mapas colaborativos como interface da cultura digital
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MAPAS COLABORATIVOS COMO INTERFACE DA CULTURA DIGITAL
Laboratório Cultura Viva, Pontão ECO/UFRJ, Julho, 2010
ANDRÉ LEMOS,CIBERCIDADE, FACOM, UFBA
• "Hace unos años comenzaron a aparecer unos graffiti misteriosos en los muros de la ciudad nueva de Fez, en Marruecos. Se descubrió que los trazaba un vagabundo, un campesino emigrado que no se había integrado en la vida urbana y que para orientarse debía marcar itinerarios de su propio mapa secreto, superponiéndolos a la topografía de la ciudad moderna que le era extraña y hostil” (Suicidios ejemplares de Enrique Vila-Matas)
Sumário
• CONSTRUIR PARA HABITAR. LUGAR E ESPAÇO – HEIDEGGER• MAPA É O TERRITÓRIO - NAVEGAÇÃO – LATOUR• MAPA COMO CONTROLE E VIGILÂNCIA DO ESPAÇO• CARTOGRAFIAS RADICAIS E MAPAS COLABORATIVOS - MAPAS
2.0• EXEMPLOS• CONCLUSÃO
Mapa como Navegação e Lugar
• Novas mídias – mídias locativas - Tensão entre localização e mobilidade;
• Mapas como mídia;• Mapas e função pós-massiva;• Mapas Colaborativos - produzir coletivamente mapas online
locais onde as pessoas possam acessar e anotar posições no espaço. Identificar “actantes”.
• LBS e LBT; Software social; Blogging; Opensource.
Lugar
• Heidegger em “Construir, habitar, pensar” mostra como o lugar “arruma, dá espaço a um espaço”.
• Espaço é fruto de uma arrumação, de um “espaçamento”. • “Espaços recebem sua essência dos lugares”; • A essência do homem é residir, construir (um lugar) para
habitar - diferente do “de-morar”.• Espaço como abstractum, matemático, representação da
multiplicidade das 3 dimensões. • Nesse espaço não encontramos lugares;
Mapa, habitar, morar
• Só no espaço “espaçado”, entre os lugares, encontramos a “extensão”;
• “Os espaços que percorremos diariamente são arrumados pelos lugares”;
• Construir (fundar lugares) é articular espaços;• Percorrer como “navegar”. • A constituição dos lugares produz espaço. • Mapear é navegar entre lugares. • Revela dimensão ontológica, mas também política, cultural,
social e econômica do “habitar”.
Mapa e Navegação• Mapear é traçar correlações, diferenças. Agir mais por
anexação do que por imitação. Menos mimético e mais navegacional. Pensar o “habitar”.
• Mapa de uma cidade desconhecida: não diz nada sobre a cidade. Revela apenas a “extensão” entre as coisas.
• Mapas representativos não dizem nada sobre os “actantes” (Latour). Não fazem correlações e fixam apenas generalizações.
• Mapas digitais podem ser “não-miméticos”, mais navegacionais e menos representativos de um contexto (espaço) e revelar questões do habitar entre as coisas construídas (lugares).
Mapa e Navegação• O interesse é buscar efeitos performativos das relações entre
entidades e não a expressão abstrata referente a um contexto ou “espaço”.
• Mapas digitais e cartografias livres hoje – traços, navegações, links entres diversos actantes que produzem sentido sobre um determinado “lugar”.
• Quanto mais traços e anotações, quanto mais navegações entre pontos, mais sentidos do habitar são revelados e menos genéricos são os mapas.
• Com as mídias locativas é possível produzir navegação entre “lugares”, produzir “traços” que revelam algo sobre o território.
Mapas e Navegação
• Latour: a rede não é o canal por onde passam coisas, mas é a relação móvel que se cria entre as coisas; Mais relação e conteúdo e menos “canal”.
• Mapas não devem ser “panoramas”, onde vemos tudo por todos os lados, mas nada em destaque.
• Como “panorama”, perdem-se as articulações e as conexões entre os diversos actantes (usuários, objetos, instituições, leis, normas, locais, etc.).
• Mapa mais como o “fio de Ariadne”, como uma interface de acesso ao tempo e ao espaço dp “labirinto” (o espaço genérico).
Mapa e Navegação
• As tecnologias digitais e os mapas colaborativos permitem que possamos: “criar o espaço no processo de viajar nele e criar narrativas dessas viagens que, simultaneamente, constroem o conhecimento” (Turnbull, 2002)
• É pela navegação, constituição de redes entre actantes, que vemos as dimensões constitutivas dos lugares (do território). O mapa é o território (Latour);
• Mapas devem auxiliar a produção de conhecimento (político, social, cultural) desses lugares por onde passamos (“percorremos”, “navegamos”).
Mapa e Navegação• Os novos mapas devem proporcionar formas de navegação
(dimensão do habitar) e não de fixação do espaço genérico: • “we know as we go, from place to place (Ingold, 2000) ;• “Maps then would not be viewed as representations of space,
but as ways to open an interface – just as Daedalus’s thread opened up the labyrinth for Theseus” (Mitew, 2009).
• Mapa como agência de “transformação” e “transporte” (Latour) dos lugares e espaçamentos
• Lugar como espaço construído, habitado, social. Só há espaço, matematicamente ou entre coisas.
MAPA. CONTROLE E VIGILÂNCIA
• Mapas são usados hoje para monitorar localização e movimento de coisas, pessoas, informações. Reforça a tese defendida até aqui.
• Mapas como relação entre actantes para fins policiais, políticos, administrativos (controle, monitoramento, vigilância).
• Mapas restritivos (limites e fronteiras de coisas pessoas e objetos) existem desde o século XIX.
• Mapas fixos (genéricos, miméticos), não produziam conhecimento dinâmico sobre os actantes.
MAPA. CONTROLE E VIGILÂNCIA
• Hoje GIS, GPS, RFID, ajudam a produzir mapas “navegacionais”, não miméticos, que articulam actantes (ex: um preso, a prisão, o bairro, o deslocamento, os limites, as jurisdição, etc, mas poder ser um carro, um consumidor, um objeto…).
• “Tracking devices” em mapas de movimentos podem ter ações diretas e concretas sobre indivíduos e organização;
MAPA. CONTROLE E VIGILÂNCIA
• O que importa é a relação entre as instâncias. Por isso ele é mais performativo e usado para vigilância, monitoramento e controle de localização e movimento.
• Mostrando a potência dos mapas, afirma Monmonier: “for many crimes, an electronic map makes more sense than a prison…”.
NOVOS SENTIDOS DOS LUGARES
• O que cabe a sociedade civil? • Há possibilidades efetivas de produzir cartografias que
produzam visibilidades que destaquem aspectos diferenciados dos lugares, do “habitar”.
• Produzir mapas que mostrem as dinâmicas entre diversos actantes para fins culturais, sociais, políticos, artísticos.
MAPA. NOVOS SENTIDOS DOS LUGARES
• Produzir interrelações que afirmem um “habitar” do construído (“lugar”) outro que não seja aquele da imposição estatal, burocrática, urbanística ou policial. Produzir narrativas e apropriação do lugar habitado para diversos fins.
• Produzir redes como navegação entre diversas formas do contruído, revelando relação entre actantes para uma ação social, política e cultural.
• Exemplos…
Conclusão• Mapas como forma de produção de sentido do construído para um
outro “habitar”;• Criação de novos usos, funções, narrativas, formatos
comunicacionais: compreensão sobre identidade, corpo, lugar, mobilidade, poder;
• Mapaeamento como inscrição de navegação entre actantes: inscrever é produzir o espaço/lugar; Nova visibilidade como nova experiência (problemas de vigilância)
• “Do it Ourselves”. Participação e colaboração na escrita e leitura; Subverter hierarquias culturais, administrativas, sociais e políticas.
• Alain Badiou – mapas - "the creation of a new possibility of art and a new vision of the world”.
Referências• Heidegger, Bâtir, Hâbiter, Penser, in Essays et Conférences, Sueil,
Paris, 1954• Monmonier, M., Virtual prisions: how e-maps are curtailing our
freedom, in New Scientist, # 2767, 06, july, 2010;• Camacho-Hubner, E., Latour, B., November, V. (sd). The Territory is
the Map - Space in the Age of Digital Navigation., Submitted to Environment and Planning., Versão final: “Entering a Risky Territory: Space in the Age of Digital Navigation”., disponível em http://www.bruno-latour.fr/articles/article/117-MAP-FINAL.pdf
• Mitew, T. Experience of Transition Repopulating the Map: Why Subjects and Things are Never Alone., in Fibre Culture, issue 13, disponível em http://journal.fibreculture.org/issue13/issue13_mitew.html.