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1 Mario Garnero Brasil - São Paulo - 2008

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Uma Visão sobre o Participação Brasileira no Mercado Global

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O LUGAR DO BRASIL NO MUNDO: Uma visão sobre a participação brasileira no mercado global

Mario Garnero

Brasil - São Paulo - 2008

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O LUGAR DO BRASIL NO MUNDO: Uma visão sobre a participação brasileira no mercado global

Copyright © 2008

Designer: M2BP Comunicação e NegóciosCoordenador: Luiz Paulo Bellini JúniorCapa: Adriano Mattoso dos Anjos

Coleção de Fotos Históricas: Fundação Mario GarneroDiretor: Pierre Thomé de SouzaPesquisa: Gilmar Pinton

2008É proibida a reprodução parcial ou total deste livro.

-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------Endereço: Rua da Consolação, 77 - CEP 01301-000 - São Paulo - SP - BrasilE-mail: [email protected]

Edições Aduaneiras Ltda.Tel.: 55 11 3120 3030 ou

55 11 3159 5044

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Agradecimento

Para Teta, minha esposa e linha-guia. Para meus filhos Mario Bernardo, Alvaro, Fernando e Antonio Fernando.

Companheiros de toda minha vida, dia a dia duran-te o trabalho e em todo o mundo.

Agradeço a felicidade, o carinho e o amor que eles dão para mim.

Da mesma forma, faço um agradecimento especial àqueles que estiveram ao meu lado, auxiliando, cada um à sua maneira, na construção da linha de pensamento, na coleta dos dados mais recentes e confiáveis, na tradução e revisão, na criação e diagramação e no apoio administrativo para a implementação deste livro. São eles: Adriano Mattoso dos Anjos, Daniel Lisboa Mesquita, Guilherme Coelho, Luiz Paulo Bellini Júnior, Marcos Prado Troyjo, Paula Sui King, Pierre Thomé de Souza, Sérgio Aguiar de Matos, Tatiana Co-hen, Thiago Oliveira Emygdio Pereira e Vera Loeb.

Por último, e mais importante, agradeço a Deus o tempo que me deu para construir essa obra e poder dispo-nibilizar com carinho a todos aqueles que a lerem.

Que este livro possa servir aos nossos netos, que pensarão o Brasil do futuro.

Mario GarneroAbril, 2008

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Foto em frente ao prédio do Grupo Brasilinvest, 1998.

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Sobre o autor

Mario Garnero, a quem, carinhosamente, costumo chamar por Presidente, é um empresário do mundo. Gra-duado em Direito, é presidente do Conselho e CEO do Gru-po Brasilinvest, presidente do Fórum das Américas e da Associação das Nações Unidas no Brasil. É uma das mais influentes lideranças do Brasil e da América Latina. Há mais de 30 anos atuando no setor privado, sua empresa possui amplo portfólio e já estruturou – juntamente com 80 sócios de 16 países diferentes – projetos de investimen-tos no Brasil de mais de US$ 4,7 bilhões.

O Grupo que preside consolidou a montagem de de-zenas de projetos econômicos e de assessoria empresarial, desde a transferência e nacionalização da ITT-Standard Electric S.A. e da NEC, na década de 80, até o assessora-mento, nos anos 90, da nova estrutura societária da Cofap e da Bombril. Auxiliou ainda a reestruturação acionária da Fiat, a criação da unidade de leasing da Volkswagen do Brasil e de rent-a-car da Varig e Volkswagen.

Na área de agribusiness, assessorou o processo de instalação industrial da Boehringer em Suape, Pernambu-co, e participou de empreendimentos como a Celupa (Com-panhia Industrial de Celulose e Papel Guaíba) e Mellita.

No setor financeiro ou nas telecomunicações; na in-fra-estrutura ou na geração de energia, o Brasilinvest, pela liderança de Mario Garnero, tem sido peça fundamental

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na modernização da economia brasileira. Foi Mario Garnero quem fez o primeiro celular no Brasil, da NEC, e o primeiro computador brasileiro, da Labo. O grupo é pioneiro como agência privada de desenvolvimento, e hoje consolida sua posição entre os mais importantes Bancos de Negócios no Brasil.

Quando jovem, Garnero era um avançado estudante de direito da PUC-SP. Quando foi presidente do Centro Acadêmico 22 de Agosto, se aproximou do presi-dente Juscelino Kubitschek na volta do exílio. Da sua vinda a São Paulo, em 1961 até 1964, trabalhou junto com JK e tornaram-se amigos. Garnero freqüentava sua casa e era tratado como membro da família. Conheceu JK por inteiro, o pai, o chefe de família e o estadista. Deixou-se influenciar por sua visão de país, e com ele aprendeu que só o progresso e desenvolvimento garantem uma voz forte no concerto das nações. Assim, Garnero teve em JK seu maior exemplo de homem público.

Desde cedo, Garnero foi ao mundo. Em 1964, nos Estados Unidos, sem avisar, bateu na porta do Senador Bob Kennedy, convidando-o para vir ao Brasil. O convite foi aceito. A partir daí, uma sucessão de eventos internacionais fez de Garnero um hub de negócios no Brasil e o principal porta-voz empresarial brasileiro no exterior.

O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, o considera o Embaixador do Brasil no mundo. A mídia já o consagrou como o Chanceler informal do Brasil. Em 2005, organizou evento em Londres que reuniu o Príncipe Andrew, o ex-Presidente Bush, o Lorde Rothschild, a Dama de Ferro Margareth Tatcher, sheiks, ministros e bilionários. Em 2007, em Nova York, repetiu a dose, reunindo algumas centenas de empresários de todo o mundo para falar sobre o Brasil, contando com a parti-cipação dos ex-presidentes Bush e Bill Clinton, Al Gore e de quase uma dezena de governadores brasileiros.

Como prova do bom relacionamento em nível mundial, Garnero tem uma agenda com mais de 15 mil contatos diversificados. É amigo do fenômeno Ronaldo e de Buzz Aldrin, que comandou a primeira missão a chegar à Lua, em 1969. Con-versa regularmente com líderes europeus, árabes e chineses, com quem mantém uma interlocução para investimentos no Brasil e na América Latina. Mantém rela-ção cordial com todos os ex-presidentes do Brasil. Nos anos 70, quando era presi-dente da Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotivos (Anfavea), negociou com o Presidente Lula, que então estava à frente do movimento grevista dos metalúrgicos do ABC.

O empresário também tem acesso privilegiado à cúpula política dos Estados

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Unidos. Amigo íntimo da família Bush, já participou de eventos da Casa Branca e no Rancho Crawford, reduto da família no estado do Texas. Garnero é convidado per-manente das reuniões anuais do Partido Republicano, realizadas em Beaver Creek, no Colorado. E também circula entre os Democratas.

O maior exemplo desta vocação internacionalista é a própria história do Conselho de Administração do Grupo que preside: George Schultz, William Simon, Cesare Romiti, Albin Chalandon, Jacques Solvay, Toni Schmuecker, Franz Lutolf, Elie-zer Batista, Antoine Riboud, Abdulla Saudi, Alejandro Orfila, Pierre Ledoux, Hans Friederichs, Fred Bergsten e Nello Celio. São nomes que deram forma e conteúdo ao mundo econômico e político do século XX.

Palestrante convidado de diversas universidades brasileiras e internacionais, Garnero é autor de diversas publicações no Brasil e no exterior. Agraciado com dis-tinções das mais variadas ordens, foi eleito em 1984 Man of the Year pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, em Nova York. Domina cinco idiomas e já morou em diver-sos países do mundo. Atualmente, divide as freqüentes viagens internacionais com fins de semana na fazenda da família, no interior de São Paulo, e verões no sul da França. Adora vinhos e tem a leitura como lazer preferido. É casado e tem 4 filhos e 3 netos.

Assim, Mario Garnero está mais do que gabaritado para imprimir uma visão das oportunidades que o Brasil deve abraçar em nível internacional. Todos que esti-verem de posse deste livro encontrarão uma opinião de quem conhece o mundo na sua forma prática, de um excelente homem de negócios.

Por Marcos TroyjoMaio, 2008

Sobre o autor

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Índice

Introdução Capítulo I: O Brasil nas Américas Estados Unidos, potência e influência

América Latina Capítulo II: O Brasil na Ásia A China irá envelhecer antes de ficar rica?

Japão

Índia, o país-elefante

Tigres Asiáticos Capítulo III: O Brasil na Europa O Velho Continente

Turquia na União Européia é teste de empatia

A influência da Rússia na vida e na economia da Europa

O lado B: Leste Europeu

Principais países da Europa Capítulo IV: O Brasil no Oriente Médio Iraque, país que caminha para a estabilidade

Arábia Saudita

Emirados Árabes Unidos

Turquia

Israel e a relação com o Mercosul

Jordânia e o problema com a água Capítulo V: O Brasil na África Angola: após a barbárie, a bola da vez

África do Sul, as relações com o “Brasil Africano”

Magreb e Líbia

A África e as grandes organizações mundiais Capítulo VI: O Brasil na Oceania Austrália, o país-continente Nova Zelândia, uma Europa do outro lado do mundo

Capítulo VII: O Brasil e o Meio Ambiente Conclusão Anexo

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Introdução

Poucos termos estiveram tão em alta nos últimos anos quanto “globali-zação”. Mais especificamente depois que o neoliberalismo econômico ga-nhou força no final dos anos 80, mas por se tratar de um processo comple-xo e com vários fatores a serem devidamente analisados, é difícil se chegar

a uma conclusão única sobre os benefícios, ou não, de uma economia mundial cada vez mais interligada. O que farei é usar a minha experiência pessoal no ramo de negócios internacionais e o grande volume de informações, hoje disponível, para traçar o cenário mais realista possível sobre o lugar do Brasil neste mundo cada vez mais interconectado.

Como uma das grandes economias emergentes do planeta, o Brasil caminha para deixar para trás o título de “país do futuro” para, de fato, figurar entre os gran-des do mundo, seja da maneira cunhada pelo Goldman Sachs, com o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China – que explicarei ao longo do livro), ou por outra, desenvolvida por nós, brasileiros. Para que isso ocorra é necessário entendermos melhor a situa-ção brasileira no contexto econômico mundial.

O Brasil rumo à globalização

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Antes, porém, precisamos ter em vista que, sob o prisma econômico, o Brasil já está ganhando com a globalização. Talvez de 50% a 60% das exportações já se-jam feitas entre companhias brasileiras multinacionais que atuam no processo de importação e exportação. Além disso, a capacidade de gerência, ou management (como dizem atualmente os especialistas em gestão), de formação de quadros volta-dos para os negócios, também tem sido um grande e producente legado do comércio exterior para o Brasil. Outros pontos importantes têm sido a troca de conhecimento proveniente do intercâmbio de cérebros nas universidades e a importação de bens e tecnologias que hoje o Brasil recebe, e exporta. Antes da inserção brasileira no mercado global não tínhamos pessoas capacitadas para absorver as oportunidades, mas hoje temos uma diversidade mental e tecnológica extraordinária.

O primeiro grande passo do Brasil rumo a uma integração maior com a eco-nomia mundial foi a criação do Mercosul (Mercado Comum do Sul – veremos deta-lhes mais adiante), que no início diminui as barreiras alfandegárias com os vizinhos Uruguai, Paraguai e Argentina. Apesar de nunca ter chegado ao mesmo peso eco-nômico de um Nafta (acordo de livre-comércio entre EUA, México e Canadá) ou uma União Européia, a criação do bloco aumentou consideravelmente as transações co-merciais entre os países sul-americanos e, principalmente, fez com que os países do continente dessem mais atenção aos vizinhos em vez de manter o foco sempre nos EUA e Europa. Se em 1990 o Brasil exportou US$ 4 bilhões para a América Latina, em 2007 esse número chegou a US$ 36,4 bilhões, de acordo com os dados da ALADI (Associação Latino-Americana de Integração).

A abertura do Brasil à economia mundial trouxe problemas previsíveis para um país até então despreparado, em termos de estrutura e tecnologia, para en-frentar a concorrência externa. Muitos setores da economia interna sofreram e, in-felizmente, muitas empresas acabaram não resistindo, abandonando os negócios. Mas com o passar do tempo, o empresariado brasileiro se adaptou, e continua se adaptando à nova realidade do mercado global. Tanto grandes empresas quanto pequenos empreendedores estão se dando conta de que não adianta reclamar. É preciso se esforçar para competir em um mundo globalizado, por mais complicado que isso possa parecer.

Retomada do crescimento

Após um ano de desaceleração econômica em 2003, quando o PIB cresceu

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apenas 1,1%, o Brasil entrou no caminho do crescimento sustentável, crescendo 5,2% em 2004, 3,1% em 2005, 3,7% em 2006 e 5,4% em 2007. No entanto, esse crescimento poderia ser ainda mais elevado se não fossem alguns problemas que duram décadas.

Com elevada taxa básica de juros, o objetivo principal é o de conter a inflação, um problema ainda crônico no Brasil para os responsáveis pelo rumo econômico do país. Aos poucos, houve redução da taxa de juro básico para chegar ao nível atual. Mas ainda é a taxa mais alto do mundo.

Apesar do título que se mantém há mais de dois anos, a taxa de juros tem envolvido uma verdadeira apreciação do real no que se refere ao dólar e ao euro, aumentando assim o poder de compra da população, mas tornando-a mais difícil para as exportações brasileiras.

Os simpatizantes da atual política econômica conservadora podem argu-mentar que esta política tem sido positiva, e tornou possível o pagamento da dívi-da externa com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Por outro lado, opositores argumentam que o Brasil está perdendo a capacidade de seguir o exemplo de países como a China e o México e tirar partido da boa condição da demanda mundial para crescer ainda mais.

Sobre o aspecto social, o Brasil ainda é um país de contrastes extremos, com regiões de riqueza ao lado de regiões extremamente pobres – mas qual país não possui contrastes? Talvez a Suíça ou a Noruega. Não há problema em existir po-breza, pois isso é intrínseco ao modelo capitalista de desenvolvimento, mas não podemos deixar que a pobreza esteja entre a maioria da população e a riqueza fique concentrada nas mãos de poucos. Para classificarmos o Brasil por um índice global, o IDH brasileiro atual é 0800. Isso coloca o país em 70° lugar, entre 177 países, inserindo-o pela primeira vez no grupo de elevado desenvolvimento humano.

Uma meta para a mudança

Um modelo de desenvolvimento pode ser seguido para melhorar a situa-ção econômica e social do Brasil, o modelo da inserção internacional, assim como muitas economias fizeram. Não falo apenas das nações que se lançaram ao mundo recentemente, como o Japão na década de oitenta, ou os Tigres Asiáticos, e até mesmo a China (como veremos adiante). O modelo da busca pelo mercado interna-cional vem sendo desenvolvido desde as grandes navegações, pelos portugueses,

Introdução

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e até mesmo pelo Reino Unido, na época da Revolução Industrial. Assim, buscar o mercado externo não é novidade, mas parece que nós, brasileiros, estamos apenas acordando para tal fato.

O Brasil tem condições de dobrar suas exportações até 2010, passando dos atuais US$ 160 bilhões para pouco mais de US$ 300 bilhões. Isso depende mais dos empresários do que do governo. Há oportunidades por toda parte, principalmente no Oriente que, como veremos no Capítulo IV, é um oásis de oportunidade.

O número pode parecer grandioso, mas é de todo factível ao Brasil alcançar exportações de US$ 300 bilhões até 2010, ou no máximo 2012. Nesse patamar, nos-sa economia consumiria entre US$ 220 bilhões e US$ 250 bilhões em importações, o que resultaria num saldo espetacular, capaz de inserir o país, em definitivo, no clube dos mais ricos e prósperos do mundo.

Otimismo? Não, apenas uma projeção a partir dos resultados mais recentes do esforço exportador da iniciativa privada nacional. Entre 2001 e 2007, saltamos de US$ 50 bilhões em vendas externas para US$ 150 bilhões. O crescimento é sus-tentado – cerca de 60% desse resultado vem sendo alcançado a partir de compras e vendas entre as próprias empresas – e, ainda, se deu em ritmo exponencial. Tudo leva a crer que assim pode continuar. Somado a outros fatores, o volume de vendas externas faz com que nossa economia, hoje, tenha o tamanho total de US$ 1,5 tri-lhão, tornando-se maior, por exemplo, do que a da Itália. Uma economia desse porte não precisa sonhar, mas efetivamente ter como meta real uma pauta exportadora duas vezes maior do que a dos dias de hoje.

A determinação das empresas brasileiras, de se inserirem cada vez mais no comércio exterior, é o motor dessa arrancada. O governo tem o manto político para cobrir demandas, promover aproximações e até fazer acordos comerciais, mas é o empresário quem tem de tomar a liderança e ocupar os espaços nos mais diferentes mercados. O dos Estados Unidos, maior economia do mundo, tem muito, ainda, para ser desbravado. A própria União Européia, com seus atuais 27 membros, ape-sar do protecionismo, é bastante receptiva aos manufaturados do Brasil. Mas é no Oriente Médio, a meu ver, onde está a grande oportunidade. Com uma política de evitar a fuga de seus capitais, países como Emirados Árabes, Egito, Síria, Irã e até mesmo o Iraque, estão criando demandas internas extraordinárias, transformando-se a olhos vistos em gigantescos canteiros de obras.

Eles precisam, neste momento, de tudo o que nós sabemos fazer, de cho-colates a autopeças, passando por caminhões, ônibus, máquinas e equipamentos

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industriais. No passado, o Brasil já colheu ótimos resultados ao construir pontes co-merciais com aquela parte do mundo. É hora de percorrer esse caminho outra vez.

O atraso nacional em termos de infra-estrutura, está claro, é o grande obs-táculo para que esses planos dêem certo. Neste ponto, estou otimista. O governo, nos últimos anos, tem incentivado o crescimento da indústria naval, o que signifi-ca mais navios para transladar nossos produtos. Não chegamos ao ponto, como a China, de conceder subsídios nominais aos fretes, mas o fato de esse setor estraté-gico ter sido resgatado do limbo do esquecimento é alvissareiro. Neste momento, em que pesem problemas pontuais, o governo também investe na modernização das estradas. Os resultados ainda não podem ser vistos, pois elas continuam esbu-racadas, congestionadas e caras, mas caminha-se na direção certa. Essa política, necessariamente, levará em breve à melhoria dos portos e, com sorte, também à revitalização de ferrovias estratégicas – setor de extrema importância para alcançar o mercado global.

As empresas privadas brasileiras e estrangeiras estão percebendo que inves-tir na infra-estrutura do Brasil e, nesse sentido, substituir o histórico papel do Esta-do no setor, pode ser um bom negócio. Minha aposta no desate dos nós estruturais tem base, além desses pontos, no entusiasmo do presidente Lula com o programa do biocombustível. Este, sem dúvida, pode ser um fator de incremento rápido e sustentado das nossas exportações. Em poucos anos, o Brasil estará produzindo 30 bilhões de litros de etanol, o que resultará em vendas externas de 800 mil barris/dia. Não dá para imaginar que o governo acredite que essa produção possa ser escoada apenas por caminhões.

Nesse ponto, o correto é acreditar que a demanda mundial pelo nosso etanol apresse, aqui, a abertura dos gargalos de infra-estrutura. Estará, então, facilitada a vida dos exportadores.

A competência brasileira

Somos uma nação líder, e a nossa obrigação é jogar pesado no ambiente in-ternacional empresarial. Além da formação profissional, o empresariado brasileiro está no mesmo nível do americano ou europeu. Brasileiros têm sido selecionados para tocar empresas americanas e francesas, por exemplo. Não deixamos nada a desejar. O sucesso de grupos como Gerdau, Vale e Embraer é prova disso, além da Petrobras. Maior produtor de aços longos das Américas, em 2007, o Grupo Gerdau

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aumentou seu faturamento em quase 7% em relação a 2006 e investiu US$ 4,8 bi-lhões em aquisições como a da empresa norte-americana Chaparral. A previsão é a de que até 2010 a empresa aumente sua capacidade instalada em 14%, elevando a produção de aço para 12,7 milhões de toneladas no Brasil e 15,6 milhões de tone-ladas nas atividades que o grupo mantém no resto da América Latina, América do Norte e Europa. Isso é o que chamo de uma empresa brasileira internacionalizada.

Após a privatização em 1997, a mineradora Vale caminha a passos largos para se tornar um “global player”, ou seja, uma potência mundial em termos eco-nômicos. Atuando em 40 países, a companhia viu seu valor de mercado passar de US$ 4 bilhões para atuais US$ 170 bilhões, número que a coloca como a segunda mineradora mais valiosa do mundo. A Vale começou em um pequeno município do interior do estado de Minas Gerais e utilizava tração animal para transportar os minérios que extraía. Hoje, tem uma frota de quase 1.000 locomotivas e 62 mil va-gões para transportar cerca de 40 tipos de minérios diferentes. Mas a grande tacada da Vale veio em 2007, com a aquisição da Inco, por US$ 17,6 bilhões, após vencer concorrência com empresas canadenses e norte-americanas.

Outro grande exemplo da capacidade brasileira de competir com as grandes companhias do mundo e conquistar mercados estrangeiros é a Embraer. Maior fa-bricante de jatos de pequeno e médio porte do mundo, a empresa, que tem bases nos EUA, França, Portugal, China e Cingapura, exporta seus aviões para dezenas de países. O lucro líquido da Embraer passou de cerca de US$ 77 milhões, em 1998, para US$ 386,41 milhões, em 2007. Mas o dado que chama mais a atenção é o número de jatos comerciais entregues pela empresa: foram apenas 60 em 1998; e chegaram a 169 em 2007.

E a Petrobras, o que dizer dela? Além de ter uma das melhores tecnologias do mundo em exploração de petróleo em águas profundas e ter descoberto, recente-mente, a maior área petrolífera do país, próxima ao litoral de São Paulo, a empresa tem ampliado sua presença no exterior. Hoje, a empresa está presente em 27 países nas Américas, África, Ásia e Europa. O plano de metas da companhia deixa claro sua ambição de se consolidar como uma das gigantes do mundo no setor petrolífero, pois pretende investir US$ 15 bilhões no exterior entre 2008 e 2012, e as explorações na América Latina, no oeste da África e no Golfo do México devem ser prioridade.

Ainda, o Brasil é muito forte em áreas como a agroindústria e a nanotecnolo-gia, que vêm recebendo atenção especial do governo. Se algumas empresas brasi-leiras vêm conseguindo se destacar no ambiente global em áreas tão importantes,

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por que não imaginar que muitas outras podem chegar lá? A velha mentalidade do brasileiro, às vezes derrotista, está aos poucos virando coisa do passado.

Em busca da competitividade

Mas é claro que somente a confiança não resolverá o problema. O Brasil en-frenta mais problemas para uma inserção ampla na economia globalizada. Além dos problemas de infra-estrutura, há atraso no setor financeiro público e na absur-da tributação que recai sobre as empresas brasileiras, que deixam o Brasil em 72º no ranking de competitividade global divulgado pelo Fórum Econômico Mundial, em 2007. É inegável que a colocação ainda é ruim, mas por outro lado o documento também faz a ressalva de que ocorreram “notáveis melhorias nos últimos anos na solidez das finanças públicas e na redução do endividamento público”.

A palavra de ordem para o sucesso, ou para se ter ao menos a pers-pectiva de alcançá-lo no mundo globalizado, é desenvolvimento tecnológico. Talvez venha daí a posição ainda insatisfatória do Brasil no “ranking da com-petitividade”. Não que o país esteja defasado neste quesito, pois possui tec-nologia de ponta em setores importantíssimos da economia. Nenhuma nação do mundo tem a tecnologia do Brasil para a produção de biocombustíveis ou, como já foi citado, exploração de petróleo em águas profundas. Temos tecno-logia de ponta também na agricultura, com a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) desenvolvendo pesquisas que colocam o Brasil no mesmo patamar de países desenvolvidos em áreas como a biotecnologia. A questão, então, não é falta de capacidade no desenvolvimento de tecnologias, mas é fazer com que os recursos sejam distribuídos de uma maneira mais homogênea. Há uma falácia nessa história de que o Brasil não investe em tecnologia. Atualmente, investimos mais de 1% do PIB em pesquisa e desen-volvimento, cerca de US$ 15 bilhões. Temos um nível de aplicação tecnológica tão importante quanto a maior parte dos países em desenvolvimento. O que precisamos é fazer com que o investimento chegue de fato ao seu destino e não se perca no meio do caminho.

O Brasil e o comércio ilegal

Antes de terminar a introdução, gostaria de fazer um parêntese sobre

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outros temas que são pouco tratados quando se fala sobre internacionaliza-ção. Não adianta apenas olharmos para os números do comércio internacio-nal, ou ficarmos fixados na taxa de juros ou no crescimento do PIB. Existem outros fatores que causam atraso para o desenvolvimento de um país no ce-nário internacional.

Com a circulação de indivíduos, mercadorias e idéias aumentando enor-memente com a globalização, é inevitável que o comércio ilegal ao redor do mundo aumente na mesma proporção, se não maior. As estimativas, apa-rentemente subestimadas, são de que o tráfico de drogas, armas, pessoas e produtos pirateados ou contrabandeados, representem 10% de todo o comér-cio global. Somente as drogas movimentam anualmente cerca de US$ 320 bilhões. O comércio ilegal de armas chega a aproximadamente US$ 4 bilhões e, mais horripilante ainda, o tráfico de pessoas para trabalho escravo e explo-ração sexual fica em torno de US$ 30 bilhões anuais.

Esses números são estimativas que variam bastante de acordo com a organização que os divulga, mas dão uma idéia do peso do comércio ilegal no mundo. E, infelizmente, o Brasil ainda tem um peso considerável nisso. O país é a maior porta de saída do continente para as drogas que vão em direção à Europa, luta contra a exploração do trabalho escravo em regiões afastadas e vem aumentando gradativamente sua participação no mercado de armas. Em 2007, ficou em quarto lugar no ranking dos países mais ineficientes no combate à pirataria, divulgado pela Bascap (Ação Empresarial para o fim da Pirataria e Falsificação – sigla em inglês).

Assim, se o Brasil deseja continuar percorrendo o caminho para se tornar um agente de peso na economia internacional, tem que combater esses males com mais afinco. Além de denegrir a imagem do país no exte-rior, eles causam um enorme prejuízo econômico ao Brasil em vários as-pectos. O grande problema para lidar com essas questões no mundo todo é que existe uma conivência por parte dos sistemas político, econômico e administrativo, em que pessoas e grupos manipulam as regras e funcio-nam organizadamente. Isso é fato, e de tempos em tempos vemos isso na mídia internacional.

Além disso, a instituição policial está em vias de falecimento no mundo todo. O crime organizado está mais organizado que a polícia. Qual é a solução? Essa per-gunta eu deixo para os governantes.

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O lugar do Brasil no mundo

A importância deste livro está no relato das minhas experiências e análises, no sentido de mostrar o peso e a posição do Brasil no mundo, que hoje ainda é tími-da, já que nossas transações comerciais equivalem a somente 19% do PIB. De nada adianta o Brasil dizer que é líder regional, se as ações no mercado internacional não corresponderem com a afirmação.

Logo no Capítulo I, “O Brasil nas Américas”, inicio com um olhar sobre as Américas, divididas em Estados Unidos e América Latina. Trato da questão da crise do subprime americano, que não vejo maiores transtornos para a economia mun-dial, de acordo com uma excelente pesquisa de uma brasileira que vem construindo uma brilhante carreira universitária na Califórnia. Ainda, analiso a posição e influ-ência americana no mundo e o comércio bilateral com o Brasil.

Em todos os capítulos mostro dados econômicos recentes e comento as tran-sações comerciais com o Brasil. Sobre a América Latina, traço uma perspectiva para os próximos anos, principalmente depois da criação da UNASUL (União de Nações Sul-Americanas) e do Banco do Sul. Uma parte que, particularmente, achei que ficou muito interessante é quando trato do futuro de Cuba.

No Capítulo II, “O Brasil na Ásia”, vejo o crescimento chinês com outros olhos, interno à China. Ou seja, o impacto do crescimento para os chineses, que estão en-velhecendo. E, a partir daí, as conseqüências para o Brasil. Relembro ainda, a crise japonesa na década de 1990, para não esquecermos como começou a estagnação japonesa; e vejo como o país se reergueu no início do século XXI. Os Tigres Asiáticos são mostrados como bons exemplos de desenvolvimento, e penso nas lições que podemos tirar desses países. E, é claro, a Índia não fica de fora.

Deixei o velho continente para o Capítulo III, “O Brasil na Europa”, em que trato das negociações da União Européia com o Mercosul, o impacto da Turquia como eventual membro do bloco europeu e o poder da Rússia perante os países da Europa. Ainda, o Leste Europeu não poderia ficar de fora, pois, atualmente, o Brasil não tem aproveitado as oportunidades com a região.

Assim, chegamos ao Capítulo IV, “O Brasil no Oriente Médio”, o oásis. As opor-tunidades e os exemplos são muitos, mas antes, prefiro entender o que é o Oriente Médio, pois muitos costumam misturar tudo como se fosse a mesma religião, o mesmo povo e a mesma cultura. Novamente neste trecho trato da Turquia.

O continente africano, que na maioria das vezes é visto como um só país, é

Introdução

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tratado no Capítulo V, “O Brasil na África”. A realidade é que seus 53 países apre-sentam uma enorme diversidade social, econômica e cultural. O Brasil possui laços históricos com essa região, e por isso é muito importante conhecê-la.

O Novíssimo Mundo não fica de fora deste livro. No Capítulo VI, “O Brasil na Oceania”, trato do país-continente, a Austrália, sob um certo ponto de vista histó-rico, e da Nova Zelândia, que possui um diferencial importante na educação, o qual tem atraído muitos brasileiros.

Por último, antes de concluir, eu não poderia deixar de fora o tema do meio ambiente, o qual trato no Capítulo VII. A humanidade finalmente despertou para a necessidade da preservação do planeta. A mobilização para salvá-lo é global, e nem só as decisões políticas, que serão importantes, afetarão a nossa maneira de viver. Os meios e instrumentos de produção serão diferentes. Pretendo expor nesse capí-tulo os velhos problemas e os avanços brasileiros na seara do meio ambiente.

Vocês verão ao longo do livro que não faço notas de rodapé, nem citações das fontes, pois já deixo claro aqui na introdução que todos os dados foram retirados das seguintes fontes: CIA World Factbook 2008, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior do Brasil (MDIC), Secretaria de Comércio Exterior (SE-CEX – vinculada ao MDIC), Banco Central do Brasil (BACEN) e Banco Mundial.

Dessa maneira, meu objetivo é mostrar claramente a liderança do Brasil nas áreas e regiões citadas. O país tem um poder de inovação grande, uma classe em-presarial competente e um povo mentalmente aberto a novidades. Estes fatores exigem que as lideranças brasileiras vejam o mundo como um palco onde o Brasil também deve estar presente, entendendo cada ator e contracenando com todos ao mesmo tempo.

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O Brasil nas Américas

Capital: WashingtonÁrea: 9,8 milhões de km²População: 301 milhõesPIB oficial: US$ 13,79 trilhõesPIB per capita: US$ 44,4 milExportação: US$ 1,14 trilhãoImportação: US$ 1,98 trilhãoTransações comerciais com o Brasil: US$ 43,78 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 6,34 bilhões

Os Estados Unidos da América são, sem dúvida, a maior potência econômica e militar do mundo. Essa característica não fica restrita aos números. A influência cultural americana move gerações, desde o início do século XX. Mesmo no período em que dividiu a hegemonia mundial com a União Soviética, durante a Guerra Fria, os EUA não perderam terreno.

Estados Unidos, potência e influência

Capítulo I:

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A hegemonia americana é exercida pelos mais variados meios: político, mili-tar, econômico e cultural. A mídia americana, por exemplo, atinge milhões de pes-soas todos os dias, com seus canais de televisão, agências noticiosas e cinema. A verdade é que ninguém está imune a esta influência, seja pelo lado positivo ou negativo, depende do ponto de vista.

Muitos criticam a hegemonia americana no mundo. Porém, o domínio hege-mônico de um país não é um fenômeno novo. Roma já teve esse título. Portugal, na época das grandes navegações, e depois a Espanha, influenciaram o mundo à sua maneira. Da mesma maneira, a Holanda conseguiu criar suficiente poder político e militar para alcançar a hegemonia mundial. Depois foi a vez da França, que mante-ve a sua hegemonia até ser batida pelo Império Britânico.

O fato é que cada nação exerce a hegemonia em seu proveito, à sua maneira, de forma a aproveitar o seu poder da melhor forma, enquanto durar.

Na época da Guerra Fria, o mundo era dividido em duas frentes – americana e soviética. No final dos anos 1980, com a ascensão econômica do Japão, a expansão de suas empresas em nível mundial e o fim da Guerra Fria, falava-se em três esferas de poder – Estados Unidos, Alemanha (carro-chefe da Europa) e Japão. Porém, a economia japonesa não conseguiu sustentar o crescimento.

Atualmente, alguns especialistas econômicos afirmam que o poder global é dividido entre os Estados Unidos e a China, a qual mantém um ritmo de cresci-mento médio de 10% ao ano, desde as reformas econômicas de 1979, e possui uma influência significativamente superior à dos americanos na Ásia e parte da África.

Outra corrente de analistas prefere assumir que as nações em desenvolvi-mento estão conquistando um espaço importante de poder, principalmente pela formação do G20 (grupo de países emergentes, criado em 2003, cujo objetivo prin-cipal é defender os interesses dos países em desenvolvimento). Esse grupo repre-senta 60% da população mundial, e seus principais países (Brasil, China e Índia), juntamente com a Rússia, formam o chamado BRIC (termo cunhado pelo Goldman Sachs para designar os quatro principais países emergentes do mundo). As últimas projeções apontam que as economias dessas nações se tornarão a maior força eco-nômica mundial até 2050.

Uma terceira corrente, utilizando dados estatísticos, divide o mundo em três frentes: Estados Unidos, União Européia e China. Juntas, essas nações possuem um PIB de US$ 35,35 trilhões (medidos em poder de paridade de compra), ou seja, 53,7% do total mundial.

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Seja qual for a análise, a economia americana é responsável por cerca de 22% do PIB do mundo, atualmente. Esse número já foi maior, cerca de 50% do total. Essa tendência de queda é natural, já que os outros países estão crescendo. Compara-tivamente, é a mesma situação que viveu a cidade de São Paulo, no Brasil, a qual já representou 50% do PIB brasileiro, e depois caiu para 33% do total. Mas não se pode dizer que a cidade entrou em crise somente porque perdeu participação no peso econômico do Brasil. Quem conhece a história e a influência econômica de São Paulo entende o que estou dizendo. O que ocorre hoje na economia mundial é isso, os outros países cresceram e o bolo foi repartido.

O que transmite a idéia de que os Estados Unidos se fragilizaram foi, basica-mente, a questão dos déficits gêmeos e as dificuldades relativas à Guerra do Iraque e do Afeganistão.

O Afeganistão foi a primeira vitória importante após os atentados de 11 de setembro de 2001. Porém, levou logo depois ao problema mais sério, o Iraque. O êxito muito rápido no Afeganistão formou uma concepção de guerra que não se adaptou na frente de combate iraquiana.

Sobre esse assunto, o ex-presidente George Bush, em uma das minhas con-versas com ele sobre o Kuwait, afirmou que estava no mandato dele somente a missão de retirar o exército iraquiano do país, nada além disso. O objetivo daquela guerra não era destituir Saddam Hussein. Outra coisa que ele me contou – e isso é extremamente interessante para a realidade da última Guerra do Iraque – foi que Collin Powell, ex-secretário de Estado do presidente Bush, filho, disse o seguinte: “Presidente, nós só vamos iniciar a desocupação do Iraque quando tivermos 500 mil soldados disponíveis e todo o armamento necessário para uma invasão”.

Ora, se considerarmos que os Estados Unidos invadiram o Iraque com 120 mil soldados, um país de 27,5 milhões de pessoas, dividido por seitas e tribos, e com um forte envolvimento religioso, podemos ver claramente que houve um erro es-tratégico. Outro ponto que afetou o desenvolvimento de uma maior segurança no Iraque e que considero uma tragédia para o povo iraquiano, as Nações Unidas e os países da coalizão, foi a morte de Sérgio Vieira de Mello. Ele, certamente, conduziria o processo de paz de uma maneira completamente diferente da que foi conduzida por Paul Bremer. Um dos erros de Bremer foi a separação total entre exército e po-lícia. Jamais, dentro de uma guerra vitoriosa, podemos fazer isso. O correto seria ter tomado como exemplo o que aconteceu na Segunda Guerra Mundial. Toda a estrutura nazista de poder foi conservada, tirando-se primeiro as cabeças-chave,

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e depois a ideologia. Assim, foi possível implementar um controle das estruturas que permitiu aos países ocupantes estabelecerem, com um mínimo de desgaste, o comando efetivo do país ocupado.

Todas as ocupações de sucesso, ao longo da história, foram realizadas dessa maneira. Porém, Bremer ocupou as tropas americanas com a manutenção da paz, a luta contra os insurgentes, o controle do tráfego de veículos, as instituições admi-nistrativas, e mais funções.

Assim, voltando à questão central, sobre a hegemonia americana, parece que a soma dos fatores acima nos dá uma idéia de que os Estados Unidos são uma po-tência em queda, à beira da recessão. Eu discordo.

Novamente, o poderio americano não se dá apenas no campo militar. Ele é acumulado na cabeça das pessoas, nos centros de inovação e, principalmente, no grande poder magnético que têm hoje os Estados Unidos, de atraírem os cérebros do mundo todo para lá. Os EUA incentivam idéias novas e figuram em primeiro lugar na lista de países que aplicam altas quantias monetárias em pesquisa e ino-vação. Tudo isso faz os EUA manterem sua posição e influência no mundo, mesmo com uma leve retração econômica.

A crise dimensionada

De uma palavra ainda não muito corrente nos meios financeiros há menos de 6 meses, a uma expressão hoje conhecida por todas as camadas sociais, o subprime tornou-se a prima-dona da anunciada nova tragédia financeira mundial.

Crise anunciada nos Estados Unidos, com ramificações em países da Europa, o subprime é o prato principal daqueles que conhecem os efeitos já refletidos na compra da casa própria, no emprego estagnado, na redução dos gastos por pre-caução e por temor de que ventos mais fortes semeiem naqueles países o medo de furacões financeiros.

Será a crise tão grave como se anuncia, sendo já denominada de recessão nos Estados Unidos e colocando os demais países do mundo em quarentena?

Gostaria de reproduzir aqui um comentário de Marcelle Chauvet, uma bri-lhante brasileira fazendo importante carreira universitária na Califórnia e conside-rada lá como a grande autoridade no estudo dos ciclos econômicos e em especial os recessivos naquele país.

“Dados recentes de dezembro de 2007 e janeiro de 2008 indicam uma rela-

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tiva deterioração no desempenho da economia americana. Não há dúvida de que essa economia está crescendo a uma taxa mais lenta, mas os dados são contra um crescimento negativo. A datação de uma recessão nos EUA é determinada por um comitê de economistas do National Bureau of Economic Analysis (NBER), os quais utilizam as séries de emprego, produção industrial, renda real, e venda real de ma-nufaturados. A produção industrial e a renda real nos EUA continuam apresentando um crescimento positivo, enquanto emprego e manufaturados apresentaram um crescimento negativo.

A estimativa da probabilidade de recessão baseada em uma combinação des-sas séries é atualmente de 20% – mais alta que os meses anteriores, porém ainda não tão alta a ponto de caracterizar uma recessão.

De uma perspectiva histórica, nos últimos 18 anos os EUA tiveram duas recessões (no biênio 1990-1991 e em 2001) e quatro fases de crescimento len-to (não contando a atual): duas fases de crescimento lento antecederam as re-feridas recessões e outras duas não se tornaram recessões. Uma característica comum a essas duas recessões passadas é o fato de que suas causas principais não foram crises de crédito.

A crise atual no mercado de subprime, no entanto, é bem mais sensível às mudanças na política monetária que o Fed vem implementando. Não é certo, po-rém, que o Fed vai reduzir a taxa de juros tanto quanto necessário para evitar uma recessão caso a inflação continue subindo. Há incerteza também com relação à de-fasagem do impacto da queda de juros na economia. De qualquer forma, acredito que dada a sua origem, se a fase de crescimento lento atual se tornar uma recessão, esta será bem menos severa e curta que as anteriores.”

Estou inteiramente de acordo com as considerações acima. Todavia, gostaria de qualificar algumas das preocupações, não de Marcelle Chauvet, mas dos mer-cados financeiros e agora, pelo estardalhaço, das pessoas nas ruas, tanto nos EUA como no Brasil.

A falta de liquidez dos bancos americanos não é novidade. O mais recente Proer, antes do que será criado pela crise do subprime, foi no governo Reagan. Os bancos foram salvos. Citi, Manufacturers, Chase e America, com uma inteligente associação de juros baixos e alongamento dos pagamentos ao Fed, que permitiu aos bancos sanearem suas carteiras. E, em especial ao príncipe saudita Al Whaleed, que se tornou a preços módicos o maior acionista privado do Citi Group. Agora, o Citi repete a mágica com dinheiro de Abu Dhabi. Portanto, os grandes bancos, na Euro-

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pa ou nos Estados Unidos, não fecharão suas portas. Mas terão de digerir os lucros maciços que tiveram nos últimos anos com a subprime “gordinha” e desejável.

Ainda, com a ajuda dos bancos centrais e dos novos tesoureiros mundiais (indianos, chineses, russos, brasileiros), serão novamente os bancos mais líquidos do planeta, após a difícil digestão de créditos podres japoneses.

Devemos notar que nem todas as subprimes são créditos perdidos. Recuperada a liquidez do sistema, os imóveis recomeçarão sua progressiva valorização e o fantasma será transformado, com a ajuda importante dos go-vernos, em haveres líquidos.

Outro ponto é que os Estados Unidos estão reduzindo aceleradamente o seu déficit comercial, de quase 6% da riqueza nacional. Em mais dois anos estarão pró-ximos à média histórica de 3% a 3,5%. Ou seja, US$ 400 a US$ 600 bilhões por ano, que representam uma oportunidade para países aumentarem suas exportações para os EUA, como é o caso do Brasil.

O dólar subvalorizado em relação, principalmente ao euro, ao real e ao yen, e as sobras chinesas do yuan, gerarão uma corrida maciça aos ativos e empresas americanas. Assim, o fluxo de investimentos compensará a eventual diminuição da atratividade dos títulos do tesouro americano.

Além disso, os juros negativos, isto é, abaixo da inflação, gerarão uma rever-são das expectativas pessimistas da economia, acarretando um surto importante de investimentos na capacidade produtiva.

Dessa maneira, não acredito no fim do mundo, economicamente falando. Mesmo porque o preço do petróleo vai chegar a US$ 150 por barril, e não vai de-morar muito tempo para atingir esse patamar. E esse aumento será, mais uma vez, absorvido pelo ganho constante em produtividade das economias mundiais.

As reservas mundiais antidepressão estão, atualmente, nas mãos de países que crescem de cerca de 10% ao ano, como China, Índia e a América Latina, em especial o Brasil, que repetiu em 2007 a dose mínima de 5%. Isso, sem mencionar África do Sul, Angola e outros países africanos, como Líbia e Marrocos.

Além disso, podemos citar ainda os países do golfo e os produtores de petróleo como a Rússia, os quais somados dispõem de reservas que ultrapas-sam os fundos soberanos em mais de US$ 10 trilhões de reservas. Isto é quase o montante anual de riquezas geradas pelos Estados Unidos. Esses países são hoje o verdadeiro Fundo Monetário Internacional (FMI), cuja importância desapareceu no mundo.

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Entendendo a crise da “bolha” imobiliária americana

- Estimulada pela criação da internet, o mercado cria a Nasdaq para negociar papéis de empresas do novo setor da economia, deixando o Dow Jones para o velho mercado. - Investidores migram parte de suas aplicações da Dow Jones para a recém-criada Nasdaq. Warren Buffet permanece fiel ao Dow Jones. - A Nasdaq apresenta ganhos espetaculares nas valorizações de seus papéis, atraindo mais capital novo. - Muito recurso disponível e faturamento alto. Porém, as empresas do setor não apresentam lucro satisfatório, ou não atingem o sucesso comercial e tecnológico esperado. - A Nasdaq entra em crise e os investidores vendem suas posições (com lu-cro) e migram recursos para o mercado imobiliário americano. - O mercado imobiliário americano é irrigado de recursos e cresce a taxas elevadas. - O mercado de empréstimos imobiliários de créditos prime fica saturado. - Estimulados pela abundância de recursos, excelentes taxas de crescimento e pelo retorno financeiro do setor, alguns bancos resolvem colocar inicial-mente pouco recurso no mercado de empréstimo de segunda qualidade, ou seja, no subprime, atraídos pelo clima de otimismo e pelas taxas mais eleva-das que o mercado de subprime pagava. - Bancos aumentam os volumes de empréstimos no subprime. - O problema não está e nunca esteve localizado no mercado de hipotecas prime, mas no subprime.- Os bancos sabiam que o subprime era um mercado de maior risco, com taxas mais elevadas, pois a inadimplência é tradicionalmente maior que o prime. - Com recursos entrando no subprime, a inadimplência aumentou na pro-porção que os recursos aumentaram.- O erro começou quando os bancos não lançaram nos seus balanços provisões para devedores duvidosos, pois tais provisões significariam bônus menor para seus executivos e dividendos menores, fazendo as cotações caírem na bolsa de valores. Dessa maneira, essa inadimplên-cia, que começou há 4 anos, começou a ser “varrida para debaixo do

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tapete” com artifícios contábeis.- Outro problema é o efeito manada. Como os bancos adotaram um padrão para contabilizar o que estava ocorrendo, a concorrência entre eles estimu-lou-os a trabalharem sob a mesma plataforma de cálculo. Assim, ninguém queria mostrar fraqueza perante o oponente. - Mas acabaram os artifícios contábeis e os controladores começaram e emi-tir sinais em seus relatórios de que havia problemas. - Acionistas começam auditorias internas para saber qual a extensão da crise de inadimplência. - O problema, como esperado, estava localizado no subprime.- O volume alocado no subprime era maior do que esperavam.- O número da perda esperada era o dobro da anunciada. - O mercado de hipotecas prime estava calmo.- Os acionistas decidem: limpar os balanços de uma só vez em 2008; trazer recursos novos para o banco após o saneamento; mandar para a fogueira a ponta fraca da engrenagem, ou seja, demitir ou aposentar seus executivos responsáveis com todas as honras, sem denúncias ou escândalos para não abalar a confiabilidade na instituição.

Relação comercial do Brasil com os Estados Unidos

Em relação ao Brasil, os Estados Unidos atuam como o principal parceiro eco-nômico brasileiro. A proximidade das duas economias confirma as duas lideranças nas Américas. A dimensão do mercado norte-americano demanda um trabalho con-tínuo na definição de estratégias que possam contribuir para o aumento constante dos fluxos de comércio e investimentos entre os dois países.

A importância de uma maior interação econômica entre Brasil e Estados Uni-dos revela-se pela expressiva participação dos EUA nos fluxos globais do comércio de bens e serviços do Brasil e pela sua posição de liderança entre os países detento-res de estoque de investimentos estrangeiros na economia brasileira.

Entre 2000 e 2006, os Estados Unidos figuraram como a nação que mais alo-cou recursos no Brasil. O montante acumulado nesse período é de US$ 47 bilhões. Isso representa 21% do total de IEDs nesses sete anos, de US$ 219,75 bilhões. Do

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Intercâmbio Comercial Brasil e EUA (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais

2001 14.208,573 12.905,492 1.303,081 27.114,0652002 15.377,823 10.287,452 5.090,370 25.665,2752003 16.728,079 9.569,455 7.158,624 26.297,5342004 20.099,235 11.357,062 8.742,174 31.456,2972005 22.539,732 12.666,508 9.873,224 35.206,2402006 24.524,749 14.657,480 9.867,269 39.182,2282007 25.065,048 18.723,338 6.341,710 43.788,387 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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lado contrário, o Brasil já aplicou cerca de US$ 17,32 bilhões, entre 2001 e 2006.No entanto, as trocas bilaterais nem sempre foram favoráveis ao Brasil. Entre

1995 e 1999, o déficit brasileiro acumulado atingiu US$ 13,76 bilhões. Porém, o ano 2000 registrou a reversão desse quadro, com a forte expansão das exportações brasileiras para os Estados Unidos. Em 2007, o saldo da balança comercial brasileira em relação aos Estados Unidos fechou em US$ 6,34 bilhões. Esse valor é 30% menor que o saldo de 2006, de US$ 9,86 bilhões.

Assim, é fato que o Brasil tem uma aliança estratégica muito importante com os Estados Unidos. Para não voltarmos à situação vivida na segunda metade dos anos 1990, é necessário que o setor privado e o governo identifiquem eliminação dos entraves que limitam o acesso ao mercado estadunidense. Isso não é uma tarefa fácil, é claro. Mas não podemos ficar para trás, pois os Estados Unidos serão uma força dinâmica mundial por, no mínimo, 100 anos à frente.

América Latina

A região latino-americana reúne 23 países, e somente o Brasil fala o idioma português. Todos os outros, do México à Argentina, possuem o espanhol como lín-gua oficial. Em 2007, o PIB oficial da região atingiu cerca de US$ 3,5 trilhões. Desse montante, 45% pertencem ao Brasil, caracterizado como líder regional, não somen-te pelo poder econômico, mas também pela extensão territorial.

Os governos dos países da América Latina mostram uma crescente vontade de reforçar as relações econômicas e políticas regionais com o objetivo de aumentar a força das economias e do volume do comércio.

Algumas ações em prol da maior proximidade são mais recentes, como o desenvolvimento da União de Nações Sul-Americanas (UNASUL). O objetivo desse bloco é transformar todos os países da região em uma zona de livre-comércio, unin-do o Mercosul e a Comunidade Andina de Nações, nos mesmos moldes da União Européia, incluindo moeda, passaporte e parlamento comuns. A UNASUL foi esta-belecida em 2006, pela Declaração de Cuzco.

Até o momento, a sede da União está localizada em Quito, Equador. Enquanto isso, outra ação em prol da maior integração regional é o Banco do Sul, localizado em Caracas, Venezuela. O Banco possuirá a função de realizar empréstimos às nações da América Latina para a construção de programas sociais e de infra-estrutura.

Inicialmente, o Banco do Sul começará com um capital de US$ 7 bilhões. O

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primeiro projeto a ser analisado é o da construção de um gasoduto de 12.500 quilô-metros, ligando a Venezuela à Argentina, passando pelo Brasil.

Os líderes anunciaram que a UNASUL deve possuir os mesmos moldes da União Européia nos próximos 15 anos. Difícil? Sim, mas não impossível. Antes de tudo, é necessário que outros problemas regionais sejam resolvidos, como o de gru-pos guerrilheiros e a insurgência de governos populistas.

Ainda, além da integração regional, outro ponto importante é o relaciona-mento da América Latina (e da UNASUL) com os Estados Unidos. Esta é uma inte-gração que não deve ser vista por um aspecto ideológico, como alguns governos latino-americanos têm feito. Para o Brasil, o ideal é ser pragmático, pois sabemos dos compromissos assumidos entre o maior país da América Latina e o maior país do continente, os Estados Unidos. Nós dependemos deles, assim como eles depen-dem de nós. Principalmente porque alguns aspectos serão muito importantes em um momento breve, como a gestão das águas, das florestas e do clima, além dos aspectos comerciais e de investimentos, já citados.

Cooperação de infra-estrutura

- Iniciativa para Integração da Infra-estrutura da América do Sul, com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). - Construção da Rodovia Intra-oceânica: estrada que pretende ligar os países da costa do Pacífico, especialmente Chile e Peru, com Brasil e Argentina, per-mitindo ainda conexões dos portos à Bolívia.- O primeiro corredor da Rodovia Intra-oceânica começou a ser construído em 2005, financiado 60% pelo Brasil e 40% pelo Peru. Espera-se que as obras sejam finalizadas até o final de 2009.- Construção do Anel Energético Sul-Americano para interconectar Argen-tina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai com gás natural de diversas fontes. Porém, o acordo de construção do Anel permanece mais como um protocolo do que um projeto atual.

Estados membros da UNASUL

ArgentinaBolívia

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BrasilChileColômbiaEquadorGuianaParaguaiPeruSurinameUruguaiVenezuela

Estados observadores

MéxicoPanamá

O Brasil no Mercosul

Este bloco regional, apesar de reunir somente 5 países-membros (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela), é complexo. Fundado em 1991, com a assinatura do Tratado de Assunção, a aliança comercial visava dinami-zar a economia regional, movimentando entre si mercadorias, pessoas, força de trabalho e capitais.

Atualmente, o bloco possui um PIB em torno de US$ 2,1 trilhões, e o Brasil é o país de maior força econômica, com 71% desse valor. Percebe-se então que as assimetrias são grandes. A diferença entre o país de menor PIB (Paraguai, US$ 9 bilhões) e o de maior (Brasil, US$ 1,5 trilhão) é de 166 vezes. É por isso que as duas menores economias, Paraguai e Uruguai, reivindicam concessões econômicas para compensar as perdas.

Além dos países-membros, fazem parte do Mercosul, como países-associados, Bolívia, Chile, Peru, Colômbia e Equador. O México é reconhecido como observador. As trocas comerciais do bloco totalizaram US$ 29 bilhões, em 2007. O crescimento em relação a 2006 foi de 1,49%, e tem se mantido nessa média desde 2004. O saldo comercial é positivo para o Brasil, na ordem de US$ 5,7 bilhões. O valor do superávit acumulado entre 2004 e 2007 é de US$ 17,9 bilhões.

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Barbara e George Bush, 2004.

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No tocante aos investimentos diretos recebidos pelo Brasil dos países do Mer-cosul, entre 2000 e 2006, já ingressaram no país cerca de US$ 8,2 bilhões. Nesse período, o país que mais investiu no Brasil, para a surpresa de muitos empresários que acreditam ser a Argentina, é o Uruguai, com US$ 3,2 bilhões, cerca de 39% do total. A Argentina participou com US$ 1,3 bilhão e o México com US$ 2,76 bilhões. Eu também fiquei surpreso com esses dados. Acredito que o motivo da Argentina figurar somente na terceira posição seja devido à crise no biênio 2001-2002.

Do lado contrário, o Brasil confirma sua posição de líder do bloco quan-do analisamos o montante aplicado pelo país nos membros do Mercosul. Entre 2001 e 2006, foram US$ 33,77 bilhões. Esse valor é quase duas vezes superior ao montante de investimentos recebido. O país que mais recebeu in-vestimentos brasileiros foi o Uruguai, com US$ 17 bilhões. A Argentina ficou em segundo lugar, com US$ 11,16 bilhões.

A recuperação da economia argentina nos últimos quatro anos motivou um aporte maior de investimentos brasileiros no país vizinho. Somente entre 2003 e 2006, o total aplicado foi de US$ 7 bilhões, ou 62% do total desde 2001. Uma boa parte desse número foi para aquisições de empresas portenhas. Alpargatas, Vulca-bras, Dilly, Paquetá e West Coast são exemplos de empresas brasileiras que estão investindo na fabricação de calçados na Argentina. A Vulcabras, por exemplo, ad-quiriu a Indular. A Alpargatas Brasil comprou a Alpargatas Argentina. Dilly e Paque-tá construíram fábricas próprias.

Outras empresas que adquiriram companhias argentinas foram Camar-go Corrêa, AmBev, Petrobras e Friboi, que compraram, respectivamente, Loma Negra, Quinsa, Pecom e Swift Armour. Ainda, diversas empresas brasileiras de pequeno e médio porte ingressaram no país vizinho em segmentos como autopeças, calçados e têxteis.

No entanto, as relações comerciais no Mercosul poderiam ser maiores, mas o aumento dos conflitos internos e as práticas burocráticas atravancam o desenvolvimento do bloco. Então, quais são os problemas do Mercosul? Além de uma série de disputas comerciais entre os parceiros, a insuficiência do blo-co para continuar as negociações com a ALCA, por exemplo, mostrou o forte contraste entre o discurso e a prática dos países-membros. Nós estamos em uma zona de livre-comércio fantasiada de mercado comum. Temos disputas alfandegárias e falta de coordenação política.

O que realmente falta no Mercosul é a vontade de se institucionalizar. O de-

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safio atual para o crescimento do bloco, mesmo com uma eventual ascensão da UNASUL, é alcançar o equilíbrio econômico regional.

Argentina

Capital: Buenos AiresÁrea: 2,76 milhões de km²População: 40,3 milhõesPIB oficial: US$ 245,6 bilhõesPIB per capita: US$ 6,09 milExportação: US$ 54,6 bilhõesImportação: US$ 40,2 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 24,82 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 4 bilhões

Em 1920, a Argentina possuía uma agricultura mais avançada que a dos EUA. Porém, o radicalismo argentino, durante e após o governo peronista, impediu o país de manter a mesma posição no mundo que teve um dia.

Depois do PIB argentino ter atingido um recorde em 1998, de US$ 299 bilhões, o país começou a sofrer um longo período de recessão devido, em grande parte, ao esgotamento da política econômica de paridade entre o dólar e o peso argentino. O auge da crise ocorreu em dezembro de 2001, depois de uma corrida bancária e cambial, que causou o pior momento econômico e social da história da Argentina.

Porém, a partir de 2003, depois da desvalorização do peso argentino e da mo-ratória, o país começou uma retomada do crescimento econômico, atingindo 8,8% de elevação do PIB nesse ano. Em 2004, 2005 e 2006, a média foi de 8% ao ano.

Durante esses últimos 5 anos, a Argentina progrediu. Lembro-me que diziam que a Argentina não teria mais recursos internacionais porque tinha dado um calo-te. O tempo mostrou que ninguém deixa de pagar.

O que a Argentina sofreu foi parecido com o que nós sofremos no Brasil: o pavor à inflação alta. Foi o pavor do retorno inflacionário que fez desaparecer a clas-se média argentina. A inflação corroeu toda a pirâmide social. Durante 70 anos, o índice de pobreza na Argentina se manteve baixo, principalmente em Buenos Aires (5%). Em 2002, no auge da crise, o índice chegou a 57,5% da população, e o desem-prego em torno de 31%. Em 2007, o desemprego reduziu para 8,9%.

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Para termos uma idéia da conseqüência da crise em nível regional, as transa-ções comerciais entre o Brasil e a Argentina, no período de 2000 a 2002, caíram de US$ 13 bilhões para US$ 7 bilhões, ou seja, uma redução de 54%. Agora, do outro lado da moeda, com a recuperação da economia argentina, desde 2002 as trocas cresceram 3,5 vezes, e encerraram 2007 em US$ 24,82 bilhões.

Os principais produtos comercializados atualmente entre os dois países são da seara automotiva – de óleo diesel e motores a automóveis de passeio e tratores. Isso ocorre pelo fato de as principais montadoras européias, americanas e japone-sas estarem instaladas no Brasil e na Argentina.

A Argentina está aproveitando as oportunidades na área de exportação. É claro que o país ainda tem dificuldades em modernizar sua indústria, que ficou defasada. Mas os incentivos fiscais estão alterando essa realidade. Por exemplo, muitos esmagadores de soja estão saindo do Brasil em direção à Argentina para transformar a soja em biodiesel. Isso está acontecendo porque as medidas fiscais brasileiras estão ficando atrasadas.

A recuperação do nível econômico portenho está em andamento. A Argentina já chegou a ser considerada a Europa da América do Sul, tanto pelo nível de riqueza quanto pelo educacional. Acredito que o governo anterior tomou a decisão correta ao ser pragmático e não aceitar os conselhos do Fundo Monetário Internacional (FMI), por exemplo. Pelo que tudo indica, o governo de Cristina Kirchner seguirá o mesmo rumo, do pragmatismo.

Sou entusiasta da Argentina porque ela se recuperou enormemente da crise que passou. O país tem condições de manter um desenvolvimento sustentável, por meio de uma política agressiva, usando estrategicamente a sua posição geográfica e política.

Chile

Capital: SantiagoÁrea: 756,9 mil km²População: 16,28 milhõesPIB oficial: US$ 160,8 bilhõesPIB per capita: US$ 9,87 milExportação: US$ 66,43 bilhõesImportação: US$ 41,8 bilhões

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Transações comerciais com o Brasil: US$ 7,74 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 781 milhões

O Chile é o país que mais se desenvolveu economicamente nos últimos anos. A elevação média do PIB, em 2004 e 2005, foi de 6% ao ano. Em 2007, o país cres-ceu 5,2%. Esse nível de crescimento foi possível mediante uma decisão estratégica do governo, em investir estrategicamente em educação, somado a uma orientação para as exportações.

A prática de uma política de redução de tarifas e eliminação de barreiras co-merciais, a associação ao Mercosul, a participação na Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (APEC) e o fato de o país ter acesso de livre-comércio aos Estados Unidos e à União Européia impulsionaram o comércio internacional chileno. Como se não bastasse, o país está em fase de negociações de acesso econômico com a China, a Índia e o Japão.

No entanto, ainda falta uma diversificação de produtos exportados, pois o país é dependente do cobre. Mas, a cada ano, o Chile tem reduzido a dependên-cia do mineral de 60%, durante os anos 1970, para 35%, em 2004. É importante considerar que 35% de participação do cobre nas exportações ainda é alto; e uma das principais razões para o crescimento do Chile está ligada à alta dos preços do cobre no mercado internacional. Somente em 2006, o valor da tonelada subiu 74%, atingindo o recorde de US$ 7.000,00. Em 2007, a tonelada do cobre ficou 320% mais cara que quatro anos antes.

Tudo isso permitiu que o país reduzisse o índice de pobreza de 50%, em 1987, para 18,2%, em 2005. O nível de desemprego tem diminuído gradualmente, e fe-chou 2007 em 7%. Os bons indicadores sociais do país, como o IDH de 0854, fazem do Chile o segundo melhor país da América do Sul para se viver. Mas como em to-dos os países do continente sul-americano, ainda há falhas na distribuição de renda entre a população.

Ainda, devemos lembrar que o Chile fez uma mescla muito inteligente na transição de um regime autoritário para um regime social-democrata. O que houve foi o aproveitamento das bases econômicas lançadas por um governo militar, de um modo democrático, e o movimento da sociedade chilena em direção ao aperfei-çoamento das suas instituições com ênfase em algumas questões básicas, sendo a educação a primeira delas.

No comércio com o Brasil, o volume das transações comerciais em 2007 foi

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de US$ 7,74 bilhões. Esse valor foi 14,26% superior ao ano anterior. Desde 1991, a balança comercial tem sido favorável ao Brasil. O superávit brasileiro acumulado entre 1991 e 2007 é de US$ 10,10 bilhões, em cima de uma conta corrente total de US$ 48,7 bilhões, no mesmo período.

Apesar do volume considerável, a pauta das trocas comerciais não é muito di-versificada. Do total exportado pelo Brasil para o Chile, cerca de 32% correspondem a derivados de petróleo, e 50% dizem respeito à área automotiva. Na via contrária, conforme você já deve desconfiar, a maior parcela das importações brasileiras é de cobre, 69% do total de US$ 3,48 bilhões, em 2007.

É possível ampliar o volume de comércio entre os dois países? Sim, sempre acredito na possibilidade de ampliação das negociações. O Chile pode ser uma porta de saída para as exportações brasileiras em direção à Ásia. Apesar de não possuir fronteira com o Brasil, uma integração logística entre Brasil e Argentina melhoria a troca comercial e a relação política com este país de grande visão de futuro.

Assim, fica claro que a população chilena compreendeu que no processo evo-lutivo de uma sociedade é necessário olhar objetivos futuros, esquecendo as feridas do passado. É um país que soube fazer um planejamento estratégico, como por exemplo, se desenvolver para ser um porto de entrada entre a América do Sul e os países da Ásia.

Membros da APEC AustráliaBruneiCanadáChileChinaHong KongIndonésiaJapãoCoréia do SulMalásiaMéxicoNova ZelândiaPapua-Nova GuinéPeru

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FilipinasRússiaCingapuraTaiwanTailândiaEstados Unidos da AméricaVietnã

Inicialmente, a APEC era apenas um fórum de discussão, quando foi criada em 1989. Em 1993, os países participantes criaram a estrutura do bloco econômi-co, beneficiando os países-membros, a fim de transformar o Pacífico numa área de livre-comércio.

Atualmente a APEC engloba um terço da população mundial, reunindo cerca de 2,6 bilhões de pessoas. O PIB do bloco é de aproximadamente US$ 19 trilhões.

Paraguai

Capital: AssunçãoÁrea: 406,7 mil km²População: 6,67 milhõesPIB oficial: US$ 9,34 bilhõesPIB per capita: US$ 1,4 milExportação: US$ 6,89 bilhõesImportação: US$ 7 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 2,08 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 1,21 bilhão

País que sofreu com a Guerra da Tríplice Aliança, entre 1865 e 1870, em que perdeu dois terços dos homens de sua população e boa parte do seu território, o Pa-raguai é um país que possui uma economia fortemente baseada na informalidade.

O fato é que desde a Guerra de 1865, o país não conseguiu reorganizar seus setores produtivos. Atualmente, há grande dependência do capital de comerciantes estrangeiros, que freqüentam suas fronteiras, como os brasileiros, em busca de pro-dutos mais baratos. Além disso, a economia paraguaia depende essencialmente da agricultura, praticada por cerca de 31% da força de trabalho. Produtos como cana-

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de-açúcar, algodão, soja e tabaco dominam os recursos agrícolas, que representam 22% do PIB.

Apesar de possuir uma economia pequena, de pouco mais de US$ 9 bilhões, o país tem conseguido manter um ritmo razoável de crescimento. O ano de 2005 foi o terceiro ano consecutivo em que o PIB paraguaio cresceu. Em 2007, o crescimento foi de 4,5%. Isto tem causado uma melhoria nos indicadores de emprego, os quais fecharam em 11,4% nesse ano. Esse nível é o menor nos últimos quatro anos.

No comércio com o Brasil, o superávit é brasileiro. Desde 2002, as transações comerciais têm crescido, passando de US$ 942 milhões para US$ 2,08 bilhões, em 2007. Acredito que esse aumento foi influenciado pela recuperação da economia da Argentina, que repercutiu positivamente em todos os países do Mercosul.

Por ter uma economia altamente agropecuária, cerca de 82% dos produtos importados pelo Brasil do Paraguai se referem ao agronegócio, como milho, trigo, algodão, soja, couro e arroz.

Uruguai

Capital: MontevidéuÁrea: 176,22 mil km²População: 3,46 milhõesPIB oficial: US$ 21,17 bilhõesPIB per capita: US$ 6,11 milExportação: US$ 4,5 bilhõesImportação: US$ 5,5 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 2,07 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 502 milhões

Do final do século XIX a meados do século XX, mais especificamente na década de 1960, o Uruguai era conhecido internacionalmente como a “Suíça sul-americana”. Os altos índices de desenvolvimento e educacionais fizeram a fama do país. Porém, depois do início da escassez de recursos minerais, tecnológicos e ener-géticos, começaram os problemas. A queda do preço da lã e da carne no mercado internacional prejudicou enormemente a economia do país.

Ainda, o regime militar entre 1973 e 1984 desestabilizou o país em termos sociais, com o surgimento de grupos guerrilheiros.

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Somente depois do fim da ditadura, das privatizações na década de 1990 e do incentivo ao setor financeiro, é que o Uruguai iniciou a retomada do crescimento até 1998.

Depois de crescer 5% ao ano entre 1996 e 1998, o país enfrentou problemas entre 1999 e 2002, influenciados principalmente pelas dificuldades econômicas na Argentina e no Brasil. Esse cenário, de crise cambial no Mercosul, afetou muitos clientes argentinos que depositaram dólares nos bancos uruguaios, o que levou a uma crise no sistema financeiro do país.

Depois do “furacão”, a economia uruguaia se recuperou e cresceu 21% de 2003 a 2005. O PIB retomou o nível equivalente ao de 1999, principalmente pela normalização da situação econômica da Argentina e do aumento das cotações in-ternacionais das commodities produzidas pelo Uruguai.

Atualmente, os principais parceiros comerciais do país são o Brasil, com 23% das exportações e 17% das importações uruguaias em 2007, e Argentina. Carne, peixe, arroz e têxteis são os principais produtos exportados.

Um dado curioso é em relação aos investimentos brasileiros diretos no Uru-guai. Entre 2001 e 2006, foram aplicados em terras uruguaias cerca de US$ 16 bi-lhões. Isso coloca o Uruguai em 1° lugar na América Latina entre os países que receberam investimentos do Brasil.

Bolívia

Capital: La PazÁrea: 1,09 milhão de km²População: 9,11 milhõesPIB oficial: US$ 12,8 bilhõesPIB per capita: US$ 1,40 milExportação: US$ 4,26 bilhõesImportação: US$ 3,10 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 2,45 bilhõesSaldo brasileiro: US$ - 750,4 milhões

A Bolívia é um dos países mais pobres e menos desenvolvidos da América Latina. A economia do país é baseada principalmente nas indústrias mineira, de petróleo e gás natural. O setor agrícola representa 40% da população economica-

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mente ativa e a indústria, somente 17%. No contexto internacional, o aumento dos preços das matérias-primas, especialmente combustível, como o gás, tem ajudado muito a economia boliviana, que cresceu cerca de 4% em 2007.

Apesar disso, a atmosfera política interna em 2005 foi caracterizada por grandes mobilizações, especialmente nos meses de maio e junho, em que a popu-lação exigiu a nacionalização dos hidrocarbonetos. Essas agitações culminaram na renúncia do ex-presidente Carlos Mesa.

Nas eleições seguintes, Evo Morales, candidato da extrema esquerda, alterou a situação política dramaticamente. É um homem que veio de condições tão difíceis quanto às de Lula. Então, nós deveríamos saber o que esperar dele, pois o vínculo com as origens bolivianas é muito forte. Porém, Evo Morales está começando a ver que não basta só ideologia, precisa haver ideologia aplicada a um programa econômico-social interessante. No Brasil, nós sabemos muito bem o que é isso, afi-nal, nosso atual presidente foi assim. Por isso, chamo Evo Morales de “irmão mais novo de Lula”.

O que aconteceu entre o Brasil e a Bolívia foi, na verdade, uma falha do go-verno brasileiro, que estava mal informado e acreditou demais que o “irmão mais novo” não pudesse fazer uma “travessura”. Morales tomou a decisão que tomou porque havia prometido a medida de nacionalização durante a campanha eleitoral. Depois que ele venceu, a população e os membros do governo exigiram que ele cumprisse a promessa. E, se ele não atendesse à Presidência, perderia força logo no início do governo.

A posição assumida pela Bolívia é autônoma, independente e dentro da lei in-ternacional. Tanto que não houve mídia internacional. É possível nacionalizar qual-quer tipo de coisa, contanto que seja pago o valor justo da empresa desapropriada ou nacionalizada. Como o Brasil tem uma função integradora na América do Sul, essa função corresponde a pagar certos tipos de acordo que nem sempre parecem mais convenientes. Mas isso faz parte de um sistema de cooperação continental. Ou seja, o Brasil deve manter os contratos com a Bolívia porque é uma função política e econômica importante.

Devemos pensar na relação com a Bolívia no longo prazo, pois os presidentes são passageiros, mas os laços institucionais continuarão cada vez mais fortes. O Brasil está se tornando uma das maiores economias do mundo, e isso representa um transbordamento de recursos e um intercâmbio comercial também mais acen-tuado, calcado em forças políticas que se exercem pelas presenças empresariais e

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comerciais do Brasil no exterior. Esse é o caso da presença brasileira na Bolívia.

Colômbia

Capital: BogotáÁrea: 1,138 milhão de km²População: 44,38 milhõesPIB oficial: US$ 171,7 bilhõesPIB per capita: US$ 3,868 milExportação: US$ 28,39 bilhõesImportação: US$ 30,83 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 2,76 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 1,91 bilhão

A Colômbia é o país que fala o melhor espanhol fora da Espanha, que tem uma elite importante, e uma base agrícola estratégica. É um país que tem atingido taxas de crescimento impressionantes. Em 2007 o PIB cresceu 6,5%, representando um dos índices mais altos da América do Sul. O aumento da atividade econômica tem sido impulsionado pelo bom comportamento da demanda interna, paralela-mente a um crescimento do comércio exterior. Somente com o Brasil, as transações comerciais, entre 2004 e 2007, mais que dobraram, passando de US$ 1,18 bilhão para US$ 2,76 bilhões.

A situação orçamentária tem evoluído positivamente, em linha com a evo-lução da economia, enquanto a política monetária expansionista manteve quedas das taxas de juro e ampla liquidez na economia. Tudo isso está se traduzindo num aumento dos índices de ocupação e uma sustentada diminuição do desemprego, em torno de 10%.

As exportações, por sua vez, têm acelerado o ritmo de sua expansão du-rante vários anos. O maior impulso resultou das exportações tradicionais de café, petróleo, esmeralda e banana, graças aos altos preços internacionais. Em geral, a evolução de todos os tipos de mercadorias tem sido dinâmica. Isso se reflete nas compras de bens de capital para a indústria de construção, de transporte, química e de energia.

A reeleição do presidente Álvaro Uribe, em 2006, um candidato da direita, aliado dos Estados Unidos, se deu principalmente pela política de segurança e or-

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dem na convivência social, apesar do conflito armado com as Forças Armadas Re-volucionárias da Colômbia (FARC). Essa eleição não seguiu as tendências atuais da América do Sul, onde os governos são de esquerda ou de centro-esquerda. Durante seu primeiro governo, os índices de violência caíram ao mesmo tempo que os indi-cadores sociais melhoraram.

De maneira geral, a Colômbia está sendo vista pelos EUA e pela União Eu-ropéia como um país importante para novos investimentos, principalmente em energia e turismo.

As Farc

A crise na Colômbia tomou dimensões continentais em 2008, principalmente porque ameaçou jogar toda a América Latina num conflito armado, que deveria ser resolvido unicamente por Equador e Colômbia.

As Farc – que tentam desestabilizar sucessivos governos desde sua criação, em 1964 – contam com cerca de 17 mil integrantes arregimentados entre a po-pulação camponesa, na sua maioria. A organização possui cunhos comunistas e é considerada, não somente pelos EUA como também pela União Européia, como um grupo terrorista que se sustenta pelo narcotráfico, mais especificamente pelo controle da venda de cocaína em nível internacional.

Existem outras visões sobre as Farc, claro. Uma dessas visões é a de Hugo Chávez, presidente da Venezuela, que entende a entidade como força política e não terrorista.

Para o Brasil, a pressão americana em cima das Farc – como vimos no início das atividades contra os paramilitares – começou a fechar os canais de acesso da droga aos EUA. O que aconteceu foi que o Brasil, como o único país em condições de refino da cocaína, acabou entrando na rota natural da droga.

Atualmente, apesar dos seqüestros efetuados pelas Farc, vejo que está acon-tecendo uma transformação do grupo em um partido político. Quanto tempo isso vai demorar? O tempo que a força do Uribe durar para conquistar o seu território. Ninguém põe um milhão de pessoas nas ruas se a causa não for boa. Não há líder político mundial que faça isso. É necessário ter uma motivação importante.

Além disso, uma revolta sobre a questão dos seqüestros está acontecendo em nível nacional e internacional. O índice de rejeição às ações das Farc chega a 93%.

Assim, nos próximos 5 ou 7 anos, o território desmilitarizado estará total-

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mente legalizado pelo governo. Certamente as Farc sofrerão depuração nas suas funções de comando. Os mais jovens não estão mais aceitando os comandos e são eles que vão caminhar para a legalidade.

Equador

Capital: QuitoÁrea: 283,5 mil km²População: 13,75 milhõesPIB oficial: US$ 44,5 bilhõesPIB per capita: US$ 3,23 milExportação: US$ 13,3 bilhõesImportação: US$ 13 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 692 milhõesSaldo brasileiro: US$ 631 milhões

Um dos menores países da América do Sul, o Equador possui importantes re-servas de petróleo, cerca de 5,11 bilhões de barris comprovados, em 2007. Em 2004, perto de 78% da produção era destina ao mercado internacional.

Em 2005, a taxa de crescimento da economia equatoriana foi de 3%, menos da metade da registrada em 2004, de 6,9%. E, em 2007, essa porcentagem ficou em 2,6%. Isso mostra que o país ainda não conseguiu se recuperar do déficit orçamen-tário e do aumento ocorrido na dívida externa, entre 2004 e 2006.

Outro ponto importante foi que durante 2005 a extração de petróleo bruto aumentou pouco. Enquanto em 2004 a média diária foi de 526 mil bar-ris por dia, em 2005 foi de 538 b/p, apesar do constante aumento dos preços internacionais do petróleo. O baixo crescimento ocorreu devido ao fato de que o governo não descobriu novos campos petrolíferos. A limitada capacidade operacional e financeira da empresa pública fez com que as reservas aumen-tassem somente 2,36% entre 2005 e 2006.

Peru

Capital: LimaÁrea: 1,28 milhão de km²

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População: 28,67 milhõesPIB oficial: US$ 101,5 bilhõesPIB per capita: US$ 3,54 milExportação: US$ 27,14 bilhõesImportação: US$ 18,75 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 2,64 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 652 milhões

Segundo o Banco Mundial, o Peru é o quinto país no mundo com o maior crescimento das exportações. Em 2005, o país concluiu satisfato-riamente conversas para um tratado de comércio livre com os Estados Unidos. E ainda, mantém um tratado de livre-comércio com a Comuni-dade Andina, alguns membros do Mercosul e da Tailândia. A União Eu-ropéia também está buscando um tratado com o Peru, e as negociações já foram iniciadas. Com tudo isso, o Peru tende a ser o segundo país da América do Sul em acesso ao mercado internacional.

Com a exportação em crescimento, o PIB cresceu continuamente des-de 2000. Segundo a revista The Economist, o Peru é o 6o país com o maior crescimento econômico do mundo. Em 2005, a economia peruana cresceu 6,67%. Em 2007, atingiu 7,5%. Além disso, a inflação tem se mantido baixa, em torno 1,5% ao ano, uma das mais baixas da América do Sul.

Em contrapartida à expansão econômica, o setor informal de tra-balho ainda é responsável por grande parte da economia peruana, em torno de 60%. Porém, a taxa de desemprego, que em 2003 era de 9,6%, diminuiu para 7,4%, em 2007 – esses dados são para a capital, Lima, que concentra cerca de 70% do PIB. Isso mostra que a concentração de renda é muito grande. Por exemplo, 10% dos mais ricos acumulam 40% da riqueza.

Nas trocas comerciais com o Brasil, os produtos mais comerciali-zados nos dois sentidos são minerais, como cobre, zinco e prata; pesca, derivados de petróleo e componentes automotivos. Apesar de não serem financeiramente volumosas, as trocas bilaterais entre 2003 e 2007 cres-ceram 264%, passando de US$ 727 milhões para US$ 2,64 bilhões. Isso mostra que as ações do governo peruano em busca do mercado interna-cional têm surtido efeito positivo sobre a economia do país.

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Venezuela

Capital: CaracasÁrea: 912 mil km²População: 26 milhõesPIB oficial: US$ 226,9 bilhõesPIB per capita: US$ 8,72 milExportação: US$ 65,94 bilhõesImportação: US$ 44,38 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 5,07 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 4,37 bilhões

Antes de tratar sobre o país Venezuela, sua economia e seu povo, gostaria de contar aqui minha experiência com Hugo Chávez, que assumiu a presidência do país em 1999.

Eu conheci o Chávez ainda candidato, quando fui convidado pelo embaixador da Venezuela, em 1998, para um almoço no Hotel Mofarrej, em São Paulo. No even-to havia poucos brasileiros. Até por isso, e por ter ficado à mesa principal, junto com Chávez, mantive um contato muito próximo. Minha impressão do Chávez foi de um homem muito decidido, com idéias próprias, mas que se comportaria, depois do golpe fracassado, dentro das normas democráticas. Salvo alguns episódios, é isso o que ele tem feito.

Atualmente, vejo Chávez como um homem que conduz o seu país. Ele perdeu o plebiscito, mas ganhou as últimas eleições. O plebiscito mostrou a maturidade do povo, e acredito que a Venezuela tem um caráter mais arraigado de democracia do que quando ele tomou posse.

Sobre o país, a Venezuela é um lugar de extremos, tanto em riquezas mine-rais quanto na área empresarial. O acesso ao enorme mercado americano, seja na parte de lobby, seja na parte de distribuição, é de fundamental importância para a economia do país. Entretanto, o governo afirma não gostar das políticas implemen-tadas pelos EUA – contrastantes.

A Venezuela se tornou membro do Mercosul, e para o Brasil isso é estraté-gico. É importante que tudo esteja dentro de um aspecto democrático autêntico, e não da maneira que começou, criando intrigas e incômodo entre os membros do bloco. Isso é complicado para o Brasil, que tem aumentado o nível de investi-

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mentos na Venezuela. Entre 2004 e 2006, foram mais de US$ 280 milhões. Esse número tende a aumentar, visto as movimentações de grandes construtoras bra-sileiras no país vizinho e os projetos de infra-estrutura logística para a América Latina. Na via contrária, entre 2003 e 2006, os investimentos diretos venezuela-nos no Brasil cresceram 10 vezes, de US$ 2,65 milhões para US$ 12,88 milhões. Com a criação da UNASUL e do Banco do Sul, as trocas bilaterais de investimentos aumentarão. Possivelmente, sigam no mesmo ritmo das transações comerciais entre 2004 e 2007, que cresceram 204%.

Uma das medidas do presidente Chávez – muito criticada no mercado inter-nacional – foi a compra de títulos da dívida do governo argentino. Ele foi à Argen-tina e comprou a dívida com desconto entre 8% e 10% e não passou isso para o Tesouro venezuelano. Como existe um controle de divisas no país e há um grande número de venezuelanos que vivem no exterior, Chávez distribuiu esta dívida em leilões internos. Estes moradores estrangeiros, por sua vez, compraram parte da dívida argentina em dólar com desconto entre 10% e 15%. Assim, em cada opera-ção o lucro está sendo de 20% para o Tesouro. Essa atitude foi muito inteligente e pragmática. Não há nada de errado.

Voltando ao tema da economia venezuelana, a principal atividade é a explo-ração e refino de petróleo para exportação e consumo interno. O setor de petróleo domina cerca de 33% do PIB venezuelano, 90% das exportações e mais de metade das receitas governamentais. Apesar disso, outros setores como financeiro, comer-cial e de construção têm auxiliado na recuperação econômica da Venezuela. Depois de dois tombos em 2002 e 2003, o PIB de 2007 fechou com um crescimento de 8,3%. Com o elevado preço do petróleo e das novas políticas internacionais em torno dessa commodity, estima-se para os próximos anos um grande desenvolvimento econômico e social.

Cuba

Capital: HavanaÁrea: 110,86 mil km²População: 11,39 milhõesPIB oficial: US$ 45,1 bilhõesPIB per capita: US$ 3,96 milExportação: US$ 3,23 bilhões

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Importação: US$ 10,86 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 412,64 milhõesSaldo brasileiro: US$ 235,06 milhões

A recente renúncia de Fidel Castro, líder cubano nos últimos 49 anos, nos mostra que mudanças na economia socialista de Cuba ocorrerão, mas ninguém deve esperar que muita coisa seja feita em pouco tempo. As portas para o investimento externo podem se abrir aos poucos, assim como foi feito com o setor turístico.

Quando eu estive com o ex-presidente de Portugal, Jorge Sampaio, em 2006, nós conversamos muito sobre o Brasil e a importância do nosso país para a América Latina. Na ocasião, Sampaio disse que via com bons olhos a participação do Brasil em uma eventual transição econômica de Cuba, para contrapor a influência ameri-cana. Fidel ainda estava em pleno exercício do poder.

Já, em um dos meus encontros com o Cardeal Cienfuegos, tive outro ponto de vista. “A transição cubana será feita pelos cubanos, sem interferência de Miami”, disse o cardeal. Essa transição está, de certa maneira, sendo autônoma, pelos pró-prios cubanos.

Quando eu estive com o presidente Lula em Cuba, nós assinamos um acordo na área de turismo, e outros na área de açúcar. Dessa maneira, vejo que a posição do Brasil é muito importante, tanto no aspecto político como no econômico. Assim, é fundamental que o Brasil se aproxime de Cuba nesse momento e auxilie uma abertura progressiva, como está havendo com Raúl Castro. A tendência é que Carlos Lage Dávila seja o primeiro presidente civil depois de todo o processo de transição, pois ele conhece a máquina adminis-trativa e tem apoio dos membros do governo e da população. Assim, Cuba vai caminhar para um sistema mais aberto, mas democrático “a la cubana”. A nova geração cubana vai buscar um tipo de entendimento mais aberto, de uma social-democracia que vai se estabelecer dentro de 10, 15 ou 20 anos.

Por exemplo, nos negócios que realizei com os cubanos, tivemos um tipo de tratamento muito receptivo. Há uma abertura muito grande, um interesse muito grande na colocação das posições brasileiras em termos de novas tecnologias de inovação; principalmente o entendimento que o cubano tem de que o empresário brasileiro é pragmático e que não está envolvido numa guerra ideológica e nem numa guerra de mudança de sistema ou de métodos de trabalho.

Sobre o desenvolvimento do país, desde que assumiu o poder na revolução

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de 1959, Castro manteve uma economia controlada pelo Estado, com pouco espaço para a iniciativa privada e avessa ao tipo de reforma que trouxe rápido crescimento a outros países comunistas como China e Vietnã.

A economia da ilha passou por épocas perigosas, especialmente nos anos 1990 quando o colapso da União Soviética representou o fim do apoio da superpotência. Aí começaram os problemas de escassez de alimentos e outros itens básicos.

Foi a partir de 2004 que a situação melhorou um pouco, impulsionada prin-cipalmente pela doação de petróleo da Venezuela, em troca de médicos cubanos. O aumento da renda permitiu que o governo dobrasse as importações, ampliasse os investimentos em infra-estrutura, equilibrasse a balança comercial, pagasse as dívidas e registrasse crescimento. Em 2007, o PIB cresceu 7%.

O Brasil tem participado do crescimento cubano mais pela via da exportação. Desde 1995, temos acumulado superávits constantes, que até 2007 somaram US$ 1,28 bilhão. O montante não é grande, e as trocas comerciais são tímidas. Mas entre 2002 e 2007, o comércio bilateral cresceu 4,5 vezes. A maior parte dos produtos figura na seara do agronegócio e da medicina. Por isso, os brasileiros devem se apro-ximar dos cubanos para a eventual abertura e aproveitar mais o potencial bilateral, principalmente no turismo e na energia e construção.

Opinião

O que aconteceu para a ruptura com os EUA?

Eu vou contar uma coisa que analiso que tenha sido fundamental na ruptura de Cuba com os Estados Unidos.

Há um filme muito interessante que o Discovery Channel fez sobre a revolu-ção cubana e a tomada de poder por Fidel Castro. A primeira visita que Fidel Castro fez após tomar posse foi aos Estados Unidos. Ele declarou que gostaria de ir aos EUA por ser este país o vizinho mais próximo e mais importante. Assim, Fidel recebeu de Eisenhower um convite oficial para ir à Casa Branca.

No primeiro jantar, em Nova York, Fidel foi um sucesso, pois encontrou todo mundo da área empresarial, inclusive banqueiros. Mas num determinado momento ele desapareceu e ninguém sabia onde tinha ido. Fidel estava em num restaurante cubano, no Village. No dia seguinte, pela manhã, ele iria ser recebido pelo presi-

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dente Eisenhower. Dessa maneira, Fidel pegou a ponte aérea para Washington, e quando chegou à capital, depois de descer as escadas do avião, alguém se aproxi-mou e disse alguma coisa para ele. No instante seguinte, sua fisionomia mudou. Eisenhower havia cancelado o encontro com Fidel e encaminhado a Richard Nixon, vice-presidente. Fidel ficou com o Nixon por uma hora. Quando saiu, estava muito transtornado. Sozinho, foi para Nova York. No meio do caminho para o aeroporto, Nixon fez um discurso dizendo que Fidel era comunista e tinha que ser combatido; que era um inimigo dos Estados Unidos; e que a revolução cubana feria os inte-resses americanos, pois era o comunismo instalado. Ao chegar a Nova York, Fidel declarou que Nixon não tinha compreendido nada da conversa.

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Bob Kennedy, 1967.

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José Dirceu e Fidel Castro, 2002.

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Bill Clinton, 2007.

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Carlos Menem.

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George Schultz, 1983.

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O Brasil na Ásia

O inigualável crescimento econômico chinês ao longo do último um quar-to de século já ultrapassou todos os recordes e criou um novo padrão na história do desenvolvimento econômico mundial. Com uma média anual de crescimento real do PIB de 9,6%, entre 1978 e 2007, este ritmo

de expansão é mais rápido do que o alcançado por qualquer outro país do Sudeste Asiático durante os seus períodos de crescimento mais vertiginoso. O ano de 2007 fechou com um PIB total de US$ 3,2 trilhões e investimentos estrangeiros na ordem de US$ 75 bilhões (CIA World Fact Book).

No entanto, especialistas alertam que o rápido envelhecimento populacional irá limitar o crescimento futuro da China. O país beneficiou-se de um forte aumento bruto da oferta de trabalho desde 1970 até agora. Mas perspectivas sugerem que o crescimento da força de trabalho será lento e, em última instância, haverá um declí-nio após 2030, segundo as Nações Unidas e a consultoria Goldman Sachs.

Duas forças conduzem essas mudanças: 1) aumento da longevidade; e 2) a política de um filho por casal, que tem abrandado o ritmo da ampliação de adultos

A China irá envelhecer antes de ficar rica?

Capítulo II:

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na população. Os últimos dados de 2007 mostram que 71% da população têm entre 15 e 64 anos de idade e 8% estão na faixa superior a 65 anos.

Muitos especialistas estão preocupados com esse fato, pois a China poderá ficar idosa antes mesmo de se tornar rica.

O envelhecimento da população tem sido visto quase exclusivamente como um problema para economias industrializadas. Porém, poucos especialistas têm associado o envelhecimento como uma conseqüência de um país em desenvolvi-mento, onde a oferta de trabalho é ampla e muitas vezes o custo de criação de uma criança, barato. A China tende a ser uma exceção. Embora ainda seja considerado um país em desenvolvimento, foi o país que diagnosticou o problema do envelheci-mento mais rápido da população em relação a 14 economias em desenvolvimento que fazem parte do BRIC. Uma solução, como fazem muitos países desenvolvidos, é a atração de mão-de-obra estrangeira. Mas isso cria outros problemas, como a competição por emprego. É uma questão de escolha.

Em 2027, segundo projeções de especialistas, a China provavelmente será considerada desenvolvida. Porém, consideravelmente mais pobre que os Estados Unidos ou o Japão na renda per capita.

Acredito que a rápida acumulação de capital humano e a contínua liberação do excedente de trabalho no setor agrícola irão atenuar as influências negativas desse problema para o futuro do país.

Perspectivas de um país que está ficando velho, mas crescendo muito

Apesar do envelhecimento da população chinesa, a economia do país deverá continuar a crescer rapidamente com a ajuda de uma força de trabalho mais bem qualificada e de rápida urbanização. Os ganhos vindos do desenvolvimento do capi-tal humano e o intensivo crescimento das cidades irão impactar positivamente no crescimento da força de trabalho.

Ainda, as boas perspectivas econômicas proporcionarão novas oportunida-des para os vizinhos asiáticos da China, bem como compensarão a relativa desace-leração das economias do G7. Isto implica que agendas políticas devem ser orienta-das para ajudar estes países a se beneficiarem com a ascensão chinesa.

Por conseqüência, os sólidos investimentos continuarão crescendo por duas razões. Primeiro: êxodo rural exige mais capital urbano. Em segundo lugar: mes-mo que seja num futuro distante, quando o número de trabalhadores estiver em

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Intercâmbio Comercial Brasil e Ásia (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais 2001 6.954,303 8.926,077 -1.971,774 15.880,3792002 8.798,155 7.995,941 802,215 16.794,0962003 11.685,389 8.922,965 2.762,424 20.608,3542004 14.576,851 12.279,682 2.297,168 26.856,5332005 18.565,977 16.870,114 1.695,863 35.436,0922006 20.816,367 22.888,165 -2.071,799 43.704,5322007 25.086,433 30.717,129 -5.630,696 55.803,562 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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dimensão reduzida, os investimentos em tecnologia terão que aumentar para subs-tituir o trabalho pelo capital.

Esse crescimento futuro garante o mercado potencial de commodities. Isso é bom para o Brasil e para as multinacionais produtoras de mercadorias na China para o mercado local. Ou seja, assim que a China se industrializar e se transformar em uma economia desenvolvida, os preços das mercadorias serão melhorados.

Dessa maneira, os hábitos de consumo não só irão mudar por causa do envelhecimento, mas principalmente, pelas alterações comportamentais pro-vocadas pelo aprimoramento do capital humano e pela rápida urbanização. O consumidor chinês se tornará mais sofisticado (parecido com os japoneses) e os seus hábitos mais similares com os dos consumidores de países desenvol-vidos e internacionalizados.

O impacto do crescimento chinês no comércio bilateral Brasil-China

O comércio sino-brasileiro movimentou em 2007 aproximadamente US$ 23,37 bilhões e superou as projeções realizadas pelo governo brasileiro, indicando que a marca de US$ 30 bilhões, esperada para 2010, poderá ser alcançada ainda em 2008.

No entanto, as previsões para 2008 não são muito agradáveis, já que o comércio exterior chinês pode sofrer desaceleração em razão, sobretudo, da recessão da economia dos Estados Unidos. Ademais, tal cenário poderá afetar negativamente outras economias que, por sua vez, podem reduzir a demanda por produtos do país asiático.

Mas acredito que, apesar de tais previsões negativas, em caso de crise nos Estados Unidos, o mundo passará a comercializar mais com a China, cujos produtos terão preços mais competitivos.

Segundo estimativas do Dragonomics, a expectativa é de que o superávit chinês, em 2008, seja de US$ 260 bilhões, um valor pouco inferior ao registrado em 2007, porém quase sete vezes superior ao brasileiro nesse ano.

No acumulado de 2007, o comércio sino-brasileiro registrou incremento anu-al no valor de 42,5% em relação ao ano anterior; e a China ultrapassou a Argentina como segundo importador brasileiro, atrás apenas dos Estados Unidos. No mesmo período, o Brasil apresentou o primeiro déficit comercial com o país asiático, de US$ 1,87 bilhão, após seis anos consecutivos de superávit. Em 2007, as exportações

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Intercâmbio Comercial Brasil e China (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais

2001 1.902,122 1.328,389 573,733 3.230,5122002 2.520,979 1.553,994 966,985 4.074,9722003 4.533,363 2.147,801 2.385,562 6.681,1642004 5.441,406 3.710,477 1.730,929 9.151,8832005 6.834,997 5.354,519 1.480,478 12.189,5162006 8.402,369 7.990,448 411,920 16.392,8172007 10.748,814 12.619,051 -1.870,237 23.367,865 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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brasileiras para a China aumentaram 27,9% em relação a 2006; e somaram US$ 10,75 bilhões, enquanto as importações de produtos chineses cresceram 57,9% no mesmo período e totalizaram US$ 12,62 bilhões.

Tal cenário reflete, parcialmente, o crescimento da economia brasileira, cujo incremento em 2007 ficou em torno de 5%. O aumento da demanda interna e a valorização do real estimularam importações do mundo todo e desaceleraram as vendas do Brasil para o exterior. Ademais, as importações contribuíram expressiva-mente para o incremento da capacidade industrial instalada do país que, apesar de registrar crescimento significativo no ano, poderia comprometer o abastecimento do mercado doméstico por alguns setores. No acumulado de 2007, as exportações para o mundo registraram crescimento de 14,2% em relação a 2006, cerca de US$ 160 bilhões. Já as importações, cujo volume total foi de US$ 120 bilhões, apresenta-ram incremento de 24,2%. A participação da China nas exportações brasileiras foi de 6,7%, enquanto as importações do país asiático representaram 10,5% do total.

Em 2007, a pauta de exportação brasileira para a China manteve-se concen-trada em produtos básicos como soja, minério de ferro, semimanufaturados de fer-ro e aço, entre outros.

Em volume, o total exportado ao parceiro asiático cresceu 27% entre 2006 e 2007. Isso foi reflexo, sobretudo, do efeito da valorização das commodities no mer-cado internacional. As vendas de produtos semimanufaturados de ferro e aço do Brasil para a China retomaram trajetória de crescimento anterior a 2006 e aumen-taram 82,2% em valor e 112,1% em volume em 2007. As exportações brasileiras de máquinas, ferramentas e aparelhos mecânicos e elétricos para a China, tradicional-mente pouco expressivas, registraram queda em 2006. Novamente soja em grãos, minério de ferro e petróleo e derivados dominaram a pauta exportadora brasileira à China, com cerca de 70% das vendas efetuadas.

No lado contrário, houve poucas surpresas. A maior parte dos produtos im-portados pelo Brasil ficou entre máquinas e aparelhos para indústria metalúrgica e construção civil; bombas, válvulas e aparelhos de uso doméstico (refrigeradores, fornos e máquinas de lavar). Os produtos químicos orgânicos e inorgânicos manti-veram-se no topo das compras brasileiras do país asiático.

Experiências particulares

Em 1981, quando a China começou a se abrir para o mundo, eu desenvolvi o

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primeiro escritório brasileiro no país, em Pequim. Era um escritório compartilhado com a Vale e a Petrobras. Na época, eu era presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), e nessa viagem nossa delegação recebeu uma incumbência extre-mamente interessante e curiosa. Fomos chamados pelo ministro do comércio chi-nês para informar ao governo brasileiro que a China estava reconhecendo o Brasil como país mais favorecido nas trocas comerciais. Hoje é possível notar o resultado desse movimento chinês em relação ao Brasil.

Ainda, quando chegamos lá, aconteceram alguns fatos muito interessantes, se comparados com a China de hoje. Quando chegamos a Pequim, a cidade possuía imensos quarteirões cobertos por tapumes – um verdadeiro canteiro de obras. Eram os primeiros impactos da abertura comercial iniciada em 1978, por Deng Xiaoping. Em Xangai, por exemplo, não era possível andar de carro nas ruas, pois a circulação de bicicletas e pessoas era extremamente desorganizada e excessiva. Nessa época, o Brasil era a 7ª maior economia do mundo, e a China, a 45ª. Hoje, a China figura entre os três países de maior poder econômico. O Brasil não alterou sua posição.

Do lado dos empresários, a maior parte das empresas brasileiras tem di-ficuldade em negociar com as chinesas. As negociações são longas e demora-das. Isso ocorre, principalmente, pela diferença cultural de visão de negócio. Ou seja, os brasileiros analisam a situação para o curto prazo. Já os chineses pensam no resultado de longo prazo. Além disso, o pragmatismo é a principal característica dos chineses, que ainda utilizam a seu favor a força econômica que conquistaram nos últimos 25 anos.

Modelo de desenvolvimento econômico chinês da virada do século XXI

Características básicas das reformas: • Descentralização da propriedade pública• Tentativa de aumentar a eficiência das empresas coletivas• Manutenção da propriedade coletiva (rural e urbana) e dos recur sos naturais de propriedade do Estado• Atração de Investimento Estrangeiro Direto (IED)• Emergência de negócios privados

Cronograma Resumido 1978-1980:• Abertura comercial para o exterior e entrada dos IEDs

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• Contrato de responsabilidade na agricultura (permissão para agricultores venderem livremente os excessos de produção)• Estabelecimento das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs)

Segunda metade da década de 1980 e início da década de 1990:• Sistema dual de preços: controlado pelo Estado e via mercado• Diminuição do Estado na alocação dos recursos

Segunda metade da década de 1990:• Fechamento e reestruturação das empresas não lucrativas• Administração do insolvente sistema bancário

Início do século XXI:• Reconhecimento da propriedade privada• Autorização de abertura de bancos internacionais

Metas para o século XXI• Redução das diferenças entre ricos e pobres• Desenvolvimento do interior• Desenvolvimento de um sistema nacional de seguridade social• Reformas industriais• Criação de um sistema bancário mais eficaz

O modelo “Um país, dois sistemas”

Esta foi uma idéia originalmente proposta por Deng Xiaoping, em 1984, com o objetivo de unificar o país e desenvolver sua economia.

Enquanto a China praticava o socialismo de mercado, Hong Kong (colônia inglesa até julho de 1997) e Macau (colônia portuguesa até dezembro de 1999) praticavam o capitalismo, com grau de autonomia garantido por lei.

As reformas implementadas foram o início do rápido e elevado cresci-mento econômico. Mais de 220 milhões de pessoas saíram do nível de pobre-za. Porém, 10% da população ainda permanecem abaixo desse nível. Outro ponto a favor das mudanças foi a modernização da infra-estrutura: auto-es-

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tradas, aeroportos e telecomunicações de padrão internacional. Para termos uma simples noção de como as alterações das estruturas foram grandes, Pe-quim está terminando a construção do quinto rodoanel em torno da cidade. Outro exemplo: Xangai possui o primeiro trem magneticamente propulsado do mundo, com velocidade de 400 km/h.

Princípios do socialismo capitalista chinês• Pragmatismo: o critério para o sucesso é determinado pela experimenta-ção e não pela ideologia. Deng Xiaoping: procurar a verdade nos fatos.• Incrementalismo: em vez de anunciar e implementar um programa nacio-nal, uma idéia é experimentada localmente (ou em um setor econômico). Se obtiver êxito, será gradualmente implementada em todo o país.

Desafios diários

Necessidade constante de geração de emprego:- 10 milhões ao ano para absorver os entrantes no mercado- 5 milhões de pessoas que precisam se reempregadas

Analogia: isso significa empregar toda a população chilena em um único ano. Estatística: de acordo com a CIA World Fact Book, em 2007 o país empregou 345 milhões de pessoas nas áreas do setor agrícola e 457 milhões em serviços e indústria.

Crescimento da Renda entre 1990 e 2007- Zona Urbana: US$ 250,00 para US$ 2.500,00.- Zona Rural: US$ 100,00 para US$ 650,00 (não oficial).

Apesar das afirmações das autoridades reformistas em busca de maior igual-dade, a economia de mercado socialista com características chinesas, a exem-plo da economia de mercado capitalista, parece tolerar desigualdades sociais crescentes em termos de renda.

Princípios das Zonas Econômicas Especiais (ZEEs)• Atrair e utilizar capital estrangeiro

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• Joint-ventures sino-estrangeiras e propriedade total estrangeira• Produção de manufaturados para exportação• Atividades econômicas orientadas pelo mercado

As ZEEs são listadas separadamente na planificação nacional (inclusive fi-nanceira) e possuem autoridade econômica no nível das províncias. Além disso, seus governos e congressos possuem poder legislativo.

Declarações oficiais e cultura nacional

O 14o Congresso Nacional do Partido Comunista em 1992: “O objetivo de nosso sistema de reformas políticas é estabelecer uma democracia polí-tica socialista com características chinesas, definitivamente não um sistema multipartidário ou um sistema parlamentarista.”

Jiang Zemin: “Three represents: businessmen, national utilities and demo-crats”. Compreensão do papel crítico das novas elites, particularmente em-preendedores e especialistas em tecnologia.

Hu Jintao: “Small comfort” ou “New Deal”. Desenvolvimento do interior, maior institucionalização e transparência política e estabelecimento de uma rede social de seguridade para os pobres.

Confucionismo: ênfase na autoridade, ordem hierárquica e coletivismo.

Japão

Atualmente, o Japão é a segunda maior potência econômica do mundo, com um PIB em torno de US$ 4,3 trilhões, para uma população de apenas 127 milhões de pessoas. Ou seja, uma renda per capita de US$ 33.800,00. Isso é resultado de um novo projeto de país, implementado pelo ex-primeiro-ministro Junishiro Koyzumi. Não quero dizer que o Japão está fazendo como a China, com aportes de investi-mento e incentivo econômico. Isso o país já faz desde o pós-guerra.

A recuperação econômica japonesa é diferente. É cultural. A recessão do país estava ligada a um problema de liderança, ausência de alguém para ser o catalisa-

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Intercâmbio Comercial Brasil e Japão (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais 2001 1.989,773 3.063,629 -1.073,856 5.053,4022002 2.102,539 2.347,528 -244,989 4.450,0672003 2.315,632 2.520,542 -204,910 4.836,1742004 2.774,247 2.868,677 -94,430 5.642,9252005 3.482,616 3.405,021 77,595 6.887,6372006 3.894,521 3.839,633 54,888 7.734,1552007 4.321,335 4.609,392 -288,057 8.930,727 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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dor da produção. Foi isso que o ex-primeiro-ministro, Junishiro Koyzumi, fez. Ele consolidou um sentimento de mudança no país, um impulso motivacional.

Dados expressivos (2006)

• US$ 1,7 trilhão de aplicações do maior banco do mundo, o Mitsubishi UFL Finan-cial Group. • US$ 3,3 trilhões aplicados nos Serviços Postais, maior sistema de caderneta de poupança do mundo.• Segunda maior Bolsa de Valores do mundo, com US$ 5,3 trilhões de investimentos.• Fica no Japão a maior montadora de automóveis do mundo, a Toyota.• Mais da metade dos robôs existentes no mundo são usados nas indús-trias japonesas.

A cultura imperial japonesa facilitou essa mudança. Sob o manto democrá-tico da política existe uma vontade imperialista. Digo imperialista no sentido da linha de comando. Assim, basta uma pessoa ter vontade de mudança e incentivar essa vontade, que o país se transforma. É o que fez Koyzumi.

Assim, a cooperação governo-indústria, o forte sentido ético de trabalho, a especialização tecnológica e o alto grau educacional foram catalisados e o país tem se recuperado do tombo que levou no final do século XX.

Mas é sempre bom relembrar o que aconteceu para que os erros não se repitam.

A difícil década de 1990

De acordo com o Banco Mundial, o Japão, em 1994, ocupava a posição de 2ª nação mais rica do mundo pelo critério de renda per capita, com US$ 28.100. Em apenas três anos o PIB per capita japonês cresceu 24,5%, atingindo US$ 35 mil.

Porém, essa riqueza não impediu que o país, caracterizado como o terceiro eixo econômico (EUA, Alemanha e Japão), no início dos anos 1990, enfrentasse a sua mais grave crise financeira desde o final da Segunda Guerra Mundial. Ainda hoje, mas em menor grau, algumas instituições de crédito japonesas têm dívidas a rece-ber de US$ 650 em média. Se essas dívidas serão pagas não é possível saber. O risco

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de falência bancária e financeira do país assusta qualquer um no Japão.O país viveu uma situação que misturava queda generalizada dos preços,

aumento sem precedentes do desemprego e estagnação do mercado imobiliário (um pouco similar com o que vem ocorrendo nos EUA atualmente, reservadas as de-vidas proporções da crise em relação à economia total do país). No Japão, tudo isso se traduziu em uma fortíssima recessão. O número de desempregados foi recorde, com mais de dois milhões de pessoas fora do mercado. Esse número aumentou nos meses seguintes, chegando a quase 3 milhões de pessoas.

O próprio Fundo Monetário Internacional (FMI), muito atuante na se-gunda metade do século XX, mas hoje sem muita expressão, lançou um do-cumento intitulado “Alerta Japão”, no qual advertia que a potência asiática estava atravessando o pior ciclo recessivo desde o pós-guerra. Para solucio-nar o problema era necessário adotar “medidas radicais” de incentivo à ati-vidade econômica. Divergência à parte no que tange às medidas, o relatório do Fundo mostrava uma realidade preocupante.

O número de falências havia crescido 21%, totalizando 1.361 casos, outro infeliz recorde que demonstrava a gravidade da crise.

Durante a realização do Fórum Econômico Mundial, em 1997, especialistas internacionais apontavam o Japão como o grande problema da economia mundial. O país foi caracterizado como um entrave à estabilidade financeira internacional.

A corrida aos bancos foi imediata. O temor de uma crise bancária fez muitos japoneses sacarem suas economias. Fizeram certo, pois a tradicional instituição de crédito japonesa, a Cosmos Shinyo Kumai, pediu falência. Assim também ocorreu com os bancos Hyogo e Kizu e a Yamaichi Securities; esta depois de cem anos de atividade. Isso foi gravíssimo, pois o Japão possuía a mais poderosa rede bancária do mundo. Ou seja, dos dez maiores bancos mundiais, os nove primeiros eram ja-poneses. Todos registraram prejuízos no biênio 1995/1996.

Atualmente, os bancos japoneses estão se fortalecendo, e acredito que volta-rão a ser os mais fortes assim como os mais importantes do mundo. Afirmo isso, pois é nítido que os bancos americanos estão debilitados, e os franceses também.

Ainda sobre a crise, na tentativa de motivar a economia, as taxas de juros de-cresceram para 0,5% ao ano, em 1995. E, da mesma maneira que o presidente Geor-ge W. Bush fez com os EUA no início de 2008, naquele ano o governo japonês anun-ciou um corte nos impostos, da ordem de US$ 20,2 bilhões. Em 1998, o parlamento japonês já havia aprovado mais de US$ 600 bilhões em pacotes de estímulo.

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Apesar das medidas e do sentimento de possível recuperação econô-mica japonesa, o mercado financeiro mundial foi surpreendido pela notícia de prejuízos acumulados de US$ 1,1 bilhão pelo Banco Daiwa – um dos dez maiores bancos comerciais do Japão e 19º do mundo na época. Isso me lem-bra o Citibank, atualmente – recordando que este faz parte do maior grupo financeiro do mundo, o Citi Group.

Para termos uma visão global sobre a situação japonesa, o Fed (Federal Re-serve — banco central americano) temia a falência de 400 bancos no país. O temor era de que a crise no conjunto de ilhas orientais fosse o estopim de uma depressão mundial, nas mesmas proporções do crash de 1929.

Relação comercial Brasil-Japão

Enquanto o Japão tem feito iniciativas para aumentar o seu comércio inter-nacional por meio de acordos de preferências comerciais, o Brasil tem tido uma atitude passiva; ainda mais quando é nítido que o volume de transações comerciais entre Brasil e Japão decresceu.

Entre 2001 e 2006, as importações brasileiras do Japão superaram as expor-tações. Nesse período, o Brasil importou um total de US$ 18 bilhões, e exportou US$ 16,5 bilhões. Essa tendência a favor do Japão ocorre desde 1994. Em 2007 não foi diferente, pois o Brasil importou US$ 4,6 bilhões e exportou US$ 4,3 bilhões.

Os principais itens exportados do Brasil para o Japão são os produtos agríco-las e minerais, brutos ou semimanufaturados. Esses representaram cerca de 70% do total. Os principais produtos importados do Japão pelo Brasil predominantemen-te são os bens manufaturados da indústria automotora e de máquinas.

Mesmo que a balança comercial seja mais favorável para os japoneses, é mui-to importante para o Brasil aumentar os laços comerciais com o Japão. O montante exportado para o extremo oriente equivale a quase 3% do total brasileiro vendido ao exterior. Além disso, a comunidade japonesa que vive no Brasil é a maior po-pulação de japoneses fora do país. Desde a vinda dos primeiros nikkeis, em 1908, bilhões de dólares em investimentos ingressaram no Brasil. Grandes empresas ja-ponesas como Sony, Toyota, Mitsubishi, Semp Toshiba, Canon, Fujitsu, Hitachi, JVC, NEC, Panasonic, entre outras, aportaram capital em terras tupiniquins.

Diferentemente dos chineses, que formaram colônias em pontos específicos, os japoneses se aproximaram do Brasil de uma maneira distinta. Mesmo sendo

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uma cultura completamente inversa, houve uma integração cultural muito forte. A receptividade brasileira foi muito grande e a adaptação dos japoneses em solo brasileiro foi fator preponderante para a boa relação atual.

Acredito que o centenário da imigração japonesa ao Brasil será um marco nas relações bilaterais. Ainda mais no presente momento em que, de um lado o Japão mostra sinais de recuperação de sua estagnação econômica, e de outro o Brasil tem mostrado estabilidade nos seus fundamentos macroeconômicos.

Embora os nossos principais produtos exportados ainda sejam tradicionais, confio na ampliação da pauta para bens de valor mais agregado, tais como os semi-manufaturados e os manufaturados. De fato, há a possibilidade de haver interesse do mercado japonês em adquirir produtos brasileiros mais variados.

Ao longo de 11 anos de atuação com empresários japoneses, percebi que hou-ve uma transferência de tecnologia de ambos os lados. Nós nunca exigimos algo em retorno, mas acordamos com os japoneses uma transferência mútua de tecnologia, treinamento de pessoal e expansão das atividades empresariais. Por exemplo, o pri-meiro celular brasileiro foi feito por nós, com tecnologia japonesa.

Quando assumimos o controle da NEC no Brasil, esta era uma empresa que faturava US$ 70 milhões anuais. Quando a vendemos, o faturamento era de US$ 700 milhões. Isso é a prova de que uma parceria entre Brasil e Japão, acompanhada da boa convivência de 100 anos de relação, tende a ter mais sucesso.

Índia, o país-elefante

Pessoalmente, gosto de comparar a Índia a um elefante, pois as caracterís-ticas são parecidas. Da mesma forma que o paquiderme, o país de 1,1 bilhão de habitantes aprende muito rápido.

Diferente de outros países do Sudeste Asiático, a Índia teve a vantagem de ter sido colonizada por ingleses. Isso permitiu a criação de gerações políticas e econô-micas próximas ao Ocidente. Assim, o país seguiu um desenvolvimento globaliza-do, acompanhando um processo que estava acontecendo no mundo. Apesar de ser um país com forte sentimento nacionalista, a capacidade de inovação é impressio-nante, herdada dos anglo-saxões.

Isso está ligado à excelência do seu sistema universitário, que criou uma elite. No primeiro momento parecia que essa juventude era meramente desfrutadora e vivia com os olhos para o exterior. Mas hoje, percebe-se que essas mesmas pessoas

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Intercâmbio Comercial Brasil e Índia (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais 2001 285,407 542,791 -257,383 828,1982002 653,737 573,184 80,553 1.226,9212003 553,696 485,744 67,952 1.039,4402004 652,553 556,070 96,483 1.208,6232005 1.137,930 1.202,914 -64,984 2.340,8442006 938,889 1.473,952 -535,062 2.412,8412007 957,854 2.164,808 -1.206,954 3.122,663 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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são as que estão investindo no próprio país. Vamos entender isso melhor.

Tudo começou há mais de dois séculos.

Na véspera da Revolução Industrial (cerca de 1770), a Índia era a se-gunda maior economia do mundo, contribuindo com mais de 20% do total da produção mundial. Até a década de 1970, após dois séculos de relativa es-tagnação econômica, o comércio havia caído e encolhido para um dos índices mais baixos da sua história.

Depois de proclamada a independência em 1947, com Gandhi e seus milhares de seguidores, as políticas implementadas seguiram um aspecto intervencionista que mudou os caminhos da economia. Os negócios e a economia foram severamen-te restringidos. O resultado disso foram décadas de baixo crescimento.

Porém, no início de 1991, as reformas foram gradualmente eliminando os obstáculos à liberdade econômica e o país começou a reintegrar-se à economia mundial, como fazia desde as grandes navegações.

Desde 2003, a Índia tem sido uma das economias em desenvolvimento com o mais rápido crescimento, mantendo um ritmo de 8% de aumento anual do PIB.

Segundo especialistas e analistas internacionais, as projeções para a Índia mostram que a economia pode sustentar essas mesmas taxas de crescimento até 2020. O pressuposto fundamental é que o governo vai continuar implementando políticas de crescimento solidário.

A probabilidade é de que entre 2007 e 2020 o PIB per capita quadruplique. O consumo crescerá cerca de cinco vezes, principalmente para a aquisição de carros. A necessidade de petróleo aumentará três vezes. Porém, há controvérsias. O fator de discórdia é que existe um buraco no nível educacional médio, apesar de ser conside-rado satisfatório. Isso pode impactar negativamente no crescimento futuro.

De qualquer forma, a maior parte dos analistas de relações internacionais, afirma que a Índia irá ultrapassar as economias do G6, por vota de 2050, tornando-se a segunda maior economia do mundo, atrás da China.

Para esta análise, devemos considerar que a Índia possui uma posição impor-tante na esfera nuclear, na prestação de serviços em tecnologia da informação, na matemática, na informática e no campo automotivo. Ainda, o país tem uma posição geográfica importante, que serve como um tampão de rolha contra o poderio russo e o chinês. É um fator de equilíbrio enorme entre essas duas potências. O contra-

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ponto são os constantes conflitos com o Paquistão, um fator desagregador.

Relações entre Brasil e Índia

Os laços da Índia com o Brasil datam de cinco séculos. O português Pedro Álvares Cabral foi enviado à Índia pelo rei de Portugal logo após o retorno de Vasco da Gama de sua viagem pioneira. Nessa viagem, Cabral reportou que teve o seu curso desviado no meio do caminho; e foi aí que o Brasil se tornou uma importante colônia portuguesa e uma escala na longa jornada para Goa. Esta conexão portu-guesa levou à troca de vários bens agrícolas entre a Índia e o Brasil, em seus dias de colônia.

No entanto, as relações diplomáticas entre a Índia e o Brasil foram estabeleci-das somente em 1948, quando a embaixada indiana foi aberta na cidade do Rio de Janeiro, e depois mudou-se para Brasília no dia 1o de agosto de 1971.

Os dois países possuem algumas características similares: dimen-sões continentais, diversidade social, forma democrática de governo e população multiétnica. Ainda, ambos possuem avançadas tecnologias, dividem pontos de vista similares em assuntos de interesse dos países em desenvolvimento e têm cooperado nos mais variados fóruns multi-laterais em questões como comércio internacional e desenvolvimento, meio ambiente, reforma das Nações Unidas e expansão de seu Conselho de Segurança.

Ainda no âmbito intergovernamental, a cooperação entre os dois países também cobre as áreas como comércio e economia, ciência e tec-nologia, agricultura, saúde e meio ambiente.

Nos anos recentes, as relações entre o Brasil e a Índia cresceram consideravelmente, e a cooperação entre as duas nações se estendeu a diversas áreas como ciência, tecnologia, espaço e farmacêuticos. O comércio bilateral em 2007 atingiu a marca de US$ 3,1 bilhões, equiva-lente a 1,1% do comércio internacional brasileiro. Em relação a 2006, o crescimento foi de 29%, já que nesse ano as transações comerciais entre o Brasil e a Índia somaram US$ 2,4 bilhões.

Não posso deixar de afirmar que é uma questão de grande satis-fação que o Brasil tenha identificado na Índia um país de grandes opor-tunidades. E, em pouco tempo, caso as autoridades de cada país se en-

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volvam para atuarem como facilitadoras, os empresários de cada lado farão mais investimentos e trocas comerciais. Um exemplo de negócio potencial está no ramo energético.

A Índia, que importa mais de 75% do petróleo que necessita, pos-sui forte interesse em conseguir fontes alternativas de energia, mais baratas, que possam diminuir sua dependência do óleo negro. O Brasil é o principal produtor e exportador de etanol, o qual pode ser usado por 80% dos novos automóveis vendidos no país.

Dessa maneira, acredito que é possível atingir a meta desejada pelo governo brasileiro, de US$ 10 bilhões nos negócios entre Brasil e Índia. É claro que isso é desafiador, pois seria necessário triplicar o co-mércio bilateral atual. Mas não é impossível.

Tigres Asiáticos

Por último sobre a Ásia, mas não menos importante, gostaria de tratar a res-peito de um fenômeno dos anos 1980, os Tigres Asiáticos.

A denominação “tigre” é dada em referência à agressividade econômica de-sempenhada por alguns países asiáticos durante a década de 1980, que na década de 1960 eram relativamente pobres e possuíam indicadores sociais semelhantes aos de países africanos. A partir da década de 1970, o perfil econômico desses paí-ses começou a mudar significativamente, devido a estratégias de atração de capital estrangeiro, apoiada pela mão-de-obra barata, isenção de impostos e baixos custos de instalação de multinacionais.

Por meio dessas medidas, esses países passaram a apresentar grandes taxas de crescimento e uma rápida industrialização, voltada à exportação. O consumo interno, porém, era desestimulado por altas tarifas governamentais.

A escolha da indústria eletrônica como fator de crescimento, direcio-nada à exportação, trouxe prosperidade econômica crescente e rápida para alguns desses “tigres”. Coréia do Sul, Taiwan, Hong Kong e Cingapura fo-ram os primeiros destaques. Dez anos depois, Malásia, Tailândia e Indoné-sia passaram a integrar o grupo asiático. Apesar da recessão mundial dos anos 1980, apresentavam uma taxa de crescimento médio anual de 5%, graças à base industrial voltada para os mercados externos da Ásia, Europa e América do Norte.

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Visão geral (dados de 2007)

Taiwan

Capital: TaipeiÁrea: 35,9 mil km²População: 22,8 milhõesPIB oficial: US$ 375,6 bilhõesPIB per capita: US$ 16,5 milExportação: US$ 246,7 bilhõesImportação: US$ 219,3 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 3,1 bilhõesSaldo brasileiro: US$ - 1,47 bilhão

Típico país de economia capitalista, Taiwan está passando por uma orientação governamental de investimentos decrescente, principalmente em relação ao comércio exterior. Se assim for seguido, provavelmente haverá uma onda de privatizações, inicialmente no setor bancário. O crescimento médio do PIB tem sido de 8% nos últimos trinta anos. A inflação e o desemprego são baixos, este da ordem de 4%.

Nos últimos anos, as indústrias tradicionais de mão-de-obra intensiva têm sido transferidas para outros países. Com isso, a tendência é o desenvol-vimento de indústrias de alto capital tecnológico.

Em relação ao setor agrícola, apesar de participar com apenas 3% do PIB, é bastante desenvolvido, predominando as culturas da cana-de-açúcar, arroz, legumes, frutas e chá. Os recursos minerais limitam-se à hulha e ao gás. E, metade da energia consumida no país provém de centrais nucleares.

Os grandes diferenciais de Taiwan são as indústrias têxteis, de eletroe-letrônicos, produtos plásticos e brinquedos.

Hong Kong

Capital: Hong KongÁrea: 1,09 mil de km²População: 6,98 milhões

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PIB oficial: US$ 203 bilhõesPIB per capita: US$ 29 milExportação: US$ 353,3 bilhõesImportação: US$ 371,3 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 1,93 bilhãoSaldo brasileiro: US$ 736,42 milhões

Antiga colônia inglesa, Hong Kong intermediava os negócios chineses com o mundo exterior, antes da reabertura chinesa para o mundo, em 1978. Por outro lado, a China fornecia ao país a quase totalidade de suas necessidades alimentícias, beneficiando-se com importações de produtos industrializados, investimentos e transferência de tecnologia realizada na ilha.

O porto de Hong Kong movimenta 5,5 milhões de TEUS (unidade de medição de contêineres de 20 pés). Esse resultado o colocou em 3o lugar na escala mundial, atrás apenas de Cingapura e Xangai, em 2007.

Hong Kong vem experimentando grande desenvolvimento industrial, res-saltando os setores de vestuário, brinquedo, têxtil, eletrônico e cinematográfico, além de seus tradicionais estaleiros navais. Mais de 90% de sua produção industrial, baseada em investimentos de empresas inglesas, japonesas e norte-americanas, é exportada, o que torna a economia de Hong Kong bastante vulnerável às oscilações do mercado mundial. Aliás, essa é uma característica dos Tigres Asiáticos.

Coréia do Sul

Capital: SeoulÁrea: 98,48 mil km²População: 49 milhõesPIB oficial: US$ 981,9 bilhõesPIB per capita: US$ 20 milExportação: US$ 371,5 bilhõesImportação: US$ 356,8 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 5,43 bilhõesSaldo brasileiro: US$ - 1,34 bilhão

A Coréia do Sul tinha um mercado pequeno e mais pobre que o do Brasil

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da década de 1980. Hoje, sabemos que a situação se inverteu, principalmente em virtude dos investimentos em educação. O grande dilema desse país que ocupa a parte meridional da península sul-coreana é sua relação com a Coréia do Norte. Até quando eles estarão sob uma ameaça do irmão-vizinho? E o que vai acontecer com a Coréia do Norte nos próximos 20 anos?

Dúvidas à parte, é fato que a Coréia do Sul possui um setor industrial desen-volvido, principalmente nos ramos de equipamentos navais, siderúrgicos, automo-bilístico, têxtil e eletrônico. Além disso, o país importa muitas máquinas, produtos minerais e tem escassez de recursos energéticos. Oportunidade para quem conse-gue enxergar.

Em relação à agricultura, a elevada densidade demográfica do país – de 400 habitantes por km² – reduz a área da atividade agrícola. A complementação alimen-tar provém da pesca e de importações.

Cingapura

Capital: CingapuraÁrea: 692,7 km²População: 4,5 milhõesPIB oficial: US$ 153,5 bilhõesPIB per capita: US$ 34,1 milExportação: US$ 450,6 bilhõesImportação: US$ 396 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 2,59 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 170 milhões

País insular do sudeste da Ásia, independente desde 1965, Cingapura locali-za-se na extremidade da península malaia. É quase imperceptível no mapa-múndi, mas isso não faz do país um lugar de pequena significância.

A cada ano, Cingapura tem se afirmado como centro financeiro internacional, principalmente entre os países que formam os Tigres Asiáticos, em decorrência dos saldos na balança comercial. Além disso, a economia cingapuriana se especializou em atividades de alta tecnologia; e isso tem atraído investimentos de empresas japonesas e norte-americanas. O setor de serviços, que responde por mais de 60% do PIB, é fortíssimo.

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A situação estratégica de seu porto garante ao país uma movimentação su-perior ao porto de Hong Kong, acima de 6 milhões de TEUS.

É por essas características que Cingapura tem se firmado como sede de algumas grandes empresas internacionais, como a MobileOne, a MediaCorp, a Singapore Airlines, a StarHub, a DBS Bank Limited, a Flextronics e a Creative Technology Limited.

Malásia

Capital: Kuala LumpurÁrea: 329,75 mil km²População: 24,8 milhõesPIB oficial: US$ 165 bilhõesPIB per capita: US$ 6,6 milExportação: US$ 169,9 bilhõesImportação: US$ 132,7 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 1,96 bilhãoSaldo brasileiro: US$ - 600 milhões

A Malásia é formada pela Malásia Ocidental, na península malaia; e Malásia Oriental, dois territórios: Sabah e Sarawak, na porção ocidental da ilha de Bornéu, na Indonésia.

O país possui um setor agrícola significativo, dividido entre a produção ali-mentícia, como o arroz, e os cultivos do tipo plantations, herança do período colo-nial. É o maior produtor de óleo vegetal e de borracha natural do mundo. Produz ainda bauxita, estanho em grande quantidade e petróleo.

A industrialização está em expansão, beneficiando os produtos agrícolas e minerais e diversificando também sua produção em mecânica e eletroeletrônica. Um feito interessante no país foi o desenvolvimento de zonas industriais destina-das a pequenas empresas de ponta. É por isso que a partir da década de 1990 o país deu um salto importante para ser incluído no rol dos Tigres Asiáticos.

As exportações destinam-se na maior parte aos países asiáticos, Grã-Breta-nha, Alemanha e Estados Unidos. A liberalização da economia, mais uma vez, favo-receu a entrada de investimentos estrangeiros e fez a capital ganhar importância internacional. Atualmente, Kuala Lumpur conta com grandes investimentos na área

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imobiliária, cujo símbolo são as torres gêmeas de 450 metros de altura.

Tailândia

Capital: BangkokÁrea: 514 mil km²População: 65 milhõesPIB oficial: US$ 225,8 bilhõesPIB per capita: US$ 3,47 milExportação: US$ 143,1 bilhõesImportação: US$ 121,9 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 1,97 bilhãoSaldo brasileiro: US$ - 37,56 milhões

O antigo Sião, território de muitos conflitos e batalhas durante séculos, ocupa o oeste da península indochinesa e tem como eixo vital a bacia do rio Menam. Possuindo um clima tropical de montanha, o território apresenta um conjunto de planícies cercadas ao norte e a oeste por montanhas. Nas planí-cies cultiva-se, principalmente, arroz, mandioca e milho. Pratica-se a pecuária de bovinos, bufalinos e suínos.

Ao norte e oeste, localizam-se cadeias montanhosas recobertas de florestas tropicais, de onde se extrai madeira. Ao sul, na península malaia, com clima quase equatorial, pratica-se o cultivo da seringueira e da juta. A pesca é outra atividade de relativa importância para o país.

O setor industrial, tradicionalmente voltado para o beneficiamento dos pro-dutos agrícolas e minerais (o estanho, por exemplo), começou a mudar a partir da década de 1980, com a entrada dos investimentos estrangeiros do Japão, Taiwan e Coréia do Sul.

Embora haja ainda algumas limitações de infra-estrutura e de mão-de-obra especializada, a economia tem experimentado grandes avanços, principalmente nos setores ligados à exploração de gás natural, à petroquímica e à eletrônica.

O turismo e as exportações de produtos agrícolas (arroz, milho, borracha), têxteis e automotivos têm fornecido importantes recursos ao país. A partir da déca-da de 1990, a Tailândia começou a se destacar nos meios financeiros internacionais como um dos novos tigres, mas não escapou da crise financeira de 1997, quando

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sua moeda sofreu um ataque especulativo. Novamente, a característica dependên-cia do mercado externo.

Vietnã

Capital: HanoiÁrea: 329,56 mil km²População: 85,26 milhõesPIB oficial: US$ 66,4 bilhõesPIB per capita: US$ 778,8Exportação: US$ 48,3 bilhõesImportação: US$ 60,75 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 323,2 milhõesSaldo brasileiro: US$ 109,5 milhões

Conhecido internacionalmente pelo episódio da guerra com os norte-ameri-canos, entre 1964 e 1975, o Vietnã possuía uma economia bastante agrícola, cerca de 60% do PIB. Porém, esse cenário começou a mudar em 1991, quando o governo reorientou a economia para o comércio exterior, e com a constante injeção de capi-tal externo e, mais recentemente, com a entrada do país na Organização Mundial do Comércio (OMC). Atualmente, menos de 20% da economia está vinculada à ativi-dade agrícola, e a indústria responde por 42% do produto interno bruto.

O país é modesto quanto a recursos minerais, ressaltando apenas as jazidas de carvão e fosfato, e mais recentemente algumas jazidas de petróleo no platô con-tinental, que têm atraído investimentos externos da França, Grã-Bretanha, Hong Kong, Austrália e Países Baixos.

Ainda, o Vietnã estabeleceu relações mais dinâmicas com os países do Su-deste e Leste da Ásia. Há ainda algumas limitações de infra-estrutura, é claro, como em toda economia que está se desenvolvendo. Para os próximos 4 anos, a meta do governo é expandir o PIB entre 7% e 8% ao ano.

Indonésia

Capital: JacartaÁrea: 1,92 milhão de km²

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População: 234,7 milhõesPIB oficial: US$ 410,3 bilhõesPIB per capita: US$ 1,748 milExportação: US$ 118,4 bilhõesImportação: US$ 86,24 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 1,58 bilhãoSaldo brasileiro: US$ - 200,5 milhões

Grande país insular do Sudeste Asiático, que agrupa a maioria das ilhas da Insulíndia, entre o Oceano Pacífico, a leste; e o Oceano Índico, a oeste, a Indonésia possui uma beleza única no mundo. É constituída por um arquipélago que se es-tende por 5 mil quilômetros de oeste para leste, e por mais de 1.500 quilômetros, de norte a sul.

A maioria das ilhas é montanhosa, muitas de origem vulcânica, e as planícies são pouco extensas. O clima é equatorial quente e úmido, o que explica a densa floresta que cobria originalmente mais de 60% do território.

Não é por acaso que o país é usado como cenário de grandes produções hollywoodianas e recebe mais turistas por ano do que o Brasil. Não que nós não te-mos potencial turístico (talvez tenhamos mais, pela nossa extensão e diversidade), mas eles sabem aproveitar melhor. Porém, o tsunami de 2004 e os terremotos de 2006 e 2007 têm afastado uma boa parte das visitas internacionais.

A agricultura emprega cerca de 43,3% da força de trabalho. Graças à mecani-zação e à irrigação, o país tornou-se auto-suficiente em alimentos, principalmente arroz, que constitui a base da alimentação da população. Há ainda as culturas co-merciais, herança colonial, como as plantations holandesas da borracha natural e a atividade pesqueira, muito importante para a população.

Os recursos minerais são abundantes, como petróleo e gás natural. Os hidro-carbonetos constituem mais de 70% das exportações, direcionadas principalmente para o Japão.

A indústria está em franco desenvolvimento, favorecido pela exploração de minas de estanho, cobre, níquel e bauxita. A produção é bem variada, incluindo produtos de base (aço, cimento), bens de produção e bens de consumo.

A política de liberalização da economia, a partir da década de 1980, atraiu muitos investimentos estrangeiros, que fizeram o país ser incluído no grupo dos mais novos Tigres Asiáticos. A partir dos anos 1990, criou-se a expectativa de cres-

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cimento econômico acelerado, que se desfez com a crise das bolsas de valores dos países asiáticos em 1997. Porém, dez anos depois o cenário é outro. No biênio 2006/2007, o mercado de ações da Indonésia figurou entre os três mercados de melhor performance internacional. Isso foi possível, pois o governo implementou reformas no setor financeiro, garantindo mais segurança. E para impulsionar mais a economia, anunciou a privatização de mais de cem empresas estatais, muitas das quais tinham monopólio em setores estratégicos.

Lições dos Tigres Asiáticos

Por que o Brasil não consegue fazer o mesmo que os Tigres? Porque há coisas que funcionam e outras que não, depende de onde são aplicadas. Todas essas pe-quenas economias se capacitaram para exportar, como vimos acima. No nosso caso, ainda não estamos 100% preparados para atuarmos como exportadores. É por isso que desde a década de 1970 participamos somente com 1% do comércio internacio-nal. Embora o Brasil possua um comércio exterior de US$ 280 bilhões (2007), o país poderia estar fazendo US$ 600 bilhões, principalmente pelo nosso tamanho. E por que não fazemos? Porque as teias burocráticas e da infra-estrutura impedem esse processo. E o que fizeram os Tigres Asiáticos? Além da inovação, da educação e do apoio do governo, criaram condições de infra-estrutura logística e tecnológica.

As entidades empresariais brasileiras estão cometendo um grave erro ao discutir se o dólar está desvalorizado ou não. O grande objetivo deveria ser melhorar a infra-estrutura e fazê-la funcionar. Isso foi o que fizeram os Tigres, a fim de se transformarem em grandes exportadores. Os negócios fluíram, e isso permitiu que um país do tamanho da Coréia do Sul atingisse proporções de uma economia desenvolvida.

Outro exemplo é a Tailândia. Em fevereiro de 2007 eu ofereci um almoço ao ex-primeiro-ministro tailandês, que confirmou duas coisas que eu já pensava. “O Brasil e a Tailândia têm uma enorme complementaridade com grande potencial nos negócios, principalmente no mercado de energia renovável”, ele disse. E acres-centou “que o Brasil poderia ser o maior exportador mundial de frutas e de flores, mas ainda estamos atrasados na esfera genética”. A Tailândia é um país que estava atrasado em diversos aspectos. Mas depois de estabelecer metas de crescimento para os próximos dez e vinte anos, confirmadas por estratégias de crescimento, o país poderá atingir as mesmas condições econômicas atuais

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da Coréia do Sul e de Taiwan.As lições que podemos tirar desses países são disciplina no planejamen-

to, cuidado na infra-estrutura e abertura para o comércio exterior. Do nosso lado, poderíamos aproveitar os exemplos dos Tigres Asiáticos e diminuir nos-sa resistência e timidez em relação ao comércio internacional. Se não mudar-mos as coisas hoje, daqui a dez anos podemos voltar a ter saldos negativos na balança comercial – isso não está longe. E o Brasil tem todas as condições para dobrar as vendas internacionais.

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O Brasil na Europa

A Europa é o velho continente, lugar central das tomadas de decisão de interesse mundial desde antes do descobrimento do Brasil. Sede de di-versas organizações internacionais, como a Organização Mundial do Co-mércio (OMC), na Suíça, ou o Greenpeace, na Holanda, é lugar de diversi-

dade cultural, riqueza histórica e exemplo no que diz respeito a interesses comuns como a idéia de criar uma constituição para os países do bloco da União Européia, ou o incentivo à entrada de mais nações à comunidade, como os países da antiga União Soviética.

Para o Brasil, é um continente muito importante sob diversos pontos de vista. Historicamente, é a partir de Portugal que iniciamos nossa história. Culturalmente, possuímos traços, principalmente da Alemanha, Espanha, Itália e Holanda. Econo-micamente, desde a vinda dos imigrantes europeus até hoje, recebemos impor-tantes investimentos que mudaram muitos aspectos e costumes do nosso país. Os espanhóis, com a Telefónica, alteraram o setor de telecomunicação brasileiro. Outro exemplo é a perspectiva de investimentos no setor de turismo, da ordem de US$ 7

O Velho Continente

Capítulo III:

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bilhões até 2011, provenientes de Portugal, Espanha, França, Suécia e Itália.Somente os 27 membros da União Européia, com seus 490 milhões de habi-

tantes, somam cerca de US$ 16 trilhões de produto interno bruto. Esse montante é superior ao PIB dos Estados Unidos e equivale a 29,8% da riqueza do mundo, de US$ 53,6 trilhões (2007).

Por essas características e pelas análises que faço todo ano junto aos meus sócios na região, acredito que a União Européia, nos próximos dez anos, se manterá estável como entidade política e importante como força econômica. O maior desa-fio será manter a economia no mesmo ritmo de crescimento, entre 2% e 3% ao ano, se as projeções de influência do poderio chinês se concretizarem.

Mercosul e o livre-comércio com a União Européia: problemas e compensações

Em comparação com o Mercosul, a União Européia é um gigante. Do nosso lado, a riqueza total dos 5 países-membros (Brasil, Argentina, Uruguai, Paraguai e Venezuela) é de US$ 2,2 trilhões, para 266,5 milhões de habitantes. Se reunirmos os países associados (Colômbia, Chile, Peru, Equador e Bolívia) esse montante atinge US$ 2,97 trilhões, e a população reúne 365,5 milhões de pessoas.

Os dois blocos tentam, desde 1999, negociar uma área de livre-comércio en-tre si. Do ponto de vista europeu, trata-se de evitar que possíveis preferências con-cedidas aos Estados Unidos e ao Canadá levem à perda de mercados. Do lado brasi-leiro, há quem alimente a expectativa de que as negociações com a União Européia possam servir de contrapeso às pressões americanas.

Contudo, sob o meu ponto de vista, não há dúvida de que o Brasil precisa, de maneira geral, ampliar e diversificar as relações internacionais. Explorar, sempre que possível, as divergências e disputas entre os países desenvolvidos pode uma estratégia, é pragmático. Parece claro, que se enxergarmos pelo somente pelo viés econômico, a eventual formação de uma área de livre-comércio entre a União Eu-ropéia e o Mercosul apresenta, essencialmente, os mesmos problemas que tivemos com paralisada negociação da Alca. O que temos aqui é o mesmo equívoco de natu-reza estratégica: a idéia de interesses conflitantes de um país em desenvolvimento, como o Brasil, participar de áreas de livre-comércio com economias muito mais poderosas e consolidadas.

Também são imensas as disparidades estruturais entre as empresas da União Européia e as brasileiras. Talvez, alguns pensem que seja uma temeridade abrir o

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Intercâmbio Comercial Brasil e União Européia (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais 2001 15.487,553 15.445,713 41,841 30.933,2662002 15.608,902 13.495,827 2.113,075 29.104,7302003 18.816,321 13.053,370 5.762,951 31.869,6912004 24.675,714 15.990,578 8.685,556 40.665,8722005 27.039,480 18.235,584 8.803,896 45.275,0642006 31.044,980 20.202,545 10.842,435 51.247,5242007 40.428,036 26.737,362 13.690,674 67.165,398 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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mercado brasileiro e expor as nossas empresas à competição livre e desimpedida com as grandes corporações européias. Por outro lado, a maior entrada de capital europeu, possivelmente, poderia auxiliar na melhoria da infra-estrutura logística nacional. Outro ponto de provável divergência toca na questão de visão sobre o que constitui economias de livre-comércio. Os europeus, especialmente os franceses, já deram abundantes demonstrações de inflexibilidade nas áreas de interesse priori-tário para o Brasil. A agricultura é o exemplo mais notório. Por outro lado, a União Européia também quer incluir no eventual acordo de livre-comércio temas proble-máticos para o Brasil, como investimentos, serviços e compras governamentais.

Existem mais pontos de interesse que vão além da relação comercial. Vejo um enorme potencial nos entendimentos sobre questões como mudança climática, po-breza, multilateralismo, direitos humanos e outros. Uma parceria é estratégica, pois pode oferecer uma estrutura global de ações conjuntas e é coerente para o avanço na cooperação em setores como energia, pesquisa e desenvolvimento regional.

O movimento mais recente em direção a um eventual acordo aconteceu em março deste ano, quando os representantes do bloco europeu e o presi-dente Lula, junto com Celso Amorim, ministro das Relações Exteriores, se reuniram em Lisboa (Portugal) para discutir a parceria estratégica. As conver-sações serviram para reforçar o diálogo político e tornar mais efetiva as idéias da cooperação no cenário global.

De maneira geral, a União Européia acredita que a abertura de mercado com o Mercosul deve favorecer os seus países. Isso é verdade. Porém, concessões te-rão que ser feitas, principalmente nos temas agrícolas. Encontrar dificuldade nesse quesito é normal, pois as divergências internas do bloco são muitas, principalmente com a França. O que não devemos é desistir, mas sempre procurar uma solução. Isso é o que faço durante as minhas constantes viagens à comunidade européia, três vezes por ano.

Um eventual acordo pode não somente ser benéfico para o Brasil, mas tam-bém para a prosperidade da América Latina.

Parceria tecnológica

José Manuel Rodriguez, representante da Comunidade Européia, es-teve na Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em 2007. Nessa ocasião, apresentou o Sétimo Programa-Quadro de Pesquisa e Desen-

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volvimento (P&D) da Comunidade Européia. Trata-se do maior programa de cooperação internacional em Ciência, Tecnologia e Inovação do qual o Brasil já é parceiro.

O orçamento atual é de 54 bilhões de euros, os quais fazem do Progra-ma-Quadro o principal instrumento de financiamento utilizado pela União Européia para apoiar atividades de pesquisa e desenvolvimento, desde 1984. O novo projeto apresentado pretende estimular a pesquisa e a implantação de inovações tecnológicas em pequenas, médias e grandes empresas.

Dessa maneira, esse acordo de cooperação é de extrema impor-tância para o desenvolvimento e fortalecimento das empresas brasilei-ras. Afinal, sem inovação tecnológica a empresa perde competitividade e acaba não sobrevivendo no mercado.

Turquia na União Européia é teste de empatia

A adesão da Turquia ao bloco europeu é um tema delicado em diversos aspectos. O primeiro, e talvez o mais complexo, é que a entrada dos turcos na União Européia é um teste sobre a coexistência entre cristãos e muçulmanos no velho continente.

Sabe-se que o crescimento das populações de origem islâmica nos paí-ses da Europa Ocidental é motivo de crescente preocupação nos meios oficiais em razão de constantes ameaças de ataque terrorista. Atualmente, são cerca de 12,5 milhões de muçulmanos vivendo no bloco europeu. A entrada da Tur-quia significa um acréscimo de uma população de 71 milhões de pessoas, dos quais 99,8% são muçulmanos.

Embora tenha uma população predominantemente muçulmana, a Turquia é um país cuja Constituição, um legado de uma revolução liderada por Mustafá Kemal Ataturk, nos anos 1920, prevê rigorosamente a separação entre Estado e Re-ligião. Em diversas ocasiões na história recente do país, partidos que defendiam um Estado pautado por leis e tradições islâmicas foram banidos do poder.

Uma coisa é fato: pertencer à União Européia significa fazer parte de um dos mais bem sucedidos processos de integração de sociedades e economias dos últi-mos 50 anos. Os turcos teriam acesso ao mercado europeu (no qual a economia tur-ca já está bastante inserida), aos fundos de apoio aos países pobres e a uma moeda forte, o euro, com todas as vantagens daí decorrentes. Do mesmo modo, a adesão

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significaria um reforço de importância para o secularismo turco. A busca turca pela Europa não é um caso de miopia de líderes querendo algo impossível, mas uma análise ponderada de benefícios e perdas.

Além disso, o país também é apresentado pelo Ocidente como um modelo de democracia islâmica a ser seguido pelos países autoritários do Oriente Médio. Não é por menos que alguns governos europeus e os Estados Unidos acreditam que, ao estender aos turcos alguns dos benefícios econômicos e sociais existentes na União Européia, estarão premiando um país que optou pela democracia e um islamismo moderado, enviando assim uma mensagem aos vizinhos da Turquia no Oriente Médio.

Será mesmo que haverá por parte dos países do Oriente Médio essa percep-ção de mudança de conduta? Apenas o tempo responderá.

Para os europeus, na verdade, seria conveniente deixar esse problema em aberto ainda por algum tempo, à espera de novas possibilidades de negociação. Seria ainda melhor que os turcos aceitassem o papel de “ponte” entre a União Euro-péia e o mundo islâmico, mas sem pretender uma adesão plena. Esse é um assunto que provavelmente será definido até 2015, para os otimistas.

Para o Brasil, a adesão da Turquia à União Européia, em caso de um eventual acordo de livre-comércio com este bloco, seria proveitosa, pois os negócios entre nós e os turcos têm aumentado progressivamente. Entre 2004 e 2007, o comércio bilateral cresceu 70,5%, ou seja, passou de US$ 530 milhões para US$ 903 milhões.

A influência da Rússia na vida e na economia da Europa

Este é um país de grande força histórica e econômica na região, além de exer-cer forte influência cultural e territorial. Estende-se por mais de 17 milhões de km², do extremo ocidente europeu à Ásia. A história recente mostrou ao mundo que os russos possuem uma grande capacidade de se adaptarem após profundas mudan-ças. Assim aconteceu nos anos de 1917 (Revolução Russa), 1922 (criação da União Soviética) e 1991 (reformas econômicas). Além disso, a mudança de um falido siste-ma socialista para um despreparado sistema capitalista colocou toda a população em uma situação complicada, com ausência de recursos.

Atualmente, a realidade é outra. Percebe-se que a mudança foi bem absorvi-da. Em 2007 o país cresceu 8,1%, em relação ao ano anterior, e esse ritmo tem se mantido nos últimos dez anos. O comércio internacional russo movimentou mais

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de US$ 625 bilhões, nesse mesmo ano.No que tange à sua relação com a União Européia, a Rússia fornece metade

da energia importada pelo bloco, valor que poderá atingir os 70% em 2030. Parale-lamente, o objetivo estratégico russo é aumentar as exportações de petróleo e gás para a Ásia, dos atuais 3% para 30% dentro de 10 a 15 anos. Isso aumentará forte-mente sua influência perante as economias dos países asiáticos também.

Contudo, especialistas receiam que as reservas da Rússia sejam insuficientes para atender a procura européia. Projeções pessimistas anunciam que se nada for feito, em 2012 a Europa poderá enfrentar uma escassez de gás superior a 70 bilhões de m3 por ano. Isso corresponderá, segundo estimativas, a cerca de um terço da procura total européia por gás natural.

E, atualmente, a única forma de garantir o abastecimento do continente eu-ropeu é o fornecimento direto de gás das empresas russas, como a Gazprom, a qual é detentora das maiores reservas de gás natural do mundo e braço econômico indi-reto do governo russo. Devido a isso é que a empresa já demonstrou interesse em fazer aquisições no mercado europeu de empresas de energia.

Uma possível liberalização do setor elétrico na região, que envolverá inves-timentos de 68,5 bilhões de euros até 2010, poderá firmar a Rússia, e a Gazprom, como fornecedores globais de energia. Isso se torna mais evidente com o resultado da recente eleição presidencial russa. Apesar das garantias de independência da empresa de energia, Medvedev Dmitry Anatolievich é o principal responsável pelo destino da Gazprom. A verdade é que a Europa está presa pela Rússia, no sentido figurado, é claro.

Intercâmbio Comercial Brasil-Rússia

As relações da Rússia com o Brasil vêm evoluindo desde a segunda metade dos anos de 1990. Entre 2004 e 2007, a corrente de comércio entre os dois países apresentou crescimento médio de 40,3% ao ano. Em 2004, a Rússia participava com 1,5% no total do comércio exterior brasileiro. Já em 2007, encerrou o ano com 1,9% das trocas comerciais brasileiras com o mundo. Em valores, o intercâmbio entre os dois países passou de US$ 2,4 bilhões, em 2004, para US$ 5,4 bilhões, em 2007.

O saldo da balança comercial encerrou o ano de 2007 favorável ao Brasil, em mais de US$ 2 bilhões. E tem sido assim desde 2001. Ao longo desses seis anos, os principais produtos que o Brasil tem vendido para a Rússia são açúcar, carne bovina

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Intercâmbio Comercial Brasil e Rússia (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais

2001 1.102,621 464,299 638,321 1.566,9202002 1.252,511 427,740 824,771 1.680,2512003 1.500,226 555,156 945,070 2.055,3822004 1.658,048 808,034 850,014 2.466,0832005 2.917,435 722,131 2.195,304 3.639,5662006 3.443,428 942,574 2.500,854 4.386,0022007 3.741,296 1.709,411 2.031,884 5.450,707 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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e de frango e tratores. Do lado contrário, o que mais compramos dos russos são produtos químicos

e derivados de petróleo. Mas podemos comprar e vender muito mais. É possível triplicar a balança comercial.

Por exemplo, os custos de energia elétrica na Rússia são menores que no Brasil. O que os russos estão fazendo é transformar energia em produto final, seja eólica e hidrelétrica. Há um planejamento russo importante na área energética, aco-plada à produção local.

A maior ameaça nas relações entre nós e os russos é a ausência. Nós temos que ser mais ativos e conquistar mais mercados. O motivo de estarmos longe, a mais ou menos 16 horas de vôo, não serve mais como desculpa para não ampliar-mos nosso comércio. Estrategicamente, por motivos que lhes cabem, os russos ain-da não se declararam para os brasileiros. Cabe a nós tomarmos a iniciativa.

O lado B: Leste Europeu

O Leste Europeu foi uma das regiões do mundo onde a ideologia socia-lista mais ganhou adeptos e permaneceu mais tempo como regime político e econômico instituído. Após a Segunda Guerra Mundial, o socialismo foi as-sociado diretamente à causa da libertação nacional e, muito por influência da União Soviética, os partidos comunistas chegaram ao poder nos governos locais. Porém, depois do fim da Guerra Fria os países do Leste Europeu aderi-ram aos poucos à democracia liberal e capitalista.

Desde então, nunca antes a região atravessou uma fase tão boa. A maior parte dos países aderiu à União Européia (República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, Bulgária e Romênia). A região está próspera comercialmente, razoavelmente estável, institucionalmente democrática e, em boa parte, segura para os negócios.

O crescimento do PIB regional atingiu o patamar de 5,5% em 2007. Mesmo um país supostamente atrasado como a Macedônia, está crescendo em média 4% ao ano, desde a adesão à União Européia. Esse ritmo é superior ao da “velha Euro-pa”. É claro que devemos considerar que todos esses países estão investindo forte-mente em infra-estrutura, diferentemente dos outros países do bloco, estruturados há mais tempo. Na maior parte dos países do Leste Europeu o crescimento está acima dos 5% anual. Estônia e Letônia, por exemplo, estão crescendo em média de

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Intercâmbio Comercial Brasil e Leste Europeu (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais

2001 1.161,198 583,836 577,361 1.745,0342002 1.356,728 584,487 772,241 1.941,2142003 1.695,881 821,481 874,400 2.517,3612004 2.014,332 1.253,656 760,676 3.267,9882005 3.358,998 1.083,864 2.275,133 4.442,8622006 3.891,909 1.433,813 2.458,096 5.325,7222007 4.309,056 2.765,565 1.543,492 7.074,621 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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7% e 10% ao ano, respectivamente. Contudo, segundo relatos da respeitada revista The Economist, ainda assim

o ambiente é surpreendentemente sombrio. De acordo com o periódico, por toda a região, milhões de pessoas emigram para trabalhar no exterior, provocando au-mentos salariais, ameaçando a competitividade e preocupando os investidores. Paí-ses que ainda não estão na UE temem que mesmo as reformas rápidas não possam ajudá-los na adesão. Na Romênia, por exemplo, a disciplina política exigida para a entrada no bloco europeu caiu de forma espetacular, principalmente no tocante ao nível elevado de corrupção e à falta de transparência a respeito dos gastos públicos. Outro ponto é a adesão ao euro. O medo é que nenhum desses países adote a moe-da, como fez a Eslovênia.

A Letônia pode, em um futuro próximo, enfrentar um rebaixamento caso não coloque a economia sob controle. Em 2006, o déficit em conta corrente do país foi de 20% do PIB, o maior da UE. Isso reflete um inchaço dos empréstimos hipotecá-rios dos bancos estrangeiros aos bancos locais, denominados, sobretudo em euro, o que impulsionou o boom imobiliário. A mesma coisa está acontecendo na Estônia e na Lituânia – e parece igualmente insustentável. Apesar da brilhante arquitetura, é difícil entender por que as capitais do Báltico têm imóveis mais caros do que Berlim, Viena ou Frankfurt.

Os três países têm taxas de câmbio fixas, apoiados por reservas em moedas estrangeiras. É, de certa maneira, tranqüilizador que nenhum deles tenha gran-de dívida externa. A Letônia, por exemplo, fechou 2007 com um déficit externo de 74,5% do PIB. A Estônia e a Lituânia encerraram o mesmo ano com déficits de 68,9% e 38%, respectivamente. Um ponto apaziguador é que suas moedas e títulos públicos são pouco comercializados, e isso deixa pouco espaço para ataques espe-culativos. Entretanto, seus regimes de taxas de câmbio deixam pouca margem para um aperto monetário. E coligações políticas fracas minam as esperanças de uma política fiscal dura ou de reformas econômicas estruturais que mantenham a com-petitividade quando os custos aumentam.

A Hungria é uma grande preocupação. O governo tenta recuperar o controle das finanças públicas após uma ostentação destinada a ganhar a eleição de 2007. Os húngaros tomaram enormes empréstimos em moeda estrangeira, supondo que o euro seria uma certeza. Isso criou todas as condições para um terrível esmaga-mento, com desvalorização e recessão.

A falha principal são governos fracos e não decididos em toda a região, a qual

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somente será melhorada depois de anos de boa governança. Somente o tempo fará o Leste Europeu alcançar a Europa ocidental.

Sobre a relação do Brasil com esta região, nós não estamos aproveitando to-das as oportunidades. Apesar das dificuldades atuais, esses países vão chegar a níveis de consumo de alto nível, como Portugal e Espanha chegaram. E, assim, de-mandarão cada vez mais.

Para termos uma noção de como não enxergamos a região da antiga União Soviética como deveríamos, o comércio com os países do Báltico somaram, em 2007, US$ 7 bilhões, com superávit de US$ 1,54 bilhão para o Brasil.

Principais países da Europa e suas relações comerciais com o Brasil (2007)

Portugal

Capital: LisboaÁrea: 92,4 mil km²População: 10,6 milhõesPIB oficial: US$ 220 bilhõesPIB per capita: US$ 20,7 milExportação: US$ 50,72 bilhõesImportação: US$ 72,19 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 2,14 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 1,45 bilhão

O comércio entre Brasil e Portugal, de 2006 para 2007, cresceu 20,2%. Para a proporção da economia portuguesa, isso significa um grande envolvimento comer-cial com o Brasil. Principalmente se levarmos em conta o montante de investimen-to direto português no Brasil. Desde 2001 até 2006, foram aplicados no Brasil US$ 8,6 bilhões.

Também em 2007, as compras de produtos portugueses pelo Brasil totaliza-ram US$ 341 milhões, o que representa um aumento de 8,9% em comparação com 2006. Já, as exportações brasileiras para Portugal aumentaram 23,2%, correspon-dendo a US$ 1,8 bilhão.

Acredito que Portugal tem grande potencial para aumentar suas exportações para o Brasil, principalmente pelos laços históricos. As exportações portuguesas

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para o Brasil estão concentradas em 18 produtos, que representaram 83,3% do montante exportado em 2007, com destaque para o azeite, responsável por mais de 20% do total. O que falta ao comércio bilateral é uma maior ligação entre os im-portadores brasileiros e os exportadores portugueses.

Já as exportações brasileiras para Portugal estão concentradas em 20 produ-tos, com destaque para o petróleo bruto, que chegou a US$ 644 milhões, em 2007, cerca de 35,7% do total. Mas nossos investimentos diretos em terras portuguesas somaram US$ 5,8 bilhões, entre 2001 e 2006.

Alemanha

Capital: BerlimÁrea: 357 mil km²População: 82,4 milhõesPIB oficial: US$ 3,26 trilhõesPIB per capita: US$ 39,5 milExportação: US$ 1,36 trilhãoImportação: US$ 1,12 trilhãoTransações comerciais com o Brasil: US$ 15 bilhõesSaldo brasileiro: US$ - 1,46 bilhão

As relações comerciais e econômicas entre Brasil e Alemanha existem há séculos, desde o estabelecimento de imigrantes alemães na região sul do Brasil, principalmente. O mercado brasileiro sempre foi muito atraente para os investimentos germânicos. Os brasileiros, por sua vez, também se interes-sam por uma parceria forte e confiável, que os auxilie no processo de cresci-mento e modernização do país.

Diversas empresas e instituições de origem alemã instaladas no Brasil contri-buem significativamente para o progresso, geração de empregos e desenvolvimen-to do país. Esta contribuição já trouxe ao Brasil, entre 2000 e 2006, cerca de US$ 10 bilhões em investimentos.

O Brasil está entre os dez países no mundo para os quais a Alemanha desti-na maior investimento. Com profundas ramificações nos setores econômicos, tão significativos quanto o automobilístico e de autopeças, máquinas e equipamentos, bem como o de produtos químicos e farmacêuticos, a presença dos investimentos

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diretos alemães no país tem marcado de maneira indiscutivelmente substantiva a economia brasileira.

Entre os principais produtos que o Brasil exporta para a Alemanha figuram café, minério de ferro, automóvel, óleo de soja, minério de cobre e petróleo. Estes representam 34,9% do total exportado, de US$ 7 bilhões.

Atualmente, cerca de 1.200 empresas de capital alemão estão instaladas no Brasil, desde pequeno, médio e grande porte. Essas empresas empregam cerca de 250 mil pessoas e representam um faturamento estimado de US$ 33 bilhões, cerca de 2,2% do PIB brasileiro (US$ 1,5 trilhão, em 2007).

França

Capital: ParisÁrea: 547 mil km²População: 60,8 milhõesPIB oficial: US$ 2,51 trilhõesPIB per capita: US$ 41 milExportação: US$ 559 bilhõesImportação: US$ 601,4 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 7 bilhõesSaldo brasileiro: US$ - 52 milhões

O Brasil e os brasileiros sempre tiveram uma ligação afetiva e intelectual mui-to especial com a França. Não é exagero afirmar que os franceses, por razões ligadas à intelectualidade e cultura, são povos admirados e queridos pelos brasileiros.

As possibilidades de explorar as potencialidades do relacionamento bilateral não são de hoje, datam do descobrimento do Brasil. É bastante expressivo o volu-me dos investimentos franceses que chegaram e continuam a chegar ao Brasil. É por isso que a França está na linha de frente da segunda revolução automobilística brasileira, com a instalação de montadoras no Paraná e no Rio de Janeiro. As gran-des empresas francesas, do setor produtivo ou de serviços, encontram-se no Brasil. Entre 2000 e 2006, o montante acumulado de capitais franceses no Brasil foi de US$ 14,1 bilhões. E o Brasil nesse período, investiu na França quase US$ 1 bilhão.

Marcas francesas são cada vez mais familiares ao consumidor brasileiro. A França tem se destacado nas privatizações brasileiras e continua a mostrar interes-

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se no processo. O intercâmbio bilateral, por outro lado, requer maior atenção das autoridades e dos empresários. Apesar dos grandes interesses franceses no Brasil, nossas vendas em direção a Paris representaram apenas 0,57% do total importado pela França, em 2007.

Entre 2002 e 2007, as vendas francesas para o Brasil dobraram, tendo atin-gido nesse último ano US$ 3,5 bilhões. Em sentido inverso, as exportações brasi-leiras passaram de US$ 1,5 bilhão, em 2002, para US$ 3,47 bilhões, em 2007. Essa evolução é prova de que o comércio tem crescido em nível satisfatório, mas nada surpreendente. Em boa medida, as barreiras européias contra produtos brasileiros, especialmente na área da agropecuária, prejudicam.

Apesar do protecionismo, a melhora da economia brasileira e a saúde das nossas empresas podem ser uma oportunidade para que possamos explorar com renovada ênfase o potencial da parceria com a França. Nas minhas viagens à França, noto que o interesse pelo Brasil ainda é muito grande, principalmente pela possi-bilidade de, a partir do nosso país, as empresas francesas poderem explorar toda a América Latina.

Nossos produtos ganharam competitividade em um momento em que a França começa a reconhecer o diferencial dos produtos brasileiros, principalmente depois das comemorações do “Ano do Brasil na França”, em 2005. A França é um dos países em que a marca Brasil tem um lugar no imaginário coletivo, e onde con-tamos com um enorme capital de simpatia e boa vontade.

Para encerrar o assunto sobre este país, que pessoalmente gosto muito, um grande amigo meu disse uma vez: a França é o único país 100% comunista no mun-do, porque todos os fundamentos comunistas estão lá e o governo age como uma grande estrutura, acomodando todo mundo.

Espanha

Capital: MadriÁrea: 504,78 mil km²População: 40,45 milhõesPIB oficial: US$ 1,41 trilhãoPIB per capita: US$ 31,23 milExportação: US$ 248,3 bilhõesImportação: US$ 359,1 bilhões

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Transações comerciais com o Brasil: US$ 5,32 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 1,63 bilhão

Terceiro maior investidor estrangeiro no Brasil, a Espanha já inseriu cerca de US$ 20 bilhões na economia brasileira, entre 2000 e 2006. No lado inverso, o Brasil já aplicou US$ 17 bilhões na Espanha, entre 2001 e 2006.

A corrente de comércio bilateral vem registrando sucessivos recordes desde 2003, tendo alcançado, em 2007, a soma de US$ 5,32 bilhões, com exportações bra-sileiras de US$ 3,48 bilhões e importações de US$ 1,84 bilhão.

As relações entre Brasil e Espanha ganharam novo e intenso dinamismo nos últimos anos. Além de se beneficiar, desde a década de 1990, de foros tais como a Comunidade Ibero-Americana de Nações e as negociações do Acordo Inter-Regional Mercosul-UE, os dois países vêm construindo uma parceria estratégica, solidamen-te ancorada em iniciativas e ações de interesse recíproco.

Essa parceria fortaleceu-se ainda mais com a assinatura da Declaração de Brasília sobre a Consolidação da Parceria Estratégica Brasil-Espanha, por ocasião da visita do presidente Zapatero ao Brasil, em janeiro de 2005. O objetivo dessa parceria é mover esforços para que os dois países possam atuar em conjunto contra a fome e a pobreza, no âmbito das “Metas do Milênio”, e participar em esforços mú-tuos em missões de paz e de estabilização, com vistas à promoção da democracia e do desenvolvimento social.

No quadro desse progressivo estreitamento das relações políticas, o comércio tende a crescer mais nos próximos anos.

Itália

Capital: RomaÁrea: 301,2 mil km²População: 58,14 milhõesPIB oficial: US$ 2,06 trilhõesPIB per capita: US$ 35,4 milExportação: US$ 474,8 bilhõesImportação: US$ 483,6 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 7,81 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 1,11 bilhão

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Temos muito a aprender com a Itália, país que costumo chamar de nação-irmã, principalmente pela grande comunidade italiana que veio para o Brasil entre o final do século XIX e início do século XX. Segundo o Conselho Geral dos Italianos no Exterior, os italianos e os de origem italiana no Brasil somam 23 milhões de pes-soas. Isso corresponde a 12% da população brasileira.

Mas aprender em que sentido? Com o comércio internacional. As micro e pequenas empresas italianas chegam a dominar 40% das vendas internacionais. E no Brasil o maior volume das nossas exportações fica concentrado em 20% das 18 mil empresas exportadoras.

O comércio entre Brasil e Itália pende para o lado brasileiro, já que nos últi-mos 5 anos, o somatório das nossas exportações é de US$ 16,6 bilhões, enquanto que do lado contrário, o montante é de US$ 11,9 bilhões. Esse saldo positivo de US$ 4,6 bilhões só não mostra o fato de que a maior parte dos nossos produtos é de baixo valor agregado, como café, soja, minério, carne e couro.

Assim, a principal questão é: por que não fazemos os laços culturais e popu-lacionais se moverem a favor da ampliação comercial? Nossas exportações para a Itália representam apenas 0,92% do total importado pelos italianos.

Apesar de uma corrente comercial pequena, os empresários italianos já trou-xeram para o Brasil, entre 2000 e 2006, o total de US$ 4,6 bilhões em investimentos diretos. Mas nós levamos para a Itália somente US$ 829 milhões em capital direto.

Holanda (Países Baixos)

Capital: AmsterdãÁrea: 41,5 km²População: 16,5 milhõesPIB oficial: US$ 755 bilhõesPIB per capita: US$ 45,7 milExportação: US$ 465,3 bilhõesImportação: US$ 402,4 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 9,9 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 7,7 bilhões

Os elos que unem o Brasil aos Países Baixos (país mais conhecido como a Ho-landa) são tão antigos quanto os que unem o Brasil a Portugal. Nos gloriosos tem-

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pos dos navegantes exploradores, a Companhia de Comércio das Índias Holandesas Ocidentais tinha várias colônias no Brasil. Algumas construções daquela época, que ainda existem no Nordeste do Brasil, lembram bem o período holandês.

Logo após a abertura dos portos brasileiros no século XIX, os holandeses ini-ciaram a comercialização de produtos. Pouco depois, começaram a fazer investi-mentos locais, com intenções exportadoras. Surgiram então as primeiras empresas holandesas em solo brasileiro.

O comércio bilateral é bastante volumoso. O volume transacionado bilate-ralmente, em 2007, equivale a 3,5% da balança comercial brasileira. De um lado, o Brasil possui na Holanda 4,89% de suas vendas externas. É o maior mercado na Europa. Os principais produtos comercializados são: soja, produtos cítricos, alumí-nio, carne, café, cacau, fumo, frutas frescas, couro, minério de ferro, madeira, óleos brutos de petróleo e vários produtos químicos.

Na outra via, embora em menor volume, a Holanda tem sido um importante fornecedor para o Brasil de produtos como: óleo diesel, medicamentos, produtos químicos, fertilizantes, aparelhos médicos e máquinas diversas.

Há um superávit muito grande nas trocas comerciais em favor do Brasil. Entre 1998 e 2007, o saldo acumulado passa de US$ 37,5 bilhões. Ainda, entre 2000 e 2006, o somatório dos investimentos diretos holandeses no Brasil tota-lizou de US$ 32,1 bilhões. Isso faz desse país o segundo lugar no ranking dos principais investidores, atrás apenas dos EUA, com US$ 47 bilhões. Do lado contrário, o Brasil, entre 2001 e 2006, aportou diretamente na Holanda cerca de US$ 9,1 bilhões.

Suíça

Capital: BernaÁrea: 41,29 km²População: 7,5 milhõesPIB oficial: US$ 413,9 bilhõesPIB per capita: US$ 55,18 milExportação: US$ 201 bilhõesImportação: US$ 189,6 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 3,36 bilhõesSaldo brasileiro: US$ - 1,05 bilhão

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Brasil e Suíça possuem um relacionamento comercial harmonioso e de longo prazo. O Brasil serve como plataforma dos negócios suíços para a Amé-rica Latina, ou seja, é responsável por 35% de todos os empreendimentos suíços na região, sendo considerado o principal parceiro comercial na Amé-rica do Sul. A Suíça, por sua vez, é apenas o 25o mais importante parceiro econômico do Brasil.

Na última década, o comércio bilateral entre os dois países cresceu 204%. Entre 1998 e 2007, o total das trocas comerciais saltou de US$ 1,1 bi-lhão para US$ 3,3 bilhões. Isso é resultado do aumento do interesse de peque-nas e médias empresas suíças no Brasil. Entre 2000 e 2006, essas empresas já investiram diretamente cerca de US$ 5,45 bilhões no Brasil.

Enquanto isso, as empresas brasileiras parecem querer aproximar-se da Suíça, a fim de conquistar novos mercados e buscar novas tecnologias e ser-viços em diversos setores. Porém, isso ainda me parece estar mais no campo das idéias, pois entre 2001 e 2006, os brasileiros investiram diretamente na Suíça somente US$ 283 milhões.

O Brasil vende para a Suíça principalmente alumínio, pasta química de madeira, suco de laranja e carne. Já os principais produtos importados pelo Brasil são medicamentos, máquinas e produtos químicos.

Em 2007, o Brasil exportou US$ 1,15 bilhão e importou US$ 2,2 bilhões, resultando em um déficit de US$ 1,05 bilhão na balança comercial brasileira com a Suíça. Esse déficit para o Brasil se explica pelo alto valor agregado dos produtos suíços importados, como farmacêuticos, máquinas, equipamentos e relógios. Além disso, por possuir uma população reduzida, a Suíça não é um grande mercado consumidor, mas tem potencial para o Brasil ampliar suas exportações de alimentos, frutas e produtos processados.

As principais empresas brasileiras exportadoras para a Suíça são: Albras Alumínio Brasileiro, Votorantim, BHP Billiton Metais, Alcoa Alumínio, Fischer Agroindústria, Caterpillar, VCP, Embraer, Doux Frangosul, Tyco Electronics, Bertin, Perdigão, Copersucar, Marfrig, Seara, Unipar, Philip Morris, JBS Friboi e Souza Cruz.

As principais instituições no Brasil importadoras da Suíça são: Novartis, Caterpillar, Roche, Syngenta, Ministério da Saúde, Petrobras, Cosipa, Bayer Cropscience, DSM, Cosipa, Cisa Trading, Rolex, EMS, Biotronik, Meditronic, Clariant, Givaudan, Huber + Suhner, Bobst e Agie Charmilles.

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Reino Unido

Capital: LondresÁrea: 244,82 km²População: 60,77 milhõesPIB oficial: US$ 2,75 trilhõesPIB per capita: US$ 45,25 milExportação: US$ 415,6 bilhõesImportação: US$ 595,6 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 5,25 bilhõesSaldo brasileiro: US$ 1,34 bilhão

País líder nas primeiras mudanças industriais entre os séculos XVIII e XIX, o Reino Unido, desde então, jamais perdeu sua posição como uma das nações de maior influência no mundo. Foi um dos primeiros países a optar pela aplicação de uma política econômica liberal, com foco nas exportações.

O volume do comércio bilateral entre o Brasil e o Reino Unido não é grande. Em 2007, as transações comerciais totalizaram US$ 5,25 bilhões, tendo o Brasil par-ticipado com US$ 3,3 bilhões em exportações. Nessa mesma grandeza encontram-se os investimentos ingleses diretos no Brasil, em torno de US$ 3,45 bilhões acu-mulados entre 2000 e 2006. Nesse quesito, o Brasil já investiu no Reino Unido, entre 2001 e 2006, um total de US$ 3,17 bilhões. São montantes similares e pequenos.

Noto que esses números só não são maiores, talvez porque algumas empre-sas inglesas de grande porte aguardam mudanças na legislação brasileira para se instalarem no país, principalmente no que se refere ao marco regulatório das Parce-rias Público-Privadas. Caso o governo brasileiro se apresse em acertar os detalhes e definir os pontos divergentes, o volume de ingresso de capital inglês e o total comercializado entre o Brasil e o Reino Unido deverão incrementar de modo signifi-cativo o fluxo comercial bilateral.

O que pode dar certo:

- A gigante inglesa do ramo farmacêutico GlaxoSmithKline tem planos para produzir e exportar, a partir do Brasil, vacinas contra o rotavírus. São investimentos estimados em US$ 300 milhões.

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- Produtores gaúchos de blueberry, ou mirtilo, fecharam acordo de exporta-ção para a Inglaterra. A fruta é bastante consumida na Europa e possui grande poder medicinal.

- A Deca, empresa brasileira de louças e metais sanitários, criou peças exclusi-vas para serem vendidas à Inglaterra, após pesquisas junto a arquitetos e revende-dores ingleses. A empresa exportou US$ 6 milhões, em 2005, para o Reino Unido.

Ainda, alguns setores que podem dar resultado positivo com o Reino Unido são: móveis, cerâmicas, frutos do mar, aeronaves, petróleo, biocombustíveis, miné-rio de ferro e, claro, commodities agrícolas.

Esses são apenas alguns exemplos do que ainda temos para fazer nas duas vias, seja na exportação ou importação, seja na atração de investimentos diretos ingleses ou injeção de capital brasileiro no Reino Unido.

Curiosidades sobre a Revolução Industrial Inglesa

Século XVIII

1698 (final do século XVII): instalação de um motor a vapor para escoar água em uma mina de carvão. 1708: invenção da primeira máquina de semear puxada a cavalo.1709: utilização do carvão para baratear a produção de ferro. 1733: invenção de uma lançadeira volante para o tear, acelerando o processo de tecelagem. 1740: descobrimento da técnica do uso de cadinho para fabricação de aço. 1761: desenvolvimento da primeira via aquática inteiramente artificial. 1764: invenção da fiadora “spinning Jenny”, máquina de fiar rotativa que permitia a um único artesão fiar oito fios de uma só vez.1765: introdução de um condensador no motor a vapor, componente que aumentou consideravelmente a sua eficiência. 1768: invenção da “spinning-frame”, máquina de fiar mais avançada que a “spinning Jenny”. 1771: introdução do sistema fabril na tecelagem. 1776 a 1779: construção da primeira ponte de ferro fundido. 1779: invenção da “spinning mule”, permitindo produzir fios mais finos e resistentes. A mule era capaz de produzir o equivalente à mão-de-obra de

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duzentos trabalhadores. 1780: Edmund Cartwright patenteia o primeiro tear a vapor. 1793: invenção do descaroçador de algodão. 1800: invenção da bateria elétrica.

Século XIX

1803: desenvolvimento de uma embarcação a vapor. 1807: instalação da iluminação de rua, a gás. 1808: exposição da “London Steam Carriage”, um modelo de locomoti-va a vapor. 1825: construção de uma locomotiva a vapor ideal e inauguração da primei-ra ferrovia. 1830: utilização do ferro como matéria-prima e do motor a vapor como força motriz. 1843: patenteamento da segadora mecânica (nos Estados Unidos). 1844: inauguração da primeira linha de telégrafo (nos Estados Unidos). 1856: patenteamento de um novo processo de produção de aço, que aumen-tava a sua resistência e permitia a produção em escala industrial. 1865: extensão do primeiro cabo telegráfico submarino no leito do Oceano Atlântico, entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos da América. 1869: abertura do Canal de Suez. 1876: invenção do telefone (nos Estados Unidos).1877: invenção do fonógrafo (nos Estados Unidos). 1879: inauguração da iluminação elétrica (nos Estados Unidos). 1885: invenção de um motor a explosão. 1895: invenção da radiotelegrafia (na Itália).

Suécia

Capital: EstocolmoÁrea: 449,96 km²População: 9 milhõesPIB oficial: US$ 431,6 bilhõesPIB per capita: US$ 44,995 mil

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Exportação: US$ 176,5 bilhõesImportação: US$ 157,2 bilhõesTransações comerciais com o Brasil: US$ 1,98 bilhãoSaldo brasileiro: US$ - 714 milhões

Por ser um país pequeno, tanto em termos territoriais quanto populacionais, a Suécia teve que se lançar ao mundo para conseguir se desenvolver. Foi assim que o país de apenas nove milhões de habitantes conseguiu construir um império empresarial que reúne, somente no Brasil, 180 empresas. Nomes como Tetra Pak, Volvo, Scania, Ericsson e Electrolux são apenas alguns exemplos da força dos em-presários suecos.

Apesar de possuir uma relação comercial pequena com o Brasil, principal-mente pelo tamanho do país, a Suécia é a nação nórdica com que temos a relação econômica mais intensa. Os outros países nórdicos são Noruega, Finlândia, Dina-marca e Islândia.

O intercâmbio comercial bilateral cresceu 161% desde 2002, e alcançou US$ 1,98 bilhão em 2007, com saldo negativo para o Brasil de US$ 714 milhões. Entre os principais produtos brasileiros exportados para a Suécia estão: café em grão, sulfe-tos de minério de cobre, álcool etílico e carne bovina desossada. Do outro lado, de maneira geral, as autopeças dominaram a pauta de importações brasileiras.

Entre 2000 e 2006, a Suécia investiu US$ 2,02 bilhões no Brasil. Os negócios e as indústrias suecas no Brasil faturam cerca de US$ 13 bilhões por ano e empregam mais de 30 mil trabalhadores. E esses números podem crescer nos próximos anos.

Segundo estudo realizado pela Câmara de Comércio Sueco-Brasileira, com executivos das 40 maiores empresas suecas com investimentos no Brasil, 62,5% das empresas planejam aumentar a produção; 52,5% pretendem contratar mais empre-gados e 42,5% têm intenção de investir e ampliar os investimentos no Brasil.

CronologiaFormação da União Européia

9 de maio de 1950 Robert Schuman, francês, Ministro dos Negócios Estrangeiros, profere um discurso importante para o avanço das propostas inspiradas nas idéias de Jean Monnet, po-lítico francês que é visto por muitos como o arquiteto da União Européia. Schuman

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propôs que França e Alemanha dispusessem seus recursos de carvão e aço, numa organização aberta aos outros países da Europa. Essa data é conside-rada como o momento do nascimento da União Européia. Anualmente, 9 de maio é comemorado como o Dia da Europa.

18 de abril de 1951 Bélgica, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo e Holanda assinaram, em Pa-ris, o Tratado que institui a Comunidade Européia do Carvão e do Aço (CECA), que entrou em vigor em 23 de julho de 1952, por um período de 50 anos.

1 e 2 de junho de 1955 Reunidos em Messina, na Itália, os Ministros dos Negócios Estrangeiros dos seis países decidiram tornar a integração européia extensiva a toda a economia.

25 de março de 1957 Assinatura em Roma (Itália) dos Tratados que instituiu a Comunidade Eco-nômica Européia (CEE) e a Comunidade Européia da Energia Atômica (Eura-tom), que entraram em vigor em 1 de janeiro de 1958.

4 de janeiro de 1960 Por iniciativa do Reino Unido, a Convenção de Estocolmo criou a Associação Européia de Comércio Livre (EFTA), que reuniu Reino Unido, Portugal, Áus-tria, Dinamarca, Noruega, Suécia e Suíça – países que não tinham aderido à Comunidade Econômica Européia (CEE). A Finlândia foi admitida em 1961, a Islândia em 1970 e o Liechtenstein em 1991.

20 de julho de 1963 Assinado em Yaoundé, nos Camarões, um acordo de associação entre a CEE e 18 países africanos.

8 de abril de 1965 Assinado o Tratado de fusão dos executivos das três Comunidades (CECA, CEE e Euratom). Assim, foi criado um Conselho e uma Comissão únicos. Esse tratado entrou em vigor em 1 de julho de 1967.

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29 de janeiro de 1966 Assinatura do “Compromisso de Luxemburgo”, na seqüência de uma crise política quando a França aceitou retomar seu lugar nas reuniões do Conse-lho. Em troca, pediu a manutenção da regra da unanimidade quando estives-sem em jogo os chamados “interesses nacionais de importância vital”.

1 de julho de 1968 Eliminação completa dos direitos aduaneiros entre os Estados-Mem-bros sobre os produtos industriais. Entrou em vigor, assim, uma pauta aduaneira comum.

1 e 2 de dezembro de 1969 Na Cimeira de Haia (Holanda), os dirigentes políticos da CEE decidiram dar novo impulso ao processo de integração européia, abrindo caminho para o primeiro alargamento.

22 de abril de 1970 Assinado em Luxemburgo um tratado que permitiu que a Comunidade Euro-péia fosse progressivamente financiada por “recursos próprios”. Isso confe-riu maiores poderes de controle da região ao Parlamento Europeu.

22 de janeiro de 1972 Assinados em Bruxelas (Bélgica) os tratados de adesão da Dinamarca, da Ir-landa, da Noruega e do Reino Unido à Comunidade Européia.

1 de janeiro de 1973 Dinamarca, Irlanda e Reino Unido aderem à Comunidade Européia, que pas-sa a ter nove Estados-Membros. A Noruega ficou de fora, na seqüência de um referendo em que o voto majoritário foi desfavorável à adesão.

9 e 10 de dezembro de 1974 Na Cimeira de Paris (França), os líderes políticos dos Nove decidiram se reunir regularmente em um Conselho Europeu, três vezes por ano. Deram, igual-mente, luz verde às eleições diretas para o Parlamento Europeu e acordaram na criação do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional.

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28 de fevereiro de 1975 Assinada em Lomé (Togo) uma convenção entre a CEE e 46 Estados da África, do Caribe e do Pacífico.

22 de julho de 1975Assinado tratado que reforça os poderes orçamentais do Parlamento Euro-peu e cria o Tribunal de Contas Europeu. Esse tratado entrou em vigor em 1 de junho de 1977.

1 de janeiro de 1981 Entrada da Grécia na Comunidade Européia, que passa a ter 10 Estados-Membros.

14 de junho de 1985Assinado o Acordo de Schengen (Luxemburgo), cuja finalidade foi suprimir o controle nas fronteiras entre os Estados-Membros da Comunidade Européia.

1 de janeiro de 1986 Espanha e Portugal aderem à Comunidade Européia, que passa a contar com 12 Estados-Membros.

17 e 28 de fevereiro de 1986Assinado em Luxemburgo e em Haia o Ato Único Europeu, que entrou em vigor em 1 de julho de 1987.

9 e 10 de dezembro de 1991 O Conselho Europeu de Maastricht (Holanda), adotou o Tratado da União Européia, que estabeleceu as bases para uma política externa e de segurança comum, uma cooperação mais estreita nos domínios da justiça e dos assun-tos internos e a criação de uma união econômica e monetária, incluindo uma moeda única.

7 de fevereiro de 1992 Assinado em Maastricht o Tratado da União Européia, que entrou em vigor em 1 de novembro de 1993.

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1 de janeiro de 1993 Criado o mercado interno.

1 de janeiro de 1995 Áustria, Finlândia e Suécia se juntam à União Européia, que passa a ter 15 Estados-Membros. A Noruega fica novamente de fora.

23 de janeiro de 1995Entrou em funcionamento uma nova Comissão Européia (1995-1999), presi-dida por Jacques Santer, político luxemburguês.

27 e 28 de novembro de 1995A Conferência Euro-Mediterrânica de Barcelona (Espanha), criou uma parce-ria entre a União Européia e os países do Sul do Mediterrâneo.

2 de outubro de 1997 Assinado o Tratado de Amsterdã (Holanda), que entrou em vigor em 1 de maio de 1999, com o objetivo de criar um “espaço de liberdade, segurança e justiça”.

30 de março de 1998 Início do processo de adesão dos novos países candidatos – Chipre, Malta e 10 países da Europa Central e Oriental.

1 de janeiro de 1999 Início da terceira fase da união monetária: as moedas de 11 Esta-dos-Membros são substituídas pelo euro, que é introduzido nos mercados financeiros. O Banco Central Europeu passa a ser res-ponsável pela política monetária. A Grécia se juntou a essa política em 2001.

23 e 24 de março de 2000 O Conselho Europeu de Lisboa definiu uma nova estratégia para fomentar o emprego na União Européia: modernizar a economia e reforçar a coesão social numa Europa baseada no conhecimento.

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7 e 8 de dezembro de 2000Em Nice (França), o Conselho Europeu chegou a um acordo sobre o texto de um novo tratado, que reforma o sistema decisório da União Européia na perspectiva do alargamento. Os presidentes do Parlamento Europeu, do Con-selho Europeu e da Comissão Européia proclamam solenemente a Carta dos Direitos Fundamentais da União Européia.

26 de fevereiro de 2001 Assinatura do Tratado de Nice, que entrou em vigor em 1 de fevereiro de 2003.

14 e 15 de dezembro de 2001O Conselho Europeu de Laeken (Bélgica) adotou uma declaração sobre o futuro da União Européia, que abriu caminho para a próxima grande reforma do bloco, e convocou uma Convenção para preparar uma Cons-tituição Européia.

1 de janeiro de 2002 Entrada em circulação das cédulas e moedas de euro nos 12 países da área.

13 de dezembro de 2002O Conselho Europeu de Copenhague (Dinamarca) decidiu que 10 dos países candidatos (Chipre, Eslováquia, Eslovênia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituâ-nia, Malta, Polônia e República Tcheca) poderiam aderir ao bloco em 1 de maio de 2004.

10 de julho de 2003 A Convenção sobre o futuro da Europa adotou um projeto de Constituição Européia e conclui os seus trabalhos.

4 de outubro de 2003Abertura da Conferência Intergovernamental encarregada de redigir o Trata-do Constitucional.

1 de maio de 2004

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Chipre, Malta, República Tcheca, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Polônia, Eslováquia e Eslovênia aderem à União Européia, totalizando 25 países-membros.

29 de outubro de 2004A Constituição Européia foi adotada em Roma (Itália), sujeita a posterior rati-ficação pelos Estados-Membros.

22 de novembro de 2004Entra em função uma nova Comissão Européia, presidida por José Manuel Barroso, político português.

29 de maio e 1 de junho de 2005 Rejeição da Constituição da União Européia por referendo na França e nos Países Baixos.

3 de outubro de 2005Abertura das negociações de adesão da Turquia e da Croácia.

1 de janeiro de 2007 A Bulgária e a Romênia aderem à União Européia, totalizando 27 países-membros. E a Eslovênia passa a integrar a área do euro.

13 de dezembro de 2007Assinatura do Tratado de Lisboa, que substitui a Constituição Euro-péia de 2004. O Tratado confere à União Européia personalidade jurí-dica própria para assinar acordos internacionais em nível comunitário. Além disso, nomeou o Alto Representante para a Política Exterior e de Segurança Comum da União Européia e estabeleceu a aplicação formal da dupla maioria a partir de 2014.

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Papa João Paulo II, 1980.

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Papa Bento XVI, 2007.

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O Brasil no Oriente Médio

Antes de tudo, temos que definir bem o que é o Oriente Médio. Igual a uma salada de frutas, é costume misturar tudo como se fosse a mesma religião, o mesmo povo e a mesma cultura. Ao fazer isso, nos enganamos ao perceber que nessa região há profundas divi-

sões religiosas, diferentes culturas e geografias tão distintas que nem mesmo o grande clássico da literatura, o livro de origem árabe, As Mil e Uma Noites, conseguiu imprimir. Então, vamos à definição.

A região é composta por um número imenso de países. Países como o Irã são completamente diferentes de outros mais conhecidos como “países árabes”. A ori-gem destes é distinta daquele, que é persa. As mesmas dúvidas surgem em relação à Turquia. É um país ocidental ou oriental? Uma resposta é certa: os turcos são tudo, menos árabes.

Portanto, prefiro não me referir à região chamando-a de Oriente Médio. Pre-firo ver os conflitos pontualmente, cada um com suas peculiaridades. As diversas condições de todos esses países têm de ser respeitadas. Mas para aqueles que pre-

As diferentes faces do Oriente Médio

Capítulo IV:

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ferem chamar a região de Oriente Médio, como farei ao longo deste capítulo, é im-portante lembrar que este é um conceito cartográfico.

Uma das primeiras civilizações e berço do judaísmo, cristianismo e isla-mismo, a região do Oriente Médio tem uma longa história, trágica e fascinan-te. Para quem gosta de temas históricos, vale a pena ler mais sobre as terras do Médio Oriente.

Veremos abaixo a história atual e as trocas comerciais que alguns países des-sa “temida” região vêm realizando com o Brasil. Estereótipos de lado, veremos que o Oriente Médio é um verdadeiro oásis.

Iraque, país que caminha para a estabilidade

Momentos de muita crise marcam e marcaram este país rico em petróleo. Porém, prefiro tratar do Iraque, inicialmente, com alguns fatos históricos que con-sidero o motivo da realidade atual do país. Saddan Hussein, que governou o Iraque de 1979 a 2003, provocou o distanciamento do país do mundo na compensação da guerra contra o Irã, de 1980 a 1988. Isso debilitou os dois países. Ainda, nada foi decidido do ponto de vista territorial, político ou econômico, além das baixas sofridas, que somam mais de 1,5 milhão, de pessoas durante o conflito. E, por trás da guerra, havia potências interessadas no desgaste de ambos os países, motivadas pelo petróleo, como Estados Unidos e Rússia. Assim, vamos recordar o que aconte-ceu nessa época e depois:

A Primeira Guerra do Golfo, conhecida como Guerra Irã-Iraque, começou em 1980, quando Saddam Hussein revogou o Tratado de Argel, firmado em 1975, no qual cedia 518 quilômetros quadrados de sua área ao Irã, liderado desde 1979 pelo Aiatolá Khomeini, líder da Revolução Islâmica. Em troca, o país cessaria a assistên-cia militar à minoria curda no Iraque, que lutava pela independência.

Em 1988, o Conselho de Segurança da ONU exigiu um cessar-fogo. O Iraque, que desde antes já havia proposto uma trégua, aceitou, porém, o Irã continuava a retaliação à ofensiva iraquiana. Teerã só aceitou o cessar-fogo depois de notar que sua economia estava totalmente abalada. Assim, resumidamente, o acordo de paz se deu no dia 15 de agosto.

Dois anos mais tarde, em 1990, o Iraque finalmente aceitou o acordo de Argel, que estabelecia as mesmas fronteiras com o Irã de antes da guerra. Em setembro, os países restabeleceram relações diplomáticas.

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Não temos certeza das verdadeiras razões que teriam levado o Iraque a in-vadir seu vizinho. Não sabemos se a ação teria sido motivada pela elite sunita, pelo desejo de evitar que a ideologia de Khomeini se espalhasse pelo Oriente Médio ou simplesmente por puro expansionismo oportunista. Hoje, curiosamente, quem dá apoio ao Irã é a Rússia, o segundo maior produtor de petróleo do mundo

Já na Segunda Guerra do Golfo, o Iraque invadiu e anexou o Kuwait, afirman-do que este frustrava os desejos iraquianos na Organização dos Países Exportado-res de Petróleo (Opep) de diminuir a produção para aumentar o preço do barril no mercado internacional. Ao final da guerra, vencido pelos aliados ocidentais (grupo liderado pelos EUA), Saddam Hussein teve que aceitar o embargo econômico impos-to pela ONU. Quem sofreu com isso foi a população.

Depois da Terceira Guerra do Golfo – como muitos assim chamam a guerra contra o Iraque promovida pelos Estados Unidos, em 2003 – acredito que o país esteja caminhando para a estabilização. É claro que não devemos desconsiderar o fato de que as insurgências terroristas existem, e existirão por um bom tempo, até que a polícia iraquiana seja capaz de coordenar a segurança nacional sem o auxílio de potências externas. O país vai se desenvolver, e muitas oportunidades existem atualmente, principalmente na área de construção. Mas tal desenvolvimento tem que ser guiado por um sistema democrático.

Exportações brasileiras para o Iraque

Desde o início da guerra contra os Estados Unidos, em 2003, as exportações brasileiras para o Iraque sofreram grande queda. Foi apenas em 2006 que o comér-cio entre os dois países voltou a se estabilizar. Em 2007, as exportações brasileiras para o Iraque somaram US$ 153 milhões, representando um aumento de 206% em relação a 2005, quando o Brasil havia exportado US$ 50 milhões. Enquanto isso, as importações, no mesmo ano, aumentaram 14,2% ao subirem de US$ 522,52 mi-lhões (2005) para US$ 596,65 milhões. Com isso, o saldo comercial deficitário para nós foi de US$ 443,7 milhões.

Segundo estatísticas do Euromonitor, em 2005 o Iraque teve como principais países fornecedores: Turquia (23,2%), Síria (23%), Estados Unidos (11,6%), Jordânia (5,2%) e China (3,5%). Já os principais mercados compradores de produtos iraquia-nos, em 2005, foram: Estados Unidos (51,2%), Itália (10,7%), Espanha (6,5%), Cana-dá (5,8%) e Brasil (3,8%).

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Em relação ao Brasil, os principais produtos exportados para o Iraque em 2006 foram: açúcar, beterraba ou sacarose química pura (83,7%); preparações ali-mentícias e conservas de bovinos (5,06%); transformador de dielétrico líquido, com potência maior que 10.000 KVA (4,65%); frango (2,05%); chassis com motor a diesel, com capacidade de carga maior que 20t (0,8%); tratores rodoviários para semi-reboque (0,64%); pedaços e miudezas comestíveis de frango (0,41%) e carnes desossadas de bovino (0,36%).

Oportunidades para o Brasil

Setores que têm o Iraque como mercado-alvo, segundo o SIGEOR APEX-Brasil:

Alimentos, Bebidas e Agronegócio• ABEF – Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango;• ABIEC – Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne.

Máquinas e Equipamentos• BE – Brazilian Bakery Equipment;

Casa e Construção Civil• ABIROCHAS – Associação Brasileira da Indústria de Rochas Ornamentais.

Oportunidades identificadas

Abaixo estão os setores cujos produtos são amplamente importados pelo Ira-que e apresentam potencial de incremento das exportações brasileiras, visto que o Brasil já exporta esses produtos para outros mercados:

Alimentos, Bebidas e Agronegócio• Leite e laticínios, ovos, mel e outros;• Açúcares e produtos de confeitaria;• Bebidas alcoólicas e vinagre;• Preparações à base de cereais, farinhas e amidos;• Produtos hortícolas e raízes comestíveis;• Carnes e miudezas comestíveis;

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• Adubos ou fertilizantes;• Preparações alimentícias diversas;• Resíduos e desperdícios da indústria alimentícia; alimentos para animais;• Frutas, cascas de cítricos e de melões;• Preparações de produtos hortícolas, frutas ou plantas.

Máquinas e Equipamentos• Máquinas e materiais elétricos, aparelhos de som, imagem, televisão e acessórios;• Veículos automóveis e outros terrestres, partes e acessórios;• Máquinas, equipamentos e instrumentos mecânicos;• Aeronaves e aparelhos espaciais;• Obras de ferro e aço;• Plásticos e suas obras;• Armas e munições;• Papel, cartão e obras de pasta de celulose;• Alumínio e suas obras;• Aço e ferro fundido;• Livros, jornais e produtos gráficos;• Borrachas e suas obras.

Tecnologia e Saúde• Artigos e equipamentos médico-odontológicos e hospitalares;• Produtos farmacêuticos;• Produtos da indústria química.

Moda• Sabões, produtos de limpeza e outros;• Vestuário;• Outros artefatos têxteis, chapéus, calçados etc.;• Pérolas, pedras preciosas ou semipreciosas, metais, bijuterias e moedas;• Óleos, produtos de perfumaria e preparações cosméticas.

Casa e Construção Civil• Móveis, mobiliário médico-cirúrgico; colchões, almofadas e semelhantes;

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• Sal, enxofre, terra, gesso, pedra, cal e cimento;• Obras de pedra, gesso ou matérias semelhantes;• Madeira e obras de madeira;• Ferramentas e artefatos cortantes e talheres;• Vidro e suas obras;• Produtos cerâmicos.

Outros• Cereais;• Gorduras, óleos e ceras de origem animal e vegetal;• Combustíveis, óleos e ceras minerais;• Produtos químicos inorgânicos e compostos.

Arábia Saudita

O Reino da Arábia Saudita, com 27,6 milhões de habitantes e 2,15 mi-lhões de quilômetros quadrados, é o maior país da Península Arábica, situada no Médio Oriente. O país é o principal exportador de petróleo do mundo e tem as maiores reservas. De acordo com a Câmara Árabe no Brasil, a indústria petrolífera representa 35% do Produto Interno Bruto (PIB) saudita, 75% das receitas do governo e 85% das exportações.

Assim, como já é de conhecimento de todos, a extração e exportação do pe-tróleo constituem a atividade econômica mais importante, sendo a Arábia Saudita o maior produtor da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP), com média de 9 milhões de barris por dia (dezembro, 2007).

Contudo, atualmente o país é também um grande produtor de trigo. Produ-tos como tâmara, tomate, melancia, cevada, uva, pepino, abóbora, berinjela, batata, cenoura e cebola são também culturas importantes.

Comércio com o Brasil

Para termos uma idéia geral das negociações que estão em desenvolvimento no âmbito bilateral, o comércio entre os dois países, em 2007, ficou em US$ 3,2 bi-lhões, dos quais US$ 1,7 bilhão foi de exportações sauditas ao Brasil e US$ 1,5 bilhão de vendas brasileiras ao país árabe.

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A Arábia Saudita e o Brasil são economias complementares, e acre-dito que o volume de negócios pode crescer muito devido ao potencial das duas economias, pois a Arábia Saudita é a maior economia no Orien-te Médio, e o Brasil é o país mais rico da América do Sul. Ambos estão interligados por meio de uma profunda relação econômica. Porém, acre-dito que o investimento e a cooperação entre os dois ainda não atingiu o nível esperado. É possível fazer mais.

Entre os principais produtos que o Brasil já exporta para os sauditas estão aeronaves, carne de frango, minério de ferro e açúcar. Mas avalio que este país-parceiro, como gosto de chamar, tem potencial para vender mais petroquímicos para o Brasil, e comprar dos brasileiros desde maqui-nários até automóveis, produtos elétricos, como cabos, e alimentos.

Para brasileiro ver (e aproveitar)

A Arábia Saudita tem uma economia crescente. O país saltou de um PIB de US$ 188,5 bilhões em 2002 para US$ 347 bilhões em 2007. Em porcentagem, em 2002, o crescimento do PIB foi de 3%. Em 2007 foi de 13%. O país já se situa entre as 20 maiores economias do mundo.

Mesmo que grande parte do desenvolvimento do país esteja ligada ao petróleo, a Arábia Saudita também está investindo em outros setores e exportando outros tipos de produtos. Vejamos: as exportações não-petrolíferas saíram de US$ 6,3 bilhões, em 2000, para US$ 21 bilhões em 2006. Os principais compradores são os Emirados Árabes Unidos, a China, o Kuwait e Cingapura. Entre as mercadorias vendidas estão: pro-dutos elétricos, papéis, produtos médicos, artigos de limpeza, aço, tubos plásticos, ar-condicionado, vidro, cabos, tapetes, sistemas de irrigação, alimentos e cobre.

Além disso, com pesado investimento na casa dos US$ 100 bilhões, foram criadas duas cidades com o objetivo de reduzir a dependência do país do petróleo, Jubail e Yanbu. Atualmente, cerca de 250 empresas estão em operação nessas cidades. Além destas, há outras 93 em cons-trução, e 83 em projeto. Nesses locais estão situadas desde refinarias e siderúrgicas, até indústrias de plástico e indústria leve, para acabamen-to de produtos.

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“Ouro” no deserto

Entre janeiro e outubro de 2007 a Arábia Saudita figurou como principal mer-cado e maior fornecedor do Brasil no mundo árabe. As exportações para lá ren-deram US$ 1,5 bilhão. Os itens de maior procura foram: frango, minério de ferro, açúcar, carne bovina e farelo de soja.

As importações somaram US$ 1,7 bilhão, uma redução de 2,7% em relação ao mesmo período de 2006. Os principais itens importados pelo Brasil foram petróleo, propano liquefeito, óleo diesel, resíduos de alumínio e enxofre.

Como podemos notar, a participação brasileira ainda é pequena na balança comercial saudita. Só para se ter uma idéia, o país exportou o equivalente a US$ 207,8 bilhões em 2006 e importou US$ 64,16 bilhões, segundo estimativas da Eco-nomist Intelligence Unit (EIU), serviço de análise econômica da revista britânica The Economist. Ou seja, nossa parte no montante importado equivale a 2,65%.

Emirados Árabes Unidos

Abu Dhabi, um mercado promissor

Menos de 50 anos atrás, o emirado (o equivalente a cidade) de Abu Dhabi era um deserto inóspito, habitado por tribos de beduínos e pontuado por peque-nos vilarejos. A empreitada inicial em direção à proeminência econômica, inicial-mente, foi resultado do cultivo de peras. Mas a recessão global desse mercado, e o desenvolvimento da agroindústria no Japão, puseram um fim à bonança e relegaram Abu Dhabi à posição de emirado mais pobre. A virada veio com a des-coberta de grandes reservas de petróleo em alto-mar, em 1958, e a subseqüente ascensão do xeque Zayed.

Hoje, suas caras avenidas estão tomadas pelo tráfego pesado, e a cidade in-teira está embarcando num processo de desenvolvimento sem precedentes, junto com a vizinha Dubai.

Abu Dhabi possui, atualmente, reservas de US$ 1,5 trilhão, dentro dos fundos soberanos. Em contraponto a isso, o xeque Zayed, da família do fundador do país, manteve o objetivo de fazer de Abu Dhabi uma cidade verde e, hoje, é um exem-plo de preservação ecológica para todos. Ainda, está construindo três museus: o Louvre, num projeto do arquiteto francês Jean Nouvel; o Guggenheim, projetado

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por Frank Gehry, além do belíssimo Museu Marítimo concebido pelo japonês Tadao Ando. A ambição é transformar esse antigo pedaço do deserto, hoje verde, no maior centro cultural do Oriente Médio e um dos mais importantes do mundo.

Além disso, o emirado tem investimentos importantíssimos na Índia e no Paquistão, assim como em Montenegro, Sérvia, Croácia, Marrocos e nos países da África Meridional e África Negra.

Dubai

Originalmente, Dubai era uma aldeia de pescadores e coletores de pérolas. A cidade, que já foi domínio de Abu Dhabi até 1833, é hoje o segundo maior emirado dos Emirados Árabes Unidos, com cerca de 1,5 milhão de habitantes. Diz-se que o emirado possui 30% dos guindastes de construção do mundo. Uma piada um pou-co exagerada? Não sei, mas alguns dados nos ajudam a analisar.

Em 2007, o setor petrolífero representava pouco mais de 5% da economia do emirado, enquanto o turismo, o setor mais atuante e que tem aumentado sua participação na economia, foi responsável por 33%.

Ainda, a maior parte da riqueza gerada provém da Zona Franca Jebel Ali, onde se localiza o porto de Dubai, 13o mais movimentado do mundo. Empresas multinacionais gozam de vantajosas isenções comerciais e fiscais.

Dessa maneira, podemos perceber que as cidades de Dubai e Abu Dhabi se-rão certamente pontos turísticos promissores, senão pela beleza natural, pela be-leza construída. Além disso, serão focos de industrialização do alumínio, do vidro e do aço, uma zona industrial muito importante.

Turquia

País que possui uma posição importante na Liga Árabe, a Turquia vive cons-tantemente com um problema sério com os curdos. De acordo com o CIA Factbook, o povo curdo representa 20% dos 70 milhões de habitantes da Turquia, ou seja, cer-ca de 15 milhões de pessoas –predominantemente distribuídas no sudeste do país. O ponto crítico dessa questão foi o ano de 1923, quando o Tratado de Lausanne, que encerrou o domínio Otomano da região e reconheceu a República da Turquia, não mencionou os curdos entre as etnias da nação.

Dessa maneira, a existência dos curdos na Turquia foi oficialmente negada, e

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qualquer expressão de identidade étnica, duramente reprimida. Até 1991, o uso da língua curda era ilegal.

Entender a situação curda na Turquia é muito importante para compreen-dermos a realidade do país. Ao longo dos anos, atuando como empresário e inter-mediador de negócios, percebi que antes de realizar negócios devemos entender o nosso interlocutor pela sua realidade histórica.

Economicamente, a Turquia possui um misto complexo de indústria e co-mércio modernos e um setor agrícola tradicional, o qual é responsável por 35% da empregabilidade do país (2007). Ainda, o setor privado é ativo e forte, porém, o Governo desempenha um papel central nas indústrias de base, financeira, de trans-porte e de comunicação.

Depois das reformas econômicas do biênio 2002-2003, o país começou a recu-perar as perdas da década anterior, e cresceu num ritmo médio de 7,5% entre 2002 e 2005. Em 2007 o PIB turco foi de US$ 667 bilhões (medidos pelo poder de paridade de compra). Isso é resultado dos crescentes investimentos estrangeiros diretos, que em 2006 foram de US$ 9,2 bilhões, e das privatizações promovidas para dar mais dinamismo à economia.

Além disso, a potencial adesão à União Européia fez com que os empresá-rios de todo o mundo, e principalmente europeus, tentassem compreender o país. Encontramos opiniões divergentes em todas as mídias e veículos de comunicação. De um lado, alguns afirmam que a entrada da Turquia na UE drenaria os recursos comunitários. Mas assim foi com Portugal – e é nítido que isso mudou o país e a própria comunidade. Além disso, a população turca tende a ser a mais populosa do bloco. Isso rompe o equilíbrio de poder dentro da Europa. Finalmente, outro ponto em pauta é que a Turquia é um país situado na Eurásia. Então, até onde iria a Europa?

Dúvidas à parte, sabemos que essa é uma questão de difícil resposta. Mas temos que continuar acompanhando, pois qualquer decisão a esse respeito afeta o nível dos negócios em andamento, seja para o bem ou para o mal.

A relação comercial entre o Brasil e a Turquia

Nesse campo, o Brasil tem levado vantagem no que tange ao superávit nas transações comerciais. Em 2006, o saldo brasileiro foi de US$ 444 milhões, de um total comercializado entre os dois países de quase US$ 735 milhões. À primeira vis-

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ta, parece que o Brasil só leva vantagem, mas as importações brasileiras em relação à Turquia, entre 2005 e 2006, cresceram 34,4%. Isso é seis vezes o crescimento das exportações no mesmo período, de 5,5%.

Do lado brasileiro, cerca de 35% dos produtos exportados para a Turquia figu-ram entre motocompressor hermético, minério de ferro, grãos de soja, fumo e óleo de soja. Do lado contrário, cerca de 30% dos produtos turcos importados pelo Brasil são avelãs, acessórios de carrocerias para automóveis e fumo.

Apesar da tímida relação entre Brasil e Turquia, os dois países têm grande potencial de expansão nos negócios. Nos últimos dez anos, entre 1996 e 2006, o comércio bilateral cresceu 189%, de US$ 289 milhões para US$ 735 milhões.

Israel e a relação com o Mercosul

Diferentemente do que escrevi em relação à Turquia, sobre Israel não colo-carei pontos históricos na minha análise, pois este é um terreno complexo, que acompanhamos todos os dias na mídia internacional. Assim, vou focar na relação econômica entre Israel e o Mercosul. Não tratarei exclusivamente do Brasil, pois o Acordo de Livre Comércio, firmado em dezembro de 2007, não permite atuarmos no campo bilateral.

A nação israelense tem uma longa tradição de acordos comerciais e grande abertura de mercado. Cerca de 70% do comércio exterior de Israel é realizado com isenção aduaneira, em virtude de um sistema amplo de acordos comerciais. Assim, não devemos nos espantar com o ocorrido.

O mais importante é que este é o primeiro acordo de livre-comércio do blo-co fora da América Latina, apenas o primeiro passo. Isso significa uma bem-vinda abertura comercial entre as nações envolvidas e o fortalecimento dos laços entre estes países.

Para Israel, sem dúvida, é um importante passo para o desenvolvimento de uma base comercial com a região sul-americana. Além disso, cria proximidade ao BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China).

O acordo que cobrirá o comércio entre Israel e o Mercosul envolve aproxima-damente US$ 1,1 bilhão. Desse montante, o Brasil participa com exportações na ordem de US$ 261 milhões (2006). As importações brasileiras circulam na casa dos US$ 458 milhões. O somatório desses valores equivale a 65% do total comercializa-do do bloco com Israel.

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Dessa maneira, espero que esse acordo contribua significativamente para o fortalecimento do Mercosul no campo comercial, e que traga bons negócios para o Brasil.

Jordânia e o problema com a água

Conforme coloquei no título, a Jordânia, país pequeno e com recursos naturais bastante limitados, tende a ter um problema muito sério com a água. As condições climáticas e a disponibilidade de água são os fatores que determinam a distribuição da população nesse país, concentrada nas proximidades do Lago Tiberíades, do Mar Morto e ao longo do Rio Jordão.

O Mar Morto, situado na fronteira entre a Jordânia e Israel, pode entrar em estado alarmante se alguma medida não for tomada com urgência para remediar a previsão de redução de suas águas devido à falta de chuvas. O “Mar de Sal”, como é conhecido na Bíblia, é um dos lugares mais inóspitos do planeta, com temperaturas que no verão superam os 40 ºC à sombra.

Além disso, a dificuldade na distribuição de água é um dos maiores proble-mas do país. Atualmente, um litro de água custa mais que 1 litro de petróleo nessa região. O Brasil poderia aproveitar e auxiliar os jordanianos com seu problema hí-drico. Esta é uma oportunidade à vista.

O ouro negro e o mundo

Descoberto no início do século XX (a primeira exploração data de 1909, no Irã), o petróleo se tornou um dos mais importantes elementos da econo-mia mundial. Além de ser usado como combustível, outros derivados fazem desta commodity base da economia de muitos países, sendo alvo de cobiça e sinal de riqueza.

Mas foi apenas em 1960, com o objetivo de organizar e fortalecer os países produtores de petróleo, que foi criada a Organização dos Países Expor-tadores de Petróleo (Opep). Os atuais países-membros são: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Irã, Catar, Kuwait, Iraque, Líbia, Gabão, Indonésia, Nigéria, Equador, Venezuela e Argélia. Em 1968, foi criada a Opaep (Organiza-ção dos Países Árabes Exportadores de Petróleo), com o objetivo de defender os interesses referentes à nacionalização das companhias estrangeiras.

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Dessa maneira, o Oriente Médio assumiu o posto de principal re-gião produtora de petróleo do mundo, tornando-se objeto de rivalidades e conflitos internacionais. Ali estão os principais lençóis petrolíferos do planeta. Porém, a exploração desse recurso está voltada basicamente para o abastecimento do mercado externo. Esse fato decorre das carac-terísticas econômicas desses países que, não sendo regiões industriais, não apresentam demanda interna que utilize toda essa matéria-prima.

Como esses países são produtores e exportadores de um produ-to essencial à manutenção do desenvolvimento e equilíbrio econômico mundial, eles possuem um grande poder de barganha nas negociações políticas e econômicas. Dessa maneira, levar uma relação próxima com a região é importante.

E o Brasil?

Nosso país está na metade do caminho a ser seguido, no que tange ao campo comercial com os países do Oriente Médio. Atualmente, exportamos quantias irri-sórias para a região. Porém, sua população tem grande potencial para consumir os produtos brasileiros, principalmente no setor de construção e alimentício.

Um ponto contra nós é o fato de que ainda não possuímos um centro de distribuição no Oriente Médio. Apesar disso, algumas empresas brasileiras, como a Sadia e a Odebrecht, estão lá. Tenho certeza de que outras irão, pois durante as minhas visitas à região, com acompanhamento dos meus sócios, temos levado os interesses brasileiros para muitos dos países desta terra complexa e instigante.

Precisamos fazer uma plataforma de serviços em Dubai e Abu Dhabi. Eu aconselho que fiquemos de olho neste mundo de mil e uma oportunidades, pois o Oriente Médio tem condições de multiplicar as exportações brasileiras.

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Intercâmbio Comercial Brasil e Oriente Médio (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais

2001 2.030,018 1.471,192 558,826 3.501,2112002 2.331,325 1.430,465 900,860 3.761,7902003 2.806,788 1.625,578 1.181,211 4.432,3662004 3.688,723 2.314,927 1.373,796 6.003,6512005 4.288,485 2.509,618 1.778,867 6.798,1032006 5.749,228 3.165,031 2.584,197 8.914,2592007 6.399,444 3.205,661 3.193,783 9.605,105 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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Saadi Muammar Kadhafi, 2003.

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O Brasil na África

A África é, muitas vezes, vista como se fosse um só país. Mas a realidade é que seus 53 países apresentam uma enorme diversidade social, econô-mica e cultural. Do Magreb Muçulmano à África do Sul, as disparidades resultam em intricadas questões que envolvem guerras tribais, explora-

ção dos recursos naturais e interesses estrangeiros. E há também países que têm problemas crônicos de estabilidade política e outros que não tinham, mas que estão tendo, como o Quênia. Já o Congo, por exemplo, sempre teve problemas, mas possui uma reserva mineral tão importante, que a instabilidade vai persistir até que se chegue a um entendimento interno.

Porém, acredito que a África vai superar seus problemas. Com a procura pela energia verde e de alimentos, o continente terá, nos próximos 50 anos, um cresci-mento equilibrado e um peso na ordem mundial muito específico e mais nivelado. Não podemos esquecer que a África é um continente que ajudou as grandes metró-poles do mundo a se consolidarem.

Nos dias atuais, o que não falta são exemplos de países africanos com eco-

África: diversidade, crescimento e perspectivas de um futuro melhor

Capítulo V:

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nomias em franco crescimento, como Angola. A Líbia está investindo em sua economia, e países como a África do Sul têm condições extraordinárias para continuar crescendo, com um conteúdo de inovação muito importante, se-melhante ao do Brasil, e uma indústria bélica e aeronáutica poderosa. Todos esses países têm sol, água, calor, mão-de-obra, minério e base agrícola. O que falta é educação, saúde e logística.

África e Brasil, de laços históricos a parceiros econômicos

Cerca de metade da população brasileira é afro-descendente, resultado da mistura de raças entre negros africanos trazidos ao Brasil como escravos pelos por-tugueses durante o período colonial e os brancos. Em termos geográficos, o con-tinente africano também fica relativamente perto do Brasil, mas mesmo assim a aproximação diplomática com os países do outro lado do Atlântico só começou a ocorrer de fato nos anos 1960, com a Política Externa Independente dos presidentes Jânio Quadros e João Goulart (1961-64) e a Diplomacia da Prosperidade do General Médici (1969-74). Mas uma aproximação mais ousada mesmo aconteceu durante o governo de Ernesto Geisel, quando o Brasil condenou oficialmente o Apartheid Sul-africano e reconheceu o governo marxista do Movimento Popular para a Libertação de Angola (MPLA).

Também é dessa época a criação de uma entidade de apoio ao comércio bi-lateral entre Brasil e África, a Câmara de Comércio Afro-Brasileira (CCAB). cujo ob-jetivo é promover a cooperação das entidades congêneres nos respectivos países e desenvolver esquemas informativos sobre mercadorias, tarifas, direitos e isenções aduaneiras, câmbio, navegação, tratados comerciais, legislação e jurisprudência relacionadas ao convênio bilateral. Além disso, essa entidade pretende promover, organizar ou participar de congressos, seminários, simpósios, conferências, feiras, exposições e reuniões, assim como formular proposições e elaborar programas vi-sando ao aperfeiçoamento das trocas comerciais entre o Brasil e a África

Dessa maneira, o novo foco da diplomacia brasileira refletiu nos números do comércio com a África. Entre 1973 e 1974, as exportações brasileiras tiveram um crescimento de 129,1%, passando de US$ 190 milhões para US$ 435 milhões. Mas esse boom nas transações com os países africanos, infelizmente, não durou muito tempo. A mudança do cenário internacional nos anos 1980 freou a parceria comercial que ganhava força até então. A dívida externa, os golpes de Estado e os

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Intercâmbio Comercial Brasil e África (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais 2001 1.989,031 3.330,950 -1.341,918 5.319,9812002 2.363,341 2.675,613 -312,272 5.038,9532003 2.862,004 3.291,175 -429,171 6.153,1792004 4.247,699 6.183,473 -1.935,774 10.431,1722005 5.981,354 6.656,665 -675,311 12.638,0182006 7.455,879 8.110,811 -654,932 15.566,6912007 8.578,222 11.333,580 -2.755,359 19.911,802 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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rigorosos programas de ajuste fiscal do FMI limitaram a capacidade de crescimento de muitas economias africanas, e as exportações brasileiras para a África começa-ram a declinar a partir de 1982.

Se nos anos 1980 a conjuntura internacional foi a grande responsável pelo desaquecimento das relações comerciais Brasil-África, nos anos 1990 os governos de Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso voltaram seus me-canismos de diplomacia às relações com os EUA, a Europa e o Mercosul (Mercado Comum do Sul), relegando a África a um segundo plano. Assim, em 1996 as expor-tações brasileiras para o continente representavam apenas 3,2% do total exportado pelo país, contra quase 8% em 1985.

No governo do presidente Lula, no entanto, uma série de viagens à África vem mostrando que o foco do Itamaraty pode estar novamente no “continente-irmão”. Desde 2003 até o presente, o presidente Lula já esteve em São Tomé e Prín-cipe, Angola, Moçambique, Namíbia, África do Sul, Egito, Líbia, Gabão, Cabo Verde, Camarões, Nigéria, Gana, Guiné-Bissau, Senegal, Argélia, Benin, Botsuana, Burquina Fasso e Congo. Durante as viagens, o presidente mostrou interesse em acordos com blocos comerciais como a Comunidade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC). Embora o Brasil ainda importe mais do que exporta para a África como um todo, o comércio bilateral com o continente passou de pouco mais de US$ 520 milhões, em 2005, para US$ 1,5 bilhão em 2006.

Angola: após a barbárie, a bola da vez

Como já destaquei, Angola é hoje um exemplo para o mundo. Com um crescimento de cerca de 22% ao ano desde o final da guerra civil, o país está criando reservas e produzindo US$ 1,27 bilhão em diamantes – os mais pro-curados do planeta. Mas quem lê sobre esta pujança econômica pode não acreditar que há pouquíssimo tempo a realidade de Angola era tão sangrenta quanto a de muitas outras nações africanas.

Ao invés de um tempo de paz e crescimento, o que se seguiu depois da inde-pendência de Portugal em 1975 foi uma guerra civil que deixou cerca de meio mi-lhão de mortos, um dos maiores contingentes de mutilados do planeta e a infra-es-trutura do país arrasada. E é no contexto da reconstrução desse país de 16 milhões de habitantes que as relações comerciais com o Brasil ganham cada vez mais força. Empresas brasileiras como as construtoras Norberto Odebrecht, Camargo Corrêa e

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Queiroz Galvão têm participado de dezenas de obras públicas e privadas no país; e em 2007 a Petrobras decidiu tornar prioritários os investimentos por lá.

A presença brasileira na superaquecida economia angolana chegou a tal ponto que recentemente a Associação dos Empresários e Executivos Brasileiros em Angola (Aebran) calculou que a participação das companhias brasileiras no PIB angolano já está em US$ 5 bilhões, cerca de 10% do total. E nem só de empresas gigantes vivem os cerca de 25 mil brasileiros que apostaram no renascimento de Angola. Essas pessoas comandam, ou estão empregadas em redes de restaurantes, confecções populares e até em uma construtora com uma divisão especializada em desativar minas terrestres. E tudo indica que os investimentos brasileiros em Angola continuarão a todo vapor, já que em 2007 o Banco Nacional de Desenvolvi-mento Econômico e Social (BNDES) decidiu abrir uma linha de crédito para financiar a aquisição de bens e serviços por empresas brasileiras no país africano. Além disso, as relações comerciais entre Brasil e Angola não são de mão única: as exportações provenientes de lá para o Brasil têm ficado em torno de US$ 460 milhões ao ano.

O ouro negro jorra em Angola

Outro exemplo é a Petrobras. Uma das razões para esta empresa ter, decidi-damente, voltado os olhos para Angola é o enorme potencial do país para a riqueza mais cobiçada do planeta, o petróleo. Desde que o país começou a se reerguer da guerra civil, vem ameaçando a liderança histórica da Nigéria como maior produtor de petróleo do continente. Para isso, Angola precisa ultrapassar a marca dos dois milhões de barris produzidos ao dia, façanha possível, dados os esforços do país nessa área ao longo dos últimos cinco anos.

A questão que se coloca é se tal riqueza vai trazer benefícios para a popula-ção local ou, como quase sempre acontece na África, sumir em meio à corrupção e disputa pelo poder. A própria Nigéria é um exemplo que não deve ser seguido por Angola. Apesar de figurar entre os maiores produtores de petróleo do mundo há 50 anos, o país não conseguiu tirar a maioria de sua população da pobreza extrema. Além disso, acidentes com dutos de petróleo têm vitimado centenas de pessoas e suas refinarias são tão decrépitas, que muitas vezes o petróleo local precisa ser refinado fora do país.

O mesmo desafio está posto, talvez em medida diferente, em relação aos dia-mantes. Angola pretende aumentar sua produção do minério dos atuais 9 milhões

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Intercâmbio Comercial Brasil e Angola (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais

2001 142,009 174,837 -32,828 316,8462002 199,562 11,629 187,933 211,1922003 235,469 7,552 227,918 243,0212004 357,151 3,581 353,570 360,7312005 521,327 120,231 521,207 521,4472006 837,779 459,500 378,279 1.297,2782007 1.218,236 944,790 273,446 2.163,025 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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para 10 milhões de quilates em 2008, só que para isso precisa tomar medidas para que não se transforme em mais um palco de filmes como “Diamante de Sangue”, que mostra a violência causada pela busca desenfreada por diamantes na África. A criação da Sociedade de Comercialização de Diamantes de Angola (Sodian), em 1999, e a formalização da Associação dos Países Africanos Produtores de Diamantes (ADPA), em uma cerimônia em Luanda em 2006, podem mostrar que Angola está no caminho certo.

África do Sul, as relações com o “Brasil Africano”

Se com Angola o Brasil tem em comum traços culturais tão importantes quanto a língua, com a África do Sul são as condições socioeconômicas e geográficas que aproximam a realidade dos dois países. Apesar de bem maior que a África do Sul, o Brasil tem clima parecido, um nível de industrialização semelhante e, assim como o país africano, lidera um bloco comercial regional, o SACU (União Aduaneira da África Austral). Além disso, ambos os países apresentaram crescimentos de PIB pífios nas décadas de 1980 e 1990 e ainda precisam suar muito para resolver seus gravíssimos problemas de desigualdade racial e de renda. Outra coincidência é a de que as duas próximas Copas do Mundo de futebol acontecerão nos dois países, em 2010 e 2014, e eles precisarão provar que são capazes de promover um evento des-se porte e ao mesmo tempo aproveitá-lo para trazer benefícios às suas populações, principalmente em infra-estrutura.

Economia diversificada e grande potencial de crescimento

Com um PIB de US$ 255 bilhões, a África do Sul representa cerca de 25% de toda a economia africana e incríveis 50% da produção industrial do continente. Além disso, o país ainda tem algumas das maiores reservas do mundo em platina, manganês, cromo, vanádio, ouro e diamantes, mas a verdade é que só de alguns anos para cá o Brasil despertou para o potencial de uma relação comercial mais con-sistente com o vizinho sul-africano. A verdade é que até o fim do deplorável regime do apartheid em 1992, o embargo econômico ao país não permitiu que existisse de fato uma relação comercial, e só agora o empresariado brasileiro realmente perce-beu a África do Sul. Além da taxa de endividamento relativamente pequena em rela-ção ao resto do continente, a emergente classe média negra sul-africana, ou “black

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diamonds”, se firma cada vez mais como um promissor mercado de consumo.Empresas ligadas à Brasilinvest na África do Sul estão desenvolvendo progra-

mas espaciais e aeroespaciais importantes para um aumento da relação da econo-mia africana com a brasileira. A expectativa é de que a África do Sul cresça em torno de 5% ao ano nos próximos três anos. A recente investida da diplomacia brasileira para um acordo comercial trilateral que envolva também a Índia poderá incremen-tar bastante as relações comerciais com o país, caso saia do papel com a seriedade que merece.

O acordo estabelecido entre os três países previu cooperação nas áreas de bio-combustíveis, sociedade de informação, agricultura, navegação mercante e trans-porte marítimo. E os resultados mais recentes da balança comercial entre Brasil e África do Sul talvez sejam os primeiros frutos dessa aproximação. De 2001 a 2006, as exportações brasileiras para a África do Sul passaram de pouco menos de US$ 500 milhões para cerca de US$ 1,5 bilhão. O Brasil também dobrou suas importações do país sul-africano, de algo em torno de US$ 250 milhões para US$ 500 milhões.

Magreb e Líbia

As relações comerciais entre o Brasil e os países do Magreb nunca foram mui-to intensas. Mas também em relação a eles têm havido novos esforços do governo brasileiro, e a oportunidade de negócios na Argélia, Marrocos e Tunísia pode ganhar novos contornos.

A Argélia tem nos hidrocarbonetos o pilar central da sua economia. O país tem a quinta maior reserva de gás natural do mundo e a 14ª de petróleo, mas a dificuldade de diversificar sua economia e os sérios problemas políticos que enfren-ta há décadas mantêm alto o nível de desemprego e causam um grande e proble-mático fluxo de migrantes, principalmente para a França. O intercâmbio comercial com o Brasil, no entanto, é favorável à Argélia e tem proporções razoáveis. Entre os meses de janeiro e novembro de 2007, os argelinos exportaram US$ 1,9 bilhão e compraram US$ 445 milhões do Brasil. Esses números colocam a Argélia como o se-gundo maior parceiro comercial do Brasil no mundo árabe, atrás apenas da Arábia Saudita, e o terceiro maior na África.

Em 2006, um encontro do ministro das relações exteriores do Brasil, Celso Amorim, com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Argélia, Mohammed Bedja-oui, evidenciou o interesse brasileiro em estreitar os laços comerciais com o Magreb,

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já que o último encontro desse gênero havia ocorrido no longínquo ano de 1987. Outro evento, este realizado em 2007 pela Câmara de Comércio Árabe Brasileira, teve como objetivo abrir os olhos do empresariado brasileiro para as possíveis opor-tunidades de negócios que o Marrocos oferece. Pela posição para lá de estratégica (está a apenas 14 quilômetros de distância da Europa), é uma porta de entrada para o Mar Mediterrâneo e tem acordos comerciais com a União Européia, Estados Uni-dos e Turquia. O Marrocos de fato merece atenção. Os números de 2006 mostram que as transações comerciais entre o país e o Brasil ficaram em torno de US$ 722 milhões, e espera-se que cheguem a US$ 1 bilhão em 2008.

O ano de 2007 foi talvez o “ano Magreb” do Brasil, pelo menos no que percebi em relação aos esforços diplomáticos. Isto porque em maio desse ano uma missão de empresários brasileiros esteve em Túnis, capital da Tunísia, para uma tentativa de reforçar os laços comerciais também com este país. Aliás, reforçar não, alavan-car ainda mais, porque os números mostram que as transações bilaterais com esta pequena nação vêm caminhando bem nos últimos anos. As exportações brasileiras em 2007 foram da ordem de US$ 170 milhões, representando um crescimento de cerca de 40% em relação ao ano de 2005. Por outro lado, as exportações tunisianas para o Brasil passaram de US$ 81 milhões, em 2006, para US$ 121 milhões no ano seguinte, um aumento de 50%.

Líbia, uma experiência particular Sob a liderança de Muammar Kadhafi, faz pouco tempo que o país come-

çou a abrir sua economia aos investimentos estrangeiros. Os embargos comerciais impostos à Líbia pelo Ocidente enfraqueceram ainda mais a economia local, que sempre foi quase que totalmente dependente do petróleo (95% das exportações). Uma particularidade neste ponto foi quando, por meio de minha aproximação com a família Kadhafi, pude auxiliar na resolução de uma questão política de grande visibilidade: o pagamento dos danos às vítimas do atentado a um avião da Pan Am que explodiu sobre Lockerbie, Reino Unido. Desse ponto inicial, abri uma ponte entre Kadhafi e o presidente George Bush, quando pela primeira vez foi estabele-cido um contato direto entre a Casa Branca e Trípoli. Nessa vez, a imagem de que fui portador do governo líbio ao governo norte-americano, do qual cerca de 3 mil porta-vozes falavam mas não possuíam linha direta entre os governos, foi suplan-tada quando descreveram ao presidente George Bush que quem falava em nome de

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Kadhafi era seu filho Saadi Muammar Kadhafi, o qual Bush havia visto em uniforme militar no enterro do então Rei da Jordânia, Hussein.

Depois disso, os americanos se convenceram de que Muammar Kadhafi dese-java abandonar o terrorismo e combater a Al Qaeda, da qual havia sido vítima em uma tentativa de atentado, pagar US$ 2,8 bilhões às vítimas do atentado aéreo e renunciar às armas de destruição em massa. Havia assim a vontade e a necessidade de mostrar à opinião pública americana a mudança de rumo da política e economia líbias. O governo promoveu a abertura da exploração de petróleo às companhias americanas e a recuperação das propriedades que haviam sido tomadas pelo Esta-do. Sugeri à Casa Branca uma grande entrevista com Kadhafi para ser publicada nos Estados Unidos. Com sinal verde de ambas as partes, encontrei-me nas Bermudas com Saadi e consolidei a ida de Lally Weymouth, filha de Katherine Graham, dona do Washington Post e da Newsweek, e da sua correspondente diplomática à Tripoli, onde foram recebidas pelo coronel Kadhafi. A entrevista foi publicada na primeira página do Washington Post e em três páginas da Newsweek. Depois disso, os go-vernos norte-americano e líbio selaram acordo nos pontos citados anteriormente e restabeleceram o reingresso definitivo da Líbia como um país totalmente integrado à geopolítica e economia globais.

Atualmente, o Brasil é um dos países que não está perdendo tempo com o aquecimento da economia líbia, impulsionado em grande parte pelas receitas do petróleo; e em relação a 2006, aumentamos em cerca de 13,6% nossas exportações para o país norte-africano, no período de janeiro a novembro de 2007. Os principais produtos exportados foram café, açúcar, carne bovina, leite e derivados, além de um jato da Embraer.

Riquezas naturais banhadas em sangue

Até o momento falei muito das oportunidades que existem em torno dos países do continente africano. A pujança recente, no que se refere à abundância de recursos naturais, é proporcional à quantidade de guerras que o continente enfren-ta, em especial depois que foram pouco a pouco conquistando a independência em relação às metrópoles européias. Petróleo, diamante, ouro e outras riquezas cobiça-díssimas nas mãos de estados frágeis e marcados por disputas étnicas e tribais, só poderiam mesmo terminar em gigantescos banhos de sangue. Ruanda é, talvez, o maior exemplo de como é difícil pensar na África sob o ponto de vista econômico,

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enquanto carnificinas desse gênero ainda ocorrerem. Tomados pelo ódio tribal, ali-mentado há séculos por colonizadores alemães e belgas, ruandeses das tribos Tutsi e Hutu se mataram durante três meses em 1994, deixando a absurda marca de um milhão de mortos.

Se a matança em Ruanda não teve um fator econômico tão acentuado, o mes-mo não se pode dizer das várias outras guerras civis que assolam ou assolaram o continente. Exemplo extremo de como a disputa pela posse das riquezas natu-rais pode terminar em crueldades inimagináveis, o conflito em Serra Leoa durou dez anos, matou mais de 50 mil pessoas, crianças foram aliciadas como assassinos sanguinários, milhares de mulheres foram estupradas e outras milhares de pesso-as mutiladas. Às vezes, apesar de travestido de disputa política, na verdade o que aconteceu no país do sudoeste africano foi uma corrida sem limites pela posse de valiosos diamantes em uma parte do mundo ainda à margem da globalização. Com contornos bem parecidos com os de Serra Leoa, a guerra na vizinha Libéria foi, em grande parte, resultado da pobreza advinda do declínio da participação liberiana no mercado mundial de borracha e minérios, únicas riquezas do país. A troca de armas, provenientes do crime organizado, por diamantes com os rebeldes de Serra Leoa também financiou o conflito entre o governo local e as facções rebeldes.

Hoje, felizmente, Libéria e Serra Leoa se encontram em relativa paz e elege-ram democraticamente seus governantes. Mas o mais importante é inserir a eco-nomia desses países no mercado globalizado e criar mecanismos para que suas ri-quezas naturais sejam comercializadas dentro da legalidade e tragam prosperidade à população local, e não o contrário.

A África e as grandes organizações mundiais

Na análise sobre a África, eu não poderia deixar de fora outra particularidade do continente, a influência das organizações internacionais na região. O Fundo Mo-netário Internacional (FMI) já teve uma posição mais importante, conscientizando os países de que a inflação alta e o descontrole orçamentário elevavam a pobreza. Mas com os recursos que o fundo monetário dispõe atualmente – cerca de US$ 2 bi-lhões de orçamento anual –, poucos países podem angariar sua ajuda. O órgão pos-sui projetos importantes, desenvolve ações que fazem diferença para milhares de pessoas e reflete sobre temas da agenda global, mas é financeiramente irrelevante.

Já o Banco Mundial criou uma burocracia internacional absolutamente im-

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possível de se mover, com certos padrões de conduta. Existe um fator muito impor-tante dentro do Banco Mundial, o fator escola, porém o papel dele é relativamente pequeno. Se eu fosse presidente do Banco Mundial, daria total atenção à África no sentido da formação de políticas governamentais e administrativas, como fizeram com a América Latina no final do século XX. Mas a instituição está perdendo a cre-dibilidade perante o mundo.

Já a Organização das Nações Unidas (ONU) tem uma função de maior desta-que. Porém, provavelmente terá que ser substituída por forças de paz. Acho que cada vez mais a sua forma multinacional está perdendo valor em função de um acordo entre as grandes nações, que determinam missões específicas para mem-bros da ONU, como ocorreu no Haiti, com a participação brasileira. Mas se pensar-mos de outra maneira, quando vemos que a invasão do Iraque foi tratada como uma questão política, e nada foi respeitado, isso lembra muito o que aconteceu na Liga das Nações, o embrião da ONU antes da 2ª Guerra Mundial.

Assim, é nítido que o processo de votação do Conselho de Segurança da ONU, formado por Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido, precisa sofrer uma reforma. A eficácia do Conselho e sua representatividade precisam ser conver-gentes com as mudanças ocorridas no cenário global nos últimos 20 anos. Dessa maneira talvez seja possível que as decisões tomadas sejam realmente efetivas e o auxílio a continentes como o africano possa resultar em algo concreto.

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Kofi Annan, 1998.

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O Brasil na Oceania

Antes de tratar das relações entre o nosso país e o Novíssimo Mun-do, acho importante conhecer um pouco da história da região. Não pretendo contar toda a evolução histórica dos países que com-põem o continente, mas gostaria de levar ao conhecimento de to-

dos como é fundamental conhecer pelo menos o mínimo de uma região com a qual pretendemos construir relações.

Em 28 de abril de 1770, após circunavegar um continente distante, o capitão inglês James Cook desembarcou na costa leste da hoje conhecida Austrália. Conti-nuou a viagem para o norte, e em 22 de agosto do mesmo ano, proclamou a posse do território, a que se deu o nome de New South Wales (Nova Gales do Sul). Iniciava-se assim a colonização inglesa da Austrália. Pouco menos que dois séculos depois o território tornou-se independente do Império Britânico, em 1942.

Os aborígines, presentes na Austrália muitos anos antes da sua descoberta, hoje representam apenas 2% da população, ou seja, 460 mil pessoas. Antes da colo-nização eles chegaram a 21 milhões.

Austrália, o país-continente

Capítulo VI:

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Mas foi somente em 1976 que leis específicas para proteção aos direitos dos aborígines começaram a ser criadas. Mais recentemente, o governo australia-no criou programas para auxiliar as comunidades a conquistarem independência econômica e superar desavenças entre algumas tribos. Além disso, a Associação Nacional de Línguas Aborígines mantém registrados, documentados e gravados as histórias, os lugares, a cultura e os vestígios do povo aborígine.

O ato mais recente do governo australiano em relação ao povo aborígine ocorreu em 12 de fevereiro de 2008, com o pedido de desculpas à sociedade abo-rígine pelas injustiças infligidas durante dois séculos. Isso ilustra a vontade de re-conciliação do governo trabalhista com a comunidade-origem do país, atualmente a mais desfavorecida.

Kevin Rudd, primeiro-ministro australiano e vencedor das últimas eleições no país, apresentou pedido de desculpas não apenas à “geração roubada”, que designa as milhares de crianças autóctones retiradas à força de suas famílias até a década de 1970, mas também a todos os aborígines, vítimas de “maus-tratos”.

Contudo, é curioso dizer que apesar da triste história desse povo, eles influen-ciaram e continuam influenciando o povo australiano, principalmente com sua lín-gua e costumes. Quem visita a Austrália, seja para fazer negócios ou a lazer, percebe a quantidade de nomes de cidades e regiões que provêm dos dialetos aborígines.

Relação política entre o Brasil e a Austrália

Em 2005, Brasil e Austrália comemoraram 60 anos de relações diplomáticas. O evento marcou a abertura da primeira missão diplomática australiana na América Latina, realizada na antiga capital do Brasil, Rio de Janeiro, em 1945. Hoje, é possível afirmar que os interesses das políticas comerciais de ambos os países coincidem em várias áreas importantes.

Na ocasião da visita ao Brasil do então ministro Downer, em janeiro de 2006, foi criado o Bilateral Trade and Investments Commission (BTIC), com o objetivo de promover as relações comerciais entre os dois países de forma a ampliar a pauta comercializada.

Como o Brasil e a Austrália mantêm encontros a cada um ou dois anos para troca de opiniões sobre as principais questões bilaterais, regionais e multilaterais, creio que a próxima ocorrerá em 2009, já que a mais recente reunião foi realizada em Brasília, em março de 2007.

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Vários outros encontros confirmam que os dois países caminham na amplia-ção de acordos para a melhora das relações bilaterais. Em 2006, foram concluídas com êxito as negociações sobre o Acordo de Serviços Aéreos. No ano anterior, no mês de abril, durante uma visita ao Brasil pelo então Ministro da Educação, Ciência e Formação, Brendan Nelson, os dois países assinaram um Memorando de Entendi-mento (MOU) em Cooperação na Educação.

Em abril de 1998, um Memorando sobre Assuntos Sanitários foi assinado pelos ministros da Agricultura, da Austrália e do Brasil, para facilitar o comércio bilateral de produtos agrícolas. De acordo com o andamento desse acordo, percebo que assuntos como mineração, biotecnologia e inovação serão os próximos alvos para aumentar a cooperação bilateral no futuro próximo.

Um ponto interessante na relação entre o Brasil e a Austrália é que os dois países são membros do Fórum de Cooperação para a Ásia Oriental e América Latina (FEALAC, sigla em inglês). O objetivo deste fórum é aumentar e melhorar a compre-ensão mútua, o diálogo político e a cooperação entre os Estados-membros da Ásia Oriental e da América Latina. O Brasil recebeu os membros da FEALAC na Terceira Reunião Ministerial (FMM III), em agosto de 2007.

Além da FEALAC, os dois países trabalham em conjunto em uma série de questões multilaterais, incluindo a reforma do comércio agrícola na Organização Mundial do Comércio (OMC), pelo Grupo de Cairns, e como membros da coalizão “cinco partes interessadas” (FIP – com os EUA, a Comunidade Européia e a Índia).

Um ponto crucial na relação bilateral foi quando a Austrália reconheceu a importância do papel do Brasil como presidente do grupo G20, de países em de-senvolvimento, e vem apoiando o nosso país como um potencial novo membro permanente do Conselho de Segurança da ONU.

Relação comercial entre o Brasil e a Austrália

Do ponto de vista econômico, a parceria comercial entre o Brasil e a Austrália tem crescido de forma constante desde meados da década de 1990, mais notavel-mente na mineração e na agroindústria. A relação bilateral entre os dois países foi de US$ 1,39 bilhão em 2007, as exportações brasileiras para a Austrália atingiram US$ 614 milhões e as importações somaram US$ 776 milhões. Os principais pro-dutos importados por nós foram carvão, níquel e medicamentos. Enquanto isso, o Brasil exporta ração para animais, resíduos de papel e celulose e sumos de fruta.

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Dessa maneira, acredito que ainda existem muitas oportunidades para que o comércio bilateral e os investimentos cresçam, principalmente em áreas como tecnologia da informação, biotecnologia, transporte ferroviário e marítimo, telecomunicações, bancos e seguros, mineração, água e gestão dos recursos hídricos, petróleo e gás, energia, educação, agronegócio, tu-rismo e infra-estrutura. Um número crescente de empresas australianas já está operando no Brasil, embora a falta de conhecimento em relação a isso continue sendo um obstáculo à expansão dos laços comerciais.

Pelo fato de o Brasil ser o maior produtor de etanol do mundo e en-xergar na Austrália uma parceria para a expansão global da produção e da comercialização desse produto, percebo que interlocutores brasileiros já estão promovendo mais debates sobre os biocombustíveis. Tais reflexões têm sido feitas junto ao governo australiano e representantes da indústria australiana de açúcar.

Do nosso lado, o presidente Lula insistiu na 62ª Assembléia Geral das Nações Unidas, em 25 de setembro de 2007, na promoção do etanol e do biodiesel como parte da solução para as alterações climáticas; e anunciou que o Brasil irá ser o anfitrião de uma conferência internacional sobre bio-combustíveis em 2008. Em um evento como este é possível multiplicar as oportunidades para os empresários brasileiros, e fazer disso um marco.

Um ponto interessante na relação entre o Brasil e a Austrália, que foge à esfera empresarial, é a atração entre os jovens brasileiros pelo sistema educa-cional australiano. Um dado interessante está no número de estudantes que viajaram daqui para lá e se matricularam em instituições australianas, sejam estas escolas, cursos de idioma ou universidades. Entre 2004 e 2006, o cresci-mento foi de 100%, atingindo mais de 9.000 estudantes matriculados.

Da mesma maneira que os jovens já perceberam a Austrália como um país muito próximo do Brasil, não geograficamente, mas como parceiro, os empresários e executivos têm que atentar para esta oportunidade. Afinal, são cerca de 20,5 milhões de pessoas para uma área de 7,5 milhões de qui-lômetros quadrados, rico em minério e com um trabalho muito importante sobre créditos de carbono e energia limpa. A Austrália tem um povo edu-cado e muito interessado em fazer negócio. Além disso, sua posição é alta-mente estratégica, pois o país está localizado próximo da China, do Japão e da Malásia.

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Intercâmbio Comercial Brasil e Austrália (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais

2001 247,640 265,160 -17,520 512,8002002 254,191 212,587 41,604 466,7782003 305,559 292,608 12,951 598,1662004 370,159 373,660 -3,501 743,8192005 464,230 628,299 -164,069 1.092,5292006 512,235 737,847 -225,612 1.250,0822007 614,174 775,921 -161,748 1.390,095 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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Principais investimentos australianos no Brasil

Mineração e Serviços de Mineração• A BHP-Billiton detém 50% da mina de minério de ferro Samarco, e também explo-ra bauxita, petróleo e gás no Brasil. • A Troy Resources detém 70% da propriedade da mina de ouro Sertão. • A Mincom & Maptek presta serviços de tecnologia da informação, oferecendo apoio técnico para o setor de mineração brasileiro. • A GRD Minproc conquistou um contrato de US$ 1,6 bilhão em serviços de enge-nharia, aquisição e construção no setor mineiro. Isso levou a empresa a abrir escri-tório em Belo Horizonte.• A Rio Tinto tem 100% da Corumbá, que explora minério de ferro. • A Orica, que atua com exploração mineral, possui uma planta industrial no Brasil.

Além dessas empresas, outras onze mineradoras australianas mantêm ope-rações de diversos tamanhos e estágios de desenvolvimento no Brasil atualmente. Nesse ramo, o total de investimentos australianos no Brasil ultrapassa a marca de US$ 2 bilhões.

Agronegócio • A Agrichem, que atua com produção e distribuição de fertilizantes, possui uma planta em Ribeirão Preto.• A Nufarm Limited, líder mundial em defensivos agrícolas, tem investido mais de US$ 360 milhões na Agripec, empresa brasileira líder na proteção de colheitas. • A AWB, da aérea de agronegócio, tem expandido seus negócios no Brasil, e recen-temente abriu escritórios em Goiás, na Bahia e no Espírito Santo.

Uma estratégia interessante, que serve de exemplo para pensarmos em ou-tras oportunidades nesse ramo, foi a aquisição de 100% da Agripec pela Nufarm Limited. Isso ocorreu em 2007, depois da companhia australiana ter adquirido uma participação na empresa brasileira de 49,9%, em 2004. O objetivo da Nufarm ao comprar todo o capital e as operações da Agripec é fazer do Brasil o ponto de parti-da para a expansão da empresa na América Latina.

A Austrália vem se saindo muito bem como importadora na área de genética de animais, criando novas oportunidades nesse mercado. O Brasil pode aproveitar

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esse gancho, visto que nosso país é líder na exportação de carne bovina e tem todo potencial para atuar no campo da genética.

Gestão Documental • A Recall (Brambles), que oferece armazenamento de documentos em papel ou em formato eletrônico, possui escritório em Jundiaí, interior de São Paulo.

Serviços de Seguros • A QBE Brasil, que trabalha com seguro de vida e acidentes, está situ-ada em São Paulo.

Alimentos e bebidas

Atualmente, a Austrália está classificada como o 8o maior país exportador de vinho do mundo. Hoje, no país, existem cerca de 800 vinícolas, quatro delas respondem por 80% dos vinhos produzidos: BRL Hardy, Mildara-Blass, Orlando e Southcorp Wines. A maior restrição que os puristas fazem aos vinhos australianos é que eles não possuem identidade própria, sendo muito parecidos entre si. Talvez haja uma dose de razão nesse tipo de crítica, porém a elevada qualidade de grande parte dos vinhos australianos e sua imbatível relação custo-benefício talvez expli-quem o enorme sucesso que esses vinhos vêm obtendo em todo o mundo.

Nova Zelândia, uma Europa do outro lado do mundo

Nesse pequeno país situado ao norte da Austrália, com 270,5 mil quilômetros quadrados de território e 4,3 milhões de habitantes, a influência maori na formação cultural do país é de extrema importância. Os Maoris são o povo indígena da Nova Zelândia, e sua cultura e perspectiva têm ajudado a formar a identidade do país des-de 1642. Os conceitos da cultura e dos costumes maori, tais como whanau (família) e mana (dignidade) são partes do dia-a-dia do povo neozelandês.

Para se ter uma idéia da influência maori no país, um em cada sete neozelan-deses é maori. Enquanto isso, cerca de quatro quintos da população é de descendên-cia européia – a maior parte proveniente da Inglaterra, mas também da Holanda, Alemanha, Grécia e antiga Iugoslávia. Ainda, cerca de 4% da população vem de po-vos do Pacífico, como chineses e indianos, e vivem na Nova Zelândia há gerações.

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Os grandes centros urbanos da Nova Zelândia:

Centros Urbanos População (em milhares)Auckland 1.100Wellington 347Christchurch 341Hamilton 169Dunedin 112Tauranga 90Palmerston North 76Fonte: Consulado neozelandês

A soma da população desses centros urbanos é de dois milhões e duzentas mil pessoas. Para termos uma idéia do tamanho do país, esse montante populacio-nal é equivalente a 18,2% da população da cidade de São Paulo.

Política e economia

Apesar de ser um país territorialmente pequeno, a Nova Zelândia tem uma economia competitiva. Os bens e serviços exportados representam um terço da sua produção total, esta da ordem de US$ 124 bilhões (2007). É um país com ambiente político estável e força de trabalho instruída.

Nas décadas de 1980 e 1990, o país passou por uma reforma econômica radical, a fim de melhorar sua competitividade em âmbito internacional. A reforma removeu subsídios, tarifas e controles de preço e a flutuação da taxa de câmbio. Além disso, os governantes aboliram o controle no movimento de capital e privatizaram muitas propriedades do Estado. E mais recentemente, as políticas adotadas objetivam promover o crescimento por meio da inova-ção e da criatividade.

Não é por acaso que o país é uma das economias mais abertas do mundo e defensora do livre mercado. É curioso dizer que um acordo de livre-comércio entre a Nova Zelândia e a Austrália permite que as empresas do país maori tenham acesso ao país-continente isentas de impostos e obrigações fiscais. Acredito ser uma boa oportunidade para empresários que desejam alcançar o mercado do Novíssimo Mundo.

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Comércio e investimento

A Nova Zelândia é uma nação inovadora e empresarial. O país está ativa-mente presente em órgãos internacionais de promoção do livre-comércio, como a Organização Mundial do Comércio (OMC) – entre 1999 e 2002 foi liderada pelo ex-primeiro-ministro neozelandês, Mike Moore.

O país tem laços mais estreitos de parceria econômica com Austrália e Cin-gapura, mas está desenvolvendo acordos com outras nações com o objetivo de am-pliar seu alcance no mercado global.

Um caso interessante é o da indústria Fonterra, que atua no ramo de laticínios. Esta empresa é a maior exportadora de produtos laticínios do mun-do, e serve de exemplo para quem deseja alcançar o mercado internacional, como veremos mais adiante. É a prova de que o livre-comércio pode dar certo, se for justo e bem planejado

A indústria pesqueira

O país tem uma das maiores Zonas Econômicas Exclusivas (área oceânica sob seu controle) do mundo. A pesca comercial é uma indústria importante para a Nova Zelândia, e o controle dessa atividade tem sido feito de maneira exemplar.

Em 1986 foi introduzido na indústria pesqueira um sistema inovador de ge-renciamento de quotas, que designa uma quantidade certa a ser explorada para cada espécie de pescado. Isso evitou a pesca abusiva e predatória. Desde então, os sistemas de gerenciamento da pesca na Nova Zelândia encontram-se entre os mais avançados do mundo e atraem uma considerável atenção mundial de países com forte indústria pesqueira.

Relações entre o Brasil e a Nova Zelândia

Os dois países têm uma relação amistosa e em desenvolvimento em várias áreas de interesse comum, tanto no âmbito bilateral como em nível multilateral. Desde agosto de 2000, com o lançamento da Estratégia para a América Latina, pelo governo neozelandês, as relações entre os dois países fortaleceram-se consideravelmente.

O estabelecimento da Embaixada da Nova Zelândia em Brasília, em 2001,

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foi um dos fatores cruciais dessa estratégia. O Brasil já possuía uma embaixada em Wellington desde 1997.

Como podemos notar, a relação entre o Brasil e a Nova Zelândia ainda é nova. E isso fica mais evidente ao observarmos o comércio entre os dois países. No geral, o total das trocas comerciais é relativamente baixo, totalizando US$ 101 milhões, em 2007, de acordo com a SECEX-MDIC. Para o lado brasileiro, a balança comercial é favorável. O total de exportações do Brasil para a Nova Zelândia foi de US$ 72 mi-lhões. Os principais produtos são óleo de soja e outros óleos derivado da soja, suco de fruta e maquinário. Na outra via, a Nova Zelândia participa com US$ 29 milhões em exportações, na sua maior parte de carvão, produtos lácteos e maquinário.

Mas os interesses no que se refere a questões de comércio e economia estão caminhando para um novo padrão, mudando o rumo das exportações de mercado-rias para investimentos diretos e negociações de licenciamento. O ponto mais sig-nificativo desse novo caminho foi o estabelecimento da Fonterra no Brasil em 2003, por meio de uma joint venture com a Nestlé. Desta união surgiu a Dairy Partners Americas (DPA), que opera no Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia e Equador e tem como objetivo final expandir suas operações para toda a região das Américas.

O comércio de serviços, como turismo e educação, é o outro viés essencial das relações comerciais entre Nova Zelândia e Brasil. As visitas de brasileiros à Nova Zelândia, por exemplo, têm crescido substancialmente nos últimos anos chegando a quase 9.000 em 2006. Em média, estima-se que mais de 1.500 brasileiros estudem na Nova Zelândia por ano.

Educação

O Brasil foi selecionado como um país-alvo do novo pacote de investi-mento do governo neozelandês, da ordem de US$ 57 milhões, na área de edu-cação internacional. Esse plano, lançado em 2004 e ampliado em 2005, visa construir laços mais fortes com parceiros educacionais estratégicos, inclusive por meio de bolsas de estudo nos níveis de graduação e pós-graduação e de intercâmbio acadêmico. Atualmente, há três programas de bolsas de estudo disponíveis para estudantes brasileiros desejosos de estudar na Nova Zelân-dia, os quais contemplam os níveis de graduação, mestrado e até o reconheci-do Programa Neozelandês de Pesquisa em Doutorado, que tem como objetivo atrair os melhores estudantes do mundo para a Nova Zelândia.

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Intercâmbio Comercial Brasil e Oceania (em milhões de US$) Ano Exportação Importação Saldo Brasileiro Total das Trocas Comerciais2001 275,166 301,113 -25,946 576,280 2002 292,170 246,943 45,228 539,114 2003 350,106 315,923 34,183 666,030 2004 436,094 402,028 34,066 838,122 2005 532,503 662,108 -129,604 1.194,612 2006 598,224 766,254 -168,029 1.364,479 2007 702,415 806,829 -104,413 1.509,244 Fonte: MDIC/SECEX - Brasil

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Como podemos ver, não é somente no comércio e na política que uma relação bilateral pode ser construída. A educação, principal fator de desen-volvimento competitivo de um país, é capaz de elevar o nível das transações entre duas nações. Este bonde o Brasil não pode perder.

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O Brasil e o Meio Ambiente

Talvez tenha demorado mais que o desejado, mas o fato é que a humani-dade finalmente despertou para a necessidade da preservação do plane-ta. O tema do aquecimento global é onipresente nos noticiários e virou pauta obrigatória na agenda de todos os dirigentes políticos do mundo.

Por mais que a real existência do fenômeno ainda cause certa controvérsia entre os especialistas, é indiscutível que a Terra precisa de novos rumos se não quiser ser devastada pelas mudanças climáticas.

A mobilização para salvar o planeta é global, e nem só as decisões políticas, que serão importantes, afetarão a nossa maneira de viver. Os meios e instrumentos de produção serão diferentes; até mesmo o cigarro polui, e vários países do mundo estão de olho nisso. Haverá uma nova revolução industrial baseada na preocupa-ção com o meio ambiente, com medidas antipoluição. Máquinas serão modificadas, haverá mudanças no conceito da universidade e leis com enforcements diferentes. Acredito que estamos no limiar de uma nova revolução, a da energia limpa. Os meios de transporte também terão de ser repensados.

Preservação ambiental: o despertar da inércia

Capítulo VII:

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Tudo isso tem um custo? Claro! Mas a mudança na produção industrial vai mudar o consumo no mundo. Pode sair caro, mas será mais eficiente no uso da energia, das matérias-primas e na criação de condições ecologicamente corretas. O Brasil vem dando uma enorme contribuição para o mundo neste sentido, ao to-mar a dianteira no desenvolvimento, produção e consumo de biocombustíveis, por exemplo. Os combustíveis fósseis, além de finitos, são um dos maiores causadores da poluição atmosférica, e por isso o etanol brasileiro é tão bem-vindo. Ele é renová-vel, não-poluente, tem um custo-benefício muito maior que as versões americanas e européias; e, para a sorte dos brasileiros, o país tem tecnologia, solo e clima únicos para a sua produção.

Mas além da poluição atmosférica, o planeta tem de desenvolver mecanismos para lidar com outras questões gravíssimas como a poluição e escassez de água, o desmatamento e a desertificação de áreas antes cobertas por florestas. Em outras palavras: precisa arregaçar as mangas porque tem muito trabalho pela frente. E, se o Brasil já arregaçou uma delas ao desenvolver combustíveis ecologicamente corretos, ainda precisa começar a dobrar a outra se quiser ser recebido pelo mundo globalizado pela porta da frente.

Montreal, Kyoto, Bali e o lento caminhar do planeta

Apesar de só agora os governantes anunciarem a importância devida à pre-servação ambiental, já na década de 1980 o mundo se deu conta de que uma mu-dança de postura se fazia necessária. No ano passado comemorou-se 20 anos Pro-tocolo de Montreal, tratado ambiental tido como um marco na proteção da camada de ozônio. Assinado na cidade canadense por representantes de 191 países, teve por objetivo proteger a atmosfera terrestre eliminando gradativamente as substâncias que contribuem para a destruição da camada de ozônio. Infelizmente, sabemos que, passadas duas décadas, esta meta ainda está longe de ser alcançada, mas o evento em Montreal é válido principalmente como um “abrir de olhos” do planeta. A maior prova disso talvez seja que, dez anos depois de Montreal, em 1997, um novo protocolo foi ratificado em Kyoto, no Japão. Na época, 84 países assinaram um documento, propondo-se a reduzir as emissões do grande causador do efeito estufa, o gás carbônico. O problema foi que, como o tratado estabeleceu metas de redução diferentes para cada região ou país, até hoje as divergências atrapalham um anda-mento mais eficiente do protocolo. Além disso, países emergentes, e poluidores,

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como Brasil, Índia e China, ficaram livres de uma meta de redução pré-determinada; e o acordo não foi ratificado pelo maior poluidor do mundo, os EUA.

Ademais, a conferência da ONU sobre mudanças climáticas, realizada em 2007 em Bali, na Indonésia, tanto trouxe novas esperanças quanto ao empenho do planeta em combater o aquecimento global, quanto mostrou o fracasso de Kyoto em alguns pontos. Os EUA e a Austrália voltaram atrás e, pelo menos oficialmen-te, prometeram se empenhar mais em reduzir suas emissões de gases poluentes. China e Índia, no entanto, continuam relutantes em fazer o mesmo, caso os países desenvolvidos não se comprometam mais com o tema. E não dá para o planeta se enganar: as metas estabelecidas em 1997, de uma redução de 5,3% das emissões mundiais em relação a 1990, não foram atingidas e, para alguns cientistas, esse va-lor ainda é muito pequeno, se comparado ao que o planeta realmente precisa.

E qual foi a posição brasileira em Bali? Basicamente a de sempre demonstrar receio em qualquer tentativa de impor metas também aos países em desenvolvi-mento. Tal posição é inexplicável, porque coloca o Brasil na contramão da demanda global por um mundo mais limpo e vai contra o óbvio: se ser ecologicamente corre-to pode trazer riscos à economia, não vai existir economia nenhuma se as mudan-ças climáticas extinguirem a humanidade. Por outro lado, é legítimo o mau-humor brasileiro com a posição pouco flexível dos países em desenvolvimento em relação a temas como a transferência e flexibilização de propriedade intelectual, de “tec-nologias limpas” e a exclusão dos biocombustíveis brasileiros da lista de “produtos ambientalmente corretos”. Tal posição é cabeça-dura e pouco inteligente, a partir do momento em que impede a disseminação no mundo de tecnologias menos po-luentes e cria barreiras alfandegárias para o etanol de cana-de-açúcar brasileiro.

Um dos discursadores do evento em Bali, o atual Prêmio Nobel da paz, Al Gore, vem sendo a figura mais conhecida do mundo quando o assunto é aqueci-mento global. Conhecido inicialmente por ter perdido a eleição presidencial norte-americana para George W. Bush de uma maneira um tanto obscura, ele virou quase sinônimo de luta contra as mudanças climáticas e faz o mundo pensar sobre qual seria a posição dos EUA em relação ao tema, caso ele tivesse sido o vencedor das eleições em 2000.

O Brasil e as questões ambientais: avanços e velhos problemas

Como eu já disse, a posição e, principalmente, as atitudes brasileiras em re-

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lação ao meio ambiente são, sem dúvida alguma, importantíssimas para o restante do planeta. Não que as de outros países não sejam. O Brasil é dono da maior parte da maior floresta tropical do mundo, tem nada menos que 12% de toda a água doce superficial da Terra e ainda é a maior fronteira agrícola do mundo, com cerca de 90 milhões de hectares ainda disponíveis para a agricultura, segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). Em outras palavras: se as mudanças climáticas fizerem estragos em solo brasileiro, é o mundo inteiro que será afetado.

O maior problema ambiental que o Brasil enfrenta é, provavelmente, o des-matamento. Dono da segunda maior cobertura florestal do mundo, só atrás da Rús-sia, o país é também o campeão mundial no pouco honroso quesito de derrubada de árvores: de acordo com relatórios da Organização das Nações Unidas para a Agri-cultura e Alimentação (FAO, em inglês), entre 2000 e 2005 o Brasil desmatou cerca de 150 mil km², ou o equivalente a nada menos que 42% de toda a perda florestal da Terra no período. Porém, vale lembrar que, como toda análise feita a partir de números, é difícil chegar a uma única conclusão sobre o status do problema hoje. O governo brasileiro comemorou efusivamente a queda de 25% da taxa de desmata-mento de 2005 para 2006, mas a previsão é que ela volte a aumentar – e bastante – entre 2007 e 2008. E no atual governo já são 85 mil km² desmatados, ao que tudo indica um recorde sem equivalentes.

Uma das principais razões para o desmatamento no Brasil, em especial na região amazônica, é a queima de áreas da floresta para a criação de pastagens para animais. O grande volume de fumaça causado por esse método contribui também para a poluição atmosférica. Pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatís-tica (IBGE) já demonstraram que cerca de 64% da poluição do ar no Brasil vêm das queimadas. O país ocupa o 16o lugar entre os países que mais emitem gás carbôni-co para gerar energia, mas salta para a 4ª posição na lista de maiores poluidores do ar quando o gás gerado pelas queimadas também é levado em conta.

Outra situação de agressão ao meio ambiente que preocupa o Brasil é a que atinge o que, em breve, deverá se tornar o bem mais precioso do planeta. Ainda de acordo com o IBGE, quase 40% dos municípios brasileiros sofrem com a poluição da água. E várias regiões ainda sofrem com um abastecimento de água deficiente. Mas como pode ser assim, se o Brasil tem uma oferta de água “per capita” cinco vezes maior que a média mundial? A falta de uma infra-estrutura para a distribuição da água nas áreas rurais e nas periferias das grandes cidades, e o seu uso inadequado nas atividades rurais são provavelmente as maiores razões.

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O mais curioso é que, ao contrário do que alguns podem imaginar, o Brasil tem, sim, leis de proteção ao meio ambiente. Na verdade, o país tem uma das mais avançadas legislações ambientais do mundo. Dezessete leis tratam do uso de agrotóxicos, exploração mineral, recursos hídricos e outros pontos. E como se já não bastasse, desde 2006 entrou em vigor a Lei de Ges-tão de Florestas Públicas, um sofisticado dispositivo de preservação ambien-tal que, entre várias outras atribuições, permitiu a concessão de trechos de florestas públicas por meio de licitações, criou o Serviço Florestal Brasileiro, instituiu o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal e permitiu a criação de unidades de conservação para produção florestal sustentável.

A questão que salta aos olhos de quem fica a par de todas essas informações é a de como, com toda essa legislação, o Brasil ainda sofre tanto em defender seus tesouros naturais? A resposta está na velha postura brasileira de desrespeito às leis e nas dificuldades em colocá-las em prática. Afinal, se já existiam leis de pre-servação ambiental antes, e órgãos como o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente (IBAMA) para fiscalizá-las, por que a necessidade da criação de novas leis e entida-des? A dificuldade que os agentes da lei sempre encontraram para atuar em regiões remotas e dominadas pelo crime organizado nos confins da Amazônia é uma boa parte da resposta. Ela tem a ver com a falta de controle brasileiro sobre essa região tão rica, o que leva a especulações sobre a sua “internacionalização”. Trata-se de uma tese entreguista, considerando que há 23 milhões de brasileiros vivendo por lá. A Amazônia é uma região que tem que ser trabalhada e estar sob o comando brasileiro. É um dever do país defendê-la.

O papel da mídia e o futuro da empreitada Dentro de todo este complexo e intricado contexto, a mídia tem exercido um

papel importante tanto no Brasil quanto no mundo, ou seja, o papel de levantar as questões, discuti-las, dar voz aos dois lados imparcialmente e, principalmente, compreender o aspecto da individualização que o tema está ganhando em termos mundiais. Se a mídia tomar a preservação do meio ambiente sob um ponto de vis-ta apenas de blocos políticos ou econômicos, ela certamente tenderá a distorcer a realidade dos fatos.

O aquecimento, o desmatamento e a poluição são temas que têm forte co-notação econômica, com interesses que vão além mesmo dos empreendedores e

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investidores. A visão global que a mídia tem que ter é a de um processo in-tegrado, em que o homem é o beneficiário final de todo o clareamento das questões ambientais. Isso é o ponto de equilíbrio da mídia, não adianta ficar procurando por vilões ou enxergar as coisas de uma maneira maniqueísta. É necessário termos a mídia como um coador afinado para filtrar aquilo que é realidade e fantasia daquilo que é espuma.

Um bom exemplo do trabalho e da função da mídia sobre o tema meio am-biente e sustentabilidade foi a matéria veiculada no jornal O Estado de São Paulo, sobre a cidade de Masdar, nos Emirados Árabes Unidos. Até que enfim investidores árabes vão usar parte dos lucros bilionários do petróleo para construir um em-preendimento limpo e sustentável, uma verdadeira utopia ambiental que sairá do papel para tornar-se realidade. Masdar, que em árabe significa “a fonte”, será a primeira cidade limpa do mundo, e em pleno deserto.

Sem carros, toda a emissão de CO2 gerada será de alguma forma compensa-da. A inauguração da moderna cidade, segundo autoridades árabes, está prevista para 2015 e terá capacidade para 40 mil moradores.

Ou seja, ninguém, nem pessoas, nem empresas, nem governantes, querem transformar a Terra em Marte, isso é fato. A mobilização mundial pela preservação do meio ambiente, seja por meio da mídia, das ONGs, ou dos Estados, formará uma geração muito mais consciente das necessidades do planeta, e de como utilizar os recursos dele de uma maneira não-agressiva. Por mais que o planeta ainda caminhe a passos angustiantemente lentos na luta pela sua preservação, o que vale agora é a velha máxima: antes tarde do que nunca.

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Conclusão

Ao longo das últimas três décadas o Brasil vem se mantendo entre as 15 maiores economias do mundo, tornou-se uma potência regional em termos políticos e econômicos, possui uma vasta e variada gama de re-cursos naturais e de tecnologia de ponta em setores como biocombustí-

veis, exploração de petróleo e aviação. Não foi à toa que o Goldman Sachs colocou o país na lista dos mais sérios candidatos a se tornarem superpotências no futuro, a famosa sigla BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China). O que falta, então, para o Brasil se tornar de fato um dos protagonistas do mundo globalizado? Esta foi a questão fundamental deste livro, e espero que a obra tenha ajudado a todos os interessados em respondê-la.

A industrialização tardia, o estigma de ser um eterno exportador de maté-rias-primas e os graves problemas sociais advindos do seu processo histórico são alguns dos empecilhos para, até hoje, o Brasil não ter se livrado totalmente de se auto-enxergar como “o país do futuro” e aumentado sua participação no comércio mundial, que se mantém há 25 anos no patamar de 1%. A vocação brasileira para

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os negócios e o potencial de expansão das nossas empresas no mercado internacio-nal estão nos exemplos citados, como o da Petrobras, Embraer, Vale e Gerdau. Até mesmo uma companhia que, à primeira vista, vende apenas um pedaço de borra-cha, a Havaianas, conseguiu virar moda no mundo todo. Dizem que já viram até a rainha da Inglaterra usando uma delas. Outras empresas de setores diversos, como o frigorífico Friboi, que comprou a Swift; ou a Tramontina, fabricante de talheres, que exporta para o mundo todo; ou a churrascaria Fogo de Chão, que possui mais casas nos EUA que no Brasil, são bons exemplos. Em outras palavras: algumas con-dições históricas e macro e microeconômicas ainda podem ser barreiras, mas não há mais espaço para duvidarmos da capacidade brasileira em interagir de forma competitiva com o restante do planeta.

Embora o foco desta obra seja o econômico, em um mundo interligado não dá para ignorar outros aspectos. Além do esporte, por meio do qual o Brasil já con-quistou o mundo faz tempo com a sua ginga e se tornou o maior exportador de mão-de-obra para o futebol, na cultura também o país se torna cada vez mais pre-sente ao redor do globo. Hoje é possível escutar funk carioca na Finlândia, se depa-rar com uma rodinha de capoeira em Jerusalém, ir a uma churrascaria rodízio no Japão e ver críticos do mundo todo discutindo “Tropa de Elite”, o filme brasileiro que foi o grande vencedor da edição 2008 do Festival de Berlim. O fato de o Brasil não ter problemas diplomáticos graves, até o momento, com nenhuma nação faz com que quase tudo que é “made in Brazil” seja recebido de uma maneira mais ca-rinhosa no exterior. A imagem “amigável” do país pode ser uma enorme vantagem. Porque é natural que muitas vezes as pessoas vinculem um produto com o que pensam do país de onde ele se origina e, assim, a marca “Brasil” é talvez uma das mais valiosas do mundo.

É claro, porém, que infelizmente não basta um país ser “querido” ao redor do planeta para que todas as portas se abram. Se a economia globalizada tem van-tagens de um lado, de outro a concorrência mais acirrada entre empresas, países e blocos econômicos exige dos empreendedores um conhecimento cada vez mais amplo e profundo do mundo. Isso quer dizer que, para que os brasileiros utilizem a marca “Brasil” da melhor maneira possível, é necessário muito mais que uma mera simpatia externa para com o país.

Um dos exemplos mais claros é, possivelmente, o do etanol da cana-de-açúcar. Aparentemente, tudo conspira a favor deste biocombustível, pois produz energia limpa e renovável, é mais barato que as versões americana, do milho, e européia,

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da beterraba; e seu desempenho nos motores “flex” é vantajoso. O mundo, porém, em especial os próprios americanos e europeus, fazem o possível para dificultar a expansão do uso do etanol brasileiro em seus territórios, se valendo principalmen-te de altas taxas de importação. O maior causador desta situação é, além do forte protecionismo desses países, a idéia de que os biocombustíveis brasileiros são mais competitivos devido às condições desumanas a que estão sujeitos os trabalhadores da agroindústria brasileira. Se tais condições de fato ainda persistem em algumas regiões, cabe ao Brasil fazer o possível para eliminá-las, não adianta só reclamar da incompreensão alheia.

O primeiro grande passo brasileiro rumo a um mercado globalizado – a cria-ção do Mercosul (Mercado Comum do Sul) – se mostrou acertado na medida em que fez o Brasil parar de correr atrás apenas das grandes economias do mundo e se virar para a potencialidade de seus vizinhos. Apesar de, claro, EUA, Europa e Ásia repre-sentarem economias muito maiores e mais diversificadas que as latino-americanas, a integração regional se faz necessária na região, principalmente pela competitivi-dade logística que esta integração pode prover. Negá-la é algo como tentar vender alguma coisa para alguém que mora do outro lado da cidade sem antes perguntar se por acaso o seu vizinho de porta não se interessa em comprá-la. Problemas polí-ticos e econômicos, como os que acometem Bolívia, Venezuela e Colômbia, e a falta de uma infra-estrutura de comunicações e transportes mais adequada, ainda com-prometem um funcionamento mais eficaz do Mercosul, mas sempre há esperanças de uma estabilização das economias. O Chile talvez seja o melhor exemplo disso.

Os EUA ainda são um dos maiores parceiros econômicos do Brasil, mesmo com certo protecionismo praticado pelo país e a tão comentada possibilidade de recessão da economia americana, que não passará de um susto, dado o monstruoso peso econômico que o país ainda possui. O Brasil irá sempre reclamar do protecio-nismo americano em algumas áreas e da concorrência de suas empresas, mas a ver-dade é que os dois países têm mais em comum do que se imagina. Tanto lá quanto aqui os empreendedores precisam inovar para atingir o sucesso e se destacar. Além disso, o resultado das eleições presidenciais americanas deste ano indicará como serão as relações com o Brasil nos próximos anos, já que historicamente os demo-cratas costumam se aproximar mais do país.

Mas os olhos do planeta, definitivamente estão voltados para a Ásia. Depois de todo o furor em virtude do crescimento econômico do Japão e dos Tigres Asiá-ticos no século passado, agora China e Índia são os países que dão as cartas. A pri-

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meira está colhendo os frutos de anos e anos de planejamento para crescer, e a se-gunda herdou parte do dom anglo-saxão para empreender. A China tem séculos de experiência a mais que o Brasil em realizar transações comerciais, e sempre pensa em resultados a longo prazo, ao contrário do Brasil, que tem dificuldades na conti-nuidade de suas metas mais longas de crescimento e desenvolvimento econômico. O pragmatismo chinês, junto com a grande reserva de capitais, que fechou 2007 em US$ 1,53 trilhão, e a abundância de mão-de-obra deverão consolidar a China como a potência econômica do século XXI.

Apesar do “boom” econômico semelhante, a Índia está em desvantagem em relação à China devido ao nível educacional ainda baixo da maior parte da sua po-pulação e da fonte inesgotável de conflitos que fica bem ao lado, o Paquistão. O grande crescimento indiano esteve atrelado a áreas importantes como a nuclear, a de informática e a prestação de serviços. Sem dúvida, a Índia deve se firmar como uma potência econômica, mas o alto grau de pobreza que atinge a sua gigantesca população e o estado de conflito latente na região da Caxemira podem impedir que o país voe tão alto quanto poderia.

A postura do Brasil perante esses dois países deve ser a de respeitar o adver-sário sem, porém, ter medo de enfrentá-lo. A concorrência com as empresas e pro-dutos chineses e indianos deve ser cada vez mais acirrada, mas acordos bilaterais e negociações comerciais serão instrumentos importantes para o Brasil tomar carona no crescimento, e não ficar reclamando e se sentir prejudicado. Veja o que aconte-ceu com os calçados italianos quando a Itália começou a ser invadida pelos sapatos brasileiros. No começo muitos reclamaram, mas depois de um reposicionamento no mercado global, os sapatos italianos voltaram a vender para o mundo todo, com um valor agregado de design e tecnologia.

Se Índia e China são “a bola da vez”, alguns países da África começam a apre-sentar sinais de crescimento econômico grande e consistente. Depois de três déca-das de guerra civil, Angola cresce hoje em níveis estratosféricos, de mais de 15% ao ano, e tem sede de receber investimentos estrangeiros. O país tem tudo para, em breve, suplantar a Nigéria como o maior produtor africano de petróleo, e a es-tabilização de sua democracia leva a crer em um cenário otimista para o futuro. Já a África do Sul, assim como o Brasil, se firmou como uma potência regional após o fim do abominável regime do apartheid. Apesar dos graves problemas sociais que, também como o Brasil, o país ainda enfrenta, é inegável o aumento do poder aquisi-tivo de sua população negra, outrora segregada, e o incremento dos investimentos

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em tecnologia e infra-estrutura que o país vem realizando. O Brasil estreita cada vez mais os laços com estes dois países africanos, fe-

chando acordos comerciais com a África do Sul e participando cada vez mais da re-construção de Angola, em uma verdadeira “invasão” brasileira em todos os setores da economia local. A grande proximidade cultural entre Brasil e Angola contribui bastante para esta aproximação, adiada por muito tempo devido aos graves proble-mas políticos enfrentados pelo país africano.

Além de África do Sul e Angola, o Brasil tem se esforçado, em termos diplo-máticos, para se aproximar mais de outros países africanos. O atual governo já visi-tou cerca de 20 países do continente, e missões diplomáticas às nações do Magreb reforçaram a necessidade de uma maior integração entre a África e o Brasil para um reforço das relações comerciais sul-sul.

Outra região do planeta merecedora da atenção do Brasil é a Oceania, em especial a Austrália. Assim como o Brasil, é um país de proporções continentais e novo em termos históricos. Por isso, nossos empresários e diplomatas deveriam estreitar mais os laços. As relações com a Austrália ainda estão aquém das possi-bilidades dos dois países, mas um acordo assinado em 2006, o Bilateral Trade and Investments Commission (BTIC), pode impulsionar as transações Brasil-Austrália, se sair do papel de maneira consistente. Já existem acordos bilaterais nas áreas de serviços aéreos e educação, e esperamos que estes sejam sinais de que realmente ocorrerá um aquecimento no “comercioduto” entre eles.

Mas é claro que não podemos falar de globalização e relações comerciais in-ternacionais sem entrar no tema do meio ambiente. Isso seria quase que um sa-crilégio. Por isso, todos os países que desejam uma verdadeira inserção no mun-do globalizado precisam estar cada vez mais atentos às questões ambientais. O aquecimento global é uma realidade e, embora seja o mais comentado dentre os males causados pelo homem, não é o único. Podemos citar desmatamento, deser-tificação, poluição da água etc. A lista de problemas a serem resolvidos para que as gerações futuras possam crescer em um planeta decente é longa. Felizmente, pro-tocolos como os de Montreal e Kyoto, conferências como a de Bali e o Prêmio Nobel conferido a Al Gore mostram que a humanidade definitivamente acordou, mesmo que questões econômicas e políticas infelizmente ainda interfiram na preservação do meio ambiente. As políticas brasileiras para o tema ainda não se mostraram tão eficazes quanto o necessário, mas a criação, por exemplo, da Lei de Gestão de Flores-tas Públicas, mostra o aumento da atenção do governo federal para com o assunto,

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mesmo que tal lei seja discutível sob alguns aspectos. As instituições brasileiras res-ponsáveis pela fiscalização das leis ambientais, e o estado brasileiro em si, precisam aumentar sua presença principalmente na região amazônica, pois existem mais de 25 milhões de pessoas morando na região, e porque as riquezas devem permanecer em solo brasileiro. A tese entreguista da “internacionalização” da Amazônia deve desaparecer de vez.

Tudo posto, pesado e analisado, espero que os leitores desta obra te-nham aproveitado da melhor maneira possível, ou seja, aprendendo e en-tendendo melhor o peso do Brasil no mundo globalizado. Ou, melhor ainda, de que maneira empresas, empreendedores e diplomatas podem se valer das informações e pontos de vista aqui relatados de maneira benéfica aos interes-ses de suas empresas, países e, claro, do Brasil. Um país com estas dimensões geográficas e econômicas não pode se contentar com um papel coadjuvante no mundo. Para a felicidade de todos nós, tudo indica que mudanças para o melhor posicionamento brasileiro no mundo ocorrerão. Nossos problemas sociais, econômicos e ambientais não vão desaparecer do dia para a noite, mas só entendendo da melhor maneira possível o mundo que nos rodeia, e sendo entendidos por ele, poderemos fazer do Brasil um país à altura das suas potencialidades.

A palavra que fica como recado para o mundo é que será mantida a privilegiada posição de reservas, o superávit orçamentário e, em especial, a movimentação da balança comercial e de pagamentos. Mas não eternamente. Nesse quesito, o importante é colocar metas, para os empresários, para os go-vernos e para a sociedade. Manter o bem-estar atual exige não apenas pensar em um regime de câmbio flutuante, no valor do dólar ou nos juros determina-dos pelo Banco Central. É necessário resolver os problemas da infra-estrutura depauperada, da falta de inovação tecnológica e dos sistemas de importação de máquinas e equipamentos e bens intermediários vitais para continuarmos a ganhar competitividade. Isso melhorará nossos preços e a qualidade dos nossos produtos industriais e agrícolas e dos serviços. E, com isso, a meta de US$ 300 bilhões de exportações anuais tornar-se-á realidade até 2012.

Para nós, empresários brasileiros, é fundamental expandir a abrangên-cia geográfica de nossa atuação. Trata-se de alimentar a ambição por novos mercados. Como já foi dito, o empresariado brasileiro e a sociedade como um todo não podem enfrentar o competitivo cenário comercial internacional com

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timidez e passividade. Globalização não rima com umbigo no balcão. Temos de estabelecer contato direto com os principais atores da economia mundial, seja nas Américas, na Europa, na África, na Ásia ou na distante Oceania.

O caminho não é do lamento, mas sim o da ousadia do Brasil como nação-líder.

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“O Brasil, quando se articula, pode conseguir tudo o que almeja”

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“Nenhum global player será grande se não tiver sustentação de contatos”

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“A escolha não é entre blocos comerciais e paraíso. É entre um maior mercado e o nada”

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“Uma economia com diferentes in-teresses vai sempre existir, mas a prosperidade está nas sinergias”

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Juscelino Kubitschek, 1963.

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Luiz Inácio Lula da Silva, 2008.

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Ronald Reagan, 1983.

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Governadores - Brasil, 2007.

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Madre Teresa de Calcutá, 1988.

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Ricardo Salinas, 2008.

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Helmut Schmidt, 2002.

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Salsburg, 1976.

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O Lançamento

Em maio de 2008, Nova York foi palco de dois eventos muito representati-vos para o Brasil. Foram realizados o “Fórum de Desenvolvimento Susten-tável 2008” e a Conferência “Brasil: 27 Países, Uma Nação”.

Durante a Conferência, no dia 13, lancei esta obra na versão em inglês, na presença de grandes nomes da política e da economia internacionais, muitos constantes neste livro. No dia seguinte à conferência, o Fórum de Desen-volvimento Sustentável 2008 reuniu homens e mulheres de negócio, políticos e ar-tistas no edifício Cipriani Wall Street, próximo à Bolsa de Valores de Nova York. O principal palestrante foi o ex-presidente Bill Clinton, que, inclusive, elegeu o Brasil como o destaque do debate atual sobre sustentabilidade. Segundo ele, “Não se pode subestimar a importância do Brasil em resolver problemas”.

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Mario Garnero, 2008.

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Governadores, 2008.

Luiz Porto, Andre Puccinelli, Luiz da Silveira, Yeda Crusius, 2008.

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Andre Puccinelli e Tereza da Costa Dias, 2008.

Bill Clinton, 2008.

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Thomas Decoene e Abdool Vakil, 2008.

Javier Valls Taberner, 2008.

Paula Dobraski, 2008.

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