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Page 1: Miguel Torga Perfil biográfico e literário « Na terra negra da vida, Pousio do desespero, É que o poeta semeia Poemas de confiança. O poeta é uma criança

Miguel Torga

Perfil biográfico e literário

« Na terra negra da vida,« Na terra negra da vida,

Pousio do desespero,Pousio do desespero,

É que o poeta semeiaÉ que o poeta semeia

Poemas de confiança.Poemas de confiança.

O poeta é uma criançaO poeta é uma criança

Que devaneia. »Que devaneia. »

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Perfil biográfico Miguel Torga – pseudónimo de Adolfo Correia da

Rocha. Nasceu em S. Martinho de Anta – Trás-os-Montes

em 1907. Recebeu do pai, pobre caseiro, um carácter rígido

e inflexível, e da mãe, criada de servir, a sensibilidade que o tornará poeta.

Após a instrução primária, ingressa, em 1918, no seminário de Lamego.

Rebelde e ansioso de liberdade, embarca, em 1920, para o Brasil onde teve uma vida difícil até aos 16 anos.

Estudou no colégio do Ribeirão e, a partir de 1925, em Portugal. Completou em três anos o curso liceal e aos 20 foi admitido na Universidade de Coimbra onde iniciou o curso de medicina, que terminou aos 24 anos.

Começou a exercer como médico rural em S.Martinho de Anta. Mais tarde, fixou-se em Coimbra, depois de se ter especializado em otorrinolaringologia.

Entre Dezembro de 1939 e Fevereiro de 1940, esteve preso nas cadeias de Leiria e no Aljube e , embora tivesse pensado abandonar o país não o fez devido ao amor pela terra-mãe.

Morre em Coimbra a 17 de Janeiro de 1995, tendo repartido a sua vida entre a medicina e a escrita.

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Perfil literário Torga situa-se no concreto, revelando uma profunda

ligação ao húmus natal. A sua obra é ele e a natureza, ele e Portugal.

É um lírico que fala de si, se exibe e reabilita Narciso como o homem que se busca numa imagem inteira ; manifesta uma inspiração genesíaca: sexo, cio, sémen, seiva, fecundar…, juntando-lhe o delírio sensual das invocações báquicas: vinho, mosto, cacho.

Torga é simultaneamente o poeta da angústia e o poeta da esperança.

O que há de invulgar em Torga é o facto de ele se apresentar, quer como poeta quer como prosador, como um ser inconfundível, um telúrico padrão e um expoente da Pátria, um artista da língua em que se exprime, um legatário de valores culturais, um receptor atento e um transmissor dos inúmeros problemas do Homem.

A sua poesia apresenta três grandes linhas orientadoras:

- sentimento telúrico; - problemática religiosa; - desespero humanista; - drama da criação poética.

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Sentimento telúrico

Segundo Torga é na terra que a vida acontece e é aí que se deve cumprir. É nela que está a origem da vida e dos tempos. Por isso, a terra surge como um ventre materno e a tarefa do Homem consiste nesse sentido criador, genesíaco.

Assim, o seu telurismo exprime-se no apego à terra, na fidelidade ao povo e na sua consciência de ser português.

Este apego à terra fá-lo evocar o mito de Anteu e declarar: « Vivo a Natureza integrado nela, de tal modo que

chego a sentir-me, em certas ocasiões, pedra, orvalho, flor ou nevoeiro. Nenhum outro espectáculo me dá semelhante plenitude e cria no meu espírito um sentido tão acabado do perfeito e do eterno.»

Diário II

« Sempre que, prestes a sucumbir ao morbo do desalento, toco uma destas fragas, todas as energias perdidas começam de novo a correr-me nas veias. É como se recebesse instantaneamente uma transfusão de seiva.» Diário XI

A escolha do pseudónimo é também indiciadora deste sentimento uma vez que « torga » é uma urze das serranias transmontanas.

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Mito de AnteuMito de Anteu

Anteu é uma figura da mitologia grega e romana, filho da deusa Terra, onde ia buscar forças para derrotar todos quantos se aproximassem da costa líbia. Foi derrotado por Hércules, que, tendo descoberto a origem da sua valentia, o ergueu do chão, durante uma luta, impedindo, deste modo, que este « sugasse »a energia que o alimentava.

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A problemática religiosa

A revolta da inocência humana contra a transcendênciaA revolta da inocência humana contra a transcendência

• Torga parte da sua experiência para interrogar Deus, palavra onde reside a ambiguidade da sua poesia. Torga revolta-se contra Deus, mas não se assume como ateu. A negação surge porque lhe perturba a razão e porque pretende afirmar o Homem.

• A ausência de um Deus mais humano e imanente é o que realmente perturba o poeta. Por isso, prefere questionar a verdade de Deus para afirmar o Homem e a necessidade de este procurar a verdade na terra.

• Por sentir constantemente as provações da vida, própria e alheia, é que Torga entra em conflito interior, causando-lhe o desespero religioso que o leva a um constante monólogo com Deus, palavra que assume como obsessão. Sente que precisa de Deus, mas as suas conclusões racionalistas tornam-no inatingível.

• A descrença e a revolta contra um Deus transcendente reflectem a angústia do poeta que tenta valorizar o Homem e a Terra e, simultaneamente, a revolta da inocência humana contra a divindade transcendente.

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O desespero humanista

O desespero humanista é um dos aspectos mais significativos da temática torguiana. Na sua condição de artista, Torga vive inquieto com a vida humana, a existência, o sentido da morte, a condição terrena. Verdadeiramente humanista, problematiza a criação as limitações do homem, que o existencialismo desenvolverá.

É frequente verificar-se que o desespero dá lugar à esperança, principalmente porque Torga, como poeta, é chamado a gritar a sua solidariedade humanista com todos os que são abandonados, competindo-lhe, a ele, lançar-lhes na alma a chama da esperança. O desespero surge para fazer nascer a esperança.

A revolta e o inconformismo traduzem o desespero humanista torguiano, mas a liberdade e a esperança são valores que articulam o seu humanismo. O humanismo torguiano é um humanismo revolucionário, próprio de um revoltado, de um rebelde, e articula-se em dois valores importantíssimos: a liberdade e a esperança.

É nesta perspectiva que surge o aproveitamento do mito de Orfeu. Aliás, este mito é muito querido a Torga, por retratar a rebeldia de quem não aceita os limites que lhe são impostos.

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Mito de OrfeuMito de Orfeu

Este mito relaciona-se com a descida aos infernos para recuperar Eurídice. Este deus da antiguidade era um excepcional poeta e músico que conseguiu , com o seu canto, obter autorização para ir buscar a sua amada, sob a condição de não olhar para ela enquanto não estivessem fora do reino dos mortos. Orfeu não resistiu e , por isso, esta desapareceu sem que tivessem chegado ao portão. Então, a mágoa de Orfeu era traduzida pelas melodias tristes que este tocava quando passeava pelas florestas.

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O Drama da Criação PoéticaO Drama da Criação Poética

Para Torga, a poesia é um dom inato que compromete o homem integral no Para Torga, a poesia é um dom inato que compromete o homem integral no dever de não trair, pois, ao fazê-lo, pode trair o seu semelhante. Este poeta dever de não trair, pois, ao fazê-lo, pode trair o seu semelhante. Este poeta acredita na literatura, na poesia como emanadoras e reveladoras de uma ordem acredita na literatura, na poesia como emanadoras e reveladoras de uma ordem cósmica que funciona como salvação terrena para o homem que escolheu a cósmica que funciona como salvação terrena para o homem que escolheu a perdição divina. Para ele, o acto poético é indissociável de um certo perdição divina. Para ele, o acto poético é indissociável de um certo comportamento místico que aproxima o homem dessa ordem cósmica em que comportamento místico que aproxima o homem dessa ordem cósmica em que se integra a sua animalidade. se integra a sua animalidade.

É neste contexto que surge o É neste contexto que surge o mito de Sísifo mito de Sísifo que, a nível literário, traduz um que, a nível literário, traduz um trabalho extenuante que exige esforços continuados, um trabalho sem fim que trabalho extenuante que exige esforços continuados, um trabalho sem fim que tão bem serve o dramatismo da criação poética que Torga incute em muitos tão bem serve o dramatismo da criação poética que Torga incute em muitos dos seus textos.dos seus textos.

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Mito de SísifoMito de Sísifo

Sísifo era rei de Corinto. Célebre pela sua astúcia, foi condenado a rolar uma enorme pedra até ao cimo de um monte, a qual, ao aproximar-se do topo, voltava a resvalar e Sísifo era obrigado a recomeçar.

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Avaliação de ConhecimentosUnidade Didáctica – Miguel Torga

Diga se são verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes Diga se são verdadeiras (V) ou falsas (F) as seguintes afirmações:afirmações:

• A poesia de Miguel Torga apresenta três grandes linhas de A poesia de Miguel Torga apresenta três grandes linhas de rumo: o amor idílico, a problemática política e um sentimento rumo: o amor idílico, a problemática política e um sentimento telúrico;telúrico;

• A rede temática torguiana assenta em três vértices: a terra, a A rede temática torguiana assenta em três vértices: a terra, a vida e o homem;vida e o homem;

• A revolta e o inconformismo em Torga são, frequentemente A revolta e o inconformismo em Torga são, frequentemente tradutores de um desespero humanista que resulta de um tradutores de um desespero humanista que resulta de um desespero religioso mais profundo e que o coloca em desespero religioso mais profundo e que o coloca em permanente conflito entre o divino e o terreno;permanente conflito entre o divino e o terreno;

ContinuaContinua

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• Em Torga, a angústia é frequentemente provocada pela Em Torga, a angústia é frequentemente provocada pela ausência de absoluto, pela ausência de Deus ou pela condição ausência de absoluto, pela ausência de Deus ou pela condição humana;humana;

• Na poesia de Torga somos levados ao encontro de um medo Na poesia de Torga somos levados ao encontro de um medo de que a liberdade retire o prazer da vida;de que a liberdade retire o prazer da vida;

• Na poesia torguiana, a apologia de um sentido terreno e Na poesia torguiana, a apologia de um sentido terreno e instintivo de vida é uma forma de rejeição do transcendente;instintivo de vida é uma forma de rejeição do transcendente;

• Em Torga, a presença dos outros não é fundamental para que Em Torga, a presença dos outros não é fundamental para que se atinja a plenitude;se atinja a plenitude;

• Em Torga, a incompreensão, a falta de liberdade ou o Em Torga, a incompreensão, a falta de liberdade ou o isolamento forçado são motivo de fundo ressentimento e de isolamento forçado são motivo de fundo ressentimento e de amargura;amargura;

ContinuaContinua

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• Na poesia torguiana são visíveis influências de figuras míticas Na poesia torguiana são visíveis influências de figuras míticas da antiguidade;da antiguidade;

• Torga não dá qualquer tipo de importância à função do poeta;Torga não dá qualquer tipo de importância à função do poeta;

• Torga é um poeta do mundo rural, das ancestrais forças Torga é um poeta do mundo rural, das ancestrais forças telúricas que animam o homem na sua luta dramática contra as telúricas que animam o homem na sua luta dramática contra as leis que o aprisionam;leis que o aprisionam;

• Adolfo Correia da Rocha escolheu como pseudónimo literário Adolfo Correia da Rocha escolheu como pseudónimo literário Miguel Torga. Miguel como forma de homenagem ao escritor Miguel Torga. Miguel como forma de homenagem ao escritor espanhol Miguel Unamuno e Torga como homenagem à sua espanhol Miguel Unamuno e Torga como homenagem à sua terra natal, Trás-os-Montes, onde cresce o arbusto selvagem terra natal, Trás-os-Montes, onde cresce o arbusto selvagem com este nome.com este nome.

FiFimm

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Acção de Formação « O Computador na « O Computador na Produção e Utilização de Materiais Produção e Utilização de Materiais

Pedagógicos »Pedagógicos »

Trabalho realizado por:Trabalho realizado por:

Soledade SeabraRosário Costa Leite

Idalinda Peralta

Junho / Julho 2004