maquete ambiental do vale do paraíba - parte 2 - riqueza e história do vale do paraÍba
TRANSCRIPT
Maquete Ambiental do Vale do
Paraíba
2ª Parte
A rica Mata Atlântica do VALE e a sua voraz transformação
desde a colonização até os dias atuais: o “outro lado da
história”... ao longo dos 500 anos
Mata Atlântica
Desde a colonização, um rico bioma ameaçado seja pelo surgimento dos
primeiros povoados, seja pelos ciclos econômicos que marcam a nossa
história: pau-brasil, cana-de-açúcar, ouro, cafeicultura, pecuária, entre outros.
E hoje, a acentuada urbanização continua sendo uma
ameaça!
Mata Atlântica: abrigo de uma intrincada rede de bacias
hidrográficas e entre elas, a do rio Paraíba do Sul. Vem de
seus remanescentes o abastecimento de água para cerca
de 120 milhões de brasileiros (70% da população)
Água e floresta: uma relação vital
Conservação das
florestas: disponibilidade
de água em quantidade
e qualidade
Mapa de apoio:
Domínio original da Mata
Atlântica no Brasil e seus
remanescentes
A Mata Atlântica está
reduzida a menos de 8%
da sua extensão original
Noção geral de ocupação do território Brasileiro-1960
Noção geral de ocupação do território Brasileiro-2000
Num curto espaço de tempo...
Uma enorme “ocupação”
(avanço ao interior do Brasil)
ATENÇÃO À IMAGEM:
Reprodução da página de um livro editado pela MELHORAMENTOS em
1967. E pasme com o nome do livro: “AGRESSÕES AO MEIO AMBIENTE”
História do Vale do Paraíba: e o que isso tem a ver com a
MATA ATLÂNTICA?
Raramente, se aprende nas escolas que o “ouro verde” ( o
café), embora tenha enriquecido economicamente o Vale,
também tenha deixado um verdadeiro cenário de
devastação em nossas florestas. Portanto, resgatar o
passado é uma forma de compreender o presente e nos
atentar para o futuro...
Divisão da história do Vale do Paraíba seguindo a
própria história do Brasil:
Brasil Colônia (1500 - 1822)
Brasil Império (1822 - 1889)
Brasil República (1889 - atualidade)
Brasil Colônia
O ambiente antes da chegada dos colonizadores: a relação
dos índios com o espaço (até 1530)
. Grupos indígenas das famílias lingüísticas tupi e guarani (Maramomi,
Tupiniquim, Guaianá, Tamoio, Goitacaz e Puri).
. Olhar atento dos nativos sobre o meio ambiente e os recursos
naturais existentes.
. Circulação indígena pelas diversas trilhas abertas pelos povos nativos.
. Assentamentos ao longo do rio Paraíba do Sul (uso dos rios como
caminhos).
. Prática da coivara (queima da mata) para cultivos de subsistência
(milho, feijão, mandioca, batata doce).
. Impacto ambiental amenizado pelo regime seminômade dos índios:
possibilidade de regeneração da mata quando uma área era abandonada.
Caminhos indígenas de destaque pelo Vale paulista:
Caminhos de acesso ao Litoral Norte:
- Dos Tamoios (S.J.C, Paraibuna e Caraguá / atual Rodovia dos Tamoios)
- Caminho para o Litoral (Taubaté a Ubatuba /atual Rodovia Oswaldo Cruz)
- Caminho dos Guaianazes (Guará, Cunha, Paraty/ posteriormente será a
Trilha do Ouro)
Caminhos de acesso ao planalto de Minas Gerais:
- Garganta do Embaú (passa por Cruzeiro)
- Garganta do Piragui (passa por Lorena)
- Garganta do Piracuama (passa por Pinda)
- Garganta do Buquira (passa por Monteiro Lobato)
As picadas indígenas formavam uma intrincada rede de
caminhos que possibilitavam a circulação entre a orla e o
interior do continente (sertão): aqui, destaca-se o Caminho
de São Tomé (ligação entre a Costa Atlântica brasileira ao
Paraguai e ao Peru) ou caminho do Peabiru.
Logo, os caminhos do Vale do Paraíba faziam parte de tal
rede.
Entradas, posse e povoamento (1531 - 1700): domínio sobre as
novas terras
. Corrida mercantilista: chegada dos portugueses
ao Brasil ao longo do litoral. São Vicente (1532) é
a referência no litoral paulista e o ponto de partida do
desbravamento.
. De imediato, já se tem a exploração do pau-
brasil: configuração do primeiro ciclo econômico do
período colonial.
. Em 1605, “Regimento do pau-brasil”, que visava
regulamentar a extração mediante gradativa
escassez.
. Fase de expulsão dos nativos: os próprios caminhos indígenas e rios serviram de
porta de entrada aos desbravadores. Detalhe: povoados ganharam nomes religiosos.
. Corrida “sertão” (Brasil adentro) em busca dos minérios: ampliação do território da Colônia,
indo além das feitorias e vilas estabelecidas ao longo do litoral.
. Aldeamentos e vilas em torno de São Paulo (1554), no Planalto do Piratininga, orientaram
os caminhos por onde penetraram as primeiras Entradas e Bandeiras.
. No Vale, os primeiros povoados fundados se situam na parte sul do rio Paraíba.
. Estabelecimento de uma rede de núcleos de povoamento baseados na
economia de subsistência.
. Taubaté, elevada à vila em 1645, torna-se importante centro irradiador de
novos povoamentos na região do Vale e ponto de partida das bandeiras
em busca de minérios.
. Descoberta do ouro em Minas Gerais, em 1693: fato que marcará o Vale
do Paraíba, dinamizará sua economia e transformará a paisagem.
O ciclo do ouro e a introdução cafeeira (1700 - 1822): a mata,
vista como um obstáculo, cede passagem aos novos caminhos
. O Vale do Paraíba se torna área de abastecimento agrícola e via de
passagem aos bandeirantes rumo às Minas Gerais. Logo, a agricultura não é
mais de subsistência.
. Cruzavam o Vale desde o sal, trazido da costa marítima, até as mulas (criadas
nos pampas gaúchos e depois comercializadas nas feiras de Sorocaba):
“euforismo econômico” e surgimento do tropeirismo.
. Circulam pelo Vale do Paraíba rotas legais e ilegais de escoamento do ouro
até a chegada do minério aos portos: enorme ampliação da rede de caminhos
transversais (cruzando as serras do Mar e da Mantiqueira) e conseqüente
transformação da paisagem.
. Taubaté, em 1701, ganha a casa de Fundição Real (cobrança do “quinto” pela
Coroa) e, em 1704, a casa é transferida para Paraty, principal porto para o
escoamento do ouro.
. São dessa época expressões como
“Santinho do pau oco” e “Vá pros quintos
dos infernos”.
. 1725: inicia-se a abertura do Caminho Novo da Piedade (Lorena) que liga o Vale do
Paraíba ao Rio de Janeiro por terra (sua consolidação se deu em 1778). A economia
valeparaibana paulista entra em declínio devido à própria exaustão das minas e em
função do novo caminho fluminense-mineiro.
. Embora tenha havido um incremento do cultivo da cana-de-açúcar na região, não se
chegou a configurar um ciclo econômico expressivo. Mas, ainda assim, houve
desmatamentos de grandes áreas para tal cultivo.
. Areias e Bananal (na última década do século XVIII) recebem as primeiras mudas de
café: início da derrubada da Mata Atlântica em enorme escala. O café adentrou o vale
paulista justamente pelo “Caminho Novo”.
Brasil ImpérioCafeicultura, ferrovia e pecuária (1822 -1889) : num curto
espaço de tempo, a imensa derrubada da floresta
. Derrubada de vastas áreas de vegetação nativa para o cultivo do café:
queda da fertilidade do solo e desenvolvimento de processos erosivos
devido às técnicas agrícolas impróprias (terras entre 600m e 1000m).
. Surgem mais povoados em todo o Vale do Paraíba, ocasionando
aumento populacional e uma série de mudanças políticas e sociais por
conta do ciclo do café.
. O “Ouro verde” (café) representou a enorme prosperidade dos barões.
. Mão-de-obra escrava nas lavouras de café
do Vale do Paraíba, lembrando que os “negros” eram sinônimos de
verdadeiras comercializações, isto é, eram “investimentos” dos barões.
. Conclusão da Estrada de Ferro Central do
Brasil em 1877 (iniciada em 1855) e modernização das cidades ao
longo do eixo ferroviário.
. A partir de 1880, o café começa a declinar devido ao esgotamento
das terras, abolição da escravatura (1888), concorrência com o oeste
paulista e declínio dos preços internacionais.
. As cidades fora do eixo ferroviário começam a declinar
economicamente (serão as “cidades mortas” de Monteiro Lobato - “Ali
tudo foi,nada é”).
. Substituição gradativa das lavouras decadentes de café pelas
pastagens intensificando o processo de derrubada da Mata Atlântica.
A mata, vista
como obstáculo,
foi derrubada
para...
Plantar e secar o
café
Construir a ferrovia e
fazer andar os vagões
Ampliar
as áreas
para a
pastagem
do gado
Em média, uma locomotiva gastava 1m³ de lenha para percorrer 10 km
Dados interessantes por conta do ciclo cafeeiro:
• Em 1840, a produção rural do Vale do Paraíba já representava 37% da
produção estadual paulista, beneficiando-se pelo cultivo do café com
80% da produção. No entanto, em 1920, a produção agrícola do Vale
constituiu-se em apenas 5% da produção estadual paulista.
• Areias foi um município de total destaque na exportação cafeeira e, em
1836, ocupava o segundo lugar em população no Vale (9.469
habitantes). Taubaté era o mais populoso (11.833 hab). Outros
municípios de destaque da produção cafeeira: Bananal, Jacareí,
Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá e Caçapava.
• Com relação à mão-de-obra escrava: em 1888 a população do Vale do
Paraíba atingia cerca de 340 mil habitantes e destes, 150 mil eram
escravos.
Dados relativos à produção:
1836 – municípios e produção em arrobas
1º. Areias – 102797
2º. Bananal – 64822
3º. Pinda – 62628
4º. Jacareí – 54004
5º. Lorena – 33649
1854 – municípios e produção em arrobas
1º. Bananal – 554600
2º. Areias – 386094
3º. Taubaté – 354730
4º. Pinda – 350000
5º. Jacareí – 240010
Fonte: texto de Francisco Sodero Toledo, “Cafeicultores e Conservadorismo no
Vale do Paraíba”
Alguns exemplos de casarões dos tempos cafeeiros
Mobília e acessórios europeus:
ostentação européia no “jeito”
brasileiro
O casarão bem distante da mata
Nos tempos cafeeiros, para a edificação dos
suntuosos casarões a matéria-prima vinha
da própria mata ao redor: pedras, terra,
madeira: consolidação de uma época e de
uma arquitetura que marca o Vale do
Paraíba
Imagens da Serra da Bocaina onde é possível constatar o avanço desenfreado
do desmatamento no século XIX e princípios do século XX. Em vários locais, se
vê a MATA de forma FRAGMENTADA
Brasil República
Primeira industrialização
(1889 - 1950)
Momento marcado pelo misto de atividades econômicas na
região: café (menos expressivo), pecuária leiteira, agricultura na
várzea e industrialização (fase inicial).
. A cultura cafeeira, mesmo em processo de decadência, se estendeu até
o “mar de morros” e algumas escarpas da Serra da Mantiqueira
comprometendo a cobertura vegetal. Com isso, desequilíbrio da flora, da
fauna , entre outros danos ambientais.
. Com a pecuária subitamente substituindo a cafeicultura, os solos se
degradaram ainda mais, prejudicando a permeabilidade das águas das
chuvas e colaborando com os assoreamentos, erosões e futuras voçorocas.
Áreas tipicamente impactadas
devido à remoção da MATA
somada ao desgaste do solo...
É o tal efeito “cascata” dos
problemas ambientais ...
Um dano ocasiona outro dano e
assim por diante...
Típica paisagem com os morros “pelados”: isso revela o
quanto a cafeicultura e a pecuária avançaram pela região
“O maior desastre ecológico do Brasil foi a desnudação da
cobertura florestal nas áreas que envolvem as colinas do Médio
Vale no Alto Vale do Paraíba e na região que precede as escarpas da
Serra da Mantiqueira: foi um desastre conhecido no mundo inteiro e
citado pelos especialistas do mundo inteiro. Perdeu-se o
solo,perderam-se os mananciais, porque os grotões também
tiveram suas matas retiradas”.
Por Ab´Saber (em palestra ministrada na UNIVAP, em 1998)
. A ocupação da várzea para os cultivos agrícolas com destaque à
rizicultura (cultivo de arroz) atrai muitos migrantes europeus.
. As primeiras indústrias são têxteis, cerâmicas, alimentícias e de laticínios
(oriundas da pecuária leiteira). O Vale vai se fortalecendo no pólo São Paulo-
Rio e conta com facilidades no escoamento: ferrovia e nova estrada.
. Construção da Estrada dos Tamoios, 1922, e da Estrada Velha, 1928,
ligando o Rio de Janeiro a São Paulo: início do ciclo rodoviário que, aliás,
predomina no Brasil uma vez que o “transporte sobre trilhos” foi abandonado.
Segunda industrialização
(1950 – dias atuais)
. A inauguração da Rodovia Presidente Dutra, 1951, é o grande marco revolucionário da
região. Seu traçado reto encurtou a distância entre São Paulo-Rio em cerca de 100 km.
. Instalação de empresas automobilísticas, metalúrgicas e petroquímicas com fortes
incentivos do próprio governo federal, principalmente em S.J.C que se configurou como um
centro aeronáutico, aeroespacial e bélico.
Fatores que motivaram a instalação de
indústrias na região:
• Proximidade dos grandes
centros Rio e São Paulo;
• Via Dutra (facilidade no
escoamento dos produtos);
• Região plana do médio Vale;
• Rio Paraíba do Sul: água para a
produção industrial e local de despejo dos efluentes.
Lembrando que o rio Paraíba do Sul, naturalmente, provocava as
inundações ao longo de sua planície aluvial (calha do Vale) o que foi
feito para que as cidades pudessem “se esparramar”?
Veio a construção das barragens de Santa Branca (1955), Paraibuna
(1978) e Jaguari (1973) para controle da vazão do rio Paraíba:
ocupação urbana da área de várzea e conseqüente geração de
energia elétrica.
Rep. de Paraibuna Rep. de Santa Branca
Rep. do Jaguari
Forte aspecto responsável por uma
série de problemas socioambientais
posteriores:
Aumento do êxodo rural e aceleração do
processo de urbanização: crescimento desordenado das manchas urbanas
Intensificação da extração de areia ao longo da várzea do rio Paraíba:
esta que já vinha atendendo ao setor da construção civil em São Paulo,
passou também a atender às fortes demandas para a urbanização do Vale.
Conseqüência do acúmulo das transformações ambientais, no
VALE, ao longo dos séculos:
Houve o aumento dos impactos atingindo a ÁGUA, o solo e o ar,
uma vez que o crescimento populacional explodiu e a urbanização
se desenrolou de forma desordenada descaracterizando também a
cultura de inúmeros municípios
Dados sobre a explosão populacional (porção
paulista do Vale, segundo IBGE, 2000):
• Em 1980: 977 mil habitantes
• Final do século XX: 1.767.454 habitantes
Com relação à população e abastecimento na BACIA do Rio Paraíba do Sul
Total de municípios da BACIA : 180
• Estado de SP: 39 (população de 1,8 milhões)
• Estado do RJ: 53 (população de 2,2 milhões)
• Estado de MG: 88 (população de 1,2 milhões)
Portanto total de 5,2 milhões de pessoas
Mas deve-se destacar que além dos 5,2 milhões de habitantes, o rio Paraíba
do Sul abastece ainda (por transposição de águas / rio Guandu), a região
metropolitana do Rio de Janeiro com que soma cerca de 11 milhões de
habitantes.
Fonte: CEIVAP e IBGE, 2005
SANEAMENTO BÁSICO NA BACIA
A situação de degradação é crítica:
•1 bilhão de litros de esgotos domésticos (praticamente sem tratamento) são
despejados diariamente nos rios da bacia do Paraíba.
•No território paulista, 81% da população urbana são atendidos por redes de esgoto,
nos territórios mineiros e fluminenses, menos da metade o são.
•A questão do tratamento deste esgoto é crítica nos três estados: 10,4% do esgoto
urbano são tratados em São Paulo, somente 2% no estado do Rio e ainda menos em
Minas Gerais.
Fonte: Fundação
COPPETEC, 2001 – em
www.ceivap.org.br
E é o esgoto doméstico o grande vilão:
Da carga poluidora total da Bacia, 86% deriva dos
efluentes domésticos e 14% dos industriais
Plantas aquáticas (devido ao excesso de matéria orgânica // esgoto) vão fechando o rio em alguns trechos e até derrubam pontes
PASME :
Segundo dados do
Sistema Único de Saúde
(SUS), a cada R$1,00
investido em saneamento,
as cidades economizariam
R$5,00 em medicina
curativa da rede de
hospitais e ambulatórios
públicos
ORIGEM DO MATERIAL:
Este material foi criado por Federica Giovanna Fochesato para a realização
da FORMAÇÃO “MAQUETE AMBIENTAL DO VALE DO PARAÍBA” para
professores da Rede Municipal de Ensino (SJCampos), em agosto de
2010.
Autoria das imagens:
• Maior parte – Federica G.Fochesato
• Arquivos ONG Vale Verde
• Ana Celina Tiburcio
• Arquivos de domínio público na internet
• Sonia Bueno Affonso
PEDE-SE O BOM SENSO DE CITAR A FONTE DE ORIGEM
EM CASO DE UTILIZAÇÃO