marÇo 2011

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E D I T O R I A L ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MARÇO/2011 - ANO XIV - N o 170 O ESTAFETA Assinalamos neste mês de março o transcurso de mais um aniversário de fundação da FPV. A ideia da criação de uma fábrica de pólvora sem fumaça no Brasil remonta ao ocaso do século XIX. Fazia parte de um amplo projeto elabo- rado pelo Marechal Mallet, Ministro da Guerra do Governo de Campos Sales, para modernizar nossas Forças Armadas. Após estudos, o local escolhido para instalação dessa indústria bélica recaiu no município de Piquete. Concorreu para isso a riqueza de água, a exuberância de suas matas e o perfil topográfico de seus terrenos. Foi, portanto, com festas, que os piquetenses receberam, em 1902, o Ministro da Guerra com a notícia da construção dessa indústria. Vislumbra- vam dias melhores com a geração de empregos e o crescimento e desenvol- vimento da cidade. Em julho de 1905, sob o comando do Tenente Coronel Sisson, instalou-se em Piquete a Comissão Construtora da Fábrica. Em tempo recorde edificaram um complexo fabril que, no dia 15 de março de 1909, foi inaugurado pelo Presidente da República Afonso Pena. Num olhar retrospectivo, nesses 102 anos de história constatamos que a Fábrica exerceu e ainda exerce influência marcante na vida do município. Hoje, como no passado, existe uma simbiose entre ela e a população, pois é rara a família de Piquete cujos país ou avós não foram seus operários. Logo no início das obras de sua construção, os ho- mens em idade adulta em Piquete pas- saram a ser incorporados a suas fileiras produtivas trabalhando desde a cons- trução da estrada-de-ferro e oficinas até os galpões e prédios administrativos, e mais tarde na edificação de vilas ope- rárias, hospitais, cinemas e clubes recreativos. Pertencer aos quadros de produção da Fábrica proporcionava aos cidadãos de Piquete um respeitável escalonamento social. Afinal, havia um salário e garantias para se alugar uma casa e constituir família. É sempre bom lembrar que todos os marcos urbanos significativos na cidade foram edificados pela Fábrica. É impossível imaginar a cidade sem sua Fábrica. Por isso, todos os anos, em 15 março, devemos voltar nossos olhos reverentes para o passado e constatar que foi a partir do início das obras militares no município que um mo- vimento sem precedentes, que empolgou a todos e lançou as bases de uma poderosa indústria bélica, mudou o seu rumo e seu destino. Parabéns FPV! Na Quarta-feira de Cinzas, a Igreja Católica no Brasil iniciou a Campanha da Fraternidade 2011, com o tema “Fraternidade e a Vida no Planeta” e o lema “A criação geme em dores de parto” (Romanos 8, 22). A Campanha da Fraternidade ajuda os fiéis a viver melhor o tempo quaresmal, que iniciou, em toda a Igreja, no dia 9 de março. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), por meio da Campanha da Fraternidade propõe, a cada ano, um itinerário evangelizador voltado para a conversão pessoal e comunitária, em preparação à Páscoa. A iniciativa floresceu durante o Concilio Vaticano II (1962-1965), e desde então os temas sociais apre- sentados refletem o papel da Igreja junto à sociedade. Neste ano a Campanha da Fraternidade nos convida a uma reflexão sobre o aqueci- mento global e as mudanças climáticas. A temática decorre da preocupação da Igreja em despertar nas pessoas a consciência ambiental, tendo em vista as intempéries climáticas que assolam populações. O objetivo central deste ano é “contri- buir para a conscientização das comu- nidades cristãs e pessoas de boa vontade sobre a gravidade do aquecimento global e das mudanças climáticas, e motivá-las a participar dos debates e ações que visem enfrentar o problema e preservar as condições de vida no planeta”. As mudanças climáticas estão cada dia mais agressivas. A natureza está sendo destruída, e a Igreja, imbuída da missão de evangelizar, procura levar a Luz de Deus às situações que impliquem sofrimento, dor e morte. O ser humano está no centro da criação, mas Deus não o criou sozinho. Ele é um ser chamado à cooperação e à solidariedade para com seus irmãos e para com os seres da natureza. Suas realizações, construções e mesmo sua procriação devem dar conti- nuidade à obra de Deus. Se, por um lado, o progresso científico e econômico, político e social da modernidade trouxe contribuições à humanidade, de outro, introduziu muitas situações que atentam contra a vida em sua dimensão planetária. A criação geme diante da dete- rioração do meio ambiente, da exploração descuidada e, em muitos casos, gananciosa dos recursos naturais. A conscientização de que cada um é parte do problema deve reverter na convicção de que a contribuição pessoal pode concorrer para diminuição das emissões dos gases de efeito estufa. O aquecimento global é uma mudança climática que traz consigo vários desdo- bramentos. A temperatura futura do planeta e a biodiversidade hoje ameaçada vão depender do nosso modo de produzir, consumir e agir. Neste sentido, é preciso reaprender a conviver com a Terra e com todos os seres vivos, reafirmando atitudes que não comprometam a vida no planeta. Que a Campanha da Fraternidade deste ano nos faça compreender e vivenciar o cuidado com a criação de Deus, acreditando em uma sociedade que vise o crescimento e o desenvolvimento, sem destruir o meio ambiente, para “que todos tenham vida, e a tenham em abundância” (João 10, 10). Fraternidade e a Vida no Planeta Ao longo de sua história a FPV sempre se preocupou com a preservação de seu fragmento de Mata Atlântica. Contribuiu, assim, para mitigar os efeitos do aquecimento global. Foto da década de 1940. Fotos arquivo Pro-Memória

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No.170 - Ano XIV

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Page 1: MARÇO 2011

E D I T O R I A L

ÓRGÃO DA FUNDAÇÃO CHRISTIANO ROSA

DISTRIBUIÇÃO GRATUITA PIQUETE, MARÇO/2011 - ANO XIV - No 170

O ESTAFETAAssinalamos neste mês de março o

transcurso de mais um aniversário defundação da FPV. A ideia da criação deuma fábrica de pólvora sem fumaça noBrasil remonta ao ocaso do século XIX.Fazia parte de um amplo projeto elabo-rado pelo Marechal Mallet, Ministro daGuerra do Governo de Campos Sales,para modernizar nossas Forças Armadas.Após estudos, o local escolhido parainstalação dessa indústria bélica recaiuno município de Piquete. Concorreu paraisso a riqueza de água, a exuberância desuas matas e o perfil topográfico de seusterrenos.

Foi, portanto, com festas, que ospiquetenses receberam, em 1902, oMinistro da Guerra com a notícia daconstrução dessa indústria. Vislumbra-vam dias melhores com a geração deempregos e o crescimento e desenvol-vimento da cidade.

Em julho de 1905, sob o comando doTenente Coronel Sisson, instalou-se emPiquete a Comissão Construtora daFábrica. Em tempo recorde edificaram umcomplexo fabril que, no dia 15 de marçode 1909, foi inaugurado pelo Presidenteda República Afonso Pena.

Num olhar retrospectivo, nesses 102anos de história constatamos que aFábrica exerceu e ainda exerce influênciamarcante na vida do município. Hoje,como no passado, existe uma simbioseentre ela e a população, pois é rara afamília de Piquete cujos país ou avósnão foram seus operários. Logo no iníciodas obras de sua construção, os ho-mens em idade adulta em Piquete pas-saram a ser incorporados a suas fileirasprodutivas trabalhando desde a cons-trução da estrada-de-ferro e oficinas atéos galpões e prédios administrativos, emais tarde na edificação de vilas ope-rárias, hospitais, cinemas e clubesrecreativos. Pertencer aos quadros deprodução da Fábrica proporcionava aoscidadãos de Piquete um respeitávelescalonamento social. Afinal, havia umsalário e garantias para se alugar umacasa e constituir família. É sempre bomlembrar que todos os marcos urbanossignificativos na cidade foram edificadospela Fábrica. É impossível imaginar acidade sem sua Fábrica. Por isso, todosos anos, em 15 março, devemos voltarnossos olhos reverentes para o passadoe constatar que foi a partir do início dasobras militares no município que um mo-vimento sem precedentes, que empolgoua todos e lançou as bases de umapoderosa indústria bélica, mudou o seurumo e seu destino. Parabéns FPV!

Na Quarta-feira de Cinzas, a IgrejaCatólica no Brasil iniciou a Campanha daFraternidade 2011, com o tema “Fraternidadee a Vida no Planeta” e o lema “A criaçãogeme em dores de parto” (Romanos 8, 22). ACampanha da Fraternidade ajuda os fiéis aviver melhor o tempo quaresmal, que iniciou,em toda a Igreja, no dia 9 de março.

A Conferência Nacional dos Bispos doBrasil (CNBB), por meio da Campanha daFraternidade propõe, a cada ano, umitinerário evangelizador voltado para aconversão pessoal e comunitária, empreparação à Páscoa. A iniciativa floresceudurante o Concilio Vaticano II (1962-1965),e desde então os temas sociais apre-sentados refletem o papel da Igreja juntoà sociedade.

Neste ano a Campanha da Fraternidadenos convida a uma reflexão sobre o aqueci-mento global e as mudanças climáticas. Atemática decorre da preocupação da Igrejaem despertar nas pessoas a consciênciaambiental, tendo em vista as intempériesclimáticas que assolam populações.

O objetivo central deste ano é “contri-buir para a conscientização das comu-nidades cristãs e pessoas de boa vontadesobre a gravidade do aquecimento globale das mudanças climáticas, e motivá-las aparticipar dos debates e ações que visemenfrentar o problema e preservar ascondições de vida no planeta”.

As mudanças climáticas estão cada diamais agressivas. A natureza está sendodestruída, e a Igreja, imbuída da missão deevangelizar, procura levar a Luz de Deus àssituações que impliquem sofrimento, dor e

morte.O ser humano está no centro da criação,

mas Deus não o criou sozinho. Ele é um serchamado à cooperação e à solidariedadepara com seus irmãos e para com os seresda natureza. Suas realizações, construçõese mesmo sua procriação devem dar conti-nuidade à obra de Deus.

Se, por um lado, o progresso científico eeconômico, político e social da modernidadetrouxe contribuições à humanidade, deoutro, introduziu muitas situações queatentam contra a vida em sua dimensãoplanetária. A criação geme diante da dete-rioração do meio ambiente, da exploraçãodescuidada e, em muitos casos, gananciosados recursos naturais. A conscientização deque cada um é parte do problema devereverter na convicção de que a contribuiçãopessoal pode concorrer para diminuição dasemissões dos gases de efeito estufa.

O aquecimento global é uma mudançaclimática que traz consigo vários desdo-bramentos. A temperatura futura do planetae a biodiversidade hoje ameaçada vãodepender do nosso modo de produzir,consumir e agir. Neste sentido, é precisoreaprender a conviver com a Terra e comtodos os seres vivos, reafirmando atitudesque não comprometam a vida no planeta.

Que a Campanha da Fraternidadedeste ano nos faça compreender evivenciar o cuidado com a criação deDeus, acreditando em uma sociedade quevise o crescimento e o desenvolvimento,sem destruir o meio ambiente, para “quetodos tenham vida, e a tenham emabundância” (João 10, 10).

Fraternidade e a Vida no Planeta

Ao longo de sua história a FPV sempre se preocupou com a preservação de seu fragmento de MataAtlântica. Contribuiu, assim, para mitigar os efeitos do aquecimento global. Foto da década de 1940.

Fotos arquivo Pro-Memória

Page 2: MARÇO 2011

Página 2 Piquete, março de 2011

Imagem - Memória Fotos arquivo Pro-Memória

Todos os anos, ao comemorarmos oaniversário de inauguração da FPV, nossospensamentos se voltam para os operáriosque, com determinação e garra, se lançaramà gigantesca tarefa de construí-la em temporecorde. Esses homens deram provasinequívocas de força, desprendimento eamor ao trabalho, servindo de exemplo àsgerações que os sucederam. Seria difícilenumerar todos que deram um pouco outudo de suas existências em prol de seuprogresso ao longo de mais de um século.

Piquete sempre manteve íntima relaçãocom essa indústria bélica. A instalação daFábrica no município proporcionou-lhecrescimento e desenvolvimento. Ela foiresponsável por alavancar a cidadezinha atéentão estagnada, sem perspectiva de futuro,condenada à insolvência por falta dealternativas. Desde o início de suaconstrução, a Fábrica gerou empregos erendas para piquetenses dando-lhesprincipalmente status de funcionário públicofederal.

Para homenagear antigos servidores, em9 de maio de 1956, durante a administraçãodo Coronel Octávio Coelho da Silva, foiinstituído o “Dia do Aposentado da FPV”.Esta iniciativa mereceu unânime simpatia porparte dos operários. Foi uma significativahomenagem prestada àqueles velhosfuncionários que, desde a aposentadoria,pareciam alijados da memória de seus chefes.

A data de 15 de junho escolhida paraessa efeméride foi a do aniversário natalíciodo Mestre João Monte Claro, – funcionárioque durante quase meio século serviu nessaFábrica, legando aos seus colegas oexemplo edificante de servidor de escol.

Para comemorar essa data, no primeiroano de sua instituição, a Direção da Fábricaexpediu convites especiais a todos osaposentados residentes em Piquete eLorena. Num trem especial foramtransportados de Lorena à Fábrica, sendorecebidos por uma comissão defuncionários que os conduziu ao gabinetedo Diretor. Nessa oportunidade, o Cel.Octávio Coelho da Silva reviveu com osvelhos servidores tempos idos, quando comeles servira como tenente e capitão.

Após um ligeiro passeio pela zona fabrile o simbólico picote do cartão na “Casa doPonto”, feito por todos os ex-funcionários,foi-lhes servido um almoço, no qual tomaramparte o Coronel Diretor; o Major AlbertoLessa Bastos, Subdiretor Administrativo eo Tenente Claudino Ferreira de Barros,Secretário.

Em seguida ao almoço, que transcorreunum ambiente de cordialidade, o Cel. Coelhosaudou os aposentados com um improvisoque os comoveu. Agradecendo-lhe ahomenagem, fizeram uso do microfone osaposentados José Luiz Pereira e José AlvesBeraldo, que teceram louvores à iniciativa

do Diretor.Agradecendo as homenagens tributadas

à memória do Mestre Monte Claro, falou suaneta, Célia Monte Claro.

Entre os aposentados presentes nessaconfraternização estava Francisco Peixoto,com 92 anos, que, apesar da idade, nãodeixou de anuir ao convite para rever aFábrica e sua antiga oficina de trabalho.

À despedida, ao ver partir o trem de voltaconduzindo os seus velhos camaradas,disse o Coronel Diretor: “A expressão dealegria estampada na face desses velhosbatalhadores, muitos dos quais conheciainda na pujança de suas forças,alimentando de pirita os fornos da instalaçãode ácido sulfúrico(...) foi um grande prêmioque hoje recebi”.

Por muitos anos o Dia do Aposentadoda FPV foi comemorado. Nessa ocasião, aestreita relação entre memória e trabalho erafortalecida com a presença dos antigosfuncionários se confraternizando. A festa foiuma verdadeira celebração à amizade, àconvivência, ao companheirismo, à vida.Uma oportunidade de rever amigos, sabersobre cada um, atualizar conversas, lembrarmomentos do tempo em que trabalharamjuntos.

Foi bom encontrar amigos com os quaistrabalharam a vida inteira, sempre lado alado, prestando solidariedade em todos osmomentos.

Grupo de funcionários aposentados, em 1958. Ao centro, o Coronel Ário R. Ribas, o Tenente Coronel Carlos Mário Tabert e o Tenente Coronel Leônidasde Salles Freire, Diretores Técnico e Administrativo.

O Dia do Aposentado da FPV

Page 3: MARÇO 2011

O ESTAFETA

GENTE DA CIDADEGENTE DA CIDADE

Página 3Piquete, março de 2011

Elza Bittencourt

A Redação não se responsabiliza pelos artigos assinados.

Diretor Geral:Antônio Carlos Monteiro ChavesJornalista Responsável:Rosi Masiero - Mtd-20.925-86Revisor: Francisco Máximo Ferreira NettoRedação:Rua Coronel Pederneiras, 204Tels.: (12) 3156-1192 / 3156-1207Correspondência:Caixa Postal no 10 - Piquete SP

Editoração: Marcos R. Rodrigues RamosLaurentino Gonçalves Dias Jr.

Tiragem: 1000 exemplares

O ESTAFETAFundado em fevereiro / 1997

Notas da Cidade

Muitos ex-alunos do antigo Departa-mento Educacional da FPV se recordam daprofessora de Educação Física Elza Bitten-court. Por muitos anos ela foi responsávelpor estimular nos alunos o gosto pelosesportes e pela ginástica. Orgulhosa de seutrabalho, quando fala dos anos em quelecionou percebe-se que a função cívicaesteve sempre presente no seu dia-a-dia. De-senvolveu com seus alunos atividades deginástica (corridas, saltos) e jogos de vôleie basquete. Naquela época, saber cantar oHino Nacional, ficar na posição de sentidoeram cobrados dos alunos pelos professoresde Educação Física, que tinham também afunção de prepará-los para apresentação deginástica na Semana da Raça, além deensaiá-los para os desfiles de 7 de Setembroe do aniversário da Fábrica.

A trajetória de vida da professora ElzaBittencourt é bastante curiosa. Ela foi umadas primeiras professoras formadas emPiquete licenciada para lecionar EducaçãoFísica. Seu amor pelos esportes vem daépoca em que foi aluna do recém-criadoDepartamento Educacional da FPV. Por doisanos cursou a Escola Industrial Feminina,criada em 1943, onde o estímulo aos esportesfazia parte da formação dos jovens.Participou dos times de basquete e vôlei.Dois anos depois, com a criação do Ginásioda FPV, para ele ela se transferiu. Desseperíodo guarda agradáveis recordações: doDiretor Prof. Lutgardes de Oliveira que, alémda competência administrativa, lecionavaMatemática; dos professores Laércio deAzevedo, Pedro Mazza, Edith Cantão, Osírisde Araujo... Participou de diversas compe-tições esportivas tanto na cidade quantona região,além dos Jogos Abertos doInterior, quando os atletas do DepartamentoEducacional voltavam cheios de medalhas.Concluído o Ginásio em 1949, matriculou-sena Escola Normal Livre “Duque de Caxias”.Ela fez parte da primeira turma de profes-sorandos, colando grau em 26 de dezembrode 1952. Recorda-se com carinho do Prof.Leopoldo, Diretor da Escola Normal, e dosprofessores Ricarda Godoy, José GeraldoEvangelista, Maria Antonieta de Azevedo,Hilton Ênio de Castro Andrade, PedroMazza, Helvécio Rossi, Carmélia Bitten-court... e dos colegas de turma Olga Eklund,Terezinha Maduro, Dóli de Castro Ferreira,Odaísa Frota, Francisco Máximo FerreiraNetto, Joracy Faury, Risoleta Aquino... A

Escola Normal era modelo. Seus alunos eramrespeitados. Futuros professores, desfila-vam garbosos para orgulho dos familiares.Ter um filho professor era motivo de muitasatisfação. Com saudade refere-se ao seubaile de formatura, que aconteceu no“Elefante Branco, recém-inaugurado”.

Formada professora, Elza Bittencourt foilecionar, em 1954, em Alfredo Marcondes,Delegacia de Ensino de Presidente Pru-dente, onde permaneceu por dois anos.Como havia falta de professora de EducaçãoFísica no Departamento Educacional da FPV,foi comissionada para lecionar na EscolaIndustrial e no Ginásio da FPV, a convite doProf. Leopoldo. Nessa época ela e osprofessores Ciro Areco e Edinardo Arecofizeram curso de Educação Física em SãoPaulo, onde prestaram provas de aptidão.Elza se recorda de que preparava seus alunospara jogos, desfiles, competições, além decuidar de suas fichas antropométricas: erammedidos e pesados mensalmente para seacompanhar seu desenvolvimento. Com acriação do Ginásio Estadual de Piquete, elaabdicou do comissionamento, passando alecionar nessa escola. Paralelamente lecio-nou na Escola Francisco Prudente deAquino, em Lorena. Em 1982 aposentou-se.

Elza Bittencourtnasceu em 18 de julhode 1930. Filha de Godo-fredo Bittencourt eLaura Alves Bitten-court, é uma dos cincofilhos do casal. Falacom carinho da família,de sua infância e ju-ventude passadas emPiquete, e de sua vidacomo aluna e depoiscomo professora deEducação Física doDepartamento Edu-cacional da FPV.Embora resida emLorena, nutre porPiquete especialcarinho.

FCR no CBH-PSAconteceu no dia 26 de fevereiro, no

Departamento de Águas e Energia ElétricaDAEE, em Taubaté, a eleição para escolhados representantes da sociedade civil quefarão parte do Comitê de Bacias do Paraíbado Sul CBH-PS no biênio 2011/2013. Foramescolhidas como titular as seguintesentidades:

Escola de Engenharia de Lorena (EEL-USP): representando as Universidades eEntidades de Pesquisas; Sindicato Ruralde Paraíbuna: representando os UsuáriosAgrícolas; Associação Recreativa Comuni-tária da Vista Alegre, de Cruzeiro: repre-sentando as Associações de Moradores;CIESP-Jacareí: representante dos UsuáriosIndustriais; CIESP-Regional de São Josédos Campos: representante dos UsuáriosIndustriais; Fundação Christiano Rosa, dePiquete: representando as EntidadesAmbientalistas; IEPA -Instituto Ecológicode Proteção Animal ,de Caçapava: repre-sentando as Entidades Ambientalistas;ABES – Associação Brasileira de Enge-nharia Sanitária, de São José dos Campos:representando Associação Especializada emRecursos Hídricos; Associação Profis-sionais de Engenharia, Agricultura e Agro-nomia, de Pindamonhangaba: represen-tando Entidades de Classe de Trabalhadoresna Área de Engenharia; OAB Guaratin-guetá: representando Entidades de Classede Advogados; SINDAREIA, de Jacareí:Representando Entidades Mineradoras;ROTARY Clube, de Taubaté: representandoClubes de Serviço;

FPV - 102 anosNo dia 15 de março, aniversário da FPV,

foi celebrada nas dependências dessaindústria bélica uma missa em ação degraças pelo pároco Padre Zezinho, daParóquia de Santo Antônio. Houve tambémculto evangélico.

Também em comemoração aos 102 anosda FPV, aconteceu, no dia 25 de março, sexta-feira, no Clube Recreativo da Estrela ummovimentado jantar dançante.

Em 03 de abril acontecerá, ainda, a Trilhados 102 Anos. As inscrições, a partir das8h, acontecerão em frente ao Cassino daEstrela, onde acontecerá a largada.

Page 4: MARÇO 2011

O ESTAFETA Piquete, março de 2011Página 4

Souvenir é o nome da linda boneca debiscuit (uma porcelana especial) quepertenceu à minha avó. Boneca produzidaartesanalmente com arte e esmero europeu.Sua cabeça é de fino lavor, os cabelosnaturais, os olhos brilhantes e aautenticidade de produção garantida. Osímbolo usado pelo artista encontra-segravado na parte posterior da cabeça, logoabaixo da nuca.

Boneca importada de Paris, mas, comtoda certeza, de origem belga, cuja produçãoera feita por unidade, não em série, e semutilização de processo mecânico.

A cabeça, os braços e as pernas daporcelana biscuit encaixados, por molas, aocorpo composto de material tecido eestofado, na forma estabelecida para corposde forma humana.

Souvenir fez as alegrias da fazendeira emseu primeiro casamento. Chegou a ela comenxoval de linho guarnecido de rendas ebordados. Tudo europeu, de qualidade.

Uma festa foi celebrada para “batizá-la” eapresentá-la socialmente.Foram progra-mados jantar e baile, com dança da quadrilha,ao estilo das tradições da Corte e de etiqueta.

Minha avó a recebeu como “filha dileta”,pois ainda não tivera filhos. Lembrei-meespecialmente dela pela crônica familiarrepetida para nosso deleite, nós os netosque não conheceram a avó, mas delaguardam delicado imaginário fundado nafigura bonita e delicada, de pele muito clara

Souvenir, a bonecae olhos azuis. Não convivemos com ela, poismorreu muito cedo. Nem fotografia existedela. Temos, entretanto, muitas saudades, eum eterno preito de admiração.

Dos netos, eu, que sou a mais velha, fuiprivilegiado bebê, com seu toque eaconchego. Levada a visitá-la, recebi umpresente precioso. Mas o contato foipequeno. Seu toque suave me acompanha,anima e inspira.

A lembrança contida nesta memória foiespecialmente suscitada pela leitura de umbelo romance de Cornélio Penna “A meninamorta” – um clássico de nossa literatura.Trata-se de história centrada nas fazendasantigas e historicamente destacadas nonosso Vale do Paraíba. Ler essa obra remete-nos ao passado que nos impregna paradefinir uma sociedade e seus costumes, emque a herança portuguesa está muito viva.As fazendas dos grandes salões, doscandelabros, dos assoalhos de tábuaslargas, dos oratórios, das muitas janelas deguilhotina, das imensas cozinhas, dosmóveis pesados de madeira-de-lei, dascanastras cheias, das hierarquias sociaiscom as presenças de escravos, dos grandescultivos e riquezas do café, e das grandesperdas que as empobreceram. Simbólicas dapolítica do Império e da 1ª República, aRepública Velha, ligada à cafeicultura, aostitulares do Império e aos fazendeiros ecapitalistas. Souvenir é símbolo desseapogeu. Dóli de Castro Ferreira

Marins, sonho de pedras.Visto a partir do plano baixo,Circundado pelas quaresmeirasEm flor, é contorno majestosoNo veludo da tarde.Nas matas,O relicário da luz do pôr-do-sol.Na montanha, o dourado isolado/ é epifania.O manto acetinadoSe acomodou deliciadoSobre as escarpas,Em continuo movimento vagarosoSorvendo belezas.

Que canções de acalantoO vento canta nos recôncavosDos vales profundos?

Que mistérios são essesQue os pássaros preludiamNo conforto da maciez das noites?

O chumbo das chuvasRebombeia no estrondo dos trovões,A natureza se reinventaNo canto tardio da cigarra solitária.

Que sombras criativasSão essas que anunciam limiares?Os cantos noturnos se fazem austerosE o encanto da passagem é presságio.

Limiares

Dóli de Castro Ferrreira

O Surgimento da fotografia ampliou aspossibilidades do homem capturar o tempoe ampliar a sensação de controlá-lo, conge-lando o instante para a eternidade.

Nos últimos tempos constatamos queboa parte de nossa história é contadaatravés da fotografia. E isso acontecetambém com nossa cidade, com nosso paíse com todo o mundo. A fotografia funcionacomo uma memória social, capaz de perpe-tuar momentos, pessoas e locais que nuncamais existirão da mesma forma.

Essas memórias visuais são capazes deresgatar nossa história e, entendendo nossopassado, temos possibilidade de vivermosmais seguramente nosso presente para

construirmos um futuro mais sólido.Hoje temos inúmeros registros de como

era nossa cidade, como as pessoas sevestiam, se comportavam e se relacionavam.Esses registros são arquivados por meiosde textos escritos e visuais, como asfotografias, e são as responsáveis por deixarnossas memórias mais vivas. Por isso, OEstafeta, em todas as suas edições reservaum espaço para que seus leitores possamse encantar com nossa história e nossoscostumes através da fotografia. Essasimagens vêm sendo digitalizadas e arqui-vadas, para que no futuro tenhamos partede nossa memória preservada.

Fotografia e Memória

***************

Fotos arquivo Pro-Memória

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O ESTAFETA Página 5Piquete, março de 2011

No mês em que comemoramos o ani-

versário da Fábrica é bom lembrar que essaindústria bélica preserva um dos mais

significativos fragmentos de floresta

atlântica do Vale do Paraíba. São aproxima-damente 3. mil hectares que especialistas

apontam como um dos mais ricos em

biodiversidade na região. A FPV/IMBELpreserva, também, um rico patrimônio

arquitetônico de grande valor histórico para

o município de Piquete.A Fundação Christiano Rosa, desde sua

instituição em 1997, mantém parceria com a

IMBEL/FPV. O que estas instituições têmem comum é a preocupação com a pre-

servação desses patrimônios. Um dos

trabalhos fruto dessa parceria foi a criaçãodo Memorial da Usina Hidrelétrica Ro-

drigues Alves, em 2006. Para quem não sabe,

a Usina foi o primeiro edifício construídopara a Fábrica e estava havia muito desa-

tivada. Foi restaurada e nela instalado um

memorial. O conjunto fotográfico expostonesse espaço nos leva de maneira didática

a passear pela história da Fábrica. São

imagens significativas que contam a visitado Marechal Mallet, atendendo a um

convite do Barão da Bocaina, em 1902, para

a escolha de um local para edificação de umafábrica de pólvora sem fumaça; a visita do

Marechal Argolo, em 190, quando este

determinou o local para construção destafábrica no vale do rio Sertão; a construção

do ramal férreo Lorena – Benfica; o Sanatório

Militar no alto da serra, além das imagensdos primeiros funcionários.

Quem visita esse espaço cultural sai

enriquecido com o exemplo de civismo eamor ao país demonstrado pelos militares e

operários que edificaram essa grande obra.

Outro trabalho feito pela Fundação queconta com o apoio da Fábrica foi o projeto

de recuperação de mata ciliar ao longo do

ribeirão da Limeira. Esse rio tem suasnascentes na mata da Fábrica e deságua no

Paraíba do Sul, no Campus da USP, junto à

ponte do Paraíba. Desde 2007 a FundaçãoChristiano Rosa , com recursos do FEHIDRO

e da AGEVAP vem plantando em suas

margens e nascentes. Esse trabalho vemsendo executado por etapas. Já foram

plantadas em terrenos da FPV, cortada por

esse rio, aproximadamente 28 hectares com44 mil mudas de mais de 90 espécies da Mata

Atlântica. Grande parte das mudas plantadas

foram cultivadas com sementes da região.A preservação da Mata Atlântica visa

proteger contra o assoreamento dos rios e

nascentes, além de formar corredores para abiodiversidade, recuperá-la nos rios e matas

ciliares, conservar o solo, melhorar a

qualidade do ar, da água e do solo, manter aharmonia da paisagem e melhorar a quali-

dade de vida.

Esse projeto é resultado da consciênciade que é preciso que tenhamos um olhar

cuidadoso com o meio ambiente. A vida do

Planeta está sendo destruída pelas mãos doshomens. Estamos sentindo as mudanças

climáticas e destruição em todos os cantos

da Terra. O aquecimento global, fruto de umenriquecimento desumano está aí com seus

tremendos resultados.

Cuidar do meio ambiente é um imperativoque nasce da consciência de que Deus

confia Sua criação ao homem, não para que

este exerça sobre ele um domínio, mas que aconserve e cuide como um filho que cuida

da herança de seu pai.

Com a revegetação recuperada a na-tureza retribui: na área do Limeira já

podemos observar corujas, perdizes,

saíras, arapongas, sabiás, seriemas... alémde veados, preás, tatus...

Os trabalhos da Fundação Christiano

Risa com a IMBEL ao longo do Limeira estãoem sintonia com o tema da Campanha da

Fraternidade 2011 “Fraternidade e Vida no

Planeta” que busca contribuir para conter oaquecimento global.

Uma parceria que deu certo...Fotos arquivo Pro-Memória

Page 6: MARÇO 2011

O ESTAFETA

Edival da Silva Castro

Página 6 Piquete, março de 2011

Crônicas Pitorescas

Palmyro MasieroMulher...

A banda no coreto

Estamos em plena semana da mulher,que teve no dia 8, terça-feira, como ho-menagem, o seu dia internacional. Con-cordo que seja internacional. Se existe umacoisa com que não tenho o menor resquíciode preconceito é com esse material. Mas, eos outros trezentos e sessenta e quatrodias? No meu calendário particular todo diaé dia da mulher, internacional ou não,recaindo minha preferência pela que estámais próxima de mim.

Tomamos conhecimento de que lá emBelo Horizonte houve uma passeata demachão reivindicando a volta da mulherAmélia. Gosto da música do Ataulfo, masacho a Amélia uma chata. Quanto à fraseinspiradora do movimento “Já não se fazemmulheres como antigamente”, estou emplena concordância. As de agora são muito,muito, muitíssimo melhores.

Pergunto-me: quem sou pra discutir,concordar ou não sobre a participação damulher em todos os ramos, em todos ossetores, se elas próprias assim o desejam?Simone de Beauvoir, feminista do primeiroescalão, não disse que a mulher tem queenfrentar o mundo em igualdade de con-dições com os homens, por sua própriaconta, risco e capacidade? Que seja!

Mas não é sob esse prisma que estouaqui pagando bobeira. Quero falar da mulhercomo mulher, não como obreira. Não me épossível separar mulher mulher da mulhertrabalhando. É impossível decompor:feminilidade pra cá, trabalhadora pra lá. Comou sem uniforme, pra mim continua sendo oque antigamente designavam sexo frágil.Tem que ser tratada e admirada como se tratae se admira uma flor.

Vinícius disse que na mulher a beleza éfundamental; Tolstoi: “Que estranha ilusãosupor que o belo é bom!”. Duas orações,dois pontos de vista. Marco coluna do meiobaseado no conhecimento dos mais antigos,que às vezes, por causa de uma cara feia,etc e tal.

Um velho amigo vivia dizendo quemulher feia é palavrão. Bandeirada deleque andava naquela: caiu na rede é peixe.Já outro, mais filosoficamente, compara amulher feia a empréstimo: resolve oproblema no momento. Não me preocupocom quesitos...

Todo poeta que se preza já cantou amulher em prosa e verso. Como não o sou,vou na base da cantada direta mesmo, quedá mais futuro. Toda vez que assisto à sérieKosmos na TV, comparo a imensidão e ogrande mistério do universo sideral com ouniverso palpável que é o corpo de umamulher. Sei que as feministas mais radicaisprovavelmente estão pensando que estoutratando a mulher como “objeto de cama emesa”. Isso entra com 50%. A outra metadefica com o inverso.

Não briguem comigo. Volto a frisar queo meu desejo é que a mulher alcance tudo aque tem direito na sociedade atual, quequebre todos os preconceitos e tabus quese formaram à sua volta, mas, como tambémjá disse, não consigo dissociar a femini-lidade de uma empresária, bancária oubanqueira, doutora, motorista, professora,metalúrgica, engenheira, até jogadora defutebol. Não tenho culpa, pô! Sou vidradopelo sexo oposto, que fazer? Na atual con-juntura, creio até que mereço aplausos,porque a desmunhecação está braba!

Incomoda-me, por exemplo, uma situaçãoacontecida com uma funcionária que chegouao serviço com o olho roxo, e quando lheperguntaram a causa, respondeu ser pormotivo de força maior. A força maior era domarido, com quem se estapeara. Esse cara, senão foi, deveria ter ido desfilar em B.H.

Estou com Victor Hugo: “...o homem estácolocado onde termina a terra; a mulher,onde começa o céu...!” Que habitem o céuda minha vida! Salve, salve, mulheradaamada, salve! Todos os dias, todos os anos,toda a vida... Salve!

Amém!

Quando a Corporação Musical dacidade de Piquete se encontrava em plenaatividade, tínhamos, pelo menos uma vezpor mês, retreta no coreto da Praça Duquede Caxias. O evento atraía uma multidãode adeptos. As pessoas gostavam de vere ouvir a banda tocar; as crianças prin-cipalmente aglomeravam-se defronte aosmúsicos, talvez atraídas pelos instru-mentos exóticos: trombone, pistão de varae o tamanho da zabumba.

Sempre aos sábados, com início às 20h,a Praça Duque de Caxias transformava-senum palco cultural. As pessoas dançavame solfejavam baixinho alguns tradicionaisdobrados e aplaudiam quando a bandatocava algum sucesso do “Hit parade” daépoca.

Bons tempos aqueles: as moças rodavamem torno dos canteiros da pracinha e osrapazes, parados, aguardavam-nas com-pletar a volta para dirigir-lhes uma piscadelaou trocar um sorriso com a paquera.

Certo sábado, a retreta transcorriaanimada quando, de repente, ouviu-se umsom rachado vindo da zabumba. O maestrono mesmo instante interrompeu a música edirigindo-se ao público falou:

– Pessoal! Infelizmente sofremos umincidente de percurso, o couro da zabumbaavariou e não podemos continuar com aprogramação. Na próxima semana aquiestaremos, se Deus quiser. Tenham uma boanoite.

A ovação foi geral, o pessoal presenteao concerto aplaudiu a atitude explicativado maestro.

Assim era a banda; além das retretas elatocava nossos corações.

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“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”“O ESTAFETA”

22 de Março – Dia da ÁguaEmbora o Brasil seja o primeiro país

em disponibilidade hídrica em rios domundo, a poluição e o uso inadequadocomprometem esse recurso em váriasregiões do país.

Sem água potável, que é o alicerceda vida, a sociedade humana desa-parece. Na atualidade, das 203 Naçõesdo mundo, 60 estão em conflito e 36estão em guerra, por causa da água.

Não podemos descuidar da pre-servação de nossas nascentes e das práticas de uso que evitem ou, pelo menosreduzam o desperdício.

A disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos estão intimamente ligadas àsflorestas, que protegem as nascentes e mananciais e os mantêm limpos.

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O ESTAFETAPiquete, março de 2011 Página 7

Na experiência religiosa do povo daBíblia, Deus sempre escolhe um lado quandoacontecem situações conflituosas entre aspessoas. Isso pode ser percebido já noprimeiro livro das Escrituras. O mito ancestraldos irmãos Caim e Abel representa as tensasrelações que existiam entre os pobrespastores nômades e os moradores seden-tários da Palestina que praticavam a agricul-tura. A terra havia sido apropriada pelos quenela se fixaram. Os pastores com seusrebanhos ficaram sem espaço para sobre-viver e sustentar seus clãs; por isso nãoreconheciam a posse que os agricultorestinham tomado da terra e invadiam asplantações prejudicando a vida dos estabe-lecidos na terra. Havia, portanto, um conflitopelo uso da terra, no qual os pastores comsua longa tradição nômade estavam forte-mente ameaçados de ser extintos.

O autor do capítulo 4 de Gênesis nãohesita em expressar a posição de Deus nesseconflito. “Abel tornou-se pastor de ovelhase Caim cultivava o solo. Depois de algumtempo, Caim apresentou produtos do solocomo oferta a Javé. Abel, por sua vez,ofereceu os primogênitos e a gordura doseu rebanho. Javé gostou de Abel e de suaoferta e não gostou de Caim e da ofertadele. Caim ficou então muito enfurecido e

Deus não fica neutroandava de cabeça baixa.” Deus tomapartido do mais fraco, nos ensina a Bíblia.

O livro do Êxodo que narra a libertaçãodos escravos hebreus da opressão egípcia,por volta de 1200 anos antes de Cristo,também nos legou a tradição bíblica daparcialidade de Deus pelos pobres eescravizados: “Quando a cavalaria doFaraó entrou no mar com seus carros ecavaleiros, Javé fez voltar sobre eles aságuas do mar, enquanto os filhos de Israelcaminhavam a pé enxuto pelo meio do mar(15,19)”

Os profetas, portadores da Palavra deDeus para o povo, eram ferozes defensoresdos pobres e radicais opositores dospoderosos que oprimiam os irmãos e seenriqueciam com a exploração da sociedade.Veja o que diz o profeta Amós às damas deSamaria, mulheres casadas com os queexerciam o poder arbitrariamente: “Escutemestas palavras, vacas de Basã, que moramno monte de Samaria: vocês que oprimemos fracos, maltratam os necessitados, edizem a seus maridos: ‘Tragam algo parabeber’. O Senhor Javé jura que para vocêshá de chegar o dia em que serão car-regadas com ganchos e seus filhos emarpões (4, 1).”

O novo testamento também nos revela

um Deus parcial e inclinado aos mais fracos,e contrário aos poderosos que oprimem osirmãos, roubam, enganam, enriquecem egeram a miséria de muitos.

A Virgem Maria, ao receber a saudaçãode Isabel, sua parenta, cantou: “...Elerealiza proezas com seu braço: dispersa ossoberbos de coração, derruba do trono ospoderosos e eleva os humildes; aos famintosenche de bens e despede os ricos de mãosvazias... (Lc 1,51-53)”.

A tradição das Escrituras nos ensina queDeus não fica neutro na história, sempre fazopção pelos injustiçados e por suas causas.Assim também devem fazer as pessoas defé diante de tantas injustiças que acontecemno mundo, precisam ter posições claramentecontrárias a tudo o que gera o sofrimento, aexclusão e a pobreza de tantos irmãos e irmãs,como é o caso da corrupção, tão comum emnossa nação, que faz com que recursos quedeveriam ser gastos na promoção dacidadania e do bem-estar de toda a popu-lação sejam utilizados apenas pelos queexercem o poder e pelos seus aliados.

Conforme nos indica a Bíblia, Deus deveestá contrariado por todas estas coisas quetemos visto acontecer com tanta frequência.Espero que os cristãos também estejam.

Pe. Fabrício Beckmann

“Ninguém está livre de, num piscar deolhos, ver ruir todo o mundo de ilusões efantasias que criamos e nos agarramos.Ninguém está livre de ter que dar valor àspequenas coisas que, em nossa egocêntricamaneira de viver, ignoramos. Ninguém estálivre de finalmente acordar para o mundoreal e ver que o carro, a roupa, o cargo, odinheiro, o perfume, os tratamentos anti-envelhecimento, os cremes, as plásticas, osbens materiais, enfim, tudo isso não farámais diferença.”(Régis Rösing, 2011)

O Esporte Espetacular, da Rede Globo,apresentou em três domingos seguidos a“Trilogia do Haiti”, reportagem do brilhanteRegis Rösing. Foram imagens emocionantesdo país que há pouco mais de um ano – em12 de janeiro de 2010 – foi destroçado porum forte terremoto. Por meio da reportagem,puderam-se ouvir relatos de pessoas quecaminham sobre corpos soterrados quejamais serão resgatados e vivem em con-dições desumanas. Soube-se, por exemplo,que bolachas de barro são um dos pratosmais ricos em calorias na dieta de muitos... Éimpossível descrever as cenas em que umacriança de 10 anos se esforça para correr6km para cruzar a linha de chegada de uma“maratona”, com a finalidade única dereceber bananas, água limpa e um lanche.Pra mim, ver cair a fita resumiu a deses-perança desse povo tão sofrido. E... Se nãobastassem as tragédias naturais, o Haiti eseu povo são vítimas de um governo

O Exército brasileiro e seus guriatansinoperante, incapaz e corrupto – o envio dosrecursos captados internacionalmente, quesomaram centenas de bilhões de dólares, foiinterrompido em função dos desvios quevinham ocorrendo...

O tema principal, porém, não foi a misériahumana e esse foi o ponto forte da repor-tagem. O que se viu foi um rico documentáriosobre as condições do país, mas sem serapelativo ou piegas. O mote da reportagemfoi uma “olimpíada” realizada pelo ExércitoBrasileiro, que atua na República do Haitidesde julho de 2004, comandando cerca de7 mil homens da força de paz da Organizaçãodas Nações Unidas (ONU), entre elesaproximadamente 1300 soldados de nossopaís. As olimpíadas contaram, ainda, com apresença de atletas de elite brasileiros devárias modalidades, que também se emocio-naram ao fazer sorrir crianças e adultos quenão teriam motivos outros para tal.

Lembro-me de diversas ocasiões em queo governo brasileiro foi fortemente criticadopelo envio de tropas para o Haiti. Uns diziamser muito altos os gastos para uma missãoque não traria retorno para os brasileiros.Outros apontavam que os recursos in-vestidos no Haiti poderiam ser aplicados emarmas e equipamentos, mitigando o suca-teamento de nossa Defesa. Confesso quecheguei a concordar com esses pensa-mentos... Mas, se já vinha mudando deopinião ao assistir reportagens sobre otrabalho dos brasileiros, desta vez me

certifiquei de que estamos, sim, sendo muitouteis aos haitianos. E isso deve ser motivode orgulho... Convenceu-me, principal-mente, acreditar que não é possível mani-pular crianças como as mostradas nareportagem, agradecendo sinceramente otrabalho dos soldados, chamando pelonome os que os ajudavam, sorrindo aoreceberem ensinamentos que nem sabemosser irão aplicar um dia. É a maior prova deque estamos fazendo a diferença, fazendonossa parte para ajudar o Haiti e seu povo.

Foi isto que me deixou por três manhãsdominicais esperando a reportagem. Invejeia oportunidade de ajudar seres humanos quenão têm esperança alguma; seres humanosque vivem um presente maldito deorfandade, miséria, fome, doenças, violência,sem ter como vislumbrar futuro algum. Oúnico apoio que têm atualmente é do Exércitobrasileiro, que as faz brincar, sorrir, sonharacordados por segundos... Esses segundos,significam, ali, uma historia, pois toda adedicação daqueles homens não impedirá,infelizmente, que a vida de muitas daquelascrianças e adultos seja tão ou mais curtaque o período de sua missão. Fica, porém, acerteza de que, com a força do carinho denosso Exército, podem ao menos sobreviversorrindo. Sendo assim, serão como osguriatans, pássaros que, diz o mito, morremcantando e, portanto, felizes...

Laurentino Gonçalves Dias Jr.

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O ESTAFETA Piquete, março de 2011Página 8

Até 2040, espera-se que o Brasil estejaproduzindo 140 milhões de toneladas desoja. Isto porque, nas condições atuais, onosso país é o único que tem capacidade deatender as necessidades da populaçãomundial.

Dizia Jó: “A vida do homem é umaperpétua guerra”. E completava Davi: “Abatalha é continua; e a vitória, rara”.

Mesmo assim o ser humano não desistede procriar.

A jornalista Rosane Zakabi, editora darevista Viagem e Turismo, relata suasimpressões sobre o curso de noivos em quese matriculou no Santuário Nossa Senhorado Rosário de Fátima (Veja São Paulo 8/12/2010, p.50).

Ela e o noivo, mais 24 casais, entre 25 e28 anos, receberam informações – demédicos, psicólogos e psicanalistas espe-cializados em comportamento – sobre aconvivência do dia a dia, a necessidade dediálogo e a eficácia e o grau de segurançade diversos métodos anticoncepcionais.

Boa acolhida tiveram os 3 casais queafirmaram já morar juntos e foi parabenizadaa noiva que revelou estar grávida.

Só a Arquidiocese de São Paulo realizouem 2010, em suas 293 igrejas, 8684 uniões.

Somem-se a estas os casamentos realiza-dos em outras religiões ou apenas no civil.É provável que destas uniões nasçam pelomenos 10.000 crianças no ano em curso.

Reflitamos: haverá atendimento pré-natalsatisfatório? o número de leitos nas materni-dades será suficiente? quantos leitos estarãodisponíveis em UTIs neonatais? como vão

que significa a labuta diária contra aspróprias fraquezas, contra a cobiça humana;a faina incansável para produzir o pão,quando os próprios elementos da naturezasão forças adversárias.

Guerra aqui é manifestação da prepo-tência que reduz populações inteiras àmiséria, reduz o ser humano em sua dig-nidade – já não vive, apenas sobrevive; jánão luta, entrega-se à submissão.

Com a fome, a sede e a doença os pilaresda ONU serão abalados.

Democracia é a liberdade de sentar-se,mesmo no chão, como fazem os índios – paradecidir os destinos da comunidade.

Os principais direitos humanos são o decomer, o de ter saúde, o de poder ir e vir, e ode vestir-se e abrigar-se com dignidade.

Segurança é saber que a criança queacabou de dar o grito de guerra vai ter umainfância e uma juventude amparadas.

Desenvolvimento é a tranquilidade deanalisar as conquistas da comunidade eprocurar acrescentar melhorias para o bemde todos.

As populações do Sahel não sonhamcom a sofisticação de um curso de noivosou de uma UTI neonatal.

E todo o povo brasileiro – já podeamparar-se nos pilares da ONU?

Atualmente estamos produzindo 70milhões de toneladas de soja.

Temos terra, água e tecnologia paraproduzir 140milhões em 2040.

Para quê? Para quem?Vamos começar a decidir hoje.

Abigayl Lea da Silva

Destorcendo o distorcidoo banco de sangue e o banco de leite?

Transportemos estas perguntas para aÍndia e para a China.

A Índia é menor do que a Região NorteBrasileira. E tem mais de 1,2 bilhão dehabitantes.

A China é maior que o Brasil, mas temregiões inóspitas. Apesar da política do filhoúnico, a população chinesa já ultrapassou1,4 bilhão.

Além disso, Paquistão e Bangladeshjuntos superam os Estados Unidos empopulação.

Resumindo – pelos dados de 2009 a Ásiaocupa 30% da área do planeta e abriga umapopulação que corresponde a 60,3% doshabitantes do mundo em que vivemos.

Na China, o segundo filho não existepara o Estado. Não recebe cartão dealimentação e, quando crescer, fatalmenteterá de emigrar.

Em pleno século XXI, a mortalidadeinfantil em muitos países ainda assusta.

Quais seriam as respostas àquelasperguntinhas obvias que fiz à cidade de SãoPaulo, se fossem endereçadas aos 12 paísesdo Sahel africano? É justo que criançasnasçam para adubar cemitérios?

Os quatro pilares da Organização dasNações Unidas – ONU – são: democracia,direitos humanos, segurança e desen-volvimento.

Sabemos que a ONU é fruto da pazconquistada a duras penas, com sacrifíciode cidades inteiras, com o aniquilamento demuitos países.

Não se trata aqui da guerra de Jó e Davi,

Neste mês de março, comemoramos maisum aniversário da Fábrica Presidente Vargas.

O aspecto atual desse Estabelecimentopouco lembra os lineamentos de estruturaoriginal assentada na primeira década doséculo XX. De poucas dezenas de edifíciosconstruídos numa área limitada da extensagleba de três fazendas reunidas nasceramcentenas de outros grandes conjuntos dealvenaria, para abrigar outras tantas insta-lações que vieram completar e enriquecer a

primitiva aparelhagem da então Fábrica dePólvora sem Fumaça.

O extraordinário progresso da Fábrica, arápida sequencia da montagem e funcio-namento de novas linhas de produção e ofrequente aperfeiçoamento dos produtosmanufaturados ao longo dos anos expri-mem uma constante visão administrativa eum senso do dever excepcionalmentenotáveis. O roteiro das direções passadas edos quadros de pessoal das muitas gera-

ções que nela consumiram suas energiasficou indelével nas inúmeras realizações queentusiasmaram e orgulham a todos.

Ao longo de sua história seus adminis-tradores souberam prever a necessidade deampliar e desenvolver os meios de produçãoa seu cargo a fim de que as Forças Armadaspudessem dispor de farto municiamento.

Conhecer a história da Fábrica desde osprimórdios de sua construção até os diasde hoje nos enche de orgulho.

Criada para a defesa do Brasil, a FPV aniversaria

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