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MEDIÇÃO DE DESEMPENHO AMBIENTAL PELA CCFM EM
UMA INDÚSTRIA DE EMBALAGENS PLÁSTICAS DE ALIMENTOS
Área temática: Gestão Ambiental & Sustentabilidade
Marcell Maceno
Urivald Pawlowsky
Raphael Cardoso
Resumo: Este trabalho teve como objetivo medir o desempenho ambiental através do uso da ferramenta CCFM a
uma empresa do setor plástico com o intuito de reduzir a perda de material ocorrida no fluxo produtivo da
organização. A aplicação da metodologia foi baseada no conteúdo apresentado na ISO 104051 de 2013 e teve como
objeto de estudo a fabricação de copos plásticos termoformados. Os resultados apresentados na pesquisa evidenciaram
uma perda de material de 42 % ao final do processo, com maior porcentagem associada ao processo de
termoformagem. Do ponto de vista dos custos analisados na metodologia, verificou-se que a maior parcela dos gastos
pertence também ao processo de modelagem dos produtos. O estudo procurou mostrar a eficiência ao se utilizar a
CCFM na busca pela redução de custos com a perda de material e também melhoria da gestão de resíduos da
organização.
Palavras-chaves:
1. INTRODUÇÃO
ISSN 1984-9354
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A quantidade de material que resulta de um processo produtivo e que não é destinada ao produto pode
ser relevante quando salientamos os custos necessários para o tratamento desse resíduo. No processo
de eliminação de falhas e desperdícios, o controle e mensuração das perdas são vitais, pois estas
podem ocorrer em qualquer processo produtivo, em qualquer tipo de organização, pelas mais variadas
causas e nos mais diferentes pontos do processo (GOULART E ROSA, 2004).
As empresas que promovem a gestão da sustentabilidade enfatizam em alcançar simultaneamente o
aumento dos lucros e a redução do impacto ambiental. Uma ferramenta que pode auxiliar a atingir essa
simultaneidade é a Contabilidade de Custos em Fluxo Material (CCFM) (NAKAJIMA, 2006).
Segundo Kokubo (2010) a CCFM é definida como um dos métodos de contabilidade de gestão
ambiental que visa reduzir ao mesmo tempo os custos e o impacto ambiental através da redução de
resíduos. Com este método é possível visualizar e quantificar as perdas de materiais e transferi-las para
o foco da tomada de decisões gerenciais, ou seja, desenvolver uma melhoria na transparência global do
fluxo de materiais em termos físicos e monetários. (SYGULLA et al., 2011). Diferentemente da
contabilidade de custos convencional, este método trata a perda de material como um objeto de custo e
calcula os custos da perda de materiais e todos os custos de processamento associados com essa perda.
O método também incrementa demais custos para análise, como o de sistema, energia e da gestão de
resíduos, todos alocados a perda de material. Essa abordagem acentua os custos com a perda de
material e as ineficiências existentes no processo, na tentativa de prover a atenção da gerência para
esses custos. (ISO 14.051, 2013).
Para isso, todos os insumos (materiais, energia, água e demais componentes) e saídas (produtos
primários/ subprodutos, resíduos, efluentes e emissões) são determinados dentro de um centro de
quantidade, que significa uma parte ou partes selecionadas de um processo para o qual entradas e
saídas são quantificadas em unidades físicas e monetárias (ISO 14.051, 2013). As entradas de
materiais no processo são classificadas como positive products e as saídas como negative products
(FAKOYA E POLL, 2012). Um cálculo é realizado em função do material, energia e sistema, para
definição dos seus custos e para a determinação dos custos que serão embutidos nos produtos e na
perda de material. (HYRŠLOVÁ et al., 2011).
A aplicação da CCFM pode contribuir na gestão de custos das empresas e proporcionar vantagens
como a redução da geração de resíduos que leva proporcionalmente para a redução do consumo e custo
com materiais, o aumento da eficiência nas operações de processamento e tratamento de resíduos e
uma melhor prática da gestão ambiental na empresa possibilitando a redução do impacto ambiental na
indústria de transformação (KOKUBO, 2010). Nesse contexto, este artigo teve como objetivo medir o
desempenho ambiental pela CCFM em uma indústria de embalagens plásticas de alimentos do estado
do Paraná. Segundo o perfil estatístico 2013 da Associação Brasileira da Indústria Plástica, o estado
ocupa a terceira posição em número de empresas de transformados plásticos (ABIPLAST, 2013).
2. O Método CCFM
O método da Contabilidade de Custos em Fluxo Material (CCFM) foi criado recentemente por
pesquisadores alemães e japoneses, sendo que, devido a relevância do tema, a ISO (International
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Standard Organization) elaborou a norma ISO 14.051, publicada em 2011, detalhando como funciona
o método. No Brasil, esta norma chegou em 2013 através da ABNT. O objetivo principal da CCFM é
utilizar o balanço material e balanço de energia, em conjunto com os valores de custos, para realizar a
contabilidade ambiental de uma empresa (NBR ISO 14.051, 2013). A contabilidade dos custos dos
fluxos visa detectar todos os fluxos de materiais através dos centros de custos das empresas, reavaliar
os custos de produção e as quantidades percentuais adicionadas nas várias fases da fabricação, acentua
o estudo da Divisão para o Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas (NAÇÕES UNIDAS,
2001). Segundo Trappey et al. (2013), a CCFM pode ser aproximado a um sistema de informação
especializado em traçar todas as entradas de fluxos materiais e mensurar todas as saídas, possibilitando
a empresa minimizar seu impacto ambiental e reduzir os custos.
A aplicação da CCFM pode contribuir na gestão de custos das empresas e proporcionar vantagens
como a redução da geração de resíduos que leva proporcionalmente para a redução do consumo e custo
com materiais, o aumento da eficiência nas operações de processamento e tratamento de resíduos e
uma melhor prática da gestão ambiental na empresa possibilitando a redução do impacto ambiental na
indústria (KOKUBO , 2010).
A CCFM é uma ferramenta de auxilio a tomada de decisões das partes interessadas e sua
implementação requer um planejamento contínuo e de qualidade para que todas as etapas sejam
executadas. O modelo PDCA desenvolvido pelo estatístico americano Walter A. Shewhart e
popularizado por W. Edwards Deming (ANDRADE E MELHADO, 2004) pode ser utilizado em
conjunto à CCFM aumentando a qualidade da avaliação da ferramenta e fornecendo informações úteis
para a organização.
O envolvimento da gestão e da determinação dos conhecimentos necessários são os passos iniciais
dentro do módulo PLAN, pois ajudam a criar uma base de aceitação e disponibilidade de competências
para outras etapas de implementação de CCFM. (SCHMIDT, 2013). Antes que uma análise de CCFM
seja executada, uma fronteira deve ser definida contendo um processo, múltiplos processos, toda uma
instalação, ou uma cadeia de suprimentos (NBR ISO 14.051, 2013). Além disso, a especificação de um
período de tempo é necessária para a obtenção de dados significativos podendo ser, por exemplo, um
mês ou um ano ou o tempo necessário para o fabrico de um lote de produção (SCHMIDT, 2013). A
identificação dos centros de quantidades deve ser estimada para configurar o modelo de fluxo de
material. (SYGULLA et al., 2011), (HYRŠLOVÁ et al., 2011).
Seguindo para próxima fase do PDCA, as entradas e saídas de material de um centro de quantidade, os
valores de material, energia, sistema e da gestão de resíduos são identificados em unidades físicas e em
valores monetários (NBR ISO 14.051, 2013). A etapa de verificação inicia-se com o resumo dos dados
da CCFM utilizando-se, por exemplo, de balanços de materiais, matriz de custo ou diagramas de
Sankey para comunicação dos resultados CCFM. Ao final do ciclo, as oportunidades de melhorias para
redução de desperdício são identificadas e avaliadas pela gestão. A Figura 1 apresenta as etapas de
implementação da CCFM com base no ciclo PDCA.
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Figura 1 - Ciclo PDCA adaptado para a implementação da CCFM.
Fonte: Adaptado de ISO 14.051 (2013).
O processo de implementação da CCFM pode ser verificado através da análise da Figura 2, que
apresenta um novo conceito relacionado ao método e também a ideia de balanço material, o Centro de
Quantidade (CQ), que é uma parte ou partes selecionadas de um processo para o qual entradas e saídas
são quantificadas em unidades físicas e monetárias. (NBR ISO 14.051, 2013). O CQ é caracterizado
por uma entrada de material/energia, uma transformação e uma saída material/energia, considerando
também aqueles materiais já existentes dentro deste centro. As entradas de materiais no processo são
classificadas como positive products e as saídas como negative products (FAKOYA E POLL, 2012).
Um cálculo é realizado em função do material, energia e sistema, para definição dos seus custos e para
a determinação dos custos que serão embutidos nos produtos e na perda de material. (HYRŠLOVÁ et
al., 2011). Observa-se apenas que a Figura 2 apresenta apenas um balanço de massa para simplificar o
entendimento do modelo.
Figura 2 - Fluxo material em um centro de quantidade na CCFM.
Fonte: Adaptado de ISO 14.051 (2013)
Utilizando-se a Lei de Conservação das Massas apresentada por Lavoisier, matéria e energia não
podem ser criadas nem destruídas, somente transformadas, ou seja, as entradas físicas em um sistema
deveriam ser iguais às saídas físicas do sistema, levando em consideração quaisquer alterações de
inventários dentro do sistema. (NBR ISO 14.051, 2013). Assim para garantir que todos os materiais
sejam levados em conta, o balanço de materiais poderá ser executado comparando as quantidades de
entradas de materiais às saídas (produto e resíduos) e alterações no inventário para identificar
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potenciais materiais significativos que estejam faltando ou outras lacunas nos dados. (NBR ISO
14.051, 2013).
Neste exemplo, considera-se que ocorre a entrada no CQ de 95 kg de um material, porém já existe
dentro do CQ 15 kg deste material. Após o processamento obtêm-se 70 kg de produto, 30 kg de
resíduo e 10 kg de sobra de material que permanece no CQ. Quando estes dados são relacionados com
os custos para que o processo ocorra, faz-se a contabilidade de custos ambientais, a qual pode ser
verificada na Figura 3.
Neste caso, a quantidade inicial de material (95 kg) correspondia a um custo de R$ 950,00. Na etapa
de processamento no CQ, houve o custo de energia, o custo do sistema e o custo da gestão dos
resíduos, nos valores de R$ 50,00 , R$ 800,00 e R$ 80,00, respectivamente. Além disso, já existia uma
quantidade material no CQ no valor de R$ 150,00, sendo usado apenas 5 kg dela para transformação
em produto e perdas.
Figura 3 - Exemplo de contabilidade de custo material para um CQ hipotético.
Fonte: Adaptado da ISO 14.051 (2013).
No balanço de produto os custos obtidos foram de R$ 700,00 para materiais correspondente aos 70 kg,
R$ 35,00 do custo de energia, correspondente a 70 % do custo de energia no CQ, e R$ 560,00 dos
custos do sistema, também na mesma relação da energia no CQ. O balanço de perda de material teve
R$ 300,00 de custos materiais, dado os 30 kg de massa de perda, R$ 15,00 de custos de energia,
referente à 30 % dos custos de energia no CQ, os custos de sistema de R$ 240,00, na mesma relação de
percentagem da energia no CQ, e o custo de gestão de R$ 80,00, alocado 100 % do valor presente
deste custo do CQ dado que só na massa de perda que existirá gestão de resíduos.
Os custos totais de produto e perda de material foram de R$ 1295,00 e R$ 635,00, respectivamente. Ou
seja, se for reduzido a perda material, parte de valor será realocado no produto, aumentando o
rendimento de transformação matéria prima-produto. Desta forma, o modelo considera que, se os
restos forem otimizados e reduzidos, o impacto ambiental do processo será reduzido, e a empresa
também obterá uma redução de custos ambientais pelo aumento do rendimento do processo.
Quando se estende a análise de contabilidade de custos para um processo completo em uma empresa
qualquer, este pode ser dividido em diversos centros de quantidade, a serem analisados
individualmente, para posterior geração de uma resposta global do todo da empresa. Uma distribuição
genérica de centros de quantidade conforme previsto no método pode ser visualizada na Figura 4.
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Figura 4 - Esquema geral de distribuição de centros de quantidade em um processo qualquer, para
análise da contabilidade de custos de fluxo material.
Fonte: Adaptado ISO 14.051 (2013).
3. Metodologia da Pesquisa
O método adotado de pesquisa foi à observação direta em campo, a coleta de dados e o registro de
variáveis. O período verificado para levantamento dos dados foi baseado em um lote de produção do
produto analisado. As variáveis identificadas durante observação foram informadas segundo os
operadores de cada processo e também os registros de produção. Após levantamento das informações,
partiu-se para aplicação da ferramenta no intuito de descobrir se existem melhorias, durante o fluxo do
material, que possam ser aplicadas e que reduzam os custos com a perda de material da empresa.
4. Resultados e Discussão
Os resultados obtidos neste estudo foram divididos entre a descrição da empresa em análise e seu
processo produtivo, a aplicação da CCFM para avaliação do processo e a proposta de melhorias para a
empresa.
4.1 A Empresa e o Processo Produtivo
A empresa em estudo é uma multinacional produtora de embalagens plásticas para alimentos, com
plantas indústrias presentes no Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. A unidade fabril em que foi realizada
a aplicação da CCFM situa-se na Região Metropolitana de Curitiba, com foco de produção em
embalagens de alimentos e de produtos de higiene pessoal. O processo de fabricação estudado refere-
se à produção de copos de lácteos fermentados de 150 mL da cor branca, tendo como matéria prima
base o polipropileno (PP), termoplástico derivado do propeno de fácil moldagem quando aquecido.
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O início do processo de fabricação ocorre com o recebimento e estocagem da matéria prima a ser
utilizada na produção, o Polipropileno. Recebida uma ordem de produção de copos, uma quantidade de
insumo contendo polipropileno é expedida do estoque e enviada á maquina extrusora para formação de
chapas plásticas. No início da máquina existe um silo misturador que granula o polipropileno. Os grãos
do material são derretidos a 230° C e moldados para a formação da chapa plástica. Na sequência, a
chapa é resfriada por jatos pulverizados de água desmineralizada bobinado por cilindros de rotação. As
sobras da chapa produzida são trituradas e estocadas para reaproveitamento do polipropileno em nova
extrusão. Para execução da atividade de extrusão existe um funcionário como operador de máquina. As
bobinas produzidas seguem para termoformagem dos copos plásticos. Ao iniciar este processo, a
bobina é desenrolada e aquecida à 230° C, seguindo para a sessão de moldagem, em que um bloco
metálico é pressionado a chapa para formação dos copos. Posteriormente ocorre o resfriamento destes
copos através de água desmineralizada. O resíduo da termoformagem, chamado de grelha, segue para
trituração e estocagem para posterior reenvio ao derretimento plástico. Nesta unidade, assim como na
extrusão, existe um funcionário operador de máquina. Ao final do processo de produção foi verificada
a saída de copos plásticos com deformações e ausência de contaminação, os quais eram enviados para
reprocesso pela empresa, e copos plásticos contaminados com graxa do maquinário, o qual seguia para
descarte por empresa terceirizada.
4.2 O Inventário de Dados e a Aplicação da CCFM
Para o inventário de dados da CCFM a extrusão e termoformagem foram determinadas como os
centros de quantidade (1) e (2), respectivamente, pois em cada processo existe uma entrada e saída de
material, e cada etapa do processo há um custo de energia, sistema e gestão de resíduos. A fronteira
estimada para base da CCFM foi definida da inserção do polipropileno no silo misturador até a
obtenção dos copos plásticos moldados.
As informações de entradas e saídas foram baseadas nas informações contidas em ordens de produção
para as duas máquinas. As sobras da chapa plástica e a grelha foram os tipos de resíduos observados
durante o processamento do produto final e para a análise da CCFM, estes materiais serão
considerados como perdas de material. O valor do custo de material foi obtido de acordo com um preço médio de compra do kg do
polipropileno informado pela empresa. Todo o fluxo de material é custeado considerando esse preço
médio e é apresentado na Figura 5.
Figura 5 - Fluxo de materiais e custos da CCFM aplicada ao processo de produção de copos plásticos.
O preço médio de um operador de máquina definido pela empresa é de aproximadamente R$ 8,52 a
hora, para o primeiro turno de trabalho. A fábrica funciona de segunda a sábado, iniciando sua
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produção no terceiro turno de domingo.
A potência de cada máquina foi levantada de acordo com o tipo de maquinário utilizado e informada
pelo operador do setor. A máquina extrusora possui potência de 150 kW e a máquina de
termoformagem potência de 425 kW. O tempo de produção informado foi de 13,7 horas para a
extrusão e 29,4 horas para a termoformagem. O valor referente ao preço do kW.h foi baseado no banco
de taxas e tarifas da Companhia Paranaense de Energia para indústrias do tipo B3 convencional, já
embutido neste valor o custo com ICMS e o PIS/COFINS.
A gestão de resíduos para esse processo consiste em reutilizar as sobras do material, adicionando-os a
produção de grãos de polipropileno. As máquinas que trituram o material possuem potência de 2,2 kW
e fazem em média a moagem de 50 kg de sobra de material por hora, sendo monitoradas por um
operador da máquina de extrusão e um operador da máquina de termoformagem. Para alocação dos
custos de energia, custo de sistema e custo com a gestão de resíduos a produtos e perdas em cada CQ,
foram utilizados os critérios de porcentagem de distribuição de material e perda de material de 88,5% e
11, 5% respectivamente para o CQ1 e de 66,08% e 33,92 % para o CQ2, calculados conforme a
distribuição material da Figura 5. Estes custos são apresentados na Tabela 1.
Tabela 1 - Alocação dos custos de energia, de sistemas e de gerenciamento de resíduos para cada CQ.
Tipo de Custos Custo Unitário Unidade CQ1 CQ2
Custos de Energia 0,490978 R$/KW.h R$ 1.008,96 R$ 6.145,20
Chapa PP
Perda PP
R$ 892,95
R$ 116,01
R$ 4.060.75
R$ 2.084,45
Custos de Sistema 8,52 R$/h R$ 116,72 R$ 250,91
Copo PP
Perda PP
R$ 103,30
R$ 13,42
R$ 165,80
R$ 85,11
Os resultados com a implantação da CCFM são resumidos na Tabela 2. Para cada centro de quantidade
analisado, foram alocados os custos totais de material, energia, sistema e da gestão de resíduos.
Tabela 2 - Tabela da matriz de custos de fluxos materiais.
CQ1
Custo
Material
Custo
Energia
Custos de
Sistemas
Custo de gestão de
resíduos
Total
Entradas de CQ prévio - - - - -
Novas Entradas na CQ R$20.422,92 R$1.008,96 R$116,72 R$76,03 R$21.624,64
Total em cada CQ R$20.422,92 R$1.008,96 R$116,72 R$76,03 R$21.624,64
Chapa PP R$18.074,64 R$892,95 R$103,30 - R$19.070,89
Perda PP R$2.348,28 R$116,01 R$13,42 R$76,03 R$2.553,75
Custos totais da perda de material nesse
processo
- - - - -
Custos totais nesse processo - - - - -
CQ2
Entradas de CQ prévio R$18.074,64 R$892,95 R$103,30 - R$19.070,89
Novas Entradas na CQ - R$5.252,26 R$147,61 R$198,51 R$5.598,38
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Analisando a Tabela 2, pôde-se verificar que com o custo total de perda de PP de R$ 8.479,19, 55%
desse valor é proveniente do custo de material do processo dois, visto que nessa fase há maior
quantidade de perda de material. O Grafico 1 reforça a informação de que 80 % de todos os custos
apresentados pela CCFM estão concentrados no CQ2.
Gráfico 1 - Proporção de custos para perdas de material para o processo.
Através da aplicação do Diagrama de Sankey a CCFM, é possível visualizar os fluxos de matéria e
energia e seus correspondentes custos ao longo dos centros de quantidades, conforme Figura 6.
Total em cada CQ R$18.074,64 R$6.145,20 R$250,91 R$198,51 R$24.669,27
Copo PP R$11.943,73 R$4.060,75 R$165,80 - R$16.170,29
Perda PP R$6.130,91 R$2.084,45 R$85,11 R$198,51 R$8.498,98
Custos totais da perda de material nesse
processo
R$8.479,19 R$2.200,46 R$98,53 R$274,54 R$11.052,72
Custos totais nesse processo R$20.422,92 R$6.261,22 R$264,34 R$274,54 R$27.223,01
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Figura 6 - Diagrama sankey com base na matriz de custo de fluxo de material.
4.3 Propostas de melhoria
De acordo com os resultados apresentados da matriz de custo da CCFM, o segundo centro de
quantidade apresentou o maior valor em quantidade de perda de material. Avaliando os custos,
percebeu-se que daqueles envolvidos com material, energia, sistema e tratamento de resíduos, 77%
pertencem a esse centro de quantidade. O maior peso dessa porcentagem ficou inserido nos custos de
material, e isso se justifica devido à quantidade de sobra de material derivada desta etapa.
Os custos com a gestão de resíduos consequentemente permaneceram superiores nessa etapa, se
comparada ao centro de quantidade 1. Como a máquina trituradora faz em média 50 kg de material
triturado por hora, o tempo gasto para triturar aproximadamente 1.034 kg de material torna-se
considerável quando se analisa o custo de energia e mão de obra envolvida.
Ao considerar o resíduo do CQ 2, correspondente a grelha, foi constatado que as margens laterais que
não foram moldadas podem representar uma área considerável de sobra quando se compara todo o
comprimento da bobina. Ao questionar o operador sobre o tamanho das chapas que entram na máquina
de termoformagem, percebeu-se que a empresa não considera a unidade de medida em metros para as
chapas e bobinas, mas somente o peso destas. Porém, após a termoformagem dos copos, a produção
passa a ser mensurada a cada mil copos produzidos e vendida com base nesse valor, ou seja, pelo
milheiro de copos.
Como forma de reduzir a área de sobra de material após a termoformagem, foi proposta a utilização de
outra unidade de medida para as bobinas. Ao invés de considerar apenas o peso do material que será
termoformado, o uso de área de chapa em m2 total de bobina pode ser útil quando se quer analisar
medidas exatas da chapa ou da área de corte. Com essa nova unidade de medida, é possível
dimensionar o tamanho real da chapa em relação a zona efetiva de corte. Para isso foram coletadas
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informações quanto ao tamanho do molde e do copo termoformado. O diâmetro aproximado do copo é
de 10,14 cm e cada espaçamento entre os moldes da ordem de 0,05 cm.
A largura de chapa possui média de 1 m para a fabricação dos copos plásticos e o molde utilizado na
termoformagem possui medidas de 55 cm de comprimento por 82 cm de largura, conforme Figura 7.
As sobras laterais possuem aproximadamente 9 cm cada, sendo que toda a área que compõe a grelha
final é enviada a máquina trituradora para reprocesso.
Figura 7 - Representação das dimensões da grelha.
Como forma de reduzir a quantidade de material a ser reprocessado, foi proposta a redução da chapa
de 1 m para 85 cm. O Gráfico 2 mostra que com o redimensionamento em 15 cm na chapa a redução
de sobra de plástico fica na ordem de 36%. Desta forma, é possível afirmar que um ganho será
acrescentado ao processo na redução da quantidade de sobra de material a ser triturada e que
consequentemente levará a uma redução nos custos com o reprocesso.
Gráfico 2 - Área de sobra de material em cm
2.
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5. CONCLUSÕES
Este estudo teve como foco apresentar a aplicação de uma nova metodologia no campo da
contabilidade de custos ambientais por meio da evidenciação dos gastos ocorridos durante o fluxo de
materiais de um processo. A ferramenta difere da contabilidade convencional por embutir os custos da
transformação do produto também nas perdas de materiais. O centro de quantidade apresentado nessa
metodologia permite rastrear todos os tipos de custos envolvidos naquele centro e rateá-los ao produto
e não produto de forma proporcional a saída de materiais. Os dois centros de custos analisados nos
estudo puderam demonstrar bem a perda de material ocorrida e os custos necessários para a
transformação do material.
Com a aplicação da CCFM na empresa estudada, pode-se verificar a eficiência da ferramenta em
detectar os custos envolvidos aos resíduos e de como estes custos interferem no processo da
organização. Os resultados apresentados na matriz de custo da CCFM reforçam a preocupação em se
rastrear todo o fluxo de material em um processo produtivo para que assim, soluções de minimização
de custos sejam elaboradas e implementadas ao processo executando um ciclo PDCA.
No estudo apresentado, os dados finais da CCFM mostraram que o segundo centro de quantidade
apresentava maior valor de resíduo, e consequentemente, os maiores custos para tratamento desse item.
Como proposta para redução da quantidade de sobras de material durante a CQ2, foi proposto o
dimensionamento da chapa, adequando esta a zona efetiva de moldagem. A nova medida da lateral da
chapa reduziu a área de sobra de material em 36%, e proporcionalmente a redução dessa porcentagem
em quilos de material. Como a empresa analisada, possuía um sistema de reaproveitamento total de
material, o fator do estudo ponderou-se em torno da redução do retrabalho com a sobra de material e
consequentemente da redução da energia e mão de obra.
Os indicadores de desempenho acrescentados à proposta de melhoria proporcionam melhor
visualização para a organização quanto à perda de material e quanto aos gastos durante os processos de
fabricação. Elaborar painéis com a informação desses indicadores aumenta a riqueza de informações
ambientais da empresa e que posem ser divulgadas como meta de sustentabilidade a ser alcançada.
Por fim, a CCFM comprovou ser uma eficiente ferramenta no apoio à gestão para redução de custo e
promoção da sustentabilidade, visto que além da preocupação em reduzir gastos com material, energia,
mão de obra e demais custos, a metodologia acrescenta todos esses valores a perda de material e de um
certo modo , chama a atenção da organização para a redução dessa perda.
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6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABIPLAST. Perfil 2013 da Indústria brasileira de transformação de material plástico. São Paulo, 2013.
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Contabilidade dos custos de fluxos de material: Estrutura Geral, Rio de Janeiro, 2013.
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