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  • Repblica Federativa do Brasil

    Presidente da Repblica FERNANDO HENRIOUE CARDOSO

    Ministro da Educao PAULO RENATO DE SOUSA

    Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior

    Presidente ABLIO AFONSO BAETA NEVES

    Diretores ADALBERTO VASQUEZ

    LUIZ ALBERTO HORTA BARBOSA

    LUIZ VALCOV LOUREIRO

    Fundao GETULIO Vargas

    Presidente CARLOS IVAN SIMONSEN LEAL

    Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil Cpdoc

    Diretora MARIETA DE MORAES FERREIRA

  • APRESENTAO CAPES: 50 ANOS A SERVIO DA PS-GRADUAO

    Na dcada de 1950, tornava-se cada vez mais evidente que o ca-pital humano e o domnio do conhecimento cientfico e tecno-lgico eram condies indispensveis para o desenvolvimento econmico-social e para a afirmao nacional. No entanto, o Bra-sil contava com pouco mais de 60 mil alunos no ensino superior e a ps-graduao praticamente no existia. Os desafios eram enormes. Em 1951, foi criada a Campanha Nacional de Aperfei-oamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes), com o objetivo de "assegurar a existncia de pessoal especializado em quantidade e qualidade suficientes para atender s necessidades dos empre-endimentos pblicos e privados que visam ao desenvolvimento do pas". Para secretrio-geral.foi indicado o professor Ansio Tei-xeira, que a dirigiu at 1963. Ao longo de seus 50 anos, o xito da Capes, hoje Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior, tem se expressado na expanso e consolidao da ps-graduao stricto sensu (mes-trado e doutorado) em todos os estados da federao uma das maiores conquistas da nossa poltica educacional e de Cincia & Tecnologia. Atualmente, o pas conta com mais de 1.581 programas de ps-graduao, que respondem pela oferta de mais de 1.549 cursos de mestrado e 862 de doutorado. Essa expanso da ps-graduao evidenciada pela evoluo do contigente de alunos do sistema. Em 1976, estavam matriculados 28.642 alunos, tendo sido titulados 2.387 (destes, apenas 188 dou-tores). Em 2000, o nmero de matriculados elevou-se para 120.336 e o de titulados para 23.718 (destes, 5.344 doutores). Entre 1976 e 1994, o ensino superior cresceu cerca de 30%. A ps-graduao,

  • no mesmo perodo, cresceu 130%. Nos ltimos seis anos, o ensino superior acelerou a expanso, crescendo 43%, enquanto a ps-gra-duao manteve ritmo ainda mais alto, crescendo 87%. Uma caracterstica fundamental desse processo de crescimento o fato de ele ter ocorrido em instituies pblicas de ensino e pesqui-sa e, nos ltimos cinco anos, sobretudo nas Instituies Federais de Ensino Superior. Isso se conseguiu graas a um enorme esforo de investimento pblico e qualificao e perseverana institucionais. Esse crescimento acompanhado pelo incremento da produo cien-tfica e tecnolgica nacional. De 1994 a 2001, dobrou o nmero de artigos de cientistas brasileiros publicados em revistas indexadas de referncia internacional. Atualmente, o Brasil ocupa o 21o lugar na produo cientfica e tecnolgica mundial. A Capes tem dado uma contribuio decisiva neste processo. Teve mrito na definio e implantao de polticas e programas de fomento que se mostraram, em muitos momentos, resistentes s crises institucionais, polticas e oramentrias. Soube preservar a agilidade, a adaptabilidade administrativa e trabalhar em estreita articulao com as administraes das universidades, mantendo-se concentrada em servir consolidao do sistema de ps-gradua-o stricto sensu. Isto foi possvel, em grande medida, graas com-petncia e dedicao profissional de seu quadro de funcionrios. Decisiva, tambm, foi a combinao de fomento com um sistema de avaliao de todos os cursos e programas, que adquiriu legitimidade ao longo dos ltimos 25 anos, precisamente porque se construiu a partir do envolvimento direto da prpria comunidade universitria e de pesquisa nacional.

  • Este sistema de avaliao vem se aperfeioando continuamente, e tem possibilitado imprimir um padro de excelncia acadmica sempre maior aos mestrados e doutorados. Ele se tornou instru-mento de ao direta da comunidade acadmica, atravs da Ca-pes, com vistas consolidao da qualificao dos quadros para o ensino superior e pesquisa. O fomento da Capes se d, funda-mentalmente, pela concesso de bolsas no pais e no exterior e pelo apoio s atividades de cursos de mestrado e doutorado e pro-jetos a ele associados. Atualmente so distribudas 21 mil bolsas de mestrado e doutorado no pas, atravs dos programas de ps-graduao, e cerca de 1.500 bolsas no exterior. Apesar dos xitos alcanados, a ps-graduao continua a en-frentar desafios que se transformam em demandas para a Capes. Assim, a Capes precisa associar o fomento e a avaliao da ps-graduao a polticas e objetivos mais claramente definidos de formao de recursos humanos para nossa sociedade. Ao dar papel destacado ps-graduao na consecuo dessas polticas, a Capes estar encaminhando, de modo conseqente, o estmulo diferenciao de nossa ps-graduao. O crescente contingente de docentes do ensino mdio e mesmo superior pode ser ade-quadamente qualificado sem que se estipule, como exigncia, a capacitao para a pesquisa. Ao lado disso, h que se fortalecer e antecipar o caminho para o doutorado de excelncia, pois a que se formaro os quadros requeridos por nossas universidades de ponta, especialmente as federais. De resto, enorme a con-tribuio que a ps-graduao pode fornecer para a formao de quadros voltados s atividades no-acadmicas. O modelo de

  • ps-graduao com esta finalidade ainda requer ampla e profun-da discusso com a comunidade acadmica nacional e corajosas experimentaes. Torna-se necessrio tambm maior coordenao entre as diver-sas agncias federais e estaduais de fomento, de modo a se de-senvolver aes conseqentes para enfrentar os desequilbrios regionais. Neste contexto, a Capes deve assegurar investimentos capazes de expandir o sistema, incrementando as bolsas de es-tudo no pas, a fixao de doutores e, ao mesmo tempo, apoiar a infra-estrutura dessa expanso. Deve ampliar as condies de acesso informao cientfica de alto nvel para garantir pata-mares mais adequados de competitividade para nossos cientistas. Deve, tambm, estimular o estabelecimento de redes de pesquisa com o propsito de aumentar a formao de recursos humanos qualificados, bem como para lograr elevao mais homognea dos nveis de qualidade da ps-graduao em todo o pas. funda-mental, ainda, incrementar o intercmbio e a cooperao inter-nacional de nossos programas de ps-graduao. Quais so as perspectivas para a expanso da ps-graduao nacional face a estes desafios? Existe um horizonte promissor. Iniciaram-se estudos com vistas valorizao e expanso das bolsas no pas e dos recursos para custeio dos programas de ps-graduao. A Capes continuar ampliando as possibilidades de acesso informao cientfica nacional e internacional atravs de seu Programa de Peridicos. O Fundo Geral de Investimento em Infraestrutura de Pesquisa j comea a julgar projetos para investimentos, no montante de R$ 205 milhes, no perodo de

  • 2oo1/2002. A Capes tem, ainda, ampliado fortemente sua poltica de cooperao internacional, combinando o intercmbio de es-tudantes e pesquisadores com forte crescimento do intercmbio cientifico em bases institucionais. Atualmente, diversos acordos internacionais mantidos pela Capes tm propiciado, anualmente, o intercmbio cientfico de cerca de 300 equipes de pesquisadores nacionais com equipes estrangeiras. Ao mesmo tempo, o Procad Programa Nacional de Cooperao Acadmica vem possibili-tando reduzir o desnvel da ps-graduao nos diferentes estados e regies do pas, atravs do estabelecimento de parcerias entre instituies com programas de ps-graduao de excelncia e ins-tituies em que esse nvel de ensino no se encontra ainda con-solidado, maximizando a utilizao do potencial de formao de recursos humanos. Por tudo isso, a Capes orgulha-se de completar meio sculo de existncia, inteiramente dedicado consolidao da ps-gra-duao brasileira e formao de cientistas, pesquisadores e profissionais cada vez mais qualificados, contribuindo de forma significativa para o desenvolvimento da educao no pas. Co-memorao reforada pelo aniversrio de 25 anos do Sistema de Avaliao da Ps-graduao Nacional, que tem propiciado ps-graduao um reconhecimento do nvel de ensino mais bem su-cedido do sistema educacional brasileiro.

    ABLIO AFONSO BAETA NEVES Presidente da Capes

  • 14 INTRODUO Capes, 50 anos em depoimentos MARIETA DE MORAES FERREIRA & REGINA DA LUZ MOREIRA

    28 L iNHA DO TEMPO Os dirigentes da Capes

    30 1951-1964 A Capes em tempos de Ansio Teixeira 32 ALMIR DE CASTRO

    42 1964-1974 Anos de crise e redefinio insti tucional 44 SUZANA GONALVES 56 CELSO BARROSO LEITE

    66 1974-1989 A institucionalizao da ps-graduao no Brasil

    68 DARCY CLOSS

    84 CLUDIO DE MOURA CASTRO 104 EDSON MACHADO DE SOUSA

    118 1990-1992 A Capes ameaada 120 EUNICE RIBEIRO DURHAM

    134 ANGELA SANTANA

    154 SANDOVAL CARNEIRO JR

    164 1992-2001 Novos tempos, novos desafios 166 MARIA ANDRA LOYOLA 188 ABLIO AFONSO BAETA NEVES

  • SUMRIO

    214 ESPRIT D CORPS Os funcionrios vestem a camisa 216 ELIONORA MARIA CAVALCANTI DE BARROS

    226 MARIA TEREZA D'OLIVEIRA ROCHA

    234 ROSANA ARCOVERDE BEZERRA BATISTA

    244 HISTRIAS DE U M A LONGA COLABORAO A Capes vista pela comunidade acadmica

    246 AMADEU CURY

    256 LINDOLPHO DE CARVALHO DIAS

    266 EDUARDO KRIEGER

    274 REINALDO GUIMARES 286 SlMON SCHWARTZMAN

    294 BALANO O papel da Capes na formao do sistema nacional de ps-graduao CARLOS BENEDITO MARTINS

    312 ANEXO 1 Relao dos ministros da Educao 314 ANEXO 2 Relao dos diretores-gerais e presidentes da Capes 315 ANEXO 3 Evoluo da estrutura da Capes (1951-2001) 318 ANEXO 4 Dados sobre a ps-graduao no Brasil

    330 BIBLIOGRAFIA

    334 FICHA TCNICA DAS ENTREVISTAS

    336 NDICE REMISSIVO

  • INTRODUO Capes, 50 anos em depoimentos MARIETA DE MORAES FERREIRA & REGINA DA LUZ MOREIRA

  • INTRODUO

    A eles, foi acrescentada a entrevista de ALMIR DE CASTRO, concedida a Maria Clara Mariani, Ricardo Guedes F. Pinto e Simon Schwartzman em abril de 1977, para o projeto Histria da Cincia no Brasil, e disponvel no acervo do Cpdoc.

    Para um maior aprofundamento sobre a metodologia de Histria Oral, ver Aspsia CAMARGO, Os usos da histria oral e da histria de vida: trabalhando com elites polticas (Dados, Rio de Janeiro, v. 27, n. 1, p.5-28,1984); Verena ALBERTI, Histria oral: a experincia do Cpdoc (Rio de Janeiro: Ed. FGV, 1990.197P.), e Marieta de Moraes FERREIRA e Janana AMADO (orgs.), Usos e abusos da Histria Oral (Rio de Janeiro, Ed. FGV, 1996. 277p.).

    Em 2001, a Capes completou 50 anos de atuao. Aniversrios e comemo-raes so momentos importantes da vida de indivduos, grupos e insti-tuies. Comemorar um ato destinado a trazer de volta a lembrana de uma pessoa ou de um evento, algo que indica uma ligao entre os homens fundada sobre a memria. Essa ligao tambm pode ser chamada de identidade. exatamente porque permitem legitimar e atualizar identida-des que as comemoraes pblicas ocupam um lugar central no universo poltico. Comemorar tem a ver com o passado, mas tem tambm diretamente a ver com o futuro. Procura-se retirar o passado do esquecimento com o objetivo de descobrir perspectivas novas e positivas. O cinqentenrio da Capes oferece uma ocasio privilegiada para essa dupla tarefa: evocar o passado, mas tambm refletir sobre os desafios que a instituio enfrenta e enfrentar. O projeto Capes, 50 anos teve como objetivo recuperar a histria da fun-dao da Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior (Capes), de seus primmordios at a atualidade, atravs da coleta de depoi-mentos de atores que desempenharam papel destacado na trajetria da instituio. Dessa tarefa, e da preparao deste livro, foi incumbido o Centro de Pesquisa e Documentao de Histria Contempornea do Brasil (Cpdoc) da Fundao Getulio Vargas, dententor de reconhecida experincia nesse campo de trabalho. A importncia da Capes e sua capacidade de aglutinar figuras destacadas, seja como funcionrios, seja como dirigentes ou como colaboradores, nos possibilitaria arrolar um enorme nmero de possveis depoentes. No en-tanto, a exigidade do tempo, e os prprios limites impostos pelo formato de um livro, nos levaram, com o auxlio da direo atual, a definir uma lista restrita de entrevistados que nos permitiriam obter uma viso ampla e diversificada da instituio. Foram registrados, no total, 18 depoimentos em 40 horas de gravao, que nos permitem acompanhar os passos da Capes na histria do ensino superior do pas e, em especial, das polticas pblicas de ps-graduao.1

    O mtodo escolhido para obter esses registros foi a Histria Oral. J se comprovou que a recuperao de histrias de vida um caminho frtil para a compreenso de processos sociais e da ao dos grupos sociais que os conduziram.2 O cotejo dos depoimentos permite conhecer diferentes verses sobre os acontecimentos e captar um conjunto representativo de vises que nos conduz a aproximaes mltiplas da verdade possvel. Muitas vozes somadas, convergentes ou divergentes, nos ajudam a recons-tituir, atravs de informaes cruzadas e verses superpostas, a viso de uma poca. A Histria Oral tambm uma metodologia que implica um dilogo entre pesquisadores e depoentes, baseado num estudo prvio dos primeiros, que servir de instrumento de acesso memria dos ltimos. Diferentemente

  • dos relatos espontneos, os depoimentos se desenvolvem a partir de per-guntas que compem um roteiro previamente elaborado, construdo aps a consulta bibliografia e documentao existentes. Esses depoimentos "provocados", por um lado, possibilitam recolher informaes que no esto disponveis na documentao escrita e, por outro, otimizam sua coleta, em comparao com o que acontece nos relatos autobiogrficos. A, o de-poente est sozinho. Na entrevista, ele est diante de um entrevistador ativo, que argumenta, reage, confirma, contesta. Para que isso seja possvel, o entrevistador precisa conhecer os personagens, os cenrios e os roteiros. A reconstituio das trajetrias de personagens ligados Capes abre as-sim novas perspectivas para o aprofundamento dos estudos sobre a ps-graduao no Brasil. Decerto, a Capes no pode ser identificada como a nica responsvel pela poltica de ps-graduao do pas. Mas certamente sua atuao foi das mais decisivas. As entrevistas realizadas nos permitiram estabelecer uma periodizao bsica, assim definida:

    1951-1964 A CAPES EM TEMPOS DE ANSIO TEIXEIRA Depoimento de ALMIR DE CASTRO

    1964-1974 ANOS DE CRISE E REDEFINIO INSTITUCIONAL Depoimentos de SUZANA GONALVES e CELSO BARROSO LEITE

    1974-1989 INSTITUCIONALIZAO DA PS-CRADUAO NO BRASIL Depoimentos de DARCY CLOSS, CLUDIO DE MOURA CASTRO e EDSON MACHADO DE SOUSA

    1990-1992 A CAPES AMEAADA Depoimentos de EUNICE RIBEIRO DURHAM, SANDOVAL CARNEIRO JR. e ANGELA SANTANA

    1 9 9 2 - 2 0 0 1 NOVOS TEMPOS, NOVOS DESAFIOS

    Depoimentos de MARIA ANDRA LOYOLA e ABLIO AFONSO BAETA NEVES

  • INTRODUO Capes, 50 anos em depoimentos

    1951-1964 A Capes em tempos de Ansio Teixeira A Capes foi criada em 11 de julho de 1951, pelo Decreto n? 29.741, inicial-mente como uma comisso destinada a promover o aperfeioamento do pessoal de nvel superior. O momento de sua criao merece ser avaliado em perspectiva histrica: era o incio do segundo governo Vargas, com a retomada do projeto de cons-truo de uma nao desenvolvida e independente. A nfase industria-lizao pesada e a complexidade da administrao pblica trouxeram tona a necessidade urgente de formao de especialistas e pesquisadores nos mais diversos ramos de atividade: cientistas qualificados em fsica, matemtica, qumica e biologia, economistas, tcnicos em finanas e pes-quisadores sociais, entre outros. A criao da Capes no foi assim um fato isolado. Foram vrias as instituies e agncias pblicas criadas nesses primeiros meses de 1951, entre elas o Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico (atual BNDES) e o Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq), com os quais a Capes, ao longo destes 50 anos, interagiu na formulao e im-plementao de uma nova poltica de desenvolvimento cientfico e tecno-lgico. Foi tambm o momento de criao da primeira faculdade de admi-nistrao pblica da Amrica Latina, a EBAP, rgo da Fundao Getulio Vargas destinado formao de uma nova gerao de formuladores e de gestores pblicos. Nessa fase inicial, foi marcante a presena de ANSIO TEIXEIRA na Capes, no apenas como seu grande idealizador, mas tambm como formulador de sua poltica institucional e definidor de seu padro intelectual, do mesmo modo que ALMIR DE CASTRO destacou-se no papel de executor. Os dois fo-ram figuras que garantiram a presena da Capes ao longo do perodo, no s pelo bom trnsito que tinham com os sucessivos ministros da Educao, mas tambm pela boa articulao poltica e pela discrio com que man-tinham a agncia. Em seu depoimento, ALMIR DE CASTRO assinala que a Capes era ligada ao Ministrio da Educao, mas tambm Presidncia da Repblica. O que ressalta a grande autonomia e autoridade de que era dotada sua direo. Os primeiros anos da Capes foram anos de estruturao, de escolha e pla-nejamento das aes, de organizao e composio do staff, de contato com instituies estrangeiras vinculadas formao de pessoal especiali-zado de nvel superior. Como estratgia bsica, optou-se pela articulao institucional tanto com o setor econmico (principalmente com a inds-tria), quanto com a administrao pblica, de modo a atender s necessi-dades de pessoal especializado. Somente em 1953 foi implantado o Programa Universitrio, em que os projetos envolvidos tinham como caracterstica comum a contratao de

  • um professor snior, que atuaria como elemento de dinamizao das ati-vidades acadmicas. Essa opo foi em muito espelhada nas experincias das "misses universitrias" das dcadas de 1930 e 1940, e da Universidade do Distrito Federal da qual ANSIO TEIXEIRA fora um dos formuladores , que tinham como pressuposto a disseminao do conhecimento atravs dos grupos de professores assistentes que se reuniam em torno dos sniores. A concesso de bolsas de estudos, no entanto, apenas progressivamente foi se desenvolvendo, at se afirmar como atividade de maior peso dentro da agncia, em detrimento das atividades de fomento. O que talvez ex-plique esse crescimento gradativo seja o fato de que o setor responsvel pelas bolsas se viu tambm obrigado a realizar pesquisas sobre a atuao de outras instituies congneres, sobre seu processo de concesso etc. As atividades de fomento favoreceram a criao de centros nacionais, ncleos regionais de ensino e pesquisa, ou ainda unidades de cunho institucional, que foram perdendo importncia ao longo do periodo, em detrimento das bolsas de estudo.

  • Capes, 50 anos em depoimentos

    1964-1974 Anos de crise e redefinio institucional A Capes teve sua trajetria diretamente afetada pelo movimento poltico-militar de 1964, que inaugurou na agncia um perodo de descontinuidade administrativa e turbulncia institucional. Naquele momento, chegou-se mesmo a cogitar sua extino. Logo nos primeiros dias de abril de 1964, ANSIO TEIXEIRA foi afastado, e o Dirio Oficial anunciou a exonerao de ALMIR DE CASTRO do cargo de diretor-executivo da Capes, frente da qual permanecera cerca de 10 anos. No ms seguinte, assumia a direo da agncia SUZANA GONALVES, ligada PUC-RJ, mas at ento sem qualquer vnculo com o ensino superior. J no final do ms de maio, a Capes era transformada, de comisso em co-ordenao, e junto com a nova designao, assumia uma nova condio institucional: o Decreto n? 53.932, integrou-a estrutura do Ministrio da Educao e Cultura, vinculando-a poltica da educao superior do pas atravs da Diretoria do Ensino Superior, a DESu. Assim, embora mantivesse a mesma sigla, a Capes passava a ser diretamente subordinada ao ministro da Educao, que teria autoridade inclusive para regulamentar as atividades e aprovar os regimentos internos da agncia. Esse novo regime de organizao e funcionamento da Capes veio a ser re-gulamentado poucos meses depois, em setembro, com o Decreto n? 54.356, que explicitava sua subordinao ao MEC: Capes caberia a execuo dos planos aprovados pelo ministrio, devendo para isso manter estreita cola-borao com a DESu; alm disso, sua direo passaria a ser exercida por um diretor-executivo, a quem caberia a execuo das decises tomadas pelo conselho deliberativo; todos seus membros do conselho deliberativos se-riam indicados pelo titular da pasta da Educao, e nele o diretor-executivo no tinha voz. O ano de 1964 foi portanto para a Capes um ano de transio, em que rup-tura e continuidade andaram juntas: ao mesmo tempo que se processava sua nova definio institucional, uma srie de medidas iam sendo tomadas, de modo a garantir seu funcionamento. E a partir de ento que se verifi-cam tambm mudanas na poltica definida pela agncia, consoantes com as novas prioridades dos governos militares, em que cincia e tecnologia surgem como conceitos fundamentais. A nfase passa a ser dada s cincias bsicas e tecnologia aplicada. O interregno entre a gesto de SUZANA GONALVES (1964-1966) e a de CELSO BARROSO LEITE (1969-1974) pode ser caracterizado como um perodo de grande instabilidade institucional, em que seis diretores-executivos dois deles interinos estiveram frente da Capes. A instabilidade se tra-duziu tambm na dificuldade da agncia de implementar uma poltica conseqente de apoio ao aperfeioamento do pessoal de nvel superior.

    INTRODUO

  • A posse de CELSO BARROSO LEITE, contudo, interrompeu esse ciclo, em muito beneficiado pela conjuntura do momento. Elementos como a reforma uni-versitria de 1968 que trouxe com ela o reconhecimento da ps-gradua-o no pas ou a adoo do discurso do "milagre econmico" pelo regime militar com o qual a educao assumiu um papel-chave pela imperosa necessidade de qualificao de mo-de-obra contriburam de forma decisiva para o inicio da mudana de trajetria. Os primeiros meses de sua gesto foram marcados pelo prosseguimento da reestruturao da agncia, tendo como tnica o esforo de racionalizao e padronizao administrativas em todos os setores. Em meados de 1970, dois novos decretos tiveram a Capes por objeto. O pri-meiro deles, n? 66.662, de junho, reconheceu como sendo funes da agncia a coordenao das atividades de aperfeioamento de pessoal de nvel superior em especial de docentes de ensino superior , e a cola-borao na implantao e desenvolvimento de centros e de cursos de ps-graduao, alm das atividades j tradicionais. A grande alterao que introduziu foi a transformao da Capes em rgo autnomo do MEC, embora explicitando sua articulao com o Departamento de Assuntos Universitrios, o DAU (que substitura a DESu), e obrigando-a a se entrosar com o CNPq e demais rgos ou entidades de atribuies correlatas. A to sonhada autonomia administrativa, no entanto, teve curta durao, pois j no ms seguinte o Decreto n? 66.927 tornou a vincular a Capes ao DAU. Esses decretos introduziram algumas novidades, entre elas a nfase ao papel do diretor-executivo em detrimento do conselho deliberativo, que teve sua composio alterada o diretor-executivo passou a ter assento, e as representaes institucionais foram substitudas por representaes individuais, oriundas da academia. Foi tambm institudo o Fundo de Aper-feioamento de Pessoal de Nvel Superior, o Fapes, destinado a assegurar a autonomia financeira da agncia. Ainda em 1970, no relatrio de final de ano, CELSO BARROSO LEITE alertou para um problema que vinha dificultando o desempenho da agncia: a falta de delimitao precisa das atribuies dos vrios rgos responsveis pela ps-graduao no pas. No se tratava apenas do DAU que era ento chefiado pelo prof. NEWTON SUCUPIRA, e que passara a ter em sua estrutura uma Coordenao de Ps-Graduao que vinha consumindo cada vez maio-res recursos , mas tambm do CNPq. Tais dificuldades impediram que se verificasse, ao trmino do perodo, a formulao explcita de uma poltica nacional de ps-graduao.

  • Capes, 50 anos em depoimentos

    1974-1989 A institucio-nalizao da ps-graduao no Brasil Esse perodo se inicia com a posse do gacho DARCY CLOSS como diretor-geral da Capes (1974-1979). O momento corresponde ao inicio da presidncia do general ERNESTO GEISEL, marco da fase final do regime militar, que em termos polticos se traduziu na distenso poltica, lenta e gradual. Ao mes-mo tempo, o governo passou a dar nfase s atividades de planejamento e racionalidade, inclusive no que diz respeito questo da ps-graduao no pas. Assim, se o perodo anterior pode ser caracterizado como de pre-parao, de "arrumao da casa", de criao de mecanismos de financia-mento, os anos compreendidos entre 1974 e 1989 veriam o desabrochar da ps-graduao. Nesse sentido, o perodo iniciado em 1974 foi marcado por uma nova racionalidade para o setor da ps-graduao, em que se procurou definir novas finalidades, metas, competncias, responsabilidades e recursos. O governo implementou, como desdobramento do I Plano Nacional de Desen-volvimento, o segundo e o terceiro planos. Do mesmo modo, desdobrou o Plano Setorial de Educao e Cultura em dois outros, e criou o I Plano B-sico de Desenvolvimento da Cincia e da Tecnologia, o PBDCT. No discurso governamental, a ps-graduao assumiu realmente impor-tncia estratgica para o desenvolvimento do ensino superior. Prova disso que foi contemplada com o I Plano Nacional de Ps-Graduao, elabora-do pelo recm-criado Conselho Nacional de Ps-Graduao o qual, sob a presidncia do ministro da Educao, reunia representantes das princi-pais instituies responsveis pelo sistema nacional de cincia e tecnolo-gia e pelo sistema universitrio brasileiro, entre elas a Secretaria de Pla-nejamento, a Secretaria-Geral do MEC, o Conselho Federal de Educao, o DAL), a Capes, o CNPq, a Finep, o BNDE e algumas universidades, como a UnB, a UFMG, a USP e a PUC-RJ. O desenrolar dos trabalhos registrou o aumento progressivo da importncia da Capes, cristalizada no prprio PNPG, que definiu como principais atribuies da agncia a orientao, implantao, acompanhamento e avaliao dos programas de capacita-o de docentes e de recursos humanos. Esse foi tambm o momento em que se redefiniram e compatibilizaram as funes e responsabilidades de cada uma das instituies envolvidas com o sistema de ps-graduao, de modo a eliminar as indefinies, as sobreposies e os conflitos de interesse e, assim, no apenas garantir uma ao integrada e cooperativa, mas tambm evitar a repetio de um pro-cesso de crescimento espontneo e desordenado, marcado pela duplicao de esforos. Nesse sentido, a Capes passou a atuar de modo sintonizado com o DAU. Do mesmo modo, o PNPG incentivou uma ao coordenada entre a Capes e o CNPq, ao definir o papel deste como rgo fomentador

  • da pesquisa e o da Capes como rgo de apoio formao e ao aperfei-oamento de pessoal. Em termos internos, o esforo de reestruturao da Capes esboado ainda durante a gesto de CELSO BARROSO LEITE foi redobrado a partir de 1974, quando a transferncia para Braslia exigiu a contratao e o treinamento de novos funcionrios. Isso possibilitou no apenas um novo dinamismo administrativo, mas tambm a criao de um esprit de corps, atravs do qual se estabeleceu uma forte identidade institucional. O dinamismo ins-titucional foi basicamente explicitado no Decreto-Lei n. 74.299, de julho de 1974 ou seja, um ms aps a posse de DARCY CLOSS , que redefiniu a agncia. A partir de ento a Capes passou a ter status de rgo central de direo superior, dotado de autonomia administrativa e financeira, com suas atribuies estabelecidas de acordo com as diretrizes fixadas pelo PNPG. Ou seja, em suas novas atribuies ficavam transparentes sua articulao com a nova poltica nacional de ps-graduao. Esse decreto foi importante tambm pela reestruturao que promoveu na agncia, tendo como marco principal a substituio do conselho delibe-rativo pelo conselho tcnico-administrativo (CTA). Ao contrrio do antigo conselho, que na prtica se tornara um rgo "quase" executivo, o CTA as-sumiu funes meramente deliberativas, atuando mais na anlise e suges-to de polticas, alm de ser presidido pelo prprio diretor-geral da agncia. Em outras palavras, o decreto possibilitou o fortalecimento da direo da Capes, que a partir de ento tornou-se responsvel pela execuo de me-didas vindas tanto do DAU quanto do novo conselho. Esse perodo marcou tambm o incio da participao da comunidade acadmica na Capes. A gesto de DARCY CLOSS passou a recorrer de forma cada vez mais sistemtica e progressiva, ainda que informal, colaborao de consultores vindos da rea acadmica, quer para a anlise das solicitaes de bolsas de estudo, para entrevistas com candidatos, avaliao de cursos, recomendaes de cotas de bolsas, quer para a elaborao, implantao e avaliao de projetos de interesse da poltica definida pela agncia. Essas consultorias permitiram Capes fazer frente multiplicao de suas ati-vidades e programas que no perodo chegaram a patamares at ento inditos , e seus pareceres, estudos e avaliaes, embora no tivessem poder deliberativo, foram gradualmente ganhando importncia dentro da agncia, uma vez que subsidiavam as decises do CTA. A partir de 1977, essas consultorias assumiram a forma de comisses, e mais tarde foram institucionalizadas, com seus presidentes passando a integrar um conselho tcnico cientfico, com direito inclusive a participao no conselho supe-rior da agncia. A rpida e expressiva expanso dos programas de ps-graduao trouxe consigo a preocupao com a qualidade das atividades por eles desen-volvidas. Atenta para a necessidade de um maior controle sobre os cursos, e procurando aprimorar seu processo de distribuio de bolsas e auxlios, a Capes comeou a desenvolver nesse perodo uma sistemtica de avalia-o, a ser implementada atravs das comisses de consultores. A primeira delas foi realizada ainda em 1978, aps algumas experincias que permi-tiram a definio do quadro metodolgico. Um segundo momento desse perodo corresponde gesto de CLUDIO DE MOURA CASTRO (1979-1982), quando se deu a consolidao do processo

  • Capes, 50 anos em depoimentos

    iniciado por DARCY CLOSS. A questo agora no mais seria assegurar a expanso da ps-graduao no pais, e sim descentralizar os procedimentos, de modo a garantir a continuidade da atuao da agncia. Nesse sentido, foi estabelecido todo um processo de transferncia, para as universidades e programas, da responsabilidade de selecionar, acompanhar, pagar e avaliar o desempenho dos alunos bolsistas, cabendo agncia apenas a funo de promover uma melhor e mais ampla avaliao dos programas e dos alunos. Tendo por eixo todo um debate com a comunidade acadmica em torno da questo da avaliao e da qualidade dos programas de ps-graduao, a Capes desenvolveu aes voltadas para a montagem de um sistema de monitorao e avaliao desses programas, visando com isso a gerao de indicadores de custo/eficincia. Se, na gesto anterior, chegara-se a colocar a questo da legitimidade do processo de avaliao, agora, com MOURA CASTRO, o ponto nevrlgico passara a ser o aperfeioamento da sistemtica da avaliao. Mas esse foi tambm o momento em que a Capes readquiriu maior des-taque no sistema de ps-graduao, chegando mesmo a se impor sobre as demais agncias. A pedra de toque para que isso ocorresse foi seu reco-nhecimento formal como rgo responsvel pela formulao do Plano Nacional de Ps-Graduao, o que se deu em fins de 1981, com a extino do Conselho Nacional de Ps-Graduao. A partir de ento ela assumiu as competncias que at ento eram do conselho. Esse novo papel fez tam-bm com que a Capes fosse reconhecida dentro do MEC como a agncia executiva do Sistema Nacional de Cincia e Tecnologia, o que na prtica a tornou responsvel pela elaborao, acompanhamento e coordenao de todas as atividades relacionadas com a ps-graduao dentro do ministrio. Deu-se, na verdade, um passo adiante. Se o momento anterior havia sido marcado pela eliminao dos conflitos e da sobreposio de funes entre os diferentes rgos e instituies voltados para a ps-graduao, agora era dada Capes a responsabilidade de assessorar a Secretaria de Educao Superior, a SESu que havia substitudo o DAU na tarefa de formular a poltica nacional de ps-graduao. Em outras palavras, a responsabili-dade da prpria elaborao do II Plano Nacional de Ps-Graduao, que foi implementado a partir de 1983. Com isso, mais uma vez, a estrutura organizacional da Capes teve que ser reformulada, de modo a capacit-la a absorver as novas atividades entre elas o grande dimensionamento dado s atividades de avaliao e garantir seu cumprimento, embora sua autonomia administrativa, ainda que relativa, fosse preservada. Isso foi implementado atravs do Decreto n? 86.816, de janeiro de 1982, que trouxe como uma das mais significativas novidades a transformao do CTA, que voltou a ser conselho deliberativo e passou a ser presidido pelo representante da SESu, embora com a vice-presidncia ocupada pelo diretor-geral da agncia. Alm disso, foi reco-

  • nhecida oficialmente a participao da comunidade acadmica, que pas-sou a ter assento no novo conselho. O momento final desse perodo representado pela gesto de EDSON MA-CHADO DE SOUSA (1982-1990), que, juntamente com a de ABLIO BAETA NEVES, uma das mais longas da histria da Capes, em que pese a numerosa su-cesso de titulares que a pasta da Educao teve ento. Foi um momento em que a trajetria da agncia esteve intimamente pautada pela imple-mentao do II Plano Nacional de Ps-Graduao que tem por eixo cen-tral o apoio aos programas em sua infra-estrutura de modo a assegurar-lhes um mnimo de estabilidade e autonomia financeira , bem como pela elaborao e implementao do III PNPG que reitera, entre outros pontos, a importncia da articulao entre as diversas instncias gover-namentais, a comunidade cientfica, as agncias de fomento e o setor pro-dutivo na elaborao de polticas e na implementao das atividades de ps-graduao. Tratou-se, na realidade, de consolidar a atuao da Capes, o que se tradu-ziu na associao dos resultados de avaliao com as aes de fomento. Essa linha de ao acabou por transformar a agncia em parceira e aliada dos programas de ps-graduao, o que no quer dizer que se tenham eli-minado, com isso, os conflitos e divergncias existentes. Foi portanto um momento de dar continuidade s suas atividades, consolidando algumas, diversificando outras, despeito das dificuldades do ponto de vista do financiamento. Afinal, com a crise que atingira o "milagre brasileiro", os recursos j no eram mais to abundantes assim.

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    1990-1992 A Capes ameaada Esse perodo corresponde s gestes de EUNICE RIBEIRO DURHAM e SANDOVAL CARNEIRO JR. A posse de FERNANDO COLLOR DE MELO na presidncia da Repblica, em maro de 1990, e a profunda reestruturao da administrao pblica fe-deral que se seguiu, trouxeram consigo a extino da Capes, medida que traumatizou no apenas seus funcionrios, mas a toda a comunidade acadmica. E foi exatamente a mobilizao desses segmentos que garan-tiu, em pouco menos de um ms, o reestabelecimento da agncia. luta pela restaurao seguiu-se todo um trabalho de reconstruo e o empenho pela transformao da Capes em fundao, projeto antigo, idea-lizado ainda em 1954 por ANSIO TEIXEIRA e ALMIR DE CASTRO, e por algumas vezes retomado, mas sem resultados. A lei que determinou a transformao da Capes em fundao foi aprovada no incio de janeiro de 1992, sob o n? 8.405, durante a gesto de JOS GOL-DEMBERC na pasta da Educao.

  • 1992-2001 Novos tempos, novos desafios A fase inicial desse periodo corresponde gesto de MARIA ANDRA LOYOLA. Passado o momento de elaborao dos novos estatutos, criao de uma logomarca e programao visual destinadas a modernizar a identidade visual da Capes, o grande empenho foi direcionado informatizao, con-siderada essencial para que a agncia pudesse atender s demandas de seus programas. Tratava-se, na realidade, de recriar a agncia em moldes mais geis, para que pudesse no apenas retomar as atividades que j desempenhava tradicionalmente, mas tambm ousar outras em busca do aprimoramento. A recomposio das verbas foi passo fundamental para que a Capes tivesse de volta seu prestigio e, com isso, pudesse reafirmar sua importncia no apenas junto comunidade acadmica, mas tambm junto ao prprio MEC. Uma importncia que se consolidou principalmente aps a extino do Conselho Federal de Educao, quando, entre outras funes, a Capes assumiu a incumbncia de validar os diplomas expedidos pelo sistema nacional de ps-graduao, e que possibilitou a definio de uma poltica para o setor de bolsas no exterior, atravs do incentivo aos acordos de cooperao. O segundo momento desse perodo o da gesto de ABLIO BAETA NEVES (1995-), cuja preocupao inicial foi a continuao e a ampliao do pro-cesso de modernizao da agncia. As novidades ou alteraes s comearam a ser introduzidas a partir de 1996, embora algumas tenham demorado a apresentar resultados. Entre elas, figuram a ps-graduao stricto sensu de carter profissional, o in-centivo cooperao internacional visando obter um efeito multipli-cador que garantisse a expanso, crescimento e consolidao da qualidade do sistema nacional de ps-graduao , ou ainda a vinculao dos resultados da avaliao homologao do Conselho Tcnico Cientfico da agncia. No entanto, de todas as alteraes promovidas no perodo, a mais signifi-cativa foi a do sistema de avaliao, implementada a partir de 1998, aps um longo perodo de discusses internas, com o objetivo de criar novo es-tmulo para que os programas de ps-graduao buscassem maior quali-dade, em nveis internacionais. Nesse sentido, foram introduzidas novidades como a escala numrica de 1 a 7, de modo a permitir uma maior diferen-ciao entre os programas alterao consolidada j na rodada realiza-da em 2001 , e a medio da qualidade dos programas segundo sua insero internacional. No entanto, os ltimos anos vm colocando em pauta grandes desafios para a sociedade brasileira. O questionamento do modelo de desenvolvi-mento econmico brasileiro, vigente durante algumas dcadas, que pre-conizava uma forte presena do Estado como agente econmico funda-mental, inaugurou a abertura da economia. A importncia e a dimenso das privatizaes, os limites e contornos da ao do nosso Estado so temas que tm mobilizado diferentes setores para a definio de um novo per-fil para o pas.

  • Capes, 50 anos em depoimentos

    No campo educacional, as mudanas e os desafios tambm tm sido ex-pressivos: a expanso acelerada do sistema privado de ensino universi-trio, a demanda crescente pela ampliao da ps-graduao profissional, a necessidade de incorporao da educao a distncia e o questiona-mento por alguns da indissociabilidade do binmio ensino e pesquisa colocam novas questes para a Capes. O sucesso da sua participao na montagem da ps-graduao no Brasil e a experincia e a maturidade acumuladas ao longo desses 50 anos confe-rem Capes os recursos para mudar, mas sem perder sua identidade e seu compromisso com a qualidade acadmica.

  • LINHA DO TEMPO

    Os dirigentes da Capes*

  • 1951-1964 A Capes em tempos de Ansio Teixeira

    Nessa fase inicial, marcante a presena de ANSIO TEIXEIRA, no apenas como o grande idealizador da Capes, mas tambm como formulador de sua poltica institucional e definidor de seu padro intelectual. Do mesmo modo, destaca-se ALMIR DE CASTRO no papel de executor. Os primeiros anos so de estruturao, de planejamento das aes, de organizao e composio do corpo de funcionrios, de contato com instituies estrangeiras congneres. A concesso de bolsas de estudos cresce progressivamente, at afirmar-se como atividade de maior peso dentro da agncia, em detrimento das atividades de fomento.

  • ALMIR DE CASTRO ALMIR GODOFREDO DE ALMEIDA E CASTRO nasceu em Salvador (BA), em 4 de dezembro de 1910. Cedo sua famlia transferiu-se para o Rio de Janeiro, ci-dade onde realizou seus estudos e veio a se formar pela Faculdade Nacional de Medicina em 1931. Nesse mesmo ano tornou-se professor-assistente da cadeira de medicina tropical e mais tarde da cadeira de fsica biolgica na mesma instituio. Aps rpidas passagens pelo Centro Internacional de Leprologia (1934-36), pela Diretoria do Servio de Sade Pblica do antigo Distrito Federal e pelo Servio de Estudo das Grandes Endemias do Ins-tituto Oswaldo Cruz, viajou em 1941 para os Estados Unidos, onde obteve o grau de mestre em cincias pela Universidade Johns Hopkins. Retornando ao Brasil no ano seguinte, assumiu a direo do Servio Nacional de Peste do Ministrio da Educao e Sade, onde permaneceu at 1954, quando foi nomeado diretor-executivo da Capes. Foi tambm vice-presidente do Ins-tituto Brasileiro de Educao, Cincia e Cultura-IBECC (1962-63) e do Centro Brasileiro de Pesquisas Fsicas-CBPF (1963-64). No incio de 1964 assumiu, a convite de Ansio Teixeira, a vice-reitoria da Universidade de Braslia, que acumulou com as funes na Capes, sendo exonerado dos dois cargos logo aps o golpe militar de maro de 64. Foi tambm diretor-executivo adjun-to do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro, consultor-geral e diretor das Faculdades Cndido Mendes, tambm no Rio.

    ANSIO TEIXEIRA O baiano Ansio Teixeira (1900-71) formou-se em direito no Rio de Janeiro (1922), mas foi como pedagogo que teve sua atuao reconhecida. Aps experincia no governo da Bahia (1924-28), quando promoveu a reforma do ensino naquele estado, foi para os Estados Unidos, onde estudou na Universidade de Columbia e travou contato com John Dewey, que o influenciou decididamente. No Brasil, trabalhou no Ministrio da Educao e Sade (1931) e na Prefeitura do Distrito Federal, durante o governo Pedro Ernesto (1931-35), tendo sido diretor-geral da Instruo Pblica (1931-33) e do Depar-tamento de Educao e Cultura (1933), alm de secretrio-geral de Educao e Cultura. Foi um dos signatrios do Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova em defe-sa da escola pblica, gratuita, laica e obrigatria, junto com Loureno Filho, Fernando de Azevedo e outros (1932). Como secretrio de Educao do DF, sua iniciativa mais ousada foi a criao da Universidade do Distrito Federal, em 1935. No final desse ano foi afastado do cargo, acusado de envolvimento na revolta comunista de novembro. Conselheiro da Unesco a partir de 1946, foi secretrio de Educao da Bahia (1947-50). Fundador e diretor-geral da Capes (1951-64), dirigiu tambm o Instituto Nacional de Estudos Pedaggicos (1952-64). Em 1963 foi nomeado reitor da Univer-sidade de Braslia, da qual foi afastado pelo golpe militar de 1964. Nos anos seguin-tes, lecionou em universidades americanas. Ver DHBB e as entrevistas de SUZANA GONALVES, CELSO BARROSO LEITE, DARCV CLOSS, CLUDIO DE MOURA CASTRO, ELIONORA MARIA CAVALCANTI DE BARROS, AMADEU CURV, LINDOLPHO DE CARVALHO DIAS, EDUARDO

    KRIEGER e REINALDO GUIMARES, neste volume.

    Sua entrevista foi concedida a Maria Clara Mariani, Ricardo Guedes F. Pinto e Simon Schwartzman em abril de 1977, para o projeto Histria da Cincia no Brasil.

  • D E P O I M E N T O A L M I R D E C A S T R O

    QUANDO O SENHOR FOI TRABALHAR NA CAPES? A Capes foi criada em julho de 1951, como uma comisso para promover a Campanha de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior, no mbito do Ministrio da Educao e Sade o ministro era o baiano Simes Filho. Quando o Ministrio foi desmembrado em dois em 1953, a Campanha ficou a cargo do Ministrio da Educao.' Eu trabalhava no Ministrio e, embora fosse mdico de formao, preferi passar para os quadros da Edu-cao; logo no incio de 54 fui para a Capes, onde fiquei at 64.

    O grande inspirador da Capes foi Ansio Teixeira, que sempre teve a preocupao de formar quadros para as universidades brasileiras.

    Ansio era dos poucos homens do Brasil dotados de imaginao. Ele foi um catalisador, um incentivador e fez renascer um estmulo para a uni-versidade, fazendo com que ela iniciasse trabalhos, rumos e caminhos que no tinham sido trilhados. A inventividade de Ansio se fez sentir desde a origem da Capes, pois ele a concebeu como um rgo ligado ao Ministrio da Educao, mas tambm Presidncia da Repblica. Assim, tnhamos um status bem flexvel: o Ministrio no se metia conosco, e o fato de tra-zer escrito nos formulrios "rgo da Presidncia da Repblica" nos dava algum prestgio, embora as verbas no fossem muito extensas.

    COMO FOI ESTRUTURADA A CAPES? Ansio Teixeira era secretrio-geral. Nesse tempo ele era tambm diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedaggicos (Inep) e do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), que tinha mais quatro subcentros no Brasil, alm de professor de filosofia da educao. Em cada um destes r-gos havia um acting director, que na Capes era eu, no cargo de diretor de programas. Tnhamos uma organizao um pouco ad hoc-, no nos pren-damos muito a regras rgidas. Havia um esquema de normas que nos per-mitia no atendermos quilo que achssemos no ser bom, apenas para constar, mas na verdade ramos suficientemente flexveis para atender a quase tudo. Nosso nico obstculo era, naturalmente, a escassez de verbas, mas mesmo assim ainda pudemos fazer um trabalho muito interessante.

    QUAL FOI SUA PRINCIPAL REA DE ATUAO? Desde minha ida para a Capes procuramos trabalhar no sentido, primeiro, dos cursos de ps-graduao. Na verdade, essa questo tambm comeou de uma maneira um pouco selvagem, porque na minha opinio, uma das maneiras de fazer uma coisa boa comear sem muita disciplina. Decidi-mos nos dedicar ao treinamento no pas, em contrapartida aos clssicos "aperfeioamentos no exterior", que acarretavam uma srie de problemas, entre os quais o dpaysement das pessoas que ficavam trs ou quatro

    Criado em 1930, depois da vitria da Revoluo, o Ministrio da Educao e Sade foi desmem-brado em 1953, no segundo governo Vargas (1951-54). O primeiro ministro da Educao foi o baiano Antnio Balbino. Ver, a respeito, Dicionrio histrico-biogrfico brasileiro POS1930, coord. por Alzira Alves de ABREU, Israel BELOCH, Fernando LATTMAN-WELTMAN e Srgio Tadeu de Niemeyer LAMARO. Rio de Janeiro, Editora FCV/CPDOC. 2001, 5 v., designado daqui em diante pelas iniciais DHBB.

  • anos perseguindo o doutorado e, quando voltavam, no encontravam campo para desenvolver a rea especifica em que foram estudar. Na Capes decidimos aproveitar os grandes centros nacionais, da as ex-presses "centro de excelncia" e "ilha de excelncia", criao nossa. Na poca, o Brasil no possuia as 6o ou 8o universidades que tem hoje, esta proliferao foi feita atravs de lei do Congresso, mais ou menos no apa-gar das luzes do governo Juscelino;2 de meados de 1960 a janeiro de 61 criaram-se todas estas universidades, resultado da soma de faculdades isoladas, absolutamente dspares e heterogneas, que existiam em cada estado e foram reunidas em universidades. Organizamos estes centros regionais de treinamento em determinados setores e, como vivamos sob o moto "Educao para o desenvolvimento", as prioridades seriam aque-las que levassem ao desenvolvimento, as mais importantes para que ele fosse alcanado. Considervamos que a medicina e a biologia j eram tradicionalmente atendidas por fundaes como a Rockefeller e outras. A classe mdica j era mais ou menos autnoma e no precisava de um rgo para fornecer bolsas e mandar pessoas ao exterior; era muito comum naquele tempo encontrar mdicos "com prtica em hospitais de Viena, Paris etc". Curiosamente, isto at constituiu um problema para ns da Capes em certa poca, uma vez que o presidente Juscelino era mdico, o ministro da Educao, Clvis Salgado, era mdico e eu prprio, diretor de programas da Capes, tambm era. De toda maneira, porm, cortamos a medicina deste contexto. A rea j era considerada atendida; por isso, atendamos principalmente ao que, na poca, se achava que contribua para o desen-volvimento.

    REA DE TECNOLOGIA, CINCIA APLICADA? No exclusivamente. Est claro que no considervamos o desenvolvi-mento uma coisa estanque, que se atendia apenas com tecnologia e cin-cia. Sabiamos que h um contexto de interao de todas as coisas e, por isso mesmo, atendamos tambm reas como cincias sociais, que era um setor abandonado; a Capes foi a primeira agncia a se preocupar com as cincias sociais.

    A PREPARAO DE MO-DE-OBRA DE NVEL SUPERIOR PARA ATENDER AO DESENVOLVIMENTO ERA UMA IDIA DE ANSIO TEIXEIRA?

    Isso era moda, estava no ar. No s os economistas comeavam a ter certa influncia, mas ns mesmos considervamos que, se contribussemos para o avano do desenvolvimento econmico, outras coisas viriam inexoravel-mente. Se o pas se enriquecesse poderia produzir boas universidades, boas oportunidades de pesquisa. Mas no seria a educao que geraria isso, pois seus resultados s seriam medidos aps um processo lentssi-mo. J havia pessoas, como Theodore Schultz, defendendo a importncia da educao como fator de desenvolvimento econmico;' sabamos que isso era importante, mas a longo prazo. J estvamos, ento, certos da fa-lcia da tese que defendia a prioridade do ensino primrio para s depois comear a pensar no secundrio e, mais tarde ainda, no superior. Saba-mos que tnhamos que desenvolver mais o ensino superior, um pouco

    Entrevista realizada em abril de 1977

    Theodore William Schultz (1902-98 economista americano, professor da Universidade de Chicago e ganhado do Prmio Nobel de Economia (1979 destacou-se como terico do "capita humano" e do papel da educao no desenvolvimento econmico e scia das naes. No Brasil, estes conceito estiveram presentes no projeto educacional do regime ps-64, particularmente na reforma do ensino superior (1968) e do ensino mdio (1971). Foram publicados no Brasil, entre outros livros, Investindo no povo: o significado econmico da qualidade da populao, Rio, Forense, 1981, e O capital humano: investimento em educao e pesquisa, Rio, Zahar, 1973. Ver, a respeito, SANDRONI (1999)-

  • D E P O I M E N T O A L M I R D E C A S T R O

    para brler les tapes e comear a atender aos setores mais necessitados: indstria, tecnologia aplicada etc. Nessa poca ainda fazia muito sucesso a idia de que o Brasil era um pas agrcola e precisava de agrnomos. As pessoas esqueciam que o desenvol-vimento da agronomia que exige mais agrnomos e mais competentes; a simples existncia de agrnomos no vai ajudar diretamente o desenvol-vimento da agricultura. Outro exemplo: se comessemos a formar enge-nheiros especializados em automveis antes da implantao da indstria automobilstica, estaramos gastando dinheiro para formar profissionais que teriam que emigrar para a Europa e para os Estados Unidos, porque aqui no se iria criar uma indstria automobilstica apenas pelo fato de existirem engenheiros especializados em motor de automvel.

    Embora no fosse um homem de pensamento estatstico e matemtico, Ansio se preocupava muito com a necessidade de formao de mo-de-obra de nvel superior para enfrentar os desafios do desenvolvimento.

    Ele tinha certo horror idia das coisas gerais, no aceitava a idia de mdia de uma coisa; tendia mais a estudar uma organizao especfica como ela era, e estud-la em profundidade. J ns outros do staff nos preocupvamos com a mdia, o padro existente; cultivvamos a idia de que devamos desenvolver quantitativamente a universidade, para depois desenvolv-la qualitativamente.

    ANSIO TEIXEIRA TINHA ALGUM PENSAMENTO A RESPEITO DA CONSTITUIO DA UNIVERSIDADE?

    Ah, era bastante favorvel ao modelo da universidade americana at determinado momento, foi fantico pelos Estados Unidos. No sei se co-nhecem bem sua trajetria. Ansio foi educado por padres na Bahia, por isso tinha uma f inabalvel; ia dedicar-se vida religiosa. S comia aquilo de que no gostava, para se acostumar punio e privao; era um ho-mem de passar a noite ajoelhado, de se contrariar em tudo por f. Tinha uma f inquebrantvel e era estudioso, ao mesmo tempo, de filosofia, cristianismo, religies em geral. Mais tarde, quando comearam a acus-lo de comunista, ele reagiu: "Essas pessoas esto pensando que sabem o que f, mas eu sei muito mais a respeito." Enfim, no sei se foi uma manobra inocente ou no, mas seu pai exigiu que, antes de fazer os votos, ele passasse um ano na Europa, e Ansio aceitou; fez da viagem uma peregrinao. Obteve licena das mais altas autori-dades da Igreja Para visitar lugares santos, penetrar em recintos proi-bidos aos leigos, fez uma via crucis de f, refez o roteiro de santos. E nesta

  • histria toda, acabou perdendo a f. Por que meandros e mecanismos, ele nunca esclareceu, mas perdeu totalmente a f. A partir dai, voltou-se muito para os aspectos tericos e pragmticos da educao. Era um imenso admirador de John Dewey, da Escola Nova,4 da escola inglesa, abrangente. Era tambm um grande conhecedor da his-tria dos Estados Unidos; eu prprio o vi dar lies em almoos e reunies com figures americanos que nos visitavam. Anisio gostava muito do padro da universidade americana e achava, com razo, que os Estados Unidos tinham feito, a partir dos land-grant, a revoluo da educao superior;5

    quanto Europa, considerava que estava em decadncia, no crepsculo. Ele possuia uma idia americana de universidade, de pesquisa e de um ensino muito mais flexivel, com uma diversificao e variedade que no existiam aqui. O Brasil adotava cursos seriados, currculos rgidos, agre-gando-se sempre mais coisa, sem nunca cortar nada vcio que ainda aflige a universidade brasileira, essa a verdade.

    QUAL ERA A OPINIO DE ANSIO TEIXEIRA QUANTO MASSIFICAO DO ENSINO NO BRASIL?

    Era inteiramente contrrio; achava que tudo deveria ser muito bom desde o incio. Ns do staff que achvamos e eu ainda acredito nisso que no tem a menor importncia haver cem escolas de economia no Brasil, embora se pudesse, sem prejuzo, fechar a metade. Mas se houver cem es-colas de engenharia e s 20 forem muito boas, ainda assim est tudo OK. Com a vastido do Brasil, com a diversificao de trabalho que existe, h tarefas para engenheiro que s sabe fazer fossa e pavimentao e tarefas para o engenheiro criador, que vai fazer uma pesquisa, um trabalho tecni-camente sofisticado, que realmente vai introduzir uma coisa nova, ser um grande professor e tudo o mais. H tarefas para todos. Evidentemente, uma pessoa s vai cursar uma universidade ruim se no puder ir para uma melhor ou porque, naquele local, no h um corpo de professores capaz de oferecer um ensino melhor. No por ma f que se faz uma escola ruim, mas mesmo essas pessoas tm uma misso a cumprir. Entrei para a universidade em 1926, aos 15 anos, e j presenciei muita coisa; estou h tanto tempo nisso, que j vi faculdades que comearam muito fracas e hoje so boas. Agora, um estudante que passa cinco anos numa escola fraca e se forma engenheiro, talvez pudesse aprender as mes-mas e poucas coisas num curso mais curto, digamos, de dois anos. Nunca pudemos implementar esta idia de cursos rpidos, porque que-ramos formar bons corpos docentes. Tnhamos um set de qualificaes, que no era nenhum computador, mas no qual ser docente era uma qua-lificao importantssima; todo o nosso programa de treinamento era dirigido preponderante e prioritariamente para o pessoal docente, princi-palmente os jovens, que no eram irrecuperveis.

    SEMPRE HOUVE UMA TENSO ENTRE DOCNCIA E PESQUISA. ESTA PRIORIDADE AOS DOCENTES NO PREJUDICAVA A ATIVIDADE DE PESOUISA?

    No. Acreditvamos plenamente que no pode haver pesquisa sem ensino nem ensino sem pesquisa. Evidentemente, visvamos a esse binmio, e todo bolsista era um pesquisador em potencial, se j no fosse um quando

    4 John Dewey (1859-1952), filsofo e

    pedagogo americano, crtico da educao tradicional, que se propunha a rever e superar os erros do naturalismo e empirismo tradicionais, baseando-se no conceito da experincia e da aprendizagem. Foi grande sua influncia no Brasil sobre o movimento de renovao da educao, conhecido como Escola Nova, principalmente por intermdio de Ansio Teixeira, seu antigo aluno em Columbia.Ver MIRADOR (1975).

    ' A criao das land-grant universities remonta a 1862, quando Abraham Lincoln assinou a Lei Morrill conceden-do 30 mil acres de terra aos estados a cada representante que enviassem ao Congresso em Washington. Estas terras deveriam ser utilizadas na construo de universidades e consti-tuio de dotes para seu sustento futuro; a segunda Lei Morrill (1890) iria proibir a discriminao racial nessas universidades. Justin Morrill, o autor das duas leis, pretendia que estas universidades educassem americanos comuns, servindo de base para a construo de uma sociedade prspera e democrtica. De incio, estas universidades privilegiaram o ensino de matrias mais objetivas como engenharia, minerao e agricultura, distinguindo-se das instituies tradicionais como Harvard e Yale. Ver THE ECONOMIST (31/05/2001).

  • D E P O I M E N T O A L M I R D E C A S T R O

    obteve a bolsa. A pesquisa estava muito em moda no perodo em que es-tive na Capes, entre 1954 e 1964. Foi o perodo em que mais se salientou o binmio ensino-pesquisa; ele j existe como tema de cogitao e discus-so h mais de 30 anos.

    A CAPES TAMBM FIRMOU UM CONVNIO PIONEIRO COM A FUNDAO ROCKEFELLER.

    Sim. Como no dvamos prioridade rea de medicina, no tocante dis-tribuio de recursos da Capes, firmamos convnios com a Fundao Rockefeller depois esta passou para a Fundao Ford e pudemos atender muito bem quela rea, porque eles tinham recursos bastante amplos. Pela primeira vez na histria de sua atuao no Brasil, a Funda-o Rockefeller confiou a uma instituio brasileira, a Capes, a execuo dos projetos que queria desenvolver no pais; demos incio, ento, a um programa de treinamento de pessoal docente.

    Sempre consideramos que a grande falha da universidade brasileira localizava-se no corpo docente.

    Preocupava-nos enormemente a qualidade dessa massa docente, dessas faculdades que iam se criando um pouco desordenadamente, sem uma formao regular. Naquele tempo, a carreira universitria no estava dis-ciplinada como hoje, s havia o professor catedrtico e os assistentes, livremente escolhidos por ele; no eram exigidas qualificaes para tornar elegvel uma pessoa para esses cargos. Assim, iniciamos um importante trabalho de treinamento de pessoal; escolhemos como centros regionais principalmente o Rio de Janeiro e So Paulo, mas tambm havia os de Belo Horizonte, Recife e Porto Alegre.

    Essas atividades disseminaram-se de tal maneira, que muito difcil en-contrar hoje uma pessoa no ensino superior e na pesquisa, de idade entre 40 e 60 anos, que no tenha tido um contato qualquer com a Capes; ou foram auxiliados com passagens quando tinham bolsa de outra organi-zao, ou eram pessoas mandadas para o estrangeiro com bolsas inte-grais da Capes ou ainda tinham sido usadas por ns para treinamento de pessoal.

    ALM DA CRIAO DOS CENTROS REGIONAIS DE TREINAMENTO, A QUE OUTRAS ATIVIDADES A CAPES SE DEDICOU EM SUA PRIMEIRA DCADA DE EXISTNCIA?

    Fizemos vrios surveys, vrios levantamentos de faculdades, que creio terem sido os primeiros. Analisamos as faculdades de engenharia, de filosofia naquele tempo eram faculdades de filosofia, cincias e letras , de odontologia, de farmcia; enfim, foi um levantamento descritivo e

  • analitico de toda a universidade brasileira, um estudo muito completo. Estas eram informaes corriqueiras, mas que no existiam no pais. Fize-mos os primeiros anurios, os primeiros repertrios de faculdades e uni-versidades. Fomos aprimorando, a ponto de passar a coletar informaes sobre cada universidade: seu pequeno histrico, os cursos que oferecia. Depois elaboramos um repertrio de professores, todos agrupados em especialidades, onde uma pessoa do exterior podia abrir o catlogo e ver, por exemplo, fitoquimica: ali estavam relacionadas todas as pessoas que trabalhavam no ramo no Brasil. Fizemos tambm coisas que talvez fossem da seara do CNPq ou do IBGE, como o primeiro cadastro de instituies de pesquisa do Brasil. Era um ca-dastro muito abrangente; foi respondido por questionrios, e s vezes, por visitas in loco, e refletia o que pensavam aqueles que se consideravam cientistas. claro que, em duas mil pessoas ali arroladas, muitas no es-tavam fazendo cincia, mas pelo menos pensavam que estavam e ofi-cialmente estavam. Estes indicadores saam praticamente a cada ano e, alm dos levanta-mentos das faculdades, fizemos alguns estudos importantes sobre a necessidade de mo-de-obra para o desenvolvimento. Fizemos um levan-tamento de todos os estados e territrios: geofsica, recursos naturais, comrcio e indstria, administrao. E um volume final sobre necessi-dades de mo-de-obra de nvel superior.

    UMA DAS PRINCIPAIS ATIVIDADES DA CAPES A OFERTA DE BOLSAS DE ESTUDO OU O AUXLIO FINANCEIRO A BOLSISTAS DE OUTRAS AGNCIAS FINANCIADORAS. ISTO ACONTECIA DESDE O INCIO DA HISTRIA DA INSTITUIO?

    Sim. Apesar dos recursos reduzidos, a Capes sempre ofereceu bolsas de estudo no exterior e auxiliou na compra de passagens, por exemplo, para pesquisadores que no possuam bolsa integral de outras instituies. Anualmente, cerca de 120 pessoas eram contempladas com auxlio e bol-sas no estrangeiro; nunca pudemos oferecer mais de 20 bolsas integrais para o exterior, no havia recursos. As bolsas eram integrais e, no auxlio, incluam-se passagens para pessoas que tinham bolsas no-integrais de pases ou instituies. Por exemplo, nesse tempo o Instituto Tecnolgico da Aeronutica tinha um programa de treinamento de pessoal recm-formado, frente do qual estava um professor inteiramente abnegado, que s vivia para isso. Por suas prprias relaes, movimentava empresas, universidades, centros industriais dos Estados Unidos e da Europa; escrevia para essas instituies, solicitando bolsas e estgios. No fim do ano, tinha umas 30 ou 40 oportunidades de treinamento no exterior para oferecer a rapazes do ITA formados naquele ano ou no ano anterior, e a uma grande parte deles a Capes fornecia passagens. Entramos muito em contato com os pases que distribuam bolsas. Por exemplo, a Frana tinha um nmero muito grande a oferecer, cento e tan-tas bolsas por ano; a Usaid, naquele tempo chamada de Ponto 4, tambm tinha um nmero grande,6 assim como a Alemanha e o Canad, alm dos rgos que mantinham programas de bolsas; todos se ligaram um pouco Capes. Para alguns deles, ns mesmos que fazamos o anncio e a se-leo dos bolsistas era o caso da Alemanha e do Canad; em outros,

    Programa criado no governo Truman (1945-53) Para promover a cooperao tcnica entre os Estados Unidos e a Amrica Latina; no Brasil, procurou abranger principalmente as reas de administrao pblica, economia, administrao oramentria e financeira, agricultura, recursos minerais, energia nuclear, sade, educao e transporte. Na rea de educao, dedicou-se formao de professores que viessem por sua vez a formar profissionais para a indstria e promoveu a vinda de tcnicos e professores americanos, alm de conceder a brasileiros bolsas de estudos nos Estados Unidos, entre outros aspectos. Foi considerado por polticos, educadores e intelectuais um instrumento de controle poltico e ideolgico dos Estados Unidos sobre o Brasil. Ver DHBB (2001).

    Formado pela Faculdade Nacional de Medicina (1931) e especializado em biofsica, Carlos Chagas Filho (1910-2000) foi diretor da Diviso de Pesquisas Biolgicas do CNPq entre 1951 e 1954. Ver LAROUSSE (1977).

    Diplomado em histria natural pela Faculdade de Filosofia, Cincias e Letra da USP (1941), Crodovaldo Pavan (1919) foi presidente do CNPq entre 1986 e 1990. Ver CPDOC (1984).

    Antnio Moreira Couceiro, formado pela Faculdade de Medicina do Recife (1937). tornou-se membro do Conselho Consultivo da Capes, primeiro como representante da comunidade acadmica (1963) e em seguida como presidente do CNPq (1964-70). Ver CRDOVA (1996). Manuel da Frota Moreira, diplomado pela Faculdade de Medicina (1940) da Universidade do Brasil, foi membro do Conselho Deliberativo e diretor-geral do Departamento Tcnico-Cientfico do CNPq (1960-1974). Em 1963, representou o CNPq no Conselho Consultivo da Capes. Ver CPDOC (1984). Heitor Grillo, engenheiro agrnomo formado pela Escola Nacional de Agronomia (1920), foi vice-presidente do CNPq entre 1951 e 1954. Ver COUTINHO (1961).

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    ramos chamados a cooperar na seleo, porque todos sabiam que tinha-mos praticamente nas mos um universo de candidatos. Para a Frana, encaminhvamos candidatos, dvamos informaes e participvamos da seleo; o mesmo acontecia com o Conselho Britnico. Nesse tempo, o Itamaraty dava um auxlio complementar para quem ti-vesse bolsa abaixo de certo limite. Tambm l havia uma comisso de bol-sas da qual eu fazia parte, representando a Capes. Assim, num tempo em que havia certa limitao de candidatos, tnhamos a informao completa sobre o que se passava em matria de candidaturas, qualificao de can-didatos, o que nos permitia saber quem estava se candidatando a duas bolsas. Tnhamos um grupo de pessoas que consultvamos a respeito de cada campo. Para selecionar pessoas da rea de fsica, ramos ajudados pelo pessoal da USP e do Centro Brasileiro de Pesquisas Fsicas, da UFRJ. Para a matemtica tnhamos o pessoal do Impa, o Instituto de Matemtica Pura e Aplicada; gente da biologia como Carlos Chagas Filho,7 Crodovaldo Pavan,' e assim por diante. O pessoal desses centros de excelncia onde fazamos treinamento j era um primeiro manancial de bolsistas; no Impa, por exemplo, sabamos quem j estava maduro e esperando sua oportunidade para seguir para o exterior

    A CAPES SOFRIA PRESSO POLTICA PARA CONCEDER BOLSAS?

    Naturalmente, recebamos pedidos polticos e pessoais, mas fazamos uma seleo muito ad hoc, muito informal. Recebamos, por exemplo, uma carta de recomendao e telefonvamos para o signatrio: "Voc est recomendando mesmo ou uma caria apenas para constar?" Tnhamos resultados bastante satisfatrios.

    O sistema de seleo realmente funcionava, completamente isento de ingerncias, de influncia poltica ou de qualquer fator no acadmico.

    Aquele perodo era favorvel a esse tipo de coisa; todo esse trabalho de articulao com os outros rgos era feito de maneira informal, por Te-laes pessoais e fora de qualquer lao institucional.

    COMO ERAM AS RELAES COM O CNPq? No eram institucionais, mas derivadas, como acontece muito no Brasil, de laos de amizade entre mim e os dirigentes do CNPq, como o prof. Antnio Moreira Couceiro e o prof. Manuel da Frota Moreira, diretor cien-tifico do CNPq, ou com o prof. Heitor Grillo, ou com diretores, presidentes, conselheiros.' Os contatos eram mais troca de informaes, para orientao da politica dos dois rgos.

  • HAVIA UMA DIVISO DE TRABALHO ENTRE A CAPES E O CNPq?

    No, nunca houve, como tambm nunca houve um entrosamento com-pleto entre eles; portanto, havia duplicao. Com o conhecimento que t-nhamos, cada um, do que o outro fazia, procurvamos evitar a duplicao, na medida que achvamos conveniente, porque s vezes no achvamos mesmo conveniente. Havendo to pouco em matria de bolsa, em mat-ria de auxlio universitrio, informal, no tinha importncia que mais de um rgo fizesse a mesma coisa. Porque, por mais que fizessem os dois r-gos num mesmo campo, no conseguiriam fazer nem 10% do necessrio. A mim, pessoalmente, essa duplicao nunca preocupou muito. Lembro que, muitos anos depois, Celso Barroso Leite passou a dirigir a Capes.Ele trabalhara conosco durante vrios anos, e quando dirigiu a instituio, preocupou-se muito com a duplicao de atribuies. Em con-versa, eu lhe disse para no se preocupar tanto com isso, porque todos os rgos brasileiros que se dedicavam quelas tarefas no dispunham dos recursos necessrios para atender s extensas necessidades nacionais. No tinha muita importncia que um fizesse o mesmo trabalho que o outro, contanto que estivessem articulados, porque a no haveria pro-priamente uma duplicao.

    EM TERMOS DE VOLUME DE RECURSOS, A CAPES ERA MAIS IMPORTANTE QUE O CNPq?

    No, o CNPq tinha dez vezes mais recursos que a Capes, desde o incio. O CNPq j nasceu como um rgo de amplitude muito maior que a Capes e tinha recursos muitas vezes superiores; a Capes foi um rgo um pouco experimental. Nasceu da amizade, do conhecimento e do respeito que ti-nha o ministro Simes Filho por Ansio Teixeira e que queria fazer a expe-rincia de um rgo flexvel, no sujeito s teias burocrticas, que pu-desse dar um incentivo direto universidade brasileira. Era um rgo que tinha muito pouco dinheiro. Lembro que no incio de 1964 pleiteei e ob-tive um milho de cruzeiros; na poca, essa verba dava para fazer alguma coisa.

    QUANDO O BOLSISTA RETORNAVA AO BRASIL, RECEBIA ALGUM ACOMPANHAMENTO DA CAPES?

    Sim, porque a segunda coisa mais importante depois da seleo era ele ter garantido o aproveitamento de sua bolsa; isso, entretanto, era uma coisa que j nos escapava um pouco. No tnhamos dvida de que a se-leo era muito bem-feita, porque se fazia com o aval e a participao das melhores pessoas. Em sua grande maioria, os bolsistas j estavam dentro do ncleo de uma escola ou centro de pesquisas. Todos estavam aptos a logo comear a absorver a experincia dos centros de treinamento, por-que muito raramente mandvamos uma pessoa que no tivesse domnio da lngua do pas para onde ia. Mas em casos especiais, no deixamos de mandar um bolsista sem esta qualificao, e no nos samos mal. Manda-mos, mais de uma vez, pessoas ainda meio claudicantes, mas que chega-vam e reforavam seu ingls ou seu francs e se saam muito bem, porque eram de alto calibre e apenas incidentalmente deficientes em idioma estrangeiro.

    CELSO BARROSO LEITE dirigiu a Capes entre dezembro de 1969 e maro de 1974. Sobre a diviso de trabalho entre Capes e CNPq, ver, alm de sua entrevista, as de SUZANA GONALVES e EDSON MACHADO DE SOUSA, neste volume.

    Darci Ribeiro (1922-97) antroplogo, educador, poltico e escritor,formou-se pela Escola de Sociologia e Poltica de So Paulo (1946), atuou no Servio de Proteo ao ndio (1952), foi docente da Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil (1956), diretor da diviso de estudos sociais do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (1957) e idealizador e primeiro reitor da Universidade de Braslia (1961). Ministro da Educao (1962) e chefe da Casa Civil (1963-64) durante o governo Joo Goulart (1961-64), teve seus direitos polticos cassados aps o golpe de 1964, exilando-se durante 12 anos. De volta ao Brasil (1976) foi reintegrado UFRJ, eleito vice-gover-nador do Rio de Janeiro (1983-86), acumulando com a Secretaria de Cincia e Cultura e o Programa Especial de Educao. Senador pelo PDT/RJ (1990), licenciou-se no ano seguinte, assumindo a Secretaria Estadual de Projetos Especiais de Educao. Em 1992 retomou as atividades parlamentares e foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras. Ver DHBB (2001).

    Ver a entrevista de SUZANA GONALVES, neste volume.

  • D E P O I M E N T O A L M I R D E C A S T R O

    Para esta escolha Realmente no havia problema, porque as pessoas eram bem selecionadas; provinham de uma escola onde havia orientadores informados sobre o que se passava l fora, ento tinham uma idia muito exata de quem e com quem gostariam de trabalhar. Fazamos todo esse trabalho anteriormente para eles: envivamos as applications, que eram sistematicamente aceitas, tal o nvel dos candidatos; nunca tivemos pro-blemas nesse particular de aceitao de bolsistas.

    O PROJETO DA UNIVERSIDADE DE BRASLIA NASCEU A PARTIR DE DISCUSSES TRAVADAS NA C.APES. EM 1963, ANSIO TEIXEIRA NOMEADO PARA O CONSELHO DIRETOR DA NOVA UNIVERSIDADE E O SENHOR, VICE-REITOR EM JANEIRO DO ANO SEGUINTE. ISTO SIGNIFICOU ABANDONAR A CAPES?

    Realmente, na Capes formou-se um grupo de pessoas interessadas em pensar as universidades. Sob a liderana de Darci Ribeiro, comearam os estudos e o planejamento da Universidade de Braslia.11 Em setembro de 1963 Ansio foi nomeado para o Conselho Diretor da Universidade, mas foi apenas mais uma atribuio que ele assumiu, com o entusiasmo com que assumira todas as outras. Pelo meu lado, fui nomeado vice-reitor pouco depois, mas acumulei as funes na nova Universidade com os encargos na Capes. Apenas a carga de trabalho aumentou. Mas isto tudo durou pouco.

    Em abril, os militares assumiram o poder, e Ansio e eu fomos exonerados de todas as nossas funes pblicas.

    O grupo vencedor indicou para dirigir a Capes a prof.a Suzana Gonalves, ligada PUC do Rio de Janeiro." Apresentei-lhe um Telatrio detalhado sobre tudo o que se passava na instituio e, como estava tudo em ordem, encerrei meu perodo de dez anos na Capes com tristeza, mas com a sen-sao de misso cumprida.

  • 1964-1974 Anos de crise e redefinio institucional

    Logo nos primeiros dias de abril de 1964, ANSIO TEIXEIRA e ALMIR DE CASTRO so afastados da Capes. Assume a direo SUZANA GONALVES, ligada PUC-RJ, mas at ento sem qualquer vnculo com o ensino superior. Em maio, a agncia integrada por decreto ao Ministrio da Educao e Cultura. O interregno entre a gesto de SUZANA GONALVES (1964-1966) e a de CELSO BARROSO LEITE (1969-1974) constitui um perodo de grande instabilidade institucional, no qual quatro diretores estiveram frente da Capes. CELSO BARROSO LEITE retoma o processo de reestruturao da agncia, adotando como tnica o esforo de racionalizao e padronizao administrativas.

  • SUZANA GONALVES SUZANA GONALVES nasceu em Santa Luzia (MG), em 22 de fevereiro de 1914. Com o fim do Estado Novo (1945), comeou a atuar na Ao Catlica, minis-trando aulas nos cursos do Instituto Feminino, vinculado PUC/RJ. Lecio-nou no Colgio Jacobina e no Colgio Santa rsula, assessorou a reitoria da PUC na divulgao das atividades da universidade e na redao de sueltos para serem publicados na imprensa catlica. Foi diretora-executiva da Capes entre abril de 1964 e maio de 1966. Em 67, juntamente com o padre Antnio Geraldo Amaral Rosa e o prof. Paulo de Assis Ribeiro, implementou nova es-trutura na PUC/RJ, onde mais tarde chefiaria a Biblioteca Central (1975-94). Sua entrevista foi concedida

    a Marieta de Moraes Ferreira o| Regina da Luz Moreira em 09 de maio de 2001.

  • DEPOIMENTO S U Z A N A GONALVES

    A SENHORA ASSUMIU A DIREO DA CAPES EM 1964, E RECONHECIDA POR TER CONDUZIDO A CASA COM HABILIDADE, EM MOMENTO PARTICULARMENTE DELICADO

    DA VIDA NACIONAL. COMO SE DEU SUA NOMEAO? Em primeiro lugar, devo dizer que sequer fui consultada se queria ou no ser diretora da Capes. Mas vou contar como as coisas se passaram. Sou mineira de Santa Luzia, e minha me pertence familia Viana, muito nu-merosa; entre seus membros esto o historiador Hlio Viana e sua irm Argentina. Esta, que faleceu cedo, casou-se com Humberto de Alencar Cas-telo Branco, que em 1964 tornou-se presidente da Repblica.

    Foi o presidente que me indicou, foi assim que fui parar na Capes. Eu estava na PUC do Rio, e quando a coisa chegou aos meus ouvidos, foi como uma ordem peremptria:"V l e tome posse."

    A atmosfera era essa, por isso tomei muitos cuidados ao chegar. Mas Deus ajudou, e as coisas funcionaram. Durante todo o tempo tive que lidar com um personagem meio misterioso, uma espcie de "olheiro" do SNI eles estavam em todos os ministrios. No governo Castelo Branco o "olheiro" era tambm professor, uma pessoa que me dava a impresso de ser muito equilibrada e nunca permitiu absurdos e intromisses indesejveis.

    A SENHORA TINHA ALGUMA EXPERINCIA DE TRABALHO ADMINISTRATIVO ANTES DE ASSUMIR A DIREO DA CAPES?

    No. Anteriormente eu trabalhara na PUC, lecionando no Instituto Femi-nino, nos cursos de preparao cvica da mulher; era uma iniciativa vin-culada tambm Ao Catlica. Comecei no final dos anos 40, depois do Estado Novo. As mulheres j tinham direito de voto e, talvez em decor-rncia disso, resolveram abrir cursos de preparao para um exerccio cvico mais consciente. A partir dali, fui ministrar cursos anlogos no Co-lgio Jacobina e depois no Santa rsula. A partir destes exemplos, outras instituies tambm passaram a oferecer cursos semelhantes. Posterior-mente, fui convidada pelo ento reitor da PUC, o padre Artur Alonso, para assessor-lo no Setor de Intercmbio da Universidade, o que me aproxi-mou dos rgos de comunicao do Rio.

    QUAL ERA O PERFIL DA EQUIPE DA CAPES, QUANDO A SENHORA ASSUMIU A DIREO?

    A Capes era pequenina, mas tinha um excelente quadro de pessoal. Curio-samente, no tinha funcionrios prprios, e sim pinados pelo fundador da Capes, o dr. Ansio Teixeira, em diversos organismos, principalmente nos vrios institutos de previdncia social.' Na rea de administrao e

    Sobre Ansio Teixeira, ver DHBB (2001), e, neste volume, as entrevistas de CELSO BARROSO LEITE, DARCY CLOSS, CLUDIO DE MOURA CASTRO, ELIONORA MARIA CAVALCANTI DE BARROS, AMADEU CURY, LINDOLPHO DE CARVALHO D |AS, EDUARDO KRIEGER, REINALDO GUIMARES e especialmente a de A L M I R DE CASTRO.

  • contabilidade havia gente muito boa, sobretudo um economista, Domingos Vieira Gomes, absolutamente honesto e competente; o que ele assinava eu podia assinar depois, tranqila.2 Havia pessoas com nvel superior, en-quanto outras no possuam diploma universitrio mas haviam sido to bem treinadas pelo dr. Ansio e pelo Almir de Castro, que passaram a exercer, com competncia, as respectivas funes, quer na Seo de Programas subdividida em setores de bolsas e auxlios aos cursos de ps-graduao , quer na Seo de Avaliao e Estudos, ou ainda na parte administrativa.1

    A SENHORA J CONHECIA ANSIO TEIXEIRA? No, s o vi uma vez na vida. Eu j dirigia a Capes e creio que em 1965 houve um seminrio intitulado "A educao que nos convm". Ele estava presente. As pessoas que se sentiam responsveis pela educao no Brasil entenderam que naquele momento de transio e de tanta dificuldade, era necessrio discutir os problemas da educao. E o seminrio foi muito bom, freqentado com grande interesse; foi promovido por um grupo de univer-sidades, inclusive a PUC. Esta foi a nica oportunidade em que me encon-trei com o dr. Ansio. Fui relatora do tema Estrutura da Universidade, e ele compareceu minha exposio.

    QUAIS FORAM os PRINCIPAIS DESAFIOS QUE A SENHORA ENFRENTOU AO CHECAR CAPES?

    Como inmeros outros organismos governamentais, a Capes era uma cam-panha mantida com recursos transferidos da Casa Militar da Presidncia da Repblica. O dr. Ansio Teixeira certamente sabia que, embora esdr-xulo, o caminho era o mais seguro, pois a dotao era muito pequenina, e o tempo todo ele lutou tremendamente para aument-la. Nisso, sobre-veio a Revoluo de 64 e no tenho documentos sobre isso, sei apenas de oitiva no primeiro momento houve um movimento para extinguir a Capes. Mas professores da Universidade Federal do Rio de Janeiro, sobre-tudo Paulo de Gis e Amadeu Cury, puseram-se em campo para convencer o governo de que isso, positivamente, no devia ser feito.4 Felizmente, o ministro Flvio Suplicy de Lacerda foi sensvel argumenta-o e teve o discernimento de manter a instituio funcionando. Resolveu criar a Coordenao do Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior, englobando a Capes, a Cosupi, Comisso Supervisora dos Planos dos Insti-tutos, e o Protec, Programa de Expanso do Ensino Tecnolgico.5 A Capes, embora pequenina, foi pioneira e desbravadora, indicando o que era ne-cessrio fazer, sobretudo naquela poca, para preparar o pessoal de nvel superior. Portanto, a Capes, campanha dotada de recursos modestos para distribuir bolsas, passou a ser uma agncia de ps-graduao, e no por mrito ex-clusivamente meu. Alis, o ministro Suplicy tinha qualidades muito posi-tivas, como pude notar durante sua passagem pelo Ministrio eu no o conhecia, sendo ele paranaense.

    ANTES DE 1964, A FUNO DA CAPES ERA ESSENCIALMENTE A CONCESSO DE BOLSAS DE ESTUDO?

    Apenas isso. E em diminuta quantidade, porque a dotao era muito pequena. A inteno era doar 120 bolsas por ano, mas a quantidade no

    1 Domingos Vieira Gomes exerceria

    durante anos as funes de diretor administrativo da Capes. Ver CRDOVA (1996).

    1 Sobre os anos iniciais da Capes, ver a

    entrevista de ALMIR DE CASTRO, neste volume, alm de CRDOVA (1996).

    ' Ver a entrevista de AMADEU CURY, neste volume.

    ' O Decreto n 53.932, de 26.05.1964, transformou a Capes na Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior, rgo do Ministrio da Educao e Cultura. Alm de vincul-la poltica da educao superior do pas, atravs da Diretoria do Ensino Superior, o decreto tambm lhe atribua as funes da Cosupi e do Protec. Ver CAPES (1965).

    * Sobre a transmisso do cargo, vera entrevista de ALMIR DE CASTRO, neste volume.

  • D E P O I M E N T O S U Z A N A G O N A L V E S

    chegava a 20. Por sua vez, a Cosupi tinha sido criada durante o governo Juscelino pelo prof. Ernesto de Oliveira Jnior, visando estimular os centros de excelncia atravs de dotaes financeiras para a aquisio de equipa-mentos, material bibliogrfico e demais recursos indispensveis ao exer-ccio da docncia em nvel superior. J o Protec era uma anomalia. Foram abertos cursos de engenharia onde houvesse espao, sem anuncia prvia do Conselho Federal de Educao, sem dotao oramentria nem vinculo com universidades pblicas; eram escolas isoladas. Como todos os ora-mentos foram contingenciados, era preciso tomar providncias para que os estudantes no perdessem o ano nessas escolas, que no tinham compe-tncia jurdica para diplomar; portanto seus cursos no tinham validade.

    A CAPES ERA OBRA DE ANSIO TEIXEIRA, EDUCADOR ALTAMENTE RESPEITADO, MAS CONSIDERADO HOMEM DE ESQUERDA E ADVERSRIO DO REGIME. NOMEADA PELO GOVERNO MILITAR, QUE AMBIENTE A SENHORA ENCONTROU NA AGNCIA?

    Encontrei um ambiente naturalmente suspicaz, com todo mundo espe-rando o pior; o dr. Anisio era considerado por muitos um comunista. Grande equivoco, pois era discpulo de Dewey, altamente discreto e Tequintada-mente civilizado. No me recebeu no rgo, mas l estava o dr. Almir de Castro, seu brao direito, pessoa cheia de qualidades. Quando cheguei, ambos muito constrangidos, ele me mostrou tudo: a casa estava na mais perfeita ordem. Depois que me informou sobre a programao do ora-mento, que teria que ser revisto para serem aplicados os cortes previstos pelo contingenciamento, agradeci a gentileza da recepo e da exposio e pedi: "Tenho um ltimo favor a lhe solicitar: que o senhor adapte essa programao s novas normas oramentrias." Ele ainda argumentou que no poderia faz-lo da noite para o dia. Respondi: "O senhor ter uma semana. Nesse prazo, acredito que poder ser feito."

    Eu tinha que mostrar Capes que no estava ali como pra-quedista, para uma caa s bruxas.

    Aquele era um rgo de educao da maior responsabilidade, e no se deveria agir de forma contrria.

    Eu j tinha tomado posse no gabinete do ministro, mas ainda no hou-vera a transmisso de cargo. Esperei uma semana e voltei para ver o resul-tado da tarefa atribuda ao dr. Almir e s ento comecei a trabalhar.' Ime-diatamente, pedi uma auditoria do Ministrio da Educao; j sabia que estava tudo em ordem, mas queria que todo mundo tambm tomasse co-nhecimento disto. Para minha felicidade, o Ministrio mandou o prprio diretor da Diviso de Oramento, Pedro Karan Zuquim, um rapaz de 29 anos, extremamente competente e equilibrado, que examinou tudo e aprovou.

  • O passo seguinte, mais difcil, foi uma exposio de motivos ao ministro da Educao, a fim de resolver o problema do Protec pois, como disse, era a nica forma de aqueles jovens no perderem anos de vida; era preciso fornecer recursos e solucionar o problema dessas pretensas escolas isola-das. O ministro acolheu minha exposio de motivos, estimou que seriam necessrios 800 mil cruzeiros para resolver a questo e encaminhou-a ao Congresso j que se tratava de uma dotao extraordinria, precisava de aprovao parlamentar , e as decises at que no demoraram. A partir da, plantei-me no Ministrio da Fazenda at que o ministro Bulhes me recebesse. No havia dinheiro, mas fez-se um entendimento com a Universidade Federal do Rio de Janeiro, e esses estudantes foram absorvidos. Em seguida, convoquei o Conselho Deliberativo da Capes, a fim de estudar a reordenao da instituio, de forma a transform-la em agncia de ps-graduao e a fixar critrios para a aplicao de seus recursos. O Con-selho atendeu, e as coisas ficaram bastante organizadas nesse primeiro momento. Em maio de 64 um decreto redefiniu o papel da Capes, suas atribuies e estrutura; com isso, pudemos tentar fazer uma adminis-trao planejada.' De outro lado, solicitei ao Conselho Federal de Educao que fixasse a dotao da Capes era de sua competncia.

    A SENHORA MONTOU UMA EQUIPE PRPRIA? No. Trabalhei com a equipe que encontrei l, pessoas requisitadas pelo dr. Ansio em vrios rgos da administrao pblica. Ele formou uma equipe pequena mas altamente qualificada, muito boa mesmo, que per-maneceu na casa depois da Revoluo, felizmente. Passado pouco tempo da minha chegada, sua secretria, Carolina Paixo, pediu para falar comi-go ela era funcionria de um dos institutos de previdncia: "D. Suzana, estou meio encabulada, porque todos tnhamos decidido, quando a se-nhora chegasse, pedir reverso aos rgos de origem. Agora ningum vai mais partir. Quero pedir desculpas, mas h uma vaga l no instituto, e tenho direito a disput-la. Sou arrimo de famlia e no posso me furtar a isso." Foi a que fiquei sabendo que havia toda uma resistncia mesmo, uma inteno de todos sarem. Vocs j imaginaram se isso tivesse acontecido?! Era uma equipe muito boa, e a debandada teria desmontado totalmente a Capes. Foi com base nessa equipe que se pde fazer um trabalho decen-te, objetivo, integrado em processos indispensveis para o crescimento do pas. Eram pessoas responsveis, que tinham um compromisso sentimen-tal com aquele organismo, criado por algum altamente respeitvel, com quem eles se davam admiravelmente bem. A inteno de voltar aos rgos de origem era uma forma de solidariedade ao dr. Ansio Teixeira. Quando deixei a diretoria executiva da Capes, em 1966, um dos primeiros telefonemas que recebi foi do Almir de Castro. Alm disso, recebi em casa uma coleo de livros, uns quatro ou cinco livros do dr. Ansio, todos com dedicatria e um cartozinho, gesto que interpretei da seguinte maneiTa: "Obrigado por voc no ter destrudo minha obra." Isso foi muito con-fortador. Tambm recebi, posteriormente, por proposta do ministro Pas-sarinho, a condecorao da Ordem Nacional do Mrito Educativo. Mas considero o gesto do dr. Ansio o maior penhor de minha passagem pela Capes.

    da

    Pelo Decreto n53-932, de 26.05.196, o poder decisrio se transferiu para o Conselho Deliberativo, integrado por nove membros com mandato de trs anos, todos indicados pelo minis presidente da Repblica. O minis Educao, membro nato juntamente com o diretor de Ensino Superior do MEC e o presidente do CNPq, presidi o Conselho Deliberativo. J o Decreto n 54356, de 30.09.1964, determinav

    que o diretor executivo deixava de fazer parte do Conselho Deliberativo, ficando seu papel associado basica-mente direo operacional da agncia. Ver CRDOVA (1996).

    ' O mdico Clvis Salgado (1906-1978 foi ministro da Educao e Cultura entre 1956 e 1961 e membro do Conselho Federal de Educao, entre 1964 e 1968. Ver DHBB (2001).

    ' Jos Garrido Torres (1915-1974) presidi o banco entre 1964 e 1967. Ver DHBB (2001).

    " Em maio de 1982, o BNDE, criado em 1952, passou a se chamar Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social (BNDES). As organizadoras do livro optaram pela -atualizao da sigla. Ver DHBB (2001)

  • D E P O I M E N T O S U Z A N A G O N A L V E S

    A AGNCIA CONTAVA COM RECURSOS SUFICIENTES PARA CUMPRIR SUA MISSO?

    No, justamente porque acontecia o seguinte: havia naquela poca trs fundos a serem beneficiados o do ensino primrio, o do secundrio e o do superior mas os recursos para a educao eram to mesquinhos que acabavam nos graus inferiores, no chegavam ao ensino superior. Por isso, recorri ao Conselho Federal de Educao, que detinha a competncia de distribuio de fundos. A propsito, fui procurada na Capes pelo prof. Clvis Salgado, ex-ministro e membro do Conselho, que perguntou o que eu queria.' Respondi: "Quero que o CFE fixe o valor de correspondncia s atribuies Capes. No posso perder um ano que, inclusive, deve ser de-dicado composio da proposta oramentria do exerccio seguinte; numa economia de escassez, no se pode permitir o desperdcio. Gostaria, pois, que o pouco que fosse, pudesse ser aplicado com garantia de retorno certo." O esforo valeu, porque o CFE fixou a dotao. S a partir da que a Capes pde elaborar sua proposta de trabalho, ou seja, o oramento-programa, a ser encaminhado ao ministro da Educao que, por sua vez, o submeteria aos rgos prprios, para anlise e parecer, de forma a ser incorporado ao oramento do Ministrio.

    O dr. Ansio havia tentado obter do BID um emprstimo de quatro milhes de dlares. Logo que tive conhecimento, considerei uma oportunidade imperdvel.

    Porm havia um obstculo: o MEC no tinha competncia para receber emprstimos externos sem o aval de uma instituio financeira. Procurei o dr. Jos Garrido Torres, presidente do BNDES, e argumentei que, para uma poltica de desenvolvimento, educao no despesa, investimento fundamental.' Sem este enfoque global do problema, a urbanizao, que j se iniciara no pas, correria o risco de transformar em favelizao. O presidente do Banco, convencido, deu o aval de que a Capes necessitava.10

    A PUC LHE DEU ALGUM APOIO?

    Nenhum. Acho que ela prpria deve ter ficado espantada com minha nomeao e s a partir dali passou a refletir sobre o que era a Capes. No tenho falsa modstia, apenas Deus me ajudou, e as coisas deram certo. Consegui at mesmo mexer na folha de pagamento do pessoal, que fica-va por conta dos rgos de origem dos servidores cedidos Capes; por isso, os salrios, inclusive o do diretor-e