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Mitos e verdades da
Previdência
Darcy Francisco Carvalho dos Santos
Economista – Corecon 3.755-9
Maio/2017
Considerações iniciais
• Os fatos apontados não tem caráter pessoal, porque são as leis e não os beneficiários que estabelecem as regras.
• A previdência é um grande problema para as contas públicas, mas, ao mesmo tempo, de difícil solução, pelas implicações sociais que envolvem. Ela apresenta um “trade-off” entre o econômico e o social, entre o presente e o futuro.
• Mas é um problema que nos cabe enfrentá-lo, sem opiniões preconcebidas, pensando no futuro de nosso País.
Déficit previdenciário
brasileiro, 2016
DÉFICITS R$ BILHÕES %
REGIME GERAL 149,7 49%
URBANO 103,4 34%
RURAL 46,3 15%
SERVIDORES PÚBLICOS 155,6 51%
RPPS FEDERAL 77,1 25%
RPPS ESTADOS 89,6 29%
MUNICÍPIOS (sup.) * -11,1 -4%
TOTAL 305,3 100%
Fontes:
Secretaria da Previdência /Ministério da Fazenda (RGPS).
Anuário Estatístico da Previdência - Reforma da Previdência (RPPS).
(*) A média distorce o problema, muito grave em alguns municípios.
Valor médio dos benefícios
previdenciários
REGIMES DESPESA EM 2015 QUANTIDADE UNITÁRIO RELATIVO
PREVIDENCIÁRIOS R$ MILHÕES DE SEGURADOS R$
GERAL (INSS) 85.818 32.701.562 2.624,28 3,7%
RPPS (UNIÃO) * 72.515 1.031.375 70.309,05 100,0%
Fonte: STN - Resultado Primário do Governo Central (INSS, dezembro/2015 e
Resultado Resumido da Execução Orçamentária (RPPS) - 6° bimestre 2015.
Boletim Estatístico da Previdência Social e Prof. Ricardo Bergamini (quantidades).
A partir de janeiro/2004 média salarial. Emendas 20/1998 e 41/2003.
(*) A Lei n° 12.618, de 30/04/2012 instituiu o Regime de Previdência
Complementar para ganhos acima do teto do INSS (R$ 5.189,82).
Despesas com previdência do INSS e do Governo Central em % do PIB, 1991-2015
Fonte: Dados brutos: STN - Resultado Primário do Governo Central e Tafner, Paulo -
Previdência Social no Brasil: fatos e propostas.
3,4
5,3 5,9
6,9 6,6
6,9 7,4
0,9
2,1 2,1 1,8 1,9
1,6 1,7
-
1,0
2,0
3,0
4,0
5,0
6,0
7,0
8,0
INSS Serv.federais
Resultado do Regime Geral: previdência
urbana e rural – R$ bilhões constantes de
2016 (IPCA)
Projeção em 2016 (*)
INSS
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/documents/10180/352657/RROout2016.pdf/f960b3e7-313c-41ff-848b-a4e3f34be49d
(*) Tendência até outubro.
http://www.tesouro.fazenda.gov.br/resultado-do-tesouro-nacional
-0,3 -6
-19 -24 -26 -25 -22
-2
3 13
29 33 31 30
6
-46 -34 -36 -38 -41 -45
-52 -57 -58 -70
-77 -79 -88
-94 -97 -99 -103 -120,0
-100,0
-80,0
-60,0
-40,0
-20,0
-
20,0
40,0
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
URBANA RURAL
Crescimento do déficit do INSS entre
2015 e 2016 – milhões correntes
Descrição 2015 2016 Variação
RURAL
Receita 7.081 7.920 11,8%
Despesa 98.041 111.310 13,5%
Resultado -90.960 -103.390 13,7%
URBANO
Receita 343.191 350.217 2,0%
Despesa 338.049 396.561 17,3%
Resultado 5.141 -46.344 -1001,4%
TOTAL
Receita 350.272 358.137 2,2%
Despesa 436.090 507.871 16,5%
Resultado -85.818 -149.734 74,5%
Fonte: Secretaria da Previdência/MF. Resultado do RGPS.
A questão da contribuições sociais
• O art.195 da CF criou as contribuições para financiar a seguridade social.
• Os art. 40 e 201 determinam o equilíbrio financeiro e atuarial da previdência.
• Não ficou estabelecido a parte de cada um dos integrantes da seguridade social.
• A saúde tem muita carência de recursos.
• Vinculação excessiva da receita.
Resultado da seguridade social
Em R$ bilhões correntes.
Fonte: Resultado da Seguridade Social - SOF. http://migre.me/wzXrN
(27) (22) (24)(39) (34) (41)
(78) (66) (58)(76)
(90)
(130)
(167)
(259) (300)
(250)
(200)
(150)
(100)
(50)
-
2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016
Déficit
Resultado da seguridade social
(previdência, saúde e assistência
social) – R$ bilhões correntes
DESCRIÇÃO 2014 2015 2016
RECEITAS 607,9 627,2 613,2
DESPESAS 737,9 793,7 871,8
RESULTADO (130,1) (166,5) (258,7)
(-) DRU 59,9 60,6 91,7
RESULTADO SEM DRU -70,2 -105,9 -166,9
RES. SEM DRU/RECEITAS -11,5% -16,9% -27,2%
Fonte: Secretaria do Orçamento Federal - SOF.
Resultado da Seguridade Social apura
pela SOF e o constante da Revista do
Cofecon
ITENS SOF (OFICIAL) COFECON DIFERENÇA
1 2 2-1
RECEITAS 627,2 704 76,8
DESPESAS 793,7 683,9 -109,8
RESULTADOS -166,5 20,1 186,6
Fotne: Secretria do Orçamento Federal (SOF) e Revista Economistas,
março/2017, n° 23, p.26-29.
Alquimia do superávit (2015)
DESCRIÇÃO RS BILHÕES
DESVINCULAÇÕES (DRU) 61,0
DESONERAÇÕES DE EXPORTAÇÕES 6,5
ISENÇÕES PREVIDENCIÁRIAS 12,5
SONEGAÇÃO (ASSAL.S/CARTEIRA) 46,0
SUBSÍDIOS MICRO E PEQ.EMPRESAS 25,0
DESON.FOLHAS PAGTO. EMPRESAS 22,0
TOTAL 173,0
Fonte: Revisa Economistas - Cofecon/março/2017.
Resultado do Governo Central com
e sem Seguridade Social
DECRIÇÃO R$ BILHÕES
1. RESULTADO DA SEGURIDADE SOCIAL (258,7)
1. RESULTADO SEM A SEGURIDADE 104,4
3. RESULTADO PRIMÁRIO GOV.CENTRAL (1+2) (154,3)
Fonte: SOF e STN.
Taxas médias de crescimento da receita e da
despesa da seguridade social e do PIB, período
2003-2016
Fonte: Resultado da Seguridade Social - SOF. http://migre.me/wzXrN
Cálculos do autor.
Receita/PIB = 1,5. Despesa/PIB = 2,1 vezes.
4,0%
2,7%
5,7%
0,0%
1,0%
2,0%
3,0%
4,0%
5,0%
6,0%
Receita PIB Despesa
http://www.orcamentofederal.gov.br/biblioteca/publicacoes_tecnicas/publicacoes/Vinculacoes_Consolidado.pdf
Despesa previdenciária em % da receita
primária da seguridade social
2011 2012 2013 2014 2015 2016
Serv.federais 16,7% 15,8% 15,5% 15,8% 16,6% 14,8%
Benefícios INSS 59,7% 61,0% 62,2% 66,1% 70,2% 83,2%
0,0%
20,0%
40,0%
60,0%
80,0%
100,0%
120,0%
Equilíbrio orçamentário da
previdência (EOP)
• No REGIME DE REPARTIÇÃO:
• Salário de reposição = Contribuintes/beneficiários x
percentual da folha salarial destinado à previdência.
• Exemplos:
• INSS = 2,2 x 29,5% = 64,90% (*)
• RPPS federal = 1,46 x 42% = 45,26%
• RPPS do RS = 0,81 x 39,75% = 32,5%
• (*) No caso do salário mínimo é pago 100%.
– Fonte: RGPS: Revista Conjuntura Econômica , abril/2007, p.22.
– Anuário Estatístico da Previdência, apud Econ. Ricardo Bergamini.
– RS, 2015. Mensagem governador, 2017, p.60.
Equilíbrio no regime de repartição:
Estado do RS
cN = aBa = cN/B , a = 0,3975.45/55 = a = 32,5%Onde:
• c = Alíquota de contribuição previdenciária
• N = Número de contribuintes do sistema
• a = Taxa de reposição ou substituiçãoB = Número de beneficiários do sistema.
Devedores da previdência
Social (síntese)
Descrição R$ bilhões
Divida ativa 433
Paga parceladamente 52
Remota recuperação (empresa
inativas ou sem patrimônio) 251
Restam 130
Déficit estimado 2017 189
Fonte: Marcos Mendes/ Ministério da Fazenda.
Salário de reposição em alguns países
(Fração do salário quando se passa à aposentadoria)
PAÍS VALOR
JAPÃO 40%
CHILE 38%
GRÉCIA 73%
PAÍSES OCDE (MÉDIA) 63%
BRASIL (ATUAL) 85%
ESTADOS UNIDOS 45%
Fonte: Revista Conjuntura Econômica março/2017, p.34.
Contribuintes/beneficiários
(Valores projetados pelo RGPS)
Fonte: Revista Conjuntura Econômica, abril/2017, p.23.
ATUAL: Estimado em 2,2. Taxa em 2060: 64,9/0,9 72,10%
para a mesma resposição.
1,95
1,73
1,55
1,40
1,26
1,11 1,02
0,96 0,90
-
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
2020 2025 2030 2035 2040 2045 2050 2055 2060
Dependência de idosos invertida e população com 65+ anos/total
Fonte: IBGE - Projeção da População por sexo e idade, 2000-2060
(*) Razão de dependência de idosos invertida (pessoas em condições de trabalhar/pessoas em
idade de aposentadoria).
8,7 7,4 5,1 3,8 2,8
7,9 9,4
13,4
17,6
22,6
-
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
2015 2020 2030 2040 2050
(15-64)/65+ (*) 65+/TOTAL - %
Idade de aposentadoria em alguns países
Países Homens Mulheres
Estados Unidos (*) 67 67
Dinamarca 67 67
Espanha 65 65
Islândia 67 67
Noruega 67 67
Portugal 65 65
México 65 65
Argentina 65 60
Chile 65 60
Fonte: Giambiagi, Fabio. Reforma da Previdência, p.189.
(*) Em 2007.
65 anos de idade e 25 de contribuição,
que exagero!
• Em 25 anos a 31% são formados 7,75
anos de contribuição. Em repartição
simples não há juros.
• Anos de contribuição formados: 31% x
25 anos = 7,75 anos.
• Expectativa de sobrevida média: 18,3
anos.
• Cobertura: 7,75/18,3 = 42%.
Expectativa de sobrevida aos 65 anos
Fonte: IBGE - Tábua Mortalidade completa para o Brasil - 2014.
10,6 10,8 11,4 12,1 13,1 15,4 15,8
17,6 18,3
-
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
1940 1950 1960 1970 1980 1991 2000 2010 2014
Homem Mulher Total
Opinião de Thomas Piketty, autor de O capital do século XXI.
• Num mundo onde as pessoas vivem até aos oitenta e noventa anos, é difícil conservar os mesmos parâmetros escolhidos numa época em que se vivia até os sessenta ou setenta anos. Além do mais, o aumento da idade de início da aposentadoria não é só uma maneira de aumentar os recursos disponíveis para os assalariados e aposentados ( o que és sempre bom em vista do fraco crescimento). Corresponde também uma necessidade de realização pessoal no trabalho.
Gastos com previdência em % da RCL,
por estado acima da mediana, 2016
Fonte: Levantamento dos RREOs do 6º binestre de 2016 dos estados.
32,1 32,0 30,2
22,3
19,6 18,9 17,9 17,9 17,3 17,2 17,0 16,8 16,4
-
5,0
10,0
15,0
20,0
25,0
30,0
35,0
MG RS RJ SC MS PR SE BA SP RN PB PE DF
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Taxas médias de crescimento da RCL e
da despesa com previdência, 2002-2016
Fonte: Execução orçamentária Estados (STN) e RREOs do 6º binestre de 2016 dos estados.
4,7%3,3%
4,4%
16,9%
4,3%
7,7%
0,0%
2,0%
4,0%
6,0%
8,0%
10,0%
12,0%
14,0%
16,0%
18,0%
RR
RO AP
TO DF
MS
MT
AC
BA PR SE PI
PA SC MA AL
MG PB CE
RN RS
PE
GO RJ
ES
SP
Mé
dia
Previdência RCL
Aposentadorias especiais no RS
IDADE
ÓRGÃOS SERVIDORES % MÍNIMA
SEGURANÇA 37.750 22,6% SEM
BRIGADA MILITAR (*) 26.666 16,0%
DEMAIS 11.084 6,6%
EDUCAÇÃO 84.364 50,6% 50
SOMA 122.114 73,2%
MULHERES 13,4% 55
SUBTOTAL 87,0%
ADM.DIRETA 166.767 100,0%
Fonte: Boletim de pessoal da Fazenda de 31/12/2012.
(*) Coronéis: 21 na ativa e 497 na reserva (96%). (ZH, 17/7/2015, p.10)
Alíquotas de equilíbrio no regime de capitalização, com benefício definido e razão 1 por 1 (caso do RS)
Fonte: Cálculo próprio.
Funcionário Funcionária Professor Professora
Necessária 26,7 41,6 40,2 59,1
Total 28 28 28 28
0
10
20
30
40
50
60
70
Conclusão
• Independente do que conter ou for alterado na proposta da reforma, observar o seguinte:– Aumentar as idades mínimas e o tempo de
contribuição. O aumento das idades mínimas age pelos dois lados da equação de equilíbrio, aumentando os ativos e reduzindo os inativos.
– Incluir os militares e, especialmente, os policiais civis e militares dos estados.
– No caso dos estados, talvez alguma medida mais radical, como uma contribuição extra. A transição terá um tempo muito excessivo para o atuais servidores.
Uma frase final
O comprometimento alto e crescente da receita com previdência social é que, de fato, está conduzindo ao estado mínimo, porque, cada vez mais, sobram menos recursos para o atendimento das demais funções de governo, inclusive para remunerar melhor os servidores em atividade. É o estado inchado e não o enxuto que se transformará em estado mínimo.
A Previdência Social no Brasil: 1923-2009 Uma visão econômica, Frase em epígrafe. Frase do autor.