mitos hebreus

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MITOS HEBREUS Tinham já decorrido quase quinhentos anos desde que se produziu o assentamento da raça semita na extensa zona que deu em denominar-se Palestina, quando um dos seus chefes (de nome Saul) foi proclamado rei. As doze tribos hebraicas decidem unificar-se num único estado e se constituem em reino para se tornarem fortes e poderosas e defrontar todos os seus inimigos filisteus, "povos do mar", e amonitas, que ocupavam a franja do oriente da Jordânia; nada mais apropriado, para conseguir os seus propósitos, que instituíssem em estado monárquico em que Saul tinha decretado (para conseguir méritos aos olhos da única deidade, isto é, do poderoso Yahveh) que magos e adivinhos deviam ser expulsos de Israel; "Saul tinha posto fora do país os necromantes e os adivinhos". No entanto, assim que os filisteus conseguem fazê-lo retroceder, pensa que Yahveh já não está da parte dele nem dos seus exércitos, e decide consultar a pitonisa de Endor para que esta o ponha em contato com o profeta Samuel, personagem -este último- que, por mandato de Yahveh, instituiu Saul como rei de Israel. O ancestral mítico continua manifestando-se na população israelita e no seu rei Saul. Relatos de livros sagrados hebreus narram de que modo certos personagens importantes, entre os antepassados de Saul, tais como Jacob, já se tinham servido de métodos mágicos para que o seu rebanho crescesse mais do que o do seu tio e sogro Labão. Aquele tinha-se visto obrigado a servir ao tio durante quatorze anos, para conseguir que lhe fosse entregue por esposa a sua filha Raquel. Ao princípio o acordo era de sete anos de serviço mas Labão enganou Jacob e entregou-lhe a sua filha Lia em vez de Raquel. Para a conseguir que estar mais outros sete anos trabalhando para Labão. PODER DO MÁGICO O método utilizado por Jacob para que os cordeiros nascessem com pintas foi (segundo os estudiosos da mitologia e do esoterismo) o adscrito à magia conhecida com o nome de "homeopática", que se baseia na chamada lei de semelhanças: "o semelhante produz o semelhante". Segundo este princípio imitativo, o mago podia produzir qualquer efeito, com a simples condição de imitá-lo: "os efeitos assemelham-se às suas causas". Toda a natureza,e os objetos que esta contém,são suscetíveis de manipulação por meio da magia "homeopática"ou "imitativa". E também no momento de curar e prevenir doenças, se recorreu ao remédio da magia. Esta forma de encantamento foi levada a cabo ao longo da história pela maioria dos povos de cultura e civilização ancestrais. O relato do Antigo Testamento é muito esclarecedor a esse respeito: "Então Jacob procurou umas varas verdes de álamo, de amêndoa e plátano e lavrou nelas umas

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MITOS HEBREUS

Tinham já decorrido quase quinhentos anos desde que se produziu oassentamento da raça semita na extensa zona que deu emdenominar-se Palestina, quando um dos seus chefes (de nome Saul)foi proclamado rei. As doze tribos hebraicas decidem unificar-senum único estado e se constituem em reino para se tornarem fortese poderosas e defrontar todos os seus inimigos filisteus, "povos domar", e amonitas, que ocupavam a franja do oriente da Jordânia;nada mais apropriado, para conseguir os seus propósitos, queinstituíssem em estado monárquico em que Saul tinha decretado(para conseguir méritos aos olhos da única deidade, isto é, dopoderoso Yahveh) que magos e adivinhos deviam ser expulsos deIsrael; "Saul tinha posto fora do país os necromantes e osadivinhos".

No entanto, assim que os filisteus conseguem fazê-lo retroceder, pensa queYahveh já não está da parte dele nem dos seus exércitos, e decide consultara pitonisa de Endor para que esta o ponha em contato com o profetaSamuel, personagem -este último- que, por mandato de Yahveh, instituiuSaul como rei de Israel. O ancestral mítico continua manifestando-se napopulação israelita e no seu rei Saul. Relatos de livros sagrados hebreusnarram de que modo certos personagens importantes, entre osantepassados de Saul, tais como Jacob, já se tinham servido de métodosmágicos para que o seu rebanho crescesse mais do que o do seu tio e sogroLabão. Aquele tinha-se visto obrigado a servir ao tio durante quatorze anos,para conseguir que lhe fosse entregue por esposa a sua filha Raquel. Aoprincípio o acordo era de sete anos de serviço mas Labão enganou Jacob eentregou-lhe a sua filha Lia em vez de Raquel. Para a conseguir que estarmais outros sete anos trabalhando para Labão.

PODER DO MÁGICO

O método utilizado por Jacob para que os cordeiros nascessem com pintasfoi (segundo os estudiosos da mitologia e do esoterismo) o adscrito à magiaconhecida com o nome de "homeopática", que se baseia na chamada lei desemelhanças: "o semelhante produz o semelhante".

Segundo este princípio imitativo, o mago podia produzir qualquer efeito,com a simples condição de imitá-lo: "os efeitos assemelham-se às suascausas".

Toda a natureza,e os objetos que esta contém,são suscetíveis demanipulação por meio da magia "homeopática"ou "imitativa". E também nomomento de curar e prevenir doenças, se recorreu ao remédio da magia.

Esta forma de encantamento foi levada a cabo ao longo da história pelamaioria dos povos de cultura e civilização ancestrais. O relato do AntigoTestamento é muito esclarecedor a esse respeito: "Então Jacob procurouumas varas verdes de álamo, de amêndoa e plátano e lavrou nelas umas

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moscas brancas, deixando ao descoberto o branco das varas, e fincou asvaras assim lavradas nas pias ou bebedouros aonde vinham as reses abeber, justamente diante das reses, com o qual estas se aqueciam aoaproximarem-se para beber. Ou seja que se aqueciam à vista das varas, eassim pariam crias listradas, pintas ou manchadas."

A verdade é que, com semelhante método, em breve reuniu Jacob umrebanho muito superior ao do seu tio e sogro: "Jacob medrou muitíssimo, echegou a ter rebanhos numerosos, e servas e servos e camelos e asnos."

ESPÍRITOS E PEQUENOS GÊNIOS

Até confiar completamente de Yahveh como única e poderosa deidade, oshebreus utilizaram, no momento de conhecer a vontade, espíritos epequenos gênios que animavam o mundo não só a magia, mas tambémoutras formas tradicionais muito estendidas entre a população. No entanto,o clero judeu lutava por todos os meios contra este tipo de manifestações e,sob nenhum conceito, aceitavam a magia, que consideravam própria depovos pagãos.

Embora, em ocasiões, a vontade dos espíritos, assim como as suasexigências aos mortais, fossem conhecidas por métodos adivinhadoresmuito populares. Entre estes sobressaem os célebres dados que seguardavam numa espécie de cofre chamado "efod". A interpretação dosignificado dos dados, uma vez lançados, estava considerada como umaarte reservada a magos e adivinhos.

Também houve ocasiões em que se venerou um bezerro de ouro, pois otouro se considerava como a personificação de certas deidades queformavam tríades sagradas entre si. Se tratava, realmente, de uma espéciede totem que protegia a tribo que o invocasse. Embora ao princípioparecesse que o citado guarda certo paralelismo com o mítico boi Ápis daslendas egípcias, realmente têm muito pouco em comum, dado que estesúltimos associavam o animal -que veneravam vivo- com uma das duasluminárias, concretamente a Lua.

Outro aspecto importante a apontar, entre a população hebraica, era o ritodo "nazireu". Tudo surgia, por mor da exigência de pureza, pelanecessidade de evitar qualquer contato com aquilo que pudesse considerar-se impuro. Nesse sentido, grande número de pessoas decidiam retirar-se eviver em solidão. Segundo relata o "Livro dos Números 6", algumas pessoasfaziam votos de "nazireado" ou nazireu ("nazireu" significa separado,consagrado), e se apartavam da sociedade e esqueciam a própria família eos seus íntimos; não raspavam a cabeça e não bebiam nenhuma bebidaalcoólica.

"POVO ESCOLHIDO"

Embora Saul sempre saísse vitorioso de todas as suas batalhas, no entanto,num amargo dia, foi derrotado na grande planície de Jezrael pelos certeirosarqueiros filisteus, que cravaram as suas flechas mortíferas no corpo

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exausto de Saul e, como sangrento final, penduraram-no nas paredes deum dos templos que tinham erigido em honra da deusa Vênus. Uma grandeironia, de resto, dado que no templo da deusa do amor se exibe o corpo deum homem, produto do ódio entre uns e outros. "O mito é diferente daBíblia"

Então é ungido David como rei, que conquista a mítica cidade de Jerusaléme a converte em capital política e religiosa dos hebreus, ao mesmo tempoque deposita nela a Arca da Aliança, que constituirá o dado (carregado deconotações simbólicas) que mostra acreditadamente o pacto levado a caboentre os hebreus, desde essa altura transformados em "povo escolhido", e opoderoso deus Yahveh.

ARCA DA ALIANÇA

David, antes de mais, foi reconhecido como o rei da unificação poispreconizou a união entre Judéia e Israel. Alistou, além disso, mercenários econseguiu, assim, conquistar muitas das cidades-estado dos povoscananeus limítrofes, com o qual viu consideravelmente ampliados os seusterritórios originais.

Para transportar o Arca da Aliança que continha as "Tabelas de pedra", coma lei de Yahveh gravada nelas para Jerusalém contrataram-se os serviçosda carreta de Uzzá, que conduziu os bois durante o trajeto até que, por tertentado segurar a Arca -que ia dando saltos por causa do mau estado docaminho- para não cair, foi ferido como por magia por um raio de Yahveh. Eé que a Arca só podia ser tocada por famílias privilegiadas e por sacerdotes.Mas, à raiz do incidente relatado, até o próprio David temeu a ira de Yahvehe, para implorar a clemência do airado deus, ordenou que cada certo trechose fizesse um alto no caminho, se depositasse a Arca em terra e sesacrificasse, em honra de Yahveh, "um boi e um carneiro alimentado".

Depois de David, governa Israel um rei sábio e compreensivo para com osseus súditos: trata-se do seu filho Salomão. Este, embora fosse um bomdiplomata, não tinha, em compensação, os dotes guerreiros do pai e, pelomesmo motivo, "não pôde evitar a perda de territórios como o dosedomitas, provenientes da estirpe de Edom, que tinha sobrevivido àmatança levada a cabo pelo chefe do exército de David e cujorepresentante, Hadad, tinha conseguido fugir: este refugiou-se com algunshomens edomitas no Egito e foi protegido pelo Faraó de forma especial, atéo ponto que lhe deu por mulher uma das suas irmãs. Hadad foi adversáriode Israel durante todo o reinado de Salomão."

A "DIÁSPORA"

No entanto, durante o reinado de Salomão, o comércio e as transaçõesmercantis de todos os tipos, especialmente com os territórios de Arábia,experimentaram um incremento substancial. Por isso, Salomão decideutilizar tanta riqueza na construção da "Casa de Yahveh em Jerusalém, nomonte Morria, onde Yahveh se tinha manifestado ao seu pai David."

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No entanto, nos tempos de Salomão, os israelitas perdem as provínciasarameas, com o que se vai debilitando o reino de Israel. Além disso, tudoisso vai constituindo-se em prelúdio do que a partir do ano 926 (aC), dataem que morre o rei Salomão, se transforma num fato consumado, a saber:a separação de Israel e Judá.

Jerusalém erigir-se-á em capital de Judá e, quanto ao reino de Israel,carecerá de capital fixa; a última das suas cidades, constituída em centropolítico e religioso, será Samaria. Mas este lugar, considerado como centroneurálgico e administrativo pela população israelita, é destruído pelo reiSargão II, aproximadamente duzentos anos depois da morte de Salomão.Quando a cidade fortificada de Samaria foi destruída, os israelitasdispersaram-se e refugiaram-se entre os povoadores dos territóriospróximos e limítrofes. Sucede a mesma coisa com Jerusalém, que sofre oacosso de Senaquerib e, tempo depois, é destruída por Nabucodonosor II,no ano 587 (aC), que a tinha submetido a um cerco contínuo durante umano. Os seus habitantes fogem e dispersam-se em todas as direções, com oqual se produz um fato histórico conhecido com o nome de "diáspora".

PROFETISMO

Não tinha passado muito tempo desde que os seus profetas os tinhamavisado do perigo que se lançava sobre a raça judia e os seus territórios: "oprofeta Jeremias tinha prevenido sobre as adversidades que seaproximavam, mas o seu povo não acreditou em tais palavras. Com ocativeiro de Babilônia e com a destruição do templo de Jerusalém começa adecadência dos diferentes movimentos proféticos e, ao mesmo tempo,seiniciam os movimentos religiosos e tradicionais que conformarão, com osseus ritos e mitos, o chamado judaísmo."

A palavra dos profetas hebreus caía quase sempre, por assim dizer, numvazio. Nem o povo, nem os sacerdotes, nem os governantes, faziam muitocaso das ameaças verbais, previsões e avisos, dos profetas. Estesdenunciavam a idolatria, a coação e a hipocrisia e, além disso, odiavam oformalismo vago de numerosos ritos e cerimônias, dirigidas pelossacerdotes e governantes, com a assistência do povo servil. Mas o queverdadeiramente fez com que os profetas caíssem em desgraça e nãofossem aceitos entre os seus (de aqui o célebre asserto "ninguém é profetana sua terra"),foi a denúncia constante e cortante de certos costumes queeles consideravam licenciosos: "os profetas criticam o luxo e a vidarefestelada de muitos israelitas ricos, deploram os vícios sexuais e rejeitamqualquer atitude vaidosa."

A FORÇA E O PODER DE YAHVEH

Os povos querem guardar zelosamente os seus deuses e nem sequerpronunciam o seu nome diante de pessoas de outra tribo, etnia, família oupaís. A lei sagrada proibia aos hebreus pronunciar o nome de Yahveh; oincumprimento dessa medida levava implícito um drástico castigo: a penade morte.

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Então, torna-se necessário procurar vários nomes para referir-se a umaúnica deidade. Há que evitar pronunciar o nome sagrado de Yahveh e, aomesmo tempo, guardar em segredo a escritura das quatro consoantes quecompõem o misterioso tetragrama grego. Não se encontram as vogais donome Adonai (que significa Senhor) e, ao pronunciar-se, resulta a palavraJeová. Alguns autores mantêm, em compensação, que a verdadeirapronunciação é Jahoveh, que contém o lexema formado pelas consoantesIHWH (____), significado do conceito "ser". Daqui uma das própriasformulações do Deus ao falar da sua própria identidade: "Eu sou o que sou"ou "Eu sou o existente".

Segundo outras versões, o nome da deidade superior estava consideradocomo tabu e, por isso, tinha que ser guardado no maior dos segredos.Estava proibido nomeá-lo. Além disso, podia suceder, por outra parte, queos inimigos chegassem a reparar no nome da deidade de um determinadopovo e, pelo mesmo motivo, ao evocá-lo, fariam com que o deus se virassecontra os seus antigos adoradores e protegidos. Tratava-se, pois, de umamedida de segurança e sobrevivência para todo um povo, ao manter emsegredo o nome das suas deidades superiores.

MITO DA CRIAÇÃO

Além de Jeová, também existia o nome de Elohim para referir-se à únicadeidade, e os livros sagrados colhem estas designações nos relatos dacriação; "No dia em que Jeová Elohim criou a terra e os céus, nenhumarbusto havia ainda sobre a terra, nenhuma erva tinha germinado ainda,porque Jeová Elohim não tinha feito ainda que sobre a terra chovesse enem havia homens que cultivassem o chão. Mas uma nuvem levantou-se daterra e regou o chão. E Jeová Elohim formou o homem com o pó do chão esoprou-lhe no nariz a respiração da vida".

Antes de encontrar com Jeová, os hebreus tinham outras deidades menorese mais fracas. Adoravam os gênios ou espíritos de certos fetiches, entre osquais se encontram os denominados "terafim"; estes eram pequenos ídolosque podiam transportar-se e que presidiam o interior das tendas dasdiversas tribos. O próprio rei David levava-os consigo nas suas digressõese, quando se encontrava em perigo, permitia que os adivinhos e magos osinvocassem para obter a sua ajuda. O mesmo termo "Elohim" significa "osdeuses" (em plural, o que indica que veneravam vários deuses e que,portanto, não eram ainda monoteístas). No entanto, Yahveh é um deusciumento e não quer outros deuses fora ele. É, além disso, "o deus dosexércitos e exige obediência cega e submissão plena. Era-lhe erigido cultoe, em sua honra, se sacrificavam animais dos rebanhos e se supunha quena comida de comunhão o próprio Yahveh tomava parte. Era-lhe reservadoo sangue dos animais que aos mortais se proibia."

UM DEUS-PAI SEM ROSTO

Yahveh manifesta-se de diversas formas, pois o seu rosto não foi visto porninguém, nem se verá nunca. Os eleitos reconhecem a sua voz eobedecem-no, dado que dá suficientes provas do seu poder. Por exemplo,elimina os primogênitos dos egípcios e respeita as casas dos israelitas, que

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previamente tinham pintado as suas portas com o sangue do cordeiro comosinal combinado.

Sempre existiam dados, provas e indícios que indicavam a presença deYahveh, que mostrava imediatamente o seu poder de uma ou outra forma.Os prodígios que fazia tinham, não obstante, um fim prático: convencer oFaraó do Egito para deixar em liberdade os israelitas, ou mostrar peranteestes o seu vigor e a sua força.

Um povo subjugado deixa as suas antigas crenças, abandona os seus ídolose submete-se ao mandato de Yahveh para que este o livre da ira dos faraóse o conduza, através do deserto, para uma bela terra.

No entanto, num princípio, os egípcios não tinham a menor intenção dedeixá-los partir, pelo qual a intervenção de Yahveh se torna manifesta enecessária. Transmite as suas ordens a Moisés para que este atue segundoàs suas palavras. Como Yahveh carece de rosto e de corpo visível serve-sede um mortal em todas as suas ações.

A primeira coisa que encomenda ao seu subordinado é a missão de pôr oFaraó egípcio em antecedentes da sua existência e dos seus atributos. Maso Faraó não parece importar-se pelo qual habitualmente não cumpre assuas promessas.

Yahveh dispõe-se a mostrar o alcance do seu poder e, num primeiromomento, faz com que Moisés bata nas águas dos rios egípcios.Convertem-se imediatamente em sangue e os cidadãos egípcios não podembeber, e os peixes morrem. Ao cabo de uma semana, o Faraó promete quedeixará em liberdade o povo israelita; o primeiro aviso de Yahveh foidecisivo. Mas serão necessários muitos mais para que lhes seja permitido,aos escolhidos, abandonar o Egito.

AS PRAGAS

De novo Yahveh envia Moisés perante o Faraó egípcio para anunciar-lheque,se persistir na sua atitude negativa, uma nova amostra do seu poderpoderá ser comprovada por aquele: e disse Yahveh a Moisés: "Apresenta-teao Faraó e diz-lhe: assim diz Yahveh: Deixa sair o meu povo para que medê culto. Se te negares a deixá-lo partir infestarei de rãs todo o teu país. Orio bulirá de rãs, que subirão e entrarão na tua casa, no teu quarto e no teuleito, nas casas dos teus servidores e na tua povoação, nos teus fornos enas tuas gamelas. Subirão as rãs sobre ti, sobre o teu povo e sobre os teusservos".

Como o Faraó intuiu o mal que lhe causava esta praga de rãs prometeu aMoisés que deixaria sair de Egito todos os israelitas. Mas de novo incumpriua sua promessa e foram necessários muitos outros avisos e amostras depoder por parte de Yahveh para que, por fim, o Faraó consentisse em levara cabo as citadas petições.

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Finalmente, os israelitas saem do Egito -não sem antes despojar os seusopressores dos objetos de ouro e prata que tinham-, e entram no desertoatrás de uma coluna de fogo e uma nuvem que os guia.

O Faraó decide perseguí-los mas, segundo narra o relato bíblico, é engolidopelo mar Vermelho junto com todo o seu exército, enquanto os israelitas,pelo poder de Yahveh, "que fez soprar durante toda a noite um forte ventodo este que enxugou o mar", conseguiram atravessá-lo a pé sem grandesdificuldades.

O MONTE SINAI

Quando os mortais procuram a proteção de um "deus pai" é porque confiamem que não vai abandoná-los na sua infelicidade e porque esperam quesempre acuda em sua ajuda.

Quando os israelitas caminham pelo deserto, Yahveh envia o maná paraalimentá-los: "Olha eu farei chover sobre vocês pão do céu; o povo sairápara apanhar todos os dias a porção diária".

Embora durante muito tempo se alimentassem unicamente de maná - o queera "como semente de coentro, branco e com sabor a torta de mel" -, noentanto, os israelitas não se sentiam a gosto e, em ocasiões, protestavamou maldiziam a sua sorte. Além disso, agora se dedicam a adorar umbezerro de ouro, o que pode provocar a ira de Yahveh, dado que é um deusmuito ciumento e, além disso, não permite compartilhar a sua glória comoutras deidades inferiores; mais ainda: fora dele não há nenhum outrodeus.

NEM DEUSES DE PRATA NEM OURO

Torna-se,portanto, necessária uma norma escrita e durável, pela qual setêm que reger para assim evitar confusões e mal-entendidos. Moisés éreclamado por Yahveh (que sempre necessita de intermediários) e é citadono cimo do Monte Sinaí: "Sobe a mim, ao monte; fica lá, e dar-te-ei astábuas de pedra (a lei e os mandamentos) que tenho escritos para a suainstrução."

Embora acompanhasse Moisés o seu irmão Aarão e vários anciãos israelitas,só ao primeiro estava permitido aproximar-se, isto é, a Moisés: todos osoutros deveriam contemplar a cena de um lugar afastado. E eis aqui queuma nuvem cobriu o monte Sinai, e entre trovões e relâmpagos semanifestou a glória de Yahveh, que entrega as Tábuas da Lei a Moisés.Desta forma, um povo sela uma aliança com uma poderosa deidade à qual,a partir de agora, deverá submissão e adoração: "Eu, Yahveh, sou o teuDeus, o que te tirou do país do Egito, da casa de servidão.

Não haverá para ti outros deuses diante de mim.

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Não farás escultura nem imagem alguma nem do que há em cima nos céus,nem do que há em baixo na terra, nem do que há nas águas debaixo daterra.

(...) não terão junto de mim deuses de prata, nem farão deuses de ouro.Faz-me um altar de terra para oferecer sobre ele os teus holocaustos e osteus sacrifícios."

A partir de agora, fará único objeto de culto e adoração o poderoso Yahvehe rejeitará qualquer ídolo ou fetiche terrenos.

CANASTRA DE PAPIRO

A Aliança entre Yahveh e o povo hebreu fica selada do modo citado e nastábuas de pedra que Moisés tomou no monte Sinaí, aparecerão gravadas,em forma de preceitos, as obrigações para com tão terrível deidade. E,assim, o primeiro mediador, e intérprete, da palavra divina foi escolhidoentre os filhos dos mortais. O próprio nascimento de Moisés e as diversascircunstâncias que se sucedem então, talvez pressagiassem o seu posteriorprotagonismo. No "Livro do Êxodo" é narrada a história de uma criatura quese livrou de perecer afogada porque não foi achada pelas hostes do Faraóegípcio, que tinha ordenado que todos os homens israelitas,recém-nascidos,fossem arrojados ao rio Nilo. No entanto, e curiosamente, foi umafilha do próprio Faraó quem salvou Moisés (nome que significa "das águas otirei") de perecer afogado no rio. Eis aqui o relato dos fatos: "Um homem dacasa de Levi foi tomar por mulher uma filha de Levi. Concebeu a mulher edeu à luz um filho; e vendo que era belo teve-o escondido durante trêsmeses. Mas não podendo ocultá-lo já por mais tempo, tomou uma cestinhade papiro, calafetou-a com betume e pixe, metia nela o menino e pô-laentre os juncos, à beira do rio. A irmã do menino colocou-se ao longe paraver o que lhe passava.

Desceu a filha do Faraó para banhar-se no rio e, enquanto as suas donzelaspasseavam pela beira do rio, viu a cestinha entre os juncos e enviou umacriada sua para que a trouxesse. Ao abri-la, viu que era um menino quechorava. Compadeceu-se dele e exclamou: "É um dos meninos hebreus".Então disse a irmã à filha do Faraó: "Queres que eu vá e chame uma aiaentre as hebraicas para que te crie este menino? ". "Vai", respondeu-lhe afilha do Faraó. Foi, pois, a jovem e chamou a mãe do menino. E a filha doFaraó disse-lhe: "Toma este menino e cria-o que eu te pagarei". Tomou amulher o menino e criou-o. O menino cresceu e ela levou-o então à filha doFaraó, que o teve por filho e lhe chamou Moisés, dizendo: "Das águas otirei".

Alguns estudiosos da história e da mitologia notaram o paralelismo entre ahistória de Moisés (narrada no Livro de Êxodo) e a infância de um rei deAkad chamado Sargão (nome que significa "Senhor das Quatro partes doMundo") que invadiu a Mesopotâmia durante a sua juventude e, quando eramenino, a sua mãe tinha-se visto obrigada a depositá-lo numa cestinhatrançada com juncos.

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ORGANIZAÇÕES SECRETAS

Se aprofundarmos no ancestral do povo hebreu, descobriremos que antesde abraçar esse radical monoteísmo que os caracteriza, tinham os seusfetiches e os seus ídolos e, pelo mesmo motivo, praticavam (como outrospovos da mesma zona e época) o politeísmo. Adoravam deidades, porexemplo, que provinham dos fenícios. E também, seguindo os ensinos deum filho de Abraão, chamado Madian, tinham fundado seitas e organizaçõesque recebiam o nome de madianitas, e nas quais se venerava um ídolodenominado Abda.

Também existia uma deidade que representava o mal; chamava-seAsmodeu (nome que significava "o que faz perecer") e, segundo a crençapopular, tinha sido obrigado por Salomão a trabalhar na construção dotemplo de Jerusalém, Asmodeu tinha também por missão introduzir adesconfiança entre os cônjuges para, assim, separá-los e destruir o seucasamento. Era considerado, além disso, como uma espécie de AnjoExterminador.

LEVIATÃ

Mas na mitologia hebraica sobressaía de maneira especial um Dragão ou"Serpente Esquiva", também denominado "Leviatã". Já os fenícios falavamdeste monstro e, nas suas lendas, faziam-no vir do caos primitivo. Para oshebreus só cabia a possibilidade de que fosse um dos muitos filhos de Lilith,mulher legendária (desposada com Adão) que paria todas as classes decriaturas deformes, monstros e demônios. Temia-se que o Leviatãdespertasse e introduzisse o mal no mundo; por exemplo, no "Livro doApocalipse" é considerado como a personificação do mal que enfrenta, porsua vez, a bondade encarnada na deidade superior.

Mas é no Livro de Job onde se encontra a descrição do Leviatã maisexaustiva:

" (E Leviatã, tu o pescarás a anzol, segurarás com um cordel a tua língua? /Farás passar pelo seu nariz um junco?, / Furarás com um gancho o seuqueixo? / (. ..) Furarás a sua pele com dardos?, / Cravarás com o arpão asua cabeça? / Põe sobre ele a tua mão: / Ao recordar a luta não terásvontade de voltar! / Seria vã a tua esperança / Porque a sua vista só aterra!/ Não há audaz que o acorde, / E quem poderá resistir diante dele? / Quemo enfrentou e ficou salvo? / Nenhum sob a capa dos céus! / Mencionareitambém os seus membros, / Falarei da sua força incomparável. / Quemrasgou a dianteira da sua túnica / E penetrou no seu coração duplo? / Quemabriu as folhas das suas fauces? / Reina o terror entre os seus dentes! / Oseu dorso são filas de escudos, / Que fecha um selo de pedra. / Estãoapertados um a outro, / E nem um sopro pode passar entre eles. / Estãocolados entre si / E ficam unidos sem fissura. / Deita luz o seu espirro, / Osseus olhos são como as pálpebras da aurora. / Saem tochas das suasfauces, / Faíscas de fogo saltam. / Do seu nariz sai fumo, / Como de umcaldeirão que ferve junto ao fogo. / O seu sopro acende carvões, umachama sai da sua boca."