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1 MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO 7ª Promotoria de Justiça Cível da Serra Avenida Getúlio Vargas, 295, Tel.3291.1100, Centro, Serra/ES. www.mpes.gov.br. EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DE MEIO AMBIENTE DA COMARCA DE SERRA ES. Inquérito Civil MPES Nº 2015.0010.3130-91 O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por seu Promotor de Justiça, vem perante V. Exª. ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA para demolição de obras edificadas em área de preservação ambiental, recuperação de área degradada e áreas próximas, e condenação por danos morais coletivos, com pedido de liminar, em face de REALMAR DISTRIBUIDORA LTDA (SUPERMERCADOS EXTRABOM), doravante denominado EXTRABOM”, INVEST PARTICIPAÇÕES IMOBILIÁRIA S/A, doravante denominada INVEST”, CNPJ nº 14.248.201/0001-17, pessoa jurídica de direito privado, por seu representante legal, localizada na Rua Athalides Moreira de Souza, s/n, Civit I, Serra ES, e na Rua Pelos fatos a seguir expostos: I DOS FATOS:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO

7ª Promotoria de Justiça Cível da Serra

Avenida Getúlio Vargas, 295, Tel.3291.1100, Centro, Serra/ES. www.mpes.gov.br.

EXMO. SR. JUIZ DE DIREITO DA VARA DE MEIO AMBIENTE DA COMARCA

DE SERRA – ES.

Inquérito Civil MPES – Nº 2015.0010.3130-91

O MINISTÉRIO PÚBLICO ESTADUAL, por seu Promotor de Justiça,

vem perante V. Exª. ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA para demolição de obras

edificadas em área de preservação ambiental, recuperação de área degradada e

áreas próximas, e condenação por danos morais coletivos, com pedido de liminar,

em face de

REALMAR DISTRIBUIDORA LTDA (SUPERMERCADOS

EXTRABOM), doravante denominado “EXTRABOM”, CNJP nº

03.845.717/0001-22, pessoa Jurídica de direito privado, por seu

representante legal, localizada na Av. Guarapari, s/n, lado B,

Laranjeiras (ou Valparaíso), região de Carapina, Serra – ES, CEP nº

29.165-791; e

INVEST PARTICIPAÇÕES IMOBILIÁRIA S/A, doravante

denominada “INVEST”, CNPJ nº 14.248.201/0001-17, pessoa

jurídica de direito privado, por seu representante legal, localizada na

Rua Athalides Moreira de Souza, s/n, Civit I, Serra – ES, e na Rua

Cinco, 725, Civit I, Serra – ES, CEP nº 29.168-013;

Pelos fatos a seguir expostos:

I – DOS FATOS:

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO

7ª Promotoria de Justiça Cível da Serra

Avenida Getúlio Vargas, 295, Tel.3291.1100, Centro, Serra/ES. www.mpes.gov.br.

001 - Conforme apurado neste Inquérito Civil, no ano de 2011, a INVEST

adquiriu um imóvel então pertencente à empresa Espírito Santo Imóveis Oliveira

Ltda, medindo 165.876,00 m², já urbanizado (Licença Municipal de Instalação nº

58/2011 – fl. 430 e fl. 465 – V. III), no lugar denominado Cacu, neste Município,

conforme a escritura pública de compra e venda de imóvel acostada às fls. 563/575

(V. III). Então, a INVEST celebrou contrato de locação da área e construção do

Centro de Distribuição de Alimentos – CDA – com o EXTRABOM (fls. 101/117

– V. I), a ser edificado e regularizado junto aos órgãos públicos às expensas

daquela.

0002 - Pelo Contrato, a INVEST ficava responsável pela “realização(ões)

das construções e benfeitorias dentro da referida área”, devendo o EXTRABOM

arcar com “todas as despesas necessárias para a regularização da obra junto a

todos e quaisquer Órgãos Públicos” (fl. 102).

0003 - Importante frisar que desde a regularização do loteamento Civit I, os

órgãos ambientais manifestaram preocupação com a preservação da área, em

especial devido à presença da Lagoa Jacunem nas proximidades.

0004 - Quando do Processo nº 40279/2011, movido pela Espírito Santo (fls.

401/471 - V. III) para a regularização do loteamento, o Instituto de Defesa

Agropecuária e Florestal do Espírito Santo – IDAF - se manifestou sobre a

“importância em observar as demarcações ou determinações das áreas liberadas”

(fl. 407 – V. III), ressaltando que o “laudo técnico não tem [tinha] efeito

autorizativo”. Ou seja, demandava licença ambiental para sua execução, a ser

obtida junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Serra – SEMMA.

0005 - Por sua vez, a SEMMA, em Parecer Técnico às fls. 410/412, de

13.07.2011, ante o fato de ter sido requerida a licença ambiental para fins de

construção de galpões, na ocasião fez o seguinte alerta:

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alerta que as ações de implantação do loteamento na área requerida podem ocasionar carreamento de partículas e assorear a lagoa Jacuném e sua várzeas, além de afetar a vegetação remanescente no entorno. Esse quadro poderia, de acordo com a técnica Danielle [Parecer às fls. 537/538 – V. III], comprometer diretamente o Corredor Ecológico do qual a lagoa faz parte e também afetar a APA da Jacuném. [...] Assim, o relatório recomenda que sejam tomadas medidas que evitem o carreamento de partículas e, por consequência, o assoreamento dos recursos hídricos adjacentes, além de promover a recuperação/plantio da área que não será utilizada, o que permitirá as conexões necessárias ao corredor ecológico sejam mantidas. (negrito nosso)

006 - Após a aquisição e contrato, a INVEST passou a praticar atos voltados

à edificação da área em favor do EXTRABOM, na Rua 05 (cinco), nº 725, Bairro

Civit I, junto a órgãos da Prefeitura Municipal de Serra e ao Instituto de Defesa

Agropecuária e Florestal deste Estado – IDAF.

007 - Mais especificamente, a INVEST buscou obter 1) licença ambiental

junto à Secretaria Municipal de Meio Ambiente – SEMMA (Processo nº

124329/2012/fls. 542/585 – V. III), 2) alvará de construção junto à Secretaria

Municipal de Desenvolvimento Urbano – SEDUR (fl. 33 – V. I), e 3) autorização

de supressão de vegetação nativa junto ao IDAF (fls. 34/57 – V. I).

008 - Em 10.10.2012, a INVEST requereu e obteve junto à SEMMA - a

Licença Municipal Prévia nº 78/2012 (fls. 29 e 585 – V. I e III), para fins de

executar a atividade de armazém de produtos não perigosos e logística na área

adquirida.

009 - Esclareça-se inicialmente que a licença ambiental se subdivide, via de

regra, em prévia - LP, de instalação – LI - e de operação – LO, sendo certo que a

LP não permite o início da obra. A Resolução CONAMA nº 237/1997 assim as

define:

Art. 8º - O Poder Público, no exercício de sua competência de controle, expedirá as seguintes licenças:

I - Licença Prévia (LP) - concedida na fase preliminar do planejamento do empreendimento ou atividade aprovando sua localização e concepção, atestando a viabilidade ambiental e estabelecendo os requisitos básicos e condicionantes a serem atendidos nas próximas fases de sua implementação;

II - Licença de Instalação (LI) - autoriza a instalação do empreendimento ou atividade de acordo com as especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as medidas de controle ambiental e demais condicionantes, da qual constituem motivo determinante;

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III - Licença de Operação (LO) - autoriza a operação da atividade ou empreendimento, após a verificação do efetivo cumprimento do que consta das licenças anteriores, com as medidas de controle ambiental e condicionantes determinados para a operação.

Parágrafo único - As licenças ambientais poderão ser expedidas isolada ou sucessivamente, de acordo com a natureza, características e fase do empreendimento ou atividade.

010 - Desse modo, a Licença Municipal Prévia nº 78/2012 (fls. 29 e 585 –

V. I e III) em momento algum permitia que a INVEST desse início, executasse e

concluísse a obra, como aconteceu e se verá. Possui a LP efeitos iniciais relativos

somente a planejamento, “localização e concepção” do empreendimento, atestar

sua “viabilidade ambiental”, etc.

011 - Neste contexto, a INVEST, em 19.10.2012, também obteve junto à

SEDUR o Alvará de Construção nº 1431/2012 (fl. 33 – V. I), para o fim de edificar

um “centro de distribuição e logística”, na área 6 do bairro Civit I, Sítio Maringá,

Carapina, nesta Cidade (trocando em miúdos, na Rua 05 (cinco), nº 725, Bairro

Civit I).

012 - Esclareça que a emissão do alvará de construção, também, em

momento algum, conferia direito à INVEST de iniciar a execução das obras na

área. Isso porque, além de se situar em uma Área de Proteção Ambiental – APA,

e possuir vulnerabilidades, como antes transcrito, a INVEST deveria, também,

obter previamente ao início das obras o licenciamento ambiental junto à SEMMA

e autorização de supressão de vegetação nativa junto ao IDAF.

013 - No tocante ao IDAF, este, em 17.08.2012, também a pedido da

INVEST, realizou vistorias na área, conforme Laudos de Vistoria Florestal – LAF

(fls. 34/42 – V. I), para analisar a possibilidade de supressão de vegetação nativa

de Mata Atlântica para a execução da obra pretendida.

014 - Nos Laudos de Autorização Florestal - LAF, o IDAF foi favorável à

supressão por estar a “vegetação nativa da Mata Atlântica em estágio inicial de

regeneração” e “fora de Área de Preservação Permanente” - APP (fls. 35e 38 –

V. I). Também impôs como uma das condições vinculantes da autorização

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“Observar a distância mínima de 50 metros da Lagoa Jacunem” (fls. 36 e 39 – V.

I).

015 - A justificativa dada pelo IDAF para a imposição do respeito a 50

metros como área de preservação ambiental, distância esta maior que os 30 metros

previstos em lei para as APP’s1 “foi o fato de o local se situar na APA da Lagoa

Jacunem, conforme a Lei 2.135/1998”2. Isso em momento algum poderia ser

questionado por INVEST e EXTRABOM, devendo estes tão-só cumprirem o

determinado.

016 – Como visto, a área na qual se construiu o CDA faz parte de uma

Unidade de Conservação- UC, no caso, de uso sustentável, da categoria Área de

Proteção Ambiental – APA, prevista no inciso I, do art. 14, da Lei nº 9.985/2000,

criada pela Lei Municipal nº 2.135/1998 (fls.950/951– V. V).

017 - Para viabilizar e acompanhar as obras, a INVEST delegou poderes

por procuração (fls. 586/587 – V. III) a ELIOMAR3, diretor de infraestrutura do

EXTRABOM, que ficou assim responsável pelo gerenciamento e execução da

obra “conforme orientação da REALMAR (BUILDING SUIT)”4, no caso, o

EXTRABOM, agindo então em nome das duas empresas.

018 – E em 2012, mesmo sem as necessárias licenças ambientais, INVEST

e EXTRABOM deram início às obras, ao arrepio da lei. Segundo ELIOMAR, ao

falar sobre a LP 78/2012, “com essa licença, o declarante começou a fazer a obra”

e a concluiu, não seguindo o devido processo legal, que demandaria a obtenção

junto à SEMMA de LI e LO.

019 - Ressalte-se que a LP nº 78/2012 (fls. 29/30 – V. I) foi expressa em

impor na condicionante 7 que “A emissão desta licença não autoriza a execução

de qualquer obra ou funcionamento da atividade no local”. Assim, a afirmação de

1 Lei nº 12.651/2012 (Código Florestal), art. 4º, inciso II, alínea “b” 2 Depoimento do Técnico do IDAF Isidório Nascimento Simões (fls. 911/913 – V. V) 3 Depoimentos/manifestações às fls. 860/863 e 964/965 (V. V) e fl. Xx do Anexo I 4 Depoimento à fl. 860

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ELIOMAR de ter agido de boa-fé, “achando que estava tudo dentro da lei”, cai

por terra (fl. 892 – V. V).

020 - E para piorar a situação, INVEST e EXTRABOM, durante a

construção irregular do CDA, decidiram ampliar a obra, também ao arrepio da lei

ambiental, acrescendo-lhe um quiosque com churrasqueira e um campo de futebol

society (chamada ‘área de lazer’) para o uso e recreação de funcionários e amigos.

021 – Assim, não bastasse a ilegalidade da construção do CDA sem licença

ambiental, com a nova obra, passou-se a ir contra o disposto no Alvará de

Construção (fl. 33 – V. I). Isso porque a metragem limite da obra ali prevista era

de 11.760,27 m², e com a obra da ‘área de lazer’, superava 12.000 m². Com isso, a

SEDUR passava a exigir a apresentação de Estudo de Impacto de Vizinhança –

EIV, que também não foi feito. E mesmo assim edificaram a ‘área de lazer’.

022 – Tais empresas buscam agora justificar a execução das obras sem

licença ambiental e EIV, demonizando, como é de praxe no Brasil, o licenciamento

ambiental, tendo ELIOMAR afirmado que “se fosse esperar a emissão de licenças,

até hoje não teria concluído a obra” (fl. 862 – V. V). Tal postura decorre em

verdade da certeza na impunidade, e não pode prosperar.

023 - Esclareça-se que o motivo desta ação não é punir INVEST e

EXTRABOM por construírem tais obras (CDA, quiosque com churrasqueira e

campo de futebol society) sem o devido licenciamento ambiental, atentando contra

as ordens legais emanadas dos órgãos ambientais. O motivo é exigir a reparação

do ambiental causado em área de preservação ambiental, como se verá.

024 – Ocorre que parte da ‘área de lazer’ (quiosque com churrasqueira e

campo society) foi edificada em área de preservação ambiental, prevista em leis

municipais, e definida pelo IDAF em 50 metros de distanciamento a partir da

Lagoa Jacunem. O IDAF aumentou a proteção, passando-a dos 30 metros de APP

previstos nas leis para 50 metros, por se estar em uma APA. A respeito, disse

Isidório Nascimento Simões, à fl. 911, quando ouvido:

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a justificativa do IDAF para exigir 50 metros, e não 30, como normalmente se vê, foi o fato de o local se situar na APA da Lagoa Jacunem, conforme a Lei 2.135/1998.

025 - INVEST e EXTRABOM, mesmo sendo duas grandes empresas,

agiram de forma amadora, abusiva e descompromissada com as leis e o equilíbrio

ambiental. ELIOMAR, ao ser ouvido, disse que “não chegou a contratar um

técnico para ir ao local, antes do início da obra, e fazer a medição de APP a ser

respeitada”5. Ou seja, não tiveram qualquer cuidado. Deveriam ao menos respeitar

a determinação do IDAF, já que não o fizeram quanto à SEMMA. Mas resolveram

persistir no erro, simplesmente ignorando as leis ambientais.

026 - Vejamos por fotografias, a área em questão antes, durante e depois da

obra:

Figura 1: área antes do início da obra - fl. 335

5 Depoimento de Eliomar à fl. 862.

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Figura 2: área durante a obra, sem o campo de futebol e área de lazer, com churrasqueira – fl. 63

:

Figura 3: área durante a obra, já com o campo de futebol e área de lazer, com churrasqueira – fl. 63

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Figura 4: visão da área de lazer, com o quiosque e campo de futebol ao fundo - fl. 10

Figura 5: visão próxima da área de lazer, com quiosque e campo de futebol – fl. 67.

027 - Tem-se às fls. 621/623 (V. IV), ata de reunião realizada em

27.11.2014, no gabinete da SEMMA6, que contou com a participação de

ELIOMAR, que disse na ocasião “estar disposto a recuperar a área se

necessário”. Todavia, não é o que se tem visto desde então. Ouvido no MPES, em

6 Contou com a participação da Secretária de Meio Ambiente, Andréia Carvalho

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2015, não aceitou recuperar a área de preservação ambiental, demolindo as obras

irregulares no que for necessário para recompor a área degradada.

028 – Nesse sentido, à fl. 964, foi proposto em 15.10.2015 pelas empresas

“a regeneração da estrada próxima à lagoa e do campo aberto já existente”, por

entenderem “mais importante de ser recuperado”. Às fls. 971/973, INVEST e

EXTRABOM chamaram a degradação ambiental por eles promovidas de “obras

de artes”, aceitando que a finalidade desta “arte” foi “promover o bem-estar físico

e mental dos colaboradores que laboram na empresa”.

029 - Saliente-se porém que a recuperação desta área citada (estrada

próxima – fls. 1009/1010) em verdade já é uma obrigação pretérita não cumprida.

Isso porque, por ocasião da regularização do loteamento, o IDAF determinou, em

16.12.2008 (fls. 206/208), que a empresa Espírito santo Imóveis Oliveira Ltda

obstruísse “todos os acessos a Lagoa Jacuném, arando essas vias e procedendo o

plantio de espécies nativas”.

030 - Já a SEMMA, em 09.02.2009 (fls. 219/220), autorizou a realização

de limpeza na área, encampando a obrigação imposta pelo IDAF, de “obstrução

de acessos à Lagoa Jacunem” (fl. 260-v – V. II), o que não foi cumprido pela

Espírito Santo, conforme Relatório Técnico de fl. 246, de maio de 2009.

031 - Todavia, como INVEST comprou a área da Espírito

Santo, e a destinou em benefício do EXTRABOM, e possuindo as obrigações

ambientais natureza propter rem, estas empresas assumiram a responsabilidade

pelo cumprimento da obrigação prevista na Autorização Ambiental 02/2009 (fls.

260 – V. II), de fechamento da estrada, aragem e plantio de vegetação nativa.

032 - Tal obrigação foi apontada em Relatório da SEMMA, de junho de

2014, como de necessário cumprimento pelas requeridas (fls. 868 e 871). Assim,

não podem elas agora quererem cumpri-la como uma espécie de contrapartida para

a manutenção do quiosque com churrasqueira e campo de futebol society

intocados.

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033 – Quanto aos prejuízos ambientais, Parecer elaborado pela SEMMA7,

de 19.03.2015, através de seu Departamento de Recursos Naturais – DRN (fls.

774/776 – V. IV), concluiu pela supressão indevida em área de APP, com base nos

50 metros impostos pelo IDAF, e estimou o desmate indevido de 3.485,88 m² de

vegetação nativa.

034 - O IDAF, órgão responsável por autorizar a supressão, porém, foi ao

local, em 29.09.2015, e concluiu se ter dado o dano ambiental em área de 0,16

hectares (fl. 957 – V. V), que “corresponde a 1.600 m²”8. Nesta ação, será

considerada essa área para fins de cálculo da área a ser recuperada, observadas as

demais exigências legais.

035 - Neste ponto, é importante frisar que a Lei Estadual nº 5.361/1996

prevê que a supressão de vegetação considerada de “Preservação Ambiental,

dependerá de autorização dos órgãos competentes”, sendo prevista exceção

apenas para obras de utilidade pública ou interesse social, no que claramente não

se enquadra edificação da ‘área de lazer’ aqui referida. Vejamos o dispositivo

legal:

Artigo 14 Ficam proibidos o corte, a exploração e a supressão das florestas de Preservação

Ambiental.

§ 1º Excepcionalmente, a supressão ou alteração total ou parcial das florestas ou demais

formas de vegetação, consideradas de Preservação Ambiental, dependerá de autorização

dos órgãos competentes, federal e estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio

Ambiente CONSEMA, quando necessária a execução de obras, planos, atividades ou

projetos de utilidade pública ou interesse social, mediante aprovação de estudo prévio e

relatório de impacto ambiental.

§ 2º A supressão que trata o parágrafo anterior fica ainda, condicionada à obrigação do

empreendedor de recuperação em área próxima ao empreendimento, equivalente ao

dobro da área suprida, preferencialmente com espécies nativas de Mata Atlântica, ou

outras formas de compensação ecológica a ser determinada pelo Órgão competente.

(destaque nosso)

7 Pela Técnica Dandara Pereira de Almeida 8 Depoimento de Isídório Nascimento Simões, fl. 969

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036 - Como consequência legal para o ato ilícito praticado por INVEST e

EXTRABOM, de supressão ilegal de vegetação nativa, o § 2º desta norma impõe

a “recuperação em área próxima ao empreendimento, equivalente ao dobro da

área suprimida”. Assim, devem tais empresas recuperar uma área de 3.200 m², por

força de lei.

037 - Vejamos as projeções feitas pelo IDAF representando a área invadida

e degradada pela construção do quiosque com churrasqueira e campo de futebol

society, a ser demolida e recuperada (fl. 922 – V. V):

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038 - Em outro Parecer elaborado pela SEMMA, de 12.11.2014 (fls.

777/781 – V. IV), relativo a estudo feito para fins de realização do EIV, entendeu-

se por não ser possível analisa-lo por já se encontrar o empreendimento

implantado. Porém, constatou-se “que houve supressão de vegetação além do

permitido”.

039 - E ainda, ressaltou-se a importância dos 50 metros exigidos pelo IDAF

para “a manutenção dos recursos hídricos”. Ainda se afirmou, naquele momento,

como condição para a aprovação do EIV, que deveriam INVEST e EXTRABOM

“recuperar toda a vegetação nativa existente, bem como a recuperação da estrada

que dá acesso a lagoa, uma vez que essas foram as condicionantes não cumpridas

por parte do empreendedor”. (destaque nosso)

040 - Por fim, exigiu-se, dentre outras coisas, a “Retirada das edificações

existentes em uma distância mínima de 50 metros da Lagoa Jacunem”, que são

exatamente o quiosque, com churrasqueira, o campo de futebol society (naquilo

que invadiram a área de preservação ambiental e for necessário para sua

preservação), e o aterro ali realizado para se erguer tais edificações.

041 - Assim, mostra-se imprescindível a demolição, no que for necessário,

do campo de futebol e do quiosque, com churrasqueira, irregularmente e

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construídos por INVEST e EXTRABOM em área de preservação ambiental,

conforme foi determinado pelo IDAF e desrespeitado pelas empresas. A obra

também afrontou a SEMMA, uma vez não regularmente licenciada junto àquele

órgão.

042 - Relatórios Fotográficos (fls. 960/961/IDAF/“a” e

872/881/SEDUR/“b”/”c” – V. V) mostram a área alvo de degradação. Vejamos:

a) Área degradada atualmente:

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b) Visão da obra logo após seu término, com aterro gramado e edificado

sobre remanescente de Mata Atlântica:

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c) Aterro sobre a vegetação nativa, por ocasião da obra irregular (fl. 66)

043 - O IDAF, órgão licenciador, no Laudo de Fiscalização de fls.

1003/1004, de 15.02.2016 (V. V), acentuou a importância ecológica da área

degradada, “caracterizando-se como área de preservação ambiental, segundo a

legislação do Município de Serra/ES, razão pela qual não teve sua exploração

florestal autorizada pelo IDAF, quando da emissão da AEF nº 449/2012, emitido

em 13.12.2012 [fl. 48 – V. I]”. Foi ainda de “parecer contrário ao

desembargo/desinterdição”, ressaltando a importância ambiental da área (Auto de

Infração, Embargo e Interdição de fl. 952, de 2.09.2015 (V. V).

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044 - O IDAF ainda reconheceu que “A área cuja vegetação foi suprimida

compõe um corredor ecológico ao longo da Lagoa Jacunem, sendo de especial

importância para a circulação segura dos animais silvestres na região”, fato

também por ele afirmado à fl. 958-v – V. V. (destaque nosso)

045 - O IDAF também foi taxativo ao dizer “sim” quanto à necessidade de

se recuperar o dano ambiental, mediante Projeto de Recuperação de Área

Degradada – PRAD. E aqui se chama a atenção para a necessidade de INVEST e

EXTRABOM demolirem as edificações, seja parcialmente, o quanto for

necessário, e retirarem o aterro (levando os detritos para aterro licenciado),

reflorestando por fim a área degradada com vegetação nativa.

046 - Sobre os danos encontrados, o Boletim de Ocorrência Ambiental de

fls. 07/12, de 02.04.2015, relata a supressão irregular de vegetação nativa em razão

da edificação da ‘área de lazer’, e a presença, à época, de talude não estabilizado,

o que criou “vários pontos de erosão, que carregam sedimentos para a lagoa e

respectiva APP”.

047 - A SEMMA elaborou Relatório de Vistoria (fls. 60/67), de 09.02.2015,

também taxativo quanto aos danos ambientais. Vejamos: “constatamos a

supressão de vegetação nativa e sem autorização, construção de equipamentos de

lazer e aterro reduzindo a vegetação nativa e sem a autorização, sendo que as

intervenções foram realizadas nas zonas de Proteção Ambiental 01, 02 e 03 – ZPA,

observando-se ainda que a área está inserida na área da APA da lagoa Jacuném,

além do Corredor Ecológico Central da Mata Atlântica, Duas Bocas e Mestre

Álvaro”. (destaque nosso)

047 - A SEMMA, também, em março de 2015 (fls. 774/776 – V. IV),

afirmou que “a área em questão possui Áreas de Preservação Permanente (APP)”,

e que “o aterro realizado na área não possui talude estabilizado, com vários

pontos de erosão, que carregam sedimentos para a lagoa e respectiva APP”, como

visto na figura acima.

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048 - O Relatório de Análise Técnica, relativo ao EIV (fls. 777/781 – V.

IV), também descreveu danos ambientais decorrentes da obra. Conforme ele, “em

imagens aéreas e em vistoria na área no dia 21 de outubro de 2014, pode-se

constatar que houve uma supressão de vegetação além do permitido”. Concluiu

pela necessidade de “Retirada das edificações existentes em uma distância mínima

de 50 metros da Lagoa Jacunem”, mediante PRAD (destaque nosso). Vejamos a

fotografia do Relatório onde se encontra circulada a área degradada:

Figura 6: área circulada objeto de degradação, coincidente com a área aqui tratada.

049 - Constatado o dano ambiental por vários órgãos ambientais, como

visto, INVEST e EXTRABOM, instadas a se manifestarem sobre a recuperação

voluntária da área, através de ELIOMAR (Procuração fls. 586/587 – V. III),

disseram, em agosto de 2015 (fls. 860/863 – V. V), que não o fariam. E ainda, que

gostariam de “compensar em outro local”. Isso reforça a ideia de crença na

impunidade por parte dos degradadores.

050 - E ainda se arvorando da condição de especialista ambiental,

ELIOMAR, falando em nome das empresas, em 15.10.2015 (fl. 964 – V. V),

afirmou que “a regeneração da estrada próxima à lagoa e do campo aberto já

existente seria mais importante de ser recuperado que demolir as obras

irregularmente feitas”.

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051 - Ressalte-se que a APA da Lagoa Jacuném (Lei nº 2.135/1998 – fls.

950/954 – V. V) busca exatamente conferir maior proteção à Lagoa e sua área ao

redor. E para o fim de se manterem as características ambientais da área degradada,

mostra-se de rigor a demolição das obras relativas ao campo de futebol e área de

lazer, com churrasqueira (pelo menos no que invadiu a área de preservação

ambiental e for necessário para lhe garantir a devida proteção).

052 - Só com a demolição e atendimento às demais exigências feitas pelos

órgãos ambientais serão recuperadas as funções ecológicas da área degradada,

especialmente no tocante ao CORREDOR ECOLÓGICO ali existente, que não

pode ser prejudicado em prol do lazer e recreação de servidores e amigos de

INVEST e EXTRABOM..

053 - Assim, não resta dúvida de que a atitude de INVEST e EXTRABOM

ultrapassou a divisa do absurdo, mesmo porque devem agir imbuídas de um

compromisso social de dar bons exemplos à coletividade, especialmente no âmbito

ambiental, mesmo porque este prima pela venda de alimentos. Ao agirem como

relatado, apostaram na histórica impunidade que sempre imperou no país

(especialmente em razão do poder econômico), e dão um péssimo exemplo à

sociedade como um todo, em especial, à Serrana.

054 - Tal conduta pode inclusive servir de estímulo para as pessoas

degradarem ainda mais a Lagoa Jacunem, que, como visto nas figuras acima, fica

bem próxima da área degradada (hoje, a menos de 50 metros, já que as obras

invadiram a área de preservação ambiental nos limites impostos pelo IDAF), e

pode assentar na cabeça das pessoas a ideia de que, se quem tem mais pode

degradar (INVEST e EXTRABOM), o cidadão também o pode.

II – DO DIREITO:

055 - A proteção ao Meio Ambiente foi expressiva em nossa Constituição

Federal, tanto que o o legislador constituinte resolveu lhe reservar um capítulo

inteiro na Constituição Federal, sendo extraído da Carta Magna que:

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Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado,

bem de uso comum do provo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-

se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para

as presentes e futuras gerações.

056 - No que refere à responsabilização do infrator pelos danos provocados

ao meio ambiente, mesmo antes do advento da CF/88, o ordenamento jurídico

brasileiro já previa sua responsabilização objetiva na Lei nº 6.938/1981 (Lei da

Política Nacional de Meio Ambiente), que em seu artigo 14, § 1º, diz:

Sem obstar a aplicação das penalidades previstas neste artigo, é o poluidor

obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os

danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade. O

Ministério Público da União e dos Estados terá legitimidade para propor ação

de responsabilidade civil e criminal, por danos causados ao meio ambiente.

057 - E a Constituição Federal veio posteriormente recepcionar a

responsabilização objetiva, no § 3º do art. 225. Vejamos:

As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os

infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas,

independentemente da obrigação de reparar os danos causados.

058 - No tocante à proteção ambiental, a legislação municipal vigente é

também bastante rigorosa, especialmente através do Plano Diretor Municipal –

PDM (Lei 3.820/2012), que criou as chamadas Zonas de Proteção Ambiental -

ZPA, que estão previstas em seus artigos 96 e seguintes.

059 - Resta claro que a construção do quiosque com churrasqueira e do

campo society afetou negativamente a Lagoa Jacunem, sua APP (30 metros), e a

área de preservação ambiental imposta pelo IDAF por ocasião da concessão de

autorização para a supressão de vegetação nativa (50 metros). Vejamos alguns

dispositivos legais do PDM, que impõe alto grau de proteção à área degradada:

Art. 102 Ficam identificados e declarados como Zonas de Proteção Ambiental 01:

I - os fragmentos de Mata Atlântica e Ecossistemas associados, independentes do estágio sucessional quando sua preservação se configurar como de

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relevância ecológica à região em que estão inseridos bem como ao município; (grifo nosso)

[...]

III9 – as áreas, florestas e demais formas de vegetação existentes ao redor de lagoas, lagos ou reservatórios de água naturais, desde o seu nível mais alto medido horizontalmente em faixa marginal, cuja largura mínima será de: a) 30 m (trinta metros) para os que estejam em áreas urbana;

Art. 103 – As Zonas de Proteção Ambiental 02 são áreas do território

municipal com características e atributos naturais cuja função é de

proteger, recuperar e melhorar a qualidade de vida e do meio ambiente,

sendo destinadas à conservação e mantendo suas características

funcionais. (destaque nosso)

Art. 104. Ficam identificados e declarados como Zonas de Proteção ambiental

02:

[...]

III – os cinturões ou as áreas verdes de loteamento, conjuntos habitacionais,

complexos, centros e polos industriais quando não enquadrados em outras

categorias; (negrito nosso)

[...]

Paragrafo único. As áreas definidas como Zonas de Proteção ambiental 02 são

consideradas não edificantes em razão da necessidade de sua conservação e

por se constituírem em áreas de risco suscetíveis de erosão, deslizamentos,

alagamentos ou outra situação que coloque em risco a população. (negrito

nosso).

Art. 106 As Zonas de Proteção Ambiental 03 são áreas que pelas suas

condições fisiográficas, geográficas, geológicas, hidrológicas e botânicas

formam um ecossistema de importância no meio natural serrano, sendo

destinadas à preservação e conservação por meio da criação e implantação

de Unidades de Conservação.

Art. 107 As Zonas de Proteção Ambiental 03 apresentam como objetivos:

I - contribuir para a manutenção da diversidade biológica e dos recursos genéticos no território municipal e nas águas jurisdicionais;

9 Este artigo, e alguns outros do PDM citados nesta ação tiveram suas redações alteradas pela Lei nº 4.459/2016. Porém, foi pelo Ministério Público obtida decisão liminar junto ao Tribunal de Justiça deste Estado suspendendo seus efeitos, através da ADIn nº 0008780-71.2016.8.08.0000 (Voto às fls. 1111/1114 – Volume V). Esclareça-se que todas as redações transcritas nesta ação estarão desconsiderando a modificação trazida pela Lei Municipal nº 4.459/2016.

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II - proteger as espécies ameaçadas de extinção no âmbito local e regional;

III - contribuir para a preservação e a restauração da diversidade de ecossistemas naturais;

IV - promover o desenvolvimento sustentável a partir dos recursos naturais;

V - promover a utilização dos princípios e práticas de conservação da natureza no processo de desenvolvimento;

VI - proteger paisagens naturais e pouco alteradas de notável beleza cênica;

VII - proteger as características relevantes de natureza geológica, geomorfológica, arqueológica, paleontológica e cultural;

VIII - proteger e recuperar recursos hídricos e edáficos;

IX - recuperar ou restaurar ecossistemas degradados;

X - proporcionar meios e incentivos para atividades de pesquisa científica, estudos e monitoramento ambiental;

XI - valorizar econômica e socialmente a diversidade biológica;

XII - favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;

XIII - proteger os recursos naturais necessários à subsistência de populações tradicionais, respeitando e valorizando seu conhecimento e sua cultura e promovendo-as social e economicamente.

Art. 108 Integram as Zonas de Proteção Ambiental 03, definidas com base no

Sistema Nacional de Unidades de Conservação - SNUC, Lei Federal nº

9985/2000 e no Sistema Estadual de Unidades de conservação-SISEUC, Lei

Estadual nº 9462/2010:

[...]

VI - Área de Proteção Ambiental Municipal da Lagoa Jacuném - APA.

(destaque nosso).

060 - Frise-se que a área degradada é de preservação ambiental por se

encontrar dentro da área da APA da Lagoa Jacunem, criada pela Lei Municipal nº

2.135/1998 (fls. 950/951 – V. V), “abrangendo o entorno da Lagoa, e de seus

contribuintes” (art. 1º), sendo vários os seus objetivos (art. 2º), destacando-se a

“Proteção da fauna aquática e proteção dos corredores ecológicos”.

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061 - Como já afirmado por várias autoridades ambientais, em transcrições

anteriormente feitas, a construção da ‘área de lazer’ trouxe e traz sérios prejuízos,

também, ao corredor ecológico ali existente, não só por ter ocupado parte do

mesmo, mas também porque as atividades da ‘área de lazer’ prejudica o uso da

área pelos animais silvestres, em razão de ruídos produzidos, lançamento indevido

de materiais na área, etc.

062 - Ainda, destaque-se, o fato aqui narrado se desdobra em crimes

ambientais graves, previstos nos artigos 40 e 68 da Lei 9.605/98, e já objetos de

denúncia (fls. 1119/1133). Vejamos:

Art. 40. Causar dano direto ou indireto às Unidades de Conservação e às áreas de que trata o art. 27 do Decreto nº 99.274, de 6 de junho de 1990, independentemente de sua localização:

Pena - reclusão, de um a cinco anos.

[...]

Art. 40-A. (VETADO) (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000)

§ 1o Entende-se por Unidades de Conservação de Uso Sustentável as Áreas de

Proteção Ambiental, as Áreas de Relevante Interesse Ecológico, as Florestas

Nacionais, as Reservas Extrativistas, as Reservas de Fauna, as Reservas de

Desenvolvimento Sustentável e as Reservas Particulares do Patrimônio

Natural. (Incluído pela Lei nº 9.985, de 2000)

Art. 68. Deixar, aquele que tiver o dever legal ou contratual de fazê-lo, de cumprir obrigação de relevante interesse ambiental:

Pena - detenção, de um a três anos, e multa.

063 - Importante ainda expor que a Lei Estadual nº 5.361/1996 prevê a

recuperação em dobro da área indevidamente suprimida. Vejamos:

Artigo 14 Ficam proibidos o corte, a exploração e a supressão das florestas de

Preservação Ambiental. § 1º Excepcionalmente, a supressão ou alteração total

ou parcial das florestas ou demais formas de vegetação, consideradas de

Preservação Ambiental, dependerá de autorização dos órgãos competentes,

federal e estadual, ouvido o Conselho Estadual de Meio Ambiente CONSEMA,

quando necessária a execução de obras, planos, atividades ou projetos de

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utilidade pública ou interesse social, mediante aprovação de estudo prévio e

relatório de impacto ambiental.

§ 2º A supressão que trata o parágrafo anterior fica ainda, condicionada à

obrigação do empreendedor de recuperação em área próxima ao

empreendimento, equivalente ao dobro da área suprida, preferencialmente com

espécies nativas de Mata Atlântica, ou outras formas de compensação ecológica

a ser determinada pelo Órgão competente. (grifo nosso)

064 - Desse modo, mostra-se manifesta a ilegalidade da conduta de

INVEST e EXTRABOM no presente caso, sendo de rigor a reparação EM

DOBRO do dano, com a demolição da ‘área de lazer’ naquilo que degrada a área

de preservação ambiental, e recuperação da outra metade em área próxima..

III – DO DANO EXTRAPATRIMONIAL COLETIVO

065 - O dano ambiental causado por INVEST e EXTRABOM decorreu do

desrespeito à ordem legitimamente dada pela Administração Pública, através da

SEMMA (Município de Serra) e IDAF (Estado do Espírito Santo), e extrapola a

órbita patrimonial à medida que termina por ofender a moral pública, devendo

então ser recomposto o dano não-patrimonial causado.

066 - Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves, na festejada obra

“Improbidade Administrativa”, 1ª edição, p. 349, discorrendo sobre o assunto,

afirmam:

Do mesmo modo que as pessoas jurídicas de direito privado, as de direito público também gozam de determinado conceito junto à coletividade, do qual muito depende o equilíbrio social e subsistência de várias negociações, especialmente em relação: a) aos organismos internacionais, em virtude dos constantes empréstimos realizados; b) aos investidores nacionais e estrangeiros, ante a freqüente emissão de títulos da dívida pública para a captação de receita; c) a iniciativa privada, para a formação de parcerias; d) às demais pessoas jurídicas de direito público, que facilitará a obtenção empréstimos e a moratória de dívidas já existentes, etc.

067 - Neste sentido, é inegável que a ação das requeridas, como se não

bastasse o prejuízo ambiental concretamente observado na área degradada, ensejou

e enseja lesão ao próprio conceito e confiança que o Município de Serra e o Estado

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do Espírito Santo desfrutavam e devem desfrutar em relação aos demais entes

políticos e seus próprios cidadãos, ficando abalada sua credibilidade, configurando

assim o dano moral a merecer reparação.

068 - Observe-se ainda que há expressa previsão legal acerca da reparação

por dano moral no artigo 1° da Lei n° 7.347/85, aplicável à espécie, principalmente

porque a ação civil pública também tutela um direito difuso, e neste caso, em

especial, como que enaltecendo a importância do Meio Ambiente, tal artigo o traz

em seu inciso I.

069 - Sustentando também a necessidade de reparação pelo dano moral

causado ao ente público, o que pode ser aplicado ao caso dos autos, vejamos as

seguintes considerações:

As pessoas jurídicas de direito público, com maior razão do que as direito privado, devem ser ressarcidas dos danos morais que venham a sofrer. A Administração Pública tem por fim a persecução do bem comum e todo ato praticado por seus agentes deve ter em foco o interesse público. Assim, temos que o ato de improbidade administrativa pode ferir também um interesse moral do ente público, traduzido na sua honra objetiva, na confiança e respeito que as pessoas devem devotar-lhe, não havendo motivo plausível para a recusa de ressarcimento. Nesse sentido, Figueiredo assinala que, no conceito de lesão ao patrimônio público, ‘por certo, está englobada a noção de lesão moral, porque

no conceito de perda patrimonial, cremos, está englobada a idéia de prejuízo moral, dano moral. Ademais, a lesão ao patrimônio moral sempre será dimensionada sob o aspecto econômico. Em suma, não existe ‘perda

patrimonial’ apenas sob a ótica econômica, ainda que recomposta a partir desse

critério”. (José Jairo Gomes, Apontamentos sobre a Improbidade Administrativa, in Improbidade Administrativa – 10 anos da Lei 8.429/92, ed. Del Rey, p. 265 -Grifo nosso)

070 - Desse modo, tem-se claro que INVEST e EXTRABOM, de forma

indesculpável, descumpriram deliberadamente as ordens que lhe foram

legitimamente dadas por SEMMA e IDAF, pautadas no respeito às normas

ambientais. Primeiro, por iniciarem as obras sem o devido licenciamento

ambiental, e a isso se acresceu terem-na aumentado sem aprovar junto à SEMMA

e outras Secretarias, como a SEDUR, que lhes exigiu o EIV. Por fim,

desrespeitaram os 50 metros exigidos pelo IDAF sem supressão de vegetação

nativa a partir da Lagoa Jacunem da lagoa.

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071 - É ainda mais lamentável saber que uma das empresas, que ao final é

a grande beneficiária da obra ali edificada e dos danos ambientais causados, é o

EXTRABOM, empresa grande deste Estado do Espírito Santo, que conforme seu

site (http://www.extrabom.com.br/lojas/), possui várias lojas, em Cariacica (três

lojas), Colatina (duas lojas), Guarapari (uma loja), São Mateus (duas lojas), Serra

(sete lojas), Vila Velha (três lojas), e Vitória (quatro lojas).

071 - É exigível das duas empresas não só que cumpram a lei, uma vez ser

inadmissível que o capital se sobreponha ao Estado de Direito, mas também que

dê o devido exemplo à sociedade. Em razão disso, devem se portar de forma

honesta aos olhos da população, no que se inclui cumprir as exigências legais que

lhes são feitas pelos órgãos públicos. E no caso, não cumpriram as determinações

de SEMMA e IDAF, voltadas à proteção do Meio Ambiente, em afronta ao Estado

de Democrático de Direito, que impõe a todos regras a serem cumpridas. Por tudo

isso, devem não só promover a recuperação do dano, masinforma-la à sociedade.

072 - Frise-se ainda que Serra é um Município complicado, pois alterna

muita pobreza e riqueza. E uma de suas piores características aqui existente é o

desrespeito às normas ambientais, o que se dá dos mais variados modos, como a

supressão irregular de vegetação, o que inevitável em invasões, o lançamento de

esgoto in natura no solo, o descarte irregular de lixo, etc.

073 - Essa cultura de degradação reforça ainda mais a necessidade de

empresas do porte das acusadas darem o bom exemplo. Ao agirem como fizeram,

parecem buscar legitimar e justificar aos olhos do povo a degradação ambiental,

passando por cima de tudo e de todos (inclusive os entes federados), o que mais

ainda contribui para que a população Serrana continue a assim também agir.

074 - Outro aspecto também a ser considerado é que, talvez pela capacidade

econômica de INVEST e EXTRABOM, entendam ainda vivermos, em termos

ambientais, no país da impunidade, no sentido de que, sabendo da negativa dos

órgãos ambientais em se permitir a degradação, optaram por degradar, confiando

e no máximo receber como punição o pagamento de uma “multinha” aos órgãos

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públicos, como se diz no meio social. Mas essa é uma prática que se viu no passado

e que não pode mais tolerar.

075 - Desse modo, tais empresas agiram de forma deliberada e atentatória

à dignidade, confiança e respeito devido aos órgãos públicos e à sociedade. Devem

em razão disso reparar tal dano extrapatrimonial em um patamar condizente à sua

capacidade econômica, sabidamente elevada. Como se pôde ver, o EXTRABOM,

possui 22 (vinte e duas) lojas neste Estado, e a INVEST, tão só pela negociação

feita, comprando o terreno e construindo o CDA, demonstrou possuir, também,

capacidade econômica elevada.

076 - E algo que também salta aos olhos é o fato de INVEST e

EXTRABOM terem causado tamanha degradação ambiental para fins

voluptuários (não que a finalidade comercial a justificasse). Fizeram-no para

edificar um quiosque com churrasqueira e um campo de futebol society para o

prazer e deleite de funcionários e amigos, o que é absurdo.

077 - Assim, em momento algum tais empresas se preocuparam com o

coletivo, mas apenas consigo próprias e seus interesses manifestamente individuais

e censuráveis. Degradaram para edificar obras de cunho eminentemente recreativo,

o que demonstra a falta de respeito ao Meio Ambiente. Se degradaram até para fins

de lazer, fizeram e o farão sem qualquer pejo por razões ligadas as suas atividades

econômicas, como também o fizeram, e não se pode permitir.

078 – Dessemodo, por uma soma de amadorismo, descaso, crença na

impunidade e mau costume ambiental, INVEST e EXTRABOM fizeram as obras

parcialmente dentro da área de preservação ambiental. Tivessem tão-só contratado

um técnico para fazer a medição conforme o determinado pelo IDAF, a degradação

em área de preservação ambiental não teria ocorrido10. Porém, sequer quiseram

arcar com tal gasto, pensando neste caso apenas no lazer e deleite de funcionários

e amigos, e claro, economizar às custas do Meio Ambiente equilibrado.

10 Depoimento de Eliomar César Avancini, à fl. 862.

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079 - Não bastasse isso, como também visto, a construção do quiosque com

churrasqueira e do campo de futebol society estava em desconformidade com o

Alvará de Construção. Este foi emitido para uma obra de até 11.760,27 m² (fl. 33

– Volume I). Com o acréscimo da ‘área de lazer’, passou-se de 12.000 m². Com

isso, passou-se a demandar novo alvará e realização de de Estudo de Impacto de

Vizinhança11- EIV. Mas, novamente, não o fizeram e construíram o quiosque com

Churrasqueira e o campo society sem atender à exigência legal.

080 - Frise-se novamente que a tão-só emissão do alvará de construção, pela

SEDUR, não habilita a construir no local, exigindo-se no caso a prévia

manifestação de SEMMA e IDAF através do licenciamento ambiental e

autorização de supressão, respectivamente. E a partir do momento que tais

INVEST e EXTRABOM decidiram construir a ‘área de lazer’, tornou-se

necessária a aprovação de EIV.

081 - Ante tais considerações, entendemos caracterizado o dano moral

coletivo, que não pode ser pequeno ao ponto de fomentar a impunidade, nem

elevado ao ponto de inviabilizar o andamento regular das empresas, motivo pelo

qual deve ficar a responsabilização, pelas razões antes expostas, na faixa de R$

400.000,00 (quatrocentos mil reais), solidariamente.

IV – DO PEDIDO LIMINAR:

082 - O Ministério Público requer a concessão de medida liminar, sem a

oitiva das partes contrárias , de forma solidária, pelas razões a seguir expostas:

083 - Como visto acima, as fotografias, laudos, Pareceres, BO, autos de

infração, etc, trazidos aos autos não deixam dúvidas quanto ao dano causado ao

Meio Ambiente através da realização da obra sem o devido licenciamento

11 Relatório relativo ao EIV, às fls. 777/781, elaborado por Kamila Souza Alves, às fls. 866/881, elaborado por Edmara Salete Lorenção.

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ambiental, invadindo área de preservação ambiental, determinada pela lei e pelo

IDAF.

084 - INVEST e EXTRABOM passaram por cima de todas as normas

ambientais na busca de construir o CDA deste em tempo recorde. Como visto,

necessitavam de licenças prévia, de instalação e de operação para dar início à

execução da obra. Porém, limitaram-se a obter a licença prévia, na qual era

expressa a proibição de dar início à obra, e promoveram a execução da obra,

concluindo-a.

085 - Não bastasse isso, no meio do processo irregular, resolveram

aumentar a área da obra. Além do CDA, decidiram construir um quiosque com

churrasqueira e um campo de futebol society para o uso de deleite de servidores e

amigos. Com isso, a obra inicialmente pensada, de 11.760,27 m² (Alvará de fl. 33

– V. I), passaria de 12.000 m², demandando então aprovação de EIV12. Novamente,

não o fizeram e construíram o quiosque com Churrasqueira e o campo society sem

atender à exigência legal.

086 - Assim, INVEST e EXTRABOM, empresas estas de grande porte,

agiram pautadas apenas no interesse próprio, com base em documentos

insuficientes, no caso, alvará de construção e licença prévia. E assim foram agindo

sob a desculpa de que “se fosse esperar a emissão das licenças, até hoje não teria

concluído a obra”13, alegação esta normalmente utilizada no meio empresarial,

colocando-se o Meio Ambiente, equivocamente, como um obstáculo ao

desenvolvimento. Agora, usando seu argumento, o que se questiona é o seguinte:

era realmente imprescindível a construção dessa ‘área de lazer’ para suas

atividades?

087 - A resposta ao questionamento acima só pode ser negativa.

12 Relatório relativo ao EIV, às fls. 777/781, elaborado por Kamila Souza Alves. 13 Depoimento de Eliomar César Avancini, fl. 862.

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088 - Os danos ambientais foram amplamente demonstrados no correr desta

ação, com base em pareceres/laudos técnicos com inúmeras fotografias. Vê-se que

a ‘área de lazer’ está parcialmente inserida na área de preservação ambiental,

adentrando no espaço não edificável imposto pelo IDAF, de 50 (cinquenta) metros

a partir da Lagoa Jacunem.

089 - Apesar da vedação, INVEST e EXTRABOM suprimiram vegetação

nativa sem autorização, já que o fizeram em desconformidade com a obtida junto

ao IDAF, aterraram o local, edificaram sobre a área aterrada o quiosque com

churrasqueira e o campo society, e por fim gramaram a terra solta em volta para

fins de jardinagem.

090 - Com tudo isso, viu-se o carreamento de sedimentos para toda a área

de preservação ambiental, até a Lagoa Jacunem, contribuindo para seu

assoreamento (BO – fl. 9, Parecer Técnico – fl. 21). Houve e há evidente prejuízo

ao corredor ecológico ali existente e previsto na Lei nº 2.135/1998 (Relatório de

Vistoria de fl. 61 e 64, IDAF – fl. 1003-v e Relatório/EIV – fls. 870/871), etc.

091 - Traz-se aqui novamente a transcrição do Parecer de fls. 410/412 – V.

III, que já ressalta, em julho de 2011, os perigos ambientais relativos ao uso

econômico desta área:

alerta que as ações de implantação do loteamento na área requerida podem ocasionar carreamento de partículas e assorear a lagoa Jacuném e sua várzeas, além de afetar a vegetação remanescente no entorno. Esse quadro poderia, de acordo com a técnica Danielle [Parecer às fls. 537/538 – V. III], comprometer diretamente o Corredor Ecológico do qual a lagoa faz parte e também afetar a APA da Jacuném. [...] Assim, o relatório recomenda que sejam tomadas medidas que evitem o carreamento de partículas e, por consequência, o assoreamento dos recursos hídricos adjacentes, além de promover a recuperação/plantio da área que não será utilizada, o que permitirá as conexões necessárias ao corredor ecológico sejam mantidas.

092 - Conforme esclarecido mais acima, por ser a área uma APA e merecer

uma maior proteção, o IDAF impôs, por ocasião da concessão da autorização de

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licença para supressão de vegetação um distanciamento de 50 (cinquenta) metros

a ser respeitado pelas empresas a partir da Lagoa Jacunem14.

093 - Porém, tal distanciamento não foi respeitado e tais empresas,

conforme relatório de fls. 777/781, ainda tentam enganar as autoridades afirmando

que “o empreendimento não se encontra em APP” (no caso, Área de Preservação

Permanente). Isso pode ser até verdade (APP são 30 metros a partir da Lagoa

Jacunem), mas ele se encontra em área de preservação ambiental, “de acordo com

o laudo do IDAF15”, que acrescentou, em conformidade com as leis, mais 20

(vinte) metros à APP em prol da Lagoa Jacuném, por se estar dentro de uma APA.

094 - A Resolução CONAMA nº 237/1997, como visto acima, exige o

licenciamento ambiental para o tipo de obra aqui realizada. E o artigo 43 da Lei

Municipal nº 2.199/1999 (Código Municipal de Meio Ambiente) corrobora tal

exigência. Vejamos:

Art. 43 - A execução de planos, programas, projetos e obras, a localização, construção, instalação, operação e ampliação de atividades e serviços, bem como o uso e exploração de recursos ambientais de qualquer espécie, de iniciativa privada ou do Poder Público Federal, Estadual ou Municipal, considerados efetiva ou potencialmente poluidoras ambiental, dependerão de prévio licenciamento ambiental pela SEMMA, sem prejuízo de outras licenças legalmente exigíveis.

095 - E complementa:

Art. 46 - A SEMMA, após a análise e aprovação de requerimento e documentação, informações e projetos apresentados pelas partes interessadas, expedirá as seguintes licenças: I – Licença Municipal Prévia – LMP; II – Licença Municipal de Instalação – LMI; III – Licença Municipal de Operação – LMO; IV – Licença Municipal de Ampliação – LMA; V – Licença Municipal de Regularização - LAR; VI – Licença Única – LU;

14 Depoimento de Isidório Nascimento Simões, fl. 911-v. 15 Relatório/EIV fl. 779.

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VII – Autorização Ambiental.

097 - Assim, com base nesta e outras normas, aqui citadas ou não, dúvida

não resta sobre a impossibilidade de manutenção de tais edificações na área de

preservação ambiental. É a demolição uma condição sine qua non para se

reestabelecer a recuperação da área.

098 - O IDAF é expresso em afirmar ser “contrário ao

desembargo/desinterdição” da área (fls. 1003/1004), ou seja, a permitir o uso pela

empresa da área. Os agentes municipais também se manifestaram pela necessidade

de retirada das edificações16.

099 - Manter tais edificações erguidas e sendo usadas, além de premiar

aquele que degrada o Meio Ambiente, contribuiria para a permanência do dano

ambiental, impedindo a regeneração natural da área, bem como prejudicando o

corredor ecológico ali existente, que tem nestas edificações

uma barreira ecológica ao fluxo de animais nativos, contribuindo também para o afugentamento de fauna pelos ruídos e a sujeição/exposição do remanescente de Mata Atlântica ao risco de fogo e de disposição de lixo17.

100 - Ante todo o exposto, o Ministério Público requer DECISÃO

LIMINAR para determinar que INVEST e EXTRABOM, solidariamente, que:

a) apresentem ao IDAF (órgão licenciador), em até 30 (trinta) dias, para

fins de aprovação, PRAD que preveja a recuperação do dano ambiental na área

degradada de 1.600 m², tendo como um dos pontos tratado a demolição das

edificações irregulares em toda a área de preservação ambiental (dentro dos 50

metros impostos pelo IDAF), e também fora desta no que for necessário para se

garantir sua plena recuperação ambiental. Deve o PRAD também tratar da retirada

dos entulhos, do desfazimento do aterro e replantio da área com vegetação nativa,

além de outras medidas legais exigidas pelo IDAF.

16 Relatório/EIV – FL. 871. 17 idem – fl. 870.

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b) Após aprovado o PRAD, promovam, em até 30 (trinta) dias, a

demolição e a recuperação da área degradada conforme ali disposto, transportando

o entulho produzido para aterro licenciado, comprovando nestes autos.

c) Após o transcurso dos prazos previstos nas alíneas “a” e “b”, devem

comprovar, em até 10 (dez) dias neste processo, a apresentação do PRAD, com

cópia protocolizada (“a), e relatório de vistoria do IDAF atestando a plena

recuperação do dano ambiental (“b”), sob pena de multa de R$ 2.000,00 (dois mil

reais) por dia de atraso, para cada empresa, a contar do final deste prazo, em favor

do Fundo Municipal de Conservação Ambiental de Serra, Conta Corrente nº

11876927, Agência 110, Banestes

V – DO PEDIDO FINAL:

101 - Ante todo o exposto, requer o Ministério Público Estadual, por seu

Promotor de Justiça, a condenação de INVEST e EXTRABOM, solidariamente, a:

I - apresentarem ao IDAF (órgão licenciador) para fins de aprovação, em

até 30 (trinta) dias, , PRAD que preveja a recuperação do dano ambiental na área

degradada relativa a de 1.600 m² medidos pelo IDAF, tendo como um dos pontos

tratado a demolição das edificações irregulares em toda a área de preservação

ambiental (dentro dos 50 metros impostos pelo IDAF), e também fora desta no que

for necessário para se garantir sua plena recuperação ambiental, devendo também

tratar da retirada dos entulhos, do desfazimento do aterro e replantio da área com

vegetação nativa, além de outras medidas legais exigidas pelo IDAF. Deverão

apresentar nestes autos cópia do protocolo em até 5 (cinco) após o transcurso

daquele, sob pena de multa.

II – apresentarem PRAD ao IDAF, em até 30 (trinta) dias, para obstruir e

recuperar, através de aragem e plantio de vegetação nativa, a área 2.553,00 m²

divisada pelo IDAF às fls. 1009/1010, por se tratar de obrigação propter rem (vide

parágrafos 029/032 acima), cuja responsabilidade pela recuperação foi transferida

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às requeridas por ocasião da compra do terreno da loteadora inicialmente obrigada.

Deverão apresentar nestes autos cópia do protocolo em até 5 (cinco) após o

transcurso daquele, sob pena de multa.

III – apresentarem PRAD ao IDAF, em até 30 (trinta) dias, para o fim de

recuperar uma área estimada em 1.600,00 m², em local próximo à área degradada

tratada na alínea I, em local diverso do referido na alínea “II”, em obediência ao

art.14 e §§ da Lei Estadual nº 5.361/1996, de modo a se obter a recuperação do

DOBRO da área inicialmente degradada. Deverão apresentar nestes autos cópia do

protocolo em até 5 (cinco) após o transcurso daquele, sob pena de multa.

IV – executarem os PRAD’s acima referidos, após aprovados, em até 60

(sessenta) dias a contar da aprovação, comprovando a execução nestes autos em

até 10 (dez) dias após o transcurso daquele, com documento expedido pelo IDAF

atestando a plena recuperação das áreas, sob pena de multa.

V – Publicarem em jornal de grande circulação no Estado, para fins

pedagógicos, em até 10 (dez) dias após terem ciência da sentença condenatória,

terem sido condenadas pela Justiça de Serra, em ação civil pública movida pelo

Ministério Público (declinando seu número e a Vara Judicial), a promoverem a

recuperação ambiental prevista na alínea I acima, conforme redação a ser

elaborada por V. Exª. E ainda a fazerem o mesmo, nas mesmas condições, após

executarem o respectivo PRAD e comprovada a reparação do dano ambiental. O

não cumprimento deverá ensejar multa.

VI – pagarem, a título de danos morais coletivos, pelas razões acima

expostas, a quantia de R$ 400.000,00 (quatrocentos mil reais), a serem destinados

ao Fundo Municipal de Conservação Ambiental de Serra, Conta Corrente nº

11876927, Agência 110, Banestes.

VII – pagarem em caso descumprimento de qualquer dos prazos referidos

nas alíneas anteriores multa no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), para cada

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empresa, por dia de atraso, em favor do Fundo Municipal de Conservação

Ambiental de Serra, Conta Corrente nº 11876927, Agência 110, Banestes.

Requer seja permitida a produção de todas as provas admitidas em Direito.

Dá-se à causa o valor de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).

Serra, 04 de julho de 2016.

RONALDO GONÇALVES DE ASSIS

Promotor de Justiça

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ROL DE TESTEMUNHAS:

1) Alexandre Fiorotti, encontrado na SEDUR (fls. 791e 866/880)

2) Camila Gomes Pacheco, Bióloga, encontrada na SEMMA (fls. 256 e

410/412).

3) Dandara Pereira de Almeida, ex-servidora e Chefe do Departamento de

Recursos Naturais da SEMMA (fls. 19/21, fls. 69/70 e 774/776).

4) Danielle Fatima de Aquino, Biológica, encontrada na SEMMA (fls.

214/216, 530/531 e 537/538)

5) Edmara Salete Lorenção, encontrada na SEMMA de Serra/ES (fls. 621/622,

866/880 e 1115/1117).

6) Eloisa Helena de Moraes, encontrada na SEMMA (fls. 410/412 e 595/597)

7) Geziel Reis Andrade, Sgt PM, encontrado no Batalhão Ambiental (fls. 7/17)

8) Isidório Nascimento Simões, Técnico do IDAF, fls. 911/913, 923, 925/949,

958/963, 965, 968/969 e 1002/1008, encontrado na Av. Getúlio Vargas,

123, sala 201, centro, Serra – ES.

9) Marcos Antônio dos Reis Tosta, encontrado na SEMMA (fls. 60/67,

832/833 e 72/73 do Anexo)

10) Robson Mendes de Paulo, encontrado na SEMMA (fls. 410/412 e 423).