada Geração Distribuída de Energia, que se estabelece na incorporação de energia de outras fontes, que não seja a hidroelétrica, nas redes de distribuição de energia. Dessa forma, o biogás gerado nas propriedades rurais poderia ser convertido em energia elétrica por meio de geradores e ser inserido nas redes de distribuição, diminuindo a dependência energética da Hidrelétrica Binacional de Itaipu.

Créditos: Laboratório de Biorreatores

Essa inserção do biogás em uma rede de distribuição de energia elétrica só foi possível graças à própria Itaipu Binacional e à Fundação Parque Tecnológico Itaipu (PTI), à Companhia Paranaense de Energia (COPEL), à Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) e à Cooperativa Lar de Medianeira. A primeira unidade geradora que implantou energia na rede, com apoio da Plataforma Itaipu de Energias Renováveis, foi a Granja Colombari, localizada em São Miguel do Iguaçu-PR. A granja dispõe de um plantel de três mil cabeças de suínos e produz diariamente 360 kW de energia elétrica, sendo 60% consumidos na propriedade e os 40% restantes vendidos

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para a COPEL. No local, são conduzidos testes e a COPEL e a ANEEL têm realizado negociações para instituir de fato a Geração Distribuída na rede nacional de energia.

Essa experiência bem sucedida fez com que se ampliassem as investigações no campo da Geração Distribuída com Saneamento Ambiental, focando sua atuação no Oeste do Paraná. Foram implantadas mais cinco unidades de geração de biogás com diversas escalas, utilizando dejetos de suínos e de bovinos de leite, substratos de frigorífico de aves e de uma estação de tratamento de esgotos urbanos. Todas essas unidades produzem energia para seu próprio consumo. Outros apoiadores na instalação de biodigestores no Estado do Paraná, no âmbito da agricultura familiar, são a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), divisão de Aves e Suínos, e a Fundação de Apoio à Pesquisa e ao Desenvolvimento do Agrononegócio (Fapeagro).

6.3 Laboratórios sobre biogás

A Itaipu Binacional, por meio da Fundação Parque Tecnológico Itaipu e da Plataforma Itaipu de Energias Renováveis, estende suas ações com relação ao biogás dando apoio e suporte a estudos na área de geração de energia elétrica por meio do biogás desde as primeiras experiências com a Granja Colombari e mantém o Centro de Estudos do Biogás, no Parque Tecnológico Itaipu, localizado em Foz do Iguaçu-PR. Esse centro surge com a promessa de compilar dados científicos sobre toda a cadeia de suprimentos do biogás no Brasil. Possui um laboratório no qual são realizados experimentos para mensurar o desempenho do biogás na geração de energia elétrica, e tem, entre outros objetivos, o de estimular a importância dessa fonte energética para o equilíbrio das energias renováveis.

Sistema de monitoramento de biogás. Créditos: Laboratório de Biorreatores

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Outro laboratório pioneiro em estudos relacionados à geração de biogás é o Laboratório de Biorreatores Univates, o qual está conectado por convênio ao Centro de Estudos do Biogás da Itaipu. Desde o ano de 2009, no Centro Universitário UNIVATES (Lajeado-RS), com base em metodologia própria, desenvolvida por meio de experiências e conhecimentos internacionais, a equipe do laboratório vem trabalhando com geração de biogás, medição do volume e controle da sua qualidade (porcentagem de metano) em escala laboratorial.

A equipe do laboratório conta com pesquisadores e alunos dos cursos de Engenharia Ambiental e Engenharia de Controle e Automação do Centro Universitário UNIVATES, que desenvolveram e aprimoraram o sistema utilizado. O grupo também se dedica a desenvolver parcerias com empresas locais que desejam implantar biodigestores com vista à produção de biogás. Foi nesse âmbito que a Associação dos Fumicultores do Brasil (AFUBRA) implantou, em 2011, um biodigestor de escala piloto reduzida em seu parque de exposições, no município de Rio Pardo-RS, por meio de uma parceria com o laboratório em questão e outras empresas privadas. O biodigestor é alimentado com dejetos de bovinos criados no local e tem por objetivo mostrar à comunidade em geral, visitantes da Expoagro Afubra (feira anual promovida pela associação) e, principalmente, aos sócios que o biogás é uma alternativa energética eficiente nas propriedades rurais e fora delas.

Em se tratando de outras experiências brasileiras em relação a biodigestores, percebe-se que grande parte deles estão instalados na zona rural, em decorrência da elevada quantidade de dejetos produzidos, principalmente por animais confinados, o que viabiliza a existência deles para a produção de biofertilizante e biogás, contribuindo para menor poluição do meio ambiente e para geração de uma energia renovável. Sistema de monitoramento de biogás.

Créditos: Laboratório de Biorreatores

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O biogás pode ser aproveitado, contudo, por meio de outras fontes. Por isso, no país, investiram-se em projetos com relação à captação e à utilização do biogás a partir de resíduos sólidos domésticos. Embora existam muitos trabalhos relacionados a esse tema, foi no Estado de São Paulo que surgiram as primeiras experiências concretas em relação ao tema, nos aterros sanitários de Bandeirantes e São João (São Paulo-SP). Trata-se de dois aterros que já não recebem mais resíduos, ou seja, a célula do aterro sanitário foi encerrada. Nela o biogás gerado é captado e aproveitado energeticamente.

6.4 Perspectivas futuras

Com relação à atual situação energética brasileira, em 2012, na matriz de Oferta Interna de Energia (OIE), o petróleo respondeu por 39,4%, o gás natural por 11,5% e o carvão mineral por 5,4%, perfazendo um total de 56,3% de combustíveis fósseis. Nas fontes renováveis, a hidráulica contribuiu com 13,9%, os produtos da cana com 15,4%, a lenha com 9,1% e outras bioenergias com 3,9%, somando 42,3% de energias renováveis. A participação da energia nuclear ficou em 1,4%.

O aproveitamento do biogás ainda é incipiente, com apenas 42 MW de capacidade instalada e 20 MW em construção (ANEEL, 2009). Considerando a elevada concentração da população brasileira em grandes centros urbanos e a expressiva produção agropecuária e agroindustrial (e, portanto, de resíduos e efluentes domésticos, agropecuários e agroindustriais), é natural acreditar que o atual aproveitamento do biogás no Brasil encontra-se aquém do seu potencial.

Esses dados demonstram que o Brasil vem se empenhando para manter o equilíbrio entre as suas fontes de energia renováveis e tradicionais, e o progresso de geração de energia a partir do biogás, que tem papel importante no equilíbrio entre as fontes de energia disponíveis no país, à medida que aumenta o consumo de eletricidade. Porém, as iniciativas para geração de biogás no Brasil ainda andam a passos lentos em comparação ao panorama internacional. Contudo,

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sabe-se que o investimento nessa área pode resultar em reflexos significativos na matriz energética do país. O Brasil, mesmo sendo um dos líderes em produção de energias a partir de biomassa, enfrenta problemas para inserir o biogás como fonte renovável de energia no quadro nacional, pois os subsídios por parte do governo e o investimento das políticas públicas são pouco estimulados.

Apesar disso, e ainda que recentes, os resultados alcançados até o momento já asseguram um bom domínio das tecnologias e qualificam o país como apto a desenvolver um vasto programa de âmbito nacional em biogás, seja no setor agrícola ou no industrial.

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Literatura

1. ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica. (2013). Banco de Informações de Geração. 2009. Disponível em <www.aneel.gov.br>. Acesso em agosto de 2013.

2. MME, Ministério de Minas e Energia. (2013). Energias renováveis no Brasil. PROINFA. 2013. Disponível em: < http://www.mme.gov.br/programas/proinfa/menu/programa/Energias_Renovaveis.html>. Acesso em agosto de 2013.

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CURRÍCULO DOS AUTORES

TOMMY KARLSSON

Tommy Karlsson interessou-se por energias renováveis em 2008, quando decidiu expandir seu conhecimento nesta área através de um programa de estudos sobre o assunto em Halmstad, na Suécia. Ele formou-se Engenheiro de Energia especializado em energias renováveis.

Todos os tipos de energias renováveis chamavam a atenção de Tommy, mas, ele passou a interessar-se especificamente pelo biogás quando desenvolveu sua tese de conclusão de curso baseada nesta fonte energética. O trabalho foi realizado em Lajeado-RS, Brasil, e tinha como objetivo realizar testes de biogás em escala laboratorial. Seu interesse em bioenergia e biogás aumentou, e quando ele retornou para a Suécia decidiu aperfeiçoar-se cursando um mestrado com foco no biogás.

Um ano mais tarde ele teve a oportunidade de ministrar aulas sobre biogás no Brasil e então surgiu a ideia de começar a escrever sobre o assunto em colaboração com colegas do Brasil, pois havia pouca literatura sobre biogás e energia renovável.

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ODORICO KONRAD

Doutor em Engenharia Ambiental e Sanitária - Montanuniversitat Leoben Austria (2002), graduado em Engenharia Civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1992), professor/pesquisador da UNIVATES. Tem experiência na área de Engenharia Ambiental, atuando principalmente nos seguintes temas: biogás, biorreatores, energias renováveis, resíduos sólidos, saneamento ambiental, compostagem.

MARLUCE LUMI

Graduanda em Engenharia Ambiental, Bolsista de Iniciação Científica no projeto “Tecnologias aplicadas às ciências ambientais: degradação, reuso, geração de energia e biomateriais” do Centro Universitário UNIVATES.

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NARA PAULA SCHMEIER

Mestranda em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e graduada em Engenheira Ambiental pelo Centro Universitário UNIVATES (2012). Tem experiência na área da Engenharia Ambiental, atuando principalmente com os seguintes temas: energias renováveis (biorreatores/biogás), recuperação de áreas de degradas, gerenciamento de resíduos e meio ambiente.

MUNIQUE MARDER

Graduanda em Engenharia Ambiental, Bolsista de Iniciação Científica no projeto “Tecnologias aplicadas às ciências ambientais: degradação, reuso, geração de energia e biomateriais” do Centro Universitário UNIVATES.

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CAMILA ELIS CASARIL

Graduanda em Engenharia Ambiental e Bolsista de Iniciação Científica. Possui experiência nas áreas de pesquisa sobre biogás e resíduos sólidos domésticos.

FÁBIO FERNANDES KOCH

Gestor Ambiental pela Universidade Luterana do Brasil e Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Desenvolvimento do Centro Universitário UNIVATES. Atua como Coordenador Técnico de Processos na empresa Naturovos junto ao Gerenciamento do Sistema de Gestão Integrada em Qualidade, Meio Ambiente e Saúde e Segurança Ocupacional.

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ALBARI GELSON PEDROSO

Geólogo, com experiência em projetos industriais é o diretor da Usina de Compostagem da Ecocitrus (Cooperativa dos Citricultores do Vale do Caí, RS) e responsável pelo trabalho do biometano na mesma empresa.

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