manuel bandeira

10
MANUEL BANDEIRA

Upload: daniele-bertollo

Post on 23-Feb-2017

542 views

Category:

Education


1 download

TRANSCRIPT

Page 1: Manuel Bandeira

MANUEL BANDEIRA

Page 2: Manuel Bandeira

AUTOR DO POEMA “SAPOS” QUE SE ENCONTRA NA OBRA “CARNAVAL” DE 1919.

TAL POESIA FOI DECLAMADA NA “SEMANA DE ARTE MODERNA”. TAL “PARTICIPAÇÃO” INAUGURA SUA ENTRADA NO MOVIMENTO MODERNISTA.

A POESIA DE MANUEL BANDEIRA ATRAVESSOU TODAS AS FASES DE NOSSO MODERNISMO, NUMA RARA DEMONSTRAÇÃO DE RIQUEZA HUMANA E SENSIBILIDADE ARTÍSTICA.

Page 3: Manuel Bandeira

NESTAS OBRAS, SEUS POEMAS POSSUEM GRANDE MATURIDADE TÉCNICA A UM LIRISMO IMPREGNADO DE DESCOBERTAS DO COTIDIANO, POETICAMENTE TRANSFIGURADAS: AMOR COMO EXPERIÊNCIA DIRETA DO CORPO, O DESEJO ERÓTICO ILUMINANDO A CARNE E TORNANDO-A SAGRADA, A TERNURA DAS COISAS MAIS SIMPLES E MENOS INTENCIONAIS, A HUMANIDADE DOS HUMILDES E DOS MARGINAIS, A EVOCAÇÃO DA INFÂNCIA E A MORTE, VELHA E CONFIDENTE.

Page 4: Manuel Bandeira

TERESA A primeira vez que vi Teresa

Achei que ela tinha pernas estúpidas Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do

[corpo (Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o res-

[to do corpo nascesse) Da terceira vez não vi mais nada

Os céus se misturaram com a terra E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das

águas.

Page 5: Manuel Bandeira

IRENE NO CÉU

Irene preta Irene boa Irene sempre de bom humor. Imagino Irene entrando no céu: - Licença, meu branco! E São Pedro bonachão: - Entra, Irene. Você não

precisa pedir licença.

Manuel Bandeira

Page 6: Manuel Bandeira

NAMORADOS O rapaz chegou-se para junto da moça e disse: - Antônia, ainda não me acostumei com o seu corpo, com

[a sua cara. A moça olhou de lado e esperou.

- Você não sabe quando a gente é criança e de repente vê [uma lagarta listada?

A moça se lembrava: - A gente fica olhando... A meninice brincou de novo nos olhos dela. O rapaz prossegui com muita doçura: - Antônia, você parece uma lagarta listada. A moça arregalou os olhos, fez exclamações. O rapaz concluiu: - Antônia, você é engraçada! Você parece louca.

Manuel Bandeira

Page 7: Manuel Bandeira

Consoada

Quando a Indesejada das gentes chegar (Não sei se dura ou caroável), talvez eu tenha medo. Talvez sorria, ou diga: - Alô, iniludível! O meu dia foi bom, pode a noite descer. (A noite com os seus sortilégios.) Encontrará lavrado o campo, a casa limpa, A mesa posta, Com cada coisa em seu lugar.

Manuel Bandeira

Page 8: Manuel Bandeira

Cotovia

- Alô, cotovia! Aonde voaste,Por onde andaste,Que saudades me deixaste?- Andei onde deu o vento.Onde foi meu pensamentoEm sítios, que nunca viste,De um país que não existe . . .Voltei, te trouxe a alegria.- Muito contas, cotovia!E que outras terras distantesVisitaste? Dize ao triste.- Líbia ardente, Cítia fria,Europa, França, Bahia . . .

- E esqueceste Pernambuco, Distraída?

Page 9: Manuel Bandeira

- Voei ao Recife, no CaisPousei na Rua da Aurora. -Aurora da minha vidaQue os anos não trazem mais!

- Os anos não, nem os dias,Que isso cabe às cotovias.Meu bico é bem pequeninoPara o bem que é deste mundo:Se enche com uma gota de água.Mas sei torcer o destino,Sei no espaço de um segundoLimpar o pesar mais fundo.Voei ao Recife, e dos longesDas distâncias, aonde alcançaSó a asa da cotovia, - Do mais remoto e peremptoDos teus dias de criançaTe trouxe a extinta esperança,Trouxe a perdida alegria.

Manuel Bandeira

Page 10: Manuel Bandeira

Ouro PretoOuro branco! Ouro preto! Ouro podre! De cadaRibeirão trepidante e de cada recostoDe montanha o metal rolou na cascalhadaPara o fausto Del-Rei, para a gloria do imposto.

Que resta do esplendor de outrora? Quase nada:Pedras... Templos que são fantasmas ao sol-posto.Esta agencia postal era a Casa de Entrada...Este escombro foi um solar... Cinza e desgosto!

O bandeirante decaiu – é funcionário.Ultimo sabedor da crônica estupenda,Chico Diogo escarnece o ultimo visionário.

E avulta apenas, quando a noite de mansinhoVem, na pedra-sabão, lavrada como renda,- Sombra descomunal, a mão do Aleijadinho!

MANUEL BANDEIRA