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MATEMÁTICA EM LIBRAS
Taise Beatriz Pessenti Pagnoncelli, Bolsista PIBID
Curso de Licenciatura em Matemática da UTFPR Campus Pato Branco
Santos Richard Wieller Sanguino Bejarano, Doutor
Professor do DAMAT, Coordenador de área do PIBID Matemática UTFPR
Resumo:
Depois de muito tempo os alunos com necessidades especiais educacionais estão sendo
inclusos aos poucos nas escolas de ensino regular. Este trabalho tem o propósito de
verificar quais as dificuldades dos alunos com deficiência auditiva que estão inclusos no
ensino médio, a existência de material didático para se trabalhar matemática em libras e
principalmente fazer novas atividades matemáticas que ajudem no desenvolvimento de
habilidades e no processo de ensino aprendizagem dos alunos surdos. Este
entendimento se deu através de uma pesquisa bibliográfica paralela ao desenvolvimento
de atividades e aplicação das mesmas para alunos surdos do Colégio Estadual Castro
Alves – EFM, do munícipio de Pato Branco – PR, como parte do eixo profissional na
ação pesquisa pedagógica do subprojeto PIBID Matemática da UTFPR Campus Pato
Branco. Sendo que através deste processo pode – se analisar os problemas que cada um
enfrenta no decorrer do aprendizado.
Palavras-chave: Aluno com deficiência auditiva; inclusão social; ensino da
matemática; recursos didáticos.
1. INTRODUÇÃO
A inclusão dos surdos é um fato que envolve as pessoas que apresentam esta
necessidade educativa especial, a comunidade escolar e a família. A cada dia que passa
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a inclusão se fortalece mais e o papel da educação escolar é preparar o educando para a
sociedade das diferenças, a inclusão social, aponta para o respeito e a adaptação às
pessoas com necessidades educacionais especiais e destas à sociedade em que vivem.
Em relação ao ensino de matemática para os alunos surdos, alguns professores
consideraram esta disciplina como a que menos apresenta dificuldade, mas o que se
percebe atualmente é que os professores necessitam de material bibliográfico, de
recursos didáticos que lhes permita usar na sala de aula para atender aos surdos,
Os recursos didáticos favorecem e complementam o aprendizado do aluno surdo,
fazem com que o aluno seja estimulado a conviver em sociedade, sendo assim através
deste projeto de pesquisa pedagógica “matemática em libras” feita através do PIBID de
Matemática da UTFPR Campus Pato Branco no eixo profissional, na ação pesquisa
pedagógica orientado por um professor do Departamento de Matemática (SANGUINO
BEJARANO, 2009). Este trabalho foi motivado pela disciplina de libras do curso de
Licenciatura e por minha experiência em sala de aula como bolsista PIBID atuando
desde 2011 no C. E. Tancredo Neves no município de Francisco Beltrão, no C. E.
Carlos Gomes e atualmente C. E. Pato branco – PREMEM, ambos no município de Pato
Branco e todos no estado do Paraná atuando em reforço, treinamento para OBMEP e
acompanhamento de professores regentes em sala de aula.
Foram criadas algumas atividades para ajudar no desenvolvimento do aluno
surdo na leitura na escrita na resolução de atividades e no raciocínio lógico matemático.
Esses recursos foram aplicados em uma escola pública para uma turma de reforço do
ensino médio, onde os alunos tem bastante dificuldade na matemática básica.
2. DEFICIÊNCIA AUDITIVA E LIBRAS
A deficiência auditiva é a incapacidade total ou parcial de audição, pode ser de
nascença ou causada por doenças. É classificada como deficiência de transmissão,
deficiência mista e deficiência interna. No passado, costumava-se dizer que a surdez era
acompanhada por algum problema de inteligência. Porém, com a inclusão dos surdos no
meio educacional, ficou entendido que eles não tinham possibilidade de desenvolver a
inteligência devido à falta de comunicação entre os surdos e os ouvintes.
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Segundo Abreu (2006, p.9) o desenvolvimento da língua de sinais proporcionou
aos surdos novas oportunidades de aprendizado. A Língua Brasileira de Sinais – Libras
é a língua própria do surdo, sendo esta uma língua de modalidade oral visual, vai
explorar os sentidos de que ele dispõe. É um sistema linguístico legítimo e natural,
utilizado pela comunidade surda brasileira, de modalidade gestual-visual e com
estrutura gramatical independente da Língua portuguesa falada no Brasil.
A Língua Brasileira de Sinais possibilita o desenvolvimento linguístico, social e
intelectual daquele que a utiliza enquanto instrumento comunicativo, favorecendo seu
acesso ao conhecimento cultural-cientifica, bem como a integração no grupo social ao
qual pertence.
3. A INCLUSÃO SOCIAL
É interessante analisar que o aluno surdo percebe o mundo e processa a aquisição de
conhecimentos através de um canal diferente do que o usado em algumas escolas
inclusivas, que insistem em alocar esses alunos desconsiderando as necessidades de
cada um. A inclusão de alunos que apresentam necessidades educacionais especiais na
rede regular de ensino não consiste apenas na permanência física destes junto aos
demais educandos, representa o desenvolvimento potencial das pessoas, respeitando
suas diferenças e atendendo suas necessidades.
Para Mantoan (2005, p.24), inclusão.
é a nossa capacidade de entender e reconhecer o outro e, assim, ter o privilégio
de conviver e compartilhar com pessoas diferentes de nós. A educação inclusiva
acolhe todas as pessoas, sem exceção. É para o estudante com deficiência física,
para os que têm comprometimento mental, para os superdotados, para todas as
minorias e para a criança que é discriminada por qualquer outro motivo.
Costumo dizer que estar junto é se aglomerar no cinema, no ônibus e até na sala
de aula com pessoas que não conhecemos. Já inclusão é estar com, interagir
com o outro.
É preciso renovar o entendimento sobre o quanto a educação e o conhecimento
são importantes valorizar as trocas e acolher as diferenças como possibilidade de
aprendizagem do conhecimento e das relações e, em especial, pela possibilidade de
enxergar o mundo de forma diferente.
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De acordo com SÁ (2002, p.359), questionar a inclusão pode parecer insensato,
principalmente porque a opinião corrente é de que esta é uma estratégia “politicamente
correta”, mas, tal questionamento é necessário para que seja pensada e viabilizada uma
escola pautada numa política da diferença ou para a diferença, de modo a que sejam
concretizados processos de aprendizagem significativos e eficazes. Tal questão diz
respeito à ampliação sobre o papel que cabe à escola no contexto da educação, e, refere-
se à outra dimensão quanto à participação dos surdos no processo educacional.
O objetivo da escola inclusiva é o de que todos os alunos devem aprender juntos,
independente das dificuldades ou diferenças que estes possam ter uma educação de
qualidade. É preciso que as escolas inclusivas reconheçam e respondam as diversas
necessidades que os seus alunos possuem.
Segundo SÁ (2002, p.82), não se pode pensar na educação para as minorias sem
entender como é que se compõem estes grupos humanos distintos, entre os quais estão
os surdos – que não são grupos monolíticos, que não pensam todos iguais, que tem
marcas diferentes, marcas culturais constitutivas. Não dá para pensar a educação do
ponto de vista de quem planeja, sem oferecer escuta para estes grupos aos qual a
educação supostamente se destina.
Sabemos que a inclusão do aluno surdo, é possível quando se proporciona educação,
acessibilidade, respeito, pois quando um aluno surdo é incluso sem disponibilizar lhe a
língua de sinais, se torna difícil à comunicação com este aluno e consequentemente o
processo de ensino e aprendizagem estará comprometido.
Segundo Projeto Escola Viva, (2000) "as necessidades especiais revelam que tipos
de estratégias, diferentes das usuais, são necessários para permitir que todos os alunos,
inclusive as pessoas com deficiência participem integralmente das oportunidades
educacionais, com resultados favoráveis, dentro de uma programação tão normal quanto
possível".
Para se construir uma escola que inclui deve-se analisar que os envolvidos nesta
constituição devem estar atentos aos próprios valores e condutas bem como disponíveis
em acreditar e abrir-se para o novo para o diferente. Ter a compreensão das
necessidades e dos interesses que a escola se vale para o desenvolvimento de sua
personalidade, e da sua formação através conhecimento.
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4. ENSINO DA MATEMÁTICA
Em muitas escolas públicas a utilização de recursos está fora da realidade, mas com
a inclusão sendo inserida no ambiente escolar, o professor precisa criar metodologias e
técnicas de ensino, é um novo desafio para esses profissionais da educação matemática,
muitos não sabem como agir, sentem dificuldades na preparação das aulas a serem
apresentadas, e isso reflete dentro da sala de aula.
É de grande importância que especialmente no ensino da matemática o educador
construa métodos que utilize recursos didáticos para ensinar, que potencializem outros
mecanismos de comunicação, principalmente o visual, pois quando se trata da educação
de surdos, a metodologia de ensino se torna muito importante, sendo que se estão
envolvidas pessoas pertencentes a uma cultura distinta, que pensam e desenvolvem seu
conhecimento de forma diferente. É necessário adaptar a metodologia que utilizamos na
sala de aula para atender esse novo público, para que estes possam construir pensar e
expressar seu conhecimento de forma satisfatória.
Segundo Vygotsky (apud FELTRIN, 2004) o aprendizado e consequentemente o
crescimento do indivíduo se dá por dois meios, um através do meio em que vive com as
pessoas, e de outro o próprio indivíduo, que deve se impor e empenhar-se para que
realmente haja crescimento e aprendizagem.
Então, tanto o próprio aluno surdo quanto os alunos ouvintes, professores de
matemática e familiares devem se empenhar para que haja integração de todos buscando
a melhoria da qualidade de educação.
5. RECURSOS DIDÁTICOS
Os recursos didáticos são usados frequentemente por professores e alunos, é um
instrumento comum para trabalhar e ensinar traz diversos graus de complexidade sobre
vários aspectos que dizem respeito às possibilidades de aprendizagem. Os recursos
devem ser objetos físicos, concretos, manipuláveis com finalidade didática. Pode-se
dizer que o uso desses recursos tem duas finalidades no processo de ensino, a
aprendizagem e a avaliação.
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Na aprendizagem os recursos devem trazer características que possibilitem a
mesma. No caso da avaliação os recursos didáticos são usados para saber se os objetivos
da aprendizagem foram alcançados. O recurso deve ser adaptado pelo professor
conforme houver necessidade do aluno.
Neste trabalho foram desenvolvidos, criados recursos didáticos, atividades
matemáticas que motivassem o aprendizado dos alunos surdos, pois não encontramos
material bibliográfico específico de libras para o ensino da matemática básica a
disposição.
Nesta primeira parte trabalhamos com os alunos surdos sequência numérica,
sinais de adição, multiplicação, subtração, divisão e principalmente atividades
envolvendo adição e multiplicação.
Esses recursos didáticos foram aplicados em uma turma de reforço do ensino
médio com quatro alunos surdos inclusos que sabem a língua de sinais e se comunicam
só através dela, a professora da turma Elaine Beilner que também sabe a língua de
sinais sempre esteve presente durante a aplicação destes recursos no Colégio Estadual
Castro Alves – EFM no munícipio de Pato Branco- PR.
A seguir estão às atividades de criação própria colocadas em ordem de aplicação
do projeto, elas foram feitas com o objetivo de ajudar os alunos a superar a dificuldade
em aprender a matemática básica.
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Figura 1. Avaliação de entrada. Fonte: própria
Figura 2. Números de 0 a 9 e as operações elementares em libras. Fonte: DADA, ZANÚBIA. Matemática
em Libras CAS/SED/MS. Campo Grande – MS, 2009
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Figura 3. Exemplos de adição. Fonte: própria.
Figura 4. Atividade quadro da adição. Fonte: própria
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Figura 5. Atividade descobrindo a palavra. Fonte: própria
Figura 6. Exemplos de multiplicação. Fonte: própria
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Figura 7. Código. Fonte: própria
Figura 8. Exercícios de interpretação. Fonte: Bancos de questões da Obmep
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6. APLICAÇÃO E RESULTADOS
O projeto foi aplicado em oito horas aulas, sendo que no primeiro instante os
alunos fizeram uma atividade avaliativa para diagnosticar em que eles tinham mais
dificuldade, em seguida depois de ter feito essa análise foram aplicadas várias
atividades que ajudaram no desenvolvimento do raciocínio de cada aluno.
As atividades feitas incluíram identificação dos sinais de adição, multiplicação,
subtração e divisão e dos números de zero à cem, nas primeiras aulas trabalhamos com a
parte de adição, vimos a tabuada da soma do um até o dez, exemplos de operações de
adição com um, dois e três dígitos, várias atividades como o quadro da adição,
descobrindo a palavra, pirâmide mágica, jogo soma quinze. Nas outras aulas vimos à
tabuada da multiplicação e alguns exemplos de multiplicação com um, dois e três
dígitos, também fizemos outras atividades como o quadro da tabuada, o código, adoro
multiplicar e ainda resolvemos alguns problemas que exigiam bastante interpretação.
Quanto aos resultados, abaixo segue em tabela com as atividades, os alunos e a
forma como avaliei cada atividade que cada um deles fez. Sendo que cada aluno tem sua
própria característica, o seu jeito de fazer as atividades o seu tempo de entender as
atividades, alguns tem mais facilidade enquanto outros precisam de ajuda para
conseguir realizar o que é proposto.
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QUADRO DE AVALIAÇÃO
Atividades desenvolvidas pelos alunos Aluno 1 Aluno 2 Aluno 3 Aluno 4
1- Atividade avaliativa; O O O O
2- Identificações dos sinais das operações e dos números; E O O O
3- Tabuada da soma; O B B B
4- Contas de adição com um, dois, três dígitos; O B O O
5- Atividade: quadro da adição com um dígito; O B B O
6- Atividade: quadro da adição com dois dígitos; O O O O
7- Atividade: quadro da adição com três dígitos; O B B O
8- Atividade: descobrindo a palavra; E O E O
9- Atividade: pirâmide mágica; B O E NF
10- Jogo soma quinze; B B B NF
11- Tabuada da multiplicação; B B B B
12- Quadro da tabuada; B R B O
13- Exemplos de multiplicação; O B B O
14- Código; O O O NF
15- Atividade: adoro multiplicar; O B O NF
16- Problemas matemáticos de interpretação. O B NF O
Legenda:
R- Ruim
B- Bom
O- Ótimo
E- Excelente
NF- Não fez
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7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com este trabalho foi possível analisar as várias dificuldades de aprendizado que
o aluno com deficiência auditiva enfrenta no decorrer de sua trajetória estudantil. A
inclusão social é outro aspecto a ser construído nas escolas, pois a escola quando inclui
deve acreditar e abrir-se para o diferente e ter compreensão das necessidades e dos
interesses de cada aluno.
Os recursos didáticos para o ensino da matemática são bastante importantes, pois
estes possibilitam o aprendizado e também ajudam no processo avaliativo. Aqui neste
trabalho foram desenvolvidas algumas atividades e aplicadas numa turma de alunos
surdos do ensino médio com dificuldades em matemática básica. Os resultados foram
satisfatórios, os alunos se esforçaram bastante durante o período de aplicação do
projeto, e os recursos foram adaptados conforme a necessidade de cada um.
Portanto, durante todo esse processo de pesquisa bibliográfica, desenvolvimento
dos recursos didáticos e o período de aplicação e resultados dos mesmos, ficou claro
que é preciso sermos compreensivos diante das diversas situações que ocorrem ao nosso
redor, no ambiente escolar
Com este trabalho desejamos motivar futuros professores de matemática ir
construindo e aplicando materiais didáticos aproveitando a disciplinas de libras que é
obrigatório nos cursos de licenciatura em Matemática para construir um perfil de
professor que inclui.
8. AGRADECIMENTOS
A Capes pela bolsa, ao subprojeto PIBID Matemática UTFPR Campus Pato
Branco pela oportunidade, ao meu orientador professor Santos Richard Wieller
Sanguino Bejarano, ao Colégio Estadual Castro Alves – EFM e a professora Elaine
Beilner pelo apoio durante a realização do projeto.
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REFERÊNCIAS
ABREU, A C. Língua Brasileira de Sinais: Uma conquista histórica. Senado Federal -
Brasília. 2006, p. 5 – 10.
BRASIL, Ministério da Educação. Secretária de Educação Especial. Projeto Escola
Viva: Garantindo o acesso e permanência de todos os alunos na escola: alunos com
necessidades educacionais especiais. Brasília, v. 1 a 6, 2000.
DADA, ZANÚBIA. Matemática em Libras CAS/SED/MS. Campo Grande – MS, 2009
FELTRIN, A. E. Inclusão Social na Escola: quando a pedagogia se encontra com a
diferença. São Paulo: Paulinas, 2004.
MANTOAN, M. T. E. Inclusão é o privilégio de conviver com as diferenças. In:
Nova Escola, maio de 2005.
SÁ, N.R. Cultura. Poder e Educação de Surdos. Manaus: Universidade Federal do
Amazonas, 2002.
SANGUINO BEJARANO. S. R. W. Programa Institucional de bolsa de Iniciação à
Docência - PIBID. 2009. Disponível em:
<http://pessoal.utfpr.edu.br/richardwsb/arquivos/PIBIDmatematica2009.pdf> Acesso
em: 29 jul. de 2013