mito e poesia
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Mito e PoesiaAna Maria Lisboa de Mello
Jamille Rabelo
Mariana Ramos
Rosiane Ribeiro
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA - UFUINSTITUTO DE LETRAS E LINGÍSTICA - ILEEL
CURSO DE LETRAS
A autora• Graduada em Letras (Português/Francês) pela
UFRGS.
• Especialista em Literatura Infanto-juvenil.
• Mestre em Letras pela PUCRS.
• Doutora em Letras pela PUCRS, na área de
Teoria da Literatura.
• Pós-doutora pela Université Stendhal,
Grenoble III, na França.
• Professora de Literatura Brasileira no Instituto
de Letras da UFRGS.
• Pesquisadora do CNPQ.
• Autora de diversos trabalhos críticos sobre
poesia brasileira.
As obras• Dossiê sobre o romance de introspecção no
Brasil.
• Machado plural.
• A poesia metafísica no Brasil: percursos e
modulações.
• Pensamento francês e cultura brasileira.
• Oriente e Ocidente na poesia de Cecília
Meireles.
• Poesia e imaginário.
• Cecília Meireles & Murilo Mendes: 1901/2001.
• Literatura infanto-juvenil: poesia e prosa.
O canto dos antigos...
“ O canto nasce da ação rítmica e a ela deve as características
essenciais: a ação é anterior ao ritmo das palavras, ás quais
acrescenta significado novo e esclarecedor.” (Bowra, p.44)
O canto é uma forma de dominar o invisível e estabelece uma
relação com deuses.
O canto dos antigos...
• O canto está associado ao mito;
• Os mito inspiram diversos cantos;
• A forma de pensar o canto é manifestada através da
linguagem;
• O canto é uma representação simbólica.
O que são os mitos?
• Mito deriva da palavra grega mythos (μ θος) que pode ser ῦ
traduzido como discurso ou narrativa;
• Presentes em todas as culturas, os mitos situam-se entre a
Razão e a Fé, mas são considerados sagrados;
• Os principais mitos referem-se à origem dos deuses, do mundo e
ao fim das coisas;
O que são os mitos?
Os mitos foram criados pelos gregos
como forma de expressão daquilo
que sentiam e vivenciavam e,
sobretudo, para explicar fenômenos
e sentimentos que não
compreendiam.
O que são os mitos?
O mito descreve o rito.
• Ele é uma expressão simbólica que trata de conhecimentos
essenciais ao ser humano; a essência da vida e a formação
cultural.
As imagens primordiais: os arquétipos
•Arquétipos, segundo Frye, são unidades de sentido que interligam
produções poéticas a literatura como um todo.
• Os fenômenos da natureza presentes em poesias são exemplos
de símbolos arquétipos.
O que é poesia?
• Linguagem simbólica – metáfora – palavra emitindo símbolos.
• Símbolo: expressa o que está fora do alcance das palavras
comuns.
• Imagens poéticas primordiais = Arquétipos - Ex.: natureza.
“O poeta é aquele que fala por todos; através dele exprime-se a
infância da humanidade, presente em cada um de nós [...]” (p.55)
O ritmo...•
a ordem que aproxima e distancia as palavras.
•
istribui as palavras no verso.
•
alternância de sílabas no tempo depende do ritmo.
•
nião indissolúvel entre ritmo e a semântica.
Tendo por componente essencial o ritmo, na linguagem poética pulsa a
vida, ou melhor, as palavras, animadas pelo ritmo, ganham vida.” (p.52)
Mito e poesia
• Linguagem: potencial emotivo;
• Ritmo: recurso mnemônico e retorno ao tempo original;
• Sacralidade;
• Dimensão simbólica;
• Universalidade de ideias: os arquétipos;
• Expressão da condição humana.
A linguagem e o seu potencial emotivo
“Mito e linguagem brotam do mesmo impulso de formação
simbólica, a partir de uma experiência emotiva. Da mesma
fonte indivisível deriva a arte, especialmente a poesia, que, ‘em
determinados motivos míticos-mágicos’, mantém conexão com
esse estágio anterior, solo do mito.” (p.p. 43-44)
O ritmo como recurso mnemônico
“A regularidade métrica e, portanto, rítmica, bem como os outros recursos
sonoros, tendo por princípio a repetição, facilitam a preservação das tradições
culturais na memória dos povos [...].“ (p. 50)
O retorno ao ponto original
“A repetição rítmica tem força de recriar quando repete um instante original:
‘para o poeta o que passou voltará a ser, voltará a se encarnar’. [...] o ritmo
representa a possibilidade de retorno ao tempo original, processo de
atualização do passado, próprio do tempo mítico.” (p. 53)
A dimensão simbólica
“ Cumprem, assim, a função essencial da linguagem, que é a
simbolização, processo pelo qual um elemento serve para
representar outro, de difícil expressão. Todavia, representar
não significa substituir, inadequada ou precariamente, mas
tornar presente uma significação ou significar. ” (p. 46)
A sacralidade
“ O poema lírico, ao privilegiar as imagens simbólicas, bem como
as metafóricas, provoca a ruptura com a linguagem cotidiana
e, desse modo, instaura o sagrado. Nesse sentido, poesia é
mitologia, em suas manifestações primitivas, limita-se a dizer o
sagrado e talvez nunca cesse de sacralizar [...]. ” (p. 48)
Universalidade de ideias: os arquétipos
“A poesia tem profunda afinidade com o mito. Os poetas, não só
os modernos, fazem renascer ou regenerar, através de sua
imaginação, símbolos arquetípicos próprios da produção
mítica.”
(MELLO, 2002, p. 43)
Expressão da condição humana
“Como o mito, poesia é revelação. [...] Se a palavra mítica revela
ao homem o sentido de seu estar-no-mundo, os mistérios que
envolvem o existir, tendo na divindade o sustentáculo do
enunciado, a palavra poética provém do interior do homem e
nele tem ressonância, funcionando como recurso de auto-
revelação.” (p. 53)
Concluindo...
“Mito e poesia são, assim, produções da cultura humana que têm em
comum certo uso da linguagem, que difere do profano ou prosaico.
Traços de origem arcaica e mítica marcam a produção poética na sua
evolução até a modernidade, e o deciframento do poema lírico exige, em
primeiro lugar, a compreensão dos elementos e categorias que nele
predominam. Imagem simbólica e ritmo são os elementos-chave que
dirigem a significação do poema e procedem à revelação própria do
poetizar lírico.”
(MELLO, 2002, p. 57)
NarcisoFolhas incandescentes fizeram da fonte
vale de fulgores. Bebia Narciso sobre a onda
quando uma face viu de tal beleza
que a luz mais viva se tornou.
E Amor – cujas setas jamais puderam alcançar
seu coração esquivo – nele reinou e jamais do jovem
se apartava, que a seu chamado às águas acorria.
Insiosa veio a Morte para o levar consigo,
deixando numa flor a forma de Narciso.
(Hídrias, p.39)
Hyacinthos
Foi Zéfiro ou Bóreas, o pérfido,
que o disco desviou de seu percurso
quando no arremesso o belo Apolo te fitava?
Tão radiosa tua beleza, que a própria Beleza
a desejou, como se em si não a tivesse.
Foi Zéfiro ou Bóreas a desferir o golpe mortal
na clara manhã em que o ciúme o cegava?
Em lágrimas Apolo se lamenta. Empalideces,
e a nova flor, inicial rubra de teu nome,
abre as pétalas.
(Hídrias, p.41)
Agora, as coisas simples...
Agora, as coisas simples
antes cegas em nossos olhos.
E nada tocamos
mãos sobre as cordas mudas.
Se o som desperta é dele
o ouvido em flor. Mas corre o sangue
porque tudo é vivo sob as folhas mortas.
Sozinho se arma o acorde do piano
há surpresas na colheita deste ano, novos grãos na seara.
Sobre o braço em ângulo a fronte repousa
e o olhar reflete
uma flor.
(Poesia Reunida, p.352)
AfroditeDisse a deusa a sorrir:
esta manhã o mar deu-me adereços
e vestida de pérolas
fui a um reino distante.
Cânticos despertam vides
e frutos nasceram, que o sol
cultiva nos pomares.
Coros adolescentes perseguiam Eros
-o coroado de pâmpanos –
pois de meus lábios haviam provado
o vinho farto e suave.
Liames atando e desatando ,
ele a beleza ocultava nas angras mais profundas,
pois quando emergia – flâmeo! –
o murmúrio do mar as praias inundava
e a embriaguez vizinha da morte
Ameaçava os amantes....
(Poesia Reunida, p.244)
Referências Bibliográficas
• MELLO, Ana Maria Lisboa de. Poesia e imaginário. Porto Alegre: EDIPUCRS,
2002.
• SILVA, Dora Ferreira. Hídrias. São Paulo: Odysseus Editora, 2004.
• _________________. Poesia Reunida. Rio de Janeiro: Topbooks, 1999.
• Arquivo da web. Disponível em:
http://lattes.ufrgs.br/servlet/jpkFltGeral.cFltVisualizador?&pTipoIdentif=2&pTipoRelat=1&pCpf=11226935087&pCodOrigemCur=1
. Acesso em 23 de outubro de 2011, às 15:00.