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MÍDIAS , INTERAÇÃO E APRENDIZAGEM COLABORATIVA: DISCUTINDO OS
FUNDAMENTOS DA EAD
Emerson Pessoa VIDAL, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo Marcia Cristina BACIC, Universidade de São Paulo
Eixo 08: Educação à distância na formação de [email protected]
1. Introdução
Uma enxurrada de informações invade a vida diária com múltiplas fontes e uma
complexidade que parece deixar o professor atônito. São mobilizadas competências e habilidades
que exigem não só do aluno, mas do professor uma consciência aprofundada de conteúdos que
antes não lhes era requisitada.
Em nossa sociedade as mídias ocupam um lugar de destaque, pois vivemos em uma
época em que a informação provém de inúmeras fontes e de espaços diversos. Atualmente
ensinar e aprender demanda muito mais flexibilidade espaço-temporal, pessoal e de grupo; menos
conteúdos fixos e processos mais abertos de pesquisa e comunicação (Moran, 1999). O mesmo
autor ainda nos diz que: “temos informações demais e dificuldade em escolher quais são
significativas para nós e conseguir integrá-las dentro de nossa mente e da nossa vida” (MORAN,
1999, p.1).
Dessa forma pode-se dizer que aprendizagem está cada vez menos centrada no professor,
as tecnologias da informação disponibilizam muitas informações e dados e o papel do professor
está muito investido de ser o facilitador dessa aprendizagem, auxiliando o aluno a interpretar,
relacionar e contextualizar elementos informativos.
Mas para que esse aluno possa aprender de fato, exige-se destes educadores um nível
maturidade e autonomia que lhes permita motivar e dialogar com o aprendiz, enriquecendo o
ambiente de aprendizagem não com certezas, mas com verdades provisórias que relativizem e
valorizem a diferença propiciando novas descobertas e novos apanhados de conhecimento.
Segundo Garnim e Dainese (2010), a Educação a Distância utiliza os recursos
tecnológicos para a gestão acadêmica, administrativa e para mediar o ensino-aprendizagem. A
gestão da EaD precisa considerar a intensa interação que deve existir entre todos os atores deste
processo, aluno, tutor, professor e instituição. Para efetivar tal interação é preciso um sistema
tecnológico que seja pensado a fim de facilitar e possibilitar a interação desejada, valendo desta
maneira de diferentes mídias.
Ao contrário do ensino tradicional no qual o professor é previsível e não nos surpreende,
pois passa a ditar o conhecimento de maneira uniforme sem oscilação e repetitivamente, o
professor sensível e humano que surpreende na diferença e na busca por uma dialética
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democrática de ensinar está mais afeiçoado ao processo do que ao resultado em si, e está mais
próximo da inovação, criatividade e intercâmbio de informação.
A educação a distância vem viabilizando a democratização do acesso ao ensino e
potencializando a transformação nos processos de ensino e de aprendizagem, pois fomenta ao
aluno o papel heterárquico, flexível e participativo. A utilização das diversas interfaces de
comunicação virtual na EaD deve ser vista como processo complementar que permite maior
clareza e compreensão dos conteúdos trabalhados, estimulando a pesquisa, a criatividade e o
caráter colaborativo.
2. Objetivos
Objetivamos identificar as interfaces de comunicação virtual utilizadas no processo de
ensino-aprendizagem; analisar as concepções dos estudantes de cursos na modalidade a
distância sobre a importância dos recursos midiáticos e dos ambientes colaborativos de EaD para
sua aprendizagem, e estabelecer uma correlação entre as ferramentas de comunicação e a
aprendizagem.
3. Referenciais e procedimentos metodológicos
Nossa investigação tem caráter qualitativo e quantitativo Minayo e Sanches (1993), pois a
natureza dos dados demanda a complementariedade desses dois tipos de análise.
Após a revisão bibliográfica focando em educação a distância, mídias na educação,
pedagogia sociocultural e metodologias de pesquisa, escolhemos como método de tomada de
dados o questionário. As questões foram elaboradas e disponibilizadas no Google Docs, foram
convidados para responder o questionário alunos de diferentes cursos no formato EaD em um
polo de apoio presencial de Juiz de Fora - MG. A adesão à participação na pesquisa foi voluntária
e confirmada no próprio questionário, o sigilo dos nomes dos participantes foi preservado. Para
análise dos dados usamos procedimentos de análise de conteúdo e estatística descritiva
(frequências absolutas e relativas). As questões foram de natureza fechada estruturada, de
múltipla escolha e de natureza dicotômica.
4. Educação a distância, aprendizagem colaborativa e ambiente virtual de
aprendizagem (AVA)
Entende-se por Educação a Distância (EaD) todo processo de ensino-aprendizagem em
que aquele que ensina está em ambiente espacial diferente daquele que aprende. Costa e
Albornoz (2010, p. 11) complementam que, “o ensino que ocorre quando o professor e o aluno
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estão separados (no tempo ou no espaço), mas podem se comunicar através de mecanismos que
são desenvolvidos para este fim”. A Legislação Brasileira define EaD no Decreto nº 5.622, de 19
de dezembro de 2005 “[...] ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e
comunicação, com estudantes e professores [...]” (BRASIL, 2005). Joye (2010, p. 29) apresenta
que EaD é usada no Brasil como um termo genérico para designar as diversas formas de
mediação estudante-professor-conteúdo em uma situação de aprendizagem.
A extensão territorial do Brasil dificulta a realização de formações nas cidades localizadas
no interior dos Estados e seu controle de qualidade. Além disso, analisando a realidade brasileira,
é possível observar que durante anos o surgimento e ampliação de instituições educacionais
foram centralizados nas regiões Sul e Sudeste. Para mudar esse quadro de desigualdade, a EaD
torna-se uma alternativa para uma maior disseminação do conhecimento e formação em qualquer
área acadêmica, pois possibilita a formação de sujeitos dispersos geograficamente, alcançando
uma maior abrangência territorial com menores gastos. (PEREIRA et. al., 2012).
A ideia de aprendizagem colaborativa deriva de teorias pedagógicas sociointeracionistas
que atribuem ao aluno um papel ativo em seu processo de aprendizagem e ao professor a
posição de mediador. Essa abordagem concebe a aprendizagem como um fenômeno que se
realiza na interação com o outro. Citando Vygotsky, Oliveira et al (2004) explica que há dois níveis
de conhecimento: o real e o potencial. No nível real, o indivíduo consegue realizar atividades por
si mesmo, com autonomia e independência. Já no nível potencial, é necessária a ajuda do outro,
alguém que intermedeie. A distância entre o conhecimento real e o potencial é a zona de
desenvolvimento proximal, onde estão as funções psicológicas ainda não consolidadas. Desta
forma o desenvolvimento cognitivo acompanhado de aprendizagem estaria relacionado ao fato de
o indivíduo ser desestabilizado por novos conhecimentos em que outros sujeitos na interação
promoveriam a construção desse novo saber. Em suma, na abordagem sociocultural a
aprendizagem se dá através da construção coletiva, da relação, do questionamento, da
cooperação, do compartilhamento e da troca experiências.
Segundo Freire (1996, p. 47) “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar
possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Por isso é tão importante que no
ambiente virtual de aprendizagem (AVA) existam possibilidades de interação com professores,
tutores e outros cursistas e discussão das informações transmitidas através dos recursos
midiáticos. As interações possibilitam a construção de novos conhecimentos.
A aprendizagem colaborativa pressupõe um ambiente de aprendizagem aberto em que o
sujeito se envolve nas atividades e é instigado a refletir sobre o que faz, sendo-lhe dada
oportunidade de pensar por si mesmo e de comparar o seu processo de pensamento com o dos
outros, promovendo o pensamento crítico.
Nos últimos anos, os ambientes virtuais de aprendizagem (AVA) estão sendo cada vez
mais utilizados no âmbito acadêmico e corporativo como uma opção tecnológica para atender
uma demanda educacional.
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Em consonância com essa nova possibilidade educacional, e na tentativa de alinhar as
produções de materiais didáticos que servissem como referenciais para as mais variadas ofertas
de cursos na modalidade em educação a distância, o Ministério da Educação, Brasil (2007),
conceitua Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVA) como:
[...]programas que permitem o armazenamento, a administração e a
disponibilização de conteúdos no formato Web. Dentre esses, destacam-se: aulas
virtuais, objetos de aprendizagem, simuladores, fóruns, salas de bate-papo,
conexões a materiais externos, atividades interativas, tarefas virtuais (webquest),
modeladores, animações, textos colaborativos (wiki).
Esses conteúdos no formato Web, disponibilizados nos ambientes virtuais de
aprendizagem, são denominados, genericamente, mídias. De acordo com Santos e Silva (2010,
p.7) mídia é “o meio que a comunicação utiliza para alcançar seus objetivos, tanto direcionado
para a própria comunicação, como também para alcançar um vasto número de pessoas”. Mancini
(2014), por sua vez, enfatiza que o uso de mídias digitais na EaD foi promovido a partir do
advento do CD-ROM e da possibilidade de leitura e processamento por meio de computadores
pessoais. Na década de 90, o CD-ROM se popularizou como principal meio para armazenamento
de informações digitais tornando possível publicar em mídias digitais conteúdos como imagens,
sons vídeos, além de grandes volumes de livros, revistas e enciclopédias. O formato digital
favorece a organização da informação na forma de hipertexto, permitindo a livre a navegação por
intermédio de links que quebram a sequencialidade da leitura.
4. Resultados e Discussões
Apresentamos a seguir os dados obtidos e as análises efetuadas a partir da tabulação dos
questionários. No cabeçalho do questionário era explicada a definição de mídia como conteúdos
no formato Web disponibilizados no ambiente virtual de aprendizagem (Brasil, 2007).
Começamos com uma caracterização geral dos estudantes e após apresentamos os dados
obtidos nas questões em que os estudantes deveriam avaliar as mídias disponíveis em seu
ambiente virtual de aprendizagem.O questionário foi respondido por 51 estudantes de cursos EaD de graduação, pós-
graduação lato sensu. As questões versaram sobre o perfil dos estudantes em relação à idade,
curso, experiência em cursos EaD, avaliação das mídias utilizadas no curso e da própria
interação com essas mídias. Observou-se que a maioria deles (75%) se encontravam em uma
faixa etária superior a 31 anos, evidenciando uma maior procura dessa modalidade de curso por
pessoas mais maduras.
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Quanto ao curso que estavam fazendo quando foram convidados a participar da pesquisa
63% cursava a graduação, 33% estavam em cursos de pós-graduação e apenas 3,92%
participavam de cursos de extensão. A maioria dos alunos estavam fazendo um curso na modalidade EaD pela primeira vez,
contudo o número de sujeitos que teriam feito dois ou mais cursos completos também foi
significativo com cerca de 30% dos sujeitos tendo iniciado e 16% concluído cursos nessa
modalidade. Esses dados indicam um percentual grande de pessoas que tiveram experiência
exitosa com a EAD.
Em relação ao envolvimento com as atividades do curso, 79% (40 estudantes) se
considerava participativa/ativa; 7,9% (4 estudantes) declararam ser do tipo mais passivo/receptivo
quando se trata de executar tarefas durante o curso. Percebemos aqui, que há uma
predominância de estudantes mais autônomos, algo muito exigido nos cursos no formato EaD,
que exigem uma auto-gestão do tempo e dos estudos.
O grupo estudado demonstrou uma clara preferência por mídias do tipo vídeos e fóruns,
este último alcançando uma porcentagem de 75% dos usuários que o qualificaram como uma
mídia que é relevante para o processo de aprendizagem. Isso evidencia que os estudantes
valorizam a interação, uma vez que o fórum é uma ferramenta bem interativa. O vídeo com cerca
de 71% foi a segunda mídia mais citada. A terceira mídia mais citada foi o trabalho escrito com
49% dos interrogados tendo atribuído importância a essa mídia.
Quando perguntado qual o recurso midiático de informação utilizado em seu curso
contribui de forma significativa para o processo de aprendizagem, os sujeitos responderam que o
vídeo seria a mídia que mais contribuiria para o processo de aprendizagem, com um número de
sujeitos em torno de 95%, declarando ser ela a mais importante mídia utilizada durante o processo
de ensino/aprendizagem do aluno. A potencialidade de aprendizagem através do vídeo aumenta
muito com a interação. A associação entre vídeo e fórum pode ser muito enriquecedora e talvez
seja ela que esteja promovendo uma maior aprendizagem e não o vídeo isoladamente.
Relacionado à quantidade de mídias disponibilizadas durante o curso, 10% disseram que
o curso tinha mídias até demais, 30% disseram que a quantidade de mídias era insuficiente e que
podia conter mais, e 60% disse que o curso tinha mídias na medida certa. Partindo desses dados,
podemos dizer que a maioria dos estudantes está satisfeita com a quantidade de recursos
midiáticos no curso. Além disso, o fato de apenas uma pessoa ter dito que no curso quase não
havia mídias, torna esses dados mais fidedignos, uma vez que evidenciam que os componentes
do curso realmente acreditam que o curso os supre em termos de recursos tecnológicos.
O índice de satisfação com a variedade de materiais supera os 80%, esse é um dado
relevante e que denota muito sobre os cursos oferecidos no polo, podemos dizer que os
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estudantes, de um forma geral, estão satisfeitos com os recursos midiáticos oferecidos pelo curso
tanto quantitativa quanto qualitativamente.
Em relação ao nível de satisfação com o ambiente de aprendizagem, cerca de 16% o
consideraram plenamente satisfatório; 63% consideraram satisfatório; 19% razoavelmente
satisfatório; e menos de 2% consideraram insatisfatório. Os cursos conquistaram conceitos
satisfatórios de 78% dos estudantes, o que demonstra que os cursos estão atingindo os objetivos
de apresentação de uma plataforma interativa e agradável para os alunos.
Os estudantes destacaram a importância das mídias para a aprendizagem em suas
respostas: 65% relataram que todas as mídias contribuíram para sua aprendizagem e 35%
disseram que algumas contribuíram. Nenhum estudante relatou que as mídias não tivessem
contribuído para sua aprendizagem. Esses dados acompanham aqueles da literatura que dizem
que as mídias são propiciadoras e potencializam a aprendizagem. Segundo Moran (2007) as
mídias colaboram com o desenvolvimento de habilidades, atitudes e das inteligências e não só
isso, mas também de habilidades espaço-temporais, sinestésicas e criadoras.
Abordando a questão da escrita, leitura e conhecimentos teóricos, podemos dizer que os
participantes apontaram as mídias como propiciadoras da ampliação da capacidade dos alunos.
Assim podemos dizer que segundo os respondentes dos questionários, a ampla maioria considera
que as mídias de alguma forma amplificam a capacidade de leitura e escrita das pessoas que dela
se utilizam. Com 49 pessoas de 51 fazendo tal afirmação contra apenas 2 que disseram o
contrário e que representam apenas cerca de 4% do questionário respondidos.
Figura 1/Autoria própria
Para os sujeitos em análise a questão da colaboratividade é algo essencialmente
importante, sendo que 69% daqueles que responderam ao questionário julgam importante fazer o
trabalho conjuntamente. Apenas 10% disseram que preferem fazer o trabalho sozinho. Isso
implica em sujeitos mais dispostos ao trabalho colaborativo e a construção de um conhecimento
em grupo. Esses dados podem ser observados nas Figuras 1 e 2.
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Figura 2/ Autoria própria
Para Souza (2013) a aprendizagem autônoma não deve ser confundida com acentuação
do individualismo, mas antes como a capacidade de pensar por si próprio em situações que
requerem compartilhamento/troca de informações, cooperação e diálogo, ressaltando o saber de
cada membro de um grupo em busca do saber coletivo. O ambiente que proporciona resolução de
problemas é aquele que pode desenvolver as habilidades do sujeito.
Com relação à colaboratividade proporcionada pelo ambiente virtual de aprendizagem,
cerca de 63% dos respondentes acredita que o mesmo esteja proporcionando tais atividades
satisfatória e plenamente. Apenas 6% consideram o trabalho colaborativo insatisfatório (figura 2).
Esses dados corroboram os anteriormente apresentados de que a colaboratividade é
importante tanto para os alunos, quanto para o curso que o estimula em suas atividades. O fato de
o curso ter mídias de qualidade disponíveis e atividades colaborativas é o que o torna singular e
atrativo para os estudantes.
Segundo os respondentes dos questionários o ambiente de aprendizagem no qual
estavam inseridos possibilitava a adequada interatividade, trocas de ideias e manifestação da
opinião e reflexão grupal, foram mais de 90% que disseram que pelo menos razoavelmente o
ambiente proporcionava interação, sendo que desses 45% disseram que o ambiente era muito
interativo. Sendo assim podemos dizer que o ambiente de aprendicagem está proporcionando o
devido relacionamento e um alto grau de cooperatividade entre seus membros.
Mídias, colaboração e interação, um passo para o pleno desenvolvimentointelectual/cognitivo
Um aspecto importante das mídias é que elas podem proporcionar inquietação e servir
como abertura para um tema abrindo novas perspectivas de interpretação, de olhar, de perceber,
sentir e de avaliar com mais profundidade (Moran, 2004).
Moran (2000), ainda nos diz que o processo de compreensão, de síntese pessoal de tudo
que foi lido, ouvido, discutido e observado, se dá através da interiorização, e se equilibrarmos o
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interagir e o interiorizar conseguiremos avançar mais, compreender melhor o que nos rodeia, o
que somos; conseguiremos levar para aqueles que nos cercam novas sínteses e não seremos só
papagaios, repetidores do que ouvimos.
Percebemos que, dentre os cursistas há muitos bem adaptados e em consonância com a
metodologia aplicada nesses cursos em EaD, dentre eles, destacam-se os alunos da graduação
em Pedagogia. Apesar de uma boa parcela (49%) ser de alunos que está cursando uma
graduação pela primeira vez, 46% dos alunos, aproximadamente, já concluiu pelo menos um
curso a distância. Esses dados nos revelam que se trata de uma população mais adaptada à
metodologia EaD e que concorda e atribui valor a seus instrumentos de aprendizagem.
Inter-relacionando os dados obtidos na pesquisa podemos dizer que temos um sujeito
que acredita estar em um processo de aprendizagem onde as mídias ocupam lugar de destaque
e de importância estrutural. Sendo o trabalho colaborativo algo que se dá entre os membros
participantes do curso e que é visto como algo que ocupa um importante lugar na cadeia de
aquisição de conhecimento. Temos por base que o individuo respondente está com uma ampla
afinidade com os materiais que constituem o curso e que estes estão servindo como meio para
intermediação de interações entre os participantes, principalmente no que tange o fórum que se
constitui em um lugar para reflexão e debate, prevalecendo a troca de opinião interativa e crítica.
Além disso, o vídeo e os fóruns (ambos apontados como importantes na construção do
conhecimento) são ferramentas que permitem ao aluno uma intensa rememoração cognoscente.
Conforme assinala Mattar (2009) o vídeo tem sido muito utilizado como recurso em função de
alcançar múltiplos estilos de aprendizagem e de inteligência, uma vez que, uma grande parcela
dos discentes aprende mais quando submetidos a estímulos visuais e sonoros, nisso a EaD difere
da maioria dos cursos presenciais no qual o material impresso é o principal recurso utilizado. O
vídeo enquanto recurso pedagógico toca a sensibilidade auditiva e visual do educando,
possibilitando uma linguagem que vai de encontro às necessidades dele, uma vez que permite o
encontro entre palavras, gestos e movimentos. Ela sai da linearidade da aprendizagem e entra em
um estado de “desorganização” criadora de novos conceitos. Segundo Moran (1995) o vídeo
entrelaça o imaginário, a intuição com a razão, tornando o processo ensino-aprendizagem mais
emocional, mais intuitivo e sedutor.
Já o fórum é o cerne da construção da leitura e escrita bem como do embate de ideias e
construção de novos conhecimentos que advirão por meio do debate. Ter um aluno que confere
um alto grau de importância a tal instrumento, é ter um aluno que valoriza a interação e
construção do conhecimento. Conforme nos diz Jonassen (1996), “as tecnologias podem ser
usadas para aliciar e apoiar o pensamento reflexivo, conversacional, contextual, complexo,
intencional, colaborativo, construtivo e ativo do estudante à distância”. É assim que quando os
estudantes se envolvem nesses significados e na construção dos processos, a aprendizagem
significativa surgirá naturalmente, uma vez que aprendizagem a partir de uma perspectiva
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construtivista fundamenta-se no diálogo, ou seja, em interações consigo mesmo, com os outros e
com objetos que lhes permitam uma fácil comunicação e reflexão.
5. Considerações finais
Na pesquisa realizada podemos notar que os sujeitos atribuíram um grande valor para a
incorporação de mídias ao desenvolvimento das atividades de natureza acadêmica e
reconheceram a importância dos momentos de interação como nos fóruns. Percebemos também
a importância atribuída às mídias audiovisuais, uma vez que os vídeos foram a segunda mídia
mais citada.
Segundo dados dos questionários obtidos, o ambiente de aprendizagem possibilita a
interatividade entre esses alunos, cerca de 90% dos respondentes afirmaram que o ambiente era
proporcionador de razoável a muita interatividade. Acreditamos que mídias como fóruns, vídeos e
links (que foram as mais citadas) como forma de contribuição com a aprendizagem sejam
importantes porque intensificam o contato com o outro, ou seja, permitem trocas entre os alunos e
entre os tutores, professores e alunos.
Os conceitos de interação relacionados à Vygotsky sempre envolvem pessoas em
relacionamento, ou seja, a pessoa que ensina, a pessoa que aprende e a relação entre elas. De
fato o significado para Vygotsky da aprendizagem está intrinsecamente relacionado ao conceito
de interação social e de interdependência entre os indivíduos que fazem parte de um processo tão
imbricado como é a aprendizagem.
As ferramentas do AVA devem estimular a interatividade e a troca de ideias, bem como a
construção compartilhada do conhecimento que é o cerne para a funcionalidade do processo de
aprendizagem.
As mídias incorporadas à metodologia de ensino/aprendizagem são benéficas no sentido
em que promovem uma desestabilização do sujeito e de sua condição passiva, e num contexto de
interação com outras pessoas se torna ainda mais enriquecedora. Elas são motivadoras de um
processo dialético, que não ocorre em muitas situações concretas do dia a dia, pois segundo
Moran (2004, p. 249): “se vê diluído pelo peso da organização, da massificação, da
burocratização, da rotinização, que freia o impulso questionador, superador e inovador”.
É dessa forma que podemos afirmar embasados em autores como Moran e Vygotsky, que
o foco de um curso deve ser o encontro entre um sujeito e o outro de modo a permitir a
desestruturação de paradigmas que permitam ao individuo incorporar novos conhecimentos,
tendo a mídia como aliada e como ponte entre a aula e o mundo e tornando a aula de algo
concreto e estático, para um algo mais dinâmico e menos linear. Quando os recursos tecnológicos
são combinados entre si, eles potencializam o desenvolvimento do educando e dos diferentes
tipos de inteligência.
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As mídias em associadas a esse conjunto de pessoas e de opiniões diversas permitem
que uma maior e melhor captação da realidade e de seu conteúdo que é transmitido ao aluno e
por ele construído. Por volta de 69% dos questionários disseram que fazer o trabalho
conjuntamente eram importantes e contribuíam para a construção de um dado conhecimento
conjuntamente. Além disso, essas mídias atuavam como possibilitadoras da ampliação de algo
mais que a simples capacidade de interação, como a leitura e a escrita. Cerca de 96% dos
respondentes disseram que o curso ampliava a leitura e a escrita e também contribuía para o seu
aprimoramento.
Nesta pesquisa em particular conseguimos observar que os cursos analisados estão
possibilitando a seus alunos uma relação mais íntima com as mídias e com a construção do
conhecimento colaborativo, isso fica evidente pelos diversos dados coletados e analisados.
Podemos dizer que temos um aluno que em termos de aprendizagem tem mais chance de
construção de um espírito autônomo do que propriamente alguém que frequente regularmente um
curso tradicional. Essas informações estão de acordo com aquelas trazidas por diversos autores
como Moran (1995), Souza (2013), Kenski (2006), entre muitos outros que atribuem um caráter
inovador, provocador e instigador às mídias do AVA, que não somente têm a capacidade de
mobilizar uma série de recursos cognitivos do aprendente como também de estimular seus
sentidos e curiosidade. Queremos frisar que a mídia é potencializadora e não age sozinha, mas
deve ser acompanhada de um processo envolvendo uma série de atitudes, emoções e dedicação
por parte do aluno que acabe por imputar uma construção compartilhada de saberes, que envolva
o corpo discente como um todo. Como nos diz Souza (2013), a aprendizagem individual é parte
do processo de colaboração, porém é na interação entre os indivíduos que o entendimento do
significado se faz presente, dessa forma a predisposição do indivíduo à colaboração é intrínseca e
essencial e acompanhada de ferramentas de comunicação e colaboração, permitirão a ele tanto a
manifestação individual como a construção coletiva do pleno conhecimento. E que possibilitem
tanto ao individuo em interação quanto usuários de mídias a devida síntese do conhecimento, que
não deve ser objeto de acomodação, mas antes de inquietação.
Considerando os acertos da educação a distância ao promover, através do suporte
midiático interações, mediações e aprendizagens, contando com a motivação dos alunos, que em
nosso estudo demonstraram estar satisfeitos com essa abordagem, podemos arriscar sugerir que
o uso de alguns recursos da EaD como o vídeo e o fórum pode ser muito enriquecedor, também
para a educação presencial, gerando motivação e estimulando o desenvolvimento do pensamento
crítico e da capacidade de estruturar o próprio pensamento através da escrita de modo a
convencer outros. Escrever com intencionalidade e eficiência acolhendo a crítica e se
aperfeiçoando, sendo não só consumidor de conteúdos, mas também um produtor de cultura.
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