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IDÉIAS FUNDADORAS A economia da inovação tecnológica (ou a economia da tecnologia), ramo da economia que muito se desenvolveu nos últimos quarenta anos, tem deixa- do em segundo plano as questões relativas à inovação tecnológica na agricultu- ra. Apesar de estudos seminais como este de Theodore Schultz, que ora apre- sentamos aos leitores da RBI, ou mesmo de publicações de autores bem conhe- cidos, como Zvi Griliches e Paul David, a compreensão da dinâmica da inova- ção tecnológica da agricultura é até hoje carente de estudos e, por isso mesmo, ainda contaminada por preconceitos intelectuais de toda sorte. Tomadora de tecnologias oriundas da indústria, a inovação na agricultura tem historicamente sido analisada desde os pontos de vista da adoção e da difu- são de tecnologias. Seu padrão de competição mais tendente ao concorrencial que ao monopólico, e a conseqüente maior sensibilidade relativa dos preços a efeitos de oferta e procura de produtos agrícolas, quase excluiu o tema agricul- tura dos estudos da economia da tecnologia. Parte disto se deve à própria diáspora da economia rural ou agrícola em relação à economia industrial. Não é o caso aqui de se aprofundar este ponto, mas o fato é que a economia agrícola por décadas (para não dizer mais de século) tem sido tratada quase como um caso à parte da teoria econômica, seja ela ortodoxa ou heterodoxa. Em conseqüência, o tema da economia da tecnologia (ou da inovação tecnológica) na agricultura, acabou ficando à margem de uma rica vertente de estudos que se estruturou nos últimos 25 anos. Apresentação Sergio Salles-Filho Professor do Departamento de Política Científica e Tecnológica/Instituto de Geociências/UNICAMP Revista Brasileira de Inovação Volume 4 Número 1 Janeiro / Junho 2005 9

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IDÉIAS FUNDADORAS

A economia da inovação tecnológica (ou a economia da tecnologia), ramoda economia que muito se desenvolveu nos últimos quarenta anos, tem deixa-do em segundo plano as questões relativas à inovação tecnológica na agricultu-ra. Apesar de estudos seminais como este de Theodore Schultz, que ora apre-sentamos aos leitores da RBI, ou mesmo de publicações de autores bem conhe-cidos, como Zvi Griliches e Paul David, a compreensão da dinâmica da inova-ção tecnológica da agricultura é até hoje carente de estudos e, por isso mesmo,ainda contaminada por preconceitos intelectuais de toda sorte.

Tomadora de tecnologias oriundas da indústria, a inovação na agriculturatem historicamente sido analisada desde os pontos de vista da adoção e da difu-são de tecnologias. Seu padrão de competição mais tendente ao concorrencialque ao monopólico, e a conseqüente maior sensibilidade relativa dos preços aefeitos de oferta e procura de produtos agrícolas, quase excluiu o tema agricul-tura dos estudos da economia da tecnologia. Parte disto se deve à própria diásporada economia rural ou agrícola em relação à economia industrial. Não é o casoaqui de se aprofundar este ponto, mas o fato é que a economia agrícola pordécadas (para não dizer mais de século) tem sido tratada quase como um caso àparte da teoria econômica, seja ela ortodoxa ou heterodoxa. Em conseqüência,o tema da economia da tecnologia (ou da inovação tecnológica) na agricultura,acabou ficando à margem de uma rica vertente de estudos que se estruturou nosúltimos 25 anos.

Apresentação

Sergio Salles-FilhoProfessor do Departamento de Política Científica e Tecnológica/Instituto de Geociências/UNICAMP

Revista Brasileira de Inovação Volume 4 Número 1 Janeiro / Junho 2005 9

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A abordagem de Schultz para o tema da inovação na agricultura é, pela suaabrangência e pela sua importância histórica, digna de registro e por isso mes-mo foi escolhida para o presente número da seção Idéias Fundadoras da Revis-ta Brasileira de Inovação.

A abrangência da abordagem de Schultz se dá pela visão macroinstitucionalda necessidade de se promover a educação e o capital humano na agriculturapara que esta pudesse romper barreiras do tradicionalismo e ingressar em ummundo econômico mais dinâmico e gerador de riquezas. A importância histó-rica de suas idéias deve-se não apenas às contribuições acadêmicas, já devida-mente reconhecidas com um Nobel de Economia em 1979, mas sobretudo aoimpacto que elas tiveram na disseminação, em escala global, de um certo pa-drão técnico de produção na agricultura, o padrão produtivista.

Despido de preconceitos de há muito arraigados sobre a economia agrícola,Schultz não via diferenças substantivas na capacidade de geração de renda entreesta e o restante da economia, desde que se promovesse um intenso e permanenteprocesso de substituição de fatores de produção na agricultura. Novas correntesde renda (usando o termo por ele empregado) poderiam tornar a agricultura umaatividade tão rentável quanto outra qualquer. Era preciso, pois, promover umconjunto de inovações no seio da produção no campo. Essas inovações deveriamser tanto tecnológicas quanto institucionais e organizacionais.

Schultz, conscientemente ou não, deu com suas idéias um dos mais fortesargumentos àquilo que mais tarde ficou conhecido como Revolução Verde.Suas proposições de que um país que dependesse de uma agricultura tradicional(estagnada tecnologicamente e, portanto, não inovadora) seria inevitavelmentepobre, deram o aval para um processo político institucional que já vinha, desde ofinal dos anos 1950, ganhando o mundo: a difusão de um conjunto de tecnologiasvoltadas para a obtenção de ganhos de produtividade na agricultura, particular-mente para as regiões muito pobres do planeta.

A ruptura do “tradicionalismo” na agricultura, especialmente nos países po-bres, dependentes de uma agricultura tradicional, passaria, necessária einescapavelmente, por um processo objetivo de inovação. Neste ponto, Schultznão se preocupou meramente com a idéia de modernização ou de introdução denovas tecnologias, era mais do que isso. E é exatamente esta visão que faz de suaobra um marco importante para o estudo da dinâmica econômica e tecnológica

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da produção agrícola. Os capítulos reproduzidos a seguir fazem parte do livroTransformando a Agricultura Tradicional, de 1964, que apresenta essas questõesde forma explícita e contundente.

Prêmio Nobel de Economia em 1979, Schultz notabilizou-se por sua idéiassobre a importância do capital humano no desenvolvimento econômico. Parti-cularmente, ele percebeu que o motor da criação de fontes de renda estava naadoção de novas tecnologias (encobertas na forma de “novos fatores de produ-ção”) e que só a total especificação das novas tecnologias, incluindo-se aí o apren-dizado relacionado ao fator humano, poderia provocar uma mudança técnica.Ou seja, a mudança técnica estaria ligada à introdução de novos fatores de produ-ção, que na sua constituição dependeriam tanto de elementos tangíveis (máqui-nas, insumos) quanto de elementos intangíveis (aprendizado e estruturasinstitucionais de suporte à mudança).

“As habilitações adquiridas por um povo (...) são, obviamente, meios deprodução produzidos e, neste sentido, formas de capital, cuja oferta pode seraumentada. (...) Uma vez que esses novos fatores são meios de produção produ-zidos, as atividades de descobri-los, desenvolvê-los e produzi-los constituem par-tes essenciais de um conceito global de produção.” Essas frases, retiradas do capí-tulo nove transcrito a seguir, revelam bem a importância que Schultz deu às com-petências baseadas em recursos adquiridos.

Ao dizer que os agricultores de países pobres alocam eficientemente seusrecursos produtivos e que o problema da baixa rentabilidade da agricultura fun-dava-se não em problemas de racionalidade alocativa, mas exatamente na incapa-cidade estrita de se criar renda a partir de fatores cujas produtividades marginaiseram visivelmente decrescentes, Schultz afastou-se de abordagens estáticas eirrealistas e aproximou-se de uma interpretação dinâmica da economia agrícola(e, poderíamos arriscar, da economia em geral).

A recente recuperação de autores que olhavam para esta mesma questão nocampo da microeconomia, como Edith Penrose e Alfred Chandler, com a buscade variáveis e indicadores relacionados ao investimento na formação de compe-tências no âmbito das firmas (e também no âmbito de uma indústria ou de umpaís), revela toda a importância da abordagem de Schultz. Os autores mais recen-tes, que se preocupam em desenvolver uma teoria da firma baseada nas compe-tências, teriam muito a ganhar com a leitura da obra de Schultz.

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Ainda nos capítulos selecionados para esta seção da RBI, Schultz discute asfontes de produtividade da agricultura, deixando de lado, logo no início, apreocupação com os fatores naturais de produção. Para ele, o importante seri-am justamente os fatores fabricados, porque neles é sempre possível investirpara que se tornem mais atraentes ao capital investido na produção agrícola. Avisão da conformação de um complexo produtivo no entorno da agriculturatambém está presente. Assim como na indústria, a agricultura, para ser umaatividade rentável no seio de uma economia dinâmica, necessita de uma extensae complexa estrutura produtiva de fornecedores de insumos, equipamentos econhecimento. Só assim poder-se-ia, na visão deste autor, transformar a agri-cultura tradicional em uma agricultura dinâmica e geradora de riquezas.

Uma boa leitura!

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