marcelo magalhães ● israel, a igreja e o pentecoste [algumas páginas]

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A festividade judaica e seus simbolismos, o derramamento de Espírito Santo na Igreja Primeva e a atualidade nas modernas denominações cristãs. O autor revê práticas ligadas a movimentos pentecostais e neopentecostais, como aquelas consideradas entusiastas e exacerbadas. Destaca a amplitude do tema e as polêmicas relacionadas à dramaticidade dos cultos, às teologias denominacionalistas e às formas de interpretações isoladas da Bíblia.

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Marcelo M. Magalhães

A festividade judaica e seus simbolismos, o derramamento de Espírito Santo na Igreja Primeva e a atualidade nas modernas denominações cristãs

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SÃO PAULO 2012

Page 4: Marcelo Magalhães ● Israel, a Igreja e o Pentecoste [algumas páginas]

Al. Araguaia, 2190 - 11º andar - Conj. 1112CEP 06455-000 - Barueri - SP

Tel. (11) 2321-5080 – Fax (11) 2321-5099www.editoraagape.com.br

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Dedicatória .................................................................. 7

Agradecimentos .............................................................9

Abreviaturas ................................................................11

Introdução ..................................................................13

1. O pentecoste judaico ...............................................17

2. Os signi0cados de pentecoste ..................................25

3. O pentecoste e a Igreja primeva ...............................33

4. O objetivo do falar em línguas em pentecoste ..........47

5. Dos Judeus para outros povos ..................................53

6. Paulo e os excessos na Igreja de corinto ....................65

7. Contradições atuais do pentecoste ...........................71

8. Avivamento e reavivamento .....................................97

9. Aprendendo com o pentecoste ...............................111

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10. Ser ou não ser pentecostal, falar ou não em línguas .................................................................121

11. Considerações 0nais: uma re1exão ...........................129

12. Bibliogra0a ..........................................................137

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As páginas que se seguem são frutos de pesquisas e observações acerca do processo histórico de Pentecoste como festividade judaica, dos fenômenos ocorridos na Igreja primitiva, registrado no livro de Atos e os sig-nificados para os dias atuais. No decorrer da obra são expostas ações encontradas em certos movimentos pen-tecostais e neopentecostais como práticas entusiastas e exacerbadas.

Reconhecemos a amplitude do tema aqui desenvol-vido e sujeição a polêmicas que podem surgir por causa da dramaticidade, usos e costumes, teologias denominaciona-listas e formas de interpretações isoladas da Bíblia.

Nesta obra não se pretende fazer apologia ao pente-costalismo, o falar em línguas, desenvolver temáticas sobre dons espirituais, frutos do espírito etc. Nem tão pouco, cri-ticar as denominações pentecostais e não pentecostais, os tidos como tradicionais ou conservadores, pois há muitas obras nas livrarias defendendo os variados pontos de vista

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e doutrinas estabelecidas por diferentes correntes teológicas denominacionais.

O trabalho aqui desenvolvido é produto de análises culturais e exegéticas bíblicas, abrangendo a etimologia dos termos tanto da língua hebraica e grega, de pesquisas a vá-rios teóricos de diferentes denominações religiosas e outras vertentes. São transcritas palavras do hebraico e grego, pri-meiramente sua transliteração, seguidas de sua escrita ori-ginal nas notas de rodapé. As transliterações usadas, princi-palmente no que diz respeito ao hebraico, seguem o sistema fonético Luso-brasileiro do professor David José Peres e do professor Moses Bem-Sabat Amzalak facilitando a compre-ensão daqueles que não conhecem o idioma hebreu.

Como festividade, encontramos no Pentecoste vários signi0cados e símbolos com aplicações tanto na área espi-ritual como cultural seja no judaísmo ou cristianismo, que durante o festival a Igreja recebe o derramar do Espírito Santo e toma impulso, revelando ao mundo o verdadeiro ensinamento de Cristo.

O Pentecoste, dentre outras festas, com o passar dos séculos perdeu sua originalidade em algumas denomina-ções religiosas e o que mais chama a atenção na atualida-de, é o surgimento de alguns movimentos religiosos com teologias próprias, usos e costumes para justi0car seus en-sinamentos. Impõem ideologias e propostas de reformas que têm abalado a cabeça de muita gente. Usam do fato

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ocorrido na Igreja primitiva no dia de Pentecoste para justi0car sua mensagem e atitudes tidas como reveladoras e poderosas.

Muitas pessoas desavisadas e por falta de compre-ensão do que foi e é o Pentecoste, são levadas por vários motivos na busca de soluções para problemas ou mesmo curiosidades acerca do futuro. Vimos manipulações de gente desprovida da devida maturidade teológico espiritual que induzem outras da mesma forma como são induzidas ovelhas sem pastor ou pasto.

Infelizmente, ocorrem abusos e fenômenos tidos como espirituais nos cultos, promovidos por pessoas e re-ceptadas por aquelas sem discernimento do que é o verda-deiro Pentecoste.

Modernamente, muitos cristãos convivem com a 0-loso0a pós-modernista e a visão de mundo e Evangelho é fragmentada frente ao capitalismo que se insere no meio religioso evangélico. O materialismo é buscado median-te pedidos de bênçãos e vê-se no meio cristão a crescente vontade da prosperidade e do consumo. Denominações se especializam em buscar bênçãos e a graça é comercializada, tornado-se uma mercadoria, baseada em técnicas de marke-ting e estratégias empresariais.

Relembramos mais uma vez que neste trabalho, propõe-se uma análise histórica do pentecoste originário da religião israelita, os acontecimentos ocorridos na Igreja

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Primitiva, seus simbolismo e críticas a certos movimentos modernos de restauração. E analisados os abusos manipu-lativos, desenvolvendo uma visão crítica sobre o assunto, procurando levar ao leitor o verdadeiro sentido didático, para aplicação tanto na vida espiritual como temporal.

Diante destes fatos, é proposta uma “re1exão” sobre nossas ações e práticas tomadas no cotidiano, nas relações com o próximo, na Igreja, isso inclui a Bíblia, a prática ética do evangelho, a vontade de desempenhar a obra de Deus com moral, isso é: decência.

Ser representante de Cristo é ser uma pessoa de cará-ter. O propósito da igreja individual e coletiva é de honrar e bendizer o nome do Eterno, e que o nosso corpo seja o verdadeiro templo do Espírito Santo, com os mesmos prin-cípios e atitudes da Igreja no dia de Pentecoste.

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O Pentecoste é uma festividade judaica muito alegre, também celebrada pelos cristãos. Cada uma destas religiões tem sua maneira de festejar aplicando vários signi0cados, estes, incorporados com o passar do tempo, in1uenciados pelas mudanças culturais, 0losó0cas e fatos históricos que aconteceram no decorrer dos séculos.

Os judeus não gostam de usar o termo “Pentecoste” por se tratar de uma palavra grega. Chamam-na de Xavu’ot1 que no hebraico signi0ca “semanas”.

Originalmente, a festividade de Pentecoste era cha-mada de “festa da Sega” ou “festa das Primícias”. Era cele-brada no momento em que se colhiam os primeiros frutos do trigo. Sua prática bíblica é a observação como manda-mento do Senhor (Êx 23:16; 34:22).

Nos tempos posteriores ao êxodo, foi chamada de “Festa das Semanas”, isto por causa da contagem de sete

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semanas a partir da colheita da cevada, no quinquagésimo dia era feita a oferta de cereais ao Senhor (Lv 23:16), daí a origem do termo Pentecoste, que no grego signi0ca “quin-quagésimo”.

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A comemoração de Pentecoste, historicamente, é de origem anterior ao cativeiro egípcio, tratando-se de uma festividade relacionada com a agricultura entre alguns povos no Oriente Próximo. Os povos cananeus, por exemplo, festejavam suas colheitas com grandes cultos da fertilida-de, invocando seus deuses e a comemoração era feita com grande fartura de carnes, sacrifícios cruentos, bebidas, cul-tos eróticos e adorações aos seus deuses da providência.

O povo de Israel, com um culto diferenciado dos po-vos pagãos, também agradecia a Deus pelas colheitas e cha-mava esta ocasião de Hag Habicurim que signi0ca “festa das primícias” relativa à colheita dos frutos e cereais (Êx 23:16; 34:22; Nm 13:20). Nessa ocasião o povo trazia os bicurim (primeiros frutos) e entregavam ao Cohen (Sacerdote) no Templo para ofertarem ao Senhor durante o feriado. Esta festa era uma das mais importantes no ano, reconhecida também como “Festa do Senhor” (Lv 23:39).

O povo israelita louvava a Deus pela Terra prometida e pelos produtos que nela eram produzidos. Nesse tempo eram produzidas sete espécies, sendo Israel chamada de terra

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de trigo, cevada, videiras, 0gueiras, romãzeiras, azeite de oliva e mel (Dt 8:8).

Sua contagem era feita depois da colheita da cevada e da festa da Páscoa, que é a festa da libertação do povo hebreu da escravidão egípcia. Xavu’ot (Pentecoste) também era conhecida como a festa de santa convocação, na qual nenhum trabalho poderia ser feito (Lv 23:21), a não ser os sacerdotais e o culto ao Senhor.

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Após o assentamento do povo de Israel em Canaã e a construção do Templo de Jerusalém, Pentecoste tornou-se uma importante festa de peregrinação anual, a segun-da, juntamente com mais duas: a Festa dos Pães Ázimos e Tabernáculos (Dt 16:16). Judeus de outras localidades, da diáspora e turistas de diversas partes vinham a Jerusalém para o festival de Pentecoste. Traziam consigo oferendas da colheita dos primeiros frutos para ofertarem no Templo. Natan Ausubel relata o seguinte:

“Os que vinham de aldeias próximas traziam oferendas de 0-gos e uvas frescas. Porém, os que vinham de pontos distantes traziam 0gos e passas ressequidas. A procissão serpenteava pe-las colinas que davam acesso a Jerusalém, precedida por um boi, festivamente adornado: seus chifres eram recobertos de ouro, e uma coroa de folhas de oliveira encimava-lhe a cabeça. Os peregrinos traziam esse animal para um sacrifício no altar

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do Templo. Ao longo do caminho para Jerusalém, o chalil (a 1auta de dois tubos) soava alegremente. Nos portões da cidade, a procissão detinha-se, e os peregrinos eram recebidos pelos sacerdotes, que os conduziam com cerimônias ao inte-rior do Templo em meio ao som das 1autas2”.

No livro de Levítico (23: 9-25), encontramos as ob-servações acerca deste festival como santa convocação para adoração a Deus. Era feito com ofertas do ômer (feixe), ou dois pães feitos de farinha de trigo nova, sem fermento, e o holocausto na qual o sacerdote fazia uma inspeção visual minuciosa para ver se as ofertas estavam dentro dos confor-mes descritos na lei (Nm 28: 25-31).

No momento da oferta os sacerdotes moviam-nos ri-tualmente de um lado a outro recitando orações apropria-das apresentando-as perante o Senhor. Uns eram oferecidos para o perdão de pecado e outros para a participação do povo. Após estes atos, os pães, os cordeiros e os frutos eram repartidos e comidos pelos sacerdotes.

Os judeus menos favorecidos economicamente e os que vinham de regiões distantes podiam participar desta festividade e prestar suas ofertas, recolhendo as sobras da colheita que os agricultores deixavam, cumprindo assim, o mandamento de Levítico 23:22. Esta festividade era de caráter “interpessoal” e requeria uma qualidade de nobreza,

2 N. AULSUBEL, Conhecimento judaico II, v. 6, p.777-778. In: Judaica.

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benevolência e hospitalidade, diferente da Páscoa3 que é exclusiva e fechada à família judaica.

Na ocasião da festividade a alegria era contagiante, onde todos se regozijavam, com músicas, danças, se deli-ciando com os produtos das colheitas e as ofertas ao templo. Agradeciam a Deus pelas colheitas e davam continuidade da festa de sua libertação do cativeiro egípcio. Neste as-pecto, Xavu’ot é a continuação da Páscoa, como festa da liberdade do povo hebreu.

Como festa de peregrinação, Xavu’ot simbolizava a união com os judeus da diáspora, à sua terra e a religião, relembrando seu passado glorioso e os feitos de Deus para com eles e fortalecendo sua esperança no Messias.

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Após a guerra da Judeia e a destruição do segundo Templo no ano 70 d.C. pelos romanos, a festa de xavu’ôt (Pentecoste) passou a ser celebrada nas sinagogas. Elas são enfeitadas de forma bastante alegre com muitas 1ores e diversas plantas tipi0cando o Monte Sinai quando foram entregues os Dez Mandamentos a Moisés e a toda congre-gação de Israel.

Na festividade, como continuação da Páscoa, poste-riormente, foi incorporada pelos rabinos judeus, à doação

3 Cf. M. MAGALHÃES: Páscoa: no judaísmo e cristianismo.

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dos Dez Mandamentos, à Aliança feita no Sinai e à Lei (Êx 19 e 20). O termo hebraico para Lei é Torá 4 e também de-signa “ensinamento” (também é referência as cinco livros de Moisés, chamado pelos cristãos de Pentateuco). No judaís-mo, a Torá é a revelação da vontade de Deus ao seu povo, para ser observada e guardada como estatuto perpétuo.

De acordo com as tradições judaicas, os arranjos 1orais nas sinagogas representam a transformação que ocorreu no Sinai que, de um lugar seco e desértico passou a ser cheio de plantas e 1ores pelo poder de Deus ali manifes-tados, isso diante de Moisés e todo povo de Israel presente5.

Nos cultos judaicos são lidos o Decálogo, pois foram doados por Deus ao seu povo e o Livro (Rolo) de Rute. O objetivo de se ler o rolo de Rute é que sua história se de-senvolveu na época de xavu’ot. Em Israel, como nos relata o primeiro capítulo do livro de Rute, houve um período de seca e fome e a família de Elimeleque, mudou para a região de Moabe. Com o passar dos anos, se casaram com as mulheres de Moabe. O tempo passou e Elimeleque e seus 0lhos morreram. Noemi, mulher de Elimeleque, re-solveu voltar para sua terra natal e Rute, sua nora, resolveu acompanhá-la e disse-lhe: O teu povo será o meu povo e o teu Deus será o meu Deus! (Rt 1:16).

4 5 A. UNTERMAN, Dicionário judaico de lendas e tradições, p. 240.

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Com a atitude e Rute, Noemi chegou a Judeia próxi-ma ao período da colheita. Eram mulheres viúvas e neces-sitadas, e foram colher as sobras do trigo no campo. Boaz, um homem da família de Elimeleque viu Rute, com seu comportamento e postura contraiu matrimônio, tornan-do-se bisavós do rei Davi.

Rute é lembrada por sua decisão; que deixou os deuses pagãos, aceitando o povo de Israel como o seu povo e para adorar ao Deus de Jacó, tornando seu Deus (Rt 1:16).

Os judeus observantes contam ritualisticamente os dias e cada semana de xavu‘ot, todas pronunciadas com uma oração apropriada. A contagem deste dia passou a ser conhecida como “se!rat haomer” ou simplesmente “se!rá” (contagem) ou “omer” (feixe de espigas). Este fato é devido ao oferecimento do feixe de cevada no Templo que era levado no segundo dia da Páscoa, iniciando assim a contagem das sete semanas até chegar ao quinquagésimo dia.

Atualmente, nos Mochaves e Kibutsim em Israel, os agricultores praticantes do judaísmo festejam de forma ale-gre e festiva Xavu’ot. Trazem os primeiros frutos de suas colheitas. Como faziam na antiguidade, cantam e dançam músicas folclóricas e religiosas, trazem frutas, vegetais, ani-mais, produtos industrializados nas colônias e fazendas e até mesmo bebês que são apresentados à multidão. Testi-0cam as comunidades judias, as bênçãos que Deus deu a todos os agricultores, mostrando-as ao público como prova do que Deus fez, agradecendo assim as colheitas e pedindo mais bênçãos para as posteriores.

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