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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO
7ª Promotoria de Justiça Cível da Serra
Avenida Getúlio Vargas, 295, Tel.3291.1100, Centro, Serra/ES. www.mpes.gov.br.
EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DE MEIO AMBIENTE DA COMARCA
DE SERRA – ES.
Inquérito Civil MPES – Nº 2015.0010.3130-91
O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por seu Promotor de Justiça,
vem perante V. Exª. ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA para demolição de obras
edificadas em área de preservação ambiental, recuperação de área degradada e
áreas próximas, e condenação por danos morais coletivos, com pedido de liminar,
em face de
REALMAR DISTRIBUIDORA LTDA (SUPERMERCADOS
EXTRABOM), doravante denominado “EXTRABOM”, CNJP nº
03.845.717/0001-22, pessoa Jurídica de direito privado, por seu
representante legal, localizada na Av. Guarapari, s/n, lado B,
Laranjeiras (ou Valparaíso), região de Carapina, Serra – ES, CEP nº
29.165-791; e
INVEST PARTICIPAÇÕES IMOBILIÁRIA S/A, doravante
denominada “INVEST”, CNPJ nº 14.248.201/0001-17, pessoa
jurídica de direito privado, por seu representante legal, localizada na
Rua Athalides Moreira de Souza, s/n, Civit I, Serra – ES, e na Rua
Cinco, 725, Civit I, Serra – ES, CEP nº 29.168-013;
Pelos fatos a seguir expostos:
I – DOS FATOS:
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001 - Conforme apurado neste Inquérito Civil, no ano de 2011, a INVEST
adquiriu um imóvel então pertencente à empresa Espírito Santo Imóveis Oliveira
Ltda, medindo 165.876,00 m², já urbanizado (Licença Municipal de Instalação nº
58/2011 – fl. 430 e fl. 465 – V. III), no lugar denominado Cacu, neste Município,
conforme a escritura pública de compra e venda de imóvel acostada às fls. 563/575
(V. III). Então, a INVEST celebrou contrato de locação da área e construção do
Centro de Distribuição de Alimentos – CDA – com o EXTRABOM (fls. 101/117
– V. I), a ser edificado e regularizado junto aos órgãos públicos às expensas
daquela.
0002 - Pelo Contrato, a INVEST ficava responsável pela “realização(ões)
das construções e benfeitorias dentro da referida área”, devendo o EXTRABOM
arcar com “todas as despesas necessárias para a regularização da obra junto a
todos e quaisquer Órgãos Públicos” (fl. 102).
0003 - Importante frisar que desde a regularização do loteamento Civit I, os
órgãos ambientais manifestaram preocupação com a preservação da área, em
especial devido à presença da Lagoa Jacunem nas proximidades.
0004 - Quando do Processo nº 40279/2011, movido pela Espírito Santo (fls.
401/471 - V. III) para a regularização do loteamento, o Instituto de Defesa
Agropecuária e Florestal do Espírito Santo – IDAF - se manifestou sobre a
“importância em observar as demarcações ou determinações das áreas liberadas”
(fl. 407 – V. III), ressaltando que o “laudo técnico não tem [tinha] efeito
autorizativo”. Ou seja, demandava licença ambiental para sua execução, a ser
obtida junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Serra – SEMMA.
0005 - Por sua vez, a SEMMA, em Parecer Técnico às fls. 410/412, de
13.07.2011, ante o fato de ter sido requerida a licença ambiental para fins de
construção de galpões, na ocasião fez o seguinte alerta:
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alerta que as ações de implantação do loteamento na área requerida podem ocasionar carreamento de partículas e assorear a lagoa Jacuném e sua várzeas, além de afetar a vegetação remanescente no entorno. Esse quadro poderia, de acordo com a técnica Danielle [Parecer às fls. 537/538 – V. III], comprometer diretamente o Corredor Ecológico do qual a lagoa faz parte e também afetar a APA da Jacuném. [...] Assim, o relatório recomenda que sejam tomadas medidas que evitem o carreamento de partículas e, por consequência, o assoreamento dos recursos hídricos adjacentes, além de promover a recuperação/plantio da área que não será utilizada, o que permitirá as conexões necessárias ao corredor ecológico sejam mantidas. (negrito nosso)
006 - Após a aquisição e contrato, a INVEST passou a praticar atos voltados
à edificação da área em favor do EXTRABOM, na Rua 05 (cinco), nº 725, Bairro
Civit I, junto a órgãos da Prefeitura Municipal de Serra e ao Instituto de Defesa
Agropecuária e Florestal deste Estado – IDAF.
007 - Mais especificamente, a INVEST buscou obter 1) licença ambiental
junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA (Processo nº
124329/2012/fls. 542/585 – V. III), 2) alvará de construção junto à Secretaria
Municipal de Desenvolvimento Urbano – SEDUR (fl. 33 – V. I), e 3) autorização
de supressão de vegetação nativa junto ao IDAF (fls. 34/57 – V. I).
008 - Em 10.10.2012, a INVEST requereu e obteve junto à SEMMA - a
Licença Municipal Prévia nº 78/2012 (fls. 29 e 585 – V. I e III), para fins de
executar a atividade de armazém de produtos não perigosos e logística na área
adquirida.
009 - Esclareça-se inicialmente que a licença ambiental se subdivide, via de
regra, em prévia - LP, de instalação – LI - e de operação – LO, sendo certo que a
LP não permite o início da obra. A Resolução CONAMA nº 237/1997 assim as
define:
Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças:
I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;
II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;
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III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.
Parágrafo único - As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do empreendimento ou atividade.
010 - Desse modo, a Licença Municipal Prévia nº 78/2012 (fls. 29 e 585 –
V. I e III) em momento algum permitia que a INVEST desse início, executasse e
concluísse a obra, como aconteceu e se verá. Possui a LP efeitos iniciais relativos
somente a planejamento, “localização e concepção” do empreendimento, atestar
sua “viabilidade ambiental”, etc.
011 - Neste contexto, a INVEST, em 19.10.2012, também obteve junto à
SEDUR o Alvará de Construção nº 1431/2012 (fl. 33 – V. I), para o fim de edificar
um “centro de distribuição e logística”, na área 6 do bairro Civit I, Sítio Maringá,
Carapina, nesta Cidade (trocando em miúdos, na Rua 05 (cinco), nº 725, Bairro
Civit I).
012 - Esclareça que a emissão do alvará de construção, também, em
momento algum, conferia direito à INVEST de iniciar a execução das obras na
área. Isso porque, além de se situar em uma Área de Proteção Ambiental – APA,
e possuir vulnerabilidades, como antes transcrito, a INVEST deveria, também,
obter previamente ao início das obras o licenciamento ambiental junto à SEMMA
e autorização de supressão de vegetação nativa junto ao IDAF.
013 - No tocante ao IDAF, este, em 17.08.2012, também a pedido da
INVEST, realizou vistorias na área, conforme Laudos de Vistoria Florestal – LAF
(fls. 34/42 – V. I), para analisar a possibilidade de supressão de vegetação nativa
de Mata Atlântica para a execução da obra pretendida.
014 - Nos Laudos de Autorização Florestal - LAF, o IDAF foi favorável à
supressão por estar a “vegetação nativa da Mata Atlântica em estágio inicial de
regeneração” e “fora de Área de Preservação Permanente” - APP (fls. 35e 38 –
V. I). Também impôs como uma das condições vinculantes da autorização
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“Observar a distância mínima de 50 metros da Lagoa Jacunem” (fls. 36 e 39 – V.
I).
015 - A justificativa dada pelo IDAF para a imposição do respeito a 50
metros como área de preservação ambiental, distância esta maior que os 30 metros
previstos em lei para as APP’s1 “foi o fato de o local se situar na APA da Lagoa
Jacunem, conforme a Lei 2.135/1998”2. Isso em momento algum poderia ser
questionado por INVEST e EXTRABOM, devendo estes tão-só cumprirem o
determinado.
016 – Como visto, a área na qual se construiu o CDA faz parte de uma
Unidade de Conservação- UC, no caso, de uso sustentável, da categoria Área de
Proteção Ambiental – APA, prevista no inciso I, do art. 14, da Lei nº 9.985/2000,
criada pela Lei Municipal nº 2.135/1998 (fls.950/951– V. V).
017 - Para viabilizar e acompanhar as obras, a INVEST delegou poderes
por procuração (fls. 586/587 – V. III) a ELIOMAR3, diretor de infraestrutura do
EXTRABOM, que ficou assim responsável pelo gerenciamento e execução da
obra “conforme orientação da REALMAR (BUILDING SUIT)”4, no caso, o
EXTRABOM, agindo então em nome das duas empresas.
018 – E em 2012, mesmo sem as necessárias licenças ambientais, INVEST
e EXTRABOM deram início às obras, ao arrepio da lei. Segundo ELIOMAR, ao
falar sobre a LP 78/2012, “com essa licença, o declarante começou a fazer a obra”
e a concluiu, não seguindo o devido processo legal, que demandaria a obtenção
junto à SEMMA de LI e LO.
019 - Ressalte-se que a LP nº 78/2012 (fls. 29/30 – V. I) foi expressa em
impor na condicionante 7 que “A emissão desta licença não autoriza a execução
de qualquer obra ou funcionamento da atividade no local”. Assim, a afirmação de
1 Lei nº 12.651/2012 (Código Florestal), art. 4º, inciso II, alínea “b” 2 Depoimento do Técnico do IDAF Isidório Nascimento Simões (fls. 911/913 – V. V) 3 Depoimentos/manifestações às fls. 860/863 e 964/965 (V. V) e fl. Xx do Anexo I 4 Depoimento à fl. 860
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ELIOMAR de ter agido de boa-fé, “achando que estava tudo dentro da lei”, cai
por terra (fl. 892 – V. V).
020 - E para piorar a situação, INVEST e EXTRABOM, durante a
construção irregular do CDA, decidiram ampliar a obra, também ao arrepio da lei
ambiental, acrescendo-lhe um quiosque com churrasqueira e um campo de futebol
society (chamada ‘área de lazer’) para o uso e recreação de funcionários e amigos.
021 – Assim, não bastasse a ilegalidade da construção do CDA sem licença
ambiental, com a nova obra, passou-se a ir contra o disposto no Alvará de
Construção (fl. 33 – V. I). Isso porque a metragem limite da obra ali prevista era
de 11.760,27 m², e com a obra da ‘área de lazer’, superava 12.000 m². Com isso, a
SEDUR passava a exigir a apresentação de Estudo de Impacto de Vizinhança –
EIV, que também não foi feito. E mesmo assim edificaram a ‘área de lazer’.
022 – Tais empresas buscam agora justificar a execução das obras sem
licença ambiental e EIV, demonizando, como é de praxe no Brasil, o licenciamento
ambiental, tendo ELIOMAR afirmado que “se fosse esperar a emissão de licenças,
até hoje não teria concluído a obra” (fl. 862 – V. V). Tal postura decorre em
verdade da certeza na impunidade, e não pode prosperar.
023 - Esclareça-se que o motivo desta ação não é punir INVEST e
EXTRABOM por construírem tais obras (CDA, quiosque com churrasqueira e
campo de futebol society) sem o devido licenciamento ambiental, atentando contra
as ordens legais emanadas dos órgãos ambientais. O motivo é exigir a reparação
do ambiental causado em área de preservação ambiental, como se verá.
024 – Ocorre que parte da ‘área de lazer’ (quiosque com churrasqueira e
campo society) foi edificada em área de preservação ambiental, prevista em leis
municipais, e definida pelo IDAF em 50 metros de distanciamento a partir da
Lagoa Jacunem. O IDAF aumentou a proteção, passando-a dos 30 metros de APP
previstos nas leis para 50 metros, por se estar em uma APA. A respeito, disse
Isidório Nascimento Simões, à fl. 911, quando ouvido:
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a justificativa do IDAF para exigir 50 metros, e não 30, como normalmente se vê, foi o fato de o local se situar na APA da Lagoa Jacunem, conforme a Lei 2.135/1998.
025 - INVEST e EXTRABOM, mesmo sendo duas grandes empresas,
agiram de forma amadora, abusiva e descompromissada com as leis e o equilíbrio
ambiental. ELIOMAR, ao ser ouvido, disse que “não chegou a contratar um
técnico para ir ao local, antes do início da obra, e fazer a medição de APP a ser
respeitada”5. Ou seja, não tiveram qualquer cuidado. Deveriam ao menos respeitar
a determinação do IDAF, já que não o fizeram quanto à SEMMA. Mas resolveram
persistir no erro, simplesmente ignorando as leis ambientais.
026 - Vejamos por fotografias, a área em questão antes, durante e depois da
obra:
Figura 1: área antes do início da obra - fl. 335
5 Depoimento de Eliomar à fl. 862.
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Figura 2: área durante a obra, sem o campo de futebol e área de lazer, com churrasqueira – fl. 63
:
Figura 3: área durante a obra, já com o campo de futebol e área de lazer, com churrasqueira – fl. 63
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Figura 4: visão da área de lazer, com o quiosque e campo de futebol ao fundo - fl. 10
Figura 5: visão próxima da área de lazer, com quiosque e campo de futebol – fl. 67.
027 - Tem-se às fls. 621/623 (V. IV), ata de reunião realizada em
27.11.2014, no gabinete da SEMMA6, que contou com a participação de
ELIOMAR, que disse na ocasião “estar disposto a recuperar a área se
necessário”. Todavia, não é o que se tem visto desde então. Ouvido no MPES, em
6 Contou com a participação da Secretária de Meio Ambiente, Andréia Carvalho
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2015, não aceitou recuperar a área de preservação ambiental, demolindo as obras
irregulares no que for necessário para recompor a área degradada.
028 – Nesse sentido, à fl. 964, foi proposto em 15.10.2015 pelas empresas
“a regeneração da estrada próxima à lagoa e do campo aberto já existente”, por
entenderem “mais importante de ser recuperado”. Às fls. 971/973, INVEST e
EXTRABOM chamaram a degradação ambiental por eles promovidas de “obras
de artes”, aceitando que a finalidade desta “arte” foi “promover o bem-estar físico
e mental dos colaboradores que laboram na empresa”.
029 - Saliente-se porém que a recuperação desta área citada (estrada
próxima – fls. 1009/1010) em verdade já é uma obrigação pretérita não cumprida.
Isso porque, por ocasião da regularização do loteamento, o IDAF determinou, em
16.12.2008 (fls. 206/208), que a empresa Espírito santo Imóveis Oliveira Ltda
obstruísse “todos os acessos a Lagoa Jacuném, arando essas vias e procedendo o
plantio de espécies nativas”.
030 - Já a SEMMA, em 09.02.2009 (fls. 219/220), autorizou a realização
de limpeza na área, encampando a obrigação imposta pelo IDAF, de “obstrução
de acessos à Lagoa Jacunem” (fl. 260-v – V. II), o que não foi cumprido pela
Espírito Santo, conforme Relatório Técnico de fl. 246, de maio de 2009.
031 - Todavia, como INVEST comprou a área da Espírito
Santo, e a destinou em benefício do EXTRABOM, e possuindo as obrigações
ambientais natureza propter rem, estas empresas assumiram a responsabilidade
pelo cumprimento da obrigação prevista na Autorização Ambiental 02/2009 (fls.
260 – V. II), de fechamento da estrada, aragem e plantio de vegetação nativa.
032 - Tal obrigação foi apontada em Relatório da SEMMA, de junho de
2014, como de necessário cumprimento pelas requeridas (fls. 868 e 871). Assim,
não podem elas agora quererem cumpri-la como uma espécie de contrapartida para
a manutenção do quiosque com churrasqueira e campo de futebol society
intocados.
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033 – Quanto aos prejuízos ambientais, Parecer elaborado pela SEMMA7,
de 19.03.2015, através de seu Departamento de Recursos Naturais – DRN (fls.
774/776 – V. IV), concluiu pela supressão indevida em área de APP, com base nos
50 metros impostos pelo IDAF, e estimou o desmate indevido de 3.485,88 m² de
vegetação nativa.
034 - O IDAF, órgão responsável por autorizar a supressão, porém, foi ao
local, em 29.09.2015, e concluiu se ter dado o dano ambiental em área de 0,16
hectares (fl. 957 – V. V), que “corresponde a 1.600 m²”8. Nesta ação, será
considerada essa área para fins de cálculo da área a ser recuperada, observadas as
demais exigências legais.
035 - Neste ponto, é importante frisar que a Lei Estadual nº 5.361/1996
prevê que a supressão de vegetação considerada de “Preservação Ambiental,
dependerá de autorização dos órgãos competentes”, sendo prevista exceção
apenas para obras de utilidade pública ou interesse social, no que claramente não
se enquadra edificação da ‘área de lazer’ aqui referida. Vejamos o dispositivo
legal:
Artigo 14 Ficam proibidos o corte, a exploração e a supressão das florestas de Preservação
Ambiental.
§ 1º Excepcionalmente, a supressão ou alteração total ou parcial das florestas ou demais
formas de vegetação, consideradas de Preservação Ambiental, dependerá de autorização
dos órgãos competentes, federal e estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio
Ambiente CONSEMA, quando necessária a execução de obras, planos, atividades ou
projetos de utilidade pública ou interesse social, mediante aprovação de estudo prévio e
relatório de impacto ambiental.
§ 2º A supressão que trata o parágrafo anterior fica ainda, condicionada à obrigação do
empreendedor de recuperação em área próxima ao empreendimento, equivalente ao
dobro da área suprida, preferencialmente com espécies nativas de Mata Atlântica, ou
outras formas de compensação ecológica a ser determinada pelo Órgão competente.
(destaque nosso)
7 Pela Técnica Dandara Pereira de Almeida 8 Depoimento de Isídório Nascimento Simões, fl. 969
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036 - Como consequência legal para o ato ilícito praticado por INVEST e
EXTRABOM, de supressão ilegal de vegetação nativa, o § 2º desta norma impõe
a “recuperação em área próxima ao empreendimento, equivalente ao dobro da
área suprimida”. Assim, devem tais empresas recuperar uma área de 3.200 m², por
força de lei.
037 - Vejamos as projeções feitas pelo IDAF representando a área invadida
e degradada pela construção do quiosque com churrasqueira e campo de futebol
society, a ser demolida e recuperada (fl. 922 – V. V):
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038 - Em outro Parecer elaborado pela SEMMA, de 12.11.2014 (fls.
777/781 – V. IV), relativo a estudo feito para fins de realização do EIV, entendeu-
se por não ser possível analisa-lo por já se encontrar o empreendimento
implantado. Porém, constatou-se “que houve supressão de vegetação além do
permitido”.
039 - E ainda, ressaltou-se a importância dos 50 metros exigidos pelo IDAF
para “a manutenção dos recursos hídricos”. Ainda se afirmou, naquele momento,
como condição para a aprovação do EIV, que deveriam INVEST e EXTRABOM
“recuperar toda a vegetação nativa existente, bem como a recuperação da estrada
que dá acesso a lagoa, uma vez que essas foram as condicionantes não cumpridas
por parte do empreendedor”. (destaque nosso)
040 - Por fim, exigiu-se, dentre outras coisas, a “Retirada das edificações
existentes em uma distância mínima de 50 metros da Lagoa Jacunem”, que são
exatamente o quiosque, com churrasqueira, o campo de futebol society (naquilo
que invadiram a área de preservação ambiental e for necessário para sua
preservação), e o aterro ali realizado para se erguer tais edificações.
041 - Assim, mostra-se imprescindível a demolição, no que for necessário,
do campo de futebol e do quiosque, com churrasqueira, irregularmente e
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construídos por INVEST e EXTRABOM em área de preservação ambiental,
conforme foi determinado pelo IDAF e desrespeitado pelas empresas. A obra
também afrontou a SEMMA, uma vez não regularmente licenciada junto àquele
órgão.
042 - Relatórios Fotográficos (fls. 960/961/IDAF/“a” e
872/881/SEDUR/“b”/”c” – V. V) mostram a área alvo de degradação. Vejamos:
a) Área degradada atualmente:
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b) Visão da obra logo após seu término, com aterro gramado e edificado
sobre remanescente de Mata Atlântica:
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c) Aterro sobre a vegetação nativa, por ocasião da obra irregular (fl. 66)
043 - O IDAF, órgão licenciador, no Laudo de Fiscalização de fls.
1003/1004, de 15.02.2016 (V. V), acentuou a importância ecológica da área
degradada, “caracterizando-se como área de preservação ambiental, segundo a
legislação do Município de Serra/ES, razão pela qual não teve sua exploração
florestal autorizada pelo IDAF, quando da emissão da AEF nº 449/2012, emitido
em 13.12.2012 [fl. 48 – V. I]”. Foi ainda de “parecer contrário ao
desembargo/desinterdição”, ressaltando a importância ambiental da área (Auto de
Infração, Embargo e Interdição de fl. 952, de 2.09.2015 (V. V).
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044 - O IDAF ainda reconheceu que “A área cuja vegetação foi suprimida
compõe um corredor ecológico ao longo da Lagoa Jacunem, sendo de especial
importância para a circulação segura dos animais silvestres na região”, fato
também por ele afirmado à fl. 958-v – V. V. (destaque nosso)
045 - O IDAF também foi taxativo ao dizer “sim” quanto à necessidade de
se recuperar o dano ambiental, mediante Projeto de Recuperação de Área
Degradada – PRAD. E aqui se chama a atenção para a necessidade de INVEST e
EXTRABOM demolirem as edificações, seja parcialmente, o quanto for
necessário, e retirarem o aterro (levando os detritos para aterro licenciado),
reflorestando por fim a área degradada com vegetação nativa.
046 - Sobre os danos encontrados, o Boletim de Ocorrência Ambiental de
fls. 07/12, de 02.04.2015, relata a supressão irregular de vegetação nativa em razão
da edificação da ‘área de lazer’, e a presença, à época, de talude não estabilizado,
o que criou “vários pontos de erosão, que carregam sedimentos para a lagoa e
respectiva APP”.
047 - A SEMMA elaborou Relatório de Vistoria (fls. 60/67), de 09.02.2015,
também taxativo quanto aos danos ambientais. Vejamos: “constatamos a
supressão de vegetação nativa e sem autorização, construção de equipamentos de
lazer e aterro reduzindo a vegetação nativa e sem a autorização, sendo que as
intervenções foram realizadas nas zonas de Proteção Ambiental 01, 02 e 03 – ZPA,
observando-se ainda que a área está inserida na área da APA da lagoa Jacuném,
além do Corredor Ecológico Central da Mata Atlântica, Duas Bocas e Mestre
Álvaro”. (destaque nosso)
047 - A SEMMA, também, em março de 2015 (fls. 774/776 – V. IV),
afirmou que “a área em questão possui Áreas de Preservação Permanente (APP)”,
e que “o aterro realizado na área não possui talude estabilizado, com vários
pontos de erosão, que carregam sedimentos para a lagoa e respectiva APP”, como
visto na figura acima.
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048 - O Relatório de Análise Técnica, relativo ao EIV (fls. 777/781 – V.
IV), também descreveu danos ambientais decorrentes da obra. Conforme ele, “em
imagens aéreas e em vistoria na área no dia 21 de outubro de 2014, pode-se
constatar que houve uma supressão de vegetação além do permitido”. Concluiu
pela necessidade de “Retirada das edificações existentes em uma distância mínima
de 50 metros da Lagoa Jacunem”, mediante PRAD (destaque nosso). Vejamos a
fotografia do Relatório onde se encontra circulada a área degradada:
Figura 6: área circulada objeto de degradação, coincidente com a área aqui tratada.
049 - Constatado o dano ambiental por vários órgãos ambientais, como
visto, INVEST e EXTRABOM, instadas a se manifestarem sobre a recuperação
voluntária da área, através de ELIOMAR (Procuração fls. 586/587 – V. III),
disseram, em agosto de 2015 (fls. 860/863 – V. V), que não o fariam. E ainda, que
gostariam de “compensar em outro local”. Isso reforça a ideia de crença na
impunidade por parte dos degradadores.
050 - E ainda se arvorando da condição de especialista ambiental,
ELIOMAR, falando em nome das empresas, em 15.10.2015 (fl. 964 – V. V),
afirmou que “a regeneração da estrada próxima à lagoa e do campo aberto já
existente seria mais importante de ser recuperado que demolir as obras
irregularmente feitas”.
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051 - Ressalte-se que a APA da Lagoa Jacuném (Lei nº 2.135/1998 – fls.
950/954 – V. V) busca exatamente conferir maior proteção à Lagoa e sua área ao
redor. E para o fim de se manterem as características ambientais da área degradada,
mostra-se de rigor a demolição das obras relativas ao campo de futebol e área de
lazer, com churrasqueira (pelo menos no que invadiu a área de preservação
ambiental e for necessário para lhe garantir a devida proteção).
052 - Só com a demolição e atendimento às demais exigências feitas pelos
órgãos ambientais serão recuperadas as funções ecológicas da área degradada,
especialmente no tocante ao CORREDOR ECOLÓGICO ali existente, que não
pode ser prejudicado em prol do lazer e recreação de servidores e amigos de
INVEST e EXTRABOM..
053 - Assim, não resta dúvida de que a atitude de INVEST e EXTRABOM
ultrapassou a divisa do absurdo, mesmo porque devem agir imbuídas de um
compromisso social de dar bons exemplos à coletividade, especialmente no âmbito
ambiental, mesmo porque este prima pela venda de alimentos. Ao agirem como
relatado, apostaram na histórica impunidade que sempre imperou no país
(especialmente em razão do poder econômico), e dão um péssimo exemplo à
sociedade como um todo, em especial, à Serrana.
054 - Tal conduta pode inclusive servir de estímulo para as pessoas
degradarem ainda mais a Lagoa Jacunem, que, como visto nas figuras acima, fica
bem próxima da área degradada (hoje, a menos de 50 metros, já que as obras
invadiram a área de preservação ambiental nos limites impostos pelo IDAF), e
pode assentar na cabeça das pessoas a ideia de que, se quem tem mais pode
degradar (INVEST e EXTRABOM), o cidadão também o pode.
II – DO DIREITO:
055 - A proteção ao Meio Ambiente foi expressiva em nossa Constituição
Federal, tanto que o o legislador constituinte resolveu lhe reservar um capítulo
inteiro na Constituição Federal, sendo extraído da Carta Magna que:
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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,
bem de uso comum do provo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-
se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para
as presentes e futuras gerações.
056 - No que refere à responsabilização do infrator pelos danos provocados
ao meio ambiente, mesmo antes do advento da CF/88, o ordenamento jurídico
brasileiro já previa sua responsabilização objetiva na Lei nº 6.938/1981 (Lei da
Política Nacional de Meio Ambiente), que em seu artigo 14, § 1º, diz:
Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor
obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os
danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O
Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação
de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.
057 - E a Constituição Federal veio posteriormente recepcionar a
responsabilização objetiva, no § 3º do art. 225. Vejamos:
As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os
infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
058 - No tocante à proteção ambiental, a legislação municipal vigente é
também bastante rigorosa, especialmente através do Plano Diretor Municipal –
PDM (Lei 3.820/2012), que criou as chamadas Zonas de Proteção Ambiental -
ZPA, que estão previstas em seus artigos 96 e seguintes.
059 - Resta claro que a construção do quiosque com churrasqueira e do
campo society afetou negativamente a Lagoa Jacunem, sua APP (30 metros), e a
área de preservação ambiental imposta pelo IDAF por ocasião da concessão de
autorização para a supressão de vegetação nativa (50 metros). Vejamos alguns
dispositivos legais do PDM, que impõe alto grau de proteção à área degradada:
Art. 102 Ficam identificados e declarados como Zonas de Proteção Ambiental 01:
I - os fragmentos de Mata Atlântica e Ecossistemas associados, independentes do estágio sucessional quando sua preservação se configurar como de
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relevância ecológica à região em que estão inseridos bem como ao município; (grifo nosso)
[...]
III9 – as áreas, florestas e demais formas de vegetação existentes ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios de água naturais, desde o seu nível mais alto medido horizontalmente em faixa marginal, cuja largura mínima será de: a) 30 m (trinta metros) para os que estejam em áreas urbana;
Art. 103 – As Zonas de Proteção Ambiental 02 são áreas do território
municipal com características e atributos naturais cuja função é de
proteger, recuperar e melhorar a qualidade de vida e do meio ambiente,
sendo destinadas à conservação e mantendo suas características
funcionais. (destaque nosso)
Art. 104. Ficam identificados e declarados como Zonas de Proteção ambiental
02:
[...]
III – os cinturões ou as áreas verdes de loteamento, conjuntos habitacionais,
complexos, centros e polos industriais quando não enquadrados em outras
categorias; (negrito nosso)
[...]
Paragrafo único. As áreas definidas como Zonas de Proteção ambiental 02 são
consideradas não edificantes em razão da necessidade de sua conservação e
por se constituírem em áreas de risco suscetíveis de erosão, deslizamentos,
alagamentos ou outra situação que coloque em risco a população. (negrito
nosso).
Art. 106 As Zonas de Proteção Ambiental 03 são áreas que pelas suas
condições fisiográficas, geográficas, geológicas, hidrológicas e botânicas
formam um ecossistema de importância no meio natural serrano, sendo
destinadas à preservação e conservação por meio da criação e implantação
de Unidades de Conservação.
Art. 107 As Zonas de Proteção Ambiental 03 apresentam como objetivos:
I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território municipal e nas águas jurisdicionais;
9 Este artigo, e alguns outros do PDM citados nesta ação tiveram suas redações alteradas pela Lei nº 4.459/2016. Porém, foi pelo Ministério Público obtida decisão liminar junto ao Tribunal de Justiça deste Estado suspendendo seus efeitos, através da ADIn nº 0008780-71.2016.8.08.0000 (Voto às fls. 1111/1114 – Volume V). Esclareça-se que todas as redações transcritas nesta ação estarão desconsiderando a modificação trazida pela Lei Municipal nº 4.459/2016.
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II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito local e regional;
III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;
IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;
V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;
VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;
VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, arqueológica, paleontológica e cultural;
VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;
IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;
X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;
XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;
XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;
XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.
Art. 108 Integram as Zonas de Proteção Ambiental 03, definidas com base no
Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, Lei Federal nº
9985/2000 e no Sistema Estadual de Unidades de conservação-SISEUC, Lei
Estadual nº 9462/2010:
[...]
VI - Área de Proteção Ambiental Municipal da Lagoa Jacuném - APA.
(destaque nosso).
060 - Frise-se que a área degradada é de preservação ambiental por se
encontrar dentro da área da APA da Lagoa Jacunem, criada pela Lei Municipal nº
2.135/1998 (fls. 950/951 – V. V), “abrangendo o entorno da Lagoa, e de seus
contribuintes” (art. 1º), sendo vários os seus objetivos (art. 2º), destacando-se a
“Proteção da fauna aquática e proteção dos corredores ecológicos”.
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061 - Como já afirmado por várias autoridades ambientais, em transcrições
anteriormente feitas, a construção da ‘área de lazer’ trouxe e traz sérios prejuízos,
também, ao corredor ecológico ali existente, não só por ter ocupado parte do
mesmo, mas também porque as atividades da ‘área de lazer’ prejudica o uso da
área pelos animais silvestres, em razão de ruídos produzidos, lançamento indevido
de materiais na área, etc.
062 - Ainda, destaque-se, o fato aqui narrado se desdobra em crimes
ambientais graves, previstos nos artigos 40 e 68 da Lei 9.605/98, e já objetos de
denúncia (fls. 1119/1133). Vejamos:
Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização:
Pena - reclusão, de um a cinco anos.
[...]
Art. 40-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000)
§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de
Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas
Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de
Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio
Natural. (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000)
Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
063 - Importante ainda expor que a Lei Estadual nº 5.361/1996 prevê a
recuperação em dobro da área indevidamente suprimida. Vejamos:
Artigo 14 Ficam proibidos o corte, a exploração e a supressão das florestas de
Preservação Ambiental. § 1º Excepcionalmente, a supressão ou alteração total
ou parcial das florestas ou demais formas de vegetação, consideradas de
Preservação Ambiental, dependerá de autorização dos órgãos competentes,
federal e estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente CONSEMA,
quando necessária a execução de obras, planos, atividades ou projetos de
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utilidade pública ou interesse social, mediante aprovação de estudo prévio e
relatório de impacto ambiental.
§ 2º A supressão que trata o parágrafo anterior fica ainda, condicionada à
obrigação do empreendedor de recuperação em área próxima ao
empreendimento, equivalente ao dobro da área suprida, preferencialmente com
espécies nativas de Mata Atlântica, ou outras formas de compensação ecológica
a ser determinada pelo Órgão competente. (grifo nosso)
064 - Desse modo, mostra-se manifesta a ilegalidade da conduta de
INVEST e EXTRABOM no presente caso, sendo de rigor a reparação EM
DOBRO do dano, com a demolição da ‘área de lazer’ naquilo que degrada a área
de preservação ambiental, e recuperação da outra metade em área próxima..
III – DO DANO EXTRAPATRIMONIAL COLETIVO
065 - O dano ambiental causado por INVEST e EXTRABOM decorreu do
desrespeito à ordem legitimamente dada pela Administração Pública, através da
SEMMA (Município de Serra) e IDAF (Estado do Espírito Santo), e extrapola a
órbita patrimonial à medida que termina por ofender a moral pública, devendo
então ser recomposto o dano não-patrimonial causado.
066 - Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, na festejada obra
“Improbidade Administrativa”, 1ª edição, p. 349, discorrendo sobre o assunto,
afirmam:
Do mesmo modo que as pessoas jurídicas de direito privado, as de direito público também gozam de determinado conceito junto à coletividade, do qual muito depende o equilíbrio social e subsistência de várias negociações, especialmente em relação: a) aos organismos internacionais, em virtude dos constantes empréstimos realizados; b) aos investidores nacionais e estrangeiros, ante a freqüente emissão de títulos da dívida pública para a captação de receita; c) a iniciativa privada, para a formação de parcerias; d) às demais pessoas jurídicas de direito público, que facilitará a obtenção empréstimos e a moratória de dívidas já existentes, etc.
067 - Neste sentido, é inegável que a ação das requeridas, como se não
bastasse o prejuízo ambiental concretamente observado na área degradada, ensejou
e enseja lesão ao próprio conceito e confiança que o Município de Serra e o Estado
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do Espírito Santo desfrutavam e devem desfrutar em relação aos demais entes
políticos e seus próprios cidadãos, ficando abalada sua credibilidade, configurando
assim o dano moral a merecer reparação.
068 - Observe-se ainda que há expressa previsão legal acerca da reparação
por dano moral no artigo 1° da Lei n° 7.347/85, aplicável à espécie, principalmente
porque a ação civil pública também tutela um direito difuso, e neste caso, em
especial, como que enaltecendo a importância do Meio Ambiente, tal artigo o traz
em seu inciso I.
069 - Sustentando também a necessidade de reparação pelo dano moral
causado ao ente público, o que pode ser aplicado ao caso dos autos, vejamos as
seguintes considerações:
As pessoas jurídicas de direito público, com maior razão do que as direito privado, devem ser ressarcidas dos danos morais que venham a sofrer. A Administração Pública tem por fim a persecução do bem comum e todo ato praticado por seus agentes deve ter em foco o interesse público. Assim, temos que o ato de improbidade administrativa pode ferir também um interesse moral do ente público, traduzido na sua honra objetiva, na confiança e respeito que as pessoas devem devotar-lhe, não havendo motivo plausível para a recusa de ressarcimento. Nesse sentido, Figueiredo assinala que, no conceito de lesão ao patrimônio público, ‘por certo, está englobada a noção de lesão moral, porque
no conceito de perda patrimonial, cremos, está englobada a idéia de prejuízo moral, dano moral. Ademais, a lesão ao patrimônio moral sempre será dimensionada sob o aspecto econômico. Em suma, não existe ‘perda
patrimonial’ apenas sob a ótica econômica, ainda que recomposta a partir desse
critério”. (José Jairo Gomes, Apontamentos sobre a Improbidade Administrativa, in Improbidade Administrativa – 10 anos da Lei 8.429/92, ed. Del Rey, p. 265 -Grifo nosso)
070 - Desse modo, tem-se claro que INVEST e EXTRABOM, de forma
indesculpável, descumpriram deliberadamente as ordens que lhe foram
legitimamente dadas por SEMMA e IDAF, pautadas no respeito às normas
ambientais. Primeiro, por iniciarem as obras sem o devido licenciamento
ambiental, e a isso se acresceu terem-na aumentado sem aprovar junto à SEMMA
e outras Secretarias, como a SEDUR, que lhes exigiu o EIV. Por fim,
desrespeitaram os 50 metros exigidos pelo IDAF sem supressão de vegetação
nativa a partir da Lagoa Jacunem da lagoa.
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071 - É ainda mais lamentável saber que uma das empresas, que ao final é
a grande beneficiária da obra ali edificada e dos danos ambientais causados, é o
EXTRABOM, empresa grande deste Estado do Espírito Santo, que conforme seu
site (http://www.extrabom.com.br/lojas/), possui várias lojas, em Cariacica (três
lojas), Colatina (duas lojas), Guarapari (uma loja), São Mateus (duas lojas), Serra
(sete lojas), Vila Velha (três lojas), e Vitória (quatro lojas).
071 - É exigível das duas empresas não só que cumpram a lei, uma vez ser
inadmissível que o capital se sobreponha ao Estado de Direito, mas também que
dê o devido exemplo à sociedade. Em razão disso, devem se portar de forma
honesta aos olhos da população, no que se inclui cumprir as exigências legais que
lhes são feitas pelos órgãos públicos. E no caso, não cumpriram as determinações
de SEMMA e IDAF, voltadas à proteção do Meio Ambiente, em afronta ao Estado
de Democrático de Direito, que impõe a todos regras a serem cumpridas. Por tudo
isso, devem não só promover a recuperação do dano, masinforma-la à sociedade.
072 - Frise-se ainda que Serra é um Município complicado, pois alterna
muita pobreza e riqueza. E uma de suas piores características aqui existente é o
desrespeito às normas ambientais, o que se dá dos mais variados modos, como a
supressão irregular de vegetação, o que inevitável em invasões, o lançamento de
esgoto in natura no solo, o descarte irregular de lixo, etc.
073 - Essa cultura de degradação reforça ainda mais a necessidade de
empresas do porte das acusadas darem o bom exemplo. Ao agirem como fizeram,
parecem buscar legitimar e justificar aos olhos do povo a degradação ambiental,
passando por cima de tudo e de todos (inclusive os entes federados), o que mais
ainda contribui para que a população Serrana continue a assim também agir.
074 - Outro aspecto também a ser considerado é que, talvez pela capacidade
econômica de INVEST e EXTRABOM, entendam ainda vivermos, em termos
ambientais, no país da impunidade, no sentido de que, sabendo da negativa dos
órgãos ambientais em se permitir a degradação, optaram por degradar, confiando
e no máximo receber como punição o pagamento de uma “multinha” aos órgãos
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públicos, como se diz no meio social. Mas essa é uma prática que se viu no passado
e que não pode mais tolerar.
075 - Desse modo, tais empresas agiram de forma deliberada e atentatória
à dignidade, confiança e respeito devido aos órgãos públicos e à sociedade. Devem
em razão disso reparar tal dano extrapatrimonial em um patamar condizente à sua
capacidade econômica, sabidamente elevada. Como se pôde ver, o EXTRABOM,
possui 22 (vinte e duas) lojas neste Estado, e a INVEST, tão só pela negociação
feita, comprando o terreno e construindo o CDA, demonstrou possuir, também,
capacidade econômica elevada.
076 - E algo que também salta aos olhos é o fato de INVEST e
EXTRABOM terem causado tamanha degradação ambiental para fins
voluptuários (não que a finalidade comercial a justificasse). Fizeram-no para
edificar um quiosque com churrasqueira e um campo de futebol society para o
prazer e deleite de funcionários e amigos, o que é absurdo.
077 - Assim, em momento algum tais empresas se preocuparam com o
coletivo, mas apenas consigo próprias e seus interesses manifestamente individuais
e censuráveis. Degradaram para edificar obras de cunho eminentemente recreativo,
o que demonstra a falta de respeito ao Meio Ambiente. Se degradaram até para fins
de lazer, fizeram e o farão sem qualquer pejo por razões ligadas as suas atividades
econômicas, como também o fizeram, e não se pode permitir.
078 – Dessemodo, por uma soma de amadorismo, descaso, crença na
impunidade e mau costume ambiental, INVEST e EXTRABOM fizeram as obras
parcialmente dentro da área de preservação ambiental. Tivessem tão-só contratado
um técnico para fazer a medição conforme o determinado pelo IDAF, a degradação
em área de preservação ambiental não teria ocorrido10. Porém, sequer quiseram
arcar com tal gasto, pensando neste caso apenas no lazer e deleite de funcionários
e amigos, e claro, economizar às custas do Meio Ambiente equilibrado.
10 Depoimento de Eliomar César Avancini, à fl. 862.
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079 - Não bastasse isso, como também visto, a construção do quiosque com
churrasqueira e do campo de futebol society estava em desconformidade com o
Alvará de Construção. Este foi emitido para uma obra de até 11.760,27 m² (fl. 33
– Volume I). Com o acréscimo da ‘área de lazer’, passou-se de 12.000 m². Com
isso, passou-se a demandar novo alvará e realização de de Estudo de Impacto de
Vizinhança11- EIV. Mas, novamente, não o fizeram e construíram o quiosque com
Churrasqueira e o campo society sem atender à exigência legal.
080 - Frise-se novamente que a tão-só emissão do alvará de construção, pela
SEDUR, não habilita a construir no local, exigindo-se no caso a prévia
manifestação de SEMMA e IDAF através do licenciamento ambiental e
autorização de supressão, respectivamente. E a partir do momento que tais
INVEST e EXTRABOM decidiram construir a ‘área de lazer’, tornou-se
necessária a aprovação de EIV.
081 - Ante tais considerações, entendemos caracterizado o dano moral
coletivo, que não pode ser pequeno ao ponto de fomentar a impunidade, nem
elevado ao ponto de inviabilizar o andamento regular das empresas, motivo pelo
qual deve ficar a responsabilização, pelas razões antes expostas, na faixa de R$
400.000,00 (quatrocentos mil reais), solidariamente.
IV – DO PEDIDO LIMINAR:
082 - O Ministério Público requer a concessão de medida liminar, sem a
oitiva das partes contrárias , de forma solidária, pelas razões a seguir expostas:
083 - Como visto acima, as fotografias, laudos, Pareceres, BO, autos de
infração, etc, trazidos aos autos não deixam dúvidas quanto ao dano causado ao
Meio Ambiente através da realização da obra sem o devido licenciamento
11 Relatório relativo ao EIV, às fls. 777/781, elaborado por Kamila Souza Alves, às fls. 866/881, elaborado por Edmara Salete Lorenção.
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ambiental, invadindo área de preservação ambiental, determinada pela lei e pelo
IDAF.
084 - INVEST e EXTRABOM passaram por cima de todas as normas
ambientais na busca de construir o CDA deste em tempo recorde. Como visto,
necessitavam de licenças prévia, de instalação e de operação para dar início à
execução da obra. Porém, limitaram-se a obter a licença prévia, na qual era
expressa a proibição de dar início à obra, e promoveram a execução da obra,
concluindo-a.
085 - Não bastasse isso, no meio do processo irregular, resolveram
aumentar a área da obra. Além do CDA, decidiram construir um quiosque com
churrasqueira e um campo de futebol society para o uso de deleite de servidores e
amigos. Com isso, a obra inicialmente pensada, de 11.760,27 m² (Alvará de fl. 33
– V. I), passaria de 12.000 m², demandando então aprovação de EIV12. Novamente,
não o fizeram e construíram o quiosque com Churrasqueira e o campo society sem
atender à exigência legal.
086 - Assim, INVEST e EXTRABOM, empresas estas de grande porte,
agiram pautadas apenas no interesse próprio, com base em documentos
insuficientes, no caso, alvará de construção e licença prévia. E assim foram agindo
sob a desculpa de que “se fosse esperar a emissão das licenças, até hoje não teria
concluído a obra”13, alegação esta normalmente utilizada no meio empresarial,
colocando-se o Meio Ambiente, equivocamente, como um obstáculo ao
desenvolvimento. Agora, usando seu argumento, o que se questiona é o seguinte:
era realmente imprescindível a construção dessa ‘área de lazer’ para suas
atividades?
087 - A resposta ao questionamento acima só pode ser negativa.
12 Relatório relativo ao EIV, às fls. 777/781, elaborado por Kamila Souza Alves. 13 Depoimento de Eliomar César Avancini, fl. 862.
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088 - Os danos ambientais foram amplamente demonstrados no correr desta
ação, com base em pareceres/laudos técnicos com inúmeras fotografias. Vê-se que
a ‘área de lazer’ está parcialmente inserida na área de preservação ambiental,
adentrando no espaço não edificável imposto pelo IDAF, de 50 (cinquenta) metros
a partir da Lagoa Jacunem.
089 - Apesar da vedação, INVEST e EXTRABOM suprimiram vegetação
nativa sem autorização, já que o fizeram em desconformidade com a obtida junto
ao IDAF, aterraram o local, edificaram sobre a área aterrada o quiosque com
churrasqueira e o campo society, e por fim gramaram a terra solta em volta para
fins de jardinagem.
090 - Com tudo isso, viu-se o carreamento de sedimentos para toda a área
de preservação ambiental, até a Lagoa Jacunem, contribuindo para seu
assoreamento (BO – fl. 9, Parecer Técnico – fl. 21). Houve e há evidente prejuízo
ao corredor ecológico ali existente e previsto na Lei nº 2.135/1998 (Relatório de
Vistoria de fl. 61 e 64, IDAF – fl. 1003-v e Relatório/EIV – fls. 870/871), etc.
091 - Traz-se aqui novamente a transcrição do Parecer de fls. 410/412 – V.
III, que já ressalta, em julho de 2011, os perigos ambientais relativos ao uso
econômico desta área:
alerta que as ações de implantação do loteamento na área requerida podem ocasionar carreamento de partículas e assorear a lagoa Jacuném e sua várzeas, além de afetar a vegetação remanescente no entorno. Esse quadro poderia, de acordo com a técnica Danielle [Parecer às fls. 537/538 – V. III], comprometer diretamente o Corredor Ecológico do qual a lagoa faz parte e também afetar a APA da Jacuném. [...] Assim, o relatório recomenda que sejam tomadas medidas que evitem o carreamento de partículas e, por consequência, o assoreamento dos recursos hídricos adjacentes, além de promover a recuperação/plantio da área que não será utilizada, o que permitirá as conexões necessárias ao corredor ecológico sejam mantidas.
092 - Conforme esclarecido mais acima, por ser a área uma APA e merecer
uma maior proteção, o IDAF impôs, por ocasião da concessão da autorização de
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licença para supressão de vegetação um distanciamento de 50 (cinquenta) metros
a ser respeitado pelas empresas a partir da Lagoa Jacunem14.
093 - Porém, tal distanciamento não foi respeitado e tais empresas,
conforme relatório de fls. 777/781, ainda tentam enganar as autoridades afirmando
que “o empreendimento não se encontra em APP” (no caso, Área de Preservação
Permanente). Isso pode ser até verdade (APP são 30 metros a partir da Lagoa
Jacunem), mas ele se encontra em área de preservação ambiental, “de acordo com
o laudo do IDAF15”, que acrescentou, em conformidade com as leis, mais 20
(vinte) metros à APP em prol da Lagoa Jacuném, por se estar dentro de uma APA.
094 - A Resolução CONAMA nº 237/1997, como visto acima, exige o
licenciamento ambiental para o tipo de obra aqui realizada. E o artigo 43 da Lei
Municipal nº 2.199/1999 (Código Municipal de Meio Ambiente) corrobora tal
exigência. Vejamos:
Art. 43 - A execução de planos, programas, projetos e obras, a localização, construção, instalação, operação e ampliação de atividades e serviços, bem como o uso e exploração de recursos ambientais de qualquer espécie, de iniciativa privada ou do Poder Público Federal, Estadual ou Municipal, considerados efetiva ou potencialmente poluidoras ambiental, dependerão de prévio licenciamento ambiental pela SEMMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.
095 - E complementa:
Art. 46 - A SEMMA, após a análise e aprovação de requerimento e documentação, informações e projetos apresentados pelas partes interessadas, expedirá as seguintes licenças: I – Licença Municipal Prévia – LMP; II – Licença Municipal de Instalação – LMI; III – Licença Municipal de Operação – LMO; IV – Licença Municipal de Ampliação – LMA; V – Licença Municipal de Regularização - LAR; VI – Licença Única – LU;
14 Depoimento de Isidório Nascimento Simões, fl. 911-v. 15 Relatório/EIV fl. 779.
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VII – Autorização Ambiental.
097 - Assim, com base nesta e outras normas, aqui citadas ou não, dúvida
não resta sobre a impossibilidade de manutenção de tais edificações na área de
preservação ambiental. É a demolição uma condição sine qua non para se
reestabelecer a recuperação da área.
098 - O IDAF é expresso em afirmar ser “contrário ao
desembargo/desinterdição” da área (fls. 1003/1004), ou seja, a permitir o uso pela
empresa da área. Os agentes municipais também se manifestaram pela necessidade
de retirada das edificações16.
099 - Manter tais edificações erguidas e sendo usadas, além de premiar
aquele que degrada o Meio Ambiente, contribuiria para a permanência do dano
ambiental, impedindo a regeneração natural da área, bem como prejudicando o
corredor ecológico ali existente, que tem nestas edificações
uma barreira ecológica ao fluxo de animais nativos, contribuindo também para o afugentamento de fauna pelos ruídos e a sujeição/exposição do remanescente de Mata Atlântica ao risco de fogo e de disposição de lixo17.
100 - Ante todo o exposto, o Ministério Público requer DECISÃO
LIMINAR para determinar que INVEST e EXTRABOM, solidariamente, que:
a) apresentem ao IDAF (órgão licenciador), em até 30 (trinta) dias, para
fins de aprovação, PRAD que preveja a recuperação do dano ambiental na área
degradada de 1.600 m², tendo como um dos pontos tratado a demolição das
edificações irregulares em toda a área de preservação ambiental (dentro dos 50
metros impostos pelo IDAF), e também fora desta no que for necessário para se
garantir sua plena recuperação ambiental. Deve o PRAD também tratar da retirada
dos entulhos, do desfazimento do aterro e replantio da área com vegetação nativa,
além de outras medidas legais exigidas pelo IDAF.
16 Relatório/EIV – FL. 871. 17 idem – fl. 870.
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b) Após aprovado o PRAD, promovam, em até 30 (trinta) dias, a
demolição e a recuperação da área degradada conforme ali disposto, transportando
o entulho produzido para aterro licenciado, comprovando nestes autos.
c) Após o transcurso dos prazos previstos nas alíneas “a” e “b”, devem
comprovar, em até 10 (dez) dias neste processo, a apresentação do PRAD, com
cópia protocolizada (“a), e relatório de vistoria do IDAF atestando a plena
recuperação do dano ambiental (“b”), sob pena de multa de R$ 2.000,00 (dois mil
reais) por dia de atraso, para cada empresa, a contar do final deste prazo, em favor
do Fundo Municipal de Conservação Ambiental de Serra, Conta Corrente nº
11876927, Agência 110, Banestes
V – DO PEDIDO FINAL:
101 - Ante todo o exposto, requer o Ministério Público Estadual, por seu
Promotor de Justiça, a condenação de INVEST e EXTRABOM, solidariamente, a:
I - apresentarem ao IDAF (órgão licenciador) para fins de aprovação, em
até 30 (trinta) dias, , PRAD que preveja a recuperação do dano ambiental na área
degradada relativa a de 1.600 m² medidos pelo IDAF, tendo como um dos pontos
tratado a demolição das edificações irregulares em toda a área de preservação
ambiental (dentro dos 50 metros impostos pelo IDAF), e também fora desta no que
for necessário para se garantir sua plena recuperação ambiental, devendo também
tratar da retirada dos entulhos, do desfazimento do aterro e replantio da área com
vegetação nativa, além de outras medidas legais exigidas pelo IDAF. Deverão
apresentar nestes autos cópia do protocolo em até 5 (cinco) após o transcurso
daquele, sob pena de multa.
II – apresentarem PRAD ao IDAF, em até 30 (trinta) dias, para obstruir e
recuperar, através de aragem e plantio de vegetação nativa, a área 2.553,00 m²
divisada pelo IDAF às fls. 1009/1010, por se tratar de obrigação propter rem (vide
parágrafos 029/032 acima), cuja responsabilidade pela recuperação foi transferida
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às requeridas por ocasião da compra do terreno da loteadora inicialmente obrigada.
Deverão apresentar nestes autos cópia do protocolo em até 5 (cinco) após o
transcurso daquele, sob pena de multa.
III – apresentarem PRAD ao IDAF, em até 30 (trinta) dias, para o fim de
recuperar uma área estimada em 1.600,00 m², em local próximo à área degradada
tratada na alínea I, em local diverso do referido na alínea “II”, em obediência ao
art.14 e §§ da Lei Estadual nº 5.361/1996, de modo a se obter a recuperação do
DOBRO da área inicialmente degradada. Deverão apresentar nestes autos cópia do
protocolo em até 5 (cinco) após o transcurso daquele, sob pena de multa.
IV – executarem os PRAD’s acima referidos, após aprovados, em até 60
(sessenta) dias a contar da aprovação, comprovando a execução nestes autos em
até 10 (dez) dias após o transcurso daquele, com documento expedido pelo IDAF
atestando a plena recuperação das áreas, sob pena de multa.
V – Publicarem em jornal de grande circulação no Estado, para fins
pedagógicos, em até 10 (dez) dias após terem ciência da sentença condenatória,
terem sido condenadas pela Justiça de Serra, em ação civil pública movida pelo
Ministério Público (declinando seu número e a Vara Judicial), a promoverem a
recuperação ambiental prevista na alínea I acima, conforme redação a ser
elaborada por V. Exª. E ainda a fazerem o mesmo, nas mesmas condições, após
executarem o respectivo PRAD e comprovada a reparação do dano ambiental. O
não cumprimento deverá ensejar multa.
VI – pagarem, a título de danos morais coletivos, pelas razões acima
expostas, a quantia de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), a serem destinados
ao Fundo Municipal de Conservação Ambiental de Serra, Conta Corrente nº
11876927, Agência 110, Banestes.
VII – pagarem em caso descumprimento de qualquer dos prazos referidos
nas alíneas anteriores multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), para cada
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empresa, por dia de atraso, em favor do Fundo Municipal de Conservação
Ambiental de Serra, Conta Corrente nº 11876927, Agência 110, Banestes.
Requer seja permitida a produção de todas as provas admitidas em Direito.
Dá-se à causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
Serra, 04 de julho de 2016.
RONALDO GONÇALVES DE ASSIS
Promotor de Justiça
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ROL DE TESTEMUNHAS:
1) Alexandre Fiorotti, encontrado na SEDUR (fls. 791e 866/880)
2) Camila Gomes Pacheco, Bióloga, encontrada na SEMMA (fls. 256 e
410/412).
3) Dandara Pereira de Almeida, ex-servidora e Chefe do Departamento de
Recursos Naturais da SEMMA (fls. 19/21, fls. 69/70 e 774/776).
4) Danielle Fatima de Aquino, Biológica, encontrada na SEMMA (fls.
214/216, 530/531 e 537/538)
5) Edmara Salete Lorenção, encontrada na SEMMA de Serra/ES (fls. 621/622,
866/880 e 1115/1117).
6) Eloisa Helena de Moraes, encontrada na SEMMA (fls. 410/412 e 595/597)
7) Geziel Reis Andrade, Sgt PM, encontrado no Batalhão Ambiental (fls. 7/17)
8) Isidório Nascimento Simões, Técnico do IDAF, fls. 911/913, 923, 925/949,
958/963, 965, 968/969 e 1002/1008, encontrado na Av. Getúlio Vargas,
123, sala 201, centro, Serra – ES.
9) Marcos Antônio dos Reis Tosta, encontrado na SEMMA (fls. 60/67,
832/833 e 72/73 do Anexo)
10) Robson Mendes de Paulo, encontrado na SEMMA (fls. 410/412 e 423).