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1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE
MORRINHOS
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO GOIÁS, por meio de seu
representante legal, ao final assinado, vem a presença de Vossa Excelência, com
arrimo nos artigos 37, § 4º, e 129, inciso III, da Constituição Federal; na Lei Federal
n. 8.429/92 (Lei de Improbidade Administrativa); e no art. 2º, inciso II, 3º, 5º caput,
todos, da Lei Federal n. 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), propor a presente
AÇÃO CIVIL PÚBLICA POR ATO DE IMPROBIDADE
ADMINISTRATIVA
com pedido de medida cautelar incidental
em face de:
OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, brasileiro, união
estável, vereador do Município de Morrinhos, carteira de
identidade nº 2187653 SSP/GO, CPF 361.107.281-87,
residente e domiciliado na Av. D, nº 364, Vila Nunes,
Morrinhos-GO;
WELLINTON JOSÉ DE SOUZA, brasileiro, solteiro,
vereador do Município de Morrinhos, carteira de
identidade nº 371467 DGPC/GO, CPF 664.846.001-63,
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residente e domiciliado na Av. Cel. Pedro Nunes n. 800,
Centro, Morrinhos-GO;
ADÃO ALVES DA SILVA, brasileiro, casado, motorista,
carteira de identidade nº 1717291 DGPC/GO, CPF
264.196.021-49, residente e domiciliado na Av. “B”, Qd.
“G”, lote 11, Vila Santos Dumont, 2ª etapa, Morrinhos-GO;
HIDILA RODRIGUES TELES, brasileira, solteira,
estudante, carteira de identidade nº 5788637 SSP/GO,
CPF 698.777.851-53, residente e domiciliada no Setor
Cristina Park, Morrinhos-GO;
SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS,
brasileira, casada, auxiliar administrativo, carteira de
identidade nº 5556854 SSP/GO, CPF 014.209.351-35,
residente e domiciliada na Rua VC 16, Quadra 22, lote
34, Setor Vera Cruz, Morrinhos-GO;
CARLA LAMOUNIER DO CARMO, brasileira, solteira,
auxiliar administrativo, carteira de identidade nº 4694617
DGPC/GO, CPF 009.930.981-50, residente e domiciliada
na Rua 24, n. 400, Setor São Francisco, Morrinhos-GO;
THALITA LASSARA QUEIROZ, brasileira, solteira,
estudante e vendedora, carteira de identidade nº 5993733
SSP/GO, CPF 040.771.151-16, residente e domiciliada na
Rua 09, Quadra “I”, lote 14, Vila Nova, Morrinhos-GO
pelos seguintes fundamentos fáticos e jurídicos:
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
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I – DOS FATOS
A Promotoria de Justiça de Morrinhos recebeu exemplar do Jornal “É +
Notícias” relatando atos de improbidade administrativa consistentes na nomeação
de pessoal sem a respectiva contraprestação laboral na Câmara Municipal de
Morrinhos, ou seja, tais funcionários apenas constavam do quadro de servidores do
poder legislativo municipal, sem, contudo, prestarem serviço.
A bem da verdade, tratam-se de fatos graves, que contrariam o
ordenamento jurídico vigente, praticamente todos os princípios constitucionais
norteadores da conduta do Administrador Público e totalmente divorciado do
interesse público, com o fim único de satisfação de interesses pessoais. Uma
verdadeira farsa, dissimulação, para desviar dinheiro público.
Incontinenti, por meio da Portaria n. 001/2014, a 1ª Promotoria de Justiça
da Comarca de Morrinhos instaurou o competente Inquérito Civil Público, com vistas
à elucidação dos fatos tidos por ímprobos.
Consoante Ofício 017/2014, foi encaminhado à Câmara de Edis cópia do
jornal, bem como fora requisitado informações a respeito da denúncia de servidores
irregulares.
A Câmara de Vereadores, em resposta (fls. 31/33), refuta as acusações
do jornal, apontando que tais denúncias possuem caráter eleitoreiro e com o único
objetivo de denegrir a administração do Presidente (à época) do Poder Legislativo.
Ademais, pondera que as denúncias da existência de funcionários “fantasmas” não
são condizentes com a realidade dos fatos.
Por fim, detalha a situação dos servidores indigitados como “fantasmas”
conforme abaixo segue:
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Matrícula 396 – cargo: Assessor de Imprensa, nome ADÃO ALVES DA
SILVA, admitido em 06/03/2014 e exonerado em 01/09/2014 (doc. 01), funcionário
desviado de função, prestando os serviços de vigia diurno e eventualmente
motorista. Para comprovar a frequência do servidor a Câmara Municipal
encaminhou registro de frequência do servidor (fls.59/64)
Matrícula 396 – cargo: Assessor de Comunicação, nome: CARLA
LAMOUNIER DO CARMO, admitida em 02/03/2014 e exonerada em 01/09/2014,
funcionária dispensada da comprovação da frequência, prestando serviços atinentes
a área da comunicação diariamente através do envio de matérias, a serem postadas
no sítio da Câmara, envio de fotos e assuntos correlatos ao setor de comunicação,
estando em contato direto com o setor de TI da Câmara. Para comprovar a
existência de contraprestação laboral, a entidade enviou matérias feitas pela
servidora (fls. 43/44).
Matrícula 396 – cargo: Chefe do Gabinete do Vereador Wellinton José de
Souza; HIDILA RODRIGUES TELES, admitida em 02/04/2014 e exonerada em
01/10/2014. Para comprovar a jornada laboral, a Câmara Municipal enviou registro
de frequência acostada às fls. 54/58.
Matrícula 395 – Cargo: Assessor Técnico Parlamentar do Presidente;
nome: THALITA LASSARA QUEIROZ, admitida em 05/03/2014 e exonerada em
01/09/2014. Para comprovar a jornada laboral, a Câmara Municipal enviou registro
de frequência acostada às fls. 65/70.
Matrícula 416 - cargo: Assessora de Gabinete II; nome: SHIRLAYNE DE
FÁTIMA TOBIAS, admitida em 01/07/2014 e exonerada em 01/08/2014. Para
comprovar a jornada laboral, a Câmara Municipal enviou registro de frequência
acostada às fl.71.
No Inquérito Civil Público que embasa essa proemial, foi ouvido
primeiramente o Sr. JOSÉ ANTÔNIO MANGINI, proprietário do Jornal “É + Notícias”
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que, em síntese, afirmou: “que vem acompanhando o Portal da Transparência e
olhando a Folha de Pagamento percebeu que tinha várias pessoas que não
trabalhavam na Câmara, principalmente pessoas ligadas a área de comunicação,
que passava por lá umas duas vezes por mês e ia na área de comunicação para ver
se tinha matéria para publicação; que no setor de Comunicação, apenas encontrava
com ADDA; que perguntava para as secretárias da Presidência a respeito dos
servidores relacionados e sempre respondiam que não conheciam; Que perguntou
para ADDA se além dela existia outra pessoa que trabalhava na Comunicação,
tendo a resposta que não”.
Igualmente, também foi ouvida (fls.25/26) ADDA EMILY VIEIRA, ocupante do
cargo de Assessora de Comunicação e Diretora de Comunicação e Imprensa na
Câmara Municipal de Morrinhos, no período de 01/02/2013 até 31/07/2014 que, em
suma, aduz: “ que no período em que laborou no Poder Legislativo Municipal pode
afirmar que as pessoas apontadas como “servidores fantasmas” jamais trabalharam
na Casa Legislativa. “
A respeito dos fatos os vereadores, PAULO ROBERTO DE MORAIS
CÂNDIDO, NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX DE SOUZA SOARES, DORVILO
GONÇALVES LEITE afirmam categoricamente que apesar de conhecerem algumas
das pessoas apontadas como “servidores fantasmas” nunca as viram prestando
serviços na Câmara Municipal no lapso temporal apontado. O vereador PAULO
ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO pontua inclusive que “(...) a Câmara não possui
muitos servidores e se “os fantasmas” estivessem dando expediente regular o
Declarante teria percebido(...)”.
Às fls. 115/116 foi procedida a oitiva da funcionária MARCELINA MENEZES
DOS SANTOS BORGES, que é responsável por elaborar a folha de pagamento dos
servidores da Câmara de Vereadores, sobre os fatos, ponderou, em síntese, que
elabora os decretos de nomeação e exoneração por ordem da Presidência e da
Mesa Diretora. Ressalta, também, que nunca viu nenhum desses funcionários
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efetivamente trabalhando na Câmara Municipal, sendo que eventualmente só eram
vistos no dia do pagamento.
Determinada a notificação do Presidente da Câmara (à época), o Sr.
OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, este informou, em apertada síntese, que as
pessoas apontadas como “fantasmas” estavam efetivamente prestando serviços à
Câmara, sendo que CARLA trabalhava na área de comunicação; Adão laborava
como vigia dos carros; THALITA era assessora do Declarante (OBERDAM);
SHIRLAYNE foi nomeada por um mês para auxiliar na Câmara como Assessora de
Gabinete e, por fim, sobre HIDILA apontou que ela estava à disposição do Vereador
TOM.
Às fls. 129/130 foi procedida a oitiva do Vereador Wellinton José de Sousa
(TOM) que aduziu, em suma, que já viu essas pessoas na Câmara, mas não soube
informar em qual departamento ou seção elas laboravam. Ademais, sobre HIDILA,
informou que ficava sobre sua supervisão direta, tendo sido por ele indicada,
apontou que ela foi sua assessora por 05 (meses) e que seu expediente era das
08:00 às 11:00; afirmou que ela assinava frequência por semana. Ademais, pondera
que namora com a mãe de HIDILA há aproximadamente 07 meses.
Dessa forma, ao teor de tudo que foi narrado e acostado aos autos do
Inquérito Civil Público. A 1ª Promotoria de Justiça da Comarca de Morrinhos verifica
o envolvimento das pessoas OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, WELLINTON
JOSÉ DE SOUSA (TOM), ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA LAMOUNIER DO
CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA QUEIROZ e
SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS em atos de Improbidade
Administrativa tipificados na Lei nº 8.429/92, conforme individualização das condutas
que se verá adiante.
2. DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO
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A Ação Civil Pública, ex vi do disposto no artigo 1º da Lei n.º 7.347/85,
como fator de mobilização social, é a via processual adequada para impedir a
ocorrência ou reprimir danos ao patrimônio público, meio ambiente, ao consumidor,
a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico,
protegendo, assim, os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos da
sociedade, sendo que, diante de sua importância, mereceu assento constitucional,
como se extrai do art. 129, inciso III da Constituição da República Federativa do
Brasil.
A ação civil pública protege interesses não só de ordem patrimonial como,
também, de ordem moral e cívica. O seu objetivo não é apenas restabelecer a
legalidade, mas também punir ou reprimir a imoralidade administrativa a par de ver
observados os princípios gerais da administração.
Não restam dúvidas de que o patrimônio público é um interesse de
dimensão difusa, o que autoriza sua tutela processual por meio da ação civil pública.
Nesse diapasão, caracteriza-se a tutela do patrimônio público, inclusive na dimensão
da moralidade administrativa, como um interesse meta individual de natureza difusa,
sendo o Ministério Público parte legítima para aforar ação de improbidade com a
finalidade de punir os agentes ímprobos que violam os princípios da Administração
Pública.
Neste sentido, tem-se que a Carta Magna confere esta atribuição ao
Parquet:
“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:
III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente
e de outros interesses difusos e coletivos”.
Em consonância com essa orientação, a Lei Orgânica do Ministério
Público – Lei federal n.º 8.625/93 – assim estatui:
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“Art. 25. Além das funções previstas nas Constituições
Federal e Estadual, na Lei Orgânica e em outras leis,
incumbe, ainda, ao Ministério Público:
IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na
forma da lei:
a) para a proteção, prevenção e reparação dos danos
causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens e
direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, e a outros interesses difusos, coletivos e
individuais indisponíveis e homogêneos;
b) para a anulação ou declaração de nulidade de atos
lesivos ao patrimônio público ou à moralidade
administrativa do Estado ou de Município, de suas
administrações indiretas ou fundacionais ou de entidades
privadas de que participem.
A Lei nº 8.429/92, que dispõe sobre as sanções aplicáveis nos casos de
prática de atos de improbidade administrativa estabelece a legitimidade ativa do
Ministério Público:
“Art. 17. A ação principal, que terá o rito ordinário, será
proposta pelo Ministério Público ou pela pessoa jurídica
interessada, dentro de 30 (trinta) dias da efetivação da
medida cautelar”.
A remansosa jurisprudência da Corte Superior Federal culminou na
edição da Súmula 329, assim redigida:
“O Ministério Público tem legitimidade para propor ação
civil pública em defesa do patrimônio público”.
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Patente, portanto, que o Ministério Público é parte legítima para aforar
ação civil pública em defesa do patrimônio público e da moralidade administrativa.
3. DA IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA
Prefacialmente, oportuno trazer à colação a lição de José Afonso da Silva,
para quem “a improbidade administrativa é uma imoralidade qualificada pelo dano
ao erário e correspondente vantagem ao ímprobo ou a outrem (...)”
Nessa mesma senda, Flávia Cristina Moura de Andrade, detalhe a
improbidade administrativa como sendo “ato de imoralidade qualificada pela lei que
importa em enriquecimento ilícito do agente, prejuízo ao erário e/ou violação dos
princípios da administração pública, e que enseja, em processo judicial promovido
pela pessoa jurídica lesada ou pelo Ministério Público a aplicação das seguintes
sanções: suspensão dos direitos políticos, perda da função pública, indisponibilidade
dos bens, ressarcimento ao erário, perda de bens e valores acrescidos ilicitamente,
multa civil e proibição de contratar com a administração pública ou dela receber
benefícios”.
Do princípio da legalidade e da moralidade decorre, também, o princípio
da probidade administrativa, que tem o seguinte sentido, conforme lição de Wallace
Paiva Martins Júnior:
A adoção do princípio da probidade administrativa no
ordenamento jurídico valoriza a implementação prática do
princípio da moralidade administrativa, conferindo à
Nação, ao Estado, ao povo, enfim, um direito público
subjetivo a uma Administração Pública proba e honesta (e
a ter agentes públicos com essas mesmas qualidades),
através de meios e instrumentos preventivos e
repressivos (ou sancionadores) da improbidade
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administrativa. O princípio da probidade administrativa
colabora para o direito administrativo na diminuição da
insindicabilidade do ato administrativo discricionário, para
o estabelecimento de uma Administração Pública mais
eficiente, na medida em que se dirige à consecução da
noção de bem e melhor administrar (da escolha dos
meios mais adequados, coerentes e proporcionais para a
satisfação de seus fins e alcance do interesse público).”
(Probidade Administrativa. 2ª ed., págs. 100/101).
A Lei de Improbidade Administrativa prevê hipóteses de comportamentos,
definindo-os como atos de improbidade administrativa, cuja incidência determina
sanções civis e/ou políticas aos agentes públicos faltosos e aos terceiros
beneficiários do ato ímprobo, independente da responsabilidade penal e
administrativa do sujeito ativo.
Conforme a adequação legal, em síntese, os atos que caracterizam
improbidade administrativa, segundo os efeitos resultantes, podem ser classificados
em três categorias diversas: a) atos de improbidade administrativa que importam
enriquecimento ilícito (art. 9º); b) atos de improbidade administrativa que causam
prejuízo ao erário (art. 10); e c) atos de improbidade administrativa que atentam
contra os princípios da administração pública (art. 11).
No caso concreto restou patente a violação do bem jurídico patrimônio
público por parte dos requeridos, sendo que OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e
WELLINTON JOSÉ DE SOUSA (TOM) amoldaram suas atitudes aos preceitos
previstos nos artigos 10 e 11 da Lei n. 8429/92, ao passo que ADÃO ALVES DA
SILVA, CARLA LAMOUNIER DO CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA
LASSARA QUEIROZ e SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS
amoldaram suas condutas ao art. 9º da Lei n. 8429/92, conforme os fortes
elementos indiciários até aqui produzidos e que serão a partir de agora descritos e
individualizados de acordo com a participação de cada uma das pessoas apontadas.
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DAS MODALIDADES DE IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA PRATICADAS
DOS ATOS DE IMPROBIDADE QUE IMPORTAM EM ENRIQUECIMENTO ILÍCITO
(art. 9º, da Lei n. 8.429/92).
A Constituição Federal impõe a todas as pessoas que compõem a
administração pública a submissão aos “princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.” (CF, art. 37, caput).
Na espécie, os requeridos ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA
LAMOUNIER DO CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA
QUEIROZ e SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS, praticaram ato de
improbidade administrativa que importa em enriquecimento ilícito (art. 9º, caput, da
Lei de Improbidade Administrativa):
Art. 9° Constitui ato de improbidade administrativa
importando enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de
vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de
cargo, mandato, função, emprego ou atividade nas
entidades mencionadas no art. 1° desta lei, e
notadamente:
Em tese, a remuneração representa vantagem patrimonial devida ao
servidor público, sendo lícito seu recebimento em razão da efetiva contraprestação
laboral de acordo com as atribuições inerentes ao cargo exercido e desde que
devidamente amparada pela legislação respectiva.
De modo diverso, a remuneração passa a ser indevida toda vez que não
amparada em lei, como no caso em análise, onde ocorreu uma verdadeira farsa,
dissimulação na ocupação de cargo público, tendo em vista que os servidores
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nominados não obstante tenham sido nomeados para desempenharem suas
atribuições na Câmara Municipal de Morrinhos, nunca efetivamente
desempenharam nenhum serviço.
Nas sempre precisas lições de George Sarmento:
“(...) o significado de enriquecimento ilícito, à luz da Lei n.º
8.429/92, não está ligado única e exclusivamente à
constituição de fortuna pessoal mediante abuso de cargo
público, mas à percepção de toda e qualquer vantagem
financeira indevida decorrente da manipulação dolosa da
autoridade que a função confere ao agente do Estado.
Por mais aviltantes que sejam os vencimentos, o
funcionário não pode afastar-se dos princípios da
legalidade e da moralidade para obter ganhos pessoais,
sob pena de incorrer em improbidade administrativa. Além
disso, é a porta aberta para atos de corrupção mais
graves.” (Improbidade Administrativa, Ed. Síntese, 2002)
(grifos nossos)
Na literatura de Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves tem-se que:
Como derivação lógica e consequência inevitável dos
atos de corrupção, tem-se o enriquecimento ilícito, sendo
aquela o principal meio de implementação deste. Em
geral, o enriquecimento ilícito é o resultado de uma ação
ou omissão que possibilite o agente público auferir uma
vantagem não prevista em lei.” (in “Improbidade
Administrativa”, Emerson Garcia e Rogério Pacheco
Alves, Editora Lumen Juris – 2002, fl. 190).
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Discorrendo sobre o dever de probidade, Diógenes Gasparini pondera
que:
“Esse dever impõe ao agente público o desempenho de
suas atribuições sob pautas que indicam atitudes retas,
leais, justas, honestas, notas marcantes da integridade do
caráter do homem. É nesse sentido, do reto, do leal, do
justo e do honesto que deve orientar o desempenho do
cargo, função ou emprego junto ao Estado ou entidade
por ele criada, sob pena de ilegitimidade de suas ações.”
(Direito Administrativo. 4ª ed. São Paulo: Saraiva, 1995,
p. 51)
Sobre a improbidade administrativa que importa enriquecimento ilícito e
seus elementos caracterizadores, assim ensinam Emerson Garcia e Rogério
Pacheco Alves, verbis:
“Na dicção do art. 9º, caput, da Lei n. 8.429/92, importa
em enriquecimento ilícito auferir qualquer tipo de
vantagem patrimonial indevida em razão do exercício de
cargo, de mandato, função, emprego ou atividade nas
entidades mencionadas no art. 1º. A análise desse
preceito legal permite concluir que, afora o elemento
volitivo do agente, o qual deve ser necessariamente se
consubstanciar no dolo, são quatros os elementos
formadores do enriquecimento ilícito sob a ótica da
improbidade administrativa: a) o enriquecimento do
agente; b) que se trate de agente que ocupe cargo,
mandato, função, emprego ou atividade nas entidades
elencadas no art. 1º, ou mesmo o extraneus que concorra
para a prática do ato ou dele se beneficie (arts. 3º e 6º); c)
ausência de justa causa, devendo se tratar de vantagem
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indevida, sem qualquer correspondência com os
subsídios ou vencimentos recebidos pelo agente público;
d) relação de causalidade entre a vantagem indevida e o
exercício do cargo, pois a lei não deixa margem a dúvidas
ao falar em ‘vantagem patrimonial indevida em razão de
cargo...” (Improbidade Administrativa, 2ª ed., pág. 270).
Na confluência das acertadas lições dos eméritos doutrinadores, estão
preenchidos, no presente caso, todos os requisitos caracterizadores do ato de
improbidade que importe enriquecimento ilícito, a) dolo; b) enriquecimento dos
agentes; c) agentes que ocupem cargo; e d) ausência de justa causa; e)
relação de causalidade entre a vantagem indevida e o exercício do cargo.
DA INDIVIDUALIZAÇÃO DAS CONTUDAS DOS REQUERIDOS
DA CONDUTA DO REQUERIDO ADÃO ALVES DA SILVA
Conforme se depreende dos autos, ADÃO ALVES DA SILVA foi nomeado
para exercer o cargo de ASSESSOR DE IMPRENSA, nível 2, Grau CA4, do Quadro
de Funcionários da Câmara Municipal de Morrinhos.
Não obstante a referida nomeação, o certo é que ADÃO nunca prestou
serviços à Câmara Municipal. Notificado a prestar depoimento perante a 1ª
Promotoria de Morrinhos, ADÃO informou (fls.83/84), em resumo, que teve a
indicação dos Vereadores OBERDAM e WELINGTON DIAS para exercer o cargo,
cujo nome não sabe, mas que sua função era “olhar os carros”. Discorreu, também,
que não assinava ponto, mas que fazia em média 08 horas de serviço.
Sobre os fatos, o vereador WELINGTON DIAS pontuou (fls. 127/128) que
nunca viu o Sr. ADÃO prestando serviços no Poder Legislativo Municipal,
informando que ADÃO era subordinado ao vereador OBERDAM, sendo que apenas
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viu algumas vezes ADÃO na Presidência à disposição de OBERDAM, mas não
efetivamente prestando um serviço à Câmara.
O Senhor ex-presidente da Câmara de Vereadores, OBERDAM
MENDONÇA CARVALHO, aduz (fls.131/132) que conhece ADÃO há muitos anos e
que a atribuição de ADÃO seria de vigiar os carros nas proximidades da Câmara de
Vereadores.
Ademais, a servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES,
responsável pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116,
perante a 1º Promotoria de Justiça de Morrinhos, acentua que só tinha contato com
o Sr. ADÃO na época do pagamento. Sobre as atribuições de ADÃO, diz que nunca
o viu trabalhando na assessoria de comunicação e que não sabia que fora nomeado
para “olhar” os veículos que estacionassem nas intermediações da Câmara. Por fim,
diz que a Câmara possui 04 (quatro) servidores efetivos ocupantes do Cargo de
Vigilante.
Com efeito, os vereadores PAULO ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO,
NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX DE SOUZA SOARES, DORVILO
GONÇALVES LEITE informam, em som uníssono, que o indigitado “servidor
fantasma” nunca fora visto prestando qualquer tipo de serviço para Câmara
Municipal, tendo sido observado apenas nas proximidades físicas da sede do Poder
Legislativo Local.
Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil
Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que ADÃO ALVES DA SILVA
nunca trabalhou efetivamente para Câmara Municipal de Morrinhos, não obstante
tenha recebido do erário a importância de R$ 21.239,66 (vinte e um mil reais,
duzentos e trinta e nove reais e sessenta e seis centavos), referente ao período de
Março de 2014 à Setembro de 2014, consoante memória de cálculo acostada à fls.
213 do presente ICP.
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A propósito, preceitua a Lei Municipal n. 1042/91,que institui o Regime
Jurídico Único e o Estatuto dos Servidores Públicos de Morrinhos:
Art. 19. Exercício é o efetivo desempenho das funções do
cargo
§1º É de 30 (trinta) dias o prazo para o servidor entrar em
exercício, contados da data da posse.
§2º Será exonerado o servidor que não entrar em
exercício no prazo previsto no parágrafo anterior.
Acerca dos deveres e proibições do servidor público municipal de Morrinhos,
a referida Lei ainda estatui que:
Art. 166. São deveres do servidor:
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
IX - manter conduta compatível com a moralidade
administrativa;
X - ser assíduo e pontual ao serviço;
Art. 167. Ao servidor é proibido:
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem
prévia autorização do chefe imediato;
XVII - exercer quaisquer atividades que sejam
incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com
o horário de trabalho.
A Câmara dos Vereadores enviou registros de frequência do servidor ADÃO
ALVES DA SILVA (fls.59/64), ocorre que, de uma análise perfunctória, é possível
observar que tais registros não merecem nenhuma credibilidade, podendo-se notar,
de plano, que o servidor não cumpriu com os deveres e proibições inerentes a
qualquer servidor público do Município de Morrinhos.
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Primeiramente, por registrarem horários uniformes que são impossíveis de
ocorrerem na prática, entendimento inclusive remansoso no Tribunal Superior do
Trabalho e plasmado na Súmula 338 da Jurisprudência do e. Tribunal Laboral, que
considera inválido como meio de prova cartões de ponto que demonstrem horários
de entrada e saída uniformes. A par desse diálogo de fontes, ressalta-se que o
próprio ADÃO , às fls.83/84, informou que não registrava ponto.
É importante frisar que a Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa
Municipal, RITA DE CÁSSIA BORGES MACHADO, consignou às fls. 205/206: “Que
acha que as folhas de frequência foram “fabricadas”, até porque alguns “fantasmas”
assinariam livro de frequência e não folhas. Que a Declarante não chegou a
questionar a respeito do encaminhamento das folhas originais para o Ministério
Público porque já sabia que os fatos ali não eram verdadeiros, inclusive nesta
oportunidade verificou que tem folha de frequência passado corretivo nos dias de
sábados e domingos e tudo com a mesma canete (sic)”.
Por fim, com vistas a retirar qualquer legitimidade, verifica-se o registro de
frequência do servidor em dias não úteis, ou seja, em dias de feriados. Vejamos
A Lei Municipal de Morrinhos n. 2.914/09 cria os feriados municipais e
menciona as datas comemorativas, na forma específica:
O PREFEITO MUNICIPAL DE MORRINHOS
Faço saber que a Câmara Municipal decreta e eu
sanciono a seguinte lei:
Art. 1º Fica criado o seguinte feriado civil e religioso no
Município de Morrinhos:
I – 16 de julho, dia de Nossa Senhora do Carmo e
Fundação da cidade de Morrinhos.
Art. 2º Fica criado o seguinte feriado civil no Município de
Morrinhos:
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I – 29 de agosto, dia da Emancipação Política do
Município de Morrinhos.
Ocorre que, compulsando o caderno processual, notadamente, à folha 63, é
possível constatar a assinalação de frequência no dia 16 de julho, feriado local, dia
de Nossa Senhora do Carmo. Além do mais, é possível observar a presença de tais
incongruências na data de 19/06/2014, feriado de Corpus-Christi, em que não
obstante o feriado nacional e ausência de expediente houve o apontamento de
registro de frequência.
Assim agindo, ADÃO ALVES DA SILVA incorreu nas sanções previstas no
inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato de improbidade que
causou enriquecimento ilícito ao agente.
DA CONDUTA DA REQUERIDA HIDILA RODRIGUES TELES
Conforme se depreende dos autos, HIDILA RODRIGUES TELES foi nomeada
para exercer o cargo de provimento em comissão de CHEFE DE GABINETE do
Vereador WELLINTON JOSÉ DE SOUZA, nível 2, Grau CA, constante da Lei n.
2.996, de 20 de setembro de 2013.
Não obstante a referida nomeação, o certo é que HIDILA nunca prestou
serviços à Câmara Municipal. Notificada a prestar depoimento perante a 1ª
Promotoria de Morrinhos, HIDILA informou (fls.90/91), em síntese, que reside em
Morrinhos a quase 02 (dois) meses, que antes residia em Hidrolândia-GO, afirma
que foi indicada pelo Vereador TOM, uma vez que sua mãe mantém um
relacionamento amoroso com ele. Sobre a jornada de trabalho HIDILA aduz que
iniciava sua jornada por volta das 07:30, 08:30 e saia por volta de 11:00, 11:30, que
assinava folha de ponto de acordo com as determinações do vereador TOM e que
não assinava nada para Câmara que apenas pegava o cheque com seu salário.
Sobre os fatos, o vereador WELLINGTON JOSÉ DE SOUZA (TOM) pontuou
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
19
(fls. 129/130), em apertada sinopse, que HIDILA foi sua assessora durante 05
(cinco) meses, sendo que seu expediente era das 08:00 às 11:00 e que,
eventualmente, ia no período vespertino, sobre a frequência informou que era
assinada semanalmente pela servidora e que nos meses em que HIDILA laborou na
Câmara pegou uma vez o cheque para ela assinar.
Sobre HIDILA, o ex-presidente da Câmara de Vereadores, o Sr.
OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, informa (fls.131/132) que não sabe dizer se
HIDILA estava trabalhando uma vez que ela estava à disposição do Vereador TOM
e que soube que ela residia em Hidrolândia-GO apenas após a divulgação da
matéria no jornal “É + Notícias”
Ademais, a servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES,
responsável pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116,
perante a 1º Promotoria de Justiça de Morrinhos, acentua que nunca viu HIDILA
trabalhando na Câmara, apenas notava sua presença nos dias de efetuar o
pagamento dos servidores. Por fim, afirma que já ocorreu de o Vereador TOM levar
cheques para o Gabinete, onde HIDILA iria assinar a folha de pagamento e
competente recebimento do cheque, quitando a folha.
Sobre a efetiva prestação de serviços por parte de HIDILA os vereadores
PAULO ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO, NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX
DE SOUZA SOARES, DORVILO GONÇALVES LEITE informam, em único tom, que
a indigitada “servidora fantasma” nunca fora vista prestando qualquer tipo de serviço
para Câmara Legislativa Local, tendo apenas conhecimento da existência dela na
condição de enteada do vereador WELLINTON JOSÉ DE SOUZA.
Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil
Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que HIDILA RODRIGUES
TELES nunca trabalhou efetivamente para Câmara Municipal de Morrinhos, não
obstante tenha recebido do erário a importância de R$ 20.488,29 (vinte mil,
quatrocentos e oitenta e oito reais e vinte e nove reais), referente ao período de
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
20
Março de 2014 à Outubro de 2014, consoante memória de cálculo acostada à fl. 213
do presente ICP.
Acerca dos deveres e proibições do servidor público municipal de Morrinhos,
a referida Lei ainda estatui que
Art. 166. São deveres do servidor:
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
IX - manter conduta compatível com a moralidade
administrativa;
X - ser assíduo e pontual ao serviço;
Art. 167. Ao servidor é proibido:
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem
prévia autorização do chefe imediato;
XVII - exercer quaisquer atividades que sejam
incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com
o horário de trabalho.
A Câmara dos Vereadores enviou registros de frequência da servidora
HIDILA RODRIGUES TELES (fls.54/58), ocorre que, de uma análise perfunctória, é
possível observar que tais registros não merecem credibilidade, podendo-se notar,
de plano, que a servidora não cumpriu com os deveres e proibições inerentes a
qualquer servidor público do Município de Morrinhos. Vejamos:
Primeiramente, por registrarem horários uniformes que são impossíveis de
ocorrem na prática, entendimento inclusive remansoso no Tribunal Superior do
Trabalho e plasmado na Súmula 338 do e. Tribunal Laboral que considera como
inválido como meio de prova cartões de ponto que demonstrem horários de entrada
e saída uniformes. A par desse diálogo de fontes, ressalta-se que a própria HIDILA
e o vereador TOM informaram que o horário de serviço da servidora seria das 8:00
às 11:00, todavia os registros de ponto, mostram que ela teria prestado serviço,
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
21
infalivelmente, com horário de entrada às 07:00 e saída às 17:00, o que contradiz a
versão apresentada pelos declarantes.
Ainda, a Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa Municipal, RITA DE
CÁSSIA BORGES MACHADO, consignou às fls. 205/206: “Que acha que as folhas
de frequência foram “fabricadas”, até porque alguns “fantasmas” assinariam livro de
frequência e não folhas. Que a Declarante não chegou a questionar a respeito do
encaminhamento das folhas originais para o Ministério Público porque já sabia que
os fatos ali não eram verdadeiros, inclusive nesta oportunidade verificou que tem
folha de frequência passado corretivo nos dias de sábados e domingos e tudo com a
mesma canete (sic)”.
Por fim, com vistas a retirar qualquer legitimidade das folhas acostadas aos
autos, verifica-se o registro de frequência da servidora em dias não úteis, ou seja,
em dias de feriados. Vejamos
A Lei Municipal de Morrinhos n. 2.914/09 cria os feriados municipais e
menciona as datas comemorativas. Ocorre que, compulsando o caderno processual,
notadamente, na folha 57 é possível constatar a assinalação de frequência no dia 16
de julho, feriado local, dia de Dia da Emancipação Política do Município de
Morrinhos. Além do mais é possível constatar a presença de tais incongruências nas
datas de 18/04/2014 e 21/04/2014, feriados, respectivamente, Paixão de Cristo e
Tiradentes, em que não obstante os feriados nacionais e ausência de expediente
houve o apontamento de registro de frequência. Ademais, não foi acostada a
frequência referente ao mês de julho de 2014.
Assim agindo, HIDILA RODRIGUES TELES incorreu nas sanções previstas
no inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato de improbidade que
causou enriquecimento ilícito ao agente.
DA CONDUTA DA REQUERIDA THALITA LASSARA QUEIROZ
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
22
Conforme se depreende dos autos, THALITA LASSARA QUEIROZ foi
nomeada para exercer o cargo de provimento em comissão de ASSESSOR
TÉCNICO PARLAMENTAR do Vereador OBERDAM MENDONÇA CARVALHO,
nível 2, Grau CG3, constante da Lei n. 2996, de 20 de setembro de 2013.
Não obstante a referida nomeação, o certo é que THALITA nunca prestou
serviços à Câmara Municipal. Notificada a prestar depoimento perante a 1ª
Promotoria de Morrinhos, THALITA informou (fls.96/97), em resumo, que foi indicada
e nomeada pelo Vereador para exercer o cargo que não se recorda o nome, mas
que fazia de tudo um pouco. Em seu depoimento, THALITA ressalta que só aceitou
o cargo tendo em vista que não precisava ir à Câmara, sendo que ia apenas aos
fianais de semana para assinar a folha de ponto. Afirma que teve um relacionamento
amoroso com o vereador OBERDAM há aproximadamente 08 anos e que depois da
notícia da existência de “servidores fantasmas” na Câmara Municipal foi exonerada,
mas que não sabe por qual motivo.
Sobre THALITA, o ex-presidente da Câmara de Vereadores, o Sr. OBERDAM
MENDONÇA CARVALHO, informa (fls.131/132) que ela era sua assessora e que
tinha dia que ela trabalhava e dia que ela não trabalhava, sendo que nos dias em
que ela trabalhava, dava expediente em seu gabinete, no mais, afirmou que o
trabalho da servidora realizava-se mais de forma externa à Câmara Municipal.
A servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES, responsável
pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116, perante a 1º
Promotoria de Justiça de Morrinhos, aponta que nunca viu THALITA trabalhando na
Câmara, afirma que viu a servidora apenas uma ou duas vezes no gabinete no
Vereador OBERDAM e nos dias de pagamento.
Sobre a efetiva prestação de serviços por parte de THALITA os vereadores
PAULO ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO, NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX
DE SOUZA SOARES, DORVILO GONÇALVES LEITE informam, homogeneamente,
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
23
que a indigitada “servidora fantasma” nunca fora visto prestando qualquer tipo de
serviço para Câmara Municipal de Morrinhos.
Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil
Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que THALITA LASSARA
QUEIROZ nunca trabalhou efetivamente para Câmara Municipal de Morrinhos, não
obstante tenha recebido do erário a importância de R$ 11.912,48 (Onze mil,
novecentos e doze reais e quarenta e oito centavos), referente ao período de Março
de 2014 à Setembro de 2014, consoante memória de cálculo acostada à fl. 213 do
presente ICP.
Acerca dos deveres e proibições do servidor público municipal de Morrinhos,
a referida Lei ainda estatui que
Art. 166. São deveres do servidor:
I - exercer com zelo e dedicação as atribuições do cargo;
IX - manter conduta compatível com a moralidade
administrativa;
X - ser assíduo e pontual ao serviço;
Art. 167. Ao servidor é proibido:
I - ausentar-se do serviço durante o expediente, sem
prévia autorização do chefe imediato;
XVII - exercer quaisquer atividades que sejam
incompatíveis com o exercício do cargo ou função e com
o horário de trabalho.
A Câmara dos Vereadores enviou registros de frequência da servidora
THALITA LASSARA QUEIROZ (fls.65/70), ocorre que, de uma análise superficial, é
possível observar que tais registros não merecem credibilidade, podendo-se notar,
de plano, que a servidora não cumpriu com os deveres e proibições inerentes a
qualquer servidor público do Município de Morrinhos. Vejamos:
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
24
Primeiramente, por registrarem horários uniformes que são impossíveis de
ocorrem na prática, entendimento inclusive remansoso no Tribunal Superior do
Trabalho e plasmado na Súmula 338 que considera como inválido como meio de
prova cartões de ponto que demonstrem horários de entrada e saída uniformes. A
par desse diálogo de fontes, ressalta-se que a própria THALITA informou em seu
depoimento perante a 1ª Promotoria de Justiça que só aceitou o cargo de
provimento em comissão, posto que não precisava comparecer à Câmara, indo
apenas aos finais de Semana. Ademais, o seu superior hierárquico, o vereador
OBERDAM, informou que tinha dias em que ela não trabalhava. Sendo assim, a
presença de folhas de ponto que demonstram que ela teria prestado serviço,
infalivelmente, com horário de entrada às 07:30 e saída às 17:00, contradiz,
sobremaneira, as provas e depoimentos carreados aos autos.
A Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa Municipal, RITA DE CÁSSIA
BORGES MACHADO, consignou às fls. 205/206: “Que acha que as folhas de
frequência foram “fabricadas”, até porque alguns “fantasmas” assinariam livro de
frequência e não folhas. Que a Declarante não chegou a questionar a respeito do
encaminhamento das folhas originais para o Ministério Público porque já sabia que
os fatos ali não eram verdadeiros, inclusive nesta oportunidade verificou que tem
folha de frequência passado corretivo nos dias de sábados e domingos e tudo com a
mesma canete (sic)”.
Por fim, com vistas a retirar qualquer legitimidade das folhas acostadas aos
autos, verifica-se o registro de frequência da servidora em dias não úteis, ou seja,
em dias de feriados. Vejamos
A Lei Municipal de Morrinhos n. 2.914/09 cria os feriados municipais e
menciona as datas comemorativas. Ocorre que, compulsando o caderno processual,
notadamente, à folha 57 é possível constatar a assinalação de frequência no dia 16
de julho, feriado local, dia de Dia da Emancipação Política do Município de
Morrinhos.
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
25
Assim agindo, THALITA LASSARA QUEIROZ incorreu nas sanções
previstas no inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato de
improbidade que causou enriquecimento ilícito a agente.
DA CONDUTA DA REQUERIDA SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS
Conforme se depreende dos autos, SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS
DOS SANTOS foi nomeada para exercer o cargo de provimento em comissão de
ASSESSOR DE GABINETE II do Vereador OBERDAM MENDONÇA CARVALHO,
nível 1, Grau CG1, constante da Lei n.3.034, de 21 de Março de 2014.
Não obstante a referida nomeação, o certo é que SHIRLAYNE não
prestou serviços à Câmara Municipal entre o período de 1º de Julho de 2014 a 1º de
Agosto de 2014. Notificada a prestar depoimento perante a 1ª Promotoria de
Morrinhos, SHIRLAYNE informou (fls.92/93), em síntese, que a declarante
trabalhava na Câmara, mas após descobrir que estava grávida pediu exoneração,
informa que seu filho nasceu em 20/06/2014 e que depois desta data não trabalhou
mais na Câmara Municipal. Interessante ressaltar, que a “servidora fantasma” não
se lembra de ter assinado nenhuma folha de frequência referente ao mês de julho
de 2014 e que não haveria como exercer qualquer cargo na data em que fora
nomeada tendo em vista que teria apenas 10 (dias) que havia dado à luz a seu filho.
Por fim, explica que quando era servidora não havia a frequência em folhas avulsas,
mas sim, em livro destinado para tal fim, apesar disso reconhece com sua as
assinaturas apostas na folha de frequência de fl. 71.
Sobre SHIRLAYNE, o ex-presidente da Câmara de Vereadores, o Sr.
OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, informa (fls.131/132) que ela sempre foi sua
companheira política e que ela pediu para sair da Câmara em razão de sua gravidez
e que depois disso, na época do seu parto, solicitou para ser nomeada para ajudar
na Câmara.
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
26
Ademais, a servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES,
responsável pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116,
perante a 1º Promotoria de Justiça de Morrinhos, acentua que conhece a pessoa de
SHIRLAYNE, uma vez que ela exerceu a função de Chefe de Gabinete da
Presidência no ano de 2013 e efetivamente trabalhou na Câmara, com relação à
nomeação de SHIRLAYNE somente no mês de julho de 2014, a declarante pondera
que a servidora ligou para ela diversas vezes do hospital cobrando o pagamento
para que pudesse acertar os valores de seu parto. Por fim, afirma que o vereador
OBERDAM é muito amigo de SHIRLAYNE e da mãe dela que inclusive trabalhou na
Câmara Municipal de Morrinhos.
Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil
Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que SHIRLAYNE DE FÁTIMA
TOBIAS DOS SANTOS não prestou serviço no mês de julho como ela própria
afirmou em seu depoimento, não obstante tenha recebido do erário a importância de
R$ 1.129,66 (um mil, cento e vinte e nove reais, sessenta e seis centavos), referente
ao período de Julho de 2014 a Agosto de 2014, consoante memória de cálculo
acostada à fl. 213 do presente ICP.
Além do mais, o fato de ter dado a luz pouco menos de 10 (dias) da data de
sua nomeação gera uma presunção, praticamente, iure et iure, de impossibilidade
física para a prestação de atividades laborais, além, evidentemente, de se tratar de
mês que ocorre o recesso no Legislativo.
A Câmara dos Vereadores enviou registros de frequência da servidora
SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS (fls.54/58), ocorre que, a própria
servidora afirmou, categoricamente, que não prestou serviços durante o mês de
julho de 2014.
Na confluência das afirmações de SHIRLAYNE, a Procuradora Jurídica da
Câmara Legislativa Municipal, RITA DE CÁSSIA BORGES MACHADO, consignou
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
27
às fls. 205/206: “Que acha que as folhas de frequência foram “fabricadas”, até
porque alguns “fantasmas” assinariam livro de frequência e não folhas. Que a
Declarante não chegou a questionar a respeito do encaminhamento das folhas
originais para o Ministério Público porque já sabia que os fatos ali não eram
verdadeiros, inclusive nesta oportunidade verificou que tem folha de frequência
passado corretivo nos dias de sábados e domingos e tudo com a mesma canete
(sic)”.
Assim agindo, SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS incorreu
nas sanções previstas no inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato
de improbidade que causou enriquecimento ilícito ao agente.
DA CONDUTA DA REQUERIDA CARLA LAMOUNIER DO CARMO
Conforme se depreende dos autos, CARLA LAMOUNIER DO CARMO foi
nomeada para exercer o cargo de provimento em comissão de ASSESSOR DE
COMUNICAÇÃO TÉCNICO PARLAMENTAR do Vereador OBERDAM MENDONÇA
CARVALHOA, nível N2, Grau CA4, do Quadro de Funcionários da Câmara
Municipal de Morrinhos.
Não obstante a referida nomeação, o certo é que CARLA nunca prestou
serviços à Câmara Municipal. Notificada a prestar depoimento perante a 1ª
Promotoria de Morrinhos, CARLA informou (fls.94/95), em resumo, que foi indicada
e nomeada pelo Vereador OBERDAM para exercer o cargo de Assessor de
Imprensa, mas não chegou a dar expediente na Câmara, que seu trabalho era sair
pelas ruas procurando melhorias para a Cidade de Morrinhos. Afirma que não
estava vinculada a nenhum departamento dentro da Câmara e que seu vínculo era
diretamente ao Vereador OBERDAM; Ademais, informa que nunca fez qualquer
trabalho de publicação no sítio da Câmara, que parte da internet era incumbência da
servidora ADDA. Por derradeiro, aduz que trabalha no supermecado CELEIRO
sendo que o serviço que presta ao Vereador ocorre apenas nos horários de folga do
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
28
supermecado.
Sobre CARLA, o ex-presidente da Câmara de Vereadores, o Sr.
OBERDAM MENDONÇA CARVALHO, informa (fls.131/132) que ficou combinado de
a servidora trabalhar após as 17:00 horas, só que depois ele descobriu que ela não
estava trabalhando a noite, sendo que ela foi liberada da frequência e que o
acompanha no final de semana, nas obras e serviços. Pondera que ela não teve
nenhuma lotação e esteve a disposição do Declarante.
Ademais, a servidora MARCELINA MENEZES DOS SANTOS BORGES,
responsável pelo pagamento de pessoal, em seu depoimento às fls. 115/116,
perante a 1º Promotoria de Justiça de Morrinhos, aponta que nunca viu CARLA
trabalhando na Câmara, afirma que viu a servidora apenas uma vez no gabinete do
Vereador OBERDAM e nos dias de pagamento.
Sobre a efetiva prestação de serviços por parte de CARLA os vereadores
PAULO ROBERTO DE MORAIS CÂNDIDO, NUBIA APARECIDA FERREIRA, ALEX
DE SOUZA SOARES, DORVILO GONÇALVES LEITE informam, em único tom, que
a indigitada “servidora fantasma” nunca fora vista prestando qualquer tipo de serviço
para Câmara Municipal de Morrinhos.
Às fls. 42/44 a Câmara Municipal de Morrinhos enviou matérias
constantes de seu sítio que teriam sido elaboradas por CARLA LAMOUNIER, sendo
tal autoria apontada por carimbo e assinatura da servidora nas cópias reprográficas.
Ocorre que, a própria CARLA, em seu depoimento, informou que nunca fez nenhum
trabalho de publicação no sítio da Câmara Municipal e que tal incumbência cabia a
servidora Adda.
Dessa forma, o contexto fático construído no decorrer do Inquérito Civil
Público aponta a uma só conclusão, qual seja, a de que CARLA LAMOUNIER DO
CARMO nunca trabalhou, efetivamente, para Câmara Municipal de Morrinhos, não
obstante tenha recebido do erário a importância de R$ 11.560,26 (Onze mil,
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
29
quinhentos e sessenta reais e vinte e seis centavos, referente ao período de Junho
de 2014 à Setembro de 2014, consoante memória de cálculo acostada à fl. 213 do
presente ICP.
Em ofício encaminhado pelo SUPERMECADO CELEIRO (fl.28), verifica-se
que CARLA labora no referido empreendimento desde 22 de julho de 2014, com
jornada de trabalho de segunda a sábado no horário das 13:40 às 22:00.
Nota-se, portanto, que é inaceitável a alegação de que Carla prestava
serviços aos finais de semana, sendo que aos sábados labora no SUPERMECADO
CELEIRO das 13:40 às 22:00.
Assim agindo, CARLA LAMOUNIER DO CARMO incorreu nas sanções
previstas no inciso no artigo 12, I da Lei 8429/92, ante a prática de ato de
improbidade que causou enriquecimento ilícito ao agente.
3 DOS ATOS DE IMPROBIDADE QUE CAUSAM LESÃO AO ERÁRIO (art. 10, da
Lei n. 8.429/92)
O caput do artigo 10 da Lei de improbidade Administrativa prescreve que
constitui ato de improbidade administrativa que causa lesão ao erário qualquer ação
ou omissão, dolosa ou culposa que enseje perda patrimonial, desvio, apropriação,
malbaratamento ou dilapidação dos bens ou haveres das entidades referidas no
artigo inaugural da Lei n° 8.429/92.
O inciso XII do mencionado artigo tipifica como ato de improbidade
administrativa que causa prejuízo ao erário “permitir, facilitar ou concorrer para que
terceiro se enriqueça ilicitamente”.
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
30
Destarte, para que haja a subsunção na hipótese em tela, a conduta do
agente público, ainda que seja omissa, dolosa ou culposa, deverá acarretar
prejuízo para o erário, causando-lhe lesão.
Conduta dolosa ou culposa do agente, capaz de tipificar ato de
improbidade, narrado no artigo 10, é aquela que não se contenta apenas com a
vontade livre e consciente em realizar quaisquer condutas descritas,
responsabilizando-se, também, aquele que viola o dever prudência, tornando-se
imprudente e negligente com a coisa pública, lesando, via de consequência, o
erário público.
Na sempre pertinente lição de Wallace Paiva Martins Junior:
Para a lei, lesão ao erário é qualquer das condutas
explicitadas no art. 10, caput: perda, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação, por ação
ou omissão, dolosa ou culposa. A tônica central do art.
10 é fornecida pela compreensão da noção de perda
patrimonial, que é o efeito do ato comissivo ou omissivo
do agente, e expressa-se na redução ilícita de valores
patrimoniais. A ilicitude (aqui compreendida a
imoralidade) é traço essencial à lesividade. Esta é
corolário daquela por força de presunção legal absoluta,
que nada interfere na mensuração do dano. A análise da
lei mostra, sem sombra de dúvida, que o art. 10,
caput, conceitua o prejuízo patrimonial, enquanto seus
incisos indicam situações ilícitas em que a lesão é
elementar e decorrente indissociavelmente. Nesse artigo
cuida-se de hipóteses de atos lesivos ao patrimônio
público que, por obra do comportamento doloso ou
culposo do agente público, causaram bônus indevido ao
particular e impuseram ônus injusto ao erário,
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
31
independentemente de o agente público obter
vantagem indevida.” (Probidade Administrativa, 2ª ed.,
pág. 238).
Os Requeridos OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e WELLINTON
JOSÉ DE SOUSA (TOM) incidiram, além do caput, na conduta descrita no inciso XII
do artigo 10 da Lei de Improbidade:
“Art. 10. Constitui ato de improbidade administrativa que
causa lesão ao erário qualquer ação ou omissão, dolosa
ou culposa, que enseje perda patrimonial, desvio,
apropriação, malbaratamento ou dilapidação dos bens ou
haveres das entidades referidas no artigo 1º desta Lei, e
notadamente:
[...]
XII - permitir, facilitar ou concorrer para que terceiro se
enriqueça ilicitamente;”
DA CONDUTA DE OBERDAM MENDONÇA CARVALHO
Conforme ficou assente no Inquérito Civil Público acostado aos autos,
OBERDAM MENDONÇA CARVALHO era presidente da Câmara Municipal de
Morrinhos, tendo exercido a presidência do Poder Legislativo Local durante o biênio
de 2013/2014.
Dessa forma, no exercício de suas atribuições, juntamente com os demais
membros da Mesa Diretora, nomeou as pessoas ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA
LAMOUNIER DO CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA
QUEIROZ e SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS para exercerem
cargo de provimento em comissão no Legislativo Municipal consoante decretos de
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
32
nomeação acostados às fls. 216, 218, 220, 222, 224.
Ocorre que, conforme restou devidamente evidenciado as pessoas
indigitadas estavam sob a sua subordinação hierárquica e vinculadas aos seus
poderes de mando, sendo que nenhuma delas nunca prestou nenhum serviço no
Poder Legislativo de Morrinhos, verificando-se uma verdadeira fraude, desvio de
dinheiro público para atender interesses políticos e pessoais, por meio de
dissimulação em ocupação de cargo de provimento em comissão.
Nesse sentido, a Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa Municipal, RITA
DE CÁSSIA BORGES MACHADO, consignou às fls. 205/206: “que alertou o
Presidente Oberdam quando assumiu para regularizar a frequência dos servidores,
que os comissionados de gabinete ficariam com os respectivos; e os que não
estivessem em gabinetes de vereadores assinariam em livros, além disso possui o
ponto digital para servidores efetivos”.
Em que pese a orientação jurídica da procuradora, ressai dos autos que o ex-
presidente OBERDAM não acatou a indicação feita, pelo contrário, permitiu que
CARLA LAMOUNIER fosse dispensada de assinar frequência, anuiu para que
THALITA LASSARA não desse expediente na Câmara Municipal.
Além das impropriedades quanto à frequência dos servidores, OBERDAM
ainda nomeou SHIRLAYNE por um mês, mais precisamente no mês de julho de
2014, para ocupar o cargo de ASSESSOR DE GABINETE II, atendendo a uma
solicitação dela para a nomeação no período próximo a seu parto para ajudar na
Câmara.
De forma dolosa, o Sr. OBERDAM nomeou SHIRLAYNE em 1º Julho de
2014, apenas 10 (dias) após ela ter dado a luz em uma maternidade. Ocorre que, o
exíguo tempo entre um procedimento cirúrgico tão complexo e a nomeação mostra
que a intenção do Sr. OBERDAM foi atender interesses diametralmente opostos ao
interesse público, posto que o fato de ter dado a luz pouco menos de 10 (dias) da
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
33
data de sua nomeação gera uma presunção, praticamente, iure et iure, de
impossibilidade física para a prestação de atividades laborais.
Sobre CARLA LAMOUNIER, o ex-presidente OBERDAM ainda tinha ciência
de que ela laborava no Supermercado Celeiro, fato que, por si só, já a deixaria
incompatibilizada para exercer o seu cargo público tendo em vista a
incompatibilidade de horários entre um e outro, consoante ofício enviado pelo
Supermercado que informa a jornada de trabalho de CARLA, totalmente destoante
com as declarações de OBERDAM.
Por fim, o ex-presidente OBERDAM ainda permitia a permanência no
quadro de funcionários da Câmara Municipal de Morrinhos do Sr. ADÃO que
conforme demonstrado acima, nunca prestou efetivamente nenhum serviço à
Câmara de Vereadores.
Assim agindo, OBERDAM MENDONÇA CARVALHO incorreu nas sanções
previstas no inciso no artigo 12, II da Lei 8429/92, ante a prática de ato de
improbidade que causou um prejuízo ao erário de R$ 45.842,09 (quarenta e cinco
mil, oitocentos e quarenta e dois reais e nove centavos), consoante memória de
cálculo acostada à fl. 213, em razão da nomeação dos servidores ADÃO, THALITA,
SHIRLAYNE e CARLA.
DA CONDUTA DE WELLINTON JOSÉ DE SOUZA (TOM)
Conforme extraído do caderno processual, WELLINTON JOSÉ DE
SOUZA (TOM) é vereador da Câmara Municipal de Morrinhos e indicou para
nomeação HIDILA, a filha de sua namorada, para ser sua assessora e ficar sob sua
supervisão direta e hierárquica.
A par da discussão se tal caso caracterizaria ou não nepotismo, ressai
dos autos que HIDILA nunca prestou efetivamente nenhum serviço à Câmara
Municipal, tratando-se de uma verdadeira fraude, em desviar dinheiro público para
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
34
atender interesse pessoal, por meio de dissimulação em ocupação de cargo de
provimento em comissão..
Ademais, em depoimento prestado em 28 de janeiro de 2015, no gabinete
da 1ª Promotoria de Justiça de Morrinhos, HIDILA afirmou que residia em Morrinhos
há quase 02 meses, e que antes morava com uma tia em HIDROLÂNDIA. Dessa
forma, verifica-se que durante o período em que era tida como funcionária da
Câmara Municipal de Morrinhos, HIDILA sequer residia em Morrinhos, o que
contradiz os depoimentos acostados aos autos.
Nesse sentido, o vereador TOM consentiu e permitiu que uma servidora
que não exercia qualquer serviço a Câmara integrasse os quadros de funcionários e
recebesse vantagem indevida, ante a ausência de contraprestação laboral.
Além do mais, não se mostra aceitável a ausência de tamanha
flexibilização de afazeres e de horários apontadas pelo Vereador ante o caráter
contraproducente de tais atos, notadamente, pelo fato de que no exercício da
Vereança o edil deve-se pautar pela consecução do interesse público, na medida
em que se deve respeito os princípios estatuídos pela Constituição da República,
em especial, o princípio da eficiência o qual se afigura inatingível com a situação
tolerada pelo digníssimo Vereador TOM.
Assim agindo, WELLINTON JOSÉ DE SOUZA (TOM) incorreu nas sanções
previstas no inciso no artigo 12, II da Lei 8429/92, ante a prática de ato de
improbidade que causou um prejuízo ao erário de R$ 20.488,29 (vinte mil,
quatrocentos e oitenta e oito reais e vinte e nove centavos), consoante memória de
cálculo acostada à fl. 213, em razão de permitir que a servidora HIDILA
RODRIGUES TELES recebesse vantagem indevida, ante a ausência de
contraprestação laboral por parte dessa.
DAS MEDIDAS CAUTELARES
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
35
DO BLOQUEIO DE BENS DOS REQUERIDOS:
Para concretização de parte da providência jurisdicional pedida, calcada no
art. 5º da Lei 8.429/921, afigura-se imperiosa a concessão de cautelar nos autos
principais desta ação, medida consistente na indisponibildiade de bens dos
requeridos, com arrimo nos artigos 37, § 4º, da Constituição Federal e art. 7º da Lei
8.429/92 c/c art. 273, § 7º, do CPC:
“Art. 37. …
(...)
§ 4º - Os atos de improbidade administrativa importarão a
suspensão dos direitos políticos, a perda da função
pública, a indisponibilidade dos bens e o ressarcimento
ao erário, na forma e gradação previstas em lei, sem
prejuízo da ação penal cabível.”
“Art. 7º Quando o ato de improbidade causar lesão ao
patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito,
caberá a autoridade administrativa responsável pelo
inquérito representar ao Ministério Público, para a
indisponibilidade do bens do indiciado.
Parágrafo único. A indisponibilidade a que se refere o
caput deste artigo recairá sobre bens que assegurem o
integral ressarcimento do dano, ou sobre o acréscimo
patrimonial resultante do enriquecimento ilícito.”
“Art. 273. (...)§ 7º Se o autor, a título de antecipação de
tutela, requerer providência de natureza cautelar, poderá
o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos,
deferir a medida cautelar em caráter incidental do
processo ajuizado.”
É preciso ter presente que a decretação de indisponibilidade de bens inaudita
altera pars em Ações de Improbidade Administrativa não viola o art. 17, § 7º, da Lei
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
36
8.429/92, podendo ser deferida antes mesmo da notificação prévia. Eis o
entendimento, pacífico, do Superior Tribunal de Justiça:
ADMINISTRATIVO. IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA.
INDISPONIBILIDADE DE BENS. DEFERIMENTO SEM
AUDIÊNCIA DA PARTE ADVERSA. POSSIBILIDADE.
MEDIDA ACAUTELATÓRIA.
1. É pacífico nesta Corte Superior o entendimento
segundo o qual, ante sua natureza acautelatória, a
medida de indisponibilidade de bens em ação de
improbidade administrativa pode ser deferida sem
audiência da parte adversa e, portanto, antes da
notificação a que se refere o art. 17, § 7º, da Lei n.
8.429/92.Precedentes.
2. Recurso especial provido.
(REsp 862.679/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL
MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 02/09/2010,
DJe 04/10/2010)
Por outro lado, é cediço que as medidas cautelares, em regra, como tutelas
emergenciais, exigem, para a sua concessão, o cumprimento de dois requisitos: o
fumus boni iuris (plausibilidade do direito alegado) e o periculum in mora (fundado
receio de que a outra parte, antes do julgamento da lide, cause ao seu direito lesão
grave ou de difícil reparação).
No caso da medida cautelar de indisponibilidade, prevista no art. 7º da Lei
8.429/92, não se vislumbra uma típica tutela de urgência, mas sim uma tutela de
evidência, uma vez que o periculum in mora não é oriundo da intenção do agente
dilapidar seu patrimônio e, sim, da gravidade dos fatos e do montante do prejuízo
causado ao erário, o que atinge toda a coletividade. O próprio legislador dispensa a
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
37
demonstração do perigo de dano, em vista da redação imperativa da Constituição
Federal (art. 37, § 4º) e da própria Lei de Improbidade Administrativa (art. 7º).
Releva observar que para o deferimento da indisponibilidade de bens em
Ações de Improbidade Administrativa não é preciso demonstrar que os réus estejam
dilapidando seus patrimônios ou na iminência de fazê-lo, uma vez que o periculum
in mora encontra-se implícito no art. 37, § 4º, da Constituição Federal e no art. 7º da
Lei 8.429/92.
Assim, diante da tutela de evidência que marca a decretação de
indisponibilidade de bens em ações de improbidade administrativa, basta ao
Ministério Público demonstrar a verossimilhança das alegações.
Outrossim, o fumus boni iuris se encontra presente, notadamente nos fatos e
fundamentos jurídicos esgrimidos nesta petição inicial, embasados em inquérito civil
conduzido pelo Ministério Público, no qual foram realizadas as oitivas de todas as
pessoas envolvidas e, a maoria confessou não ter laborado na Câmara Municipal.
Dessa forma, verifica-se um desvio de finalidade na admissão de pessoal e que
causou um dano ao erário municipal de R$ 66.330,35 (sessenta e seis mil, trezentos
e trinta reais e trinta e cinco centavos).
Todavia, é cediço que a indisponibilidade de bens deve recair sobre o
patrimônio de quem deu azo à lesão e/ou se enriqueceu ilicitamente, de modo
suficiente não só a garantir o integral ressarcimento do prejuízo ao erário, mas
também, considerando o valor de possível multa civil como sanção autônoma. Bem
por isso, devem ser bloqueados tantos bens quantos forem bastantes para dar cabo
da execução em caso de procedência da ação.
Considerando que a conduta de OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e
WELLINTON JOSÉ DE SOUZA (TOM) se enquadra no art. 12, caput, II da Lei
8429/92, estão sujeitos, dentre as demais sanções estabelecidas por lei, ao
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
38
pagamento de multa civil de até 02 (duas) vezes o valor do dano ao patrimônio
público.
Dessa forma, quanto ao OBERDAM, a indisponibilidade de bens deve
alcançar o montante de R$ 45.842,09 (quarenta e cinco mil, oitocentos e quarenta e
dois reais e nove centavos), referente ao prejuízo causado ao erário, mais R$
91.684,16 (noventa e um mil reais, seiscentos e oitenta e quatro reais e dezesseis
centavos), referente à multa civil, o que totaliza o montante de R$ 137.526,27
(cento e trinta e sete mil, quinhentos e vinte e seis reais e vinte e sete
centavos).
Nessa mesa linha de raciocínio, quanto à indisponibilidade de bens de
WELLINTON JOSÉ DE SOUZA (TOM), deve-se alcançar o montante R$ 20.488,29
(vinte mil, quatrocentos e oitenta e oito reais e vinte e nove centavos), referente ao
prejuízo causado ao erário, mais R$ 40.976,58 (quarenta mil, novecentos e setenta
e seis reais e cinquenta e oito centavos), referente à multa civil, o que totaliza o
montante de R$ 61.464,87 (sessenta e um mil, quatrocentos e sessenta e
quatro reais e oitenta e sete centavos).
Em relação aos servidores ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA LAMOUNIER
DO CARMO, HIDILA RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA QUEIROZ e
SHIRLAYNE DE FÁTIMA TOBIAS DOS SANTOS, considerando que a conduta
deles se enquadra no art. 12, caput, I da Lei 8429/92, estão os sujeitos, dentre as
demais sanções estabelecidas por lei, ao pagamento de multa civil de até 03 (três)
vezes o valor do acréscimo patrimonial.
Sendo assim, quanto a eles a indisponibilidades de bens deve operar nos
seguintes patamares:
SERVIDOR ACRÉSCIMO
PATRIMONIAL
MULTA CIVIL VALOR A SER
BLOQUEADO
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
39
Adão Alves da Silva
R$ 21.239,66 R$ 63.718,98 R$ 84.958,64
Hidila Rodrigues
Teles
R$ 20.488,29 R$ 61.464,87 R$ 81953,16
Thalita Lassara
Queiroz
R$ 11.912,48 R$ 35.737,44 R$ 47.649,92
Shirlayne de Fátima
T. Dos Santos
R$ 1.129,66 R$ 3.388,98 R$ 4.518,64
Carla Lamounier do
Carmo
R$ 11.560,26 R$ 34680,78 R$ 46.241,04
Assim, com apoio na melhor doutrina e na jurisprudência, e presente a
verossimilhança das alegações do Ministério Público, a determinação de bloqueio
de bens se faz mister, ante o atendimento dos requisitos legais ensejadores à tal
desiderato.
Frise-se que o art. 655, I, do CPC dispõe que a penhora recairá
preferencialmente sobre o dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em
instituição financeira, sendo desnecessário buscar outros bens antes de se efetuar o
bloqueio via Bacen-Jud, conforme restou definido pela Corte Especial do Superior
Tribunal de Justiça ao julgar o REsp 1112943/MA, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI,
julgado em 15/09/2010, DJe 23/11/2010 (Informativo STJ n.º 447, de 13 a 17 de
setembro de 2010).
É necessário frisar que o bloqueio de bens aqui pleiteado não se afigura
como antecipação de aplicação de sanções aos réus, mas tão somente meio de
assegurar o resultado útil do processo, instaurado em defesa do patrimônio público
e dos princípios da Administração Pública.
DO AFASTAMENTO DOS VEREADORES
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
40
Para o regular prosseguimento dos trabalhos na Câmara Municipal e para
impedir que os atuais vereados possam influir na produção de provas no decorrer da
instrução probatória da presente demanda, afigura-se imperiosa a concessão de
liminar/cautelar nos autos principais desta ação, medida consistente no afastamento
dos requeridos OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e WELLINTON JOSÉ DE
SOUZA do exercício da Vereança na Comarca de Morrinhos, no prazo de 120 dias,
com supedâneo no poder geral de cautela, disposto nos arts. 798 e 799 do Código
de Processo Civil.
De início, ressalte-se a plena possibilidade de adoção de medidas cautelares
nos próprios autos da ação principal, eis que “uma vez definida a incidência da
técnica de tutela prevista na Lei da Ação Civil Pública também ao campo da
improbidade, tem-se como certa a possibilidade de deferimento de todas as
medidas cautelares previstas na Lei nº 8.429/92 nos autos do processo dito
principal, prescindindo-se de pedido e decisãoapartados.”(Emerson Alves e Garcia.
Improbidade administrativa. 3ª ed, p. 742.)”
Por se tratar de medida de natureza cautelar, afigura-se imprescindível a
presença dos requisitos autorizadores, quais sejam, periculum in mora e fumus boni
iuris.
In casu, estão presentes os pressupostos autorizadores. Senão vejamos.
O fumus boni iuris está demonstrado em toda a fundamentação jurídica
desenvolvida na proemial, bem como nos documentos que constam do incluso
Inquérito Civil Público e pelos próprios documentos fornecidos pela Câmara
Municipal de Morrinhos, notadamente pela contradição de informações fornecidas
pelos Vereadores como autênticas, mas que conforme restou demonstrado não
corresponde a verdade dos fatos e que pode ser sintetizado nos dizeres da
Procuradora Jurídica da Câmara Legislativa Municipal, RITA DE CÁSSIA BORGES
MACHADO, consignou às fls. 205/206: “Que acha que as folhas de frequência foram
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
41
“fabricadas”, até porque alguns “fantasmas” assinariam livro de frequência e não
folhas. Que a Declarante não chegou a questionar a respeito do encaminhamento
das folhas originais para o Ministério Público porque já sabia que os fato ali não
eram verdadeiros, inclusive nesta oportunidade verificou que tem folha de
frequência passado corretivo nos dias de sábados e domingos e tudo com a mesma
canete (sic)”.
Quanto ao periculum in mora, resta evidenciado que a continuidade dos
vereadores na Câmara Municipal está sendo prejudicial ao regular prosseguimento
das apurações quanto aos atos de improbidade administrativa, especialmente pela
posição de superioridade hierarquica que faz com que os servidores subalternos
mascarem evidências e criem provas que não correspondem com as reais
circunstâncias fáticas do caso concreto, conforme depoimento da procuradora RITA
DE CÁSSIA BORGES MACHADO que afirma “Que foi a Declarante que redigiu a
resposta na Câmara (ofício de fls. 104/2014), que os documentos apresentados com
o expediente já estavam prontos e a linha de defesa fixada pelo Presidente que o
mesmo queria que dissesse que todos os servidores estavam trabalhando(...); Que
em relação as folhas de frequências as mesmas estavam prontas e a declarante
não chegou a olhar apenas juntou os documentos com ofício, sendo que
especificadamente a de HIDILA TELES, o vereador TOM levou pessoalmente num
envelope, no dia da resposta(...)”
Ressalta-se que o afastamento provisório aqui solicitado não se afigura como
adiantamento de aplicação das sanções previstas aos requerimentos, mas, tão
somente, em medida acauteltória visando a regular tramitação do feito.
DOS PEDIDOS
Diante de tudo que foi exposto, o Ministério Público do Estado de Goiás,
requesta:
a) a autuação da presente petição inicial e dos autos de inquérito civil público
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
42
instaurado sob o nº 201400420803;
b) seja determinado o imediato afastamento cautelar, in inititio litis, dos
vereados OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e WELLINTON JOSÉ DE SOUSA,
pelo prazo de 120 dias, com suporte nos motivos fáticos e jurídicos expostos;
c) a indisponibilidade dos bens dos agentes, nos valores acima expostos,
para garantir o ressarcimento do erário e da eventual multa civil cominada a eles;
d) a notificação dos réus para apresentarem suas manifestações
preliminares, nos termo do artigo 17, § 7º, da LIA;
e) seja recebida a inicial, procedendo-se a citação dos réus para comporem o
polo passivo da relação jurídico-processual, dando-lhes oportunidade para, se
quiserem, apresentar resposta, no prazo legal, sob pena de revelia;
f) a notificação da Câmara de Vereadores de Morrinhos para tomar
conhecimento do aforamento desta ação e especialmente para os fins do disposto
no artigo 17, §º 3º da LIA;
g) a produção de todas as provas necessárias à demonstração do alegado,
dentre elas o depoimento pessoal dos réus, oitiva de testemunhas cujo rol será
oportunamente apresentado, além de juntada de novos documentos que se fizerem
necessários;
h) seja julgada procedente a presente Ação Civil Pública, impondo-se aos
requeridos OBERDAM MENDONÇA CARVALHO e WELLINTON JOSÉ DE SOUSA
(TOM) as sanções previstas no art. 12, inciso II da Lei n. 8429/92. Sendo que,
apenas em respeito ao princípio da eventualidade, deve-se, como pedido sucessivo,
caso este Douto Juízo não entenda configurados atos administrativos que importam
1ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DE MORRINHOS
43
em prejuízo ao erário – o que parece bastante improvável diante das provas desde
já carreadas com a peça vestibular – aplicar-se as sanções cominadas para quem
pratica ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da
administração pública, previsto no art. 12, inciso III, da Lei de Improbidade
Administrativa, uma vez que as condutas dos réus afrontam os deveres de atuação
com honestidade, moralidade e legalidade;
i) seja julgada procedente a presente Ação Civil Pública, impondo-se aos
requeridos ADÃO ALVES DA SILVA, CARLA LAMOUNIER DO CARMO, HIDILA
RODRIGUES TELES, THALITA LASSARA QUEIROZ e SHIRLAYNE DE FÁTIMA
TOBIAS DOS SANTOS as sanções previstas no art. 12, inciso I da Lei n. 8429/92.
Sendo que, apenas em respeito ao princípio da eventualidade, deve-se, como
pedido sucessivo, caso este Douto Juízo não entenda configurados atos
administrativos que importam enriquecimento ilícito e dano ao erário – o que parece
bastante improvável diante das provas desde já carreadas com a peça vestibular –
aplicar-se as sanções cominadas para quem pratica ato de improbidade
administrativa que atenta contra os princípios da administração pública, previsto no
art. 12, inciso III, da Lei de Improbidade Administrativa, uma vez que as condutas
dos réus afrontam os deveres de atuação com honestidade, moralidade e
legalidade;
j) a condenação dos réus ao pagamento das custas processuais;
Dá-se à causa o valor de R$ 66.330,35 (sessenta e seis mil, trezentos e trinta
reais e trinta e cinco centavos), para os fins legais.
Morrinhos, 30 de março de 2015.
RUBENS ROSA JUNIOR