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MAPEAMENTO DO USO DA TERRA NACOMUNIDADE TRADICIONAL DO VALE DO PATI/
PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DIAMANTINA –BA
Vitor Costa Borges
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS
GEONAT (Grupo de Pesquisas em Geografia e Natureza) – UEFS
Jocimara Souza Britto Lobão
Universidade Estadual de Feira de Santana – UEFS
GEONAT (Grupo de Pesquisas em Geografia e Natureza) – UEFS
INTRODUÇÃO
No Brasil o histórico de criação de parques nacionais vem acompanhado por
alguns conflitos de ordem socioambiental, devido à sobreposição de seus territórios aos
territórios de comunidades locais, a criação destas unidades de conservação de proteção
integral em áreas habitadas acabam mudando a dinâmica de uso e ocupação da terra e
alterando a gestão de uso dos recursos naturais. Estas alterações acabam impactando
diretamente as comunidades que estabeleceram ao longo do tempo um contato direto e
tradicional com os recursos naturais existentes em suas áreas de uso e ocupação.
Com a criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina a comunidade
tradicional do Vale do Pati (Figura 1) começou a sofrer estas mudanças ligadas ao uso da
terra, devido a essa sobreposição de territórios. A ocupação dos primeiros moradores do
Vale Pati data de meados de 1844 quando foram descobertas as lavras diamantinas (FUNCH
apud GUANEM, VIANA 2006, p. 24), quando a Chapada Diamantina vivia o apogeu dos ciclos
do garimpo. A história socioambiental e econômica do vale sempre foi ligada intimamente à
agricultura e ao uso dos recursos naturais disponíveis. Praticando desde sua criação a
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policultura, extrativismo vegetal, caça e em alguns momentos a monocultura do café
(CARDOSO, 2003).
As mudanças no planejamento territorial da Chapada Diamantina na Bahia,
voltadas ao fomento do turismo após a crise na exploração do diamante, culminou no
tombamento de Lençóis como monumento histórico nacional em 1973, e na criação do
parque nacional da Chapada Diamantina em 1985 através de decreto nacional (BRITO,
2005). A estratégia de criação desta unidade de conservação, visava a proteção ambiental e
o desenvolvimento econômico de seu entorno por meio da promoção do ecoturismo.
Figura 1 – Mapa de localização
Elaboração: BORGES, V., 2014.
Este estudo visou verificar qual a dinâmica e os limites desta comunidade em
relação ao uso da terra, através da produção de um mapeamento que pudesse ser utilizado
posteriormente pela comunidade, contribuindo como ferramenta de planejamento e gestão
deste território; visando facilitar a organização social e incentivar esta comunidade
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tradicional a conhecer e participar dos processos de planejamento e gestão do seu
território.
A evolução tecnológica dos Sistemas de Informações Geográficas (SIGs) e das
ferramentas de geoprocessamento vem contribuindo fortemente para as análises espaciais
e ambientais destas áreas, fomentando o avanço tecno-ciêntifico e instrumentalizando o
planejamento e a gestão dos territórios.
O conjunto formado pelas tecnocnogias de aquisição de dados por meio de
sensoriamento remoto e do Sistema de Posicionamento Global (GPS), associados
às técnicas de processamentos digitais em imagens de satélites,
armazenamento, manipulação de dados e geração de novas informações por
meio de SIGs, fazem parte das técnicas de geoprocessamento. Eles
constituem-se, na atualidade em um poderoso ferramental para análises
espaciais e ambientais. (LOBÃO; SILVA, 2013, p. 73).
Com o aprimoramento deste sistema criou-se o Sistema Etnográfico de
Informações Geográficas (EtnoSIG), proporcionando assim uma importante ferramenta para
análise socioambiental, ampliando e gerando informações significativas para a resolução de
conflitos a partir de dados etnográficos e técnicos.
O arcabouço de ferramentas disponibilizadas pelos EtnoSIGs vem sendo
utilizado em diferentes regiões do mundo para a conciliação da preservação
cultural, mediação de conflitos, manejo e gestão dos recursos naturais e
desenvolvimento econômico em áreas habitadas por comunidades tradicionais
(ESRI/Intertribal GIS Council, 2001 apud PAESE; UEZU; LORINI; CUNHA, 2012,
p.108).
O mapeamento de uso da terra baseado em informações etnográficas é uma
das formas de utilizar e obter dados e informações sobre o contexto territorial, podendo
traduzir parte da realidade socioambiental do local estudado. Para o mapeamento é
necessário conhecer e entender os padrões de uso da terra e qual a sua dinâmica, conforme
o manual de uso da terra (IBGE, 2006, p.146):
As áreas sob utilização econômica são reconhecidas como padrões de Uso da
terra, entendidos como uma representação sintética de um conjunto de
atividades econômicas com expressão espacial que, de alguma forma, interagem
nesse espaço. Esses padrões deverão refletir a maior significância espacial de
um determinado tipo de uso, como também funcionamento das atividades
produtivas inseridas em determinado padrão ou associações de uso. O uso da
terra pode ser (...) interpretado como um conjunto de fatos ou fenômenos
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espaciais (escalas de semidetalhe e exploratórias), será de fundamental
importância a compreensão da organização e dinâmica dos processos políticos,
econômicos e sociais que atuam sobre uma área ou região, de modo a se
conhecer as tipologias de uso que podem ser nominadas e, consequentemente,
definir os padrões de uso.
A investigação destes padrões é de grande importância para a obtenção de
informações e para a compreensão do objeto de estudo, no caso dos parques nacionais em
conflito com comunidades locais também é importante avançar nas observações dos
padrões de uso com a obtenção e troca de informações no envolvimento direto com a
comunidade, através do EtnoSIG.
Neste caso estas informações podem auxiliar a priori nas atividades de
planejamento e zoneamento de parques nacionais, na indicação de pontos estratégicos e
emergenciais a serem investigados e trabalhados, e na tomada de decisões tanto pela
comunidade quanto pela gestão da unidade de conservação sobre a condição do uso dos
recursos naturais presentes (POOLE, 1999; MCCALL; MINANG, 2005; RAMBALDI et al., 2007;
KALIBO; MEDLEY, 2007 apud PAESE; UEZU; LORINI; CUNHA, 2012, p.93).
Para que o mapeamento e a obtenção dos dados sejam conduzidos de forma a
captar um número suficiente de informações sobre o uso da terra, é importante considerar
também as atividades que nem sempre estão relacionadas com a cobertura, e que só
poderão ser correlacionadas a partir de dados suplementares, como é o caso do turismo. Ao
retratar as formas e a dinâmica de ocupação da terra, esses estudos irão representar
também um instrumento valioso para a construção de indicadores ambientais e para a
avaliação da capacidade ambiental, diante dos diferentes manejos empregados na produção
agrícola, contribuindo assim para a identificação de meios alternativos para uma maior
sustentabilidade no uso da terra (IBGE, 2006).
Esta forma de mapear o uso da terra leva em consideração as informações de
sistemas sofisticados de processamento de dados e ao mesmo tempo integra relevantes
informações geradas a partir do conhecimento tradicional, tornando a análise mais rica e
detalhada devido a diversidade das fontes de informação. “Atualmente, não se concebe um
SIG apenas para sobreposição e/ou cruzamento de dados, mas, principalmente, como uma
poderosa ferramenta para análise e suporte para decisões.” (LOBÃO; SILVA, 2013, p.74). Este
processo pode tornar o conhecimento gerado mais próximo e acessível da comunidade,
facilitando o uso destas informações na tomada de decisões, no incentivo da organização e
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participação social nos processos de planejamento e gestão do território.
MATERIAIS E METODOLOGIA
Este trabalho foi submetido e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da
Universidade Estadual de Feira de Santana. Obteve também, a permissão do Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), para a realização das atividades de
campo e coleta dentro da unidade de conservação.
Inicialmente, foi realizada a revisão da literatura, e uma pesquisa e análise
documental. A partir dos dados obtidos através da análise documental foi criado um quadro
com o histórico de desenvolvimento do uso da terra no vale do Pati. Paralelamente a isto
criou-se um EtnoSIG, contendo: i) quatro cenas RapdEye com resolução espacial de 5
metros, mosaicadas e gerreferenciadas, adquiridas em 29/09/2009; ii) modelo digital de
terreno - MDT onde gerou-se mapas de declividade, direção de fluxos, relevo sombreado,
mapa de aspecto e uma classificação altimétrica; iii) pontos georrefrenciados decritos e com
registro fotográfico de dois trabalhos de campo; iv) análise e digitalização de informações
oriundas de etnomapas; v) dados de entrevistas realizadas pelo Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio) em 2011, com membros da comunidade tradicional
do Vale do Pati.
Com o processamento destes dados foi elaborado o mapa de uso da terra no
vale do Pati, no qual, juntamente com os dados do quadro histórico possibilitou observar
parte da realidade e da dinâmica de uso da terra neste vale. A síntese dos procedimentos
metodológicos pode ser visualizada na (figura 2).
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Figura 2 – Fluxograma metodológico
Fonte: BORGES, V. C., 2014.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise documental realizada como subsídio a este trabalho contou com a
análise Leis, livros, Projeto que propõe a construção do termo de compromisso entre o
parque nacional e a comunidade, estudo da câmara dos Deputados e 17 etnomapas
realizados com a comunidade do Vale do Pati.
Por meio desta análise verificou-se que devido a fatores históricos e geográficos
a comunidade do Pati foi se moldando ao passar do tempo em função de ciclos econômicos
e das Políticas voltadas a Proteção da natureza e do reconhecimento de comunidades
tradicionais. Os (quadros 1 e 2) são uma síntese das principais mudanças socioambientais
com repercussões no Vale do Pati desde a sua ocupação socioeconômica até os dias atuais.
Ele foi dividido em três períodos sendo: 1- início e declínio da exploração de diamantes, 2-
Colapso da produção de diamantes e carbonados / Declínio econômico (Quadro 1), 3-
Planejamento e incentivo ao turismo e a conservação. Eles revelam fatores importantes do
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planejamento na região do Pati e seus impactos na dinâmica econômica, social e ambiental.
Quadro 1 – Histórico das principais mudanças socioambientais no vale do Pati e entorno.
Período1.801 até 1.900
Ocupação socioeconômica da Chapada Diamantina/início e declínio da exploração de Diamantes
Fonte:
100Anos
Início Séc.19
Processo de ocupação socioeconômica da ChapadaDiamantina
(SAMPAIO, 1938 apudBRITO, 2005, p. 83).
1844Foram encontradas jazidas de diamantes na serra do
Sincorá
(TEIXEIRA; LINSKER, 2005apud GANEM; VIANA,
2006 p. 13).
Meadosde 1844
Ocupação socioeconômica do Pati(FUNCH 2002 apud
GANEM; VIANA, 2006 p.24)
1847/1856 Criação dos povoados de Mucugê 47 / Lençóis 56 (BRITO, 2005, p. 83).
1870 Café é introduzido na chapada diamantina
(PEREIRA, 1907 e 1937;AGUIAR, 1889 apud
GUANEM, VIANA 2006 p.16)
1871Declínio da exploração do Diamante na Chapada
Diamantina(BRITO, 2005, p. 89).
1880Começo da exploração do Carbonado na Chapada
Diamantina
(SALES, 1975; MORAES,1991, apud BRITO, 2005,
p. 89).
1884/1890 Criação dos povoados de Anadaraí 84 / Palmeiras 90 (BRITO, 2005, p. 83).
Período1.901 até 1.973
Colapso da produção de diamantes e carbonados /Declínio econômico no vale Pati
Fonte:
73 Anos
Início Séc.20
Colapso da produção de diamantes e carbonadoscomeça a se verificar no início do século.
(SALES, 1975; MORAES,1991 apud BRITO, 2005,
p. 89).
Dec. 20 Início da exploração de Madeira em Andaraí (BRITO, 2005, p. 90).
Dec. 40
O café é a principal cultura comercial do Pati, secundadopelos cultivos de milho, banana, laranja, limão,
cana-de-açúcar e seus derivados. Abastecendo Lençóis,Mucugê e Andaraí.
(BRITO, 2005, p. 203).
Dec. 50 Declínio da exploração de Madeira em Andaraí (BRITO, 2005, p. 90).
Dec. 50/60
Decadência econômica do vale do Pati: enfraquecimentodo solo/ Programa Nacional de Erradicação do Café/
liberação de empréstimos através do Banco do Brasil/Grande número de mutuários não conseguem pagar e
vão a falência
(BRITO, 2005, p. 203).
(FUNCH, 2002; ZELLER,2002 apud GANEM;VIANA, 2006 p. 24).
Fonte: BORGES, V., 2014.
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O (Quadro 1) apresenta a ocupação socioeconômica e criação dos povoados na
Chapada Diamantina nas proximidades do Vale do Pati. Esta ocupação ocorreu a partir da
descoberta e mineração dos diamantes, período em que o Pati também foi ocupado
socioeconomicamente e inserida a agricultura. A atividade de mineração entrou em declínio
no início do século seguinte.
Após este período, nos anos 40, os moradores do vale do Pati baseavam
fortemente sua economia no cultivo do café, devido a tal, muitos moradores do vale
migraram nos anos 60 com a crise gerada por problemas ligados a esta atividade. A crise
econômica generalizada na região deu força a um novo movimento econômico e
socioambiental, com o planejamento do turismo e a conservação do patrimônio histórico e
ambiental, que gerou conflitos e mudanças territoriais significativas (Quadro 2). Este período
foi muito importante no contexto histórico e reflete fortemente até os dias atuais. Para a
análise do contexto atual é de extrema importância o olhar histórico e a compreensão sobre
as mudanças ambientais e sociais que ocorreram neste período.
Quadro 2 – Histórico das principais mudanças socioambientais no vale do Pati e entorno.
Período1973 até 2014
Planejamento e incentivo ao turismo e a conservação Fonte
41Anos
1973 Tombamento de Lençóis como Monumento Histórico Nacional (GANEM; VIANA,2006 p. 13)
1974 Governo Estadual realiza o primeiro inventário turístico da região,nas cidades de Lençóis, Andaraí e Mucugê, para promover a
interiorização do turismo na Bahia.
(BRITO, 2005, p.124).
Dec. 80 Governo do Estado promove a implantação do garimpomecanizado na Chapada Diamantina
(BRITO, 2005, p.133/134).
Dec. 80 Movimentos sociais ligados a defesa do meio ambiente (BRITO, 2005, p.129).
1985/Setembro
Parque Nacional da Chapada Diamantina é criado através deDecreto Federal
DECRETO N°91.655, de 17 de
setembro de1985.
1992 Ministério Público fecha os garimpos mecanizados próximos aAndaraí e Lençóis
(SENNA, 1996apud BRITO,
2005, p. 136).
1994-2000 PRODETUR (BA) – Programa de Desenvolvimento Tur´sitico daBahia, aumento do fomento ao turismo na Chapada Diamantina
(BRITO, 2005, p.150).
1996 Operação do Governo estadual e federal embargam a atividadede garimpo mecanizado
(BRITO, 2005, p.137).
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1997/ Julho Inauguração do Hotel Portal de Lençóis (BRITO, 2005, p.149).
1998/ Julho Construção do aeroporto de Lençóis (BRITO, 2005, p.149).
1998Janeiro -Agosto
Universidade Federal de Lavras através da Fundação de Apoio aoEnsino e Pesquisa realiza o levantamento fundiário para o IBAMA
na área demarcada como parque.
(BRITO, 2005, p.200).
1998/Setembro
Nova operação conjunta para interditar o secular garimpo deserra na área do Parque Nacional
(BRITO, 2005, p.138).
2000/Setembro
I Encontro de Populações Tradicionais do Parque Nacional daChapada Diamantina/ Documento ao Ministério Público e IBAMA
para permanência.
(ACVCD apudBRITO, 2005, p.
210).
2000/ Julho É criado o Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC). LEI N° 9.985 de18 de julho de
2000.
2001/Outubro
II Encontro de Populações Tradicionais do Parque Nacional daChapada Diamantina / objetivo de fortalecer as comunidades
tradicionais e suas associações.
(ACVCD apudBRITO, 2005, p.
210).
2002 - 2003 Reuniões da segunda etapa do PRODETUR - NE (BRITO, 2005, p.154).
2000/Junho
Formou-se o Núcleo Pró-Parque Nacional da ChapadaDiamantina
(BRITO, 2005, p.180).
Final2001
Criação do Conselho Consultivo do Parque Nacional –CONPARNA, pelo Ministro do Meio Ambiente
(BRITO, 2005, p.181).
2009 Publicação do plano de manejo do Parque Nacional da ChapadaDiamantina
(ICMBIO, 2014).
2011 Elaboração do projeto que prevê a construçaõ de um termo deCompromisso com a comunidade do Pati.
(ICMBIO, 2014).
Fonte: BORGES, V., 2014.
Com a crise econômica e migração de parte da comunidade do Vale do Pati e
entorno para outros lugares do País, a primeira mudança significativa na região, voltada ao
turismo e a conservação, foi o tombamento de Lençóis como Patrimônio Histórico Nacional
em 1973. Esta e outras ações em favor do turismo e da conservação continuaram até
culminar na criação do Parque Nacional da Chapada Diamantina, em 1985.
A criação do Parque Nacional foi um fator de grande influência para a promoção
do setor turístico na Chapada Diamantina, seu entorno foi sendo estruturado e recebeu
vários investimentos em conservação, infraestrutura e marketing voltados a recepção dos
turistas, aumentando também o fluxo turístico no Vale do Pati. Um dos objetivos previstos
na Lei No 9.985, de 18 de julho de 2000 é que os parques nacionais também deverão
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favorecer condições e promover o turismo ecológico.
A criação desta unidade de conservação de proteção integral, trouxe para a
comunidade do Pati a incerteza da permanência no vale e poderá trazer mudanças no uso
da terra, como a citada por Brito (2005 p.203) “A legislação que regulamenta os Parques
Nacionais, proíbe a presença de moradores no interior dessas unidades de conservação”. A
legislação também diz através da Lei No 9.985, de 18 de julho de 2000, que proteção integral
é a manutenção dos ecossistemas livres de alterações causadas por interferência humana,
admitido apenas o uso indireto dos seus atributos naturais.
Por outro lado o DECRETO Nº 6.040, de 7 de fevereiro de 2007, que institui a
Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais.
Define comunidade tradicional como:
Povos e Comunidades Tradicionais: grupos culturalmente diferenciados e que se
reconhecem como tais, que possuem formas próprias de organização social, que
ocupam e usam territórios e recursos naturais como condição para sua
reprodução cultural, social, religiosa, ancestral e econômica, utilizando
conhecimentos, inovações e práticas gerados e transmitidos pela tradição. (Art.
3º Inciso I).
Nesta lógica, podemos compreender, que mesmo ainda não havendo um
decreto de reconhecimento legal, a comunidade do Vale do Pati é tradicional pois: i)
possuem um histórico de ocupação de um território, ii) as práticas agrícolas são tradicionais
e específicas da comunidade; iii) a construção de suas moradias são adaptadas aos recursos
locais; iv) por seus cultos religiosos; v) por suas festas; vi) pelo uso e trato de animais como
meio de transporte; vii) o relatório do ICMBio reconhece as práticas e usos tradicionais do
território do Vale do Pati.
Visando melhor compreender o processo de ocupação e a configuração
territorial oriunda deste uso tradicional gerou-se o mapa de uso e ocupação do vale do Pati,
tendo por base o EtnoSig. Para a elaboração do mapa de uso e ocupação do Vale do Pati foi
necesário a elaboração de uma chave de interpretação (Figura 3), que indica o modo como
integramos e codificamos o conhecimento tradicional, as imagens de satélite e o modelo
digital de terreno (MDT). O quadro é composto por um padrão nas imagens de satélite, pelo
etnomapeamento com a descrição das classes pela comunidade. Compondo assim a
definição das classes.
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Figura 3. Chave de interpretação
Fonte: BORGES, V., 2014.
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A produção do mapa de uso da terra no Vale do Pati (Figura 4 e 5), foi baseado
em geotecnologias e no conhecimento tradicional da população residente em seu interior.
Este instrumento de produção do conhecimento é útil para trazer a tona o olhar desta
comunidade sobre o seu territorio e como este é utilizado, transformando o resultado deste
processo em um conhecimento sistematizado mais próximo da comunidade
A comunidade do Vale do Pati vem se transformando a partir de uma nova
configuração e gestão territorial a partir do turismo de base comunitária, resultando em
características socioambientais e econômicas que encontramos hoje e observamos através
do mapa de uso e ocupação da terra (Figura 4 e 5).
Figura 4 – Mapa de uso e ocupação da terra no Pati de cima
Elaboração: BORGES, V., 2014.
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Figura 5 – Mapa de uso e ocupação da terra no Pati de baixo ou Cachoeirão.
Elaboração: BORGES, V., 2014.
O mapa de uso identificou áreas utilizadas pelos moradores para agricultura de
subsistência, e possibilitou o cruzamento de dados das mesmas outras informações como
incidência de samambaias e localização das moradias e das trilhas, trouxe a lume dados
importantes para as ações de planejamento, gestão e manejo do território. Reuniu dados
técnicos e informações de participação social, produzindo assim uma visão mais ampla e
integrada do contexto socioambiental.
Verifica-se também que a maior área de uso localiza-se no Pati de cima (Figura
4), local onde encontrou-se a maior incidência de Samambaia-do-campo (Pteridium
aquilinum (L.) Kuhn) e samambaias (Dicranopteris flexuosa (Schrad.) Underw.). Espécie ruderal
que ocorre intensamente em antigas áreas de cultivo e pastagens abandonadas, sendo
considerada pelo ICMBio e pela comunidade local como um dos principais problemas
ambientais do Parque. Esta área é a porta de entrada para um grande número de turistas
que chegam de Guiné, Vale do Capão e Mucugê (Figura 1), logo, verificou-se a necessidade
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de um manejo mais ecológico das trilhas e das áreas de pastagens. A topografia é bastante
acidentada com altitudes que variam de 430 a cerca de 1550m, e declividades que chegam a
77º. Esse ambiente diverso, forma belíssimos cenários que são recobertos por uma Floresta
Estacional, mais densa nos talus dos morros e menos primitiva no fundo do vale, onde se
intercalam áreas de agricultura. Encontram-se também campos rupestres nos topos dos
morros intercaladas por uma porção de cerrado no colum entre os Morros Branco e Castelo
(Lapinha). A parte do Pati de baixo ou cachoeirão apresentou em relação ao Pati de cima,
menor área de uso e menor incidência de samambaias (Dicranopteris flexuosa (Schrad.)
Underw.).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo apresentou através do mapeamento o conflito de uso da terra no
Vale do Pati, com o histórico de ocupação e desenvolvimento tradicional da agricultura, a
comunidade do Pati, hoje, sente os impactos da legislação que regulamenta os Parques
Nacionais no Brasil. Ao mesmo tempo em que suas atividades ligadas ao uso direto dos
recursos naturais, estão ficando mais restritas, enxergam no turismo de base comunitária
uma alternativa para a sobrevivência e permanência no vale.
Desta forma, é recomendável o incentivo à permanência da comunidade
tradicional do Vale do Pati no local, aprofundamento e aperfeiçoamento dos estudos sobre
as práticas tradicionais sustentáveis, e o fomento da integração entre a comunidade e a
gestão do Parque Nacional, para o planejamento territorial. Esta recomendação, se colocada
em prática, beneficiará o Parque Nacional da Chapada Diamantina com uma possivel gestão
compartilhada, contribuindo para a proteção e manutenção de sua diversidade histórica,
cultural, e ambiental. Visto que o maior conhecimento histórico e tradicional sobre o Vale do
Pati é a comunidade que lá reside.
Com a não desterritorialização desta comunidade, e a integração da mesma nos
processos de planejamento e gestão do território, o parque nacional poderá aprofundar o
conhecimento de uso da terra de forma participativa e incentivar a comunidade às ações de
manejo ecológico podendo diminuir os impactos e danos causados pelo aumento do fluxo
de turistas.
O incentivo à permanência da comunidade do Vale do Pati, e o incentivo de
práticas de uso da terra tradicionais e sustentáveis, beneficiará esta comunidade com a
preservação e manutenção de sua cultura, e suas práticas produtivas tradicionais. Fazendo
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com que a análise histórica da crise nessa região seja colocada em prática, e esta
comunidade não se estruture apenas em uma atividade econômica, uma vez que o turismo
está se tornando a única fonte de renda desta população, atividade na qual a demanda está
relacionada fortemente a influência sazonal do fluxo de turistas e pelas crises econômicas,
podendo cessar ou diminuir por estes e vários outros fatores.
Para que se possa diminuir os conflitos socioambientais no Vale do Pati, é
necessário conhecer, reconhecer e dialogar sobre as especificidades referentes às questões
dos parques nacionais quanto das comunidades tradicionais, e aprofundar os estudos
relacionados a esta área do conhecimento, principalmente por ser um momento decisivo no
planejamento e gestão deste território com a formulação do termo de compromisso entre o
parque nacional e a comunidade do Vale do Pati.
REFERÊNCIAS
BAHIA. Superintendência de Estudos Econômicos eSociais (SEI). Imagens RapdEye. Salvador,2009.
BRASIL. DECRETO Nº 91.655, DE 17 DE SETEMBRODE 1985. Publicado no Diário Oficial da União,17 de setembro de 1985. Cria o ParqueNacional da Chapada da Diamantina
BRASIL. DECRETO Nº 6.040, de 7 DE FEVEREIRO DE2007. Publicado no Diário Oficial da União, 08de fevereiro de 2077. Institui a PolíticaNacional de Desenvolvimento Sustentável dosPovos e Comunidades Tradicionais.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. InstitutoChico Mendes de Conservação daBiodiverisdade - ICMBio. Plano de manejo doParque Nacional Da Chapada
Diamantina. Brasília: 2007. Disponível em:<http://www.icmbio.gov.br/portal/biodiversidade/unidades-de-conservacao/biomas-brasileiros/caatinga/unidades-de-conservacao-caatinga/2129-parna-da-chapada-diamantina.html>.Acesso em 05 de fevereiro de 2014.
BRASIL. LEI No 9.985, DE 18 DE JULHO DE 2000.Publicado no Diário Oficial da União, 19 dejulho de 2000. Regulamenta o art. 225, § 1o,incisos I, II, III e VII da Constituição Federal,
institui o Sistema Nacional de Unidades deConservação da Natureza e dá outrasprovidências. Presidência da República CasaCivil Subchefia para Assuntos Jurídicos.
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MAPEAMENTO DO USO DA TERRA NA COMUNIDADE TRADICIONAL DO VALE DO PATI/ PARQUE NACIONAL DA CHAPADA DIAMANTINA – BA
EIXO 6 – Representações cartográficas e geotecnologias nos estudos territoriais e ambientais
RESUMO
No Brasil a criação de Unidades de Conservação da Natureza são estratégias de controle do
território, pois estabelecem limites e dinâmicas de uso e ocupação. Os Parques Nacionais
Brasileiros são unidades de conservação de proteção integral, e muitas vezes sobrepõem seus
limites aos de territórios onde vivem comunidades tradicionais, tornando sua gestão mais
complexa. Comunidades tradicionais impactadas com este processo de criação de unidades de
conservação de uso integral, estão se transformando, em decorrência das novas políticas e
mudanças na gestão de seus territórios. Para que os parques nacionais existentes em
sobreposição aos territórios tradicionais possam diminuir os conflitos e os impactos sobre essas
comunidades, e conseguir planejar e gerir suas unidades, é necessário conhecer e reconhecer as
questões socioambientais dos mesmos. No interior do parque Nacional da Chapada Diamantina –
BA, encontra-se a comunidade tradicional do Vale do Pati. Este estudo visou verificar qual a
dinâmica desta comunidade em relação ao uso da terra, através da produção de um mapa de uso
da terra que pudesse ser utilizado posteriormente pela comunidade, como ferramenta de
planejamento e gestão deste território. Desta forma, com o intuito de contribuir para a organização
social e incentivar esta comunidade tradicional a participar dos processos de planejamento e
gestão territorial, elaborou-se um mapa de uso e cobertura do vale do Pati a partir do
conhecimento tradicional. Foi realizada uma análise documental sobre o histórico e os principais
aspectos de uso da terra no vale do Pati; utilizou-se imagens RapdEye e criou-se um Sistema
Etnográfico de Informações Geográficas (EtnoSIG) com dados oriundos de trabalhos de campo,
entrevistas com a comunidade e etnomapas gerados na comunidade cedidos pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade com sede em Palmeiras. Nos resultados obtidos
verificou-se que a maior área ocupada com agricultura localiza-se no Pati de cima, local onde
encontrou-se a maior incidência de samambaias (Dicranopteris flexuosa (Schrad.) Underw.),
espécie ruderal que neste caso ocorre intensamente em antigas roças e pastagens abandonadas.
Nesta área verificou-se a necessidade de manejo mais ecológico das trilhas e áreas de pastagens,
principalmente por ser a nascente do rio Pati e a área com maior intensidade de atividades mais
recentes, como o fogo e roçados. A topografia é bastante acidentada em todo o perímetro
estudado, e com presença de Floresta Estacional intercalada com agricultura. O mapa identificou
as moradias com seus espaços de uso. Desta forma cruzou-se dados de uso com informações,
sobre o histórico de ocupação, turismo, dentre outras, trazendo a lume importantes informações
que podem subsidiar ações de planejamento, gestão. Desta forma, reunindo dados técnicos e
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informações de participação social, por meio do EtnoSIG, foi possível analisar o contexto
socioambiental da unidade de conservação de forma mais profunda.
Palavras-chave: mapa de uso; mapeamento participativo; comunidade tradicional.
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