mensalão do pt - recebimento da denúncia

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Seção de Processos Diversos do Plenário

TERMO DE ABERTURA

Em fl de h w h M de &@=J , fica formado o 58% volume dos presentes autos (a) b-4 &S que se

inicia à folha no /&,3?& . Seção de Processos Diversos do Plenário Eu, , Analista/Técnico Judiciirio, lavrei este termo.' /

Page 8: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007 TRIBUNAL PLENO

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

RELATOR : MIN. JOAQUIM BARBOSA AUTOR(A/S)(ES) : MINISTÉRIO PUBLICO FEDERAL DENUNCIADO(A1S) : JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA ADVOGADO(A1S) : JOSÉ LUIS MENDES DE OLIVEIRA LIMA

E OUTROS DENUNCIADO(A1S) : JOSE GENOÍNO NETO ADVOGADO(A1S) : SANDRA MARIA GONÇALVES PIRES E

OUTROS DENUNCIADO(A1S) : DELÚBIO SOARES DE CASTRO ADVOGADO(A1S) : CELSO SANCHEZ VILARDI E

OUTRO(A1S) DENUNCIADO(A1S) : SÍLVIO JOSE PEREIRA ADVOGADO(A1S) : GUSTAVO HENRIQUE RIGHI IVAHY

BADARÓ E OUTROS DENUNCIADO(A1S) : MARCOS VALERIO FERNANDES DE

SOUZA ADVOGADO(A1S) : MARCELO LEONARDO E OUTROS DENUNCIADO(A1S) : RAMON HOLLERBACH CARDOSO ADVOGADO(A1S) : HERMES VILCHEZ GUERRERO E

OUTROS DENUNCIADO(A1S) : CRISTIANO DE MELLO PAZ ADVOGADO(A1S) : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES

FILHO E OUTROS DENUNCIADO(A1S) : ROGERIO LANZA TOLENTINO ADVOGADO(A1S) : PAULO SÉRGIO ABREU E SILVA DENUNCIADO(A1S) : SIMONE REIS LOBO DE VASCONCELOS ADVOGADO(A1S) : MARCELO LEONARDO DENUNCIADO(A1S) : GEIZA DIAS DOS SANTOS ADVOGADO(A1S) : PAULO SÉRGIO ABREU E SILVA DENUNCIADO(AIS) : KATIA RABELLO ADVOGADO(A1S) : THEODOMIRO DIAS NETO E OUTROS DENUNCIADO(A1S) : JOSE ROBERTO SALGADO ADVOGADO(A1S) : MAURICIO DE OLIVEIRA CAMPOS

JÚNIOR E OUTROS DENUNCIADO(AIS) : VIN~CIUS SAMARANE ADVOGADO(A1S) : JOSÉ CARLOS DIAS E OUTRO(A1S) DENUNCIADO(A1S) : AYANNA TENORIO TORRES DE JESUS ADVOGADO(A1S) : MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS

JUNIOR E OUTROS DENUNCIADO(A1S) : JOÃO PAULO CUNHA ADVOGADO(A1S) : ALBERTO ZACHARIAS TORON E

Page 9: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG OUTRA

: LUIZ GUSHIKEN : JOSE ROBERTO LEAL DE CARVALHO E

OUTROS : HENRIQUE PIZZOLATO : MARIO DE OLIVEIRA FILHO E OUTROS : PEDRO DA SILVA CORRÊA DE

OLIVEIRA ANDRADE NETO : EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃO E

OUTRO(A1S) : JOSE MOHAMED JANENE : MARCELO LEAL DE LIMA OLIVEIRA E

OUTROS : PEDRO HENRY NETO : JOSÉ ANTONIO DUARTE ALVARES E

OUTRO : JOÃO CLAUDIO DE CARVALHO GENU : MARCO ANTONIO MENEGHETTI E

OUTROS : ENIVALDO QUADRADO : PRISCILA CORRÊA GIOIA E OUTROS : BRENO FISCHBERG : LEONARDO MAGALHÃES AVELAR E

OUTROS : CARLOS ALBERTO QUAGLIA : DAGOBERTO ANTORIA DUFAU E

OUTRA : VALDEMAR COSTA NETO : MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E

OUTRO(A1S) : JACINTO DE SOUZA LAMAS : DÉLIO LINS E SILVA E OUTRO(AIS) : ANTONIO DE PADUA DE SOUZA LAMAS : DELIO LINS E SILVA E OUTRO(A1S) : CARLOS ALBERTO RODRIGUES PINTO

(BISPO RODRIGUES) : MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E

OUTROS : ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO

FRANCISCO : LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA : EMERSON ELOY PALMIERI : ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS E

OUTRA : ROMEU FERREIRA QUEIROZ : JOSE ANTERO MONTEIRO FILHO E

Page 10: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

OUTRO(A/S) : JOSE RODRIGUES BORBA : INOCÊNCIO MARTIRES COELHO E

OUTRO : PAULOROBERTOGALVÃODAROCHA : MARCIO LUIZ SILVA E OUTRO(A1S) : ANITA LEOCADIA PEREIRA DA COSTA : LUIS MAXIMILIANO LEAL TELESCA

MOTA : LUIZ CARLOS DA SILVA (PROFESSOR

LUIZINHO) : MARCIO LUIZ SILVA E OUTROS : JOÃO MAGNO DE MOURA : OLINTO CAMPOS VIEIRA E OUTROS : ANDERSON ADAUTO PEREIRA : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES

FILHO E OUTRO(AIS) : JOSÉ LUIZ ALVES : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES

FILHO E OUTRO(A/S) : JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE

MENDONÇA (DUDA MENDONÇA) : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS : ZILMAR FERNANDES SILVEIRA : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS

Q U E S T Ã O D E O R D E M

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Senhores Ministros, Senhora Ministra, chamo a julgamento o Inquérito no 2.245. Autor: o Ministério Público Federal. Denunciados: José Dirceu de Oliveira e Silva e outros. Dele é Relator o Ministro Joaquim Barbosa.

Antes de passar a palavra ao eminente Relator, a presidência encaminha algumas questões de ordem cuja solução é fundamental ao bom andamento dos trabalhos.

O senhor Secretário está fazendo a verificação de presença dos defensores constituídos. Nem todos os defensores

Page 11: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG constituídos registraram presença junto à Secretaria do Plenário, por isso a necessidade de fazermos esta verificação.

A Secretaria do Plenário tem referencia, mediante comunicação dos defensores, de que a Dra. Priscila Corrêa Gioia, Dr. Dagoberto Antoria, Dr. Leonardo Magalhães Avelar e Dr. Inocêncio Mártires Coelho não irão fazer sustentação oral. Eu não tenho registro de presença do Dr. Alberto Zacharias Toron.

-35ww O Dr. Alberto Zacharias Toron -" Estou aqui,

Excelência.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Agradeço a Vossa Excelência.

Não tenho o registro de presença do Dr. Marco Antonio Meneghetti, que é defensor de João Cláudio de Carvalho Genu. Está presente?

Dr. Maurício Maranhão de Oliveira - Excelência, quem esta aqui é Maurício Maranhão de Oliveira, representando João Cláudio de Carvalho Genu.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Agradeço a Vossa Excelência, fica registrada a sua presença. Peço que compareça junto a Secretaria do Plenário para assinar o termo.

Dra. Priscila Gioia está p Magalhães Avelar? Dr. Dagoberto Antoria Dufau? Dr. Inocêncio Mártires Coelho, presente? Dr. Márcio Luiz Silva?

DP Roberta Maria Range1 - Excelência, ele virá a tarde.

Page 12: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Virá a

tarde para sustentação. Registramos, então, a presença do Dr. Márcio Luiz Silva. A senhora pertence ao mesmo escritório?

D P Roberta Maria Rangel - Sim.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Dr. Luis Maximiliano Leal Telesca Mota? Está presente. Registre, por favor. Dr. Márcio Luiz Silva, que representa Luiz Carlos da Silva, está presente? Dr. Olinto Campos Vieira, presente?

Dr. João Magno - Estou presente, Excelência. -* A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Dr. João

Magno, eu peço a Vossa Excelência que compareça a Secretaria do Plenário para registrar, então.

Dr. Márcio Luiz Silva virá à tarde, não é doutora?

DP Roberta Maria Rangel - Só virá a tarde.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Dr. Tales Oscar Castelo Branco, presente. Dr. Tales também representa Zilmar Fernandes Silveira, não é isso?

Então, pela minha anotação, estão ausentes: Dr. Marco Antonio Meneghetti, Dra. Priscila Corrêa Gioia, Dr. Leonardo Magalhães Avelar e Dr. Dagoberto Antoria Dufau.

Tendo em conta, portanto, a regra inscrita no artigo 261 do Código de Processo Penal, segundo a qual nenhum acusado será processado ou julgado sem defensor, valendo-me da prerrogativa do artigo 265 do mesmo Código de Processo Penal, eu nomeio defensor substituto aos acusados cujos defensores estão ausentes neste ato.

Page 13: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&I//,,,, cZ~A:,/,,,L &<Avw/

Ci123Ç7 Inq 2.245 1 MG

Ausente está a Doutora Priscila Corrêa Gioia, ou qualquer pessoa do seu escritório, que representa o denunciado Enivaldo Quadrado. Nomeio-lhe um defensor substituto para o só efeito de representação neste ato de apreciação da denúncia oferecida pelo Ministério Público Federal. Faço-o na pessoa do Dr. Antônio Nabor Areias Bulhões, que aceita o Ônus.

Quanto ao acusado Breno Fischberg, representado por Leonardo Magalhães Avelar e outros, nomeio para este ato defensor na pessoa do Doutor José Guilherme Villela, que está presente e aceita o Ônus.

Em relação ao acusado Carlos Alberto Quaglia, ausente seu defensor, Dr. Dagoberto Antoria Dufau, nomeio-lhe o Doutor Roberto Rosas para este ato, que aceita o Ônus.

Ausente também o defensor do acusado José Rodrigues Borba, Dr. Inocência Mártires Coelho. Nomeio-lhe defensor para este ato na pessoa do Dr. Pedro Gordilho, que está presente e aceita o Ônus.

Ainda ausente o Dr. Márcio Luiz Silva, ou qualquer - pessoa do mesmo escritório, na defesa

Dr" Roberta Maria Rangel - Excelência, o Doutor Márcio Luiz Silva representará Paulo Rocha, e estará presente no período da tarde.

Luiz Carlos da Silva será representado por mim, Roberta Maria Rangel.

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Pois não, Doutora. Peço, então, que registre a sua presença junto a Secretaria do Plenário. Assim, não será necessária a designação de defensor para o ato a Luiz Carlos da Silva.

Superada essa questão, informo, inicialmente, que indeferi requerimento de adiamento desta sessão, formulado pelo

Page 14: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG ilustre advogado Dagoberto Antoria Dufau, representando o denunciado Carlos Alberto Quaglia. As alegações de Sua Excelência são as seguintes:

) o s procuradores foram intimados nesta data, por telefone, para apresentarem sustentação oral perante d. Plenária, nos dias 22, 23 e 24 do mês corrente, de acordo com a pauta de julgamento no 27, sendo que tal data agendada é muito próxima da presente, pelo que manifestam-se requerendo o adiamento da defesa oral do denunciado, devido a complexidade dos fatos, bem como a pluralidade de réus envolvidos ... 7,

Indeferi esse requerimento por não ver nele razoabilidade. A sustentação oral pela defesa não é obrigatória, tanto que as partes, ao contrário do afirmado pelos requerentes, não são intimadas para a prática do referido ato. Houve, na realidade, o contato da Secretaria do Plenário para ordenar a sessão e termos a relação dos advogados que desejariam fazer a sustentação oral.

Cabe, portanto, a cada procurador, se tiver interesse em fazê-lo, manifestar o desejo por petição ou mesmo oralmente, antes do início da sessão. Não há, portanto, que se falar em necessidade de concessão de prazo e, muito menos, em exiguidade desse prazo. Veja-se que os demais defensores, na sua quase totalidade - a exceção, volto dizer, daqueles que expressamente manifestaram não desejar o pronunciamento oral -, não tiveram qualquer dificuldade em preparar-se.

Portanto, indeferi esse requerimento.

Igualmente informo que deferi requerimento do Senhor Procurador-Geral da República por prazo dilargado para a sua sustentação oral, dada a extensão e complexidade da denúncia, bem como o grande número de denunciados. Portanto, deferi o pedido de Sua Excelência para uma hora de sustentação oral.

STF l m.Cü2

Page 15: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007 TRIBUNAL PLENO

INOUERITO 2.245-4 MINAS GERAIS

RELATOR : MIN. JOAQUIM BARBOSA AUTOR(A/S)(ES) : MINISTÉRIO PUBLICO FEDERAL DENUNCIADO(AIS) : JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA ADVOGADO(A/S) : JOSÉ LUIS MENDES DE OLIVEIRA LIMA

E OUTROS DENUNCIADO(AIS) : JOSE G E N O ~ N O NETO ADVOGADO(A/S) : SANDRA MARIA GONÇALVES PIRES E

OUTROS DENUNCIADO(AIS) : DELÚBIO SOARES DE CASTRO ADVOGADO(A/S) : CELSO SANCHEZ VILARDI E

OUTRO(A/S) DENUNCIADO(A/S) : SILVIO JOSE PEREIRA ADVOGADO(A/S) : GUSTAVO HENRIQUE RIGHI IVAHY

BADARÓ E OUTROS DENUNCIADO(AIS) : MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE

SOUZA ADVOGADO(A/S) : MARCELO LEONARDO E OUTROS DENUNCIADO(A/S) : RAMON HOLLERBACH CARDOSO ADVOGADO(A/S) : HERMES VILCHEZ GUERRERO E

OUTROS DENUNCIADO(A/S) : CRISTIANO DE MELLO PAZ ADVOGADO(A/S) : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES

FILHO E OUTROS DENUNCIADO(A/S) : ROGÉRIO LANZA TOLENTINO ADVOGADO(A/S) : PAULO SERGIO ABREU E SILVA DENUNCIADO(A/S) : SIMONE REIS LOBO DE VASCONCELOS ADVOGADO(A1S) : MARCELO LEONARDO DENUNCIADO(A/S) : GEIZA DIAS DOS SANTOS ADVOGADO(AIS) : PAULO SERGIO ABREU E SILVA DENUNCIADO(A/S) : KATIA RABELLO ADVOGADO(A/S) : THEODOMIRO DIAS NETO E OUTROS DENUNCIADO(A/S) : JOSE ROBERTO SALGADO ADVOGADO(A/S) : MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS

JUNIOR E OUTROS DENUNCIADO(A/S) : VIN~CIUS SAMARANE ADVOGADO(A/S) : JOSÉ CARLOS DIAS E OUTRO(AIS) DENUNCIADO(A/S) : AYANNA TENÓRIO TORRES DE JESUS ADVOGADO(A/S) : MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS

JUNIOR E OUTROS DENUNCIADO(A/S) : JOÃO PAULO CUNHA ADVOGADO(A/S) : ALBERTO ZACHARIAS TORON E

Page 16: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG OUTRA

: LUIZ GUSHIKEN : JOSÉ ROBERTO LEAL DE CARVALHO E

OUTROS : HENRIQUE PIZZOLATO : MARIO DE OLIVEIRA FILHO E OUTROS : PEDRO DA SILVA CORRÊA DE

OLIVEIRA ANDRADE NETO : EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃO E

OUTRO(A1S) : JOSE MOHAMED JANENE : MARCELO LEAL DE LIMA OLIVEIRA E

OUTROS : PEDRO HENRY NETO : JOSÉ ANTONIO DUARTE ALVARES E

OUTRO : JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENU : MARCO ANTONIO MENEGHETTI E

OUTROS : ENIVALDO QUADRADO : PRISCILA CORRÊA GIOIA E OUTROS : BRENO FISCHBERG : LEONARDO MAGALHÃES AVELAR E

OUTROS : CARLOS ALBERTO QUAGLIA : DAGOBERTO ANTORIA DUFAU E

OUTRA : VALDEMAR COSTA NETO : MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E

OUTRO(A/S) : JACINTO DE SOUZA LAMAS : DÉLIO LINS E SILVA E OUTRO(A1S) : ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS : DÉLIO LINS E SILVA E OUTRO(A/S) : CARLOS ALBERTO RODRIGUES PINTO

(BISPO RODRIGUES) : MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E

OUTROS : ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO

FRANCISCO : LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA : EMERSON ELOY PALMIERI : ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS E

OUTRA : ROMEU FERREIRA QUEIROZ : JOSE ANTERO MONTEIRO FILHO E

Page 17: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG OUTRO(A1S)

: JOSE RODRIGUES BORBA : INOCÊNCIO MARTIRES COELHO E

OUTRO : PAULOROBERTOGALVÃODAROCHA : MÁRCIO LUIZ SILVA E OUTRO(A1S) : ANITA LEOCÁDIA PEREIRA DA COSTA : LUÍS MAXIMILIANO LEAL TELESCA

MOTA : LUIZ CARLOS DA SILVA (PROFESSOR

LUIZINHO) : MARCIO LUIZ SILVA E OUTROS : JOÃO MAGNO DE MOURA : OLINTO CAMPOS VIEIRA E OUTROS : ANDERSON ADAUTO PEREIRA : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES

FILHO E OUTRO(A/S) : JOSE LUIZ ALVES : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES

FILHO E OUTRO(A1S) : JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE

MENDONÇA (DUDA MENDONÇA) : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS : ZILMAR FERNANDES SILVEIRA : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS

V O T O (Questão de Ordem)

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Submeto, em questão de ordem, i apreciação deste Plenário, o requerimento do Dr. Délio Lins e Silva, que tem a seu cargo a defesa de Jacinto de Souza Lamas e Antonio de Pádua de Souza Lamas, no sentido de serem-lhe deferidos trinta minutos para sustentação oral.

Encaminho a solução desta questão de ordem no sentido de que o Tribunal assegure o tempo de quinze minutos a defesa de cada um dos denunciados, tenham eles ou não defensor em comum.

Page 18: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 I MG Resolvo, portanto, a questão de ordem, para deferir o

requerimento, estendendo idêntico tratamento a todos os demais denunciados.

Page 19: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Senhora Presidente,

acima de tudo a coerência, o apego ao que sustentado até aqui. No

caso, não se trata de acusados com advogados diversos. Há denúncia

formalizada contra acusados, dos quais alguns possuem defensor

único.

Existe regra específica sobre a dobra do prazo, muito

embora contida não no Código de Processo Penal, mas no Código de

Processo Civil, e não posso desconhecê-la, por maior que seja o

desejo de viabilizar à exaustão o direito de defesa. A dobra não

decorre do fato de um mesmo advogado defender dois ou mais acusados.

Assim temos decidido.

Por essa razão, peço vênia aos - vejo que a

apreciação deste caso, por isso ou por a diapasão

próprio - para votar no sentido da observância

Page 20: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 4 0 4

TRIBUNAL PLENO

V O T O - - - - (S/ segunda questão de ordem)

0 SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Senhora Presidente,

peço vênia para acompanhar a solução preconizada no voto proferido

por Vossa Excelência.

Entendo que a complexidade da matéria e o caráter

multitudinário deste procedimento penal são razões que justificam a

solução proposta por Vossa ~xcelência, e que, a meu juízo, observa a

lei, respeita o Regimento Interno do Supremo Tribunal e, mais

importante, torna efetiva a garantia constitucional pertinente ao

exercício pleno do direito de defesa.

Page 21: Mensalão do PT - recebimento da denúncia
Page 22: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

OUTRA : LUIZ GUSHIKEN : JOSE ROBERTO LEAL DE CARVALHO E

OUTROS : HENRIQUE PIZZOLATO : MÁRIO DE OLIVEIRA FILHO E OUTROS : PEDRO DA SILVA CORRÊA DE

OLIVEIRA ANDRADE NETO : EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃO E

OUTRO(A/S) : JOSE MOHAMED JANENE : MARCELO LEAL DE LIMA OLIVEIRA E

OUTROS : PEDRO HENRY NETO : JOSE ANTONIO DUARTE ALVARES E

OUTRO : JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENU : MARCO ANTONIO MENEGHETTI E

OUTROS : ENIVALDO QUADRADO : PRISCILA CORRÊA GIOIA E OUTROS : BRENO FISCHBERG : LEONARDO MAGALHÃES AVELAR E

OUTROS : CARLOS ALBERTO QUAGLIA : DAGOBERTO ANTORIA DUFAU E

OUTRA : VALDEMAR COSTA NETO : MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E

OUTRO(A/S) : JACINTO DE SOUZA LAMAS : DÉLIO LINS E SILVA E OUTRO(A/S) : ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS : DÉLIO LINS E SILVA E OUTRO(A/S) : CARLOS ALBERTO RODRIGUES PINTO

(BISPO RODRIGUES) : MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E

OUTROS : ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO

FRANCISCO : LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA : EMERSON ELOY PALMIERI : ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS E

OUTRA : ROMEU FERREIRA QUEIROZ : JOSÉ ANTERO MONTEIRO FILHO E

Page 23: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

OUTRO(A1S) : JOSE RODRIGUES BORBA : INOCÊNCIO MÁRTIRES COELHO E G 1 2 4 ~ 7

OUTRO : PAULOROBERTOGALVÃODAROCHA : MARCIO LUIZ SILVA E OUTRO(AIS) : ANITA LEOCÁDIA PEREIRA DA COSTA : L U ~ S MAXIMILIANO LEAL TELESCA

MOTA : LUIZ CARLOS DA SILVA (PROFESSOR

LUIZINHO) : MÁRCIO LUIZ SILVA E OUTROS : JOÃO MAGNO DE MOURA : OLINTO CAMPOS VIEIRA E OUTROS : ANDERSON ADAUTO PEREIRA : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES

FILHO E OUTRO(A1S) : JOSE LUIZ ALVES : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES

FILHO E OUTRO(A1S) : JOSE EDUARDO CAVALCANTI DE

MENDONÇA (DUDA MENDONÇA) : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS : ZILMAR FERNANDES SILVEIRA : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS

V O T O (Questão de Ordem)

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Submeto, ao Plenário, requerimento oferecido pelo ilustre defensor do denunciado, Roberto Jefferson Monteiro Francisco, que deseja que:

"após cada sustentação oral, tanto do ilustre Procurador-Geral da República como da defesa respectiva, se siga o julgamento, denunciado por

9 , denunciado, e não em bloco.

Encaminho a solução desta questão de ordem no sentido da rejeição deste pedido. O seu atendimento, ao contrário do que pressupõe

Page 24: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG Sua Excelência, o ilustre defensor, causaria maior delonga e tumulto processual. Além disso, o pedido não encontra amparo nas regra8 de processo ou na norma regimental.

Por isso, eu o indefiro.

Page 25: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Senhora Presidente,

a quadra exige a desburocratização do processo. Há uma denúncia que

forma um grande todo e deve ser apreciada tal como apresentada.

Não cabe compelir o relator a confeccionar relatórios

e votos diversos, considerados os acusados.

Nessa matéria, sinto-me em posição confort'

C Acompanho a ilustrada maioria nos votos p ofe idos.

Page 26: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

V O T O - - - - (S/ terceira questão de ordem)

O SEMIOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Senhora Presidente, a

ordem ritual proposta por Vossa Excelência, além de estar apoiada na

lei, torna racional o desenvolvimento dos trabalhos desta Corte no

julgamento do procedimento penal em questão.

Acompanho, portanto, o voto de Vossa ~xcelência.

Page 27: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007

INQDÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAü PLENO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Presidente, apenas

para firmar posição quanto a certa matéria contida no relatório do

ministro Joaquim Barbosa.

Há pouco, Vossa Excelência designou defensores

dativos, tendo em vista a sustentação da tribuna, a presença, nesta

sessão, que visa apenas receber ou não a denúncia, assentar ou não a

improcedência da imputação feita.

No relatório de Sua Excelência - e menciona este tema

para que haja absoluta coerência, levando em conta o ato de Vossa

Excelência de designação de defensores - há notícia de que certo

envolvido não apresentou defesa, e não consta do relatório a

designação de defensor para fazê-lo. Esse aspecto me preocupa porque

a defesa, tal como prevista na Lei nP 8 .038 /90 , é formalidade

essencial a tramitação do próprio inquérito, do próprio procedimento

instaurado.

Para que não fique o próprio sistema - tal como

evocado por Vossa ~xcelência -- de certa forma "capenga", suscito a

questão alusiva ao fato de o defensor credenciado no

haver permanecido silente no tocante ao prazo para a ap

defesa e, ante esse fato, não haver sido designado

Page 28: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MIMSTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Presidente, o denunciado, pura e simplesmente, perdeu o prazo de

apresentar resposta.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - Havia

defensor nomeado.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Havia

defensor e o advogado não apresentou resposta.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Como também havia

defensor credenciado no tocante ao restante do procedimento, no

tocante a sustentação da tribuna.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Salvo

engano, esse denunciado terá defensor que apresentará sustentação

oral hoje - Carlos Alberto Quaglia.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) -

Exatamente, o Dr. Dagoberto Antoria requereu adiamento e expressou

que não faria sustentação oral também.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Tivemos a designação

de defensor para a sustentação, não?

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) -

Exatamente.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - E

designação não ocorreu no tocante a algo que,

substancial do que a sustentação da tribuna, ou

da defesa prévia.

Page 29: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora Presidente,

acho que apresentação de defesa prévia é Ônus do denunciado.

Devidamente notificado, apresentará defesa prévia ou não.

O SENEIOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Da mesma forma que a

sustentação da tribuna!

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Da mesma forma que a

sustentação. Não há obrigação; é Ônus.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Apenas consignei que

estimaria marcar posição sobre a matéria, porque houve a designação

de defensores, de ilustres advogados, visando à sustentação da

tribuna e isso não aconteceu em fase de maior repercussão - de

defesa prévia.

Entendo que necessariamente deveria ter ocorrido -

para não ficar o envolvido indefeso no procedimento

de defensor dativo.

Page 30: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0113214

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - O silêncio é

estratégia de defesa. É um modo de se defender.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - E também o é não

sustentar da tribuna!

O SENHOR MINISTRO CAIUOS BRITTO - Perfeito. É uma

estratégia de defesa.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Concordo com

esse ponto de vista. Se o defensor foi regularmente intimado,

estamos diante de um silêncio eloquente, ou, até, de uma tática da

defesa.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Que justificou,

aliás, o pedido de adiamento.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - sem que isso

implique alinhamento, consideraao o acusador!

Page 31: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS VOTO S/ QUESTÃO DE ORDEM

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhora Presidente, voto no sentido

de não se permitir o defensor dativo, por j6 haver defensor devidamente

designado.

Obç.: Texto sem revisão ( $ 4' do artigo 96 do RISTF)

Page 32: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente, ele

foi intimado e não exerceu a faculdade - não diria nem que chega a

ser um ônus. Dessa forma, peço vênia ao Ministro Marco Aurélio para

não acompanhá-lo.

Page 33: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

22/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

VOTO SI QUESTAO DE ORDEM

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora Presidente,

não há exigência de que, em inquérito, o indiciado se defenda. Neste caso, no

entanto, o denunciado tinha defensor constituído, resolveu não exercer o Ônus -

tinha lá as suas razões -, e o tribunal apenas tomou a precaução de não deixá-lo

sem defensor neste ato, o que é coisa diversa.

Não vejo nenhuma irregularidade por sanar.

r?

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22/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

612418

TRIBUNAL PLENO

E S C L A R E C I M E N T O

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Antes de prosseguirmos com as sustentações orais, registro a presença, no Plenário, da Doutora Priscila Corrêa Gioio, defensora de Enivaldo Quadrado e de Breno Fischberg.

O Tribunal, inicialmente, havia designado para representarem esses acusados, para o ato, o Doutor Antônio Nabor Areia Bulhões para Enivaldo Quadrado, e o Doutor José Guilherme Villela para Breno Fischberg. Cabe agora, ao Tribunal, agradecer aos ilustres Advogados que receberam e aceitaram esse múnus, dispensando-os, eis que presente a sua defensora.

Page 35: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

EXTRATO DE ATA

I N Q ~ R I T O 2 . 2 4 5 - 4 PROCED.: MINAS GERAIS RELATOR : MIN. JOAQUIM BARBOSA AUTOR(A/S) (ES) : MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL DNDO.(A/S): JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA ADV.(A/S): JOSÉ LUIS.MENDES DE OLIVEIRA LIMA E OUTROS DNDO. (A/s) : JOSÉ GENOÍNO NETO ADV. (A/S) : SANDRA MARIA GONÇALVES PIRES E OUTROS DNDO. (A/s) : DEL~BIO SOARES DE CASTRO ADV. (A/s) : CELSO SANCHEZ VILARDI E OUTRO(A/S) DNDO.(A/S): SÍLVIO JOSE PEREIRA ADV.(A/S): GUSTAVO HENRIQUE RIGHI IVAHY BADARÓ E OUTROS DNDO.(A/S): MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA ADV. (A/S) : MARCELO LEONARDO E OUTROS DNDO. (A/S) : RAMON HOLLERBACH CARDOSO ADV.(A/S): HERMES VILCHEZ GUERRERO E OUTROS DNDO. (A/S) : CRISTIANO DE MELLO PAZ ADV.(A/S) : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E OUTROS DNDO.(A/S): ROGÉRIO LANZA TOLENTINO ADV. (A/s) : PAULO SERGIO ABREU E SILVA DNDO.(A/S) : SIMONE REIS LOBO DE VASCONCELOS ADV. (A/S) : MARCELO LEONARDO DNW.(A/S) : GEIZA DIAS DOS SANTOS ADV. (A/s) : PAULO SERGIO ABREU E SILVA DNDO. (A/s) : KÃTIA RABELLO ADV.(A/S): THEODOMIRO DIAS NETO E OUTROS DNDO. (A/S) : JOSE ROBERTO SALGADO ADV.(A/S): MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS ~ I O R E OUTROS DNDO. (A/s) : VINÍCIUS SAMARANE ADV. (A/S) : JOSÉ CARLOS DIAS E OUTRO (A/S) DNDO.(A/S): AYANNA TENÓRIO TÔRR.ES DE JESUS ADV.(A/S): MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS JGNIOR E OUTROS DNDO . (A/s) : JOÃO PAULO CUNHA ADV. (A/S) : ALBERTO ZACHARIAS TORON E OUTRA DNDO . (A/S) : LUIZ GUSHIKEN ADV. (A/s) : JOSE ROBERTO LEAL DE CARVALHO E OUTROS DNDO. (A/S) : HENRIQUE PIZZOLATO ADV.(A/S): MÁR10 DE OLIVEIRA FILHO E OUTROS DNDO. (A/s) : PEDRO DA SILVA CORRÊA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO ADV. (A/s) : EDUARDO ANTÔNIO LUCHO FERRÃO E OUTRO(A/S) DNDO. (A/S) : JOSE MOHAMED JANENE

42

Page 36: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

ADV.(A/S): MARCELO LEAL DE LIMA OLIVEIRA E OUTROS DNDO . (A/S) : PEDRO HENRY NETO ADV. (A/s) : JOSÉ ANTONIO DUARTE &VARES E OUTRO DNDO.(A/S): JOÃO CLÁUDIO DE CARVALHO GENU ADV. (A/S) : MARCO ANTONIO MENEGHETTI E OUTROS DNDO. (A/S) : ENIVALDO QUADRADO ADV. (AIS) : PRISCILA CORRÊA GIOIA E OUTROS DNDO. (A/S) : BRENO FISCHBERG ADV. (A/S) : LEONARDO MAGALHÃEs AVELAR E OUTROS DNDO. (A/S) : CARLOS ALBERTO QUAGLIA ADV.(A/S): DAGOBERTO ANTORIA DUFAU E OUTRA DNDO. (A/S) : VALDEMAR COSTA NETO ADV.(A/S): MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E OUTRO(A/S) DNDO. (A/S) : JACINTO DE SOUZA LAMAS ADV. (A/S) : DÉLIO LINS E SILVA E OUTRO (A/s) DNDO. (A/S) : ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS ADV. (A/S) : DÉLIO LINS E SILVA E oUTRO(A/S) DNDO.(A/s): CARLOS ALBERTO RODRIGUES PINTO (BISPO RODRIGUES) ADV. (A/S) : MARCELO LUIZ ÁvILA DE BESSA E OUTROS DNDO.(A/S): ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO FRANCISCO ADV. (A/s) : LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA DNDO. (A/S) : EMERSON ELOY PALMIERI ADV.(A/S): ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS E OUTRA DNDO. (A/S) : ROMEU FERREIRA QUEIROZ ADV. (A/s) : JOSÉ ANTERO MONTEIRO FILHO E OUTRO(A/S) DNDO.(A/S) : JOSÉ RODRIGUES BORBA ADV.(A/S): INOCÊNCIO &TIRES COELHO E OUTRO DNDO. (A/s) : PAULO ROBERTO GALVÃO DA ROCHA ADV. (A/s) : &CIO LUIZ SILVA E OUTRO(A/S) DNDO. (A/S) : ANITA LEO~DIA PEREIRA DA COSTA ADV. (A/S) : L U ~ S MAXIMILIANO LEAL TELESCA MOTA DNDO.(A/S): LUIZ CARLOS DA SILVA (PROFESSOR LUIZINHO) ADV. (A/S) : &CIO LUIZ SILVA E OUTROS DNDO. (A/s) : JOÃO MAGNO DE MOURA ADV. (A/S) : OLINTO CAMPOS VIEIRA E OUTROS DNDO . (A/S) : ANDERSON ADAUTO PEREIRA ADV. (A/s) : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E OUTRO(A/S) DNDO. (A/s) : JOSÉ LUIZ ALVES ADV. (A/s) : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E OUTRO(A/S) DNDO. (A/s) : JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE MENDONÇA (DUDA MENDON~) ADV. (A/S) : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS DNDO. (A/S) : ZILMAR FERNANDES SILVEIRA ADV.(A/S): TALES CASTELO BRANCO E OUTROS

Decisão: Preliminarmente, verificada as ausências dos advogados constituidos pelos denunciados Enivaldo Quadrado, Carlos Alberto Quaglia, Breno Fischberg e José Rodrigues Borba, a

Page 37: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Presidência, valendo-se da prerrogativa estabelecida pelo parágrafo único do artigo 265 do Código de Processo Penal, nomeou, como defensores substitutos dos referidos denunciados, tão-só para o efeito de representação neste ato de apreciação da denúncia oferecida pelo Procurador-Geral da República, os respectivos advogados, Doutores Antônio Nabor Areias Bulhões, Roberto Rosas, José Guilherme Villela e Pedro Gordilho. Superada essa questão, a Presidente do Tribunal, Ministra Ellen Gracie, informou o Tribunal que indeferiu requerimento de adiamento da sessão formulado pelo Dr. Dagoberto Antoria Dufau, representando o denunciado Carlos Alberto Quaglia e, ainda, que deferiu requerimento do Senhor Procurador- Geral da República, -para conceder-lhe uma hora de sustentação oral, dada a extensão e complexidade da denúncia, bem como o grande número de denunciados. Em seguida, apreciando requerimento do advogado Dr. Délio Lins e Silva, no sentido de que lhe sejam deferidos 30 minutos para sua sustentação oral, uma vez que tem a seu cargo a defesa de Jacinto de Souza Lamas e Antonio de Pádua de Souza Lamas, o Tribunal, por maioria, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio, resolveu questão de ordem para d.eferir prazo em dobro aos defensores que representam dois acusados. submetido ao Plenário o requerimento do Dr. Luiz Francisco Corrêa Barbosa, advogado do denunciado Roberto Jefferson Monteiro Francisco, no sentido de que, após cada sustentação oral, tanto do Procurador-Geral da República, como da defesa respectiva, se siga o julgamento denunciado por denunciado, e não em bloco, o Tribunal, por unanimidade, indeferiu o pedido. Por maioria, o Tribunal superou o reparo feito pelo Senhor Ministro Marco Aurélio quanto ao defensor constituído que não apresentou defesa escrita por perda de prazo. Votou a Presidente. Ante o registro da presença, na sessão, da Dra. Priscila Corrêa GiÓia, representando os denunciados Enivaldo Quadrado e Breno Fischberg, foram desconstituídos os Doutores Antônio Nabor Areias Bulhões e José Guilherme Villela. Após o relatório, a manifestação do Ministério Público Federal, pelo Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza, Procurador-Geral, e as sustentações orais, pelos denunciados José Dirceu de Oliveira e Silva, do Dr. José Luís Mendes de Oliveira Lima; José Genoino Neto, do Dr. Luiz Fernando Sá e Souza Pacheco; Delúbio Soares de Castro, do Dr. Arnaldo Malheiros Filho; Sílvio José Pereira, do Dr. Sérgio Salgado Ivahy Badaró; Marcos Valério Fernandes de Souza e Simone Reis Lobo de Vasconcelos, do Dr. Marcelo Leonardo; Ramon Hollerbach Cardoso, do Dr. Hermes Vilchez Guerrero; Cristiano de Mello Paz e Romeu Ferreira Queiroz, do Dr. José Antero Monteiro Filho; Rogério Lanza Tolentino e Geiza Dias dos Santos, do Dr. Paulo Sérgio Abreu e Silva; Kátia Rabello e José Roberto Salgado, do Dr. José Carlos Dias; Vinícius Samarane, do Dr. Rodrigo Octávio Soares Pacheco; Ayanna Tenório Torres de Jesus, do Dr. Theodomiro Dias Neto; João Paulo Cunha, do Dr. Alberto Zacharias Toron; Luiz Gushiken, do Dr. José Roberto Leal; Pedro da Silva

Page 38: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Corrêa de Oliveira Andrade Neto e José Mohamed Janene, do Dr. Marcelo Leal de Lima Oliveira; Pedro Henry Neto, do Dr. José Antônio Duarte Álvares; Henrique Pizzolato, do Dr. Mário de Oliveira Filho e, por João Cláudio de Carvalho Genú, o Dr. Maurício Maranhão de Oliveira, foi o julgamento suspenso. Plenário, 22.08.2007.

Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia.

Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza.

~uiz\ Tomimatsu Secretário

Page 39: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

I N Q ~ R I T O 2.245-4 MINAS GERAIS VOTO S/PRELIMINAR

A SENHORA MINISTRA CÁRMErJ LÚCIA - Senhora Presidente, acompanho o

Relator .

Também tenho a resposta preparada e farei juntar como voto.

Obs.: Texto sem revisa0 ( $ 49 do artigo 96 do RISTF)

Page 40: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQWRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

VOTO S/PRELIMINAR

012424

TRIBUNAL PLENO

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, acompanho o Relator pelos mesmos fundamentos.

# # #

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4* do artigo 9 6 do RISTF)

Page 41: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

012425

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente,

acompanho o Relator.

Page 42: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

012426

TRIBUNAL PLENO

VOTO S/PRELIMINAR

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente,

também acolho o voto do Relator.

Page 43: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INOUERITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 4 2 7

TRIBUNAL PLENO

VOTO SIPRELIMINAR

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora Presidente,

também acompanho o eminente Relator, e, embora noutra ordem, apreciarei as

mesmas preliminares.

Em relação a questão da competência, de fato já foi ela julgada

na questão de ordem a que se referiu Sua Excelência. Dou testemunho de que

fui eu quem sugeriu ao Tribunal, na última assentada, que, a despeito do que

havia afirmado na primeira, quanto a necessidade do desmembrarnento, não

havia elementos concretos que permitissem o desmembramento com a adoção

do critério objetivo proposto pelo Ministro Sepúlveda Pertence.

Em relação ao oferecimento da denúncia, também não há muito

o que acrescentar ao que disse o eminente Relator, até porque o fato de o

Procurador-Geral, ainda após o seu oferecimento, ter requerido nova diligência,

não torna a denúncia inviável nem precipitada.

Em relação a licitude das provas, este inquérito, quanto as

decisões de primeiro grau, iniciou-se em Minas Gerais, tendo gerado um

processo e, paralelamente, três medidas cautelares que tramitaram perante a 4"

Vara Federal daquela Sessão Judiciária.

O juiz de primeiro grau, na primeira manifestação proferida na

medida cautelar cujo final é 2005.023624-0, destinada à quebra de sigilo

bancário integral, firmou a competência da justiça federal naquela instância,

tendo em vista que até então, quanto aos fatos objeto de investigação, "não

y7

Page 44: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG C;12428

havia qualquer indício da participação ativa e concreta de qualquer agente

político ou autoridade que possuísse foro por prerrogativa de função".

Posteriormente, sugiram fatos novos que acarretaram alteração

do quadro probatório. Assim, em razão de indício de participação de

parlamentares nos fatos que eram apurados em primeiro grau, houve

deslocamento da competência da 4' Vara para o Supremo Tribunal Federal.

Com a chegada dos autos a esta Corte, o Ministro-Presidente,

Nelson Jobim, deferiu todos os pedidos formulados pelo Procurador-Geral, entre

eles o de ratificação das decisões judiciais proferidas nos autos das medidas

cautelares, pedidos esses que haviam sido, por dependência, distribuídos

igualmente aquela Vara e remetidos a esta Corte. Enquanto os autos

permaneceram em primeira instância, as decisões ali tomadas foram plenamente

válidas, sem nenhum vício de ilegalidade ou nulidade. Não procede, portanto, a

alegação de que a quebra de sigilo havia sido determinada por autoridade

judiciária incompetente.

Quanto a prova emprestada, foi muito elucidativo o voto do

eminente Ministro-Relator, porque, ao utilizar tais dados, a investigação que deu

origem a denúncia estaria eivada de nulidade, segundo a preliminar. Mas, logo

que os autos de investigação chegaram a esta Corte, remetidos pelo juízo da 4"

Vara, o Presidente Nelson Jobim deferiu o pedido do Procurador para o

compartilhamento de todas as investigações feitas pela CPMI dos Correios,

visando a análise, em conjunto com os dados obtidos, com o intuito de

racionalizar o trabalho. v-

Page 45: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&//V4??70 &dMfi?O/ 0 F A K d

Inq 2.245 I MG

Entre os vários requerimentos aprovados pela CPMI, um, de

fato, dizia com o acesso daquela Comissão a base de dados do caso Banestado.

Quando os dados dos Correios foram compartilhados, veio aos autos deste

inquérito, por conseqüência, a base de dados daquele caso do Banestado. Ora,

o resultado concreto da atividade de inquérito parlamentar pode, de modo

eventual, servir a acusação criminal, conforme determina o artigo 58, $ 3" da

Constituição.

Não procede, portanto, a meu ver, a alegação de uso ilícito da

prova emprestada.

Quanto a prova da CPMI dos Correios, também em relação a

fatos estranhos ao objeto específico da origem da Comissão Parlamentar de

Inquérito, havia anotado, aqui, também, os precedentes da Corte, no MS ng

23.639 e no HC nV1.039, que foram transcritos pelo eminente Relator, e que eu

me dispenso de ler.

Quanto as provas obtidas a partir de requerimento da CPMI dos

Correios, baseadas em publicações da imprensa, registro que tais dados foram

igualmente obtidos no curso deste inquérito, notadamente a identificação dos

beneficiários, por meio de decisão judicial autônoma, não se contaminando,

portanto, com eventual nulidade que tenha ocorrido no âmbito da apuração do

Legislativo.

Tampouco em relação a remessa de documentos do Banco

Central, vejo alguma nulidade. Neste caso, remeto-me, porque suficiente, a

YL,

Page 46: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

manifestação do Procurador-Geral a respeito, que mostra claramente que não

houve ilegalidade alguma.

Quanto a remessa de documentos relativos a empréstimo

bancário do BMG diretamente ao Ministério Público Federal, tampouco procede

a alegação, porque houve decisão judicial que decretou o afastamento igual do

âmbito do sigilo bancário, abarcando, pois, todas as operações de empréstimo

que foram objeto do ofício.

Quanto a quebra de sigilo no exterior sem prévia autorização da

autoridade judiciária, o eminente Procurador também, a meu ver, respondeu

suficientemente a arguição, demonstrando que o afastamento foi acatado na

decisão de fl. 1.248, demonstrando a lisura de todo o procedimento e o seu

pleno conhecimento pela autoridade judicial competente, que é esta Corte.

Quanto a indivisibilidade da ação penal, também não vejo

nulidade alguma, porque o Procurador afirma que, de fato, Lúcio Funaro e José

Carlos Batista foram beneficiados pelas regras da delação premiada, com a

condição de confirmarem as declarações em juízo. Sustenta que não ofereceu

denúncia quanto a eles, porque o fato não é punível, o que deslegitimaria a

apresentação de denúncia, sujeitando as pessoas - que se sabe, desde logo,

não seriam punidas -, as cerimônias degradantes do processo. Rejeito também

esta preliminar.

E finalmente, Senhora Presidente, rejeito as demais, nos termos

em que o fez o eminente Relator, que acompanho integralmente.

0

Page 47: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 4 3 1

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Senhora Presidente,

também tendo a acompanhar o Relator em relação aos fundamentos já

aqui expendidos, todavia, tenho uma dúvida, que acredito agora foi

agitada ou reagitada na Primeira Turma, em relação a esta

preliminar, quanto aos relatórios do Banco Central, a eventual

quebra de sigilo efetivada pelo Banco Central.

Neste caso, tenho a impressão de que houve uma votação

apertada na Primeira Turma, manifestando-se pela ilicitude da quebra

de sigilo efetivada pelo Banco Central. Entendeu a Turma, com base

exatamente na mesma disposição, que o Banco Central não poderia

efetivar a quebra de sigilo.

De modo que, pedindo vênia ao eminente Relator, nesse

passo, eu me manifestaria no sentido da ilicitude da prova neste

Page 48: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAü PLENO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Presidente, a

matéria alusiva à competência realmente está preclusa, como ficarão

preclusos os temas após decisão da Corte sob o ângulo das

preliminares ora em apreciação.

Votei entendendo que a competência do Supremo é de

direito estrito, é o que se contém na Lei Básica da República, não

cabendo, mediante interpretação, até mesmo integrativa, caminhar-se

para a inserção de outros conflitos não contemplados no artigo 102.

Imagino que, talvez - temos aqui o vocábulo "talvez" -, este seja o

último processo em que ocorrerá o pronunciamento do Supremo

relativamente a imputações feitas a quem não detém a prerrogativa de

foro. Hoje estamos inviabilizados quanto à celeridade. Preocupa-me

muito a quadra vivida em termos de prestação jurisdicional célere

pelo Supremo. E não há campo para estender-se, por maior que seja o

afã de atuar-se, mediante interpretação da Constituição Federal, a

competência do Tribunal, até mesmo contrariando-se, com a devida

vênia daqueles que entendem de forma diversa, o princípio tão caro,

em uma sociedade que se diga democrática, do juiz natural. Mas a

matéria está preclusa e não cabe, neste julgamento, nesta

apreciação, reabri-la.

Pois bem, temos uma preliminar em que se

denúncia seria temporã; que não teria o ~inistério

Page 49: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

a complementação das diligências. Estratégia do próprio Ministério

Público, que, de início, milita a favor dos denunciados se

inexistentes os elementos capazes de levar à conclusão sobre não

haver indícios quanto à autoria e não haver - no tocante à narração

dos fatos na própria denúncia - a materialização do crime.

Não se mostra possível acolher essa preliminar.

Aponta-se, também, a usurpação da competência do

Supremo no que o Juízo, a primeira instância, teria determinado a

feitura de atos quando já assentada a competência do Supremo. Nós

não podemos, aqui, cogitar, à mercê da capacidade intuitiva, da

suposição, que, àquela altura, já se poderia antever o envolvimento

de detentores da prerrogativa de foro.

Também não subsiste essa preliminar.

Estou me guiando pelo voto que recebi, quando Sua

Excelência se dirigiu ao púlpito para proceder à leitura, das mãos

do relator, isso para que fique bem claro que não recebi com

antecipação, e não receberia, mesmo se houvesse a tentativa de

entrega numa colaboração judicante, a íntegra do voto de Sua

Excelência.

Terceira preliminar: a prova emprestada do caso

Banestado.

Questiona-se, em última análise, se o a

prova teria ocorrido mediante atuação de um Órgão que

determiná-lo. Há referência, no voto do ministro

2

Page 50: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG 0 1 2 4 3 1

compartilhamento de informações obtidas pela Comissão Parlamentar

Mista de Inquérito dos Correios. Então, cabe apenas perquirir: a

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito poderia, ou não, colher

esses dados? A resposta é desenganadamente positiva. E salientou bem

o Ministério Público que a atuação da Comissão Parlamentar de

Inquérito objetiva, se for o caso, a persecução criminal posterior,

encaminhando a Comissão dados ao Ministério Público, diante da

existência de indícios de prática criminosa, para as medidas

pertinentes. Por isso não se tem como cogitar de prova ilícita.

Há outro questionamento: a Comissão Parlamentar Mista

de Inquérito teria extravasado os limites previstos quando da

instauração, o objetivo da própria instalação da Comissão?

Indago: estamos aqui a julgar mandado de segurança

impetrado contra ato da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito?

Não. Não estamos a julgar mandado de segurança. Não há como, agora,

para efeito de dizer-se procedente, ou não, a denúncia ofertada pelo

Ministério Público, adentrar esse campo e, numa via imprópria,

exercer crivo, glosa quanto à atuação extravasadora - se é que

ocorreu - da própria Comissão, que teve o objeto - como ressaltado

no voto cuidadoso do ministro Joaquim Barbosa - ampliado após a

apuração de certos fatos.

Ainda em relação à Comissão Parlamen

Inquérito dos Correios, consigna o relator defesa

Page 51: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

desvirtuamento dos dados levantados; consigna também que, no caso,

tudo teria ocorrido a partir de matérias jornalísticas.

Folgo em saber, folgo em constatar que temos no Brasil

uma imprensa livre a exercer papel de fundamental importância,

buscando elementos, no jornalismo investigativo, para se lograr a

eficiência do próprio Estado. As provas teriam sido obtidas a

partir, portanto, de premissas agasalhadas pelo ordenamento

jurídico.

Segue-se a problemática, a meu ver, mais séria, que

diz respeito - e já há um voto divergente quanto a essa preliminar -

ao aproveitamento de dados que teriam sido obtidas em uma agência do

próprio Estado, e assim enquadro o Banco Central do Brasil.

Na Turma, fui relator de recurso extraordinário em que

concluiu o Colegiado - e não apenas o relator - por um escore

apertado, de 3 votos a 2, que o Banco Central não poderia quebrar o

sigilo de informações de correntista sem a interferência do

Judiciário.

Na espécie, o Ministério Público obteve diretamente -

pelo que percebi - dados cobertos pelo sigilo que já estariam, por

isso ou por aquilo - não vou perquirir a causa -, na posse do Banco

Central. Aludiu Sua Excelência, o relator, ao disposto

§ 3 Q , inciso IV, da Lei Complementar nQ 105/2001.

Inicialmente, registro que existe hierar

fontes legais e, no ápice da pirâmide das normas

4

Page 52: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Lei Básica da ~epública, a Constituição Federal, que, por vezes, não

é amada e acatada como deveria ser.

Preceitua, realmente, o inciso IV do 5 3 Q do artigo lP

da Lei Complementar referida que:

" § 3' - Não constitui violação do dever de sigilo:

IV - a comunicação, As autoridades competentes," - e a cláusula está aqui aberta, à cláusula 6 em branco - "da prática de ilícitos penais ou administrativos, abrangendo" - e aí vem a parte que causa perplexidade - "o fornecimento de informações sobre operações que envolvam recursos provenientes de qualquer prática criminosa."

Lembro-me de um mandado de segurança do qual fui

relator, impetrado pelo Banco do Brasil contra ato do Ministério

Público, personificado, aquela altura, pelo procurador-Geral Geraldo

Brindeiro. Questionava-se, justamente, o acesso do ~inistério

Público, sem a interferência do Judiciário, para lograr dados de

correntistas. Sustentei, neste Plenário, que a cláusula

constitucional do sigilo - a revelar a regra, sendo o afastamento a

exceção - contida no rol das garantias constitucionais não

excepciona esta ou aquela hipótese. Prevaleceu, porém, a óptica de

que, envolvido dinheiro público, o Ministério Público pode agir na

via direta e obter as informações.

Indago - e não estou a perquirir o acer

do ato do Banco Central, no que, a pretexto de

5

adentrado contas: a espécie envolve dinheiro públi

Page 53: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

percebi do relatório, da sustentação do ~inistério Público, das

sustentações da tribuna, não se tem o envolvimento de dinheiro

público. De qualquer forma, haveria um vicio inicial na quebra, pelo

Banco Central, do sigilo de dados. A reserva ao Judiciário está em

bom vernáculo no inciso XII do artigo 5" da Carta da República:

é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicaç8es telefõnicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

Dir-se-á: é inconstitucional o inciso IV do § 3 e do

artigo 1-a Lei Complementar nQ 105, de 2001? Penso que não, no que

confiro a esse preceito interpretação harmônica com o disposto no

inciso XII do artigo 5" do Diploma Maior. A referência a autoridades

competentes direciona, necessariamente - sob pena, até mesmo, de

inaugurarmos época de quase terror - a pleito de autoridade que

atue no campo judicante, pleito do Estado-Juiz.

Por isso, penso não subsistir tudo o que, na denúncia,

estiver baseado estritamente - estritamente - nos dados fornecidos

pelo Banco Central.

Vou repetir o que já foi lembrado

paga-se um preço por se viver em um Estado

esse preço é módico, estando ao alcance

irrestrito as regras estabelecidas. O afã

Page 54: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

melhores, o afã de punir-se não pode implicar atropelo, não pode

resultar em atropelo ao ordenamento jurídico.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Só um

esclarecimento. Vou ler para Vossa Excelência os termos em que foi

vazada essa impugnação. Eles pedem que a denúncia seja rejeitada:

"pelo menos em toda a parte em que se refere a 'recursos originários de supostos empréstimos bancdrios junto aos Bancos Rural e BMG e aos supostos benefícios dados selo Governo Federal ao Banco BMG em troca da - alimentação do esquema da organização criminosa com aqueles mesmos recursos, bem como a participação na organização criminosa dos dirigentes do Banco Rural e realização de saques em espécie para lavagem de dinheiro r . "

Alegam ainda:

"que as provas obtidas para respaldar esta parte da acusação foram colhidas de modo ilegal, pois o BACEN teria atendido a pedido direto do Procurador-Geral da República , "

Ou seja, não indicam quais são esses documentos. Que

documentos são esses?

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Mas indicam O vício

da denúncia no que confeccionada a partir desses

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM

documento, houve uma fiscalização

Central.

Page 55: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Foram feitas

auditorias.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Auditorias do próprio Banco Central.

o SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - ~í é que está. ~ ã o

confundo atividade fiscalizadora do Banco Central quanto às

instituições financeiras - e ele existe realmente para implementar

essa fiscalização - com o acesso, em si, a dados de contas-correntes

que estão cobertos - em bom português - pelo ,sigilo, tendo em conta

o inciso XII do artigo 5 " da Constituição Federal.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Se bem que a

Constituição não diga "dados bancários", só diz "dados".

O SENHO~INISTRO CEZAR PELUSO - Essa interpretação de

dados aí é outro problema seriíssimo.

O SENHOR MINISTRO CARLOS B R I ~ - Essa interpretação é

muito relativa.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Mas, ministro, O que

não é sério em se tratando de julgamento pelo próprio Supremo?

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Ministro Marco

Aurélio, ponderaria o seguinte: se o Banco Central tem e não pode

deixar de ter, o dever de comunicar ao Ministério

recolha na atividade de fiscalização, pergunto: como

Central pode comunicar ao Ministério Público

Page 56: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

prática de ilícito, mas não possa dar elementos concretos ao

Ministério Público para investigar?

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Ministro, a minha

premissa é outra.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Ou seja, existe, nas

contas do banco tal, irregularidade. E aí, o Ministerio Público faz

o quê?

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Principalmente

quanto ao crime de evasão de divisas.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Tem de comunicar os

elementos concretos suficientes para possibilitar o início da

atividade do Ministério Público.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Compreendemos de

forma diversa o texto constitucional!

Vejo, no referido inciso XII, uma reserva exclusiva

quanto ao sigilo de dados; vejo, no inciso XII, a Única

possibilidade de a privacidade ser afastada mediante ordem do

Judiciário. e o Banco Central não inteura o Judiciário. O Banco

Central fiscaliza as instituições financeiras. Sei fina prática,

isso não ocorre, mas, formalmente, ele não pode,

consoante dispõe o inciso XII analisado - e digo qu em acesso

a ponto de escancarar -, a informações de correntistas Y7

Page 57: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&/Awvw f i d w d && Ing 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Não. Ele pode

transmitir a informação, mantendo a cláusula do sigilo, da

confidencialidade.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Se ele realmente

tem, vou reconhecer essa prerrogativa relativamente as demais

agências existentes no País.

Se o Ministério Público, fiscal da lei, titular da

ação penal, tem dúvidas quanto a um desvio qualquer, considerada

certa conta bancária, as portas do Judiciário estão abertas para o

ato de constrição da maior envergadura, pois afasta a privacidade,

que é a quebra do sigilo quanto aos dados existentes na conta-

corrente.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - A questão é

extremamente delicada porque, dependendo da posição que se adote,

bastaria que o Ministério Público sempre se dirigisse ao Banco

Central para que ele contornasse a reserva de jurisdição toda vez

que pedisse alguma informação em relação a qualquer cliente.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - O que se quer é o

equilíbrio, considerado o sistema de freios e contrapesos. A atuação

de um órgão eqiiidistante, um órgão realmente independente, como é

qualquer dos que integram o Judiciário.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Sim,

exatamente a mesma coisa. Se assumirmos a premissa,

Banco Central tem a fiscalização das contas,

1 o

Page 58: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ministério Público a ele se dirigisse para obter essas informações.

Ele, verificando a eventual irregularidade, diria: não estou a

atender o pedido do Ministério Público, mas, cumprindo o meu dever

de comunicação, estou a fazê-lo. O que se representaria, em última

instância, de fato, consagrar a possibilidade de o Ministério

Público requisitar essas informações.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Transformando-se a

exceção em regra!

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Agora, o Relator tem

um outro argumento de que sequer é possível?

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - De

identificar quais são os atos, os elementos, os documentos. Há mais:

houve também a quebra de sigilo pela CPMI dos Correios.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - ISSO é uma outra

coisa. Em relação à mesma questão?

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Em

relação a todos esses fatos. Todos esses dados estão cobertos pela

quebra decretada pela CPI dos Correios.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Isso prejudica toda a

discussão.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Surge

que poderia me levar à evolução, não fosse certo vício

Presidente, continuando no voto, constat

o relator:

Page 59: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

"Na verdade, o que consta dos autos em respaldo as acusações de lavagem de dinheiro são relatórios de fiscalização do BACEN," - relatórios, para mim, por demais abrangentes - "que foram objeto de requerimento aprovado na CPMI dos Correios, " [ . . . I

Aqui temos na origem, a meu ver, no que esses

relatórios abrangeram informações cobertas pelo sigilo, um vício que

contamina a denúncia porque calcada - não posso precisar a extensão

dessa contaminação - nesses dados.

O fato de a Comissão Parlamentar Mista de Inquérito

dos Correios haver solicitado ao Banco Central os dados não legitima

a obtenção desses dados, o acesso a esses dados, pelo próprio Banco

Central.

Mantenho o voto, acompanhando, no caso, o ministro

Gilmar Mendes

Sétima preliminar:

[ . . . I "documentos encaminhados pelo Banco BMG ao Ministério Público Federal, atendendo a pedido direto do órgão ministerial," - Sua Excelência, o relator, assim o qualifica - "não assiste razão a defesa."

Segue-se :

1 . . . I "amparou-se na decisão que teria sido prolatada pelo ministro portanto, a cadeira de juiz - investigados" [ . . . I

Page 60: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@@BWW & d W d Inq 2.245 / MG

Aqui, sim, deu-se o afastamento do sigilo de forma

harmônica com o que se contém na Constituição Federal.

Sobre a problemática do afastamento do sigilo de

dados, consideradas contas no exterior, a regência é pela legislação

onde essas contas existiam, não ocorrendo, portanto, o vício

apontado.

Subscrevo o voto proferido pelo relator.

Nona questão: cerceamento de defesa quanto à juntada

de documentos após a apresentação do pronunciamento prévio versado

na Lei nQ 8 . 0 3 8 / 9 0 .

Ressaltou o relator que a denúncia foi apresentada

antes da juntada desses documentos. Logicamente, aprecia-se a

adequação ou não da denúncia em face das peças que antecedem essa

mesma denúncia.

Acompanho Sua Excelência nessa parte.

. Por último, a alegação - e não a tomo como ofensiva -

de que este julgamento seria um julgamento político.

Existe independência, consideradas as esferas

política, cível, administrativa e penal. Ocupo uma cadeira de juiz,

não uma cadeira do parlamento!

Não há como imaginar, por maior que seja a perda de - -

parâmetros na atualidade - os tempos são muito

Corte possa atuar de forma política. Atua ela com

eqüidistância, revelando-se a última trincheira do

13

Page 61: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Acompanho o ministro Gilmar Mendes para expungir,

quanto aos autos do inquérito, as peças obtidas indevidamente, via

remessa pelo Banco Central, que dizem respeito a dados de

correntistas, a dados de contas-correntes, conseqüência de j6

me pronunciar quanto ao recebimento da no tocante a

imputados procedimentos que seriam conde envolvidos a

partir dessas mesmas peças.

É como voto.

Page 62: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 4 4 6

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Senhora Presidente, se Vossa ExcelGncia me permite? Gostaria de

reiterar o que já disse no sentido de que todas essas quebras

são absolutamente regulares, por diversas razões: primeiro

lugar, elas estão cobertas pela decisão da CPMI que antecede

esse Inquérito. A CPMI decretou a quebra de sigilo bancário.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - O que estamos

fazendo então aqui, ministro? Se a Comissão Parlamentar

Inquérito tem essa soberania, o que estamos fazendo aqui?

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Mas ela

requisitar as informações sigilosas.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA RELATOR) -

Claro, isso se insere dentro das suas atribuições.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO -

investigatórios próprios do Poder Judiciário.

$cs O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Mas ai a

premissa é outra. O acesso aos dados teria ocorrido mediante

participação de quem não poderia afastar o sigilo, o Banco

Central. A premissa do meu voto é essa. I

Page 63: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOS (RELATOR) - Em 'n segundo lugar, Senhora Presidente, essas quebra

cobertas.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - S\houve quebra

regular pela CPMI, está resolvido.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Não, quanto a

isso não há duvida.

O SENHOR MINISTRO - Não

há dúvida quanto a isso.

O SENHOR MINISTRO GILMAR S - Mas não retira.

Como essa questão preliminar foi colocada como uma questão

autônoma, é sobre isso que estamos a votar.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Não, não, mas,

quanto a isso, não há dúvida.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Ministro, veja

Vossa Excelência: posso perquirir, a esta altura, a origem da

vinda ao processo desses dados e exercer glosa quanto a essa

origem. Qual foi a origem? Uma quebra de sigilo pelo Banco

Central.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - É só isso.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Além do mais, a

grande maioria diz que são fatos noticiados pelas testemunhas,

são saques. Sigilo do quê?

Page 64: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Entendo que, além do que acabo de dizer, houve, sim, decisão

judicial do Presidente desta Corte, tomada em julho de 2005,

ratificando, em primeiro lugar, todos os atos de quebra

decretados pelo Juiz de primeira instância, de Belo Horizonte,

e, em segundo lugar, determinando o compartilhamento das

decisões tomadas, dos dados obtidos pela CPMI.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Façamos justiça

ao ex-Presidente da Corte. Não placit Sua Exce ncia a quebra

do sigilo pelo Banco Central.

o SENHOR MINISTRO JOAQUIM % i f i osA (REiAToR) - Leio

a decisão tomada pelo Ministro Nelson Jobim, em julho de 2005,

antes, portanto, deste inquérito chegar as minhas mãos. Ele só

chegara às minhas mãos em agosto:

" (3) f . . . ) a r a t i f i c a ç ã o das decisões j ud i c ia i s prolatadas nos autos das medidas cau te lares de busca e apreensão e afastamento do s i g i l o bancário" (. . .) ;

( 4 ) a extensão do afastamento do s i g i l o bancário das empresas DNA Propaganda L t d a . E SMP&B Comunicação L t d a . ," - precisamente as empresas - "de MARCOS vALÉRIo FERNADES DE SOUZA" - que é o acusado que suscita, o argüente - " e sua esposa RFNILDA MARIA SANTIAGO =ANDES DE SOUZA, desde janeiro de 1998 a t é a presente data;

( 5 ) autorização,para compartilhamento de todas as informações bancárias já obt idas pela CPMI dos 'Correios ' , para aná l i s e em conjunto com os dados constantes de s t e s autos ."

Page 65: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Não vejo onde ilegalidade se a

decisão partiu desta Corte. os atos de

quebra estão respaldados.

O SENHOR - Ministro

relator, não vamos embaralhar coisas diversas. Vossa Excelência

aborda a determinação do ministro Nelson Jobim no tocante ao que

apontei, aqui, em seu voto, como segunda preliminar:

"nulidade das decisões proferidas na primeira instância."

E, mesmo assim, no ato de Sua Excelência, não há

uma linha sequer sobre a valia, ou não, da quebra de sigilo de

dados pelo Banco Central.

A primeira decisão da Corte - alusiva a julmento

de recurso - sobre essa matéria é recente, ainda não há acórdão

publicado da Primeira Turma.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Que não vincula

este Pleno.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURELIO - Ministro, sou o

primeiro a dizer que, neste âmbito, não há campo para

Há na Turma. No Plenário, os temas podem e

rediscutidos caso exista entendimento diverso de qualquer

integrante.

Page 66: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Tinha uma

decisão da Turma.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Na Turma, por

uma disciplina judicante, ressalvo o entendimento em relação aos

precedentes do Plenário do Supremo. Aqui, não. Aqui, ficamos

livres. Não estou dizendo que o pronunciamento, por três a dois,

da Primeira Turma tem eficácia vinculante.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Perfeito, não

vincula o Pleno.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Mesmo porque não

vejo com muita simpatia - e disse isso várias vezes - o verbete

vinculante. Não há, no caso, verbete, mas acórdão que ainda não

foi publicado. Estou dizendo que aquela decisão - utilizarei uma

expressão a seu gosto - é uma decisão escoteira, e não se trata

aqui de julgar, em relaçáo a ela, embargos de divergência, mesmo

porque se mostraria difícil encontrar pronunciamento do Supremo

em sentido diametralmente oposto.

Agora, não posso vislumbrar, nesse trecho do ato

transcrito no voto do relator, da lavra do ministro Nelson

Jobim, o endosso ã quebra de sigilo não pela Comissã

Parlamentar Mista de Inquérito, não pela Comissão Parlamentar de

Inquérito, mas pelo Banco Central. O Banco Central, para mim,

não tem ainda esse poder e espero que jamais o tenha. i

Page 67: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007 TRIBTINAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

À revisão de apartes dos Senhores Ministros JOAQUIM BARBOSA (Relatar), CEZAR PELUSO, MARCO AURÉLIO

e ELLEN GRACIE (Presidente).

V O T O - - - -

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Senhora Presidente,

manifesto-me, inicialmente, de acordo com o voto do eminente

Ministro-Relator, salvo a questão ora em debate, que j6 constitui

ob j &to de divergência.

Também entendo que a ação do Minist6rio Público não

pode subordinar-se à atividade dos organismos policiais. Ainda mais

quando o Ministbrio Público, segundo ele próprio sustenta, dispõe de

elementos de informação que lhe permitem adotar, em juízo, as

medidas que lhe parecerem pertinentes, inclusive a própria

instauração. judicial da persecução penal. É certo que, se a denúncia

não se apoiar em base empírica adequada e não tiver por suporte uma

fundamentação mínima, portanto, um substrato probatório mínimo, esta

Corte, no exercício do controle jurisdicional prévio da

admissibilidade da peça acusatória, seguramente irá decidir e

formular um juízo negativo a esse respeito. Mas, de qualquer

S T F 102.W2

Page 68: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

maneira, o que não tem sentido é submeter o Ministério Público a

atuação dos organismos policiais.

É por essa razão que tenho acentuado, nesta Corte

(Inq 2.033/DF, g . , que a formulação da acusação penal, por

prescindir da prévia instauração de inquérito policial, pode ser,

desde logo, deduzida em juízo.

Se é certo que nem sempre o ajuizamento da ação penal - dependerá de inquérito policial, não é menos exato que a formulação de

acusação penal, para efetivar-se independentemente das investigações

promovidas pela Polícia Judiciária, deverá apoiar-se, não em

fundamentos retóricos, mas em elementos, que, instruindo a denúncia,

indiquem a realidade material do delito e apontem para a existência de

indícios de autoria.

ISSO significa, portanto, que o órgão de acusação,

mesmo quando inexistente qualquer investigação penal promovida pela

Polícia Judiciária, pode fazer instaurar a pertinente persecução

criminal, desde p- disponha, para tanto, de elementos mínimos de

informação, fundados em base empírica idônea, pois - como se sabe - a

formulação de denúncia ou de queixa-crime, para validamente efetivar-

-se, "deve ter por supor t e uma necessária b a s e empír ica , a fim d e

Page 69: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

que o exercício desse grave dever-poder não se transforme em

instrumento de injusta persecução estataln (RTJ - 168/896, Rel . Min. CELSO DE MELLO).

Cumpre ter presente, desse modo, que, embora

dispensável a prévia instauração de inquérito policial, - a formulação da acusação penal, em juízo, supõe, não a prova completa e integral - do delito e de seu autor (o que somente se revelará exigível para

efeito de condenação penal), mas a demonstração - fundada em

elementos probatórios mínimos e lícitos - da realidade material do

evento delituoso e da existência de indícios de sua possível

autoria, consoante correta advertência do E. Tribunal de Justiça do

Estado de São Paulo:

"Denúncia - Recebimento - Suficiência da fundada suspeita da autoria e prova da materialidade dos fatos - Inteligência do art. 43 do CPP.

Para o recebimento da denúncia, é desnecessária a prova completa e taxativa da ocorrência do crime e de seu autor, bastando a fundada suspeita de autoria e a prova da materialidade dos fatos." (RT 671/312, Rel. Des. LUIZ BETANHO - grifei) -

irapende enfatizar, neste ponto, que o magistério

jurisprudencial do Supremo Tribunal Federal, confirmando esse

entendimento, - tem acentuado - ser dispensável, ao oferecimento da

denúncia, - a prévia instauração de inquérito policial, desde seja

Page 70: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

e v i d e n t e a ma te r ia l idade do f a t o alegadamente d e l i t u o s o - e e s t e j a m

presen te s indícios de sua a u t o r i a (AI - 266.214-AgR/SP, R e l . Min.

SEPÚLVEDA PERTENCE - HC - 63.213/SP, R e l . Min. NÉRI D A SILVEIRA -

HC 77.770/SC, R e l . Min. NÉRI D A S ILVEIRA - RHC 62.300/RJ, R e l . Min. - - ALDIR PASSARINHO, v . g . ) :

'O oferecimanto da denúncia - não depende, necessariamente, de prévio inquérito policial. A d e f e s a do acusado se f a z em j u í z o , e não n o i n q u é r i t o p o l i c i a l , que é meramente i n f o r m a t i v o (. . . ) . " (RTJ - 101/571, R e l . Min. MOREIRA ALVES - g r i f e i )

" m ú n c i a - Oferecimento sem a instauração de i n q u é r i t o p o l i c i a l - A&pissibilidade, se a Promotoria dispõe de elementos suficientes para a formalização de ação penal ( . . . ) . " (RT - 756/481, Rel . Min. MOREIRA ALVES - g r i f e i )

" 'XABEAS CORPUS' - MINISTÉRIO PÚBLICO - o w ~ ~ c ~ w ~ n i n , DE D E N ~ N C I A - DESNECESSIDADE DE PRÉVIA INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL - EXISTÊNCIA DE ELEMENTOS M Í ~ M O S DE INFORMAÇÃO QUE POSSIBILITAM O IMEDIATO AüVIZAMENTO DA AÇÃO PENAL - INOCORRÊNCIA DE SITUAÇÃO DE INJUSTO CONSTRANGIMENTO - PEDIDO INABFBRIrn .

- O i n q u é r i t o p o l i c i a l não constitui pressupos to l e g i t i m a d o r da válida ins tauração , pelo Ministério Público, da ' p e r s e c u t i o c r i m i n i s i n j u d i c i o ' . Precedentes.

O Ministério Público, por i s s o mesmo, para oferecer d e n z c i a , &o depende de prévias i n v e s t i g a ç õ e s penais promovidas pe la Po l í c ia J u d i c i á r i a , desde que disponha, para t a n t o , de elementos mínimos d e informação, fundados em base empírica idônea , sob pena de o desempenho da gravíssima prerrogat iva de acusar transformar-se em e x e r c í c i o irresponsável d e poder, convertendo, o processo penal , em inaceitável ins t rumento de a r b í t r i o e s t a t a l . Precedentes." (HC - 80.405/SP, Re l . M i n . CELSO DE MELLO)

Page 71: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

A "ratio" subjacente a essa orientação - que também

traduz a posição dominante na j u r i s p r u d ê n c i a dos T r i b u n a i s em geral

(RT 6 6 4 / 3 3 6 - RT 7 1 6 / 5 0 2 - RT 7 3 8 / 5 5 7 - RSTJ 6 5 / 1 5 7 - RSTJ 1 0 6 / 4 2 6 ,

v . . - encontra apoio no próprio magistério da doutrina (DAMÁSIO E .

DE JESUS, "Código de Processo Penal Anotado", p. 0 7 , 1 7 * ed., 2 0 0 0 ,

S a r a i v a ; FERNANDO DA COSTA TOURINHO FILHO, "Código de Processo Penal

Comentado", vol. I , p . 111, 4' ed., 1 9 9 9 , S a r a i v a ; JULIO FABBRINI

MIRABETE, "Código de Processo Penal Interpretadon, p . 1 1 1 ,

i t e m n . 1 2 . 1 , 7' ed., 2000 , A t l a s ) , cuja percepção do t e m a põe - em

destaque que, 'se - está a parte privada ou o M i n i s t é r i o Público na

posse de todos os elementos, pode, sem necessidade de requerer a

a b e r t u r a do inquéri to, oferecer, desde logo, a s u a queixa o u

denúncia" (EDUARDO ESPÍNOLA FILHO, "C6digo de Processo Penal

Brasileiro Anotadon, v o l . I , p . 2 8 8 , 2 0 0 0 , B o o k s e l l e r - grifei).

É E essa razão que o Supremo T r i b u n a l F e d e r a l , por - - m a i s de uma v e z (RTJ - 6 4 / 3 4 2 ) , decidiu que "Não - - 6 essencial ao

oferecimento da denúncia a i n s t a u r a ç ã o de inquér i to po l i c i a l , desde

que a p e ç a - a c u s a t ó r i a esteja sustentada por d o c u m e n t o s suficientes à

caracterização da materialidade do c r i m e e de indícios s u f i c i e n t e s

da a u t o r i a " (RTJ - 76/741, R e l . Min. CUNHA PEIXOTO).

Page 72: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Com estas observações, acompanho, nesse ponto

específico, o eminente Ministro JOAQUIM BARBOSA.

Entendo, - entanto, na linha de voto (vencido) por mim

proferido no MS 21.729/DF, de que foi Relator originário o eminente

Ministro MARCO AURÉLIO, que - não assiste, ao Ministério Público, 2

poder requisitar, por autoridade própria, ao Banco

Central, mas - - a qualquer instituição financeira, - a quebra do sigilo bancário.

Observo que o eminente Ministro-Relator salienta que o

Senhor Procurador-Geral da República solicitou, diretamente, tais

documentos ao próprio Banco Central, o que - segundo entendo -

constitui medida ue torna ilícita a prova daí resultante.

No caso, portanto, o eminente Procurador-Geral da

República obteve informações, que, embora revestidas de sigilo -

somente superável por ordem judicial ou deliberação de Comissão

Parlamentar de Inquérito - foram-lhe transmitidas, em decorrência

de requisição direta, pelo Banco Central do Brasil.

A controvérsia instaurada na presente causa suscita

algumas reflexões em torno do tema pertinente ao alcance da norma

Page 73: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

inscrita no art. 5 9 , X e XII, da Constituição, que, ao consagrar a

tutela jurídica da intimidade, dispõe que "são invioláveis a

intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas. . . "

(grifei).

Como se sabe, o direito a intimidade - que representa

importante manifestação dos direitos da personalidade - qualifica-se

como expressiva prerrogativa de ordem jurídica que consiste em

reconhecer, em favor da pessoa, a existência de um espaço

indevassável destinado a protegê-la contra iadevidas interferências

de terceiros na esfera de sua vida privada.

Daí a correta advertência feita por CARLOS ALBERTO DI

FRANCO, para quem "Um dos grandes desafios da sociedade moderna é a

preservação do direito à intimidade. Nenhum homem pode ser

considerado verdadeiramente livre, se não dispuser de garantia de

invio1abilida.de da esfera de privacidade que o cercan .

Por isso mesmo, a transposição arbitrária, para o

domínio público, de questões meramente pessoais, sem qualquer

reflexo no plano dos interesses sociais, tem o significado de grave

transgressão ao postulado constitucional que protege o direito à

intimidade (MS 23.669-MC/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), pois - este, na abrangência de seu alcance, representa o "direito de

Page 74: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

excluir, do conhecimento de terceiros, aquilo que d iz respeito ao

modo de s e r da vida privada" (HIWNAH ARENDT).

É certo que a garantia constitucional da intimidade - não

tem caráter absoluto. Na realidade, como já decidiu es ta Suprema - Corte, 'Não há, no sistema constitucional brasileiro, d i re i tos ou

garantias que s e revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões

de relevante interesse público ou exigências derivadas do princípio

de convivência das 1 iberdades legitimam, ainda que excepcionalmente,

a adoção, por par te dos órgãos es ta ta is , de medidas r e s t r i t ivas das

prerrogativas individuais ou c01 etivas, desde que respeitados os

termos estabelecidos pela própria Constituição" (E 23.452/RJ, Rei.

Min. CELSO DE MELLO). Isso não significa, contudo, que o estatuto -- - constitucional - das liberdades públicas - nele compreendida a

garantia fundamental da intimidade - possa =r arbitrariamente

desrespeitado por qualquer órgão do Poder Público.

Nesse contexto, põe-se - em evidência a questão

pertinente ao sigilo bancário, que, ao dar expressão Concreta a uma

das dimensões em que se projeta, especificamente, a garantia

constitucional da privacidade, protege a esfera de intimidade

financeira das pessoas.

Page 75: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Embora o sigilo bancário, também ele, - não tenha caráter

absoluto (RTJ - 148/366, Rel. Min. CARLOS VELLOSO - MS - 23.452/RJ, Rei. Min. CELSO DE MELLO, v.g.), deixando - de prevalecer, por isso mesmo,

em casos excepcionais, diante de exigências impostas pelo interesse - - público (SERGIO CARLOS COVELLO, "O Sigilo Bancário como Proteçã0 à

Intimidade", 'in" Revista dos Tribunais, vol. 648/27), -- não se pode

desconsiderar, no exame dessa questão, que o sigilo bancário reflete

uma expressiva projeção da garantia fundamental da intimidade -

intimidade financeira das pessoas, em particular -, - não - se exp ondo ,

em conseqüência, enquanto valor constitucional que é (VÂNIA

SICILIANO AIETA, "A Garantia da Intimidade c o m Direito

Fundamentaln, p. 143/147, 1999, Lumen Juris), a intervenções

estatais a intrusões do Poder Público desvestidas de causa

provável - ou destituídas de base jurídica idônea.

Tenho insistentemente salientado, em decisões várias

que j6 proferi nesta Suprema Corte, que a tutela jurídica da

intimidade constitui - qualquer que seja a dimensão em que se

projete - uma das expressões mais significativas em que se

pluralizam os direitos da personalidade. Trata-se de valor

constitucionalmente assegurado (CF, art. 5 O , X), cuja proteçáo

normativa busca erigir e reservar, sempre em favor do indivíduo - e

contra a ação expansiva do arbítrio do Poder Público - uma esfera de

Page 76: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

autonomia intangível e indevassável pela atividadedesenvolvida pelo

aparelho de Estado.

O magistério doutrinário, bem por isso, tem acentuado

que o s ig i l o bancário - que possui extração constitucional -

reflete, na concreção do seu alcance, um direito fundamental da

personalidade, expondo-se, em conseqüência, à proteção jurídica a

e le dispensada pelo ordenamento positivo do Estado.

O eminente Professor ARNOLDO WALD, em precisa abordagem

do tema, arrpepdeu lúcidas considerações a respeito dessa questão,

destacando a essencialidade da tu te la constitucional na proteção

polít ico-jurídica da intimidade pessoal e da liberdade individual:

'Se podia haver dúvidas no passado, quando as Constituições brasi leiras não s e referiam especificamente à proteção da intimidade, da vida privada e do s i g i l o referente aos dados pessoais, 6 evidante que, diante do texto constitucional de 1988, tais dúvidas não mais existem quanto a proteção do sigilo bancário como decorrência das normas da lei ma-.

Efetivamente, a s Constituições Brasileiras anteriores à de 1988, não só não asseguravam o d i re i to à privacidade como também, quando tratavam do s ig i lo , limitavam-se a garanti-lo em relação à correspondência e à s comunicações telegrdficas e telefônicas, não s e referindo ao s ig i l o em relação aos pap6is de que tratam a Emenda n* I V à Constituição Americana, a Constituição Argentina e l e i s fundamentais de outros países. Ora, fo i em virtude da referência aos pap6is que tanto O

d i re i to norte-americano quanto o argentino concluíram

Page 77: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

que o s documentos bancár io s t inham pro t eção c o n s t i t u c i o n a l .

Com a r evo lução t e c n o l ó g i c a , o s ' p a p é i s ' se transformaram em 'dados ' geralmente armazenados em computadores ou f l u i n d o a t r a v é s d e impu l sos e l e t r ô n i c o s , ense jando enormes c o n j u n t o s d e i n fo rmações a r e s p e i t o das pessoas , numa época em que t o d o s reconhecem que a in formação é poder . A coiqputadorização da sociedade exigiu uma maior proteção a privacidade, sob pena de colocar o indivíduo sob contínua fiscalização do Governo, i n c l u s i v e nos a s s u n t o s que s ã o do e x c l u s i v o interesse da pessoa . Em d i v e r s o s p a í s e s , l e i s e s p e c i a i s d e pro teção con t ra o u s o i n d e v i d o d e dados foram promulgadas e , no Brasil, a inviolabilidade dos dados individuais, qualquer que s e j a a sua origem, forma e f i n a l i d a d e , passou a merecer a proteção constitucional em v i r t u d e da r e f e r ê n c i a expre s sa que a eles passou a f a z e r o i n c i s o XII do a r t . 5 * , modi f i cando , a s s im , a pos i ção a n t e r i o r da nos sa l e g i s l a ç ã o , na qual a i n d e v a s s a b i l i d a d e em r e l a ç ã o a t a i s in formaçbes d e v i a ser c o n s t r u í d a com b a s e n o s p r i n c í p i o s g e r a i s que asseguravam a l i b e r d a d e i n d i v i d u a l , podendo a t e e n s e j a r i n t e r p r e t a ç õ e s d i v e r g e n t e s ou c o n t r a d i t ó r i a s .

Assim, agora em v i r t u d e dos t e x t o s e x p r e s s o s da C o n s t i t u i ç ã o e e spec ia lmen t e da i n t e r p r e t a ç ã o s i s t e m á t i c a dos i n c i s o s X e XII do a r t . 5* da CF, f i c o u evidente que a proteção ao sigilo bancário adquiriu nível constitucional, impondo-se ao l e g i s l a d o r , o que, n o passado, podia ser menos evidente. " (,"Caderno de Direito ~ributário - e Finanças Públicas", v o l . 1/206-1992, RT - grifei)

O direito à inviolabilidade d e s s a f ranqu ia i n d i v i d u a l -

que constitui um dos n ú c l e o s b á s i c o s em que s e d e s e n v o l v e , em n o s s o

P a í s , o regime das l i b e r d a d e s púb l i ca s - ostenta, n o e n t a n t o ,

c a r á t e r meraqente r e l a t i v o . e assume nem se reveste d e na tu re za

a b s o l u t a . - Cede, por i s s o mesmo, e s m r e em caráter excepcional, às

Page 78: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

exigências impostas pela preponderância axiológica e jurídico-social

do interesse público.

A pesquisa da verdade, nesse contexto, constitui um dos

princípios dominantes e fundamentais no processo de "disclosure" das

operações celebradas no âmbito das instituições financeiras. Essa

busca de elementos informativos - elemantos estes que compõem o

quadro de dados probatórios essenciais para que o Estado desenvolva

regularmente suas atividades e realize os fins institucionais a que

se acha vinculado - sofre os necessários condicionamentos que a

ordem jurídica impõe à ação do Poder Público.

Tenho enfatizado, por isso mesmo, que a quebra do

sigilo bancário - ato que se reveste de extrema gravidade jurídica -

e6 deve ser decretada, 2 sempre em caráter de absoluta - excepcionalidade, quando existentes fundados elementos que

justifiquem, a partir de um critério essencialmente apoiado na

prevalência do interesse público, a necessidade da revelação dos

dados pertinentes às operações financeiras ativas e passivas

resultantes da atividade desenvolvida pelas instituições bancárias.

A relevância do direito ao sigilo bancário - que traduz

uma das projeções realizadoras do direito A intimidade - impõe, por

Page 79: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

isso mesmo, cautela - e prudência ao Poder Judiciário na determinação da ruptura da esfera de privacidade individual que o ordenamento

jurídico, em norma de salvaguarda, pretendeu submeter a cláusula

tutelar de reserva constitucional (CF, art. 5*, X).

É preciso salientar, neste ponto, que a jurisprudência

do Supremo Tribunal Federal proclamou a plena compatibilidade

jurídica da quebra do sigilo bancário, permitida pela

Lei nQ 4.595/64 (art. 3 8 ) , com a norma inscrita no art. 5 * ,

incisos X e XII, da Constituição (Pet 577-QO/DF, Rel. Min. CARLOS

VELLOSO, DJü de 2 3 / 0 4 / 9 3 ) , reconhecendo possível autorizar - quando

presentes fumiadas razões - , a pretendida ndisclosure" das

informações bancárias reservadas (RTJ 1 4 8 / 3 6 6 ) .

Mais do que isso, esta Suprema Corte salientou, ao

julgar o Inq 897-AgR/DF, Rei. Min. FRANCISCO REZEK, DJü de 02 /12 /94 ,

que, sendo absoluta a garantia pertinente ao sigilo bancário,

torna-se lícito afastar, quando - de investigação criminal - se cuidar,

a cláusula de reserva que protege as contas bancárias nas

instituições financeiras, revelando-se ordinariamente inaplicável,

para esse específico efeito, a garantia constitucional do

contraditório

Page 80: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

I w 2.245 / MG 012464

Impõe-se obsemar, por necessário - e tal como adverte

JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE ("Os Direitos Rindamentais na

Constituição Portuguesa de 1976", p. 220 /224 , 1987, Livraria

Almedina, Coimbra) - que a ampliação da esfera de incidência das

franquias individuais e coletivas, de um lado, e a intensificação da

proteção jurídica dispensada As liberdades fundamentais, de outro,

tornaram inevitável a ocorrência de situações caracterizadoras de

colisão de direitos assegurados pelo ordenamento constitucional.

Com a evolução do sistema de tutela constitucional das

liberdades públicas, dilataram-se - os espaços conflito em cujo

âmbito antagonizam-se, em função de situações concretas emergentes,

posições jurídicas revestidas de igual carga de positividade

normativa.

Vários podem ser, dentro desse contexto excepcional - de

conflituosidade, os critérios hermenêuticos destinados à solução das

colisões de direitos, que - vão desde o estabelecimento de uma ordem

hierárquica pertinente aos valores constitucionais tutelados,

passando pelo reconhecimento do maior ou menor grau de

fundamentalidade dos bens jurídicos em posição de antagonismo, até a

consagração de um processo que, privilegiaado - a unidade

supremacia - da Constituição, viabilize - a partir da adoção "de um

Page 81: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cri tério de proporcionalidade na distribuição dos custos do

confliton (JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, "op. loc. cit.") - a

harmoniosa composição dos direitos em situação de colidência.

Sendo assim, impõe-se o deferimento da quebra de sigilo

bancário, sempre que essa medida se qualificar como providência

essencial e indispensável à satisfação das finalidades inderrogáveis

da investigação estatal, desde que - consoante adverte a doutrina -

não exista 'nenhum meio menos gramso para a consecução de tais - objetivosn ( IVES GANDRA MARTINS/GILMAR FERREIRA MENDES, 'Sigilo

Bancário, Direito de Autodeterminação sobre Informações e Princípio

da Proporcionalidade", "in" Repertório IOB de Jurisprudência nn 24/92 -

28 quinzena de dezembro/92).

Contudo, para que essa providência extraordinária, e

sempre excepcional, que é a decretação da quebra do sigilo bancário,

seja autorizada, revela-se fsg?rescinâível a existência - de causa

provável, vale dizer, - de fundada suspeita quanto à ocorrência de

fato cuja apuração resulte exigida pelo interesse público.

Na realidade, sem causa provável, não se justifica, sob

pena de inadmissível consagração do arbítrio estatal e de

inaceitável opressão do indivíduo pelo Poder Público, a "disclosure"

Page 82: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

das contas bancárias, eis que a decretação da quebra do sigilo não

pode converter-se num instrumento de indiscriminada e ordinária

devassa da vida financeira das pessoas.

A quebra do sigilo bancário importa, necessariamente,

em inquestionável restrição à esfera jurídica das pessoas afetadas

por esse ato excepcional do Poder Público. A pretensão estatal

voltada à "disclosure" das operações financeiras constitui fator de

grave ruptura das delicadas relações - estruturalmente - tão

desiguais - existentes entre o Estado e o indivíduo, tornando

possível, at6 mesmo, quando iadevidamente acolhida, o próprio

comprometimento do sentido tutelar que inequivocamente qualifica,

seus aspectos essenciais, o círculo de proteção estabelecido em - torno da prerrogativa pessoal fundada no direito constitucional à

privacidade.

Dentro dessa perspectiva, revela-se de inteira

pertinência - a invocação doutrinária da cláusula do "substantive due process of law" - j6 consagrada e reconhecida, em diversas decisões

proferidas por este Supremo Tribunal Federal, como instrumento de

expressiva limitação constitucional - ao próprio poder do Estado

(e 1.063/DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO - - ADI 1.158/AM, Rel. Min.

Page 83: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

CELSO DE MELLO, v.g.) - para efeito d e submeter o processo de

"disclosure" As e x i g ê n c i a s d e s e r i edade e d e r a z o a b i l i d a d e .

Daí o registro f e i t o por ARNOLDO W U ("og. cit.",

p. 207, 1992, RT), no sentido d e que "A mais recente d o u t r i n a n o r t e -

-americana f e z do 'due process of law' uma forma d e c o n t r o l e

c o n s t i t u c i o n a l que examina a nece s s idade , r a z o a b i l i d a d e e

j u s t i f i c a ç ã o das restrições a l i b e r d a d e i n d i v i d u a l , não admi t i ndo

que a l e i o r d i n á r i a d e s r e s p e i t e a C o n s t i t u i ç ã o , considerando que a s

restrições ou exceções es t a b e l e c i d a s p e l o 1 e g i s l a d o r o r d i n á r i o devem

ter uma fundamentação razoáve l e a c e i t á v e l conforme en tend imento do

Poder J u d i c i á r i o . Coube ao J u i z Ru t l edge , n o caso Thomas v. C o l l i n s ,

d e f i n i r adequadamente a função do d e v i d o p roces so l e g a l a o a f i r m a r

que: 'Mais uma v e z temos d e e n f r e n t a r o dever, impos to a e s t a Cor t e ,

p e l o n o s s o s i s t e m a c o n s t i t u c i o n a l , d e d i z e r onde termina a l i b e r d a d e

i n d i v i d u a l e onde começa o poder do Estado. A e sco lha do l i m i t e ,

sempre d e l i c a d a , é-o, a inda ma i s , quando a presunção usual em f a v o r

da 1 ei é contrabalançada p e l a pos i ção p r e f e r e n c i a l a t r i b u í d a , em

n o s s o esquema c o n s t i t u c i o n a l , à s grandes e i n d i s p e n s á v e i s l i b e r d a d e s

democrá t icas asseguradas p e l a Primeira Emenda (. . . ) . E s t a p r i o r i d a d e

c o n f e r e a e s s a s l i b e r d a d e s s a n t i d a d e e sanção que não permitem

i n t r o m i s s õ e s dúb ia s . E é o c a r á t e r do d i r e i t o , não da l i m i t a ç ã o , que

de termina o standard guiador da e sco lha . Por e s s a s r a z õ e s , qualquer

Page 84: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

tentativa de restringir estas liberdades deve ser justificada por

evidente interesse público, ameaçado não por um perigo duvidoso e

remoto, mas por um perigo evidente e atual'" (grifei).

A exigência de preservação do sigilo bancário -

enquanto meio expressivo de proteção ao valor constitucional da

intimidade - iqpõe - ao Estado o dever de respeitar a esfera jurídica

de cada pessoa. A ruptura desse círculo de imunidade só se

justificará desde que ordenada por órgão estatal investido, nos

termos de nosso estatuto constitucional, & competência jurídica

para suspender, excepcional e motivadamente, a eficácia do princípio

da reserva das informacões bancárias

tema de ruptura do sigilo bancário, somente os

Órgãos do Poder Judiciário dispõem do poder de decretar essa medida

extraordinária, sob pena de a autoridade administrativa interferir,

indevidamente, na esfera de privacidade constitucionalmente

assegurada às pessoas. Apenas - o Judiciário, ressalvada a competência das Comissões Parlamentares de Inquérito, pode eximir as

instituições financeiras do dever que lhes incumbe em terna de sigilo

bancário.

Page 85: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

A efetividade da ordem jurídica, a eficácia da atuação

do aparelho estatal e a reação social a comportamentos qualificados

pela nota de seu desvalor ético-jurídico não ficarão comprometidas

nem afetadas, se se reconhecer aos Órgãos do Poder Judiciário, com

fundamento e apoio nos estritos limites de sua competência

institucional, a prerrogativa de ordenar a quebra do sigilo

bancário. Na realidade, a intervenção jurisdicional constitui fat0r

de preservação do regime das franquias individuais 2 i-ede, pela

atuação moderadora do Poder ihidiciário, que - se rompa, injustamente,

a esfera de privacidade das pessoas, pois a quebra do sigilo - bancário - não pode -- nem deve ser utilizada, ausente a concreta

indicação de uma causa provável, como instrumento de devassa

indiscriminada das contas mantidas em instituições financeiras.

A tutela do valor pertinente ao sigilo bancário não

significa qualquer restrição ao poder de investigar do Estado, eis

que o Ministério Público, as corporações policiais e os órgãos

incumbidos da administração tributária e previdenciária do Poder

Público s-re poderão requerer aos juizes e Tribunais que ordenem às instituições financeiras 2 fornecimento das informações reputadas

essenciais à apuração dos fatos.

Page 86: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Impõe-se destacar, neste ponto, que nenhum embaraço

resultará do controle judicial prévio dos pedidos de decretação da

quebra de sigilo bancário, pois, consoante já proclamado pelo

Supremo Tribunal Federal, não sendo absoluta a garantia pertinente

ao sigilo bancário, torna-se lícito afastar, em favor do interesse

público, a cláusula de reserva que protege as contas bancárias nas

instituições financeiras.

NSo configura demasia insistir, Senhora Presidente, na

circunstância - que assume indiscutível relevo jurídico - de que a

natureza eminentemente constitucional do direito h privacidade

impõe, no sistema normativo consagrado pelo texto da Constituição da

República, o necessidade - de intenençáo jurisdicional no processo de

revelação de dados (\~disclosuren) pertinentes às operações

financeiras, ativas e passivas, de qualquer pessoa eventualmente

sujeita à ação investigatória do Poder Público.

A inviolabilidade do sigilo de dados, tal cano

proclamada pela Carta Política em seu art. 5* , XII, torna essencial

que as exceções derrogatórias à prevalência desse postulado &

possam emanar de órgãos estatais - - órgãos & Poder Miciario

(e as Comissões Parlamentares de ~nquérito) - aos quais a própria

Page 87: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Constituição Federal outorgou essa especial prerrogativa de ordem

jurídica

A equação direito - ao sigilo - dever de sigilo exige - - para que se preserve a necessária relação de harmonia entre uma

expressão essencial dos direitos fundamentais reconhecidos em favor

da generalidade das pessoas (verdadeira liberdade negativa, que

impõe ao Estado um claro dever de abstenção), m, e a prerrogativa que inquestionavelmente assiste ao Poder Público de

investigar comportamentos de transgressão à ordem jurídica, e outro - que a determinação de quebra do sigilo bancário provenha de

ato emanado - de órgão - - do Poder ihidiciário, cuja intervenção

moderadora na resolução dos litígios revela-se garantia de respeito

tanto ao regime das liberdades públicas quanto à supremacia do

interesse público.

Sendo assim, Senhora Presidente, e tendo em

consideração as razões expostas, entendo que a decretação do sigilo

bancário pressupõe, sempre, a existência - de ordem judicial, sem o

que - se impõe à instituição financeira o dever de fornecer,

legitimamente, as informações que lhe tenham sido requisitadas.

Page 88: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

@*HM@& Inq 2.245 / MG

Daí entender, com toda a v ê n i a , na linha das ra zões já

expostas pe lo s eminen tes M i n i s t r o s GILMAR MENDES e MARCO AURÉLIO,

ser ilícita a prova em ques tão . -

~ á o constitui deanasia rememorar, n e s t e pon to , Senhora - Presidente, tal a gravidade que r e s u l t a do reconhecimento - da

ilicitude da prova, que - esta Suprema Corte, em sucessivas d e c i s õ e s

sobre a m a t é r i a , -- não tem admitido a u t i l i z a ç ã o , contra quem quer que

s e j a , d e provas ilícitas, c w resulta claro de r e c e n t í s s i m a d e c i s ã o

proferida p e l o Supremo Tr ibuna l Federa l :

(. . . ) ILICI lVDE DA PROVA - II'ADMISSIBILIDADE DE I - ..

SUA PRODUÇAO EM üWIZ0 (OU PERANTE QUALQüER INSTANCIA DE 7

PODER) - I ~ D O ~ I D A D B JURIDICA DA PROVA RESULTANTE TRANSGRESSÃO ESTATAL AO REGIME CONSTITUCIONAL DOS DIREITOS E -IAS I N D M D U A I S .

- A &o persecutória do Estado, gualquer que s e j a a i n s t x n c i a d e poder p e r a n t e a qual se i n s t a u r e , E revestir-se d e l e g i t i m i d a d e , não &e apoiar-se em e1 ementos p roba tó r io s ilicitamente o b t i d o s , sob pena d e o f e n s a à garan t i a c o n s t i t u c i o n a l do ' d u e p r o c e s s o f l a w f , que tem, n o d o m a da inadmissibilidade das provas - i l í c i t a s , uma de s u a s mais expressivas projeçaes concretizadoras n o p lano do nos so s i s t e m a d e d i r e i t o posi ti v o .

- A Constituição da República, em norma revestida d e conteúdo v e d a t ó r i o TE, a r . S9, LVI) , desautoriza, por incompat íve l com o s pos tu lados regem uma soc i edade fundada em b a s e s democrát icas (E, a r t . 1 * I , gualquer prova cu ja obtenção, p e l o Poder Púb l i co , derive. transgressão a c l á u s u l a s d e ordem c o n s t i t u c i o n a l , repelindo, por i s s o mesmo, guaisquer e lementos p roba tó r io s que resultem d e v i o l a ç ã o do d i r e i t o m a t e r i a l (3, a t é mesmo, d o d i r e i t o p r o c e s s u a l ) , pão prevalecendo, em conseqüênc ia , no -

Page 89: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

ordenamento norma t i v o b r a s i l e i r o , em matéria d e a t i v i d a d e proba t ó r i a , 3 fórmula autorFtária do 'mal e captum, bene r e t e n tum ' . Doutrina. Precedentes.

A ~ W S T Ã O DA DOUTRINA - DOS FRUTOS DA ÁRVORE i m k k u m ~ ( ' F R U ~ S -- OF THE POISONOUS - TREE' ) :Ã - QWSTÃO DA ILICITVDE POR DERIVAÇ~O. - -

- Ninguém pode s e r inves t igado , denunciado ou condenado com base, unicamente, em provas i l í c i t a s , -r se trate d e i l i c i tude o r i g i n á r i a , -r se cuide d e i 1 i c i E d e por derivação. palquer novo dado proba t ó r i o , ainda que produzido, d e modo vá l ido , em momento - subseqiiente, não pode epoiar-se, - não pode - ter fundamento causal - nem derivar de prova comprametida pela mácula da i l i c i t u d e o r i g i n á r i a .

- A arrclusão da prova originariamente i l í c i t a - ou daquelã afetada pelo vício da ilicitude por derivação- representa um dos meios m a s express i vos destinados a conferir efetividade à garantia do ' due process o f law' e a tornar mais intensa, pelo banimento da prova ilicitamente ob t ida , a t u t e l a c o n s t i t u c i o n a l p- presezira o s d i r e i t o s e prerrogat ivas =e assistem a qualquer acusado em sede processual penal . Doutrina. Precedentes.

- A doutrina - da ilicitude por derivação ( t e o r i a dos ' f r u t o ; da árvore envenenada') repudia, por cons ti tucionalmen t e inadmiss íve is , o s meios proba t ó r i o s , que, &O obstante produzidos, validamente, em momento u l t e r i o r , acham-se afetados, no entanto, pelo vício (gravíssimo) da i l i c i t u d e or ig indr ia , =e - - - a eles se transmite, contaminando-os, pOr efeito de repercussão causal . Hipótese em que os nwos dados probatórios - somente foram conhecidos, pelo Poder Público, em razão - de an ter ior transgressão pratf cada, originariamente, pelos agentes da persecução penal, p e desrespeitaram a garantia cons t i tuc ional da inv io lab i l idade domic i l iar .

- Revelam-se inadmissíveis, desse modo, em decorrência da i l i c i tude por derivação, os elementos probatórios a que os órgãos da persecução penal somente tiveram acesso razão da prova originariamente i l í c i t a , obtida como r e s u l t a d o da transgressão, por agentes e s t a t a i s , d e d i r e i t o s e garant ias c o n s t i t u c i o n a i s e l e g a i s , eficácia condicionante, no plano do ordenamento p o s i t i v o b r a s i l e i r o , traduz significativa limitação de ordem jurídica ao poder do Estado em face dos cidadãz.

2 3

Page 90: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

- Se, no entanto, o órgão da persecução penal demnstíar que obteve, legitimamente, novos elementos de informação a partir de uma fonte autônama de prova - -- E não guard-e qualquer relação de dependência - nem decorra da prova originariamente ilícita, com esta - não mantendo vinculação causal - dados probatórios revelar-se-ão plenamente acidssíveis, porque não contaminados pela mácula da ilici tude originária.

- A ~ W S T Ã O DA FONTE A V T Ô ~ M A DE PROVA ('AN I~VDEPGENT SOURCET - - - E A SUA D E S V I ~ - C Ã O CAUSAL DA PROVA ILICITAEIENTE OBTIDA - DOUTRINA - PRECEDENTES DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL - J U R I S P R ~ , ~ N C I A COMPARADA ( A - E X P E R I ~ I A DA SUPREMA CORTE AMERICWA): CASOS 'SILVERTHORNE LGER CO. V . UNITED STATES (1920) ;

SEGURA V . UNITED STATES ( 1 9 8 4 ) ; NIX V . WILLIAMÇ ( 1 9 8 4 ) ; MURUAY V . UNITED STATES ( 1 9 8 8 ) ' , x." (RHC 90.376/RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma) -

Gostaria, ainda, Senhora Presidente, de fazer outra

indagação ao eminente Ministro-Relator. Ontem, da tribuna, eu ouvi,

quando das sustentações orais, que se arguiu, também, a ilicitude de

determinada prova, por alegado desrespeito As cláusulas constantes

do acordo bilateral que o Brasil e os Estados Unidos formularam no

contexto do Acordo de Assistência Judiciária em Matéria Penal.

Tenho presente, aqui, o Artigo VI1 do Acordo Bilateral

de Assistência Judiciária em Matéria Penal que o Brasil e os Estados

Unidos da América celebraram, em Brasília, em 1997, com correção

posteriormente introduzida por ambos os Governos, por efeito de

notas reversais (notas diplomáticas trocadas em 2001).

Page 91: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Obsemo que o Artigo VI1 contém uma cláusula que impõe

restrições ao uso de documentos obtidos por efeito dessa convenção

bilateral. Eis o que diz o Artigo VII, em seu inciso 1:

"Restrições ao Uso 1. A Autoridade Central do Estado Requerido" (no

caso, portanto, os Estados Unidos da América) 'pode solicitar que o Estado Requerente" (ou seja, no contexto em exame, o Brasil) "deixe de usar qualquer informação - ou prova obtida por força deste Acordo em investigação, inquérito, ação penal ou procedimentos outros que não aqueles descritos na solicitação, sem o prévio consentimento da Autoridade Central do Estado Requerido." (no caso, o Governo dos Estados Unidos da América) . "Nesses casos, o Estado Requerente" (ou seja, o Brasil) " deverá respeitar as condições es tabelecidas. " (grifei)

Indago a Vossa Excelência, considerado o substancioso \

voto que proferiu, se esse tema foi abordado em sua decisão.

/7- O SEMIOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Foi

abordado, sim, no meu voto.

\

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Em que passagem?

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR)- Vossa

Excelência poderia ler a parte final do dispositivo do Decreto

Page 92: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O S-OR MINISTRO CELSO DE MXLLO: O decreto

presidencial em questão, que pror~~lgou referida convenção bilateral,

em nada inovou (nem poderia) nesse tema, persistindo, portanto, a

minha dúvida, eis que, segundo prescreve esse Acordo de Cooperação

Judiciária em matéria penal, tratando-se de restrição ao uso de

documentos, "o Estado Requerente' (o Brasil, no caso) 'deverá

respeitar as condições estabelecidas" .

\ Daí a inãagação que formulo a Vossa Excelência.

/

O SENWOR MiNiSTRO CEZAR PELUSO - Foi argüido?

O SEZVBOR MINISTRO C-0 DE EPELLO: Sim, essa questão foi \

expressamente ardida da tribuna, quando das sustentações orais.

(2,

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELAT0R)- Sim, da

tribuna, mas não na preliminar.

O SENHOR MIMSTRO CEZAR PELUSO - Que houve restrição do

Estado requerido?

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MXLLO: É precisamente isso

que quero saber. Esse é o esclarecimento que, por qualificar-se como

Page 93: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

matéria de fato, pode ser prestado pelo eminente Advogado que, da

tribuna, suscitou referida questão.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Porque não consta da

abordagem do relator. Talvez não esteja na defesa.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Sim, se há alguma

restrição do Judiciário americano sobre a utilização da prova.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Trata-se

de saber se, eventualmente, houve alguma restrição pedida pelo

governo dos Estados Unidos em relação aos documentos enviados ao

Brasil. É isso.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - OS

documentos vieram para informar o inquérito. Portanto, não pode ter

havido uma restrição.

O SKNHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - OS

Procuradores Federais brasileiros têm como chefe, precisamente, o

Procurador-Geral da República.

Page 94: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO CELSO DE EIELLO: O eminente

Procurador-Geral da República, ao esclarecer matéria de fato, vem de

informar, agora, que esses documentos foram produzidos, pelo Governo

americano, E qualquer restrição, para instruir, especificamente,

este procedimento penal, o que afasta possível alegação de ilicitude

da prova daí resultante.

Corm estas considerações, Senhora Presidente, mas - insistindo - na indispensabilidade de ordem judicial para efeito de

quebra de sigilo bancário (ainda que tendo o Banco Central do Brasil

como destinatário da requisição emanada do Ministério Público

Federal), acompanho, quanto a esse ponto específico, a divergência

iniciada pelos eminentes Ministros GILMAR MENDES e MARCO AURÉLIO.

É o meu voto. v

I c s m . I i S .

/E=.

Page 95: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 4 7 9

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente,

diante dos esclarecimentos de fato que eu não possuía, peço vênia

para reajustar o meu voto e acompanhar a divergência.

Eu imaginara que os documentos haviam sido recebidos

da Comissão Parlamentar de Inquérito. Então, com o esclarecimento do

Ministro Celso de Mello, acompanho a divergência.

Page 96: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, reformulo o meu voto apenas quanto a esse aspecto.

Participei do julgamento do mandado de segurança e

integrei a maioria estreita, é verdade, que entendeu não ser

lícita a quebra do sigilo bancário dos correntistas individuais

por parte do Banco Central. Lembro-me que, na Primeira Turma,

tivemos uma discussão bastante alentada sobre essa questão.

Filiei-me a corrente majoritária e sufraguei esse entendimento.

6 O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Tratava-se do

Recurso Extraordinário nQ 461.366.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Penso ter sido

realmente em mandado de segurança em nível recursal. Por isso

houve a interposição do recurso extraordinário, e não do

ordinário. O pronunciamento no Superior Tribunal de Justiça

decorreu do julgamento de ordinário.

Page 97: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

1

. . Ing 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, quero completar o meu voto, com a devida vênia.

Acolho a preliminar apenas no sentido de dizer o

seguinte: se os dados, cobertos pelo sigilo bancário, vieram aos

autos diretamente do Banco Central, e não por meio da Comissão

Parlamentar Mista de Inquérito, nos termos do artigo 58, 5 3 Q , da

Constituição, rejeito essa prova e entendo que ela não pode

integrar o acervo probatório, salvo se ela coincidir com aquela

obtida por outros meios, seja por intermédio da CPMI, seja por

decisão judicial.

AO que me consta, pelo menos num primeiro momento,

essa prova teria vindo diretamente, por solicitação do eminente

Procurador-Geral da República, do Banco Central. Se for essa a

hipótese, acolho a preliminar para rejeitar essa prova, a fim de

ser expurgada, expungida dos autos. /

Page 98: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

O SEMIOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora

Presidente, este é tema da mais alta importância e

relevância, de grande repercussão, mas não é inédito na

Corte.

O Plenário já se manifestou a respeito no

Recurso Extraordinário nQ 418.416. Eu tentava, antes de

proferir o meu voto, lembrar-me desse caso, em que a Corte

se defrontava com o problema de apreensão de computadores.

Esse era o objeto específico do julgamento daquele recurso

extraordinário pelo plenário, e cujo voto do Relator,

eminente Ministro Sepúlveda Pertence - a quem faço agora

outra homenagem -, coincidiu exatamente com o meu ponto de

vista e foi sufragado pelo Plenário, na interpretação da

norma incidente no caso, o artigo 5 Q , inciso XII, da CF.

Disse eu naquela oportunidade:

"Trarei apenas a regis tro algumas observações que eu já havia antecipado na Turma, acompanhando o ponto de vista do eminente relator," - Ministro Sepúlveda Pertence - "que agora o ilustrou ainda mais com a sua erudição. O objeto principal desta causa é a interpretação do art. 5 * , inciso XII, que, a meu ver, não

Page 99: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cuida do s i g i l o d e r e g i s t r o s em g e r a l . Tal norma, quando a1 ude ao s i g i l o das correspondências e das comunicações t e l e g r á f i c a s , num pr imeiro membro, e , num segundo, ao s i g i l o de dados e das comunicações t e l e f ô n i c a s , refere-se não propriamente ao que c o n s t i t u a o o b j e t o das comunicações, ou s e j a , o s r e g i s t r o s ou o conteúdo dos r e l a t o s da comunicação considerados em si mesmos, mas, à i n t e g r i d a d e do processo d e comunicação ou d e relacionamento i n t e r s u b j e t i v o , como expressão da pr ivac idade , enquanto t ende a preservar e s s e f a t o i n t e r s u b j e t i v o aos i n t e r l o c u t o r e s , vedando a i n t r u s ã o e , por tan to , o aces so d e t e r c e i r o não au tor i zado , O U , nou t ras pa lavras , a i n t e rcep tação da comunicação.

É i n t e r e s s a n t e observar a redação do d i s p o s i t i v o , porque, como de c e r t o modo já notou o eminente r e l a t o r , há realmente duas c l á u s u l a s no t e x t o c o n s t i t u c i o n a l . A correspondência como t a l e a comunicação t e l e g r á f i c a são t r a t a d a s em conjun to . A comunicação d e dados, " - e d i s s o que s e t r a t a - "como fenômeno t í p i c o do mundo moderno e que é a r e d e mundial de computadores, é, ao lado da comunicação t e l e f ô n i c a , processo mui to rápido de transmissão e e s t á na segunda c láusu la . " - da norma c o n s t i t u c i o n a l -

"Então, houve, ao que parece, preocupação de t r a t a r em conjun to duas grandes c l a s s e s ou duas grandes moda1 idades de comunicação, mas compreendendo todas . Sem dúvida, o i n v i o l á v e l , nos termos da Cons t i t u i ção , não são quaisquer elementos da informação ou de i n f o r m á t i c a , mas o s processos de comunicação em s i . O o b j e t o t u t e l a d o , " - pela norma c o n s t i t u c i o n a l - "por tan to , é o processo de comunicação, enquanto r e s t r i t o aos comunicantes, independentemente do conteúdo da comunicação, porque se t r a t a , na verdade, de resguardar a pr ivac idade dos i n t e r l o c u t o r e s em a t o t í p i c o de i n t e r s u b j e t i v i d a d e .

T i r o da í uma prova per absurdum:" - e que v a l e para o caso - "se es t ivéssemos pensando em s i g i l o de r e g i s t r o s , i s t o é, entendida a palavra "dados", não como o b j e t o de comunicação e l e t r ô n i c a em processo, mas como o b j e t o d e mero

Page 100: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O%// M//,, O%,$,//,*/ 0%&1(*d

Inq 2.245 1 MG

registro, esta norma constitucional, além de absurda, tornaria inviável o exercício de todo um complexo de atividades estatais. "

E eu não estava nem pensando em atividades e

obrigações do Banco Central.

"Por quê? Porque teríamos a seguinte contradição: se esses dados, tomados como registros, não são invioláveis em outros meios de registro, como, p.ex., em livros, em fichários, em meio magnético, " - e ninguém negou isso - "como poderiam ser invioláveis pelo simples fato de estarem armazenados num computador? "

E este Plenário assentou e reafirmou esse

princípio, que consta agora da ementa redigida pelo eminente

Ministro Sepúlveda Pertence.

Noutras palavras, não há, no texto

constitucional - isso decorre apenas de normas

infraconstitucionais - proibição de quebra, pelo Banco

Central, dos registros. O que há aqui é proteção a fenômeno

típico da intersubjetividade, que é a comunicação, com a

proibição conseqüente da intercepção da comunicação. E o

Banco Central não está aqui sendo acusado de ter

interceptado comunicação nenhuma. O Banco Central está sendo

acusado de ter passado ao Procurador-Geral da República

Page 101: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+MHW d>ho,o/ o!A,Cd

Inq 2.245 1 MG

registros de dados, nos termos da legislação

infraconstitucional, isto é, da Lei Complementar nQ 105.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Registros que foram objeto de fiscalização por ele

realizada.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Se Vossa

Excelência me permite, quando Vossa Excelência levantou essa

distinção importantíssima, aderi ao voto de Vossa

Excelência, lembrando que o que se protege não é o sigilo do

que está registrado, do que está documentado, mas o que se

protege como bem jurídico integrante da privacidade é a

interlocução, o processo de comunicação.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - De outro modo,

nem o mais pedestre dos fiscais poderia ter acesso a livro

comercial! Nem a mais reles das atividades estatais de

fiscalização, que é a de ordem tributária, não poderia ser

feita, porque registro de livro comercial não deixa de

conter dados. k-

Page 102: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&$,,,o cz;.1,,,*/ d3dJ,,w,!

Inq 2.245 1 MG

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Não se pode

interceptar o diálogo, a comunicação, a interlocução.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Se esses dados

estão protegidos pela norma constitucional, nenhum

funcionário do Estado pode exercer sua atividade de

fiscalização. Por quê? Porque isso dependeria de autorização

judicial: ter acesso a um dado de livro comercial para

verificar a regularidade fiscal de transação de

comerciantes. Onde já se viu uma interpretação dessa?

O objeto de tutela da norma constitucional -

coisa que esta Corte reafirmou naquela oportunidade - é o

processo de comunicação. Não discuto - porque isso me parece

incontroverso - que haja normas infraconstitucionais sobre

sigilo de registros, mas não, ao Banco Central; este 6

autorizado textualmente!

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Pela lei.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Pela lei

complementar, para transmitir o conteúdo desses registros.

m

Page 103: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

cXI/,M,,O dZd tma / &%dei.rrd

Inq 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Inclusive o

artigo 9 " da Lei é expresso.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Ministro, por

acaso, Vossa Excelência quer chegar 21 conclusão de que o

Banco Central não pode fiscalizar os dados bancários?

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Quero saber se

o Banco Central, de acordo com o artigo 5* , inciso XII, está

autorizado, ou não, a ter acesso aos dados bancários

independentemente de autorização judicial.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Respondo que

não está.

O SENHOR MINISTRO Gim mNDES - O Relator está

sustentando que houve a quebra de sigilo.

Tríplice.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

ri

Page 104: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG

0 1 2 4 8 8 O SENHOR MINISTRO GIINAR MENDES - Então, na

verdade, estamos a lavrar sobre matéria já superada, pelo

menos, quanto a essa perspectiva.

Não me parece, Ministro Cezar Peluso, que aquilo

que votamos no célebre caso trazido pelo Ministro Sepúlveda

Pertence tenha como objeto a discussão que agora se põe. Ali

o que discutimos - e a discussão anterior foi no Caso

Collor, na AP nQ 307 - é se os dados contidos em computador

estariam cobertos por aquela cláusula. Lembro-me de que o

Ministro Sepúlveda Pertence respondeu, até com base em um

clássico artigo escrito pelo Professor Tércio Sampaio Ferraz

Júnior. No caso Collor, discutiu-se, e o Tribunal chegou à

conclusão de que havia, sim, prova ilícita porque a busca e

a apreensão não se fizera segundo os ditames do devido

processo legal. Quanto a isso nós estamos de acordo. Não

estamos a discutir isso.

O problema é de outra índole: se impõe ou não a

reserva de jurisdição nesses casos. Essa foi a premissa,

também, do voto do Ministro Marco Aurélio.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Ministro, eu

estou tentando sustentar outra coisa. Esse é o problema.

)"I

Page 105: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Mas, neste

caso, estamos a falar de coisas diferentes.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Não.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Agora, se o

Relator diz que já houve uma tríplice quebra.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Estou dizendo. Eu já disse várias vezes isso aqui.

O SENIIOR MINISTRO GILMAR MENDES - Então, essa

questão, para mim, está prejudicada. Agora, é ilícita, sim,

a quebra obtida mediante requisição do Procurador-Geral.

Isso nós precisamos afirmar e o que estamos a dizer.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - H 6

um outro problema. Eu sinto que o Tribunal está-se

encaminhando no sentido de declarar inválidos todos e

quaisquer documentos oriundos desse pedido do Procurador-

Geral. Então, creio que teremos uma incidência de quebras,

um conflito, porque esses documentos podem ter sido enviados

yl

Page 106: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG

também em conseqüência dessas quebras determinadas pela CPI,

pelo Ministro Nelson Jobim e por mim próprio.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEPIANDOWSKI - Esta foi

a ressalva do meu voto: se coincidirem os documentos, a

prova é hígida.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Sim, mas não se

podem fazer afirmações de caráter geral que vão inviabilizar

um pouco mais a apreciação da denúncia. Penso que o Tribunal

tem a obrigação de deixar claro o seu ponto de vista.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Em última

análise: não se dá o desentranhamento desses elementos

informativos, desses documentos se eles foram carreados para

os autos por outra via que não o Banco Central. Pronto.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora

Presidente, vou concluir rapidamente o meu pensamento. Ia

até transcrever a manifestação do Ministro Gilmar Mendes,

que fez remissão textual, naquele Recurso Extraordinário, ao

artigo do Professor Tércio Sampaio Ferraz Júnior, e Sua

Page 107: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

P%/W~O ~!326u9w7/ Q%A~L'

Inq 2.245 / MG

Excelência disse até que tinha de ser interpretado nesse

sentido:

"Do contrário, na verdade, produziríamos uma perplexidade que o próprio 1 egislador tentou contornar"(. . . )

Senhora Presidente, o que me parece óbvio, no

inciso XII, é que se trata de quatro objetos homogêneos de

regulamentação constitucional: primeiro, correspondência;

segundo, comunicações telegráficas; terceiro, comunicações

telefônicas.

Por que, no quarto, se cuidaria de dados sem o

correspondente fenômeno de comunicação?

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - simplesmente,

ministro, Vossa Excelência me permite responder? Não temos

palavras inúteis em um texto legal, muito menos na Carta da

República.

O constituinte apenas aludiu a comunicações

quanto a ligações telefônicas e telegráficas.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - E

correspondência também. Y")

Page 108: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - No tocante a

dados, não.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Correspondência

também.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Comunicações de

dados.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - ~ ã o , não está.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Está.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - vou ler o

texto do artigo 5" , inciso XII:

- é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações ..., de dados [ . . . I

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Isto, de

dados

o SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - ~ s t á assim:

'comunicações de dados"? Onde? Y4

Page 109: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Q X ~ ,v22?0 dTdU??Q/ &%d@*Q/

Inq 2.245 / MG 0 1 2 4 9 3

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Está.

( . . . I "comunicações telegráficas, de dados(. . . I ; "

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Vossa

Excelência me permite concluir o raciocínio?

Veja:

"XII - é inviolável o sigilo da correspondência" í . . . I

Aqui não se cogita de comunicação.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Não, 6

comunicação.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Repete 0 texto

do I 9 Q do artigo 153 da Constituição anterior:

"é inviolável o sigilo da correspondência" I . . . l

Nesse preceito havia ainda: v'?

Page 110: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&h /,,mo G!!ht??fl/ o%Amd

Inq 2.245 1 MG 012494

"e das comunicações telegráficas e telefônicas".

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Incluiu a

comunicacão de dados.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Quanto AS

comunicações, repetiu-se, na Carta de 1988, a junção ao

campo telegráfico e telefônico.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Sim, atualizou

a Constituição anterior, que não conhecia o computador.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - E veja: por

que o legislador constituinte teria repetido, no tocante as

ligações telefônicas, o vocábulo ncomunicações" e não o fez

quanto a dados?

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Isso nós

podemos perguntar aos redatores, sobretudo ao Professor

Celso Cunha, que já faleceu; ele é quem sabe porque foi

assim redigido. u"i

Page 111: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

G%+V>/,O c52;L4/7?.ud @Fd@rnL

Inq 2.245 1 MG @ I & . , : t i - Ç i

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - O bem jurídico

protegido são as comunicações.

O SENHOR MINISTRO MÃRCO AURÉLIO - ~ ã o ,

Excelência. A interpretação é consentânea com o vernáculo.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Agora,

comunicações de dados, telegráficas e telefônicas são três

modalidades de comunicações.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - De qualquer

forma, há mais. vamos buscar a razão desse preceito. A meu

ver, a cláusula básica está no inciso X, e, aí, parto para a

interpretação sistemática: é inviolável a intimidade.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: É importante

fazer uma interpretação sistemática que harmonize o que

dispõem os incisos X e XII do art. 5" da Constituição da

República.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Claro. E, no

inciso XII, repetiu-se a inviolabilidade quanto ao sigilo da

correspondência; repetiu-se quanto a comunicações

Page 112: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c%>Ke>>?o Q%AU~Z.Q/ &%hj!d

Inq 2.245 1 MG

telegráficas e comunicações telefônicas. Chegamos a

discutir, neste Plenário, se a parte final do preceito

autorizando a quebra pelo Judiciário estaria ligada apenas

às comunicações telefônicas. Admitimos que é possível

quebrar o sigilo de dados por ordem judicial. Agora, não

vejo uma justificativa socialmente aceitável, considerada a

ordem natural das coisas, para se dizer simplesmente: a

Constituição protege a intimidade quanto à comunicação de

dados, mas não a protege quanto aos dados.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Não protege

quanto aos dados, Ministro, protege nos termos da legislação

infraconstitucional. Protege, sim.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Por isso não

se repetiu, relativamente ao instituto "dados", ao contrário

do que ocorreu quanto ao campo telefônico, o vocábulo

"comunicações". O silêncio é eloquente.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Por que a

Constituição de 1988 acrescentou "dados"? Porque a velha

Constituição não conhecia ainda o fenômeno da eletrônica

como tal. O que estranharia é que, cuidando de objetos de

Page 113: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&*//,,,, 0Zd,,irn/ o%&x*/

Inq 2.245 1 MG 6 9 2 4 9 7

uma classe (comunicação), a norma constitucional resolvesse

incluir objeto de outra classe, no mesmo inciso.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Mas, ministro,

veja: Vossa Excelência preserva a comunicação de dados, mas

não preserva considerada a intimidade dos próprios dados.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Não, Ministro.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Desde que se

obtenham esses dados e se divulguem, da forma que se quiser,

e não haja a interrupção na transmissão.

O SENHOR MINISTRO CÃRLOS BRITTO - Quanto mais

que, no caso, não se trata de privacidade, de vida privada

com exclusividade, porque é uma suspeita, que nós vamos

dizer se fundada ou não, de envolvimento de verbas públicas.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - É isso que me

preocupa, Senhora Presidente. Se a Corte afirma, na

interpretação do inciso XII, que os registros, quaisquer que

sejam, são protegidos pela Constituição e só podem ser

repassados, como objeto, enfim, de acesso, com autorização

r-r 16

Page 114: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG

judicial, o Estado vai ter um gravíssimo problema a partir

de hoje.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI -

Ministro, data venia, tenho a impressão de que a nossa tese

aqui é mais restrita.

O SENHOR MINISTRO MÃRCO AURÉLIO - AS portas do

Judiciário não estão fechadas ao Estado, ministro.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Ministro, nós

estamos fixando uma tese.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Voltemos ao

relatório do eminente Ministro Joaquim Barbosa.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Nós vamos inviabilizar o Banco Central.

O SENHOR MINISTRO GILFrlAR MENDES - Ministro Cezar

Peluso, eu não tenho dificuldade de continuar a subscrever a

tese que nós assentamos naquele célebre precedente do

Ministro Sepúlveda Pertence. Ali se dizia que havia uma

Page 115: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&+,,,?O dYiG,,,o/ ~ X & W / Inq 2.245 1 MG

ordem judicial para a busca e apreensão de computadores, e

se sustentava que os dados contidos no computador não

poderiam ser revelados, porque estariam cobertos por essa

ressalva. E nós dissemos não, porque, na verdade, hoje, os

computadores armazenam esses dados, são arquivos, são

armários. Foi isso o que nós dissemos. Esta é uma outra

questão. Nós não estamos a mudar a tese. Estamos a dizer que

o Banco Central não pode fornecer dados a requerimento do

Ministério Público. Essa é uma outra questão. São duas

questões. Eu entendo separado. E, quanto ao fundamento, a

rigor, eu não me balançaria a discutir o tema à luz do

inciso XII; eu discutiria à luz do inciso X. Claro.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Mas, Ministro,

à luz do inciso X é mais simples de resolver.

O SENHOR MINISTRO GIiJUUl MENDES - Sim, mas eu

continuo a entender que a matéria estava submetida a reserva

de jurisdição.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Porque todos

estes bens do inciso X, a despeito da proteção

r,

Page 116: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG

constitucional, estão sujeitos a restrições no âmbito

infraconstitucional.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Sim, claro.

Evidente.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Portanto, a

intimidade é preservada nos termos em que a legislação

constitucional o faz.

Ora, se vem uma lei complementar e dispõe que o

Banco Central, para cumprir suas funções, tem de ter acesso

aos dados, como vamos dizer que esteja proibido pela

cláusula constitucional?

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANWWSKI - NO

exercício da fiscalização, ele tem acesso aos dados.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Nós estamos

com uma questão para ser decidida no Plenário da Receita

Federal; a Lei Complementar de que cuida a questão do sigilo

fiscal e do acesso ao sigilo bancário. Nós não nos

pronunciando sobre isso ainda. É exatamente essa a questão.

k+

Page 117: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

INOUERITO 2.245-4 MINAS GERAIS

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Senhores Ministros, estamos tratando aqui exclusivamente desta questão: requisição pelo Procurador-Geral da República.

Diz o eminente Relator que os dados constantes desses relatórios do Banco Central já foram entranhados aos autos por outras formas, seja pela autorização deferida pela CPMI, seja por autorização judicial deferida pelo Ministro Nelson Jobim e por Sua Excelência. Portanto, esta seria uma questão superada.

O que o Plenário tem de definir - e essa a minha incumbência no conduzir os trabalhos - é afinal, se estabelecido eventualmente o prejuízo desta prova trazida aos autos mediante requisição do Senhor Procurador-Geral, ela contamina a denúncia naquilo em que baseada exclusivamente nesses dados.

Então, isso é o que interessa que nós solucionemos para encaminhamento da sessão.

Ministro-Relator, ouço Vossa Excelência. A denúncia é baseada exclusivamente nesses relatórios para efeito de promover imputação ao acusado A, b ou C, ou também se ampara em outros

O Senhor Ministro Joaquim Barbosa (Relator) - Evidentemente que não, Senhora Presidente.

Basta que voltemos atrás, há dois anos. Os fatos que deram origem a essa investigação vieram a público - se não me engano - em junho, imediatamente o Congresso começou a investigar. O Procurador- Geral, possivelmente, requereu.

Page 118: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG 312532

i

Eu não tenho essas datas precisas, mas posso precisar que, no mês de julho, o inquérito chegou a esta Corte, e a decisão tomada pelo então Presidente faz alusão expressa - como já disse e li aqui diversas vezes - a uma convalidação, a uma ratificação, pelo Supremo Tribunal Federal, de decisões de quebras decididas pela CPMI. Essas decisões tomadas aqui ratificavam, convalidavam essas provas.

Não vejo em que sentido possa se dar essa contaminação.

O Senhor Ministro Marco Aurélio -Vossa Excelência me permite? O argumento calcado na decisão do ministro Nelson Jobim diz respeito a segunda preliminar.

O Senhor Ministro Carlos Britto -Número cinco.

O Senhor Ministro Celso de Mello - Sim, "(5) autorizaçáo para compartilhamento (. . .)".

O Senhor Ministro Carlos Britto - Isso. "De todas as informações bancárias já obtidas".

O Senhor Ministío Celso de Mello - Mas a questão não é essa. Ao icontrario, é outra, consistente em saber se o eminente Procurador-Geral da República pode, ou não, apoiar, legitimamente, a sua denúncia, nela deduzindo as várias imputações penais, com base em prova que resultou do atendimento, pelo Banco Central do Brasil, de requisição direta que Sua Excelência dirigiu a essa autarquia federal.

O Senhor Ministro Carlos Britto exclusivame mente.

O Senhor Ministro Joaquim Barbosa (Relator) - Os itens 4 e 5 da decisão do Ministro Nelson Jobim dizem o seguinte:

"(4) a extensão do afastamento do sigilo bancário das empresas DNA Propaganda Ltda. E

Page 119: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

a

Inq 2.245 Í MG

SMP&B Comunicação Ltda., de MARCOS VALÉRIO FERNANDES DE SOUZA e sua esposa RENILDA MARIA SANTL4GO FERNANDES DE SOUZA, desde janeiro de 1998 até a presente data.

(5) autorização para compartilhamento de todas as informações bancárias já obtidas pela CPMI dos 'Correios', "

,

O Senhor Ministro Celso de Mel10 - E a requisição do eminente Procurador-Geral da República: foi ela posterior ou anterior a essa data?

O Senhor Ministro Joaquim Barbosa (Relator) - Mas só pode ter sido anterior.

Page 120: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

0 1 2 5 0 4

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS TRIBUNAL PLENO

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, mantém o meu voto.

Eu queria de viva voz manifestar a minha profunda

preocupação com o seguinte problema: na possibilidade aventada, com

todo respeito, de se quebrar o sigilo fiscal, telefônico e bancário

e depois buscar-se uma ratificação, uma autorização judicial.

Lamentavelmente, temos tido notícias que, nos Últimos tempos, existe

algumas práticas nesse sentido, a meu ver, altamente condenáveis, em

que determinadas autoridades - sobretudo no que tange ao sigilo

telefônico - primeiro, quebram o regulamento do sigilo e, depois,

vão buscar autorização.

Quero afirmar, com todas as letras, em alto e bom som,

que a ratificação a gosteriori de um ato dessa natureza não

convalesce essa prova; quero firmar uma posição, um ponto de vista.

Essa prova fica irremediavelmente maculada.

Pelo contexto, enfim, dentro desse conjunto probatório

que se formou nestes autos, com OS esclarecimentos prestados pelo

Page 121: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ing 2.245 / MG íi125Q J

eminente Relator, entendo que a prova foi colhida adequadamente,

licitamente e pode ser, portanto, contemplada de forma válida.

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4Q do artigo 96 do RISTF)

Page 122: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08j2007 TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Na verdade, o

Ministro Nelson Jobim usou a expressão ratificar porque estava a

apreciar o ato do juiz de primeiro grau, que afirmamos competente,

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - A segunda

preliminar, não a sexta

O SENüOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Não é

apenas isso. Eu já alinhei uma série de decisões do Ministro Nelson

Jobim.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - EU, por exemplo,

elogiei a organicidade do voto do relator, mas, nete ponto tiro o

elogio.

Page 123: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Ele

disse isso em mais quatro outras decisões.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Não, parece que

estamos discutindo e a dizer a mesma coisa.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - Gostaria

de consultar ao Ministro Eros Grau se mantém o primeiro voto ou o

segundo voto reajustado?

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - O voto reajustado.

Entendo ilícita a prova. Não vou reabrir a discussão.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Ministro

Eros Grau, qual a prova? Eu preciso saber porque, depois, tenho que

desentranhar essa prova dos autos.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Essa prova que foi

obtida.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Qual a

prova?

Page 124: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

312508 O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Eu nào tenho as folhas

dos autos, aqui

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Peça,

por favor. Temos que racionalizar os trabalhos.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Parece-me que o

assunto estava encaminhado. Ministro Joaquim Barbosa, todos nós

estamos de acordo que, tendo havido a quebra, seja por decisão

judicial, seja por decisão da CPMI, esta discussão está prejudicada.

O problema é que, no voto de Vossa Excelência, isso foi apresentado

como uma preliminar autônoma quanto à requisição feita pelo

Procurador-Geral. E é sobre isso que estamos a manifestar. Tanto é

que assim foi o meu voto, o do Ministro Marco Aurélio, o do Ministro

Celso de Mel10 e, agora, o reajuste e, também, do Ministro Ricardo

Lewandowski. Tão somente isso.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Ministro, eu disse, aqui, que há uma forte probabilidade de que esta

suposta prova, ou seja, esses relatórios do Banco Central tenham

sido juntados a estes autos não apenas em decorrência de um pedido

do Procurador-Geral, mas também em decorrência das diversas quebras

que houve.

Page 125: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Estamos concordando

com isso.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Vossa Excelência me

permite? Então, cabe a Vossa Excelência, o Relator, e não a mim

identificá-las.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Não.

Vossa Excelência está determinando a retirada de uma determinada

prova.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Creio que o evolver

da discussão amadureceu o pensamento da Corte.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Porque,

hoje, eu ouvi aqui que está prejudicada a questão.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - É uma

questão que está prejudicada.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Se está

prejudicada, não precisamos mais discutir.

Page 126: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - É toda prova obtida

pelo Ministério Público Federal, diretamente, junto ao Banco

Central.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - É só i 7-

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Todos nós

discutimos, os votos divergentes analisaram a questão sobre essa

perspectiva, exatamente como observou o Ministro GILMAR MENDES,

porque Vossa Excelência, no voto, destacou, de modo autônomo, essa

questão. Então, a questão que respondemos era esta: é licita a prova

resultante do atendimento, pelo Banco Central do Brasil, à

requisição emanada do eminente Procurador-Geral da República,

tratando-se de dados revestidos e impregnados de sigilo? E, sob esse

aspecto, é evidente que os votos divergentes entendem que não era

licito ao Banco Central atender a tal requisição, mas, com os

debates, esclareceu-se que exatamente esses elementos já estão nos

autos, já foram produzidos nos autos, porque emanados de órgão

constitucionalmente competente para, tanto quanto o Poder

Judiciário, decretar a quebra do sigilo bancário, ou seja, a

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito.

Então, sob esse aspecto, tenho a impressão de que,

obviamente, fica prejudicada a discussão, mas discussão que se

Page 127: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

justificou em face exatamente da suscitação autônoma dessa

controvérsia no voto de Vossa Excelência.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Está

bem. Então, está prejudicada?

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Está prejudicada a

preliminar.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Se está

prejudicada, encerrada a discussão.

Page 128: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Presidente, proferi

voto a partir dos dados constantes do voto de Sua ~xcelência, o

ministro Joaquim Barbosa. Elogiei até mesmo a organicidade desse

voto e disse, há pouco, que me sinto forçado a mitigar o elogio.

Eis os dois fundamentos lançados pelo ministro Joaquim

Barbosa para refutar a preliminar: o primeiro, que o Ministério

Público teria requerido os dados ao Banco Central; o segundo, que,

mesmo se alijando essa possibilidade, os dados teriam sido

requeridos pela Comissão Parlamentar de Inquérito. São os dois

únicos argumentos do voto de Sua Excelência. Agora, Sua Excelência

pega gancho na fundamentação para a rejeição da segunda preliminar.

Para mim, o fato de a Comissão Parlamentar de

Inquérito haver logrado os dados não é relevante, porque estou aqui

a me manter coerente com o que sustentei na Primeira Turma: a

impossibilidade de o Banco Central obter esses dados, ter o domínio

desses dados. Não confundo a atuação fiscalizadora do Banco Central

quanto as instituições financeiras com a privacidade

correntistas.

Então, mantenho o voto.

Page 129: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007 TRIBUNAL PLENO

1

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Senhora Presidente,

tenho impressão de que a nossa manifestação, diante do

esclarecimento do Relator, vai ficar como obiter dictum, pelo menos

no nosso caso.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Agora, se Sua

Excelência consigna no voto, consigna nas notas taquigráficas que

esses mesmos dados foram logrados mediante autorização de órgão

investido do oficio judicante, evidentemente, não concluo pelo

acolhimento da preliminar.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Sim. Porque, como

ela veio como preliminar autônoma, mas, diante dos esclarecimentos,

acredito que a nossa manifestação fica como obiter dicta.

3i1 O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Sua Excelência,

então, assevera que órgão judicial teria obtido esses dados.

Page 130: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - VOU

proclamar o resultado e peço aos Colegas que acompanhem porque é uma

discussão bastante extensa que foi travada ainda que em obter dictum

e que vai ficar nos anais da Casa para o futuro.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Senhora Presidente,

perdoe-me.

Novamente, no voto do eminente Ministro JOAQUIM

BARBOSA há certas premissas às quais não posso aderir quando Sua

Excelência diz:

"Essa remessa ao Ministério Público, que abarca documentos sigilosos, independe de autorização judicial. "

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Se a

questão está prejudicada, do meu voto não vai constar nada.

Page 131: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO MÃRCO AURÉLIO - Presidente, se os

Colegas que me antecedem permitirem, gostaria de adiantar o voto, já

que tenho agenda no Tribunal Superior Eleitoral.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - Ministro,

era minha intenção encerrar esta sessão agora e continuarmos o

julgamento amanhã. Mas Vossa Excelência tem a palavra.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Presidente, entendo

que a denúncia, tal como confeccionada, atende ao disposto no artigo

41 do Código de Processo Penal. Conta com a narração das

circunstâncias da prática dita criminosa. Trata-se de situação

concreta em que há o envolvimento de uma pessoa jurídica, e,

conforme as normas de regência, a responsabilidade é dos

administradores.

Evidentemente, na denúncia, não cabia precisar o ato

que cada qual dos denunciados teria praticado, bastando,

simplesmente, considerar-se a atividade desenvolvida pela

instituição financeira e apontar-se, como responsáveis, os

administradores, tal como previsto no estatuto do Banco.

Não subscrevo o transporte do princípio segundo o

qual, na dúvida, decide-se em benefício da sociedad

próprio aos processos da competência do Tribunal do

caso concreto. Continuo entendendo que o recebimento

s T F 102.002

Page 132: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

pressupõe existirem indícios - mas indícios realmente configurados -

de autoria e consubstanciarem os fatos narrados na peça primeira da

ação penal o tipo previsto na legislação.

Tenho apenas uma dúvida: o artigo 4 * da Lei nQ

7 . 4 9 2 / 8 6 cogita de dois tipos. Um, tendo em conta elemento

subjetivo, a fraude: gerir fraudulentamente instituição financeira;

com apenação de três a doze anos de reclusão e multa. E o outro, a

gestão temerária, tipo diverso do parágrafo Único do mesmo artigo,

que prevê balizamento da pena de dois a oito anos de reclusão e

multa - uma pena, portanto, de gradação menor.

Creio que, nesta fase de recebimento da denúncia, não

cabe definir o tipo, existentes figuras contempladas no Código de

Processo Penal para modificação. Por isso, não assevero, de

imediato, a culpabilidade dos envolvidos - não cabe, aqui, concluir

pela culpabilidade, a demonstração estará a cargo do Ministério

Público - e também não procedo à classificação, em termos

peremptórios, considerados os fatos narrados na denúncia.

Voto recebendo, nesses termos, a peça do Ministério

Público.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Senhora

Presidente, recebi a denúncia tal como proposta, tal como formulada

pelo Procurador-Geral.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - É

compelidos a acolher, sem ponderação, a

2

Page 133: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

pelo Ministério público, que é parte na ação. Deixo em aberto o

enquadramento - como gestão fraudulenta ou como gestão simplesmente

temerária -, para definição posterior. ,

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Essa

reclassificação pode ser feita ulteriormente.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Receio que o

Tribunal, batendo o martelo, a esta altura, em termos da

configuração do primeiro tipo, que é mais gravoso, a gestão

fraudulenta, sinta-se posteriormente comprometido com esse

enquadramento. Por isso deixo em aberto.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - Vossa

Excelência deixa em aberto também o parágrafo único?

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Sim, porque os tipos

estão próximos, não há a menor dúvida, mas existe diferença

substancial quanto à pena. É claro que o Ministério Publico concluiu

pelo enquadramento no tipo mais gravoso.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - Podendo

ser desclassificado.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Mas isso acho que

não muda muito, o importante é definirmos se

denúncia.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM

classificação pode ser feita

Page 134: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - E 6 até importante

que os denunciados se defendam do crime mais grave, para,

eventualmente, se ficarem provados os fatos, possam ser

desclassificados para crime menos grave.

Page 135: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

23/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

012519

TRIBUNAL PLENO

VOTO (S/ ITEM V DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora

Presidente, a denúncia, especificamente neste caso, imputa

responsabilidade àqueles que, sob nomes técnicos, algo

difíceis - Responsabilidade pelo Comitê de Prevenção -,

integravam, a esse título indiscutível, conforme os cargos

respectivos descritos na denúncia, a administração do banco.

E a sua responsabilidade vem admitida em vários

passos. Cito alguns. A Senhora Kátia Rabello, Presidente,

diz: "Então, a nossa decisão, ( . . . ) a minha decisão e dos

meus pares ( . . . ) foi tentar negociar com o devedor". Isto é,

a própria presidente admite a responsabilidade de todos.

Um pouco mais à frente, outro depoente, o Senhor

Guilherme Rabelo fala: "a Diretoria ( . . . ) , mas provavelmente

José Roberto Salgado participou da conversas, etc. "A

diretoria passou a renovar os empréstimos, etc."

Então, não há dúvida de que, por indícios, houve

envolvimento de todas as pessoas declinadas.

As acusações foram de que houve dezenove

negócios jurídicos, num valor total de cerca de trezentos

milhões de reais, o que torna surpreendente que a presidente

r'

Page 136: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

&@nw,m &/;Gc/eto/ &2di/cnd Inq 2.245 1 MG

tenha dito, em relação a um desses empréstimos, que, pelo

valor, o negócio não teria chegado a sua alçada. Eram

trezentos milhões envolvidos em todos os negócios!

Dificilmente se pode dizer, nesta fase do inquérito, que tal

valor passasse despercebido ou não fosse da alçada da

diretoria.

Os fatos descritos se resumem na concessão e na

renovação de empréstimos, e aqui, sim, o elemento da fraude

que foi imputado: com transmutação ou classificação

aparentemente dolosa e errônea dos riscos dos negócios. 0s

riscos foram avaliados na categoria 'A" e, em alguns deles,

em v&qt, , mas foram todos rebaixados pelo Banco Central para

"H". Não é possível dizer que isso tenha sido mero acaso. E

em todos esses negócios verificou-se falta de pagamento, de

amortização, com renovações sucessivas e incompatíveis com a

capacidade financeira dos devedores. Isso também consta

textualmente de várias passagens. Faço referência a algumas:

"O valor de empréstimo (R$ 19 milhões), no entanto, era incompatível com a capacidade financeira da empresa, considerando seu volume anual de receita (R$ 1 0 , 6 milhões) e geração de caixa (R$ 2 milhões)" - a frente, há outros e1 emen tos que corroboram.

. . . ) os empréstimos foram classificados como 'rating' (depoimento de Godinho) AA, o que evitou a contabilização do provisionamento das renovações ocorridas a cada 90 dias,

YS

Page 137: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

r. G ~ " , / B W ~ ddc,om.L &A,,,!

Inq 2.245 / MG 6 1 2 5 2 1

independentemente de pagamento ou amortização, (. . . ) Que, pela Resolução do BACEN, a situação dos empréstimos do PT e SMPB exigia uma reclassificação do 'rating' em função da falta de pagamento de amortização/amortização; "

Risco elevadíssimo de inadimplemento, também

objeto de elementos indiciários nos autos. E diz aqui o

relatório do Banco Central:

"O risco da empresa junto ao Banco Rural aumentou consideravelmente nos ú1 timos dois anos, passando de R$ 6,8 milhões em fev/03 para R$ 2 5 , 3 (fev/04) e R$ 36 milhões (mar/05) . "

Um pouco mais adiante, não se identificou

nenhuma garantia de crédito, nem recebimento total ou

parcial dos recursos que deveriam ser creditados em

pagamento etc. Não há prova de transferência. O Banco

Central não identificou nenhuma transferência de tais

créditos em pagamento, tendo por resultado final - isto é

grave :

"Com este procedimento, a instituição gera um resultado fictício, elevando patrimônio (PR) , com conseqüente aumento dos limites operacionais (Basiléia, Imobilização, etcl . "

Conclusão, ainda, do Banco Central no seu

relatório: de tudo, resultam P 3

Page 138: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

C. &fiemo ~A,duwo/ d%Azc,!

Inq 2.245 1 MG

. . . ) indícios de desvio de recursos do Banco para empresas pertencentes ou ligadas ao Controlador Conglomerado Financeiro Rural; transferência de ativos para fundo de direitos credi tórios administrado pelo Banco Rural; "

Em outras palavras: desvio que não tem conotação

de ato culposo, mas de ato doloso que caracteriza o

resultado da fraude que é imputada.

Para finalizar, Senhora Presidente, é preciso

fazer breve observação sobre a necessidade, ou não, de

individualização de comportamentos na denúncia, coisa que

este Tribunal tem reconhecido, indiscutivelmente.

0s fatos do mundo real, na sua materialidade

bruta, podem ser suscetíveis de múltiplos ângulos de

avaliação mediante enfoques pessoais e científicos. O mesmo

fato pode servir de objeto a uma avaliação de caráter

sociológico, etc. O Direito também se apropria de certos

fatos, não na sua materialidade total, no seu contexto

histórico real total, mas por recorte, retirando aquilo que

lhe interessa.

Ora, a acusação de que se trata de gestão

fraudulenta não exige descrição de atos minuciosos, de atos

pontuais: o Senhor Fulano de Tal, no dia tal, as tantas

horas, fez isso; o Senhor Fulano de Tal, no dia tal, as

Page 139: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

~%/N&iiiO &;%IA'7?C?d &d-L Inq 2.245 1 MG

tantas horas, deixou de fazer aquilo. Isso é incompatível

com a natureza do fato típico. Aqui, é a gestão sob ângulo

de apreciação completamente diferente. E resulta em quê?

Resulta em que a acusação é clara e permite ampla defesa,

porque o que se imputa aos acusados é que, mediante a fraude

de classificação fictícia dos riscos dos negócios,

permitiram esse elevado endividamento que implicou o desvio

anunciado pelo Banco Central.

Para que se defendam desse fato basta que, com

base nos registros do Banco, se prove que nenhum desses

fatos ocorreu. Não se precisa saber que, em determinado dia,

a uma determinada hora, alguém teria feito algo ou deixado

de fazer algo. Em outras palavras: não vejo, neste caso, a

necessidade - até porque isso seria impossível, sobretudo

nesta fase - de individualizar conduta. Importa é que foram

atribuídos aos dirigentes do Banco fatos globais que

implicam acusação de gestão fraudulenta, a qual pode ser

elidida mediante prova - até documental - de que as

reclassificações não ocorreram; que não houve nenhuma

dificuldade de amortização e de pagamento, etc; e que,

portanto, não houve nenhum desvio.

Recebo a denuncia exatamente nos termos do

eminente Relator. m

Page 140: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

EXTRATO DE ATA

INQUÉRITO 2.245-4 PROCED.: MINAS GERAIS RELATOR : MIN. JOAQUIM BARBOSA AUTOR (A/s) (ES) : MINISTÉRIO P ~ L I C O FEDERAL DNDO. (A/s) : JOSÉ DIRCEU DE OLIVEIRA E SILVA ADV. (A/S) : JOSE LUIS MENDES DE OLIVEIRA LIMA E OUTROS DNDO . (A/s) : JOSE GENOÍNO NETO ADV. (A/S) : SANDRA MARIA GONÇALVES PIRES E OUTROS DNDO. (A/S) : DEL~IO SOARES DE CASTRO ADV. (A/S) : CELSO SANCHEZ VILARDI E OUTRO(A/S) DNDO. (A/S) : SÍLVIO JOSE PEREIRA ADV. (A/s) : GUSTAVO HENRIQUE RIGHI IVAHY BADARÓ E OUTROS DNDO.(A/S): MARCOS VALERIO FERNANDES DE SOUZA ADV. (A/S) : MARCELO LEONARDO E OUTROS DNDO . (A/S) : RAMON HOLLERBACH CARDOSO ADV. (A/S) : HERMES VILCHEZ GUERRERO E OUTROS DNDO . (A/S) : CRISTIANO DE MELLO PAZ ADV. (A/s) : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E OUTROS DNDO. (A/s) : ROGÉRIO LANZA TOLENTINO ADV. (A/s) : PAULO SERGIO ABREU E SILVA DNDO.(A/S) : SIMONE REIS LOBO DE VASCONCELOS ADV. (A/S) : MARCELO LEONARDO DNDO. (A/S) : GEIZA DIAS DOS SANTOS ADV. (A/s) : PAULO SÉRGIO ABREU E SILVA DNDO. (A/S) : KÃTIA RABELLO ADV. (A/S) : THEODOMIRO DIAS NETO E OUTROS DNDO. (A/S) : JOSE ROBERTO SALGADO ADV. (A/s) : MAUR~CIO DE OLIVEIRA CAMPOS JÚNIOR E OUTROS DNDO. (A/s) : VINÍCIUS SAMARANE ADV. (A/s) : JOSE CARLOS DIAS E OUTRO (A/s) DNDO. (A/S) : AYANNA TENÓRIO TORRES DE JESUS ADV. (A/s) : MAURÍCIO DE OLIVEIRA CAMPOS &IOR E OUTROS DNDO . (A/s) : JOÃO PAULO CUNHA ADV.(A/S): ALBERTO ZACHARIAS TORON E OUTRA DNDO. (A/S) : LUIZ GUSHIKEN ADV. (A/S) : JOSE: ROBERTO LEAL DE CARVALHO E OUTROS DNDO. (A/S) : HENRIQUE PIZZOLATO ADV.(A/S): -10 DE OLIVEIRA FILHO E OUTROS DNDO.(A/S): PEDRO DA SILVA CORRÊA DE OLIVEIRA ANDRADE NETO ADV. (A/s) : EDUARDO ANTONIO LUCHO FERRÃO E OUTRO (A/s) DNDO . (A/S) : JOSE MOHAMED JANENE

Page 141: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

ADV.(A/S): MARCELO LEAL DE LIMA OLIVEIRA E OUTROS DNDO. (A/s) : PEDRO HENRY NETO ADV. (A/S) : JOSÉ ANTONIO DUARTE ALVARES E OUTRO DNDO.(A/S): JOÃO cLÁUDIO DE CARVALHO GENU ADV.(A/S): MARCO ANTONIO MENEGHETTI E OUTROS DNDO. (A/S) : ENIVALDO QUADRADO ADV. (A/s) : PRISCILA CORRÊA GIOIA E OUTROS DNDO.(A/S): BRENO FISCHBERG ADV.(A/S): LEONARDO MAGALHÃEs AVELAR E OUTROS DNDO. (A/S) : CARLOS ALBERTO QUAGLIA ADV. (A/S) : DAGOBERTO ANTORIA DUFAU E OUTRA DNDO . (A/S) : VALDEMAR COSTA NETO ADV. (A/s) : MARCELO LUIZ ÁVILA DE BESSA E OUTRO(A/S) DNDO. (A/S) : JACINTO DE SOUZA LAMAS ADV. (A/s) : DBLIO LINS E SILVA E OUTRO(A/S) DNDO. (A/S) : ANTONIO DE PÁDUA DE SOUZA LAMAS ADV. (A/s) : DÉLIO LINS E SILVA E OUTRO (A/s) DNDO.(A/S) : CARLOS ALBERTO RODRIGUES PINTO (BISPO RODRIGUES) ADV. (A/S) : MARCELO LUIZ ÁvILA DE BESSA E OUTROS DNDO . (A/S) : ROBERTO JEFFERSON MONTEIRO FRANCISCO ADV.(A/S): LUIZ FRANCISCO CORRÊA BARBOSA DNDO. (A/S) : EMERSON ELOY PALMIERI ADV.(A/S): ITAPUÃ PRESTES DE MESSIAS E OUTRA DNDO. (A/S) : ROMEU FERREIRA QUEIROZ ADV. (A/S) : JOSÉ ANTERO MONTEIRO FILHO E OUTRO (A/S) DNDO . (A/s) : JOSÉ RODRIGUES BORBA ADV. (A/s) : INOCÊNCIO MARTIRES COELHO E OUTRO DNDO. (A/s) : PAULO ROBERTO GALVÃO DA ROCHA ADV. (A/S) : M ~ C I O LUIZ SILVA E OUTRO (A/S) DNDO.(A/S) : ANITA LEOCÁDIA PEREIRA DA COSTA ADV.(A/S): LUÍS MAXIMILIANO LEAL TELESCA MOTA DNDO.(A/s): LUIZ CARLOS DA SILVA (PROFESSOR LUIZINHO) ADV. (A/S) : &CIO LUIZ SILVA E OüTROS DNDO. (A/S) : JOÃO MAGNO DE MOURA ADV. (A/S) : OLINTO CAMPOS VIEIRA E OUTROS DNDO . (A/S) : ANDERSON ADAUTO PEREIRA ADV. (A/S) : CASTELLAR MODESTO GUIMÃRÃES FILHO E OUTRO (A/S) DNDO. (A/s) : JOSÉ LUIZ UVES ADV. (A/s) : CASTELLAR MODESTO GUIMARÃES FILHO E OUTRO (A/s) DNDO. (A/s) : JOSÉ EDUARDO CAVALCANTI DE M ~ O N Ç A (DUDA MENDONÇA) ADV. (A/S) : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS DNDO. (A/S) : ZILMAR FERNANDES SILVEIRA ADV. (A/S) : TALES CASTELO BRANCO E OUTROS

Decisão: Preliminarmente, verificada as ausências dos advogados constituídos pelos denunciados Enivaldo Quadrado, Carlos Alberto Quaglia, Breno Fischberg e José Rodrigues Borba, a

Page 142: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Presidência, valendo-se da prerrogativa estabelecida pelo parágrafo Único do artigo 265 do Código de Processo Penal, nomeou, como defensores substitutos dos referidos denunciados, tão-só para o efeito de representação neste ato de apreciação da denúncia oferecida pelo Procurador-Geral da República, os respectivos advogados, Doutores Antônio Nabor Areias Bulhões, Roberto Rosas, José Guilherme Villela e Pedro Gordilho. Superada essa questão, a Presidente do Tribunal, Ministra Ellen Gracie, informou o Tribunal que indeferiu requerimento de adiamento da sessão formulado pelo Dr. Dagoberto Antoria Dufau, representando o denunciado Carlos Alberto Quaglia e, ainda, que deferiu requerimento do Senhor Procurador- Geral da República, para conceder-lhe uma hora de sustentação oral, dada a extensão e complexidade da denúncia, bem como o grande número de denunciados. Em seguida, apreciando requerimento do advogado Dr. Délio Lins e Silva, no sentido de que lhe sejam deferidos 30 minutos para sua sustentação oral, uma vez que tem a seu cargo a defesa de Jacinto de Souza Lamas e Antonio de Pádua de Souza Lamas, o Tribunal, por maioria, vencido o Senhor Ministro Marco Aurélio, resolveu questão de ordem para deferir prazo em dobro aos defensores que representam dois acusados. Submetido ao Plenário o requerimento do Dr. Luiz Francisco Corrêa Barbosa, advogado do denunciado Roberto Jefferson Monteiro Francisco, no sentido de que, após cada sustentação oral, tanto do Procurador-Geral da República, como da defesa respectiva, se siga o julgamento denunciado por denunciado, e não em bloco, o Tribunal, por unanimidade, indeferiu o pedido. Por maioria, o Tribunal superou o reparo feito pelo Senhor Ministro Marco Aurélio quanto ao defensor constituído que não apresentou defesa escrita por perda de prazo. Votou a Presidente. Ante o registro da presença, na sessão, da Dra. Priscila Corrêa Gióia, representando os denunciados Enivaldo Quadrado e Breno Fischberg, foram desconstituídos os Doutores Antônio Nabor Areias Bulhões e José Guilherme Villela. Após o relatório, a manifestação do Ministério Público Federal, pelo Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza, Procurador-Geral, e as sustentações orais, pelos denunciados José Dirceu de Oliveira e Silva, do Dr. José Luís Mendes de Oliveira Lima; José Genoíno Neto, do Dr. Luiz Fernando Sá e Souza Pacheco; Delúbio Soares de Castro, do Dr. Arnaldo Malheiros Filho; Sílvio José Pereira, do Dr. Sérgio Salgado Ivahy Badaró; Marcos Valério Fernandes de Souza e Simone Reis Lobo de Vasconcelos, do Dr. Marcelo Leonardo; Ramon Hollerbach Cardoso, do Dr. Hermes Vilchez Guerrero; Cristiano de Mel10 Paz e Romeu Ferreira Queiroz, do Dr. José Antero Monteiro Filho; Rogério Lanza Tolentino e Geiza Dias dos Santos, do Dr. Paulo Sérgio Abreu e Silva; Kátia Rabello e José Roberto Salgado, do Dr. José Carlos Dias; Vinícius Samarane, do Dr. Rodrigo Octávio Soares Pacheco; Ayama Tenório Tôrres de Jesus, do Dr. Theodomiro Dias Neto; João Paulo Cunha, do Dr. Alberto Zacharias Toron; Luiz Gushiken, do Dr. José Roberto Leal; Pedro da Silva

Page 143: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Corrêa de Oliveira Andrade Neto e José Mohamed Janene, do Dr. Marcelo Leal de Lima Oliveira; Pedro Henry Neto, do Dr. José Antônio Duarte Álvares; Henrique Pizzolato, do Dr. Mário de Oliveira Filho e, por João Cláudio de Carvalho Genú, o Dr. Mauricio Maranhão de Oliveira, foi o julgamento suspenso. Plenário, 22.08.2007.

DecisHo: Dando seguimento às sustentações orais, hoje falaram, pelos denunciados Valdemar Costa Neto e Carlos Alberto Rodrigues Pinto (Bispo Rodrigues), o Dr. Marcelo Luiz Ávila de Bessa; Jacinto de Souza Lamas e Antônio de Pádua de Souza Lamas, o Dr. Délio Lins e Silva; Roberto Jefferson Monteiro Francisco, o Dr. Luiz Francisco Corrêa Barbosa; Emerson Eloy Palmieri, o Dr. Itapuã Prestes de Messias; Paulo Roberto Galvão da Rocha, o Dr. Márcio Luiz Silva; Anita Leocádia Pereira da Costa, o Dr. Luís Maximiliano Leal Telesca Mota; Luiz Carlos da Silva (Professor Luizinho), a Dra. Roberta Maria Rangel; João Magno de Moura, o Dr. Wellington Alves Valente; Anderson Adauto Pereira e José Luiz Alves, o Dr. Castellar Modesto Guimarães Filho, e, pelos denunciados José Eduardo Cavalcanti de Mendonça (Duda Mendonça) e Zilmar Fernandes Silveira, o Dr. Tales Oscar Castelo Branco. Em seqüência, o Tribunal, por unanimidade, afastou as preliminares. No que diz respeito à preliminar autonomamente suscitada de ilicitude da prova quanto ao encaminhamento, pelo Banco Central, de relatórios bancários por requisição exclusiva do Senhor Procurador-Geral da República, independentemente de ordem judicial, manifestaram-se pela ilicitude os Senhores Ministros Eros Grau, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes, Marco Aurélio, Celso de Mello e a própria Presidente. Todavia, essa preliminar foi considerada prejudicada, na medida em que os referidos documentos não foram obtidos exclusivamente por essa fonte, mas, ao contrário, por formas regulares de quebra de sigilo, ou seja, por meio da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito dos Correios, de autorização judicial do Presidente do Supremo Tribunal Federal e do próprio relator. Em seguida, após o voto do relator, recebendo a denúncia contra José Roberto Salgado, Ayanna Tenório Tôrres de Jesus, Vinícius Samarane e Kátia Rabello, pela suposta prática do crime previsto no artigo 4 " da Lei no 7.492/1986, do voto do Senhor Ministro Marco Aurélio, que também a recebia, mas sem prejuízo de desclassificação da conduta estabelecida no parágrafo único do artigo 4 " , e do voto Senhor Ministro Cezar Peluso, que acompanhava o relator, foi o julgamento suspenso. Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie. Plenário, 23.08.2007.

Presidência da Senhora Ministra Ellen Gracie. Presentes à sessão os Senhores Ministros Celso de Mello, Marco

Page 144: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Aurélio, Gilmar Mendes, Cezar Peluso, Carlos Britto, Joaquim Barbosa, Eros Grau, Ricardo Lewandowski e Cármen Lúcia.

Procurador-Geral da República, Dr. Antônio Fernando Barros e Silva de Souza.

~uiz' ~omimat su Secretário

Page 145: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

0 1 2 5 2 9

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

À revisão de apartes do Senhor Ministro Joaquim Barbosa (Relatori.

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

(ESCLARECIMENTO S/ ITEM V DA DEN~NCIA)

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhora Presidente, peço

apenas um esclarecimento brevíssimo ao Ministro Relator.

Relativamente ao tópico "gestão fraudulenta", acompanho

Vossa Excelência. Mas quero uma informação quanto a Ayanna Tenório, porque

tanto a defesa por ela apresentada quanto a sustentada aqui na tribuna

afirmam, peremptoriamente, que os fatos descritos e alegados dizem respeito

a um período em que ela ainda não estaria no cargo.

Pelo que consegui apurar, poderia ter ocorrido prorrogaç30

de contratos ou até contratos firmados. Não repetirei toda a descrição,

mas, na denúncia, temos (£1. 85):

"As apurações desenvolvidas no âmbito do presente

inquérito, envolvendo a análise de documentação bancdria

e dos processos e procedimentos internos das instituições

financeiras, especialmente sob o enfoque dos supostos

empréstimos às empresas do grupo de Marcos Valério e ao

Partido dos Trabalhadores, descortinaram uma séri e de

ilicitudes que evidenciam que o Banco Rural foi gerido de

forma fraudulenta. "

E, tem-se, ainda (£1. 87):

Page 146: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ing 2.245 / MG

"Nos termos consignados pelos audi tores do Banco Central,

os dirigentes do Banco Rural efetuaram dezenove operações

de crédito com as empresas de Marcos Valério, Cristiano

Paz, Ramon Hollerbach e Rogério Tolentino, e com o

Partido dos Trabalhadores, totalizando R$ 292,6 milhaes

de reais na data-base de 31/05/2005, correspondente a 10%

da carteira de crédito da instituição.

Das dezenove operações de crédito acima mencionadas, que

não apresentavam a correta classificação do nível de

risco de crédito, oito foram reclassificadas pelo próprio

Banco Central, etc. . . "

Vossa ~xceiência também leu, em seu voto, o depoimento de

Carlos Roberto Sanches Godinho, na condição de superintendente de

Compliance, há sempre referência a José ~ugusto DumOnt, e não a Ayanna, a

sua substituta.

Para acompanhar in totum Vossa Excelência, quero ter a

segurança dos dados aqui arrolados e também do fato constante na defesa, no

sentido de que Ayanna Tenório não estava presente no Banco e no cargo em

todo o período no qual são narrados os fatos da denúncia. De toda a forma,

ela seria dirigente e teria participado, pois ela substituiu José Augusto

Dumont, que é citado o tempo todo.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Vossa

Excelência tem a data em que ela ingressou no Banco?

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Na sustentação oral, foi

dito que ela o teria substituído.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Nem tudo O

que é dito em sustentação oral deve ser tomado ao pé da letra.

2

Page 147: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Sim, mas deram datas.

Imagino que esse dado não possa ser alterado.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Basta

analisarmos os dados cronológicos dessa questão.

O essencial dos fatos relatados, neste caso, data de

janeiro de 2003 até a eclosão do escândalo, entre maio e junho de 2 0 0 5 .

Seguramente, ela ingressou no Banco em 2004 . Está dito em meu voto que, nos

últimos atos questionados neste inquérito, ela já se encontrava no Banco.

Aliás, ela era diretora de um setor-chave do Banco, o setor de Compliance.

Obs.: Texto sem revisão da Exma Sra. Ministra Cármen Lúcia ( $ 4 * do artigo 96 do RISTF)

Page 148: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

A revisão de apartes dos Srs. Ministros Joaquim Barbosa (Relator), Gilmar

Mendes e Celso de Mello.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhora Presidente, de

toda sorte, realmente, em 2004, ainda houve realização de contratos que

estão na sequência dos atos denunciados.

Razão pela qual - tenho voto escrito, e o juntarei, mas não

vou reler, porque a maior parte dos depoimentos que faço, juntamente com os

textos e os relatórios, já foram citados aqui - também acompanho o Relator.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATORI - Creio que

precisamos, talvez, dar um pouco mais de importância ou conferir o mesmo

peso ao que dito pelo Relator e ao que dito pelas partes. ~á um

desequilíbrio aqui.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Por isso pedi um

esclarecimento.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Meu voto,

creio, foi bastante claro.

Page 149: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Meu voto é no sentido

exatamente de acompanhar Vossa Excelência, para receber a denúncia. Pedi o

esclarecimento exatamente para ter segurança.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Ontem tivemos

duas horas e meia de debate sobre uma questão suscitada. Poderíamos ter

gasto esse tempo para avançar no julgamento. Debatemos algo que não

precisávamos discutir exatamente por força das sustentações que, aqui,

chegam e nos dizem certas coisas que não correspondem aos dados dos autos.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - ~ ã o . Pelas defesas que foram apresentadas; eu apenas pedi um esclarecimento.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Ministro Joaquim Barbosa,

discutimos justamente por que Vossa ~xcelência trouxe uma preliminar; s6

por isso.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELU): O debate estabeleceu-se em

função de certas premissas que o Relator deixou claramente expostas em seu

voto.

O SENHOR MINISTRO G I W BiENDES - Ministro Joaquim Barbosa,

Vossa ~xcelência trouxe a preliminar no seu voto e autorizava o Ministério

Público a fazer a quebra do sigilo. Vossa Excelência sabe que,

historicamente, não concordamos com isso. Se tivesse dito que a questão já

estava prejudicada, não teríamos nos embrenhado naquela discussão.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - EU O disse

várias vezes, Ministro Gilmar Mendes, mas não fui ouvido.

Page 150: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ing 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO GILMAR m E S - NO voto escrito de vossa

Excelência estava escrito que rejeitava porque o Ministério Público

prescindia dessa autorização. Daí eu ter me socorrido da lição do Ministro

Marco Aurélio, na Turma, e, então, termos discutido, porque esta é uma

questão relevante.

A SENEORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Acompanho 0 voto do

Relator, no sentido de receber a denúncia contra os denunciados José

Roberto Salgado, Ayana Tenório, Vinícius Samarane e Kátia Rabelo, na forma

exposta, com os fundamentos do Relator.

Obs.: Texto sem revisão da Exma. Sra. Ministra Cármen

Lúcia ( $ 4Q do artigo 96 do RISTF)

Page 151: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

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f$,9,'? . I

2 4 / 0 8 / 2 0 0 7

INQIJÉRITO 2 . 2 4 5 - 4 MINAS GERAIS

DIZ535

TRIBüWG PLENO

VOTO - (S/ITEM V DA DEN~NCIA)

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente,

tenho brevíssima introdução que vale para todos os votos que darei

em todos os itens.

Tenho reiteradamente afirmado, inclusive nesta Corte,

em votos anteriores, o que aprendi com o jusfilósofo argentino

Enrique Mari: o discurso da ordem abrange o lugar da racionalidade -

a lei - e o lugar do imaginário social como controle das disciplinas

das condutas humanas e da sua sujeição ao poder. A racionalidade

veiculada pelo direito positivo, direito posto pelo Estado, pretende

dominar não apenas os determinismos econômicos, mas também os

arroubos emocionais da sociedade, inúmeras vezes insuflados pela

mídia. firmei há alguns anos em artigo que escrevemos, o Professor

~ u i z Gonzaga de Mel10 Belluzzo e eu, para ser publicado na revista

Teoria Política, dirigida por Norberto Bobbio. Condenam-se pessoas

mesmo antes da apuração dos fatos.

Nunca me detive em indagações a respeito das causas

dos linchamentos consumados em um como que tribunal erigido sobre a

premissa de que todos são culpados até provem em contrário. Talvez

seja assim porque muitos sentem a necessidade de punir a si próprios

por serem o que são.

Page 152: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

A imprensa livre é por certo indispensável à plena

realização da democracia. Por isso ela há de ser necessariamente

imune a censura. Para que possa esclarecer a sociedade, a quem deve

servir, mesmo porque o titular da imunidade à censura é o povo, não

o proprietário do veículo. A alusão que aqui faço a determinados

desvios, bem determinados, evidentemente não pode ser tido como

desconsideração ou menosprezo, de minha parte, do papel fundamental

desempenhado pela imprensa na democracia. Reporto-me a desvios cuja

substancialidade não pode ser negada.

Mas não me cabe tratar dessa patologia na formulação

do nosso imaginário. Aqui devo cumprir o meu dever, preservando a

minha independência, expressão de atitude firme e serena em face de

influências provenientes do sistema social e do governo.

Independência que permite ao juiz tomar não apenas decisões

contrárias a interesses do governo - quando exige uma Constituição e

a lei -, mas também impopulares, que a imprensa e a opinião pública

não gostariam que fossem adotadas.

A questão da legitimidade do exercício da função

jurisdicional envolve a consideração daqueles dois planos, o da

racionalidade da lei e do imaginário social, cabendo sim ao

magistrado, no Estado de Direito, considerar as manifestações desse

imaginário, sem, contudo, permitir que a ética da legalidade seja

tragada pela emoção coletiva, que pode conduzir não apenas aos

linchamentos, mas a indiferença face ao desprezo autoritário pelos

chamados direitos fundamentais. Para isto existem os princípios e as

regras jurídicas, para assegurar que o devido processo legal seja

observado também quando o reclame quem não mereça a nossa simpatia.

Page 153: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ing 2.245 / MG

A sociedade e mesmo a imprensa não o sabem, mas o

magistrado independente é o autêntico defensor de ambos. É mercê da

prudência do magistrado independente que não resultam tecidas

plenamente, por elas mesmas, as cordas que as enforcarão, as elites

e a própria imprensa.

Senhora Presidente, com relação a este item, recebo a

denúncia. O artigo 25 da Lei nQ 7.492, conforme demonstrado pelo

eminente Ministro-Relator, atribui uma responsabilidade objetiva.

Acompanho o voto do eminente Ministro-Relator, nesse

item, recebendo a denúncia.

Page 154: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

VOTO -

(S/ITEM V DA DENÚNCIA)

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente,

ouvi atentamente o relatório do eminente Ministro Joaquim Barbosa,

nessa parte segmentada, destacada da imputação. Li o texto que Sua

Excelência nos apresentou e hoje, pela manhã, tive ocasião de passar

em revista os principais fundamentos do voto de Sua Excelência, o

Ministro-Relator.

Convenço-me, também, de que houve indício, ou de que

há indícios fortes de gestão fraudulenta de modo a caracterizar,

pelo menos nesse juizo de admissibilidade da denúncia, que é um

juizo prefacial, delibatório, de modo a autorizar a presença do

chamado fumus del ic t i , suficiente para que eu me pronuncie no

sentido do recebimento da denúncia.

Entendo que, no caso, esse fumus del ic t i , ainda mais

se adensa se considerarmos que já houve uma operação com esse tônus

ruinoso de que fala o relatório e o laudo do Banco Central, já em

1998. Parece que o mesmo banco incidiu aí numa prática já denunciada

como de alto risco para a saúde financeira da instituição.

Page 155: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

i Inq 2.245 / MG

Senhora Presidente, a agravar tudo isso, existe a

circunstância de que o sistema financeiro nacional é regrado pela

Constituição de modo particularmente cuidadoso, uma das pouquíssimas

vezes em que a Constituição fala explicitamente do interesse público

a prevalecer sobre qualquer interesse privado. O artigo 192 da magna

Carta Federal, ao cuidar do sistema financeiro diz, claramente, com

todas as letras, que ele será "estruturado de forma a promover o

desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da

coletividade". No que andou muito bem porque não há instituição hoje

mais presente no cotidiano da população do que todo sistema

financeiro; todos nós gravitamos em torno dele, é impossível escapar

as relações jurídicas com o sistema financeiro, é como uma marquise

sem fim, debaixo da qual todos nós transitamos. É um setor da

atividade privada que demanda explícita autorização para o seu

funcionamento, nos termos da ressalva que se contém no parágrafo

único do artigo 170 da Constituição, e que exige das autoridades

financeiras, e mais de perto do Banco Central, um acompanhamento

rigoroso, criterioso, responsável. Ao longo do relatório, percebi

que laudos do Banco Central da República, a propósito dessas

operações, já davam conta de que as operações aqui adversadas eram

tidas como de altíssimo risco; empréstimos que se renovavam a partir

de garantias frágeis, num crescendo que, segundo o Ministro Cezar

Peluso, ontem, ascende a mais de um centena de milhões - salvo

engano, Sua Excelência falou em trezentos milhões de reais e causa

Page 156: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

G- . . Inq 2 . 2 4 5 / MG

i i12540

espécie tudo isso - a partir da própria finalidade do empréstimo

que não foi para fomentar nenhuma atividade econômica nem

industrial, nem extrativa, nem mercantil e, sim, para agências de

publicidade e um partido político.

Então, nesse contexto, Senhora Presidente, de emissão

de um juizo prefacial, de recebimento da denúncia como formulada en

termos aptos a desencadear uma ação penal e, portanto, a instaurar o

processo penal propriamente dito, acompanho em todos os fundamentos

o voto do eminente Ministro-Relator para receber a denkncia.

* * * * *

Page 157: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007 TRIBUNAL PLENO

INQUÉRIT.~ 2.245-4 MINAS GERAIS

E X P L I C A Ç Ã O

(S/ITEM V DA DENÚNcIA)

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Senhora Presidente,

também já tinha tido a dúvida que assaltou a Ministra Carmen Lúcia,

a partir da sustentação, quanto a responsabilidade da diretora Aiana

Tennório. Mas, diante dos esclarecimentos feitos pelo Relator,

entendo que isso está sanado.

Tenho a impressão, e gostaria, nestes breves minutos,

de dizer que o Tribunal está, como já tem sido destacado pela midia,

a realizar um julgamento histórico. E tanto a atuação aqui do

Ministério Público.quanto a atuação da defesa são dignas dos maiores

encômios: transparentes, claras e necessárias para que façamos uma

avaliação deste complexo processo. Por outro lado, Senhora

Presidente, cresce-me a convicção da importância deste procedimento.

Na semana passada, discutíamos, em relação a um caso

vinculado a este complexo evento, o recebimento da denúncia. E eu

dizia da importância desta fase de defesa prévia no âmbito de

primeiro grau. E lá se dizia, então, que as denúncias são recebidas

Page 158: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

com um carimbo. Claro que eram descriçóes, e não elogios, porque

denúncia não pode ser recebida com carimbo. É preciso que se afirme

isto e se reafirme. Na verdade, carregar um processo é algo muito

grave. Não basta a afirmação de que as pessoas responderão depois,

que posteriormente se fará a defesa, ameaçando de forma muito forte

a dignidade da pessoa humana ou, às vezes, usando o processo como

pena. Sabemos muito bem disto. É preciso, portanto, que esta Corte

reafirme esses princípios, porque ela não está apenas a julgar um

caso. Na verdade, esta Corte dá lições permanentes para todas as

demais cortes do país. E é por isso que este julgamento assume este

caráter emblemático.

Não podemos permitir que o processo se convole em

pena; formular denúncias que se sabem inviáveis para que, depois,

nos livremos dos nossos problemas de consciência, e @sendamos a

opinião pública ou coisa que tal e saibamos que aquele carrega, para

sempre, as vezes, a pecha do processo que se sabe inviável.

Os colegas da Segunda Turma devem se lembrar de um

caso que hoje se tornou histórico. Não conheço, na história penal do

Tribunal dos tempos recentes, algo mais bizarro que a denúncia por

conta dos dólares no Afeganistão, Senhora Presidente. Não conheço

nada mais bizarro. Denúncia que foi recebida pelo Tribunal Regional

Federal de São Paulo e foi preservada pelo STJ. Só foi corrigida na

Page 159: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

/ Inq 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Voto

meu, Ministro, seria bom salientar.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES / 7 d 0 Vossa

Excelência.

Vejam, portanto, a importância inclusive do habeas

corpus que chega a esta Casa. Quase que uma infantilidade, tramitava e

as pessoas carregariam este processo. Por quê? O TRF recebeu a

denúncia inviável, o STJ manteve, e só esta Corte pôde corrigir.

Portanto, é fundamental que nós, neste momento

inicial, fixemos essas linhas que são vitais para o processo do Estado

de direito. Estado de direito, como sabemos, é aquele que não conhece

soberanos. Talvez seja uma das mais adequadas definições. Já se disse,

em outro tempo, que Estado de direito era aquele no qual se batia as

portas de alguém as 6 horas da manhã e se sabia que quem estava a

bater era o leiteiro, e não a policia. Hoje a policia até pode bater a

porta, as vezes com mandado judicial desfundamentado. É preciso termos

cuidado com todas essas coisas e com todas essas evoluções.

Por isso, faço esse preâmbulo que, de certa forma,

balizará também o meu pensamento neste julgamento como um todo,

Page 160: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

0 1 2 5 4 4

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

V O T O

(S/ITEM V DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Sra. Presidente, no

caso especifico, fiquei preocupado com a questão suscitada pela

Ministra Cármen Lúcia, já respondida pelo eminente Relator: a

participação da Sra Iana Tenório nos fatos que - pelo menos nesta

fase - não seriam separáveis.

Portanfo, aquela minha tendência inicial, a partir da

própria defesa e da sustentação oral, não se confirma.

Não subscrevo - devo dizer também com toda a clareza e

j á havia anotado ontem - a afirmação feita pelo eminente Relator no

sentido de que no judicium accusationis há que entender aqui, regido

pelo principio do in dubio pro societatis. Não subscrevo, faço

reparos como temos feito reparos inclusive na tradição que se

acostumou desenvolver um juízo que se faz na pronúncia: se não

houver indícios mínimos de autoria, nós não devemos receber a

denúncia. Não devemos consagrar, acredito, fórmulas genéricas que

podem levar a resultados ameaçadores p o principio do Estado de

Page 161: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 .245 / MG

Mas no caso específico, S.Exa. não se limitou a esta

afirmação genérica. S.Exa. descreveu a participação de todos os

diretores. Portanto, não colocou ameaça a jurisprudência que nós @ vimos desenvolvendo - creio que nas duas Turmas, mas especialmente

na Segunda Turma, isso é bastante claro - em relação aos chamados

crimes societários. Temos exigido que isso indique a participação

dos sócios.. Não é suficiente a mera indicação de integração na

sociedade.

S.Exa., a meu ver, descreveu com precisão - pelo menos

para esse estado do processo - que haveria sim a participação desses

diretores nas eventuais infrações que lhes são imputadas.

De modo que, com essas considerações e com essas

ressalvas, acompanho a manifestação do Relator.

Page 162: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

6 1 2 5 4 6

TRIBüNAL PLENO

V O T O - - - - (S/ item v da denúncia)

O SENHOR MINISTRO CELSO DE ME-: Senhora Presidente,

também reafirmo as observações que acabam de ser feitas pelo

eminente Ministro GILMAR MENDES, no sentido de que se impõe, ao

Poder ~udiciário, e, em particular, a esta Suprema Corte, um rígido

controle sobre a admissibilidade das acusações penais. A

jurisprudência do Supremo Tribunal Federal orienta-se, claramente,

nesse sentido, em ordem a imgedir que se instaurem procedimentos

penais temerários, abusivos e lesivos aos direitos que assistem a

qualquer acusado, independentemente de sua condição social e posição

funcional.

Ao ler a denúncia (precisamente a peça acusatória que

constitui objeto deste juízo prévio de admissibilidade), e ao ter

presentes, também, as respostas oferecidas pelos denunciados -

respostas elaboradas por eminente Advogado, que bem demonstra a

maneira qualificada como exerce a sua função defensiva neste episódio

específico -, tenho para mim, também, em juízo de caráter meramente

preliminar e provisório, que a denúncia contém uma descrição

Page 163: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

adequada dos fatos. pói ia-se em elementos indiciários mínimos, que

tornam admissível a acusação, e veicula imputações que guardam

pertinência com as atribuições exercidas pelos denunciados na

administração e gestão do Banco Rural S/A.

O eminente Relator, ao destacar esse aspecto, acentuou

que, no caso em analise, os quatro denunciados eram responsáveis

pelo Comitê de Prevenção à Lavagem de Dinheiro, pelas áreas de

"Compliance", contabilidade jurídica e tecnológica, justamente as

áreas em que as supostas fraudes, na gestão da instituição

financeira, teriam sido praticadas.

A analise da denúncia revela que o eminente Procurador-

-Geral da República, considerado o acervo documental produzido nos

autos, delineou situações configuradoras da suposta má gestão dessa

instituição financeira, indicando o 'modus operandi" dos agentes e

do mecanismo fraudulento que relata na peça acusatória, buscando

demonstrar que a acusação encontraria suporte em dados fornecidos

pela própria investigação penal.

Desse modo, o teor da peça acusatória, ao narrar os

fatos como o fez, parece demonstrar a existência de vínculo entre a -

Page 164: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

atuação dos denunciados e os comportamentos a eles atribuídos,

tornando possível o exercício, em plenitude, do direito de defesa.

Assim, com estas considerações, também recebo a

denúncia.

É o meu voto. .-

Page 165: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007 TRIBUNAL PLENO

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

V O T O (S/ Item V da Denúncia)

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) -

Senhores Ministros, o eminente Relator, ao final do seu Relatório, referiu que todo este julgamento está perpassado de questões constitucionais. Portanto, também me cabe votar.

Eu o faço na linha do voto do eminente Relator, por entender adequada a descrição feita pela denúncia dos comportamentos tidos por delituosos e presentes os indícios mínimos para o seu recebimento.

Page 166: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

VOTO S/ITEM I11

A SRA. MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhora Presidente,

farei juntar o voto, que é muito longo, mas, exatamente na linha do

Reiator, recebo, por satisfazer a denúncia as condições formais,

descrição do fato, com todas as circunstâncias material, evidência

de indícios, no âmbito do juízo de probabilidade necessárias para

seu recebimento, com relação a todos. Porém a denúncia não apresenta

elementos bastantes para o atendimento das condições formal e

material quanto a exatamente Rogério Tolentino, razão pela qual voto

no sentido de não receber especificamente contra ele. Rigorosamente

nos termos do voto do Ministro-Relator, juntando o voto que foi

muito alongado.

. . . . . . . . . . . . . . .

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4 ' do artigo 96 do RISTF)

Page 167: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

012551

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

(VOTO S/ ITEM I11 DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Sra. Presidente,

acompanho também o Relator e recebo a denúncia com relação a João

Paulo Cunha, Marcos Valério Fernandes de Souza, Ramon Hollerbach

Cardoso e Cristiano de Mel10 Paz, mas excluo o Rogério Lanza

Tolentino.

Apenas anoto o meu cuidado com relação à evolução da

jurisprudência. Quer dizer, entendo que a descrição da conduta

típica deve ser explícita. No caso, a denúncia me parece atender com

relação a todos, menos ao Tolentino.

Page 168: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

5 1 2 5 5 3 TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS (VOTO S/ ITEM I11 DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Sra. Presidente a

materialidade dos fatos que, em tese, configuram delito é uma

materialidade que está razoavelmente descrita, ao menos nesse juizo

preliminar, e há indícios de autoria.

O Ministro-Relator fez bem o nexo de causalidade ou o

vinculo operacional entre os denunciados como autores de corrupção

ativa e passiva.

Há elementos suficientes para o perfeito conhecimento

dos fatos objetos da imputaçâo e, por conseqüência, a ampla

possibilidade de defesa.

Nesse juizo prefacial, também recebo a denúncia,

excluindo, todavia, nos termos do voto do Relator, o denunciado

Rogério Tolentino.

Page 169: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007 TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

A revisão de aparte do Sr. Ministro Carlos Britto.

VOTO ( S / ITEM 111 DA DEN~NCIA)

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Sra.

Presidente, também acompanho o Relator.

Não há nenhuma dúvida, pelo depoimento da

mulher, de que o denunciado João Paulo Cunha sabia da origem

do dinheiro; textualmente, o cheque era claro. 0s atos de

ofício que Sua Excelência praticou em benefício do SMP&B

estão bem discriminados no relatório do TCU: a falta de

projeto básico da licitação, critérios subjetivos de

avaliação, tudo o que permitia direcionamento e

subcontratações proibidas no total de 99,98% dos contratos.

E aqui faço referência, porque isso foi objeto

da sustentação oral do eminente Procurador-Geral - Vossas

Excelências têm em mão o documento - a que esse mesmo

denunciado desviou R$ 250.000,OO (duzentos e cinquenta mil

reais) em duas dessas subcontratações em favor de empresa de

um assessor direto seu que não prestou os serviços. Estou

r,

Page 170: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG

apenas adiantando o fato para mostrar como não há nenhuma

temeridade na denúncia.

Em relação à destinação do dinheiro, essa é

absolutamente irrelevante à tipificação do crime de

corrupção passiva - se pagou despesa de campanha, pesquisa

de campanha, ou jogou na loteria esportiva, não tem a mínima

importância. O importante é que recebeu o dinheiro.

Em relação a Ramon Hollerbach Cardoso e

Cristiano de Mello Paz, eles eram dirigentes e

administradores da empresa. H& depoimentos aqui sobre atos

típicos de gestão admitidos; portanto, a presunção era de

que concorreram para a prática desses atos. Em relação a

Rogério Lança Tolentino, realmente, há apenas menção a

condição de sócio, o que não basta para recebimento de

denúncia.

Acompanho o Reiator.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Sra. Presidente,

eu só queria muito rapidamente lembrar que, a propósito

desse excessivo número de subcontratações, isso . . .

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - É excessivo?

Não; quase totalidade. f i

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Inq 2.245 / MG

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - É 99,988, não é?

Isso é absolutamente incompatível com o próprio critério

subjetivo de escolha dos candidatos nas licitações ,do

gênero. Ou seja, se o critério da subjetividade é o

definidor do melhor proponente, isso já inviabiliza as

subcontratações, porque o critério subjetivo é intuitu

gersonae, e as subcontratações descaracterizam esse caráter

personalíssimo do critério definidor da escolha do menor

proponente.

Page 172: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

0 1 2 5 5 6

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

V O T O

(S/ITEM I11 DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Também, Senhora

Presidente, recebo a denúncia nos termos do voto do Relator, fazendo

a exclusão de Rogério Tolentino pelas razões já aqui elencadas.

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24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

(S/ item 111 da denúncia)

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Também eu, Senhora

Presidente, acompanho o eminente Ministro-Relator, que demonstrou,

em seu substancioso voto, que a denúncia se revela, no caso,

processualmente apta, materialmente consistente e juridicamente

idônea .

Deixo de receber, no entanto, a acusação penal deduzida

contra o Senhor Rogério Tolentino, apoiando-me, para tanto, nas

razões expostas pelo eminente Relator.

É o meu voto.

Page 174: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS VOTO

TRIBUNAG PLENO

A SENBORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Também eu, Senhora

Presidente, farei juntar o voto, que é um pouco mais longo, mas também

recebo a denúncia nos termos do voto do Relator.

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4 " do artigo 96 do RISTF)

Page 175: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 5 5 9

TRIBUNAL PLENO

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

VOTO

(S/SUBIITEM 111.1 DA DENÚNCIA)

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, impressionei-me, no primeiro momento, com a assertiva

feita da tribuna segundo a qual o saque teria sido feito pela esposa

do ex-presidente da Câmara dos Deputados João Paulo Cunha de ger si

não representaria ou não caracterizaria o ato de lavagem de

dinheiro.

Voltei aos autos e agora convencido de forma mais

firme e mais forte, após a descrição de todo esse iter que foi

perseguido por esta senhora que sacou dinheiro na boca do caixa,

verifico, realmente, que este ato final nada mais é do que o último

passo que um sofisticado mecanismo de, aparentemente, numa primeira

impressão, branqueamento de dinheiro de capital.

# # #

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4' do artigo 96 do RISTF)

Page 176: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 5 6 0

TRIBUNAL PLENO

VOTO - (S/SUBITEM 111.1 DA DENÚNcIA)

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente,

serei objetivo atendendo a sugestão de Vossa Excelência.

Não me parece caracterizada, nessa hipótese, o tipo da

lavagem de dinheiro.

Peço vênia ao Ministro-Relator para divergir e não

recebo.

i'

Page 177: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

VOTO

(S/SUBITEM 111.1 DA DENÚNCIA)

( i12561

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente,

embora tenha dito aqui mais de uma vez que considero esse crime

gravissimo, porque, num trocadilho, quanto mais se lava dinheiro por

aqui mais o Pais fica sujo, no entanto, neste caso, peço vênia ao

Relator.

Entendo que, também, o elemento do tipo penal ocultado

e simular não se encontra presente. Foi tudo feito as claras, a luz

do dia, assumidamente, confessadamente.

Quanto a autoria do saque, as condições em que se deu

essa retirada e, portanto, no particular, não recebo a denúncia.

# # #

Page 178: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 5 6 2

TRIBUNAL PLENO

V O T O (SISUBITEM 111.1 DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Sra. Presidente, data

venia da divergência, recebo, porque deve ser visto no conjunto. Não se trata

apenas de saber que está identificado quem foi buscar o cheque. O problema

não é esse. O problema da imputação é a engrenagem da movimentação de

todo esse volume de dinheiro. Ou seja, tem que se partir da idéia de que todos

os registros e todas as simulações do banco e do suposto bando ou quadrilha

foram concebidos para aparentar que tais dinheiros se destinariam ao

pagamento de fornecedores. Fornecedores do quê?

Recebo a denúncia, data venia.

v-7

Page 179: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

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$P ( i 1 2 5 6 3

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

V O T O

(S/SUBITEM 111.1 DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Senhora Presidente,

também peço vênia ao eminente Relator e aos que o seguiram para me

alinhar a divergência já instalada a partir do voto do Ministro Eros

Grau.

Tenho imensa dificuldade de fazer esse enquadramento

nos tipos previstos no artigo l0 da Lei no 9.613/98. Se configurado

o crime, apareceria o exaurimento do próprio crime de corrupção

passiva. Quer dizer, o envio da esposa como elemento de ocultação

parece fantasmagórico; parece-me extremamente demasiado e, neste

caso, a conduta é claramente atipica em relação a lei de lavagem de

dinheiro.

Por isso, manifesto-me neste sentido, na linha das

manifestações anteriores.

Page 180: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

( ; i 2 5 0 1

TRIBVNAT. PLENO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Presidente, o juízo

é tão-somente de recebimento ou não da denúncia. Não me cabe

conclusão sobre a procedência da imputação, em si, do que versado na

peça do Ministério Público.

De início, constatamos o enquadramento - considerados

indícios que não merecem a apoteose maior - da conduta, tendo em

conta as práticas ocorridas, até o levantamento da importância, no

disposto no artigo l Q da Lei np 9.613/98.

Não há, como pode parecer numa visão primeira, a

sobreposição excluída pelo Direito Penal. 0s tipos são diversos - a

corrupção passiva e a lavagem em si. De forma, essa

dualidade fica em aberto até o julgamento fina com a prova

a ser produzida, a cargo, portanto, do Ministé

Acompanho o relator no voto pro

Page 181: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 5 6 5

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Se me permite, Sra.

Presidente, só para acrescentar aqui um dado que ajuda a elucidar bem e que foi

mencionado pelo eminente Relator. Não se trata, na verdade, da remessa do

dinheiro em nome do denunciado. O que consta, na verdade, é uma autorização

do banco para que Márcia Regina recebesse o cheque da SMP&B. Isto é, o

verdadeiro destinatário do dinheiro não estava formalmente indicado. Isso que é

importante, no contexto. YLI

Page 182: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

(S/ subitem 111.1 da denúncia)

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Senhora Presidente,

assaltaram-me, inicialmente, algumas dúvidas. Mas é preciso analisar

a denúncia e as imputações nela individualizadas numa perspectiva

mais abrangente, tal como mencionou o eminente Ministro CEZAR

PELUSO .

É preciso considerar, para além do aspecto pontual do

ato isoladamente mencionado, o próprio contexto e, neste, o "modus

operandi" que se engendrou para a suposta prática do delito de

lavagem de dinheiro, cujos elementos estruturais, em tema de

tipificação penal, parecem-me presentes, em juizo de estrita

delibação, para efeito de admissibilidade da acusação penal.

Por isso, pedindo vênia, acompanho o eminente Relator

É o meu voto.

Page 183: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2567

TRiBUNAL PLENO

DEBATE (SISUBITEM 111.1 DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora

Presidente, até acrescento argumento ao de Sua Excelência.

Veja que coisa interessante: se o dinheiro tivesse sido

formalmente registrado, tendo como destinatário o

denunciado, este jamais poderia ser beneficiado por

presunção de veracidade de que se tratava de fornecedor,

porque se iria perguntar: Presidente da Câmara, fornecedor

da empresa? O que foi feito? Dissimulou-se o verdadeiro

destinatário da quantia com o nome de uma mulher que,

teoricamente, ninguém sabe quem seja e que poderia ser

eventualmente tida por fornecedora. Esse foi o estratagema.

vZr

Page 184: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

CONFIRMAÇÃO DE VOTO

(S/SUBITEM 111.1 DA DEN~NCIA)

ii12568

TRIB- PLENO

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora Presidente,

peço a palavra. Quero apenas manifestar uma reserva quanto a

imputação ao artigo 1Q, v11 da Lei 9 . 6 0 3 / 9 8 , que diz respeito a

dinheiro oriundo de organização criminosa.

Suspendo meu juízo por ora com relação a esse tópico, até

porque não analisamos, ainda, se formou ou não uma organização

criminosa no sentido estrito da palavra.

Mantenho o meu voto.

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4Q do artigo 96 do RISTF)

Page 185: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

G125C3 VOTO

(S/SUBITEM a.3 DO ITEM 111.1 - CRIME DE PECULADO)

A SENBORA MIMSTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhora Presidente,

também acompanho o voto do Ministro-Relator e juntarei o voto.

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4 " do artigo 96 do RISTF)

Page 186: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

VOTO

(S/SUBITEM a.3 DO ITEM 111.1 - CRIME DE PECULATO)

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, também acompanho o voto do eminente Ministro-Relator.

Entendo que estão presentes, em tese, os contornos

típicos do delito de peculato, e há substrato indiciário suficiente

probatório para recebemos a denúncia nesse tópico.

# # #

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4Q do artigo 96 do RISTF)

Page 187: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

(1125 '71

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

VOTO - (S/SUBITEM A.3 DO 111.1 DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente, o

denunciado detinha disponibilidade jurídica dos recursos. Está

justificado.

Recebo-a.

Page 188: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

Ci12573

TRIBUNAL PLENO

DEBATE

(S/SUBITEM a.3 DO ITEM 111.1 DA DEN~NCIA - CRIME DE PECULATO)

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente,

tenho uma dúvida. E peço ao Relator que afaste a minha insciência,

pelo menos provisória, dos fatos.

O objeto da contratação não foi prestado ou foi

prestado de modo desviado, tredestinado?

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Não foi

prestado. Os órgãos incumbidos desse setor da Câmara dos Deputados

informaram que não localizaram os relatórios; jamais ouviram falar

desses relatórios. Ou seja, a Secretaria de Comunicação que é o

órgão específico, competente para o setor, não encontrou indícios de

que os serviços contratados tenham sido efetivamente prestados.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Ou seja, a empresa

contratada não era fantasma, porém o serviço.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - O que se

alega é que prestava, em realidade, assessoria pessoal ao Presidente

da Câmara.

S T F 102.002

Page 189: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0125'73

TRIBUNAL PLENO

VOTO (SISUBITEM a.3 DO ITEM 111.1 DA DENUNCIA - CRIME DE PECULATO)

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora Presidente,

quanto a disponibilidade jurídica não há dúvida nenhuma, tanto que o

recebimento por parte do subcontratado decorreu de ato expresso do

denunciado.

Quanto a não-prestação do sewiço, a declaração do SECOM é

suficiente.

Page 190: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

C12574

TRIBUNAL PLENO

V O T O - - - - (S/ subitem a.3 do item 111.1 da denúncia - crime de geculato)

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Senhora Presidente, O

delito de peculato atribuído ao ora denunciado parece subsumir-se,

em sua estrutura típica, a modalidade do peculato-desvio. O

denunciado detinha, então, a disponibilidade jurídica daqueles

valores.

Em juízo de admissibilidade da acusação penal, recebo a

denúncia, porque apoiada em suporte probatório idôneo.

É o meu voto. 6

Page 191: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

Cri2575

TRIBUNAL PLENO

V O T O (SI Subitem A.2 do item 111.1 da denúncia - Crime de PecuIato).

A Sra. Ministra Ellen Gracie (Presidente) - Também acompanho o voto do eminente Ministro-Relator para receber a denúncia nessa parte.

Page 192: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007 TRIBUNAL PLENO

INOUERITO 2.245-4 MINAS GERAIS

A revisão de apartes dos Senhores Ministros Joaquim Barbosa(Relator), Carlos Britto e Ricardo Lewandowski.

DEBATE (S/SUBITEM a.3 DO ITEM 111.1 DA DENÚNCIA - 2 " DESVIO)

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora

Presidente, Vossa Excelência me permite, só para facilitar?

Peço que Vossa Excelência me indique aqui onde estaria a

descrição da participação específica do Rogério, porque,

aliás, acompanhando o voto de V.Exa., apenas reconhecemos a

condição de sócio, sem que tivesse sido individualizada a

forma de participação.

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - VOU

reler o trecho da denúncia. A empresa SMP&B

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Esse trecho,

não. Aí não há descrição. Os demais estão abrangidos pela

condição que já foi afirmada e reconhecida como dirigentes

da empresa, mas o Rogério, em relação ao qual nós

u"?

Page 193: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

G- . &@mim d v d d PF&~

Inq 2.245 1 MG

reconhecemos que era mero sócio, seria necessário que

ficasse . . .

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Ele

era advogado; era advogado também das empresas de Marcos

Valério, mas ele era controlador de uma empresa chamada

Tolentino e Associados, que também está envolvida em

outros. .

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Fazia parte do

"pool" de empresas.

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELAOR) - Sim.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Não está

imputada nenhuma conduta. r"

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - ~enho a

impressão de que, no primeiro caso, nós afastamos a

imputação sobre esse acusado, porque se tratava de corrupção

ativa. Nesse caso, pelo raciocínio de Vossa ~xcelência,

estou entendendo que, por ser sócio da empresa, ele se

beneficiou desses valores.

Page 194: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

r. @+ca d w U & e d é r - a d

Inq 2.245 1 MG

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - A

acusação é no sentido de todo o grupo. O Marcos Valério

tinha uma teia de empresas com as quais ele operava. Eu

citei aqui, em trechos anteriores, várias dessas empresas.

Mas, efetivamente, aqui não há. O que está envolvido aqui é

a empresa SMP&B, e não há descrição com relação a Rogério,

apenas em relação a Lanza Tolentino.

Page 195: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS VOTO

0 1 2 5 7 3

TRIBUNAL PLENO

(S/SUBITEM a.3 DO ITEM 111. DA DENÚNCIA - 2' DESVIO)

A SENHORA MIiüiSTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhora Presidente, voto

no sentido de receber a denúncia com relação aos demais, excetuando, porém,

Rogério Tolentino, sobre o qual não se apresentam elementos bastantes ao

atendimento das condiçaes previstas no artigo 41.

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4 * do artigo 96 do RISTF)

Page 196: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

6 1 2 5 8 0

TRIBUNAL PLENO

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

VOTO

(S/SUBITEM a.3 DO ITEM 111.1 DA DENÚNCIA - 2' DESVIO)

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, também recebo a denúncia com essa retificação feita pelo

eminente Reiator.

Apenas consigno que, estudando essa questão,

defrontei-me com uma dificuldade teórica que superei no sentido de

saber se o particular poderia ou não praticar esse crime de

peculato, que é tipicamente um crime cometido por funcionário

público. Debrucei-me sobre a doutrina, também sobre a jurisprudência

da Casa, e verifiquei o seguinte - consta do meu voto - :

"Nada obsta que o delito seja praticado por

particulares, em co-autoria com o funcionário público. Com efeito,

desde que o estraneus" - ou seja, aquele que está fora da

Administração Pública - "conheça a situação do intraneus" - ou seja,

aquele que é funcionario público - "pode responder como co-autor

pelo crime próprio. Nas palavras de Luís Régis Prado, 'A qualidade

Page 197: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

de funcionário público do agente se estende, também, aos co-autores

ou partícipes do delito, fundamento no art. 30 do Código Penal."

Esta Casa também tem jurisprudência nesse sentido. Há

um HC relatado pelo Ministro Sepúlveda Pertence, publicado no Diário

da Justiça de 0 4 / 0 2 / 1 9 9 9 , página 211, cuja ementa diz o seguinte:

"PECULATO - Comunicação ao co-autor particular de condição de funcionário público para efeitos penais do intraneus, elementar do tipo. "

Portanto, superada esta minha dúvida de natureza

doutrinária e teórica, acompanho, integralmente, o voto de Sua

Excelência, o eminente Ministro-Relator.

# # #

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4P do artigo 96 do RISTF)

Page 198: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

( i 12582

TRIBUNAL PLENO

VOTO - (S/SUBITEM a.3 DO ITEM 111.1 DA DENÓNCIA - 22 DESVIO)

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente,

pelas razões expressas pelo Relator e com a exclusão que ele próprio

propõe, também acompanho o voto de Sua Excelência.

Page 199: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

0 1 2 5 8 3

TRIBUNAL PLENO 24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

VOTO -

(S/SUBITEM a.3 DO ITEM 111.1 DA DENÚNCIA - 2' DESVIO)

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente,

a denúncia contém descrição de fatos, em tese, tipificados como

crime, e aponta indícios suficientes de autoria, pelo menos num

juizo de preliminar de admissibilidade da denúncia. Aqui, fico

negativamente impressionado com esses desvios que são duplos.

Num primeiro momento - o Relator deixou isso bem claro

- houve uma subcontratação do objeto da licitação não meramente

lateral, porém, central: 99 ,9% do objeto do contrato.

Em segundo lugar, a própria subcontratação se fez para

realizar um serviço que não correspondeu ao objeto daquele licitado,

ou seja, houve um desvio também do próprio objeto da licitação.

Em última análise, há uma forte suspeita de que a

empresa contratada fez apenas ou praticamente uma mediação: operou

como intermediária na medida em que transpassou quase que totalmente

o objeto da licitação, em cujos processos foi julgada vitoriosa e,

por isso, contratada.

No particular, quanto ao crime de peculato, acompanho

o eminente Relator para receber a denúncia no que toca a Marcos

Page 200: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Valério, Ramon Hollenbach, Cristiano Paz, excluindo Rogério

Tolentino e incluindo João Paulo Cunha.

***

Page 201: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

(A revisão de aparte do Sr. Ministro Carlos Britto)

VOTO (S/SUBITEM a.3 DO ITEM 111.1 DA DENÚNCIA - 2' DESVIO)

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora

Presidente, observo aqui o refinamento, pelo menos em tese,

dos expedientes destinados a fraudar o contrato, que não

permitia, pelo edital, traspasse da totalidade do objeto.

Deixou de ser transferido apenas 0,02%, o que permitia

justificar que não foi transferida a totalidade dos

serviços !

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - E em oposição

frontal aos termos do edital e da lei.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - "Não, não

transferimos tudo. Ficou 0,02%".

Acompanho o Relator. ys

Page 202: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS VOTO

0 1 2 5 5 6

TRIBUNAL PLENO

(s/ subitem "b" do item 111.2 da denúncia)

A SENHORA MINISTRA CÁREIEN LÚCIA - Senhora presidente,

acompanho exatamente os termos do Relator.

Anexarei voto escrito, que é muito longo nessa passagem.

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4 " do artigo 96 do RISTF)

Page 203: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

0 1 2 5 8 7

TRIBUNAL PLENO

VOTO - (s/ subitem "b" do item 111.2 da denúncia)

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhor Ministro-

Relator, única e exclusivamente para deixar bem clara e transparente

a situação. No voto de Vossa Excelência, está dito: o denunciado

Rogério Lanza Tolentino, cujo nome não figura no quadro societário

da empresa DNA.

Pelo que entendi, não foi apenas esse fato que

justificou a exclusão desse denunciado.

O SR. MINISTRO JOAQUIM BAR SA (RELATOR) - NOS outros

advogado dessas empresas.

t tópicos, sim, esse fato foi relevante. Ele não é gestor da DNA, mas

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Apenas para deixar

claro: não é única e exclusivamente pelo fato de ele não ser sócio

da empresa - porque os outros também não são - que Vossa Excelência

o exclui do recebimento da denúncia. É isso?

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA - Esse fato 6

preponderante para mim.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - E por que não é

preponderante para os outros dois? v

Page 204: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

2, ." Inq 2.245 / MG

i

O SR. MINISTRO CEZAR PELUSO - Porque eles são

administradores.

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - 0s outros

dois são administradores da empresa.

O SR. MINISTRO CARLOS BRITTO - Pela falta de

descrição, a denúncia não descreveu a conduta do último, e sim dos

primeiros.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Apenas quero deixar

mais clara a questão, até para reforçar o voto de Vossa Excelência.

Page 205: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente,

apenas para o meu esclarecimento: o que o Ministro-Relator chama de

desvio de recursos na verdade foi uma renúncia de receita?

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Não.

Houve uma omissão em restituir ao Banco do Brasil os descontos

obtidos; contratualmente, eles tinham de restitui-los ao Banco do

Brasil. Com relação a Henrique Pizzolato, ele se omitiu em verificar

se essa devolução estava sendo efetivada, e os outros se

beneficiaram disso.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - A dúvida que tenho -

e estou a refletir em voz alta - diz respeito a exigência da

qualificação "funcionário público". Não estamos, aqui, no campo da

co-autoria, quando há a participação do funcionário e a participação

de um cidadão, mesmo que vinculado a pessoa jurídica de direito

privado, como é o Banco do Brasil.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Sociedade de economia mista.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Sociedade de

economia mista, pessoa jurídica de direito privado.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Mas, para fins

penais, é como se fosse servidor público. 3

Page 206: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - É como

se fosse.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Mas onde está a

equiparação?

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - No

artigo 327 do Código Penal. O Estado brasileiro, a União controla o

Banco do Brasil.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Exatamente, artigo

327 do Código Penal. Ele é servidor público lato sensu.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Preceitua o artigo

327 do Código Penal:

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.

§ l0 - Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada para a execuçáo de atividade tipica da Administração Pública.

§ Z 0 - A pena será aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste Capitulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia mista . . .

Estou satisfeito, Presidente

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - É ainda mais grave.

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - É mais grave.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Apenas para

concluir. Ministro-Relator, Vossa Excelência também me convence - a

Page 207: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

partir da denuncia, logicamente - de que o diretor do Banco do

Brasil denunciado, mais do que leniente na exigência do retorno ao

que devido ao Banco, parece - e estamos num campo ainda prefacia1 de

julgamento - ter agido com cumplicidade.

Acompanho Vossa Excelência.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - O

comportamento desse diretor do Banco do Brasil será iluminado pelos

itens seguintes.

Page 208: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

V O T O

(s/ subitem "b" do item 111.2 da denúncia)

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Senhora Presidente,

tive dúvidas porque, na defesa, falava-se inicialmente sobre os

recursos da Visanet e o seu caráter estritamente privado. Mas, ainda

que assim fosse, estaríamos submetidos a gestão do Banco do Brasil

e, nessa condição, seriam recursos públicos.

Page 209: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

A revisão de apartes dos Srs. Ministros Joaquim Barbosa (Relator), Gilmar Mendes, Celso de Mello, Cezar Peluso, Carlos Britto, Ricardo Lewandowski e Ellen Gracie (Presidente).

V O T O

(S/ SUBITEM 111.3 DA DENÚNCIA)

A SENHORA MINISTRA CÁREIEN LÚCIA - Senhora Presidente,

acompanho também o Relator neste ponto, salvo em relação, exatamente, ao

indiciado e então Ministro Luiz Gushiken, por um motivo: o tempo todo,

precisamente nas falas do Henrique Pizzolato a descrição das condutas

apresentadas - o que não fica muito claro em relação a ele -, não deixa

claro que ele teria a posse ou que ele teria mandado, mas diz que teria de

assinar, porque Luiz Gushiken teria determinado. Não encontrei prova disso

no material.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELAMR) - Não acredito que

este seja o momento de procurarmos essa prova.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Estou procurando um indício de que haveria essa relação.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - O elemento

indiciário que temos é uma afirmação de um subordinado, de alguém que,

embora não fosse diretamente subordinado, estava sob o controle. Estamos

tratando de serviços de comunicaç5es. O Ministro Luiz Gushiken era o

Secretário exatamente dessa área de comunicações. O Senhor Pizzolato

Page 210: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c. Ing 2.245 / MG &jww, d w h m d &&L

controlava as comunicaçóes no âmbito do Banco do Brasil e alega ter

recebido uma ordem superior de um Ministro de Estado para que assinasse. Eu

tenho isso como, pelo menos, indícios suficientes para receber a denúncia.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - De qualquer forma, nós vimos

no item anterior, objeto dessa discussão - essa dúvida também me assaltava

- que esse Diretor atuava com grande autonomia, tanto 6 que aceitamos a

denúncia sem fazer nenhuma remissão à ordem por parte do Senhor Luiz

Gushiken ou de qualquer outra eventual autoridade. Quem tem alguma vivência

de Poder Público sabe que se poderia fazer sempre uma remissão espiritual a

qualquer autoridade ministerial. E quem obrava com tal liberdade, como

parecia obrar o Senhor Pizzolato.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Um diretor de Marketing do

Banco do Brasil, uma entidade que tem autonomia.

O SEWIIOR MINISTRO GILMAR MENDES - E a própria conclusão de

Vossa Excelência no caso específico, onde não se menciona a presença de

Luiz Gushiken.

o SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Eram outros

fatos.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Mas eu estou a dizer que,

primeiro, ele não carecia dessa ordem e ficou essa remessa. Entendi - da

própria passagem que Vossa Excelência transcreveu - que isso era uma ordem,

Page 211: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

um 'de acordo". Quando, na verdade, sabemos que, em tese, a SECOM não

supervisiona a execução desses contratos.

A SENIiORA MIMSTRA CÁRMEN LÚCIA - E nem detém a posse.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Seja em relação ao Banco do

Brasil, seja em relação a PETROBRÁS, seja em relação as demais empresas.

O SEMIOR MINISTRO CELSO DE ~ L M ) : Os aspectos agora

abordados pelo Ministro GILMAR MENDES, bem assim pela Ministra

cÁRMEN LÚCIA, põem em destaque um tópico relevante da defesa do

denunciado Luiz Gushiken. Esse denunciado assinala que o único

suporte em que se apóia a denúncia para veicular a imputação do

crime de peculato seria, tão-somente, o depoimento prestado por

Henrique Pizzolato contra ele.

O exame desses dados informativos leva-me a concluir

pela inexistência, na espécie, de indícios relevantes de autoria que

possam dar suporte à acusação penal.

Não se pode ignorar, neste ponto, que o processo penal

condenatório - precisamente porque não constitui instrumento de

arbítrio e de opressão do Estado - representa, para o cidadão,

expressivo meio de conter e de delimitar os poderes de que dispõem

os órgãos incumbidos da atividade de persecução penal. O processo

3

Page 212: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

penal, que se rege por padrões normativos consagrados na

Constituição e nas leis, qualifica-se como instrumento de

salvaguarda da liberdade do réu, a quem não podem ser subtraídas as

prerrogativas e garantias asseguradas pelo ordenamento jurídico do

Estado

A imputação penal - que não pode constituir mera

expressão da vontade pessoal e arbitrária do órgão acusador - deve

apoiar-se em base empírica idônea, que justifique a instauração da

"persecutio criminis", sob pena de se configurar injusta situação de

coação processual, pois não assiste, a quem acusa, o poder de

formular, em juízo, acusação criminal desvestida de suporte

probatório mínimo.

É por tal motivo que a jurisprudência desta Suprema

Corte tem advertido, sabiamente, que não há justa causa para a

instauração de persecução penal, se a acusação não tiver, por

suporte legitimador, elementos probatórios mínimos, que possam

revelar, de modo satisfatório e consistente, a materialidade do fato

delituoso e a existência de indícios suficientes de autoria do

crime. Não se revela admissível, em juízo, imputação penal

destituída de base empírica idônea, ainda que a conduta descrita na

peça acusatória possa ajustar-se, em tese, ao preceito primário de

incriminação.

4

Page 213: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Daí a razão de ser desta fase preliminar de controle - - -- jurisdicional da acusação penal, concebida, precisamente, para

impedir a instauração de lides temerárias ou para obstar, como

sucede no caso, em relação ao denunciado Luiz Gushiken, a abertura

de procedimentos destituídos de base probatória que não se apóie em

elementos mínimos de convicção.

~ ã o se gode ignorar que, com a prática do ilícito - - penal - acentua a doutrina - "a reação da sociedade não é

instintiva, arbitrária e irrefletida; e1 a é ponderada,

regulamentada, essencialmente judiciária" (GASTON STEFANI e GEORGES

LEVASSEUR, 'Droit péna1 Oénérai et Procédure Penaleu, tomo II/l,

9" ed., 1975, Paris; JOSÉ FREDERICO MARQUES, 'Elementos de Direito

Processual Penal", vol. 1/11-13, itens ns. 2 / 3 , Forense), tudo a

justificar 2 ponderado exame preliminar dos elementos de informação,

cuja presença revele-se capaz de dar consistência e de conferir

verossimilhança às imputações consubstanciadas em acusações penais,

sob pena de esta fase introdutória do processo penal de conhecimento

transformar-se em simples exercício burocrático de um poder

gravíssimo que foi atribuído aos juízes e Tribunais.

Dentro desse contexto, assume relevo indiscutível o

encargo processual que, ao incidir sobre o órgão de acusação penal,

5

Page 214: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

impõe-lhe o Ônus de demonstrar, ainda que superficialmente, porém

com fundamento de relativa consistência, nesta fase preliminar do

processo, os fatos constitutivos sobre os quais se assenta a

pretensão punitiva do Estado.

O fato indiscutivelmente relevante, Senhora Presidente,

é que, no âmbito de uma formação social organizada sob a égide do

regime democrático, não se justifica, sem qualquer base probatória

mínima, a instauração de qualquer processo penal condenatório, que

deve sempre assentar-se - para que se qualifique como ato revestido

de justa causa - em elementos que se revelem capazes de informar,

com objetividade, o órgão judiciário competente, afastando, desse

modo, dúvidas razoáveis, sérias e fundadas sobre a ocorrência, ou

não, dos fatos descritos em peça acusatória.

Não questiono, Senhora Presidente, a eficácia probante

dos indícios, mas enfatizo que a prova indiciária - ainda que para

viabilizar um juízo prévio de admissibilidade da acusação penal -

deve ser convergente e concatenada, não excluída por contra-

-indícios, nem abalada ou neutralizada por eventual dubiedade que

possa emergir das conclusões a que tal prova meramente

circunstancial dê lugar, sob pena de o acolhimento judicial desses

elementos probatórios indiretos, quando precários, inconsistentes ou

Page 215: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ing 2.245 / MG 8quw H- &a

0 1 2 5 3 9

impregnados de equivocidade, importar em incompreensível

transgressão ao postulado constitucional da não-culpabilidade.

Disso decorre, portanto, Senhora Presidente, que, com

base em simples e unilaterais alegações pessoais, ou com apoio em

mera suspeita, ninguém pode ser legitimamente processado em nosso

sistema jurídico, tal como já o reconheceu este Supremo Tribunal

Federal :

" Inguéri to. Queixa-crime. A1 egações desapoiadas de indícios ou suspeitas fundadas. Juízo de de1 ibação. Condição de procedibil idade (inexistência) . Inviabilidade. Rejeição da queixa-crime e arquivamento do inquérito. " (3 112/SP, Rei. Min. RAFAEL MAYER - grifei)

' Queixa-crime . - Tratando-se de ação penal privada, sua análise,

na fase de recebimento ou não dela, se circunscreve ao crime que é apontado na queixa como praticado pelo querelado.

- No caso, I . . . ) há falta de justa causa para o oferecimento da queixa-crime por estar inteiramente desacmpanhada de qualquer elemento, mínimo que seja, de prova sobre a materialidade do crime, baseando-se o seu oferecimento tão-só na versão do querelante ( . . . I .

Queixa-crime que se rejeita por falta de justa causa. " (RTJ - 182/462, Rei. Min. MOREIRA ALVES - grifei)

Vê-se, desse modo, como adverte a jurisprudência desta

Corte Suprema (Ing 1.978/PR, Rel. Min. CELSO DE MELLO, Pleno, v.g. )

e enfatiza o magistério da doutrina ( JOSÉ FREDERICO

MARQUES, "Elementos de Direito Processual Penal", vol. II/200-201,

Page 216: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ing 2 -245 / MG

item n. 349, 2Q ed., 2000, Miiiemium; FERNANDO DA COSTA TOURINHO

FILHO, "Código de Processo Penal Comentado', v01 . 1 / 1 2 4 ed. ,

1999, Saraiva; JULIO FABBRINI MIRABETE, "Código de Processo Penal",

p. 188, 7 " ed., 2000, Atlas, v . . , Que a legítima instauração de

"persecu tio criminis" pressupõe a existência de elementos

probatórios mínimos que possam, ao menos, indicar a real ocorrência

dos fatos imputados ao agente, não bastando, para tanto, meras

referências genéricas, declarações unilaterais, depoimentos

contraditórios ou conjecturas pessoais.

Daí a indagação que faço ao eminente Relator: o

depoimento prestado por Henrique Pizzolato constituiria, no que se

refere ao crime de peculato, o único elemento probatório existente

contra Luiz Gushiken? Tenho a forte impressão de que sim, vale

dizer, de que essa é a única prova existente, o que, a meu juízo,

revelar-se-ia insuficiente para o recebimento da denúncia contra tal

acusado. Não é o que lhe parece?

O SWIBOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Não

O SENIIOR MINISTRO CEZAR PELUSO - É bom levar em consideração

também que, com base nesse depoimento, a CPMI pediu o indiciamento do

Senhor Ministro Luiz Gushiken. A interpretação desse depoimento é idêntica,

tanto por parte da Procuradoria, como da CPI.

Page 217: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - A mesma leitura.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Há um Outro dado

que me parece relevante: há, em outras passagens deste processo,

informações de que, nessa época, a comunicação era centralizada na

Secretaria comandada pelo Senhor Gushiken, todos os órgãos. Não consta aqui

desse tópico, mas de outro. Como a denúncia está dividida em diversos

itens, temos essa informação mais adiante.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora Presidente,

quero dizer também que a mesma dúvida que assaltou a eminente Ministra

Cármen Lúcia me assaltou.

Estivéssemos nós já no transcurso da ação penal, esta

imputação feita por apenas uma testemunha ...

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Comprometida;

não é uma testemunha. é um denunciado.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Enfim, um indiciado

apenas, seria a denominada "chamada do co-réu", e seria uma prova vista de

forma muito relativa.

0 S-oR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Bem relativa.

Page 218: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MO

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEMANDOWSKI - Com relação,

especificamente, a ordem que teria sido recebida pelo Senhor Henrique

Pizzolato no tocante a esses adiantamentos, pinço um trecho do depoimento

do Senhor ~enrique Pizzolato, prestado na CPMI, que realmente enseja muita

dúvida com relação ao poder que tinha o Senhor Gushiken quanto a

autorização dessas antecipações.

Leio o exato trecho a que se referiu o eminente advogado da

tribuna. Diz o senhor Henrique Pizzolato o seguinte: Eu levei a informação,

apresentei a nota ao chefe de gabinete, ao Ministro, que disse: Olha,

assina. Não tem nada de inconveniente nisso. Está correto; é interpretação

do Banco, reforçada pelo Vice-presidente de Varejo, de que esses recursos,

por não serem do orçamento do Banco, não se submetem a prévia aprovação da

Secretaria de Comunicações. Portanto, esses recursos relativos aos

adiantamentos não eram passíveis de serem autorizados pelo Secretário da

Comunicação, pelo Ministro Gushiken.

Quer dizer, é uma dúvida que, na medida em que estamos

tratando apenas de indícios, compromete seriamente a denúncia. Portanto,

peço vênia ao eminente Relator para acompanhar a divergência neste aspecto.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - EU insisto: não

estamos tratando de julgamento da ação penal. Estamos analisando indícios

e, quanto a essa fase indiciária, mantenho o meu voto. Eu absolveria, sem

dúvida, diante desses elementos, mas não se trata disso.

Page 219: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c. Ing 2.245 / MO

dd'd

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANLtOWSKI - Se estamos antevendo

uma absolvição provável, porque vamos submetê-lo à ação penal?

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Porque é preciso

investigar. Podem surgir novos elementos no curso da ação. Não podemos

descartar.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Não, isso não.

O SENHOR MINISTRO GILMAR ~ E S - Se surgir, que faça nova

denúncia.

O SEWKOR MINISTRO RICARDO L!ZWANDOWSKI - O eminente Ministro

Cezar Peluso tem nos ensinado que a ação penal não é instrumento de

investigação. Ou a prova já está de certa maneira preconstituída na

denúncia, ou está pelo menos indicada, ou não se pode aceitá-la.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Não, a ação

penal é, sim, o lócus para se investigar sob o contraditório.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Para provar, data

venia, mas não para investigar.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Aqui estamos em

uma fase ainda precária e unilateral, já que conduzida pelo Ministério

Page 220: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ing 2.245 / MG @&wm &&!&&

Público com o auxílio da polícia. Na ação penal, essa investigação far-se-á

com muito maior segurança, sob o contraditório.

Acho que não podemos simplesmente descartar, sem mais nem

menos, indícios dessa natureza.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Gostaria de ponderar à Corte,

também, que o problema todo é saber se há indícios: não é um problema de

deixar para ser provado no curso do processo, ou não. Estamos na fase de

saber se há indícios.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - É isso que

estamos fazendo aqui.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - E , entre esses indícios, além

do depoimento, temos de levar em consideração, em primeiro lugar, que o

contrato era extramente importante para escapar à supervisão do co-

denunciado.

Na cláusula 19, ele diz: "O presente contrato tem por objeto a

execução pela contratada do serviço de publicidade do conglomerado Banco do

Brasil, inclusive de empresas ou entidades que possam ser de crédito e da

Fundação Banco do Brasil."

Aqui discrimina tudo.

O desvio, apontado pelo Tribunal de Contas da União, chegou a

três bilhões de reais. A pergunta é: o responsável teórico pelos serviços

de comunicaç3o do Governo estava alheio à movimentação dessa ordem? Essa é

a primeira questão para efeito de indícios.

12

Page 221: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Se fosse um contratozinho de dez ou vinte reais, uma

propagandazinha aqui ou lá, posso imaginar que escapasse à percepção ou ao

acompanhamento do co-denunciado. Acho que o montante de dinheiro era muito

grande para estar nas mãos independentes de um funcionário, de um diretor

de marketing.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - E esse diretor foi

categórico.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Mas isso sã0 ilações,

data venia.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - ~ ã o , são indícios, Ministro.

Não são ilações infundadas.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Nós estamos julgando o

que temos nos autos; quer dizer, nos autos temos uma única chamada e, se

tivéssemos a ação penal, seria a chamada do co-réu.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - ~ s t á nos autos, Ministro;

está no Tribunal de Contas; está no contrato; está na condição, provada e

objetiva, do co-denunciado.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Sim, parece que não há

dúvida de que houve desvio e é por isso que o Senhor Henrique Pizzolato vai

responder.

13

Page 222: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Sim.

o SENBOR MINISTRO RICARDOLEWAND~WSKI - Mas isso não significa

necessariamente, pelo menos com relação aos elementos que temos nos autos,

que o Senhor Gushiken teria dado uma ordem.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - Senhores

Ministros, pela ordem das votações, gostaria de retornar a palavra

Ministra Cármen Lúcia, que ainda não concluiu o seu voto.

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Exatamente. Quando fiz a

pergunta, foi exatamente para saber - do que consegui ver, claro que não com a profundidade com que foi o exame do Relator em todo o período - se haveria outro dado a subsistir ou se tenho de me basear exatamente nesse

único depoimento como o indício que nos levaria a aceitar a denúncia.

É basicamente isso, mas claro que com outros elementos, como

esse que acaba de ser aprovado.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Acho esse um

indício 'fortissimo, um indício poderoso. É uma afirmação grave. É um

diretor do maior banco brasileiro, quiçá da América Latina, que afirma ter

recebido ordens de um Ministro de Estado para passar vultosos recursos a

uma empresa nas condições descritas.

Não posso descartar isso.

Page 223: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO RICARW LEWANDOWSKI - Recursos não

orçamentários.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Recursos do

Banco do Brasil.

A SENHORA MINISTRA &WEX LÚCIA - Apesar de achar um indício

muito precário ainda, mas, somando a esse depoimento de Henrique Pizzolato

toda a tramitação subsequente dos contratos, ai, sim, não poderiam ser pelo

menos do conhecimento do responsável pela Secretaria de Comunicações.

Portanto, nos termos do que tinha redigido, considero

cumpridas as condições exigidas pelo artigo 41 e acompanho o voto do

Relator .

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - Acompanha

integralmente, Ministra Cármen Lúcia, inclusive com relação aos demais?

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚcIA - Acompanho integralmente,

retirando aqueles que nao foram recebidos por não haver descriçso de

conduta nem individualização, e até com relação a Rogério Tolentino, que

também foi retirado.

Obs.: Texto sem revisão da Exma. Sra. Ministra Cármen Lúcia

( $ 4 Q do artigo 96 do RISTF)

Page 224: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

VOTO

(S/ SUBITEM 111.3 DA DENÚNCIA)

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, pelos motivos que explicitei, não recebo a denúncia com

relação ao ex-Ministro Gushiken.

Também trago voto escrito, analiso a prova e vejo que,

com relação aos Senhores ~ o s é Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e

Sílvio Pereira, a acusação explicitada na denúncia é extremamente

genérica. Nesse aspecto, acompanho o eminente Relator. A vagueza com

que as imputações foram formuladas contra esses acusados impede que

eles possam exercer efetivamente o direito de defesa.

Assinalo e pinço trechos da denúncia em que não há

qualquer descrição no tocante a sua efetiva participação nos crimes

de peculato, não lhes sendo imputada qualquer ação específica que

tenha levado ao desvio de verbas nos contratos impugnados.

~ ã o vi descrito o liame subjetivo entre os denunciados

e esses delitos. Não há na denúncia, ademais, qualquer indicação das

circunstâncias em que teriam sido praticados esses delitos, como

também não há qualquer descrição de valores ou datas.

Page 225: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Também rejeito a denúncia de peculato constante neste

item com relação a ~ o s é Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares e

Sílvio Pereira. Também pelas razões expostas pelo eminente Relator,

excluo o Senhor Rogério Lanza Tolentino.

* * *

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4 Q do artigo 96 do RISTF)

Page 226: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

$l"LPO;iS:

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

VOTO

(S/ SWITEM 111.3 DA DENÚNcIA)

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente,

acompanho o Relator em relação a todas as exclusões, mas excluo

também com relação a Luiz Gushiken. Faço-o porque a simples

instauração da ação penal, com fundamento numa suposta ordem - o

voto do Relator diz "em cumprimento a uma suposta ordem" - causa

prejuízo extremamente grande. É uma mera ilação. Eu diria também que

o fato de a CPI ter indiciado não é precedente para nós.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Mas mostra

raciocínio não é inédito.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Sim, mas, certamente, esta

Corte não está presa nem aos acertos nem aos erros de comissões do

Poder Legislativo. Engraçado, lembrei-me de uma das primeiras aulas

de Direito Penal que tive com o meu querido Mestre Paulo José da

Costa, que dizia que 'pensiero non paga gabella". Para mim, é muito

nítido que estamos diante de uma ilação muito séria e muito grave.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Mas, Ministro,

nenhuma denúncia por crime de pensamento.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - E nem eu disse que está

Page 227: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ing 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Vossa Excelência é que

está invocando um ditado que diz respeito a outra classe de crime.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Mas aqui há um pensamento,

sim; é que seria uma suposta ordem do denunciado Luiz Gushiken. Está

no voto do Ministro-Reiator.

h O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Como suposta, Ministro?

Foi afirmado por alguém.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Eu estou lendo aqui no

voto. 6 O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Suposta para termos de

denúncia, isto é, não temos certeza se aconteceu ou não.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Perfeito. i O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Até espero que não deva

ter acontecido e que venha a provar-se que não aconteceu.

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Ministro Cezar Peluso,

para mim não há elementos suficientes. B O SENHOR MINISTRO CEZAR PEL O - Mas, para efeito de

juízo provisório de denúncia, há uma afirmação.

0 SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Já há um prejuízo na

simples instauração da ação penal, não podemos fazer isso

Page 228: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Ing 2.245 / MO G- .

Acompanho, no restante, o Ministro-Reiator, mas recuso em

relação ao Luiz Gushiken, como fez o Ministro Ricardo Lewandowski.

Page 229: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

11125l.3

TRIBUNAL PLENO

VOTO (S/ SUBITEM 111.3 DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente, de

certa feita, li em Merleau-Ponty que a verdade sempre se nos dá num

contexto, ainda que, para efeito de denúncia, indiciariamente.

Nesse contexto, percebo haver um depoimento que me

impressiona. Esse depoimento é categórico, não é dúbio, não é

vacilante, não é reticente, feito por um graduado funcionário do

Banco do Brasil habituado a lidar com milhões e milhões de reais.

De que se trata aqui? De uma aplicação do Banco do Brasil

no Fundo Visanet; aplicação essa que, segundo vejo aqui, é em torno

de setenta milhões de reais. Esse dinheiro, para fins penais,

oriundo de uma economia mista, é público, inclusive para efeito de

controle. E o dinheiro público não se despubliciza, não se

metamorfoseia em privado pelo fato de ser injetado numa pessoa

jurídica totalmente privada, como é a Visanet. O dinheiro continua

público a despeito de sua movimentação por uma empresa privada.

Page 230: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

G-. Inq 2.245 / MC @ ~ i w @ ? W d ~ & ~

~ 1 2 6 i I

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Mas,

Ministro Carlos Britto, o tipo penal abrange até mesmo recurso

privado.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Certo. Perfeito.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Não há dissenso

com relação a esse aspecto; todos estamos de acordo.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Nesse contexto, trata-

se de contratos de antecipação de recursos para a prestação de

serviços futuros, e numa espécie de - eu ainda estou falando, claro,

indiciariamente - ciranda de delitividade, porque esses contratos

serviriam de garantia para outros contratos já em outro banco, no

Banco Rural.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Vossa Excelência

me permite apenas um aparte?

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Pois não, com todo

prazer.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Claro que não se

trata de fazer a defesa de quem quer que seja, mas, compulsando os

Page 231: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

autos, vejo que esses adiantamentos vinham sendo feitos desde 2001.

São adiantamentos perfeitamente regulares, ou, pelo menos, eram

adiantamentos usuais, e a irregularidade que se imputa . . .

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Sem contrato, Ministro.

Sem contrato!

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Adiantamento sem contrato?

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - É o que consta

dos autos.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - E sem comprovação da

aplicação.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - A irregularidade

que se imputa ao Senhor Henrique Pizzolato é exatamente a de que não

haveria uma correspondência com relação a comprovação de documentos

e de recibos no que tange a esses adiantamentos. Essa é a

irregularidade, que, no caso, não diz respeito aos adiantamentos em

si. Portanto, ainda que se entenda que o ex-Ministro Luiz Gushiken

tenha dado a ordem, quanto aos adiantamentos, não há nada de

irregular nisso. A irregularidade consiste, exatamente, na falta de

Page 232: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

prestação de contas. E, ai, não há nenhuma imputação com relação ao

Senhor Luiz Gushiken.

Por isso e pelas razões anunciadas anteriormente é que

rejeitei a denúncia.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - A meu ver, nesse

contexto, há indícios suficientes, sim, de materialidade de autoria;

há comportamentos que, em tese, são delituosos. Para efeito desse

juízo preliminar, prefacia1 ou delibatório de admissibilidade da

denúncia, acho que há elementos suficientes, e também entendo com o

Ministro-Relator que o caso exige uma apuração mediante um locus

mais apropriado, dado o vulto das acusações e dos recursos

financeiros envolvidos na instrução criminal.

Senhora Presidente, concluo, sem querer adiantar juizo de

mérito, absolutamente, mas impressionado com a facilidade com que

são movimentados, aqui no Brasil, tantos recursos públicos e sem

contrato, sem comprovação.

Eu me permito lembrar que Padre Antônio Vieira, no século

XVII, falando sobre o comportamento dos governadores aqui na América

Lusitana e na América Espanhola, que se chamavam antigamente de

Índias Ocidentais, porque Colombo pensou que houvesse aportado,

desembarcado aqui, ou desembocado na Ásia; e chamava a América de

Índias Ocidentais. Num trocadilho bem posto e atualissimo, o Padre

Page 233: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

c. Inq 2 .2 45 / MG f l $B(QM& ~ V ~ U B U T A

Antonio Vieira disse assim: Os governadores chegavam pobres as

Índias ricas, e saíam ricos das Índias pobres.

Esse contexto histórico me impressiona muito, porque há

uma renitência patrimonialista brasileira que me desalenta a própria

cidadania.

Nesse contexto, recebo a denúncia com o Relator, com

todas as exclusões por Sua Excelência também sugeridas.

É como voto.

Page 234: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INOUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

VOTO (S/ SUBITEM 111.3 DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Senhora Presidente,

também vou pedir vênia para acompanhar o eminente Relator.

Já adiantei alguns pontos de vista a esse respeito, mas gostaria

de fazer uma observação.

Quando se fala em prova - e isso é coisa elementar das

primeiras aulas, nem diria de Direito Penal, mas de Introdução a Ciência do

Direito -, no sistema do ordenamento brasileiro existem duas grandes categorias

de provas: as provas diretas, também chamadas histórico-representativas, e as

provas indiretas, chamadas provas indiciárias ou crítico-lógicas. As provas

diretas são aquelas de cujo suporte irradia-se imediatamente um juízo de

certeza, e as provas indiretas basicamente consistem numa operação intelectual

e podem, de certo modo, mas sem conotação pejorativa, ser chamadas de

ilações, mas ilações fundadas. E fundadas por quê? Porque consistem em tirar,

de um fato provado, uma relação lógica com outro fato, que é desconhecido,

mas que se tem por provado mediante a ilação.

YS

Page 235: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 1 MG i112619

Exemplo escolar é o do veículo que abalroa outro pela traseira,

autorizando a ilação de que quem o fez pela traseira é o culpado. O fato

conhecido é que houve o abalroamento pela traseira; a culpa já é uma ilação,

mas fundada na experiência de que quem bate pela traseira ou não estava

atento, ou não guardava a distância regulamentar, etc. O que teria de ser

provado é o fato extraordinário de que o carro da frente parou de repente e deu

marcha a ré! Isso é que não pode ser objeto da ilação.

Aqui no caso temos vários fatos encadeados que estão

provados, a partir dos quais me é lícito, como julgador, fazer uma ilação, uma

inferência, que constitui prova indiciária, suficiente para recebimento da

denúncia.

Eu não posso rejeitar a denúncia - e a minha tendência é

realmente demonstrar-se, no curso do processo, que tudo isso não passou de

uma ilação cujos fatos fundantes não são verdadeiros -, pelo montante sobretudo

das movimentações, não apenas pelo montante, mas também pelo envolvimento

da DNA, conhecida da engrenagem, e mais, sem contratos. 0 s desvios foram

concretizados sem a existência de contratos. No mínimo, seria caso de imaginar

peculato culposo de quem, devendo supervisionar, na direção superior do

serviço de comunicações, não estaria a par de desvios que atingiram, naquela

época, o montante de dois bilhões e novecentos milhões de reais, nem verificou

que as reservas, os recursos do fundo que pertenciam ao Banco do Brasil, e que

deviam ser por este gerenciados, estavam sendo destinados para empresa que

não prestava sewiços e, além disso, emitia notas fiscais falsas - conforme laudo

P 7 2

Page 236: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

P*&M&& Inq 2.245 1 MG Cii26,g

do instituto de criminalística - para justificar serviços que não foi realizava.

Ninguém sabia disso? Por que o Senhor Henrique Pizzolato se teria dirigido ao

co-denunciado?

Diante dessas circunstâncias, não posso deixar de reconhecer

que há elementos indiciários suficientes para receber a denúncia. É o que faço,

pedindo vênia a divergência. u"l

Page 237: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Od 4 : 0 1 2 6 2 1

24/08/2007 TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

A revisão de apartes dos Senhores Ministros Cezar Peluso, Ricardo Lewandowski, Joaquim Barbosa (Relator), Carlos Britto e Ellen Gracie (Presidente).

V O T O

(S/ SUBITEM 111.3 DA DENÚNCIA)

O SENHOR MINISTRO GILMAFi MENDES - Senhora Presidente,

desde a leitura da peça assaltaram-me dúvidas quanto a

responsabilidade penal, para os termos da denúncia, do Senhor Luiz

Gushiken. E, ainda agora, o Procurador-Geral, dando resposta aquilo

que foi afirmado da tribuna, traz considerações sobre esses fatos e

transcreve aquela já multicitada e multilida passagem do debate na

Comissão Parlamentar Mista de Inquérito,' em que o Senador Cézar

Borges perguntava:

" O S R . CÉZAR BORGES ( P F L B A ) Mas o Ministro Gushiken sempre disse 'assine o que é preciso assinar'."

Na verdade, é disso que se trata para saber se temos uma

prova mínima indiciária suficiente para a aceitação da denúncia.

O S R . HENRIQUE PIZZOLATO Sim, senhor. N o caso dessa nota específica ele disse: 'Assina, porque não há nenhum problema. Isso é bom. O banco . . .

Page 238: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

O SR . CÉZAR BORGES (PFL BA) E n t ã o e l e l h e d e u esse r e s p a l d o d e r e s p o n s a b i l i d a d e q u e o S r . d e v e r i a a s s i n a r i nc lu s i ve a q u i l o q u e a u t o r i z a v a o a d i a n t a m e n t o d a DNA.

O SR . HENRIQUE PIZZOLATO O l h a , e n t e n d i a q u i l o como uma o r d e m . Eu n ã o i r i a m e c o n f r o n t a r a o Ministro e . . . "

São p a s s a g e n s com s i n a i s d e evas ivas .

"O SR . EDUARDO PAES (PSDB R J ) S r . P i z z o l a t o , se V . S a n ã o q u i s e r r e s p o n d e r , n ã o r e s p o n d a . Mas e u e s t o u f a z e n d o uma p e r g u n t a o b j e t i v a : o Minis t ro G u s h i k e n d e t e r m i n o u a V . S a q u e f i z e s s e o p a g a m e n t o à a g ê n c i a DNA?

O S R . HENRIQUE PIZZOLATO E l e d i s s e - m e q u e e r a p a r a a s s i n a r a s n o t a s . . .

O SR . EDUARDO PAES (PSDB R J ) A s s i n a r a nota s i g n i f i c a o q u ê ? P o r q u e V . S E t i n h a d e a s s i n a r a n o t a ?

O SR . HENRIQUE PIZZOLATO P o r q u e e u t i n h a q u e d a r o ' d e a c o r d o ' .

O SR . EDUARDO PAES (PSDB R J ) O ' d e a c o r d o ' d e V . S a s i g n i f i c a v a a u t o r i z a ç ã o ?

O S R . HENRIQUE PIZZOLATO S i g n i f i c a v a que a D i r e t o r i a d e M a r k e t i n g i r i a e s t r u t u r a r as c a m p a n h a s com r e c u r s o s d a V i s a n e t j u n t o com os d e m a i s . . .

O S R . ARNALDO FARIA DE SÁ (PTB S P ) Quem p e d i u p a r a você a s s i n a r essa a u t o r i z a ç ã o d e R$23 ,3 m i l h õ e s p a r a DNA?

O S R . HENRIQUE PIZZOLATO Eu f u i a o P r e s i d e n t e d o Banco , " - a í o b s e r v a - s e um o u t r o c í r c u l o d e h i e r a r q u i a , q u e f a z t o d o s e n t i d o . N ó s e s t a m o s a f a l a r d e uma D i r e t o r i a d e M a r k e t i n g d o B a n c o d o B r a s i l - " a o V i c e - P r e s i d e n t e d e V a r e j o j á r e l a t e i i s s o a q u i e f u i à S e c o m e m o s t r e i . . . ,r

S e r á que o P r e s i d e n t e d o B a n c o d o B r a s i l e o V i c e -

P r e s i d e n t e s e r i a m c o - a u t o r e s d e s s e d e l i t o ?

"O SR . ARNALDO FARIA DE SÁ (PTB S P ) S e c o m . O q u e é S e c o m ?

O SR . HENRIQUE PIZZOLATO É a S e c r e t a r i a d e C o m u n i c a ç ã o .

O SR . ARNALDO FARIA DE SÁ (PTB S P ) I s so é P a l á c i o .

Page 239: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2 . 2 4 5 / MG

O SR. HENRIQUE PIZZOLATO O que o Ministro disse é que não via nenhum problema, que era uma boa noticia, porque o Banco teria e isso eu relatei no início, . . . ,,

Depois, vejo na denúncia que se imputa, na verdade, o

desvio por falta de fiscalização na execução. Não imagino, embora os

fatos todos sejam deploráveis em toda a sua extensão, que se possa

exigir necessariamente deste Ministro ou de qualquer outro, porque

seriam responsáveis, então, pelos desvios de todas as estatais - o

Ministro das Minas e Energia por todas as grandes empresas, a

ELETROBRÁS, a PETROBRÁS - que só por isso eu possa fazer uma

ilação.

De modo que, exatamente com base nos mesmos fatos aqui

mencionados pelo Ministro Cezar Peluso, chego a uma conclusão

divergente. Se, no curso do processo, de fato se demonstrar a

responsabilidade do ex-Ministro, deve-se fazer a denúncia adequada,

mas com esses elementos. E nem vou aqui trazer aquilo que parece ter

ficado perceptível para a própria CPI: que havia uma tensão

dialética, alguma desinteligência entre este Diretor e o Secretário

de Comunicação. Parece algo que não está sob dúvida.

Mas esses elementos realmente dificultam. E se ficarmos

nesse estágio da discussão, será palavra contra palavra, até porque

a fraude parece ter residido não na eventual antecipação, mas na

execução, na prestação de contas, na prestação do serviço.

E também nào é curial, não é pelo menos comum que uma

autoridade, um diretor de banco ou um diretor de empresa se dirija

Page 240: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

ao Ministro de Estado para perguntar se assina, ou não, uma nota.

Também isso está no campo das inverossimilhanças, pelo menos.

De modo que, diante desses elementos, que são leituras de

fatos, não consigo ver esses indícios. E aqui realmente me vem o

significado que a ação penal tem. Deixá-la transitar tão-somente

para que se adensem elementos, sendo que, na verdade, estamos a ter

uma informação contra a outra. Sem dúvida, não tenho condições de

aceitar esta prova que está muito tênue.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Ministro, eu até

concordaria com Vossa Excelência, se houvesse prova nos autos de que

o Senhor Henrique Pizzolato não tinha nenhum contato com o co-

denunciado.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Consta que seria

até o desafeto dele.

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Não vi nada

nesse sentido nos autos.

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Consta onde, Ministro?

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Tudo é uma questão de

leitura com os mesmos fatos.

4

Page 241: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO CEZAR PELUSO - Se Vossa Excelência

mostrar que a respeito conste alguma coisa, . . .

O SENHOR MINISTRO -OS BRITTO - Com os mesmos fatos, os

mesmos eventos e até documentos e leis, tudo admite leitura

diversificada. Se eu mudar a entonação de voz para o lado oposto da

entonação adotada pelo Ministro Gilmar Mendes, a conclusão será

outra.

Leio o seguinte:

"O SR. CEZAR BORGES (PFL BA) Mas o Ministro Gushiken sempre disse 'assine o que é preciso assinar'.

O SR. HENRIQUE PIZZOLATO Sim, senhor. No caso dessa nota especifica ele disse: 'Assina, porque não há nenhum problema. Isso é bom. O banco . . .

O SR. CEZAR BORGES (PFL BA) Então ele lhe deu esse respaldo de responsabilidade que o Sr. deveria assinar inclusive aquilo que autorizava o adiantamento da DNA.

O SR. HENRIQUE PIZZOLATO Olha, entendi aquilo como uma ordem. Eu não iria me confrontar ao Ministro e... "

Vejam como muda tudo. Houve dubiedade nisso, vacilação?

Absolutamente, ele foi categórico, emprestando uma qualificação

objetiva ao seu depoimento. E estamos num campo indiciário.

A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE (PRESIDENTE) - Ministro

Gilmar Mendes, Vossa Excelência, então, não recebe?

Page 242: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Senhora Presidente, eu

já tinha dito, conforme o Ministro Carlos Britto, que diante dos

mesmos fatos temos perspectivas diferentes. Não vejo como, pelo

menos no estado atual do processo, esta ação possa ser devidamente

instaurada em relação a Luiz Gushiken com alguma plausibilidade de

que venha eventualmente a resultar numa possível ou eventual

condenação. Todos os elementos levam exatamente a esse impasse.

Por isso manifesto-me, seguindo o Relator em relação aos

demais aspectos já destacados, no sentido da - neste passo -

rejeição da denúncia em relação a Luiz Gushiken, até porque, a dar

credibilidade ao que disse Pizzolato, talvez Gushiken esteja

faltando em relação a todos os demais crimes imputados a Pizzolato,

porque ele certamente estaria submetido, ou talvez até Pizzolato não

teria cometido crime nenhum, seria um mero agente de execução.

Fico realmente perplexo com relação a isso. Por outro

lado, tenho essa dificuldade de imaginar diretores de estatais se

dirigindo a ministros de Estado para pedir autorização para assinar

notas. Fico a imaginar o que faria o histro das Minas e Energia. / A L

O SR. MINISTRO JOAQUIM RBOSA (RELATOR) - Notas de

setenta milhões de reais. Não são notinhas de compras de

supermercado.

Page 243: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MG r. f l q u m ddud @edmcad

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Que seja. Fico a

O SR. MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Vossa

Excelência conhece tão bem a Administração Federal como eu e sabe

que certas decisões envolvendo certas cifras não são tomadas sem

passar pelo crivo político-administrativo de um certo nível. É disso

que se trata aqui.

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - A própria filosofia da

Secretaria de Comunicação já indicava, nos vários governos, a

fixação de diretrizes quanto à locação de recursos de publicidade,

que sabemos serem elevados. Mas, dai dizer que 'o chefe determina,

seria preciso que houvesse mais elementos nos autos. * A SRA. MINISTRA ELLEN GRACIE ( P R E S I D E N ~ - No mais,

Vossa Excelência acompanha o Relator?

O SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - Senhora Presidente, no

mais, acompanho o Ministro-Relator.

Page 244: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBUNAL PLENO

O SENHOR MINISTRO MARCO AURÉLIO - Presidente, estamos

a lidar com questões ligadas ao grande todo, que é a publicidade. É

sabido que a publicidade por vezes não é implementada como previsto

na Constituição, com observância de balizas legais.

Neste primeiro passo, apreciamos tão-somente a

existência de indícios, não se exigindo prova para concluir-se pela

legitimidade passiva de envolvidos.

O que há na espécie? Não vou, aqui, perquirir como um

diretor do Banco do Brasil chega ao respectivo cargo, não vou levar

em conta a origem da caminhada. O que se tem, então, no caso? Tem-se

que pessoa altamente qualificada - porque, como já salientado pelo

relator, diretor do Banco do Brasil - compareceu a Órgão merecedor,

também, da maior respeitabilidade, um órgão do Parlamento, uma

Comissão Parlamentar de Inquérito, e, questionada, veiculou que

praticou atos a partir de orientação, e o fez de forma clara,

precisa, daquele que capitaneava, a época, a comunicação e a gestão

estratégica da Presidência da República. Ora, podemos, diante desse

contexto, dizer que é manifesta - e é o vocábulo utilizado pelo

Código de Processo Penal - a ilegitimidade do ex-ministro Luiz

Gushiken para figurar no pólo passivo da ação penal?

a não ser que partamos, nesta fase, para a exi

robusta do comprometimento do ex-ministro. Indagado

S T F 102.002

Page 245: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

senhor Henrique Pizzolato afirmou, e categoricamente, que assinara a

nota a partir de determinação. Se não o fizesse, o que poderia

ocorrer? Não sei, e não vou revelar, já que detentor de cargo

demissível a qualquer momento, por determinação do todo-poderoso, a

época e no âmbito de atuação, o Ministro da Secretaria de

Comunicação e Gestão Estratégica da Presidência da República

Como estou limitado ao exame de simples indícios da

autoria, tenho que a situação desse ex-ministro é diversa da

situação, por exemplo, do ex-ministro José Dirceu, já excluído ante

a ilegitimidade até aqui manifesta, sem prejuízo inclusive de a

denúncia vir a ser aditada, pelo próprio relator, o mesmo

acontecendo com José Genoíno, hoje deputado, Sílvio Pereira e

Delúbio Soares. O senhor Pizzolato, segundo depoimento na Comissão

Parlamentar de Inquérito, não atuou por força de indicação - não vou

falar determinação - desses senhores, mas declarou expressamente que

atuou, e de forma reconhecida, ante o que asseverou - e já foi

ressaltado pelo ministro Carlos Ayres Britto - sob orientação do

ministro Gushiken.

Peço vênia àqueles que divergem para, Qm0, não

sufragando a máxima segundo a qual a corda estoura do ado mais

fraco, receber a denúncia.

Page 246: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQ~RITO 2.245-4 MINAS GERAIS

Ci12630

TRIBUNAL PLENO

A revisão de aparte do Senhor Ministro JOAQUIM BARBOSA (Relatar) .

V O T O - - - - (S/ subitem 111.3 da denúncia)

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Senhora Presidente,

todos sabemos que, para o recebimento da denúncia, é desnecessária a

prova completa, cabal, taxativa da ocorrência do crime e de seu

autor. Por isso mesmo, este Supremo Tribunal tem reiterado, em sua

jurisprudência, ser fundamental, nesta fase preliminar do processo

penal condenatório, que a peça acusatória seja sustentada por

documentos que revelem indícios suficientes de autoria, porque, sem

um substrato probatório mínimo, descaracterizar-se-6, por completo,

um dos requisitos necessários ao exercício da ação penal, restando

configurada, em tal situação, quando ocorrente, a ausência de justa

causa.

A mim me parece, Senhora Presidente, não haver

elementos indiciários consistentes que possam suportar uma acusação

contra o ex-Secretário de Comunicação Luiz Gushiken. Entendo - como

já o fizeram os eminentes Ministros RICARDO LEWANDOWSKI e

Page 247: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MO

GILMAR MENDES - que os indícios são extremamente frágeis e que a

prova indiciária, meramente circunstancial, não pode conferir

segurança ao recebimento da denúncia. Tal situação, como é evidente,

não impedirá o Ministério Público, dispondo de outros elementos mais

consistentes, de renovar a pretensão punitiva do Estado, mediante

indicação de dados probatórios que realmente possam viabilizar o

oferecimento da acusação penal. Mas, com os dados at6 agora

produzidos, não me sinto seguro para receber a denúncia.

De outro lado, indago, ao eminente Ministro-Relator, e

no que concerne ao chamado 'núcleo duro" da organização criminosa,

se, em seu voto, ao se referir ao "núcleo central da hipotética

quadrilha", nele inclui os denunciados José Dirceu, ~ o s é Genoíno,

Silvio Pereira e Delúbio Soares?

Ao examinar a imputação de suposta prática do delito de

peculato, tipificado no art. 312 do Código Penal, o eminente Relator

fez constar, do seu douto voto, uma passagem que qualifica como

trecho pertinente e expressivo da denúncia:

" (. . . I uma vez sob disposição do núcleo Marcos Valério, o montante foi empregado para pagar propina e dívidas de campanhas eleitorais por ordem de Jose Dirceu, José Genoíno, Sílvio Pereira e De1 úbio Soares. Além disso, como já relatado, uma das antecipações

Page 248: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Inq 2.245 / MO

serviu para abater um dos enpr6stimos do BMG que suportaram a engenharia ora denunciada."

E a tanto se limitaria, segundo compreendi, a acusação

referente a suposta prática do crime de peculato. L- /

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Exatamente. A denúncia se limita a isso, em relação a esse núcleo.

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Fui conferir a

denúncia, porque ela é muito extensa e abrange uma multiplicidade de

fatos, de eventos e de protagonistas. A mim me parece, no entanto,

que somente essa descrição é insuficiente para se ter por cumprido

um ônus que incumbe, exclusivamente, ao Ministério Público, em tema

de formulação de acusação penal. A mim me parece, na verdade, que

essa descrição é extremamente precária e, portanto, inviabilizadora

do recebimento da peça acusatória.

Por isso, Senhora Presidente, pedindo vênia, acompanho

o voto proferido pelo eminente Ministro RICARDO LEWANDOWSKI, no

ponto em que não recebe a denúncia contra Luiz Gushiken.

É o meu voto.

Page 249: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007 TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS W revisão de apartes dos Srs. Ministros Joaquim Barbosa (Relator) e Carios Britto.

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

VOTO

(s/ subitens a.2, a.1 e c.1 do item 111.3 da denúncia)

A SENHORA MINISTRA CÁREIEN LÚCIA - Senhora Presidente,

acompanho o Relator, salvo com relação ao inciso VI1 da Lei nn 9.613

relativamente a Henrique Pizzolato, por aqui ficar provada essa organização

criminosa, nessa passagem específica. Não há uma descrição nem na denúncia,

nem nos autos.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Se ele ajudou

a irrigar os cofres da suposta organização criminosa.

O SENHOR MINISTRO CARU)S BRITTO - E a origem do dinheiro.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATORI - É uma das

fontes

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - A origem sim, mas para

este caso não hd.

De toda sorte, como estou recebendo conforme Vossa

Excelência com relação à denúncia, essa pontuação quanto aos itens

específicos não conta, apenas para ressalvar, porque ainda não votamos em

relação a isso inclusive.

Page 250: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Obs.: Texto sem revisão da m a . Sra. Ministra Cármen Lúcia

( $ 4° do artigo 96 do RISTF)

Page 251: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

TRIBüNAL PLENO

VOTO - (S / subitens a.2, a.1 e c.1 do item 1 1 1 . 3 da denúncia)

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente,

acompanho o Relator com a ressalva levantada pela Ministra Cármen

Lúcia.

Page 252: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2 . 2 4 5 - 4 MINAS GERAIS TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245

VOTO

(s/ subitens a.2, a.1 e c.1 do item 111.3 da denúncia)

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, peço vênia porque eu já havia feito essa mesma ressalva

num item anterior. Então, nesse aspecto, também acompanho a Ministra

Cármen Lúcia.

* * * *

Obs.: Texto sem revisão í $ 4* do artigo 96 do RISTF)

Page 253: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

r c ? G T i b 1

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS VOTO S/ ITEM IV

A SENHORA MIMSTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhora Presidente, sigo

o voto do Relator integralmente e, também, neste ponto, anexarei o meu

voto.

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4 * do artigo 96 do RISTF)

Page 254: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

0 1 2 6 3 8

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS TRIBUNAL PLENO

VOTO S/ ITEM IV

O SR. MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Senhora

Presidente, acompanho o Relator, mas faço uma ressalva com relação

ao inciso VI1 do artigo 1Q da Lei nQ 9.613. Esse inciso cuida de

dinheiro proveniente de organizações criminosas, figura criada pela

Lei nQ 10.217, que alterou a Lei nQ 9.034. Assinalo que a denúncia

apenas imputou a alguns denunciados o delito de formação de

quadrilha, que consta do artigo 288 do Código Penal.

* * *

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4* do artigo 96 do RISTF)

Page 255: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS RETIFICAÇÃO DE VOTO s / O ITEM IV

A SENHORA MINISTRA CÁRMEN LÚCIA - Senhora Presidente,

também reajusto o meu voto, como fiz nos outros.

Obs.: Texto sem revisão ( $ 4 " do artigo 96 do RISTF)

Page 256: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

24/08/2007

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS

(i 1 2 6 -1 1)

TRIBUNAL PLENO

VOTO S/ ITEM IV

O SENHOR MINISTRO EROS GRAU: - Senhora Presidente,

faço a mesma ressalva do Ministro Ricardo Lewandowski. Tenho os meus

cuidados com relação a essa conceituação e o que li em Alberto Silva

Franco me deixa em dúvida.

Page 257: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

01264!

TRIBUNAL PLENO

INQUÉRITO 2.245-4 MINAS GERAIS VOTO S/ ITEM IV

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente,

a imputação que se faz aqui, Ministro-Relator, centralmente, é a de

lavagem de dinheiro?

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Lavagem

de dinheiro em relação a todos.

O SENHOR MINISTRO =OS BRITTO - A todos que são

dirigentes do Banco Rural.

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Do Banco

Rural e do núcleo do Marcos Valério.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Conjugadamente?

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) -

Conjugadamente.

O SENHOR MINISTRO RICARDO LEWANDOWSKI - Eminente

Ministro, a minha preocupação é que a lei que cuida de organizações

criminosas traz sanções mais severas, inclusive com relação a

cumprimento de penas e eventuais medidas cautelares em termos de

privação de liberdade. Portanto, faço essa ressalva em face de

eventuais conseqüências que uma imputação relativamente a esse

inciso possa ter.

Page 258: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

O SENHOR MINISTRO JOAQUIM BARBOSA (RELATOR) - Mas a

imputação aqui não terá conseqüências, na eventualidade de abertura

da ação penal, no plano da aplicação de pena. O dispositivo fala em

lavagem de dinheiro proveniente de crimes contra a Administração

Pública, contra o sistema financeiro e decorrente de organização

criminosa, mas não remete à Lei das Organizações Criminosas para

efeito de fixação de pena. A pena é a da própria Lei no 9.613. Eu

não vejo essa conseqüência.

O SENHOR MINISTRO CARLOS BRITTO - Senhora Presidente,

vou pedir vênia a dissidência e acompanhar o Relator integralmente.

***

Page 259: Mensalão do PT - recebimento da denúncia

Seção de Processos Diversos do Plenário

TERMO DE ENCERRAMENTO DE VOLUME

Em OQi de hW6wbQ de , fica encerrado o a' volumedos presentes autos do (a) t*r.i9 à folha no &.6'13/ , Seção de Processos Diversos do Plenário. Eu,

, Analista/Técnico Judiciário, lavrei o p'resente ~Lrmo.