marcio barreto
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Para ser alguém não é necessário ser o melhor na escola, na universidade. É saber como funcionam as emoções humanas, como adotar estratégias para uma vida de acordo ao que se busca. Ser alguém é conhecer a si mesmo(a) para conhecer aos demais. Ser alguém é saber buscar resultados por meio de acoes diferenciadas. Ser alguém não é viver perguntando por quê, mas para quê.TRANSCRIPT
Márcio Barreto
1
Márcio Barreto
MANUAL PARA
SER ALGUÉM Sem precisar passar na prova
Manual para ser alguém
2
Barreto, Márcio
Manual para ser alguém
ISBN: 978-956-402-922-1
Técnicas de Autoajuda
Copyright © 2021 by Marcio Barreto
Registro de propriedade intelectual n°2021-A-1546
Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, no todo ou em parte, sem autorização prévia por escrito do autor, sejam quais forem os meios
empregados.
Fonte do texto: Palatino Linotype 10
Design de capa: Márcio e Giuliana Barreto
Contato direto com o autor
e-mail: [email protected]
Luz do Oriente
Márcio Barreto
3
Agradecimento
Escrever um livro requer assunto, vontade, inspiração e a parte
mais importante, que é o talento para executar o trabalho. Se temos o
assunto e não temos os demais atributos, nada acontece.
Contudo, há algo muito importante neste processo, o que eu
considero ser uma mola que nos lança para cima e para frente, o que
nos faz sentir que realmente podemos fazer isto, que podemos chegar
até o fim e ver a própria obra publicada. A este importante atributo, eu
denomino motivação.
Ela pode vir de alguém, de uma pessoa que vê em nós, aquilo que
nós mesmos não podemos ver. No meu caso, quem me motivou a
escrever este livro, foi a mulher que Deus me designou como um
instrumento de muitas motivações. Muito caminhei, graças ao amor
incondicional dela por mim.
Para escrever um livro é necessário ter paz, ambiente sereno,
apropriado para absorver a inspiração; e a minha querida esposa me
possibilitou essas muitas horas tranquilas para que esta obra pudesse
se materializar. A Rita de Cássia, eu agradeço por ser uma fonte de
motivação inesgotável nesta minha presente vida.
Também sou imensamente grato ao Criador do Universo, a causa
primária de todas as coisas. Ele me proporcionou, além dessa alma
bendita que é a minha esposa, talento para transcrever o que borbulha
em minha mente. Nada seria possível, se não fosse por permissão do
Arquiteto do universo.
Sou grato, igualmente, a todos os momentos dolorosos, a todas as
subidas íngremes, a todas as portas fechadas e a todas as pessoas que
me fizeram crescer, seja pelo amor ou pela dor. Hoje, vejo claramente
que tudo o que enfrentei, foi apenas uma aquisição de material de vida
para que eu pudesse utilizá-lo ao escrever esta obra; pois que aqui,
expresso muito mais que teorias, nele estão as minhas referências
pessoais, tudo o que me ajudou a ser quem sou hoje. Ainda sigo em
constante processo de amadurecimento, e esta obra é parte deste
processo; outras estão por vir.
Manual para ser alguém
4
Dedicado ao amor imenso que sinto pelos mestres que vieram a
este planeta, pessoalmente, com a intenção de nos mostrar o caminho
do autoconhecimento.
À minha família que trabalhou neste livro. Giuliana, Catarina e em
especial, quem por muitas vezes insistiu para que eu escrevesse estas
linhas. Ela que me incentivou, motivou e acreditou muito em mim.
Tem sido nesta encarnação, um grande pilar de inteligência emocional
e sentimental para mim: a minha querida esposa e amiga.
E aos seres de luz, que sempre estão presentes em todos os
momentos nessa minha presente existência.
“Quanto mais nos elevamos, menores parecemos aos olhos daqueles que
não sabem voar”. Friedrich Nietzsche
Márcio Barreto
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Índice
AGRADECIMENTO _______________________________________ 3
PREFÁCIO ______________________________________________ 9
INTRODUÇÃO __________________________________________ 12
CAPÍTULO 1 ____________________________________________ 17
A SOMBRA ____________________________________________ 17
CAPÍTULO 2 ____________________________________________ 20
A APRENDIZAGEM E O CONHECIMENTO ____________________ 20
CAPÍTULO 3 ____________________________________________ 26
SER, FAZER OU TER? ____________________________________ 26
CAPÍTULO 4 ___________________________________________ 32
A REALIDADE __________________________________________ 32
CAPÍTULO 5 ____________________________________________ 35
O JULGAMENTO ________________________________________ 35
CAPÍTULO 6 ___________________________________________40
O COMPROMISSO ______________________________________40
CAPÍTULO 7 ____________________________________________46
A COMUNICAÇÃO_______________________________________46
Manual para ser alguém
6
CAPÍTULO 8 ___________________________________________ 50
AS DECLARAÇÕES ______________________________________ 50
CAPÍTULO 9 ___________________________________________ 56
O PODER DO SABER _____________________________________ 56
Saber Perdoar ____________________________________________ 61
Saber Amar ______________________________________________ 63
Saber Agradecer __________________________________________ 64
Ter Coragem _____________________________________________ 65
CAPÍTULO 10 ___________________________________________ 67
PEDIR, OFERECER E PROMETER ___________________________ 67
CAPÍTULO 11 ___________________________________________ 73
A ESCUTA _____________________________________________ 73
CAPÍTULO 12 ___________________________________________ 79
A CONFIANÇA __________________________________________ 79
CAPÍTULO 13 ___________________________________________ 84
AS EMOÇÕES __________________________________________ 84
CAPÍTULO 14 ___________________________________________ 91
A RAIVA ______________________________________________ 91
CAPÍTULO 15 ___________________________________________ 95
A EXIGÊNCIA ___________________________________________ 95
Márcio Barreto
7
CAPÍTULO 16 ___________________________________________ 99
O MEDO ______________________________________________ 99
CAPÍTULO 17 __________________________________________ 105
A CULPA _____________________________________________ 105
CAPÍTULO 18 __________________________________________ 110
O BASTA _____________________________________________ 110
CAPÍTULO 19 __________________________________________ 115
AS QUATRO DISPOSIÇÕES ______________________________ 115
A Determinação __________________________________________ 117
A Estabilidade ____________________________________________ 118
A Flexibilidade ___________________________________________ 120
A Abertura ______________________________________________ 121
Equilibrando As Disposições ________________________________ 122
CAPÍTULO 20 _________________________________________ 125
COMEÇANDO A TRANSFORMAÇÃO _______________________ 125
Manual para ser alguém
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Márcio Barreto
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Prefácio
A busca pelo autoconhecimento tem sido estimulada por
numerosos mestres que pisaram em diversos países deste
planeta. Cada um trouxe seus métodos, de acordo ao contexto social
no qual esteve inserido. Portanto, foram muitos os caminhos revelados
para que a humanidade pudesse escolher um ou mais, e proporcionar
um encontro com ela mesma. No entanto, apesar de tanta revelação,
ainda estamos peregrinando pelas estradas do sofrimento, porque
preferimos escutar que ter é muito melhor do que ser.
Nós, há muitos séculos, alimentados pelo idealismo do consumo,
estamos conquistando inúmeras maneiras de sofrer, por meio de dores
diversas, muitas delas imaginárias; assim, deixamos de lado o mundo
mais precioso que possuímos: o mundo interior. Por isso, as dores que
sentimos estão muito mais relacionadas às da alma.
Existem diversas metodologias que nos ajudam a encontrar e a
explorar este mundo que nos habita. O que existe de comum entre elas,
é o meio indispensável pelo qual podemos encontrar o nosso real eu: o
estudo. Mas para se estudar é necessário encontrar quem esteja
disposto a ensinar e também, encontrar quem esteja com vontade de
aprender.
Existem muitas pessoas que tiveram a oportunidade de aprender, e
hoje, infelizmente, fazem das suas metodologias de ajuda, uma fábrica
de sonho para quem quer a obtenção de fortuna; ou seja, preferem
estimular, no ser humano que quer se descobrir, o fomento pelo
autoconhecimento com o propósito de conquistar a “liberdade
financeira”. Não nego que ter a liberdade financeira é excelente,
sobretudo num país como o Brasil, que enfrenta uma das suas piores
crises econômicas e sociais de sua história, porém, temos visto que, em
diversas partes do mundo, há bastante sofrimento nos “libertos
financeiros”. O vazio existencial os preenche, já que se não houver
metas, propósitos ou ideais de vida que realmente justifiquem ter a
liberdade financeira, sempre existirá um fantasma da insatisfação os
perseguindo frequentemente.
Manual para ser alguém
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O mundo atual nos pede ponderação, interação, apoio mútuo e
ajuda humanitária para haver mais justiça neste planeta, onde existem
seres primitivos e robôs quase que vivendo lado a lado.
O mais controverso nesse paradoxo, é ver que as maiores de taxas
de suicídios no mundo estão nos países da tecnologia avançada e não,
naqueles ainda existe quem saia para buscar a sua comida com arco e
flecha nas mãos. O que está acontecendo, então?
O mundo exterior é como a humanidade o vê, e continuará sendo
até que as pessoas comecem a entender que ele será sempre o resultado
do mundo interior que habita cada um de nós. Portanto, é necessário
reestruturar a nossa forma de buscar a liberdade financeira, pelo
princípio do despertar, em primeiro lugar, do ser humano que somos;
em segundo lugar, do ser empreendedor que poderemos ser para
colaborar com um mundo melhor.
Ser rico não é só ter muito dinheiro, o que acaba em curto espaço de
tempo se não houver quem o multiplique pelo meio da inteligência e
do trabalho. É necessário ter o dom, a visão empreendedora e muita
vontade de trabalhar, de aprender constantemente, afinal, deixar tudo
nas mãos dos outros é correr um risco tremendo de amanhecer
desfalcado ou falido.
Olhar o mundo abastado pelas redes sociais, leva muita gente a crer
que o nosso planeta é um lugar onde muitos nascem para sofrer
enquanto poucos, nascem para sorrir.
Está na hora de mergulharmos fundo no abstrato mundo interior
tão abandonado pela sociedade mundial. O louvor ao dinheiro e à
aparência, tem nos mostrado ser ineficiente; do contrário, o consumo
de drogas e fármacos para a mente não seguiria crescendo, a cada ano,
no mundo. O Brasil lidera, com os Estados Unidos, o consumo de
cocaína no planeta, assim como também o de antidepressivo. Isto prova
que o mundo exterior não anda satisfazendo a necessidade moral,
espiritual e emocional de quem, constantemente, anda buscando, no
lado de fora, o que está no lado de dentro.
Desejo que você, ao terminar de ler este livro, possa sentir que existe
uma luz no fim do túnel. Que você possa ver, que para se chegar onde
se quer, é necessário, em primeiro lugar, saber quem você é, e assim,
definir como fazer para ter o que você deseja.
Márcio Barreto
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Um dos inúmeros mestres que vieram a este planeta, Jesus de
Nazaré, conhecedor desta realidade, nos revelou: “O que importa
ganhar o mundo todo e perder-se a si mesmo!”
Creio que não será necessário relacionar diversas celebridades,
milionárias, que tiveram suas vidas ceifadas pela falta de
autoconhecimento e propósito no mundo.
Manual para ser alguém
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Introdução
Somos todos seres humanos, disso não temos dúvida.
Justamente por isso, não vivemos como um robô que funciona dado a
uma série de programas para que as tarefas sejam executadas. Se os
programamos equivocadamente, certamente haverá erro de execução e
precisão no seu funcionamento. Para que não haja equivoco, se faz
necessário conhecer seu manual de operação, e assim obter o máximo
de proveito de sua capacidade técnica. Contudo, não é qualquer pessoa
que possui competência para fazê-lo funcionar de acordo ao propósito
para o qual ele foi criado. Qualquer problema na sua “atuação”, o
responsável será o seu criador ou o programador, mais ninguém.
Como seres humanos, o que nos distancia do robô é o meio pelo qual
chegamos neste mundo, quem nos criou e a nossa própria natureza
humana dotada de vida, pensamento, vontade, emoções e sentimentos,
além de uma série de outros atributos que não merecem maiores
comentários aqui. Nosso funcionamento não provém de algoritmos1,
que estabelecem os padrões do nosso comportamento. Como já
sabemos, funcionamos por meio do aprendizado em nossa mente.
Quanto mais aprendemos, mais nos tornamos capazes de executar
inúmeras tarefas.
Entretanto, há em nós algo que nos aproxima do robô, quanto ao seu
modo de funcionar. Também atuamos alimentados por meio de um
sistema que nos faz decidir por tal coisa e não por outra; ser quem
somos ou o que os outros querem que sejamos; de escolher por conta
própria ou deixar que os outros escolham por nós; de agradar a nós
mesmos, em primeiro lugar, em vez de agradar aos outros para sermos
bem avaliados; de dizer sim quando queremos dizer sim e dizer não
quando queremos dizer não. Enfim, este sistema basicamente é quem
nos guia na jornada da vida e seu nome é sistema de crenças.
Crescemos sem saber que ele existe. Desde a nossa infância somos
condicionados por este sistema, sem nos darmos conta que este
fenômeno está acontecendo dia após dia, sem percebermos que
1 Algoritimos = instruções na linguagem da informática
Márcio Barreto
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estamos sendo alimentados de crenças (algoritmos) que nos fazem agir
de uma forma e não de outra.
Não somos capazes de identificar, no momento das
“programações”, quem são os nossos programadores, porque cremos
que eles são os especialistas mais adequados para nos programar. E
quem são essas pessoas, afinal? Qualquer indivíduo que nos criou,
ensinou ou orientou na nossa infância e adolescência; e ainda na fase
adulta, seguimos sendo programados por qualquer um que encontre
em nós, a vulnerabilidade para recebermos novos programas; estamos
sempre aptos para recebermos novas crenças, se não estivermos
atentos.
Existem diversos tipos crenças que são inseridas em nós por meio
de palavras, fatos, referências, ideologias, experiências etc. Muitas
delas, implantadas por nós mesmos ou por terceiros, mas que de
alguma forma se gravam na nossa mente.
Seguem abaixo, alguns exemplos dessas crenças, sobretudo, as que
escutamos de quem nos programou durante as duas primeiras fazes
mais importantes de nossas vidas: à infância e à adolescência.
Algoritmos machistas
“Quem é homem não chora.”
“A mulher nasceu para servir ao homem.”
“O lugar da mulher é no fogão, em casa.”
Algoritmos impositivos
“Você será uma excelente juíza, esqueça a dança!”
“Somos uma família de artistas, portanto, você será um também.”
“Você só se casará se eu aprovar o seu casamento.”
Algoritmos condicionais
“Só pagarei a sua universidade se você estudar economia.”
“Se você mostrar que me ama, eu te prometo te ajudar no seu
projeto.”
“Você só terá seu carro se terminar a faculdade.”
“Você só será alguém se estudar muito!”
Algoritmos sugestivos
“Você nasceu pobre e morrerá pobre.”
“Somos uma família de fracassados, por que você vive pensando em
riqueza?”
Manual para ser alguém
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“Você é um burro, não serve para nada, só para comer capim.”
“Desista, você não nasceu para ser um jogador de futebol.”
Algoritmos religiosos
“Ter relação sexual antes do casamento é pecado.”
“Se você pecar irá para o inferno!”
“Peça perdão a Deus ou serás castigada por Ele!”
“Seja obediente a Deus e você irá para o céu.”
“O homossexualismo é um crime perante as leis de Deus.”
Algoritmos acusativos
“Por sua culpa eu sou infeliz!”
“Graças a você eu me dei mal na prova.”
“É você quem me faz sentir inseguro.”
“Sinto ciúmes de você, graças ao seu comportamento.”
Algoritmos de escusa
“Eu não me separei do seu pai por causa de vocês.”
“Eu só como chocolate porque você nunca deixa de comprá-lo.”
“Eu não consigo emagrecer, porque você não me ajuda fazendo uma
comida mais saudável.”
Creio, que com esses exemplos dados acima, você será capaz de
identificar tantos outros programas que se carregam em nós, de forma
quase imperceptível, em muitos casos. Aos poucos, vamos aceitando
várias programações como verdade, que nos fazem distanciar de nós
mesmos.
Com o passar dos anos, já não sabemos quem somos, o que
queremos, onde desejamos estar. Esses “algoritmos” geram um
tremendo conflito interno porque, graças a eles, caímos em contradição
fazendo uma coisa e acreditando em outra. E nós mesmos, na nossa
essência, desconfiamos que devemos fazer ou ser algo diferente do que
nos disseram. Nem todos nós, possuímos a autonomia suficiente para
tomar as régias da nossa própria vontade para deletar, corajosamente,
essa quantidade de crenças que absorvemos durante anos, e quiçá
ainda continuam entrando na nossa mente. Muitas vezes é difícil dizer:
“Eu vou estudar o que eu quero!” Esse grito de liberdade pode gerar
retaliações que dificultarão a nossa jornada. Conheci muitos jovens que
tiveram que abandonar o próprio lar, para viverem com estranhos,
Márcio Barreto
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devido a rejeição dos seus familiares, simplementes por serem o que
seus pais queriam que eles fossem.
Os seres programados tendem a transmitir seus programas para os
seus tutelados, e é nisso que pretendo trabalhar com este livro, uma
forma de interromper essa “hereditariedade algorítmica”, que há anos
vem formando seres sofredores, inseguros, medrosos, possessivos,
pessimistas, depressivos, ansiosos, preocupados, justamente porque
não sabem como encontrar o botão para deletar esses programas
instalados neles. Isso porque não chegamos ao mundo acompanhado
de um manual, como chegam os eletrônicos e eletrodomésticos que
compramos nas lojas.
Como funcionamos no sentido emocional? Para que servem as
emoções? Elas são boas ou ruins? O que são sentimentos? Por que
sentimos? O que devemos fazer com o que sentimos? Quando
interpreto algo? Por que julgo as coisas e as pessoas? O que eu escuto é
a verdade? Afinal, como nos relacionamos com o nosso mundo
interior?
Durante vários anos, venho tentando entender como funcionamos
para encontrar uma forma de simplificar o nosso funcionamento
mental. Sei que ainda me resta por caminhar, mas já pude me
aproximar de onde eu queria estar, que era sentir e saber por que sinto;
pensar e saber por que penso; ser e por que quero ser; fazer e por que
quero fazer, para finalmente ter e por que quero ter. Não foi necessário
estudar a parte concreta do ser humano para isso, ou seja, o cérebro,
preferi me deter no que é o abstrato, aquilo que não podemos ver,
apenas sentir e não, medir.
Este manual está longe de ser um instrutivo terminado, com qual
podemos crer que seja tudo para transformarmos a nossa vida de os
olhos fechados. Mas, com certeza, ele despertará em você o desejo de
continuar a sua busca pelo crescimento psicológico, emocional e
espiritual. Quanto mais nos aproximamos de nós mesmos, melhor
entendemos o nosso papel no mundo e o que devemos fazer para
atuarmos de forma equilibrada e determinada, a fim de chegarmos ao
final da jornada da vida carnal com, pelo menos, parte da nossa missão
cumprida.
Manual para ser alguém
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Somo seres interpretativos e interpretamos tudo o que vemos e
sentimos, quando não interpretamos quem gostaríamos de ser. Muitas
vezes, vivemos subtraídos da nossa própria liberdade de sermos, isto
porque, tememos as consequências que poderão vir como, por
exemplo, a rejeição, a crítica e toda espécie de julgamento por parte da
sociedade hipócrita, na qual existe muita gente criticando a própria
sombra que reconhece nos outros.
Espero, que ao terminar de ler a última palavra deste manuscrito,
você sinta que a esperança não morreu e que tampouco algum dia
morrerá, e que valeu à pena ter investido o seu tempo nessa leitura. Que
Deus esteja sempre presente em você.
“A dignidade pessoal e a honra não podem ser protegidas por outros, devem ser zeladas pelo indivíduo em particular.”
Mahatma Gandhi
Márcio Barreto
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Capítulo 1
A Sombra “Se deres as costas à luz, nada mais verás do que a tua própria
sombra”.
Aron Zalkind
Todos nós possuímos um “fantasma” que nos assombra
constantemente. Ele, é aquele do qual queremos fugir ou fingir que
não existe, porque a sua personalidade, caráter ou comportamento nos
assusta muito. Não podemos aceitar que este espectro sombrio nos
persiga o tempo inteiro. Inclusive, é ele quem nos motiva a fazer coisas
que não queremos. Há quem o chame de demônio, capeta, cão, diabo
ou espirito das trevas. Mas, quem é este ser sombrio ao qual jogamos
as culpas e as responsabilidades, muitas vezes?
Há muitos anos atrás, um senhor chamado Carl Gustav Jung, o
famoso psiquiatra suíço do século XIX, trouxe para o mundo a teoria
da sombra que, segundo a história, foi um termo usado por Friedrich
Nietsche, um célebre filósofo alemão do mesmo século de Jung.
A sombra, nada mais é do que a personalidade oculta que todo ser
humano tem, ou seja, é a parte feia que tentamos esconder,
frequentemente, de nós mesmos e principalmente dos outros. Devido a
essa crença, tratamos de reprimir as nossas emoções e sentimentos;
principalmente, aqueles que interpretamos como feios ou ruins.
Segundo Jung, este fantasma também assombra uma comunidade
inteira como um grupo familiar, um partido político, uma instituição
religiosa, uma empresa, etc. E quanto mais tratamos de reprimir este
ser medonho, mais ele se enfurece, gerando estados de perturbação e
neurose.
Certamente, não pode haver dúvida de que o ser humano é, em
geral, menos bom do que ele imagina ser. Todo mundo tem uma
sombra, e quanto mais escondida ela fica na vida do indivíduo, mais
negra e densa ela é. Em todo caso, é um de nossos piores obstáculos,
pois frustra as nossas melhores intenções.
Manual para ser alguém
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O que podemos ou devemos fazer com essa sombra, então?
Permitimos que ela se apodere de nós e faça conosco o que bem
entender? Qual é a nossa meta com ela, finalmente?
A nossa principal missão na vida, é nos aceitarmos plenamente e
integrar a nossa sombra na nossa personalidade, a fim de torná-la
consciente e trabalhar com ela, encarando-a cara a cara. Ocultá-la,
permitindo que ela permaneça no nosso universo inconsciente, pode
nos roubar o equilíbrio e a oportunidade de sermos felizes.
Não podemos esquecer que tipo de dinâmica compõe este conceito
chamado de sombra: são os nossos medos, são aqueles traumas do
passado, são as decepções que nos envenenam, são sonhos não
realizados pela indecisão, que se tornam tubarões frustrados
navegando na nossa personalidade. Se os escondermos, esses demônios
internos adquirem maior ferocidade e se os silenciarmos, acabarão por
nos controlar, projetando nos outros, em muitos casos, uma imagem de
nós mesmos que não gostamos, dai nascem as críticas.
Portanto, não podemos esquecer que o nosso crescimento pessoal e
o nosso bem-estar psicológico, sempre dependerão da nossa
capacidade de trazer à tona essas sombras. Depois desse ato de
coragem, um trabalho delicado, porém valioso, começará a nos curar, a
encontrar a calma e o bem-estar.
O budismo nos diz que, desde que nascemos, a sociedade nos
condicionou, pouco a pouco, com o passar do tempo. Se nos
observarmos agora, somos um acúmulo de experiências, aprendizados
e condicionamentos que nos tornam quem somos hoje. Para o budismo,
grande parte dessas condições não as questionamos, mas as
consideramos verdadeiras e muitas delas inconscientemente.
Assim mesmo, pelo ponto de vista do budismo, se diz que os seres
humanos são bons por natureza. Logo, a nossa sombra seria composta
de toda a nossa história de aprendizados e condicionamentos. No
entanto, ele não qualifica a sombra como uma coisa boa ou ruim.
Apenas se fala sobre ações felizes ou infelizes. Portanto, se queremos
observar nosso lado escuro, devemos aprender a meditar para observar
a nossa mente. É uma observação sem julgamento e sem reprimir
qualquer pensamento. Observar tudo o que passa por ela, sem julgar.
Márcio Barreto
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Dessa forma, observamos os pensamentos e as ideias que nem
sabíamos que existiam.
Manual para ser alguém
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Capítulo 2
A Aprendizagem e o Conhecimento “A inteligência não ensina a aprender muitas coisas.”
Heráclito
Aprender é algo involuntário no ser humano. Mesmo quando
não estamos interessados em aprender, o conhecimento entra pelos
nossos cinco sentidos e lá está ele gravado em nossa mente.
Vou citar alguns exemplos para que você não creia que estou
inventando teorias sem fundamento.
- Como foi que você aprendeu que olhar para o sol, sem alguma
proteção, é bem desagradável? (Visão)
- Como foi que você aprendeu que o contato com o fogo, no corpo,
queima e dói demais? (Tato)
- Como foi que você aprendeu que a pimenta arde a boca e te dá
vontade de beber muita água? (Paladar)
- Como foi que você aprendeu aquela música horrorosa, que ecoa na
sua caixa craniana, e te faz crer que só com cirurgia a desgraçada
desaparecerá? (Audição)
- Como foi que você aprendeu que esquecer a panela no fogo torra
a comida? (Olfato)
Eu poderia citar tantos outros exemplos sobre o aprendizado
involuntário, mas prefiro deixar por sua conta fazer essa investigação.
Nós crescemos ganhando conhecimento, a partir das experiências
diárias, no mundo exterior que nos cerca. Aprender é algo que nenhum
de nós, em condições físicas adequadas, pode evitar no nosso dia-a-dia.
Desde que começamos a despertar os nossos sentidos, ainda como
bebês, o conhecimento penetra na nossa mente sem sequer sabermos o
que seja aprender. Nossos pais ou tutores, são os professores informais
que nos ensinam as primeiras lições básicas da vida e logo, por conta
própria, aprendemos algo mais como, por exemplo, que enfiar um
grampo de cabelo na tomada nos dá um inesquecível choque. Assim foi
a forma como eu conheci a eletricidade nos meus primeiros anos de
vida.
Márcio Barreto
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A jornada do aprendizado, como aquisição cultural, começa na
escola. Sei que essa não é a realidade de todos neste mundo, mas para
aqueles que podem, ela é a principal forma de adquirirmos o
conhecimento. Então, começa o que eu chamo de o despertar do
espírito competitivo na nossa mente. O saber, passa a ser posto à prova
e medido num determinado espaço de tempo. Quem aprendeu dentro
do tempo é um vitorioso, orgulho da família e da professora; quem não
aprendeu é um fracassado que merece ser penalizado não só dentro da
escola, mas também dentro da própria casa. Se não foi assim com você,
tenha certeza que é assim para muita gente, como foi para mim
também. A cada nota baixa que eu tirava eu ouvia o mantra: “Quem é
burro, morre pastando!” Imagine seu eu tivesse absorvido essa crença!
Que podemos dizer, então, de Louis Pasteur, Albert Einstein,
Thomas Edson, Winston Churchill, Walt Disney, Tom Cruise, Steven
Spielberg e Bill Gates? Todos que tiveram problemas de aprendizado
na escola e que, mesmo assim, brilham ou brilharam na constelação de
suas áreas profissionais?
O despertar do espirito competitivo começa, quando na família ou/e
na escola, tem sempre alguém que diz “Você é o melhor de todos!” ou
“O fracassado sem futuro!”, abalando diretamente a autoestima de
quem está apenas começando a viver. Nem todos reagem para subirem
no pódio, ao contrário, sentem uma tremenda vontade de enfiar a
cabeça na terra. E para piorar, aquele bulling que se iniciou na escola,
não termina dentro de casa. Dessa forma, o mundo interior começa a
sofrer os primeiros abalos sísmicos numa importante etapa da vida.
A ciência já comprovou que o ato de aprender é mais lento ou mais
rápido em cada pessoa e, portanto, querer que todos aprendam no
mesmo espaço de tempo é uma das maiores estupidezes
implementadas neste planeta, no meu ponto de vista. Poucos países no
mundo foram capazes de eliminar este método ineficiente e
desmotivador do seu sistema de educação escolar; a Finlândia, é um
exemplo onde o aprender dar prazer e não desmotiva o aluno. O que
falta para os demais países copiarem este mesmo modelo,
comprovadamente, eficaz?
O que acontece com o nosso mundo interior, que sofre os primeiros
abalos sísmicos desde a infância e ainda na fase adulta, as réplicas
Manual para ser alguém
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desses abalos continuam a mover nossas crenças que influenciam,
diariamente, nas suas ações?
Nos disseram que deveríamos ter para depois ser, e dado a essa
equivocada tese, saímos como loucos pela vida, agindo como
acreditamos ser o melhor para ter tudo o que queremos, com a certeza
que, tendo tudo, seriamos os destacados do mundo, enriquecidos de
felicidade.
As estatísticas mundiais provam justamente o contrário, os que
menos cometem suicídio no planeta são os que menos têm. E por que
se insiste que consumir é o que nos faz ser?
O que conhecemos desse mundo que orbita em nossa mente? O que
aprendemos com as vergonhas, os vexames e as piadas no período
escolar para sermos alguém na vida? Nada! Apenas nos escondemos,
porque o ser que somos nós, enriquecidos de emoções e sentimentos,
não é incluído nesta parte do aprender consciente. O mundo interior foi
deixado de lado e transformado numa espécie de ilusão: não se sabe
como funciona, não se mede, não se pode tocar e não se vê, como se faz
com o saber do mundo exterior.
Como se mede o prazer de amar ou odiar alguém? Como se mede a
dor de perder alguém? Como medir a sensação da ternura, de um
abraço de quem te ama? Como provar a saudade de um ente querido?
Até mesmo os profissionais da mente humana não podem medir a
emoção e o sentimento de alguém, por mais que o nosso corpo reaja de
acordo a cada emoção que sentimos. Detectar uma emoção não é medi-
la.
O mundo interior e o aprendizado atual, estão com sérios
problemas. Cada vez mais, aprender é um duro exercício muito
desmotivador para muita gente, a juventude de hoje quem o diga.
Muitos jovens preferem ser alguém batalhando por conta própria,
explorando a internet, onde aprendem com prazer, ganhando dinheiro,
em vez de ficarem trancados, em salas de aulas, sendo medidos e
abalados na sua autoestima, onde os fazem crer que um triste futuro
sendo ninguém os espera.
A nossa realidade atual, nos convida a reaprender nos
relacionarmos com o mundo exterior e o povo que o habita. Está mais
que na hora de saber quem somos e como funcionamos, nessa parte que
Márcio Barreto
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somente alguns têm acesso privilegiado, o que chamo de o mundo das
emoções e dos sentimentos. Está na hora de aprendermos sobre nós
mesmos e como crescemos abastecidos de informações que, aos poucos,
nos fazem funcionar de maneira harmoniosa ou desequilibrada. Cada
comentário, cada crítica, cada julgamento que ouvimos no nosso
período de formação pessoal e escolar, pode abrir uma imensa porta na
alma para a fuga do inevitável mundo do saber interior. Cada ser
humano é um ser único, individual, com as suas próprias
particularidades, que vão muito além da incrível impressão digital,
algo que a ciência diz que nenhum humano a possui igual ao outro.
Mas... como fazer para penetrarmos neste mundo interior que está
tão perto de nós e mesmo assim, ainda é bem desconhecido pela
maioria da população global?
Nós somos emoção e sentimento, corpo e linguagem e esta realidade
é igual para todos. Sentimos, nos emocionamos e expressamos pelo
corpo ou pela linguagem, o que está em nossa mente. O pensamento é
a fonte que interage entre esses três pilares, movendo o mecanismo do
nosso mundo interior; é uma espécie de energia que circula nesse
universo chamado mente humana.
Não existe uma ordem exata para ordenarmos esses três pilares no
seu funcionamento, tudo depende do momento; mas, com certeza, o
pensamento estará sempre presente entre eles. Não existe um caminho
de mão única que necessariamente tenha que ser emoção, corpo e
linguagem.
Vamos ao prático pensando nessa cena: Você está num ambiente
qualquer e alguém pisa no seu pé. Você sente dor (emoção). Se você
interpreta que foi por querer, você se expressa de uma forma seja por
atitude ou gesto (corpo), senão por palavra (linguagem). Se você
interpreta que foi sem querer, você sente a mesma dor, porém, a sua
forma de agir é outra. Neste momento, entra algo muito importante
que explicarei mais à frente, que é a interpretação do fato.
Nós somos uma “caixa de crenças”, e é necessário saber o que está
dentro dessa caixa com todo cuidado que ela merece. Quem afirma
saber de tudo, não abre espaço para aprender o que existe dentro de si.
O maior inimigo da aprendizagem é a nossa própria imagem, essa que
Manual para ser alguém
24
tentamos preservar publicamente, aquela que chamo de a proprietária
da verdade e da razão.
Nos escondermos de nós mesmos e dos outros, é o recurso que
normalmente utilizamos, ao invés de nos conhecermos como num
delicioso jantar romântico, aquele que nos desperta a curiosidade de
saber quem é a pessoa do outro lado da mesa. Infelizmente, preferimos
viver como na era medieval, pensando que o mundo é só aquilo que os
nossos olhos conseguem ver por entre as aberturas da nossa armadura.
Na realidade, quanto mais desconhecedora de si a sociedade se
mantém, mais ela se permite viver como gado, consumindo seu pasto
robusto, sentindo amor por quem o alimenta, e sem perceber que o seu
fim será morrer para ser consumido em eventos como Black Friday,
Cyber Monday e várias outras espécies de ilusões que, temporariamente,
matam a nossa fome. Sendo que mais tarde, ela voltará mais intensa e
acompanhada da tristeza e de um grande vazio existencial.
Não somos o que sabemos. Somos o que estamos dispostos a
aprender. Aquele que muito diz ser sabedor do mundo exterior e que
nada lhe resta para aprender, tem como pior inimigo a sua própria
crença. Este tipo de pessoa é quem julga os demais constantemente;
adora ter resposta para tudo; ama desautorizar a outra pessoa que a
quer ensinar; cobra clareza nas explicações; é especialista nas escusas
afirmando ser como é, e que nada a faz mudar. Quando se torna idosa,
diz já não ter mais tempo ou energia para aprender.
O aprender deve ser prazeroso e, por isso mesmo, precisamos,
urgentemente, aprender a aprender. Para isso, é importante dar o
primeiro passo que é sair da “casinha protetora”, onde vivemos com
medo do desconhecido, e nos aventurarmos para o mundo mágico dos
novos conhecimentos, iniciando uma bonita jornada para dentro,
mesmo que nos sintamos medrosos ou angustiados por encontrar as
nossas sombras.
Pode ser que apareça o fantasma da desistência, da resistência e que
te farão tais perguntas como: “Terás tempo?”, “Quanto te resta de
vida?”, “Tem certeza que vale a pena essa mudança?”, “E se não der
certo?”, “Isto não te causa medo?”, “Por que não ficas onde estás?”,
“Que tal deixar para mais tarde?”
Márcio Barreto
25
Aprender é um bonito hábito que agora deve ser consciente,
inovador, motivador, apaixonante; e se desenvolvermos o hábito de
saber qual é a hora de mudar de hábito, avançamos rumo ao mundo
novo.
Você sabe o que você já sabe? Você sabe o que você não sabe? Você
não sabe o que você já sabe? Então, perceba o quanto ainda há de sobra
por aprender!
Portanto, promova em ti o doce sabor do aprender novas coisas.
Liberte-se das amarras que te fazem oxidar, como um navio encalhado
no litoral.
Você precisa SER quem você quer ser! Você precisa FAZER o que
você quer fazer! Você precisa TER o que você quer ter! Mas para isso,
vire a página porque que eu te explicarei como começar a sua
transformação.
Manual para ser alguém
26
Capítulo 3
Ser, fazer ou ter? “Se buscas resultados diferentes, não faças sempre o mesmo. ”
Albert Einstein
Somos o que temos ou temos o que somos? Esta pergunta
nos faz pensar como estamos conduzindo a nossa vida. Se priorizamos
o mundo exterior ou interior.
Eu posso estar enganado, mas se você adquiriu este livro, muito
provavelmente, você está ou esteve priorizando o mundo exterior, mas
agora você quer saber quem você é, como é seu mundo interior, certo?
Desde a nossa infância, fomos alimentados pela tradicional crença
do “ter para ser feliz”, e crescemos educados para atingirmos essa meta:
Tenha e serás alguém!
A custa dessa verdade, começamos a nossa corrida em busca dos
nossos certificados, sempre com aquelas promessas motivadoras dos
nossos familiares e professores que trataram de nos abastecer com
palavras persuasivas. Sempre nos dirigindo para o caminho do
consumo e assim, crescemos sonhando ganhar muito dinheiro para
viajar, ter patrimônios e poder disfrutar a vida ao máximo. Crescemos
com a certeza de que fazer é o caminho para se ter. Compartilho contigo
algumas frases motivadoras do tipo fazer e ter.
“Faça uma ótima prova e terás a melhor nota da turma!”
“Me faça o pai mais orgulhoso da família e terás o carro zero tão
sonhado!”
“Faça a lição de casa e terás a minha admiração!”
“Faça a sua cama e terás o valor que mereces!
“Faça o que eu mando e terás o meu respeito!”
“Faça sempre o seu melhor no trabalho e terás a desejada
promoção!”
“Faça o que eu desejo e terás o meu amor!”
Vale ressaltar que as coisas não acontecem se a gente não fizer por
onde. O mais importante é saber que, fazer por fazer, não nos garante
o resultado que buscamos. Fazer para agradar alguém ou fazer porque
Márcio Barreto
27
nos disseram para fazer, nos afasta de nós mesmos porque o comando
não vem do SER que somos. Portanto, deixar de fazer porque nos
disseram que não somos bons no que fazemos, é algo muito comum.
Sem percebermos, fizemos muito para termos o máximo possível.
Muitas pessoas conseguiram ter, outras não; e muitas mais continuam
seguindo a cartilha do fazer para ter, e até agora continuam com as suas
angustias e ansiedades, sem encontrarem o ponto da satisfação plena;
vivem querendo sempre aquilo não têm.
O pensamento racionalista é o grande guia da humanidade há
muitos séculos. Graças a ele, as indústrias cresceram e o marketing
voraz continua inflando a nossa mente com desejo insaciável do ter.
Estimulados por ele, continuamos fazendo, e muita gente faz contrato
até com o capeta para ter o máximo possível. Subornam e são
subornados; corrompem e são corrompidos; vendem e são vendidos. É
rachadinha, mensalão, obra superfaturada, fraude no imposto de
renda, conta no exterior, dinheiro na cueca, na parede falsa da casa,
enfim, são muitos os métodos criativos e ilícitos de se fazer para ter. Só
que neste “fazer para ter”, os valores, princípios e ética não fazem a
menor falta, simplesmente desaparecem do dicionário mental do
indivíduo.
Crescemos acreditando que ter é o melhor para recebermos o valor
da sociedade. Tenha títulos! Tenha poder! Tenha status! Tenha
dinheiro! Faça de tudo para que o mundo lhe dê o que desejas!
Na era atual, onde há muita gente olhando para a “grama do
vizinho” pelas redes sociais, a corrida pelo ter aumentou mais ainda e,
junto com ela, a frustração, a angustia, a ansiedade e a depressão,
aumentaram também. Deixamos de olhar a nossa própria vida para
olhar a vida alheia, pois acreditamos que os outros são mais felizes do
que nós, fazendo com o que têm.
Um grande erro que cometemos, com essa crença estabelecida no
inconsciente coletivo da humanidade, é olhar para o que os outros têm,
a fim de entender o que fazem para tê-lo e, por último, saber quem eles
são. Levando-nos a crer que o ciclo correto é fazer para ter e logo, ser.
É normal que devamos fazer algo para termos resultados, mas as
referências que temos das pessoas e do mundo, nos mostra que isto
nem sempre funciona. Os ricos também se matam, certo?
Manual para ser alguém
28
Tony Robbins, um grande mestre na área do autoconhecimento,
afirma no seu livro, Desperte Seu Gigante Interior, que apesar das
conquistas exteriores, o vazio existencial continua a existir na mente de
muitos milionários que ele conhece, levando-os a consumir álcool,
drogas e anfetaminas, diariamente. Inclusive, menciona que os Estados
Unidos são um dos maiores consumidores de antidepressivos no
mundo!
“Ser você mesmo, em um mundo que está constantemente tentando fazer de você
outra coisa, é a maior realização. ” Ralph Waldo Emerson
Vamos descobrir um pouco mais de você. Responda a estas
perguntas: Quem você é? A quem segues, a você ou aos outros? O que
mais te importa, é o que os outros te dizem que você é ou o que você
crê que você é? Para quem você se veste? A quem você tenta agradar,
em primeiro lugar? Você diz sim querendo dizer não ou você diz não
querendo dizer sim? Você faz o que quer fazer ou que os outros dizem
que você deve fazer? Você é alguém que interpreta personagens ou é
realmente quem você é, de caráter? O que você faz para ter amizade,
bajula ou mostra seu valor e a sua personalidade realmente? Você segue
às suas vontades ou a dos outros? Você faz o que os outros fazem? Por
quê?
A crença no fazer para ter, transforma muita gente em marionetes,
em seres “fotocopiados” dos supostos felizes e bem-sucedidos. Por isso,
há dificuldades para responder, com verdade, as perguntas acima. Se
tudo deu certo, somos os vencedores; se deu errado, se busca a quem
culpar. Normalmente, Deus e o demônio são os primeiros na fila dos
réus, depois vêm os familiares, os políticos os patrões e fila continua até
se perder no infinito, nela ocupamos sempre o último lugar.
“Numa empresa qualquer, em qualquer lugar no mundo, numa bela
manhã ensolarada, as pessoas chegaram para trabalhar e encontram
um cartaz na recepção onde dizia: Ontem morreu a pessoa que impedia o
seu crescimento profissional e o da empresa. Seu corpo está sendo velado na
quadra de esporte. Favor dirigir-se até o local do velório. Conforme as
pessoas iam se aproximando do local, as perguntas internas surgiam
em cada um: Quem é essa pessoa que impedia meu crescimento nesta
Márcio Barreto
29
empresa? Pelo menos ela está morta e isto me alegra muito! Cada um
ia chegando ao local com um misto de falsa tristeza e curiosidade; saber
quem estava dentro do caixão era o que mais lhe interessava. Até que,
passado algumas horas, se organizou a fila e lentamente as pessoas
foram passando pelo caixão para ver quem era o morto, a fim e desejar-
lhe uma boa viagem para o inferno. No entanto, à medida que as
pessoas olhavam para o interior do caixão, um olhar triste e de surpresa
se estampava de imediato no rosto de cada um. Dentro do ataúde havia
um espelho.”2
Somente você pode mudar a sua vida, porque a mudança começa
dentro de ti. O que acontecer fora dela, nada é mais do que o reflexo
que você fez no seu mundo interior. Se algo te prejudica, ocupe o
primeiro lugar na fila dos réus antes dos outros, de Deus ou do
demônio. Se você não se vê como parte do problema, tampouco se verá
como parte da solução dele.
A sua vida não mudará se a do seu chefe, do seu marido ou esposa,
do namorado ou namorada, do seu pai ou da sua mãe mudar. Sendo
indivíduos que somos, cada um é um mundo à parte. Tudo muda
quando você muda por dentro. Não é mudando a sua aparência que
um novo mundo se revelará para você, pois que a beleza e a feiura, a
obesidade, a magresa ou o corpo sarado, não nos livram de viver
semelhantes dilemas pessoais. O mundo que te rodeia nada mais é que
o reflexo dos seus pensamentos, e a realidade que você vê é resultado
da interpretação que você lhe dá.
A maneira como você encara o seu mundo interior, é o que faz a
diferença. O medo, a insegurança, a subestima, a superestima, o pavor
pelo não, pela rejeição, pelo trauma, não passam de uma intepretação
para cada situação que surge na sua vida.
“Sofremos muito mais na imaginação que na realidade”.
Sêneca.
O que te bloqueia para ser quem você quer ser? O que não te permite
vencer as suas inseguranças? O que te faz pensar que o seu futuro será
2Autoria atribuída a Luis Fernando Veríssimo
Manual para ser alguém
30
trágico? O que te impede de se libertar dos traumas? O que te falta para
melhorar a sua autoestima? O que te faz crer que os seus problemas não
têm solução? Por que você pensa que o mundo exterior precisa mudar
para que o seu mundo interior se transforme?
Te sugiro fazer um exercício muito simples para que você comece a
transformar a sua vida, focando no que você precisa trabalhar, já. Anote
num bloco de notas o seguinte jogo do quero-tenho.
Mencione no quadro abaixo o seguinte: O que você quer e já tem. O
que você quer e não tem. O que você não quer e tem. O que você não
quer e não tem.
Ao anotar, em detalhes, as suas metas para cada tópico acima, é
possível ver claramente em que parte da sua vida, você precisa gastar
mais tempo e energia, além cuidado você de tomar para evitar
problemas; entretanto, é muito importante entender o conceito básico
do SER + FAZER = TER.
O que a grande maioria faz na vida é começar pelo fazer para ter,
esperando que o resultado seja brilhante. Não se deve aprender a nadar
justamente no momento do afogamento. Se você não é um nadador,
deve ter prudência ao agir em muitas situações onde o afogamento é
um risco alto. Para tudo o que queremos fazer na vida, é prudente
medir os riscos antes de começarmos a agir.
Ao escrever este parágrafo, me lembrei de uma situação real em que
salvei três irmãos de um afogamento na praia da Barra da Tijuca, no
Rio de Janeiro. Estávamos eu e outro surfista na água, num dia em que
o mar só estava para peixe. Ao ouvirmos os gritos de socorro, vimos
que quatro pessoas se afogavam e, imediatamente, agimos para salvá-
NÃO QUERO
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ESCREVA NO INTERIOR DOS CAMPOS COLORIDOS DE ACORDO A COMBINACAO ENTRE ELES
Márcio Barreto
31
los. Eram quatro irmãos. O outro surfista resgatou um deles e me
deixou os três como “missão impossível”. Para a minha supresa e
desespero, a única mulher do grupo desmaiou, e os dois homens só
choravam de pavor. Bem... resumindo, salvei os três e aqui estou
escrevendo essas linhas para te dizer o seguinte: Se somente um
estivesse em afogamento, seria muito mais fácil fazer o resgate dele, do
que foi resgatar quatro. Além disso, os pais não teriam sentido a imensa
angústia, ao pensarem que voltariam para casa sem os quatro filhos de
uma só vez.
Para ajudar no raciocínio, aqui deixo algumas dicas: Quem não é um
amante de si mesmo, não terá êxito nos relacionamentos amorosos;
quem não é seguro, não terá segurança em cargos de liderança e nos
relacionamentos interpessoais; quem é um ser desconfiado por
natureza, se sentirá em constante ameaça dentro da sociedade; quem é
pessimista, sempre desenhará um futuro apocalíptico para si mesmo.
Creio que agora ficou claro entender a importância do ser, a fim de
fazermos corretamente para termos o que estimamos na vida.
Mude o seu mundo interior sendo quem você é, sem se importar
como o mundo exterior te vê, sem precisar fingir para que te aceitem.
SER você em todos os momentos é libertador. Saber que você pode se
transformar é esperançoso e motivador demais! Quem resolve
permanecer na casinha, como um caracol, desperdiça a grande
oportunidade de viver uma nova realidade.
Aprenda a criar uma nova realidade para a sua vida, virando a
próxima página.
Manual para ser alguém
32
Capítulo 4
A Realidade “O que chamamos realidade é apenas o senso comum de nossa cultura. ”
Alan Moore
O que é a realidade? A maioria dos dicionários diz que é
“tudo aquilo que existe.”
Quero te fazer pensar um pouco mais sobre a realidade. Responda
essa pergunta: Ela é o que vemos ou é algo que interpretamos?
Leia esta poesia abaixo3.
“Não te amo mais
Mentiria dizendo que
Ainda te quero como sempre te quis.
Tenho a certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Tu não significas nada.
Não poderia dizer jamais que
Alimento um grande amor
Sinto cada vez mais que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Lamento, mas devo dizer a verdade.
É muito tarde.”
Agora volte a ler o poema de novo, sendo que de baixo para cima. E
então, o que é a realidade?
A realidade é a forma como você define, interpreta, percebe, conclui
ou qualquer outra palavra que te faça entender que ela é decodificada
na sua mente, filtrada por uma série de informações que estão
guardadas dentro dela. Essas informações foram absorvidas durante o
seu crescimento, desde a infância até hoje. Essas tais informações têm
3 Autoria de Clarice Lispector
Márcio Barreto
33
raízes culturais, familiares, além das referências externas ou internas.
Entenda por referência, toda experiência vivida por você, que pode ter
sido traumática ou prazerosa. Quando uma pessoa sofre um trauma,
normalmente a realidade dela passa ser outra. Para uns, amar é uma
triste realidade, enquanto que para outros, é a mais doce realidade que
a vida os oferece.
Olhando por este novo aspecto da realidade, o que era antes
imutável, agora é algo que podemos modificar, mas para isso é
necessário verificar essas informações adquiridas (sistema de crenças),
a fim de entendermos o quanto elas nos influenciam a ver os fatos como
os vemos hoje. A partir de agora, temos o poder nas mãos, o meio de
renascer dos “escombros” e recomeçar uma nova vida.
“Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode
começar agora e fazer um novo fim.” Hammed.
Mudar o nosso mundo interior, está diretamente relacionado com a
forma como interpretamos o mundo exterior, pois que ele (interior) está
formado por uma série de crenças limitantes que o deturpa (exterior) e
nos enganam, provocando em nós a “perda da personalidade”.
Quando isto acontece, temos uma forte tendência a saber quem somos,
mas, na realidade, somos diferentes da visão que temos de nós mesmos.
Faça uma prova sobre quem é você, perguntando a uma pessoa
próxima como ela te vê. Não fisicamente, mas em personalidade,
caráter e como atua no mundo.
Provavelmente, alguns te dirão que você é mais do que como você
se vê, o que te fará perguntar olhando para um espelho imaginário:
Quem eu sou na realidade? Por que os demais me veem assim?
Será que você é capaz de distinguir, nas respostas que darás acima,
o que é fato do que é interpretação? Muito provavelmente, você
perceberá que, o que você é hoje, não passa de um personagem que te
assumiu e te guia, devido à uma série mudanças que você sofreu para
sobreviver na sociedade, que nos cobra de todas formas, e sem
percebermos, deixamos a nossa realidade de lado para viver a realidade
dos outros. Desejamos ser outra pessoa na base da “fotocopia da alma”,
queremos ser como os ídolos, ter o que eles têm; porque viver a
Manual para ser alguém
34
realidade deles é a vida ideal. Mas... o que fazemos com a nossa
realidade, enquanto invejamos a dos outros? Ela não é senão o reflexo
do nosso mundo interior? Cada um vive a sua própria realidade; cada
um tem o seu papel na vida. Qual é o seu?
Justamente por isso, julgamos que a nossa realidade é uma desgraça,
que a nossa vida é o que é e pronto, nada pode mudá-la! Julgamos Deus;
julgamos o sistema de governo; julgamos os políticos; julgamos os
nossos ancestrais, julgamos, julgamos, julgamos, julgamos, julgamos, julgamos...
A realidade, quando deturpada pela emoção, se desdobra à nossa
frente como aquele vapor da estrada que nos faz crer que o asfalto se
move. Por falar em estrada, leia este conto abaixo e descubra a resposta.
Um homem negro, dirigia um carro preto, com o interior todo
escuro. Os faróis do carro estavam apagados, as luzes da rodovia
também. O asfalto estava muito negro e não havia sinalização. De
repente, um cachorro escuro cruzou na frente do carro. O motorista
conseguiu enxergá-lo e freou a tempo de evitar o atropelamento e,
possivelmente, a morte dele. Como foi possível isto?4
Os julgamentos que fazemos, podem ser frutos da certeza que
somente com a sorte o nosso futuro será melhor; que Deus escolheu
alguns para sofrer, enquanto outros riem. Como se Deus girasse uma
roleta, diariamente, para escolher quem irá sorrir ou chorar, como
forma de distração, a fim de evitar o tédio que dever ser governar o
universo. Se você virar a página seguinte, aprenderá algo interessante
sobre o julgamento.
4 Era dia
Márcio Barreto
35
Capítulo 5
O Julgamento “Não há coisa que mais nos engane do que o nosso julgamento. ”
Leonardo da Vinci
O julgamento também pode ser deturpado pela
interpretação, essa que é composta por uma série de filtros internos,
assim como a realidade que nasce a partir dela, explicada no capítulo
interior.
Imagine esta cena onde você protagoniza o fato.
Você está na cozinha preparando a janta, cortando alguns legumes,
em profundo estado de concentração. Não percebe que o gato do seu
amor saltou para mesa e sem querer, esbarrou no pote da massa de
tomate que, ao cair no chão, quebrou e esparramou o extrato por toda
cozinha. Rapidamente, sem largar a faca, com a outra mão, você levanta
o gato para retirá-lo da mesa e o bicho cai sobre a massa de tomate no
chão. Rapidamente, você o retira dali pelo pescoço e, de repente, a
pessoa que mais te ama - e ao gato também - entra no ambiente e olha
para aquele quadro de carnificina pintado na frente dela; te pegou no
flagra! Os olhares se cruzam e... O que vem à mente do seu amor?
Está matando o meu gato? Você não gosta do meu gato? Você quer
cozinhar o meu gato? Ainda bem que eu cheguei a tempo, do contrário
você me daria o meu próprio gato para eu comer! Eu sabia que você
não gostava do meu gato!
O que é o julgamento, então? Ele é um pensamento que nos ajuda a
olhar para frente, a mirar o futuro de forma precavida, mas não
sabemos distingui-lo da interpretação, muitas vezes.
O que acontece se aprendemos a distinguir um do outro? O que
poderia fazer a dona do gato crer que o bichano iria ser morto por você?
Poderia ser pela faca que estava na sua mão. Talvez pela forma que
você segurava o gato. Pelo vermelho estampado no corpo do gato ou
pelo vermelho espalhado pelo chão da cozinha. Pode ser que na sua
vida, fatos como este já ocorreram e se você não julgou alguém, sofreu
com o julgamento alheio.
Manual para ser alguém
36
O ser humano, em geral, quando não conhece tudo sobre um fato
que quer narrar, preenche este vazio com as suposições, que nada mais
são que os julgamentos baseados em interpretações.
A suposição é a incerteza declarada como verdade, sempre e
quando a investigação não é feita sobre o fato, alguém ou alguma coisa.
É a realidade deturpada pela falta de confirmação.
Já que o julgamento pode nascer a partir de uma suposição, que
também é a realidade inventada, ele pode ser muito bom ou não para
nossa vida. Dependerá da forma como nós identificamos se as
interpretações estão ou não no comando da nossa mente.
Que tal você fazer julgamentos bastante motivadores para alcançar
os seus objetivos?
Afirme diariamente: “Eu sou uma pessoa de fibra!” “Eu sou uma
pessoa de garra!” ” Eu sou uma pessoa de coragem!” “Eu sou uma
pessoa que persiste!” “Eu sou uma pessoa capaz de superar os meus
medos e as minhas inseguranças!” “Eu sou uma pessoa que vê um
problema como uma oportunidade!” “Eu sou capaz!” “Eu tenho fé em
Deus!” “Eu tenho fé no meu potencial!”
Eu, por exemplo, afirmo, diariamente, que o Senhor é o meu pastor
e nada me faltará. Desde que comecei a usar este “mantra”, afastei
drasticamente a ansiedade e a preocupação da minha vida.
Experimente, não te custará nada!
Te ensinei alguns julgamentos motivadores e libertadores, agora,
use a sua criatividade para criar outros mais.
Assim como existem os julgamentos motivadores, existem os
opostos que nos levam para bem longe dos nossos objetivos. Perceba se
alguns deles, mencionados aqui abaixo, estão dentro de ti.
“Sou incapaz de ser feliz!” “O mundo é injusto comigo!” “Ninguém
me ama!” “Acho ruim amar alguém!” “Ninguém me vê como uma
pessoa de valor!” “A vida é difícil e nada poderá mudar a minha
realidade!” “Não tenho valor profissional!” “Aprender é horrível!”
“Estudar não vale para nada!” “Não quero saber do futuro, ele será
ruim mesmo!” “Sou assim porque me disseram que não sou capaz!”
Com certeza, você poderá engrossar esta lista com outros mais que
podem estar no seu mundo interior. Pelo menos agora, você já sabe
como identificar os julgamentos em ti e o que fazer com eles.
Márcio Barreto
37
Quando se fala em julgamento, é muito importante saber que não
existe um que seja bom ou ruim. Entretanto, o efeito dele em nós e nos
outros, depende do significado que damos a ele e da decisão que
tomamos para atuarmos no mundo, motivados por ele.
Te explicarei melhor por meio de algumas perguntas para que você
as responda com sinceridade.
Que decisão você tomaria se soubesse que a pessoa que amas, te
trai? Quando você discute com uma pessoa e, constantemente, você diz
ter razão e que ela está errada, é um julgamento? Em que você se baseia
para julgar ter sempre a razão? Você está numa situação, em que você
considera uma falta de respeito o que te dizem ou fazem. E se alguém
descordar de você? Se alguém te chamar para ir ao cinema, mas você
afirma que ir ao teatro será melhor. Em que você se apoia para escolher
um e não o outro?
Agora podemos perceber claramente que por detrás que tudo que
fazemos ou dizemos, há sempre um julgamento implícito. Crescemos
tão acostumados com ele em nossas vidas que nem percebemos que é
com ele que a gente pensa, sente, fala e age na vida. É como um órgão
virtual que está em nós, mas não sabemos como ele é e como funciona.
O julgamento é invisível e passa desapercebido por todos nós, e se
estabelece na nossa mente, automaticamente, como uma marca que
reflete a nossa experiência, cultura, referencias, tudo que foi impresso
em nós; e esta marca, é que nos faz pensar que as coisas são como são e
pronto. Nos faz perguntar a nós mesmos: Como eu poderia me
contradizer na minha forma de pensar? Estás louco!
As grandes pessoas são aquelas que são donas dos seus próprios
julgamentos e não, obedientes a eles.
Você sabia que um dia disseram que a bebida RedBull seria um
fracasso? Você sabia que o Bill Gates, um dia, disse que 640K seria
suficiente para qualquer um?
Agora que te revelei este novo conceito, é muito importante saber
distinguir o que é um julgamento de um fato. Pergunte-se novamente
se um dia de chuva é ruim, considerando a importância dela para o
equilíbrio do ecossistema. Ela é excelente para a natureza (Fato), mas é
ruim para você que esperava ir à praia com os amigos. (Julgamento).
Manual para ser alguém
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O conceito de bom ou ruim é um julgamento baseado numa
interpretação, como nas frases abaixo, normalmente ditas por muita
gente no mundo.
“Arrumar um emprego, atualmente, está difícil (Fato), por isso
nunca conseguirei uma vaga para mim.” (Julgamento)
“Meus pais não tiveram a oportunidade de estudarem e serem
prósperos (Fato), logo eu tampouco a terei.” (Julgamento)
Creio que o nosso maior problema está em definir como certo, as
nossas interpretações (essas verdades nascidas de um filtro com várias
camadas, explicadas anteriormente), em vez de olharmos para o fato
sem a contaminação proveniente de tudo o que compõe o nosso sistema
de crenças. Automaticamente, acabamos com a pureza da verdade por
meio do filtro que faz o papel inverso daquele que foi criado para
descontaminar. Ao observarmos o espaço para os comentários nas
redes sociais e nos jornais eletrônicos, podemos constatar a população
na grande batalha de julgamentos acerca de um mesmo fato, onde cada
um exige o direito de ter a sua verdade como única e válida. Muito
raramente, há quem, realmente, domina o assunto e expõe os
fundamentos para o que comenta.
Na grande maioria da massa popular, falta o compromisso com a
veracidade dos fatos. Mas antes de nos comprometermos com a
verdade deles, devemos nos comprometer com nós mesmos e, logo,
com o mundo. Por falar em compromisso, o próximo capítulo é
dedicado a este tema.
Márcio Barreto
39
Manual para ser alguém
40
Capítulo 6
O Compromisso “Para mudar nossos hábitos, temos que assumir o compromisso profundo de pagar o
preço que for necessário. ”
William James
Comprometer-se é fazer um pacto ou uma promessa, é
aceitar uma obrigação ou uma missão para determinado fim.
Nos comprometemos com nós mesmos, com alguém ou algo. Cada
compromisso é uma criação na mente, de algo que irá se materializar
ou concretizar em determinado tempo.
Este assunto, não é uma matéria escolar com a qual aprendemos de
forma consciente, em sala de aula; ou um tema que os pais debatam,
com os filhos, de forma clara e instrutiva. Normalmente, o aprendemos
na prática, faltando ou cumprindo com ele. Tanto em casa, como na
escola ou no trabalho, se somos, responsáveis, obedientes e acatamos
as ordens que nos foram dadas, ficamos bem; do contrário, colhemos as
consequências que correspondem, sentido a dor ou o prazer das nossas
escolhas.
Falhamos, muitas vezes, quando assumimos algum compromisso
no passado e hoje, sentimos os reflexos dessas falhas. A partir de agora,
já teremos motivos para mudar a nossa postura diante dos
compromissos que assumirmos.
Quando nos comprometemos, é importante ter bem claro que não
estamos fazendo favor nenhum a ninguém; escolhemos por livre e
espontânea vontade, aquilo com o qual ou quem nos comprometemos.
Portanto, se comprometer não deve ser satisfazer a outra parte, senão a
nós mesmos; do contrário, o que é escolha passa a ser uma obrigação.
Eu desconheço quem seja feliz fazendo algo na base da obrigação.
Justamente por isso, ponha muita atenção ao assumir uma
responsabilidade daqui para frente, porque se você disser que agora
você tem que cumprir com a sua promessa, saiba que o verbo ter
também indica fazer algo contra a vontade. Poucos são os que
percebem quantas vezes, diariamente, repetem este mesmo verbo, no
Márcio Barreto
41
sentido da obrigatoriedade. A partir de hoje, comece a contar este verbo
para você constatar quantas tarefas você faz por obrigação. Não é à toa
que estamos contraindo enfermidades emocianais graves.
Manual para ser alguém
42
Se usamos o compromisso com seriedade, temos um imenso poder
em nossas mãos. Podemos mudar a nossa realidade e de muita gente.
No budismo, a realidade significa o resultado de nossas próprias
decisões.
A sua vida de hoje, é o resultado dos diversos compromissos que
você assumiu, os realizou ou os deixou de lado. Nossos compromissos
devem ser assumidos por nós mesmos, antes de ser assumido perante
a alguém. Repito, não se trata de favor a ninguém.
Normalmente, se entende que o compromisso é um acordo ou um
pacto que assumimos para realizarmos algo no mundo exterior, mas ele
é, também, o que assumimos no mundo interior. É onde o seu poder é
muito maior. O compromisso pode ser com: a verdade, a honestidade,
a saúde, a espiritualidade, a paz interior, o crescimento intelectual, a
sabedoria, a fé, o amor, a justiça, enfim, com tudo o que nos faz ser antes
de querermos fazer para ter.
Para ver o mundo exterior transformar-se, é necessário que cada
compromisso seja um ato de verdade e prazer, porque o sacrifício é
inevitável. Nada muda em nossas vidas, se não for por meio do
compromisso que assumimos internamente. O resultado é tudo aquilo
o que se vê refletido no mundo exterior em que habitamos.
Atos simples e comuns, como chegar tarde no trabalho, não seguir
a dieta corretamente, não dizer o que se pensa, dormir mais que o
necessário, inventar escusas para cada vacilo dado, não pôr limites aos
outros, não exigir respeito, ignorar o que nos incomoda, procrastinar o
máximo possível, também são faltas de compromisso.
E o que acontece quando nosso mundo interior nos inspira a ver
tudo que está fora de forma negativa? Certamente, que o nosso
compromisso é diretamente afetado! Exemplo: Para que vou me
candidatar a este trabalho, se não me darão o mínimo valor? Isto é o
que eu chamo de autosabotagem.
Pintar um quadro de terror do futuro, sem que o conheçamos, é
sofrer por antecipação e desnecessariamente. Não foi à toa, que Buda
nos recomendou viver o presente e somente o presente.
Se o seu presente não te agrada, saiba que ele é o futuro do seu
passado. Tudo o que estava na sua mente até ontem, está refletindo
hoje. Você pode imaginar como será seu futuro, se você insistir em
Márcio Barreto
43
projetar cenários apocalípticos no seu mundo interior? Assim como o
presente é o futuro do passado, ele também é o passado do futuro. Veja
onde estás e o que pretendes fazer com a sua vida, ao terminar de ler
este livro.
Nada importa se o nosso compromisso não está alinhado com as
nossas ações. Não construímos uma vida melhor com palavras, apenas.
O trabalho é necessário e deve ser sagrado, ou seja, fazendo o sacrífico
(sacro oficio) que nos corresponde.
“O compromisso é um ato, não uma palavra. ”
Jean-Paul Sartre.
Segundo o coach Jim Selman, o compromisso é a diferença entre
viver num contexto de responsabilidade pela criação do futuro, versus
viver num contexto de racionalidade no qual devemos suportar o que
as circunstâncias nos dão.
Agora que você já sabe o que é um compromisso, escolha o que fazer
com ele em todos os setores da sua vida, como a família, o trabalho, o
matrimônio, a diversão, a espiritualidade, a saúde etc. Anote cada um
deles num caderno e para cada setor, analise como andam suas ações,
se elas correspondem ao compromisso assumido.
Muito provavelmente, você verá que o hábito da procrastinação está
presente em muitos deles, que o deixar para amanhã o que se pode
fazer agora é mais comum que imaginamos. Assumimos muitos
compromissos com outros e com a gente, entretanto, onde mais
falhamos, são aqueles que obviamente assumimos com nós mesmos
porque, se falhamos neles, ninguém nos cobrará, nos fará passar
vergonha. A importância que damos ao que os outros vão pensar, é
maior da que pensamos ao nosso próprio respeito. Nosso mundo
interior está em estado de abandono total.
Como escusas, simplesmente dizemos a nós mesmos que amanhã
faremos o que nos comprometemos fazer. Assim, postergamos o
exercício físico, o deixar de fumar, a caminhada de um quilometro por
dia, o jantar com a família, o estudar mais, o deixar de comer porcarias,
e tantas outras metas não alcançadas, porque o amanhã chegará e
haverá tempo. Mas, quem nos garante?
Manual para ser alguém
44
Cada compromisso deixado de lado, é um grão de areia que cai no
chão. No princípio nem se nota, mas quando os grãos começam a se
acumular, um pequeno monte se forma e o que era um monte, vira um
relevo, depois um morro, logo uma duna até chegar a se tornar um
deserto. Os movimentos lentos da natureza nos enganam; na nossa
mente reside a ideia de que tudo acontece de repente; e para nos
livrarmos da culpa, nos acostumamos a dizer que, de repente, a nossa
vida ficou de cabeça para baixo. É que não percebemos que, em câmera
lenta, ela foi girando, lentamente, enquanto a gente deixava tudo para
depois. Nossos estados de angustia e ansiedade, nos indicam que algo
está falhando em nós e que, muito provavelmente, estamos buscando a
quem culpar há anos. Só que está na hora de aproveitarmos o labirinto
de espelhos aonde estamos, para termos a certeza que a única maneira
de sairmos dele é olhar para nós mesmos. É hora de estabelecermos
uma comunicação sincera com quem nos maltrata. E por falar em
comunicação, se eu fosse você, continuaria lendo o livro e seguiria para
o próximo capítulo!
Márcio Barreto
45
Manual para ser alguém
46
Capítulo 7
A Comunicação “Saber se comunicar é uma coisa. Mas a precisão de ser entendido é outra totalmente
diferente. ”
Tiago Carossi
Falar sem parar não é, necessariamente, se comunicar.
Comunicacão não é, somente, falar. Paul Watzlawick, no seu livro
A Teoria da Comunicação Humana diz que se estamos em silencio,
também estamos nos comunicando, da mesma maneira que há
comunicação fazendo um tremendo barulho ou falando. Ele afirma,
que tudo o que fazemos ou não fazemos, dizemos ou não dizemos, é
algum tipo de comunicação.
Pense na cena de almoço em família. Alguns sentados à mesa e, de
repente, a mãe nota que faltam os copos. Há duas formas dela se
comunicar: A primeira, é se queixando que nunca fazem as coisas como
deveriam, que só não se esquecem da cabeça porque ela está colada no
pescoço; ou a segunda, que é fazendo um pedido direto para que algum
desocupado traga os copos para a mesa. A primeira forma só gera mal-
estar; e a segunda, faz com que os copos estejam na mesa.
O modelo mais ultrapassado de comunicação diz que o emissor
emite a mensagem, o receptor a recebe e que os ruídos (não entenda
como barulho) são as interferências existentes neste fluxo
comunicativo. E por que se diz ser ultrapassado? Porque novos estudos
envolveram outros elementos importantes como as emoções, os gestos,
o contexto (local e circunstâncias), o domínio (o trabalho, a família, os
amigos, o casal ou instituições) e finalmente, as distinções na linguagem
(julgamento, fatos, compromisso, afirmações etc.)
Como podemos ver, é muito mais que falar, fazer gestos, escrever
mensagens, fazer barulho e outros recursos comunicativos que
utilizamos. A filosofia da linguagem, afirma que é impossível não se
comunicar. Somos seres linguísticos e, portanto, devemos sempre
emitir algum tipo de comunicação. Não fale nada com ninguém, feche
seus olhos e não se mova. Em sua mente há comunicação, seu mundo
Márcio Barreto
47
interior está em constante estado de conversa. Por isso, se diz que
meditar é difícil, afinal, ficar imóvel, sem pensar em nada, é quase
impossível. Será ou é um julgamento do povo?
A PNL (Programação Neolinguística) estuda a influência da palavra
na comunicação interpessoal ou intrapessoal (a comunicação com o
mundo exterior e com o mundo interior) e a maneira como as nossas
emoções são expressadas, já que o nosso corpo é quem diz.
Miguel Ruiz, no livro Os Quatro Acordos, diz que devemos ser
impecáveis nas palavras. Mas o que significa isto? Impecável, é ser sem
pecado. Resumindo, palavras sem pecado. Mas, é importante eliminar
o significado religioso dado a palavra, a fim de evitar que você pense
que o inferno te espera por falar um palavrão.
O que autor nos explica, é que a qualidade das palavras que
proferimos está diretamente relacionada com a emoções que sentimos
e mais, com estado de “limpeza ou sujeira” que existe no nosso mundo
interior. O efeito que as nossas emoções causam na nossa linguagem,
também é percebido no nosso corpo. Não podemos controlar as nossas
emoções, mas podemos escolher entre dizer, “Que bosta!” ou “Que
droga!”, quando as nossas emoções borbulharem no nosso mundo
interior.
Tony Robbins, no livro Desperte Seu Gigante Interior, nos revela que
as palavras e as emoções agem, umas nas outras, em caminho de duas
vias; ele quer dizer que as nossas emoções influenciam na qualidade
das nossas palavras, assim como as palavras influenciam na qualidade
das nossas emoções. Ele nos afirma que, se queremos sentir boas
emoções ou pelo menos melhorar nosso estado emocional, é importante
saber escolher entre dizer “Me sinto o pão que o diabo amaçou pelo dia
horroroso que tive hoje” ou “Sinto cansaço pelo dia intenso que tive
hoje.” A segunda opção, alivia bastante o peso emocional que
sentimos, pois que as palavras impecáveis agem diretamente na mente
e no corpo, e muda a realidade em relação ao dia que tivemos.
A comunicação interior é muito importante, assim como também é
a exterior, pois que o mundo exterior se modifica, significativamente,
quando entendemos essa magia, que é o dom de se comunicar.
Portanto, a visão do modelo transmissor, receptor e ruído fica mais
restrito ao mundo da mídia televisiva e radiofônica. Nós, os seres
Manual para ser alguém
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humanos, somos muito complexos, porque acreditamos em muitas
coisas que pensamos e dizemos. Por seguirmos estritamente o que o
nosso mundo interior nos diz, somos capazes de sofrer muito mais na
imaginação que na realidade.
Crescemos recebendo mensagens através de diversas formas de
linguagem, e as guardamos como parte do sistema de aprendizagem
involuntário e, de uma forma ou de outra, são elas que nos fazem ser
determinados ou abatidos crônicos.
O poder da comunicação, em nossas vidas, é bem mais que trocar
palavras ou gestos por meio de códigos ou canais diferentes. Hitler foi
capaz de estimular o ódio e causar uma guerra mundial, por meio da
comunicação e assim como ele, vários outros transformaram o mundo
e até hoje o tranforma com diferentes propósitos.
Os meios de comunicação são os que governam o mundo. Eles,
basicamente, determinam o futuro de uma nação entregando
mensagens que possuem um tremendo poder de manipular as mentes
desavisadas, provocando emoções que terminam por guiar as suas
escolhas.
Nós somos, a grosso modo, emoção, linguagem e corpo, não
necessariamente nesta ordem. A comunicação que existe entre eles é
constante, e quando somos capazes de observar como eles funcionam
em nós, podemos promover mudanças muito interessantes na
qualidade do nosso mundo interior, obviamente, causando impactos
bastante positivos no mundo exterior.
O que você disser tanto para fora, quanto para dentro, poderá
provocar efeitos salvadores ou mortais. Nossas vidas são salvas por
meio das palavras; as vidas de outras pessoas são salvas por meio delas
também. Quando você diz “Não irei vencer!”, saiba que está decretado
o resultado. Este mesmo efeito avassalador pode ser causado na vida
de alguém. Como já mencionei anteriormente, se eu estivesse
assimilado quem é burro morre pastando, você não estaria lendo este
livro.
O CVV ou Centro de Valorização da Vida, se você não o conhece, é
uma central telefônica que atende milhares de chamados, anualmente,
de pessoas deprimidas, tristes e com fortes tendências suicidas. Graças
ao poder da comunicação, por meio da palavra de amor, vem
Márcio Barreto
49
conseguindo mudar o pensamento de diversas pessoas, tão
necessitadas de uma mensagem salvadora.
Espero que você possa ter aprendido, de forma prazerosa, algo bem
mais profundo a respeito da comunicação e que, a partir da leitura
deste capítulo, você jamais se esqueça dessa frase: “Seja impecável nas
suas palavras.” Declare sempre o melhor de si para si e para o mundo
que te rodeia. Ele precisa de pessoas que saibam declarar o amor em
vez da guerra, e já que mencionei a declaração, te sugiro virar a página.
Manual para ser alguém
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Capítulo 8
As Declarações “Sem a crença em uma vida futura, a presente seria inexplicável. ”
Marquês de Maricá
O mundo cria a palavra ou a palavra cria o mundo? Quem
gera quem? O mundo está em primeiro lugar ou é ao contrário?
No capítulo anterior, você aprendeu que a palavra é muito mais que
um código criado pela humanidade para expressar seu mundo interior,
ou seja, seu pensamento e suas emoções. Ela possui um poder para
provocar mudanças em nossa vida e na vida de outra pessoa, ela irradia
energia de construção ou destruição, tudo depende do que queremos
fazer com ela.
Temos uma grande facilidade para acreditar no “acaso”, no que foi
determinado pela vida, como se nós não fossemos dotados de poder do
livre arbítrio. O nosso presente será sempre o resultado do que
escolhemos ou não no passado, e por mais que exista interferências
provenientes das ações de outras pessoas, haverá sempre uma
oportunidade de ver em que parte do contexto existe a nossa
participação, a nossa responsabilidade nele.
A declaração, é uma afirmação que se faz procurando evidenciar
uma verdade na qual se acredita chamada convicção. Sempre que
declaramos a nós mesmos ou a alguém, seja o que for, necessariamente,
estamos criando uma realidade existente na mente que, em seguida,
será materializada graças ao compromisso e a ação. Não haverá o
resultado esperado, se o compromisso não for assumido como parte do
processo de criação ou da transformação que se quer realizar, a partir
da declaração estabelecida. Ela até pode ser, opcionalmente,
compartilhada com alguém. Quando o padre ou o juiz diz “Eu vos
declaro marido e mulher!”, aquilo que não existia antes, começa a
existir e a relação passa a ser outra com os compromissos estabelecidos.
Ao se declarar a independência de um pais, muda-se a história dele
completamente, que também passa a ter compromissos sérios com o
Márcio Barreto
51
seu povo. Em ambas situações, se declara com o poder que foi
outorgado aos declarantes.
Agora que você já sabe o que é uma declaração, é bem mais fácil
responder as perguntas no primeiro parágrafo. Se o mundo tivesse o
domínio na criação de tudo o que existe, nada mais nos restaria a fazer
senão aceitar aquilo que já existe, sem nenhuma chance de modificá-lo.
No entanto, ele passa por constantes modificações graças a este poder
maravilhoso que temos de declarar o que pretendemos fazer com ele,
seja o nosso mundo interior ou neste onde vivemos com os demais seres
da criação. Infelizmente, nem sempre fazemos transformações
benéficas nele, ao contrário, o prejudicamos bastante.
“Acredita que vale a pena viver, e a tua convicção ajudará a criar esse fato. ”
William James
Quando somos convictos, podemos declarar com segurança aquilo
que queremos fazer com o nosso mundo interior e com o que nos
rodeia. A convicção tem um enorme poder libertador se soubermos
como fazer o uso adequado dela. Ela é formada por palavras oriundas
do nosso imaginário e aí está o belo; podemos fazer as transformações
maravilhosas, escolhendo as palavras certas para formar a convicção
adequada e provocar a mudança que queremos implementar nos
nossos mundos.
Te sugiro fazer uma experiência simples, porém fantástica, com o
seu vocabulário antes de declarar qualquer coisa. Em vez de você dizer
eu odeio isso ou aquilo escolha dizer eu prefiro isso ou aquilo, que te
sugere uma emoção totalmente diferente, já que despertará em ti o
amor por algo e não, o ódio por outro. Você entenderá a importância
de viver com os melhores sentimentos em evidência na sua mente,
como se escolhesse viver sentindo o melhor aroma ao seu redor,
(analogamente explicando), caso isto seja possível. Lembrando do que
você aprendeu anteriormente, a emoção também surge a partir das
palavras. Experimente, não te custará nada!
Para reforçar a experiência que te sugeri fazer, verifique a sua
convicção em relação ao seu talento para realizar algo que você deseja
muito, mesmo que alguém te diga o contrário. Agora repita várias
Manual para ser alguém
52
vezes: “Eu posso!” “Eu consigo!” “Eu já consegui!”, etc. Verás que uma
força imensa brota em ti, uma emoção forte te toma, e a declaração que
automaticamente vem à sua mente é “Eu chegarei aonde quero
chegar!” A neurociência pode dizer o contrário, que o cérebro age assim
ou assado, que muitos fatores poderão interferir etc., não importa! O
que você estabelece como VERDADE para você é o que te moverá para
frente! Quem não tem fé, não tem poder!
“A morte não é a maior perda da vida. A maior perda da vida é o que morre dentro de nós, enquanto vivemos.”
Norman Cousins
O jornalista americano, Norman Cousins, autor do livro Anatomia de
Uma Enfermidade, relata como ele foi capaz de se curar de uma doença
degenerativa grave, apenas pelo poder das suas convicções que o
fizeram não somente se curar, mas viver vinte e seis anos além do
declarado pela medicina. Ele fez uso das boas palavras que geraram
boas emoções, que geraram bom humor, que geraram alívio e
obviamente, geraram bons resultados.
Mas sempre surge a pergunta que não quer calar: E se eu não obtiver
o resultado esperado, mesmo fazendo a minha parte, declarando o
melhor possível com a minhas convicções?
Te respondo perguntando o seguinte: Sabendo do perigo que existe
nas ruas, do imprevisto que é viver e de tudo que pode acontecer
inesperadamente, você não continua vivendo igualmente? Você,
quando anda às ruas, você caminha pela calçada ou pelo pavimento? O
bom senso dirá que é pela calçada, obviamente! Mas esta ação é cem
por cento segura para evitar um atropelamento? Comprovadamente
que não! E por isso você caminhará por onde passam os veículos?
O que quero dizer com essas analogias é: Faça a sua parte! Não
estimar o melhor para você é o mesmo que caminhar pelo asfalto,
somente porque morrem pessoas atropeladas nas calçadas. Cada
simples ato de proceder com segurança provém de uma convicção, que
essa é a forma correta de preservarmos a nossa integridade física,
emocional, espiritual ou moral, entretanto, tudo pode acontecer no
caminho. O nosso maior problema está no querer ver antes de crer!
Márcio Barreto
53
A partir deste capítulo a sua postura deve mudar porque antes de
irmos às ruas, não precisamos ver se vamos sobreviver para crer que as
nossas obrigações serão realizadas. Então, qual é o problema
procedermos de maneira semelhante para mudarmos a nossa vida? No
meu lugar, como escritor, você esperaria ver a vendagem do livro para
crer que valeria à pena escrevê-lo?
Um dos grandes triunfadores neste mundo, que partiu do zero para
construir um mundo maravilhoso de cores, fez uma declaração muito
forte. Ele resolveu que sim ou sim ele seria quem ele queria ser: um
criador de sonhos. Eu a reproduzo abaixo.
“E assim depois de esperar tanto, um dia como outro qualquer
decidi triunfar. Decidi não esperar as oportunidades, senão eu mesmo
buscá-las; decidi ver cada problema como a oportunidade de encontrar
uma solução; decidi ver cada deserto como a oportunidade de
encontrar um oásis; decidi ver cada noite como um mistério a resolver;
decidi ver cada dia como uma nova oportunidade de ser feliz.
Àquele dia, descobri que meu único rival não eram mais que as
minhas próprias debilidades, e que nelas, está a única e melhor forma
de superarmos; aquele dia deixei de temer o perder e comecei a temer
ao não ganhar; descobri que não era eu o melhor e que talvez eu nunca
o fui. Me deixou de importar quem ganharia ou perderia, agora me
importa simplesmente me conhecer melhor que ontem.
Aprendi, que o difícil não é chegar ao cume, senão jamais deixar de
subir. Aprendi, que o melhor triunfo que posso ter, é ter o direito de
chamar a alguém de amigo. Descobri que o amor é mais que um simples
estado de paixão, “o amor é uma filosofia de vida.”
Àquele dia, deixei de ser um reflexo dos meus escassos triunfos
passados e comecei a ser minha própria tênue luz deste presente.
Aprendi, que de nada serve ser luz se não irás iluminar o caminho dos
demais.
Àquele dia decidi mudar tantas coisas.... Àquele dia, aprendi que os
sonhos são somente para se tornarem realidade. Desde aquele dia, já
não durmo para descansar, agora simplesmente durmo para sonhar.”
Walter Elias Disney
Manual para ser alguém
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O que nos difere dos grandes triunfadores deste mundo, que
começaram a partir do zero? O que fez um Bill Gates ser o que é, de um
Steve Jobs ser quem foi para o mundo? Eles usaram o que eles nem
sequer conheciam conscientemente, que foi o poder da convicção e da
declaração que fizeram para si mesmos: “Eu posso!” Considere que
eram jovens em situação muito semelhante, econômica e culturalmente
falando, aos demais rapazes do bairro onde moravam, ambos nem
sequer tiveram diplomas universitários.
Se houver o desejo sem muita vontade, nada acontece; se houver à
vontade sem algum conhecimento básico, nada acontece. Não é
simplesmente ter as melhores convicções, fazer as melhores
declarações; é necessário a parte fundamental do processo que é a
transpiração, o aprendizado, o que realmente difere os triunfadores dos
desertores. Ninguém se torna um experto antes para depois fazer o que
se quer. O importante é ter o mínimo para começar e a expertise chegará
com a prática constante, com os equívocos no processo. Você se lembra
do não sei o que eu sei?
O que nos bloqueia e nos impede de começarmos? É a importância
que damos para o erro e os possíveis fracassos na jornada da criação. É
a defesa da própria imagem, são os níveis de cobrança internos que
possuímos. Se somos convictos e nos declaramos competentes, os erros
passam a ser senão ajustes no processo da realização do queremos, algo
que Thomas Edson conheceu bem, errando mais de novecentas vezes
até inventar a lâmpada. O julgamento tem um papel fundamental neste
processo! Ao substituirmos a palavra erro por ajuste, muda totalmente
o peso da emoção que sentimos, e a necessidade de nos protegermos do
nosso proprio julgamento, desaparece.
Uma mudança que devemos implementar, em segundo lugar, logo
após de mudar as nossas convicções, é declararmos o que queremos; é
deixar de ouvir o que outros dizem, sobretudo aqueles covardes e
medrosos que pulam do barco, mesmo não sabendo nadar, em vez de
esperarem para ver como a aventura irá terminar. A opinião alheia é
importante quando nos alerta, quando nos fazem ver o que não
havíamos considerado, quando chama a nossa atenção para algum
possível perigo de trajeto. Portanto, desenvolver o poder do ser é
fundamental!
Márcio Barreto
55
Quando aprendemos que a vida possui uma dinâmica própria, que
ela nos traz sempre o que necessitamos e não, o que queremos,
desenvolvemos o estado de fé. A fé, é crer que a vida nos responderá,
de maneira imprevisível, nos conduzindo para o encontro com o
desejado. Mas para que este encontro aconteça, é preciso ação, requer
contínuo estado de determinação para alcançar o que se busca. O que
frustra muita gente é o estado de ansiedade permanente que,
sorrateiramente, nos faz querer tudo no momento que estabelecemos
como único válido, ou seja, exigimos que o universo atue na nossa
velocidade, sem percebermos que, no tempo de espera, a Inteligência
Suprema coloca cada um de nós no seu devido lugar, muda a nossa
mentalidade, programa os encontros “por acaso” para que, finalmente,
ao recebermos o objeto desejado, estejamos alimentados com certa
carga de maturidade para não desperdiçarmos a nossa conquista.
Lembre-se: Tudo que vem fácil, vai fácil!
Seja prudente, seja paciente, seja uma pessoa de fé, determinada. Já
que ser é muito importante, não feche o livro e vá para o próximo
capítulo.
Manual para ser alguém
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Capítulo 9
O Poder do Saber “Só se pode alcançar um grande êxito, quando nos mantemos fiéis a nós mesmos.
Friedrich Nietzsche
Todos nós buscamos inúmeras coisas em nome da
felicidade. Coisas licitas e ilícitas para preenchermos as nossas vidas
de bens, de fortuna, de status, de pessoas ou outra coisa qualquer que
nos dê prazer. Mas, no fundo no fundo, o que todos nós queremos é ser
amados, queremos o amor presente em nossas vidas.
No capítulo anterior, você aprendeu que o poder das convicções
para fazer declarações libertadoras, que te fará sair às ruas mesmo sem
saber se você irá voltar para casa; que te fará caminhar pelas calçadas,
mesmo sabendo que um veículo poderá invadi-las e te atropelar. Neste
capítulo, você conhecerá o outro lado das declarações; o poder de ser
livre para assumir o controle da própria vida.
Sendo o amor a nossa meta, de forma consciente ou inconsciente,
desenvolvemos hábitos, muitas vezes involuntários, para buscarmos a
aprovação dos outros, para que nos queiram, para que pensem bem ao
nosso respeito, para mostrarmos que somos bons e que sempre estamos
disponíveis para os demais. Quando isto ocorre, anulamos a nossa
própria identidade, deixamos de lado os nossos desejos, deixamos de
lado a nossa vida, assumindo compromissos que não queremos
assumir, a fim de evitarmos que a nossa imagem fique deteriorada,
talvez, sendo chamados de irresponsáveis e até de mentirosos. É
quando adotamos a postura de o “Ser do SIM”.
Uma vez assumida esta forma de vida, passamos a viver em função
do outro, de crer no outro, de pensar como o outro, de fazer o querem
que a gente faça, ou seja, nos tornamos escravos subservientes apenas
para ter o amor, a consideração e o respeito alheios. Esta postura, é um
grande risco para eliminar as nossas convicções libertadoras mais
profundas, já que na intenção de ser o que aos outros agrada, não
declaramos nada que possa contrariar a opinião alheia. Os nossos
Márcio Barreto
57
sonhos são esquecidos, porque tememos que a nossa imagem seja
prejudicada.
Você já deixou de realizar o seu sonho para agradar aos outros?
Então, diante de um espelho, faça essas perguntas, olhando nos seus
olhos, e as responda com sinceridade. O que te faz dizer sim na sua
vida? Quais são os teus benefícios, secundários, quando você diz que
sim, e, na verdade, você quer dizer, não? Você se considera uma pessoa
fácil de dizer sim? Por quê?
As nossas convicções devem ser autônomas, livres dos julgamentos
alheios, mesmo aqueles que nos apoiam porque, muitas vezes, aqueles
que nos dizem “Siga em frente!”, no íntimo, querem dizer “Que infeliz
queda do cavalo será!” Lembre-se de que, assim como nós, as outras
pessoas fingem porque, também, querem ser amadas. O grande
segredo para proteger as nossas convicções e declarações dos ataques
dos hackers,5 é permanecermos em silêncio. Não é necessário que
ninguém, além de nós, creia nos nossos sonhos, a menos que seja
alguém que realmente tenha a mesma crença nos desafios que nos
propomos. Se os seus pais duvidam de você, nem eles mesmos
merecem conhecer, a fundo, onde você pretende chegar. Busque meios
para realizá-los e não te preocupes, porque a vida se encarregará de te
colocar no lugar certo, diante da pessoa mais adequada para te ajudar
na sua jornada.
“Cada vez que consideramos que devemos dizer que NÃO e não o dizemos, veremos a nossa dignidade comprometida. “
Rafael Echeverría
A arte de dizer o NÃO é tão necessária, quanto dizer o SIM sempre
que convém. A diferença entre o sim e o não, está no poder que o sim
tem de viciar, e o não, de gerar ressonâncias no ser humano.
Muitos de nós sofremos quando ouvimos o não, ainda que ele nos
salve a vida, mas dificilmente alguém se lamenta por ter ouvido um
sim, ainda que ele nos leve ao sofrimento. A menos que o sim queira
5 Hackers = ladrões que detectam falhas e invadem sistemas informáticos para roubar
informações privadas.
Manual para ser alguém
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dizer não, o que pode acontecer em algumas situações, como por
exemplo: “Você está dizendo que não me ama mais? Sim, estou!”
Por isso, dizer um não, é muito difícil porque se sofremos com ele,
provavelmente, pensaremos que a outra pessoa sofrerá também. A
insegurança, nos faz idealizar situações desagradáveis. Pura
imaginação!
Da nossa infância, trazemos muitas referências (internas ou
externas) que construíram a nossa identidade, que formaram o nosso
sistema de crenças e que hoje, influenciam nas nossas emoções, gerando
os nossos pensamentos, de onde nascem as ações e logo, os resultados.
Este ciclo do desenvolvimento humano é igual para todos, e são os
resultados que nos mostram se essa cadeia apresenta problema ou não.
Quase sempre em um ou em diversos campos da vida.
Muitas vezes, não percebemos que a estagnação em que muitos de
nós nos encontramos, provém da falta do não em nossas vidas, pois que
também somos muito generosos com nós mesmos, e toleramos
determinadas atitudes que devem ser detectadas e eliminadas por meio
da mudança de hábitos. Precisamos dizer não, às nossas mentiras;
precisamos dizer não, aos obstáculos que inventamos para justificar a
nossa permanência na inércia; devemos dizer não, às histórias que
contamos para permanecermos onde estamos.
É necessário dizer não, aos que nos enfraquecem e todos aqueles
tentam construir seus muros no nosso caminho. Pessoas que, por não
terem coragem e terem o seu sistema de crenças bastante
enfraquecedor, tentam desestimular o nosso querer por possuírem uma
visão apocalíptica em relação ao futuro. Vale a pena mencionar que os
grandes mártires que passaram por este mundo, foram fortes para
dizerem não, aos seus regimes de governo, à política social etc. Pessoas
como Mahatma Gandhi, Martin Luther King Jr, Nelson Mandela,
poderiam ter sido pessoas comuns, se não fosse pelo desejo que
possuíam de modificar as suas vidas e de quem como eles pensavam.
Por saberem dizer não, foram importantes líderes que fizeram história
neste mundo.
Na democracia, podemos dizer não a tudo aquilo que não achamos
que seja justo e no livre comércio, podemos dizer não, a tudo aquilo que
não nos interessa comprar. Se concordamos com o injusto e compramos
Márcio Barreto
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o que não queremos, é porque não temos o domínio suficiente da
autoestima e de nossas crenças. As pessoas que sempre dizem sim para
tudo, raramente fazem história.
“Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. ”
Sócrates
Quando a palavra não, vem antes da palavra sei, nos abre uma
grande possibilidade de conhecermos algo novo. Entretanto, há quem
as diga por pura preguiça, falta de vigor ou de compromisso com as
pessoas e com o mundo. Simplesmente, não percebem que a
displicência não as levam a lugar algum; não entendem o poder que
ambas palavras possuem para nos conduzirem na jornada do saber.
Ao saber dizer que não sabemos, declaramos a nós mesmos que
podemos aprender algo novo, que podemos abrir uma porta para um
mundo desconhecido, movendo as forças mais poderosas dentro do
processo da transformação pessoal, algo que você está fazendo neste
momento.
Quantas vezes vamos em busca do saber, quando dizemos a nós
mesmo ou a alguém que não sabemos? É algo que devemos responder
considerando os motivos, obviamente. Fazendo uso das palavras do
apóstolo Paulo de Tarso, “Tudo nos é licito, mas nem tudo nos
convém”, saber.
Não saber alguma coisa, não implica ter que saber, simplesmente
para o ser o sabe tudo da família, da escola, do grupo etc. É importante
selecionar o que realmente nos guia para o que nos transforma em seres
melhores no mundo.
Quando dizemos, não sei cozinhar, nos dá um poder imenso de
conhecer algo que, de repente, poderá ser a nossa felicidade
professional. A magia está em descobrir o que já sabíamos, porém,
nunca havíamos dado conta que sabíamos. Todo ser deve saber o que
sabe; precisa ser curioso para saber o que não sabe; e tentar descobrir
aquilo que pensa que não sabe. Esta caixinha de surpresa existe em
todos nós, o que nos falta é a curiosidade e a liberdade de nos permitir
abrí-la.
Manual para ser alguém
60
Muitas pessoas viram suas vidas transformadas quando, por um
motivo de força maior, foram obrigados a descobrir o que nelas havia
para sobreviver. Quantos profissionais não descobriram seus reais
talentos, quando ficaram desempregados? Quanta gente não aprendeu
a fazer doces e salgados para superarem uma dificuldade econômica?
É muito frequente esperarmos chegar o caos em nossas vidas, para
abrirmos a caixinha do saber em busca da sobrevivência ou da
felicidade.
No Estado do Espirito Santo, um diretor de uma empresa
conceituada foi demitido, sem aviso prévio, e para continuar na luta
pela sobrevivência, resolveu que ia começar um novo negócio: fazer
sorvetes para vender. Começou com um pequeno trailer e pouco tempo
depois era o dono da sua própria fábrica e profissionalmente muito
mais feliz que no seu anterior trabalho. Você conhece alguma história
parecida?
Lamentavelmente, muitas pessoas sentem vergonha do “não saber”
e preferem inventar teorias sem sentindo, se sentem diminuídas, como
um sintoma da falta de humildade. Para você ficar bem feliz, é
impossível que alguém saiba tudo, pelo menos no atual planeta em que
vivemos. Então, qual é o problema não saber? Um profundo
conhecedor do corpo humano pode não saber andar de bicicleta, algo
que muitas crianças fazem ainda estando no jardim da infância. Cada
um domina uma especialidade, portanto, é uma perda de oportunidade
deixar de aprender o que não se sabe; e mais, deixar de descobrir o que
já sabe. Pode ser que este livro esteja mal escrito, mas pelo menos eu
comecei algo novo, resolvi abrir a caixinha do saber que também existe
em mim.
Cada vez que afirmamos eu não sei, começamos a nossa escalada
na montanha do aprendizado. Ter consciência do que se sabe é tão
importante quanto saber o que não se sabe. Quando sabemos o que
não sabemos, dizemos, inconscientemente, que aprenderemos.
Quantas vezes você não foi na internet buscar o que não sabia? Não foi
bom aprender algo novo sem sentir dor?
Quando você declara que não sei plantar alho, você pode atuar de
duas formas: A primeira é ficar na inercia e continuar sem saber; e a
segunda, é buscar o conhecimento e fazer uso dele, se é que a sua
Márcio Barreto
61
intenção é ir mais além do saber, é pôr em prática o que acabou de
aprender. Aprendi a plantar alho assim, buscando na internet. Imagine
você, quantas oportunidades você tem para aprender, pelo simples ato
de saber o que não se sabe! Sei como era o mundo antes da internet e
posso te garantir que nunca foi tão fácil e rápido aprender algo novo.
E agora, o que te falta? É difícil saber o que já se sabe? E de saber o
que não se sabe? E que tal matar a curiosidade para saber aquilo que
você não sabia que já sabia? A única forma de fazer esta descoberta é
ser humilde, abrindo a mente para se permitir aprender, enquanto a
mente e o corpo te proporcionarem essa fascinante arte de crescer em
sabedoria e intelectualidade.
Saber Perdoar
“Guardar ressentimento é como tomar veneno e esperar que a outra pessoa morra. ”
William Shakespeare
Perdoar, não significa estar de acordo com as coisas que
aconteceram e que, tampouco, as aprove. Também não significa que
ficará no esquecimento e que a relação poderá fluir como antes.
Perdoar, não quer dizer que tenhamos que conviver com quem nos
prejudicou ou nos decepcionou. É bastante comum pensar que perdoar
é conviver, é “deixar para atrás” o que aconteceu, sem considerar que,
o que aconteceu, poderá acontecer de novo. Esquecer, pode ser um
gesto de displicência dependendo do ocorrido, porque para muita
gente o perdão é uma porta aberta para outro ataque.
Vale saber que existem dois tipos de pedido de perdão usados pela
humanidade: o perdão consciente e o perdão social. Este último,
normalmente, é usado para “limpar a própria imagem”, todavia, sem o
aprendizado adquirido, algo que ocorre no perdão consciente, quando
existe reconhecimento do erro e desejo de reparar o dano causado. O
perdão social, quase sempre é usado para aplicar um novo golpe. O
compositor e cantor, Renato Russo, deixou isso claramente em uma de
suas canções ao dizer “...sempre as mesmas desculpas e desculpas nem
sempre são sinceras, quase nunca são.”
O autoperdão é um gesto de amor que fazemos a nós mesmos, da
mesma forma quando perdoamos a alguém porque, no fundo, nós
Manual para ser alguém
62
sempre somos os mais beneficiados quando perdoamos, mesmo que
ninguém nos peça perdão, algo muito comum de acontecer.
Quando perdoamos alguém, tiramos a corda do nosso pescoço que
nos amarrava a quem nos causou danos ou dor. E o principal motivo
do perdoar, é eliminar os pensamentos negativos que nos atordoam,
gerando-nos emoções bastante desagradáveis que nos consomem
muito.
Pedir perdão é, também, algo importante que devemos não só fazer,
mas saber como fazê-lo, deixando claro que não concordamos com a
nossa ação equivocada, que reconhecemos o dano causado e que, de
alguma forma, queremos repará-lo. Ao reconhecer o nosso erro,
também reconhecemos o ser falível que somos e também nos
perdoamos. O que vale pedir perdão e não se perdoar?
Ao nos dirigirmos a alguém para lhe pedir perdão, devemos ter
consciência de que poderemos ser ou não perdoados, entretanto, a
segurança é um sentimento que deve existir em nós, porque da mesma
forma que escolhemos perdoar ou não, a outra pessoa também tem o
mesmo direito. Se houver a possibilidade, o correto é dizer à pessoa “Eu
reconheço que não agi corretamente contigo e que te causei tal dano,
porém, faço questão de repará-lo.” Dessa forma, lhe mostramos
humildade, reconhecimento do equívoco e deixamos a nossa
consciência tranquila, mesmo que não sejamos perdoados.
Se nos dirigimos a alguém para lhe pedir perdão dizendo “Sei que
errei contigo, porém, quero reparar o meu erro e espero que você me
perdoe.”, entregamos nas mãos dessa pessoa o poder de deixar a nossa
consciência pesada por anos, caso ela não nos perdoe. Lembre-se, que
o ato de perdoar e pedir perdão é, na realidade, o poder se liberar,
emocionalmente, do fato.
O gesto do perdão e do autoperdão é, também, uma declaração que
fazemos a nós mesmos, porque buscar a nossa liberdade emocional é
gerar mudanças na nossa vida; progredimos emocionalmente,
moralmente e espiritualmente. Qual é a sua dificuldade para perdoar
alguém? Por que você não se sente capaz de perdoar a quem te causou
algum dano? O que te falta para isso acontecer? Como você se sentiria
se isto acontecesse? Você pode começar a se dar essa liberdade, hoje?
Por que sim ou por que não?
Márcio Barreto
63
Saber Amar “Amar não é aceitar tudo. Aliás: onde tudo é aceito, desconfio que há falta de amor.
”
Vladimir Maiakóvski
Amar o próximo como a ti mesmo é algo complexo, porque o que
nos falta, e muito, é amar a nós mesmos, em primeiro lugar. Depois de
você ter lido os capítulos anteriores, pode ser que você concorde
comigo, percebendo que damos muito mais importância aos outros que
a nós mesmos, e o pior, sem sermos altruístas! Se, pelo menos,
pensássemos na dor do próximo e fizéssemos algo por ele, seria um
gesto sublime. A importância que damos aos outros é, quase sempre,
para impressioná-los, dando muito mais valor aos outros, por
entendermos que desta forma resguardamos a nossa imagem de gente
boa.
Quando pensamos em amar ao próximo, pensamos em satisfazê-lo
de alguma forma, porém, este pensamento poder ser um desastre para
o ser amado. Amar, não é satisfazer a vontade de ninguém, é dar ao
próximo o que ele necessita e muitas vezes dizer não, é necessário e
nem por isso deixa de ser um ato de amar.
Diz a história, que Francisco de Assis viu os escravos do pai dele
trabalhando na lavoura e sentiu por eles um tremendo amor.
Rapidamente, tratou de encontrar um meio de tirá-los dali. Em
determinado momento, ele ouviu uma voz espiritual que lhe disse: “Se
você os tirar dessa condição, os tirará do caminho do crescimento
espiritual que eles necessitam. Se quer amá-los, os trate com dignidade
e faça de tudo para aliviar o sofrimento deles.”
Expressar o amor, não significa deixar a razão de lado, não significa
viver em eterno estado de romance, essa energia emocional que
envolve o ser humano quando há amor entre casais, sem se importar
com gêneros.
O amor, é entender o que cada um precisa para se erguer, jamais
para cair. Portanto, é dar o que corresponde mesmo que o desagrade.
Não é dar dinheiro ao dependente químico, é dar a opção do
tratamento. Não é dizer sim, sempre; não é dizer não, sempre. É dar
Manual para ser alguém
64
agua para quem tem sede e não comida, porque a comida não mata a
sede. É alimentar a quem tem fome e não lhe dar agua, porque a água
não alimenta. É saber exatamente ser racional sem ser calculista e
egoísta, sem fazer nem mais nem menos. É fazer o melhor para quem
necessita, e isto é válido para nós mesmos, afinal, não nos esqueçamos
que para amar a nós mesmos a fórmula é a mesma.
Saber Agradecer “A tudo dê graças ”
Paulo de Tarso
O sentimento de gratidão, normalmente, surge quando algo
agradável acontece em nossas vidas. Isto porque o vinculamos ao
prazer, de forma inconsciente. Alguma vez você disse graças a Deus
por ter perdido um avião? Provavelmente, só depois de saber que ele
caiu e ninguém sobreviveu. Deu para perceber como a gratidão se
vincula ao que nos agrada?
Eu sou um crente convicto de que tudo pode ser pior, portanto, ser
grato, independe do que me faz sorrir ou chorar. Nós nunca sabemos
onde fica realmente o fundo do poço. Se quebramos um braço, basta
imaginarmos se estivéssemos ficados sem ele. Se olharmos com a razão
para os fatos de nossas vidas, percebemos que realmente Paulo de
Tarso tinha razão ao dizer “A tudo dê graças”.
Pelo recebido e pelo não recebido, a gratidão sempre deve estar
presente. O que me fez vir para o exterior e ter tido uma vida muito
melhor que eu teria no Brasil, foi por eu ter dado graças a um salário
muito baixo que me foi oferecido em 1998, para entrar na empresa que
me trouxe para o exterior em 2010.
A gratidão é aceitar o desconhecido, é gesto de humildade, porque
sempre achamos que merecemos muito mais, e que somos
subestimados por Deus ou pela vida, seja como cada um queira dizer.
Outra coisa que nos bloqueia o sentimento de gratidão, é o hábito
de esperar que tudo seja ou aconteça como queremos. No livro, O
Cavaleiro da Armadura Enferrujada, de Robert Fisher, aprendemos que o
nosso maior erro na vida está em esperar, em vez de aceitar. Existe uma
brutal diferença entre um e outro, já que esperar nos faz exalar a
Márcio Barreto
65
ansiedade, o desejo de controlar as coisas, as pessoas e os fatos. Já o
aceitar, nos coloca na humilde posição do autoconhecimento e
aceitação, tornando-nos, assim, merecedores de muito mais. A gratidão
nos faz crescer, nos prepara para o grandioso, porque a vida possui
mecanismos inteligentes que nos transforma, diariamente, para o que o
futuro nos reserva. Para quem é tudo ou nada, a vida é frustrante e
triste; para quem diz que um é melhor do que nada, cria para si mesmo
um futuro próspero porque sabe que, à medida que se esforça, mais a
vida lhe retribui.
A gratidão é muito mais que um gesto de educação, na relação entre
pessoas. Algo que fazemos, mecanicamente, ao recebermos algum
benefício. Se bem que há muita gente que diz obrigado, querendo dizer
miserável, sobretudo, àquelas pessoas que vivem esperando sempre.
Ao expressarmos a nossa gratidão pela palavra, devemos realmente
sentí-la com verdade, dizendo a Deus ou à vida o quanto nos sentimos
gratos pelo conseguido. Nunca se esqueça disso, tudo pode ser pior.
Quando eu entendi essa mágica fórmula da gratidão, por tudo,
entendi o poder que ela tem de nos fazer crescer espiritualmente, pois
que aceitar é mais que ser obediente e passivo, é entender que existe
um preparo que não percebemos, algo inteligente que ocorre e que só
tempo poderá nos revelar. As grandes e agradáveis surpresas estão
reservadas, mas somente com o gesto da aceitação é que poderemos
encontrá-las.
Ter Coragem
“A vida se contrai e se expande, proporcionalmente à coragem do indivíduo. ”
Anaïs Nin
A coragem é uma emoção que podemos expressá-la por meios de
atitudes ou palavras. Normalmente, a vinculamos ao ato heroico de um
guerreiro, mas não nos esqueçamos que é necessário ter coragem para
dizer não, quando convém; que é necessário ter coragem para dizer
adeus, quando chegou à hora de partir; que é necessário ter coragem
para dizer basta, no momento oportuno. Enfim, ter coragem não é ser
herói ou heroína, é ter a liberdade de ser, sem se importar com o que
Manual para ser alguém
66
outros vão pensar ou dizer. Ter coragem, é ter a força para provocar as
mudanças que queremos implementar em nossas vidas.
Eu considero que a autoestima é o núcleo da nossa coragem, porque
a autoestima gera segurança e dela nasce a coragem que necessitamos
para agirmos. É uma espécie de espada, com a qual enfrentamos os
nossos desafios, sem desprezar o sentimento de medo que nos faz agir
com precaução e estratégia. A coragem e o medo são sentimentos que
nos equilibram em nossas ações, pois que um é o atuar em si e o outro,
é o que nos faz pensar como agir. Ter coragem, não é ser displicente e
fazer por fazer para provar algo a alguém, não é ato de exibicionismo
nem de autoadmiração. Lembre-se de que não devemos provar nada a
ninguém.
É necessário ter coragem para as coisas bem simples e cotidianas,
como pedir um favor a alguém, se oferecer ou prometer algo a alguém,
e por falar em pedir, oferecer e promessa, faça uma pausa de reflexão e
vá direto ao próximo capítulo.
Márcio Barreto
67
Capítulo 10
Pedir, oferecer e prometer “É estupidez pedir aos deuses aquilo que se pode conseguir sozinho. ”
Epicuro
Pedir não deve ser um vício, somente uma necessidade.
Quem quiser conquistar alguma coisa, tem que ter coragem para pedir,
oferecer e prometer. Não pense que é qualquer um que domina esses
três atributos da relação, interpessoal, com facilidade. Parece simples,
mas não é, requer coragem. Mas quem quer construir um mundo
melhor não há outro jeito.
Não há como pedir, oferecer ou prometer, se não for por meio da
comunicação, e para quem sofre de timidez, por exemplo, comunicar-
se, verbalmente, não é algo fácil, embora para muitos é algo comum que
não requer maior esforço.
Muitos pensam que pedir é simplesmente dizer o que se quer e está
tudo certo. Vou te mostrar que não é simples assim nos exemplos,
incorretos, abaixo.
- “Alguém pode apagar a luz?”
- “Você pode me trazer um refrigerante do supermercado?”
- “Alguém pode me trazer uma faca?”
- “Por favor, abaixe da internet uma lista dos melhores filmes do
ano.”
Onde estão os erros nos exemplos acima? Você foi capaz de
identificá-los em cada pedido?
Se você não foi capaz de vê-los, é porque você pode estar cometendo
erros semelhantes como estes e, agora, chegou a hora de corrigi-los.
No primeiro pedido, é importante citar o nome de quem deve
apagar a luz e em que momento se deve apagá-la.
No segundo pedido, se deve dizer o nome do refrigerante, o
tamanho do envase e a temperatura dele - quente ou gelado - sem se
esquecer de dizer para quando o quer.
Manual para ser alguém
68
No terceiro pedido, é importante citar o nome da pessoa, o momento
que se quer a faca e o tipo de faca que se necessita; grande ou pequena,
com ponta ou sem ponta, para cortar carne ou pão.
No quarto pedido, faltou mencionar que tipo de arquivo, se em
Word em Excel, o ano dos filmes e para quando se quer o arquivo e por
que meio o deseja receber, e-mail, pendrive etc.
Pode ser que você esteja pensando, agora mesmo, que eu sou bem
detalhista e que os pedidos acima são tão óbvios e, portanto, não há
como existir mal-entendidos. Tente relembrar algum problema que
você tenha vivido por falta de detalhes no seu pedido.
Quem pede algo a alguém, tem uma necessidade para se satisfazer,
do contrário, não há motivo para se pedir. Por outro lado, a pessoa que
atenderá o seu pedido deve saber claramente o que, como e quando
atender o pedido, afinal, é um compromisso que se assume.
Imagine que nos dias de hoje, de crise econômica mundial, várias
empresas quebrando, tendo uma pandemia abatendo o mundo, sua
chefe passa por detrás de você, no seu posto de trabalho, e te diz:
“Pegue todas as suas coisas e me acompanhe por favor!” O que você
pensará neste momento? Que emoções fluíram na sua mente?
Entretanto, quem te disse que é para te demitir e não, para te mostrar o
seu novo local de trabalho, já que acabas de receber uma promoção? A
interpretação sempre estará presente, já que crescemos com o preceito
de interpretar e julgar sempre, seja a alguém ou a um fato.
Guarde isto, se pedir é uma necessidade a se satisfazer, não faz
sentido que um pedido seja feito de qualquer maneira. É necessário
escolher a quem pedir, como pedir e para quando quer que o seu
pedido seja atendido. Lembre-se que todos julgamos, todos
interpretamos o que alguém nos diz e, portanto, se não somos claros
nos nossos pedidos, não podemos reclamar que a outra pessoa não nos
atendeu como esperávamos.
Outro detalhe importante para quem quer seu pedido atendido, é
entender que a resposta que virá poderá ou não cumprir com as nossas
expectativas. Da mesma forma que a resposta sim, é para o nosso
pedido, o não, também será para ele e não para nós, o que normalmente
achamos que é, e o que nos faz sentir raiva da pessoa ou outras emoções
que nos atormentam.
Márcio Barreto
69
Quando recebemos o não para o nosso pedido, muitas vezes caímos
na tentação de nos queixarmos, porque deixamos de lado o velho
conselho do aceitar em vez esperar. A queixa é um círculo vicioso,
sobretudo, para aqueles que gostam de ter razão em tudo e de controlar
as pessoas, as coisas e o mundo. Normalmente, este tipo de pessoa atua
como um eixo, tendo tudo e a todos girando ao redor da sua queixa.
Raramente, não observa às suas responsabilidades e as causas,
impedindo, dessa forma, que a sua necessidade seja atendida.
É importante saber separarmos a queixa da reclamação. A queixa, é
uma forma de descarregar a frustração pelo esperado que não
aconteceu. A reclamação, é a manifestação da insatisfação por uma
promessa não cumprida, a quem não nos atendeu de acordo ao
comprometido. A queixa provém do ego, a reclamação provém do
direito.
Para se transformar uma queixa em pedido, é importante, em
primeiro lugar, saber o que se quer realmente. É necessidade ou
capricho? Uma vez que se detecte a real necessidade, é importante
deixar de lado o eu e as insatisfações que se sente no momento, para
incluir a quem se pede na busca, a fim de se obter o que se quer, criando,
com humildade e inteligência, as variáveis que podem ajudar na
resolução do pedido. A flexibilidade não dever somente para quem se
compromete em nos atender, mas para quem pede também.
A fim de alcançarmos nossa meta, ao pedirmos alguma coisa, é
muito importante conhecer a nossa real necessidade. Abusar das
pessoas, pedindo mais do que se necessita, não é justo. Outra dica
importante é gerar um contexto apropriado para se fazer o pedido. Por
exemplo, fazer um pedido a alguém que acaba de receber a notícia da
morte de um ente querido, não é o momento correto. O ideal é fazê-lo
de tal forma que ele seja adequado às habilidades ou competências da
outra pessoa. Por exemplo, não devemos pedir a quem tenha idade
avançada e movimentos restringidos, tomar conta do nosso filho de
quatros anos, hiperativo, que corre pela casa toda e se coloca em risco
o tempo inteiro, subindo nos móveis. Outro ponto importante a
considerar é que, junto com o nosso pedido, também se deve abrir uma
possiblidade de oferta. Já dizia o velho ditado que “uma mão lava a
Manual para ser alguém
70
outra.” Estar disponível para atender às necessidades de alguém é
fundamental, pois que é uma forma de se manifestar a gratidão.
“Muitas vezes uma pequena oferta produz grandes efeitos. ”
Sêneca
Oferecer é a mão contraria do pedido, ou seja, é estar na posição
daquele que irá atender o pedido de alguém. É o momento que uma
mão lavada, lavará a outra. Algo que desagrada a muita gente,
principalmente, àquelas pessoas que nasceram para serem servidas.
Estar disponível para atender às necessidades dos demais, requer
assumir compromisso. Portanto, da mesma forma que desejamos ter o
nosso pedido atendido, alguém irá esperar ter o seu atendido também,
entretanto, nem sempre levamos isso a sério.
Não é raro que, nas empresas, exista muita gente pouco
comprometida, porque ali estão somente para receber o seu salário no
fim do mês. Este tipo pessoa, normalmente, é boa para pedir, mas
bastante egoísta no momento de oferecer.
Existe um ciclo poderoso que nos conduz para a prosperidade, que
é o do dar e receber. Se olharmos como funciona a natureza, podemos
notar claramente o seu funcionamento. Basta pegar uma semente de
uma árvore frutífera, plantá-la na terra, e todo os dias jogar um pouco
de água, dando o que ela necessita para sobreviver. Num determinado
espaço de tempo, a semente terá se transformado numa árvore, que te
retribuirá com frutas, sombra e pássaros, que pousaram nela para
alegrar o ambiente.
Na vida, tudo funciona de forma semelhante, porém, nós não
escolhemos o que vamos receber de volta, existe uma inteligência
cósmica que nos dará o que necessitamos, no momento certo. Surgirá
alguém, no momento mais inesperado, que terá como nos ajudar para
resolver o nosso problema. O grande segredo é oferecer, cumprir e
deixar de querer algo em troca, porque a vida não faz barganhas, ela
apenas corresponde da mesma forma que, ao plantarmos uma árvore
frutífera, não escolhemos quando os frutos devem nascer e quantos
frutos a árvore deve nos dar.
Márcio Barreto
71
Desenvolver o ato da oferta, não deve ser um ato para se ter
aceitação ou avaliação positiva de quem quer que seja; é desenvolver o
amor por meio de ações altruístas, simples, porém bastante eficazes;
não é fazer mais do que nos solicitam para impressionar; é atender ao
pedido de acordo como ele nos foi solicitado e em caso de algo mais,
não exigir em troca por isso. A cota extra que podemos dar a alguém,
não nos dá o direito de esperar a cota extras dos outros também.
“Não prometas mais do que podes oferecer. ”
Públio Siro
Quando nos colocamos à disposição de alguém, quando oferecemos
as nossas competências para atender a uma necessidade,
automaticamente, nos comprometemos com quem está contando
conosco. Um compromisso, é uma declaração e por isso mesmo, é ela
dada a quem irá receber nossa ajuda e também a nós mesmos. Falhar
num compromisso assumido é falhar, em primeiro lugar, com nós
mesmos. Para assumirmos um compromisso, basta falarmos explicita
ou implicitamente a palavra sim; pode ser um “Ok!” “Está bem!”
“Estamos juntos!” “Fechado!”, o que for; qualquer expressão que
significa um sim declarado é, portanto, um compromisso assumido, e
não deve haver justificativas para dizer que não houve confirmação da
nossa parte.
Da mesma forma que geramos expectativas em relação aos nossos
pedidos, quem nos pede algo, também, terá suas expectativas geradas,
o que lhes dá o direito de reclamarem conosco se falharmos no nosso
compromisso. Normalmente, exigimos muito de alguém, mas não
toleramos ser exigidos no momento que corresponde; temos a péssima
mania de menosprezar o pedido dos outros dizendo, “Ficou chateada
comigo por uma coisinha à toa!” Da mesma forma que julgamos,
seremos julgados, portanto, o que não há valor para a gente, não
significa que não exista para os demais. “Uma coisinha à toa” para nós,
pode ser de imenso valor para alguém. Quando temos litros de água
em casa, não entendemos o valor de um copo de água para quem tem
sede e nada encontrar para beber.
Manual para ser alguém
72
Seja na empresa, na família ou na sociedade em geral, sempre
haverá alguém com o qual iremos assumir um compromisso, seja
espontâneo ou obrigatório - se não podemos dizer não ou se não
sabemos dizê-lo por falta de coragem. Portanto, é importante estarmos
preparados para executarmos a tarefa e entregá-la no momento que
corresponde. E se quem nos pede não nos sabe pedir, tampouco
devemos ser desatentos e aceitarmos o compromisso sem saber o que
realmente devemos fazer. Rejeite um pedido como “Me traga um
sorvete da rua!”, porque se não for assim, agimos por julgamento; e o
que é um julgamento senão uma interpretação, também? Eliminar o
hábito da suposição de nossas vidas, é algo que devemos fazer de forma
urgente. No mundo das redes sociais de hoje, há uma enorme
quantidade de pessoas julgando e condenando as outras, baseadas,
meramente, em suposições. Já sabemos de caso de pessoas que foram
linchadas, nas ruas, por falsas acusações contra ela na internet. Veja a
gravidade deste ato!
O hábito de nos comunicarmos, constantemente, pelas redes sociais
e nos aplicativos de chat, diminuiu bastante a nossa capacidade de
escutar e aumenta a de intepretar nas relações humanas; saber escutar
é primordial para que atendamos os pedidos alheios e possamos ser
atendidos nos nossos. E é por este motivo, que você dever virar a página
e aprender algo bem legal sobre o ato de escutar.
Márcio Barreto
73
Capítulo 11
A Escuta “Eu gosto de escutar. Eu aprendi muito escutando, cuidadosamente. A maioria das
pessoas nunca escuta. ”
Ernest Hemingway
Pode ser que você ainda não saiba a diferença entre o ouvir
e o escutar. Caso não saiba, te explicarei, com a prática, qual é a
diferença entre ambos.
Você está lendo este livro, adorando-o, e se ao seu redor pode haver
uma televisão ligada, um rádio tocando uma música, várias pessoas
falando e barulho de trânsito. A sua concentração nesta leitura, apenas
te permite ouvir que há ruídos à sua volta. Mas se você mudar o seu
foco, neste momento, e prestar a atenção aos sons, você irá escutar
quem está falando, qual é o programa na TV, identificará qual música
está tocando no rádio e se na rua está passando um caminhão, um carro
ou uma motocicleta etc. Expliquei claramente?
Ouvir é um atributo do corpo no seu perfeito estado de
funcionamento, porém, escutar, é um atributo da interpretação, já que
utilizamos vários filtros que possuímos, tais como as referências ou
experiências. Saber distinguir entre o motor de uma motocicleta e de
um carro pode ser fácil para muitas pessoas, mas saber se a motocicleta
é uma Harley Davidson, por exemplo, somente alguns são capazes de
distinguí-lo, porque é necessário ter o filtro da referência. É preciso
saber que o fabricante usa determinado recurso padrão, para produzir
um som especifico no cano de descarga da moto, a fim de diferenciar o
ruído dela das demais.
Existem outras influencias que atuam no momento em que o ser
humano escuta como, por exemplo, o local de origem do nascimento, a
cultura onde viveu ou vive, as emoções, os valores, os princípios, os
julgamentos, as crenças, o intelecto, a sabedoria e os interesses próprios.
Por exemplo, um indígena sabe distinguir perfeitamente os sons dos
animais na floresta, seus estados de ânimo etc., enquanto que nós,
Manual para ser alguém
74
ouvimos apenas ruídos estranhos. Podemos saber que é um pássaro,
mas o indígena sabe qual é o pássaro e até o seu sexo, se bobear!
A interpretação, também é um fator que possui uma forte influência
na arte de escutar. Você conhece a célebre frase que diz “Cada um
escuta o quer?” Pois bem, serei mais claro contando um caso real.
Conheci uma pessoa que sempre se enfurecia, quando o sindico do
edifício batia à sua porta para pedir o comprovante de pagamento da
taxa do condomínio. A interpretação dela, ao ouvir o pedido do sindico,
era “Você está me chamando de caloteira?” Quando, na realidade, o
que ele queria era comprovar ao banco que a quota mensal do
condomínio dela estava em dia, e que o banco não havia repassado o
valor dela para a conta corrente do edifício.
Agora ficou mais fácil de entender por que há tanta confusão na
comunicação humana? Talvez você tenha vivenciado uma experiência
na qual você ou a outra pessoa disse, “Não foi isso que eu quis dizer!”
O problema não foi no dizer, foi no escutar.
Eu vou colocar ênfase somente no ato de escutar já que, não saber
escutar, nos faz julgar e concluir que o problema está do outro lado e
não, conosco. Quando falamos, “Eu não te ouço!”, significa que não
somos capazes de decifrar o que a outra pessoa diz. Porém, quando
falamos, “Eu não te escuto!”, queremos dizer que não prestamos a
atenção no que alguém está nos dizendo.
Quantas vezes escutamos a nós mesmos? Quantas vezes escutamos
os conselhos que damos aos outros e não os utilizamos em nossas
vidas?
O grande estadista britânico, Winston Churchill, disse com a sua
sabedoria, que devemos ter coragem para nos levantarmos e falar o que
pensamos, mas que devemos ter muito mais coragem para nos
sentarmos e escutar o que os outros têm para nos dizer.
No ato da escuta é onde colocamos muito do que há em nós; nossas
crenças, nossas vivências e, portanto, nosso mundo interior. Nossos
canais sensoriais se ativam, já que escutar também inclui a visão,
porque captamos muito mais do que a voz de quem nos fala. Olhamos
os olhos, o corpo, as mãos e os gestos que nos comunicam nas conversas
presenciais.
Márcio Barreto
75
As influencias da ansiedade e do ego, nos fazem pensar no que
vamos dizer depois que a outra pessoa terminar de falar, é a nossa
vontade de mostrar que estamos certos, que sabemos muito e, assim,
não percebemos as sutilezas das mensagens que nos chegam, não
somente com a voz; também não escutamos com os demais sentidos e,
devido a isso, muitas vezes geramos conflitos desnecessários, por
estarmos dando valor ao nosso eu. A razão é muito importante neste
momento, pois que é ela quem freia as emoções, combate as
interpretações e julgamentos na hora de escutarmos. Graças a ela,
podemos escutar o que não foi dito.
Quando ouvimos Gilberto Gil cantar Estrela, onde ele diz, ”...Deus
fará absurdos com tanto que a vida seja assim. Sim, um altar, onde a gente
celebre tudo o que Ele consentir. ”, o que escutamos realmente? São meras
palavras ou uma mensagem profunda que nos diz, sejamos gratos na
vida, com a vida e pela vida? Porque Deus trabalha para atender às
nossas necessidades morais, intelectuais, materiais e espirituais, não os
nossos caprichos. Sejamos humildes e digamos graças sempre!
Muitas vezes escutamos poucas palavras, porém com elas, chegam
ensinamentos profundos que nos pedem momentos de meditação para
entendê-los. Uma referência são os filósofos que, com frases curtas, nos
dão pauta para longas dissertações. “Conheça-te a ti mesmo”, por
exemplo, atribuída erroneamente a Sócrates, é um manancial de
informação mesmo sendo tão breve.
O ato de escutar deve ser apurado, porque na comunicação existe
algo muito importante que é a captação daquilo que não foi dito
diretamente e, inclusive, omitido; lembrando que a sinceridade nos
falta em muitos momentos. O sentimento de vergonha nos faz, muitas
vezes, encontrar meios de dizer sem falar, de revelar sem a
transparência da narração.
Escutar, é mais que decodificar mensagens por meio de qualquer
sentido, é também uma postura na vida, já que a nossa crença é um
importante agente, que converte a comunicação num ato de agressão
sem que ela exista. Quando levamos tudo para o pessoal, por sermos
sempre as vítimas, os excluídos, os atacados, os estagnados, os
questionados, por exemplo, a nossa escuta sempre buscará o meio de
detectar alguma agressão, acusação ou crítica onde elas não existem.
Manual para ser alguém
76
Você se lembra do caso narrado, anteriormente, entre o sindico
acusador e a moradora caloteira?
Estamos vivendo uma era de bastante deturpação no ato de escutar,
devido aos pontos de vista extremistas que há na sociedade, onde há
muita intepretação perante aos fatos, isto porque, uma parte da
população anda sempre com as suas armaduras postas, pronta para a
batalha. Portanto, muita gente espera detectar algo que as motivem a
lutar pelas suas “causas”. De forma comparativa, da mesma forma que
há quem olhe para um jardim de rosas e veja somente os espinhos,
também há quem escute agressões onde exista a pureza de intenções.
Muitas vezes, escutamos para discordar, perceber as ameaças,
detectar as debilidades da outra pessoa, a fim de percebermos que
vantagem podemos tirar da situação, a fim de explorarmos as fraquezas
alheias. Isto prova que o carácter, também, é um filtro que converte um
ato comunicativo num conflito. Assim nasce o “Não foi isso o que eu
quis dizer!” na outra parte.
O ato de escutar, também, está relacionado ao compromisso que
assumimos numa comunicação. Por exemplo, uma agradável palestra
pode ser um sermão para quem não tem comprometimento com o
assunto abordado.
A partir do exposto acima, e que não é tudo em relação a esta parte
importante da comunicação, faça as seguintes perguntas a ti, diante de
um espelho e as responda: O que eu escuto quando escuto? Somente
palavras? O tipo de linguagem? As emoções? Os gestos? O que me
exalta? O que me fere?
A minha intenção é que todos nós melhoremos a nossa capacidade
de escutar, já que as palavras, por meio da linguagem, são profundas
geradoras de oportunidades, portanto, quanto mais nos conhecemos,
melhor escutamos e ao sabermos escutar, melhor podemos atuar na
vida em diferentes situações.
Detalho abaixo, três modalidades básicas de escuta existentes, que
nos auxiliam ou nos prejudicam, dependendo de cada situação dentro
de um contexto.
A primeira modalidade de escuta é a prévia, aquela onde sempre
nos antecipamos, sem sequer respeitar o término da fala alheia. É
quando colocamos nossos julgamentos, provenientes de nossas crenças
Márcio Barreto
77
explicadas anteriormente. É nesse momento, que nos precipitamos e
falamos “Ah, entendi!” “Já sei o que você quer dizer!” “Você está
duvidando de mim?” “Mas eu não te disse isso! ”
Quando duas ou mais pessoas estão em escuta prévia, a discussão é
inevitável, o conflito surge de imediato e o “Não foi isso o que eu quis
dizer!, é o que mais se fala de ambas partes.
A segunda modalidade de escuta é a recreativa, aquela que usamos
quando estamos na posição passiva de ouvintes, tratando de tirar o
máximo de informação possível do que é dito. Neste tipo de escuta, não
interpretamos e emitimos julgamentos, ao contrário, fazemos
perguntas que despertam o interesse em quem nos fala, já que há uma
clara percepção de que existe uma atenção sendo dada, muito embora
não damos conselhos. Neste tipo de escuta, a pessoa que nos narra, põe
para fora o que nela precisa ser dito, seja qual for o motivo. O nosso
papel é desfazer o nó, fazendo perguntas iniciadas com quem, como,
quando, o que, quanto, onde, ou seja, abrindo possibilidades para que
entendamos melhor o contexto narrado.
A terceira modalidade de escuta é a comprometida, aquela que se
assemelha à anterior, onde também não damos conselhos, mas
colocamos em desafio as crenças e os julgamentos da outra pessoa em
evidência, para que ela possa identificar a trava que a impede de ser,
de fazer e ter o que ela busca. Neste caso, a colocamos dentro do
labirinto de espelhos com intenção de mostrá-la o seu mundo interior,
o que precisa ser conhecido. Esta modalidade é bastante usada nas
sessões de coaching antológico.
Por meio da escuta podemos ser duros, decisivos, intolerantes com
os problemas, porém, sendo amáveis, criteriosos, objetivos com as
pessoas, ajudando-as a enxergar as soluções, permitindo-as crescer
constantemente.
Somente por meio da escuta recreativa, é que podemos atingir um
nível de comprometimento eficaz, fazendo desse sublime exercício,
uma forma caridosa de auxílio ao próximo, ajudando-o a encontrar as
soluções que busca, e abrindo-lhe as portas para o passo importante na
sua vida. Ou seja, a nossa principal meta é deixar de lado as crenças e
os julgamentos que desviam a escuta para o caminho que nos favorece.
A escuta comprometida que usamos para beneficiar o próximo, deve
Manual para ser alguém
78
ser a mesma que devemos usar nas conversas que temos com nós
mesmos.
Quero te lembrar que, o comprometimento conosco ou com alguém
é, sobretudo, um ato de confiança, onde colocamos a nossa real imagem
à prova, onde mostramos quem realmente somos e não, quem fingimos
ser. Não podemos sustentar, durante muito tempo, um personagem
criado para estarmos em dia com a sociedade. E por falar em confiança,
o próximo capítulo eu o dedico a ela, portanto, não desanime e vire a
página já!
Márcio Barreto
79
Capítulo 12
A Confiança “A confiança em si mesmo é o primeiro segredo do sucesso. ”
Ralph Waldo Emerson
Somente podemos conquistar a confiança dos outros,
quando confiamos em nós mesmos. Confiar, é um ato que nem
sempre nasce do racional. Se assim fosse, seria impossível confiar em
alguém sem nenhuma prova para tal; assim se conclui que confiar
também trafega pelo sentimento.
Sentir confiança e ter confiança nascem em duas nascentes
diferentes na mente humana: uma pela sensibilidade e a outra pela
convivência. Para ambas situações, confiar, algumas vezes, poderá ser
um risco e até uma decepção.
A autoconfiança é um dos maiores atributos que podemos
desenvolver em nós, se quisermos realizar os nossos sonhos. Os
grandes nomes da história mundial, confiaram em si para que tivessem
seus nomes registrados no livro dos transformadores do mundo.
Infelizmente, nem todos fizeram boas obras. Será que os Steves (Jobs e
Wozniak)6 imaginaram, um dia, a que nível chegaria a empresa que eles
fundaram, apenas por confiar nas suas capacidades de criar, melhorar
ou inventar?
Quando partimos da certeza que somos ou podemos, não tememos
o porvir, os compromissos que assumimos na vida, seja qual for a nossa
empreitada. Pode ser algo simples, como iniciar um relacionamento ou
um complexo, como uma empresa. Quantos relacionamentos
terminam, nos primeiros meses, por falta de confiança? Quantas
empresas não quebram por falta de confiança do dono, ante a sua
capacidade de contornar as situações difíceis?
Um dos grandes mestres do coaching, Tony Robbins, narra no seu
livro, Desperte o Seu Gigante Interior, a traição que ele sofreu de um sócio
no qual ele confiou. De repente, ele se viu com uma dívida de duzentos
6 Foram os fundadores da Apple.
Manual para ser alguém
80
e cinquenta mil dólares para pagar, e enquanto muita gente o sugeriu
decretar falência, ele foi na mão contraria, confiou em si e não só pagou
a dívida, como se tornou um milionário.
Confiar em nós mesmos, é olhar para futuro com curiosidade e não
com temor; é esperar do desconhecido o que ele tem para nos mostrar;
é saber aceitar o risco como oportunidade de aprendizado, algo que o
Tony Robbins fez quando se viu endividado. Perguntou a si mesmo em
que ponto ele tinha falhado, e foi quando se deu conta que lhe faltou
mais averiguação antes de aceitar o homem que o trapaceou como seu
sócio. Para quem confia, o futuro é uma caixa mágica cheia de ótimas
oportunidades de crescimento, enquanto que, para o desconfiado, o
futuro é um museu de grandes novidades, já que significa ver os
mesmos resultados do passado.
Ao final, o que realmente é a confiança? Uns dirão que é crer; outros
afirmarão que é algo que se sente; alguns têm a certeza de que é algo
que uma ou mais pessoas constroem numa relação. Há quem diga que
é uma fé cega ou um estado emocional sobre alguém, quando existe
uma boa relação.
Você se lembra do julgamento? Podemos considerar a confiança
como aquilo que julgamos ser? Em algum momento, depois de haver
contado a alguém sobre a sua decepção com determinada pessoa, você
escutou isto? “Como você foi capaz de confiar nessa pessoa? Eu jamais
teria confiado nela! ”
Se já te disseram isso alguma vez, posso afirmar que ela se julgou
como certa e que você errou ao confiar em tal pessoa. Não existe certo
ou errado, quando existe uma interpretação e logo um julgamento.
Lembremos que, quando duas pessoas olham para uma rosa, a mesma
flor é vista de uma forma diferente, sendo a mesma rosa. Alguém está
certo por viu os espinhos? Alguém está certo porque viu as pétalas? O
que nos faz olhar para as pétalas ou os espinhos, está relacionado
diretamente com o que somos no momento. Talvez, uma pessoa
negativa considere os espinhos como uma parte negativa da flor; talvez,
uma pessoa positiva considere as pétalas como uma parte positiva da
flor. Nossos filtros interiores determinam o que nos interessa observar
do mundo externo.
Márcio Barreto
81
A partir do momento em que chegamos à conclusão de que a
confiança é um julgamento baseado em interpretações, acerca de
alguém ou algo, podemos usar determinados recursos para melhorar a
nossa capacidade de escolha e entregar a quem corresponde, a nossa
confiança. Isto não significa que o risco deixará de existir, já que não
podemos controlar as emoções, pensamentos e ações dos outros.
A primeira observação que devemos fazer é a confiabilidade, ou
seja, saber se realmente há algum relato que denigra a reputação da
pessoa ou coisa na qual devemos confiar. Devemos buscar algum
histórico sobre a falta de compromisso, por exemplo. Obviamente, nem
sempre isto será possível!
A segunda observação deve ter foco na sinceridade; de alguma
forma saber se houve atos de desonestidade por parte de quem
queremos confiar. Não falo aqui de interpretação e julgamentos, senão
de fatos.
A terceira observação deve está centrada na competência de quem
desejamos confiar. Não devemos deixar o nosso jardim nas mãos de
quem não entende de jardinagem.
A quarta observação dever ser no comprometimento. Como
podemos saber, se aquilo o que foi prometido fazer a alguém, o fez
realmente? O boca-boca é um meio pelo qual sabemos de muitas coisas
boas ou ruins que uma empresa, uma pessoa faz ou fez. As redes e
mídias sociais são ótimos veículos para se obter muita informação. Mas
lembre-se de observar somente os fatos e não os julgamentos.
Quero te lembrar como se separa o fato do julgamento. Quando
dizemos que o carro é azul, do ano 92, isto é um fato. Quando dizemos
que ele é feio, nada confortável, brega, etc., isto é um julgamento.
Aquilo que não pode ser mudado ou dito ao contrário, é um fato. Há
um registro que o comprova.
É muito importante saber que, tudo aquilo o que observamos nos
outros, devemos, também, observar em nós mesmos, ao momento de
assumirmos um compromisso. O nosso grau de confiabilidade,
também, será interpretado e julgado. Dado ao julgamento alheio,
poderemos não cumprir com as expectativas dos outros, mas o nosso
grau de confiança, em nós mesmos, não deve ser abalado por isso.
Manual para ser alguém
82
Separar o fato dos julgamentos é algo difícil para todos nós.
Naturalmente, somos seres interpretativos.
Espero que agora, possamos entender melhor o quanto é importante
ter confiança em nós mesmos, sabendo que ela pode sofrer abalos com
as opiniões alheias. O nosso maior problema está em querer provar,
constantemente, quem somos, que podemos, que possuímos, a fim de
agradarmos aos gregos e troianos do mundo, o que é bastante difícil, a
partir do momento que uma mesma rosa é uma flor cheia de espinhos
para uns, e ao mesmo tempo, possui pétalas coloridas que exalam um
perfume maravilhoso, para outros.
Nossa competência sempre será posta em prova, portanto, se
confiamos em nós mesmos, nos guiaremos, faremos o que viemos fazer
neste mundo e por mais que nos chamem de loucos, seremos
determinados até o instante da nossa partida desta vida carnal.
O nosso principal desafio é gerar confiança em nós e em quem
deseja confiar em nós. Para isso, ser honestos com nós mesmos é ser
diretamente honestos com os demais. Como posso querer receber
julgamentos positivos, se eu assumo um compromisso que não sou
capaz de realizar? Logo, a confiança gera confiança. A honestidade gera
honestidade. A segurança gera segurança. Quando definitivamente
entendermos que tudo começa em nós, deixaremos de observar os
outros e cuidaremos do nosso mundo interior. Nos preocuparemos em
preservar a nossa imagem perante a nós mesmos, antes de querermos
provar, frequentemente, aquilo que não somos para os outros. Este é o
maior desastre que causamos em nossas vidas, já que esquecemos o ser
muito importante e de imenso valor no mundo: NÓS!
Como o ato de confiar nasce das emoções e dos fatos, podemos
utilizar uma ferramenta que também nos apoia para escolher confiar
ou não em alguém. O exercício é explicar o motivo que facilita ou
dificulta confiar em alguém, fundamentando um ou outro por meio de
fatos ou julgamentos. Exemplo: “Me facilita confiar na Fernanda,
porque sempre que ela se comprometeu comigo, ela cumpriu com a sua
promessa e jamais falhou.” “Me dificulta confiar no Renato porque,
pela terceira vez, ele não me trouxe o livro que ele me prometeu
emprestar.” Dessa maneira, olhamos para os fatos e não para as
Márcio Barreto
83
pessoas com as quais temos um certo grau de relação, o que nos faz,
muitas vezes, fecharmos os olhos para a verdade.
Creio que agora fica mais fácil enxergarmos os motivos que nos
levou a confiar em A ou B, e chegarmos à triste constatação de que
confiamos em quem não deveríamos. As emoções, muitas vezes, nos
fecham os olhos, nos abrem a boca, nos tapam os ouvidos e acabam por
anular a nossa capacidade de perceber e atuar com equilíbrio de forma
racional.
E por falar em emoções, dedico o próximo capítulo a este atributo
da alma. Siga em frente na sua leitura, não desista, para conhecer
melhor as suas emoções!
Manual para ser alguém
84
Capítulo 13
As Emoções “Se o tempo envelhecer o seu corpo, mas não envelhecer a sua emoção, você será
sempre feliz. ”
Augusto Cury
O que é uma emoção? Muitas vezes confundidas com
sentimentos, elas nascem a partir de um estimulo do mundo
exterior ou interior. Elas, muitas vezes, comandam as nossas ações e
nos fazem ver as coisas e as pessoas pela ótica da nossa interpretação.
A partir delas, nascem os julgamentos.
Quando exposto a alguma emoção, o nosso cérebro libera
hormônios que alteram no nosso estado emocional e provocam reações
físicas como tremores, choro, enjoos, suor, aumento ou queda de
pressão e até dores pelo corpo.
As emoções são pessoais ou melhor dizendo, um mesmo fato pode
gerar emoções diferentes em várias pessoas. Um salto de paraquedas,
não gera as mesmas emoções em todas as pessoas. Tudo dependerá do
sistema de crença que cada um carrega em si. Uma pessoa medrosa e
pessimista verá a sua morte na certa e nem subirá no avião. Uma pessoa
medrosa, porém, curiosa, pelo menos se arriscará subir no avião, sem a
certeza de que irá saltar. Uma pessoa precavida, mas otimista e
aventureira, superará as emoções contrárias e saltará em busca do
prazer. Pode ser que, quem não subiu no avião, por medo da morte,
morra atropelada na calçada; e quem saltou a vida inteira, morra
dormindo. Como saber quando chegará a nossa hora? Por qual meio?
Para muitos, é bem frustrante ter dinheiro e não conhecer o mundo
inteiro, por medo de viajar de avião.
Como identificar uma emoção de um sentimento? O sentimento
nasce a partir de um estimulo emocional. Os sentimentos, muitas vezes,
geram as nossas emoções também. Vamos ao caso do salto de
paraquedas acima. Para quem vive de aventura excitante, o sentimento
de bem-estar nasce a partir dele. Para quem evita subir no avião, por
pânico, o sentimento de insegurança é quem o domina. Se o sentimento
Márcio Barreto
85
de insegurança existe, ele poder gerar o estado emocional de medo, em
muitas ocasiões, na pessoa. Ao contrário da emoção, é possível omitir
os sentimentos e estes podem durar muito tempo, enquanto que a
emoção, surge a partir de um estimulo externo ou interno e desaparece
pouco tempo depois. As emoções podem ser primárias, secundarias ou
de fundo.
As primárias, são aquelas mais perceptíveis por quem está nossa
volta, são elas que nos fazem perder o controle nas ações e palavras.
As secundárias, são aquelas que podemos disfarçar com certo
esforço, como o nervosismo, vergonha ou a culpa. Vale lembrar que as
emoções também são subjetivas, ou seja, podem ser primarias para uns
ou podem ser secundarias para outro, vice e versa.
As emoções de fundo, são aquelas quase que invisíveis até para nós
mesmos. Nos provocam um sentimento bom ou de mal-estar, sem que
possamos identificar a emoção de imediato. A angústia e a calma fazem
parte desta categoria.
A emoção, sendo instantânea, nos torna difícil a tarefa de saber o
que a desencadeia; simplesmente, sentimos os reflexos dela em nós
mesmos, considerando que alguém ou algo os sinta também. Coisas
como xingamentos, insultos, ou atitudes de agressão em geral, como a
violência física e a destruição de objetos. Portanto, é muito importante
saber o que fazer com elas, já que as impedí-las é impossível. Seria tão
insano, quanto tentar impedir a propagação das ondas no mar. As
emoções são as necessidades da alma, assim como a sede e a fome são
as necessidades do corpo.
Tony Robbins, no livro Desperte seu Gigante Interior, defende a tese
de que todos nós possuímos algumas regras, e quando essas regras são
violadas, desencadeiam as emoções em nós. Essas regras são formadas
pelo nosso sistema de crenças, coisas tolas ou que estão diretamente
relacionados à cultura de uma sociedade. Para melhor entendermos o
conceito, vamos aos exemplos: vá no Japão e tente abraçar uma pessoa,
japonesa, para que se conheça a regra dela. Certamente, a pessoa irá
reagir com desagrado já que não há essa “intimidade” entre as pessoas
por lá, como há em alguns países ocidentais, sobretudo, no Brasil, onde
não há quebra de regra por este tipo de ação entre pessoas. Pode ser
que daqui há algumas décadas, os japoneses adotem este tipo de
Manual para ser alguém
86
cumprimento entre eles e será possível ver as pessoas segurando
cartazes escritos, abraços grátis, nas ruas. Por enquanto, continuará
sendo o cumprimento com a curvatura do tronco para frente e nada
mais. Outro tipo de regra mais simples pode ser “Não tolero quem
grita comigo.” Ou seja, sempre e quando alguém levantar a voz para
uma pessoa que possua esta regra, desencadeará uma emoção de raiva
nela, o que pode gerar consequências imprevisíveis. Com isso, o autor
diz que o desencadeamento das emoções não está relacionado ao que
fazemos com a pessoa, senão, com a violação das regras que ela possui.
Quais são as suas regras?
A Dra. Bárbara DeAngelis, no livro, Como fazer amor o tempo todo7,
menciona que há quatros estágios, identificáveis, que podem ajudar na
prevenção de um fim de relacionamento afetivo. São os “4R”
emocionais de um conflito amoroso.
1° Resistência - é quando já não aceitamos o que a outra pessoa diz
ou faz; frequentemente, há reprovações ou recusas em relação ao outro.
Nos gera raiva e sentimentos desagradáveis.
2° Ressentimento - a partir de tanta resitência, a irritabilidade passa
ser frequente e a fúria se intensifica cada vez mais. Dai nasce uma
barreira emocional e o distanciamento se inicia.
3° Rejeição - é quando uma carga intensa de ressentimento se
acumula e buscamos diversas formas de atacar a outra pessoa, seja por
palavras ou atitudes. Tudo o que a outra pessoa faz é desapropriado ou
irritante. A separação começa a ser física.
4° Repressão - quando o cansaço ao lidar com a raiva, proveniente
da rejeição, nos faz criar uma barreira de proteção para evitar mais dor
e também qualquer forma de paixão. O relacionamento está quase no
fim.
Se não conhecermos as nossas regras e as regras das pessoas com as
quais nos relacionamos, muitos problemas nos esperam. É necessário
deixa-las claramente visíveis e mais, saber se realmente elas são
permanentes ou podem ser descartadas para termos melhores
momentos dentro da sociedade.
7 Tradução livre do tiulo original How to Make Love All The Time
Márcio Barreto
87
A partir dessas informações, constatamos que nós, realmente, somos
corpo, emoções e linguagem. Estes são os pilares básicos sobre os quais
estamos estruturados, e não há como viver sem estes três pilares
interagindo, constantemente. Que nos agrade ou não, assim é, e sempre
será, até que conheçamos outra forma de vida.
É frequente, alguém classificar as emoções como negativas ou
positivas. Nada mais é que uma interpretação este tipo de afirmação.
Negativo ou positivo é a nossa atitude a partir do surgimento delas em
nós. Posso sentir raiva, sem que, obrigatoriamente, eu quebre algo,
agrida alguém ou fale um monte de bobagens. Isto é o que quase nunca
ocorre, o que nos faz definir que a raiva é negativa. Volto a lembrar que
não existe um comportamento padrão para as emoções, é pura
subjetividade. Uns choram de alegria, outros de tristeza; uns riem com
medo, outros gritam e se urinam. Se queremos saber quem somos, não
podemos reprimir as nossas emoções, somente as ações provenientes
delas, as que não são bem vistas na sociedade, seja por lei ou por uma
questão ética.
O psicólogo, Paul Eckman, depois de muito pesquisar, constatou
que os seres humanos possuem sete emoções básicas,
independentemente das suas culturas: a alegria, a tristeza, o medo, o
nojo, a surpresa, a raiva e o desprezo, sendo este último para afirmar
status, prioridade e autoridade sobre os demais. Porém, alguns outros
pesquisadores incluíram a ternura, o erotismo e a gratidão, como
emoções frequentes em nós.
Segundo o psiquiatra americano, David Burns, para sairmos de um
bloqueio emocional, que consideramos como negativo, é fundamental
que retornemos à origem dessa emoção que nos casou o bloqueio. Por
exemplo, um acidente carro pode ser a origem do trauma de uma
pessoa por não querer começar ou voltar a dirigir. É necessário
voltarmos no momento do acidente, pela perspectiva da razão, olhando
para o momento, como quem assiste um filme, a fim de entendermos o
que sentimos e por que a emoção nos bloqueou. Um profissional
capacitado pode nos auxiliar a encontrar essa trava emocional,
libertando-nos dela para começarmos ou voltarmos a dirigir. O medo,
é uma emoção que pode durar muito tempo em nós, portanto, sendo
confundido com um sentimento.
Manual para ser alguém
88
A partir das emoções, nascem os estados de ânimo e são eles que
nos estimulam a realizar as nossas ações. Eles surgem a partir de
estímulos internos ou externos, sobretudo, da natureza ou do ambiente
no qual estamos. Estar na natureza, pode ser relaxante para uma
pessoa, mas para outra, pode ser motivo de tensão, dependendo de
suas referências neste mesmo ambiente. Se ela foi picada por um inseto,
se acidentou ou escutou relatos de sofrimento causado a alguma
pessoa, possivelmente, estas referências a acompanharão neste
ambiente, colocando-a em estado de alerta, ou seja, o estado de ânimo
de tensão provirá da emoção do medo.
Menciono alguns fatores que influenciam nossos estados de ânimo
diariamente: O clima, as horas, as estações do ano, o ambiente de
trabalho, a situação econômica do país, uma notícia, ambientes muito
fechados e cheios, os dias da semana etc. Isto significa que sempre
estamos sob a influência de algum estado de ânimo em todo momento.
Se não nos sentimos bem como estamos, podemos identificar qual é o
fator que nos coloca em determinado estado de ânimo e que emoção
nos guia. Nosso corpo e a nossa linguagem, sempre correspondem ao
estado de ânimo em que nos encontramos. Uma pessoa deprimida não
gesticula ou caminha e, tampouco, se expressa como uma pessoa no
estado de euforia, cheia de alegria. Lembre-se que somos corpo, emoção
e linguagem.
Quando detectamos uma mudança no nosso estado emocional, o
primeiro a perceber a mudança é o nosso corpo, antes mesmo da
linguagem falada. Se no seu trabalho, o seu chefe te chama pelo telefone
e diz “Venha urgente na minha sala!” O que diz o seu corpo? Ele
também pode mudar o nosso estado emocional, o que significa que, se
um estado emocional não nos agrada, sabemos que o corpo é uma
grande arma para modificá-lo. Que estado emocional te toca quando
você dança ou faz um exercício físico? E quando você brinca com uma
criança ou anda de bicicleta, o que acontece? Essa tríade corpo, emoção
e linguagem se interagem de tal forma que um modifica o outro, basta
experimentar. Um exemplo: a minha enteada, que é enfermeira, repete
“Eu sou boa!” , várias vezes, quando um paciente, exigente, a chama a
cada cinco minutos para lhe pedir algo. Dessa forma, ela muda o seu
estado emocional de desagrado para o de altruísmo, afinal, quem está
Márcio Barreto
89
hospitalizado pode estar em estado de ânimo bem desconfortável e se
tornar alguém bem carente de atenção, ainda mais estando sem um
acompanhante.
No mundo em que vivemos, existe aquilo que é factível ou possível,
ou seja, existem coisas que, dificilmente, poderão mudar e existem
outras que são totalmente possíveis. Você pode estar numa relação com
uma pessoa tóxica, que dificilmente irá mudar (factível), ou seja, algo
que não está sob o seu controle. O que fazer? Você pode terminar a
relação (possível) e esperar que a vida te apresente outra pessoa que se
adeque ao seu estilo de vida. Ou seja, há diversos fatores que impedem
as mudanças: podem ser biológicos, políticos, econômicos, ambientais,
sociais, temporais, caráter, personalidade, culturais etc., porém,
existem tantas possibilidades que nos abrem portas quando, por
motivos factíveis, elas se fecham.
Como nos relacionamos com o que é factível e possível? Muitos
podem ser os estados de ânimo que podemos sentir, entretanto, eu
citarei quatro que, normalmente, podemos perceber facilmente.
O primeiro é o ressentimento, o estado que nos estagna já que
ficamos parados num determinado momento do passado e julgamos
que nada podemos fazer para modificá-lo. Quando estamos em estado
de ressentimento, deixamos nas mãos de outras pessoas, ambiente ou
situações a responsabilidade que nos compete para sair de onde
estamos. A mágoa, a culpa, a falta de perdão, a inconformação, por
exemplo, muitas vezes nos fazem ressentir momentos de anos atrás.
Podemos passar uma vida inteira culpando os políticos pela vida difícil
que temos, porém, muita gente, diante dessa mesma circunstância ou
em situação pior que a nossa, pode ser capaz de prosperar, somente por
entender que é possível ter sucesso sem a ajuda de um político. Basta
mudarmos o foco, e em vez de olharmos para o factível, olhamos para
o possível e fazemos as coisas acontecerem. Se aceitamos as coisas e as
pessoas como elas são, deixamos de querer controlar o mundo e
passamos a controlar a nós mesmos, o que ,às vezes, não é nada fácil.
O segundo estado de ânimo é a resignação. O sentimos depois de
chegarmos à conclusão que nada pode ser mudado (interpretação).
Entramos neste estado acreditando que nada pode ser feito, porém,
quem está de fora, vê claramente que há muitas opções para modificar
Manual para ser alguém
90
a situação. Estar em estado de resignação, não significa estar em paz;
normalmente, é estar em estado de ressentimento, buscando a quem
culpar. Nos esquecemos que somos co-criadores na nossa trajetória,
temos sonhos, desejos e vontades que nos movem, contudo, se não
usamos o poder de declarar o que queremos e fizermos o sacrifício que
nos compete, seremos os eternos resignados.
O terceiro estado de ânimo é a aceitação, ou seja, é um passo que
damos para sairmos do ressentimento e aceitarmos como somos e
aonde estamos. É poder admitir as nossas debilidades, medos,
inseguranças, virtudes e fortalezas, e termos a certeza de que existem
muitas possibilidades à nossa espera, basta que as busquemos.
Lembrando que, para sairmos do ressentimento, o perdão é o melhor
caminho e perdoar, significa tirar a corrente do próprio pescoço para
entrar em estado de paz.
O quarto estado de alma é a serena ambição. Muitos veem a
ambição como um pecado e que não devemos permitir sua existência
em nós. No entanto, a serena ambição é ir em busca do que queremos,
sem atropelar a ninguém, nem o tempo e às circunstâncias. É ter a
certeza que tudo nos chegará à medida que vamos investindo tempo,
inteligência e esforço, sem deixarmos que a ansiedade nos domine e nos
estimulem a querer buscar atalhos para alcançarmos nossas metas
muito mais rápido.
Se soubermos usar cada estado de alma, acima citados, ao nosso
favor, onde tudo antes era factibilidade, muitas possibilidades se
abrem. Nada pode ser pior do que não admitir quem somos, onde
estamos e por que estamos.
Buscar culpados no mundo exterior, viver o personagem da vítima
da vida, da sociedade, da família, do que for, só nos faz sentir raiva de
tudo e Deus, inclusive. E por falar em raiva, dedico o próximo capitulo
exclusivamente a esta emoção.
Márcio Barreto
91
Capítulo 14
A Raiva “Guardar raiva é como segurar um carvão em brasa com a intenção de atirá-lo em
alguém; é você quem se queima. ”
Buda
Quando sentimos raiva, temos o direito de senti-la, mas isto
não nos dá o direito de sermos cruéis. Este sentimento pode
nascer de uma expectativa não alcançada, de uma interferência que
atrapalhou a nossa conquista, de uma falta de respeito etc. É uma
energia que muitas vezes a acumulamos, por crermos que a raiva é uma
emoção ruim, quando na verdade, o ruim é como atuamos sob o efeito
dela. Por certo, que a sua carga emocional não é agradável e nos
convém mais entendê-la do que agirmos motivados por ela. Muitas
vezes, despertamos a raiva em nós pela certeza que nunca somos
responsáveis pelos fatos que nos acontecem, e que os outros são os
protagonistas do seu despertar.
Mencionei, anteriormente, que todos nós possuímos as nossas
regras e quando elas são violadas, a raiva também é uma emoção que
surge em nós. Por isso, é importante entender que uma regra poder ser
eliminada, a raiva não. Querer que o mundo e as pessoas mudem para
que não sintamos raiva, é um equívoco a ser corregido.
A maioria de nós descarrega sua raiva com ações agressivas ou com
palavras ofensivas, não somente nos outros como em nós mesmos.
Quem nunca se xingou ou se chamou de besta por ter cometido uma
falha? A raiva também provém do orgulho, da baixa autoestima e das
inseguranças que levamos internamente. Sendo assim, é fundamental
conhecer a origem da raiva, porque ela é uma mensageira que está para
nos ajudar e não para nos entorpecer de energia desarmônica. Para isto,
é necessária a honestidade ao olharmos para ela, o que só podemos
fazer estando dentro de um “labirinto de espelhos”. Da mesma forma
que não podemos responsabilizar alguém pela nossa sede, a raiva,
também, tem origem dentro de nós, ainda que os fatores pelo seu
Manual para ser alguém
92
surgimento sejam externos. Podemos responsabilizar alguém que nos
negou um copo de água, mas não pela sede que sentimos.
O que você faz para descarregar a sua raiva? Como se expressa para
que alguém saiba que você está se enraivecendo? O que você quer que
aconteça com a pessoa pela qual você sente raiva? E o que você faz para
que passe a sua raiva? O que fazer para que a raiva se torne produtiva?
Vamos imaginar que a raiva é um gás e toda vez que a sentimos,
deixamos este gás retido em nós. Qual será a consequência, ao
armazenarmos este gás, cada vez que ele tem vontade de sair? Ele
começa a nos intoxicar por dentro e provoca um efeito chamado de
implosão8, o que nos causa enfermidades físicas e mentais. Ao
contrário, se permitimos que este gás saia com toda pressão, o efeito é
de uma explosão e o intoxicado passar ser outra pessoa, ainda que ela
não seja a responsável por isso. Lembre-se que sempre buscamos a
quem responsabilizar!
Concluindo, se retemos o gás ele nos intoxica e se o deixamos sair
intoxicamos os outros. O que fazer então? Parece não haver uma saída,
certo? Mas há uma saída e ela é deixar o gás sair, contudo, sabendo o
momento exato e como o deixamos sair.
Imagine que guardamos o gás em diversas oportunidades que era
necessário deixá-lo sair, até que um dia a pressão interna é tamanha que
já não o suportamos mais. De repente, uma criança inocente derrama
um copo de água em nós... Buuum! Pobre criança! Será gravemente
intoxicada, sem entender o motivo da nossa reação, algo que ficará
marcada na memória dela para o resto da vida. Você já protagonizou
algo similar ou recebeu o gás tóxico de alguém?
Diz a lenda, que uma jovem criança adora cantar, seu sonho era ser
uma cantora. Num determinado dia, a criança cantarolava feliz porque
que a sua mãe estava por chegar, depois de um largo turno de trabalho
no hospital. Entretanto, sua mãe ao chegar em casa, estressada e
carregada de raiva por tudo que enfrentou no trabalho, o que ela mais
queria era silêncio e cama. Mas ao perceber que a criança não parava
8 Rebentação de explosivos que provoca uma demolição centrada para dentro.
Márcio Barreto
93
de cantar feliz, a mãe, enraivecida, com tremenda energia lhe disse:
“Pare de cantar porque a sua voz é horrosa!” Conclusão, naquele dia o
sonho de ser uma cantora foi destruído.
A raiva nos desperta para que saibamos limitar o nosso espaço, para
que saibamos que temos deveres e direitos, e por isso mesmo, devemos
reclamá-los. Ela também serve como um alerta sincero, a fim de
olharmos para dentro de nós e vermos se o orgulho nos domina, se não
queremos controlar as coisas, os fatos e as pessoas. Serve para dizermos
não e sim quando nos convém. Serve para assumirmos o controle de
nossas vidas, deixando de ser brinquedo nas mãos dos exploradores e
manipuladores.
Muitas vezes, nos convém sentir a raiva, mas sem agirmos
agressivamente, porque muita gente já perdeu a vida por permitir que
o gás tóxico a fizesse perder a razão, essa bendita válvula que controla
o escapamento do gás. O célebre Francisco Cândido Xavier nos ensinou
que, no momento da raiva, o melhor que podemos fazer é enchermos a
boca de água, como forma de disciplinarmos o autocontrole verbal. Isto
é, não é reter o gás e tampouco permitir que ele saia de forma
improdutiva, o que pode nos causar danos e nos outros também.
A raiva, ou qualquer outra emoção, não é boa nem ruim, pois que
uma emoção é uma necessidade da alma; e com o passar do tempo, ela
tende a adormecer à medida que vamos nos conhecendo e a
conhecendo também. Buda dizia que qualquer tipo de insulto, agressão
verbal ou outro tipo de falta de respeito proveniente de alguém, deve
ser um presente recusado e quando o recusamos, ele continua nas mãos
de quem nos queria presentear.
De acordo ao pensamento de muita gente, a raiva é vista como uma
emoção inimiga da nossa felicidade, devido à forma racional que é
usada para entendê-la, sem observar os benefícios que ela nos traz.
Graças a ela, que preservamos a nossa dignidade, estabelecemos os
limites para quem desconhece até aonde dever ir dentro do
relacionamento interpessoal. Também nos avisa que não conseguimos
provocar determinada mudança na vida, que falhamos aos
alcançarmos determinada meta. Quem já viu um jogador socar a grama
depois de perder um gol? O mais importante dessa emoção, assim
como todas as demais, é entendermos que, à medida que vamos
Manual para ser alguém
94
crescendo espiritualmente, moralmente, nos autoconhecendo, ela entra
em estado de hibernação, já que a nossa capacidade de lidar com
determinadas situações da vida se sustenta sobre a razão. Passamos a
entender que a dor, por exemplo, é um belíssimo instrumento para o
despertar humano; que o sofrimento é uma grande motivação para a
nossa mudança de rumo; que ninguém neste mundo colhe aquilo que
não plantou. Portanto, quanto mais observamos o que sentimos, por
que o sentimos e o que fazer com o que sentimentos, melhor
entendemos que as nossas emoções são todas amigas e mensageiras
divinas, cujo o maior convite que nos fazem é para que entremos no
labirinto de espelhos, apurando a nossa capacidade de encontrarmos
uma saída para os nossos dramas existenciais, dentro de nós mesmos,
sem exigirmos dos outros que o façam por nós. E por falar em exigência,
o quanto você exige de si e dos outros? Esse é o tema do próximo
capítulo, portanto, continue aprendendo um pouco mais sobre você.
Márcio Barreto
95
Capítulo 15
A Exigência “Ao confundirmos a exigência com a excelência, não vemos a baixa autoestima em
manifestação. ”
Márcio Barreto
A exigência, nem sempre provém do poder hierárquico que
alguém possui sobre os seus subordinados, algo aprovável dentro
de determinadas relações humanas, quando é necessário estabelecer a
ordem e o respeito na sociedade, nas empresas ou na família.
Para se exigir algo de alguém ou de si mesmo, convém ponderar
para que a exigência não deixe de considerar as limitações que todos
temos. Tendemos a confundir a exigência com a excelência em muitas
situações. Na verdade, por meio da persistência, podemos alcançar o
nível da excelência, já que só por meio de uma prática frequente, uma
disciplina constante e uma motivação exigente, é que podemos atingir
um nível de excelência nos resultados que buscamos.
O ato de exigir é, em muitos casos, a busca pela perfeição que
esperamos dos outros e de nós mesmos, proveniente do nível de
cobrança que há em nós, como consequência da autoestima abalada,
muitas vezes, lá na infância, quando a falta de elogios ou excesso de
críticas enfraquecedoras, nos transformaram em seres incapazes,
segundo a nossa visão em relação aos outros. Tais críticas, fazem parte
do nosso sistema de crenças, hoje. Muito frequentemente, o ser exigente
tem um típico comportamento que oscila entre “Tudo o que eu faço é
excelente!” e “Nada do que faço me agrada!”, ou “Não consigo
encontrar alguém que me satisfaça!” Se todos percebessemos o nosso
nível de exigência para com a humanidade e a vida em geral, seríamos
muito mais gratos e felizes. O que impede a nossa felicidade, é a falta
de satisfação que sempre nos assombra e que nos faz querer sempre
mais, esperar sempre mais, ser sempre mais, ter sempre mais. Ou seja,
o que é demais nunca é o bastante!
Vivemos em busca de metas bastante desnecessárias e, devido a
isso, os relacionamentos amorosos, na atualidade, se tornaram
Manual para ser alguém
96
insuportáveis porque uns exigem dos outros de forma desmedida. E
para completar, o grau de competição existente entre as pessoas, que
por meio das redes sociais observam a vida alheia, as faz querer aquilo
que não lhes pertence, de querer o que não podem ou não devem,
gerando, assim, alto nível de frustração e depressão. Diversas pessoas
estão em frequentes busca pelo par perfeito que caiba nos seus sonhos,
sem perceberem que procuram pela perfeição que não existe nelas
mesmas. Justamente por isso, encontrar o “amor da minha vida” se
tornou uma missão quase impossível. Só existirá amor, se houver uma
série de benefícios agregados. Confundem seres humanos com
produtos manufaturados.
A exigência é fruto, também, do querer controlar, que por sua vez é
fruto da convicção de que tudo sairá diferente daquilo do que se espera.
Quem gosta de controlar, gosta de exigir dos outros, sem considerar se
o exigido possui as competências para atender seus pedidos. O
descuidado ser exigente, costuma transformar a vida dos exigidos num
grande pesadelo; peca por não colocar limites, não só na exigência que
faz aos outros, como a si mesmo. Acredita, que por ser cobrar demais,
lhe dá o direito fazer o mesmo com as outras pessoas. A exigência é
uma forma ignorante de cumprir com os nossos objetivos, já que nos
faz atuar como máquinas, nos fazendo crer que devemos fazer algo
perfeito sim ou sim, mesmo que nos doa a cabeça ou não, sem
desculpas.
O perfil psicológico do exigente, é a do cavaleiro que monta no
cavalo e o comanda. É aquele que pensa que ninguém mais possui a
capacidade de emitir uma opinião. Muitas vezes, ignora os outros nos
seus direitos, já que a eles somente cabem os deveres. Não admite os
erros alheios e, muitas vezes, se pune por cometer os seus. Confunde a
exigência com a liderança.
O ser exigido, assume o papel do cavalo; faz o que a ele foi mandado
fazer. Se comporta como uma máquina, aceita o comando que lhe
deram sem contestação. Costuma aceitar tudo o que lhe exigem,
entretanto, com o passar o tempo, se esgota já que fez questão de
agradar a todos, sem se autoquestionar em relação ao seu
comportamento de exigido. O que foi a escravidão, senão um período
de exigência sobre aqueles que não tinham o direito de dizer não?
Márcio Barreto
97
Quem tende a exigir, geralmente, tem um grande problema no ato da
escuta, já que na postura do cavaleiro, lhe custa escutar a reclamação
do cavalo, que já não aguenta mais caminhar com alguém encima o
tempo inteiro.
Quem exige, gosta de manipular as pessoas, já que nem sempre é
possível controlar tudo e a todos, e por meio da manipulação e a
chantagem emocional, vai movendo as peças no tabuleiro das suas
relações pessoais, na intenção de conseguir o que se quer. São seres
providos de muito cinismo e de uma alta capacidade de dissimulação,
ou seja, são interpretes por natureza, que atuam no teatro da vida com
uma grande capacidade de persuasão e convencimento.
O grande problema, nas relações humanas, nasce quando alguém
crê que é um cavaleiro ou amazonas, enquanto os outros são os seus
cavalos ou éguas. E quanto mais egoísta uma pessoa é, mais exigente
ela se torna porque, afinal, ela pensa que vive no sol e tudo gira ao seu
redor, e todos estão para lhe servir.
Você já deve ter escutado que “querer é poder”. O exigente, carrega
em si esta frase, de forma distorcida, como um lema. Acredita que,
simplesmente por querer, alguém deve executar, ou seja, têm a
convicção que possui o poder de cobrar do exigido o que lhe interessa.
Procedendo assim, tira do outro o direito de dizer “Agora não.” “Eu
não posso.” “Eu não quero.” Enfim, compromete a sua dignidade.
Quem está na posição do exigido e há a oportunidade de sair dessa
condição, normalmente, vive como uma vítima ressentida,
comprometendo cada vez mais a sua autoestima. Entretanto, quando
resolver tomar as rédeas das suas próprias vontades, deverá se
preparar para conhecer o monstro que reside na personalidade de
quem lhe exige. Para um exigente, a palavra derrota lhe dói mais que
uma hérnia de disco lombar.
O ser exigente é um sofredor crônico, porém, tem a certeza que a sua
vida cercada de súditos é uma maravilha. Não percebe o quantum de
energia emocional que gasta nas suas articulações, para conseguir o que
se quer. Não percebe que, quem lhe obedece, não lhe ama; que quem
lhe segue, não o quer bem; que quem lhe sorri, o detesta na intimidade.
Quando lhe surge o cansaço emocional, a fadiga crônica, o estresse, as
Manual para ser alguém
98
ulceras e a depressão, normalmente, responsabiliza os exigidos e não a
si mesmo.
Para quem confunde exigência com excelência, eu menciono
algumas diferencias básicas que existem nelas, em relação ao que uma
e outra aporta para nossa vida: A exigência quer a perfeição, a
excelência quer a melhora; exigência dá grande importância para o
fracasso, a excelência valoriza o aprendizado; a exigência gera a
ansiedade, a excelência gera possibilidades; a exigência quer o controle,
a exigência quer a fluidez; a exigência olha a inutilidade, a excelência
olha a possibilidade de crescimento; a exigência colhe o sofrimento, a
excelência colhe as bênçãos; a exigência é a dúvida, a excelência é a
segurança; a exigência busca a culpabilidade, a excelência busca a
responsabilidade; a exigência quer o castigo, a excelência quer a
solução; a exigência sofre com o dever, a excelência sente prazer com o
compromisso.
Agora que você já sabe distinguir a exigência e da excelência,
pergunte-se o que acontece, internamente, quando o fracasso chega,
quando as coisas não saem do seu jeito, quando a previsão do tempo
não é precisa, quando a comida queima, quando alguém não te
responde no chat na hora que você quer, quando você não encontra
alguém que caiba nos seus sonhos. O medo, é um fator emocional que
aumenta o nível de exigência no ser humano. Por temer o futuro em
relação a tudo, uma pessoa passa a exigir de Deus e das pessoas, aquilo
o que considera ser o melhor para ela. Já que mencionei o medo, que tal
dar uma virada na página para ver o que ele significa no próximo
capítulo?
Márcio Barreto
99
Capítulo 16
O Medo “Podemos facilmente perdoar uma criança que tem medo do escuro; a real tragédia da
vida é, quando os homens têm medo da luz. ”
Platão
Aqui está outra emoção considerada como negativa por
muita gente. Há quem ensine a uma criança que quem sente medo é
covarde, fazendo com que este ser, ainda em formação, viva de
disfarces na fase adulta, inibindo uma emoção primordial para
preservar a sua integridade física, moral e espiritual. Por ignorar o
medo, muita gente morre no mundo, vítimas dos acidentes de trabalho,
de aventuras em lugares perigosos ou por, simplesmente, tirarem uma
“selfie” para a rede social onde havia risco de queda. Atualmente, é
comum lermos notícias sobre pessoas que caíram em precipícios, por
ignorarem esta emoção tão preciosa.
Diante do medo, o ser humano costuma ter três reações básicas que
são: congelar, fugir ou encarar. Cada manifestação dessa, provém dos
filtros internos que todos nós possuimos. O que é medo para alguns, é
prazer para outros. Nada nos impede de fazermos algo sentindo medo;
inclusive, é recomendado tê-lo presente, sempre que houver risco de
morte ou lesão corporal. Desprezar o medo, é ignorar um excelente
recurso que nos ajuda a tomar as decisões corretas em muitos
momentos.
Ele é uma das emoções básicas, presentes em todos os seres
humanos e nos animais, sendo nestes, de forma mais instintiva, já que
os animais não raciocinam. Ele possui a mesma finalidade em todos os
seres, que é a de alertar-nos perante ao que se interpreta como perigo.
Este é o medo funcional.
Por que o medo é acionado por meio da interpretação? A crença é
um poderoso agente que pode nos fazer sentir medo ou não em
determinada circunstância, de um ser ou objetos. Muita gente deixa de
conhecer outros países por crer que um avião é menos seguro que um
ônibus, entretanto, racionalmente analizando, um avião é menos
seguro que um ônibus?
Manual para ser alguém
100
As estatísticas dizem que há muito mais mortes nas estradas, em
acidentes envolvendo ônibus e veículos em geral, do que em acidente
aéreo, anualmente. A imprudência dos motoristas causa,
aproximadamente, 90% dos acidentes em todo o mundo, e o Brasil não
é estranho às estatísticas9.
O medo da morte nos faz perder a razão e, consequentemente, reduz
a nossa liberdade e o prazer que podemos sentir aproveitando as coisas
boas da vida.
Quando se define, de forma racional, que não há riscos envolvidos,
é normal que o medo diminua ou desapareça totalmente. Se fugir da
morte é inevitável, então, por que muitos vivem pensando nela o tempo
inteiro? Este é o medo disfuncional.
A disfuncionalidade do medo pode ter bases tão profundas, que
mesmo uma averiguação no passado, não será capaz identifica-la. Há
casos, como o medo de pombos, que não está relacionado a nenhum
fato pessoal do passado ou às experiências vividas por outras pessoas.
Simplesmente, alguém vê esta ave como uma ameaça e pronto. Para um
caso como este, é importante identificar as crenças irracionais, que
nascem a partir dos pensamentos automáticos e surgem no momento
em que um pombo se aproxima. Outro recurso, é induzir a pessoa ao
enfrentamento, já que fugir de um pombo pode reforçar, agravar e
perpetuar o medo. Este recurso, consiste em expor a pessoa, de forma
controlada e prolongada, ao estimulo que provoca o medo, até que se
diminua a ativação. Hoje em dia, existem recursos tecnológicos,
dispositivos de realidade virtual, capazes de gerar os estímulos que
provocam os sintomas corpóreos, que aumentam ainda mais o medo,
como, por exemplo, o medo de enfartar por sentir medo.
O medo disfuncional poder estar conectado com o sistema de
crenças, que desenvolvemos durante o nosso período da infância,
adolescência e até na fase adulta, quando a nossa autoestima foi ou
ainda é afetada por diversas frases enfraquecedoras que escutamos.
Também pode estar relacionado às nossas próprias experiências
fracassadas ou até às referencias que temos de experiências alheias. Eu
conheci uma senhora que morreu de câncer, devido ao medo de
9 portaldotransito.com.br
Márcio Barreto
101
descobrir que tinha alguma enfermidade grave. Ela deu tanta
importância às referencias alheias, que preferiu não ir ao médico para
não ter nenhuma notícia ruim, já que temia a morte. Essa crença
irracional foi muito importante na precipitação da sua morte.
Muita gente deixa de prosperar, financeiramente, por medo de um
cargo de responsabilidade no trabalho; tantas outras, deixam de
praticar esportes por medo de se machucarem; devido ao medo da
exposição, muitas pessoas fogem dos deveres ou responsabilidades,
seja no trabalho, na escola, na faculdade, nos círculos religiosos etc. A
principal causa deste medo não é o risco de morte e nem ao processo
em si, mas à opinião alheia em relação à performance.
Se um dia, nos fizeram passar por um vexame nos chamando de sem
graça, sem talento ou de um palhaço, muito provavelmente nos deixou
uma marca negativa, se a opinião alheia prevaleceu sobre a certeza de
quem somos.
Estou bastante convencido que a nossa autoestima, estando em alta
ou em baixa, é o que nos torna capazes ou incapazes, de sermos seguros
e felizes em todos os campos de ação de nossas vidas. Ser aceitos pelos
outros é uma das grandes preocupações que temos e, justamente por
isso, não conseguimos encontrar o “ser” estável que reside em nós.
Enquanto existir o medo de não sermos bem avaliados, seremos sempre
aquilo que os outros querem que sejamos. E o que podemos ser para
agradar a todos?
O medo também é usado para provocar dúvidas nas pessoas, é uma
forma de manipular as suas mentes. Em diversas religiões, muitos
obedecem aos seus líderes por medo de irem para o inferno. O que é o
pecado, senão um recurso para controlar as mentes por meio do medo?
Por medo de sofrer no futuro, muitos sofrem no presente, carregando
uma imensa luta contra a própria sombra que jamais os deixam em paz.
Se queremos agradar a Deus, devemos nos conhecer, em primeiro
lugar, para melhor serví-Lo. Ele já nos conhece, portanto, quando nos
conheceremos?
Onde houver um pessimista, existirá também um ser medroso,
cheio de convicções negativas, estimando um futuro cheio de dor e
sofrimento. Para este, avançar significa um risco que não compensa
correr, já que suas previsões nunca são as melhores. Por querer evitar o
Manual para ser alguém
102
fracasso, fracassa sem perceber. Vive espiando, pela janela, a vitória
alheia, atribuindo aos vitoriosos uma sorte que ele não possui. Agindo
assim, inveja, cobiça e se frustra, culpando a Deus e aos outros pela vida
sem sucesso que vive.
Uma mesma pessoa que é capaz de pular de um avião, com
paraquedas, a dois mil metros de altitude, pode permanecer dentro de
uma relação tóxica por muitos anos com medo de não conseguir
encontrar um outro amor.
É possível que alguém possa surfar as ondas gigantes de Nazareth,
em Portugal, mas se paralisar ao falar em público. Esses dois exemplos,
nos mostram claramente que podemos ser valentes em várias situações
e medrosos em outras, tudo depende da importância que a gente dá
para a opinião alheia. Se autoestima estiver em alta, pouco importa o
que os outros irão pensar.
O medo, como estado de ânimo, pode perdurar por muitos anos e
ser comparado com uma névoa, que não nos permite ver claramente as
coisas como realmente são; e como esta emoção crônica não se vai, a
razão nos falta como um farol a iluminar a estrada da vida por onde
caminhamos.
Esta emoção, pode ficar enraizada em nós a partir de uma situação
traumática vivida no passado, fazendo com que o medo perdure no
tempo e se manifeste ainda que a ameaça já não exista. O que fica, é
apenas a lembrança dela, porém, já é suficiente para acionar o
“antivírus” da nossa memória emocional. Tudo o que queremos é
evitar a mesma experiência desagradável de novo.
Depois que fui atacado por um enxame de abelhas, meu olfato se
aguçou de tal forma que eu era capaz de sentir o cheiro de uma colmeia
à distância, porque quando eu fiquei coberto por ele, senti o aroma do
hormônio que esses insetos liberam quando são ameaçados, ele é quem
chama as guardiãs da colmeia para a batalha. Se eu fosse alérgico a
picada de abelhas, eu não teria escrito este livro.
O medo é um excelente amigo que possuímos. Ele sempre deve ser
visto dessa maneira, do contrário, recusaremos diversas oportunidades
de sermos felizes, de usufruirmos nos momentos épicos em nossas
vidas, porque, sendo uma emoção, ele é um chamado para a
preservação da nossa integridade física e um agente regulador na
Márcio Barreto
103
execução das tarefas que nos exigem precaução. Ele só será um
bloqueador de caminho se as nossas convicções forem
enfraquecedoras, se insistirmos andar pintado quadros de calamidades
para o nosso futuro e se sofrermos com as derrotas ou as opiniões
alheias. Dificilmente, controlamos a nossas ações, pensamentos e
palavras, portanto, é uma pretensão, irracional, querermos controlar os
fatos e as pessoas.
Como qualquer emoção, nãos devemos nos centrar em sentí-lo com
os julgamentos internos que fazemos, senão, saber o que fazer com ele
quando o medo provém do imaginário (fobia), ou seja, dos panoramas
caóticos que criamos, da preocupação em relação ao julgamento das
pessoas, da insegurança estabelecida por experiências fracassadas,
traumáticas ou das referências vividas por alguém. Rejeitar o nosso
medo, tentar escondê-lo, é tão inapropriado quanto permitir que ele nos
impeça de conhecer o futuro quando ele chegar, sem que ele já tenha
sido, tragicamente, criado em nossa mente. Portanto, deixe seu medo
de lado e, tampouco, se culpe por ele aparecer quando não convém.
Apenas o analize, de forma racional, porque a defesa da nossa imagem,
perante à sociedade, nos gera muita insegurança e, consequentemente,
nos gera medo.
Em função da frustração que nos causa, por sentirmos medo do
imaginário, carregamos um sentimento de culpa, interminável, porque,
no fundo, temos a certeza que não existe perigo, mas uma tremenda
importância que damos para o que os outros irão pensar. Convém
seguir sua leitura, porque a culpa é algo que todos sentimos e o
próximo capítulo é dedicado a ela.
Manual para ser alguém
104
Márcio Barreto
105
Capítulo 17
A Culpa “O início da salvação é o conhecimento da culpa. ”
Sêneca
Este belíssimo instrumento de autojulgamento, é bastante
precioso em nós. Infelizmente, foi deturpada por muitos séculos, mas
esta emoção é quem nos diz que os nossos princípios e valores foram
violados por nós mesmos. É quando, na nossa conversa interior, a gente
se diz: “Você deu uma vacilada com a sua atitude, você fez o inverso
daquilo que você crê e diz ser o correto!”
Nem sempre, na vida, podemos ser e agir de acordo às nossas
crenças e valores. De vez em quando, por uma questão de necessidade
ou conveniência, somos obrigados a violar às nossas regras de condutas
morais. Mentir não é bacana, entretanto, devemos saber em que
momento e a quem podemos dizer a verdade. Às vezes, fica
complicado revelarmos algo por força da própria circunstância.
Imagine que a sua amiga está traindo o namorado dela que é bem
rude e agressivo. Estando numa festa, este sujeito se aproxima de você
e te pergunta por ela. Você sabendo que ela está com o outro em
determinado lugar, você lhe diria a verdade ou diria que não a viu?
Muitas pessoas se sentem culpadas por não poderem agir como
pretendem ou ser o que querem ser; vivem em conflito por não
gostarem de desrespeitarem seus princípios morais e religiosos. Levam
dentro de si um nível de autoexigência bastante elevado, e se culpam
por não poderem agradar a todos.
Inumeros pais se culpam por não poderem dar uma vida melhor aos
seus filhos e por isso se julgam medíocres ou incapazes. Quantos filhos
se culpam por não ligarem para os pais diariamente e por isso se julgam
maus filhos? Quantos fieis não se acham dignos do amor Deus por
sentirem raiva de alguém, e se julgam pecadores sem perdão?
Por desconhecermos a real função da culpa, entramos em batalha
interior quando a sentimos nos momentos em que ela não deveria estar.
Manual para ser alguém
106
A nossa autoestima e a segurança interior, se relacionam diretamente
com ela.
Para muitas pessoas, dizer o não, as fazem se sentir culpadas,
porque a sua norma é agradar a todos. Este exemplo, nos serve para
entender que a nossa segurança interior nos ajuda a evitar a culpa na
nossa mente.
O medo é outra importante emoção que desperta a culpa em nós.
Rejeitar uma oportunidade na vida, por medo, não só nos faz sentir
culpados, como se torna num estado emocional que pode perdurar por
muitos anos. Quantos não se sentem culpados por haverem deixado
escapar aquela oferta de promoção no trabalho, e que hoje os fazem
sentir o peso da dificuldade financeira que carregam?
Afinal, como devemos nos relacionar com a culpa?
Ela afeta a nossa identidade privada, ou seja, ficamos mal perante a
nós mesmos. Ela é o contrário da vergonha, que afeta a nossa imagem
pública. Sempre que trairmos os nossos valores, crenças e princípios
mais profundos, ela surgirá para nos alertar em relação à falta que
cometemos conosco e com as pessoas, também. Ela é resultado de uma
falta cometida voluntariamente, ou seja, não é algo que fizemos sem
querer. Não há culpa se não existe valores, princípios ou crenças; onde
não há um código de conduta social, moral ou religiosa. Um canibal,
por exemplo, que ignora a religião, os códigos penais ou as normas
sociais, mata um ser humano sem que a consciência lhe cobre por isso.
Existem situações cotidianas, sejam familiares, profissionais,
afetivas e religiosas, em que muita gente joga sobre as outras uma carga
energética imensa de culpa, por meio de frases como: “Por tua culpa,
eu tomei uma má decisão!” “Seu irmão me trata bem, você não!” “Isto
é um pecado aos olhos de Deus!” “Fulana é muito mais eficaz que você
trabalhando!” “Você irá sair usando esta roupa?”
A culpa, é uma emoção muito usada por pessoas tóxicas,
manipuladoras, que gostam de crescer perante as outras para
conquistar o que querem. Ao tornarem as pessoas frágeis, por meio da
culpa, abrem tremenda brecha no emocional delas, com o interesse de
as transformarem em marionetes obedientes, carregadas de desejos de
repararem “os erros” que elas assumiram ter cometido. Com este tipo
de estratégia manipuladora, nascem o culpador e o culpado, ou o
Márcio Barreto
107
castigador e o castigado; sendo que ambos podem estar na mesma
pessoa, já que ao escutar de alguém que somos culpados pelo seu
sofrimento, podemos admitir essa culpa e nos julgarmos, duramente,
sempre e quando, de nossa parte, não houver a segurança, a autoestima
e o filtro da razão em estado de alerta.
Muitas vezes, sofremos anos carregando a culpa embutida pelos
outros, principalmente, provenientes de familiares, professores e
religiosos que nos impregnaram dessa carga emocional, simplesmente
por que não lhes seguimos as “orientações” que nos fariam “felizes” no
futuro. Utilizam frases do tipo: “A nossa família é de advogados
conceituados, por que você que ser designer de moda? Você é a única
transviada da família! Não te pesa a consciência não?” “Você é um
péssimo aluno em matemática, serás um fracassado profissional no
futuro!” “Só pode haver amor carnal entre um homem e uma mulher,
você contraria as leis de Deus!”
Tais frases, muitas vezes, vem de pessoas reprimidas que preferiram
se esconder, em vez de darem o grito de liberdade e ser o que queriam
ser; mas preferiram seguir a cartilha da obediência e se frustraram.
Receberam e insistem passar adiante esta mesma fórmula, frustrante,
como crença hereditária. Quantas vezes eu não escutei de pessoas “Eu
não terminei com o meu casamento por causa dos meus filhos!“ Ou seja,
a falta de coragem foi transformada em culpa alheia, pelo fracasso
matrimonial que já existia antes mesmo dos filhos nascerem!
A melhor forma de evitar a culpa, é a responsabilidade sobre os
nossos atos perante a vida. Olhar para as consequências é fundamental
para saber se o que fazemos, agora, nos trará sofrimento futuro. Nem
sempre sentir uma dor hoje, resultará em culpa mais à frente; ao
contrário, o prazer que sentimos hoje poderá ser muito prejudicial
tempo depois, quando detectarmos que já é impossível voltarmos ao
passado para começarmos outra vez. Muitos processos cancerígenos
começam no prazer! Muita dor com os vícios começa no prazer! Muita
gravidez indesejada começa no prazer!
O mais apropriado é conduzirmos a nossa vida com segurança,
sendo firmes como somos e queremos ser, a fim de evitar as culpas
futuras quando percebermos que seguimos os desejos alheios e não os
nossos. Sempre seremos convidados a seguir os “conselhos” dos
Manual para ser alguém
108
manipuladores e, cabe a nós, detectar quem realmente nos ajuda e quer
a nossa felicidade, e quem finge ser os “gurus” cheios de boa vontade,
com as melhores intenções de transformarem a vida das pessoas num
paraíso. O homem de coração mais puro que passou por este planeta,
nos recomendou que fossemos mansos como um cordeiro e atentos
como uma serpente, porque haveriam muitos lobos em peles de
ovelhas.
Devemos prestar a atenção para não cairmos na tentação de sermos
os “rebeldes sem causa” por isso, e tampouco pensar que não se deve
escutar os conselhos dos mais experientes. Nossos pais erram; nossos
professores erram; nossos orientadores religiosos erram; nossos chefes
erram; nossos amigos erram. O que tem em comum entre eles e nós, é
que todos somos seres humanos imperfeitos; todos recebemos
determinadas crenças que se perpetuam por séculos, como o pecado. A
maior dificuldade em aceitar a opção sexual do próximo, por exemplo,
está enraizada numa crença pecadora de muitos séculos e muito
provavelmente estará por outros mais, até que a mentalidade,
resistente e ignorante, desapareça deste planeta.
Para concluir, a culpa é uma emoção que se evita, mas quando ela
surge, já sabemos que ela é um mensageiro interno que nos chama para
o despertar, para uma mudança interna e externa, abrindo espaço para
a criatividade e a renovação, sempre visando reparar os danos
causados a nós mesmos e a terceiros, sem que a autopenitência seja
necessária.
Devemos apenas reconhecer o atributo da imperfeição que há em
nós, e seguirmos em frente buscando a prosperidade em todos os
setores da nossa vida. É muito importante saber dizer a nós mesmos
“Basta! Quero uma nova vida para mim!” E por falar em basta, é um
assunto que vem explicado no próximo capítulo.
Márcio Barreto
109
Manual para ser alguém
110
Capítulo 18
O Basta “Mude o modo que você olha para as coisas, e as coisas que você olha mudarão. ”
Wayne Dyer
Nada na nossa vida é estático, nem mesmo o que possuímos
de material, pois que a propría natureza se encarrega de transformá-lo
com o passar do tempo. Quando não disposmos a mudar nossa vida, a
própria dinâmica que há no mundo, se encarrega de fazer o trabalho
por nós.
De acordo a um conto Zen, um mestre e um discípulo caminhavam
por um bosque, quando avistaram uma casa distante de aparência
precária. Como de costume, o mestre lembrou ao discípulo que a
missão deles era visitar as residências no caminho para prestar-lhes
auxilio em caso de necessidade, e também colher o aprendizado dessas
visitas.
Chegando ao local, puderam ver que a família vivia em estado
muito difícil. Eram o casal e seus três filhos, todos em estado
lamentável, vestindo roupas velhas, sujas e rasgadas; tinham os pés
descalços e estavam sem banho por muitos dias. A casa estava em
estado de ruinas.
Ao se aproximarem do pobre homem, lhe perguntaram como
faziam para sobreviverem, já que onde estavam era longe de tudo. Lhe
pergutaram também como conseguiam algum dinheiro para o sustento
deles.
O homem lhes comentou que eles tinham uma vaca que lhes dava
vários litros de leite, diariamente, e parte do que tiravam dela, trocavam
por alimentos, numa cidade vizinha, e da outra parte, produziam
queijo para o próprio consumo. Ou seja, vivam bem e não necessitam
de ajuda dos dois monges.
Ambos se despediram da família e seguiram sua caminhada rumo
ao monastério. Mas antes que se afastassem do local, o mestre pediu ao
discípulo que levasse a vaca até o abismo mais próximo e a tirasse
Márcio Barreto
111
montanha abaixo, algo que causou ao discípulo constrangimento e
culpa, afinal, era dela que tiravam o sustento diário para sobreviverem.
Contrariado, o discípulo fez o que o seu mestre mandou e sofreu
muito por ter provocado a morte não só da vaca, mas de toda uma
família.
Os anos se passaram e o discípulo sofreu de culpa e remorso pelo
que fez e não aguentando mais, retornou ao local para ver o que tinha
restado daquela família de gente sofrida.
Ao se aproximar do local, viu uma enorme casa que expelia fumaça
pela lareira, cercada por um lindo jardim e árvores frutíferas que
enriquecia a paisagem. Do lado de fora, as crianças brincavam felizes e
dava para ver dois carros de luxo na garagem. Foi então que a dor do
discípulo aumentou ainda mais, sua consciência lhe dizia que ele tinha
arruinado a família e aquela outra que lá estava, tirou proveito da
anterior e comprou aquele sitio a preço de banana.
Chegando no local, porém, encontrou um homem de aparência
nobre que cuidava do jardim, e a ele lhe preguntou para onde teria ido
a família que, anteriormente, ali vivia. Foi quando percebeu que eram
as mesmas pessoas de antes, sendo que em situação de abundância
total. Muito curioso, o discípulo perguntou ao homem como eles
puderam mudar de vida tão radicalmente. Foi quando o homem lhe
explicou que a partir da morte da vaca que tinham, tiveram que
desenvolver outras habilidades que não sabiam que tinham, e que os
fez prosperarem em todos os sentidos.
Se refletimos sobre este conto Zen, podemos detectar que existe em
nós uma vaca esperando para cair no abismo. É por meio deste “único”
meio de sobrevivência que deixamos de explorar algo em nós, criamos
diversos limites que nos impedem de avançar e prosperar.
Esta vaca pode estar disfarçada de apego, medo, negatividade,
pessimismo e todo tipo de fobia que levamos, que nos impedem de
descobrirmos o não sei o que sei, que existe em todos nós.
Qual é a sua vaca? O que aconteceria se ele fosse para o abismo? O
que te impede de jogá-la ribanceira abaixo? Você vai esperar que
alguém se encarregue de matá-la ou você assumirá essa
responsabilidade?
Manual para ser alguém
112
O ato de jogar a vaca pelo abismo eu o chamo de basta. Esta vaca
representa tudo aquilo que nos trava, tudo aquilo que nos causa
sofrimento, o que nos paralisa e assusta, tudo o que nos impede de ser
quem queremos ser. A dor (a morte da vaca) é o que queremos evitar,
mas quem disse que ela será eterna? Quem disse que ela nos trará
sofrimento? Era assim que aquela família vivia e somente depois da
morte da vaca que ela despertou. Foi necessário um homem sábio na
vida dela, que contribuiu de forma anônima e precisa, a fim de conduzi-
la para a prosperidade. Quem é o seu discípulo? Ele é um livro, uma
pessoa ou uma emoção?
Diariamente, vivemos dentro da normalidade até que algo nos tira
dela. Só podemos sair dessa condição, normal, a partir de uma situação
de dor, insatisfação ou sofrimento e, normalmente, quem nos tira da
normalidade se chama problema. Se o chamamos assim, certamente
fluirá em nós as emoções de raiva, de queixa, de ansiedade ou qualquer
outra que nos impede de ver alguma vaca que precisa despencar do
abismo.
Se somos obrigados a sair da normalidade, é fundamental saber se
é a hora de dizermos basta! O que isso significa propriamente? Pense
naquele “jeitinho brasileiro” que você fez para consertar o seu carro;
naquela escapadinha que você dá para não escutar um familiar tóxico
enchendo a sua paciência; naquela colinha que você faz para se dar bem
na prova; naquela comida venenosa que você come, por preguiça de
preparar um prato decente e nutritivo. Enfim, podemos ver que existem
diversas vacas dentro da nossa vida, e que mesmo jogando diversas
delas ribanceira abaixo, ainda nos sobrará muitas na “fazenda” que
mantemos, há muito tempo, e que não havíamos percebido a sua
existência.
Cada vez que detectamos um basta, jogamos uma vaca montanha
abaixo e o que isso provoca? Este gesto nos faz sair da zona de conforto
– que de conforto não há nada – para entrarmos numa zona de desafio,
que nos abre muitas possibilidades de crescimento, sobretudo, nos
fazendo ver o que não sabíamos que sabíamos, já que nunca houve um
agente que nos guiasse para este local de aprendizagem. Agora,
podemos ver que uma vaca é muito mais que uma provedora de várias
matérias primas. Sua morte, simbólica, nos gera estado de felicidade.
Márcio Barreto
113
Quando dizemos basta, liberamos as energias chamadas de
determinação, abertura e flexibilidade. Cada uma delas é necessária,
quando uma vaca (estabilidade) nos trava à caminhada. O basta deve
ser o remédio para combater o cansaço, a dor, a fadiga, o sofrimento, o
estresse, a depressão, a baixo autoestima e outros estados do corpo e da
alma, sem desprezar os tratamentos médicos necessários; o basta é a
declaração que fazemos a nós mesmos que não podemos seguir de
improvisos e jeitinhos, fazendo o que não queremos fazer, sendo quem
não queremos ser, tendo o que não queremos ter e estando com quem
não queremos estar.
Cada uma dessas energias deve ser liberada de forma, equilibrada,
a fim de evitar uma “matança de vacas” sem necessidade, porém, a vaca
está vinculada a energia da estabilidade, sem dúvida. O estado de
ansiedade é um grande inimigo das vacas, assim como a impaciência.
É fundamental saber qual e por quanto tempo cada vaca deve
sobreviver em nossa vida.
O que nos impede de ver uma vaca corretamente, é quando olhamos
para o problema e fazemos a pergunta por quê, quando deveria ser
para quê. A primeira nos faz sofrer, a segunda nos faz agir, serve de
bussola e nos encoraja a matar uma vaquinha em excesso, que a
alimentamos diariamente.
Pensando na teoria da dor e prazer, uma vaca tanto poder ser a dor
como o prazer, dependerá da interpretação que cada pessoa dá para
situação em que se encontra. Para uns, sessenta cigarrinhos por dia
pode ser um prazer imenso, enquanto que para outros, correr um
quilometro diariamente é uma dor terrível, mas se olharmos para as
consequências de cada ação, qual vaca deve ser jogada abismo abaixo?
O segredo está em olhar para o resultado e não para o processo em si.
Se você só diz sim, diga basta!
Se você só diz não, diga basta!
Se você só você trevas, diga basta!
Se você só vê luz, diga basta!
O basta é a busca pelo equilíbrio, é saber o momento de perceber a
estagnação onde ela estiver, porque o “dançar conforme a música” nos
convém em muitos momentos, e necessitamos saber em que momento
Manual para ser alguém
114
escolhemos a música e em que momentos os outros a escolhem, aí está
a nossa capacidade de agirmos na flexibilidade.
Quem vive sem planejamento e objetivos, quem recusa os desafios
e os convites da vida para as mudanças interiores e exteriores, nada
mais faz além de encher a sua fazenda mental de vacas. É necessário
ativar as quatros energias mencionadas acima e é sobre elas que dedico
o próximo capítulo, portanto, siga na leitura.
Márcio Barreto
115
Capítulo 19
As Quatro Disposições “O mais importante é a mudança, o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda! ”
Clarice Lispector
Imaginemos a vida como um circuito de Fórmula 1,
sendo que nossa mente é o piloto e o nosso corpo é o carro.
Neste circuito existem curvas, retas, subidas e descidas que exigem do
piloto, estratégia para conduzir o carro de forma inteligente e segura.
Em determinados momentos, este carro necessitará de paradas
periódicas para a troca de pneus e de abastecimento de combustível, a
fim de proseguir na corrida. Para cada circuito, há uma tática adequada
e para cada condição climática, também se deve usar um procedimento
diferente. Ou seja, uma corrida nunca será igual a outra, ainda que seja
no mesmo circuito já conhecido. A dinâmica da vida em si que envolve,
pessoas, natureza e circunstâncias, convida ao piloto e sua equipe, a
adotar disposições especificas para estar na prova até o fim e se possível
vencê-la.
Para atuarmos na vida, não é diferente de um circuito de Fórmula 1.
Nós, os cidadãos do mundo, que possuímos rotinas diárias, estamos
sujeitos a diversos fatores influenciadores conhecidos como pessoas,
natureza e circunstâncias, com as quais devemos atuar motivados pelas
quatros disposições energéticas, como estratégia para a corrida do dia-
a-dia. São elas: a flexibilidade, a estabilidade, a determinação e a
abertura.
O que aconteceria se um piloto só acelerasse seu carro? O que
aconteceria se o piloto não acelerasse o carro? O que aconteceria se o
piloto conduzisse o carro, em dia de chuva, da mesma forma que ele
conduz em dia de sol? O que aconteceria se um piloto não parasse para
a troca de pneus? O que aconteceria se o piloto não parasse para
abastecer o seu carro?
Quando imaginamos este cenário, podemos detectar como é
fundamental para o piloto fazer o uso dessas quatros disposições, sem
Manual para ser alguém
116
estar estagnado somente em uma. É necessário que ele esteja com cada
uma delas, na mente, no momento que lhe convém, buscando sempre
voltar para o centro, a fim de entender que estar somente numa delas
poderá lhe causar problemas.
Viver, é ser piloto de Fórmula 1 dentro de diferentes circuitos, em
diferentes dias, em diferentes circunstancias, sendo que para cada
piloto a meta é vencer em determinado campo especifico da vida, tendo
como ente motivador, comum, um desafio.
Há em nós, uma disposição energética, predominante, que nos
conduz para as demais; esta é a determinação. Um piloto pode estar
determinado a não correr, a só acelerar, a só freiar, a não adotar
estratégia para diferentes climas ou a criar novas estratégias, à medida
que novas circunstâncias surjam na corrida. É importante considerar
que cada piloto, dentro de uma corrida, possui uma estratégia e dado
isso, cada piloto se vê obrigado a mudar ou não a sua, se quiser vencer
a corrida. Muitas vezes, o sol se vai e a chuva chega de forma
inesperada, um pneu estoura, o carro apresenta falha mecânica, o que
requer de um piloto muita flexibilidade e abertura para seguir na
corrida.
Por outro lado, o piloto deve ser sábio o suficiente para perceber que
viver mudando de estratégia, frequentemente, o conduz para estratégia
dos demais, sendo que o importante é fazer com que os outros se
ajustem à sua, gerando instabilidade para eles também. Portanto,
podemos concluir que, em determinado momento, a estabilidade é uma
disposição energética como parte de uma estratégia para se alcançar
um resultado dentro da corrida. Pode ser que chegar em primeiro lugar
não seja possível, mas pelo menos estar no pódio, sim. O mais
importante é que o piloto perceba que a derrota é apenas uma
intepretação e não estar no pódio, sempre significa estar aberto para
seguir aprendendo sempre.
Agora que abri a porta da sua mente por esta analogia, vamos
entender como funcionada cada uma dessas disposições,
separadamente, entendendo como elas funcionam e os resultados que
podem gerar estando em excesso, em equilíbrio ou em déficit.
Márcio Barreto
117
A Determinação
Quando estamos sob o efeito da determinação, mantemos em nós o
desejo, a vontade para alcançarmos os nossos objetivos pessoais, a ter
uma relação ativa com os demais, sendo donos de nós mesmos,
estabelecendo os limites de atuação dos outros, dizendo sim ou não
quando nos convém. Também serve para fazer negócios, romper
crenças limitantes, subir a autoestima, começar novos projetos, liderar
equipes, enfim, é com ela que começamos tudo na vida.
Estando determinados a realizar transformações na vida,
experimentamos emoções vinculadas a esta disposição como a raiva, a
contrariedade, a frustração, o entusiasmo, a ambição, a sedução, a
inveja, a competitividade, a convicção, o otimismo, o estresse, a paixão
e outras mais; tudo dependerá do quanto representa para cada pessoa,
as suas realizações e como cada um saiba lidar com os imprevistos do
caminho.
Se estamos muito determinados, tendemos a querer controlar as
coisas, a pessoas e o mundo, adotamos estratégias de manipulação,
fazemos uso das influências profissionais e pessoais, queremos o poder,
brigamos, discutimos e nos enraivecemos bastante. Portanto, é
necessário estarmos atentos para essas tendências, pois que elas serão
os resultados das nossas ações, sob o efeito dessa disposição.
Por outro lado, quando nos falta a determinação, criamos os
fantasmas dos obstáculos, vemos barreiras onde não existe, inventamos
desculpas para não avançarmos, nos sentimos em estado de fadiga e,
não raramente, nos deprimimos.
CentroCentro
Flexibilidade
Abertura
Estabilidade
Determinação
Manual para ser alguém
118
Animados por esta disposição, nosso corpo se torna ágil, fica ereto
e os nossos movimentos são decididos e seguros. A nossa respiração é
ansiosa e o nosso tom de voz é firme e forte. Olhamos fixamente,
intensamente e irradiamos luz pelos olhos. Nosso discurso é “Eu
posso!” “Eu quero!” “Eu consigo!” “Sou capaz!” etc. Sob o efeito dessa
disposição, olhamos para o futuro.
Sempre que houver excesso dessa disposição em nós, muito
provavelmente, seremos exigentes com outros e com nós mesmos;
sempre que houver déficit dela, estaremos vulneráveis para que os
outros nos exija e nos controle. Se ela está em equilíbrio, nos faz
tolerantes e compreensíveis com as fraquezas, limitações e
incompetências alheias.
Esta disposição se vincula ao elemento fogo, por suas características
análogas, já que se associa à paixão, à força, ao poder de construir e
destruir, à irradiação, à iniciativa, ao entusiasmo e à impaciência. É o
elemento que reage rapidamente e que sempre enxerga a possibilidade
e rompe as barreiras invadindo os espaços, seduzindo todos os demais.
Quando você necessitar dessa disposição, basta pensar no fogo dentro
de ti, considerando que ele também pode causar danos. Existe um
ditado que diz: “Quem brinca com o fogo, se queima!”
A Estabilidade
Agindo sob a disposição da estabilidade, podemos manter os olhos
voltados para a nossa meta, para os projetos que queremos
implementar, para colocarmos limites em nós mesmos e nos outros;
também serve para escolhermos um local e nele permanecermos; para
construir um patrimônio, para mantermos uma relação duradoura com
as pessoas que nos cercam.
Estando estabilizados, nos encontramos com os estados emocionais
da serenidade, a resignação, a permanência, a paciência, a
perseverança, a disciplina, a calma, a cautela, a tristeza, o pessimismo,
a rigidez, a arrogância, a preguiça, a resistência etc. Tudo dependerá da
forma como se atua, com quem se atua e por que se atua.
Se esta disposição está sobrando em nós, tendemos a sofrer de
apego pelas coisas materiais, a fecharmos as portas para o aprendizado
e novos desafios, a vivermos dentro de relações tóxicas, de vermos
Márcio Barreto
119
problemas onde existem oportunidades; recusamos o imprevisto e nos
tornamos resistentes. Ou seja, o pessimismo nos domina.
Por outro lado, se esta disposição está em falta, nos sentimos frágeis,
inseguros, amedrontados, sem coragem para vencer os desafios diários.
Buscamos as coisas fáceis, metas superficiais e agimos sob a “lei do
menor esforço”.
Animados, frequentemente, por esta disposição, nosso corpo
apresenta cansaço, fadiga constante, agimos lentamente, evitando o
esforço excessivo para realizarmos atividades. Nossa respiração fica
lenta e o nosso tom de voz abaixa. Nosso olhar pouco expressa. O
discurso que usamos é: “Estou bem aqui.” “Estou acostumado!” “Para
que mudar, faço isso a tanto tempo!” “Me sinto melhor onde estou, me
sinto mais segura assim!”.
Estando estáveis, olhamos muito mais para o passado e falamos
muito menos do futuro. Dado as características dessa disposição ela
está associada ao elemento terra, devido à sua firmeza material, à sua
própria natureza estável, à sua segurança como um elemento para se
construir, à sua praticidade para criar novos objetos a partir dela.
Manual para ser alguém
120
A Flexibilidade
Esta disposição é a que nos permite mudar, a soltar aquilo ao qual
nos apegamos. Também nos ajuda a deixar para atrás as crenças
limitantes e justificativas que não nos permitem crescer, seja qual for o
campo na vida. É muito importante nos momentos em que nos
equivocamos, excelente para buscar novos conhecimentos. Ou seja, nos
tira da casinha, literalmente, e nos leva para o desconhecido, que nada
tem a ver com o ruim ou assustador, mas com a curiosidade e o desafio.
Quando nos tornamos flexíveis, percebemos os estados emocionais
da criatividade, do otimismo, do prazer, da ternura, do devaneio, da
leviandade, da trivialidade, da gratidão, da culpa, da empatia, da
vergonha, do gozo etc. É fundamental entender que cada estado
emocional será sempre resultado do que cada um faz ao ser flexível,
quando sê-lo e com quem sê-lo.
Sempre que está disposição estiver em excesso, nos renderemos
facilmente diante de qualquer dificuldade, abandonaremos nossos
projetos quando enfrentarmos os erros, buscaremos novos desafios e
metas, e não nos especializaremos em nada. Não nos permitiremos ir
mais profundamente nos assuntos; nos tornaremos especialistas na
habilidade da fuga, o que poderá prejudicar a nossa imagem sendo
considerados como pessoas sem comprometimento.
Se ela estiver em déficit, nos custará muito a aceitar as mudanças, a
aprender novas coisas; nos fechará para novas aventuras e nos tornará
excessivamente racionais, vendo dificuldades e barreiras onde elas não
existem.
Estando, frequentemente, na flexibilidade nos sentimos perdidos,
nos movemos de um lado a outro, inseguros e sem saber onde
queremos chegar. Nosso olhar é inquieto, nossa concentração é baixa e
a instabilidade emocional é alta. Nosso discurso é: “Me enjoei disso, isto
é muito difícil!” “Está complicado, que tal algo mais fácil?” “Adoro algo
novo, me motivo com novos desafios!”.
Estando flexíveis, sempre olhamos para o presente, às vezes
ausentes, mudando, frequentemente, do passado para futuro. O
elemento que mais se associa a esta disposição é o ar, dado às
características da liberdade, das mudanças frequentes, do desapego, da
fluidez e da instabilidade.
Márcio Barreto
121
A Abertura
O que aconteceria se um piloto de Fórmula 1 não estivesse aberto
para escutar os conselhos, as ordens do chefe da equipe ou dos
engenheiros que construíram o carro?
A disposição da abertura serve para que escutemos o outro, para
que compreendamos o mundo pessoal e o que nos rodeia; nos ajuda a
explorar novos meios, quando uma vaca cai abismo abaixo; ela nos
ajuda a refletir para criar novos sonhos, buscar novas metas; gerar
inovações e começar novos projetos, ou seja, criamos a liberdade para
nós mesmos.
Se estamos abertos para a vida, podemos perceber os estados
emocionais de paz, de empatia, de curiosidade, aceitação, de
conformação, de excitação etc.; mas também, podemos sentir a
insegurança, a dependência, a leviandade, o medo, a influência de
terceiros em nós. Obviamente, que sempre será uma consequência do
que estimamos fazer com a abertura que nos concedemos e aos outros
também.
O que acontece se estamos excessivamente abertos? Podemos ser
facilmente manipulados, influenciados, controlados, explorados, nos
tornamos dependentes da opinião alheia, queremos ser reconhecidos,
perdemos a noção do nosso valor. Também podemos nos bloquear para
receber carinho e a ajuda dos outros, porque queremos apenas dar e
não receber.
A falta dessa disposição nos dificulta trabalhar em equipe, a manter
uma relação saudável e de confiança com as pessoas; pode nos causar
apatia e também desinteresse pelas coisas. Viver contrariado é um dos
sintomas da falta de abertura, já que a vida é como é e não como
gostaríamos que ela fosse.
Quando estamos abertos para novas situações, o estado de paz é o
que nos provoca relaxamento, nos ajuda a eliminar a tensão e a
ansiedade. Desenvolvemos crenças poderosas, olhamos para o passado
e para o presente. Entendemos que essa disposição nos permitiu
avançar muitas vezes. Se não estamos preocupados, o futuro sempre
Manual para ser alguém
122
será o resultado do hoje e não da nossa imaginação carregada de
negatividade.
Se queremos associar essa disposição com algum elemento natural,
este elemento deve ser a água. Este elemento se adapta facilmente ao
ambiente; para ele não há barreira, não há resistência, flui com
facilidade pelos caminhos mais difíceis. É um elemento que muda com
a condição climática, com a temperatura ambiente. Pode ser gelo, pode
ser vapor. Pode ser límpida, pode ser turva. É um elemento que cede,
que retrocede se necessário e que aceita as condições externas, é onde a
vida se desenvolve para muitas espécies.
Diante dessas disposições energéticas apresentadas, qual é a melhor
dela para o nosso dia-a-dia? Muito provavelmente você já fez essa
pergunta. Não existe nenhuma que seja a melhor ou a pior, senão a mais
adequada para cada momento. A minha visão pessoal diz que eu
preciso estar determinado para decidir o que fazer, seja me estabilizar,
me abrir ou me flexibilizar, à medida que o cenário se desdobra à minha
frente. Por isso, creio que esta é a disposição mais presente no ser
humano e a mais constante.
Equilibrando As Disposições
O mais importante é sabermos identificar quando cada uma delas
está em falta ou em excesso, já que existem desvantagens para esses
dois extremos. Não foi à toa, que usei a analogia da Fórmula 1 como
um suporte para quem não consegue visualizar as consequências da
nossa atuação, sob o efeito dessas disposições. Muitos dos “acidentes”
que causamos em nossas vidas, são resultados do excesso ou da falta
de uma ou mais dessas disposições que nos movem diariamente. Se a
vida em si é dinâmica, nosso dever é perceber que vivermos na
resistência não nos favorece. Resistir, é não aceitar estar no centro
dessas disposições. A própria natureza se encarrega de nos tirar da
estagnação, em qualquer disposição, por meio do sofrimento. A dor
pode ser o resultado de anos vivendo motivados por uma mesma
disposição energética. O próprio Albert Einstein nos ensinou, que se
quiséssemos resultados diferentes, não devéssemos fazer as mesmas
coisas todos os dias.
Márcio Barreto
123
Somos seres de hábito, de costume, de rotina, de tradição, atributos
que podem nos conduzir para o sofrimento, se não estivermos atentos
a essas perguntas: “O que faço?” “Por que faço?” “Para que faço?”
“Para quem faço?” “Que resultado espero ter?”
Por que essas perguntam nos ajudam? Para medir o nível de
liberdade de escolha que temos. Muitas vezes, fazemos o que outros
querem que façamos, seja por hábito, costume, rotina, tradição etc.
Nossos orientadores “implantam” seus desejos em nós e é por isso
mesmo que convivemos com a frustração, em diversos campos de
nossas vidas, simplesmente porque fomos, literalmente, obrigados ou
sugestionados a fazer por quem nos criou.
Obviamente, que nem sempre poderemos fazer o que quisermos,
mas podemos SER quem queremos ser e isto, ninguém pode nos
impedir. Cada um de nós chega neste mundo com um propósito e por
ele devemos buscar. Podemos até não aceitar o que viemos fazer, mas
ninguém chega na vida com o propósito de não fazer nada. Sempre nos
cabe fazer alguma coisa, seja ela simples ou complexa, já que a vida
sempre exige uma transformação. Quando não nos transformamos, a
própria transformação da vida nos impulsiona para isso. Portanto, o
que você ainda não fez para se transformar?
Manual para ser alguém
124
Márcio Barreto
125
Capítulo 20
Começando a Transformação “Que haja transformação e que comece comigo.”
Marilyn Ferguson
Depois de ler todas essas linhas, você deve estar se
perguntando como colocar tudo isso em prática, por onde
começar, como começar etc. Esta parte é muito importante para o inicio
do processo.
Imagine que alguém te presenteou algo que você gosta muito de
comer; mas a quantidade é tamanha, que você não poderá comer tudo
de uma vez, terá que ser por parte. Da mesma forma, tudo que você
pretender modificar em você, também deverá ser por parte, até porque
nem tudo dependerá somente de ti. O que depende da participação de
alguém, fica para um segundo plano e há uma razão para isso.
Quando nós nos transformamos, a nossa visão em relação a tudo e
a todos, que estão ao nosso redor se transforma; passamos a ver outra
realidade. Se quisermos dar um basta em nossa vida, sabendo que
vamos assustar a muita gente, devemos estar muito determinados para
enfrentar os comentários e as atitudes que poderão surgir. Uns nos
dirão parabéns, mas outros nos dirão que perdemos o juízo. Portanto,
transformemo-nos, em primeiro lugar, porque tudo irá, aos poucos, se
ajustando por si só, naturalmente.
Se subimos a autoestima, se nos sentimos seguros para sermos quem
quisermos ser, deixamos de andar sob as normas dos controladores e
também deixamos de controlar; deixamos de exigir e de sermos
exigidos; deixamos de possuir e sermos possuídos. Renascer, é o
primeiro passo para aceitar a vida como ela é e não como gostaríamos
que ela fosse; aceitando as pessoas como elas são e não como
gostaríamos que elas fossem. Deixamos de criar as ilusões que,
normalmente, atribuímos a terceiros. Não existe uma fórmula mágica
para o renascimento, não há como provocar mudança em nós mesmos,
se não for pelo autoconhecimento e os exercícios diários, sabendo que
Manual para ser alguém
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somos seres naturais, ou seja, da natureza e, portanto, não há
transformação que se faça da noite para o dia. Quando alguém diz que
“Fulana mudou de repente!”, pode ter a certeza que a fulana apenas
mostrou a mudança na qual ela já vinha trabalhando a algum tempo.
Primeiro vem o autoconhecimento; em seguida, vem a etapa da
transformação e logo, chega o resultado.
Aprendi, que crescer em busca somente da riqueza financeira nos
causa muita frustração, porque deixamos de lado outras riquezas
importantes e de muito valor na vida. Nós nascemos para amar e
sermos amados e com o passar dos anos, me observando e também as
pessoas à minha volta, entendi que busquemos o que busquemos,
desejemos o que desejemos, no fundo, o que todos nós queremos é o
amor, pois só ele nunca é demais, só ele nos satisfaz e nos faz ver que,
tendo uma vida plena de patrimônios e conquistas financeiras, sem
uma pessoa para amarmos, sem uma pessoa que nos ame, existirá
sempre um vazio que nada poderá preencher. Não nascemos para
vivermos isolados, e não há outra forma de crescermos,
espiritualmente, se não for por meio do amor.
Sinceramente, do fundo meu coração, espero ter colocando em ti
alguma motivação para que a sua vida ganhe sentido. Aqui, coloquei o
que eu aprendi por conta própria, pela dor ou pelo amor, e por meio de
quem se dispôs a me ensinar.
Se tudo o que aqui está faz sentido para você, também poderá fazer
para outras pessoas. Portanto, pense nelas, não em mim, e divulgue este
livro como forma de propagar esses ensinamentos pelo mundo.
Que Deus abençoe a todos nós.
Se este livro virar um Best Seller será graças a você.