mercado do povo, maputo, mocambique
DESCRIPTION
A multimedia reportage on a bustling, colorful and traditional market in the old part of Maputo. Read the life stories of vendors, cooks and clients, learn about deforestation through coal burning to make that delicious piri-piri chicken, enjoy gorgeous photos and learn about the history of Maputo´s most popular market. For the multimedia reportage with music and videos, visit: www.mercadodopovo.info This reportage was produced by young Mozambican journalists at the IREX lab for multimedia journalism I facilitated in Maputo in 2013.TRANSCRIPT
MERCADO DO POVOr e p o r t a g e m M o ccedil a m b i q u e
Quarenta anos no Mercado Na sua mercearia Celeste vende desde produtos alimentiacutecios e medicinais ateacute os vestuaacuterios
XitiqueUma das formas mais comuns para realizar poupanccedilas nos mercados informais
O DegoladorldquoPenso que a galinha natildeo guarda boas recordaccedilotildees de mimrdquo
A CapulanaTornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas
copy 2013 laboratoacuterio de jornalismo multimiacutedia IREX all rights reserved
2 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 3
Reportagem Mercado do Povo
IacuteNDICEDona Ameacutelia
Quarenta Anos no Mercado
Peacutessimas Condiccedilotildees
Bonito por Fora
Cintura Verde
Eacute Preciso Apostar na ProduccedilatildeoComercial de Fruta
O Xitique
Radiografia
O Degolador
Sofrimento das Galinhas
Fruta eacute Sauacutede
Os Problemas de Ser Comerciante
Carvoeiros e LenhadoresDistroem Floresta
As Florestas Literalmente Cozinhadas
Comida a Vale
As Cozinheiras
Corredor da Morte
Saibam como Actuam asCeacutelulas da Frelimo
A Capulana
Moda Africana
Alfaiates
Relatos de Guerra
Maputo a Cidade naVaranda do Tempo
QUEM SOMOSInocecircncio Albino editor cultural Verdade
Benilde Matsinhe jornalista de cultura no portal Sapomz
Claacuteudia Muguande jornalista do semanaacuterio SOL em cultura e sociedade
Andreacute Mulungo jornalista do Canal de Moccedilambique em poliacutetica e sociedade Argunaldo Nhampossa jornalista de poliacutetica e economia do SAVANA
Aratildeo Nualane jornalista desportivo no semanaacuterio Maratona
Antoacutenio Uqueio jornalista de sociedade ciecircncia e sauacutede do Alternativa
Mercedes Sayagues assessora teacutecnica da IREX facilitadora de laboratoacuterio multmiacutemidia
Coordenadora Mercedes SayaguesDesign Graacutefico Filipa BotelhoFotos Mercedes Sayagues
Obrigado as vendedeiras e clientes do Mercado do Povo que contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo da nossa reportagem Foram receptivos e falaram de tudo que queriacuteamos saber
DONA AMEacuteLIAA ANFITRIatilde DE hORTICOLAS
Todos os dias chega ao mercado agraves 7 horas e monta a sua banca de horticolas e frutas Dona Ameacutelia Josina uma das mamanas mais antigas do Mercado do Povo com muito suor cuida de cinco filhos e quatro netos
DONA AMEacuteLIA | MERCADO DO POVO
Natural de Inhambane veio a Maputo para acompanharo marido que em vida trabalhava no transporte puacuteblico TPM
muito fervor cada data que assinala a histoacuteria do paiacutes ldquoMamatilde Josina Machel eacute a nossa heroiacutena comemoro sempre o 7 de Abrilrdquo disse Ela contribui para o emponderamento feminino nacional e daiacute em diante a mulher luta diariamente pela dignidade da sua famiacutelia
Mesmo fazendo a longa rota diaacuteria de chapa Maxaquene B Zimpeto Machava e Mercado Central ela recebe os seus clientes com um sorriso encantador Vovoacute Ameacutelia eacute muito querida no mercado toda a gente procura-a para pedir conselhos ou conversar
Apesar de se queixar que as pessoas idosas sofrem para apanhar transportes e natildeo satildeo respeitadas pelos jovens Vovoacute Ameacutelia natildeo abre matildeo de ser vendedora e carrega o orgulho de ser moccedilambicana no coraccedilatildeo
Quem a vecirc sorrir natildeo imagina que com o pouco que ganha paga impostos ao municiacutepio taxas de mercado uniformes da OMM e capulanas que compra em todas as datas comemorativas para alimentar a chama do socialismo que tem no coraccedilatildeo raquo Benilde Matsinhe
Engajada desde cedo na Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana ela natildeo esconde o descontentamento que tem pelo estaacutegio actual deste movimento
ldquoEu sou Frelimo comecei no tempo de Samorardquo explica ldquoHoje natildeo eacute mais a Frelimo de Samora onde tiacutenhamos gosto Agora eacute tudo por interesse e sem paixatildeordquo
Mamatilde JosinaMesmo com toda a indignaccedilatildeo ela eacute uma combatente de matildeo cheia e festeja com
ldquo hOjE NatildeO Eacute MAIS A FRELIMO DE SAMORA ONDE TIacuteNhAMOS GOSTO AGORA Eacute TuDO POR INTERESSE E SEM PAIXatildeO rdquo
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VENDEDORES NO MERCADO DO POVO
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NA SuA MERCEARIA CELEStE RAFAEL S IMANgO 53 ANOS VENDE DESDE PRODutOS AL IMENtiacuteC IOS E MEDICINAIS Ateacute OS VEStuaacuteRIOS tEMPEROS MORINgAS FARINhA AVENtAIS SAIAS E CAPuLANAS SE ACuMuLAM NA PEQuENA BARRACA
de combate agrave pobreza urbana ndash cem mil meticaisldquoAinda estou a investir o dinheiro Comecei pela remodelaccedilatildeo do meu quiosque diversificando os produ-tosrdquo comenta feliz e orgulhosa ao mesmo tempo que revela as razotildees da sua forte adesatildeo a Frelimo
A histoacuteria do mercadoCeleste narra que a criaccedilatildeo do Mer-cado do Povo nos primeiros anos da independecircncia foi obra do Presidente Samora Machel Na altura a Cacircmara Municipal de Maputo era dirigida por Alberto MassavanyaneO mercado funcionava no Nwalanga ndash nas proximidades do monumento Vitoacuteria proacuteximo agrave icoacutenica estaccedilatildeo dos caminhos-de-ferro de MaputoCeleste mede a evoluccedilatildeo do merca-do em funccedilatildeo dos stands comerciais utilizados ldquoPrimeiramente vendiacutea-mos nas bancas eminentemente no chatildeo depois passamos para as bar-racas Agora temos estes pequenos quiosques melhoradosrdquo
Vida urbanaQuando se recorda da sua transiccedilatildeo da zona rural de Inhambane para a ci-dade a vendedeira ndash matildee de um filho de 33 anos ndash natildeo se regozijaldquoA urbanidade acompanhou a nossa evoluccedilatildeo de forma terriacutevel Tiacutenhamos de imitar a maneira de viver dos colo-nos porque natildeo sabiacuteamos viver na cidade ndash o que foi difiacutecilrdquohoje Celeste Simango estaacute habituada agrave dinacircmica da vida urbana
raquo Inocecircncio Albino
QuARENTAANOS NO MERCADO
DONA CELEStE RAFAEL S IMANgO VENDE PIRIPIRI ROuPA E CAPuLANAS DA FRELIMO
NO FINAL DE CADA MecircS DOS
QuASE 76000 METICAIS
ARRECADADOS APENAS
14 MIL SatildeO ALOCADOS
Agrave COMISSatildeO DOS
VENDEDORES
PEacuteSSIMASCONDICcedilOtildeESValor dos impostos deveria resultar na melhoria de condiccedilotildeesO Mercado do Povo produz mensal-mente uma receita de 76 mil meticais provenientes de impostos pagos pe-los comerciantes mas debate-se com problemas de fraca cobertura ilumina-ccedilatildeo deficiente e a falta de um tanque para aacuteguas residuais
Existente haacute quase 40 anos o Mercado do Povo localiza-se proacuteximo do Con-selho Municipal da Cidade de Maputo e constitui um ponto de referecircncia para muitos citadinos que ali comem bebem e fazem as comprasDesde a sua criaccedilatildeo natildeo beneficiou de uma reabilitaccedilatildeo de raiz o que com-plica as actividades principalmente nos dias de chuva Cada comerciante eacute responsaacutevel pela melhoria das suas condiccedilotildees
TaxasSegundo Amosse Cuambe chefe do mercado de um total de 352 bancas 206 vendem produtos frescos hortiacutecolas frangos e carvatildeo As restantes 146 englobam barracas de venda de bebidas comidas mercearias
e alfaiatariasO primeiro grupo paga uma taxa diaacuteria que varia entre os cinco a 15 meticais No segundo grupo a taxa mensal varia entre 400 meticais para as barracas construiacutedas pelos vendedores e 620 para as do municiacutepioNo final de cada mecircs dos quase 76000 meticais arrecadados apenas 14 mil satildeo alocados agrave comissatildeo dos vendedores para o pagamento da luz aacutegua guardas e a limpeza do mercado
Problemas do mercadoJoana Langa 80 anos vendedeira do mercado desde 1974 conta que des-de aquele ano o Conselho Municipal promete a melhoria de condiccedilotildees do mercado e ateacute hoje o discurso natildeo passou a praacuteticaldquoTemos problemas de falta de cober-tura e quando chove alguns fecham as bancas O Municiacutepio cobriu uma pequena parte do Mercado em 2009 re-abilitou cerca de 25 bancas e prometeu concluir o trabalho mas ateacute hoje natildeo haacute avanccedilosrdquo disse LangaEla apontou a falta de iluminaccedilatildeo pavimentaccedilatildeo fontanaacuterio no sector de abate das galinhas para permitir a lavagem do local no final do dia e a falta de um dreno para depositar
aacutegua sujaOs vendedores recorrem a uma condu-ta que passa da sala de reuniotildees para depositar aacutegua suja apesar de estar cheia e gerar moscas naquele espaccedilo
ldquoDevido ao mau cheiro e moscas so-mos obrigados a retardar algumas re-uniotildees naquela salardquo lamentou
Sonhos demoradosO chefe do mercado conta que o Con-selho Municipal de Maputo tem um projecto de requalificaccedilatildeo dos mer-cados ainda sem data para o iniacutecio das obras O projecto seraacute financiado atraveacutes das receitas produzidas pelos mercados pelo Banco Mundial e pe-los investidoresJoana Langa e outros vendedores sonham com a materializaccedilatildeo das promessas da edilidade e que as taxas pagas resultem na melhoria de condiccedilotildees para a praacutetica do comeacutercio
raquo Antoacutenio uqueio
Vista de longe sem um plano de sauacutede sem acesso ao micro creacutedito bancaacuterio para os seus negoacutecios todos os dias a enfren-tar a falta de transporte publico que caracteriza Maputo dir-se-ia que Celeste estaacute a ser excluiacuteda pela urbe a quem serve haacute 36 anos Desengane-se entatildeo quem assim pensar
MilitanteCeleste eacute membro do partido Frelimo desde 1977 Aderiu agrave Orga-nizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) em 1992 ano da assi-natura dos Acordos gerais de Paz entre o governo e a Renamo pondo fim agrave guerra dos 16 anosldquoUnidade trabalho vigilacircnciardquo recorda-se das palavras de or-dem que orientavam os discursos e acccedilotildees Recentemente recebeu do governo no contexto da estrateacutegia
PONTO DE ENCONTRO URBANO NO CORACcedilAtildeO DA CAPItAL MAS EM PeacuteSSIMAS CONDICcedilOtildeES
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Em 2009 nas veacutesperas das eleiccedilotildees autaacuterquicas algumas bancas beneficiaram de reabilitaccedilatildeo mas foi miacutenima ldquoQuando chove este espaccedilo fica alagado Infelizmente natildeo podemos deixar de vender porque disso depende o nosso sustentordquo desabafa Luiacutesa Matamile vendedeira de alimentos desde 2007 ldquoO mercado eacute apenas bonito por forardquo Matamile queixa-se da distribuiccedilatildeo caoacutetica das bancas ldquohaacute muita coisa que deve ser mudadardquo
Os vendedores garantem que o lugar eacute seguro havendo guardas de dia e de noite Quando termina a jornada de trabalho os vendedores deixam tranquilamente seus produtos nas bancas
Poreacutem tal protecccedilatildeo natildeo existe para um possiacutevel incecircndio As bancas satildeo feitas de material precaacuterio Diariamente os restaurantes improvisados lidam com fogo e estatildeo muito proacuteximos uns dos outros
ldquoSem contar que os vendedores de galinhas estatildeo sempre aptos a assaacute-las Isso representa um perigo caso um
destes restaurantes perca o controle do fogordquo comenta a vendedeira Carla Mista
Inconformados pelo incumprimento das promessas os comerciantes sentem-se traiacutedos ldquoO Conselho Municipal usou o dinheiro que estava destinado agrave reabilitaccedilatildeordquo
Em Maputo cerca de 13000 horti-cultores cultivam 2300 hectares de terra no Vale de Infulene e Mahotas e 2600 hectares na MatolaPara aleacutem de ser o principal fornece-dor de alimentos frescos para capital as zonas verdes constituem uma im-portante fonte de emprego para famiacute-lias pobres particularmente as che-fiadas por mulheresEm Maputo e Matola este sector proporciona emprego para cerca de 40000 pessoasA renda diaacuteria de um horticultor com-ercial em Maputo eacute de cerca de uSS4 ou 125 meticais bem acima da linha nacional de pobreza de uSS 050 ou 15 meticais Algumas agricultoras fili-
adas a uniatildeo geral das Cooperativas (ugC) produzem frutas flores hortiacuteco-las e dedicam-se tambeacutem a produccedilatildeo de aves A ugC eacute um importante elo de ligaccedilatildeo entre os agricultores e o mercado para o abastecimento Obstaacuteculo para maior produtividade e rentabilidade A maioria dos agricultores cultivava repolho e alface mas poucos cultiva-vam lavouras de maior valor como ce-bola cenoura beterraba e pimentatildeo Os agricultores que variaram a sua produccedilatildeo reportaram uma renda diaacuteria meacutedia duas vezes maior que a renda dos que cultivavam menos de trecircs lavouras
BONITOPOR FORAO MERCADO eacute APENAS BONItO POR FORA
POR CLAacuteUDIA MUGUANDEA relutacircncia dos agricultores em di-versificar a produccedilatildeo resulta do medo de ter seus produtos roubados ou perder as lavouras em inundaccedilotildees aleacutem da falta de mercados confiaacuteveisAs associaccedilotildees de produtores satildeo prejudicadas pelo baixo niacutevel educa-cional dos membros e liacutederes pelo facto dos membros natildeo pagarem suas taxas e em consequecircncia pela falta de recursos financeirosEmbora o creacutedito estivesse disponiacutevel em instituiccedilotildees locais de microfinan-ccedilas menos de 40 dos produtores haviam contraiacutedo empreacutestimos O creacutedito faz uma grande diferenccedila para a renda meacutedia os que obtiveram em-preacutestimos ganhavam duas vezes mais
CINTuRAVERDEPROBLEMAS DE hORtICuLtuRA uRBANA EM MAPutO
MICRO-MUNDOS E MOMENTOS DO MERCADO
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ENTREVISTA COM O DIRECTOR NACIONAl DO SECTOR AGRaacuteRIO MAhOMED VAlaacute MINISTeacuteRIO DA AGRICUlTURA
Eacute PRECISO APOSTARNA PRODuCcedilatildeO COMERCIAL DE FRuTA
Os comerciantes nacionais dizem que recorrem a fruta es-trangeira em detrimento da nacional devido a falta de qualidade seraacute isto verdade- Natildeo eacute bem assim falta a coordenaccedilatildeo entre a produccedilatildeo e o abastecimento dos mercados o que pressupotildee trans-
que os outrosum problema maior para os pequenos horticultores tem sido as tentativas de controlo de suas terras por parte de agricultores mais ricosContudo as associaccedilotildees de horticultores os tecircm ajudado a defender seus lotes uma pesquisa recente constatou que a maioria dos horticultores havia ocupado as terras ou recebido terras gratuitamente como parte da redistri-buiccedilatildeo apoacutes a independecircncia
Incentivados pelo serviccedilo de extensatildeo agriacutecola e ONgs in-gressaram em associaccedilotildees que possuiacuteam os tiacutetulos de uso da terra e desempenharam um papel importante na alocaccedilatildeo de terras
Problemasraquo Falta de assistecircncia teacutecnicaraquo Salinizaccedilatildeo dos solosraquo Conhecimento limitado do controle das pragas e doenccedilasraquo Concentraccedilatildeo de produccedilatildeo na estaccedilatildeo seca Abril - Setem
bro o que provoca super produccedilatildeo e reduccedilatildeo dos preccedilos
ldquoA RELutacircNCIA DOS AgRICuLtORES EM DIVERSIF ICAR A PRODuCcedilAtildeO ERA EXPL ICADA PELO MEDO DE tER SEuS PRODutOS ROuBADOS Ou PERDER AS LAVOuRAS EM INuNDACcedilOtildeES ALeacuteM DA FALtA DE MERCADOS CONFIaacuteVEISrdquo
Fonte
Primeiro relatoacuterio sobre a horticultura urbana e periubana
Cidades mais verdes na Aacutefrica
porte Temos muitos produtores de pequena escala e pre-cisamos de coordenar as suas actividades Moccedilambique eacute grande exportador de ananaacutes e bananas para o mercado europeu e asiaacutetico e ainda natildeo ouvimos essas reclama-ccedilotildees
Os comerciantes dizem que o processo de maturaccedilatildeo da banana retira a qualidadeTrata se destes pequenos produtores que desconhecem as teacutecnicas para maturaccedilatildeo desta fruta enterram e colocam cinzas mas isto natildeo retira a qualidade da fruta Mas haacute outros que recorrem ao processo natural de maturaccedilatildeo
Porque dependemos da fruta da eacutepocaAinda natildeo temos grandes investimentos no sector da fruti-cultura para termos frutas todas eacutepocas Temos sementes desenvolvidas pelo Instituto de Investigaccedilatildeo Agraria para este efeito mas requer irrigaccedilatildeo permanente adubaccedilatildeo e combate as pragas pelo que satildeo poucos investidores nesse sentido
O que seraacute feito para que haja fruta nacional no mercadoEstamos a incentivar a produccedilatildeo comercial e a uniatildeo de pequenos produtores Temos teacutecnicos que prestam assistecircncia a diversos grupos de agricultores desde que estejam associados
Os Ministeacuterios da Agricultura e de Induacutestria e Comeacutercio estatildeo a preparar um memorando de entendimento com os supermercados para a comercializaccedilatildeo da fruta nacional Por outro lado trabalha-se para criaccedilatildeo de condiccedilotildees de conservaccedilatildeo nos mercados abastecedores
raquo Argunaldo Nhampossa
O XITIQUE ASSEguRA A EStABILIDADE DOS COMERCIANtES DO MERCADO
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APENAS DOIS
DE CADA DEZ
MOCcedilAMBICANOS
POSSuEM uMA
CONTA BANCAacuteRIA
O XITIQuE ajuda muacutetua essencialnos mercados
O xitique (palavra tsonga que significa poupanccedila) eacute uma das formas mais comuns para realizar poupanccedilas nos mercados informaisBaseado em formas muito simples o processo inicia-se normalmente a partir de um grupo de amigos ou amigas que se juntam fixam o montante da contribuiccedilatildeo de cada membro e a periodicidade dos encontros para prestaccedilatildeo de contas e distribuiccedilatildeo rotativa da poupanccedila
SIMPlES A forma de pagamento natildeo tem que ser necessariamente monetaacuteria podem ser bens materiais como utensiacutelios domeacutesticos panos etcOs fundos circulam entre os membros A sua colecta e distribuiccedilatildeo funcionam na base da confianccedila e empatia ao mesmo tempo que obriga cada membro do grupo a fazer a poupanccedila de um montante preacute-determinado e dentro da periodicidade definida (diaacuteria quinzenal mensal trimestral) para o pagamento da sua quota
ROTATIVO A distribuiccedilatildeo da poupanccedila
entre os membros do grupo eacute feita periodicamente e rotativamenteContudo para casos especiais como doenccedila morte ou casamento podem ser abertas excepccedilotildees rotatividade desde que haja acordo entre os membros Os grupos de xitique nos mercados para aleacutem de terem especificidades que respondem aos interesses dos seus actores sociais assumem diferentes formas
VARIADO Estas formas vatildeo de grupos com uma duraccedilatildeo efeacutemera onde os seus membros se juntam apenas para fazer face a um problema concreto (para comprar fardamento escolar para os filhos por exemplo) a outros mais duradoiros (comprar mercadorias melhoramento das bancas) sendo tambeacutem as contribuiccedilotildees de cada grupo extremamente variaacuteveis
VITAl eacute difiacutecil obter dados precisos sobre as contribuiccedilotildees monetaacuterias de cada membro quer pela sua enorme variedade quer porque alguns trabalham com somas avultadas de dinheiro ficando esse aspecto no segredo do grupoO xitique eacute vital para a estabilidade dos comerciantes dos mercados
sendo uma experiecircncia que poderia ser mobilizada para gerar iniciativas de gestatildeo social alternativa organizada pelas proacuteprias comunidades
raquo teresa da Cruz e Silva
ldquoConstrui a minha casardquoCeleste Simango vendeira no Mercado do Povo participa em dois tipos de xitique No xitique semanal feito todas as quintas-feiras cada membro tira quinhentos meticais e datildeo a uma pessoa No xitique mensal tiram 1500 meticais e a pessoa recebe no final do mecircs Com o dinheiro do xitique semanal ela aumenta o negoacutecio
QuASE 8O DOS
MOCcedilAMBICANOS
CARECE DE ACESSO
A SERVICcedilOS
FINANCEIROS
FORMAIS
eacute uMA DAS FORMAS MAIS COMuNS PARA REALIZAR POuPANCcedilAS NOS MERCADOS INFORMAISBASEADO EM FORMAS MuItO SIMPLES O PROCESSO INICIA-SE NORMALMENtE A PARtIR DE uM gRuPO DE AMIgOS Ou AMIgAS QuE SE JuNtAM FIXAM O MONtANtE DA CONtRIBuICcedilAtildeO DE CADA MEMBRO E A PERIODICIDADE DOS ENCONtROS PARA PREStACcedilAtildeO DE CONtAS E DIStRIBuICcedilAtildeO ROtAtIVA DA POuPANCcedilA
O Papel da Associaccedilatildeo dos Operadores e Trabalhadores do Sector Informal (ASSOTSI)Saiba mais aqui
comprando produtos para revender graccedilas ao segundo xitique conseguiu comprar um talhatildeo e construir ldquoA casa estaacute em obras falta fazer as pinturas mas consegui meter aacutegua e energia tenho onde ficarrdquo
O negoacutecio cresceA vendeira Julieta Langa integra um grupo de xitique de 19 pessoas que contribuem cada uma cem meticais por dia Para Langa o maior benefiacutecio eacute poder comprar mais produtos para vender Outros membros do grupo tecircm instalado mais bancas comprado terreno e construiacutedo casas
Escolhemos o Mercado do Povo para a nossa reportagem multimiacutedia porque eacute um lugar tradicional de Maputo um ponto de encontro de passagem de rotinas e de mudanccedilas eacute praacutetico porque fica ao peacute da IREX
As cozinheiras cuidam da higiene no seu trabalho mas a desorganizaccedilatildeo do local natildeo lhes ajuda Os degoladores e os vendedores de frango e carvatildeo passam refeiccedilotildees lado a lado com sangue e moscas
Cada quatro anos antes das eleiccedilotildees municipais as autori-dades anunciam a reabilitaccedilatildeo do Mercado mas as promessas natildeo se materializam
O Mercado eacute uma plataforma de contrastes um espaccedilo sugestivo para produzir mateacuterias com diferentes abordagens da economia ate a moda reportagens com tom de antropologia urbana
Por estar localizado na baixa de Maputo eixo fulcral da cidade o Mercado serve a todas as classes sociais jornalistas estudantes funcionaacuterios do estado artistas e desempregados todos passam por ali
O Mercado viu a independecircncia transitou da economia marxista ao capitalismo selvagem viveu a guerra e a paz acolheu a democracia e o pluralismo
Quem sabe se em cinco anos o Mercado ainda estaraacute aqui Quem sabe se a freneacutetica especulaccedilatildeo imobiliaacuteria daraacute conta dele para construir um preacutedio de escritoacuterios lojas e restaurantes de luxo
Entatildeo minha irmatilde se nesse dia as coisas ocorrerem efectivamente como os deuses da tua terra vaticinam use a capulana irmatilde e natildeo permite que te menosprezem
Excerto de Poema Capulana de Inocecircncio Albino
DE AVENTAl VERMElhO O DEgOLADOR S ILVA FRANCISCO MuChANgA
reportagem MERCADO DO POVO | 15
RADIOGRAFIAa sauacutede no mercadoO MERCADO DO POVO ENFRENtA SeacuteRIOS PROBLEMAS DE SANEAMENtO APESAR DE EStAR PRoacuteXIMO DO CONSELhO MuNICIPAL RESPONSaacuteVEL PELA gEStAtildeO DOS MERCADOS DE MAPutO
RiscosNo mesmo espaccedilo onde degola-se as galinhas vende-se carvatildeo vegetal e prepara-se saladas Os degoladores de frangos natildeo usam luvas quando metem as matildeos na bacia de sangue e tripas nem separam o lixo usando o uacutenico balde para pocircr tripas sangue e penas Os vendedores de carvatildeo e de frangos e os degoladores passam refeiccedilotildees no local lado a lado com sangue e mos-cas Mesmo cientes dos problemas dizem que natildeo tem alternativas Os responsaacuteveis do mercado conhecem a re-alidade e limitam-se a fazer uma vista grossa A aglomeraccedilatildeo de pessoas animais e lixo poderia facilitar a eclosatildeo de epidemias como a coacutelera malaacuteria e diarreias ou a transmissatildeo raacutepida da gripe aviaacuteria entre as gaiolas de frangos
CarvatildeoO fumo da cozinha e o poacute do carvatildeo vendido agrave mistura pode criar problemas respiratoacuterios irritaccedilatildeo da vista e
da pele Algumas matildees trabalham com bebeacutes no colo a respirar a fumaccedila O uso de fogotildees melhorados poupa carvatildeo e reduz o fumo mas as cozinheiras preferem os fogotildees metaacutelicos porque satildeo raacutepidos e jaacute estatildeo acostumadas a eles As cozinheiras expoem-se a fumaccedila durante 15 horas ou mais por semana Estatildeo cientes dos riscos mas dizem natildeo ter alternativas Outro ganho com os fogotildees melhorados seria a reduccedilatildeo da quantidade de carvatildeo usado o que ajudaria a controlar a desflorestaccedilatildeo CaosNos dias chuvosos o cenaacuterio eacute dramaacutetico chove tanto dentro do mercado como fora A lama e o sangue agrave mis-tura tornam o local improacuteprio para se estar O espaccedilo eacute apertado para todas agravequelas actividades As cozinheiras preparam saladas lavam o tomate e pilam o alho no mesmo espaccedilo partilhado pelos degoladores e vendedeiras de carvatildeo Quem passa do local pela primeira vez sente arrepios mas para os vendedores o ambiente eacute normal uma coisa eacute certa faccedila chuva ou sol haacute gente que trabalha e estaacute de bom humor
raquo Antoacutenio uqueio
O Mercado do Povo eacute uma plataforma de contrastes so-ciais e luta pela sobrevivecircncia No seu trabalho ndash dego-lar depenar e vender galinhas Silva Francisco Muchanga orgulha-se de tratar cerca de 150 frangos por dia Natildeo conhece o nome da sua profissatildeo mas aceita que o cha-memos ldquoo degoladorrdquo
Na cidade de Maputo com altos iacutendices de desemprego o jovem contorna a desonestidade realizando uma activi-dade humilde mas digna
Muchanga realiza-a de forma estrateacutegica a fim de atrair os clientes agrave sua banca ldquoO uacutenico desafio eacute ter de acor-dar muito cedo todos os dias chego agraves seis e saio agraves 17 horas do mercado Natildeo trabalho aos domingosrdquo
ldquoDepenar galinhas eacute como se fosse ioga Eacute uma terapia que me relaxardquo disse
Ele tem outras ambiccedilotildees ser professor de liacutengua portu-guesa e ingressar no ensino superior para cursar filosofia ou psicologia
Por isso ainda que os 2500 meticais mensais que ganha natildeo sejam suficientes Silva considera que estaacute em mel-hores condiccedilotildees ldquoAqui eu recebo todo o meu dinheiro de uma soacute vez e natildeo em parcelasrdquo
As vendedeiras de comida compram as tripas por um met-ical e cinquenta centavos por unidade No entanto quan-do os meninos da rua lhe pedem agraves vezes ele daacute-lhas
VENDEDORES COZINhEIRAS E DEgOLADORESLADO A LADO COM SANguE E MOSCAS
ldquoPosso exercer uma actividade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguemrdquo afirma o degolador O fervor com que Silva se envolve para matar galinhas eacute iacutempar O que o marca nessa relaccedilatildeo com a ave ldquoPenso que a galinha natildeo guarda boas recordaccedilotildees de mim Mas eu tenho boas lembranccedilas dela porque me tem dado o patildeo de cada diardquo
Aprecia o futebol e em Moccedilambique eacute adepto do Clube de Desportos da Costa do Sol Na Europa o Sport Lisboa e Benfica eacute solteiro e natildeo tem filhos
ldquoTodas as pessoas acham que posso exercer uma activi-dade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguem porque eu chego a ser muito melhor que os desempregadosrdquo
raquo Inocecircncio Albino
ldquoVOu-LhE CONFIDENCIAR
uM FACTO jAacute DEGOLEI
VAacuteRIAS GALINhAS PARA
OS MuCcediluLMANOS MAS
NuNCA LhES ACONTECEu
NADA DE RuIMrdquo
O DEGOLADOR ldquoPENSO QuE A gALINhA NAtildeO guARDABOAS RECORDACcedilOtildeES DE MIMrdquo
BEBeacuteS EXPOStOS A FuMACcedilAMOSCAS E Poacute DE CARVAtildeO
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MOCcedilAMBIQuE CARECE DE REgRAS
PARA O tRAtAMENtO E BEM-EStAR DOS ANIMAIS
GALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO SOFREM
MacuteBOA(RONGA) OU MATSAVO(CHANGANA)Ingredientes molinhos de folha de aboacutebora 5camaratildeo seco ou fresco 500gm (eacute necessaacuterio tirar as cabeccedilas no seco)tomate (meacutedios) 2chaacutevenas Farinha de amendoim 3chaacutevenas de aacutegua 3malaguetas 5 (ou piripiri e sal a gosto)
COZINHA MOCcedilAMBICANAPreparaccedilatildeo tiram-se os fios das folhas como se fosse feijatildeo verde lava-se folha por folha em aacutegua corrente corta-se aos bocadinhos natildeo muito finos para um tacho a que se junta a cebola tomate camaratildeo malagueta sal poacute de amendoim e aacutegua deixa-se cozer em fogo lento durante 20 a 25 minutos serve-se com arroz branco ou chima
VENDEDORAS AS gALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO EStAtildeO SuJEItAS A MaacuteS CONDICcedilOtildeES DE tRAtAMENtO
As galinhas vendidas no Mercado do Povo estatildeo sujeitas a maacutes condiccedilotildees de tratamento dadas as pequenas dimensotildees das gaiolas onde elas satildeo expostas para os clientes
As gaiolas tecircm um metro e meio de comprimento e quase 50 centiacutemetros de altura com uma capacidade de al-bergar 30 galinhas mas o nuacutemero dos animais dentro das gaiolas duplicas e agraves vezes triplica a capacidade Isto faz com que as galinhas fiquem umas em cima das outras e natildeo conseguem se mover comer nem beber aacutegualdquoA gaiola tem capacidade para trinta galinhas mas as vezes o nuacutemero ex-cederdquo admite uamusse vendedeira de galinhas O ESTRES Quando natildeo existe espaccedilo suficiente para o animal se movimen-tar e se alimentar desenvolve o es-tres e a desnutriccedilatildeo o que permite que a carne perca proteiacutenasuamusse explica que ela e seus cole-gas adquirem as aves nos criadores e trazem de carro para revenderemEncontramo-la de manhatilde no seu local de trabalho chamando os clientesldquoHaacute casos em que o negoacutecio natildeo corre bem e algumas galinhas adoecem e morremrdquo disse
MOCcedilAMBIQUE SEM REGRAS Noutros paiacuteses como Portugal existem regras que estabelecem as normas miacutenimas de protecccedilatildeo dos animais incluindo os frangos e se considera delito cau-sar dor desnecessaacuteria aos animaisO proprietaacuterio dos animais deve to-mar medidas necessaacuterias para garan-tir o bem-estar deles e evitar que causem danos a pessoas
As normas determinam que nas gaio-las convencionais cada galinha deve dispor de pelo menos 550 cm2 de superfiacutecie de gaiola e as gaiolas de-vem ter uma altura miacutenima de 40 cmEm Moccedilambique natildeo haacute regras que para o tratamento e bem-estar dos animaisLuiacutesa Antoacutenio vende frangos no Mercado desde 1987 Adquire 100 galinhas em forma de empreacutestimo por 130 meticais cada nos aviaacuterios na Matola ou Boane e revende o ani-mal por 140 meticaisldquoQuando o negoacutecio natildeo corre bem
acabo uma semana com as mesmas galinhasrdquo disse Luiacutesa AntoacutenioldquoAs galinhas agraves vezes ficam doentes perdem forccedilas e nos dias em que faz muito calor os animais natildeo aguentam e morremrdquo A GRIPE AVIARIA Luiacutesa Antoacutenio opina que as gaiolas tecircm espaccedilo suficiente para as galinhas ficarem a vontade aleacutem de que a medida que as gaiolas satildeo esvaziadas fica mais espaccediloldquoEm termos de cuidados damos os miacutenimos para elas viverem tecircm aacutegua e raccedilatildeordquo explicouAntoacutenio jaacute ouviu falar da gripe aviaacuteria causada por h5N1 viacuterus hospedado em aves que pode infectar o ser hu-mano No momento a transmissatildeo se daacute das aves para as pessoas e mataldquoA gripe aviaacuteria prejudica a sauacutede causando morte mas aqui no mer-cado acho que ainda natildeo chegou porque muitos de noacutes jaacute teriacuteamos morridordquo disseA vendeira admite que nos dias em que faz muito calor e os animais natildeo
aguentam morremldquoHavia uma regra no Mercado que proibia o abate dos frangos mas a mesma natildeo foi posta em praacutetica du-rante muito tempordquo lembrouOlhando ao redor vecircem-se bacias de aacutegua com sangue com tripas de galinhas e frangos mortos amontoa-dos e gaiolas perfiladas de galinhas sem espaccedilo para se moverem
raquo Aratildeo Nualane
tIRAR A CABECcedilA FORA DA gAIOLA PARA ESCAPAR DO SuFOCO
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FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
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CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
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A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
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ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
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2 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 3
Reportagem Mercado do Povo
IacuteNDICEDona Ameacutelia
Quarenta Anos no Mercado
Peacutessimas Condiccedilotildees
Bonito por Fora
Cintura Verde
Eacute Preciso Apostar na ProduccedilatildeoComercial de Fruta
O Xitique
Radiografia
O Degolador
Sofrimento das Galinhas
Fruta eacute Sauacutede
Os Problemas de Ser Comerciante
Carvoeiros e LenhadoresDistroem Floresta
As Florestas Literalmente Cozinhadas
Comida a Vale
As Cozinheiras
Corredor da Morte
Saibam como Actuam asCeacutelulas da Frelimo
A Capulana
Moda Africana
Alfaiates
Relatos de Guerra
Maputo a Cidade naVaranda do Tempo
QUEM SOMOSInocecircncio Albino editor cultural Verdade
Benilde Matsinhe jornalista de cultura no portal Sapomz
Claacuteudia Muguande jornalista do semanaacuterio SOL em cultura e sociedade
Andreacute Mulungo jornalista do Canal de Moccedilambique em poliacutetica e sociedade Argunaldo Nhampossa jornalista de poliacutetica e economia do SAVANA
Aratildeo Nualane jornalista desportivo no semanaacuterio Maratona
Antoacutenio Uqueio jornalista de sociedade ciecircncia e sauacutede do Alternativa
Mercedes Sayagues assessora teacutecnica da IREX facilitadora de laboratoacuterio multmiacutemidia
Coordenadora Mercedes SayaguesDesign Graacutefico Filipa BotelhoFotos Mercedes Sayagues
Obrigado as vendedeiras e clientes do Mercado do Povo que contribuiacuteram para a realizaccedilatildeo da nossa reportagem Foram receptivos e falaram de tudo que queriacuteamos saber
DONA AMEacuteLIAA ANFITRIatilde DE hORTICOLAS
Todos os dias chega ao mercado agraves 7 horas e monta a sua banca de horticolas e frutas Dona Ameacutelia Josina uma das mamanas mais antigas do Mercado do Povo com muito suor cuida de cinco filhos e quatro netos
DONA AMEacuteLIA | MERCADO DO POVO
Natural de Inhambane veio a Maputo para acompanharo marido que em vida trabalhava no transporte puacuteblico TPM
muito fervor cada data que assinala a histoacuteria do paiacutes ldquoMamatilde Josina Machel eacute a nossa heroiacutena comemoro sempre o 7 de Abrilrdquo disse Ela contribui para o emponderamento feminino nacional e daiacute em diante a mulher luta diariamente pela dignidade da sua famiacutelia
Mesmo fazendo a longa rota diaacuteria de chapa Maxaquene B Zimpeto Machava e Mercado Central ela recebe os seus clientes com um sorriso encantador Vovoacute Ameacutelia eacute muito querida no mercado toda a gente procura-a para pedir conselhos ou conversar
Apesar de se queixar que as pessoas idosas sofrem para apanhar transportes e natildeo satildeo respeitadas pelos jovens Vovoacute Ameacutelia natildeo abre matildeo de ser vendedora e carrega o orgulho de ser moccedilambicana no coraccedilatildeo
Quem a vecirc sorrir natildeo imagina que com o pouco que ganha paga impostos ao municiacutepio taxas de mercado uniformes da OMM e capulanas que compra em todas as datas comemorativas para alimentar a chama do socialismo que tem no coraccedilatildeo raquo Benilde Matsinhe
Engajada desde cedo na Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana ela natildeo esconde o descontentamento que tem pelo estaacutegio actual deste movimento
ldquoEu sou Frelimo comecei no tempo de Samorardquo explica ldquoHoje natildeo eacute mais a Frelimo de Samora onde tiacutenhamos gosto Agora eacute tudo por interesse e sem paixatildeordquo
Mamatilde JosinaMesmo com toda a indignaccedilatildeo ela eacute uma combatente de matildeo cheia e festeja com
ldquo hOjE NatildeO Eacute MAIS A FRELIMO DE SAMORA ONDE TIacuteNhAMOS GOSTO AGORA Eacute TuDO POR INTERESSE E SEM PAIXatildeO rdquo
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VENDEDORES NO MERCADO DO POVO
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NA SuA MERCEARIA CELEStE RAFAEL S IMANgO 53 ANOS VENDE DESDE PRODutOS AL IMENtiacuteC IOS E MEDICINAIS Ateacute OS VEStuaacuteRIOS tEMPEROS MORINgAS FARINhA AVENtAIS SAIAS E CAPuLANAS SE ACuMuLAM NA PEQuENA BARRACA
de combate agrave pobreza urbana ndash cem mil meticaisldquoAinda estou a investir o dinheiro Comecei pela remodelaccedilatildeo do meu quiosque diversificando os produ-tosrdquo comenta feliz e orgulhosa ao mesmo tempo que revela as razotildees da sua forte adesatildeo a Frelimo
A histoacuteria do mercadoCeleste narra que a criaccedilatildeo do Mer-cado do Povo nos primeiros anos da independecircncia foi obra do Presidente Samora Machel Na altura a Cacircmara Municipal de Maputo era dirigida por Alberto MassavanyaneO mercado funcionava no Nwalanga ndash nas proximidades do monumento Vitoacuteria proacuteximo agrave icoacutenica estaccedilatildeo dos caminhos-de-ferro de MaputoCeleste mede a evoluccedilatildeo do merca-do em funccedilatildeo dos stands comerciais utilizados ldquoPrimeiramente vendiacutea-mos nas bancas eminentemente no chatildeo depois passamos para as bar-racas Agora temos estes pequenos quiosques melhoradosrdquo
Vida urbanaQuando se recorda da sua transiccedilatildeo da zona rural de Inhambane para a ci-dade a vendedeira ndash matildee de um filho de 33 anos ndash natildeo se regozijaldquoA urbanidade acompanhou a nossa evoluccedilatildeo de forma terriacutevel Tiacutenhamos de imitar a maneira de viver dos colo-nos porque natildeo sabiacuteamos viver na cidade ndash o que foi difiacutecilrdquohoje Celeste Simango estaacute habituada agrave dinacircmica da vida urbana
raquo Inocecircncio Albino
QuARENTAANOS NO MERCADO
DONA CELEStE RAFAEL S IMANgO VENDE PIRIPIRI ROuPA E CAPuLANAS DA FRELIMO
NO FINAL DE CADA MecircS DOS
QuASE 76000 METICAIS
ARRECADADOS APENAS
14 MIL SatildeO ALOCADOS
Agrave COMISSatildeO DOS
VENDEDORES
PEacuteSSIMASCONDICcedilOtildeESValor dos impostos deveria resultar na melhoria de condiccedilotildeesO Mercado do Povo produz mensal-mente uma receita de 76 mil meticais provenientes de impostos pagos pe-los comerciantes mas debate-se com problemas de fraca cobertura ilumina-ccedilatildeo deficiente e a falta de um tanque para aacuteguas residuais
Existente haacute quase 40 anos o Mercado do Povo localiza-se proacuteximo do Con-selho Municipal da Cidade de Maputo e constitui um ponto de referecircncia para muitos citadinos que ali comem bebem e fazem as comprasDesde a sua criaccedilatildeo natildeo beneficiou de uma reabilitaccedilatildeo de raiz o que com-plica as actividades principalmente nos dias de chuva Cada comerciante eacute responsaacutevel pela melhoria das suas condiccedilotildees
TaxasSegundo Amosse Cuambe chefe do mercado de um total de 352 bancas 206 vendem produtos frescos hortiacutecolas frangos e carvatildeo As restantes 146 englobam barracas de venda de bebidas comidas mercearias
e alfaiatariasO primeiro grupo paga uma taxa diaacuteria que varia entre os cinco a 15 meticais No segundo grupo a taxa mensal varia entre 400 meticais para as barracas construiacutedas pelos vendedores e 620 para as do municiacutepioNo final de cada mecircs dos quase 76000 meticais arrecadados apenas 14 mil satildeo alocados agrave comissatildeo dos vendedores para o pagamento da luz aacutegua guardas e a limpeza do mercado
Problemas do mercadoJoana Langa 80 anos vendedeira do mercado desde 1974 conta que des-de aquele ano o Conselho Municipal promete a melhoria de condiccedilotildees do mercado e ateacute hoje o discurso natildeo passou a praacuteticaldquoTemos problemas de falta de cober-tura e quando chove alguns fecham as bancas O Municiacutepio cobriu uma pequena parte do Mercado em 2009 re-abilitou cerca de 25 bancas e prometeu concluir o trabalho mas ateacute hoje natildeo haacute avanccedilosrdquo disse LangaEla apontou a falta de iluminaccedilatildeo pavimentaccedilatildeo fontanaacuterio no sector de abate das galinhas para permitir a lavagem do local no final do dia e a falta de um dreno para depositar
aacutegua sujaOs vendedores recorrem a uma condu-ta que passa da sala de reuniotildees para depositar aacutegua suja apesar de estar cheia e gerar moscas naquele espaccedilo
ldquoDevido ao mau cheiro e moscas so-mos obrigados a retardar algumas re-uniotildees naquela salardquo lamentou
Sonhos demoradosO chefe do mercado conta que o Con-selho Municipal de Maputo tem um projecto de requalificaccedilatildeo dos mer-cados ainda sem data para o iniacutecio das obras O projecto seraacute financiado atraveacutes das receitas produzidas pelos mercados pelo Banco Mundial e pe-los investidoresJoana Langa e outros vendedores sonham com a materializaccedilatildeo das promessas da edilidade e que as taxas pagas resultem na melhoria de condiccedilotildees para a praacutetica do comeacutercio
raquo Antoacutenio uqueio
Vista de longe sem um plano de sauacutede sem acesso ao micro creacutedito bancaacuterio para os seus negoacutecios todos os dias a enfren-tar a falta de transporte publico que caracteriza Maputo dir-se-ia que Celeste estaacute a ser excluiacuteda pela urbe a quem serve haacute 36 anos Desengane-se entatildeo quem assim pensar
MilitanteCeleste eacute membro do partido Frelimo desde 1977 Aderiu agrave Orga-nizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) em 1992 ano da assi-natura dos Acordos gerais de Paz entre o governo e a Renamo pondo fim agrave guerra dos 16 anosldquoUnidade trabalho vigilacircnciardquo recorda-se das palavras de or-dem que orientavam os discursos e acccedilotildees Recentemente recebeu do governo no contexto da estrateacutegia
PONTO DE ENCONTRO URBANO NO CORACcedilAtildeO DA CAPItAL MAS EM PeacuteSSIMAS CONDICcedilOtildeES
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Em 2009 nas veacutesperas das eleiccedilotildees autaacuterquicas algumas bancas beneficiaram de reabilitaccedilatildeo mas foi miacutenima ldquoQuando chove este espaccedilo fica alagado Infelizmente natildeo podemos deixar de vender porque disso depende o nosso sustentordquo desabafa Luiacutesa Matamile vendedeira de alimentos desde 2007 ldquoO mercado eacute apenas bonito por forardquo Matamile queixa-se da distribuiccedilatildeo caoacutetica das bancas ldquohaacute muita coisa que deve ser mudadardquo
Os vendedores garantem que o lugar eacute seguro havendo guardas de dia e de noite Quando termina a jornada de trabalho os vendedores deixam tranquilamente seus produtos nas bancas
Poreacutem tal protecccedilatildeo natildeo existe para um possiacutevel incecircndio As bancas satildeo feitas de material precaacuterio Diariamente os restaurantes improvisados lidam com fogo e estatildeo muito proacuteximos uns dos outros
ldquoSem contar que os vendedores de galinhas estatildeo sempre aptos a assaacute-las Isso representa um perigo caso um
destes restaurantes perca o controle do fogordquo comenta a vendedeira Carla Mista
Inconformados pelo incumprimento das promessas os comerciantes sentem-se traiacutedos ldquoO Conselho Municipal usou o dinheiro que estava destinado agrave reabilitaccedilatildeordquo
Em Maputo cerca de 13000 horti-cultores cultivam 2300 hectares de terra no Vale de Infulene e Mahotas e 2600 hectares na MatolaPara aleacutem de ser o principal fornece-dor de alimentos frescos para capital as zonas verdes constituem uma im-portante fonte de emprego para famiacute-lias pobres particularmente as che-fiadas por mulheresEm Maputo e Matola este sector proporciona emprego para cerca de 40000 pessoasA renda diaacuteria de um horticultor com-ercial em Maputo eacute de cerca de uSS4 ou 125 meticais bem acima da linha nacional de pobreza de uSS 050 ou 15 meticais Algumas agricultoras fili-
adas a uniatildeo geral das Cooperativas (ugC) produzem frutas flores hortiacuteco-las e dedicam-se tambeacutem a produccedilatildeo de aves A ugC eacute um importante elo de ligaccedilatildeo entre os agricultores e o mercado para o abastecimento Obstaacuteculo para maior produtividade e rentabilidade A maioria dos agricultores cultivava repolho e alface mas poucos cultiva-vam lavouras de maior valor como ce-bola cenoura beterraba e pimentatildeo Os agricultores que variaram a sua produccedilatildeo reportaram uma renda diaacuteria meacutedia duas vezes maior que a renda dos que cultivavam menos de trecircs lavouras
BONITOPOR FORAO MERCADO eacute APENAS BONItO POR FORA
POR CLAacuteUDIA MUGUANDEA relutacircncia dos agricultores em di-versificar a produccedilatildeo resulta do medo de ter seus produtos roubados ou perder as lavouras em inundaccedilotildees aleacutem da falta de mercados confiaacuteveisAs associaccedilotildees de produtores satildeo prejudicadas pelo baixo niacutevel educa-cional dos membros e liacutederes pelo facto dos membros natildeo pagarem suas taxas e em consequecircncia pela falta de recursos financeirosEmbora o creacutedito estivesse disponiacutevel em instituiccedilotildees locais de microfinan-ccedilas menos de 40 dos produtores haviam contraiacutedo empreacutestimos O creacutedito faz uma grande diferenccedila para a renda meacutedia os que obtiveram em-preacutestimos ganhavam duas vezes mais
CINTuRAVERDEPROBLEMAS DE hORtICuLtuRA uRBANA EM MAPutO
MICRO-MUNDOS E MOMENTOS DO MERCADO
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ENTREVISTA COM O DIRECTOR NACIONAl DO SECTOR AGRaacuteRIO MAhOMED VAlaacute MINISTeacuteRIO DA AGRICUlTURA
Eacute PRECISO APOSTARNA PRODuCcedilatildeO COMERCIAL DE FRuTA
Os comerciantes nacionais dizem que recorrem a fruta es-trangeira em detrimento da nacional devido a falta de qualidade seraacute isto verdade- Natildeo eacute bem assim falta a coordenaccedilatildeo entre a produccedilatildeo e o abastecimento dos mercados o que pressupotildee trans-
que os outrosum problema maior para os pequenos horticultores tem sido as tentativas de controlo de suas terras por parte de agricultores mais ricosContudo as associaccedilotildees de horticultores os tecircm ajudado a defender seus lotes uma pesquisa recente constatou que a maioria dos horticultores havia ocupado as terras ou recebido terras gratuitamente como parte da redistri-buiccedilatildeo apoacutes a independecircncia
Incentivados pelo serviccedilo de extensatildeo agriacutecola e ONgs in-gressaram em associaccedilotildees que possuiacuteam os tiacutetulos de uso da terra e desempenharam um papel importante na alocaccedilatildeo de terras
Problemasraquo Falta de assistecircncia teacutecnicaraquo Salinizaccedilatildeo dos solosraquo Conhecimento limitado do controle das pragas e doenccedilasraquo Concentraccedilatildeo de produccedilatildeo na estaccedilatildeo seca Abril - Setem
bro o que provoca super produccedilatildeo e reduccedilatildeo dos preccedilos
ldquoA RELutacircNCIA DOS AgRICuLtORES EM DIVERSIF ICAR A PRODuCcedilAtildeO ERA EXPL ICADA PELO MEDO DE tER SEuS PRODutOS ROuBADOS Ou PERDER AS LAVOuRAS EM INuNDACcedilOtildeES ALeacuteM DA FALtA DE MERCADOS CONFIaacuteVEISrdquo
Fonte
Primeiro relatoacuterio sobre a horticultura urbana e periubana
Cidades mais verdes na Aacutefrica
porte Temos muitos produtores de pequena escala e pre-cisamos de coordenar as suas actividades Moccedilambique eacute grande exportador de ananaacutes e bananas para o mercado europeu e asiaacutetico e ainda natildeo ouvimos essas reclama-ccedilotildees
Os comerciantes dizem que o processo de maturaccedilatildeo da banana retira a qualidadeTrata se destes pequenos produtores que desconhecem as teacutecnicas para maturaccedilatildeo desta fruta enterram e colocam cinzas mas isto natildeo retira a qualidade da fruta Mas haacute outros que recorrem ao processo natural de maturaccedilatildeo
Porque dependemos da fruta da eacutepocaAinda natildeo temos grandes investimentos no sector da fruti-cultura para termos frutas todas eacutepocas Temos sementes desenvolvidas pelo Instituto de Investigaccedilatildeo Agraria para este efeito mas requer irrigaccedilatildeo permanente adubaccedilatildeo e combate as pragas pelo que satildeo poucos investidores nesse sentido
O que seraacute feito para que haja fruta nacional no mercadoEstamos a incentivar a produccedilatildeo comercial e a uniatildeo de pequenos produtores Temos teacutecnicos que prestam assistecircncia a diversos grupos de agricultores desde que estejam associados
Os Ministeacuterios da Agricultura e de Induacutestria e Comeacutercio estatildeo a preparar um memorando de entendimento com os supermercados para a comercializaccedilatildeo da fruta nacional Por outro lado trabalha-se para criaccedilatildeo de condiccedilotildees de conservaccedilatildeo nos mercados abastecedores
raquo Argunaldo Nhampossa
O XITIQUE ASSEguRA A EStABILIDADE DOS COMERCIANtES DO MERCADO
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APENAS DOIS
DE CADA DEZ
MOCcedilAMBICANOS
POSSuEM uMA
CONTA BANCAacuteRIA
O XITIQuE ajuda muacutetua essencialnos mercados
O xitique (palavra tsonga que significa poupanccedila) eacute uma das formas mais comuns para realizar poupanccedilas nos mercados informaisBaseado em formas muito simples o processo inicia-se normalmente a partir de um grupo de amigos ou amigas que se juntam fixam o montante da contribuiccedilatildeo de cada membro e a periodicidade dos encontros para prestaccedilatildeo de contas e distribuiccedilatildeo rotativa da poupanccedila
SIMPlES A forma de pagamento natildeo tem que ser necessariamente monetaacuteria podem ser bens materiais como utensiacutelios domeacutesticos panos etcOs fundos circulam entre os membros A sua colecta e distribuiccedilatildeo funcionam na base da confianccedila e empatia ao mesmo tempo que obriga cada membro do grupo a fazer a poupanccedila de um montante preacute-determinado e dentro da periodicidade definida (diaacuteria quinzenal mensal trimestral) para o pagamento da sua quota
ROTATIVO A distribuiccedilatildeo da poupanccedila
entre os membros do grupo eacute feita periodicamente e rotativamenteContudo para casos especiais como doenccedila morte ou casamento podem ser abertas excepccedilotildees rotatividade desde que haja acordo entre os membros Os grupos de xitique nos mercados para aleacutem de terem especificidades que respondem aos interesses dos seus actores sociais assumem diferentes formas
VARIADO Estas formas vatildeo de grupos com uma duraccedilatildeo efeacutemera onde os seus membros se juntam apenas para fazer face a um problema concreto (para comprar fardamento escolar para os filhos por exemplo) a outros mais duradoiros (comprar mercadorias melhoramento das bancas) sendo tambeacutem as contribuiccedilotildees de cada grupo extremamente variaacuteveis
VITAl eacute difiacutecil obter dados precisos sobre as contribuiccedilotildees monetaacuterias de cada membro quer pela sua enorme variedade quer porque alguns trabalham com somas avultadas de dinheiro ficando esse aspecto no segredo do grupoO xitique eacute vital para a estabilidade dos comerciantes dos mercados
sendo uma experiecircncia que poderia ser mobilizada para gerar iniciativas de gestatildeo social alternativa organizada pelas proacuteprias comunidades
raquo teresa da Cruz e Silva
ldquoConstrui a minha casardquoCeleste Simango vendeira no Mercado do Povo participa em dois tipos de xitique No xitique semanal feito todas as quintas-feiras cada membro tira quinhentos meticais e datildeo a uma pessoa No xitique mensal tiram 1500 meticais e a pessoa recebe no final do mecircs Com o dinheiro do xitique semanal ela aumenta o negoacutecio
QuASE 8O DOS
MOCcedilAMBICANOS
CARECE DE ACESSO
A SERVICcedilOS
FINANCEIROS
FORMAIS
eacute uMA DAS FORMAS MAIS COMuNS PARA REALIZAR POuPANCcedilAS NOS MERCADOS INFORMAISBASEADO EM FORMAS MuItO SIMPLES O PROCESSO INICIA-SE NORMALMENtE A PARtIR DE uM gRuPO DE AMIgOS Ou AMIgAS QuE SE JuNtAM FIXAM O MONtANtE DA CONtRIBuICcedilAtildeO DE CADA MEMBRO E A PERIODICIDADE DOS ENCONtROS PARA PREStACcedilAtildeO DE CONtAS E DIStRIBuICcedilAtildeO ROtAtIVA DA POuPANCcedilA
O Papel da Associaccedilatildeo dos Operadores e Trabalhadores do Sector Informal (ASSOTSI)Saiba mais aqui
comprando produtos para revender graccedilas ao segundo xitique conseguiu comprar um talhatildeo e construir ldquoA casa estaacute em obras falta fazer as pinturas mas consegui meter aacutegua e energia tenho onde ficarrdquo
O negoacutecio cresceA vendeira Julieta Langa integra um grupo de xitique de 19 pessoas que contribuem cada uma cem meticais por dia Para Langa o maior benefiacutecio eacute poder comprar mais produtos para vender Outros membros do grupo tecircm instalado mais bancas comprado terreno e construiacutedo casas
Escolhemos o Mercado do Povo para a nossa reportagem multimiacutedia porque eacute um lugar tradicional de Maputo um ponto de encontro de passagem de rotinas e de mudanccedilas eacute praacutetico porque fica ao peacute da IREX
As cozinheiras cuidam da higiene no seu trabalho mas a desorganizaccedilatildeo do local natildeo lhes ajuda Os degoladores e os vendedores de frango e carvatildeo passam refeiccedilotildees lado a lado com sangue e moscas
Cada quatro anos antes das eleiccedilotildees municipais as autori-dades anunciam a reabilitaccedilatildeo do Mercado mas as promessas natildeo se materializam
O Mercado eacute uma plataforma de contrastes um espaccedilo sugestivo para produzir mateacuterias com diferentes abordagens da economia ate a moda reportagens com tom de antropologia urbana
Por estar localizado na baixa de Maputo eixo fulcral da cidade o Mercado serve a todas as classes sociais jornalistas estudantes funcionaacuterios do estado artistas e desempregados todos passam por ali
O Mercado viu a independecircncia transitou da economia marxista ao capitalismo selvagem viveu a guerra e a paz acolheu a democracia e o pluralismo
Quem sabe se em cinco anos o Mercado ainda estaraacute aqui Quem sabe se a freneacutetica especulaccedilatildeo imobiliaacuteria daraacute conta dele para construir um preacutedio de escritoacuterios lojas e restaurantes de luxo
Entatildeo minha irmatilde se nesse dia as coisas ocorrerem efectivamente como os deuses da tua terra vaticinam use a capulana irmatilde e natildeo permite que te menosprezem
Excerto de Poema Capulana de Inocecircncio Albino
DE AVENTAl VERMElhO O DEgOLADOR S ILVA FRANCISCO MuChANgA
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RADIOGRAFIAa sauacutede no mercadoO MERCADO DO POVO ENFRENtA SeacuteRIOS PROBLEMAS DE SANEAMENtO APESAR DE EStAR PRoacuteXIMO DO CONSELhO MuNICIPAL RESPONSaacuteVEL PELA gEStAtildeO DOS MERCADOS DE MAPutO
RiscosNo mesmo espaccedilo onde degola-se as galinhas vende-se carvatildeo vegetal e prepara-se saladas Os degoladores de frangos natildeo usam luvas quando metem as matildeos na bacia de sangue e tripas nem separam o lixo usando o uacutenico balde para pocircr tripas sangue e penas Os vendedores de carvatildeo e de frangos e os degoladores passam refeiccedilotildees no local lado a lado com sangue e mos-cas Mesmo cientes dos problemas dizem que natildeo tem alternativas Os responsaacuteveis do mercado conhecem a re-alidade e limitam-se a fazer uma vista grossa A aglomeraccedilatildeo de pessoas animais e lixo poderia facilitar a eclosatildeo de epidemias como a coacutelera malaacuteria e diarreias ou a transmissatildeo raacutepida da gripe aviaacuteria entre as gaiolas de frangos
CarvatildeoO fumo da cozinha e o poacute do carvatildeo vendido agrave mistura pode criar problemas respiratoacuterios irritaccedilatildeo da vista e
da pele Algumas matildees trabalham com bebeacutes no colo a respirar a fumaccedila O uso de fogotildees melhorados poupa carvatildeo e reduz o fumo mas as cozinheiras preferem os fogotildees metaacutelicos porque satildeo raacutepidos e jaacute estatildeo acostumadas a eles As cozinheiras expoem-se a fumaccedila durante 15 horas ou mais por semana Estatildeo cientes dos riscos mas dizem natildeo ter alternativas Outro ganho com os fogotildees melhorados seria a reduccedilatildeo da quantidade de carvatildeo usado o que ajudaria a controlar a desflorestaccedilatildeo CaosNos dias chuvosos o cenaacuterio eacute dramaacutetico chove tanto dentro do mercado como fora A lama e o sangue agrave mis-tura tornam o local improacuteprio para se estar O espaccedilo eacute apertado para todas agravequelas actividades As cozinheiras preparam saladas lavam o tomate e pilam o alho no mesmo espaccedilo partilhado pelos degoladores e vendedeiras de carvatildeo Quem passa do local pela primeira vez sente arrepios mas para os vendedores o ambiente eacute normal uma coisa eacute certa faccedila chuva ou sol haacute gente que trabalha e estaacute de bom humor
raquo Antoacutenio uqueio
O Mercado do Povo eacute uma plataforma de contrastes so-ciais e luta pela sobrevivecircncia No seu trabalho ndash dego-lar depenar e vender galinhas Silva Francisco Muchanga orgulha-se de tratar cerca de 150 frangos por dia Natildeo conhece o nome da sua profissatildeo mas aceita que o cha-memos ldquoo degoladorrdquo
Na cidade de Maputo com altos iacutendices de desemprego o jovem contorna a desonestidade realizando uma activi-dade humilde mas digna
Muchanga realiza-a de forma estrateacutegica a fim de atrair os clientes agrave sua banca ldquoO uacutenico desafio eacute ter de acor-dar muito cedo todos os dias chego agraves seis e saio agraves 17 horas do mercado Natildeo trabalho aos domingosrdquo
ldquoDepenar galinhas eacute como se fosse ioga Eacute uma terapia que me relaxardquo disse
Ele tem outras ambiccedilotildees ser professor de liacutengua portu-guesa e ingressar no ensino superior para cursar filosofia ou psicologia
Por isso ainda que os 2500 meticais mensais que ganha natildeo sejam suficientes Silva considera que estaacute em mel-hores condiccedilotildees ldquoAqui eu recebo todo o meu dinheiro de uma soacute vez e natildeo em parcelasrdquo
As vendedeiras de comida compram as tripas por um met-ical e cinquenta centavos por unidade No entanto quan-do os meninos da rua lhe pedem agraves vezes ele daacute-lhas
VENDEDORES COZINhEIRAS E DEgOLADORESLADO A LADO COM SANguE E MOSCAS
ldquoPosso exercer uma actividade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguemrdquo afirma o degolador O fervor com que Silva se envolve para matar galinhas eacute iacutempar O que o marca nessa relaccedilatildeo com a ave ldquoPenso que a galinha natildeo guarda boas recordaccedilotildees de mim Mas eu tenho boas lembranccedilas dela porque me tem dado o patildeo de cada diardquo
Aprecia o futebol e em Moccedilambique eacute adepto do Clube de Desportos da Costa do Sol Na Europa o Sport Lisboa e Benfica eacute solteiro e natildeo tem filhos
ldquoTodas as pessoas acham que posso exercer uma activi-dade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguem porque eu chego a ser muito melhor que os desempregadosrdquo
raquo Inocecircncio Albino
ldquoVOu-LhE CONFIDENCIAR
uM FACTO jAacute DEGOLEI
VAacuteRIAS GALINhAS PARA
OS MuCcediluLMANOS MAS
NuNCA LhES ACONTECEu
NADA DE RuIMrdquo
O DEGOLADOR ldquoPENSO QuE A gALINhA NAtildeO guARDABOAS RECORDACcedilOtildeES DE MIMrdquo
BEBeacuteS EXPOStOS A FuMACcedilAMOSCAS E Poacute DE CARVAtildeO
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MOCcedilAMBIQuE CARECE DE REgRAS
PARA O tRAtAMENtO E BEM-EStAR DOS ANIMAIS
GALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO SOFREM
MacuteBOA(RONGA) OU MATSAVO(CHANGANA)Ingredientes molinhos de folha de aboacutebora 5camaratildeo seco ou fresco 500gm (eacute necessaacuterio tirar as cabeccedilas no seco)tomate (meacutedios) 2chaacutevenas Farinha de amendoim 3chaacutevenas de aacutegua 3malaguetas 5 (ou piripiri e sal a gosto)
COZINHA MOCcedilAMBICANAPreparaccedilatildeo tiram-se os fios das folhas como se fosse feijatildeo verde lava-se folha por folha em aacutegua corrente corta-se aos bocadinhos natildeo muito finos para um tacho a que se junta a cebola tomate camaratildeo malagueta sal poacute de amendoim e aacutegua deixa-se cozer em fogo lento durante 20 a 25 minutos serve-se com arroz branco ou chima
VENDEDORAS AS gALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO EStAtildeO SuJEItAS A MaacuteS CONDICcedilOtildeES DE tRAtAMENtO
As galinhas vendidas no Mercado do Povo estatildeo sujeitas a maacutes condiccedilotildees de tratamento dadas as pequenas dimensotildees das gaiolas onde elas satildeo expostas para os clientes
As gaiolas tecircm um metro e meio de comprimento e quase 50 centiacutemetros de altura com uma capacidade de al-bergar 30 galinhas mas o nuacutemero dos animais dentro das gaiolas duplicas e agraves vezes triplica a capacidade Isto faz com que as galinhas fiquem umas em cima das outras e natildeo conseguem se mover comer nem beber aacutegualdquoA gaiola tem capacidade para trinta galinhas mas as vezes o nuacutemero ex-cederdquo admite uamusse vendedeira de galinhas O ESTRES Quando natildeo existe espaccedilo suficiente para o animal se movimen-tar e se alimentar desenvolve o es-tres e a desnutriccedilatildeo o que permite que a carne perca proteiacutenasuamusse explica que ela e seus cole-gas adquirem as aves nos criadores e trazem de carro para revenderemEncontramo-la de manhatilde no seu local de trabalho chamando os clientesldquoHaacute casos em que o negoacutecio natildeo corre bem e algumas galinhas adoecem e morremrdquo disse
MOCcedilAMBIQUE SEM REGRAS Noutros paiacuteses como Portugal existem regras que estabelecem as normas miacutenimas de protecccedilatildeo dos animais incluindo os frangos e se considera delito cau-sar dor desnecessaacuteria aos animaisO proprietaacuterio dos animais deve to-mar medidas necessaacuterias para garan-tir o bem-estar deles e evitar que causem danos a pessoas
As normas determinam que nas gaio-las convencionais cada galinha deve dispor de pelo menos 550 cm2 de superfiacutecie de gaiola e as gaiolas de-vem ter uma altura miacutenima de 40 cmEm Moccedilambique natildeo haacute regras que para o tratamento e bem-estar dos animaisLuiacutesa Antoacutenio vende frangos no Mercado desde 1987 Adquire 100 galinhas em forma de empreacutestimo por 130 meticais cada nos aviaacuterios na Matola ou Boane e revende o ani-mal por 140 meticaisldquoQuando o negoacutecio natildeo corre bem
acabo uma semana com as mesmas galinhasrdquo disse Luiacutesa AntoacutenioldquoAs galinhas agraves vezes ficam doentes perdem forccedilas e nos dias em que faz muito calor os animais natildeo aguentam e morremrdquo A GRIPE AVIARIA Luiacutesa Antoacutenio opina que as gaiolas tecircm espaccedilo suficiente para as galinhas ficarem a vontade aleacutem de que a medida que as gaiolas satildeo esvaziadas fica mais espaccediloldquoEm termos de cuidados damos os miacutenimos para elas viverem tecircm aacutegua e raccedilatildeordquo explicouAntoacutenio jaacute ouviu falar da gripe aviaacuteria causada por h5N1 viacuterus hospedado em aves que pode infectar o ser hu-mano No momento a transmissatildeo se daacute das aves para as pessoas e mataldquoA gripe aviaacuteria prejudica a sauacutede causando morte mas aqui no mer-cado acho que ainda natildeo chegou porque muitos de noacutes jaacute teriacuteamos morridordquo disseA vendeira admite que nos dias em que faz muito calor e os animais natildeo
aguentam morremldquoHavia uma regra no Mercado que proibia o abate dos frangos mas a mesma natildeo foi posta em praacutetica du-rante muito tempordquo lembrouOlhando ao redor vecircem-se bacias de aacutegua com sangue com tripas de galinhas e frangos mortos amontoa-dos e gaiolas perfiladas de galinhas sem espaccedilo para se moverem
raquo Aratildeo Nualane
tIRAR A CABECcedilA FORA DA gAIOLA PARA ESCAPAR DO SuFOCO
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FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
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CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
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A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
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ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
VENDEDORES NO MERCADO DO POVO
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NA SuA MERCEARIA CELEStE RAFAEL S IMANgO 53 ANOS VENDE DESDE PRODutOS AL IMENtiacuteC IOS E MEDICINAIS Ateacute OS VEStuaacuteRIOS tEMPEROS MORINgAS FARINhA AVENtAIS SAIAS E CAPuLANAS SE ACuMuLAM NA PEQuENA BARRACA
de combate agrave pobreza urbana ndash cem mil meticaisldquoAinda estou a investir o dinheiro Comecei pela remodelaccedilatildeo do meu quiosque diversificando os produ-tosrdquo comenta feliz e orgulhosa ao mesmo tempo que revela as razotildees da sua forte adesatildeo a Frelimo
A histoacuteria do mercadoCeleste narra que a criaccedilatildeo do Mer-cado do Povo nos primeiros anos da independecircncia foi obra do Presidente Samora Machel Na altura a Cacircmara Municipal de Maputo era dirigida por Alberto MassavanyaneO mercado funcionava no Nwalanga ndash nas proximidades do monumento Vitoacuteria proacuteximo agrave icoacutenica estaccedilatildeo dos caminhos-de-ferro de MaputoCeleste mede a evoluccedilatildeo do merca-do em funccedilatildeo dos stands comerciais utilizados ldquoPrimeiramente vendiacutea-mos nas bancas eminentemente no chatildeo depois passamos para as bar-racas Agora temos estes pequenos quiosques melhoradosrdquo
Vida urbanaQuando se recorda da sua transiccedilatildeo da zona rural de Inhambane para a ci-dade a vendedeira ndash matildee de um filho de 33 anos ndash natildeo se regozijaldquoA urbanidade acompanhou a nossa evoluccedilatildeo de forma terriacutevel Tiacutenhamos de imitar a maneira de viver dos colo-nos porque natildeo sabiacuteamos viver na cidade ndash o que foi difiacutecilrdquohoje Celeste Simango estaacute habituada agrave dinacircmica da vida urbana
raquo Inocecircncio Albino
QuARENTAANOS NO MERCADO
DONA CELEStE RAFAEL S IMANgO VENDE PIRIPIRI ROuPA E CAPuLANAS DA FRELIMO
NO FINAL DE CADA MecircS DOS
QuASE 76000 METICAIS
ARRECADADOS APENAS
14 MIL SatildeO ALOCADOS
Agrave COMISSatildeO DOS
VENDEDORES
PEacuteSSIMASCONDICcedilOtildeESValor dos impostos deveria resultar na melhoria de condiccedilotildeesO Mercado do Povo produz mensal-mente uma receita de 76 mil meticais provenientes de impostos pagos pe-los comerciantes mas debate-se com problemas de fraca cobertura ilumina-ccedilatildeo deficiente e a falta de um tanque para aacuteguas residuais
Existente haacute quase 40 anos o Mercado do Povo localiza-se proacuteximo do Con-selho Municipal da Cidade de Maputo e constitui um ponto de referecircncia para muitos citadinos que ali comem bebem e fazem as comprasDesde a sua criaccedilatildeo natildeo beneficiou de uma reabilitaccedilatildeo de raiz o que com-plica as actividades principalmente nos dias de chuva Cada comerciante eacute responsaacutevel pela melhoria das suas condiccedilotildees
TaxasSegundo Amosse Cuambe chefe do mercado de um total de 352 bancas 206 vendem produtos frescos hortiacutecolas frangos e carvatildeo As restantes 146 englobam barracas de venda de bebidas comidas mercearias
e alfaiatariasO primeiro grupo paga uma taxa diaacuteria que varia entre os cinco a 15 meticais No segundo grupo a taxa mensal varia entre 400 meticais para as barracas construiacutedas pelos vendedores e 620 para as do municiacutepioNo final de cada mecircs dos quase 76000 meticais arrecadados apenas 14 mil satildeo alocados agrave comissatildeo dos vendedores para o pagamento da luz aacutegua guardas e a limpeza do mercado
Problemas do mercadoJoana Langa 80 anos vendedeira do mercado desde 1974 conta que des-de aquele ano o Conselho Municipal promete a melhoria de condiccedilotildees do mercado e ateacute hoje o discurso natildeo passou a praacuteticaldquoTemos problemas de falta de cober-tura e quando chove alguns fecham as bancas O Municiacutepio cobriu uma pequena parte do Mercado em 2009 re-abilitou cerca de 25 bancas e prometeu concluir o trabalho mas ateacute hoje natildeo haacute avanccedilosrdquo disse LangaEla apontou a falta de iluminaccedilatildeo pavimentaccedilatildeo fontanaacuterio no sector de abate das galinhas para permitir a lavagem do local no final do dia e a falta de um dreno para depositar
aacutegua sujaOs vendedores recorrem a uma condu-ta que passa da sala de reuniotildees para depositar aacutegua suja apesar de estar cheia e gerar moscas naquele espaccedilo
ldquoDevido ao mau cheiro e moscas so-mos obrigados a retardar algumas re-uniotildees naquela salardquo lamentou
Sonhos demoradosO chefe do mercado conta que o Con-selho Municipal de Maputo tem um projecto de requalificaccedilatildeo dos mer-cados ainda sem data para o iniacutecio das obras O projecto seraacute financiado atraveacutes das receitas produzidas pelos mercados pelo Banco Mundial e pe-los investidoresJoana Langa e outros vendedores sonham com a materializaccedilatildeo das promessas da edilidade e que as taxas pagas resultem na melhoria de condiccedilotildees para a praacutetica do comeacutercio
raquo Antoacutenio uqueio
Vista de longe sem um plano de sauacutede sem acesso ao micro creacutedito bancaacuterio para os seus negoacutecios todos os dias a enfren-tar a falta de transporte publico que caracteriza Maputo dir-se-ia que Celeste estaacute a ser excluiacuteda pela urbe a quem serve haacute 36 anos Desengane-se entatildeo quem assim pensar
MilitanteCeleste eacute membro do partido Frelimo desde 1977 Aderiu agrave Orga-nizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) em 1992 ano da assi-natura dos Acordos gerais de Paz entre o governo e a Renamo pondo fim agrave guerra dos 16 anosldquoUnidade trabalho vigilacircnciardquo recorda-se das palavras de or-dem que orientavam os discursos e acccedilotildees Recentemente recebeu do governo no contexto da estrateacutegia
PONTO DE ENCONTRO URBANO NO CORACcedilAtildeO DA CAPItAL MAS EM PeacuteSSIMAS CONDICcedilOtildeES
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Em 2009 nas veacutesperas das eleiccedilotildees autaacuterquicas algumas bancas beneficiaram de reabilitaccedilatildeo mas foi miacutenima ldquoQuando chove este espaccedilo fica alagado Infelizmente natildeo podemos deixar de vender porque disso depende o nosso sustentordquo desabafa Luiacutesa Matamile vendedeira de alimentos desde 2007 ldquoO mercado eacute apenas bonito por forardquo Matamile queixa-se da distribuiccedilatildeo caoacutetica das bancas ldquohaacute muita coisa que deve ser mudadardquo
Os vendedores garantem que o lugar eacute seguro havendo guardas de dia e de noite Quando termina a jornada de trabalho os vendedores deixam tranquilamente seus produtos nas bancas
Poreacutem tal protecccedilatildeo natildeo existe para um possiacutevel incecircndio As bancas satildeo feitas de material precaacuterio Diariamente os restaurantes improvisados lidam com fogo e estatildeo muito proacuteximos uns dos outros
ldquoSem contar que os vendedores de galinhas estatildeo sempre aptos a assaacute-las Isso representa um perigo caso um
destes restaurantes perca o controle do fogordquo comenta a vendedeira Carla Mista
Inconformados pelo incumprimento das promessas os comerciantes sentem-se traiacutedos ldquoO Conselho Municipal usou o dinheiro que estava destinado agrave reabilitaccedilatildeordquo
Em Maputo cerca de 13000 horti-cultores cultivam 2300 hectares de terra no Vale de Infulene e Mahotas e 2600 hectares na MatolaPara aleacutem de ser o principal fornece-dor de alimentos frescos para capital as zonas verdes constituem uma im-portante fonte de emprego para famiacute-lias pobres particularmente as che-fiadas por mulheresEm Maputo e Matola este sector proporciona emprego para cerca de 40000 pessoasA renda diaacuteria de um horticultor com-ercial em Maputo eacute de cerca de uSS4 ou 125 meticais bem acima da linha nacional de pobreza de uSS 050 ou 15 meticais Algumas agricultoras fili-
adas a uniatildeo geral das Cooperativas (ugC) produzem frutas flores hortiacuteco-las e dedicam-se tambeacutem a produccedilatildeo de aves A ugC eacute um importante elo de ligaccedilatildeo entre os agricultores e o mercado para o abastecimento Obstaacuteculo para maior produtividade e rentabilidade A maioria dos agricultores cultivava repolho e alface mas poucos cultiva-vam lavouras de maior valor como ce-bola cenoura beterraba e pimentatildeo Os agricultores que variaram a sua produccedilatildeo reportaram uma renda diaacuteria meacutedia duas vezes maior que a renda dos que cultivavam menos de trecircs lavouras
BONITOPOR FORAO MERCADO eacute APENAS BONItO POR FORA
POR CLAacuteUDIA MUGUANDEA relutacircncia dos agricultores em di-versificar a produccedilatildeo resulta do medo de ter seus produtos roubados ou perder as lavouras em inundaccedilotildees aleacutem da falta de mercados confiaacuteveisAs associaccedilotildees de produtores satildeo prejudicadas pelo baixo niacutevel educa-cional dos membros e liacutederes pelo facto dos membros natildeo pagarem suas taxas e em consequecircncia pela falta de recursos financeirosEmbora o creacutedito estivesse disponiacutevel em instituiccedilotildees locais de microfinan-ccedilas menos de 40 dos produtores haviam contraiacutedo empreacutestimos O creacutedito faz uma grande diferenccedila para a renda meacutedia os que obtiveram em-preacutestimos ganhavam duas vezes mais
CINTuRAVERDEPROBLEMAS DE hORtICuLtuRA uRBANA EM MAPutO
MICRO-MUNDOS E MOMENTOS DO MERCADO
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ENTREVISTA COM O DIRECTOR NACIONAl DO SECTOR AGRaacuteRIO MAhOMED VAlaacute MINISTeacuteRIO DA AGRICUlTURA
Eacute PRECISO APOSTARNA PRODuCcedilatildeO COMERCIAL DE FRuTA
Os comerciantes nacionais dizem que recorrem a fruta es-trangeira em detrimento da nacional devido a falta de qualidade seraacute isto verdade- Natildeo eacute bem assim falta a coordenaccedilatildeo entre a produccedilatildeo e o abastecimento dos mercados o que pressupotildee trans-
que os outrosum problema maior para os pequenos horticultores tem sido as tentativas de controlo de suas terras por parte de agricultores mais ricosContudo as associaccedilotildees de horticultores os tecircm ajudado a defender seus lotes uma pesquisa recente constatou que a maioria dos horticultores havia ocupado as terras ou recebido terras gratuitamente como parte da redistri-buiccedilatildeo apoacutes a independecircncia
Incentivados pelo serviccedilo de extensatildeo agriacutecola e ONgs in-gressaram em associaccedilotildees que possuiacuteam os tiacutetulos de uso da terra e desempenharam um papel importante na alocaccedilatildeo de terras
Problemasraquo Falta de assistecircncia teacutecnicaraquo Salinizaccedilatildeo dos solosraquo Conhecimento limitado do controle das pragas e doenccedilasraquo Concentraccedilatildeo de produccedilatildeo na estaccedilatildeo seca Abril - Setem
bro o que provoca super produccedilatildeo e reduccedilatildeo dos preccedilos
ldquoA RELutacircNCIA DOS AgRICuLtORES EM DIVERSIF ICAR A PRODuCcedilAtildeO ERA EXPL ICADA PELO MEDO DE tER SEuS PRODutOS ROuBADOS Ou PERDER AS LAVOuRAS EM INuNDACcedilOtildeES ALeacuteM DA FALtA DE MERCADOS CONFIaacuteVEISrdquo
Fonte
Primeiro relatoacuterio sobre a horticultura urbana e periubana
Cidades mais verdes na Aacutefrica
porte Temos muitos produtores de pequena escala e pre-cisamos de coordenar as suas actividades Moccedilambique eacute grande exportador de ananaacutes e bananas para o mercado europeu e asiaacutetico e ainda natildeo ouvimos essas reclama-ccedilotildees
Os comerciantes dizem que o processo de maturaccedilatildeo da banana retira a qualidadeTrata se destes pequenos produtores que desconhecem as teacutecnicas para maturaccedilatildeo desta fruta enterram e colocam cinzas mas isto natildeo retira a qualidade da fruta Mas haacute outros que recorrem ao processo natural de maturaccedilatildeo
Porque dependemos da fruta da eacutepocaAinda natildeo temos grandes investimentos no sector da fruti-cultura para termos frutas todas eacutepocas Temos sementes desenvolvidas pelo Instituto de Investigaccedilatildeo Agraria para este efeito mas requer irrigaccedilatildeo permanente adubaccedilatildeo e combate as pragas pelo que satildeo poucos investidores nesse sentido
O que seraacute feito para que haja fruta nacional no mercadoEstamos a incentivar a produccedilatildeo comercial e a uniatildeo de pequenos produtores Temos teacutecnicos que prestam assistecircncia a diversos grupos de agricultores desde que estejam associados
Os Ministeacuterios da Agricultura e de Induacutestria e Comeacutercio estatildeo a preparar um memorando de entendimento com os supermercados para a comercializaccedilatildeo da fruta nacional Por outro lado trabalha-se para criaccedilatildeo de condiccedilotildees de conservaccedilatildeo nos mercados abastecedores
raquo Argunaldo Nhampossa
O XITIQUE ASSEguRA A EStABILIDADE DOS COMERCIANtES DO MERCADO
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APENAS DOIS
DE CADA DEZ
MOCcedilAMBICANOS
POSSuEM uMA
CONTA BANCAacuteRIA
O XITIQuE ajuda muacutetua essencialnos mercados
O xitique (palavra tsonga que significa poupanccedila) eacute uma das formas mais comuns para realizar poupanccedilas nos mercados informaisBaseado em formas muito simples o processo inicia-se normalmente a partir de um grupo de amigos ou amigas que se juntam fixam o montante da contribuiccedilatildeo de cada membro e a periodicidade dos encontros para prestaccedilatildeo de contas e distribuiccedilatildeo rotativa da poupanccedila
SIMPlES A forma de pagamento natildeo tem que ser necessariamente monetaacuteria podem ser bens materiais como utensiacutelios domeacutesticos panos etcOs fundos circulam entre os membros A sua colecta e distribuiccedilatildeo funcionam na base da confianccedila e empatia ao mesmo tempo que obriga cada membro do grupo a fazer a poupanccedila de um montante preacute-determinado e dentro da periodicidade definida (diaacuteria quinzenal mensal trimestral) para o pagamento da sua quota
ROTATIVO A distribuiccedilatildeo da poupanccedila
entre os membros do grupo eacute feita periodicamente e rotativamenteContudo para casos especiais como doenccedila morte ou casamento podem ser abertas excepccedilotildees rotatividade desde que haja acordo entre os membros Os grupos de xitique nos mercados para aleacutem de terem especificidades que respondem aos interesses dos seus actores sociais assumem diferentes formas
VARIADO Estas formas vatildeo de grupos com uma duraccedilatildeo efeacutemera onde os seus membros se juntam apenas para fazer face a um problema concreto (para comprar fardamento escolar para os filhos por exemplo) a outros mais duradoiros (comprar mercadorias melhoramento das bancas) sendo tambeacutem as contribuiccedilotildees de cada grupo extremamente variaacuteveis
VITAl eacute difiacutecil obter dados precisos sobre as contribuiccedilotildees monetaacuterias de cada membro quer pela sua enorme variedade quer porque alguns trabalham com somas avultadas de dinheiro ficando esse aspecto no segredo do grupoO xitique eacute vital para a estabilidade dos comerciantes dos mercados
sendo uma experiecircncia que poderia ser mobilizada para gerar iniciativas de gestatildeo social alternativa organizada pelas proacuteprias comunidades
raquo teresa da Cruz e Silva
ldquoConstrui a minha casardquoCeleste Simango vendeira no Mercado do Povo participa em dois tipos de xitique No xitique semanal feito todas as quintas-feiras cada membro tira quinhentos meticais e datildeo a uma pessoa No xitique mensal tiram 1500 meticais e a pessoa recebe no final do mecircs Com o dinheiro do xitique semanal ela aumenta o negoacutecio
QuASE 8O DOS
MOCcedilAMBICANOS
CARECE DE ACESSO
A SERVICcedilOS
FINANCEIROS
FORMAIS
eacute uMA DAS FORMAS MAIS COMuNS PARA REALIZAR POuPANCcedilAS NOS MERCADOS INFORMAISBASEADO EM FORMAS MuItO SIMPLES O PROCESSO INICIA-SE NORMALMENtE A PARtIR DE uM gRuPO DE AMIgOS Ou AMIgAS QuE SE JuNtAM FIXAM O MONtANtE DA CONtRIBuICcedilAtildeO DE CADA MEMBRO E A PERIODICIDADE DOS ENCONtROS PARA PREStACcedilAtildeO DE CONtAS E DIStRIBuICcedilAtildeO ROtAtIVA DA POuPANCcedilA
O Papel da Associaccedilatildeo dos Operadores e Trabalhadores do Sector Informal (ASSOTSI)Saiba mais aqui
comprando produtos para revender graccedilas ao segundo xitique conseguiu comprar um talhatildeo e construir ldquoA casa estaacute em obras falta fazer as pinturas mas consegui meter aacutegua e energia tenho onde ficarrdquo
O negoacutecio cresceA vendeira Julieta Langa integra um grupo de xitique de 19 pessoas que contribuem cada uma cem meticais por dia Para Langa o maior benefiacutecio eacute poder comprar mais produtos para vender Outros membros do grupo tecircm instalado mais bancas comprado terreno e construiacutedo casas
Escolhemos o Mercado do Povo para a nossa reportagem multimiacutedia porque eacute um lugar tradicional de Maputo um ponto de encontro de passagem de rotinas e de mudanccedilas eacute praacutetico porque fica ao peacute da IREX
As cozinheiras cuidam da higiene no seu trabalho mas a desorganizaccedilatildeo do local natildeo lhes ajuda Os degoladores e os vendedores de frango e carvatildeo passam refeiccedilotildees lado a lado com sangue e moscas
Cada quatro anos antes das eleiccedilotildees municipais as autori-dades anunciam a reabilitaccedilatildeo do Mercado mas as promessas natildeo se materializam
O Mercado eacute uma plataforma de contrastes um espaccedilo sugestivo para produzir mateacuterias com diferentes abordagens da economia ate a moda reportagens com tom de antropologia urbana
Por estar localizado na baixa de Maputo eixo fulcral da cidade o Mercado serve a todas as classes sociais jornalistas estudantes funcionaacuterios do estado artistas e desempregados todos passam por ali
O Mercado viu a independecircncia transitou da economia marxista ao capitalismo selvagem viveu a guerra e a paz acolheu a democracia e o pluralismo
Quem sabe se em cinco anos o Mercado ainda estaraacute aqui Quem sabe se a freneacutetica especulaccedilatildeo imobiliaacuteria daraacute conta dele para construir um preacutedio de escritoacuterios lojas e restaurantes de luxo
Entatildeo minha irmatilde se nesse dia as coisas ocorrerem efectivamente como os deuses da tua terra vaticinam use a capulana irmatilde e natildeo permite que te menosprezem
Excerto de Poema Capulana de Inocecircncio Albino
DE AVENTAl VERMElhO O DEgOLADOR S ILVA FRANCISCO MuChANgA
reportagem MERCADO DO POVO | 15
RADIOGRAFIAa sauacutede no mercadoO MERCADO DO POVO ENFRENtA SeacuteRIOS PROBLEMAS DE SANEAMENtO APESAR DE EStAR PRoacuteXIMO DO CONSELhO MuNICIPAL RESPONSaacuteVEL PELA gEStAtildeO DOS MERCADOS DE MAPutO
RiscosNo mesmo espaccedilo onde degola-se as galinhas vende-se carvatildeo vegetal e prepara-se saladas Os degoladores de frangos natildeo usam luvas quando metem as matildeos na bacia de sangue e tripas nem separam o lixo usando o uacutenico balde para pocircr tripas sangue e penas Os vendedores de carvatildeo e de frangos e os degoladores passam refeiccedilotildees no local lado a lado com sangue e mos-cas Mesmo cientes dos problemas dizem que natildeo tem alternativas Os responsaacuteveis do mercado conhecem a re-alidade e limitam-se a fazer uma vista grossa A aglomeraccedilatildeo de pessoas animais e lixo poderia facilitar a eclosatildeo de epidemias como a coacutelera malaacuteria e diarreias ou a transmissatildeo raacutepida da gripe aviaacuteria entre as gaiolas de frangos
CarvatildeoO fumo da cozinha e o poacute do carvatildeo vendido agrave mistura pode criar problemas respiratoacuterios irritaccedilatildeo da vista e
da pele Algumas matildees trabalham com bebeacutes no colo a respirar a fumaccedila O uso de fogotildees melhorados poupa carvatildeo e reduz o fumo mas as cozinheiras preferem os fogotildees metaacutelicos porque satildeo raacutepidos e jaacute estatildeo acostumadas a eles As cozinheiras expoem-se a fumaccedila durante 15 horas ou mais por semana Estatildeo cientes dos riscos mas dizem natildeo ter alternativas Outro ganho com os fogotildees melhorados seria a reduccedilatildeo da quantidade de carvatildeo usado o que ajudaria a controlar a desflorestaccedilatildeo CaosNos dias chuvosos o cenaacuterio eacute dramaacutetico chove tanto dentro do mercado como fora A lama e o sangue agrave mis-tura tornam o local improacuteprio para se estar O espaccedilo eacute apertado para todas agravequelas actividades As cozinheiras preparam saladas lavam o tomate e pilam o alho no mesmo espaccedilo partilhado pelos degoladores e vendedeiras de carvatildeo Quem passa do local pela primeira vez sente arrepios mas para os vendedores o ambiente eacute normal uma coisa eacute certa faccedila chuva ou sol haacute gente que trabalha e estaacute de bom humor
raquo Antoacutenio uqueio
O Mercado do Povo eacute uma plataforma de contrastes so-ciais e luta pela sobrevivecircncia No seu trabalho ndash dego-lar depenar e vender galinhas Silva Francisco Muchanga orgulha-se de tratar cerca de 150 frangos por dia Natildeo conhece o nome da sua profissatildeo mas aceita que o cha-memos ldquoo degoladorrdquo
Na cidade de Maputo com altos iacutendices de desemprego o jovem contorna a desonestidade realizando uma activi-dade humilde mas digna
Muchanga realiza-a de forma estrateacutegica a fim de atrair os clientes agrave sua banca ldquoO uacutenico desafio eacute ter de acor-dar muito cedo todos os dias chego agraves seis e saio agraves 17 horas do mercado Natildeo trabalho aos domingosrdquo
ldquoDepenar galinhas eacute como se fosse ioga Eacute uma terapia que me relaxardquo disse
Ele tem outras ambiccedilotildees ser professor de liacutengua portu-guesa e ingressar no ensino superior para cursar filosofia ou psicologia
Por isso ainda que os 2500 meticais mensais que ganha natildeo sejam suficientes Silva considera que estaacute em mel-hores condiccedilotildees ldquoAqui eu recebo todo o meu dinheiro de uma soacute vez e natildeo em parcelasrdquo
As vendedeiras de comida compram as tripas por um met-ical e cinquenta centavos por unidade No entanto quan-do os meninos da rua lhe pedem agraves vezes ele daacute-lhas
VENDEDORES COZINhEIRAS E DEgOLADORESLADO A LADO COM SANguE E MOSCAS
ldquoPosso exercer uma actividade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguemrdquo afirma o degolador O fervor com que Silva se envolve para matar galinhas eacute iacutempar O que o marca nessa relaccedilatildeo com a ave ldquoPenso que a galinha natildeo guarda boas recordaccedilotildees de mim Mas eu tenho boas lembranccedilas dela porque me tem dado o patildeo de cada diardquo
Aprecia o futebol e em Moccedilambique eacute adepto do Clube de Desportos da Costa do Sol Na Europa o Sport Lisboa e Benfica eacute solteiro e natildeo tem filhos
ldquoTodas as pessoas acham que posso exercer uma activi-dade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguem porque eu chego a ser muito melhor que os desempregadosrdquo
raquo Inocecircncio Albino
ldquoVOu-LhE CONFIDENCIAR
uM FACTO jAacute DEGOLEI
VAacuteRIAS GALINhAS PARA
OS MuCcediluLMANOS MAS
NuNCA LhES ACONTECEu
NADA DE RuIMrdquo
O DEGOLADOR ldquoPENSO QuE A gALINhA NAtildeO guARDABOAS RECORDACcedilOtildeES DE MIMrdquo
BEBeacuteS EXPOStOS A FuMACcedilAMOSCAS E Poacute DE CARVAtildeO
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MOCcedilAMBIQuE CARECE DE REgRAS
PARA O tRAtAMENtO E BEM-EStAR DOS ANIMAIS
GALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO SOFREM
MacuteBOA(RONGA) OU MATSAVO(CHANGANA)Ingredientes molinhos de folha de aboacutebora 5camaratildeo seco ou fresco 500gm (eacute necessaacuterio tirar as cabeccedilas no seco)tomate (meacutedios) 2chaacutevenas Farinha de amendoim 3chaacutevenas de aacutegua 3malaguetas 5 (ou piripiri e sal a gosto)
COZINHA MOCcedilAMBICANAPreparaccedilatildeo tiram-se os fios das folhas como se fosse feijatildeo verde lava-se folha por folha em aacutegua corrente corta-se aos bocadinhos natildeo muito finos para um tacho a que se junta a cebola tomate camaratildeo malagueta sal poacute de amendoim e aacutegua deixa-se cozer em fogo lento durante 20 a 25 minutos serve-se com arroz branco ou chima
VENDEDORAS AS gALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO EStAtildeO SuJEItAS A MaacuteS CONDICcedilOtildeES DE tRAtAMENtO
As galinhas vendidas no Mercado do Povo estatildeo sujeitas a maacutes condiccedilotildees de tratamento dadas as pequenas dimensotildees das gaiolas onde elas satildeo expostas para os clientes
As gaiolas tecircm um metro e meio de comprimento e quase 50 centiacutemetros de altura com uma capacidade de al-bergar 30 galinhas mas o nuacutemero dos animais dentro das gaiolas duplicas e agraves vezes triplica a capacidade Isto faz com que as galinhas fiquem umas em cima das outras e natildeo conseguem se mover comer nem beber aacutegualdquoA gaiola tem capacidade para trinta galinhas mas as vezes o nuacutemero ex-cederdquo admite uamusse vendedeira de galinhas O ESTRES Quando natildeo existe espaccedilo suficiente para o animal se movimen-tar e se alimentar desenvolve o es-tres e a desnutriccedilatildeo o que permite que a carne perca proteiacutenasuamusse explica que ela e seus cole-gas adquirem as aves nos criadores e trazem de carro para revenderemEncontramo-la de manhatilde no seu local de trabalho chamando os clientesldquoHaacute casos em que o negoacutecio natildeo corre bem e algumas galinhas adoecem e morremrdquo disse
MOCcedilAMBIQUE SEM REGRAS Noutros paiacuteses como Portugal existem regras que estabelecem as normas miacutenimas de protecccedilatildeo dos animais incluindo os frangos e se considera delito cau-sar dor desnecessaacuteria aos animaisO proprietaacuterio dos animais deve to-mar medidas necessaacuterias para garan-tir o bem-estar deles e evitar que causem danos a pessoas
As normas determinam que nas gaio-las convencionais cada galinha deve dispor de pelo menos 550 cm2 de superfiacutecie de gaiola e as gaiolas de-vem ter uma altura miacutenima de 40 cmEm Moccedilambique natildeo haacute regras que para o tratamento e bem-estar dos animaisLuiacutesa Antoacutenio vende frangos no Mercado desde 1987 Adquire 100 galinhas em forma de empreacutestimo por 130 meticais cada nos aviaacuterios na Matola ou Boane e revende o ani-mal por 140 meticaisldquoQuando o negoacutecio natildeo corre bem
acabo uma semana com as mesmas galinhasrdquo disse Luiacutesa AntoacutenioldquoAs galinhas agraves vezes ficam doentes perdem forccedilas e nos dias em que faz muito calor os animais natildeo aguentam e morremrdquo A GRIPE AVIARIA Luiacutesa Antoacutenio opina que as gaiolas tecircm espaccedilo suficiente para as galinhas ficarem a vontade aleacutem de que a medida que as gaiolas satildeo esvaziadas fica mais espaccediloldquoEm termos de cuidados damos os miacutenimos para elas viverem tecircm aacutegua e raccedilatildeordquo explicouAntoacutenio jaacute ouviu falar da gripe aviaacuteria causada por h5N1 viacuterus hospedado em aves que pode infectar o ser hu-mano No momento a transmissatildeo se daacute das aves para as pessoas e mataldquoA gripe aviaacuteria prejudica a sauacutede causando morte mas aqui no mer-cado acho que ainda natildeo chegou porque muitos de noacutes jaacute teriacuteamos morridordquo disseA vendeira admite que nos dias em que faz muito calor e os animais natildeo
aguentam morremldquoHavia uma regra no Mercado que proibia o abate dos frangos mas a mesma natildeo foi posta em praacutetica du-rante muito tempordquo lembrouOlhando ao redor vecircem-se bacias de aacutegua com sangue com tripas de galinhas e frangos mortos amontoa-dos e gaiolas perfiladas de galinhas sem espaccedilo para se moverem
raquo Aratildeo Nualane
tIRAR A CABECcedilA FORA DA gAIOLA PARA ESCAPAR DO SuFOCO
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FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
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CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
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A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
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ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
PONTO DE ENCONTRO URBANO NO CORACcedilAtildeO DA CAPItAL MAS EM PeacuteSSIMAS CONDICcedilOtildeES
6 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 7
Em 2009 nas veacutesperas das eleiccedilotildees autaacuterquicas algumas bancas beneficiaram de reabilitaccedilatildeo mas foi miacutenima ldquoQuando chove este espaccedilo fica alagado Infelizmente natildeo podemos deixar de vender porque disso depende o nosso sustentordquo desabafa Luiacutesa Matamile vendedeira de alimentos desde 2007 ldquoO mercado eacute apenas bonito por forardquo Matamile queixa-se da distribuiccedilatildeo caoacutetica das bancas ldquohaacute muita coisa que deve ser mudadardquo
Os vendedores garantem que o lugar eacute seguro havendo guardas de dia e de noite Quando termina a jornada de trabalho os vendedores deixam tranquilamente seus produtos nas bancas
Poreacutem tal protecccedilatildeo natildeo existe para um possiacutevel incecircndio As bancas satildeo feitas de material precaacuterio Diariamente os restaurantes improvisados lidam com fogo e estatildeo muito proacuteximos uns dos outros
ldquoSem contar que os vendedores de galinhas estatildeo sempre aptos a assaacute-las Isso representa um perigo caso um
destes restaurantes perca o controle do fogordquo comenta a vendedeira Carla Mista
Inconformados pelo incumprimento das promessas os comerciantes sentem-se traiacutedos ldquoO Conselho Municipal usou o dinheiro que estava destinado agrave reabilitaccedilatildeordquo
Em Maputo cerca de 13000 horti-cultores cultivam 2300 hectares de terra no Vale de Infulene e Mahotas e 2600 hectares na MatolaPara aleacutem de ser o principal fornece-dor de alimentos frescos para capital as zonas verdes constituem uma im-portante fonte de emprego para famiacute-lias pobres particularmente as che-fiadas por mulheresEm Maputo e Matola este sector proporciona emprego para cerca de 40000 pessoasA renda diaacuteria de um horticultor com-ercial em Maputo eacute de cerca de uSS4 ou 125 meticais bem acima da linha nacional de pobreza de uSS 050 ou 15 meticais Algumas agricultoras fili-
adas a uniatildeo geral das Cooperativas (ugC) produzem frutas flores hortiacuteco-las e dedicam-se tambeacutem a produccedilatildeo de aves A ugC eacute um importante elo de ligaccedilatildeo entre os agricultores e o mercado para o abastecimento Obstaacuteculo para maior produtividade e rentabilidade A maioria dos agricultores cultivava repolho e alface mas poucos cultiva-vam lavouras de maior valor como ce-bola cenoura beterraba e pimentatildeo Os agricultores que variaram a sua produccedilatildeo reportaram uma renda diaacuteria meacutedia duas vezes maior que a renda dos que cultivavam menos de trecircs lavouras
BONITOPOR FORAO MERCADO eacute APENAS BONItO POR FORA
POR CLAacuteUDIA MUGUANDEA relutacircncia dos agricultores em di-versificar a produccedilatildeo resulta do medo de ter seus produtos roubados ou perder as lavouras em inundaccedilotildees aleacutem da falta de mercados confiaacuteveisAs associaccedilotildees de produtores satildeo prejudicadas pelo baixo niacutevel educa-cional dos membros e liacutederes pelo facto dos membros natildeo pagarem suas taxas e em consequecircncia pela falta de recursos financeirosEmbora o creacutedito estivesse disponiacutevel em instituiccedilotildees locais de microfinan-ccedilas menos de 40 dos produtores haviam contraiacutedo empreacutestimos O creacutedito faz uma grande diferenccedila para a renda meacutedia os que obtiveram em-preacutestimos ganhavam duas vezes mais
CINTuRAVERDEPROBLEMAS DE hORtICuLtuRA uRBANA EM MAPutO
MICRO-MUNDOS E MOMENTOS DO MERCADO
8 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 9
ENTREVISTA COM O DIRECTOR NACIONAl DO SECTOR AGRaacuteRIO MAhOMED VAlaacute MINISTeacuteRIO DA AGRICUlTURA
Eacute PRECISO APOSTARNA PRODuCcedilatildeO COMERCIAL DE FRuTA
Os comerciantes nacionais dizem que recorrem a fruta es-trangeira em detrimento da nacional devido a falta de qualidade seraacute isto verdade- Natildeo eacute bem assim falta a coordenaccedilatildeo entre a produccedilatildeo e o abastecimento dos mercados o que pressupotildee trans-
que os outrosum problema maior para os pequenos horticultores tem sido as tentativas de controlo de suas terras por parte de agricultores mais ricosContudo as associaccedilotildees de horticultores os tecircm ajudado a defender seus lotes uma pesquisa recente constatou que a maioria dos horticultores havia ocupado as terras ou recebido terras gratuitamente como parte da redistri-buiccedilatildeo apoacutes a independecircncia
Incentivados pelo serviccedilo de extensatildeo agriacutecola e ONgs in-gressaram em associaccedilotildees que possuiacuteam os tiacutetulos de uso da terra e desempenharam um papel importante na alocaccedilatildeo de terras
Problemasraquo Falta de assistecircncia teacutecnicaraquo Salinizaccedilatildeo dos solosraquo Conhecimento limitado do controle das pragas e doenccedilasraquo Concentraccedilatildeo de produccedilatildeo na estaccedilatildeo seca Abril - Setem
bro o que provoca super produccedilatildeo e reduccedilatildeo dos preccedilos
ldquoA RELutacircNCIA DOS AgRICuLtORES EM DIVERSIF ICAR A PRODuCcedilAtildeO ERA EXPL ICADA PELO MEDO DE tER SEuS PRODutOS ROuBADOS Ou PERDER AS LAVOuRAS EM INuNDACcedilOtildeES ALeacuteM DA FALtA DE MERCADOS CONFIaacuteVEISrdquo
Fonte
Primeiro relatoacuterio sobre a horticultura urbana e periubana
Cidades mais verdes na Aacutefrica
porte Temos muitos produtores de pequena escala e pre-cisamos de coordenar as suas actividades Moccedilambique eacute grande exportador de ananaacutes e bananas para o mercado europeu e asiaacutetico e ainda natildeo ouvimos essas reclama-ccedilotildees
Os comerciantes dizem que o processo de maturaccedilatildeo da banana retira a qualidadeTrata se destes pequenos produtores que desconhecem as teacutecnicas para maturaccedilatildeo desta fruta enterram e colocam cinzas mas isto natildeo retira a qualidade da fruta Mas haacute outros que recorrem ao processo natural de maturaccedilatildeo
Porque dependemos da fruta da eacutepocaAinda natildeo temos grandes investimentos no sector da fruti-cultura para termos frutas todas eacutepocas Temos sementes desenvolvidas pelo Instituto de Investigaccedilatildeo Agraria para este efeito mas requer irrigaccedilatildeo permanente adubaccedilatildeo e combate as pragas pelo que satildeo poucos investidores nesse sentido
O que seraacute feito para que haja fruta nacional no mercadoEstamos a incentivar a produccedilatildeo comercial e a uniatildeo de pequenos produtores Temos teacutecnicos que prestam assistecircncia a diversos grupos de agricultores desde que estejam associados
Os Ministeacuterios da Agricultura e de Induacutestria e Comeacutercio estatildeo a preparar um memorando de entendimento com os supermercados para a comercializaccedilatildeo da fruta nacional Por outro lado trabalha-se para criaccedilatildeo de condiccedilotildees de conservaccedilatildeo nos mercados abastecedores
raquo Argunaldo Nhampossa
O XITIQUE ASSEguRA A EStABILIDADE DOS COMERCIANtES DO MERCADO
10 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 11
APENAS DOIS
DE CADA DEZ
MOCcedilAMBICANOS
POSSuEM uMA
CONTA BANCAacuteRIA
O XITIQuE ajuda muacutetua essencialnos mercados
O xitique (palavra tsonga que significa poupanccedila) eacute uma das formas mais comuns para realizar poupanccedilas nos mercados informaisBaseado em formas muito simples o processo inicia-se normalmente a partir de um grupo de amigos ou amigas que se juntam fixam o montante da contribuiccedilatildeo de cada membro e a periodicidade dos encontros para prestaccedilatildeo de contas e distribuiccedilatildeo rotativa da poupanccedila
SIMPlES A forma de pagamento natildeo tem que ser necessariamente monetaacuteria podem ser bens materiais como utensiacutelios domeacutesticos panos etcOs fundos circulam entre os membros A sua colecta e distribuiccedilatildeo funcionam na base da confianccedila e empatia ao mesmo tempo que obriga cada membro do grupo a fazer a poupanccedila de um montante preacute-determinado e dentro da periodicidade definida (diaacuteria quinzenal mensal trimestral) para o pagamento da sua quota
ROTATIVO A distribuiccedilatildeo da poupanccedila
entre os membros do grupo eacute feita periodicamente e rotativamenteContudo para casos especiais como doenccedila morte ou casamento podem ser abertas excepccedilotildees rotatividade desde que haja acordo entre os membros Os grupos de xitique nos mercados para aleacutem de terem especificidades que respondem aos interesses dos seus actores sociais assumem diferentes formas
VARIADO Estas formas vatildeo de grupos com uma duraccedilatildeo efeacutemera onde os seus membros se juntam apenas para fazer face a um problema concreto (para comprar fardamento escolar para os filhos por exemplo) a outros mais duradoiros (comprar mercadorias melhoramento das bancas) sendo tambeacutem as contribuiccedilotildees de cada grupo extremamente variaacuteveis
VITAl eacute difiacutecil obter dados precisos sobre as contribuiccedilotildees monetaacuterias de cada membro quer pela sua enorme variedade quer porque alguns trabalham com somas avultadas de dinheiro ficando esse aspecto no segredo do grupoO xitique eacute vital para a estabilidade dos comerciantes dos mercados
sendo uma experiecircncia que poderia ser mobilizada para gerar iniciativas de gestatildeo social alternativa organizada pelas proacuteprias comunidades
raquo teresa da Cruz e Silva
ldquoConstrui a minha casardquoCeleste Simango vendeira no Mercado do Povo participa em dois tipos de xitique No xitique semanal feito todas as quintas-feiras cada membro tira quinhentos meticais e datildeo a uma pessoa No xitique mensal tiram 1500 meticais e a pessoa recebe no final do mecircs Com o dinheiro do xitique semanal ela aumenta o negoacutecio
QuASE 8O DOS
MOCcedilAMBICANOS
CARECE DE ACESSO
A SERVICcedilOS
FINANCEIROS
FORMAIS
eacute uMA DAS FORMAS MAIS COMuNS PARA REALIZAR POuPANCcedilAS NOS MERCADOS INFORMAISBASEADO EM FORMAS MuItO SIMPLES O PROCESSO INICIA-SE NORMALMENtE A PARtIR DE uM gRuPO DE AMIgOS Ou AMIgAS QuE SE JuNtAM FIXAM O MONtANtE DA CONtRIBuICcedilAtildeO DE CADA MEMBRO E A PERIODICIDADE DOS ENCONtROS PARA PREStACcedilAtildeO DE CONtAS E DIStRIBuICcedilAtildeO ROtAtIVA DA POuPANCcedilA
O Papel da Associaccedilatildeo dos Operadores e Trabalhadores do Sector Informal (ASSOTSI)Saiba mais aqui
comprando produtos para revender graccedilas ao segundo xitique conseguiu comprar um talhatildeo e construir ldquoA casa estaacute em obras falta fazer as pinturas mas consegui meter aacutegua e energia tenho onde ficarrdquo
O negoacutecio cresceA vendeira Julieta Langa integra um grupo de xitique de 19 pessoas que contribuem cada uma cem meticais por dia Para Langa o maior benefiacutecio eacute poder comprar mais produtos para vender Outros membros do grupo tecircm instalado mais bancas comprado terreno e construiacutedo casas
Escolhemos o Mercado do Povo para a nossa reportagem multimiacutedia porque eacute um lugar tradicional de Maputo um ponto de encontro de passagem de rotinas e de mudanccedilas eacute praacutetico porque fica ao peacute da IREX
As cozinheiras cuidam da higiene no seu trabalho mas a desorganizaccedilatildeo do local natildeo lhes ajuda Os degoladores e os vendedores de frango e carvatildeo passam refeiccedilotildees lado a lado com sangue e moscas
Cada quatro anos antes das eleiccedilotildees municipais as autori-dades anunciam a reabilitaccedilatildeo do Mercado mas as promessas natildeo se materializam
O Mercado eacute uma plataforma de contrastes um espaccedilo sugestivo para produzir mateacuterias com diferentes abordagens da economia ate a moda reportagens com tom de antropologia urbana
Por estar localizado na baixa de Maputo eixo fulcral da cidade o Mercado serve a todas as classes sociais jornalistas estudantes funcionaacuterios do estado artistas e desempregados todos passam por ali
O Mercado viu a independecircncia transitou da economia marxista ao capitalismo selvagem viveu a guerra e a paz acolheu a democracia e o pluralismo
Quem sabe se em cinco anos o Mercado ainda estaraacute aqui Quem sabe se a freneacutetica especulaccedilatildeo imobiliaacuteria daraacute conta dele para construir um preacutedio de escritoacuterios lojas e restaurantes de luxo
Entatildeo minha irmatilde se nesse dia as coisas ocorrerem efectivamente como os deuses da tua terra vaticinam use a capulana irmatilde e natildeo permite que te menosprezem
Excerto de Poema Capulana de Inocecircncio Albino
DE AVENTAl VERMElhO O DEgOLADOR S ILVA FRANCISCO MuChANgA
reportagem MERCADO DO POVO | 15
RADIOGRAFIAa sauacutede no mercadoO MERCADO DO POVO ENFRENtA SeacuteRIOS PROBLEMAS DE SANEAMENtO APESAR DE EStAR PRoacuteXIMO DO CONSELhO MuNICIPAL RESPONSaacuteVEL PELA gEStAtildeO DOS MERCADOS DE MAPutO
RiscosNo mesmo espaccedilo onde degola-se as galinhas vende-se carvatildeo vegetal e prepara-se saladas Os degoladores de frangos natildeo usam luvas quando metem as matildeos na bacia de sangue e tripas nem separam o lixo usando o uacutenico balde para pocircr tripas sangue e penas Os vendedores de carvatildeo e de frangos e os degoladores passam refeiccedilotildees no local lado a lado com sangue e mos-cas Mesmo cientes dos problemas dizem que natildeo tem alternativas Os responsaacuteveis do mercado conhecem a re-alidade e limitam-se a fazer uma vista grossa A aglomeraccedilatildeo de pessoas animais e lixo poderia facilitar a eclosatildeo de epidemias como a coacutelera malaacuteria e diarreias ou a transmissatildeo raacutepida da gripe aviaacuteria entre as gaiolas de frangos
CarvatildeoO fumo da cozinha e o poacute do carvatildeo vendido agrave mistura pode criar problemas respiratoacuterios irritaccedilatildeo da vista e
da pele Algumas matildees trabalham com bebeacutes no colo a respirar a fumaccedila O uso de fogotildees melhorados poupa carvatildeo e reduz o fumo mas as cozinheiras preferem os fogotildees metaacutelicos porque satildeo raacutepidos e jaacute estatildeo acostumadas a eles As cozinheiras expoem-se a fumaccedila durante 15 horas ou mais por semana Estatildeo cientes dos riscos mas dizem natildeo ter alternativas Outro ganho com os fogotildees melhorados seria a reduccedilatildeo da quantidade de carvatildeo usado o que ajudaria a controlar a desflorestaccedilatildeo CaosNos dias chuvosos o cenaacuterio eacute dramaacutetico chove tanto dentro do mercado como fora A lama e o sangue agrave mis-tura tornam o local improacuteprio para se estar O espaccedilo eacute apertado para todas agravequelas actividades As cozinheiras preparam saladas lavam o tomate e pilam o alho no mesmo espaccedilo partilhado pelos degoladores e vendedeiras de carvatildeo Quem passa do local pela primeira vez sente arrepios mas para os vendedores o ambiente eacute normal uma coisa eacute certa faccedila chuva ou sol haacute gente que trabalha e estaacute de bom humor
raquo Antoacutenio uqueio
O Mercado do Povo eacute uma plataforma de contrastes so-ciais e luta pela sobrevivecircncia No seu trabalho ndash dego-lar depenar e vender galinhas Silva Francisco Muchanga orgulha-se de tratar cerca de 150 frangos por dia Natildeo conhece o nome da sua profissatildeo mas aceita que o cha-memos ldquoo degoladorrdquo
Na cidade de Maputo com altos iacutendices de desemprego o jovem contorna a desonestidade realizando uma activi-dade humilde mas digna
Muchanga realiza-a de forma estrateacutegica a fim de atrair os clientes agrave sua banca ldquoO uacutenico desafio eacute ter de acor-dar muito cedo todos os dias chego agraves seis e saio agraves 17 horas do mercado Natildeo trabalho aos domingosrdquo
ldquoDepenar galinhas eacute como se fosse ioga Eacute uma terapia que me relaxardquo disse
Ele tem outras ambiccedilotildees ser professor de liacutengua portu-guesa e ingressar no ensino superior para cursar filosofia ou psicologia
Por isso ainda que os 2500 meticais mensais que ganha natildeo sejam suficientes Silva considera que estaacute em mel-hores condiccedilotildees ldquoAqui eu recebo todo o meu dinheiro de uma soacute vez e natildeo em parcelasrdquo
As vendedeiras de comida compram as tripas por um met-ical e cinquenta centavos por unidade No entanto quan-do os meninos da rua lhe pedem agraves vezes ele daacute-lhas
VENDEDORES COZINhEIRAS E DEgOLADORESLADO A LADO COM SANguE E MOSCAS
ldquoPosso exercer uma actividade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguemrdquo afirma o degolador O fervor com que Silva se envolve para matar galinhas eacute iacutempar O que o marca nessa relaccedilatildeo com a ave ldquoPenso que a galinha natildeo guarda boas recordaccedilotildees de mim Mas eu tenho boas lembranccedilas dela porque me tem dado o patildeo de cada diardquo
Aprecia o futebol e em Moccedilambique eacute adepto do Clube de Desportos da Costa do Sol Na Europa o Sport Lisboa e Benfica eacute solteiro e natildeo tem filhos
ldquoTodas as pessoas acham que posso exercer uma activi-dade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguem porque eu chego a ser muito melhor que os desempregadosrdquo
raquo Inocecircncio Albino
ldquoVOu-LhE CONFIDENCIAR
uM FACTO jAacute DEGOLEI
VAacuteRIAS GALINhAS PARA
OS MuCcediluLMANOS MAS
NuNCA LhES ACONTECEu
NADA DE RuIMrdquo
O DEGOLADOR ldquoPENSO QuE A gALINhA NAtildeO guARDABOAS RECORDACcedilOtildeES DE MIMrdquo
BEBeacuteS EXPOStOS A FuMACcedilAMOSCAS E Poacute DE CARVAtildeO
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MOCcedilAMBIQuE CARECE DE REgRAS
PARA O tRAtAMENtO E BEM-EStAR DOS ANIMAIS
GALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO SOFREM
MacuteBOA(RONGA) OU MATSAVO(CHANGANA)Ingredientes molinhos de folha de aboacutebora 5camaratildeo seco ou fresco 500gm (eacute necessaacuterio tirar as cabeccedilas no seco)tomate (meacutedios) 2chaacutevenas Farinha de amendoim 3chaacutevenas de aacutegua 3malaguetas 5 (ou piripiri e sal a gosto)
COZINHA MOCcedilAMBICANAPreparaccedilatildeo tiram-se os fios das folhas como se fosse feijatildeo verde lava-se folha por folha em aacutegua corrente corta-se aos bocadinhos natildeo muito finos para um tacho a que se junta a cebola tomate camaratildeo malagueta sal poacute de amendoim e aacutegua deixa-se cozer em fogo lento durante 20 a 25 minutos serve-se com arroz branco ou chima
VENDEDORAS AS gALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO EStAtildeO SuJEItAS A MaacuteS CONDICcedilOtildeES DE tRAtAMENtO
As galinhas vendidas no Mercado do Povo estatildeo sujeitas a maacutes condiccedilotildees de tratamento dadas as pequenas dimensotildees das gaiolas onde elas satildeo expostas para os clientes
As gaiolas tecircm um metro e meio de comprimento e quase 50 centiacutemetros de altura com uma capacidade de al-bergar 30 galinhas mas o nuacutemero dos animais dentro das gaiolas duplicas e agraves vezes triplica a capacidade Isto faz com que as galinhas fiquem umas em cima das outras e natildeo conseguem se mover comer nem beber aacutegualdquoA gaiola tem capacidade para trinta galinhas mas as vezes o nuacutemero ex-cederdquo admite uamusse vendedeira de galinhas O ESTRES Quando natildeo existe espaccedilo suficiente para o animal se movimen-tar e se alimentar desenvolve o es-tres e a desnutriccedilatildeo o que permite que a carne perca proteiacutenasuamusse explica que ela e seus cole-gas adquirem as aves nos criadores e trazem de carro para revenderemEncontramo-la de manhatilde no seu local de trabalho chamando os clientesldquoHaacute casos em que o negoacutecio natildeo corre bem e algumas galinhas adoecem e morremrdquo disse
MOCcedilAMBIQUE SEM REGRAS Noutros paiacuteses como Portugal existem regras que estabelecem as normas miacutenimas de protecccedilatildeo dos animais incluindo os frangos e se considera delito cau-sar dor desnecessaacuteria aos animaisO proprietaacuterio dos animais deve to-mar medidas necessaacuterias para garan-tir o bem-estar deles e evitar que causem danos a pessoas
As normas determinam que nas gaio-las convencionais cada galinha deve dispor de pelo menos 550 cm2 de superfiacutecie de gaiola e as gaiolas de-vem ter uma altura miacutenima de 40 cmEm Moccedilambique natildeo haacute regras que para o tratamento e bem-estar dos animaisLuiacutesa Antoacutenio vende frangos no Mercado desde 1987 Adquire 100 galinhas em forma de empreacutestimo por 130 meticais cada nos aviaacuterios na Matola ou Boane e revende o ani-mal por 140 meticaisldquoQuando o negoacutecio natildeo corre bem
acabo uma semana com as mesmas galinhasrdquo disse Luiacutesa AntoacutenioldquoAs galinhas agraves vezes ficam doentes perdem forccedilas e nos dias em que faz muito calor os animais natildeo aguentam e morremrdquo A GRIPE AVIARIA Luiacutesa Antoacutenio opina que as gaiolas tecircm espaccedilo suficiente para as galinhas ficarem a vontade aleacutem de que a medida que as gaiolas satildeo esvaziadas fica mais espaccediloldquoEm termos de cuidados damos os miacutenimos para elas viverem tecircm aacutegua e raccedilatildeordquo explicouAntoacutenio jaacute ouviu falar da gripe aviaacuteria causada por h5N1 viacuterus hospedado em aves que pode infectar o ser hu-mano No momento a transmissatildeo se daacute das aves para as pessoas e mataldquoA gripe aviaacuteria prejudica a sauacutede causando morte mas aqui no mer-cado acho que ainda natildeo chegou porque muitos de noacutes jaacute teriacuteamos morridordquo disseA vendeira admite que nos dias em que faz muito calor e os animais natildeo
aguentam morremldquoHavia uma regra no Mercado que proibia o abate dos frangos mas a mesma natildeo foi posta em praacutetica du-rante muito tempordquo lembrouOlhando ao redor vecircem-se bacias de aacutegua com sangue com tripas de galinhas e frangos mortos amontoa-dos e gaiolas perfiladas de galinhas sem espaccedilo para se moverem
raquo Aratildeo Nualane
tIRAR A CABECcedilA FORA DA gAIOLA PARA ESCAPAR DO SuFOCO
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FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
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CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
EMEN
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
26 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 27
A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
28 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 29
ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
MICRO-MUNDOS E MOMENTOS DO MERCADO
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ENTREVISTA COM O DIRECTOR NACIONAl DO SECTOR AGRaacuteRIO MAhOMED VAlaacute MINISTeacuteRIO DA AGRICUlTURA
Eacute PRECISO APOSTARNA PRODuCcedilatildeO COMERCIAL DE FRuTA
Os comerciantes nacionais dizem que recorrem a fruta es-trangeira em detrimento da nacional devido a falta de qualidade seraacute isto verdade- Natildeo eacute bem assim falta a coordenaccedilatildeo entre a produccedilatildeo e o abastecimento dos mercados o que pressupotildee trans-
que os outrosum problema maior para os pequenos horticultores tem sido as tentativas de controlo de suas terras por parte de agricultores mais ricosContudo as associaccedilotildees de horticultores os tecircm ajudado a defender seus lotes uma pesquisa recente constatou que a maioria dos horticultores havia ocupado as terras ou recebido terras gratuitamente como parte da redistri-buiccedilatildeo apoacutes a independecircncia
Incentivados pelo serviccedilo de extensatildeo agriacutecola e ONgs in-gressaram em associaccedilotildees que possuiacuteam os tiacutetulos de uso da terra e desempenharam um papel importante na alocaccedilatildeo de terras
Problemasraquo Falta de assistecircncia teacutecnicaraquo Salinizaccedilatildeo dos solosraquo Conhecimento limitado do controle das pragas e doenccedilasraquo Concentraccedilatildeo de produccedilatildeo na estaccedilatildeo seca Abril - Setem
bro o que provoca super produccedilatildeo e reduccedilatildeo dos preccedilos
ldquoA RELutacircNCIA DOS AgRICuLtORES EM DIVERSIF ICAR A PRODuCcedilAtildeO ERA EXPL ICADA PELO MEDO DE tER SEuS PRODutOS ROuBADOS Ou PERDER AS LAVOuRAS EM INuNDACcedilOtildeES ALeacuteM DA FALtA DE MERCADOS CONFIaacuteVEISrdquo
Fonte
Primeiro relatoacuterio sobre a horticultura urbana e periubana
Cidades mais verdes na Aacutefrica
porte Temos muitos produtores de pequena escala e pre-cisamos de coordenar as suas actividades Moccedilambique eacute grande exportador de ananaacutes e bananas para o mercado europeu e asiaacutetico e ainda natildeo ouvimos essas reclama-ccedilotildees
Os comerciantes dizem que o processo de maturaccedilatildeo da banana retira a qualidadeTrata se destes pequenos produtores que desconhecem as teacutecnicas para maturaccedilatildeo desta fruta enterram e colocam cinzas mas isto natildeo retira a qualidade da fruta Mas haacute outros que recorrem ao processo natural de maturaccedilatildeo
Porque dependemos da fruta da eacutepocaAinda natildeo temos grandes investimentos no sector da fruti-cultura para termos frutas todas eacutepocas Temos sementes desenvolvidas pelo Instituto de Investigaccedilatildeo Agraria para este efeito mas requer irrigaccedilatildeo permanente adubaccedilatildeo e combate as pragas pelo que satildeo poucos investidores nesse sentido
O que seraacute feito para que haja fruta nacional no mercadoEstamos a incentivar a produccedilatildeo comercial e a uniatildeo de pequenos produtores Temos teacutecnicos que prestam assistecircncia a diversos grupos de agricultores desde que estejam associados
Os Ministeacuterios da Agricultura e de Induacutestria e Comeacutercio estatildeo a preparar um memorando de entendimento com os supermercados para a comercializaccedilatildeo da fruta nacional Por outro lado trabalha-se para criaccedilatildeo de condiccedilotildees de conservaccedilatildeo nos mercados abastecedores
raquo Argunaldo Nhampossa
O XITIQUE ASSEguRA A EStABILIDADE DOS COMERCIANtES DO MERCADO
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APENAS DOIS
DE CADA DEZ
MOCcedilAMBICANOS
POSSuEM uMA
CONTA BANCAacuteRIA
O XITIQuE ajuda muacutetua essencialnos mercados
O xitique (palavra tsonga que significa poupanccedila) eacute uma das formas mais comuns para realizar poupanccedilas nos mercados informaisBaseado em formas muito simples o processo inicia-se normalmente a partir de um grupo de amigos ou amigas que se juntam fixam o montante da contribuiccedilatildeo de cada membro e a periodicidade dos encontros para prestaccedilatildeo de contas e distribuiccedilatildeo rotativa da poupanccedila
SIMPlES A forma de pagamento natildeo tem que ser necessariamente monetaacuteria podem ser bens materiais como utensiacutelios domeacutesticos panos etcOs fundos circulam entre os membros A sua colecta e distribuiccedilatildeo funcionam na base da confianccedila e empatia ao mesmo tempo que obriga cada membro do grupo a fazer a poupanccedila de um montante preacute-determinado e dentro da periodicidade definida (diaacuteria quinzenal mensal trimestral) para o pagamento da sua quota
ROTATIVO A distribuiccedilatildeo da poupanccedila
entre os membros do grupo eacute feita periodicamente e rotativamenteContudo para casos especiais como doenccedila morte ou casamento podem ser abertas excepccedilotildees rotatividade desde que haja acordo entre os membros Os grupos de xitique nos mercados para aleacutem de terem especificidades que respondem aos interesses dos seus actores sociais assumem diferentes formas
VARIADO Estas formas vatildeo de grupos com uma duraccedilatildeo efeacutemera onde os seus membros se juntam apenas para fazer face a um problema concreto (para comprar fardamento escolar para os filhos por exemplo) a outros mais duradoiros (comprar mercadorias melhoramento das bancas) sendo tambeacutem as contribuiccedilotildees de cada grupo extremamente variaacuteveis
VITAl eacute difiacutecil obter dados precisos sobre as contribuiccedilotildees monetaacuterias de cada membro quer pela sua enorme variedade quer porque alguns trabalham com somas avultadas de dinheiro ficando esse aspecto no segredo do grupoO xitique eacute vital para a estabilidade dos comerciantes dos mercados
sendo uma experiecircncia que poderia ser mobilizada para gerar iniciativas de gestatildeo social alternativa organizada pelas proacuteprias comunidades
raquo teresa da Cruz e Silva
ldquoConstrui a minha casardquoCeleste Simango vendeira no Mercado do Povo participa em dois tipos de xitique No xitique semanal feito todas as quintas-feiras cada membro tira quinhentos meticais e datildeo a uma pessoa No xitique mensal tiram 1500 meticais e a pessoa recebe no final do mecircs Com o dinheiro do xitique semanal ela aumenta o negoacutecio
QuASE 8O DOS
MOCcedilAMBICANOS
CARECE DE ACESSO
A SERVICcedilOS
FINANCEIROS
FORMAIS
eacute uMA DAS FORMAS MAIS COMuNS PARA REALIZAR POuPANCcedilAS NOS MERCADOS INFORMAISBASEADO EM FORMAS MuItO SIMPLES O PROCESSO INICIA-SE NORMALMENtE A PARtIR DE uM gRuPO DE AMIgOS Ou AMIgAS QuE SE JuNtAM FIXAM O MONtANtE DA CONtRIBuICcedilAtildeO DE CADA MEMBRO E A PERIODICIDADE DOS ENCONtROS PARA PREStACcedilAtildeO DE CONtAS E DIStRIBuICcedilAtildeO ROtAtIVA DA POuPANCcedilA
O Papel da Associaccedilatildeo dos Operadores e Trabalhadores do Sector Informal (ASSOTSI)Saiba mais aqui
comprando produtos para revender graccedilas ao segundo xitique conseguiu comprar um talhatildeo e construir ldquoA casa estaacute em obras falta fazer as pinturas mas consegui meter aacutegua e energia tenho onde ficarrdquo
O negoacutecio cresceA vendeira Julieta Langa integra um grupo de xitique de 19 pessoas que contribuem cada uma cem meticais por dia Para Langa o maior benefiacutecio eacute poder comprar mais produtos para vender Outros membros do grupo tecircm instalado mais bancas comprado terreno e construiacutedo casas
Escolhemos o Mercado do Povo para a nossa reportagem multimiacutedia porque eacute um lugar tradicional de Maputo um ponto de encontro de passagem de rotinas e de mudanccedilas eacute praacutetico porque fica ao peacute da IREX
As cozinheiras cuidam da higiene no seu trabalho mas a desorganizaccedilatildeo do local natildeo lhes ajuda Os degoladores e os vendedores de frango e carvatildeo passam refeiccedilotildees lado a lado com sangue e moscas
Cada quatro anos antes das eleiccedilotildees municipais as autori-dades anunciam a reabilitaccedilatildeo do Mercado mas as promessas natildeo se materializam
O Mercado eacute uma plataforma de contrastes um espaccedilo sugestivo para produzir mateacuterias com diferentes abordagens da economia ate a moda reportagens com tom de antropologia urbana
Por estar localizado na baixa de Maputo eixo fulcral da cidade o Mercado serve a todas as classes sociais jornalistas estudantes funcionaacuterios do estado artistas e desempregados todos passam por ali
O Mercado viu a independecircncia transitou da economia marxista ao capitalismo selvagem viveu a guerra e a paz acolheu a democracia e o pluralismo
Quem sabe se em cinco anos o Mercado ainda estaraacute aqui Quem sabe se a freneacutetica especulaccedilatildeo imobiliaacuteria daraacute conta dele para construir um preacutedio de escritoacuterios lojas e restaurantes de luxo
Entatildeo minha irmatilde se nesse dia as coisas ocorrerem efectivamente como os deuses da tua terra vaticinam use a capulana irmatilde e natildeo permite que te menosprezem
Excerto de Poema Capulana de Inocecircncio Albino
DE AVENTAl VERMElhO O DEgOLADOR S ILVA FRANCISCO MuChANgA
reportagem MERCADO DO POVO | 15
RADIOGRAFIAa sauacutede no mercadoO MERCADO DO POVO ENFRENtA SeacuteRIOS PROBLEMAS DE SANEAMENtO APESAR DE EStAR PRoacuteXIMO DO CONSELhO MuNICIPAL RESPONSaacuteVEL PELA gEStAtildeO DOS MERCADOS DE MAPutO
RiscosNo mesmo espaccedilo onde degola-se as galinhas vende-se carvatildeo vegetal e prepara-se saladas Os degoladores de frangos natildeo usam luvas quando metem as matildeos na bacia de sangue e tripas nem separam o lixo usando o uacutenico balde para pocircr tripas sangue e penas Os vendedores de carvatildeo e de frangos e os degoladores passam refeiccedilotildees no local lado a lado com sangue e mos-cas Mesmo cientes dos problemas dizem que natildeo tem alternativas Os responsaacuteveis do mercado conhecem a re-alidade e limitam-se a fazer uma vista grossa A aglomeraccedilatildeo de pessoas animais e lixo poderia facilitar a eclosatildeo de epidemias como a coacutelera malaacuteria e diarreias ou a transmissatildeo raacutepida da gripe aviaacuteria entre as gaiolas de frangos
CarvatildeoO fumo da cozinha e o poacute do carvatildeo vendido agrave mistura pode criar problemas respiratoacuterios irritaccedilatildeo da vista e
da pele Algumas matildees trabalham com bebeacutes no colo a respirar a fumaccedila O uso de fogotildees melhorados poupa carvatildeo e reduz o fumo mas as cozinheiras preferem os fogotildees metaacutelicos porque satildeo raacutepidos e jaacute estatildeo acostumadas a eles As cozinheiras expoem-se a fumaccedila durante 15 horas ou mais por semana Estatildeo cientes dos riscos mas dizem natildeo ter alternativas Outro ganho com os fogotildees melhorados seria a reduccedilatildeo da quantidade de carvatildeo usado o que ajudaria a controlar a desflorestaccedilatildeo CaosNos dias chuvosos o cenaacuterio eacute dramaacutetico chove tanto dentro do mercado como fora A lama e o sangue agrave mis-tura tornam o local improacuteprio para se estar O espaccedilo eacute apertado para todas agravequelas actividades As cozinheiras preparam saladas lavam o tomate e pilam o alho no mesmo espaccedilo partilhado pelos degoladores e vendedeiras de carvatildeo Quem passa do local pela primeira vez sente arrepios mas para os vendedores o ambiente eacute normal uma coisa eacute certa faccedila chuva ou sol haacute gente que trabalha e estaacute de bom humor
raquo Antoacutenio uqueio
O Mercado do Povo eacute uma plataforma de contrastes so-ciais e luta pela sobrevivecircncia No seu trabalho ndash dego-lar depenar e vender galinhas Silva Francisco Muchanga orgulha-se de tratar cerca de 150 frangos por dia Natildeo conhece o nome da sua profissatildeo mas aceita que o cha-memos ldquoo degoladorrdquo
Na cidade de Maputo com altos iacutendices de desemprego o jovem contorna a desonestidade realizando uma activi-dade humilde mas digna
Muchanga realiza-a de forma estrateacutegica a fim de atrair os clientes agrave sua banca ldquoO uacutenico desafio eacute ter de acor-dar muito cedo todos os dias chego agraves seis e saio agraves 17 horas do mercado Natildeo trabalho aos domingosrdquo
ldquoDepenar galinhas eacute como se fosse ioga Eacute uma terapia que me relaxardquo disse
Ele tem outras ambiccedilotildees ser professor de liacutengua portu-guesa e ingressar no ensino superior para cursar filosofia ou psicologia
Por isso ainda que os 2500 meticais mensais que ganha natildeo sejam suficientes Silva considera que estaacute em mel-hores condiccedilotildees ldquoAqui eu recebo todo o meu dinheiro de uma soacute vez e natildeo em parcelasrdquo
As vendedeiras de comida compram as tripas por um met-ical e cinquenta centavos por unidade No entanto quan-do os meninos da rua lhe pedem agraves vezes ele daacute-lhas
VENDEDORES COZINhEIRAS E DEgOLADORESLADO A LADO COM SANguE E MOSCAS
ldquoPosso exercer uma actividade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguemrdquo afirma o degolador O fervor com que Silva se envolve para matar galinhas eacute iacutempar O que o marca nessa relaccedilatildeo com a ave ldquoPenso que a galinha natildeo guarda boas recordaccedilotildees de mim Mas eu tenho boas lembranccedilas dela porque me tem dado o patildeo de cada diardquo
Aprecia o futebol e em Moccedilambique eacute adepto do Clube de Desportos da Costa do Sol Na Europa o Sport Lisboa e Benfica eacute solteiro e natildeo tem filhos
ldquoTodas as pessoas acham que posso exercer uma activi-dade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguem porque eu chego a ser muito melhor que os desempregadosrdquo
raquo Inocecircncio Albino
ldquoVOu-LhE CONFIDENCIAR
uM FACTO jAacute DEGOLEI
VAacuteRIAS GALINhAS PARA
OS MuCcediluLMANOS MAS
NuNCA LhES ACONTECEu
NADA DE RuIMrdquo
O DEGOLADOR ldquoPENSO QuE A gALINhA NAtildeO guARDABOAS RECORDACcedilOtildeES DE MIMrdquo
BEBeacuteS EXPOStOS A FuMACcedilAMOSCAS E Poacute DE CARVAtildeO
16 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 17
MOCcedilAMBIQuE CARECE DE REgRAS
PARA O tRAtAMENtO E BEM-EStAR DOS ANIMAIS
GALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO SOFREM
MacuteBOA(RONGA) OU MATSAVO(CHANGANA)Ingredientes molinhos de folha de aboacutebora 5camaratildeo seco ou fresco 500gm (eacute necessaacuterio tirar as cabeccedilas no seco)tomate (meacutedios) 2chaacutevenas Farinha de amendoim 3chaacutevenas de aacutegua 3malaguetas 5 (ou piripiri e sal a gosto)
COZINHA MOCcedilAMBICANAPreparaccedilatildeo tiram-se os fios das folhas como se fosse feijatildeo verde lava-se folha por folha em aacutegua corrente corta-se aos bocadinhos natildeo muito finos para um tacho a que se junta a cebola tomate camaratildeo malagueta sal poacute de amendoim e aacutegua deixa-se cozer em fogo lento durante 20 a 25 minutos serve-se com arroz branco ou chima
VENDEDORAS AS gALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO EStAtildeO SuJEItAS A MaacuteS CONDICcedilOtildeES DE tRAtAMENtO
As galinhas vendidas no Mercado do Povo estatildeo sujeitas a maacutes condiccedilotildees de tratamento dadas as pequenas dimensotildees das gaiolas onde elas satildeo expostas para os clientes
As gaiolas tecircm um metro e meio de comprimento e quase 50 centiacutemetros de altura com uma capacidade de al-bergar 30 galinhas mas o nuacutemero dos animais dentro das gaiolas duplicas e agraves vezes triplica a capacidade Isto faz com que as galinhas fiquem umas em cima das outras e natildeo conseguem se mover comer nem beber aacutegualdquoA gaiola tem capacidade para trinta galinhas mas as vezes o nuacutemero ex-cederdquo admite uamusse vendedeira de galinhas O ESTRES Quando natildeo existe espaccedilo suficiente para o animal se movimen-tar e se alimentar desenvolve o es-tres e a desnutriccedilatildeo o que permite que a carne perca proteiacutenasuamusse explica que ela e seus cole-gas adquirem as aves nos criadores e trazem de carro para revenderemEncontramo-la de manhatilde no seu local de trabalho chamando os clientesldquoHaacute casos em que o negoacutecio natildeo corre bem e algumas galinhas adoecem e morremrdquo disse
MOCcedilAMBIQUE SEM REGRAS Noutros paiacuteses como Portugal existem regras que estabelecem as normas miacutenimas de protecccedilatildeo dos animais incluindo os frangos e se considera delito cau-sar dor desnecessaacuteria aos animaisO proprietaacuterio dos animais deve to-mar medidas necessaacuterias para garan-tir o bem-estar deles e evitar que causem danos a pessoas
As normas determinam que nas gaio-las convencionais cada galinha deve dispor de pelo menos 550 cm2 de superfiacutecie de gaiola e as gaiolas de-vem ter uma altura miacutenima de 40 cmEm Moccedilambique natildeo haacute regras que para o tratamento e bem-estar dos animaisLuiacutesa Antoacutenio vende frangos no Mercado desde 1987 Adquire 100 galinhas em forma de empreacutestimo por 130 meticais cada nos aviaacuterios na Matola ou Boane e revende o ani-mal por 140 meticaisldquoQuando o negoacutecio natildeo corre bem
acabo uma semana com as mesmas galinhasrdquo disse Luiacutesa AntoacutenioldquoAs galinhas agraves vezes ficam doentes perdem forccedilas e nos dias em que faz muito calor os animais natildeo aguentam e morremrdquo A GRIPE AVIARIA Luiacutesa Antoacutenio opina que as gaiolas tecircm espaccedilo suficiente para as galinhas ficarem a vontade aleacutem de que a medida que as gaiolas satildeo esvaziadas fica mais espaccediloldquoEm termos de cuidados damos os miacutenimos para elas viverem tecircm aacutegua e raccedilatildeordquo explicouAntoacutenio jaacute ouviu falar da gripe aviaacuteria causada por h5N1 viacuterus hospedado em aves que pode infectar o ser hu-mano No momento a transmissatildeo se daacute das aves para as pessoas e mataldquoA gripe aviaacuteria prejudica a sauacutede causando morte mas aqui no mer-cado acho que ainda natildeo chegou porque muitos de noacutes jaacute teriacuteamos morridordquo disseA vendeira admite que nos dias em que faz muito calor e os animais natildeo
aguentam morremldquoHavia uma regra no Mercado que proibia o abate dos frangos mas a mesma natildeo foi posta em praacutetica du-rante muito tempordquo lembrouOlhando ao redor vecircem-se bacias de aacutegua com sangue com tripas de galinhas e frangos mortos amontoa-dos e gaiolas perfiladas de galinhas sem espaccedilo para se moverem
raquo Aratildeo Nualane
tIRAR A CABECcedilA FORA DA gAIOLA PARA ESCAPAR DO SuFOCO
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FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
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CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
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A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
28 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 29
ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
O XITIQUE ASSEguRA A EStABILIDADE DOS COMERCIANtES DO MERCADO
10 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 11
APENAS DOIS
DE CADA DEZ
MOCcedilAMBICANOS
POSSuEM uMA
CONTA BANCAacuteRIA
O XITIQuE ajuda muacutetua essencialnos mercados
O xitique (palavra tsonga que significa poupanccedila) eacute uma das formas mais comuns para realizar poupanccedilas nos mercados informaisBaseado em formas muito simples o processo inicia-se normalmente a partir de um grupo de amigos ou amigas que se juntam fixam o montante da contribuiccedilatildeo de cada membro e a periodicidade dos encontros para prestaccedilatildeo de contas e distribuiccedilatildeo rotativa da poupanccedila
SIMPlES A forma de pagamento natildeo tem que ser necessariamente monetaacuteria podem ser bens materiais como utensiacutelios domeacutesticos panos etcOs fundos circulam entre os membros A sua colecta e distribuiccedilatildeo funcionam na base da confianccedila e empatia ao mesmo tempo que obriga cada membro do grupo a fazer a poupanccedila de um montante preacute-determinado e dentro da periodicidade definida (diaacuteria quinzenal mensal trimestral) para o pagamento da sua quota
ROTATIVO A distribuiccedilatildeo da poupanccedila
entre os membros do grupo eacute feita periodicamente e rotativamenteContudo para casos especiais como doenccedila morte ou casamento podem ser abertas excepccedilotildees rotatividade desde que haja acordo entre os membros Os grupos de xitique nos mercados para aleacutem de terem especificidades que respondem aos interesses dos seus actores sociais assumem diferentes formas
VARIADO Estas formas vatildeo de grupos com uma duraccedilatildeo efeacutemera onde os seus membros se juntam apenas para fazer face a um problema concreto (para comprar fardamento escolar para os filhos por exemplo) a outros mais duradoiros (comprar mercadorias melhoramento das bancas) sendo tambeacutem as contribuiccedilotildees de cada grupo extremamente variaacuteveis
VITAl eacute difiacutecil obter dados precisos sobre as contribuiccedilotildees monetaacuterias de cada membro quer pela sua enorme variedade quer porque alguns trabalham com somas avultadas de dinheiro ficando esse aspecto no segredo do grupoO xitique eacute vital para a estabilidade dos comerciantes dos mercados
sendo uma experiecircncia que poderia ser mobilizada para gerar iniciativas de gestatildeo social alternativa organizada pelas proacuteprias comunidades
raquo teresa da Cruz e Silva
ldquoConstrui a minha casardquoCeleste Simango vendeira no Mercado do Povo participa em dois tipos de xitique No xitique semanal feito todas as quintas-feiras cada membro tira quinhentos meticais e datildeo a uma pessoa No xitique mensal tiram 1500 meticais e a pessoa recebe no final do mecircs Com o dinheiro do xitique semanal ela aumenta o negoacutecio
QuASE 8O DOS
MOCcedilAMBICANOS
CARECE DE ACESSO
A SERVICcedilOS
FINANCEIROS
FORMAIS
eacute uMA DAS FORMAS MAIS COMuNS PARA REALIZAR POuPANCcedilAS NOS MERCADOS INFORMAISBASEADO EM FORMAS MuItO SIMPLES O PROCESSO INICIA-SE NORMALMENtE A PARtIR DE uM gRuPO DE AMIgOS Ou AMIgAS QuE SE JuNtAM FIXAM O MONtANtE DA CONtRIBuICcedilAtildeO DE CADA MEMBRO E A PERIODICIDADE DOS ENCONtROS PARA PREStACcedilAtildeO DE CONtAS E DIStRIBuICcedilAtildeO ROtAtIVA DA POuPANCcedilA
O Papel da Associaccedilatildeo dos Operadores e Trabalhadores do Sector Informal (ASSOTSI)Saiba mais aqui
comprando produtos para revender graccedilas ao segundo xitique conseguiu comprar um talhatildeo e construir ldquoA casa estaacute em obras falta fazer as pinturas mas consegui meter aacutegua e energia tenho onde ficarrdquo
O negoacutecio cresceA vendeira Julieta Langa integra um grupo de xitique de 19 pessoas que contribuem cada uma cem meticais por dia Para Langa o maior benefiacutecio eacute poder comprar mais produtos para vender Outros membros do grupo tecircm instalado mais bancas comprado terreno e construiacutedo casas
Escolhemos o Mercado do Povo para a nossa reportagem multimiacutedia porque eacute um lugar tradicional de Maputo um ponto de encontro de passagem de rotinas e de mudanccedilas eacute praacutetico porque fica ao peacute da IREX
As cozinheiras cuidam da higiene no seu trabalho mas a desorganizaccedilatildeo do local natildeo lhes ajuda Os degoladores e os vendedores de frango e carvatildeo passam refeiccedilotildees lado a lado com sangue e moscas
Cada quatro anos antes das eleiccedilotildees municipais as autori-dades anunciam a reabilitaccedilatildeo do Mercado mas as promessas natildeo se materializam
O Mercado eacute uma plataforma de contrastes um espaccedilo sugestivo para produzir mateacuterias com diferentes abordagens da economia ate a moda reportagens com tom de antropologia urbana
Por estar localizado na baixa de Maputo eixo fulcral da cidade o Mercado serve a todas as classes sociais jornalistas estudantes funcionaacuterios do estado artistas e desempregados todos passam por ali
O Mercado viu a independecircncia transitou da economia marxista ao capitalismo selvagem viveu a guerra e a paz acolheu a democracia e o pluralismo
Quem sabe se em cinco anos o Mercado ainda estaraacute aqui Quem sabe se a freneacutetica especulaccedilatildeo imobiliaacuteria daraacute conta dele para construir um preacutedio de escritoacuterios lojas e restaurantes de luxo
Entatildeo minha irmatilde se nesse dia as coisas ocorrerem efectivamente como os deuses da tua terra vaticinam use a capulana irmatilde e natildeo permite que te menosprezem
Excerto de Poema Capulana de Inocecircncio Albino
DE AVENTAl VERMElhO O DEgOLADOR S ILVA FRANCISCO MuChANgA
reportagem MERCADO DO POVO | 15
RADIOGRAFIAa sauacutede no mercadoO MERCADO DO POVO ENFRENtA SeacuteRIOS PROBLEMAS DE SANEAMENtO APESAR DE EStAR PRoacuteXIMO DO CONSELhO MuNICIPAL RESPONSaacuteVEL PELA gEStAtildeO DOS MERCADOS DE MAPutO
RiscosNo mesmo espaccedilo onde degola-se as galinhas vende-se carvatildeo vegetal e prepara-se saladas Os degoladores de frangos natildeo usam luvas quando metem as matildeos na bacia de sangue e tripas nem separam o lixo usando o uacutenico balde para pocircr tripas sangue e penas Os vendedores de carvatildeo e de frangos e os degoladores passam refeiccedilotildees no local lado a lado com sangue e mos-cas Mesmo cientes dos problemas dizem que natildeo tem alternativas Os responsaacuteveis do mercado conhecem a re-alidade e limitam-se a fazer uma vista grossa A aglomeraccedilatildeo de pessoas animais e lixo poderia facilitar a eclosatildeo de epidemias como a coacutelera malaacuteria e diarreias ou a transmissatildeo raacutepida da gripe aviaacuteria entre as gaiolas de frangos
CarvatildeoO fumo da cozinha e o poacute do carvatildeo vendido agrave mistura pode criar problemas respiratoacuterios irritaccedilatildeo da vista e
da pele Algumas matildees trabalham com bebeacutes no colo a respirar a fumaccedila O uso de fogotildees melhorados poupa carvatildeo e reduz o fumo mas as cozinheiras preferem os fogotildees metaacutelicos porque satildeo raacutepidos e jaacute estatildeo acostumadas a eles As cozinheiras expoem-se a fumaccedila durante 15 horas ou mais por semana Estatildeo cientes dos riscos mas dizem natildeo ter alternativas Outro ganho com os fogotildees melhorados seria a reduccedilatildeo da quantidade de carvatildeo usado o que ajudaria a controlar a desflorestaccedilatildeo CaosNos dias chuvosos o cenaacuterio eacute dramaacutetico chove tanto dentro do mercado como fora A lama e o sangue agrave mis-tura tornam o local improacuteprio para se estar O espaccedilo eacute apertado para todas agravequelas actividades As cozinheiras preparam saladas lavam o tomate e pilam o alho no mesmo espaccedilo partilhado pelos degoladores e vendedeiras de carvatildeo Quem passa do local pela primeira vez sente arrepios mas para os vendedores o ambiente eacute normal uma coisa eacute certa faccedila chuva ou sol haacute gente que trabalha e estaacute de bom humor
raquo Antoacutenio uqueio
O Mercado do Povo eacute uma plataforma de contrastes so-ciais e luta pela sobrevivecircncia No seu trabalho ndash dego-lar depenar e vender galinhas Silva Francisco Muchanga orgulha-se de tratar cerca de 150 frangos por dia Natildeo conhece o nome da sua profissatildeo mas aceita que o cha-memos ldquoo degoladorrdquo
Na cidade de Maputo com altos iacutendices de desemprego o jovem contorna a desonestidade realizando uma activi-dade humilde mas digna
Muchanga realiza-a de forma estrateacutegica a fim de atrair os clientes agrave sua banca ldquoO uacutenico desafio eacute ter de acor-dar muito cedo todos os dias chego agraves seis e saio agraves 17 horas do mercado Natildeo trabalho aos domingosrdquo
ldquoDepenar galinhas eacute como se fosse ioga Eacute uma terapia que me relaxardquo disse
Ele tem outras ambiccedilotildees ser professor de liacutengua portu-guesa e ingressar no ensino superior para cursar filosofia ou psicologia
Por isso ainda que os 2500 meticais mensais que ganha natildeo sejam suficientes Silva considera que estaacute em mel-hores condiccedilotildees ldquoAqui eu recebo todo o meu dinheiro de uma soacute vez e natildeo em parcelasrdquo
As vendedeiras de comida compram as tripas por um met-ical e cinquenta centavos por unidade No entanto quan-do os meninos da rua lhe pedem agraves vezes ele daacute-lhas
VENDEDORES COZINhEIRAS E DEgOLADORESLADO A LADO COM SANguE E MOSCAS
ldquoPosso exercer uma actividade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguemrdquo afirma o degolador O fervor com que Silva se envolve para matar galinhas eacute iacutempar O que o marca nessa relaccedilatildeo com a ave ldquoPenso que a galinha natildeo guarda boas recordaccedilotildees de mim Mas eu tenho boas lembranccedilas dela porque me tem dado o patildeo de cada diardquo
Aprecia o futebol e em Moccedilambique eacute adepto do Clube de Desportos da Costa do Sol Na Europa o Sport Lisboa e Benfica eacute solteiro e natildeo tem filhos
ldquoTodas as pessoas acham que posso exercer uma activi-dade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguem porque eu chego a ser muito melhor que os desempregadosrdquo
raquo Inocecircncio Albino
ldquoVOu-LhE CONFIDENCIAR
uM FACTO jAacute DEGOLEI
VAacuteRIAS GALINhAS PARA
OS MuCcediluLMANOS MAS
NuNCA LhES ACONTECEu
NADA DE RuIMrdquo
O DEGOLADOR ldquoPENSO QuE A gALINhA NAtildeO guARDABOAS RECORDACcedilOtildeES DE MIMrdquo
BEBeacuteS EXPOStOS A FuMACcedilAMOSCAS E Poacute DE CARVAtildeO
16 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 17
MOCcedilAMBIQuE CARECE DE REgRAS
PARA O tRAtAMENtO E BEM-EStAR DOS ANIMAIS
GALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO SOFREM
MacuteBOA(RONGA) OU MATSAVO(CHANGANA)Ingredientes molinhos de folha de aboacutebora 5camaratildeo seco ou fresco 500gm (eacute necessaacuterio tirar as cabeccedilas no seco)tomate (meacutedios) 2chaacutevenas Farinha de amendoim 3chaacutevenas de aacutegua 3malaguetas 5 (ou piripiri e sal a gosto)
COZINHA MOCcedilAMBICANAPreparaccedilatildeo tiram-se os fios das folhas como se fosse feijatildeo verde lava-se folha por folha em aacutegua corrente corta-se aos bocadinhos natildeo muito finos para um tacho a que se junta a cebola tomate camaratildeo malagueta sal poacute de amendoim e aacutegua deixa-se cozer em fogo lento durante 20 a 25 minutos serve-se com arroz branco ou chima
VENDEDORAS AS gALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO EStAtildeO SuJEItAS A MaacuteS CONDICcedilOtildeES DE tRAtAMENtO
As galinhas vendidas no Mercado do Povo estatildeo sujeitas a maacutes condiccedilotildees de tratamento dadas as pequenas dimensotildees das gaiolas onde elas satildeo expostas para os clientes
As gaiolas tecircm um metro e meio de comprimento e quase 50 centiacutemetros de altura com uma capacidade de al-bergar 30 galinhas mas o nuacutemero dos animais dentro das gaiolas duplicas e agraves vezes triplica a capacidade Isto faz com que as galinhas fiquem umas em cima das outras e natildeo conseguem se mover comer nem beber aacutegualdquoA gaiola tem capacidade para trinta galinhas mas as vezes o nuacutemero ex-cederdquo admite uamusse vendedeira de galinhas O ESTRES Quando natildeo existe espaccedilo suficiente para o animal se movimen-tar e se alimentar desenvolve o es-tres e a desnutriccedilatildeo o que permite que a carne perca proteiacutenasuamusse explica que ela e seus cole-gas adquirem as aves nos criadores e trazem de carro para revenderemEncontramo-la de manhatilde no seu local de trabalho chamando os clientesldquoHaacute casos em que o negoacutecio natildeo corre bem e algumas galinhas adoecem e morremrdquo disse
MOCcedilAMBIQUE SEM REGRAS Noutros paiacuteses como Portugal existem regras que estabelecem as normas miacutenimas de protecccedilatildeo dos animais incluindo os frangos e se considera delito cau-sar dor desnecessaacuteria aos animaisO proprietaacuterio dos animais deve to-mar medidas necessaacuterias para garan-tir o bem-estar deles e evitar que causem danos a pessoas
As normas determinam que nas gaio-las convencionais cada galinha deve dispor de pelo menos 550 cm2 de superfiacutecie de gaiola e as gaiolas de-vem ter uma altura miacutenima de 40 cmEm Moccedilambique natildeo haacute regras que para o tratamento e bem-estar dos animaisLuiacutesa Antoacutenio vende frangos no Mercado desde 1987 Adquire 100 galinhas em forma de empreacutestimo por 130 meticais cada nos aviaacuterios na Matola ou Boane e revende o ani-mal por 140 meticaisldquoQuando o negoacutecio natildeo corre bem
acabo uma semana com as mesmas galinhasrdquo disse Luiacutesa AntoacutenioldquoAs galinhas agraves vezes ficam doentes perdem forccedilas e nos dias em que faz muito calor os animais natildeo aguentam e morremrdquo A GRIPE AVIARIA Luiacutesa Antoacutenio opina que as gaiolas tecircm espaccedilo suficiente para as galinhas ficarem a vontade aleacutem de que a medida que as gaiolas satildeo esvaziadas fica mais espaccediloldquoEm termos de cuidados damos os miacutenimos para elas viverem tecircm aacutegua e raccedilatildeordquo explicouAntoacutenio jaacute ouviu falar da gripe aviaacuteria causada por h5N1 viacuterus hospedado em aves que pode infectar o ser hu-mano No momento a transmissatildeo se daacute das aves para as pessoas e mataldquoA gripe aviaacuteria prejudica a sauacutede causando morte mas aqui no mer-cado acho que ainda natildeo chegou porque muitos de noacutes jaacute teriacuteamos morridordquo disseA vendeira admite que nos dias em que faz muito calor e os animais natildeo
aguentam morremldquoHavia uma regra no Mercado que proibia o abate dos frangos mas a mesma natildeo foi posta em praacutetica du-rante muito tempordquo lembrouOlhando ao redor vecircem-se bacias de aacutegua com sangue com tripas de galinhas e frangos mortos amontoa-dos e gaiolas perfiladas de galinhas sem espaccedilo para se moverem
raquo Aratildeo Nualane
tIRAR A CABECcedilA FORA DA gAIOLA PARA ESCAPAR DO SuFOCO
18 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 19
FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
20 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 21
CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
EMEN
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
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A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
28 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 29
ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
Escolhemos o Mercado do Povo para a nossa reportagem multimiacutedia porque eacute um lugar tradicional de Maputo um ponto de encontro de passagem de rotinas e de mudanccedilas eacute praacutetico porque fica ao peacute da IREX
As cozinheiras cuidam da higiene no seu trabalho mas a desorganizaccedilatildeo do local natildeo lhes ajuda Os degoladores e os vendedores de frango e carvatildeo passam refeiccedilotildees lado a lado com sangue e moscas
Cada quatro anos antes das eleiccedilotildees municipais as autori-dades anunciam a reabilitaccedilatildeo do Mercado mas as promessas natildeo se materializam
O Mercado eacute uma plataforma de contrastes um espaccedilo sugestivo para produzir mateacuterias com diferentes abordagens da economia ate a moda reportagens com tom de antropologia urbana
Por estar localizado na baixa de Maputo eixo fulcral da cidade o Mercado serve a todas as classes sociais jornalistas estudantes funcionaacuterios do estado artistas e desempregados todos passam por ali
O Mercado viu a independecircncia transitou da economia marxista ao capitalismo selvagem viveu a guerra e a paz acolheu a democracia e o pluralismo
Quem sabe se em cinco anos o Mercado ainda estaraacute aqui Quem sabe se a freneacutetica especulaccedilatildeo imobiliaacuteria daraacute conta dele para construir um preacutedio de escritoacuterios lojas e restaurantes de luxo
Entatildeo minha irmatilde se nesse dia as coisas ocorrerem efectivamente como os deuses da tua terra vaticinam use a capulana irmatilde e natildeo permite que te menosprezem
Excerto de Poema Capulana de Inocecircncio Albino
DE AVENTAl VERMElhO O DEgOLADOR S ILVA FRANCISCO MuChANgA
reportagem MERCADO DO POVO | 15
RADIOGRAFIAa sauacutede no mercadoO MERCADO DO POVO ENFRENtA SeacuteRIOS PROBLEMAS DE SANEAMENtO APESAR DE EStAR PRoacuteXIMO DO CONSELhO MuNICIPAL RESPONSaacuteVEL PELA gEStAtildeO DOS MERCADOS DE MAPutO
RiscosNo mesmo espaccedilo onde degola-se as galinhas vende-se carvatildeo vegetal e prepara-se saladas Os degoladores de frangos natildeo usam luvas quando metem as matildeos na bacia de sangue e tripas nem separam o lixo usando o uacutenico balde para pocircr tripas sangue e penas Os vendedores de carvatildeo e de frangos e os degoladores passam refeiccedilotildees no local lado a lado com sangue e mos-cas Mesmo cientes dos problemas dizem que natildeo tem alternativas Os responsaacuteveis do mercado conhecem a re-alidade e limitam-se a fazer uma vista grossa A aglomeraccedilatildeo de pessoas animais e lixo poderia facilitar a eclosatildeo de epidemias como a coacutelera malaacuteria e diarreias ou a transmissatildeo raacutepida da gripe aviaacuteria entre as gaiolas de frangos
CarvatildeoO fumo da cozinha e o poacute do carvatildeo vendido agrave mistura pode criar problemas respiratoacuterios irritaccedilatildeo da vista e
da pele Algumas matildees trabalham com bebeacutes no colo a respirar a fumaccedila O uso de fogotildees melhorados poupa carvatildeo e reduz o fumo mas as cozinheiras preferem os fogotildees metaacutelicos porque satildeo raacutepidos e jaacute estatildeo acostumadas a eles As cozinheiras expoem-se a fumaccedila durante 15 horas ou mais por semana Estatildeo cientes dos riscos mas dizem natildeo ter alternativas Outro ganho com os fogotildees melhorados seria a reduccedilatildeo da quantidade de carvatildeo usado o que ajudaria a controlar a desflorestaccedilatildeo CaosNos dias chuvosos o cenaacuterio eacute dramaacutetico chove tanto dentro do mercado como fora A lama e o sangue agrave mis-tura tornam o local improacuteprio para se estar O espaccedilo eacute apertado para todas agravequelas actividades As cozinheiras preparam saladas lavam o tomate e pilam o alho no mesmo espaccedilo partilhado pelos degoladores e vendedeiras de carvatildeo Quem passa do local pela primeira vez sente arrepios mas para os vendedores o ambiente eacute normal uma coisa eacute certa faccedila chuva ou sol haacute gente que trabalha e estaacute de bom humor
raquo Antoacutenio uqueio
O Mercado do Povo eacute uma plataforma de contrastes so-ciais e luta pela sobrevivecircncia No seu trabalho ndash dego-lar depenar e vender galinhas Silva Francisco Muchanga orgulha-se de tratar cerca de 150 frangos por dia Natildeo conhece o nome da sua profissatildeo mas aceita que o cha-memos ldquoo degoladorrdquo
Na cidade de Maputo com altos iacutendices de desemprego o jovem contorna a desonestidade realizando uma activi-dade humilde mas digna
Muchanga realiza-a de forma estrateacutegica a fim de atrair os clientes agrave sua banca ldquoO uacutenico desafio eacute ter de acor-dar muito cedo todos os dias chego agraves seis e saio agraves 17 horas do mercado Natildeo trabalho aos domingosrdquo
ldquoDepenar galinhas eacute como se fosse ioga Eacute uma terapia que me relaxardquo disse
Ele tem outras ambiccedilotildees ser professor de liacutengua portu-guesa e ingressar no ensino superior para cursar filosofia ou psicologia
Por isso ainda que os 2500 meticais mensais que ganha natildeo sejam suficientes Silva considera que estaacute em mel-hores condiccedilotildees ldquoAqui eu recebo todo o meu dinheiro de uma soacute vez e natildeo em parcelasrdquo
As vendedeiras de comida compram as tripas por um met-ical e cinquenta centavos por unidade No entanto quan-do os meninos da rua lhe pedem agraves vezes ele daacute-lhas
VENDEDORES COZINhEIRAS E DEgOLADORESLADO A LADO COM SANguE E MOSCAS
ldquoPosso exercer uma actividade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguemrdquo afirma o degolador O fervor com que Silva se envolve para matar galinhas eacute iacutempar O que o marca nessa relaccedilatildeo com a ave ldquoPenso que a galinha natildeo guarda boas recordaccedilotildees de mim Mas eu tenho boas lembranccedilas dela porque me tem dado o patildeo de cada diardquo
Aprecia o futebol e em Moccedilambique eacute adepto do Clube de Desportos da Costa do Sol Na Europa o Sport Lisboa e Benfica eacute solteiro e natildeo tem filhos
ldquoTodas as pessoas acham que posso exercer uma activi-dade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguem porque eu chego a ser muito melhor que os desempregadosrdquo
raquo Inocecircncio Albino
ldquoVOu-LhE CONFIDENCIAR
uM FACTO jAacute DEGOLEI
VAacuteRIAS GALINhAS PARA
OS MuCcediluLMANOS MAS
NuNCA LhES ACONTECEu
NADA DE RuIMrdquo
O DEGOLADOR ldquoPENSO QuE A gALINhA NAtildeO guARDABOAS RECORDACcedilOtildeES DE MIMrdquo
BEBeacuteS EXPOStOS A FuMACcedilAMOSCAS E Poacute DE CARVAtildeO
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MOCcedilAMBIQuE CARECE DE REgRAS
PARA O tRAtAMENtO E BEM-EStAR DOS ANIMAIS
GALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO SOFREM
MacuteBOA(RONGA) OU MATSAVO(CHANGANA)Ingredientes molinhos de folha de aboacutebora 5camaratildeo seco ou fresco 500gm (eacute necessaacuterio tirar as cabeccedilas no seco)tomate (meacutedios) 2chaacutevenas Farinha de amendoim 3chaacutevenas de aacutegua 3malaguetas 5 (ou piripiri e sal a gosto)
COZINHA MOCcedilAMBICANAPreparaccedilatildeo tiram-se os fios das folhas como se fosse feijatildeo verde lava-se folha por folha em aacutegua corrente corta-se aos bocadinhos natildeo muito finos para um tacho a que se junta a cebola tomate camaratildeo malagueta sal poacute de amendoim e aacutegua deixa-se cozer em fogo lento durante 20 a 25 minutos serve-se com arroz branco ou chima
VENDEDORAS AS gALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO EStAtildeO SuJEItAS A MaacuteS CONDICcedilOtildeES DE tRAtAMENtO
As galinhas vendidas no Mercado do Povo estatildeo sujeitas a maacutes condiccedilotildees de tratamento dadas as pequenas dimensotildees das gaiolas onde elas satildeo expostas para os clientes
As gaiolas tecircm um metro e meio de comprimento e quase 50 centiacutemetros de altura com uma capacidade de al-bergar 30 galinhas mas o nuacutemero dos animais dentro das gaiolas duplicas e agraves vezes triplica a capacidade Isto faz com que as galinhas fiquem umas em cima das outras e natildeo conseguem se mover comer nem beber aacutegualdquoA gaiola tem capacidade para trinta galinhas mas as vezes o nuacutemero ex-cederdquo admite uamusse vendedeira de galinhas O ESTRES Quando natildeo existe espaccedilo suficiente para o animal se movimen-tar e se alimentar desenvolve o es-tres e a desnutriccedilatildeo o que permite que a carne perca proteiacutenasuamusse explica que ela e seus cole-gas adquirem as aves nos criadores e trazem de carro para revenderemEncontramo-la de manhatilde no seu local de trabalho chamando os clientesldquoHaacute casos em que o negoacutecio natildeo corre bem e algumas galinhas adoecem e morremrdquo disse
MOCcedilAMBIQUE SEM REGRAS Noutros paiacuteses como Portugal existem regras que estabelecem as normas miacutenimas de protecccedilatildeo dos animais incluindo os frangos e se considera delito cau-sar dor desnecessaacuteria aos animaisO proprietaacuterio dos animais deve to-mar medidas necessaacuterias para garan-tir o bem-estar deles e evitar que causem danos a pessoas
As normas determinam que nas gaio-las convencionais cada galinha deve dispor de pelo menos 550 cm2 de superfiacutecie de gaiola e as gaiolas de-vem ter uma altura miacutenima de 40 cmEm Moccedilambique natildeo haacute regras que para o tratamento e bem-estar dos animaisLuiacutesa Antoacutenio vende frangos no Mercado desde 1987 Adquire 100 galinhas em forma de empreacutestimo por 130 meticais cada nos aviaacuterios na Matola ou Boane e revende o ani-mal por 140 meticaisldquoQuando o negoacutecio natildeo corre bem
acabo uma semana com as mesmas galinhasrdquo disse Luiacutesa AntoacutenioldquoAs galinhas agraves vezes ficam doentes perdem forccedilas e nos dias em que faz muito calor os animais natildeo aguentam e morremrdquo A GRIPE AVIARIA Luiacutesa Antoacutenio opina que as gaiolas tecircm espaccedilo suficiente para as galinhas ficarem a vontade aleacutem de que a medida que as gaiolas satildeo esvaziadas fica mais espaccediloldquoEm termos de cuidados damos os miacutenimos para elas viverem tecircm aacutegua e raccedilatildeordquo explicouAntoacutenio jaacute ouviu falar da gripe aviaacuteria causada por h5N1 viacuterus hospedado em aves que pode infectar o ser hu-mano No momento a transmissatildeo se daacute das aves para as pessoas e mataldquoA gripe aviaacuteria prejudica a sauacutede causando morte mas aqui no mer-cado acho que ainda natildeo chegou porque muitos de noacutes jaacute teriacuteamos morridordquo disseA vendeira admite que nos dias em que faz muito calor e os animais natildeo
aguentam morremldquoHavia uma regra no Mercado que proibia o abate dos frangos mas a mesma natildeo foi posta em praacutetica du-rante muito tempordquo lembrouOlhando ao redor vecircem-se bacias de aacutegua com sangue com tripas de galinhas e frangos mortos amontoa-dos e gaiolas perfiladas de galinhas sem espaccedilo para se moverem
raquo Aratildeo Nualane
tIRAR A CABECcedilA FORA DA gAIOLA PARA ESCAPAR DO SuFOCO
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FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
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CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
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A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
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ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
DE AVENTAl VERMElhO O DEgOLADOR S ILVA FRANCISCO MuChANgA
reportagem MERCADO DO POVO | 15
RADIOGRAFIAa sauacutede no mercadoO MERCADO DO POVO ENFRENtA SeacuteRIOS PROBLEMAS DE SANEAMENtO APESAR DE EStAR PRoacuteXIMO DO CONSELhO MuNICIPAL RESPONSaacuteVEL PELA gEStAtildeO DOS MERCADOS DE MAPutO
RiscosNo mesmo espaccedilo onde degola-se as galinhas vende-se carvatildeo vegetal e prepara-se saladas Os degoladores de frangos natildeo usam luvas quando metem as matildeos na bacia de sangue e tripas nem separam o lixo usando o uacutenico balde para pocircr tripas sangue e penas Os vendedores de carvatildeo e de frangos e os degoladores passam refeiccedilotildees no local lado a lado com sangue e mos-cas Mesmo cientes dos problemas dizem que natildeo tem alternativas Os responsaacuteveis do mercado conhecem a re-alidade e limitam-se a fazer uma vista grossa A aglomeraccedilatildeo de pessoas animais e lixo poderia facilitar a eclosatildeo de epidemias como a coacutelera malaacuteria e diarreias ou a transmissatildeo raacutepida da gripe aviaacuteria entre as gaiolas de frangos
CarvatildeoO fumo da cozinha e o poacute do carvatildeo vendido agrave mistura pode criar problemas respiratoacuterios irritaccedilatildeo da vista e
da pele Algumas matildees trabalham com bebeacutes no colo a respirar a fumaccedila O uso de fogotildees melhorados poupa carvatildeo e reduz o fumo mas as cozinheiras preferem os fogotildees metaacutelicos porque satildeo raacutepidos e jaacute estatildeo acostumadas a eles As cozinheiras expoem-se a fumaccedila durante 15 horas ou mais por semana Estatildeo cientes dos riscos mas dizem natildeo ter alternativas Outro ganho com os fogotildees melhorados seria a reduccedilatildeo da quantidade de carvatildeo usado o que ajudaria a controlar a desflorestaccedilatildeo CaosNos dias chuvosos o cenaacuterio eacute dramaacutetico chove tanto dentro do mercado como fora A lama e o sangue agrave mis-tura tornam o local improacuteprio para se estar O espaccedilo eacute apertado para todas agravequelas actividades As cozinheiras preparam saladas lavam o tomate e pilam o alho no mesmo espaccedilo partilhado pelos degoladores e vendedeiras de carvatildeo Quem passa do local pela primeira vez sente arrepios mas para os vendedores o ambiente eacute normal uma coisa eacute certa faccedila chuva ou sol haacute gente que trabalha e estaacute de bom humor
raquo Antoacutenio uqueio
O Mercado do Povo eacute uma plataforma de contrastes so-ciais e luta pela sobrevivecircncia No seu trabalho ndash dego-lar depenar e vender galinhas Silva Francisco Muchanga orgulha-se de tratar cerca de 150 frangos por dia Natildeo conhece o nome da sua profissatildeo mas aceita que o cha-memos ldquoo degoladorrdquo
Na cidade de Maputo com altos iacutendices de desemprego o jovem contorna a desonestidade realizando uma activi-dade humilde mas digna
Muchanga realiza-a de forma estrateacutegica a fim de atrair os clientes agrave sua banca ldquoO uacutenico desafio eacute ter de acor-dar muito cedo todos os dias chego agraves seis e saio agraves 17 horas do mercado Natildeo trabalho aos domingosrdquo
ldquoDepenar galinhas eacute como se fosse ioga Eacute uma terapia que me relaxardquo disse
Ele tem outras ambiccedilotildees ser professor de liacutengua portu-guesa e ingressar no ensino superior para cursar filosofia ou psicologia
Por isso ainda que os 2500 meticais mensais que ganha natildeo sejam suficientes Silva considera que estaacute em mel-hores condiccedilotildees ldquoAqui eu recebo todo o meu dinheiro de uma soacute vez e natildeo em parcelasrdquo
As vendedeiras de comida compram as tripas por um met-ical e cinquenta centavos por unidade No entanto quan-do os meninos da rua lhe pedem agraves vezes ele daacute-lhas
VENDEDORES COZINhEIRAS E DEgOLADORESLADO A LADO COM SANguE E MOSCAS
ldquoPosso exercer uma actividade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguemrdquo afirma o degolador O fervor com que Silva se envolve para matar galinhas eacute iacutempar O que o marca nessa relaccedilatildeo com a ave ldquoPenso que a galinha natildeo guarda boas recordaccedilotildees de mim Mas eu tenho boas lembranccedilas dela porque me tem dado o patildeo de cada diardquo
Aprecia o futebol e em Moccedilambique eacute adepto do Clube de Desportos da Costa do Sol Na Europa o Sport Lisboa e Benfica eacute solteiro e natildeo tem filhos
ldquoTodas as pessoas acham que posso exercer uma activi-dade humilde desde que natildeo roube Natildeo eacute possiacutevel que as pessoas me xinguem porque eu chego a ser muito melhor que os desempregadosrdquo
raquo Inocecircncio Albino
ldquoVOu-LhE CONFIDENCIAR
uM FACTO jAacute DEGOLEI
VAacuteRIAS GALINhAS PARA
OS MuCcediluLMANOS MAS
NuNCA LhES ACONTECEu
NADA DE RuIMrdquo
O DEGOLADOR ldquoPENSO QuE A gALINhA NAtildeO guARDABOAS RECORDACcedilOtildeES DE MIMrdquo
BEBeacuteS EXPOStOS A FuMACcedilAMOSCAS E Poacute DE CARVAtildeO
16 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 17
MOCcedilAMBIQuE CARECE DE REgRAS
PARA O tRAtAMENtO E BEM-EStAR DOS ANIMAIS
GALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO SOFREM
MacuteBOA(RONGA) OU MATSAVO(CHANGANA)Ingredientes molinhos de folha de aboacutebora 5camaratildeo seco ou fresco 500gm (eacute necessaacuterio tirar as cabeccedilas no seco)tomate (meacutedios) 2chaacutevenas Farinha de amendoim 3chaacutevenas de aacutegua 3malaguetas 5 (ou piripiri e sal a gosto)
COZINHA MOCcedilAMBICANAPreparaccedilatildeo tiram-se os fios das folhas como se fosse feijatildeo verde lava-se folha por folha em aacutegua corrente corta-se aos bocadinhos natildeo muito finos para um tacho a que se junta a cebola tomate camaratildeo malagueta sal poacute de amendoim e aacutegua deixa-se cozer em fogo lento durante 20 a 25 minutos serve-se com arroz branco ou chima
VENDEDORAS AS gALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO EStAtildeO SuJEItAS A MaacuteS CONDICcedilOtildeES DE tRAtAMENtO
As galinhas vendidas no Mercado do Povo estatildeo sujeitas a maacutes condiccedilotildees de tratamento dadas as pequenas dimensotildees das gaiolas onde elas satildeo expostas para os clientes
As gaiolas tecircm um metro e meio de comprimento e quase 50 centiacutemetros de altura com uma capacidade de al-bergar 30 galinhas mas o nuacutemero dos animais dentro das gaiolas duplicas e agraves vezes triplica a capacidade Isto faz com que as galinhas fiquem umas em cima das outras e natildeo conseguem se mover comer nem beber aacutegualdquoA gaiola tem capacidade para trinta galinhas mas as vezes o nuacutemero ex-cederdquo admite uamusse vendedeira de galinhas O ESTRES Quando natildeo existe espaccedilo suficiente para o animal se movimen-tar e se alimentar desenvolve o es-tres e a desnutriccedilatildeo o que permite que a carne perca proteiacutenasuamusse explica que ela e seus cole-gas adquirem as aves nos criadores e trazem de carro para revenderemEncontramo-la de manhatilde no seu local de trabalho chamando os clientesldquoHaacute casos em que o negoacutecio natildeo corre bem e algumas galinhas adoecem e morremrdquo disse
MOCcedilAMBIQUE SEM REGRAS Noutros paiacuteses como Portugal existem regras que estabelecem as normas miacutenimas de protecccedilatildeo dos animais incluindo os frangos e se considera delito cau-sar dor desnecessaacuteria aos animaisO proprietaacuterio dos animais deve to-mar medidas necessaacuterias para garan-tir o bem-estar deles e evitar que causem danos a pessoas
As normas determinam que nas gaio-las convencionais cada galinha deve dispor de pelo menos 550 cm2 de superfiacutecie de gaiola e as gaiolas de-vem ter uma altura miacutenima de 40 cmEm Moccedilambique natildeo haacute regras que para o tratamento e bem-estar dos animaisLuiacutesa Antoacutenio vende frangos no Mercado desde 1987 Adquire 100 galinhas em forma de empreacutestimo por 130 meticais cada nos aviaacuterios na Matola ou Boane e revende o ani-mal por 140 meticaisldquoQuando o negoacutecio natildeo corre bem
acabo uma semana com as mesmas galinhasrdquo disse Luiacutesa AntoacutenioldquoAs galinhas agraves vezes ficam doentes perdem forccedilas e nos dias em que faz muito calor os animais natildeo aguentam e morremrdquo A GRIPE AVIARIA Luiacutesa Antoacutenio opina que as gaiolas tecircm espaccedilo suficiente para as galinhas ficarem a vontade aleacutem de que a medida que as gaiolas satildeo esvaziadas fica mais espaccediloldquoEm termos de cuidados damos os miacutenimos para elas viverem tecircm aacutegua e raccedilatildeordquo explicouAntoacutenio jaacute ouviu falar da gripe aviaacuteria causada por h5N1 viacuterus hospedado em aves que pode infectar o ser hu-mano No momento a transmissatildeo se daacute das aves para as pessoas e mataldquoA gripe aviaacuteria prejudica a sauacutede causando morte mas aqui no mer-cado acho que ainda natildeo chegou porque muitos de noacutes jaacute teriacuteamos morridordquo disseA vendeira admite que nos dias em que faz muito calor e os animais natildeo
aguentam morremldquoHavia uma regra no Mercado que proibia o abate dos frangos mas a mesma natildeo foi posta em praacutetica du-rante muito tempordquo lembrouOlhando ao redor vecircem-se bacias de aacutegua com sangue com tripas de galinhas e frangos mortos amontoa-dos e gaiolas perfiladas de galinhas sem espaccedilo para se moverem
raquo Aratildeo Nualane
tIRAR A CABECcedilA FORA DA gAIOLA PARA ESCAPAR DO SuFOCO
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FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
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CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
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A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
28 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 29
ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
BEBeacuteS EXPOStOS A FuMACcedilAMOSCAS E Poacute DE CARVAtildeO
16 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 17
MOCcedilAMBIQuE CARECE DE REgRAS
PARA O tRAtAMENtO E BEM-EStAR DOS ANIMAIS
GALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO SOFREM
MacuteBOA(RONGA) OU MATSAVO(CHANGANA)Ingredientes molinhos de folha de aboacutebora 5camaratildeo seco ou fresco 500gm (eacute necessaacuterio tirar as cabeccedilas no seco)tomate (meacutedios) 2chaacutevenas Farinha de amendoim 3chaacutevenas de aacutegua 3malaguetas 5 (ou piripiri e sal a gosto)
COZINHA MOCcedilAMBICANAPreparaccedilatildeo tiram-se os fios das folhas como se fosse feijatildeo verde lava-se folha por folha em aacutegua corrente corta-se aos bocadinhos natildeo muito finos para um tacho a que se junta a cebola tomate camaratildeo malagueta sal poacute de amendoim e aacutegua deixa-se cozer em fogo lento durante 20 a 25 minutos serve-se com arroz branco ou chima
VENDEDORAS AS gALINhAS VENDIDAS NO MERCADO DO POVO EStAtildeO SuJEItAS A MaacuteS CONDICcedilOtildeES DE tRAtAMENtO
As galinhas vendidas no Mercado do Povo estatildeo sujeitas a maacutes condiccedilotildees de tratamento dadas as pequenas dimensotildees das gaiolas onde elas satildeo expostas para os clientes
As gaiolas tecircm um metro e meio de comprimento e quase 50 centiacutemetros de altura com uma capacidade de al-bergar 30 galinhas mas o nuacutemero dos animais dentro das gaiolas duplicas e agraves vezes triplica a capacidade Isto faz com que as galinhas fiquem umas em cima das outras e natildeo conseguem se mover comer nem beber aacutegualdquoA gaiola tem capacidade para trinta galinhas mas as vezes o nuacutemero ex-cederdquo admite uamusse vendedeira de galinhas O ESTRES Quando natildeo existe espaccedilo suficiente para o animal se movimen-tar e se alimentar desenvolve o es-tres e a desnutriccedilatildeo o que permite que a carne perca proteiacutenasuamusse explica que ela e seus cole-gas adquirem as aves nos criadores e trazem de carro para revenderemEncontramo-la de manhatilde no seu local de trabalho chamando os clientesldquoHaacute casos em que o negoacutecio natildeo corre bem e algumas galinhas adoecem e morremrdquo disse
MOCcedilAMBIQUE SEM REGRAS Noutros paiacuteses como Portugal existem regras que estabelecem as normas miacutenimas de protecccedilatildeo dos animais incluindo os frangos e se considera delito cau-sar dor desnecessaacuteria aos animaisO proprietaacuterio dos animais deve to-mar medidas necessaacuterias para garan-tir o bem-estar deles e evitar que causem danos a pessoas
As normas determinam que nas gaio-las convencionais cada galinha deve dispor de pelo menos 550 cm2 de superfiacutecie de gaiola e as gaiolas de-vem ter uma altura miacutenima de 40 cmEm Moccedilambique natildeo haacute regras que para o tratamento e bem-estar dos animaisLuiacutesa Antoacutenio vende frangos no Mercado desde 1987 Adquire 100 galinhas em forma de empreacutestimo por 130 meticais cada nos aviaacuterios na Matola ou Boane e revende o ani-mal por 140 meticaisldquoQuando o negoacutecio natildeo corre bem
acabo uma semana com as mesmas galinhasrdquo disse Luiacutesa AntoacutenioldquoAs galinhas agraves vezes ficam doentes perdem forccedilas e nos dias em que faz muito calor os animais natildeo aguentam e morremrdquo A GRIPE AVIARIA Luiacutesa Antoacutenio opina que as gaiolas tecircm espaccedilo suficiente para as galinhas ficarem a vontade aleacutem de que a medida que as gaiolas satildeo esvaziadas fica mais espaccediloldquoEm termos de cuidados damos os miacutenimos para elas viverem tecircm aacutegua e raccedilatildeordquo explicouAntoacutenio jaacute ouviu falar da gripe aviaacuteria causada por h5N1 viacuterus hospedado em aves que pode infectar o ser hu-mano No momento a transmissatildeo se daacute das aves para as pessoas e mataldquoA gripe aviaacuteria prejudica a sauacutede causando morte mas aqui no mer-cado acho que ainda natildeo chegou porque muitos de noacutes jaacute teriacuteamos morridordquo disseA vendeira admite que nos dias em que faz muito calor e os animais natildeo
aguentam morremldquoHavia uma regra no Mercado que proibia o abate dos frangos mas a mesma natildeo foi posta em praacutetica du-rante muito tempordquo lembrouOlhando ao redor vecircem-se bacias de aacutegua com sangue com tripas de galinhas e frangos mortos amontoa-dos e gaiolas perfiladas de galinhas sem espaccedilo para se moverem
raquo Aratildeo Nualane
tIRAR A CABECcedilA FORA DA gAIOLA PARA ESCAPAR DO SuFOCO
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FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
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CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
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A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
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ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
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18 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 19
FRuTA Eacute SAuacuteDEDieta pobre em micronutrientes resulta em raquitismo e anemia
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cui-dados de sauacutede Duas de cada dez crianccedilas tecircm baixo peso As crianccedilas das zonas rurais tecircm duas vezes mais baixo peso que nas zonas urbanasAs deficiecircncias de micronutrientes especialmente a falta de iodo ferro e de vitamina A satildeo frequentes A deficiecircncia da vitamina A que afecta duas de cada trecircs crianccedilas menores de cinco anos de idade e 11 por cento das matildees enfraquece a imunidade contra as infecccedilotildees
Propriedades das frutasTangerina Fonte de vitamina A e CMaccedilatilde Fonte de vitamina A e fibra soluacutevel que ajuda o tracircnsito intestinallaranja Fonte de vitamina A e vitamina CPera Rica em ferroBanana Fonte de potaacutessiolimatildeo Rica em vitamina C Ameixa-preta Fonte de fibraMelatildeo Fonte de vitamina A vitamina C e potaacutessioMelancia Fonte de vitamina A fibra e eacute diureacuteticaUvas Fonte de vitamina A vitamina B e vitamina CManga Rica em vitamina AMorango Rica em vitamina C
OS PROBLEMASDE SER COMERCIANTEO Mercado do Povo localizado no coraccedilatildeo da cidade de Maputo sente os reflexos da expansatildeo do comeacutercio informal
Quando haacute alguns anos os pontos de venda eram fixos hoje a realidade se inverteu todo tipo de produtos se encontram disponiacuteveis em qualquer esquina da cidade uns partilham o passeio com os peotildees e outros com veiacuteculos nas estradas
Este cenaacuterio representa uma concor-recircncia desleal aos vendedores que se encontram fixos nos mercados e pa-gam impostos ao Conselho MunicipalldquoHoje os nossos negoacutecios natildeo correm como antes Mensalmente pagamos
Em Moccedilambique mais de 44 por cento das crianccedilas abaixo dos cinco anos satildeo raquiacuteticas devido agrave inadequada dieta e fracos cuidados de sauacutede
A DEFIC IecircNCIA DE FERRO Ou ANEMIA AFECtA 70 POR CENtO DAS CRIANCcedilAS AS CRIANCcedilAS ANeacuteMICAS CRESCEM MAIS LENtAMENtE SAtildeO APaacutetICAS E NAtildeO tecircM ENERgIA
taxa ao municiacutepio mais eles fazem o seu negoacutecio na maior tranquilidaderdquo lamenta Ameacutelia Josina vendedeira do Mercado do Povo
Alfredo Sitoe vendedor de frutas e legumes neste mercado desde 1980 olha para o nascimento de supermer-cados e lojas como sendo a real con-correcircncia
Inverno compromete negoacutecio de frutasChega o inverno e nem todos os vendedores o recebem com agrado Para Alfredo Sitoe o inverno eacute um periacuteodo criacutetico no negoacutecio Neste periacuteodo poucas pessoas se interes-sam em consumir frutas
ldquoFrutas natildeo resistem muito tempo Tenho laranjas compradas haacute uma semana e porque jaacute natildeo se encontram em bom estado devo vende-las a um preccedilo promocional Ontem mesmo tive que levar algumas aos meus filhosrdquo diz Sitoe que tem em sua banca frutas na sua maioria sul-africana
Frutas sul-africanas invadem MaputoSitoe explica que a preferecircncia dos clientes e a maacute conservaccedilatildeo de al-guns produtos nacionais o levam a optar pelo produto sul-africanos
ldquoAs laranjas sul-africanas satildeo mais doces As bananas nacionais excep-to as da Bananalacircndia satildeo arranca-das ainda muito verdes e enterradas Acende-se uma fogueira por cima para que o processo de amadurecimento seja raacutepido Logicamente natildeo teratildeo um sabor agradaacutevelrdquo explica Sitoe
Ameacutelia Josina diz recorrer ao mercado vizinho pela escassez de algumas fru-tas ldquoNatildeo existe nenhuma aacutervore de maccedilatilde em Moccedilambique e ela eacute muito consumidardquo
Os dois adquirem seus produtos nos mercados Malanga e grossista do Zimpeto em Maputo
ldquoNo inverno poucas pessoas se interessam em consumir frutasrdquo
raquo Claacuteudia Muguande
AS LARANjAS
SuL-AFRICANAS
SatildeO MAIS
PROCuRADAS QuE
AS NACIONAIS
CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
20 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 21
CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
22 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 23
COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
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DO
ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
26 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 27
A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
28 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 29
ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
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CADA FOGAtildeO CONtRIBuI PARA A DESFLOREStACcedilAtildeO ACELERADA DE MOCcedilAMBIQuE
O CARVAtildeO SUSTENTA MUITAS FAMIacutelIAS DA PRODuCcedilAtildeO AO tRANSPORtE E COMeacuteRCIO
20 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 21
CARVOEIROS E LENhADORES
DESTROEM AS FlORESTAS QuASE 22030000 M3 DE MADEIRAS FORAM uSADOS PARA PRODuZIR CARVAtildeO VEgEtAL O QuE REPRESENtA A PRINCIPAL RAZAtildeO DE REDuCcedilAtildeO DAS FLOREStAS
PERDIDASDos 401 milhotildees de hectares de florestas que Moccedilambique possui cada ano perdem-se 219 mil hectares devido a desflorestaccedilatildeo Entre as causas principais figuram o corte ilegal das aacutervores para venda de madeira e a acccedilatildeo descontrolada dos carvoeiros e lenhadores segundo a Direcccedilatildeo Nacional de terras e Florestas
SEM ElECTRICIDADEDos 22 milhotildees de moccedilambicanos dois de cada trecircs vivem nas zonas rurais e dependem dos recursos florestais para a sua subsistecircncia Menos de 10 por cento da populaccedilatildeo tecircm acesso agrave electricidade O resto usa lenha carvatildeo petroacuteleo e gaacutes
ENERGIAA colecta de lenha e a produccedilatildeo de carvatildeo vegetal para cozinha e aquecimento representa 85 por cento do consumo total de energia no paiacutes Estima-se que 17 milhotildees de m3 de biomassa sejam consumidos por ano segundo o Levantamento Preliminar da Problemaacutetica das Florestas da ONg Justiccedila Ambiental
AJUDASoacute em 2005 quase 22030000 m3 de madeiras foram usados para produzir carvatildeo vegetal o que representa a principal razatildeo de reduccedilatildeo das florestas Difundir nos mercados o uso de fogotildees melhorados que poupam carvatildeo contribuiria para reduzir a desflorestaccedilatildeo
raquo Antoacutenio uqueio
AS FLORESTASLITERALMENTECOZINHADASVendedores de alimentos gastam em Maputo 32 milhotildees de doacutelares em carvatildeo por ano Estima-se que nos mercados municipais existam pelo menos dois mil vendedores de alimentos e que cada vendedor gaste em meacutedia 3900 meticais (135 doacutelares) mensais na compra de combustiacutevel Este cenaacuterio representa um gasto de 32 milhotildees de doacutelares por ano na compra do carvatildeoEm Maputo mais de 70 da populaccedilatildeo utiliza carvatildeo para cozinhar Somente em 2011 foram consumidos 3 milhotildees de sacos de carvatildeo na cidade No paiacutes contabilizaram-se mais de 15 milhotildees Com os preccedilos do carvatildeo a aumentar torna-se evidente a oportunidade da
venda de produtos que venham a substituir os tradicionais fogotildees de carvatildeo assim como de alternativas ao proacuteprio carvatildeo
O Conselho Municipal da Cidade de Maputo FuNAE (Fundo Nacional de Energia) e a SNV Moccedilambique estatildeo a trabalhar juntos para desenvolver soluccedilotildees de energia eficientes e alternativas para cozinha Espera-se que novos modelos de fogotildees eficientes sejam produzidos em Moccedilambique e vendidos para atender agrave demanda nacional
Agora as questotildees que se colocam satildeo raquo O que falta para que as empresas nacionais entrem no mercado das energias alternativas para cozinha raquo Que entraves existem agrave substituiccedilatildeo gradual do carvatildeo vegetal por gaacutes briquetes ou etanol raquo E por quanto tempo mais a populaccedilatildeo vai aceitar pagar mais de 30 doacutelares por um saco de carvatildeo
quando haacute dois anos o mesmo custava 8 doacutelares
Recentemente foi realizado em Maputo um estudo sobre introduccedilatildeo de energias limpas nos mercados municipais O estudo oferece uma perspectiva actualizada sobre o consumo de carvatildeo vegetal dos vendedores informais de comida principalmente nos mercados municipais A equipa analisa receptividade dos vendedores de alimentos agraves alternativas ao carvatildeo e cobriu 32 dos 40 mercados municipais bem como 430 comerciantes de alimentos Este texto e o estudo satildeo de autoria de Federico Vignati
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
22 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 23
COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
EMEN
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ERCA
DO
ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
26 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 27
A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
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ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
NA COZINhATAMBEacuteM HAacute UM TOQUE DE BELEZA
COMIDAS RaacutePIDAS SABOROSAS E BARAtAS NA BAIXA DA CAPItAL
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COMIDA A VALEA culinaacuteria estaacute presente no
Mercado do Povo onde clientes que labutam perto passam o mata-bicho e o almoccedilo Aqui eacute possiacutevel comer durante semanas e ser registado num caderno para pagar no final do mecircs
Conversamos com alguns clientes nas barracas das comidas Fernando Veloso aparenta ter 38 anos de idade almoccedila no Mercado de vez em quando porque fica proacuteximo do seu serviccedilo ldquoNatildeo tenho razotildees de queixa quanto ao atendimento e a comida que eacute saborosardquo
Veloso disse que os preccedilos compensam ldquoRepara que paguei apenas 50 meticais e tenho a certeza que se fosse noutro siacutetio diferente e com tratamento de luxo despenderia talvez o dobro Agora tenho duacutevidas sobre a higiene do local e das serventesrdquo
Lourindo Luiacutes Jackson eacute a primeira vez que almoccedila no Mercado ldquoSaiacute muito cedo de casa e natildeo deu tempo de levar a marmitardquo explica ldquoSempre ouvia os meus colegas a falarem bem da comida e tem a possibilidade de fazer diacutevidas e pagar no fim do mecircsrdquo
Ele pagou 80 meticais por um prato de carne de vaca xima e salada ldquoO preccedilo eacute razoaacutevelrdquo disse Jackson
tendo em conta que o saco de carvatildeo custa 900 meticais mais o salaacuterio das cozinheiras
Pelo mata-bicho de peixe carapau batata salada e uma chaacutevena de chaacute Adriano Malambe jovem natural de Inhambane residente em Maputo desembolsou cem meticais Com os 100 meticais podia fazer um mata-bicho com mais qualidade e para mais de quatro pessoas em casardquo disse
Natildeo se arrepende por ter mata-bichado no mercado lamentando apenas a falta de controlo de qualidade das comidas pelos serviccedilos de sauacutede ldquouma vez que podem fazer para grandes hoteacuteis tambeacutem deviam fazecirc-lo em locais como mercadosrdquoE acrescenta ldquoAs vendedeiras de comida devem procurar manter a flexibilidade e o atendimento condigno para os clientes natildeo fugirem porque a concorrecircncia eacute granderdquo
raquo Aratildeo Nualane
O DIA-A-DIA DAS COZINHEIRAS
As 8 horas e trinta na cozinha do Mercado do Povo ningueacutem tem tempo para conversa Lenccedilo na cabeccedila avental e colher de pau em punho cada cozinheira estaacute concentrada
nas panelas O dia-a-dia delas eacute uma verdadeira competiccedilatildeo Cada uma luta para ter a comida pronta ateacute as 12h O trabalho eacute divertido Enquanto preparam alimentos cantam satildeo cacircnticos diversos das festas casamentos e religiosos Conversamos com duas delas
O Mercado virou escolaFulgecircncia Moisecircs 21 anos eacute das cozinheiras Enquanto preparava xima guisado de carne de vaca e outros pratos contava-nos a sua historia Matildee dum bebeacute de oito meses Flugecircncia estaacute no Mercado do Povo haacute cinco meses a convite duma amiga
Durante um mecircs trabalhou como servente e depois passou agrave cozinha O trabalho eacute aacuterduo Considera ser tarefa difiacutecil controlar mais de dez panelas ao mesmo tempo Satildeo cerca de 15
horas semanais na cozinha divididas em trecircs dias de cinco horas cadatrabalha-se em escala Nos dias de folga na cozinha prepara as mesas Os alimentos satildeo preparados em fogotildees metaacutelicos ao carvatildeo Existe o gaacutes mas usam soacute para aquecer alimentos O carvatildeo eacute mais raacutepido
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional Ela vive com seus pais no bairro Luiacutes Cabral O seu marido eacute estudante vive na casa dos pais no bairro Zona Verde
De empregada a patroaValdina Rafael passou de empregada agrave patroa Sem formaccedilatildeo em culinaacuteria Valdina empregou-se no mercado entre 2007 e 2009 tempos depois abriu a sua banca na qual trabalha com duas meninas
Matildee gestora patroa eacute tudo quanto lhe caracteriza todas manhatildes domingo e feriados levanta da cama as 4 horas e as 6 horas jaacute estaacute no Mercado da Malanga para fazer compras Entra na cozinha agraves 8 E enquanto uma das meninas prepara saladas e lume e a outra limpa ela tempera carnes vermelhas e peixe frito
Esta eacute uma rotina diaacuteria que considera ser de sacrifiacutecio para conseguir sobreviver mas gosta do que faz
raquo Antoacutenio uqueio
Seu sonho eacute um dia conseguir dar ao seu filho o que ela natildeo teve a educaccedilatildeo profissional
CONSIDERA SER tAREFA DIF iacuteC IL CONtROLAR MAIS DE DEZ PANELAS AO MESMO tEMPO SAtildeO CERCA DE 15 hORAS SEMANAIS NA COZINhA DIV IDIDAS EM tRecircS DIAS DE CINCO hORAS CADA
EMEN
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ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
26 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 27
A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
28 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 29
ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
ENtRADA DO CORREDOR DA MORtE
reportagem MERCADO DO POVO | 25
CORREDOR DA MORTE raquo por Antoacutenio uqueio
eacute A PRIMEIRA ESQuINA NO MERCADO A ABRIR E A uacuteLt IMA A FEChAR O MERCADO DO POVO FuNCIONA DAS 7hORAS AS 17h 30 MINutOS MAS NO CORREDOR DA MORtE F ICA-SE Ateacute AS 21h ENtRA-SE DO PORtAtildeO NA ESQuINA DAS AVENIDAS KARL MAX E hO ChI MINh
Abuso de aacutelcool preocupaLondon Dry gin Chivas e grant satildeo as marcas mais consumidas pelos jornalistas e funcionaacuterios do Municiacutepio de Maputo que ali entram tentaccedilatildeo Boss Rhino e El Salvador com um teor de 43 de aacutelcool satildeo as mais compradas por jovens que controlam as viaturas dos clientes e bebem na rua
O abuso de aacutelcool entre os jovens eacute um problema que preocupa o Ministeacuterio de Sauacutede Em Maputo alunos da Escola Secundaacuteria Josina Machel e Estrela Vermelha enchem as garrafas de refrigerante com Boss nos mercados e levam as aulasAs autoridades municipais prometeram haacute dez anos banir as barracas que funcionam perto das escolas mas de ateacute caacute os mercados continuam a funcionar e os estudantes a consumir
Cirrose cancro e mortesEm 2010 no distrito de guruegrave proviacutencia de Zambeacutezia morreram oito pessoas por coma alcooacutelico por competir em consumir Rhino Em 2011 na cidade de Maputo dois jovens foram encontrados sem vida no bairro Benfica viacutetimas de intoxicaccedilatildeo pelo consumo excessivo de tentaccedilatildeo O custo do abuso de aacutelcool para o paiacutes eacute enorme entre tratar pacientes de cirrose e cancro de fiacutegado viacutetimas de violecircncia domestica violaccedilatildeo brigas tiros crime e acidentes de viaccedilatildeo Comportamentos de risco influenciados pelo aacutelcool incluem sexo sem proteccedilatildeo contra o hIV e outras doenccedilas sexualmente transmissiacuteveisO alcoolismo acaba sendo um corredor obscuro que pode levar a morte
O Corredor eacute local de venda de comida refrigerantes e bebidas desde as baratas e letais como Rhino tentaccedilatildeo El Salvador Boss Zed ateacute as mais caras como London Dry gin Chivas e grants
Relativamente calmo nas manhatildes em comparaccedilatildeo com o resto do mercado o ambiente intensifica-se na hora do almoccedilohaacute gente que as sete horas da manhatilde passa do local para tomar um duplo de whisky antes do trabalho Os jornalistas os motoristas e os teacutecnicos de som das raacutedios cujas redacccedilotildees estatildeo nas imediaccedilotildees como Agecircncia de Informaccedilatildeo de Moccedilambique e Raacutedio Moccedilambique recorrem ao Corredor da Morte para tirar stress e quiccedilaacute a busca de inspiraccedilatildeo Do resto eacute um espaccedilo para bate papo e acerto de negoacutecios tomando um copo
A FREL IMO PARtIDO NO PODER EM MOCcedilAMBIQuE eacute FAMOSA POR INStALAR CeacuteLuLAS NAS INSt ItuICcedilOtildeES DO EStADO PARA gARANtIR QuE OS FuNCIONaacuteRIOS ADIRAM AO PARtIDO O MESMO ACONtECE EM OutRAS aacuteREAS DE ACtIV IDADE COMO OS MERCADOS
Dificuldades para a oposiccedilatildeoEm periacuteodos de campanha eleitoral as ceacutelulas dificultam o trabalho dos partidos da oposiccedilatildeo com a ajuda da direcccedilatildeo do mercadoLutero Simango director de propaganda eleitoral do Movimento Democraacutetico de Moccedilambique (MDM) nas eleiccedilotildees de 2009 conta as dificuldades enfrentadas ldquoSempre haacute uma resistecircncia aparece o tal dito chefe do mercado a dizer que vocecircs natildeo estatildeo autorizadosrdquoLutero Simango entende que ldquoo mercado eacute um bem comum e todos devem ter acesso independentemente da cor partidaacuteriardquoA situaccedilatildeo vivida nos mercados ldquonatildeo pode ser vista de forma isoladardquo disse Simango ldquoO partido no poder procura controlar o estado violando todas as regras e princiacutepios baacutesicos de um estado de direito democraacuteticordquoNo dia 24 de Novembro de 2013 haveraacute eleiccedilotildees autaacuterquicas em 53 municiacutepios entre eles Maputo
raquo Andreacute Mulungo
SAIBA COMOACTuAMAS CEacuteLuLASDA FRELIMO
No Mercado do Povo a Frelimo tem sete ceacutelulas atraveacutes das quais procura agregar mais membros bem como manter os jaacute existentes ldquoAqui circulam pessoas a procurarem saber se temos ou natildeo cartotildees do partidordquo conta uma vendedeira que natildeo quis ser identificada
ldquoA maioria eacute da Frelimo noacutes que natildeo temos cartotildees somos vistos como inimigos e isoladosrdquo
As ceacutelulas trabalham em paralelo com a organizaccedilatildeo da Juventude Moccedilambicana (OJM) e a Organizaccedilatildeo da Mulher Moccedilambicana (OMM) braccedilos do partido no poder instalados no local Segundo pessoas ligadas ao partido naquele mercado brevemente vai criar-se um nuacutecleo da Frelimo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
26 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 27
A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
28 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 29
ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
CAPuLANA AFRICANA uacuteNICA E COM MuacuteLtIPLAS FuNCcedilOtildeES
ANA EStEVAtildeODIALOGA COM OS TECIDOS
NOVOS ESTIlOS DE ROUPA ChEgAM DA aacuteFRICA OCIDENtAL
26 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 27
A CAPuLANA Forte aliadana Vida damulHer
tornou-se indispensaacutevel na vida de qualquer mulher moccedilambicana e ateacute comeccedila a invadir as roupas masculinas A capulana deixou de ser mais um tecido produzido agrave base de algodatildeo ela tornou-se uacutenica e com muacuteltiplas funccedilotildees
Ela eacute usada para cobrir o corpo de diferentes formas (saia blusa lenccedilo) levar crianccedilas ao colo Com estampas e cores vivas elucida a presenccedila da mulher em seu lar
A capulana jaacute natildeo eacute apenas uma tradiccedilatildeo ela tende a acompanhar a evoluccedilatildeo da moda feminina o que faz com que esta peccedila natildeo falte na bolsa de muitas mulheres
Diversas cerimoacutenias culturais religiosas e fuacutenebres tecircm esta como a peccedila obrigatoacuteria para as mulheres
Quantas jaacute natildeo tiveram que recorrer agrave amiga capulana para se cobrir enxugar as proacuteprias laacutegrimas ou ateacute de terceiros transportar ou proteger os doentes A capulana eacute indispensaacutevel na vida das mulheres moccedilambicanas
haacute mais de 10 anos o costa marfinense Mussa Sidiki decidiu abrir em Moccedilambique um espaccedilo que oferecesse roupa tipicamente africana Assim nasceu a alfaiataria Mussa no Mercado do Povo
A movimentaccedilatildeo eacute garantida Cinco jovens diariamente devem responder aos desejos dos clientes pois o trabalho eacute feito por encomendas Eles garantem que a moda pegou
ldquoA beleza da mulher africana estaacute neste tipo de roupas e natildeo nas europeias Trouxemos o estilo da Costa do Marfim porque Moccedilambique natildeo o conhecia e estaacute a ter uma boa aceitaccedilatildeordquo disse Sarangare Sidiki gerente da loja e irmatildeo do proprietaacuterio
Ele explica que o maior procura tem sido das mulheres pois semanalmente elas querem mudar o look para
casamentos baptizados ou outras cerimoacutenias Para os seus maridos estas mulheres soacute encomendam de vez em quando camisas ou tuacutenicas a moda africana
Os desafios no negoacutecioO vestido mais caro custa 1500 meticais e o mais barato 700 meticais enquanto o modelo mais caro dos fatos custa 2000 meticais
A loja tem modelos e capulanas mas o cliente eacute livre de trazer os seus proacuteprios
Como qualquer outro negoacutecio este tambeacutem sofre prejuiacutezos Logo a entrar os trecircs molhos de roupa na parte superior satildeo encomendas natildeo retiradas
ldquoAchamos melhor trabalhar assim Sabemos que os moccedilambicanos natildeo tecircm dinheirordquo diz Sidiki ldquoQuando passa muito tempo estas roupas satildeo colocadas agrave venda e se o cliente chegar lhe devolvemos o valor que pagou pelas capulanas Achamos que devemos ser compreensivosrdquo
raquo Claudia Muguande
ALFAIATES O GUINEENSE QUE APOIA OS MAMBAS
Chama-se Djallo vive em Moccedilam-bique e eacute da guine Conacri trabalha como alfaiate no Mercado do Povo Faz roupas a moda africana com cap-ulanas moccedilambicanas e da Nigeacuteria As roupas que produz variam entre trecircs mil a quatro mil meticais Fala francecircs que eacute a liacutengua oficial do seu paiacutes de origem Enquanto trabalha houve as notiacutecias do mundo e do seu paiacutes atraveacutes de um radiozito que sintonizado na Raacutedio Internacional Franccedila O mesmo fica pendurado na parede Djallo diz que eacute adepto da selecccedilatildeo de futebol de Moccedilambique os Mambas e que no jogo entre as duas equipas estava divido Mas quando satildeo outras equipas apoia a moccedilambicana
ldquoA distacircncia entre Maputo Moccedilam-bique e Conacri na Guineacute eacute de aproxi-madamente 10600 quiloacutemetrosrdquo
A ARTE DE lIDAR COM TECIDOSAna Estevatildeo Matavele aprendeu a arte de lidar com tecidos maacutequinas de coser e linhas com a sua matildee jaacute
falecida Comeccedilou a profissatildeo de cos-tureira aos 12 anos em Manhiccedila hoje residente em Intaka Maputo Mat-avele 44 anos trabalha como alfaiate no Mercado do Povo haacute dois anosMatavele sai todos os dias de casa as seis horas e abre a sua alfaiataria por volta das nove horas Com ajuda de duas maacutequinas e uma moccedila ao som dos pedais fazem a linha e a agulha produzirem roupas com estilo africa-no Por mecircs paga 1500 meticais para arrendar a barraca e 450 meticais das taxas do Mercado
As clientes trazem as suas capulanas um fatinho custa 700 meticais e uma blusa simples 350 ldquoSe tivesse dinheiro comprava os meus proacuteprios tecidos e fazia a roupa para depois venderrdquo disse MataveleA falta de microcreacutedito impede a peque-nos comerciantes como Matavele ex-pandir seus negoacutecios e ganhar mais dinheiro
ldquoNunca fiz empreacutestimo para aumen-tar o meu negoacutecio mas se surgir uma oportunidade para devolver em prestaccedilotildees natildeo irei desperdiccedilarrdquo diz ldquoSeria uma forma de homenagear a matildee que me ensinou a arterdquo
raquo Aratildeo Nualane
uM FATINhO CuSTA
700 METICAIS E uMA
BLuSA SIMPLES 350
ldquoNuNCA FIZ EMPReacuteStIMO PARA AuMENtAR O MEu NEgoacuteCIO MAS SE SuRgIR uMA OPORtuNIDADE PARA DEVOLVER EM PREStACcedilOtildeES NAtildeO IREI DESPERDICcedilARrdquo
MODAAFRICANA
JOS INA MAChEl eacute A hEROiacuteNA DA AMeacuteLIA JOSINA (DIR) CORtANDO FOLhAS DE FE I JAtildeO NhEMBA
28 | MERCADO DO POVO reportagem reportagem MERCADO DO POVO | 29
ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
IREXAv ho Chi Minh 1174 Maputo Mocambique
+258 21 320 090+258 82 308 5215maputoirexorgmercedessayaguesgmailcom
wwwmercadodopovoinfo
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ldquojAacute ESTIVE NuMA
COLuNA MILITAR
EM BuSCA DE
PRODuTOS PARA
VENDER ASSIM
COMO NuM CARRO
SEM ESCOLTA E
GRACcedilAS A DEuS
NatildeO TIVE O AZAR DE
SER ATACADArdquo
RELATOS DE GUERRA
A guerra natildeo parou as actividades do Mercado
- Ameacutelia Josina vendedeira no Mer-cado desde a independecircncia fala do tempo da guerrahaacute 40 anos que Ameacutelia Josina 66 anos vende hortiacutecolas no Mercado do Povo Durante a guerra civil que durou 16 anos e acabou em 1992 ar-riscava a vida para chegar as mach-ambas em Boane ou Choacutekwegrave e trazer alface e folhas de feijatildeo nhemba
ldquoNatildeo tiacutenhamos alternativa deviacuteamos arriscar por que queriacuteamos ganhar a vidardquo lembra ldquoQuem natildeo tivesse sorte era morto ou sequestradordquo Por causa dos ataques de rebeldes armados na periferia de Maputo era preciso ir com escolta militar ldquoJaacute es-tive numa coluna militar em busca de produtos para vender assim como num carro sem escolta e graccedilas a Deus natildeo tive o azar de ser atacadardquo Encontramo-la sentada na sua banca a cortar folhas de feijatildeo nhemba mui-to usadas na cozinha moccedilambicana enquanto aguarda pelos compradores para as suas maccedilatildes sul-africanas pa-paias limotildees e alface eacute a uacutenica a vender as maccedilatildes no Mer-cado Conta que os homens preferem comprar maccedilatildes aos vendedores da rua e as mulheres no Mercado Na rua explica os homens urinam na via publica e os vendedores colocam as maccedilatildes no chatildeo ldquoAqui no Mercado eacute mais higieacutenico por isso as mulheres nos preferemrdquo raquo Aratildeo Nualane
Como todas as cidades Maputo se fez de invenccedilatildeo e mito A cidade de facto eacute a porta por onde este paiacutes se troca com a modernidade Esta eacute a varanda onde o mundo mais namora com a naccedilatildeo moccedilambicana Por aqui viaja a moccedilambicanidade onde se tece e entretece a multiculturalidade que eacute o nosso proacuteprio lugar de cidadania A cidade foi atravessada por tempos por mundos O passado colonial vive ainda em muitas e tantas vezes belos edifiacutecios Estaacute ainda presente
o tempo da revoluccedilatildeo com suas jaacute descobertas palavras manchando muros e paredes O slogan esboroa-se no tempo envelhece Se eacute que natildeo nasceu jaacute velho
Um simples passeio pela actual Maputo permite ler estes sinais da histoacuteria A cidade eacute recente mas como numa concha as eacutepocas se formam justapondo em camadas Uma outra loacutegica jaacute arrumou o espaccedilo urbano por raccedilas por classes por civilizaccedilotildees Se pretendia espelho de
uma certa Europa como se ali bem ao lado estivesse natildeo o Iacutendico mas o Mediterracircneo
A cidade foi depois desarrumada e rearrumada As vezes na ingeacutenua esperanccedila de aceitar todos se deixar habitar em equidade Assaltada pela ruralidade a cidade resiste Gerida por urgecircncias e os sempre insuficientes fundos a beleza de Maputo acaba por se impor mesmo apoacutes os momentos mais difiacuteceis como foram as uacuteltimas chuvadas de Fevereiro
MAPuTOA CIDADE NA VARANDA DO TEMPOPALAVRAS SEM ASAS POR MIA COUTO
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