me processo civil - ii unidade - os títulos executivos

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Os títulos executivos Títulos executivos são aqueles que estão previamente definidos em lei. Esse é o chamado princípio da tipicidade legal do título executivo. Significa que cabe exclusivamente ao legislador conferir o caráter de título executivo a determinados documentos ou fatos. Eles são numerus clausus. Não podem as partes convencionar a esse respeito através de cláusulas que conduzam à execução forçada. Essa regra encontra fundamento na gravidade dos atos executivos, onde praticamente não há espaço para o contraditório. Portanto, as partes não podem pretender conferir a qualidade de título executivo a outros atos que não os estabelecidos pela lei. Os títulos executivos dividem-se em judiciais ou extrajudiciais. Trata-se de uma divisão entre atos estatais e afirmação feita pelo próprio devedor. Basicamente, não haverá diferença entre a execução por títulos judiciais ou extrajudiciais. A eficácia executiva é idêntica para todos os títulos. Entretanto, a conseqüência mais notória da distinção reside no grau de limitação das matérias suscetíveis de serem argüidas nos embargos, em se tratando de execução fundada em título judicial ou extrajudicial. As matérias suscetíveis de defesa do devedor na hipótese de execução baseada em título executivo judicial estão elencadas nos art. 741, ao passo que na execução baseada em título extrajudicial a amplitude é bem mais ampla, conforme estabelece o art. 745. Títulos executivos judiciais

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titulos executivos

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Os ttulos executivosTtulos executivos so aqueles que esto previamente definidos em lei. Esse o chamado princpio da tipicidade legal do ttulo executivo. Significa que cabe exclusivamente ao legislador conferir o carter de ttulo executivo a determinados documentos ou fatos. Eles so numerus clausus. No podem as partes convencionar a esse respeito atravs de clusulas que conduzam execuo forada. Essa regra encontra fundamento na gravidade dos atos executivos, onde praticamente no h espao para o contraditrio. Portanto, as partes no podem pretender conferir a qualidade de ttulo executivo a outros atos que no os estabelecidos pela lei.Os ttulos executivos dividem-se em judiciais ou extrajudiciais. Trata-se de uma diviso entre atos estatais e afirmao feita pelo prprio devedor. Basicamente, no haver diferena entre a execuo por ttulos judiciais ou extrajudiciais. A eficcia executiva idntica para todos os ttulos. Entretanto, a conseqncia mais notria da distino reside no grau de limitao das matrias suscetveis de serem argidas nos embargos, em se tratando de execuo fundada em ttulo judicial ou extrajudicial. As matrias suscetveis de defesa do devedor na hiptese de execuo baseada em ttulo executivo judicial esto elencadas nos art. 741, ao passo que na execuo baseada em ttulo extrajudicial a amplitude bem mais ampla, conforme estabelece o art. 745.

Ttulos executivos judiciaisTtulos executivos judiciais so formados com a participao de rgo do Poder Judicirio, traduzindo-se em ato estatal. Entretanto, h que se observar que o CPC no andou bem na discriminao dos ttulos executivos, no observando esse critrio bsico para distinguir entre as duas espcies de ttulos executivos. Assim, temos a sentena arbitral no rol dos ttulos judiciais, quando sabido que ela emanada do rgo de fora do Poder Judicirio. Por outro lado, temos como ttulos extrajudiciais o crdito por custas, emolumentos e honorrios assim considerados os que forem aprovados por deciso judicial. Mas, nesse ltimo caso, h mero controle e no provimento do juiz, condenando a parte a pagar. A despeito da aludida problemtica, alguns autores costumam falar em ttulos mistos como aqueles em que a norma jurdica individualizada tem seus elementos integrativos representados por documentao em parte de origem extrajudicial e em parte j com certificado judicial. Entretanto, de acordo com a diviso do CPC, so ttulos executivos judiciais os estampados no art. 584. O primeiro caso seria o da sentena condenatria proferida no processo civil. De acordo com o art. 162, 1., do CPC, sentena o provimento decisrio pelo qual o juiz extingue o processo. Em unssono, a doutrina afirma que a sentena condenatria proferida no processo civil o ttulo executivo por excelncia. Aps todo o processo de conhecimento no h espaos para questionamentos acerca do mrito da causa e a norma jurdica a ser executada est completa. Entretanto, h hipteses em que falte liquidez sentena condenatria, razo pela ser necessrio prvio processo de liquidao de sentena. Note-se que apesar da lei no se referir, entende-se que as sentenas declaratrias e constitutivas tambm comportam eficcia condenatria e podem ser executadas, pois veiculam condenao do vencido ao pagamento das custas judiciais e dos honorrios do advogado do vencedor. E relativamente a tais verbas de sucumbncia, aquelas sentenas funcionam como ttulo executivo.Importante observar que aps a reforma do CPC, apenas as obrigaes de pagamento de valor por quantia certa ainda so objeto da execuo tradicional. Quando a obrigao for de fazer, no fazer ou de entrega de coisa, a sentena de procedncia ser executada num incidente do processo de conhecimento, ou seja, ter eficcia mandamental e executiva lato sensu nos moldes dos arts. 461 e 461-A. Nesses casos, portanto, no ser considerada ttulo executivo judicial.A sentena penal condenatria transitada em julgado vale como ttulo executivo em eventual indenizao pelos danos causados pelo crime a ser buscada no juzo cvel. Assim, no ser necessrio novo processo, bastando a liquidao do valor devido. A eficcia executiva da sentena penal condenatria se d em favor da vtima e de seus herdeiros e em face do condenado e do seu esplio ou de seus herdeiros, se for o caso, no alcanando o terceiro que, embora possa ter responsabilidade pelos atos praticados pelo criminoso, no tem responsabilidade penal e, por isso mesmo, no foi parte na respectiva ao penal. Seria a situao do pai em relao aos danos causados pelo filho, do empregador pelo empregado, etc. Temos que contra este terceiro ser necessrio ajuizar ao de conhecimento nas vias ordinrias normais. Importante salientar tambm que nessa seara no existe espao para execuo provisria, uma vez que a sentena penal deve estar transitada em julgado. Por outro lado, no se impede o ajuizamento da demanda executria a revisibilidade pro reo a qualquer tempo da sentena criminal nos termos do art. 622 do CPP.Com relao comunicabilidade das instncias penal e civil, cumpre esclarecer, em sntese, que a absolvio no crime, por ausncia de culpa, no veda a ACTIO CIVILIS EX DELICTO. O que se obsta que se debata no juzo cvel, para efeito de responsabilidade civil, sobre a existncia do fato e sua autoria, quando tais questes tiverem sido decididas no juzo criminal.Outro ttulo executivo judicial a sentena homologatria de conciliao ou de transao, ainda que verse sobre matria no posta em juzo. A inteno do legislador foi a de incentivar as formas amigveis de composio dos litgios. A nova redao do dispositivo foi dada pela Lei 10.358, de 27/12/2001. Essas sentenas no contm julgamento acerca do mrito da demanda, mas atribui eficcia aos atos negociais realizados pelas partes. importante observar que essas sentenas homologatrias s tero eficcia executiva desde que resulte para uma das partes um dever de realizar uma prestao. Excluem-se quelas que impliquem somente em renncia ao direito. A reforma aumentou o alcance desse dispositivo ao afirmar que a transao homologada ttulo executivo ainda quando verse sobre pretenso no posta em juzo. De acordo com o art. 57 da Lei 9.099/95, os acordos extrajudiciais de qualquer natureza ou valor, ainda que realizados fora de qualquer processo, so suscetveis de serem homologados pelo juiz competente e possuem eficcia de ttulos executivos judiciais.O quarto ttulo executivo judicial a sentena estrangeira, homologada pelo Supremo Tribunal Federal. Desde que compatvel com o ordenamento jurdico brasileiro e no atentando contra os bons costumes e a soberania nacional, a sentena estrangeira passvel de ser executada no Brasil. A homologao dessas sentenas era tarefa do STF de acordo com o previsto no art. 102, inc. I, letra h, at o advento da Emenda Constitucional 45/2004. Aps a chamada "Reforma do Judicirio", essa tarefa ficou a cargo do STJ na nova redao conferida ao art. 105, inc. I, letra i, da Carta Magna. A competncia para a execuo das sentenas estrangeiras homologadas dos juzes federais de primeiro grau (art. 109, X, CF).O inciso V traz como ttulo executivo o formal e a certido de partilha. Trata da transferncia de bens em virtude de sucesso causa mortis. A partilha de bens, em inventrio ou arrolamento, se homologa por sentena, da a razo de estar entre os ttulos executivos judiciais. representada pelo formal ou certido. De acordo com o pargrafo nico do art. 584, a fora executiva s tem eficcia em relao ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a ttulo universal ou singular. Portanto, se tais bens estiverem em poder de terceiro, toca ao herdeiro propor ao reivindicatria (processo de conhecimento).

O sexto e ltimo inciso do Art. 584 inclui como o ttulo executivo judicial a sentena arbitral. A arbitragem foi instituda pela Lei 9.307/96 e consiste no procedimento em conflitos que versem sobre direitos disponveis sejam resolvidos por terceiros particulares escolhidos de comum acordo pelos contratantes. Tambm de acordo com o art. 31 da Lei da Arbitragem, a sentena arbitral ser ttulo executivo quando contiver eficcia condenatria. Entretanto, o contedo da sentena arbitral vulnervel analise do Poder Judicirio sobre os aspectos da sua regularidade. Outros dispositivos legais esparsos tambm podem criar ttulos executivos judiciais. A doutrina cita como exemplo a deciso no procedimento monitrio que concede o mandado de cumprimento caso no haja embargos ou se estes forem rejeitados.

3. Ttulos executivos extrajudiciais O ttulo extrajudicial prescinde de prvia ao condenatria. Conforme afirmou PONTES DE MIRANDA, ele "no tem antecedncia, mas antecipa-se sentena de cognio". De acordo co o pensamento de DINAMARCO, os ttulos executivos extrajudiciais "so os atos da vida privada aos quais a lei processual agrega tal eficcia e assim tambm so as inscries de dvida ativa". Note-se que o ttulo extrajudicial prescinde de prvio processo de conhecimento. Em razo disso, o grau de eficcia desse tipo de ttulo diminui consideravelmente na medida em que se amplia a matria de defesa permitida ao devedor atravs de embargos. O rol dos ttulos executivos extrajudiciais est no art. 585 do CPC.Inicialmente, o primeiro inciso do art. 585 trata dos ttulos cambiais ou de crdito. Os ttulos de crdito so instrumentos criados para facilitar a circulao de riquezas. Como diz ARAKEN DE ASSIS, "larga a casustica em torno dos pressupostos de exeqibilidade, legitimidade passiva, competncia, nus da prova e profundidade da cognio nos embargos", no que se refere s letras de cmbio e notas promissrias. J o cheque regido pela Lei 7.357, de 02/09/1985. A duplicata regulada pela Lei 5.474/68. Os ttulos cambiais so dotados de caractersticas prprias que os diferenciam dos demais ttulos extrajudiciais, visto que possui caractersticas como a literalidade, o formalismo, a autonomia, a abstrao e a circulao. Importante tratarmos de alguns conceitos iniciais antes de analisar as peculiaridades desses ttulos executivos extrajudiciais. 1) Letra de cmbio: uma ordem de pagamento em que algum chamado sacador (credor) se dirige a outrem denominado sacado (devedor) para pagar a terceiro (beneficirio da ordem). Em outros termos, a ordem dirigida ao devedor para que pague a dvida em favor de terceiro. 2) Nota promissria: promessa de pagamento emitida pelo prprio devedor em favor do credor. 3) Cheque: uma ordem de pagamento vista em favor do credor emitido por uma pessoa (devedor) contra uma instituio bancria. O cheque e a nota promissria independem de protesto. O protesto ser necessrio apenas para tornar a promissria exigvel frente a endossadores e respectivos avalistas. 4) Debnture: ttulo de crdito emitido por sociedade annima a fim de obter emprstimos junto ao pblico, expandindo seu capital. Gozam de privilgio geral em caso de falncia. Cada debnture ttulo executivo pelo valor que indica, dando oportunidade para a execuo por quantia certa. 5) Duplicata: trata-se de ttulo de crdito emitido em favor do vendedor ou prestador de servio contra o adquirente da mercadoria ou do servio. A duplicata circulvel via endosso. A prescrio da letra de cmbio, da nota promissria e da duplicata ocorre em trs anos da data do vencimento. J o cheque prescreve em seis meses aps o termo do prazo de apresentao que de 30 dias quando pagvel na mesma praa e de 60 dias quando emitida numa praa para ser pago em outra. Ocorrendo a prescrio, o crdito cambirio deixa de existir.Por fim, insta lembrar que se faltar algum requisito essencial aos ttulos de crdito no permitido ao credor a via executria em face da caracterstica da literalidade e do formalismo dos ttulos cambiais, mas desde j se abre o caminho da tutela monitria (arts. 1.102 e ss.), valendo-se da crtula como documento que autoriza essa via diferenciada.Passando para o inciso II, importante frisar que a reforma ampliou sensivelmente o alcance deste de forma a abranger vrias espcies de documentos. Na realidade, pela redao atual desse dispositivo, podemos considerar como ttulos executivos extrajudiciais todos os atos jurdicos documentados por escrito, desde que presentes os requisitos da liquidez e da certeza, conforme se ver. O primeiro seria a escritura pblica ou outro documento pblico assinado pelo devedor. O documento particular assinado pelo devedor e por duas testemunhas tambm tem fora executiva. Na realidade, trata-se do ato praticado pelo devedor assumindo uma obrigao e a promessa de cumpri-la. Entretanto, o CPC condicionou a eficcia executiva de tais documentos assinatura de duas testemunhas. O inciso II ainda trata da executividade do instrumento de transao referendado pelo Ministrio Pblico, pela Defensoria Pblica ou pelos advogados dos transatores. So os chamados atos referendados em que esto includos todos os atos pelos quais os litigantes se compem para a soluo de uma situao conflituosa. Para DINAMARCO, o inciso III um "aglomerado heterogneo de negcios jurdicos", afinal, em um s dispositivo, o legislador enumerou oito figuras de ttulos executivos. Os contratos de cauo ou de garantia previstos nesse dispositivo configuram o ajuste que visa dar ao credor uma segurana de pagamento. Desdobram-se em duas classes: os de garantia real e os de garantia pessoal. Hipoteca, penhor e anticrese so direitos reais de garantia sobre coisas alheias previstos no Cdigo Civil. So meios do credor da obrigao assegurar a responsabilidade patrimonial de certos bens do devedor. A hipoteca tem como garantia um bem imvel; no penhor se d em garantia um objeto mvel mediante a efetiva entrega ao credor; e a anticrese consiste na entrega ao credor um imvel para que este perceba os frutos e rendimentos dele provenientes para compensao da dvida. Note-se que a hipoteca, o penhor e anticrese no impedem a penhora do bem por outro credor que no o com garantia real. Entretanto, esse credor quirografrio tem o nus de intimar o credor preferencial sob pena de ineficcia da penhora. Por fim, o inciso III deixa claro que os contratos de seguro tambm do ensejo execuo forada, sejam eles de vida ou de acidentes pessoais. Nesses casos, a liquidez desses ttulos extrajudiciais pode ficar condicionada a documentos ou declaraes posteriores celebrao do contrato, como a certido de bito ou o atestado mdico.Para ARAKEN DE ASSIS, o inciso IV contempla as chamadas "rendas imobilirias" e o "encargo de condomnio". O foro a verba anualmente paga pelo enfiteuta ao proprietrio como prestao pelo domnio til do imvel na enfiteuse da lei civil. Entretanto, o Novo Cdigo Civil proibiu expressamente a figura da enfiteuse (art. 2.038, caput). Por fim, as despesas de condomnio tambm encontram sua fora executiva no largo espectro da lei processual civil brasileira desde estejam devidamente documentados pelo sndico. De acordo com a lei do inquilinato, despesas de condomnio so aquelas necessrias administrao das reas comuns, manuteno de elevadores, equipamentos em geral, etc. (art. 23, 1.). O inciso V aborda sobre o crdito de serventurio de justia, de perito, de intrprete, ou de tradutor, quando as custas, emolumentos ou honorrios forem aprovados por deciso judicial. Trata dos crditos dos auxiliares da justia aprovados por deciso judicial. Entretanto, como alerta WAMBIER, essa deciso " dada incidentalmente no curso do processo em que esses auxiliares da justia trabalharam: no provimento resultante de discusso em contraditrio, nem necessariamente homologatrio do consenso entre os envolvidos" . Auxiliares da justia so os serventurios, como o escrivo, os oficiais de justia, o contador, o avaliador, o distribuidor, o porteiro, bem como o perito, intrprete e tradutor. O devedor das custas ser a parte vencida no processo. Os valores a cobrar sero somente aqueles que j no foram adiantados no curso do processo.O inciso VI traz a figura da certido de dvida ativa da Fazenda Pblica da Unio, Estado, Distrito Federal, Territrio e Municpio, correspondente aos crditos inscritos na forma da lei. De acordo com Teori Albino ZAVASCKI, "considera-se dvida ativa da Fazenda Pblica qualquer valor cuja cobrana seja atribuda, por lei, Unio, aos Estados, ao Distrito Federal, aos Municpios ou s suas autarquias, independentemente de se tratar de dvida tributria ou no" O inciso VII fecha o estudo dos ttulos executivos extrajudiciais remetendo legislao extravagante. Entretanto, resta reafirmado o princpio da tipicidade dos ttulos executivos, conforme visto no incio.