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3Ministriodas CidadesSecretaria Nacional deSaneamento AmbientalBancoMundialAPOIOSANEAMENTO PARA TODOS
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos
empreendimentos de manejo de resduos slidos
urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5296/2005
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SANEAMENTO PARA TODOS
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos
urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
Manesco, Ramires, Perez, Azevedo Marques Advocacia
Programa de Modernizao do Setor SaneamentoSecretaria Nacional de Saneamento Ambiental
Ministrio das Cidades
Brasliaoutubro de 2005
SANEAMENTO PARA TODOS
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Ministro das Cidades: Mrcio Fortes de Almeida
Secretrio Executivo: Rodrigo Jos Pereira-Leite Figueiredo
Secretrio Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA): Abelardo de Oliveira Filho
Diretor de Desenvolvimento e Cooperao Tcnica da SNSA: Marcos Helano Fernandes Montenegro
Diretor de gua e Esgotos da SNSA: Mrcio Galvo Fonseca
Diretor de Articulao Institucional da SNSA: Srgio Antonio Gonalves
Coordenador do Programa de Modernizao do Setor Saneamento (PMSS): Ernani Ciraco de Miranda
Programa de Modernizao do Setor Saneamento (PMSS)
SCN, Quadra 1, Bloco F, 8 andar, Edifcio America Office Tower CEP 70711-905
Fone: (61) 3327-5006 FAX: (61) 3327-9339
www.cidades.gov.br e www.snis.gov.br
Coordenao editorial e projeto grfico: Rosana LoboDiagramao: Informe ComunicaoFotolitos e impresso: Grfica BrasilTiragem: 3.000 exemplares
Foto da folha de rosto: Vista area do Aterro Sanitrio Bandeirantes, SP - Heleno & Fonseca Construtcnica S.A.
permitida a reproduo total ou parcial desta publicao, desde que citada a fonte.
Brasil. Secretaria Nacional de Saneamento AmbientalO Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos
empreendimentos de manejo de resduos slidos urba-nos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005. Braslia: Ministrio das Cidades, 2006. 84 p. ( Saneamento para Todos ; 3 volume ).
1. Saneamento bsico. 2. Mecanismo de Desen-volvimento Limpo - MDL. 3. Empreendimentos. 5. Brasil.I Programa de Modernizao do Setor Saneamento. II.Ttulo. III. Ttulo: O Mecanismo de Desenvolvimento Limponos empreendimentos de manejo de resduos slidos ur-banos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005. IV. Srie.
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APRESENTAO
A presente publicao, terceira da srie Saneamento para todos, d continuidade aos esforos realizados pelo Ministrio das Cidades, por meio da Secretaria Nacional de Saneamento Ambiental (SNSA), de permitir ao pblico interessado nesse setor - em particular nos temas econmico-financeiros, institucionais, regulatrios e legais - amplo acesso aos estudos e s pesquisas desenvolvidas no mbito da Secretaria pelo Programa de Modernizao do Setor Saneamento (PMSS).
Desta feita, o tema abordado o impacto do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) nas aes de manejo de resduos slidos urbanos. Como de conhecimento pblico, ainda so muitas as precariedades e deficincias enfrentadas pelos municpios brasileiros na destinao final adequada destes resduos e a venda de certificados de reduo da emisso de gs metano pode, sem dvida, facilitar a viabilizao econmica dos aterros sanitrios. Interessante notar, por outro lado, que a deciso de aproveitar esta oportunidade exige dos prestadores de servio a adoo de prticas de planejamento, projeto e operao mais exigentes que aquelas que hoje so correntes. Assim, se pode esperar que o MDL seja fator de induo da melhoria da qualidade nestes servios pblicos.
O aproveitamento das oportunidades do MDL no manejo dos resduos slidos faz parte das linhas de trabalho priorizadas pela SNSA com vistas ao tratamento de aspectos que se revelam crticos para o avano na qualidade e abrangncia destes servios pblicos, quais sejam:
- divulgao de gesto e estmulo adoo da gesto associada destes servios por meio do consorciamento intermunicipal, buscando a sustentabilidade e a qualidade na prestao que pode ser proporcionada pela economia de escala e pela gesto tcnica que este tipo de gesto possibilita;
- nesta mesma linha, apoio aos estados interessados na regionalizao planejada da prestao e regulao dos servios de manejo de resduos slidos, em especial, aquelas relativas ao tratamento e disposio final, por entidades pblicas consorciadas;
- incentivo ao desenvolvimento de tecnologias apropriadas para a execuo de aterros sanitrios de pequeno porte;
- apoio aos municpios e aos demais interessados nas aes relativas gesto correta dos resduos da construo civil e de demolies, com vistas ao cumprimento da Resoluo 307 do CONAMA;
- qualificao da aplicao de recursos pblicos sob controle da Unio por intermdio de procedimentos de seleo pblica, que incentivem o desenvolvimento institucional dos prestadores dos servios pblicos;
- retomada dos financiamentos onerosos para os prestadores pblicos de servios de saneamento bsico, incluindo estados, municpios e suas autarquias e empresas, oportunidade que, infelizmente, foi at aqui pouco aproveitada para o financiamento das aes de manejo de resduos slidos urbanos;
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- estruturao da Rede Nacional de Capacitao e Extenso Tecnolgica em Saneamento Ambiental ReCESA, iniciativa para o desenvolvimento de polticas pblicas integradas, na perspectiva da capacitao dos profissionais que atuam no saneamento e, por decorrncia, no manejo de resduos slidos;
- suporte s iniciativas de coleta seletiva que se apiam na incluso social dos catadores de material reciclvel e organizao autnoma destes trabalhadores em suas associaes e cooperativas;
- a assistncia tcnica aos municpios brasileiros de maior porte na elaborao de projetos de tratamento e destinao final de resduos slidos urbanos que possam se candidatar venda de certificados de reduo de emisso de gases de efeito estufa no mbito do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo previsto no Protocolo de Quioto.
Esta ltima linha est sendo desenvolvida prioritariamente por intermdio do chamado Projeto MDL, que conta com recursos doados pelo Governo do Japo e com o apoio do Banco Mundial (BIRD) e do Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para sua implementao. A SNSA do Ministrio das Cidades atua em parceria com a Secretaria de Qualidade Ambiental Urbana do Ministrio do Meio Ambiente. Atravs de seleo pblica, um conjunto de 30 municpios recebe assistncia tcnica para o diagnstico e anlise de viabilidade de seus projetos.
As discusses preliminares para a implementao do Projeto MDL identificaram a necessidade de estudos jurdicos que explorassem os aspectos relevantes da legislao brasileira aplicvel a este contexto, em particular aquela que dispe sobre servios pblicos, sua regulao, prestao e concesso bem como sobre licitao e contratao de servios.
Essa publicao, intitulada O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n5.296/2005, discute o MDL nos empreendimentos de manejo de resduos slidos, em relatrio preparado pela Manesco, Ramirez, Perez, Azevedo Marques Advocacia. O trabalho foi realizado no contexto de consultoria jurdica para a confeco e a anlise do Projeto de Lei n. 5.296/05, que institui a Poltica Nacional de Saneamento Bsico e define diretrizes para a prestao dos servios pblicos de saneamento bsico, atualmente em tramitao na Cmara dos Deputados (ver a publicao n 1 da srie Saneamento para todos).
Assim, os interessados em empreendimentos de construo, regularizao, desativao e recuperao de aterros sanitrios encontraro aqui abrangente anlise de condicionantes e alternativas jurdicas que seguramente, ajudaro na viabilizao de tais empreendimentos se utilizando do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
Abelardo de Oliveira FilhoSecretrio Nacional de Saneamento Ambiental
Ministrio das Cidades
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SUMRIO
Introduo ..................................................................................................................................... 13
I. O Projeto de Lei n 5.296/05 e a possibilidade
de aquisio de crditos de carbono ..................................................................................... 14
I.1. O impacto do Projeto de Lei sobre os empreendimentos
de infra-estrutura sanitria ........................................................................................................ 14
I.2. O impacto do Projeto de Lei sobre a utilizao do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL) para viabilizao econmica total
ou parcial das infra-estruturas sanitrias ............................................................................... 17
II. A situao atual dos aterros sanitrios e as possibilidades
de aquisio de crditos de carbono ..................................................................................... 19
II.1. O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) e empreendimentos de
regularizao, construo,desativao e recuperao de aterros sanitrios ................... 19
II.1.1. Os objetivos do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) ......................................... 20
II.1.2. Os Certificados de Reduo de Emisso.................................................................................. 21
II.1.3. Requisitos para a obteno do CRE .......................................................................................... 21
II.1.3.1 A voluntariedade da participao ............................................................................................. 21
II.1.3.2 A efetividade dos benefcios ...................................................................................................... 23
II.1.3.3 A adicionalidade dos benefcios advindos do Projeto .......................................................... 23
II.1.4. O aspecto processual do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo. ................................... 23
II.1.5. Os projetos de MDL em aterros sanitrios ............................................................................. 25
II.2. A situao institucional dos aterros e as possibilidades de
financiamento de sua construo, regularizao, desativao e recuperao ................ 26
II.2.1. A situao ftica dos aterros ..................................................................................................... 26
II.2.2. Atores envolvidos ......................................................................................................................... 29
III. A viabilizao da construo, regularizao,
desativao e recuperao de aterros sanitrios ............................................................... 32
III.1. Modelos de viabilizao da construo, regularizao,
desativao e recuperao de aterros sanitrios ou lixes ................................................. 32
III.1.1. Execuo dos servios pelo prprio Poder Pblico ............................................................... 32
III.1.1.1. Execuo direta sem contratao de particulares ................................................................. 32
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
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III.1.1.2. Execuo por meio de contrato administrativo simples de
prestao de servios ou obra pblica (Lei n 8.666/93) ..................................................... 32
III.1.2. A Delegao Tpica de servios ................................................................................................. 33
III.1.2.1. Permisso ....................................................................................................................................... 35
III.1.2.2. Concesso comum ....................................................................................................................... 37
III.1.2.2.1. A questo do usurio nico ....................................................................................................... 38
III.1.3. A Parceria Pblico-Privada .......................................................................................................... 42
III.1.3.1. Concesso Patrocinada ................................................................................................................ 44
III.1.3.2. Concesso Administrativa .......................................................................................................... 45
III.1.4. Gesto Associada .......................................................................................................................... 46
III.1.4.1. Consrcio Pblico ......................................................................................................................... 47
III.1.4.2. Convnios de cooperao entre entes federados .................................................................. 48
III.1.4.3. Contrato de programa ................................................................................................................. 50
III.2 O Financiamento para construo, regularizao, desativao,
recuperao de aterros sanitrios. ........................................................................................... 51
III.2.1 O financiamento para o Poder Pblico .................................................................................... 51
III.2.1.1 Programa Saneamento para Todos FGTS ............................................................................. 53
III.2.1.2 Operaes de Crdito Externo ................................................................................................... 56
III.2.1.2.1 Organismos Internacionais de Crdito JBIC ........................................................................ 56
III.2.1.2.2 Organizaes Multilaterais de Crdito ..................................................................................... 59
III.2.2. O financiamento para o particular ........................................................................................... 61
III.2.2.1 Programa Saneamento para Todos - FGTS
- Muturio Privado - SPE COM LOCAO DE ATIVOS .......................................................... 61
IV. A viabilizao da certificao de reduo de emisses de carbono ............................. 63
IV.1. Modelos de viabilizao da certificao de reduo de emisso de carbono .................. 63
IV.1.1. A titularidade dos crditos de carbono ................................................................................... 63
IV.1.2. A Exigncia de Licitao e suas Excees ................................................................................ 58
IV.1.3. A Inexigibilidade no caso de projeto singular ........................................................................ 69
IV.1.4. Organizaes sociais e Organizaes da Sociedade
Civil de Interesse Pblico (OSCIPs) ........................................................................................... 73
IV.1.5. A realizao de licitao ............................................................................................................. 75
IV.1.6. Concluses ..................................................................................................................................... 75
IV.2. O financiamento da certificao do sequestro de carbono ................................................. 76
IV.2.1. Financiamento pelo concessionrio ou pelo parceiro privado ........................................... 76
IV.2.2. Financiamento pelo Poder Pblico ............................................................................................ 77
V. Principais Concluses ................................................................................................................ 78
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
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INTRODUO
A presente publicao baseia-se em um
dos relatrios do amplo contexto de consulto-
ria jurdica para a confeco e a anlise do Pro-
jeto de Lei n 5.296/05, que institui a Poltica
Nacional de Saneamento Bsico e define diretri-
zes para a prestao dos servios pblicos de
saneamento bsico, atualmente em tramitao
na Cmara dos Deputados.
Este documento tem por objeto especfico
a anlise de condicionantes e alternativas jur-
dicas de viabilizao de empreendimentos de
infra-estrutura de saneamento bsico aqui en-
tendido em sentido amplo, na definio adotada
pelo Projeto de Lei, que compreende tambm as
atividades municipais de limpeza urbana , por
meio da utilizao do Mecanismo de Desenvol-
vimento Limpo (MDL).
Nesse propsito, este relatrio tem interfa-
ce com o Projeto MDL da Secretaria Nacional de
Saneamento Ambiental do Ministrio das Cida-
des, que se insere no Projeto de Modernizao do
Setor de Saneamento (PMSS), e conta com o apoio
do Programa das Naes Unidas para o Desenvol-
vimento (PNUD) e do Ministrio do Meio Ambien-
te, em cooperao com o governo japons.
O Projeto MDL pretende produzir estudos
tcnicos e econmicos sobre as possibilidades
de viabilizao total ou parcial de empreendi-
mentos de construo, regularizao, desati-
vao e recuperao de aterros sanitrios, por
meio da obteno de recursos suplementares
decorrentes da reduo de emisses de gases
de efeito estufa. Para isso, foram selecionados
inicialmente 30 (trinta) municpios1 que sero
objeto de estudo de viabilidade e de identifica-
o do potencial de utilizao da reduo do gs
metano gerado pela decomposio dos resduos
slidos para viabilizar empreendimentos de in-
fra-estrutura sanitria.
Com efeito, como adiante se ver com
mais detalhes, a partir da entrada em vigor do
Protocolo de Quioto e da vigncia do Mecanismo
de Desenvolvimento Limpo (MDL), a reduo de
emisso de gases de efeito estufa pelos pases em
desenvolvimento pode ser certificada e se tornar
objeto de comercializao para pases desenvol-
vidos que tm metas de reduo a cumprir.
Est-se, portanto, diante da possibilidade
de aquisio de crditos de carbono por meio da
queima ou do reaproveitamento de biogs pro-
veniente de aterros sanitrios, e de viabilizao
econmica total ou parcial da construo, da re-
gularizao, da desativao ou da recuperao
de aterros por meio desse mecanismo. So essas
alternativas que sero analisadas, do ponto de
vista jurdico, neste documento.
Este relatrio estrutura-se em quatro tpi-
cos distintos, a saber:
O primeiro deles tem por objeto a anlise
do Projeto de Lei n 5.296/05, que institui a Pol-
tica Nacional de Saneamento Bsico e define di-
retrizes para a prestao dos servios pblicos
de saneamento bsico, no que diz respeito, es-
pecificamente, viabilizao total ou parcial de
projetos de infra-estrutura sanitria por meio
da utilizao de crditos de carbono. Trata-se,
1 Foram selecionados os seguintes os municpios: Americana-SP, Belm-PA, Belo Horizonte-MG, Camaari-BA, Campo Grande-MS, Caucaia-CE, Curitiba-PR, Distrito Federal-DF, Duque de Caxias-RJ, Florianpolis-SC, Fortaleza-CE, Goinia-GO, Gravata-RS, Guarulhos-SP, Lauro de Freitas-BA, Londrina-PR, Macei-AL, Manaus-AM, Maring-PR, Mesquita-RJ, Niteri-RJ, Nova Iguau-RJ, Olinda-PE, Passo Fundo-RS, Porto Alegre-RS, Recife-PE, Santo Andr-SP, Santos-SP, So Gonalo-RJ e So Lus-MA.
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SANEAMENTO PARA TODOS
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essencialmente, de verificar quais as disposi-
es atualmente constantes do Projeto de Lei
que incentivam ou impem condicionamentos
realizao de tais empreendimentos (Tpico I).
Em seguida, efetuaremos uma descrio
rpida e objetiva do Mecanismo de Desenvolvi-
mento Limpo (MDL) e de como ele poderia au-
xiliar na construo, na regularizao, na desa-
tivao e na recuperao de aterros sanitrios.
Essa anlise pressupe igualmente a apreciao,
ainda que sumria, da situao ftica dos ater-
ros e dos lixes que poderiam ser objeto de em-
preendimentos, bem como dos atores e das re-
laes jurdicas que podem eventualmente estar
presentes em tais aterros e lixes (Tpico II).
Somente ento nos dedicaremos especifi-
camente s questes relacionadas viabilizao
dos empreendimentos em si (Tpico III) e da
certificao da reduo de emisses de carbono,
que pressupe procedimento especfico (Tpico
IV). Embora esta ltima seja tratada, no presente
Relatrio, como uma alternativa para viabilizar
economicamente os empreendimentos de infra-
estrutura de saneamento bsico, deve-se aten-
tar ao fato de que tambm esse procedimento
formal e bastante custoso deve ter sua via-
bilidade econmica solucionada. Diante de sua
especificidade, preferimos tratar a viabilizao
da certificao de reduo de emisso de gases
de efeito estufa e do empreendimento em si se-
paradamente, embora, evidentemente, as duas
questes estejam relacionadas.
Observe-se, finalmente, que a presente
publicao tem como principal objetivo rela-
cionar todas as alternativas de viabilizao dos
empreendimentos de infra-estrutura sanitria e
analisar cada uma delas para instruir as deci-
ses dos municpios na implementao de tais
projetos. Trata-se, portanto, de documento com
intuito eminentemente prtico, que no preten-
de esgotar as discusses tericas a respeito das
questes jurdicas envolvidas.
I. O PROJETO DE LEI N 5.296/05
E A POSSIBILIDADE DE AQUISIO
DE CRDITOS DE CARBONO
A aprovao do Projeto de Lei n 5.296/05,
atualmente em discusso no Congresso, teria
impacto significativo sobre a viabilizao dos
empreendimentos de infra-estrutura sanitria e
sobre a aquisio e a comercializao de crdi-
tos de carbono como forma de financiar total ou
parcialmente tais empreendimentos.
O impacto do Projeto diferente no que
diz respeito aos empreendimentos de infra-es-
trutura sanitria, especialmente quanto possi-
bilidade de delegao desses servios iniciati-
va privada (I.1) e aquisio e comercializao
dos crditos de carbono (I.2). Por um lado, o Pro-
jeto de Lei estabelece condicionantes para as ati-
vidades de planejamento, regulao e fiscaliza-
o dos servios, bem como procedimentos que
devem ser adotados pelos titulares dos servios
de manejo de resduos slidos. Por outro lado, o
Projeto estabelece uma base conceitual intensa
no sentido de favorecer e incentivar a queima e
o reaproveitamento econmico do biogs.
I.1. O IMPACTO DO PROJETO DE LEI
SOBRE OS EMPREENDIMENTOS DE
INFRA-ESTRUTURA SANITRIA
O art. 2, inciso IV, do Projeto de Lei que
traz a definio dos servios pblicos de sane-
amento bsico inclui o manejo de resduos sli-
dos. Em conseqncia, os procedimentos esta-
belecidos no Projeto para o saneamento bsico
devem ser atendidos para os projetos de limpe-
za urbana.
Assim, em primeiro lugar, a obrigao
geral de planejamento das atividades antes da
implementao dos projetos de infra-estrutura
aplica-se ao setor de limpeza urbana, exigindo-
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
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se a realizao de plano de saneamento ambien-
tal, com a participao da comunidade, sendo
obrigatria a realizao de audincia e consulta
pblicas. (art. 14, 2).
Conforme o art. 16, 1, do Projeto, as
disposies de plano de saneamento ambiental
vinculam os projetos bsicos e as contrataes
de obras e servios relativos s aes de sanea-
mento ambiental, inclusive os de limpeza urba-
na. O art. 24 do Projeto refora tal exigncia.
Assim, em conformidade com o Projeto de
Lei, para que seja contratada a realizao de
empreendimentos de infra-estrutura sanitria
(aterros sanitrios), com ou sem a delegao
de servios correspondentes (a gesto do ater-
ro e a disposio final dos resduos slidos),
faz-se necessria a realizao prvia de plano
de saneamento ambiental.
Entre outros requisitos, o plano dever
conter a proposio de programas, projetos e
aes necessrias para atingir os objetivos e as
metas da Poltica Nacional de Saneamento, com
identificao das respectivas fontes de financia-
mento, bem como: (i) a confeco do relatrio
de salubridade ambiental no mbito local, com
a identificao das demandas atuais e futuras,
incluindo outros aspectos relevantes da presta-
o dos servios; (ii) o estabelecimento de prio-
ridades e metas temporais; (iii) a identificao
e a seleo de alternativas para a ampliao, a
melhoria e a atualizao da oferta dos servios
pblicos de saneamento bsico e respectivos
custos; (iv) os planos de investimentos com a
previso e a identificao das fontes de finan-
ciamento.
Conforme o art. 24 do Projeto, alm do
plano de saneamento ambiental vlido por oca-
sio da contratao, so condies para a vali-
dade dos contratos de prestao dos servios
pblicos de saneamento bsico: (i) a realizao
de estudo de viabilidade tcnica e econmico-
financeira da delegao com vista prestao
universal e integral dos servios nos termos do
plano de saneamento ambiental; (ii) a existn-
cia de legislao que preveja os meios para o
cumprimento das diretrizes dessa lei, inclusive
o rgo ou entidade de regulao e fiscalizao;
e (iii) a realizao prvia de audincia e de con-
sulta pblicas sobre o edital de licitao, ou seu
termo de dispensa ou inexigibilidade, e a minu-
ta do contrato. Ressalte-se que boa parte dessas
exigncias j consta da Lei de Concesses e Per-
misses de Servios Pblicos.
No mesmo sentido, o Projeto de Lei im-
pede que a delegao de servios pblicos de
limpeza urbana seja formalizada por meio de
convnios, termos de parceria ou outros instru-
mentos de natureza precria, exigindo a forma
contratual para a delegao (art. 23).2
Sob outra perspectiva, o Projeto de Lei pro-
pe a adeso dos municpios Poltica Nacional
de Saneamento (PNS) e ao Sistema Nacional de
Saneamento Ambiental (Sisnasa), condicionan-
do vrios benefcios a essa adeso, notadamente
o recebimento de transferncias voluntrias da
Unio destinadas a aes de saneamento bsi-
co (art. 38, 2, inciso I). A adeso dos munic-
pios ao Sisnasa implica as obrigaes de cum-
prir fielmente as diretrizes previstas nessa lei,
e tambm: (i) assegurar adequadas regulao,
fiscalizao e avaliao dos servios de que ti-
tular; (ii) criar ou manter rgos colegiados; (iii)
adequar o planejamento; (iv) fornecer dados e
informaes sobre os servios e da situao de
2 O prprio Projeto excetua, nos pargrafos do mesmo art. 23, as hipteses de prestao dos servios por pessoa jurdica que, inte-grando a administrao indireta do titular, tenha recebido a outorga dessa atribuio mediante lei e ainda os servios pblicos de saneamento bsico de interesse local cuja prestao o Poder Pblico, nos termos da lei, autorizar para os usurios organizados em cooperativa ou associao, desde que os servios se limitem a determinado condomnio ou localidade de pequeno porte.
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SANEAMENTO PARA TODOS
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salubridade ambiental; e (v) instituir e manter o
fundo especial de universalizao (art. 40).
Em decorrncia, para que os municpios
tenham acesso a recursos da Unio destinados
a empreendimentos de infra-estrutura sanit-
ria, devero, ainda, criar os rgos colegiados
referidos na lei, notadamente a Conferncia da
Cidade e o Conselho da Cidade, ou instncias
colegiadas equivalentes (art. 44, inciso II). Tais
rgos devero, ainda segundo o Projeto, ser
institudos por lei.
A Conferncia da Cidade dever ter com-
petncia para: (i) propor medidas para a imple-
mentao e o aperfeioamento da PNS; (ii) indi-
car prioridades de atuao do governo federal;
e (iii) avaliar a execuo da PNS e do PNSA e o
funcionamento do Sisnasa. J o Conselho da Ci-
dade dever ter competncias para: (i) formular
e manifestar-se sobre estratgias e prioridades
para implementao e alterao da poltica mu-
nicipal de saneamento bsico; (ii) acompanhar e
avaliar a poltica municipal de saneamento bsi-
co e o plano municipal de saneamento ambien-
tal, bem como as respectivas aes e projetos;
(iii) propor diretrizes e prioridades para a aloca-
o de recursos sob gesto municipal em aes
de saneamento bsico, inclusive sob a forma de
subsdios; (iv) articular-se com outros conselhos
para a integrao de aes; (v) manifestar-se
previamente, no que se refere a servio pblico
de saneamento bsico, dentro dos prazos esta-
belecidos na legislao, sobre anteprojetos de
lei e minutas de decretos, de regulamentos, de
editais, de convnios, de contratos e de propos-
tas referentes gesto associada do servio,
organizao e prestao de servio integrado e
delegao de servios; e (vi) proceder reviso
de preos pblicos ou de taxas. (art. 48, inciso
II). Ainda segundo o mesmo artigo, em seu pa-
rgrafo primeiro, a composio desses rgos
colegiados deve contemplar ao menos repre-
sentaes das instituies pblicas com atuao
relevante no saneamento bsico no municpio,
dos prestadores, dos trabalhadores e dos usu-
rios de servio pblico de saneamento bsico.
Observe-se ainda que o art. 66 do Projeto
altera a Lei n 8.666/93, para nela incluir a infra-
o penal de outorgar concesso, permisso ou
outra forma de delegao de servios pblicos
essenciais, sem prvia autorizao de lei que dis-
ponha sobre a regulao dos servios, inclusive
suas tarifas e outros preos pblicos, e os ins-
trumentos de fiscalizao permanente dos servi-
os, o que refora a necessidade de lei anterior
delegao dos servios de limpeza urbana. O
Projeto prope tambm a alterao do art. 2 da
Lei n 9.074/95, que isentava de autorizao le-
gislativa as delegaes dos servios pblicos de
saneamento bsico e de limpeza urbana. Dever,
portanto, haver lei que autorize a delegao.
Conclui-se, portanto, que, em relao aos
empreendimentos de infra-estrutura sanitria, o
Projeto de Lei n 5.296/05 tem impacto, essen-
cialmente, na fixao de condies prvias para
a realizao do empreendimento. No que diz
respeito contratao, o Projeto exige a exis-
tncia prvia de um Plano de Saneamento Am-
biental, que preveja o empreendimento e suas
fontes de financiamento, e que seja precedido
de audincia e consulta pblica. Caso envolva,
ainda, a delegao do servio pblico, esta de-
ver ainda ser precedida:
(i) de estudo de viabilidade tcnica e econmi-
co-financeira da delegao;
(ii) de legislao que preveja os meios para o
cumprimento das diretrizes fixadas na legis-
lao federal, inclusive o rgo ou a entidade
de regulao e fiscalizao;
(iii) da realizao prvia de audincia e de con-
sultas pblicas sobre o edital de licitao e
a minuta do contrato.
Caso os municpios pretendam ainda ade-
rir ao Sisnasa e PNS, devero ainda:
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
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(i) criar os rgos colegiados previstos na
Lei (a Conferncia da Cidade e o Conselho
da Cidade);
(ii) fornecer dados e informaes sobre os ser-
vios e a situao de salubridade ambiental;
(iii) instituir e manter o fundo especial de uni-
versalizao.
I.2. O IMPACTO DO PROJETO DE LEI SOBRE
A UTILIZAO DO MECANISMO DE
DESENVOLVIMENTO LIMPO (MDL) PARA
VIABILIZAO ECONMICA TOTAL OU
PARCIAL DAS INFRA-ESTRUTURAS SANITRIAS
No que diz respeito utilizao do MDL
para a viabilizao econmica total ou parcial
das infra-estruturas sanitrias, o Projeto de Lei
contm diversas disposies que incentivam e
favorecem tal mecanismo, tanto sob a perspec-
tiva de proteo ambiental, quanto sob o prisma
de sustentabilidade econmica do servio.
Sob a perspectiva ambiental, o art. 3 reco-
nhece o direito vida em ambiente salubre, cuja
promoo e preservao dever do Poder Pbli-
co e de toda a coletividade. O pargrafo nico
do mesmo artigo refora a obrigao do Poder
Pblico de promover a salubridade ambiental, en-
quanto o art. 4 reconhece aos cidados o direito
de exigir dos responsveis as medidas preventi-
vas, mitigadoras, compensatrias ou reparadoras
em face de atividades prejudiciais ou potencial-
mente prejudiciais salubridade humana. A res-
ponsabilidade ambiental na execuo dos servi-
os pblicos de saneamento bsico, a includos
os de limpeza urbana, prevista expressamente
no Projeto, o que favoreceria a implementao de
mecanismos destinados a compensar os danos
ambientais (no caso, a emisso do gs metano)
decorrentes do desempenho desses servios.
Nesse mesmo sentido, constitui diretriz
bsica da prestao dos servios pblicos de sa-
neamento a intersetorialidade (art. 6, inciso XII
do Projeto), bem como a preservao e a conser-
vao do meio ambiente, mediante aes orien-
tadas para a utilizao dos recursos naturais de
forma sustentvel e a reverso da degradao
ambiental, observadas as normas ambientais
e de recursos hdricos e as disposies dos pla-
nos de recursos hdricos (inciso XVII). O mesmo
princpio ainda sustentado pelas diretrizes
especficas dos servios pblicos de manejo de
resduos slidos, que prevem a garantia do
manejo dos resduos slidos de forma sanitria
e ambientalmente adequada, a fim de promo-
ver a sade pblica e prevenir a poluio das
guas superficiais e subterrneas, do solo e do
ar (art. 9, inciso I). O Projeto ainda estabelece
que a Poltica Nacional de Saneamento Bsico
(PNS) dever ter como objetivo minimizar os
impactos ambientais relacionados implantao
e desenvolvimento das aes, obras e servios de
saneamento bsico e assegurar que sejam imple-
mentadas de acordo com as normas relativas
proteo ao meio ambiente, ao uso e ocupao
do solo e sade (art. 37, inciso X).
De maneira mais especfica, o art. 9 prev
expressamente que os servios de manejo de re-
sduos slidos possuem como diretriz o incenti-
vo e a promoo da no-gerao, reduo, mini-
mizao da gerao, coleta seletiva, reutilizao,
reciclagem, inclusive por compostagem, e apro-
veitamento energtico do biogs, objetivando a
utilizao adequada dos recursos ambientais e a
sustentabilidade ambiental dos respectivos siste-
mas de gesto. (inciso II, a).
Sob a perspectiva econmica, o Projeto
estabelece a sustentabilidade econmica como
diretriz bsica dos servios pblicos de sanea-
mento bsico (art. 6, inciso XI) e como diretriz
especfica dos servios de manejo de resduos
slidos (art. 9, inciso II, a). O Projeto tambm
prev que a Poltica Nacional de Saneamento B-
sico (PNS) dever assegurar que a aplicao dos
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SANEAMENTO PARA TODOS
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recursos financeiros administrados pelo Poder
Pblico se d segundo critrios de promoo da
salubridade ambiental, de maximizao da re-
lao benefcio-custo e de maior retorno social,
bem como deve promover alternativas de ges-
to que viabilizem a auto-sustentao econmica
e financeira dos servios de saneamento bsico
(art. 37, incisos V e VII).
Assim, tanto do ponto de vista ambien-
tal quanto econmico, o Projeto contm base
conceitual que favorece a utilizao de tal me-
canismo, como forma de minimizar o impacto
ambiental e econmico da prestao do servio.
Alm desse incentivo expresso ao meca-
nismo, o Projeto contm ainda importante de-
finio quanto natureza jurdica desse apro-
veitamento. O art. 2, inciso XVIII, e, do Proje-
to inclui expressamente entre as hipteses de
projetos associados aos servios pblicos de
saneamento bsico: o aproveitamento de ener-
gia de qualquer fonte potencial vinculada aos
servios, inclusive do biogs resultante de tra-
tamento de esgoto sanitrio ou de tratamento
ou disposio final de resduos slidos. O mes-
mo inciso define os projetos associados como
aqueles desenvolvidos em carter acessrio ou
correlato prestao dos servios, capazes de
gerar benefcios sociais, ambientais ou econmi-
cos adicionais.
Em conseqncia, o aproveitamento da
energia gerada pela queima do biogs resul-
tante do tratamento e da disposio final de
resduos slidos no considerado integran-
te da prpria definio de servios pblicos
de saneamento, mas to-somente atividade
acessria ou correlata prestao desses ser-
vios. No integrar o ncleo de eventual con-
cesso e dever ser contabilizado, portanto,
como uma receita acessria. Assim prev o art.
33, pargrafo nico do Projeto, ao afirmar que,
nos casos de servios delegados, os resultados
financeiros de projetos associados prestao
de servio pblico de saneamento bsico devem
ser contabilizados separadamente, e somente
podero ser considerados na equao econmi-
co-financeira adotada para o clculo dos preos
pblicos do servio delegado se excederem a res-
pectiva taxa de retorno ou de remunerao.
Deve-se, no entanto, observar que esse
enquadramento somente se refere ao aproveita-
mento da energia resultante da queima do bio-
gs, e no da atividade da queima em si. Ou seja:
se a gerao de energia em decorrncia dessa
queima considerada apenas acessria presta-
o dos servios de manejo de resduos slidos,
a queima do biogs em si parece integrar o ser-
vio pblico, pois imperativo de salubridade
ambiental dessa atividade. Parece-nos, portanto,
evidente que a atividade de queima do biogs
resultante do tratamento e da destinao final
dos resduos slidos integra os servios p-
blicos de limpeza urbana, j que se insere no
conceito mais amplo de tratamento e destinao
final dos resduos slidos.
Conclui-se, portanto, que, em relao
utilizao do MDL para a viabilizao econ-
mica total ou parcial das infra-estruturas sani-
trias, o Projeto de Lei incentiva e favorece tal
mecanismo, tanto sob a perspectiva de prote-
o ambiental, quanto sob o aspecto de susten-
tabilidade econmica do servio. Ele oferece,
igualmente, parmetros jurdicos para o de-
sempenho de tal atividade, ao estabelecer que o
aproveitamento da energia resultante do biogs
consistir em projeto associado prestao do
servio, o que d a entender que a queima do
biogs em si integra os servios pblicos de ma-
nejo de resduos slidos.
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
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II. A SITUAO ATUAL DOS ATERROS
SANITRIOS E AS POSSIBILIDADES DE
AQUISIO DE CRDITOS DE CARBONO
II.1. O MECANISMO DE DESENVOLVIMENTO
LIMPO (MDL) E EMPREENDIMENTOS
DE REGULARIZAO, CONSTRUO,
DESATIVAO E RECUPERAO DE ATERROS
SANITRIOS
Da preocupao com a irreversibilidade
dos efeitos produzidos no clima, na vegetao, na
fauna e no povoamento humano, surgiu a idia
do desenvolvimento sustentvel. Busca-se con-
ciliar o desenvolvimento econmico com a pre-
servao ambiental, por meio da conscientizao
sobre o risco do consumo desenfreado de mat-
rias-primas, da emisso de poluentes e de outros
comportamentos de risco para o meio ambiente.
No Brasil, pelo menos do ponto de vista do
direito positivo, a reao tardou a desabrochar.
Como primeiros diplomas normativos a versar
sobre o tema, podem-se citar a Lei n 6.938, de
31.8.81, conhecida como Lei de Poltica Nacional
do Meio Ambiente (PNMA), e a Lei n 7.347, de
24.7.85, a Lei de Ao Civil Pblica. Posterior-
mente, e de maneira mais relevante, reservou a
Constituio Federal de 1988 todo um captulo
do Ttulo VIII para o tema do Meio Ambiente, qua-
lificando-o como bem de uso comum do povo e
essencial sadia qualidade de vida (art. 225).3
No contexto internacional, as preocupa-
es com o meio ambiente ganharam progres-
sivo relevo a partir especialmente da dcada de
70. Destacam-se encontros como a Conferncia
das Naes Unidas para o Meio Ambiente (1972),
a Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e De-
senvolvimento (1983) e a Conferncia das Na-
es Unidas para o Meio Ambiente e Desenvol-
vimento (Unced), esta ltima no Rio de Janeiro,
conhecida tambm como ECO-92.
Foi esta ltima Conferncia a que mais re-
sultados efetivos obteve. Em seu mbito, mais
de 160 Estados assinaram a Conveno-Quadro
sobre Mudana Climtica (UNFCCC), com o fim
de evitar interferncias antropognicas peri-
gosas no sistema climtico (art. 2). poca,
incluiu-se meta para que os pases industriali-
zados mantivessem, at o ano 2000, suas emis-
ses de gases geradores de efeito estufa nos n-
veis de 1990. Contudo, estudos publicados por
cientistas do Painel Intergovernamental sobre
Mudanas Climticas (Intergovernmental Pannel
on Climate Change IPCC), grupo de peritos de
vrios pases que do subsdio tcnico s ne-
gociaes de reduo de emisso de gases de
efeito estufa, sugeriram a reviso das metas, em
1995, diante da evidncia dos primeiros sinais
de mudana climtica planetria.
A preocupao culminou com a elabora-
o do Protocolo de Quioto, em 1997, no qual
ficou estabelecido, para o qinqnio compre-
endido entre 2008 e 2012, o compromisso de
diminuio de emisses totais dos gases gera-
dores do efeito estufa.4 A meta, no entanto, no
uniforme para todos os pases.
Estabeleceu-se, com o Protocolo, uma esp-
cie de regulao assimtrica, a partir da concep-
o do princpio da responsabilidade comum,
3 Art. 225. Todos tm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico e coletividade o dever de defend-lo e preserv-lo para as presentes e futuras geraes.
4 De acordo com o Anexo A do Protocolo de Quioto, so gases de efeito estufa: o dixido de carbono (CO2), o metano (CH4), o xido nitroso (N20), os hidrofluorcarbonos (HFCs), os perfluorcarbonos (PFCs) e o hexafluoreto de enxofre (SF6).
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SANEAMENTO PARA TODOS
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mas diferenciada. Derivao das idias de po-
luidor pagador e da eqidade, esse princpio
justifica-se diante do fato de que os pases que
detm um maior desenvolvimento industrial
contribuem mais intensa e longamente para a
poluio ambiental, devendo, pela mesma razo,
assumir maiores nus na sua preservao.5 Alm
disso, a sua aplicao visa a impedir que as regras
de preservao ambiental desestimulem o desen-
volvimento industrial dos pases mais pobres.
Como resultado, os pases listados no
Anexo I do Protocolo (pases desenvolvidos) de-
vero reduzir a sua emisso em, ao menos, 5%
abaixo dos nveis verificados em 1990 (cf. art.
3). Em contrapartida, os demais pases (em de-
senvolvimento), com baixos ndices histricos
de emisso, podem at aument-los, possuindo
uma espcie de saldo positivo negocivel.
O Protocolo estabelece ainda trs meca-
nismos de flexibilidade, os quais permitem
que os pases desenvolvidos cumpram com as
exigncias de reduo de emisses fora dos
seus territrios: (i) a Implementao Conjunta
(Joint Implemention); (ii) o Comrcio de Emis-
ses (Emission Trading); e (iii) o Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (Clean Development
Mechanism). Para os fins do presente estudo, in-
teressa analisar, especificamente, este ltimo.
II.1.1. Os objetivos do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo (MDL)
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo
est previsto e regulamentado no art. 12 do Pro-
tocolo de Quioto. O item 2 do referido disposi-
tivo explicita o seu duplo objetivo: de um lado,
busca-se assistir os pases em desenvolvimento
quanto a atingir o desenvolvimento sustentvel
e contribuir para o objetivo final da Conveno;
de outro, permite-se que os pases desenvolvi-
dos cumpram seus compromissos quantifica-
dos de limitao e reduo de emisses.
Desse modo, contemplam-se simultanea-
mente os interesses de pases poluidores e dos
em desenvolvimento. Enquanto estes recebem
investimentos para recuperao de suas reas
naturais degradadas, beneficiando-se de ativi-
dades de projetos que resultem em redues
certificadas de emisses e da transferncia de
tecnologias sustentveis ecologicamente, aque-
les pagam as suas dvidas ambientais, podendo
utilizar-se das redues certificadas de emis-
ses para contribuir com o cumprimento de
seus compromissos quantificados de limitao
e reduo de emisses (cf. art. 3)6. Dito de outra
forma, uma vez que irrelevante para o plane-
ta o local onde as emisses sero reduzidas, os
5 Sobre o princpio da Responsabilidade Comum, Porm Diferenciada, manifestam-se Flavia Witkowski FRANGETTO e Flavio Rufino GAZANI: Esse princpio afirma que as necessidades especficas e circunstncias especiais das Partes pases em desenvolvimento sejam consideradas, e que, tendo em vista a situao mais frgil destes ltimos, a iniciativa de aes de combate mudana do clima e seus efeitos advenha dos pases desenvolvidos. Em consonncia com o Princpio do Poluidor-Pagador, prega que aquele que utiliza tcnica poluidora (os pases desenvolvidos) h mais tempo que os menos desenvolvidos, por uma questo de equida-de, tem o dever de contribuir proporcionalmente poluio que causou, arcando com a maior parte do nus de mitigar os efeitos adversos da mudana do clima. Da, a adoo do Princpio da Responsabilidade Comum, porm Diferenciada, de acordo com o grau de poluio causado pelos pases desenvolvidos (in Viabilizao jurdica do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil. Braslia, IIEB, 2002, p.38).
6 H, desse modo, e por via do Protocolo de Quioto, um impulso idia de cooperao internacional. Nesse sentido, os projetos de MDL diga-se os projetos envolvendo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL), passveis de gerar Certificados de Emisses Reduzidas (CER) viabilizam a cooperao internacional na medida em que, de um lado, parcela da obrigao de um Pas do Anexo I da UNFCC pode ser cumprida, e, de outro, haja um aumento de investimento nos pases em desenvolvimento (medida macroeconmica), mediante entrada de capital externo e incremento dos internos destinados causa ambiental, especialmente ao combate s mudanas climticas (in Flavia Witkowski FRANGETTO e Flavio Rufino GAZANI, Viabilizao jurdica do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL) no Brasil. Braslia, IIEB, 2002, p.38).
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
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pases desenvolvidos podem optar por financiar
a reduo da emisso fora de seus territrios,
em pases em desenvolvimento onde, em geral,
os custos de tal reduo so menores (mo-de-
obra, custo de materiais, etc.), por meio da aqui-
sio de Certificados de Reduo de Emisso.
II.1.2. Os Certificados de Reduo de Emisses
Os Certificados de Reduo de Emisses
(CRE) so documentos emitidos pelo Conselho
Executivo da UNFCCC no mbito do Protocolo
de Quioto. Tais documentos atestam que deter-
minado projeto produziu o seqestro ou a ab-
soro de gs carbnico ou a reduo de emis-
so de gases de efeito estufa por meio de Meca-
nismo de Desenvolvimento Limpo.
Como observa Renata de Assis Calsing,
com a reduo efetiva das emisso de GEE [ga-
ses de efeito estufa], so proferidos certificados
de carbono (CRE), que so a garantia de que
os pases aplicaram projetos de reduo de po-
luio e foram bem-sucedidos. Esses certifica-
dos devero ser usados no cmputo das taxas
de reduo quando da avaliao dos Relatrios
que os Estados apresentam COP. A novidade
do mecanismo o comrcio desses certificados,
que podero ser comprados e vendidos entre os
pases. Quem possuir mais certificados do que
precisa poder vend-los a quem ainda no al-
canou sua meta.7
O CRE , ento, um bem negocivel no re-
cm-concebido Mercado de Carbono. Trata-se
de promissora novidade para o mercado finan-
ceiro, na medida em que os certificados de redu-
o de emisso e outras commodities ambientais
passam a ter valor no mercado de capitais.
Por conta do estabelecimento desse
mercado, o cumprimento das metas de pre-
servao do meio ambiente e de reduo de
emisses, do ponto de vista dos pases desen-
volvidos, pode ser atingido direta ou indire-
tamente. No primeiro caso, quando os pases
desenvolvidos desenvolverem projetos que
atuem como sumidouros de carbono, redu-
zindo, assim, as suas prprias emisses (ao
domstica). No segundo, quando, ao invs de
promoverem, por si prprios, projetos de que
resulte a obteno de CRE, adquiram tais ttu-
los de outros pases que os estejam negocian-
do (ao no-domstica).
II.1.3. Requisitos para a obteno do CRE
O item 5 do art. 12 do Protocolo de Quio-
to relaciona os requisitos essenciais para que os
projetos de MDL resultem na obteno de Cer-
tificados de Reduo de Emisso de Carbono,
negociveis no Mercado de Carbono. So eles: (i)
participao voluntria aprovada por cada parte
envolvida; (ii) benefcios reais, mensurveis e de
longo prazo, relacionados com a mitigao da
mudana do clima; e (iii) redues de emisses
que sejam adicionais s que ocorreriam na au-
sncia da atividade certificada de projeto. Anali-
semo-los separadamente.
II.1.3.1 A voluntariedade da participao
O primeiro dos requisitos para que se
possa cogitar da validade do projeto de MDL
a participao voluntria das partes envol-
vidas. Dito de outro modo, para dar ensejo
obteno de CRE, a implantao de projetos de
7 Renata de Assis CALSING. O protocolo de Quioto e o Direito ao Desenvolvimento Sustentvel. Porto Alegre, Sergio Antonio Fabris Editor, 2005.
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SANEAMENTO PARA TODOS
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MDL no pode ser imposta; deve decorrer do
livre arbtrio daqueles que neles se envolvero.8
Esse requisito vale tanto para as relaes en-
tre dois Estados distintos (relaes de Direito
Internacional), quanto para as relaes envol-
vendo um Estado e os particulares interessados
em praticar as atividades de MDL (relaes de
Direito Interno).
Do ponto de vista das relaes entre Esta-
dos distintos, esse requisito se traduz na veda-
o utilizao de quaisquer medidas que visem
a pressionar um Estado parceiro a implementar
o projeto. Refutam-se, por exemplo, a aplicao
de medidas restritivas comerciais como forma
de coao, ou mesmo a celebrao de acordos
internacionais bilaterais que imponham parti-
cipao em projetos inespecficos, inquinando
de invalidade (ou ineficcia para a obteno de
CRE) os projetos que forem implementados por
essas razes.
A regra tambm se reflete nas relaes
entre um Estado e as instituies pblicas ou
privadas que implementem o projeto de MDL.
Tambm aqui veda-se qualquer imposio uni-
lateral. O Estado no poder, portanto, obrigar
(por lei, contrato ou por qualquer espcie de me-
dida restritiva) nenhuma instituio a participar
de projetos de MDL.
Note-se que no se vedam quaisquer nor-
matizaes internas que prevejam, para as
empresas e fbricas nacionais, a obrigao de
reduzir as emisses de gases estufa, at mesmo
porque o prprio sistema da Conveno-Quadro
claro ao exigir que os Pases Partes instituam
polticas pblicas nacionais para mitigar as mu-
danas climticas.9 O que no se admite a im-
posio conjunta de implementao de proje-
tos MDL.10 Em outros termos, impede-se a esta-
tuio de obrigao especfica de que a reduo
da emisso se d por meio dos projetos MDL.
Havendo tal previso, os referidos projetos, ain-
da quando exitosamente implementados, no
daro azo obteno do CRE, por violao ao
requisito da voluntariedade.
A voluntariedade na implementao
dos projetos atestada pelo(s) Estado(s) neles
envolvido(s). No Brasil, essa tarefa cabe Co-
misso Interministerial de Mudana Global do
Clima, a teor do art. 3, IV, do Decreto de 7 de
julho de 1999.
8 De acordo com o documento FCCC/CP/1998/MISC.7, the voluntary nature of participation generally in the trading system, as well in each trade in particular, in effect ensures that each of the participants will be made better off because Parties will only choose to trade if and when it is to their advantage to do so.
9 Eis o que estabelece o Protocolo de Quioto, em seu artigo 4: 1. Todas as partes, levando em conta suas responsabilidades comuns mas diferenciadas, e suas prioridades de desenvolvimento, objetivos e circunstncias especficos, nacionais e regionais, devem: (...) b) formular, implementar, publicar e atualizar regularmente programas nacionais e, conforme o caso, regionais, que incluam medi-das para mitigar a mudana do clima, enfrentando as emisses antrpicas por fontes e remoes por sumidouros de todos os gases de efeito estufa no controlados pelo Protocolo de Montreal, bem como medidas para permitir adaptao adequada mudana do clima. Igualmente, prev o art. 10: Todas as partes (...) devem: (...) b) formular, implementar, publicar e atualizar regularmente programas nacionais e, conforme o caso, regionais, que contenham medidas para mitigar a mudana do clima, bem como me-didas para facilitar uma adaptao adequada mudana do clima.
10 Neste mesmo sentido, defende Renata de Assis CALSING: A legislao brasileira, ou qualquer outra que apresente os mesmos ter-mos, promove apenas a regulao da produo energtica para que esta se d de modo limpo, seguindo os princpios assumidos na UNFCCC. No h uma imposio legal s empresas de investir em projetos de MDL para que sejam alcanadas as metas de reduo de GEE. As empresas so obrigadas a promover redues de emisses, mas no necessariamente por meio de projetos de MDL. Participar de um projeto de MDL uma das opes das instituies nacionais, nunca uma obrigatoriedade, uma vez que no existe sano aos no- participantes de projeto de MDL (in O Protocolo de Quioto e o Direito ao desenvolvimento sustentvel. Porto Alegre, Sergio Antonio Fabris Editor, 2005).
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
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II.1.3.2 A efetividade dos benefcios
O segundo requisito expresso para que os
projetos de MDL possam resultar na obteno
de CRE que eles produzam benefcios reais,
mensurveis e de longo prazo relacionados com
a mitigao da mudana do clima. Em suma,
trata-se de requisito de verificabilidade do be-
nefcio efetivo produzido, o que se justifica,
tendo em vista que o valor de mercado do CRE
depende diretamente desse fator. A Conferncia
das Partes emitiu a Deciso 17/COP 7, segundo
cujo anexo E, 26, a aferio da quantidade de
toneladas de emisses de carbono reduzidas e a
anlise do lapso temporal dos benefcios cabem
a uma entidade operacional por ela designada, a
qual lhe prestar contas por intermdio do Con-
selho Executivo do MDL (Executive Board).
bastante problemtica a questo relativa
ao cumprimento do requisito do longo prazo
inscrito nesse item. Tal expresso no pode ser
traduzida em lapsos determinados, o que con-
fere certa discricionariedade ao rgo respons-
vel pela aferio. Um perodo x, que para uma
determinada atividade poderia ser considerado
longo, poder no o ser quando de outra ati-
vidade se tratar. A rigor, no h soluo prvia
razovel, devendo ser levadas em considerao
as condies especficas do caso concreto.
II.1.3.3 A adicionalidade dos benefcios
advindos do Projeto
O ltimo dos requisitos para que um Pro-
jeto de MDL possa dar ensejo obteno de
um CRE a adicionalidade dos benefcios dele
advindos. Isso significa que a reduo de emis-
so decorrente do projeto dever ser adicional
quela que se verificaria na sua ausncia. A idia
que s devem ser certificadas redues que
no poderiam ser viabilizadas por meios outros
que no os de MDL.
A j mencionada Deciso 17/COP 7 da
Conferncia das Partes regulamentou a meto-
dologia de aferio dessa adicionalidade, a qual
leva em considerao critrios de referncia
(anterior ao projeto, concomitante e posterior
a ele), por meio de projees e tendncias da
quantidade de emisses que seriam verificadas
caso no houvesse sido implementado o projeto
de MDL em caso (linha de base)11.
II.1.4. O aspecto processual do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo
Delineados os objetivos e os requisitos
do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo,
cumpre analisar o seu aspecto procedimental,
regulamentado nos Acordos de Marrakech, fir-
mados em 2001, na 7 Conferncia das Partes
Conveno-Quadro.12 Nesse ponto, importa
examinar as fases do processo para a realiza-
o de uma atividade de MDL e a obteno do
11 De acordo com a Deciso 17/COP 7, 44, Anexo dos Acordos de Marrakesh, a linha de base de uma atividade de projeto do MDL o cenrio que representa, de forma razovel, as emisses antrpicas de gases de efeito estufa por fontes que ocorreriam na ausncia da atividade do projeto proposto.
12 Neste item, ser examinado o processo ordinrio do MDL. Deve-se noticiar, contudo, que os Acordos de Marrakech estabeleceram processos mais simples para os chamados Projetos de Pequena Escala, que so os seguintes: (i) projetos de energia renovvel com capacidade inferior a 15MW; (ii) projetos de eficincia energtica que reduzem consumos num equivalente de 15 GWh/ano; (iii) projetos que reduzam emisses por fontes de emisso e que emitam menos de 15 quilotoneladas de CO2/ano.
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SANEAMENTO PARA TODOS
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CER. Antes de faz-lo, necessrio apresentar
os agentes envolvidos no processo. So eles, es-
sencialmente:
Conferncia das Partes: rgo superior que se
rene anualmente e de onde emanam as deter-
minaes e as orientaes centrais do MDL;
Conselho Executivo: rgo consultivo e
deliberativo. Possui as funes de decidir
sobre a legitimao dos agentes executo-
res, aceitar e supervisionar o MDL, registrar
os projetos e aprovar a emisso de CER.
constitudo por 10 membros, partes do Pro-
tocolo de Quioto, eleitos para um perodo
de dois a trs anos;
Entidades Operacionais Designadas: So acre-
ditadas pela Comisso Executiva e cumprem
as funes de avaliar a adequao do projeto
de MDL com os requisitos estabelecidos pela
Conferncia das Partes (validando-os ou rejei-
tando-os) e de verificar as redues de emis-
ses dos projetos;
Entidades promotoras do projeto: Pessoas de
Direito Pblico ou Privado diretamente inte-
ressadas na realizao de uma atividade para
a obteno dos benefcios do Mecanismo de
Desenvolvimento Limpo.
Grupos de Interesses (Stakeholders): Indiv-
duos ou grupos de indivduos potencialmente
afetados pelas atividades propostas pelo pro-
jeto de MDL. Podero manifestar-se em diver-
sos momentos do processo, para influenciar
as decises do Conselho Executivo e das Enti-
dades Operacionais Designadas.
Conhecidos os seus principais agentes,
pode-se passar a uma anlise especfica de cada
uma das quatro etapas do Processo de MDL.
Etapa 1: Preparao de um projeto MDL
para validao. As entidades promotoras do
projeto devem preparar um documento de-
nominado Project Design Document (PDD).
Esse documento dever ser submetido a uma
consulta pblica pelo perodo de 30 dias e
deve conter as seguintes informaes: (i) uma
descrio do projeto; (ii) uma linha de base
calculada a partir de uma metodologia apro-
vada; (iii) uma estimativa do perodo de vida e
do perodo de emisso de crditos do projeto;
(iv) uma demonstrao de como o projeto gera
redues de emisses adicionais; (v) uma an-
lise de impactos ambientais; (vi) apresentao
dos resultados da consulta pblica efetuada; e
(vii) um plano de monitorizao e averiguao
que utiliza uma metodologia de monitoriza-
o aprovada. Deve ser providenciado, ainda,
um documento que comprove o interesse de
participao voluntria das partes envolvidas
e a confirmao do pas hospedeiro da con-
tribuio do projeto para o desenvolvimento
sustentado.
Etapa 2: Validao ou rejeio do proje-
to. Em seguida, deve ser contratado um avalia-
dor independente, que a Entidade Operacio-
nal Designada, responsvel pela aprovao ou
reprovao do projeto. Em procedimento de-
nominado Validao, essa entidade examina o
projeto, para aferir se ele est de acordo com as
regras estabelecidas pela Conferncia das Par-
tes. Se entender pela validao do documento,
a Entidade Operacional Designada dever sub-
met-lo Comisso Executiva, juntamente com
uma recomendao para registro do Projeto.
Etapa 3: Registro pela Comisso Executi-
va. Recebido o relatrio de validao, a Comis-
so Executiva tem oito semanas para aceitar
formalmente o projeto ou expor suas reservas.
Caso se omita nesse prazo, e a menos que um
dos pases envolvidos no projeto ou pelo me-
nos trs membros da Comisso Executiva exi-
jam reviso, o projeto registrado automatica-
mente, passando-se etapa seguinte.
-
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
25
Etapa 4: Verificao, certificao e emis-
so de CRE. Depois de registrado o Projeto, os
interessados devem monitorar a reduo de
emisses, em conformidade com o plano apre-
sentado no PDD. Dever contratar, ento, uma
outra Entidade Operacional Designada (diversa
daquela que procedeu validao), para aferir
as redues de emisso e preparar relatrio de
verificao. Esse relatrio , ento, remetido
Comisso Executiva, que, caso o aprove, dever
certificar a reduo de emisses, emitindo uma
CRE para cada tonelada de CO2 (ou valor equiva-
lente de outros gases estufa) cujo seqestro se
verificou. Esse procedimento dever se repetir
durante todo o perodo de crdito do projeto.
II.1.5. Os projetos de MDL em aterros sanitrios
Os benefcios advindos da realizao de
atividades de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo podem impulsionar a elaborao de pro-
jetos de reformas em aterros sanitrios. A de-
composio da matria orgnica que neles se de-
posita gera a emisso de biogs, cujo principal
componente o gs metano (CH4), um dos gases
que, dispersos no ambiente, geram efeito estu-
fa e causam o aquecimento do planeta. A com-
busto do gs metano traria a sua conseqente
transformao em dixido de carbono (CO2), 21
(vinte e uma) vezes menos impactante. Assim, a
implementao de projetos que permitissem re-
duzir ou impedir a disperso do gs metano no
ambiente, por meio de sua captao e combusto
(transformando-o em dixido de carbono), possi-
bilitaria pleitear a sua validao e a conseqente
obteno de CREs, j que, em tese, o projeto pre-
encheria os requisitos do Protocolo de Quioto de
efetividade e adicionalidade do benefcio.
Pode-se cogitar de duas formas de viabi-
lizao de projetos de reduo da disperso do
metano gerado nos aterros sanitrios e lixes no
ambiente.
De um lado, a queima simples do gs
metano, transformando-o em gs carbnico,
seria suficiente para que os requisitos do Pro-
tocolo de Quioto fossem atendidos, diante da
menor lesividade do dixido de carbono para
o efeito estufa. Nesse caso, devem ser previs-
tos mecanismos de controle e eventualmente
de suco ativa do gs produzido nos aterros
sanitrios, bem como equipamentos para a
combusto do gs.
Por outro lado, pode-se cogitar de proje-
to que combine a queima do gs metano com o
seu aproveitamento para a gerao de energia.
Para alm da mera suco do gs para a sua quei-
ma, pode-se instalar tecnologia que aproveite a
emisso do metano para, queimando-o, gerar
energia. A hiptese sugere um duplo aprovei-
tamento econmico do gs liberado: primeiro,
com a possibilidade de utilizao ou negociao
da energia gerada; segundo, com a obteno de
CER e sua comercializao.
A ltima alternativa remete primeira ex-
perincia mundial de Mecanismo de Desenvol-
vimento Limpo, que ocorreu no Brasil, na cida-
de de Nova Iguau, no Rio de Janeiro. O Projeto
NovaGerar, das empresas EcoSecurities e S/A
Paulista, obteve a aprovao e o registro do Con-
selho Executivo. Inclua a desativao do antigo
lixo de Marambaia e a construo de um aterro
sanitrio. A partir de 2006, o metano nele emiti-
do ser capturado e utilizado em uma usina ter-
meltrica, para gerao de energia. Com isso, o
projeto no apenas reduzir a liberao de me-
tano para o ambiente, como tambm o utilizar
como substituto de combustveis fsseis (mais
poluentes) na usina. Para informaes detalha-
das sobre o projeto, que poder servir de exem-
plo para as exigncias previstas no Protocolo,
ver http://www.bayer.com.br/byee/home.
nsf/04bbd938b0f97149c1256ac500564711/
83256e850068df8283256f2e003d38c8/
$FILE/projeto%20Pablo%20Fernandez.pdf
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SANEAMENTO PARA TODOS
26
e ainda o Relatrio de Validao do Projeto
(http://www.mct.gov.br/clima/cigmc/pdf/
Validacao_NovaGerar.pdf ).
A viabilidade tcnica e econmica da
utilizao do Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo como mecanismo de financiamento de
empreendimentos de infra-estrutura sanitria
dever ser determinada pelos rgos tcnicos
competentes, ressaltando-se que o Ministrio
das Cidades tem-se dedicado a identificar tal
potencial em municpios previamente sele-
cionados no territrio brasileiro. Observe-se,
porm, que a maioria dos especialistas adver-
te que preciso um determinado volume de
gs em aterros para que o empreendimento
se torne vivel. Esse condicionante poder ser
fator de excluso, ao menos em um primei-
ro momento, do mecanismo, em prefeituras
de pequeno porte. No entanto, como adiante
se ver, existem mecanismos legais e institu-
cionais para agregar escala a esses aterros,
pela reunio de vrios municpios de menor
porte, associados em um consrcio pblico.
Nesse caso, ser essencial recorrer ao papel
integrador e planificador do estado (v. infra
item II.2.2).
II.2. A SITUAO INSTITUCIONAL DOS ATERROS
E AS POSSIBILIDADES DE FINANCIAMENTO
DE SUA CONSTRUO, REGULARIZAO,
DESATIVAO E RECUPERAO
Analisadas as possibilidades de utilizao
do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo para
a viabilizao de empreendimentos de cons-
truo, regularizao, desativao e recupera-
o de aterros sanitrios, cabe agora analisar,
concretamente, como isto se daria na prtica.
evidente que as alternativas diferem muito
conforme a realidade ftica de cada aterro ou
localidade envolvida, o que obriga a anlise
concreta de cada caso. Entretanto, apresenta-se
aqui algumas condicionantes que devero ser
equacionadas, relacionadas notadamente si-
tuao ftica dos aterros (II.2.1) e aos atores
envolvidos no processo (II.2.2.).
II.2.1. A situao ftica dos aterros
No que diz respeito situao da desti-
nao final do lixo, pode-se estar diante de um
aterro sanitrio ou controlado (construdo con-
forme as exigncias tcnicas e sanitrias da ati-
vidade, com deposio e operao controladas),
ou de um lixo, ou seja, de rea de deposio de
lixo que no atende s especificaes tcnicas
e consubstancia, no mais das vezes, um mero
local segregado para tal finalidade, sem que
tenham sido adotadas as medidas de controle,
segurana, higiene e proteo ambiental de um
aterro, tais como impermeabilizao do terreno,
drenagem de chorume e lquidos percolados,
sistemas de drenagem e incinerao do biogs
produzido, sistemas de controle e acompanha-
mentos dos resduos depositados etc.
Ainda sob esse aspecto, pode-se defrontar
com uma instalao em operao ou j desati-
vada, ou ainda a construir. A emisso de biogs
inicia-se alguns meses aps o incio da deposi-
o dos resduos slidos e prossegue, em mdia,
at 15 anos depois de sua desativao.
A delimitao do projeto de infra-estru-
tura que se pretende executar decorrer dessas
caractersticas. No caso de lixes ou de aterros
em funcionamento que no atendam plena-
mente s condies exigidas para a otimizao
da captao de biogs, pode-se cogitar de sua
regularizao ou adaptao. O empreendimen-
to serviria, portanto, em primeiro lugar, para
propiciar o funcionamento do aterro nas con-
dies de segurana, ambientais e salubres exi-
gidas pela regulamentao, por exemplo, com o
controle da deposio de resduos em qualidade
-
O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
27
e temporalidade, a realocao de eventual popu-
lao sobre o aterro (catadores) em outra ativi-
dade, a construo de infra-estrutura adequada,
a impermeabilizao, o tratamento de chorume
e lquidos percolados etc. No que diz respei-
to, especificamente, queima do biogs com o
intuito de certificar a reduo de emisses de
gases de efeito estufa, o empreendimento per-
mitiria maior controle e aproveitamento do bio-
gs, como por meio (i) da instalao de sistemas
de drenagem ativa do biogs, (ii) de sistemas de
monitoramento de vazo, presso e composio
qumica do biogs, (iii) de mecanismos de lan-
amento, espalhamento, compactao e reco-
brimento dos resduos, (iv) de mecanismos de
recobrimento final dos resduos para impedir a
disperso dos gases no ambiente etc. A depen-
der do porte e do tamanho das alteraes efetu-
adas, at possvel que o empreendimento seja
integralmente viabilizado pela futura comercia-
lizao dos certificados de reduo de emisses
decorrentes do Protocolo de Quioto.
No caso de aterros a serem construdos,
evidentemente o empreendimento de infra-es-
trutura corresponder sua construo. Nesse
caso, a construo de infra-estrutura em bases
que impeam a disperso do biogs no ambiente
e favoream a sua queima, permitindo, assim, a
futura certificao da reduo das emisses, se
proporia a reduzir o nus financeiro da constru-
o do aterro. Observe-se, no entanto, que, pela
sistemtica do Protocolo de Quioto (v. acima
item II.1.4), a certificao de reduo de emis-
ses ocorrer to-somente aps a comprovao
da queima do biogs e de suas conseqncias
para a atmosfera. A certificao ocorre sempre,
portanto, em momento posterior entrada em
funcionamento do aterro.
Finalmente, no que diz respeito aos ater-
ros e aos lixes saturados e/ou desativados,
pode-se cogitar da sua desativao e recupe-
rao, por meio do reflorestamento da rea e
da eventual construo de infra-estruturas que
acelerem o processo, como por exemplo por
meio da drenagem dos lquidos ainda produzi-
dos ou do biogs remanescente. A gerao de
biogs inicia-se alguns meses depois do incio
da deposio dos resduos e prossegue at 15
anos aps a desativao de aterro. No caso do
lixo, esse tempo se reduz diante da impossibi-
lidade de controle das condies de deposio
dos resduos.
Conclui-se, portanto, que, ao menos em
teoria, seria possvel cogitar da implantao
de projetos de Mecanismo de Desenvolvimento
Limpo tanto em aterros quanto em lixes em
operao, desativados ou a construir. Em qual-
quer desses casos, a certificao da reduo e
a conseqente comercializao dos certifica-
dos permitiriam o financiamento parcial dos
empreendimentos de infra-estrutura sanitria
necessrios.
No que diz respeito propriedade do
aterro ou do lixo, pode-se cogitar inicialmen-
te de aterros privados. Nesse caso, ainda que o
aterro receba resduos slidos oriundos da pres-
tao dos servios pblicos de limpeza urbana
municipal, uma eventual iniciativa de constru-
o ou de adaptao de nova infra-estrutura ou
de certificao da reduo de emisses caberia
ao particular.
Pode-se igualmente conjecturar em aterro
ou lixo de propriedade pblica, seja ele opera-
do pelo Poder Pblico, seja por particular, por
meio de prestao de servios ou concesso
(bem reversvel). Caso ele seja operado direta-
mente pelo prprio Poder Pblico, caber a ele
promover as medidas aqui preconizadas ou de-
legar a atividade a particular (v. abaixo item III).
Caso seja operado por particular (prestador de
servio ou concessionrio), a situao contratu-
al do particular e a extenso de suas obrigaes
e prerrogativas devero ser analisadas concre-
tamente, caso a caso, para assim delimitar-se
-
SANEAMENTO PARA TODOS
28
se esto includas, entre suas capacidades ou
obrigaes, a implementao e a certificao de
sistema que permita a queima ou o reaproveita-
mento de biogs (v. abaixo, com mais detalhe, a
questo da titularidade dos certificados).
Quanto operao dos aterros, de se ob-
servar que, em muitos casos, o municpio onde
se localiza o aterro no coincide com aquele que
o construiu ou ainda com aquele que o opera.
A situao freqente nas regies metropoli-
tanas, onde o governo do estado assume papel
relevante na construo e na viabilizao de in-
fra-estruturas sanitrias, geralmente operadas
pela prefeitura do municpio mais populoso da
regio metropolitana, mas localizadas em mu-
nicpios menores, que recebem, em geral, os
resduos slidos de vrios municpios. Convm
analisar alguns exemplos dessa superposio de
atividades e competncias.
Na Regio Metropolitana de Salvador, por
exemplo, alm do Aterro Canabrava, j desativa-
do, localiza-se o Aterro Metropolitano do Centro
(AMC), construdo pelo Governo do Estado da
Bahia. A gesto do aterro feita pelo Municpio
de Salvador, que a delegou por meio de conces-
so para a empresa Battre (antiga Vega), por 20
(vinte) anos. O Aterro AMC recebe resduos sli-
dos de dez municpios da Regio Metropolitana
de Salvador.
Encontra-se situao ainda mais intrin-
cada na Regio Metropolitana de Natal. Com a
desativao do Aterro Cidade Nova, localizado
na zona oeste de Natal, no final do ano de 2002,
passou-se a destinar os resduos slidos da cida-
de para o Aterro Sanitrio Metropolitano de Na-
tal. Esse se situa no Municpio de Cear-Mirim,
mas sua construo foi financiada com recursos
do Governo do Estado do Rio Grande do Nor-
te. A operao cabe Prefeitura de Natal, que a
delegou, por meio de concesso, para a conces-
sionria Braseco S/A. O aterro recebe resduos
slidos e semi-slidos de toda a Regio Metro-
politana, podendo o Municpio de Cear-Mirim
cobrar taxa por tonelada de lixo depositada no
aterro. A relao entre os municpios envolvidos,
o Governo do Estado e a concessionria foi for-
malizada por meio de convnio de cooperao,
que prev essencialmente a responsabilidade de
cada um dos envolvidos na construo de obras
de infra-estrutura e de operao do aterro.
Situao semelhante encontra-se na Re-
gio Metropolitana de Fortaleza. Com a desati-
vao do Aterro Jangurussu (em 1998, aps 20
anos de atividade), os resduos slidos da regio
passaram a ser destinados aos Aterro Sanit-
rio Metropolitano Oeste (Asmoc, localizado no
Municpio de Caucaia), Aterro Sanitrio Metro-
politano Sul (ASMS, localizado no Municpio de
Maracana) e Aterro Sanitrio Metropolitano do
Leste (ASML, localizado no Municpio de Aqui-
raz). Os trs aterros, construdos pelo Governo
do Estado do Cear, servem aos seis municpios
da Regio Metropolitana de Fortaleza e so ope-
rados por empresas privadas. Deve-se observar,
no entanto, que, enquanto a operao do Asmoc
foi objeto de contratao com a Prefeitura de
Fortaleza (empresa G&F), a operao dos dois
outros aterros foi delegada empresa Queiroz
Galvo, por meio de concesso estadual. Nesse
caso, o estado adquiriu papel ainda mais pre-
ponderante na operao dos aterros e, portan-
to, na implementao de eventual reduo das
emisses e sua correspondente certificao pelo
Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
A anlise dessas e de outras situaes de
regies metropolitanas demonstra que se faz
necessria a ampla coordenao dos entes p-
blicos envolvidos, sejam aqueles que hospe-
dam o aterro, sejam aqueles que financiam a
construo da infra-estrutura ou, ainda, que se
responsabilizam por sua operao. No raro, as
relaes jurdicas entre esses entes, ou, ainda,
entre eles e os operadores privados envolvidos
nessas atividades, pouco formalizada. A regu-
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O Mecanismo de Desenvolvimento Limpo nos empreendimentos de manejo de resduos slidos urbanos e o impacto do Projeto de Lei n 5.296/2005
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larizao dessas relaes e sua formalizao por
meio dos instrumentos da Lei n 11.107/2005,
notadamente por consrcios pblicos ou por
convnios de cooperao, de extrema rele-
vncia para assegurar a sua segurana jurdica.
A presena desses diferentes entes poder ser
utilizada como mecanismo para viabilizar os
empreendimentos de infra-estrutura acima refe-
ridos e para a certificao da reduo de emis-
ses, por meio da repartio de tarefas e de nus
entre os envolvidos. o que se ver abaixo.
II.2.2. Atores envolvidos
Convm ainda identificar os posssveis
atores envolvidos nos processos de execuo do
empreendimento de infra-estrutura sanitria e
de certificao da reduo de emisses.
Em primeiro lugar, as prefeituras munici-
pais desempenharo papel essencial em ambos
os procedimentos, uma vez que compete a elas
a prestao dos servios pblicos de manejo de
resduos slidos. Do ponto de vista do empreen-
dimento em si, compete s prefeituras tomar a
deciso poltica de executar o empreendimento,
bem como de eleger a forma como isso se pro-
ceder (por meio de execuo direta, indireta,
ou gesto associada v. abaixo item III.1). No
que diz respeito certificao da reduo das
emisses, caber tambm prefeitura estudar
as possibilidades de viabilizao de tal certifi-
cao, que depender da opo adotada em re-
lao explorao do prprio aterro sanitrio.
Caber tambm s prefeituras articular-se, es-
pecialmente no caso das regies metropolitanas
onde os aterros sirvam a diversos municpios.
Nesse caso, o esforo conjugado das prefeitu-
ras poder facilitar a viabilizao do empreendi-
mentos e sua adaptao para otimizar a capta-
o do biogs e a certificao de sua queima ou
reaproveitamento.
Tambm os governos estaduais tm pa-
pel importante na viabilizao dos empreen-
dimentos. No raro, so eles que fornecem os
recursos necessrios para a viabilizao dos
aterros, principalmente nas regies metropo-
litanas, como vimos. Apesar de no serem os
agentes titulares da prestao dos servios de
limpeza urbana, os governos estaduais tm em
alguns casos assumido papel preponderante na
prpria operao dos aterros, como o caso
da Regio Metropolitana de Fortaleza. Mais
do que isso, os governos estaduais podem de-
sempenhar um papel importante ao definir as
normas e os procedimentos de integrao das
aes dos municpios.
Da mesma forma, o governo federal ator
importante na viabilizao de tais empreendi-
mentos. O Ministrio das Cidades tem se em-
penhado em identificar a viabilidade do finan-
ciamento total ou parcial dos empreendimentos
de infra-estrutura sanitria por meio da certifi-
cao da reduo de emisses e a conseqente
comercializao dos certificados. Alm disso, o
Ministrio das Cidades responsvel pela edi-
o de normas que facilitam o financiamento de
projetos de saneamento bsico com utilizao
dos recursos do Fundo de Garantia por Tempo
de Servio (FGTS).
Importante deixar claro que o Ministrio
das Cidades responsvel pelo fomento aos in-
vestimentos no setor de saneamento bsico para
os municpios com mais de 250 mil habitantes e
para as regies metropolitanas. Conforme o Pla-
no Plurianual (PPA) 20042007, o mesmo papel
desempenhado pelo Ministrio do Meio Am-
biente para os municpios entre 250 mil e 30 mil
habitantes e pelo Ministrio da Sade, por meio
da Fundao Nacional de Sade (Funasa), para
os municpios com populao inferior a 30 mil
habitantes.
Ainda no mbito da Administrao Pbli-
ca, os rgos de licenciamento ambiental deve-
-
SANEAMENTO PARA TODOS
30
ro ser envolvidos no projeto, no s porque se
trata de questes de impacto ambiental eviden-
te, mas, tambm, porque todo empreendimento
de infra-estrutura que implique a construo ou
a regularizao de aterros sanitrios ou lixes
depende da aprovao dos rgos ambientais
competentes. Assim que ser necessria a
obteno da licena prvia, de instalao e de
operao para a implantao desses empreen-
dimentos.
Tambm as instituies de fomento e fi-
nanciamento desempenharo papel importante
na viabilizao dos empreendimentos de infra-
estrutura sanitria e de eventual certificao da
reduo de emisso de gases de efeito estufa,
por meio da queima ou do reaproveitamento do
biogs decorrente dos aterros. A esto compre-
endidas no somente as instituies regionais
e estaduais (bancos regionais de desenvolvi-
mento, como o BDMG e o Banrisul, e agncias
de fomento), como tambm as instituies na-
cionais (principalmente o BNDES e a Caixa Eco-
nmica Federal) e as instituies internacionais
(ao exemplo do Banco Mundial (Bird), do Ban-
co Interamericano de Desenvolvimento (Bid),
ou ainda de outros organismos multilaterais de
crdito e, finalmente, os bancos internacionais,
como o JBIC). Todas elas, que dispem em geral
de linhas especficas de crdito para investimen-
tos em infra-estrutura de saneamento bsico em
pases em desenvolvimento, podero contribuir
para a viabilizao do projeto no apenas com
recursos financeiros para alavancar o empre-
endimento, como com o pr-financiamento (ou
aquisio posterior) dos certificados de reduo
de emisses decorrentes da queima ou do re-
aproveitamento do biogs. Neste ltimo aspec-
to, desempenham papel importante os fundos
de aquisio dos CER, criados pela maior parte
dos bancos internacionais, inclusive pelo Banco
Mundial. A participao dessas instituies de
fomento servir para suprir a indisponibilidade
crnica de recursos municipais para o investi-
mento em infra-estrutura, por meio do financia-
mento do prprio Poder Pblico ou do particular
que com ele contratar (v. abaixo, item III.2).
Finalmente, atores privados podero de-
sempenhar papel relevante nos empreendi-
mentos. Primeiramente, como vimos, no caso
de aterros privados, caber aos proprietrios
privados dos aterros determinar a realizao
dos empreendimentos e da eventual certifica-
o. Alm disso, nos casos em que o servio for
delegado a particulares, os concessionrios dos
servios de tratamento e destinao final do
lixo tm papel preponderante na realizao do
empreendimento e na sua certificao. A queima
do biogs, em regra, encontra-se compreendida
na concesso por ser imperativo de salubrida-
de ambiental do aterro. Assim, pelo menos em
princpio, da competncia do concessionrio
a realizao da atividade que poder gerar os
crditos de carbono, cabendo a ele, portanto,
proceder certificao da atividade.
Pode-se, nesse caso, cogitar de duas possi-
bilidades. Em primeiro lugar, pode a prefeitura
optar pela concesso especfica da certificao
do MDL para outro particular. O concessionrio
especfico ficaria responsvel pela construo
da infra-estrutura necessria a otimizar a cap-
tao e a queima do biogs (e eventualmente
seu reaproveitamento) e pelo financiamento
dessa infra-estrutura e da prpria certificao,
remunerando-se total ou parcialmente pela ven-
da futura dos certificados emitidos. Para isso,
seria necessrio coordenar a atividade dos dois
particulares e discriminar as responsabilidades
de cada um. Uma vez que a previsibilidade e o
controle da gerao, captao, suco e queima
do biogs depende int