minicurso - a morte no ensino das ciências da vida (1ª aula)

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Que imagem(ns) você associa à morte? Para você, o que é a morte? Pode haver morte em vida ou vida na morte?

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Page 1: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

Que imagem(ns) você associa à morte?

Para você, o que é a morte?

Pode haver morte em vida ou vida na morte?

Page 2: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

A morte como um aspecto no ensino das Ciências da Vida.

Prof. Mário [email protected]

UNIVERSIDADE FEDERAL DE GOIÁS – UFGIV ENCONTRO NACIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIAII ENCONTRO REGIONAL DE ENSINO DE BIOLOGIA

Page 3: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

A morte é a pornografia do século XX.

(GORER, apud Áries, 1974)

Page 4: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

Sócrates considera que a verdadeira filosofia consiste em preparar-se para a morte, e que a coragem diante da morte é a única virtude

que um dia necessitaremos. (OLIVEIRA, pág. 480)

Filosofar é preparar-se para a morte. (CÍCERO)

Page 5: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

A CULTURA OCIDENTAL DIANTE DA MORTE(Retirado de ‘A cultura da morte e da mortalidade nas

organizações hospitalares’, de Cristiane Curi Abud)

Áries (em ‘A História da Morte no Ocidente’, 1974) realizou um importante estudo cujo

objetivo era descrever historicamente como a cultura ocidental vem lidando com a morte desde os tempos antigos até o século atual.

Page 6: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

Nos tempos antigos havia um sentimento de familiaridade com a morte, sentimento isento de

medo ou desespero. O moribundo aceitava a própria morte como parte de seu Destino, numa

cerimônia pública, cujo ritual era estabelecido pelos costumes. A cerimônia da morte era um evento

banal que a própria pessoa organizava e comandava.

Page 7: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

A morte era a consciência de cada pessoa de seu Destino e não aniquilava sua personalidade, mas a colocava para “dormir”, pressupondo uma crença

na sobrevivência. Essa crença não fazia uma distinção, como fazemos hoje, entre o tempo da

vida e o tempo depois de mortos, e acreditava na coexistência entre vivos e mortos.Essa forma de

morrer significava uma entrega ao próprio destino e uma indiferença ao individualismo.

Page 8: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

Desde a Idade Média, esses costumes foram sutilmente modificando-se. A existência individual passou a ser valorizada e a morte deixou de ser a

aceitação do Destino coletivo, dando lugar à consciência individual, a consciência da morte de si

mesmo.

Page 9: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

Na Era Moderna apesar da aparente continuidade dos rituais, a morte passa a ser desafiada e é retirada do mundo das coisas familiares. Nas

relações familiares a morte se torna uma inaceitável separação. A morte gradualmente assumiu uma

nova forma, mais distante e ao mesmo tempo mais dramática do ponto de vista emocional. O autor

atribui essa mudança ao processo de industrialização.

Page 10: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

No século XX ocorre uma revolução brutal de ideias e sentimentos, e a morte tão familiar no passado passa a ser vergonhosa e proibida. Os familiares tendem a esconder do moribundo

sua real condição o que, segundo Áries é uma forma de proteger não só o moribundo, mas

os próprios parentes e a sociedade da insuportável emoção despertada pela morte.

Page 11: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

Numa sociedade que preza a felicidade, e apenas a felicidade, não há espaço para a dor, o sofrimento, e as perdas. Os rituais funestos não são muito diferentes na sua forma, mas foram esvaziados de seu impacto dramático.

Page 12: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

Entre 1930 e 1950 as pessoas passaram a morrer em hospitais, sozinhas. O hospital, que antes era um abrigo para pobres e peregrinos torna-se um

centro médico onde se trava a luta contra a morte. A pessoa não morre mais de

“mortalidade”, morre porque o médico não foi bem sucedido nessa batalha. Morrer em casa

tornou-se inconveniente e seu ritual desaparece, deixando espaço para um fenômeno técnico

dirigido pela equipe de profissionais.

Page 13: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

As emoções passam a ser evitadas nos hospitais e na sociedade, devendo ser vivenciadas secreta e

privadamente. Os ritos passam a ser conduzidos por profissionais que tratam, o mais rápido possível, de tirar o cadáver das vistas dos parentes, para que esses sejam logo liberados para retornar a sua vida rotineira. As cerimônias devem ser discretas e evitar emoções e as expressões de

luto são motivo de repugnância e não de compaixão. Expressões muito dramáticas são interpretadas como desequilíbrio mental, e não como uma reação natural.

“Luto solitário e vergonha são os únicos recursos, como uma espécie de masturbação” (Ariés, 1974, p.90).

Page 14: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

Citando Geoffrey Gorer, Áries afirma que o tabu sexual vigente até o século XX foi deslocado para o

tabu da morte. Hoje em dia, as crianças são precocemente informadas sobre a fisiologia do

sexo, mas quando alguém morre, vira “uma estrelinha no céu”. Para Gorer, quanto mais

sexualmente liberal a sociedade tornou-se, mais o tabu deslocou-se para a morte. E obviamente, inerente à interdição aparece a transgressão, expressa pela erotização, sadismo e violência.

Page 15: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

O consumo voyerístico da morte tornou-se uma forma de pornografia – uma catástrofe visual que é vista, mas não é sentida, é emocionalmente vazia.

Quando a morte real chega a nossas vidas, procuramos ‘profissionais’ que façam o trabalho

duro por nós. Para Gorer essa fascinação voyerística com imagens da morte continuará até que tenhamos uma relação natural com a morte.

Page 16: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

Para Áries a causa da interdição do tabu da morte é a obrigação de felicidade vigente em nossa cultura. Assim, a morte deve ser apagada, não encontrando

formas de expressão em nossa sociedade. As pessoas não se consideram mortais e a morte passa

a ser uma decisão do médico e dos familiares. Passa a ser ilusoriamente controlável. Torna-se algo da ordem do inominável e, portanto muito difícil de

ser psiquicamente representado e elaborado.

Page 17: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

AS CONCEPÇÕES SOBRE A MORTE(NICOLLI & MORTIMER. Uma proposta de perfil conceitual para o conceito

de morte: o que nos dizem os alunos de ciências biológicas.)

1. Naturalista: A morte é entendida como sendo um fenômeno orgânico, inerente à vida.

2. Religiosa: A morte apresentasse como resultado da ‘vontade divina’ e indica o fim da vida terrena e início da vida eterna.

3. Relacional: Ligada aos aspectos referentes a história, lembranças, ou ainda, à ocultação da morte e à sua não aceitação.

Page 18: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

O DESENVOLVIMENTO HUMANO

Nascimento / O bebê (confiança)

1ª Infância (autonomia e

iniciativa)

2ª Infância (produtividade)Adolescência (identidade)

Page 19: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

A ESCOLA DEVERIA TRATAR DA MORTE?E NO ENSINO DE CIÊNCIAS E BIOLOGIA, HÁ

ESPAÇO PARA A MORTE?

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Page 20: Minicurso - A Morte no ensino das Ciências da Vida (1ª aula)

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA:ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução á filosofia. 2ª Ed. São Paulo: Ed. Moderna, 2003.CHAUÍ, M. Iniciação à Filosofia: Ensino Médio. Vol. Único. São Paulo: Ed. Ática, 2010.COELHO, F. J. F. & FALCÃO, E. B. M. Ensino científico e representações sociais de morte humana. Revista Ibero-americana de Educación. 39 (3), 2006, pag. 01-13.ESSLINGER, I. & KOVÁCS, M. J. Adolescência: vida ou morte? São Paulo: Editora Ática, 2006.FRANCO, M. H. P. et al. Vida e morte: laços da existência. 2ª Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2011.KOVÁCS, M. J. (coord.) Morte e desenvolvimento humano. 5ª Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2010.KOVÁCS, M. J. Educação para a morte: desafios na formação dos profissionais de saúde e educação. 2ª Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012.KOVÁCS, M. J. Educação para a morte: temas e reflexões. 2ª Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2012.KOVÁCS, M. J. (coord.) Morte e existência humana: caminhos de cuidados e possibilidades de intervenção. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.NICOLLI, A. A. & MORTIMER, E. F. Uma proposta de perfil conceitual para o conceito de morte: o que nos dizem os alunos de ciências biológicas. Atas do III ENEBIO & IV EREBIO-Reg 5. Revista da SBEnBio, 2010, pag. 1100-1110.RODRIGUEZ, C. F. O que os jovens têm a dizer sobre a adolescência e o tema da morte? Dissertação de mestrado em Psicologia. Universidade de São Paulo, 2005.SCHRAMM, F. R. Morte e finitude em nossa sociedade: implicações no ensino dos cuidados paliativos. Revista Brasileira de Cancerologia, 48 (1), 2002, pag. 17-20.