manual de procedimentos - prevenção e soluções adequadas aos conflitos fundiários urbanos

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MANUAL DE PROCEDIMENTOS: PREVENÇÃO E SOLUÇÕES ADEQUADAS AOS CONFLITOS FUNDIÁRIOS URBANOS _procedimentos_prevencao_solucao_AF.indd 1 19-Aug-13 22:30:08

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  • MANUAL DE PROCEDIMENTOS: PREVENOE SOLUES ADEQUADAS AOS CONFLITOS

    FUNDIRIOS URBANOS

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  • EXPEDIENTE:

    PRESIDENTA DA REPBLICA Dilma Rousse!

    MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIA

    Jos Eduardo Cardozo

    SECRETRIA EXECUTIVA DO MINISTRIO DA JUSTIA Mrcia Pelegrini

    SECRETRIO DE REFORMA DO JUDICIRIO

    Flvio Crocce Caetano

    DIRETORA DE POLTICA JUDICIRIA Kelly Oliveira de Arajo

    FICHA CATALOGRFICA:

    Ficha elaborada pela Biblioteca do Ministrio da Justia

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  • PROJETO BRA/05/036 - FORTALECIMENTO DA JUSTIA BRASILEIRA - CONVOCAO 01/12

    REA TEMTICA: ATUAO DA JUSTIA NOS CONFLITOS FUNDIRIOS URBANOS

    PESQUISA SOBRE SOLUES ALTERNATIVAS PARA CONFLITOS FUNDIRIOS URBANOS

    MANUAL DE PROCEDIMENTOS: PREVENOE SOLUES ADEQUADAS AOS CONFLITOS

    FUNDIRIOS URBANOS

    GOVERNO FEDERALMINISTRIO DA JUSTIA - SECRETARIA DE REFORMA DO JUDICIRIO

    PROGRAMA DAS NAES UNIDAS PARA O DESENVOLVIMENTO (PNUD)

    SO PAULO/BRASLIAJULHO DE 2013

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  • MANUAL DE PROCEDIMENTOS: PREVENO E SOLUESADEQUADAS AOS CONFLITOS FUNDIRIOS URBANOS

    EQUIPE DE PESQUISACOORDENADORES:

    DR. NELSON SAULE JNIOR DANIELA CAMPOS LIBRIO DI SARNO

    PESQUISADORES: ISABEL GINTERS INSTITUTO PLIS;

    PAULO S. ROMEIRO INSTITUTO PLIS;HENRIQUE BOTELHO FROTA INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO

    URBANSTICO (IBDU);LIGIA MELO DE CASIMIRO - INSTITUTO BRASILEIRO DE DIREITO

    URBANSTICO (IBDU);CRISTIANO MULLER CENTRO DE DIREITOS ECONMICOS

    E SOCIAIS (CDES); ESTAGIRIAS:

    PAULA FERREIRA TELLES INSTITUTO PLISKRISTAL MOREIRA INSTITUTO PLIS

    SO PAULO/BRASLIAJULHO DE 2013

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  • 1 INTRODUO EXPLICATIVA 112 NOES DE CONFLITOS FUNDIRIOS 132.1 CONTEXTO DOS CONFLITOS FUNDIRIOS NO BRASIL 13 2.1.1 Dificuldade no acesso informao por parte da populao afetada 13 2.1.2 Ausncia de participao popular na definio das obras e no processo de reassentamento 13

    2.1.3 Poltica de indenizao X poltica de reassentamento e desqualificao da posse como direito 14

    2.1.4 Utilizao em larga escala e inadequada de programas como bolsa aluguel 14

    2.1.5 Inexistncia de poltica de mediao 15

    2.2 CONCEITOS ADOTADOS 15

    3 BASES PARA SOLUO ADEQUADA DE CONFLITOS FUNDIRIOS 173.1 TRABALHANDO COM AS BASES DAS SOLUES ADEQUADAS PARA OS CONFLITOS FUNDIRIOS URBANOS 184 PROCEDIMENTOS SUGERIDOS PARA SOLUO ADEQUADAS DE CONFLITOS FUNDIRIOS 214.1 EM CASOS DE OBRAS OU QUALQUER OUTRO CONFLITO FUNDIRIO QUE SEJA DECORRENTE DA ATUAO ESTATAL 214.2 EM CASO DE REINTEGRAO DE POSSE OU MEDIDA JUDICIAL EQUIVALENTE 234.3 MEDIAO 244.4 INSTRUMENTOS JURDICOS PROCESSUAIS QUE DEVEM SER CONSIDERADOS PARA EVITAR E CONSTRUIR SOLUES ADEQUADAS AOS CONFLITOS FUNDIRIOS 25 4.4.1 Reforma do Cdigo de Processo Civil 25

    4.4.2 Instrumentos de Poltica Urbana 25

    4.4.3 Seara dos direitos humanos stricto sensu 25

    5 INDICADORES PARA EVITAR CONFLITOS FUNDIRIOS 275.1 DA VALORIZAO DA VIABILIDADE SOCIAL DOS EMPREENDIMENTOS GERADORES DE IMPACTOS NAS COMUNIDADES 275.2 DAS PRTICAS DE GESTO SOBRE IMPACTOS ECONMICOS, SOCIAIS, AMBIENTAIS E CULTURAIS 295.3 DAS POSSIBILIDADES DE MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA DAS COMUNIDADES 30

    6 QUADRO DA LEGISLAO URBANSTICA E DE DIREITOS HUMANOS TEIS PARA A SOLUO ADEQUADA AOS CONFLITOS FUNDIRIOS URBANOS 337 BIBLIOGRAFIA SUGERIDA 37

    SUMRIO

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    1 INTRODUO EXPLICATIVArespeitar ou violar os direitos fundamentais dos envolvidos, bem como indicar maneiras de identificao dos conflitos por meio de mapeamento de questes que transcendem o conhecimento e o respeito s normas ju-rdicas, dadas as origens socioeconmicas, geogrficas e ambientais do problema da precarizao das ocupaes urbanas.

    A precariedade e vulnerabilidade das ocupaes urbanas, a violncia praticada pelos agentes que nelas atuam somadas omisso do Estado e ao descaso da prpria sociedade, desenham um quadro funesto da realidade do acesso propriedade imvel no nosso pas. A anlise detida dessa situao permite-nos constatar um flagrante desatendimento aos reclamos dos direitos fundamentais, com des-taque para o direito moradia e o direito cidade, em relao aos quais, no se admite sejam mais encarados como meros enunciados formais, mas sim como verdadeiras diretrizes para a ao e manuteno do Estado Demo-crtico de Direito. Entende-se, portanto, que a busca por mecanismos de soluo desses con-flitos poder tornar possvel a efetivao dos diversos direitos envolvidos em tais demandas, dentre eles o direito moradia, previstos por nossa Magna Carta.

    A metodologia da pesquisa realizada con-tou com 4 etapas distintas que pretenderam abranger a definio da metodologia de pesquisa a ser adotada e dos critrios para seleo dos ca-sos a serem estudados no Estados de So Paulo, Rio Grande do Sul e Cear; o desenvolvimento da pesquisa e o aprofundamento da anlise dos casos paradigmticos, bem como da legislao incidente sobre os casos e o posicionamento da doutrina e da jurisprudncia em casos afins; a possibilidade de realizar um debate sobre o tema e o resultado da pesquisa com a finalidade de co-lher contribuies para sua concluso; e por fim,

    O presente Manual de Procedimentos tem origem na pesquisa realizada no mbito do Projeto BRA/05/036 Fortalecimento da Justia Brasileira - Convocao 01/12 - rea Temtica: Atuao da Justia nos Conflitos Fundirios Urbanos - Pesquisa sobre solu-es alternativas para conflitos fundirios urbanos. Essa pesquisa foi liderada pelo Plis Instituto de Estudos, Formao e Assessoria em Polticas Sociais em parceria com o Insti-tuto Brasileiro de Direito Urbanstico (IBDU) e o Centro de Direitos Econmicos e Sociais (CDES) atendendo convocao publicada pela Secretaria de Reforma do Judicirio do Ministrio da Justia do Brasil.

    O principal objetivo da pesquisa foi pro-por solues de ordem processual e procedi-mental-normativa que estabeleam a resoluo alternativa de conflitos como rotina para casos de conflitos fundirios urbanos.

    As questes relacionadas aos conflitos fundirios urbanos envolvem direitos assegu-rados constitucionalmente, que por sua dimen-so, tm natureza jurdica fundamental. Dentre eles pode-se destacar o direito moradia, o direito dignidade humana e, que, ainda que estejam ao lado do direito fundamental pro-priedade, devem ser garantidos, protegidos e promovidos, cabendo o sopesamento obriga-trio, diante do ordenamento jurdico brasileiro, quando surgem reais confrontos.

    A realidade brasileira, marcada pela violncia tanto no campo como na cidade, revela a importncia desta temtica para o Direito, que na pesquisa tem como objetivos primordiais a justia e a busca pela pacifica-o social por meio da soluo dos conflitos para alm do mero cumprimento da Lei. Por meio desta pesquisa pretende-se verificar como o Poder Pblico, ao intervir em tais demandas, pode dar-lhes solues sem des-

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    a partir dos resultados da pesquisa e do debate realizado apontar possveis novos procedimentos e um repertrio de possibilidades para a soluo alternativa de conflitos fundirios urbanos.

    Dessa forma, o presente Manual tem por finalidade apresentar possibilidades para a

    soluo dos conflitos fundirios urbanos no Brasil que dialoguem com a legislao urba-nstica e de direitos humanos adotadas no pas, prevenindo conflitos e violaes aos di-reitos humanos a partir das ideias que a seguir se apresentam.

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    2 NOES DE CONFLITOS FUNDIRIOS

    os rgos pblicos devem assegurar a gesto transparente da informao, propiciando amplo acesso a ela e sua divulgao, nos processos de implantao de obras que resultem em neces-sidades de processos de reassentamento o que se constatou a partir do levantamento e anlises realizadas uma falta generalizada tanto sobre os projetos de interveno em curso nas cida-des, como tambm as informaes relativas ao processo de reassentamento propriamente dito.

    Em alguns casos as intervenes so li-cenciadas sem que haja sequer uma definio precisa do nmero de famlias que sero remo-vidas, para onde sero removidas e o crono-grama desse processo. Ainda mais grave, so os casos em que essas informaes no so prestadas nem mesmo aps o processo de ca-dastramento, quando as famlias devem optar pela indenizao oferecida ou pela unidade habitacional. O que bastante grave conside-rando que h uma presso para que as famlias se decidam, mesmo sem ter claro sobre o que estariam optando na hiptese da escolha pela Unidade Habitacional.

    Assim, possvel identificar que, na maio-ria dos casos, as informaes no so precisas nem com relao aos projetos de interveno em si, ou seja, os rumos da cidade, nem mesmo com relao forma de atendimento que ser dado s famlias, configurando alm de viola-o da lei de acesso informao, violao ordem urbanstica pela ausncia de condies para participao popular no planejamento da cidade como nos projetos de interveno urbana implementados pelo Estado.

    2.1.2 AUSNCIA DE PARTICIPAO POPULAR NA DEFINIO DAS OBRAS E NO PROCESSO DE REASSENTAMENTO

    Outro ponto importante identificado como comum em diversos casos analisados,

    2.1 CONTEXTO DOS CONFLITOS FUNDIRIOS NO BRASIL

    A pesquisa acerca de conflitos fundirios realizada nos estados do Cear, So Paulo e Rio Grande do Sul aponta para uma srie de semelhanas tanto com relao s caracters-ticas dos conflitos como da forma de atuao ou omisso dos Poderes Pblicos em relao aos mesmos.

    Um ponto comum relativo ao pano de fundo dos conflitos o fato de que grande parte os conflitos fundirios so decorrentes da prpria atuao dos Poderes Pblicos no processo de implantao de obras de infraes-trutura e embelezamento urbano no sentido de construo de uma cidade atrativa ao mer-cado imobilirio em detrimento da cidade para realizao de direitos.

    Alm do fato de que muitos dos conflitos estarem diretamente ligados a atuao estatal, so comuns aos conflitos fundirios estudados nos trs estados:

    %1( !*+!//+H%*"+.)`Y+,+.parte da populao afetada;

    1/n*% !,.0%%,`Y+,+,1(.*definio das obras e no processo de reassentamento;

    +(0% !%* !*%6`Y+,+(0% !reassentamento;

    0%(%6`Y+!)(.#!/(!%* !-1 de programas como bolsa aluguel;

    *!4%/0n*% !,+(0% !)! %`Y+

    2.1.1 DIFICULDADE NO ACESSO INFORMAO POR PARTE DA POPULAO AFETADA

    Apesar do advento da lei de acesso infor-mao, Lei Federal n. 12.527/11, que garante que

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    o fato de que as intervenes propostas muitas vezes no chegam a ser previamente discutidas pelas comunidades afetadas o que impossibi-lita, por exemplo, que os traados das obras sejam definidos em funo do menor impacto social, sendo definido, em regra, segundo inte-resses do mercado imobilirio ou considerando o menor custo global de implantao.

    A participao popular nos processos de reassentamento, na grande maioria dos casos analisados, tambm no conta com os mecanismos adequados para sua realizao plena, na medida em que nem sempre so institudos canais formais de dilogo entre o Poder Pblico e as comunidades no sentido de um debate coletivo com relao ao futuro da comunidade e a forma de atendimento da populao atingida. O processo de ne-gociao em geral realizado de forma in-dividualizada com cada famlia o que acaba enfraquecendo a capacidade de negociao do coletivo, alm da questo j mencionada de que em alguns casos as famlias no tm as informaes necessrias nem mesmo no momento quando j individualmente precisam decidir pelo processo de reassentamento ou pela indenizao oferecida.

    2.1.3 POLTICA DE INDENIZAO X POLTICA DE REASSENTAMENTO E DESQUALIFICAO DA POSSE COMO DIREITO

    Um aspecto gravssimo identificado como uma regra nas polticas de reassentamento a indenizao ofertada como alternativa unida-de habitacional. Considerando que na maioria dos casos a indenizao oferecida no reflete o valor real da moradia uma vez que por desqua-lificarem a posse como direito, desconsideram no clculo da indenizao o valor da terra e a localizao do imvel, se restringindo a pa-gar apenas pelas benfeitorias, o atendimento oferecido no suficiente para que as famlias adquiram outro imvel nas mesmas condies

    e na mesma regio em que morava, o que con-figura uma despoltica habitacional, uma vez que muitas dessas famlias se vem obrigadas a voltar a ocupar reas irregulares da cidade ou viver em condies de moradia inferiores as que viviam anteriormente. Configurando assim uma violao do direito moradia das famlias atingidas.

    Pode-se argumentar que sempre ofe-recida uma unidade habitacional alternativa-mente indenizao, no entanto, constata-mos que, em muitos casos, no momento das negociaes, no est definida a localizao da unidade nem mesmo o prazo de entrega das mesmas ou projeto arquitetnico, fazendo com que muitas vezes as famlias se sintam pressionadas a aceitar a indenizao uma vez que no tm clareza do que estariam optando no caso de escolha da unidade habitacional.

    A desqualificao da posse como direi-to representa grave afronta ao ordenamento jurdico uma vez que na grande maioria dos casos, as famlias preenchem os requisitos da usucapio ou da concesso de uso especial para fins de moradia e ainda assim no tem seu pleno direito terra reconhecido. Isto causa uma srie de distores no processo de reas-sentamento/negociao como, o mencionado valor ofertado a ttulo de indenizao pelas moradias das quais esto sendo removidos e outros, ainda mais graves, relacionados ao aspecto opressor de tratar aqueles que tm direitos como se no os tivessem.

    2.1.4 UTILIZAO EM LARGA ESCALA E INADEQUADA DE PROGRAMAS COMO BOLSA ALUGUEL

    A bolsa aluguel, tambm conhecida como aluguel social, subsdio para o paga-mento dos aluguis mensais, tem sido utilizada amplamente no Brasil para atendimento de fa-mlias removidas de suas moradias por estarem em rea de risco ou em razo de realizao de obra pblica, que ainda devem aguardar o

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    atendimento definitivo, ou seja, o recebimento de uma unidade habitacional.

    Tais programas vm recebendo crticas dos seus beneficirios que consideram que o valor ofertado para pagamento de aluguis mensais no suficiente para locao de imvel compatvel com o que moravam e na mesma regio em que residiam. Isso faz com que haja um retrocesso nas condies de vida das fa-mlias reassentadas que antes de receber uma moradia definitiva so obrigadas a deixar suas casas e dependem de programas como bolsa aluguel para soluo habitacional provisria.

    Para alm da crtica relacionada ao valor da bolsa aluguel ofertada, entendemos que a utilizao desse tipo de programa no ade-quada por duas razes: o tempo em que as famlias reassentadas que esperam moradia definitiva ficam sujeitas a solues provisrias e o fato de inflacionar o mercado de aluguis nas regies em que h nmero significativo de famlias atendidas pelo programa.

    Assim, mesmo que os programas passem a ter um valor de auxilio adequado, nos casos de reassentamento que se pretenda realizar que no seja em virtude de ocupao de rea de risco, recomendamos que se aguarde o atendimento definitivo para desocupao das reas ocupadas, evitando-se a utilizao sem critrio de programas do tipo bolsa aluguel que colocam por tempo maior do que o aceitvel, famlias em atendimento habitacional provis-rio, alm de inflacionar o mercado de aluguel de regies atendidas pelo programa afetando tambm a vida de famlias que residiam como inquilinos nessas regies.

    2.1.5 INEXISTNCIA DE POLTICA DE MEDIAO

    No foi identificada, nos Estados pes-quisados, uma poltica institucionalizada para o tratamento e mediao de conflitos fundi-rios urbanos, bem como rgos especficos para o tratamento adequado e/ou mediao

    no mbito das esferas dos Poderes Executivos estaduais ou municipais, Poder Judicirio e Poder Legislativo.

    2.2 CONCEITOS ADOTADOS

    Para fins de definio de conflitos fundi-rios adotamos os conceitos definidos no artigo 3 da Resoluo n. 87 do CONCIDADES, que dispe sobre a Poltica Nacional de Preveno e Mediao de Conflitos Fundirios Urbanos:

    Conflito fundirio urbano: disputa pela posse ou propriedade de imvel urbano, bem como impacto de empreendimentos pblicos e privados, envolvendo famlias de baixa renda ou grupos sociais vulne-rveis que necessitem ou demandem a proteo do Estado na garantia do direito humano moradia e cidade.

    Preveno de conflitos fundirios ur-banos: conjunto de medidas voltadas garantia do direito moradia digna e adequada e cidade, com gesto demo-crtica das polticas urbanas, por meio da proviso de habitao de interesse social, de aes de regularizao fundiria e da regulao do parcelamento, uso e ocupa-o do solo, que garanta o acesso a terra urbanizada, bem localizada e a segurana da posse para a populao de baixa ren-da ou grupos sociais vulnerveis.

    Mediao de conflitos fundirios urba-nos: processo envolvendo as partes afe-tadas pelo conflito, instituies e rgos pblicos e entidades da sociedade civil vinculados ao tema, que busca a garantia do direito moradia digna e adequada e impea a violao dos direitos humanos.

    A soluo adequada est relacionada s diretrizes especficas que devem ser seguidas na hora de se atuar na soluo de um conflito fundirio urbano. A soluo adequada parte de um momento prvio que o de empode-rar teoricamente as diretrizes conferidas para

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    a soluo adequada a partir de uma postura crtica sobre o fenmeno dos conflitos fun-dirios urbanos. As diretrizes para a soluo adequada so as seguintes: princpio da mo-

    radia adequada; estatuto da cidade; princpio do no retrocesso social; princpio da soluo pacfica dos conflitos; funo social da cidade e da propriedade.

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    3 BASES PARA SOLUO ADEQUADA DE CONFLITOS FUNDIRIOS

    tatuto da Cidade e outros princpios do direi-to brasileiro como, por exemplo, o princpio da funo social da propriedade expresso na Constituio Federal de 1988.

    O que se pretende, que a soluo ade-quada passe necessariamente pela efetivao desses direitos e princpios. Assim, o agente pblico envolvido deve necessariamente pautar toda atuao estatal no sentido de efetivao dos direitos e princpios relacionados a seguir, o que, por outro lado, deve ser demandado pela populao afetada.

    As solues adequadas para os confli-tos fundirios parte inicialmente de uma viso crtica do fenmeno dos conflitos fundirios urbanos a partir dos direitos humanos. Alm dessa viso crtica, fundamental para que se estabelea uma soluo adequada a qualquer conflito fundirio urbano que sejam observados e levados a efeito os regramentos internos e in-ternacionais de proteo do direito moradia, bem como as normas relativas conduo da poltica urbana em mbito nacional expressas nas diretrizes gerais da poltica urbana do Es-

    PENSANDO CRITICAMENTE SOBRE OS CONFLITOS FUNDIRIOS URBANOS preciso compreender o fenmeno dos conflitos fundirios urbanos sob algumas categorias tericas importantes, que vem os conflitos a partir de premissas que passam pela: a) primazia do formalismo; b) viso reducionista do tema dos conflitos fundirios urbanos; c) desqualificao da posse; d) negao incidental dos direitos humanos; e) prevalncia da hierarquizao dos direitos humanos.Comeando ento pela questo da primazia do formalismo, essa primeira categoria crtica dos conflitos fundirios tem a ver com a viso dos conflitos fundirios urbanos como um problema meramente judicial ou de polcia. Esse modo de encarar os conflitos fundirios urbanos est relacionado a uma viso que tem como base e raiz de interpretao a propriedade, seja pblica ou privada em detrimento da pessoa humana. O absolutismo da forma conduz a que as remoes sejam resolvidas, isto , tenham como nica soluo uma prestao jurisdicional e o uso da fora para cumpri-la. Com efeito, essa maneira de resolver os conflitos fundirios urbanos j foi vista como superada e com potencialidade de cometer danos aos direitos humanos, j que esse modo de resoluo dos conflitos acarreta em mais e mais violaes que esto casadas aos despejos, como a gerao de pessoas sem teto, sem direito moradia digna, sem direito cidade, ou at mesmo afetadas no seu direito vida e in-tegridade fsica no caso de uso excessivo da fora numa remoo. Isso fica claro quando se verifica os resultados da pesquisa sobre Conflitos coletivos sobre a posse e a propriedade de bens imveis realizada no mbito do Projeto Pensando o Direito n 07/004-MJ/SAL/PNUD. Naquela pesquisa, foram pesquisadas decises judiciais no estado de So Paulo num perodo de 20 anos, desde a Constituio Federal de 1988.Assim, a pesquisa apurou que nesse nterim levantado as aes judiciais com procedncia total ou parcial do pedido remontam ao percentual de 71% dos casos, sendo que em 27% dessas decises foram baseadas na regularidade do ttulo possessrio, 20% com base na comprovao do esbulho possessrio, e 17% com base na comprovao da posse anterior do imvel objeto da reintegrao. Com efeito, a pesquisa deixa claro que a legislao processual civil a grande guia das decises judiciais sobre os conflitos fundirios, em detrimento de toda uma legislao ptria de garantia do direito moradia e cidade. assim que a pesquisa se manifesta em nvel de concluso: Os conflitos fundirios de posse e propriedade, alm de serem compreendidos desde uma perspectiva jurdico-legal no plano do direito internacional, devem tambm ser considerados desde a perspectiva humanitria do direito e da legislao criminal relativa tortura e ao abuso de autoridade., portanto, necessrio compreender os conflitos fundirios urbanos desde sua complexidade e no reduzi-la porque a anlise do grave problema social dos despejos desde o ponto de vista eminentemente jurdico-formal--processual no compreende o fenmeno dos conflitos fundirios urbanos desde outras interfaces jurdicas e sociais que tambm so importantes na hora de se decidir uma demanda judicial desse tipo. Compreender os conflitos fundirios urbanos a partir de uma viso formalista ao extremo e que privilegia a supremacia da pro-priedade (da segurana jurdica e do respeito aos contratos nesses casos) em detrimento do reconhecimento da posse (em ocupao consolidadas ou no, de seu direito moradia digna, do direito cidade, do direito participao na deciso pelas comunidades ameaadas de despejo do seu prprio destino) diminui considera-velmente as chances de uma soluo alternativa ao conflito fundirio.

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    3.1 TRABALHANDO COM AS BASES DAS SO-LUES ADEQUADAS PARA OS CONFLITOS FUNDIRIOS URBANOS

    - Moradia Adequada - um conflito fun-dirio urbano deve ser resolvido com garan-tia de direito moradia adequada. No Brasil, o direito moradia digna garantido como direito fundamental social na Constituio Federal no seu art. 6. Porm o Comentrio Geral n 4 do Comit de Direitos Econmicos,

    Sociais e Culturais que informa qual o conte-do da moradia adequada.

    - Estatuto da Cidade a soluo adequa-da de conflitos fundirios passa pelo reconheci-mento e operacionalizao de direitos preconi-zados pelas diretrizes gerais da poltica urbana expressas no artigo 2 do Estatuto da Cidade Lei 10.257/2001. Vale dizer que esses direitos se referem tanto a aspectos materiais como formais, que dizem respeito a como devem ser

    Outro dado importante o insistente processo de desqualificao da posse e dos indivduos e comunidades que so vtimas desses conflitos. Via de regra, essas pessoas so consideradas culpadas por seu prprio drama, ou porque ocuparam uma rea de um proprietrio e a so consideradas de forma inadequada de invasoras; ou porque construram suas casas em locais inapropriados em encostas de morros e margens de rios e arroios; ou porque esto atrapalhando o desenvolvimento e a construo de obras importantes com suas moradias seus casebres e vilas inteiras; ou porque ocuparam ilegalmente uma rea de preservao ambiental. Todo esse pro-cesso de desqualificao tem como consequncia a de negao de direitos humanos para essas comunidades que nestes casos passam a ser invisveis. O processo de desqualificao, ao longo do tempo, foi e to grande que, para aquelas pessoas que esto na contingncia de serem removidas de forma arbitrria e/ou violenta de suas moradias e casas, os direitos humanos no podem ser aplicados. Por isso, um juiz de direito ou um adminis-trador municipal, por exemplo, compreendem legtima uma ordem de despejo e que a violncia decorrente do cumprimento dessa ordem dever ser reparada pelas vias formais do direito, como processos de indenizao, etc. Da porque tambm concluir que o processo de desqualificao levado a efeito contra essas comunidades to forte que se tem por consequncia e finalidade a negao dos direitos humanos para os mesmos

    COMPONENTES DO DIREITO MORADIA ADEQUADASegurana da posse: Todas as pessoas tm o direito de morar sem o medo de sofrer remoo, ameaas indevi-das ou inesperadas. As formas de se garantir essa segurana da posse so diversas e variam de acordo com o sistema jurdico e a cultura de cada pas,regio, cidade ou povo;Disponibilidade de servios, infraestrutura e equipamentos pblicos: A moradia deve ser conectada s redes de gua, saneamento bsico, gs e energia eltrica; em suas proximidades deve haver escolas, creches, postos de sade, reas de esporte e lazer e devem estar disponveis servios de transporte pblico, limpeza, coleta de lixo, entre outros.Custo acessvel: O custo para a aquisio ou aluguel da moradia deve ser acessvel, de modo que no com-prometa o oramento familiar e permita tambm o atendimento de outros direitos humanos, como o direito alimentao, ao lazer etc. Da mesma forma, gastos com a manuteno da casa, como as despesas com luz, gua e gs, tambm no podem ser muito onerosos.Habitabilidade: A moradia adequada tem que apresentar boas condies de proteo contra frio, calor, chuva, vento, umidade e, tambm, contra ameaas de incndio, desmoronamento, inundao e qualquer outro fator que ponha em risco a sade e a vida das pessoas. Alm disso, o tamanho da moradia e a quantidade de cmodos (quartos e banheiros, principalmente) devem ser condizentes com o nmero de moradores. Espaos adequados para lavar roupas, armazenar e cozinhar alimentos tambm so importantes.No discriminao e priorizao de grupos vulnerveis: A moradia adequada deve ser acessvel a grupos vul-nerveis da sociedade, como idosos, mulheres, crianas, pessoas com deficincia, pessoas com HIV, vtimas de desastres naturais etc. As leis e polticas habitacionais devem priorizar o atendimento a esses grupos e levar em considerao suas necessidades especiais. Alm disso, para realizar o direito moradia adequada fundamental que o direito a no discriminao seja garantido e respeitado.Localizao adequada: Para ser adequada, a moradia deve estar em local que oferea oportunidades de de-senvolvimento econmico, cultural e social. Ou seja, nas proximidades do local da moradia deve haver oferta de empregos e fontes de renda, meios de sobrevivncia, rede de transporte pblico, supermercados, farmcias, correios, e outras fontes de abastecimento bsicas. A localizao da moradia tambm deve permitir o acesso a bens ambientais, como terra e gua, e a um meio ambiente equilibrado.Adequao cultural: A forma de construir a moradia e os materiais utilizados na construo devem expressar tanto a identidade quanto a diversidade cultural dos moradores e moradoras. Reformas e modernizaes devem tambm respeitar as dimenses culturais da habitao.

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    conduzidos os processos de implementao de programas e projetos urbanos.

    Entre as diretrizes gerais do Estatuto da Cidade que devem ser consideradas para fins de soluo adequadas de conflitos destaca-mos:

    #.*0% + %.!%0+% !//1/0!*-tveis, entendido como o direito terra urbana, moradia, ao saneamento am-biental, infraestrutura urbana, ao trans-porte e aos servios pblicos, ao trabalho e ao lazer, para as presentes e futuras geraes;

    #!/0Y+ !)+.80%,+.)!%+ ,.0%-cipao da populao e de associaes representativas dos vrios segmentos da comunidade na formulao, execuo e acompanhamento de planos, programas e projetos de desenvolvimento urbano;

    1 %n*% ++ !.(%+)1*%%,(!da populao interessada nos processos de implantao de empreendimentos ou atividades com efeitos potencialmente negativos sobre o meio ambiente natural ou construdo, o conforto ou a segurana da populao;

    .!#1(.%6`Y+"1* %8.%!1.*%6`Y+de reas ocupadas por populao de bai-xa renda mediante o estabelecimento de normas especiais de urbanizao, uso e ocupao do solo e edificao, consi-deradas a situao socioeconmica da populao e as normas ambientais.

    - Princpio do no retrocesso social os conflitos fundirios urbanos podem se originar de legislao municipal ou estadual que regula-menta uma determinada situao de remoo com o estabelecimento de uma poltica local que preveja valor de indenizao para os atingi-dos pela remoo que, via de regra, trabalha com a lgica de indenizao pelas benfeitorias; de leis locais que estabeleam simplesmente o pagamento de um valor a ttulo de incentivo

    para a desocupao do imvel ou ainda pre-veja o oferecimento de pagamento de aluguel social at que seja construdo algum imvel para abrigar os afetados.

    Essa legislao local no pode determinar um retrocesso social no que a Constituio Federal j garantiu, isto , se aquele indivduo atingido pela remoo j tinha garantido para si o direito moradia, no pode uma lei infe-rior Constituio dizer que ele perder a sua moradia em troca do pagamento de um valor de incentivo e que tambm no respeite a lei das desapropriaes.

    A soluo adequada para um conflito fundirio urbano no pode determinar o retro-cesso social de indivduos e comunidades que podem passar de uma situao de moradores para uma situao de sem teto.

    - Princpio da soluo pacfica dos con-flitos a realidade atual vivida no Brasil tem mostrado que os procedimentos utilizados para o enfrentamento do fenmeno dos conflitos fundirios urbanos redundam em violncia e em violao aos direitos humanos. Isto porque no se enfrenta os conflitos fundirios na sua complexidade, deixando a soluo desses ca-sos para a legislao processual civil ou ento para uma poltica local implementada por um governo tambm local. O resultado disso a ocorrncia de inmeras situaes de conflitos na execuo das medidas de retirada dos indi-vduos e comunidades inteiras de suas casas.

    Com efeito, a soluo adequada para os conflitos fundirios urbanos devem levar em conta uma cultura de paz e de dilogo que no pode negociar com a violncia e com a violao aos direitos humanos.

    - Funo Social da Cidade e da Proprie-dade a soluo adequada para os conflitos fundirios urbanos deve estar conectada com a funo social da cidade e da propriedade. A propriedade no pode ser vista como um direito absoluto por si s e sim um direito

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    relativo, assim como prev a Constituio Fe-deral Brasileira. Muitas situaes de conflitos existem porque reas ocupadas por muito tempo e que no cumpriram sua funo social no so regularizadas para os seus verda-deiros proprietrios, ou seja, os moradores que do destinao a terra ocupada. Nes-se sentido o que prev os arts. 5, inc. da Constituio Federal combinados com os arts. 182 e 183 tambm da Carta Magna, quando reconhece que a propriedade dever guardar

    uma funo social, segundo ditames a serem previstos pelo Plano Diretor Municipal, bem como quando reconhece a figura da usuca-pio constitucional urbana e da concesso especial de uso para fins de moradia para reas ocupadas nas cidades, como meio de regularizao fundiria.

    Para isso, importante compreender o que defende a Carta Mundial pelo Direito Cidade:

    FUNO SOCIAL DA CIDADE E DA PROPRIEDADE (CARTA MUNDIAL PELO DIREITO CIDADE, 2005)2.1 A cidade tem como fim principal atender a uma funo social, garantindo a todas as pessoas o usufruto pleno da economia e da cultura da cidade, a utilizao dos recursos e a realizao de projetos e investimentos em seus benefcios e de seus habitantes, dentro de critrios de equidade distributiva, complementaridade econmica, e respeito cultura e sustentabilidade ecolgica; o bem estar de todos seus habitantes em harmonia com a natureza, hoje e para as futuras geraes.

    2.2. Os espaos e bens pblicos e privados da cidade e dos cidados(s) devem ser utilizados priorizando o interesse social, cultural e ambiental. Todos os cidados (s) tm direito a participar da na propriedade do ter-ritrio urbano dentro de parmetros democrticos, de justia social e de condies ambientais sustentveis. Na formulao e implementao de polticas urbanas se deve promover o uso socialmente justo, com equidade entre os gneros, do uso ambientalmente equilibrado do solo urbano, em condies seguras..

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    4 PROCEDIMENTOS SUGERIDOS PARA SOLUO ADEQUADAS DE CONFLITOS FUNDIRIOS

    com o menor impacto social, se ainda assim houver necessidade de reassentamento esse deve ser realizado de acordo com critrios e procedimentos que apontem para efetivao dos direitos e princpios descritos no item 3 deste manual, de acordo com os seguintes procedimentos e orientaes:

    - Criao de uma instncia oficial de dilo-go entre comunidade e poder pblico de maneira que a populao afetada de fato participe enquanto coletivo do processo de definio do futuro de suas vidas;

    As negociaes no devem ocorrer de forma individualizada pelo Poder Pblico e cada famlia, devendo o Poder Pblico reco-nhecer que se trata de um conflito coletivo e assim deve ser tratado, coletivamente em espaos pblicos de dilogo. Nesse sentido a populao afetada deve alm dos critrios de atendimento, prazos e etapas juntamente com o Poder Pblico, a forma de participa-o da comunidade cronograma e espaos de deciso.

    Nesse processo, uma dos elementos fundamentais diz respeito necessidade de o Poder Pblico promover amplo acesso s informaes necessrias para que a populao possa decidir sobre seu futuro e opinar sobre questes relacionadas ao futuro da cidade. Assim em uma negociao relacionada a pro-cessos de reassentamento os prazos, formas e o cronograma de atendimento devem ser debatidos conjuntamente, tendo populao todas as informaes necessrias para tomada de deciso. Nesse sentido recomendamos:

    - Acesso amplo e irrestrito s informa-es acerca do projeto de interveno

    4.1 EM CASOS DE OBRAS OU QUALQUER OUTRO CONFLITO FUNDIRIO QUE SEJA DECORRENTE DA ATUAO ESTATAL

    Em um processo de conflito fundirio de-corrente da realizao de obras, por conflito com questo ambiental ou qualquer outro con-flito fundirio que seja decorrente da atuao estatal, alguns procedimentos devem ser se-guidos pelo agente pblico para que se possa alcanar uma soluo adequada. Ao mesmo tempo, a populao afetada deve ter em vista tais procedimentos ou orientaes de forma a exigir do agente pblico responsvel pela interveno urbana ou reassentamento das famlias o seu cumprimento.

    No sentido de preveno aos conflitos fun-dirios urbanos dessa natureza sugere-se que:

    - Os traados das obras e permetros de intervenes urbanas devem ser de-finidos de forma participativa por toda populao interessada e deve ter como critrio o menor impacto social e no o menor custo de implantao;

    - Os processos de licenciamento das obras devem necessariamente contar com etapas para a avaliao do impac-to social das pessoas que sero afetadas com relao as suas moradias, no sentido de se definir previamente ao seu licencia-mento, as condies adequadas, etapas e prazos de atendimento.

    Uma vez que os traados das obras e os permetros de interveno urbana de fato tenham sido realizados observado o princpio da gesto democrtica da cidade, de forma participativa com espaos de deciso parti-cipativo e de fato foram definidos de acordo

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    e das medidas que sero adotadas para atendimento adequado das famlias, tanto no processo de definio da interveno, como no processo de negociao do reas-sentamento junto comunidade afetada.

    fundamental que a proposta de reas-sentamento a ser apresentada pela munici-palidade para debate e aprovao pela co-munidade, alm de todas as etapas, forma e cronograma de atendimento esteja de acor-do com os princpios e tenha como sentido a efetivao dos direitos descritos no item 3 deste manual. Assim, alm de sua definio necessariamente contar com a participao da comunidade afetada, a proposta de reas-sentamento deve ser para local prximo da atual moradia, bem como o reassentamento no pode de nenhuma maneira representar um retrocesso nas condies de vida das famlias. No caso de o processo negocial ser ofertado s famlias, alternativamente ao atendimento habitacional, indenizao em dinheiro, essa deve necessariamente ter valor suficiente para que a famlia indenizada possa adquirir imvel correspondente ao que morava na mesma re-gio. Nesse sentido fundamental que a posse seja considerada direito e no mera deteno:

    - Para fins de indenizao a posse deve ser considerada um direito e no mera deteno e os posseiros com direitos constitudos a usucapio ou conces-so de uso especial para fins de moradia devem ter includas no clculo da inde-nizao o valor da terra.

    fundamental que os procedimentos m-nimos a serem cumpridos em eventual processo de reassentamento sejam de conhecimento pr-vio a sua realizao, bem como deve ser pbli-co, portanto do conhecimento de todos. Dessa forma, importantssimo que os municpios, que

    tenham em seu horizonte a realizao de inter-venes urbanas que resultem em processos de reassentamento, estabeleam formalmente um regramento que estabelea:

    - Os procedimentos mnimos a serem se-guidos pelos agentes do reassentamento no sentido de haver um atendimento ha-bitacional adequado de acordo com cri-trios estabelecidos participativamente pelos moradores que sero reassentados;

    Entre os procedimentos mnimos, alm de dar conta de todas as questes acima re-lacionadas deve-se estabelecer que:

    - Nenhuma famlia ser retirada de sua moradia sem que esteja disponvel aten-dimento definitivo (chave a chave);

    - Em hiptese alguma no processo de negociao as famlias precisaram optar pela indenizao ou pelo atendimento habitacional sem ter clareza de todos os detalhes que envolvem o atendimento como local, projeto arquitetnico, prazo de entrega das unidades, etc.

    - Proposta de atendimento habitacional adequado aos inquilinos;

    - Equao de atendimento adequado aos comrcios e outros usos no residenciais que sero reassentados.

    Apesar da crtica a programas como o bolsa aluguel descritas no item 2 deste Manu-al, nos casos em que sua utilizao seja indis-pensvel, conforme j descrevemos no item 2, entendemos que:

    - O valor da bolsa aluguel deve neces-sariamente refletir os valores de aluguel praticados no mercado da regio do im-vel do morador e deve ter prazo mximo para atendimento definitivo predefinido.

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    4.2 EM CASO DE REINTEGRAO DE POSSE OU MEDIDA JUDICIAL EQUIVALENTE

    Por muitas vezes os conflitos fundirios urbanos so causados por uma ao judicial que exigir um tratamento do caso pelo Poder Judicirio. Nesses casos, e para fins de cum-primento da normativa internacional de direi-tos humanos e da ordem jurdica urbanstica brasileira, o Juz dever:

    - Garantir o Devido Processo Legal, do contraditrio e da ampla defesa opor-tunizar para os indivduos e comunida-des atingidos por um processo judicial de remoo a apresentao de defesa jurdica com o auxlio de um advogado ou defensor pblico para se evitar os

    despejos liminares sem a ouvida da parte contrria e sem direito defesa.

    - Realizar audincia prvia - a obrigato-riedade de realizao de audincia de justificao prvia ou de tentativa de conciliao visa a assegurar o contradi-trio e a ampla defesa (CRFB, artigo 5, inciso LV), alm de proteger a integri-dade fsica dos envolvidos, de preservar bens e benfeitorias construdas na rea e, principalmente, de possibilitar a soluo pacfica das controvrsias.

    - Efetuar Inspeo Judicial na rea con-flitada com a finalidade do Magistrado conhecer a realidade da posse dos indi-vduos e comunidades afetadas por uma

    ALGUMAS CONSIDERAES SOBRE O BOLSA ALUGUELA ideia do Bolsa Aluguel, subsdio para o pagamento dos aluguis mensais, tem sido utilizada amplamente no Brasil para atendimento de famlias removidas de suas moradias por estarem em rea de risco ou em razo de realizao de obra pblica, que ainda devem aguardar o atendimento definitivo, ou seja, o recebimento de uma unidade habitacional.Tais programas do tipo bolsa aluguel, ou parceria social como conhecido em So Paulo, vm recebendo cr-ticas dos seus beneficirios que consideram que o valor ofertado para pagamento de aluguis mensais no suficiente para locao de imvel compatvel com o que moravam e na mesma regio em que residiam. Isso faz com que haja um retrocesso nas condies de vida das famlias reassentadas que antes de receber uma mora-dia definitiva so obrigadas a deixar suas casas e dependem de programas como bolsa aluguel para soluo habitacional provisria.Para alm da crtica relacionada ao valor da bolsa aluguel ofertada, a utilizao desse tipo de programa no adequada por duas razes: o tempo em que as famlias reassentadas que esperam moradia definitiva ficam sujeitas a solues provisrias e o fato de inflacionar o mercado de aluguis nas regies em que h nmero significativo de famlias atendidas pelo programa.Com o aumento da demanda por locao nas regies em que h nmero significativo de famlias atendidas pelo programa bolsa aluguel, a tendncia no mercado de aluguis o aumento dos preos (lei da oferta e da procura). Esse aumento de preos tem duas possveis implicaes negativas: tanto a dificuldade de o atendido pelo programa bolsa aluguel acompanhar o mercado de aluguis inviabilizando sua permanncia na regio que morava anteriormente, como uma maior presso financeira para as famlias que viviam como inquilinos em im-veis nas regies em que um grande contingente de famlias atendidas pelos programas, muitas vezes fazendo com que no possam mais arcar com os preos praticados na regio.A no ser nos casos em que a famlia realmente ocupa uma rea de risco e por isso deve ser removida imedia-tamente independente do seu reassentamento imediato para uma unidade habitacional, no h qualquer razo que justifique a utilizao de medidas intermedirias de solues habitacionais provisrias como os programas do tipo bolsa aluguel. Alm disso, na prtica as solues habitacionais provisrias no tem se mostrado de fato provisrias e muitas vezes as famlias so obrigadas a permanecer nessa situao por anos aguardando o atendimento definitivo prometido pelo Estado. Sabe-se o quanto a permanncia em situao de atendimento provisrio pode ser prejudicial para as pessoas nessa situao uma vez que no criam os vnculos necessrios no territrio para o seu pleno desenvolvimento.Assim, mesmo que os programas passem a ter um valor de auxilio adequado, qualquer reassentamento que se pretenda realizar que no seja em virtude de ocupao de rea de risco, importante que se aguarde o aten-dimento definitivo para desocupao das reas ocupadas, evitando-se a utilizao sem critrio de programas do tipo bolsa aluguel que colocam por tempo maior do que o aceitvel, famlias em atendimento habitacional provisrio, alm de inflacionar o mercado de aluguel de regies atendidas pelo programa afetando tambm a vida de famlias que residiam como inquilinos nessas regies.

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    medida de reintegrao de posse ou me-dida judicial equivalente. - Requisitar in-formaes para todos os rgos pblicos relacionados ao imvel objeto da medida judicial com o objetivo de colher informa-es ao processo sobre o cumprimento da funo social da propriedade.

    4.3 MEDIAO

    A mediao de um conflito fundirio ur-bano outra soluo adequada para os confli-tos fundirios urbanos. Com efeito, a comple-xidade do fenmeno dos conflitos fundirios urbanos determina uma abordagem igualmente complexa como medida de mediao. Nesse sentido, essa mediao dever garantir, antes de tudo, a participao e a voz para os indiv-duos e comunidades afetados, a presena de todos os envolvidos no conflito, uma media-o pblica e que tenha como princpios os descritos na Resoluo 87/2009 do Conselho das Cidades.

    - Criao de espaos pblicos de media-o dos conflitos com base na Resoluo n 87/2009 do Conselho das Cidades, seguindo os seguintes princpios da Resoluo:

    (i) o direito constitucional moradia;

    (ii) o cumprimento da funo social da propriedade e da cidade;

    (iii) a primazia da responsabilidade do Estado na estruturao e implementao

    da poltica de preveno e mediao de conflitos fundirios urbanos nas esferas federal, estadual e municipal;

    (iv) solue pacficas e negociadas para situaes de conflitos fundirios urbanos;

    Inclumos tambm como estratgias al-ternativas para solues dos macroconflitos:

    (v) educao em direitos

    (vi) comisses pblicas de mediao e de negociao

    (vii) implementao dos instrumentos da democracia participativa

    (viii) reconhecimento da legitimidade das organizaes , instituies , movimentos , redes e fruns representativos de comu-nidades e grupos sociais vulnerveis que atuam nas cidades para participarem dos processos de mediao e negociao dos conflitos fundirios

    - Criao de sistemas pblicos estadu-ais de ouvidorias de direitos humanos onde os casos de conflitos fundirios tambm se-jam objeto de interveno do Ouvidor, com atribuies de requisitar informaes para os rgos pblicos, mediar os conflitos fundirios urbanos em andamento e pedir suspenso pro-visria das medidas pblicas ou privadas que tenham potencial de remoes, esto entre as principais.

    Dos direitos fundamentais e prembulo conclumos que uma poltica pblica de mediao de conflitos fundi-rios dever do Estado brasileiro, em todos os mbitos federativos e poderes da repblica. Essas normas so um mandamento de ao e no necessitam de previso infraconstitucional. Ou seja, independente da promulgao de uma Poltica Nacional de Preveno e Mediao de Conflitos Fundirios Urbanos sob a forma de lei, compete ao Poder Pblico buscar solues pacficas aos conflitos de fundirios urbanos, toda vez que ali se encontre sob ameaa o direito moradia de famlias de baixa renda (HEIM, Bruno Barbosa. Por uma nova prxis de proteo do Direito Humano moradia: a experincia do Estado da Bahia na mediao de conflitos fundirios urbanos. In: Congresso Latino-Americano de Direitos Humanos e Pluralismo Jurdico, 2008, Florianpolis. ANAIS DO CON-GRESSO LATINOAMERICANO DE DIREITOS HUMANOS E PLURALISMO JURDICO, 2008. v. 1. p. 1-11.).

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    4.4 INSTRUMENTOS JURDICOS PROCESSUAIS QUE DEVEM SER CONSIDERADOS PARA EVITAR E CONSTRUIR SOLUES ADEQUADAS AOS CONFLITOS FUNDIRIOS

    4.4.1 REFORMA DO CDIGO DE PROCESSO CIVIL

    O processo de reforma do Cdigo de Pro-cesso Civil estratgico para a definio de regras que contemplem a questo dos conflitos fundirios coletivos no sentido de possibilitar a efetivao de direitos j consagrados na le-gislao brasileira e internacional tendo como base o direito cidade e moradia e a preva-lncia dos direitos humanos. Nesse processo, portanto, fundamental que se busque:

    A Garantia da Segurana na Posse - A se-gurana na posse um elemento fundamental para a execuo da garantia do direito mo-radia. A ausncia de segurana da posse na lei e na prtica fragiliza a proteo contra despejos forados.

    A Garantia do Devido Processo Legal, do contraditrio e da ampla defesa oportu-nizar para os indivduos e comunidades atin-gidos por um processo judicial de remoo a apresentao de defesa jurdica com o auxlio de um advogado ou defensor pblico para se evitar os despejos liminares sem a ouvida da parte contrria e sem direito defesa.

    O Tratamento das Demandas Coletivas envolvendo Posse e Propriedade - alterao le-gislativa do Cdigo de Processo Civil para que se estabelea tratamento diferenciado com relao s aes possessrias que envolvam conflitos coletivos pela posse ou propriedade de imvel;

    Realizao de audincia prvia - a obriga-toriedade de realizao de audincia de justifi-cao prvia ou de tentativa de conciliao visa a assegurar o contraditrio e a ampla defesa (CRFB, artigo 5, inciso LV), alm de proteger a integridade fsica dos envolvidos, de preservar bens e benfeitorias construdas na rea e, prin-

    cipalmente, de possibilitar a soluo pacfica das controvrsias.

    4.4.2 INSTRUMENTOS DE POLTICA URBANA

    - Aplicao dos Instrumentos da poltica urbana voltados ao cumprimento da funo social da propriedade e de combate espe-culao imobiliria nas reas urbanas

    - Proviso de Habitao de Interesse Social

    - Reconhecimento da posse como direito e no como mera deteno para fins de tra-tamento dos posseiros de forma equiparada aos proprietrios de lotes urbanos que esto sujeitos remoo em virtude de uma inter-veno urbanstica; (primazia do formalismo e desqualificao da posse).

    4.4.3 SEARA DOS DIREITOS HUMANOS STRICTO SENSU

    Preveno aos Despejos: A normativa internacional de direitos humanos trabalha com o conceito de forced eviction, o que em traduo livre quer dizer despejos forados. Por isso fortemente usada a denominao preveno de despejos, o que pode ser subs-titudo pela palavra remoo como sinnimo. Pois essa mesma normativa colaciona vrios documentos onde atesta e refora a prtica dos despejos como sendo uma grave violao aos direitos humanos. A Resoluo n 2004/2841 do seu Conselho de Direitos Humanos diz que:

    a prtica de despejos forados [con-siderada] contrria s leis que esto em conformidade com os padres internacio-nais de direitos humanos, e constitui uma grave violao de uma ampla gama de direitos humanos, em particular o direito moradia adequada.

    A ONU refora ainda esse entendimento no Comentrio Geral n 7 do Comit de Direitos Econmicos, Sociais e Culturais que no seu pargrafo 16 prev que:

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    os despejos no podem resultar na cons-tituio de indivduos sem casa ou vul-nerveis a violaes de outros direitos humanos. No caso da pessoa afetada ser incapaz de prover por si mesma uma al-ternativa, o Estado deve adotar todas as medidas apropriadas, ao mximo de seus recursos disponveis, para assegurar que uma moradia alternativa adequada, reas-sentamento ou acesso terra produtiva estejam disponveis.

    A lei brasileira no prev a possibilidade de se realizar os despejos, com exceo da Lei do Inquilinato, o que prescinde de uma rela-o de contrato entre Inquilino e Proprietrio. A Medida Provisria 2.220/2001 a nica lei federal que trata de ocupaes em reas de risco de vida e sade dos moradores e no prev o despejo de indivduos ou comunidades e sim o seu reassentamento.

    Reconhecimento da Complexidade do Fenmeno dos Conflitos Fundirios Urbanos: Os conflitos fundirios urbanos necessitam ser abordados a partir da sua complexidade e no a partir de uma poltica pblica local que ir provocar uma remoo ou ento a partir de uma deciso judicial que aprecia a matria dos autos com base na lei processual civil em vigor. Antes de tudo, os conflitos fundirios so um grave problema social e urbano das nossas cidades e assim devem ser enfrenta-

    dos. Os conflitos fundirios so na verdade um problema de falta de moradia, de falta de regularizao fundiria, de falta de direito cidade, de excluso social e por trs dos con-flitos fundirios, podem existir a violao de vrios outros direitos fundamentais, j que a execuo de uma remoo guarda uma gran-de capacidade de causar mais violaes aos direitos humanos, como violao integridade fsica e da vida das pessoas envolvidas numa remoo; violao ao direito educao das crianas e adolescentes atingidos por uma remoo j que podem perder o ano letivo com esse deslocamento; violao ao direito moradia porque podem vir a se tornar um sem teto com a remoo; violao ao direito cidade, porque podem vir a ser reassentados em local distante dos servios e equipamentos pblicos, entre outros.

    Combate Invisibilidade Proposital: os conflitos fundirios urbanos afetam comuni-dades pobres e que no vivem em assenta-mentos precrios e sem titulao da terra em que residem.

    Esses conflitos, geralmente, ocorrem de modo invisvel, j que as decises que deter-minam as remoes e que causam os conflitos fundirios partem de uma deciso administra-tiva sem participao dos afetados ou de uma deciso judicial em sede liminar e sem a ouvida da parte contrria ouvida, isto , os atingidos.

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    5 INDICADORES PARA EVITAR CONFLITOS FUNDIRIOS

    E a terceira : como garantir um legado positivo, visando melhoria contnua da qua-lidade de vida das comunidades, respeitando as especificidades locais? Sobre esta questo o ponto de partida o prprio entendimento de legado positivo, como por exemplo, se este o fortalecimento institucional da forma de organizao da comunidade, se a obteno pelos membros da comunidade de uma me-lhor qualificao profissional e educacional, se a organizao de uma instncia pblica que garanta a participao da comunidade no desenvolvimento dos projetos que podero resultar em benefcios sobre as condies de vida.

    5.1 DA VALORIZAO DA VIABILIDADE SOCIAL DOS EMPREENDIMENTOS GERADORES DE IM-PACTOS NAS COMUNIDADES

    Referente primeira questo sobre como garantir a licena social para operao e o efe-tivo engajamento e a construo de parcerias mutuamente benficas com as comunidades no entorno dos empreendimentos, preciso que tanto o Poder Pblico nas esferas da Unio, Estados e Municpios e o agente do empreen-dimento adotem um procedimento especial visando a edio de uma licena social ou so-cioambiental que pode ser um complemento obrigatrio s regulamentaes existentes tanto para a obteno da licena urbanstica como a ambiental para o desenvolvimento de um empreendimento.

    Este procedimento especial pode ser es-tabelecido atravs de um regulamento interno que considere no mesmo patamar do estudo de viabilidade econmica e um estudo de via-bilidade social sobre as comunidades que sero afetadas por um empreendimento.

    fundamental, no entanto, que, para alm da soluo adequada de conflitos fundi-rios, agentes pblicos trabalhem no sentido de evitar o surgimento de conflitos fundirios de qualquer natureza, mas principalmente com relao queles que possam ocorrer tendo em vista a prpria atuao estatal em caso da realizao de obras de interesse pblico ou qualquer outro empreendimento de grande impacto urbano ou ambiental.

    Nesse sentido, em caso de obras que possam gerar situaes de conflito em rela-o terra sugere-se que sejam relevadas trs questes que resultem em impactos na vida social, econmica e cultural de comunidades estabelecidas no entorno das reas atingidas por empreendimentos.

    A primeira : como garantir que haja a licena social para operao e o efetivo en-gajamento e a construo de parcerias mu-tuamente benficas com as comunidades no entorno dos empreendimentos? Para esta questo preciso ter como ponto de partida um reconhecimento institucional em que os aspectos sociais e econmicos de uma co-munidade afetada sejam avaliados no mesmo patamar que os aspectos da viabilidade eco-nmica de um empreendimento.

    A segunda : como garantir as melho-res prticas de gesto sobre impactos eco-nmicos, sociais, ambientais e culturais? Para essa questo preciso ter como estratgia a adoo de uma metodologia participativa que propicie um fortalecimento da organizao e mobilizao da comunidade para promover no mesmo patamar de igualdade o dilogo e a interlocuo, os setores do Poder Pblico outros segmentos da sociedade.

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    Os elementos de anlise que podem compor o estudo de viabilidade social so os seguintes:

    a) Perfil socioeconmico do Municpio/Distrito/Bairro (quando inserir ou abran-ger rea urbana).

    b) Perfil socioeconmico das comuni-dades/pessoas afetadas pelo empreen-dimento.

    c) Indicadores de Impacto Social.

    I - Mapa Social da rea afetada pelo empreendimento (os dados acima devero ser localizados em mapa da rea atingida pelo empreendimento).

    II - Relatrio de Viabilidade Social: contendo anlise dos dados e informaes coletadas, a concluso, iden-tificando os impactos sociais e o grau deste impacto com base nos indicadores e as solues para atender as necessidades das comunidades afetadas pelo empreendimento.

    III - Como Impacto social: o significado adotado o de mudanas ou alteraes perceptveis em um ou mais dos seguintes aspectos: maneira de viver das pessoas, sua cultura, sua comunidade, infraestrutura, seu sistema poltico, ambiente, sade e bem-estar, direitos humanos e de propriedade e segurana. O impacto social pode ser medido conforme a interferncia com pessoas, grupos sociais, atividades econmicas, sociais e culturais, equipamentos pblicos e privados e bens ambientais de uso coletivo e/ou comunitrio.

    A anlise do impacto social fundamen-tal para a definio da rea do empreendimen-to que vai afetar a vida dos moradores das comunidades, que precisam ser consideradas em conjunto com o estudo de viabilidade eco-nmica. Para esta avaliao pode ser estabele-cida uma classificao sobre o impacto social da seguinte forma:

    Baixo impacto social: Nota 01

    Mdio impacto social: Nota 02

    Alto impacto social: Nota 03

    Altssimo impacto social: Nota 04

    A classificao do traado/rea prelimi-nar tem como objetivo identificar no territrio os impactos sociais de cada alternativa.

    Nota Avaliao

    1

    INDICADORES DE BAIXO IMPACTO SOCIAL:Indicador 01: No h qualquer remoo de pessoasIndicador 02: No interfere:- Na atividade econmica de pequeno e mdio porte.- Na utilizao ou no acesso a equipamentos sociais/comunitrios.- Na utilizao e no acesso a bem ambiental de uso social.

    2

    INDICADORES DE MDIO IMPACTO SOCIAL. Indicador 01: H remoo de menos de 30 % das pessoas de cada setor censitrio, mas no h remoo de grupos vulnerveis.Indicador 02: Afeta parcialmente um dos seguintes componentes:- A atividade econmica de pequeno e mdio porte.- A utilizao ou o acesso a equipamentos sociais/comunitrios.- A utilizao e o acesso a bem ambiental de uso social.

    3

    INDICADORES DE ALTO IMPACTO SOCIALIndicador 01: H remoo de 30% a 70% das pessoas do setor censitrio e/ou h remoo de grupos vulnerveis.Indicador 02: Compromete ou inviabiliza um dos seguintes componentes:- A atividade econmica de pequeno e mdio porte.- A utilizao ou o acesso a equipamentos sociais/comunitrios.- A utilizao e o acesso a bem ambiental de uso social.

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    O mapeamento social da rea afetada pelo empreendimento deve identificar e anali-sar as condies sociais verificadas, por meio da demarcao dos equipamentos comunitrios1, equipamentos sociais, espaos de convivncia, da situao de grupos vulnerveis, dos tipos de atividades econmicas formais e informais.

    importante que o mapeamento identi-fique e registre a localizao destes dados no mapa da rea (as informaes e dados obtidos pode ser extrado de foto area, imagem de satlite ou uma base cartogrfica que possi-bilite identificar a rea do empreendimento e suas caractersticas de edificao/densidade/cobertura vegetal).

    Esse mapeamento tem como pressuposto a adoo de uma metodologia participativa no qual permita que os moradores participem da elaborao do mapa social como forma de produo de conhecimento coletivo da sua prpria realidade e contribua para a organi-zao e mobilizao social da comunidade.

    A elaborao do mapa social atravs de uma metodologia participativa pode resultar num efetivo engajamento e a construo de parceiras com as comunidades afetadas e do

    entorno dos empreendimentos no sentido de identificar as demandas e identificar os proje-tos necessrios para atender as demandas bem como de identificar as responsabilidades dos organismos pblicos e prestadores de servios pblicos para o atendimento destas demandas.

    5.2 DAS PRTICAS DE GESTO SOBRE IMPAC-TOS ECONMICOS, SOCIAIS, AMBIENTAIS E CULTURAIS

    Associada a primeira questo levantada, na regulamentao sobre a atuao social nas comunidades afetadas por empreendimentos, deve ser promovida uma metodologia partici-pativa para a obteno, elaborao e prestao de informaes, possibilitar o dilogo e a parti-cipao em todas as fases de implementao do empreendimento, definir as demandas sociais, econmicas, ambientais e culturais e as formas adequadas de atendimento e soluo destas.

    Como j foi ressaltado o primeiro passo conhecer a realidade da comunidade e forta-lecer a sua organizao e a mobilizao social.

    Algumas medidas podem ser objeto de regulamentao para fins de serem adotadas como uma prtica adequada nas relaes com as comunidades:

    Nota Avaliao

    4

    INDICADORES DE ALTSSIMO IMPACTO SOCIALIndicador 01: H remoo de pessoas em mais de 70% das propriedades do setor censitrio e/ou h remoo de grupos vulnerveis ou de populaes tradicionais.Indicador 02: Compromete ou inviabiliza mais de um dos seguintes componentes:- Atividade econmica de pequeno e mdio porte.- A utilizao ou o acesso a equipamentos sociais/ comunitrios.- A utilizao e o acesso a bem ambiental de uso social.

    Fonte: Roteiro de Elaborao de Avaliao Socioambiental de Pr-Empreendimento Instituto Plis 2011.

    16 Equipamentos Comunitrios e Sociais podem ser considerados sinnimos quando ambos garantem o acesso pblico, amplo e irrestrito para determinada coletividade.

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    5.3 DAS POSSIBILIDADES DE MELHORIA DA QUALIDADE DE VIDA DAS COMUNIDADES

    Com relao garantia de um legado positivo, visando melhoria contnua da qua-lidade de vida das comunidades, respeitan-do as especificidades locais deve ser levada em considerao a premissa apontada acima na definio da viabilidade dos empreendi-mentos numa determinada rea/regio da equiparao da viabilidade econmica com a viabilidade social.

    Na realizao do estudo de viabilidade social que composto pelo mapeamento social levar em considerao (para a defi-nio da rea do empreendimento) os indi-cadores apresentados sobre o grau de im-pacto social numa comunidade, tambm um componente fundamental para verificar se o legado do processo de implantao do empreendimento gerou ou no benefcios para os seus moradores.

    Para uma avaliao sobre a existncia de um legado positivo sobre melhoria ou no das condies de vida das comunidades preciso

    qualificar algumas situaes que podero servir de parmetro

    Por exemplo, no suficiente considerar como legado positivo a simples manuteno dos moradores de uma comunidade no local de suas moradias se as condies continua-rem precrias como de moradias situadas em reas de risco, crregos ou rios que continuem com alto grau de poluio, ausncia de servi-os essenciais oficiais como de fornecimento de gua, esgoto, energia eltrica e coleta de resduos, manuteno da situao de irregu-laridade jurdica da rea ocupada pela comu-nidade. Neste caso deve ser considerado um legado positivo a permanncia da comunidade na rea atingida pelo empreendimento com o atendimento de suas necessidades de infra-estrutura, servios pblicos e equipamentos por exemplo.

    Se for adotado como uma prtica ade-quada promoo de uma metodologia par-ticipativa com as comunidades atingidas por empreendimentos, os resultados que devem ser alcanados devem qualificar a existncia ou no de um legado positivo tais como:

    - Estabelecer um planejamento que considere de forma conjugada o tempo necessrio para o atendimento das demandas sociais da comunidade com o tempo para a implantao do empreendimento.

    - Processo de capacitao dos profissionais que vo atuar com as comunidades que podero ou sero atingidas pelo empreendimento.

    - Implementar programas educativos sobre cidadania e polticas pblicas junto s comunidades atingidas e do entorno do empreendimento, visando o fortalecimento da organizao institucional e de capacidade de exe-cuo de planos e projetos voltados a atender as suas demandas sociais, econmicas, ambientais e culturais.

    - Constituir um plano de comunicao para prestar as informaes sobre os objetivos, abrangncia territorial, obras, cronograma das etapas de execuo, recursos disponveis para a realizao do empreendimento;

    - Organizar canais de participao dos moradores da comunidade para elaborao do estudo de viabilidade social (mapeamento social e atendimento das demandas identificadas)

    - Realizar parcerias com instituies acadmicas ou organizaes no governamentais para viabilizar apoio tcnico para as comunidades elaborarem o mapeamento social e o plano de atendimento social e econmico visando a melhoria da qualidade de vida de seus moradores.

    - Participao e definio dos projetos de responsabilidade dos organismos pblicos e empresas prestadoras de servios pblicos para o atendimento das demandas dos moradores da comunidade identificados no processo participativo de elaborao do mapeamento social e do plano de atendimento social e econmico.

    - Estimular a realizao de pesquisas voltadas a analisar e registrar experincias de projetos desenvolvidos em reas atingidas por empreendimentos, com o intuito de formar um banco de experincias que sirvam de referncia para a atuao de organismos pblicos e demais empresas voltadas a promover o desenvolvimento local, regional ou nacional.

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    Um componente essencial para a existn-cia de um legado positivo a necessidade dos organismos do Poder Pblico em especial do Municpio em assumir suas responsabilidades para atenderem as demandas identificadas no processo de implementao do empreendimen-to. Essa responsabilidade est estabelecida des-de prestar informaes sobre as politicas e pro-gramas pblicos existentes, de formar equipes tcnicas para atuar diretamente com a comu-nidade, de desenvolver os projetos necessrios

    para atender as demandas da comunidade, de organizar os espaos de participao pblica como de comits ou conselhos gestores.

    Por fim as prticas de gesto para en-frentar os impactos que podero ocorrer em comunidades afetadas por um empreendi-mento deve ser voltada a contribuir com o fortalecimento da cidadania, da dignidade da pessoa humana, da participao pblica, da organizao e mobilizao da comunidade e da preservao da identidade e da cultura local.

    - A capacitao dos moradores da comunidade em temas da cidadania e polticas pblicas que resultou na par-ticipao da elaborao do mapeamento social e do plano de atendimento de suas demandas; e na apropriao de formas de defesa de seus interesses com os gestores e autoridades pblicas.

    - A participao da comunidade na elaborao do mapa social e o plano de atendimento das demandas sociais, econmicas, ambientais e culturais;

    - A organizao dos moradores das comunidades em comisses, associaes e cooperativas;

    - A qualificao dos moradores para a realizao de projetos sociais e econmicos que foram definidos no plano de atendimento de suas demandas;

    - A existncia de comits, conselhos formados pelos moradores e representantes do poder pblico para a gesto de projetos e programas pblicos;

    - A participao e mobilizao social dos moradores para os projetos e aes previstas para atenderem suas demandas sejam concretizados;

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    6. QUADRO DA LEGISLAO URBANSTICA E DE DIREITOS HUMANOS TEIS PARA A SOLUO ADEQUADA AOS CONFLITOS FUNDIRIOS URBANOS

    CONSTITUIO FEDERAL DE 1988

    O art. 5 inclui o direito moradia no rol de direitos fundamentais, inferindo a este no inciso XI do mesmo artigo, inviolabilidade e proteo jurdica num contexto de tutela dignidade humana do indivduo. Isso ocorre uma vez que a atual ordem jurdica entende a moradia como pressuposto do mnimo existencial.

    O artigo 6 a moradia mencionada como direito social, reiterando sua importncia como instituto a ser protegido e preservado.

    O art.182 da Carta Magna dispe sobre a poltica de desenvolvimento e sobre o plano diretor, que de competncia de cada Municpio, carter obrigatrio e vislumbra criar diretrizes que proporcionem o desenvolvimento, estrutu-rao e organizao de cada cidade.

    O art. 183 traz ainda a figura da usucapio de imvel Essa figura nasce da tica constitucional de funo social da propriedade. Uma vez que o pro-prietrio no esteja fazendo uso do seu imvel e no tempo determinado outrem esteja na posse do mesmo, ganhar a propriedade do imvel. Este dispositivo baseia-se na ideia de que a terra deve estar em movimento, atendendo s necessidades dos que precisam de moradia. Tal figura uma inovao bastante benfica, pois flexibiliza o formalismo em detrimento da matria, beneficiando o mero possuidor numa tica de garantia de direitos fundamentais de moradia..

    LEGISLAO INFRACONSTITUCIONAL

    A Lei n 10.257/2001, o Estatuto da Cidade, surgiu para regulamentar os artigos 182 e 183 da Constituio Federa. Estabelece diretrizes gerais de poltica urbana, criando um modelo de funes da cidade.

    Medida Provisria n 2220 de 2001, convertida em Lei pela Emenda Constitu-cional n 32/2004, que dispe sobre a concesso de uso especial mencionada no art.183, 1 da Constituio Federal. Caracteriza o imvel passvel de con-cesso para fins de moradia, os requisitos para a mesma e o procedimento pelo qual se dar este ato.

    Lei n9636/1998 alterada pela Lei 11.481/2007 que dispe sobre a regulari-zao fundiria dos bens imveis da Unio.

    Lei n 11.952/2009 quer trata da regularizao de ocupaes situadas em terras da Unio, no mbito da Amaznia Legal.

    Lei n 11.977 de 2009, conhecida popularmente como Programa Minha Casa, Minha Vida. Trata-se novamente de lei com intuito de regularizao fundiria de ocupaes irregulares e com finalidade de criar mecanismos de incentivo produo de novas unidades habitacionais. A lei inovou nos instrumentos de regularizao fundiria, com a instituio do Auto de Demarcao urba-nstica e o Termo de Legitimao de Posse.

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    CONSELHO DAS CIDADES

    A Resoluo n 13 do Conselho das Cidades traz em seu corpo uma srie de recomendaes aos atores sociais dos governos dos Estados, DF e Municpios que visam a criao de Conselhos Estaduais e Municipais.

    A Resoluo n 31 do mesmo conselho, por sua vez, vem para propor um processo de discusso entre o Poder Judicirio, o Conselho das Cidades e outras instituies que atuam socialmente no desenvolvimento urbano para que as questes relativas a despejos e deslocamentos de grande impacto sejam discutidas.

    A Resoluo Administrativa n 01 criou o Grupo de Trabalho de Conflitos Fundirios Urbanos no Conselho.

    A resoluo n 34, que traz disposies sobre o mnimo que deve ser pre-visto pelo Plano Diretor, sobre a definio das funes sociais da cidade, sobre as funes de determinao do plano Diretor com intuito de garantir que essas funes da cidade sejam cumpridas, sobre instituio das ZEIS, visando o interesse local, sobre o Sistema de Acompanhamento e Controle Social, entre providncias gerais que buscam criar diretrizes para as aes de elaborao e planejamento urbano que estejam em consonncia com os princpios urbansticos de atendimento da funo social da cidade.

    A Resoluo n 25 do Conselho das Cidades, amplamente adotada e que estabelece normas referentes elaborao dos Planos Diretores dos Muni-cpios, demonstrando sua obrigatoriedade e caractersticas mnimas de sua existncia, tal como procedimentos de validao da proposta do plano nos Municpios para que sejam considerados legitimados pela sociedade civil.

    A resoluo recomendada n 50 de 2008 do Conselho das Cidades seguiu-se ampla discusso sobre a Poltica Nacional de Preveno e Mediao de Conflitos Fundirios Urbanos e funciona como uma srie de recomendaes que objetivam promover a efetiva implementao dessa poltica

    A Resoluo n 87 do Conselho das Cidades documento de referncia na-cional para pesquisa e aplicao de conceitos sobre mediao de conflitos fundirios urbanos.

    MINISTRIO DAS CIDADES

    A Portaria n 587, de 2008, do Ministrio das Cidades documento funda-mental, pois estabelece a tramitao de processos relativos temtica de Conflitos Fundirios Urbanos. Determina as etapas dos procedimentos e as funes da Secretaria Nacional de Programas Urbanos e Secretaria Nacional de Habitao para eventuais atendimentos.

    A Portaria n 317, de 2013, Dispe sobre medidas e procedimentos a serem adotados nos casos de deslocamentos involuntrios de famlias de seu lo-cal de moradia ou de exerccio de suas atividades econmicas, provocados pela execuo de programa e aes, sob gesto do Ministrio das Cidades, inseridos no Programa de Acelerao do Crescimento - PAC.

    CONSELHO NACIONAL DA JUSTIA

    A resoluo n 125 do CNJ, que institui a Poltica Pblica de Tratamento Ade-quado de Conflitos, apontando princpios informadores e dando diretrizes de tratamento e servios visando a garantia de acesso justia. Dispe sobre a criao dos Ncleos Permanentes de Mtodos Consensuais de Soluo de Conflitos, importante medida que demonstra a inteno do Estado de promover e fomentar as solues amigveis de conflitos, da qual se destaca para o presente estudo a mediao.

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    NORMATIVA INTERNACIONAL

    PIDESC PACTO INTERNACIONAL DOS DIREITOS ECONMICOS, SO-CIAIS E CULTURAIS, ratificado, no Brasil, pelo Decreto n 591/1992.

    O artigo 11, 1, que prev o direito moradia digna: Os Estados Partes no presente Pacto reconhecem o direito de todas as pessoas a um nvel de vida suficiente para si e para as suas fam-lias, incluindo alimentao, vesturio e alojamento suficientes, bem como a um melhoramento constante das suas condies de existncia. Os Estados Par-tes tomaro medidas apropriadas des-tinadas a assegurar a realizao deste direito reconhecendo para este efeito a importncia essencial de uma coopera-o internacional livremente consentida.

    PACTO INTERNACIONAL DOS DIREI-TOS CIVIS E POLTICOS, ratificado, no Brasil, pelo Decreto n 592 - de 6 de julho de 1992.

    O artigo 17 prev que: 1. Ningum po-der ser objeto de ingerncia arbitr-rio ou ilegal em sua vida privada, em sua famlia, em seu domiclio ou em sua correspondncia, nem de ofensas ilegais s suas honra e reputao.

    Conveno Americana de Direitos Humanos - Pacto de So Jos da Costa Rica

    O Pacto de San Jos busca consolidar entre os pases americanos um regime de liberdade pessoal e de justia so-cial, fundado no respeito aos direitos humanos essenciais. Nesse tratado, o direito moradia digna tem funda-mento nos artigos 11, 24 e 26.

    A Conveno Internacional Sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Racial, adotada pela Assembleia Geral das Naes Unidas, em 21 de dezembro de 1965.

    Objetiva eliminar as formas constan-tes de discriminao racial e promover a igualdade. O direito habitao est protegido no artigo 5, e, III.

    Conveno sobre a Eliminao de Todas as Formas de Discriminao Contra a Mulher

    Objetiva que os pases que ratificaram o tratado comprometam-se a uma dupla obrigao: eliminar as formas constantes de discriminao contra as mulheres e promover a igualdade entre os gneros. A Conveno prev o direi-to moradia no seu artigo 14, 2, h..

    Comentrios Geral 4 que interpreta o artigo 11.1 do Pacto Internacional sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais.

    Definindo o direito moradia adequada e conceituando os seus componentes.

    O Comentrio Geral 7, por sua vez, co-menta artigo 11.1 do Pacto Internacio-nal sobre Direitos Econmicos, Sociais e Culturais especificamente quanto questo das remoes e despejos forados.

    Assim, prev que nos casos onde o despejo forado considerado justi-ficvel, ele deve ser empreendido em estrita conformidade com as previses relevantes do direito internacional dos direitos humanos e de acordo com os princpios gerais de razoabilidade e proporcionalidade, no devendo oca-sionar indivduos sem-teto ou vul-nerveis violao de outros direitos humanos. Onde aqueles afetados so incapazes para prover, por si mesmos, o Estado deve tomar todas as me-didas apropriadas, de acordo com o mximo dos recursos disponveis, para garantir que uma adequada alterna-tiva habitacional, reassentamento ou acesso terra produtiva, conforme o caso seja disponvel.

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    7 BIBLIOGRAFIA SUGERIDAALMEIDA, TANIA. Mediao de conflitos: um meio de preveno e resoluo de controvrsias em sintonia com a atualidade. In CUNHA, Jos Ricardo (coord.). Poder Judicirio: novos olhares sobre g esto e jurisdio. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2010.

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    OBSERVATRIO DAS METRPOLES. Documento de referncia da poltica nacional de preven-o e mediao de confl itos fundirios urbanos. s/d. Disponvel em: http://www.observatorio-dasmetropoles.ufrj.br/documentoreferenciapolnacconfl itos_fundi%C3%A1rios.pdf. Acesso em: maio de 2013. So Paulo. 2011.

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