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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS8ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA- GOIÂNIA
URBANISMO
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA _______ VARA DA FAZENDA PÚBLICA MUNICIPAL DA COMARCA DE GOIÂNIA
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS,
representado pelo Promotor de Justiça de Urbanismo da Capital infra-
assinado, no uso de suas atribuições legais, com fundamento nos arts.
127 e 129, incisos II e III, da Constituição Federal, no artigo 1º, inciso
IV, artigo 5º e 21 da Lei 7347/85 (Lei da Ação Civil Pública) e artigo
25, IV, “a” da Lei Federal 8.625/93 (Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público), vem propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA C/C OBRIGAÇÃO DE FAZER, em face de:
MUNICÍPIO DE GOIÂNIA, pessoa jurídica de direito público
interno, representado por seu Prefeito ou Procurador (artigo 12, II do
CPC), instalado no Paço Municipal de Goiânia, sito à Av. do Cerrado,
nº 999, qd. APM9, Park Lozandes, nesta Capital, e de:
Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail:
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EMPRESA GOTA AZUL BAR LTDA, pessoa jurídica de
direito privado, inscrita no CGC/MF sob nº 03.389.782/0001-90,
estabelecida à Via Área Verde 35 (Avenida Flamboyant esq. com a
Avenida das Laranjeiras), Qd 17, nº 28, Parque das Laranjeiras, nesta
Capital, representado por seus sócios-proprietários a Srª. Marlete
Teresinha Gottsilig e o Sr. Sérgio Gottsilig.
I - DOS FATOS
A empresa Gota Azul Bar Ltda, interessada em
aumentar o seu estabelecimento, promoveu expansão da sua atividade
sobre a área pública anexa ao lote 28, ocupando-a com mesas,
cadeiras e também um estacionamento.
Para tanto, fez derrubada e arranquios de árvores
situadas em área destinada à Jardins Públicos de Representação. De
acordo com o artigo 85, IV da Lei de Zoneamento (ZPA-IV), o Jardim de
Representação pode ser de domínio público ou particular, estabelecido
como planta ornamental de logradouro. Compreendem-se os espaços
abertos, praças, parques infantis, parques esportivos, rótulas do
sistema viário e plantas ornamentais dos logradouros.
Em 18 de agosto de 2001, a Associação dos Moradores
do Parque das Laranjeiras, representados pelo seu Presidente, o Sr.
Pedro Damasceno, solicitou providências no sentido de fazer com que o
proprietário do imóvel em questão (bar “Gota Azul”), retirasse uma
cerca, juntamente com as britas que foram colocadas dentro do
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Bosque (Área Verde), localizada na confluência da Av. Flamboyant com
Av. Laranjeiras, naquele Setor.
A alegação era de que o invasor haveria se apropriado do
bosque (uma reserva com muitas árvores centenárias), fazendo do
mesmo uma propriedade particular e explorando o local como área
comercial.
Em visita técnica realizada no Parque das Laranjeiras no
dia 26 de março de 2002, às 09:00h, em atendimento à solicitação do
Sr. Pedro Damasceno - Presidente da Associação de Moradores do
Parque das Laranjeiras, ficou constatado um processo de erosão na
encosta da rua Juriti da unidade de conservação do Parque das
Laranjeiras, sendo que esta unidade encontrava-se delimitada com
cercamento de alambrado o que poderia ocasionar danificações ao
mesmo se o problema não fosse sanado.
Foi constatada também a utilização imprópria e
inadequada de logradouro público - Área Verde de canteiro para praça
pública municipal - como estacionamento (em frente ao bar “Gota
Azul”), onde foi colocado brita e quebrado o meio fio para rebaixamento
para entrada de veículos, esta situação se configura um sério problema
de dano ambiental pois nesta região possui 18 (dezoito) árvores nativas
(dentre elas uma barriguda) que estão sofrendo os impactos negativos
no local.
Foi retirada também a cobertura vegetal da região
desconfigurando a destinação de área verde pública municipal.
Em reunião com o Sr. Paulo César, Diretor
Administrativo da COMURG, alegou-se que esta empresa somente
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estava aguardando a desocupação da área para fazer o levantamento
do local com terra e arborização adequada, através de sua
Superintendência de Parques e Jardins.
Foi solicitada ao Sr. Secretário de Fiscalização Urbana, a
retirada imediata do invasor da área verde, visto que a referida invasão
colocava em risco o Bosque Centenário existente no local, pois com o
entra e sai de veículos, o terreno já não mais estava absorvendo as
águas das chuvas, levando consequentemente, a morte prematura das
árvores.
Ainda assim, alegou a inércia da Prefeitura, no sentido
de não coibir os danos e as imoralidades (brigas, tiros, invasão de área
verde pública, atentado ao pudor dentro dos veículos etc), que tanto
perturba aos moradores. (Abaixo assinado anexado).
Em 15 de abril de 2002, firmou-se Termo de
Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta entre
Secretaria Municipal de Meio Ambiente, representada pelo Secretário e
o bar “Gota Azul”, representado pelo seu sócio o Sr. Sérgio Gottsilig,
visando a compensação de danos ambientais, porém, o referido sócio
não tem o poder de representação da empresa, sendo tal competência
da sócia Marlete Terezinha Gottsilig, inclusive perante a própria
Prefeitura, conforme produção de prova documental, acostada nos
autos às fls. .
Das cláusulas imposta, ficaram firmadas que a Empresa
Gota Azul Bar Ltda se encarregaria de plantar 20 (vinte) espécies na
área em que atualmente está o estacionamento; que esta não
praticaria nenhum ato que vise a expansão do estacionamento; que
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ficaria obrigada a colocar um funcionário para cuidar da área,
mantendo-a limpa, arborizada e protegida de depredadores e vândalos;
enfim, que faria o plantio de 50 (cinqüenta) mudas de espécies
adequadas para a localidade, além de 20 (vinte) espécies situadas
anteriormente na área verde.
Através do Termo de Compromisso, Responsabilidade e
Ajustamento de Conduta a Empresa acima referida assumiu o
compromisso e a responsabilidade de não incidir em práticas que
causem danos ao patrimônio ambiental e à coletividade, tomando
medidas compatíveis com a defesa e preservação do meio ambiente.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente, em hipótese
alguma reconheceu a propriedade da área em questão como sendo da
compromitente, sendo que somente visava a adequação ambiental.
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente firmou esse
Termo fundamentado no fato de que a municipalidade expede
autorizações para funcionamento de quiosques, pit-dogs, bancas, etc.
em área pública, não fugindo este caso, aos dos demais existentes em
Goiânia.
A Empresa Gota Azul Bar Ltda obrigou-se a fechar o acesso ao estacionamento, visando a total recuperação ambiental da área, bem como limitar o funcionamento do estabelecimento no imóvel locado do proprietário.
Ainda assim, a Secretaria Municipal de Meio Aambiente
deu validade de 04 (quatro) anos, contado da data da assinatura pelas
partes.
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Aos 11 de julho de 2002, foi feito laudo técnico de
“Viabilidade Técnica de Termo de Ajustamento de Conduta” pelo
Centro de Apoio Operacional de Defesa do Meio Ambiente do Ministério
Público do Estado de Goiás, através do Assessor Técnico do Centro de
Defesa do Meio Ambiente, o Sr. Osmar Pires Martins Júnior.
O objetivo do seguinte laudo técnico era o de analisar a
viabilidade técnica do Termo de Compromisso, Responsabilidade e
Ajustamento de Conduta a ser assinado entre o bar “Gota Azul”,
através do seu sócio o Sr. Sérgio Gottsilig e o Município de Goiânia,
através do Secretário Municipal de Meio Ambiente, o Sr. John Mivaldo
da Silveira, respectivamente compromitente e compromissário, visando
a compensação de danos ambientais por ocupação de área pública
ambiental.
Conforme o exposto, o bar “Gota Azul” tinha ocupado
área verde pública, contrariando o Código de Posturas do Município de
Goiânia e contribuindo para a dilapidação do patrimônio público
municipal.
Diante do que foi dito, a Assessoria Técnica manifestou
parecer favorável a proposta apresentada, com as seguintes
condicionantes a serem acrescidos como cláusulas do Termo de Ajuste:
- Que o funcionamento do bar “Gota Azul” seja
autorizado, pelo Município, a funcionar em área exclusivamente restrita ao lote 28 da quadra 17, no endereço citado, obedecendo-se os limites e confrontações a serem verificados na escritura do referido imóvel;
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- Que o Município, através da Secretaria Municipal
de Meio Ambiente, relacione a lista de espécies nativas adequadas e indicadas para o reflorestamento da área degradada, a ser executado pelo proprietário do estabelecimento comercial em referência.
Em 14 de agosto de 2002, a Secretaria Municipal de
Fiscalização Urbana expediu relatório circunstanciado realizado pela
Assistente de Fiscalização – Meio Ambiente a Srª Elaine Bontempo dos
Reis, Mat. 475289-01 no qual descreveu o seguinte :
“Procedendo vistoria no estabelecimento denominado
“Bar Gota Azul”, situado na Via da Área Verde 35 s/nº Qd. 17, Lt. 28
Setor Parque das Laranjeiras, esta servidora fiscal tem a relatar que o
estabelecimento possui Alvará de Localização e Funcionamento nº
05159/1999 – SEDEM; Cadastro de Atividades Econômicas com
validade até 14/01/2004, cuja inscrição cadastral é 154345/8 e Alvará
Sanitário com validade até 31/12/2002. Na área verde (lateral ao lote
28) foi construído uma área coberta, cimentada e com suporte fixado em
logradouro público, na qual foi construída uma churrasqueira de
alvenaria e colocadas algumas mesas e cadeiras. A parte frontal a esta
área foi cercada com esteios de madeira, com altura e diâmetros
inferiores ao estabelecido pelo artigo 63, 11 do Código de Posturas do
Município, e coberto com britas, o qual é utilizado para a colocação de
mais mesas e cadeiras. Foi constatado, também, estes esteios junto à
rótula e no passeio público. Conforme informado à folha 04 o
estabelecimento já fora autuado por encontrar-se infringindo o artigo 66
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da Lei Complementar nº 014/92, dito Código de Posturas do Município
(Auto de Infração nº 11527 - Processo nº 18489635). Portanto, estando o
estabelecimento licenciado a funcionar em Área Verde, sugiro que o
presente processo seja remetido ao órgão competente responsável pelo
fornecimento desta licença, para que o mesmo se pronuncie quanto às
“benfeitorias” realizadas no local (área verde de preservação
ambiental).”
Diante das Cláusulas do Termo de Compromisso a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente assumiu o compromisso de
vistoriar o seu cumprimento, portanto ao contrário do que faz
acostados ao procedimento de investigação.
II – DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS
A) A LEGISLAÇÃO URBANÍSTICA INCIDENTE
Na distribuição de competências
originárias para legislar sobre direito
urbanístico, proteção ao meio ambiente e a
saúde, a CONSTITUIÇÃO FEDERAL
contemplou somente a UNIÃO, ESTADO e
DISTRITO FEDERAL (art. 24, I, VI e XII),
reservando ao MUNICÍPIO o poder para, no
que couber, suplementar a legislação federal e
estadual, e promover o adequado ordenamento
territorial, mediante planejamento e controle
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do uso, do parcelamento e da ocupação do solo
urbano (Competência administrativa), bem
como legislar sobre assuntos de interesse local
(art. 30,I,II e VIII).
A Carta Magna estabelece, também,
o dever do Poder Público de conservar o
patrimônio público (art. 23,I) A política de
desenvolvimento urbano, executada pelo Poder
Público Municipal, tem por objetivo ordenar o
pleno desenvolvimento das funções sociais da
cidade e garantir o bem-estar de seus
habitantes, sendo o plano diretor o
instrumento básico dessa política (art. 182,
§1º, CF).
B) VIOLAÇÃO AOS DIREITOS URBANÍSTICOS
Vê-se que a lei impõe ao Poder
Público o dever de preservação e recuperação
dos espaços livres, praças, áreas verdes e
institucionais, componentes do espaço urbano,
bens do patrimônio público e social. A
constatação da obstrução e ocupação irregular
desses espaços revela que o Município, gestor
dos bens públicos, descurou de sua obrigação
legal, permitindo, por negligência (falta de
fiscalização eficaz e mal funcionamento do
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serviço público), que a coletividade fosse
despojada da fruição de área de bem comum
do povo, em prol de um grupo de pessoas.
Ante a inércia e descaso com a obstrução da
via pública, nega os fins da legislação urbanística, traduz abuso de
poder por omissão, desvio de finalidade e afronta o princípio
constitucional da legalidade que rege toda a atividade da
Administração Pública (art. 37, caput, CF):
Art. 37 – A administração pública
direta, indireta ou fundacional, de qualquer
dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e, também, ao
seguinte (...).
O dever de buscar sempre a finalidade
normativa é inerente ao princípio da legalidade, porque todo
comportamento administrativo que desatende o fim legal descumpre a
própria lei (JOSÉ AFONSO DA SILVA, Curso de Direito Constitucional
positivo, 8ª ed., Malheiros Editores, São Paulo, 1990, p.562; HELY
LOPES MEIRELLES, Direito Administrativo Brasileiro, 17ª ed.,
Malheiros Editores, São Paulo, 1992, p.95; CELSO ANTÔNIO
BANDEIRA DE MELLO, Elementos de Direito Administrativo, 3 ed.,
Malheiros Editores, São Paulo, 1992, pp. 54-55; CAIO TÁCITO, O
abuso do poder administrativo no Brasil – conceito e remédios, em
Revista de Direito Administrativo 56/10; VÍTOR NUNES LEAL, Poder
Discricionário e Ação Arbitrária, em Problemas de Direito Público,
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Forense, Rio de Janeiro, 1960, p. 285; AFONSO RODRIGUES QUEIRÓ,
Reflexões sobre a Teoria do Desvio de Poder em Direito Administrativo,
Coimbra Editora, 1940, p.16; MARIA CUERVO SILVA E VAZ
CERQUINHO, O Desvio de Poder no Ato Administrativo, Ed. Revista
dos Tribunais, São Paulo, 1979, pp.18-19), pouco importando que
consista em uma ação ou em uma omissão, pois as abstenções
juridicamente relevantes também estão sujeitas ao controle de
compatibilidade e conformação ao Direito (ANTÔNIO CARLOS DE
ARAÚJO CINTRA, Motivo e Motivação do Ato Administrativo, Ed.
Revista dos Tribunais, São Paulo, 1979, p.34; EINSENMA, “O Direito
Administrativo e o princípio da legalidade”, em Revista de Direito
Administrativo 56/48).
A perpetuação dessa situação e a indiferença do Poder Público ofendem os direitos e interesses difusos, coletivos e individuais indisponíveis, autorizando sua tutela supletiva judicial pelo Ministério Público, instituição
vocacionada à defesa da ordem jurídica e do patrimônio público e
social pela ação civil pública (arts. 127, caput, e 129, II E III da
Constituição Federal; arts. 1º, IV, 5º e 21 da Lei 7.347/85; arts. 81,
82, 83, 110 e 117 da Lei 8.078/80; art. 25, IV, “a”, da Lei 8.625/93),
pois nenhuma lei exclui da apreciação do Judiciário a lesão a direitos
(art. 5º, XXXV, CF), como no caso presente, causada também pela
negligência (culpa) da Administração Pública Municipal na gestão dos
bens públicos, por omissão geradora de sua responsabilidade civil
aquiliana objetiva e subjetiva (arts. 15 e 159, Cód. Civil; art. 14,§ 1º,
Lei 6.938/81; art. 37, § 6º, CF).
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Nesse sentido, a jurisprudência:
Invasão e Responsabilidade do
Município
AÇÃO CIVIL PÚBLICA – Ato
impugnado – Invasão de área pública por
particulares – Dano ao patrimônio público e ao
meio ambiente – Ajuizamento contra a
municipalidade, omissa no cumprimento de
normas que disciplinam o loteamento urbano –
Art. 18 da Lei Federal 6.766, de 1979 –
Ingerência na Administração Municipal e
violação do princípio da separação dos poderes
inocorrentes – Ação procedente – Sentença
confirmada (Ap. 261.800-2, 17ª Câm. Cív.,
TJSP, Rel. ribeiro Machado – j. 03/10/95 –
JTJ, LEX 178/12).
Representação da pessoa jurídica:
Representação - Pessoa jurídica -
Contestação apresentada por um dos sócios -
Revelia decretada. As pessoas jurídicas são
entidades autônomas, plenamente distintas
das pessoas de seus sócios. Por isso, não se há
como deixar de reconhecer a revelia em
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demanda proposta contra sociedade comercial,
na qual a contestação foi efetuada
singularmente por um de seus sócios. (TJ/SC -
Ap. Cível n. 97.010495-2 - Comarca de
Jaraguá do Sul - Ac. unân. - 3a. Câm. Cív. -
Rel: Des. Eder Graf - Fonte: DJSC, 24.04.98,
pág. 24).
Processo civil -Representação
processual - Pessoa jurídica - Procuração -
Desnecessidade de exibição dos estatutos -
Argüição inoportuna - Preclusão - Ofensa à
lealdade processual. "As pessoas jurídicas
serão representadas em Juízo pelas pessoas
designadas nos respectivos estatutos. Não há
necessidade da juntada de cópias dos
estatutos aos autos - Compete à parte que
impugnar a qualidade do representante, a
prova da inidoneidade" (JC 62/110). O
princípio da lealdade processual, consagrado
no art. 245 do CPC, manda que as partes
argúam, de pronto, os vícios dos atos
processuais na primeira oportunidade em que
lhes couber falar no feito, sob pena de tornar-
se precluso o direito de alegá-los, advindo
como conseqüência sua convalidação. (TJ/SC -
Ag. Instrumento n. 98.011745-3 - Comarca da
Capital - Ac. unân. - 3a. Câm. Cív. - Rel: Des.
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Nilton Macedo Machado - Fonte: DJSC,
04.11.98, pág. 6)
A Constituição Federal, em seu art. 182 é clara:
“A política de desenvolvimento
urbano, executada pelo Poder Público
Municipal, conforme diretrizes gerais fixadas
em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes.”
A Lei Orgânica do Município de Goiânia, no seu capítulo
V (Dos Bens Municipais) diz caber ao Prefeito a administração dos
bens municipais, bem como dispõe sobre o fato de que o uso de tais
bens por terceiros só ser possível mediante concessão, permissão ou
autorização.
Art. 41 – Cabe ao Prefeito a
administração dos bens municipais,
respeitadas a competência da Câmara quanto
àqueles postos a seus serviços ou deles
utilizados.
Art. 44 _ O uso de bens municipais
por terceiros poderá ser feito mediante
concessão, permissão ou autorização,
conforme o caso e quando houver interesse
público, devidamente justificado.
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§ 2º - A concessão administrativa de
bens públicos de uso comum somente poderá
ser outorgada mediante autorização legislativa.
§ 3º - A permissão, que poderá
incidir sobre qualquer bem público, será feita
mediante autorização legislativa e sempre a
título precário.
Demonstra-se assim que a omissão do Poder Público
Municipal acarretou a usurpação do patrimônio público, sendo
logradouros e praças, objeto da presente ação. Portanto, tal situação,
acarreta prejuízo a coletividade e ao erário público.
O particular, quando satisfaz seus tributos, tem o direito
que o Poder Público execute as providências elementares para a
utilização do bem público de uso comum, posto dentro das normas
urbanísticas à sua disposição, que no caso em tela, vários cidadãos
estão impedidos de usufruírem, destes bens fundamentalmente
necessários, visto os transtornos de terem seus percursos aumentados
em dois(02) quilômetros. (Informação constante do ofício fls. 49/50, de
um morador interessado). Portanto cuida de responsabilidade
administrativa ante a omissão do Poder Público, o qual deverá
responder.
A propriedade das vias e praças públicas está
legalmente constituída, conforme art.22 da Lei 6.766, de 19 de
Dezembro de 1979, que determina que desde a data do registro do
loteamento, passam a integrar o domínio do Município as vias e
praças, conforme dispõe o Código Civil, em seu art. 66. Neste diapasão,
o eminente doutrinador Hely Lopes Meirelles, leciona que:
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“ Bens de uso comum do povo ou domínio público: como exemplifica a própria
lei, são os mares, praias, rios, estradas, ruas e
praças. Enfim, todos os locais abertos à
utilização pública adquirem esse caráter de
comunidade, de uso coletivo, de fruição própria
do povo”.(Direito, p.481)
1. A Constituição Federal.
A Constituição Federal incumbe ao Poder Público
assegurar a efetividade do Direito ao Meio Ambiente ecologicamente
equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade
de vida .... (caput art 225). O art. 225 § 1º, I, III, VII e § 3º.
“§ 1º - Para assegurar a efetividade
desse direito, incumbe ao poder público:
I - preservar e restaurar os processos
ecológicos essenciais e prover o manejo
ecológico das espécies e ecossistemas;
...
III - definir, em todas as unidades da
Federação, espaços territoriais e seus
componentes a serem especialmente
protegidos, sendo a alteração e a supressão
permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a
integridade dos atributos que justifiquem sua
proteção;Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de
Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail: [email protected]
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VII - proteger a fauna e a flora,
vedadas, na forma da lei, as práticas que
coloquem em risco sua função ecológica,
provoquem a extinção de espécies ou
submetam os animais a crueldade.
§ 3º - As condutas e atividades
consideradas lesivas ao Meio Ambiente
sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou
jurídicas, as sanções penais e administrativas,
independentemente da obrigação de repara os
danos causados.
2. A Constituição Estadual
A Constituição Estadual no Capítulo V- Da Proteção dos
Recursos Naturais e da Preservação do Meio Ambiente da Constituição
Estadual estabelece que:
“Art. 127 - Todos têm direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado, bem de
uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder
Público e à coletividade o dever de defendê-lo,
recuperá-lo e preservá-lo.
§ 1º - Para assegurar a efetividade
desse direito, cabe ao Poder Público:
I - preservar a diversidade biológica
de espécies e ecossistemas existentes no
território goiano;
Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail:
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II - conservar e recuperar o
patrimônio geológico, paleontológico, cultural,
arqueológico, paisagístico e espeleológico;
III - inserir a educação ambiental em
todos os níveis de ensino, promover a conscientização pública para a preservação do meio ambiente e estimular práticas conservacionistas;
IV - assegurar o direito à informação
veraz e atualizada em tudo o que disser
respeito à qualidade do meio ambiente;
...
VI - controlar e fiscalizar a produção,
comercialização, transporte, estocagem e uso
de técnicas, métodos e substâncias que
comportem risco para a vida e o meio
ambiente;
...
Art. 128 - Para promover, de forma
eficaz, a preservação da diversidade biológica,
cumpre ao Estado:
I - criar unidades de preservação,
assegurando a integridade de no mínimo vinte
por cento do seu território e a
representatividade de todos os tipos de
ecossistemas nele existentes; Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de
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II - promover a regeneração de áreas
degradadas de interesse ecológico, objetivando
especialmente a proteção de terrenos erosivos
e de recursos hídricos, bem como a
conservação de índices mínimos de cobertura
vegetal;
...
V - estabelecer, sempre que
necessário, áreas sujeitas a restrições de uso;
3. O Código Florestal
Por seu turno, o Código Florestal (Lei nº 4.771, de 15 de
setembro de 1965), com as adaptações feitas pela Lei nº 7.803/89,
considera de preservação permanente as florestas e demais formas de
vegetação natural destinadas a assegurar condições de bem-estar
social (art. 2º, alínea h).
Anote-se que o art. 18 da Lei nº 6.938/81, que dispõe
sobre a política nacional de meio ambiente, transformou "em reservas
ou estações ecológicas, sob a responsabilidade do IBAMA, as florestas
e as demais formas de vegetação natural de preservação permanente,
relacionadas no artigo 2º da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965 -
Código Florestal, e os pousos das aves de arribação protegidas por
convênios, acordos ou tratados assinados pelo Brasil com outras
nações".
4. O Código de Posturas do Município
Art. 66 - É proibido, sob qualquer forma ou pretexto, a
invasão de logradouros públicos e/ou áreas públicas municipais.Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de
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Parágrafo Único: A violação da norma deste artigo
sujeita o infrator, além de outras penalidades previstas, a ter a obra ou
construção, permanente ou provisória, demolida pelo órgão próprio da
Prefeitura, com a remoção dos materiais resultantes sem aviso prévio,
indenização, bem como qualquer responsabilidade de revogação.
Art. 68 - Além das exigências contidas na legislação de
preservação do Meio Ambiente, fica proibido:
I - Danificar, de qualquer forma, os
jardins públicos;
II - Podar, cortar, danificar, derrubar,
remover ou sacrificar qualquer unidade da arborização pública;
5. Da Lei de Zoneamento Urbano
A Lei de Zoneamento Urbano de Goiânia em seu artigo
84 descreve:
Art. 84 - As Zonas de Proteção
Ambiental - ZPA, compreendem as Áreas de
Preservação Permanente, as Unidades de
Conservação e faixas contíguas às Áreas de
Preservação Permanente e às Unidades de
Conservação.
Parágrafo Único - Integram as Zonas
de Proteção Ambiental, para efeito desta lei, as
praças, rótulas do sistema viário com
dimensões superiores a 1.000 m2 (hum mil
metros quadrados).Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de
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Art. 86 - As Zonas de Preservação
Ambiental são diferenciadas basicamente por
suas peculiaridades ecológicas e classificam-se
em:
...
IV - Zona de Preservação Ambiental
IV - ZPA-IV, compreendendo os espaços
abertos, praças, rótulas, parques infantis,
parques esportivos, rótulas do sistema viário e
plantas ornamentais de logradouros.
Art. 87 - São coletivamente
consideradas Unidades de Conservação os
sítios ecológicos de relevante importância
cultural, criados pelo poder público, como;
I -parques municipais;
II - estações e reservas ecológicas;
...
IV - Jardim Botânico;
V - Área de Proteção Ambiental;
VI - reserva particular de patrimônio
natural;
VII - bosques e matas definidas nos
projetos de parcelamento do solo urbano;
VIII - florestas municipais ;
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6. O Código Civil Brasileiro.
Sobre o ato jurídico praticado quando da celebração do
“Termo de Compromisso, Responasbilidade e Ajustamento de Conduta”
entre a Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a empresa Gota Azul
Bar Ltda (doc. fls. 20/23), tem-se no Código Civil Brasileiro, a respeito
dos fatos jurídicos:
“Art. 104 – A validade do negócio
jurídico requer:
I – Agente capaz; (grifou-se)
II - Objeto lícito, possível,
determinado ou determinável;
III – forma prescrita ou não defesa
em lei”.
Quanto à invalidade do negócio jurídico a legislação civil pátria nos
ensina:
“Art. 171 – Além dos casos
expressamente declarados na lei, é anulável o
negócio jurídico:
I – por incapacidade relativa do agente;
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II – por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores”. (Grifou-se)
“Art. 172 – O negócio anulável pode
ser confirmado pelas partes, salvo direito de
terceiro”.
“Art. 182 – Anulado o negócio
jurídico, restituir-se-ão as partes o estado em
que antes dele se achavam, e, não sendo
possível restituí-las, serão indenizadas com o
equivalente”.
Diz, ainda, o nosso ordenamento jurídico civil sobre
os atos ilícitos:
“Art. 186 – Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a
outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito”. (grifou-se)
“Art. 187 – Também comete ato ilícito
o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos
pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé
ou pelos bons costumes”.
7. O Código de Processo Civil.Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de
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No Código de Processo Civil, temos no artigo 12, o
seguinte:
“ Art. 12 – Serão representados em
juízo, ativa e passivamente:
I – ...;
VI – as pessoas jurídicas, por quem os respectivos estatutos designarem, ou,
não os designando, por seus diretores”.(grifou-
se)
A eminente Profª. Maria Helena Diniz, no livro “Teoria
Geral do Direito Civil”, 15ª edição, Ed. Saraiva 1999, pág. 155, do
faremos a transcrição, assim diz:
“Quanto à responsabilidade das pessoas jurídicas,
poder-se-á dizer que tanto pessoa jurídica de direito privado como a de
direito público, no que se refere à realização de um negócio jurídico
dentro dos limites do poder autorizado pela lei ou pelo estatuto,
deliberado pelo órgão competente e realizado pelo legítimo
representante, é responsável, devendo cumprir o disposto no contrato,
respondendo com seus bens pelo inadimplemento contratual, conforme
prescreve o art. 1056 co Código Civil”
Doutrinariamente, o pensamento do ilustre Prof.
Washington de Barros Monteiro, na obra “Curso de Direito Civl”, 31ª
edição, Ed. Saraiva, 2001 pág. 21, é adiante reproduzido:
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“A relação obrigacional deverá ser então
convenientemente sopesada, impondo-se-lhe condenação sempre que
ofenda o sentimento médio de moralidade, os interesses gerais da
nação e o conjunto dos preceitos que garantem a dignidade das relações
jurídicas. Não se exige qua lei conceitue o objeto como criminoso ou
desonesto; se este contraria as regras da moral universal, o hábito do
bem e a parte mais fundamental da legislação, numa palavra, a ordem
pública e os bons costumes, ter-se-á ostentado a ilicitude que há de
bani-lo do direito”.
Diante de fatos incontroversos, restou somente a
confirmação da nulidade do Termo de compronisso firmado entre a
Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a empresa Gota Azul Bar
Ltda, por sua celebração, além do prejuizo causado à comunidade,
pela privatização de área verde pública, para o uso do particular, foi
firmado por pessoa sem a capacidade de representação, segundo a
legislação vigente e Contrato Social da empresa. (doc. fls. )
III - DOS ATOS DE IMPROBIDADE PRATICADOS.
As questões ambientais interessam sobremaneira à
coletividade, sendo de importância para as gerações presentes e
futuras, incumbindo ao Poder Público sua defesa e preservação (art.
225 da CF).
Os interesses de particulares, movidos por ambições
imediatas, normalmente desconsideram a preservação do meio
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ambiente e, para evitar a conspurcação irremediável, deve o Poder
Público velar por sua preservação, autorizando e monitorando as ações
que possam ensejar a ruptura do ecossistema.
Para tanto, o Poder Público deve assumir postura
protetora do meio ambiente, isentando-se dos interesses particulares
para decidir com imparcialidade as questões que lhe são submetidas,
devendo agir com cautela e prudência para não se transformar
também em agente degradador, em cumplicidade com o interessado.
Exsurgem como de extrema importância as atividades
do agente público que opera com as questões ambientais, o qual deve
se pautar pelos princípios da moralidade, legalidade e impessoalidade,
cumprindo rigorosamente as determinações legais e regulamentares
para impedir qualquer dano ambiental, sempre tendo em mira os
interesses da coletividade.
Contudo, descurando-se da observância dos princípios
que regem a Administração Pública, dolosamente ou não, estará o
agente público incorrendo na prática de atos de improbidade
administrativa, descritos na Lei n° 8.429/92.
Com efeito, o artigo 11 da Lei de Improbidade dispõe:
"Art. 11 - Constitui ato de
improbidade administrativa que atenta contra
os princípios da administração pública
qualquer ação ou omissão que viole os deveres
de honestidade, imparcialidade, legalidade, e
lealdade às instituições, e notadamente:
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"I - praticar ato visando fim proibido
em lei ou regulamento ou diverso daquele
previsto, na regra de competência;
Comentando o inciso I do artigo 11, Marcelo Figueiredo
Vaticina:
"O princípio da legalidade é, sem dúvida, um dos pilares
do Estado Democrático de Direito. Ao lado dele convive o princípio da
supremacia do interesse público ou princípio da finalidade pública. De
fato, a administração pública, ao cumprir seus deveres constitucionais e
legais, busca incessantemente o interesse público, verdadeira síntese
dos poderes a ela atribuídos pelo sistema jurídico positivo,
desequilibrando forçosamente a relação administração-administrado.
Ausentes os poderes administrativos, não seria possível realizar uma
série de competências e deveres institucionais (os sacrifícios a direitos,
as intervenções, desapropriações, autorizações, concessões, poder de
polícia, serviços públicos etc.). Contudo, forçoso reconhecer que a
atividade administrativa não é senhora dos interesses públicos, no
sentido de poder dispor dos mesmos a seu talante e alvedrio. Age de
acordo com a "finalidade da lei", com os princípios retores do
ordenamento, expressos e implícitos. A administração atua, age, como
instrumento de realização do ideário constitucional, norma jurídica
superior do sistema jurídico brasileiro.
...
"A norma em foco autoriza a pesquisa do ato
administrativo a fim de revelar se o mesmo está íntegro ou, ao contrário,
apenas aparentemente atende à lei, se os motivos e seu objeto têm
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relação com o interesse público, se houve algum uso ou abuso do
administrador, se a finalidade foi atendida de acordo com o sistema
jurídico; e assim por diante".
A Secretaria Municipal de Meio Ambiente e a empresa
Gota Azul Bar Ltda violaram frontalmente o mandamento do artigo 11,
inciso I, da Lei nº 8.429/92 ao participarem ativamente na emissão de
Termo de Compromisso, Responsabilidade e Ajustamento de Conduta,
sem analisar a situação real do fato através de realização de perícias e
vistorias, o que contrariou os dispositivos legais já transcritos, atuando
no sentido de obstar a prevalência do interesse da coletividade,
consubstanciado na proteção do meio ambiente nos termos da
Constituição Federal, desvirtuando o ato administrativo para atingir
finalidade distinta daquela proclamada pelas normas ambientais
vigentes, qual seja, o interesse particular do empreendedor.
Não pode negar desconhecimento dos impedimentos
legais. Atuantes na área ambiental, a Secretaria Municipal do Meio
Ambiente, afeita à análise e manejo dos dispositivos constitucionais,
legais e regulamentares invocados, a ré tinha plena consciência da
existência do referido bar, mas imprimiu omissão ao ato
administrativo, desconsiderando as expressas vedações legais e
motivando-o em ato normativo administrativo inexistente sequer
adotado pelo titular da pasta, não passando de mera conjectura sem
força vinculativa.
Além disso, foram expressamente alertadas por outros
órgãos técnicos (SEFUR, Assessoria Técnica do MPGO), que indicaram
todos os impedimentos técnicos e legais que determinavam o
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indeferimento imediato do pedido de autorização, deixando de adotar
postura formalmente simples e regular.
Mas, ao contrário, deram-lhe esperança em ver
aprovado o que põe abaixo, vegetação integrante da arborização
urbana denominada jardins de representação, provocando a discussão
da supressão da área verde junto ao Órgão licenciador de atividades
ligadas ao meio ambiente no Município de Goiânia, onde defendeu
ardorosamente o desmatamento, autorizando o funcionamento do
estabelecimento, desprezando completamente a preocupação com a
fauna local, que indica a existência de espécies ameaçadas.
Atuou deliberadamente contra os dispositivos legais
invocados, desprezando as exceções legais impeditivas de autorização
do funcionamento com o fim de privilegiar interesses da empresa Gota
Azul Bar Ltda.
A respeito, ensinam Pazzaglini Filho, Elias Rosa e Fazzio
Júnior que, na situação indicada,
"o agente público pratica ato nulo, por ilicitude do objeto
ou por incompetência. É o desvio de finalidade, seja porque atua com
fito pessoal (por exemplo, vingança, protecionismo etc.), seja porque tem
em mira finalidade administrativa diversa da determinada pela lei",
arrematando que para "que se configure o disposto no inciso, basta que
o ato inquinado vise a fim ilícito ou extrapole a esfera de competência do
agente público"
Ademais, dando continuidade a um procedimento
licenciatório que poderia - e deveria - ser interrompido de pronto, as
rés ensejaram perda patrimonial aos cofres públicos, representada
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pelos custos da elaboração de perícias administrativas, visitas
exploratórias ao local do empreendimento, despesas com locomoção,
tempo dispensado pelos servidores, além de outros fatores,
determinando, pois, lesão ao erário que impende ser apurada e
reparada, diante da tipificação da conduta no art. 10 da Lei de
Improbidade, do teor seguinte:
"Art. 10 - Constitui ato de
improbidade administrativa que causa lesão ao
erário qualquer ação ou omissão, dolosa ou
culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação
dos bens ou haveres das entidades referidas
no art. 1º desta Lei ... ".
A conduta dos réus propiciaram perda patrimonial ao
erário, pois permitiram o debate do tema, inclusive em reunião do
Ministério Público do Estado de Goiás, com desperdício de tempo e
material, custeados pelos cofres públicos, que devem ser apurados e
ressarcidos, em posterior arbitramento.
Note-se que tinham plena ciência da desnecessidade e
da ilegalidade do ato praticado. Sabiam que sustentavam contra legem, através de pareceres e desenvolvimento de análises técnicas e
periciais, a autorização do empreendimento referido. Contrariaram em
seus pareceres finais dispositivos expressos de lei, proporcionando
perda patrimonial ao erário na forma acima mencionada, que deve ser
apurada para o devido ressarcimento.
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Consumando o ato írrito, a Secretaria Municipal e Meio
Ambienmte se pôs omissa ao desenrolar da autorização de
funcionamento do bar “Gota Azul”, dando forma jurídica à
irregularidade praticada, quando deveria de imediato, impedir tal
autorização, obstando definitivamente a ilegalidade cometida.
Por sua vez, o bar “Gota Azul” se beneficiou do ato
perpetrado que se busca a declaração de nulidade e, por isso, deve
igualmente integrar a lide, por tratar-se de litisconsórcio necessário, na
forma da norma de extensão prevista no art. 3º da Lei 8.429/9210.
IV - FUMUS BONI IURIS
A Lei nº 8.429 de 02 de junho de 1992, determina:
Art. 1° Os atos de improbidade
praticados por qualquer agente público,
servidor ou não, contra a administração direta,
indireta ou fundacional de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito
Federal, dos Municípios, de Território, de
empresa incorporada ao patrimônio público ou
de entidade para cuja criação ou custeio o
erário haja concorrido ou concorra com mais
de cinqüenta por cento do patrimônio ou da
receita anual, serão punidos na forma desta
lei.
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Parágrafo único - Estão também
sujeitos às penalidades desta lei os atos de
improbidade praticados contra o patrimônio de
entidade que receba subvenção, benefício ou
incentivo, fiscal ou creditício, de órgão público
bem como daquelas para cuja criação ou
custeio o erário haja concorrido ou concorra
com menos de cinqüenta por cento do
patrimônio ou da receita anual, limitando-se,
nestes casos, a sanção patrimonial à
repercussão do ilícito sobre a contribuição dos
cofres públicos.
Art. 2° Reputa-se agente público,
para os efeitos desta lei, todo aquele que
exerce, ainda que transitoriamente ou sem
remuneração, por eleição, nomeação,
designação, contratação ou qualquer outra
forma de investidura ou vínculo, mandato,
cargo, emprego ou função nas entidades
mencionadas no artigo anterior.
...
Art. 4° Os agentes públicos de
qualquer nível ou hierarquia são obrigados a
velar pela estrita observância dos princípios de
legalidade, impessoalidade, moralidade e
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publicidade no trato dos assuntos que lhe são
afetos.
Art. 5° Ocorrendo lesão ao
patrimônio público por ação ou omissão,
dolosa ou culposa, do agente ou de terceiro,
dar-se-á o integral ressarcimento do dano.
Neste passo, importante registrar que a mesma Lei nº
8.429/92 também traça conceitos que tipifiquem as condutas dos
requeridos como ato de improbidade administrativa.
É o que emerge, indubitavelmente, do texto legal em
apreço:
Art. 11. Constitui ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios
da administração pública qualquer ação ou
omissão que viole os deveres de honestidade,
imparcialidade, legalidade, e lealdade às
instituições, e notadamente:
I - praticar ato visando fim proibido
em lei ou regulamento ou diverso daquele
previsto, na regra de competência;
A respeito do texto legal ora evidenciado, urge que
façamos menção ao dispositivo constitucional ínsito no artigo 37,
“caput” da Carta Magna:
Art. 37 - A administração pública
direta, indireta ou formal, de qualquer dos
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de
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Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade publicidade ...”
A moralidade administrativa, princípio esculpido no
artigo 37 da Constituição também foi vulnerada pelos requeridos.
O doutrinador Waldo Fazzio Júnior, em sua obra
conhecida, Improbidade Administrativa e Crimes de Prefeitos, faz o
seguinte comentário sobre a ofensa à moralidade administrativa e
desvio de finalidade dos atos adminstrativos:
“Se a finalidade colimada ao praticar o ato administrativo
é ilegal ou irregular, a moralidade administrativa é imediatamente
atingida, já que a imoralidade desvela-se no objeto do ato
administrativo, quando este faz vistas grossas para a honestidade, a
boa-fé e as normas de conduta ética. Aparece como resultado de uma
confrontação lógica entre os meios de que se vale o agente público e os
fins objetivados com o ato. Fins e meios não podem ser estranhos entre
si. Sua incompatibilidade denota improbidade administrativa.”
A probidade administrativa consiste no dever de o
"funcionário servir à Administração com honestidade, procedendo no
exercício das suas funções, sem aproveitar os poderes ou facilidades
delas decorrentes em proveito pessoal ou de outrem a quem queira
favorecer"
As questões ambientais são marcadas de intensa
atividade administrativa, tanto no que concerne aos atos autorizativos
ou licenciadores do Poder Público, como no que diz respeito à
fiscalização das práticas potencialmente danosas ao meio ambiente.
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O meio ambiente interessa sobremaneira à coletividade,
sendo de importância para as gerações presentes e futuras, incumbindo
ao Poder Público sua defesa e preservação (art. 225 da CF).
Com isso, os atos do Poder Público destinados ao
controle, proteção e fiscalização do meio ambiente devem ser
praticados com observância dos princípios constitucionais, legais e
regulamentares, cuja inobservância poderá determinar a prática de
improbidade e conseqüente punição do agente.
O Poder Público deve assumir postura protetora do meio
ambiente, isentando-se dos interesses particulares para decidir com
imparcialidade as questões que lhe são submetidas. Deve agir com
cautela e prudência para não se transformar também em agente
degradador, em cumplicidade com o interessado.
As atividades do agente público que opera com as
questões ambientais devem observar os princípios da legalidade e
impessoalidade. Cumpre-lhe aplicar rigorosamente as determinações
legais e regulamentares para impedir qualquer dano ambiental,
sempre tendo em mira os interesses da coletividade.
V – PERICULUM IN MORA
O ato administrativo, consistente na autorização de
funcionamento expedida, permite, como já mencionado, que o
empreendedor possa investir contra o meio físico e promover a
degradação da área necessária à instalação do projeto.
Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail:
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A autorização, conforme asseverado, decorreu de
procedimento vicioso que, além de afrontar a legislação vigente e
desvirtuar a regra de competência, foi motivada por ato normativo
inexistente no mundo jurídico.
Entretanto, a autorização pode gerar efeitos,
possibilitando que atitudes danosas ao meio ambiente possam ser
iniciadas pelo empreendedor com fulcro no ato expedido, causando
lesão de potencial degradador de impossível reparação, diante das
características peculiares da vegetação.
Com isso, existe probabilidade de que do ato ilegal
provoque efeitos indesejados e irreparáveis em face da coletividade
enquanto se estabelece o contraditório, sendo que, até o julgamento
definitivo da presente ação, o bem jurídico protegido pela legislação
ambiental citada pode perecer.
Assim, presentes os requisitos indispensáveis à
concessão da cautela, ou seja, o periculum in mora e fumus boni juris,
requer-se a deferimento de medida liminar, independentemente de
oitiva das partes contrárias, para suspender a autorização de
funcionamento expedida em favor do bar “Gota Azul” até final
julgamento da presente ação.
VI – DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO
No que pertine a legitimidade do Parquet resta acentuar
que o artigo 127 da Constituição Federal conferiu ao Ministério Público
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relevante missão institucional na defesa da ordem jurídica, do regime
democrático dos interesses indisponíveis da sociedade.
O aritgo 129, inciso III da Lei Maior dispõe que:
“São fuções institucionais do
Ministério Público:
III – Promover o inquérito civil e a
ação civil pública, para a proteção do
patrimônio público e social, do meio ambiente
e de outros interesses difusos e coletivos;”
Em conformidade com o mandamento constitucional
estão as disposições da Constituição do Estado de Goiás, da Lei
Federal nº 8.625/93 e da Lei Complementar Estadual nº 28/97.
O artigo 25, inciso IV, alínea b, da Lei nº 8.625, de 12 de
fevereiro de 1993 confere legitimação ao Ministério Público “para a
anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado ou de Município,
de suas administrações indiretas ou fundacionais ou de entidade
privada de que participem.
De todo o modo, é incontroverso que a Constituição
Federal confere ao Ministério Público a legitimação para a propositura
de ação civil pública voltada para a defesa da ordem jurídica e para a
defesa do patrimônio público.
Assim, a legitimação ativa para o ajuizamento da ação
civil pública com a finalidade de proteger a ordem pública, o patrimônio
público e a moralidade administrativa, é conferida ao Ministério Público
pelo artigo 129, inciso III, da Constituição Federal, artigo 1º, inciso IV, e Rua 23, esq. com Av.B, qd,A-6, Lt. 15/24,sala T-33, Ed. Sede do Ministério Público do Estado de
Goiás, Jd. Goiás, Fone: 243 8097 - Cep: 74805-100 - Goiânia – Goiás - e-mail: [email protected]
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5º, da Lei nº 7.347/85, artigo 25, inciso IV, alínea b, da Lei nº 8.625/93 e
também pelos artigos 16 e 18 da Lei Federal nº 8.429/92.
VII - DOS PEDIDOS.
Face ao exposto, requer a Vossa Excelência se digne a determinar:
I - a distribuição e autuação da presente ação, com os
documentos extraídos do procedimento administrativo RA- 220,
acompanhado de apenso;
II - a citação dos requeridos para, querendo, contestarem a
presente ação, que deverá seguir o rito ordinário, no prazo legal e sob
pena de revelia;
III - a produção de todas as provas em Direito admitidas,
notadamente a juntada de outros documentos, realização de perícias,
oitivas de testemunhas, depoimento pessoal das rés e outras que se
fizerem necessárias, ficando, desde já, requerida a expedição de ofício à
Secretaria Municipal de Meio Ambiente requisitando a apresentação
dos documentos em que o empreendimento foi discutido;
V - a intimação pessoal do autor de todos os atos e termos
processuais na Via Área Verde 35 (Avenida Flamboyant esq. com a Av.
Laranjeiras), Qd. 17, Lt. 18, Parque das Laranjeiras, nos termos do art.
236, §2º, do Código de Processo Civil.
Requer ainda seja julgada procedente a presente ação com a
finalidade de:
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a) declarar nulo o ato administrativo praticado, consistente na
autorização de funcionamento, expedida em prol de Gota Azul Bar Ltda
por ofensa ao princípio da legalidade e pelas demais razões expostas, e
b) condenar Marlete Terezinha Gottsilig e Sérgio Gottslig pela
prática de atos de improbidade previstos nos artigos 10, caput e 11,
caput e inciso I, da Lei nº 8.429/92, ao ressarcimento integral do dano
patrimonial que causaram ao erário, a ser apurado mediante
arbitramento, impondo-lhes pagamento de multa civil e proibição de
contratar com o poder público, ou receber benefícios e incentivos
fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por
intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, com base
no art. 12, incisos II e III, da Lei Federal nº 8.429/92;
Dá-se à causa o valor de R$ 5.000,00.
Termos em que, pede deferimento.
Goiânia, 23 de Outubro de 2003
MAURÍCIO JOSÉ NARDINIPROMOTOR DE JUSTIÇA
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