mercados, narrativas e ações: as€¦ · empresas sairão mais fortes desta crise. e você, só...
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Mercados, narrativas e ações: as crises passam
por Felipe Paletta & Equipe
As quedas generalizadas no mercado, na maioria
das vezes, possuem um culpado, alguém para
colocar a responsabilidade para justificar que as
cotações despenquem de forma precipitada.
A crise das empresas tecnológicas nos EUA na
virada do século e a crise do subprime em 2008 são
exemplos recentes.
Baixas menos dramáticas também ganham
denominações, como no “Joesley Day” e na “Greve
dos Caminhoneiros” recentemente no Brasil.
Agora, vivemos a crise do coronavírus. De sua
máxima em 23 de janeiro de 2020, o Ibovespa já
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caiu mais de 40% - você deve ter visto em todos
jornais, revistas e websites de notícias.
Quedas diárias, repiques monstruosos e nova
pressão vendedora estimulam impulsos distintos
pelos investidores, de receio e ganância, no
compasso entre possibilidade de baixa mais severa
contra o risco de perder uma retomada do mercado
quando a grande recuperação chegar.
Pode ser um pouco doentio ver o valor de seu
portfólio despencar nestes últimos 15 dias, mas o
século passado mostra que as ações sempre
voltam. E elas voltam, você pode ter certeza.
Durante o último século, ações de grandes
empresas do Brasil, como aquelas pertencentes ao
Ibovespa, obtiveram retornos próximos a 10% por
ano.
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Este valor é superior aos retornos históricos
provocados por títulos “seguros” do governo, que
são indexados à Selic, agora em patamar mínimo e
com trajetória descendente atual diante do
movimento recente dos bancos centrais ao redor do
mundo.
A máxima das ações geralmente é acompanhada
de quedas de valor de 20%, 30% ou 50% - ou ainda
mais. Esteja preparado.
Coronavírus e as perspectivas para as empresas
O desespero atual não ocorre sem fundamento.
Analistas e empresas em todos os setores vêm
cortando suas projeções de vendas e de lucros
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empresariais para 2020 pela não previsibilidade de
quão severa pode ser a parada do coronavírus.
As empresas mais afetadas têm sido as
companhias aéreas, de entretenimento e de
viagens, e àquelas relacionadas ao setor de
serviços, pois as pessoas estão receosas de saírem
diante da proliferação de um contágio letal.
Indústrias que importam matéria-prima da China
vivem severas interrupções em suas cadeias
produtivas. Grandes empresas, como Nike,
Starbucks e Coca-Cola, atualmente lutam contra a
demanda reduzida de consumidores, milhões em
quarentena que não vão tomar refrigerante ou café,
tampouco comprar um novo par de tênis.
Os piores cenários em relação ao impacto potencial
deste vírus mortal permitem comparação com a
Gripe Espanhola de 1918, que matou 50 milhões de
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pessoas ao redor do mundo em um período que
somente havia 1,5 bilhão de pessoas no planeta.
Com a população atual beirando 7,7 milhões de
pessoas, uma taxa de mortalidade da mesma
magnitude equivaleria ao desaparecimento de 250
milhões de pessoas – o que, com certeza, não vai
acontecer.
Dividendos geram riqueza
Se você está somente começando no mercado
acionário, ou tenta remontar seu portfólio para fugir
do efeito do coronavírus, a sabedoria de Warren
Buffett pode ser um ponto de reflexão durante
episódios de pânico como este atual.
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Buffett gosta de companhias com baixos níveis de
dívida e que negociam com bons valuations em
relação à taxa de expansão de seus lucros.
Buffett também é um grande fã de dividendos e,
diante desta correção atual, a terceira pessoa mais
rica do mundo estava somente na maior rede de
televisão dos EUA afirmando que o S&P 500 –
índice com as 500 maiores empresas norte-
americanas, com um dividend yield de 1,9%,
oferece maior retorno potencial do que os
Treasuries de 10 anos, com yield de 1%.
Preciso te lembrar: os títulos pagam somente o
principal no final do prazo de, por exemplo, 5 anos.
Enquanto isso, o valor de mercado de uma ação
pode ser muitas vezes superior a seu investimento
original.
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Para criação de riqueza ao longo de uma vida
inteira, ações têm sido excelentes investimentos,
mas somente para recursos que você não precisa
ter para gastos importantes do dia a dia, tais como
alimentação, aluguéis, plano de saúde ou
mensalidades de escolas. Não espere tocar em
seus investimentos por cinco a sete anos.
Ações pagadoras de dividendos não muito caras e
bom histórico de aceleração na distribuição dos
proventos são um ponto de calmaria em um
mercado repleto de incertezas – como a que
enfrentamos hoje.
Dividendos contribuíram para quase a metade do
retorno do mercado acionário desde 1926 nas
empresas norte-americanas – e, aqui no Brasil, não
é diferente.
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A máquina geradora de riqueza se move em um
ritmo acelerado quando uma companhia, de forma
consistente, aumenta o pagamento de dividendos
ano após ano, mesmo com pragas, guerras, bear
markets, recessões e, agora, coronavírus.
Na maratona dos investimentos, ações de
empresas vencedoras são aquelas que apresentam
aceleração do pagamento de dividendos podem
resultar em níveis excepcionais de renda para sua
aposentadoria.
2030 e a recuperação da economia brasileira
Aqui na Inversa, estamos em constante vigília
desde sábado dia 6 de março, data marcada pela
queda vertiginosa dos preços do petróleo vendido
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pela Arábia Saudita e, paralelamente a isso, ao
agravamento da crise do coronavírus para a
economia real.
Na turbulência, a máxima de Warren Buffett serve
como guia: “só compre um ativo financeiro que você
ficaria feliz em mantê-lo caso o mercado fechasse
por 10 anos”.
O momentum é delicado, a crise é sistemática e
todos estamos atentos aos desdobramentos na
economia real da paralização das atividades
diárias.
No entanto, quando a tempestade passar, as
pessoas voltarem a rotina normal – e vão voltar, e a
normalidade reinar, as empresas estarão mais
preparadas do que nunca.
Processos remotos, gerenciamento de crise,
aprimoramento da comunicação interna: todas as
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empresas sairão mais fortes desta crise. E você, só
precisa investir nas empresas certas.
Em 2030, ao lembrar da crise do coronavírus e com
o Ibovespa tendo multiplicado seu valor, o
sofrimento atual de curto prazo se transformará em
lucros e ganhos.
As ações heroicas de crescimento de dividendos
Na série Income Builder, Felipe Paletta e toda
equipe de análise da Inversa recomenda cinco
ações boas pagadoras de dividendos, capazes de
sobreviver a turbulência de curto prazo e entregar
retornos aos acionistas no longo prazo.
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Itaúsa (ITSA4): O colosso do investidor de renda
A primeira ação é da controladora do Itaú Unibanco
(ITUB4), maior banco privado do Brasil. Seu nome,
Itaúsa (ITSA4).
Para início de conversa, saiba que a Itaúsa é uma
grande holding com participação em diversas
empresas (Itaú Unibanco, Alpargatas, Duratex,
Itautec, NTS e Copagaz – transação ainda
dependente de aprovação pelo Cade (Conselho
Administrativo de Defesa Econômica). No entanto,
o resultado do banco Itaú representa
aproximadamente 90% de seu resultado
consolidado.
Por esta razão, você irá perceber que, ao olhar a
Itaúsa, meu estudo será basicamente focado no
desempenho do Itaú e no setor bancário.
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Se o Itaú Unibanco representa 90% do resultado,
por que eu não recomendo exposição direta ao
banco? Por um simples motivo: as ações da Itaúsa
possuem histórico mais consistente de pagamento
de dividendos. Também acredito que a holding
pode se beneficiar da diversificação de seus outros
negócios no longo prazo.
Desta forma, a primeira coisa que gostaria de
apresentar para justificar minha recomendação é a
solidez na geração de resultados do banco.
Em minha visão, o Itaú Unibanco possui sólidos
pilares, dentre os quais eu destaco: (i) uma boa
condição de funding (captação de recursos), devido
a sua extensa capilaridade no varejo; (ii) uma
robusta geração de receita de intermediação
financeira, composta por spreads saudáveis e
consistentes resultados em tesouraria; e (iii) alta
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flexibilidade via diversificação na geração de receita
(prestação de serviços e seguros).
Como resultado, o banco tem apresentado um
histórico bastante consistente de rentabilidade
(ROE médio de 20% nos últimos 5 anos).
Além desta consistência, minha visão é de que os
bancos estão em um ponto de inflexão. De 2013 a
2015, testemunhava facilmente crescimentos entre
15 a 20% ao ano na carteira de crédito dos bancos,
enquanto os seus spreads também cresciam
desenfreadamente.
A combinação desses dois fatores era suficiente
para gerar robustas margens financeiras (fonte de
receita principal do banco). E mesmo diante do
aumento da competição setorial, com ataque
especial às linhas de serviço do banco, o gigante
Itaú tem se mostrado resiliente, assegurando que
não está parado.
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Banco do Brasil (BBAS3): O mais barato dos Bancões
Fundado em 1808, o Banco do Brasil é, como você
pode ver, a primeira instituição bancária a operar no
país, remontando ao período pré-republicano.
Hoje controlado pela União, que detém o controle
de 52,2% das ações da companhia, com o restante
pulverizado em bolsa, a estatal está presente em
99% dos municípios brasileiros, tendo 22% de
market share em penetração de agências
bancárias.
Como talvez você consiga imaginar, o banco
sempre foi o principal veículo de promoção de
políticas públicas do país, tendo em nossa história,
antes mesmo da concepção do Banco Central e da
CVM, atuado como órgão fundamental para o
funcionamento do mercado financeiro e de capitais
do país.
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Obviamente, desde essa época, muita coisa
mudou, mas a orientação do banco em busca de
geração de valor aos acionistas nunca foi,
efetivamente, uma prioridade. Acredito, inclusive,
que durante os governos petistas isso tenha ficado
mais evidente.
Pode parecer um tanto quanto contraintuitivo
recomendar uma estatal (eu mesmo carrego algum
preconceito quanto à exposição em estatais) mas,
indo direto ao que interessa, de forma bastante
sucinta, a tese por trás da sugestão das ações do
banco se baseia não só em um possível gatilho de
privatização, mas também em virtude do processo
de turnaround que vêm sendo bem executado pelo
banco desde 2017, quando alternou a estratégia e
agressividade em busca de market share em prol de
melhoria de rentabilidade, muito mais alinhado aos
interesses dos acionistas, tanto aqueles que
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investem diretamente via bolsa, quanto dos
investidores indiretos, como todos nós,
contribuintes.
Logo, a minha expectativa é de que vejamos,
paulatinamente, o estreitamento do gap de
precificação que existe entre o Banco do Brasil e as
principais instituições privadas do país, como Itaú
Unibanco, Bradesco e Santander:
Telefônica (VIVT4): Uma verdadeira vaca leiteira!
A Telefônica Brasil, conhecida pela marca Vivo, é a
maior empresa de telecomunicações do país, com
mais de 100 milhões de clientes, oferecendo uma
ampla gama de serviços (voz, banda larga, TV por
assinatura, dados e serviços digitais) tanto para
telefonia móvel quanto para a fixa.
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Em linha com os últimos resultados trimestrais, a
Telefônica – hoje mais conhecida pela marca Vivo
– apresentou resultado excepcional no consolidado
do ano de 2019, realmente fazendo jus ao título de
boa pagadora de dividendos.
Em termos de marca, a Vivo já está bastante
consolidada, possuindo, assim, um bom
posicionamento de mercado (market share de
aproximadamente 32%) e um operacional bastante
saudável, o que se traduz em uma forte geração de
caixa e boa distribuição de proventos – as ações
distribuíram um dividend yield de 6,5% nos últimos
12 meses.
Negociando perto de 5,3x EV/EBITDA (valor da
empresa sobre a aproximação de geração de caixa
operacional), entendo a Vivo como uma grande
oportunidade para aproveitar o ciclo de recuperação
da economia, o próprio desenvolvimento e
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penetração do setor de telecom no Brasil, sendo um
veículo resiliente a momentos de estresse como
esse que vivemos.
Mahle Metal Leve (LEVE3): Exposição ao dólar, com bons dividendos
A Mahle Metal Leve é uma empresa de autopeças,
que atua na fabricação e comercialização de
componentes para motores à combustão interna e
filtros automotores.
De maneira simplificada, a empresa atua em dois
setores: o de peças originais de fábrica (OEM –
Original Equipment Manufacturers), onde os
principais clientes são as montadoras de
automóveis, e o de peças para reposição
(Aftermarket), cujos maiores clientes são as
distribuidoras de autopeças.
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Para que uma ação entre em nossa seleção, você
percebeu que ela tem que cumprir uma série de pré-
requisitos, uma vez que estamos bastante
cautelosos, principalmente neste momento.
Bom, quais são, então, os pontos positivos que eu
enxergo nas ações da Mahle Metal Leve para
justificar a sua inclusão em nossa seleção?
Vamos por partes. Em primeiro lugar, eu estava,
particularmente, em busca de um ativo que poderia
se beneficiar da alta do dólar (defensivo), para que
pudéssemos “proteger” o desempenho de nossa
seleção.
Ao mesmo tempo, queria que o ativo pagasse bons
proventos, para turbinar a geração de renda
passiva, principal foco aqui no Income.
Foi assim que cheguei na Mahle. Aproximadamente
40% de sua receita é exportada para mais de 60
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países, o que possibilita que a empresa se beneficie
do dólar alto, ao mesmo tempo que se beneficia da
progressiva melhora da economia doméstica, ainda
que essa aconteça a passos bastante lentos.
Negociando a 5,6x EV/EBITDA para 2020 e tendo
distribuído o equivalente a 9.6% do seu valor de
mercado em dividendos, nos últimos 12 meses, a
Mahle é uma boa pedida na carteira de todo
investidor de renda.
Taesa (TAEE11): “Renda Fixa” turbinada, uma defesa para o seu portfólio
A Taesa é uma empresa que atua no setor de
energia elétrica, mais especificamente no segmento
de transmissão.
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Diferentemente das geradoras e distribuidoras, as
transmissoras possuem uma geração de receita
previamente estabelecida e ajustada pela inflação.
Portanto, as transmissoras são “blindadas” contra
riscos de consumo e preço de energia,
apresentando assim uma alta previsibilidade em
seu business.
Para você entender um pouco melhor, as
transmissoras são remuneradas através de uma
Receita Anual Permitida (RAP). Ou seja, uma vez
que suas linhas de transmissão já estejam
construídas e em operação, uma transmissora
receberá uma receita fixa no ano, a RAP, 100%
ajustável à inflação.
A Taesa possui mais de 9 mil km de linhas de
transmissão e 2,8 mil km de linhas em construção e
como este é considerado como o maior “gargalo” do
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setor elétrico, a perspectiva de expansão das
transmissoras é bastante favorável.
Para que você tenha uma ideia, os maiores polos
de geração de energia hídrica, solar e eólica se
encontram no Norte e Nordeste do Brasil, enquanto
os principais mercados consumidores de energia
concentram-se nas regiões Sudeste e Sul.
Como as transmissoras são as responsáveis por
conectar estes dois polos (energia gerada pelas
usinas às distribuidoras nas cidades), sua
perspectiva para expansão é bastante saudável.
Este cenário é particularmente benéfico para a
Taesa, que possui uma postura agressiva em
aquisições, seja via leilões ou M&A, e um bom
histórico em agregar valor através destas
operações.
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Por estes motivos, acredito que as ações possuem
uma boa perspectiva futura, além de ser um ativo
defensivo, menos dependente da bolsa.
Nos últimos 5 anos, a empresa distribuiu - em média
- 91,4% de lucro em dividendos e JCP, refletindo-se
em um dividend yield de 6,6% nos últimos 12
meses, muito superior aos 3,75% da Selic.
Um abraço,
Felipe Paletta.
Felipe Paletta: Especialista de investimentos
na Inversa Publicações, com foco em
investimentos que geram renda, ações e
fundos imobiliários. É responsável pelas
séries Income Builder, e Seleção Inversa.
Participa também das séries Fundos Expert e Top Trades e é
autor da newsletter Ideias do Paletta. Graduado em Ciências
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Econômicas pela FAAP, tem Master/Especialização em
Financial Economics pela FGV-EESP. Acumulou experiências
atuando em corretoras de valores e publicadoras de conteúdo
financeiro.
Rua Joaquim Floriano, 960 - 8º andar CEP 04534-004 - Itaim Bibi - São Paulo
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