modelo descritivo das mineralizaÇÕes aurÍferas
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
CURSO DE GEOLOGIA
ALDO PERRONI DE QUEIROZ
MODELO DESCRITIVO DAS MINERALIZAÇÕES
AURÍFERAS RELACIONADAS AO CORPO DE MINÉRIO
“UNIDADE SUPERIOR” NO ALVO JACOBINA-SE, BAHIA E
IMPLICAÇÕES GENÉTICAS
Salvador – BA
2019
ALDO PERRONI DE QUEIROZ
MODELO DESCRITIVO DAS MINERALIZAÇÕES
AURÍFERAS RELACIONADAS AO CORPO DE MINÉRIO
“UNIDADE SUPERIOR” NO ALVO JACOBINA-SE, BAHIA E
IMPLICAÇÕES GENÉTICAS
Monografia apresentada ao Curso de Geologia,
Instituto de Geociências, Universidade Federal
da Bahia como requisito parcial para obtenção
do grau de Bacharel em Geologia
Orientador: Prof. Dr. Reinaldo
Santana Correia de Brito
Salvador – BA
2019
TERMO DE APROVAÇÃO
ALDO PERRONI DE QUEIROZ
MODELO DESCRITIVO DAS MINERALIZAÇÕES
AURÍFERAS RELACIONADAS AO CORPO DE MINÉRIO
“UNIDADE SUPERIOR” NO ALVO JACOBINA-SE, BAHIA E
IMPLICAÇÕES GENÉTICAS
Trabalho final de graduação aprovado como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em geologia, Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:
1º Examinador – Prof. Dr. Reinaldo Santana Correia de Brito – Orientador
Instituto de Geociências da Universidade Federal da Bahia
2º Examinador – Prof. Dr. João Batista Teixeira Guimarães
Geólogo Consultor Independente
3º Examinador – Geólogo Eldes Bitencourt Camurugy
Yamana Gold Inc. – Jacobina Mineração e Comércio
Salvador, 29 de novembro de 2019
Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Universitário de Bibliotecas (SIBI/UFBA), com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).
de Queiroz, Aldo Perroni Modelo descritivo das mineralizações auríferasrelacionadas ao corpo de minério Unidade Superior noalvo Jacobina-SE, Bahia e implicações genéticas / AldoPerroni de Queiroz. -- Salvador, 2019. 49 f. : il
Orientador: Reinaldo Santana Correia de Brito. TCC (Graduação - Geologia) -- Universidade Federalda Bahia, Instituto de Geociências, 2019.
1. Geologia Econômica / Metalogênese. 2. Modelodescritivo de mineralização. 3. Modelo genético demineralização. I. Brito, Reinaldo Santana Correia de.II. Título.
“’A vida mortal tem uma parte divina’. Assim
sendo, portanto, é preciso filosofar, ou ir
embora daqui de baixo dando adeus à vida,
visto que todo resto parece um amontoado de
futilidades e frivolidades” (Aristóteles)
AGRADECIMENTOS
À Virgem Maria e ao Nosso Senhor Jesus Cristo, que por meio de milagres cotidianos foram
fonte de toda força para continuar e concretizar este trabalho e para Eles todas as coisas.
A minha mãe Magali que é o grande exemplo de doação em minha vida e inspiração para
resiliência e perseverança, e por quem eu sou hoje como pessoa. A meu pai Aldo por todo
conselho, força e apoio, e por quem eu sou hoje como pessoa. A minhas irmãs Camila e
Paulinha que sempre foram e são escolas de amor dentro da difícil convivência familiar.
A minha namorada Luana pelos momentos bons e difíceis dessa caminhada.
A todos patriarcas e matriarcas das famílias Perroni e Queiroz, que carregaram bens imateriais
pelas gerações, em especial meus avós Didi, Edvaldo (in memoriam), Wagner (in memoriam)
e Esther. A toda família que sempre fez parte da minha história, da Bahia a Minas, Rio, São
Paulo e Santa Catarina, especialmente tia Rose, tio Milson.
Aos pais espirituais Pe. Josuel e Pe. Bene pelo discernimento e aos grandes amigos, meu
padrinho Victor e Silas (eremito), ao grupo SJPII e ao Bangkok Membership®.
Ao prof. Reinaldo que aceitou e me orientou nessa jornada árdua. A todos meus professores
do IGEO, especialmente Prof. Michel Holz pelo apoio na radiometria. A Antônio Marcos
(CBPM) pelas fotomictografias e a Francisca (UnB) pelas lâminas delgadas e polidas. Ao
prof. Johildo Barbosa, Rejane Lima e prof. Hailton Melo pelas experiências de estágio e
iniciação científica. Às colegas de estágio Laís, Francine e Jasmine e de IC Gabi.
A todo o grupo da exploração da Yamana (JMC) por todo aprendizado e pelo apoio, em
especial Pocay, Arthur, Eldes, Gabriel e Juliano. A equipe de estágio Geoelite que marcou a
JMC: Davi, Caetité, Raquel, Marcão e Nailson e a toda equipe de bancada e da Geologia.
A todos aqueles que se dispuseram a me ajudar no trabalho, alguns desses por falsas
promessas de cervejas, Gabriel (pelas imagens de drone), Brunão, Airton, Nilza (a intrusiva),
Glória e Ivson! Aos filhos da minha nova terra adotada Jacobina, Ângelo, Joel, Duchinha,
Alex mineirinho, Seu João meu presidente e sua exímia equipe de amostragem.
A todos colegas que de alguma forma fizeram parte da minha graduação, especialmente
Jéssica e Rebeca pelas imagens em CorelDRAW.
RESUMO
O depósito de ouro do alvo Jacobina-SE consiste de uma mineralização do tipo Au-U em
conglomerados de seixos de quartzo, da Formação Serra do Córrego, Grupo Jacobina. Este
trabalho apresenta o modelo descritivo do corpo de minério Unidade Superior da formação
supracitada. Foram realizados estudos de afloramentos, seções em garimpos, espacialização
cartográfica das informações, petrografia e análise por cintilometria de U. Os resultados
obtidos permitiram definir uma mineralização de ouro tipo reef, tendo como principal
característica o tamanho de seixos pequenos, muito pequenos e médios, que tem em seu topo
quartzitos com estruturas tipo espinha de peixe e na base um pacote de quartzito com seixos
médios a grandes. O pacote mineralizado é formado por 20 lentes de metaconglomerados bem
empacotados, em uma espessura total de 55 metros. A paragênse mineral consiste de fuchsita,
sulfetos, sericita, turmalina e hematita associadas a fraturas e falhas, veios de quartzo e ouro
dendrítico visível. Apresenta de assinatura de U radiométrico. Falhas do tipo strike-slipe
sinistrais de direção ENE-WSW deslocam o reef para oeste, falha N350 associada a minerais
de alteração hidrotermal, enquanto outras falhas ortogonais completam um sistema de cunhas
estruturais. Antigas cavas de garimpos ocorrem ao longo do reef em pontos de intensa
alteração hidrotermal e meteorização, próximo a falhas ENE-WSW, revelando uma possível
influência direta na mineralização. Correlação estratigráfica sugere duplicação por falha das
sequências de reefs no vale da Grotinha. Na petrografia dos litotipos observa-se a
superposição de reações de alteração hidrotermal e estruturas sedimentares e hidrotermais.
Por fim, o reef Unidade Superior possui características geológicas e metalogenéticas para ser
reconhecido e definido no depósito Jacobina-SE e apesar de reconhecer o modelo de placer
para a mineralização, com os dados apresentados, sugere-se uma correlação entre estruturas,
alterações hidrotermais e meteóricas e paragênese mineral para sua gênese.
Palavras-chave: Depósitos auríferos. Jacobina-SE. Reef Unidade Superior.
ABSTRACT
The Jacobina-SE gold deposit is a Au-U type mineralization in quartz pebble
conglomerates of the Serra do Córrego Formation, Jacobina Group. This work shows the
descriptive model of the Upper Unity orebody. Studies of outcrops, geological sections in
digging pit, cartographic spatialization of information, petrography and scintillometric
analysis of element U were performed. The obtained results allowed us to define a reef gold
mineralization with small, very small and medium pebbles, which has in its top fishbone
structures-quartzite and medium to big pebbles quartzite in the base. The mineralized package
consists of 20 well-packaged metaconglomer lenses, with a total thickness of 55 meters. The
mineral paragenesis consists of predominant fuchsite, sulfides, sericite, tourmaline and
hematite associated with fractures and faults, quartz veins and visible dendritic gold. Presents
radiometric U-signature. ENE-WSW strike-slipe faults shift reef west, fault N350 associated
with hydrothermal alteration minerals, while other orthogonal faults complete a system of
structural wedges. Old gold digs occur along the reef at points of intense hydrothermalism
and weathering, near ENE-WSW faults, revealing a possible direct influence on
mineralization. Stratigraphic correlation suggests fault duplication of the reefs sequences in
the Grotinha Valley. Overlapping hydrothermal alteration reactions and sedimentary and
hydrothermal structures are observed in petrography. Finally, the Upper Unity reef depicts
geological and metallogenetic features that allowed us to correlate with other occurrences in
metaconglomerates with the same stratigraphic position in the south of Jacobina belt. Despite
the hypotheses that the placer genetic model could be applied, with the data presented, we
would like to suggest a correlation between structures, hydrothermal and meteoric alterations
and mineral paragenesis for its genesis.
Keywords: Auriferous deposits. Jacobina-SE deposit. Upper Unit reef.
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO 1
FIGURA 1.1: Mapa de localização e acesso a área de estudo................................................................11
CAPÍTULO 2
FIGURA 2.1: Coluna estratigráfica do Grupo Jacobina (modificado de Mascarenhas et al., 1998 e Reis
et al., 2017).............................................................................................................................................13
FIGURA 2.2: Estruturação geral da serra de Jacobina (Santos et al., 2018). ........................................14
FIGURA 2.3: Coluna estratigráfica da Formação Serra do Córrego. Pearson et al., 2005, modificado
de Molinari et al., (1987)........................................................................................................................16
CAPÍTULO 3
FIGURA 3.1: Principais unidades geotectônicas do CSF na Bahia. Modificado de Reis et al. (2017),
adaptado de Barbosa (1997), Barbosa et al. (2012), Sabaté et al. (1990) e Teixeira et al. (2001).........21
FIGURA 3.2: Mapa geológico da área de estudo com foco no reef Unidade Superior no Morro do
Cruzeiro..................................................................................................................................................24
FIGURA 3.3: Estratigrafia do reef Unidade Superior no Morro do Cruzeiro com Footwall e
Hangingwall............................................................................................................................................25
FIGURA 3.4: Lente de SMPC com cor típica de oxidação de sulfetos associada a fratura na cava poço
do Dionísio..............................................................................................................................................26
FIGURA 3.5: Estrutura em espinha de peixe no Hangingwall do reef Unidade Superior.....................27
FIGURA 3.6: Poço do Dionísio com sistema de cunhas esquematizadas na figura 3.8........................28
FIGURA 3.7: Seção esquemática da estrada e suas principais estruturas..............................................29
FIGURA 3.8: Seção esquemática do poço de Dionísio e suas principais estruturas..............................30
FIGURA 3.9: Seção central da área de estudo.......................................................................................31
FIGURA 3.10: Feição estrutural na Cava da brechinha e ouro associado.............................................32
FIGURA 3.11: Feições estruturais observadas em diferentes escalas da face leste do Morro do
Cruzeiro e o Unidade Superior...............................................................................................................33
FIGURA 3.12: Seção esquemática da Cava da bússola (PL03) e suas principais estruturas.................34
FIGURA 3.13: Amostras de mão com flocos de ouro livre da Cava da bússola...................................35
FIGURA 3.14: Fotomicrografias de lâminas delgadas e polidas das amostras referentes ao reef
Unidade Superior....................................................................................................................................36
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO 3
TABELA 3.1 - Classificação de metaconglomerados da Formação Serra do Córrego (Pearson et al.,
2005) ......................................................................................................................................................21
TABELA 3.2 - Tipos de mineralizações auríferas na serra de Jacobina segundo rochas hospedeiras
(modificado de Pearson et al.,2005).......................................................................................................23
TABELA 3.3 - Análises com teores na lente principal da cava da brechinha cedidas pelo geólogo
Ângelo Amorim Neto.............................................................................................................................32
TABELA 3.4 - Resultados da descrição petrográfica dos minerais.......................................................37
TABELA 3.5 - Quadro paragenético de alterações hidrotermais e modais de petrografia....................37
TABELA 3.6 - Síntese de modelo descritivo do reef Unidade Superior................................................40
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO GERAL...................................................................11
CAPÍTULO 2 - ESTADO DA ARTE..........................................................................13
CAPÍTULO 3 – ARTIGO.............................................................................................19
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................43
ANEXO A- REGRAS DE FORMATAÇÃO DA REVISTA.....................................46
10
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO GERAL
Esse trabalho tem como objetivo geral caracterizar o corpo de minério aurífero Unidade
Superior na escala do depósito Jacobina-SE, Morro do Cruzeiro, na parte sul da cidade de
Jacobina. Tem como objetivo específico produzir o modelo descritivo do horizonte
mineralizado (reef) Unidade Superior por meio de seções medidas e mapeamento geológico
detalhado e estudos petrogréficos com a finalidade de identificar os elementos que o definem
em zonas hangingwall, reef sensu stricto e footwall desse corpo. O Morro do Cruzeiro possui
uma área pouco maior que 1km², uma extensão de aproximadamente 1,7 km na direção N-S.
A cidade de Jacobina tem aproximadamente 80 mil habitantes, dista 330 km da cidade de
Salvador, compõe a região Centro Norte Baiano e está situada na região fisiográfica da serra
de Jacobina (Figura 1).
Figura 1.1. Mapa de localização e acesso a área de estudo.
O histórico das atividades mineiras na cidade de Jacobina se confunde com a própria
história de povoamento e crescimento da cidade a partir de bandeirantes em busca de minérios
no século XVIII. Em 1720, o rei D. João V permitiu o garimpo de ouro, enquanto a primeira
empresa de mineração a lavrar o ouro de forma legalizada foi a Cia Minas de Jacobina em
1880. Desde então, empresas internacionais como Morro Velho, Desert Sun e atualmente
11
Yamana Gold Inc. possuíram e possui o direito de lavra para as minas de Canavieiras, João
Belo e Morro do Vento. A atual empresa, desde 2007, registrou publicamente em seu website
uma produção de mais de 140.000 onças no ano de 2018. O garimpo sempre foi uma
atividade tradicional e familiar nos diversos morros que circundam a cidade, especialmente no
Morro do Cruzeiro (depósito Jacobina SE), área cedida pela Yamana Gold Inc. para uma
cooperativa de garimpeiros, que atualmente possui permissão de lavra. A área contém
diversas e antigas cavas de garimpos com ampla exposição de camadas rochosas e uma
galeria de 156m de comprimento, localizada no vale da Grotinha. Atualmente, as atividades
de pesquisa e lavra no Morro do Cruzeiro são esporádicas.
A Serra de Jacobina é uma feição morfoestrutural decorrente de uma antiga bacia
arqueana metavulcanossedimentar com debate controverso com respeito a sua origem.
(Mascarenhas et al., 1996; Ledru et al., 1997; Leite, 2002). O evento tectono-metamórfico do
Riaciano-Orosiriano causou a colagem de quatro segmentos arqueanos crustais (Barbosa e
Sabaté., 2002) na estabilização do cráton São Francisco: o Bloco Serrinha, o Orógeno
Itabuna-Salvador-Curaçá, o Bloco Jequié e o Bloco Gavião, este último contém a norte o
Complexo Gavião, embasamento da bacia de Jacobina. Uma colisão no trend N-S resultou-se
desse efeito, evidenciado pelo lineamento Jacobina-Contendas Mirante (Sabaté et al., 1990)
com estruturas associadas. A Serra de Jacobina é composta de leste (topo) para oeste (base)
pelas unidades (Molinari & Scarpelli, 1987) Formação Cruz das Almas, Formação Rio do
Ouro e Formação Serra do Córrego, sendo a última constituída por intercalações de quartzitos
e metaconglomerados mineralizados com ouro, que receberam a denominação de reef,
baseado no modelo de mineralização da bacia arqueana de Witwatershand, na África do Sul.
Os reefs da formação Serra do Córrego apresentam tamanho de seixos, empacotamento,
espessura, minerais de alterações hidrotermais, zona de hangingwall (topo) e de footwall
(base) específicos e característicos. O reef Unidade Superior encontra-se no topo da
Formação Serra do Córrego registrado por Pearson et al., (2005) como uma faixa pouco
espessa de pacote de seixos pequenos, intercalação de lentes e quartzitos, observado tanto no
Morro do Cruzeiro como em Canavieiras.
Na década de 50, as produções científicas sobre a região da Serra de Jacobina já
associavam a mineralização aurífera desta à de Witswatershand, bem como no uso do termo
reef para denominar os corpos de minério. Os primeiros trabalhos de estratigrafia possuíam
abordagem pouco aplicada a metalogênese. Molinari & Scarpelli (1987) reconheceram ciclos
de quartzitos e metaconglomerados em unidades, nas quais um horizonte superior na
Formação Serra do Córrego já estava representado e em 2005 Pearson et al. detalharam a
estratigrafia dos reefs com a maturação histórica do entendimento das diversas mineradoras, a
confirmar o horizonte.
O depósito Jacobina SE tem sido alvo de estudos base em mapeamento geológico,
estrutural e estratigráfico. Feitosa (2017) reconheceu 5 reefs correlacionando-os com os reefs
de Canavieiras: Maneira, Holandês, MU/LU (indiviso) e Basal. Observou exposições de
garimpos aos quais sugeriu correlação com a subzona superior do Conglomerado Superior da
Formação Serra do Córrego. Contudo, até o presente momento, não há na literatura um estudo
focado no reconhecimento, delimitação e caracterização de tal horizonte metaconglomerático
no Morro do Cruzeiro. Apesar de sua breve importância na mineradora Jacobina Mineração e
Comércio (Yamana) até os dias de hoje, o aqui denominado reef Unidade Superior no
depósito Jacobina SE tem histórico favorável nos antigos garimpos próximos a entrada da
cidade de Jacobina.
O estudo de detalhe das características deste reef visa um entendimento mais detalhado
em relação ao conhecimento do modelo descritivo do depósito, bem como tecer comentários a
cerca da implicação de tais dados na gênese da mineralização no(s) Sistema (s) Mineral (is) de
Jacobina.
12
CAPÍTULO 2
ESTADO DA ARTE
Contexto Regional
O terreno geológico de Jacobina teve sua constituição no evento tectônico Riaciano-
Orosiriano, que se findou na estabilização do Cráton do São Francisco, na colagem
paleoproterozoica dos blocos arqueanos: Bloco Gavião, Orógeno Itabuna-Salvador-Curaçá,
Bloco Serrinha e Bloco Jequié. O evento delineou uma grande zona de sutura N-S de colisão
de aproximadamente 500 km, conhecida como lineamento Contendas-Jacobina (Sabaté et al.,
1990), além da intensa granitogênese típica (Sabaté et al., 1990).
O evento de colisão amalgamou e alongou em um trend N-S as macrounidades
Complexo Saúde, compondo o embasamento leste da serra (Melo et al., 1995; Leite, 2002); a
sequência metavulcanossedimentar do Greenstone Belt Mundo Novo (Mascarenhas et al.,
1998); os metassedimentos Grupo Jacobina (Molinari e Scarpelli, 1987); os terreno TTG do
embasamento a oeste.
O Grupo Jacobina é composto por três unidades (figura 2), à saber: intercalação de
metaconglomerados polimíticos, quartzitos micáceos e xistos e filitos, por vezes
manganesíferos da Formação Cruz das Almas; quartzitos puros de granulometria média a fina
com marcas de onda da Formação Rio do Ouro; metaconglomerados polimíticos
mineralizados e com halos de alterações hidrotermais típicas intercalados com quartzitos na
Formação Serra do Córrego.
Figura 2.1. Coluna estratigráfica do Grupo Jacobina (modificado de Mascarenhas et al., 1998
e Reis et al., 2017).
13
A serra de Jacobina está estruturada em diversos padrões de falhas, controlados por
grandes sistemas com provável extensão litosférica (figura 3). Oliveira Neto (2010) encontrou
na região das minas de Canavieiras, Morro do Vento e João Belo quatro principais famílias de
padrão: falhas NW-SE e SW-NE com cinemática destral reversa; ii) falhas com direção N-S
com cinemática sinistral reversa; iii) falhas E-W dextrais; e iv) falhas com orientação N-S
com cinemática normal sinistral e outras com orientação NW-SE com cinemática normal
destral. Mafra (2009) mapeou em Canavieiras e interpretou as referidas falhas de acordo com
a cinemática em 5 famílias: Falhas de empurrão(E-W); Falhas de retro-empurrão (W-E);
Falhas antitéticas(NE-SW) ; Falhas de acavalgamentos(S-N) ; Falhas de cisalhamento (N-S).
Figura 2.2. Estruturação geral da serra de Jacobina A) Mapa dos entornos da cidade de
Jacobina e seção geológica representativa; B) Seção geológica interpretada a partir do
modelamento gravimétrico, com detalhe para porção da crosta continental superior (Santos et
al., 2018). SFJ: Sistema de Falhas Jacobina; SFM: Sistema de Falhas Maravilha; SFP:
Sistema de Falhas Pindobaçu; SFI: Sistema de Falhas Itaitu; ZCM: Zona de Cisalhamento
Mairi.
14
No geral, as grandes estruturas N-S estão representadas por vales e associadas a
ultramáficas, enquanto as E-W associadas a diferentes máficas (figura 3) Grandes Sistemas de
falhas lístricas compartimentam blocos E-W: Sistema de Falhas Jacobina, no contato de Bloco
Gavião com a base da Formação Serra do Córrego; Sistema de Falhas Maravilha entre as
Formações Rio do Ouro e Cruz das Almas; e por fim, Sistema de Falhas Pindobaçu, dividindo
o grupo Jacobina do Greenstone Belt Mundo Novo (figura 2.2).
A mineralização de ouro da serra de Jacobina foi denominada Bahia Gold Belt (Pearson
et al., 2005) e foi classificada por Teixeira et al. (2001), utilizando o critério rocha hospedeira
e diferentes unidades geológicas da serra. Pearson et al. (2005) acrescentaram a classe da
tipologia metavulcanossedimentar. Foram descrriminadas cinco tipos de mineralização:
1. Ouro nos metaconglomerados e quartzitos
Reconhecido nas minas de Canavieiras, João Belo, Morro do Vento, Itapicuru e outros, este
tipo de mineralização ocorre em intercalações de metaconglomerados com seixos
majoritariamente de quartzo e matriz sulfetada e quartzitos.
2. Ouro nas rochas metamáficas
Reconhecido nos Garimpo de Agenor e mina da Jaqueira, esse tipo de mineralização ocorre
em diques da ordem de unidades de quilômetros associada com piritas hidrotermais
poiquiloblásticas e tension gashes e veios de tração.
3. Ouro nas rochas metaultramáficas
Reconhecido em Mina Velha de Pindobaçu e Garimpo do Jacinto, esse depósito está
associado a metaultramáficas no contato da Fm Serra do Córrego com a Fm Rio do Ouro,
com pequenos veios de quartzo com pirita e arsenopirita e zonas de cisalhamento alteradas.
4. Ouro em quartzitos
Reconhecido nas minas de Goela da Ema e Maravilha, em veios de quartzo nas zonas de
cisalhamento de contato das Formações Rio do Ouro e Cruz das Almas.
5. Ouro nas metavulcanossedimentares
Associado a pirita disseminada e veios de quartzo em zonas de cisalhamento de
metassedimentos do Greenstone belt Mundo Novo.
Neste estudo, o corpo de minério está inserido no grupo 1, na Formação Serra do
Córrego. A Formação Serra do Córrego foi compartimentada em três grandes sequências
psamíticas: o Conglomerado inferior, o Quartzito Intermediário e o Conglomerado Superior
(figura 2.3) (Molinari e Scarpeli, 1987). As zonas conglomeráticas consistem em uma
intercalação bem definida de camadas de quartzitos com metaconglomerados de
características específicas de tamanho de seixo, empacotamento, tipo de seixo, por vezes
alteração hidrotermal e minerais constituintes. Com o detalhamento da estratigrafia, os
pacotes metaconglomeráticos foram nomeados reefs (Pearson et al., 2005).
15
Figura 2.3. Coluna estratigráfica da Formação Serra do Córrego. (Seidler, 2019, modificado
de Molinari et al., 1986).
Modelos genéticos
Ao longo das últimas décadas, o debate científico ao que concerne a gênese do depósito de
ouro em Jacobina é controverso. Observa-se na literatura evidências e comparações com
outros depósitos para fundamentar tais modelos.
O primeiro modelo a ser fundamentado foi o singenético de paleoplacer (Bateman,
1958). O autor propõe a sucessão de erosão, sedimentação e deposição cíclica do ouro
associado aos seixos de quartzo de leques aluviais. As partículas de ouro estariam em
equilíbrio hidráulico de densidade das partículas silicáticas, através das evidências primárias
como sequências lenticulares e canais entrelaçados em comparação com depósitos de
Witswatersrand e Blind River. O autor não recusa a possibilidade de remobilização.
O segundo modelo, cunhado por White (1961), propôs uma origem epigenética de
mineralização por colocação de fluidos hidrotermais através de estruturas N-S ou
intraestratais e observou as evidências de que as zonas mineralizadas não se restringem a um
único litotipo na Serra, em acréscimo a ocorrência de veios e fraturas com silicificação e
registros de alterações hidrotermais. O autor exclui a possibilidade do paleoplacer. Pearson et
al. (2005) reafirmam as evidências epigenéticas com a similaridade geoquímica da
mineralização nos metaconglomerados da Formação Serra do Córrego e do sistema de falhas
de Pindobaçu que controlam a silicificação, no contato do Grupo Jacobina com o Greenstone
Belt Mundo Novo. Teixeira et al. (2001) corroboram com tal origem com suporte nas
16
evidências dos diferentes tipos de mineralização pelo fator rocha-hospedeira, a semelhante
assembleia de minerais dentre esses tipos, controle das alterações hidrotermais por
permeabilidade da rocha e associação geocronológica com fluidos cogenéticos
granitogênicos.
O terceiro modelo surgiu cronologicamente após o hidrotermal sensu stricto com a
sugestão de um paleoplacer modificado ou a remobilização epigenética de ouro de placer em
eventos de dobramentos, metamorfismo e intrusão (GROSS, 1968). As evidências para tal é a
tendência à concentração da mineralização no topo de camadas de metaconglomerados, a
ocorrência de ouro em fraturas de seixos e a associação de ouro no contato de ultramáficas.
Cox e Singer (1986) reafirmam a concentração de ouro na base de camadas depositadas em
superfície de erosão como fator típico de paleoplacer.
Por fim, o modelo mais recente a ser desenvolvido (MILESI et al., 2002) envolveu os
outros modelos no sistema “falha-reservatório hidrotermal”, no qual as grandes zonas de
cisalhamento atuaram como condutos de fluidos sin-orogênicos mineralizantes e
remobilizadores e os metaconglomerados (possíveis paleoplacers) como trapas e reservatórios
de tais fluidos. O autor recorre à nova interpretação de modelo tectônico da bacia de Jacobina
e acrescenta as grandes zonas de cisalhamento ao ciclo erosão, sedimentação e deposição do
modelo paleoplacer (BATEMAN, 1958). Os autores defendem esse modelo com a evidência
da associação de paragênese mineral ouro-pirita-minerais de Cr com estruturas de segunda
ordem na base dos reefs da Formação Serra do Córrego, e fortalece tal modelo com dados de
alto grau geotérmico de veios de zonas de cisalhamento, além de texturas de porosidade nos
metaconglomerados.
Conceito de reef nos diversos depósitos mundiais
O termo reef na metalogênese foi consagrado em depósitos típicos de Elementos do Grupo da
Platina em corpos máficos e ultramáficos e nas camadas auríferas da bacia de Witswatersrand.
Observa-se, na literatura científica bem como na prática exploratória dos corpos de minério,
que esta denominação compreende em um horizonte estratigráfico bem definido, com uma
litotipia e uma paragênese mineral específicas, com certa regularidade e lateralidade, além de
possuir um teor característico. A definição destes corpos no campo estratigráfico, litológico,
mineralógico, químico e econômico são etapas fundamentais para as próximas definições
dentro do processo exploratório e de avaliações econômicas, e foi desenvolvido no principais
depósitos estratiformes mundialmente reconhecidos: Bushveld (África do Sul), Great Dyke
(Zimbábue) e Stillwater (Estados Unidos).
Descoberto em 1924, o Merensky reef (Complexo Bushveld-África do Sul) (Vermaak et
al., 1976; Kinloch et al.,1990. Prichard et al., 2004) protagoniza historicamente no cenário
dos depósitos denominados reefs e a partir dele, muitos outros exemplos mundiais
absorveram seu modelo de pesquisa, sobretudo os semelhantes corpos de máfica e ultramáfica
estratificados, com depósitos de platinoides e ouro e textura de cumulatos típica de depósitos
ortomagmáticos.
O J-M reef (Complexo Stillwater), uma camada de 1 a 3 metros de assembleia platino-
paladífera em corpos máficos e ultramáficos bandados, é alvo de definições e atualizações a
partir da estratigrafia, petrografia dos constituintes da paragênese mineral e química (Todd et
al., 1982; Corson et al., 2002). Neste caso, Corson (et al.,2002) utilizou a metodologia de
compartimentações de pacotes Hangingwall e Footwall e seus elementos e relatou
dificuldades no reconhecimento, uma vez que a estratigrafia isolada não responde os
questionamentos da problemática.
Em Witswatersrand, Minter (1976) utilizou-se da metodologia de definição por pacotes
de topo e base na definição Vaal reef, Central Rand, um corpo mineralizado com a associação
17
ouro-urânio-sulfetos e, que a partir de dados de estratigrafia, estrutural, mineralogia e
petrologia apontou possíveis implicações genéticas. Por apresentar semelhanças entre
objetivos, serve de base para o presente artigo.
Histórico da pesquisa de urânio em Jacobina e método de perfilagem radiométrica
Desde os primeiros trabalhos descritivos e genéticos a cerca das mineralizações auríferas da
Serra de Jacobina já se destacava a ocorrência de urânio nos reefs dos metaconglomerados da
Formação Serra do Córrego (Bateman, 1958; White, 1961; Gross, 1968; Lemos, 1974).
As pesquisas do urânio em depósitos do tipo conglomerados com seixos de quartzo
estão sempre associadas ao ouro, geralmente de forma subordinada, nos exemplos Jacobina e
Witwatersrand. Há controvérsias quanto a origem do urânio e de seu principal mineral: a
uraninita. Davidson (1957) levantou a impossibilidade da uraninita de paleoplacer e
contribuição exclusiva de granitos, White (1961) corrobora com o modelo hidrotermal em
Jacobina. Smith e Minter (1980) e Robb et al., (1997) defenderam processos sedimentares na
sua gênese em paleoplacer na bacia sulafricana, e ainda Frimmel et al. (1999) relataram a
presença de uraninitas detríticas em lâminas de seção delgada.
Lemos (1974) realizou diversas seções cintilométricas em garimpos, mina de
Canavieiras, testemunhos de sondagem e amostras de mão provienientes da Formação Serra
do Córrego e constatou a associação das anomalias uraniníferas com os estratos irregulares de
metaconglomerados ricos em ouro e pirita, por vezes uma correlação U-pirita mais
significativa que a U-Au. Identificou a uraninita associada a estratos de metaconglomerados e
a torbenita a quartzitos.
O cintilômetro espectral de raios gama é um detector que consiste de um contador de
cintilação e um fotomultiplicador. O primeiro é constituído de um cristal de iodeto de sódio
que gera um feixe de fótons ao ser estimulado por raios gama, enquanto o segundo coleta e
armazena esta emissão, que será inferida em forma de energia, num intervalo de tempo. Os
elementos radioativos possuem um intervalo de energia correspondente a tal emissão, que no
caso do urânio equivale a 1,76 MeV.
A perfilagem por raios gama tem sua aplicação comum à exploração e pesquisa na
geologia de petróleo, com intuito de identificar e quantificar camadas e volumes de xisto,
qualificar tipos de minerais argílicos ou indicar fraturas. O método também é utilizado na
exploração mineral na prospecção de mineralização de urânio, a partir de perfilagem ou
modelagem espacial.
18
CAPÍTULO 3
ARTIGO
Modelo descritivo das mineralizações auríferas relacionadas ao corpo de minério
“Unidade Superior” no alvo Jacobina-SE, Bahia e implicações genéticas Descriptive model of the gold mineralization of the “Upper Unit” orebody in the target
Jacobina-SE, Bahia and genetic implications
Aldo Perroni de Queiroz
1, Reinaldo Santana Correia de Brito
1
1Instituto de Geociências - Universidade Federal da Bahia, Rua Barão de Jeremoabo s/n, 40170-290, -
Ondina, Salvador - BA
([email protected], [email protected])
Resumo
O depósito de ouro do alvo Jacobina-SE consiste de uma mineralização do tipo Au-U em
conglomerados de seixos de quartzo, da Formação Serra do Córrego, Grupo Jacobina. Este
trabalho apresenta o modelo descritivo do corpo de minério Unidade Superior da formação
supracitada. Foram realizados estudos de afloramentos, seções em garimpos, espacialização
cartográfica das informações, petrografia e análise por cintilometria de U. Os resultados
obtidos permitiram definir uma mineralização de ouro tipo reef, tendo como principal
característica o tamanho de seixos pequenos, muito pequenos e médios, que tem em seu topo
quartzitos com estruturas tipo espinha de peixe e na base um pacote de quartzito com seixos
médios a grandes. O pacote mineralizado é formado por 20 lentes de metaconglomerados bem
empacotados, em uma espessura total de 55 metros. A paragênse mineral consiste de fuchsita,
sulfetos, sericita, turmalina e hematita associadas a fraturas e falhas, veios de quartzo e ouro
dendrítico visível. Apresenta de assinatura de U radiométrico. Falhas do tipo strike-slipe
sinistrais de direção ENE-WSW deslocam o reef para oeste, falha N350 associada a minerais
de alteração hidrotermal, enquanto outras falhas ortogonais completam um sistema de cunhas
estruturais. Antigas cavas de garimpos ocorrem ao longo do reef em pontos de intensa
alteração hidrotermal e meteorização, próximo a falhas ENE-WSW, revelando uma possível
influência direta na mineralização. Correlação estratigráfica sugere duplicação por falha das
sequências de reefs no vale da Grotinha. Na petrografia dos litotipos observa-se a
superposição de reações de alteração hidrotermal e estruturas sedimentares e hidrotermais.
Por fim, o reef Unidade Superior possui características geológicas e metalogenéticas para ser
reconhecido e definido no depósito Jacobina-SE e apesar de reconhecer o modelo de placer
para a mineralização, com os dados apresentados, sugere-se uma correlação entre estruturas,
alterações hidrotermais e meteóricas e paragênese mineral para sua gênese.
Palavras-chave: Depósitos auríferos, Jacobina-SE, reef Unidade Superior
Abstract
The Jacobina-SE gold deposit is a Au-U type mineralization in quartz pebble conglomerates
of the Serra do Córrego Formation, Jacobina Group. This work shows the descriptive model
of the Upper Unit orebody. Studies of outcrops, geological sections in digging pit,
cartographic spatialization of information, petrography and scintillometric analysis of element
U were performed. The obtained results allowed us to define a reef gold mineralization with
19
small, very small and medium pebbles, which has in its top fishbone structures-quartzite and
medium to big pebbles quartzite in the base. The mineralized package consists of 20 well-
packaged metaconglomer lenses, with a total thickness of 55 meters. The mineral paragenesis
consists of predominant fuchsite, sulfides, sericite, tourmaline and hematite associated with
fractures and faults, quartz veins and visible dendritic gold. Presents radiometric U-signature.
ENE-WSW strike-slipe faults shift reef west, fault N350 associated with hydrothermal
alteration minerals, while other orthogonal faults complete a system of structural wedges. Old
gold digs occur along the reef at points of intense hydrothermalism and weathering, near
ENE-WSW faults, revealing a possible direct influence on mineralization. Stratigraphic
correlation suggests fault duplication of the reefs sequences in the Grotinha Valley.
Overlapping hydrothermal alteration reactions and sedimentary and hydrothermal structures
are observed in petrography. Finally, the Upper Unit reef depicts geological and
metallogenetic features that allowed us to correlate with other occurrences in
metaconglomerates with the same stratigraphic position in the south of Jacobina belt. Despite
the hypotheses that the placer genetic model could be applied, with the data presented, we
would like to suggest a correlation between structures, hydrothermal and meteoric alterations
and mineral paragenesis for its genesis.
Keywords: Auriferous deposits, Jacobina-SE deposit, Upper Unit reef
INTRODUÇÃO
O histórico mineiro da Serra de Jacobina se confunde com o crescimento civilizacional da
cidade homônima e região. Desde o século XVIII, as primeiras atividades garimpeiras já eram
desenvolvidas. A partir do século XX, mineradoras de grande porte se instalaram a 12
quilômetros a sul da cidade, e atuaram nos três principais alvos da sequência intercalada de
metaconglomerados e quartzitos da Formação Serra do Córrego no grupamento mineiro de
Jacobina: Canavieiras, Morro do Vento e João Belo. Atualemente, pesquisas exploratórias são
desenvolvidas nos morros do Cuscuz, da Lagartixa e Serra do Córrego pela YAMANA Gold,
que registrou uma produção de mais de 140.000 onças no ano de 2018.
O Morro do Cruzeiro (depósito Jacobina SE), localizado mais a norte do grupamento
mineiro serrano, representa uma continuidade isolada por uma falha que deslocou os
quartzitos da Formação Rio do Ouro, unidade sotoposta à Formação Serra do Córrego,
mapeada por Madureira (2018) no Morro da Viúva. Unidade basal do Grupo Jacobina, a
Formação Serra do Córrego hospeda a mineralização do tipo em metaconglomerados
(Teixeira et al., 2001) que foram denominados reefs em absorção do modelo de
Witswatersrand (África do Sul), referência mundial de depósitos auríferos-uraniníferos de
conglomerados com seixos de quartzo. Sendo um horizonte estratigráfico bem definido, com
características litotípicas e paragênese mineral específica, continuidade e regularidade, além
de teor de minério típico, reef é uma unidade metalogenética que ficou sacramentada no
Merensky reef do Complexo Bushveld na África do Sul (Vermaak et al., 1974; Kruger e
Marsh, (1985); Kinloch e Peyerl, 1990; Prichard et al., 2004), apropriada para outros
depósitos como Stillwater nos Estados Unidos (Todd et al., 1982; Irveine et al., 1983; Corson
et al., 2002) e Witswatersrand (Minter et al., 1976; Catuneau et al., 2001; Large et al., 2013).
No Cinturão de ouro da Bahia (Pearson, et al 2005), a nomenclatura dos reefs, bem como dos
litotipos muitas vezes está relacionada ao intervalo do tamanho de seixo do conglomerado
protólito (tabela 3.1).
20
Tabela 3.1. Classificação de metaconglomerados da formação Serra do córrego (Pearson et
al., 2005). Tamanho < 4 mm 4 – 16 mm 16 – 32 mm 32 - 64 mm > 64 mm
Nome Very small pebble conglomerate
(conglomerado de seixos muito pequenos)
Small pebble conglomerate
(conglomerado de seixos pequenos)
Medium pebble conglomerate
(conglomerado de seixos médios)
Large pebble conglomerate
(Conglomerado de seixos grandes)
Very large pebble conglomerate
(conglomerado de seixos muito
grandes) Abreviação VSPC SPC MPC LPC VLPC
Ao longo da Formação Serra do Córrego, 12 reefs foram descritos (Pearson, et al.,
2005) com posições estratigráficas definidas. Este artigo visa obter o modelo descritivo do
reef Unidade Superior no depósito Jacobina SE (Morro do Cruzeiro), segundo modelos
previamente adotados para reefs do tipo Witswatersrand (Minter, 1976; Cox et al.,1986), em
escala de corpo de minério no (s) Sistema (s) Mineral (is) de Jacobina.
GEOLOGIA REGIONAL E CONTEXTO TECTÔNICO
A geologia da Serra de Jacobina tem suas origens diretamente atreladas ao contexto de
estabilização do Cráton do São Francisco e a colagem paleoproterozoica dos blocos arqueanos
principais, em um trend N-S de colisão (figura 3.1). Na região da serra, no setor norte, o
Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá cavalgou acima dos constituintes supracrustais do Bloco
Gavião. As unidades correspondentes aos metassedimentos e à sequência
metavulcanossedimentar, dos respectivos Grupo Jacobina e Greensone Belt Mundo Novo
foram deslocadas em vergência para oeste. A colisão nucleou uma grande zona de sutura
NNE chamada lineação Contendas-Jacobina, com mais de 500 km de extensão relacionada a
intensa granitogênese (Sabaté et al. 1990) e estruturações de dobramento.
Figura 3.1. Principais unidades geotectônicas do CSF na Bahia. Modificado de Reis et al.
(2017), adaptado de Barbosa (1997), Barbosa et al. (2012), Sabaté et al. (1990) e Teixeira et
al. (2001).
O evento de colisão referido promoveu a convergência, amalgamação e cavalgamento,
na seguinte sequência E-W: paragnaisses não-granadífereos e kinzigitos, calcissilicáticas e
quartzitos do Complexo Saúde compõem o embasamento leste da serra (Melo et al., 1995;
Leite, 2002); a sequência metavulcanossedimentar associada a corpos máficos e ultramáficos
21
em metamorfismo xisto verde típica do Greenstone Belt Mundo Novo (Mascarenhas et al.,
1998); os metassedimentos psamíticos e pelíticos do Grupo Jacobina, sobre o qual, será
utilizada a estratigrafia de Molinari e Scarpelli (1987); o terreno TTG com enxame potássico
e sob alteração hidrotermal.
A estratigrafia do Grupo Jacobina (Molinari e Sacarpelli, 1987) é composta por
metassedimentos clásticos, introduzidos por rochas ígneas básicas. A estratigrafia, segundo
Molinari e Scarpelli, (1987), é composta da base (W) para o topo (E) por Embasamento da
Serra de Jacobina, Formação Serra do Córrego, Formação Rio do Ouro e Formação Cruz das
Almas.
Embasamento
É formado por gnaisses, intrusivas graníticas e faixas compostas de rochas
metavulcanossedimentares. Seu contato com a Formação Serra do Córrego é uma
descontinuidade tectônica com forte deformação dúctil e rúptil, associada a veios de quartzo e
zona de cisalhamento associada a xistos e cataclasitos do tectonofácies brecha caótica de
Jacobina (Milesi et al., 2002).
Formação Serra do Córrego
É uma intercalação de lentes bem definidas de quartzitos e metaconglomerados oligomíticos,
com uma espessura total de 250 a 1.000 metros. As lentes metaconglomeráticas podem
apresentar variedades de tamanho de seixo e empacotamento. Observa-se estruturas de
granodecrescência para topo e a matriz é geralmente composta por fuchsita, pirita, zircão e
ouro. As lentes de quartzito da Formação Serra do Córrego tem granulometria grosseira,
apresentam matriz pouco alterada, fuchsítica ou oxidada e estruturas primárias de
estratificação em espinha de peixe, estratificação plana e acanalada.
Formação Rio do Ouro
Consiste numa unidade geológica constituída por quartzitos finos, com raros níveis xistosos,
num total de 2000 metros de espessura. Apresenta estruturas de estratificação plano-paralela.
A sequência é cortada por falhas associadas com metamáficas e metaultramáfica e veios de
quartzo com pirita e ouro.
Formação Cruz das Almas
Consiste em uma unidade geológica com uma sequência específica de (i) conglomerado com
seixos de quartzitos, frequentemente agulosos, em uma espessura total de 2. 000; (ii)
quartzitos finos a médios; iii) filitos e sedimentos químicos, ferríferos e magnesíferos.
Rochas máficas e ultramáficas
Corpos concordantes e discordantes aos metassedimentos das unidades anteriores. São rochas
como metaperidotitos, anfibolitos e clorita-xistos, quando muito alteradas. Geralmente estão
associadas a um horizonte de laterização nos vales da serra. Apresentam mineralizações
erráticas quando cortam níveis metaconglomeráticos específicos.
Por toda a Serra de Jacobina, as mineralizações apresentam características específicas
que são preponderantes para classificar e agrupá-las, associando a (os) Sistema (s) Mineral
22
(is) de ouro em Jacobina. É majoritariamente aceita a classificação de Teixeira et al., (2001),
de acordo com a rocha hospedeira. As classes estão representadas na tabela 3.2. Neste estudo,
o corpo de minério está inserido no grupo 1, na Formação Serra do Córrego.
Tabela 3.2. Tipos de mineralizações auríferas na serra de Jacobina segundo rochas
hospedeiras (modificado de Pearson et al.,2005). Grupo Rocha Hospedeira Minerais de Ganga Sulfetos
1 Metaconglomerados e quartzitos
Quartzo, sericita, fuchsita, rutilo, andalusita, cromita,
turmalina e zircão
Pirita e Pirrotita
2 Metagabro e metadiorito Biotita, sericita, fuchsita, turmalina e zircão
Pirita
3 Metaperidotito e metapiroxenito
** Pirita e arsenopirita
4 Quartzito Quartzo, sericita, fuchsita, rutilo, andalusita, cromita,
turmalina e zircão
Pirita
5 Metavulcanossedimentares Quartzo Pirita
MATERIAIS E MÉTODOS
A metodologia adotada neste trabalho divide-se nas seguintes etapas: (i) Levantamento
bibliográfico; (ii) Mapeamento em campo; (iii) Análise radiométrica; (iv) Análise estrutural;
(v) Petrografia; (vi) Elaboração do manuscrito final.
Na etapa de mapeamento em campo foram realizados trabalhos de campo em 4 etapas.
Absorvendo as experiências de metodologia de Feitosa (2017) e Madureira (2018) tais etapas
foram focadas em 3 seções E-W ao longo do corpo de minério na extensão do Morro do
Cruzeiro que oferecem as melhores exposições. O furo de sondagem supracitado JSE-01 foi
descrito. Utilizou-se o modelo descritivo de Cox et al., (1986) para conglomerados auríferos-
uraniníferos com seixos de quartzo e o modelo de compartimentação de descrição por Minter
et al., (1976), onde o corpo de minério estratiforme é subdividido em zonas de Hangingwall,
reef sensu-strico e Footwall, as quais abrangem elementos que identificam limites
estratigráficos do corpo de minério. Nesta etapa, foram adquiridas imagens aéreas do Morro
do Cruzeiro com o drone Phantom 3 Standard.
Foram coletados 51 pontos de análise quantitativa radiométrica através do cintilômetro
portátil Gamma Surveyor II, do tipo detector espectral de raio gama, no intuito de caracterizar
o corpo de minério no fator anomalias de U (ppm), sua relação com o ouro e com as
alterações hidrotermais. Utilizou-se o intervalo de obtenção de dados de 1 minuto.
Realizou-se análise estrutural a partir de estereogramas produzidos pelo software
Stereonet 9, com a finalidade de relacionar as estruturas e suas distribuições geográficas com
a mineralização por todo o mapa.
Foram selecionadas 5 amostras correspondentes ao reef Upper Unity durante os meses
de abril a maio, visando complementar a descrição em escala microscópica. As amostras
foram selecionadas de acordo com a paragênese mineral de alterações hidrotermais (presença
de fuchsita, oxidação de sulfetos, sulfetos preservados, ouro), elementos deformacionais e de
estruturas primárias. As amostras foram serradas e foi realizada a confecções de lâminas
delgadas e polidas pelo laboratório de laminação da Universidade de Brasília. As lâminas
foram descritas e fotomicrografadas em microscópio binocular nos laboratórios de petrografia
da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral e na Universidade Federal da Bahia, onde foram
observadas: mineralogia, microestruturas e alterações hidrotermais, sendo a sucessão
hidrotermal baseada em Pearson et al. (2005).
Por fim, foram confeccionados mapas geológicos em software ArcGIS 10.3 e seções
geológicas em CorelDRAW 2018 e 2019 para a produção do manuscrito científico final.
23
RESULTADOS
Figura 3.2. Mapa geológico da área de estudo com foco no reef Unidade Superior no Morro
do Cruzeiro.
24
Figura 3.3. Estratigrafia do reef Unidade Superior no Morro do Cruzeiro com footwall e
hangingwall.
Pacote do footwall
O pacote do footwall do reef Unidade Superior foi observado na seção de exposição mais
completa, a seção central 2 da área de estudo, com aproximadamente 18 metros de espessura.
Consiste em um quartzito com seixos M e L, com um contato de base bem definido em lentes
mal selecionadas de seixos L e VL do reef Maneira, próximo ao garimpo Verde. É encontrado
nesta exposição com frequentes brechas e silicificação. Em seu topo, contato bem marcado a
base da Unidade Superior, composta por lentes de MLPC, de 0,5 a 1,5 metros, com intervalo
de quartzitos maior que 3 metros (Figura 3.3).
25
Pacote do reef sensu stricto
O pacote do reef consiste no geral de uma sequência 15 a 20 lentes de dezenas de centímetros
de espessura, algumas com até 1,5m, intercaladas com quartzitos, num total de 55 a 65
metros, numa extensão de 1,7 km no Morro do Cruzeiro (figura 3.2). Possui uma sequência de
quartzito com seixos M e L de 10 metros no centro de sua estratigrafia, observável tanto na
seção central como na seção da estrada (Figura 3.7), que separa outras duas sequências de
metaconglomerados, a de topo e a de base.
A sequência de base consiste em 5 a 7 lentes MLPC e MSPC, em granodecrescência
ascendente, com lentes SPC no centro. Cavas e exposições de tais lentes foram encontrados
nos pontos PC01 e PL04 (figura 3.2), porém a pequena dimensão da cava e a mineralogia
indicam irrelevância para a mineralização. Os quartzitos entre lentes variam de 2 a 7 metros.
A sequência de topo consiste em 7 a 9 lentes de metaconglomerados de seixos S, VS e
M, empacotadas a bem empacotadas. As lentes do topo da sequência apresentam-se com
continuidade e regularidade (PL01, PL02, PL03, PL11, PL16, PL21, PL23), por vezes
duplicadas por estratigrafia (PL01- Figura 3.7) ou estruturas (PL02- Figura 3.8). Exibem uma
lente principal de 0,9 a 1,5 metros mineralizada, alvo dos garimpos, que constitui guia. Essa
Uma camada com seixos SM bem empacotado e topo em seixos VS mal empacotado, e ocorre
tanto na seção da estrada (L3) como na galeria da Grotinha (L7).
Os metaconglomerados verdes são consequência da presença da fuchsita na matriz, com
hematita, goethita e limonita em registros de alteração hidrotermal de oxidação e
meteorização, associados a falhas e fraturas locais, além de presença de pirita, calcopirita e
esfalerita, que serão melhor descritas no tópico da petrografia. Ocorrem veios de quartzo
discordantes as camadas. A fuchsita ocorre predominante na matriz, porém sua cor pode ser
desvanecida pelo aumento da frequência de hematita, resultado da alteração hidrotermal de
oxidação na matriz. O mesmo efeito pode ocorrer com os sulfetos (pirita, calcopirita e
esfalerita), registrando uma cor típica ferruginosa de tal reação (figura 3.4). A pirita ocorre ao
redor dos seixos ou em estruturas rúpteis tipo fratura de seixos e brechas na matriz.
Figura 3.4. Lente de SMPC com cor típica de oxidação de sulfetos associada a fratura na
Cava poço do Dionísio.
26
Observam-se estruturas de estratificação cruzada tipo espinha de peixe, sobretudo nos
quartzitos intrareef, So mergulhando 60 a 65 graus para leste, seixos com estruturas em
vetifacto, além de famílias de falhas penetrativas lístricas com caráter rúptil-dúctil,
milonitização e cataclase de minerais, S-C’s reversas e normais, fraturas, cunha de falhas e
fraturas, seixos fraturados e brechados que serão melhor descritos no tópico de estruturas.
Pacote do hangingwall
O hangingwall do Unidade Superior é composto por quartzitos do topo da Formação Serra do
Córrego, com estruturas em espinha de peixe de médio porte e registro de alterações
hidrotermais marcadas pela presença de fuchsita (figura 3.5), e a oxidação associada a
estruturas de N350, observada na seção de estrada. As melhores exposições ocorrem tanto na
seção norte (1) como na seção central (2). Segundo Molinari e Scarpelli (1987), este pacote
apresenta 170 metros de espessura nos principais morros a sul de Jacobina.
Figura 3.5. Estrutura em espinha de peixe no hangingwall do reef Unidade Superior. Marreta
de aproximadamente 50 cm.
Perfis geológicos
Foram elaborados 5 perfis geológico estruturais, onde ocorrem halos de alteração hidrotermal.
De acordo com a ocorrência de minerais correspondentes a esses halos, são apresentados halo
do urânio, confirmados pelos resultados da radiometria cintilométrica realizada nas seções
estudadas. As seções foram realizadas nas principais áreas de exposições, a saber: seção da
estrada (PL01), Cava poço do Dionísio (PL02) – reconhecido por Feitosa (2017) como
“garimpo Manoel dos Santos”, Cava da bússola (PL03), seção central (galeria da Grotinha –
PL16, Cava da brechinha – PL18, Cava de da vertigem – PL23) e seção Grotinha-Serrinha
(PL17).
Foram perfiladas medidas pontuais de assinaturas radiométricas de urânio com a
metodologia descrita neste artigo. O background foi aferido com a assinatura de 1,8 a 2 ppm
em 6 amostragens de 3 diferentes afloramentos de quartzitos brancos da Formação Rio do
Ouro sem registro de alteração hidrotermal.
27
Seção norte (seção da estrada e poço do Dionísio)
A seção da estrada e o poço do Dionísio compõem a geologia do setor norte da área de estudo
em uma distância de 520 metros. A área noroeste do Morro de Santo Antônio, no qual os dois
estão contidos, apresenta lineamentos aproximadamente N-S e E-W. O corte de estrada tem
uma orientação N060º-240º, representado em mais de 60 metros, enquanto a Cava do poço do
Dionísio, com aproximadamente 60 m³, próximo a um pequeno vale E-W, localmente
limitado por duas falhas de mesma orientação na face norte e na face sul.
Estratigraficamente, as lentes do topo foram correlacionadas por apresentarem a maior
espessura em relação às outras da vizinhança. Na seção da estrada as lentes apresentam 30
centímetros (L8 e L9) e 1,5 metros (L10), amalgamadas pela estratigrafia, enquanto no poço
do Dionísio apresentam 60 centímetros (L3, L4 e L5), amalgamadas por duas falhas N350 de
diferentes mergulhos e cortadas por falhas de retroempurrão. Nas proximidades da seção da
estrada, garimpeiros da região relataram presença de antiga cava, enquanto no poço do
Dionísio a cava foi aberta na direção N-S, a seguir os estratos referidos. Outra característica
marcante nas lentes do topo é a intensidade das principais alterações hidrotermais. Ambas
apresentam o padrão do halo da fuchsita maior, a oxidação/hematitização e a sulfetação mais
restrita, além da cor típica marrom de sulfeto oxidado (Figura 3.4).
As falhas N350º na seção da estrada ocorrem como intraestratais e subconcordantes,
apresentam estruturas em S-C com indicativo reverso com reativação normal, enquanto no
poço do Dionísio formam um sistema de cunhas que duplicam o quartzito e delimitam a
geometria dos halos de alteração hidrotermal (Figura 3.6).
Figura 3.6. Poço do Dionísio com sistema de cunhas esquematizadas na figura 3.8. Marreta
de aproximadamente 1m, visada para sul.
28
Figura 3.7. Seção esquemática da estrada (PL01) e suas principais estruturas. A) Seção geológica da estrada com estruturas e halos de alteração
hidrotermais; B) Foto da face norte do Morro de Santo Antônio correspondente ao perfil. C) Diagrama de rosetas e isodensidade polar da família
de falhas N350; D) Diagrama de rosetas e isodensidade polar da família do retroempurrão.
A
B
C
B
C
D
29
Os perfis de urânio registram picos positivos coincidentes com os de conglomerados nas
lentes do topo e nas falhas. Na seção da estrada, os picos cintilométricos (> 4 ppm) proximais
ao pacote do reef se encontram na falha com milonitização (falha F5), na lente de
metaconglomerado SVSPC de maior intensidade de alterações hidrotermais (lente L9) e na
lente SVSPC fuchsítica associada a falha com milonitização (falha F3). Os pontos de mais
baixa assinatura encontram-se em quartzito fuchsítico entre as lentes L6 e L7 e na lente L1
SMPC. Na seção do poço do Dionísio, os picos de assinatura correspondem às lentes de
SMPC fuchsítico (lente L2) e SVSPC com fuchsíta (lente L4) em oxidação (6,46 ppm) e rara
oxidação (9,00 ppm). Teores abaixo de 4ppm de Uranio foram detectados nos quartzitos
situados intrareef, enquanto um teor de 1,66 ppm foi aferido em afloramento de quartzito sem
alteração a 12 metros da cava.
Figura 3.8. Seção esquemática do poço de Dionísio (PL02) e suas principais estruturas. A)
Seção geológica da estrada com estruturas e halos de alteração hidrotermais; B) Diagrama de
rosetas e isodensidade polar da família de falhas N350; C) Diagrama de rosetas e
isodensidade polar da família do retroempurrão.
A
B C
30
Seção central (galeria da Grotinha, Cava de garimpo da brechinha, Cava de garimpo da
vertigem)
A seção central (Figura 3.9) é composta por um segmento N-S de aproximadamente 230
metros com 4 cavas de garimpo, com um deslocamento da Cava da brechinha (PL18) de 65
metros para leste. A área apresenta frequentes lineamentos estruturais ENE-WSW e ESE-
WNW, formando cunhas estruturais e feições losangulares na topografia, além de lineamentos
N-S e NNW-SSE. A cava mais a norte foi fotointerpretada por ortofoto reduzido do drone e a
Cava da vertigem (PL23) de aproximadamente 100 m³ é delimitada por uma falha N250º/60º
e outra ESSE-WNW. A Cava da brechinha (PL18), mais a sul, contém aproximadamente 140
m³ e é delimitada por falhas N-S e ENE-WSW.
Figura 3.9. Seção central da área de estudo.
As camadas descritas nas cavas são estratigraficamente correlacionáveis por
apresentarem uma lente bem regular de 1,7 metros, SMPC/VS, com muita fuchsita, sulfetação
e oxidação na matriz, além de lentes SVS periféricas estéreis e com raros registros de
alteração hidrotermal. A falha N350º juntamente com a So delimitam as cavas e são
concordantes entre si.
Floco de ouro livre submilimétrico, associado a brecha (Figura 3.10 B) com leve
orientação das fraturas e sutura de hematitas amorfas, seixos brechados e cominuídos (Figura
3.10 A) foi detectado na Cava da brechinha. Esta cava destaca-se por apresentar uma
profundidade de 10 metros em sua fração mais lavrada e uma marcante cor de oxidação de
sulfetos. Dados de teor referentes a tal cava foram cedidos pelo geólogo Ângelo Amorim Neto
em comunicação pessoal e estão listados na tabela 3. De acordo com tais dados, o topo da
lente tem uma média de 4,93 g/ton, o 1º metro a topo 1,28 g/ton, enquanto a base da lente 5,8
g/ton.
31
Figura 3.10. Feição estrutural na Cava da brechinha e ouro associado. A) Brecha hidrotermal
bem definida, com fraturas orientadas, hematitas e limonitas na sutura; B) Feição anterior em
zoom, pinta de ouro em bloco com arestas bem definidas de matriz fuchsítica.
Tabela 3.3. Análises com teores na lente principal da cava da brechinha cedidas pelo geólogo
Ângelo Amorim Neto. Local de amostragem Teores
Topo da lente mineralizada 9,2 g/ton (50 cm); 1,2 g/ton (35 cm); 4,4 g/ton (50 cm) 1º metro a topo de lente mineralizada 1,6 g/ton (50 cm); 2,6 g/ton (32 cm); 1,8 g/ton (42 cm); 0,5
g/ton (35 cm); 0,4 g/ton (40 cm); 0,8 g/ton (20 cm) Base da lente mineralizada 5,8 g/ton (50 cm)
A sequência do Unidade Superior encontra-se duplicada por falha de retroempurrão e a
exposição previamente citada nos resultados apresenta topo bem marcado do reef Maneira,
com seixos L e VL, a 85 metros do topo do reef em estudo.
A seção central apresenta estruturas de importância para o entendimento do corpo de
minério como um todo. Um padrão repetitivo de médias a grandes feições (drags de falhas)
de cinemática normal (Figura 3.10) foi observado em afloramentos (PL15, PC21 e PL22),
com deslocamentos de camadas a ponto de serem postas em mesma latitude de afloramento
lentes interpretadas como Unidade Superior e outras como Maneira, em um rejeito direcional
maior que 18 metros. A falha N245º foi interpretada como normal e apesar, de apresentar
regionalmente cinemática destral, na seção central apresenta falso deslocamento sinistral, aqui
justificado pelo deslocamento normal, que regionalmente colocam blocos baixos a norte
(figura 3.11) e localmente gerou um rejeito de 150 metros.
A sequência topo do Unidade Superior está bem definida na encosta leste do morro, na
galeria da Grotinha e no furo de sondagem JSE01, delimitada por uma falha (N350º/60º) com
drags indicativas de movimento reverso. Na galeria da grotinha, a base da sequência está
delimitada esta estrutura, seguida por pacotes de lentes métricas de MLPC e LMPC do reef
Maneira. Falhas N350º/60º paralelas a falha da grotinha discordam com os estratos em poucos
graus, apresentam estruturas em S-C com indicativo reverso e drags, associadas a hidróxidos
de ferro. As falhas são nucleadas nas lentes metaconglomeráticas, onde se estendem feições
de milonitização e catáclase, enquanto nos quartzitos são afetados pelas fraturas paralelas e
ortogonais, em geometria cúbica. Retroempurrões de grande porte cortam os diversos estratos,
além de estarem expostos em afloramento e associados a direção N165º.
A B
32
Figura 3.11. Feições estruturais observadas em diferentes escalas da face leste do Morro do
Cruzeiro e o Unidade Superior. A) Perfil longitudinal do Morro do Cruzeiro e garimpos do
Unidade Superior (perspectiva do Poço do Dionísio e seção da estrada correspondentes ao
Morro Santo Antônio); B) Sobreposição de falhas do mesmo sistema N245 normal com drags
na face leste do Morro do Cruzeiro.
A
B
33
Seção sul (seção das Cavas Tonico, Cal, Beto, Cava do Jaime e Cava da bússola)
A seção sul da área de estudo é representada por um segmento bem definido
aproximadamente N-S de uma continuidade de Cavas de Tonico, Cal, Beto, Jaime e Cava da
bússola, sendo as três primeiras interligadas em uma única cava alongada a N-S de
aproximadamente 40 metros, bem descrita e esquematizada por Feitosa (2017), delimitada por
estruturas NE-SW a norte e NW-SE a sul. A Cava de Jaime, relevante por seus dimensões de
aproximadamente 300 m³, encontra-se estruturada por sistema de falhas de direção NW-SE e
50 metros a sul a Cava da bússola tem aproximadamente 60 m³.
Entre as Cavas de Jaime e da bússola, é possível correlacionar a lente lavrada de seixos
S e M, empacotada a bem empacotada, com espessuras de 1,7m e 0,8m respectivamente. As
demais cavas apresentam pacotes com granulometria de seixos semelhantes, matriz fuchsítica
e presença de chert (Feitosa, 2017). Nas cavas mais a norte, a falha N350 ocorre paralela a So
(N352º/62º) com sutura de veios de quartzo, como face leste na cava de Jaime e da bússola,
nesta última como espelho de falha bem regular, subvertical, que exibe silicificação.
A Cava da bússola (Figura 3.12) é delimitada por duas falhas da família N350 e
apresenta intensa zona de alterações hidrotermais de fuchsitização, sulfetação, oxidação e a
alteração argílica avançada nas principais lentes. A cor do corpo de minério nesta lente é
vermelha devido ao intemperismo e hidrólise dos minerais. Argilas vermelhas e amarelas
compostas por hidróxidos de ferro (goethita e limonita) estão associadas à confluência das
falhas N180º/85º (aqui anexada na família N350) e N090º/48º (Figura 3.12). Ouro visível
dendrítico ocorre em amostras de intensa oxidação. (Figura 3.13).
Figura 3.12. Seção esquemática da Cava da bússola (PL03) e suas principais estruturas. A)
Cava da bússola com estruturas e halos de alteração hidrotermal; B) Diagrama de rosetas e
isodensidade polar da família de falhas N350, família de falhas N330 e família de falhas
N090º/50º; C) Falha N180º-85º na Cava da bússola delimitando diferença de área com maior
tempo de exposição a atividade meteórica e área de recente exposição, pela retirada de
material por garimpeiros. Argilas amarelas e vermelhas.
B
C
A
34
A anomalia de urânio foi detectada na lente principal mineralizada (5,53 ppm), com um
gradiente de 3,76 ppm para a análise de menor teor – próxima ao background - em lente
estéril (L1). Dentro da lente L3, duas medidas foram aferidas em afloramento preservado das
argilas do halo argílico-avançada (5,53 ppm) e com influência do halo (3,91 ppm). A medida
mais distante em quartzitos pouco alterados (Q1) foi obtida a 18 metros da cava.
Figura 3.13. Amostras de mão com flocos de ouro livre da Cava da bússola. A) Ouro
dendrítico visível em face de fratura em amostra da cava da bússola; B) Ouro dendrítico
circundando seixo VS em amostra da cava da bússola; C) Ouro dendrítico em fraturas
ortogonais associado a hidróxidos de ferro em amostra da cava da bússola.
Petrografia
Foram realizadas descrições petrográficas em lâminas delgadas e polidas representativas das
principais exposições do reef Unidade Superior, a saber: seção da estrada (AQ007), poço do
Dionísio (AQ024 e AQ028) e galeria da Grotinha (AQ060 e AQ062). Procurou-se selecionar
porções da matriz das amostras para caracterização microscópica da paragênese mineral do
corpo de minério, além da compreensão das relações entre as alterações hidrotermais.
Descrição geral
As lâminas em geral apresentam uma composição de 30 a 40% seixos, que variam de 2 a 10
mm, com maior frequência de seixos VS (<4 mm), de composição de quartzo e chert
subordinadamente. A matriz é arenosa e quartzosa, com uma composição modal de 10 a 15%
de soma de minerais nos interstícios dos grãos e seixos de quartzo.
Observa-se geralmente a presença de seixos em ventifacto (feição de erosão eólica) com
face convexa. Textura de minerais opacos em corrente ou em cúspides entre seixos são
observadas (Figura 3.14 D). As lâminas AQ09 e AQ62 apresentam texturas de cominuição em
gradiente de granulometria de até 10x em grãos de quartzo na matriz (0,05 mm), associadas à
cominuição semelhante de fuchsita e fraturas e estruturas em S-C. As amostras localizam-se
próximas a grandes falhas com cominuição (AQ09 a F3 da seção da estrada e a AQ62 a
fraturas com drusas de quartzo na galeria da Grotinha). Fraturas anastomosadas cortam o
seixo, com sutura de quartzo e por vezes limonita ou hematita e sulfetos em fraturas de
segunda ordem (Figura 3.14 E,F ). Observa-se ainda seixos com arestas e vértices bem
definidas. Na tabela 3.4 estão identificadas as principais características de cada mineral.
A B C
35
Figura 3.14. Fotomicrografias de lâminas delgadas e polidas das amostras referentes ao reef
Unidade Superior. A) Cominuição e concentração de grãos de fuchsita associados a grandes
grãos do mesmo mineral; B) Seixo de quartzo com arestas bem definidas cravado em seixo de
chert com fraturas associadas (laranja = limites do seixo de quartzo; verde-limão = limites do
seixo de chert; C) Reação para goethita em vênulas orientadas na matriz bordejando os seixos
de quartzo. Zircão na matriz no centro da imagem; D) Piritas, calcopiritas e esfaleritas em
textura de corrente na matriz em contato com fuchsita; E) Calcopirita em reação para covelita
azul e malaquita verde. Limonitas de reação em vênulas; F) Ouro livre associado a campo
com piritas em reação para limonitas em vênulas.
C D
E F
A B
36
Tabela 3.4. Resultados da descrição petrográfica dos minerais. Mineral Descrição microscópica
Quartzo Hábito granular, subdioblástico, de 0,1 a 0,5 mm, extinção ondulante e contato reto a serrilhado com a fuchsita.
Rutilo Creme escuro, castanho amarelado, prismático,na matriz, fraturado Zircão Incolor, granular, submilimétrico, na matriz, fraturado
Fuchsita hábito micáceo, subdioblásticas a idioblásticas, de 0,01 a 0,1 mm, até 0,8 mm em estruturas, textura decussada, ocorre na matriz, reação para limonita nas bordas
Pirita prateada, cinza creme, euédrica (marjoritariamente) e arredondada, submilimétrica, por vezes a 1 mm, ocorre na matriz ou em fraturas no seixo, fraturada e reação para goethita e limonita nas bordas
Calcopirita amarelo-ovo, euédrica e arredondada, de 0,1 a 0,5 mm, ocorre na matriz, fraturada, em reação para covelita e malaquita
Esfalerita cinza, euédrica, 0,1 mm, ocorre na matriz, fraturada, em alteração para hematita Hematita cinza claro, romboédrica, xenobástica, 0,2 mm, reação para limonita e goethita nas
bordas Especularita prateado com iridiscência, lamelar, intenso brilho, na matriz
Goethita amarela a laranja, amorfa, xenoblástica, submilimétrica, produto de reação da hematita detrítica, da pirita e fuchsita
Covelita azul com iridiscência rosa, amorfa, sibmilimétrica, produto de reação na clivagem da calcopirita
Malaquita verde, amorfa, submilimétrica, produto de reação da calcopirita
INTERPRETAÇÃO PETROGRÁFICA
Tabela 3.5. Quadro paragenético de alterações hidrotermais e modais de petrografia.
De acordo com as paragêneses minerais e as características microscópicas foi possível
identificar paragêneses singenéticas e epigenéticas, estas últimas relacionadas a alterações
hidrotermais. A tabela 3.5 expõe a composição modal dos minerais em matriz em cada
amostra.
Quart
zo
Rutil
o
Pirita
Calc
opirita
Esfa
lerita
Zircão
Ouro
Pirita
Calc
opirita
Esfa
lerita
Hem
atit
a
Covelit
a
Especula
rita
Ouro
Liv
re
Goeth
ita
Mala
quita
Ouro
Liv
re
Quartzo X
Chert X
85 <1 <1 10 <2 1
Quatzo X
Chert X
85 <2 11 <2 <1 <2
Quartzo X
Chert X
85 <1 <2 <1 9 <1 <2 <1 <1 <1 <1
Quartzo X
Chert X X
90 7 <1 <1 <1 <1 <1
Quartzo X
Chert X
85 <1 10 <2 <1 <1 <2
Quartzo X
Chert X
X X X X
Quartzo X
Chert X
X X X X X
AQ062L2
(base)
PL16
L5 AQ024
L3/L4 AQ028
L1/L2 AQ060
PL02
Seixo
Argílica
avaçada
Paragênese Hidrotermal
Seixo
Matriz
Matriz
Matriz
Oxidação
Minerais detríticos
Matriz
Matriz
Seixo
Seixo
Seixo
Matriz
Fuchsiti
zação
Seixo
PL18
Matriz
PL03
L
Principal
L3(Descrição
macroscópica)
AQ096
(Descrição
macroscópica)
Sulfetação
Aflo
ram
ento
Lente Disposição na
amostra
Seixo
PL01
Amostra
AQ009L7
37
Observa-se que as reações de oxidação sobrepõem-se as de sericitização (fuchsita) e
sulfetação, ao passo que as reações da alteração argílica são subsequentes. A amostra AQ009
é a representante de maior preservação às reações mais avançadas, corroborando sua
disposição macroscópica, fuchsítica, próximo a falha (F3) associada a fuchsitização e
silicificação. As amostras AQ028 e AQ060 apresentaram mais intensa alteração de sulfetação,
enquanto a amostra AQ062 apresentou avanço das alterações hidrotermais, visto também
macroscopicamente.
As amostras macroscópicas com ouro representam estágios distintos da alteração. A
AQ096 apresenta brecha hidrotermal de oxidação, enquanto as amostras em PL03 apresentam
paragênese de alteração argílica avançada.
DISCUSSÃO E IMPLICAÇÕES GENÉTICAS
A partir dos resultados de compartimentação estratigráfica, geologia estrutural, geometria e
dimensão dos halos de alterações hidrotermais e assinatura radiométrica de urânio serão
discutidos a seguir os aspectos mais relevantes e suas implicações genéticas.
Estratigrafia
As exposições do Unidade Superior no Morro do Cruzeiro são limitadas e, aparentemente,
apenas a seção central apresenta a sequência por completo. Observa-se uma estrutura da
família da Falha da Grotinha na base da sequência superior do Unidade Superior (na seção da
estrada e na seção central), além da frequência de lineamentos fotointerpretados. Não é
descartada a possibilidade da Falha da Grotinha ser reativada e ter provocado uma duplicação
do reef no Morro do Cruzeiro.
Geologia estrutural
A falha N350º ou Falha de Grotinha ocorre em todas as cavas associada a algum tipo de
alteração hidrotermal. Na seção sul, é observada em todas as cavas de garimpo e coincide
espacialmente com o lineamento destas. Este padrão é observado também mais a nordeste no
Morro do Cruzeiro, nas cavas do Paraíba, Loro Norte e Loro Sul. Uma associação da falha
com a mineralização de ouro epigenético é sugerida, interpretada como um conduto de fluidos
que foi barrado quando interceptou estruturas ortogonais como a N90/50 na cava da Bússola.
Alteração hidrotermal
Em geral, observou-se o halo da fuchsitização com maior expressividade e extensão, em
aumento gradativo na direção ao vale da Grotinha. A sulfetação tem sua geometria restrita às
principais lentes metaconglomeráticas, enquanto o halo da oxidação acompanha estruturas
secundárias e desvanece os registros dos outros halos na matriz. Tais registros sugerem uma
contribuição da ultramáfica do vale da Grotinha para o Cr nas micas, além do Cu nos sulfetos
euédricos (calcopirita) e minerais produtos de oxidação destes (malaquita e covelita), como
observados nas lâminas AQ28 e AQ60, em lentes mineralizadas mais próximas ao vale.
Radiometria de Urânio
Nos perfis esquemáticos, o halo de urânio está associado a falhas e fraturas. Fertl (1979)
sustenta a causa de alta radioatividade de urânio em fraturas e falhas na mobilidade do U+3 e
presença de água.
38
As anomalias cintilométricas estão relacionadas às lentes metaconglomeráticas, fato
que foi afirmado por Lemos (1974) em estudo de perfilagem cintilométrica na serra de
Jacobina.
Em duas exposições, Cavas poço do Dionísio e da bússola, foi registrado decréscimo >
1,5 ppm entre dois pontos aflorantes de uma mesma lente mineralizada na proximidade ao
halo da oxidação, o que pode ser explicada pela dispersão secundária de urânio pelo halo de
oxidação. Observa-se aqui a necessidade de maior quantidade de dados para reafirmar esta
hipótese.
Modelo genético
Segundo Cox & Singer (1986) o ouro de paleoplacer tem o controle típico de mineralização
na base de camadas de conglomerados depositados em superfície de erosão, enquanto uma
evidência de remobilização seria a tendência a concentração no topo das camadas (Gross,
1968). Com os dados antigos de teores na Cava da brechinha, apesar de poucos, observa-se
mineralização no topo da camada principal do reef (9,2 g/ton), assim como ocorre em outros
reefs nas minas de ouro do grupamento mineiro de Jacobina das mineralizações de ouro do
Unidade Superior, como o MU e o LU, sugerindo fonte epitermal de tal concentração.
A partir da ocorrência de ouro live do tipo flocos dendríticos, associados a argilas de
hidróxido de ferro observadas tanto na Cava da bússola como em diversas amostras da
petrografia sugere-se aqui a influência de laterização pretérita na gênese ou reconcentração da
mineralização. Evidências do processo supergênico na região são observadas em horizontes
lateríticos sobrejacentes a rochas ultramáficas do vale da Grotinha. Dissolução, transporte e
redeposição no processo da laterização foram sugeridos por Mann (1984) em Yilgarn Block
(Austrália), a partir de evidências de perfis de óxidos e hidróxidos de ferro gerados por
soluções ácidas, geralmente de origem granitogênica. A falta de um devido estudo de
caracterização quantitativa de pureza do ouro neste trabalho é uma lacuna na devida
interpretação quanto ao modelo de ouro supergênico.
CONCLUSÃO E RECOMENDAÇÕES
Os resultados obtidos neste trabalho confirmam que a metodologia foi adequada para os
objetivos de definição e modelo descritivo do corpo de minério Unidade Superior no depósito
Jacobina SE, na qual as seções E-W e a compartimentação estratigráfica possibilitaram a
correlação de dados e a melhor definição de elementos para definição do reef (tabela 3.6)
O reef Unidade Superior, já mapeado em outras regiões da Serra de Jacobina, também é
reconhecido no depósito Jacobina SE e possui características geológicas e metalogenéticas
para ser definido e proposto um modelo descritivo específico a cerca:
1. Sequência estratigráfica própria, com lentes-guia e típicas camadas com seixos S, VS
e M, alta frequência de seixos de chert, de matriz fuchsítica.
2. Calcopiritas e minerais de alteração com hidróxidos de cobre em sua composição.
3. Lente regular mineralizada no topo da sequência com espessura de 0,6 a 1,5 metros e
delimitadas por falhas N350º, ENE-WSW e ESE-WNW
4. Teores de 9,2 g/ton e 5,8 g/ton ao longo da lente mineralizada.
A cerca das implicações metalogenéticas, observam-se fatores que indicam os diversos
modelos genéticos discutidos no debate científico para o(s) Sistema(s) Mineral(is) aurífero(s)
da Serra de Jacobina: a associação de estruturas penetrativas, com halos de alteração
hidrotermal pervasivas associadas as mineralizações e feições petrográficas que coadunaria
com o modelo falha-reservatório hidrotermal (MILESI et al., 2002); a continuidade da
39
mineralização nos estratos ao longo do depósito coaduna com um controle estratigráfico;
minerais opacos com feições detríticas e feições em ventifacto indicam metais pesados em
ciclo de erosão - sedimentação – deposição, o que não descarta o modelo de ouro de placer.
Concluída a etapa descritiva do corpo de minério e, consequentemente, agregada ao
mapeamento da arquitetura do depósito de trabalhos anteriores, recomenda-se estudos com
Espectrometria de Energia Dispersiva para os grãos de ouro dendrítico a fim de identificar
associações com outros elementos e sugerir influência dos efeitos da laterização; química de
rocha total como objetivo de identificar a relação dos fluidos hidrotermais e a lixiviação do
ouro no sistema; química mineral com o intuito de refinar os dados petrográficos, ao
investigar a alteração de minerais primários pelas alterações hidrotermais; inclusão fluida para
estudar a fonte e profundidade dos fluidos hidrotermais; isótopos de O e S para identificar
possíveis fontes de minerais de enxofre para explicar origem de mineralização aurífera
primários.
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130.
Tabela 3.6. Síntese de modelo descritivo do reef Unidade Superior. Aspecto Descrição
Forma Estratiforme Posição estratigráfica Topo da Fm. Serra do Córrego Footwall Quartzito com seixos médios, topo do Maneira
com seixos VL, contato bem definido; aprox. 18 m Hangingwall Quartzito do topo da Fm Serra do Córrego, com
estruturas em espinha de peixe de médio porte, levemente fuchsítico, contato bem definido; aprox. 170 m (MOLINARI & SCARPELLI, 1987)
Dimensões Pacote de 65 m, de 15 a 20 lentes de 10 a 150 cm,extensão de 1,7 km em Jacobina SE
Regularidade Regular, localmente irregular por rejeitos de falhas e estratigrafia
Aspectos litológicos e mineralógicos Pacotes de topo de metaconglomerados de seixos de quartzo e chert de 2 a 20 mm, bem empacotados, com matriz bem fuchsítica, hematita e hidróxidos, além de marcante ocorrência de calcopirita; pacotes de base de metaconglomerado na sequência de base para topo ML – S - MS
Paragênese de minério: (1)Minerais de minério; (2)Ganga
Minerais de minério: ouro livre e pirita com ouro Ganga: quartzo, fuchsita, pirita, calcopirita,
hematita, goethita, limonita Alterações hidrotermais Fuchsitização, sulfetação, oxidação, argílica
avançada e silicificação Estruturas primárias Estruturas em espinha de peixe de pequeno
porte, acamadamento regular, seixos em ventifacto, Deformação Falhas penetrativas normais, compressivas e
direcionais, cunhas de falhas, milonitização e brechas de matriz e seixos, fraturas cortando seixos
Controle da mineralização Camada principal de 0,8 a 1,7 m (topo), conjunção de falhas ortogonais, oxidação e hidroxidação
Efeitos do intemperismo
Boxwork, malaquita, argilas como goethita e limonita,
Assinatura geofísica
Urânio alto em lentes mineralizadas e nas estruturas de milonitização (radiometria comparativa)
Teores
4,93 no topo e 5,8 na base - (cedidas por Geólogo Ângelo Amorim Neto em informação pessoal)
Modelo AU-U-Conglomerados com seixo de quartzo
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Jacobina, Brazil. US Geol. Survey. Profess. Papers, 1961.
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ANEXO A – REGRAS DE FORMATAÇÃO DA REVISTA
GEOLOGIA USP
1. PÁGINA DE ROSTO – deverá conter: três títulos, em português, em inglês e título curto
no idioma principal do manuscrito com no máximo 50 caracteres, contando os espaços; nome
completo e instituição de origem dos autores; endereço completo somente do autor
principal (logradouro, CEP, cidade, estado, país, caixa postal e telefone para contato - pode
ser o endereço da Universidade), e-mail de todos os autores; número de palavras; total de
figuras e de tabelas.
2. RESUMO E ABSTRACT – em um único parágrafo, devem ser concisos, com no máximo
270 palavras. Textos mais longos devem vir acompanhados de justificativa circunstanciada.
3. PALAVRAS-CHAVE E KEYWORDS – máximo seis, separadas por ponto e vírgula, com
a primeira letra em maiúscula. Ex.: Bacia do Araripe; Quaternário; Fácies; Depósitos
magmáticos.
Os descritores em inglês devem acompanhar os termos em português.
4. TEXTO PRINCIPAL – poderá ser redigido em português ou inglês. Elaborar em Word,
fonte Times New Roman, tamanho 12, espaço simples. O tamanho máximo aceito para
publicação é de 25 páginas, incluindo: texto, resumo, abstract, tabelas, figuras e referências
bibliográficas. (Trabalhos mais longos podem ser aceitos desde que argumentos científicos
que os justifiquem sejam apresentados e aceitos).
a) Na fase de submissão, inserir numeração de páginas, bem como as figuras, tabelas,
legendas e referências.
b) Quando o artigo estiver devidamente aprovado para publicação, as figuras, tabelas e
legendas devem ser retiradas do texto. Enviá-las separadamente e numeradas, cada uma num
arquivo. As legendas devem vir em um único arquivo, separadas das figuras e tabelas.
5. TÍTULOS
A
46
a) Título do artigo:
Título principal – Negrito, caixa alta na primeira letra da primeira palavra e caixa baixa nas
demais.
Título em inglês – Itálico, caixa alta na primeira letra da primeira palavra e caixa baixa nas
demais (sem negrito)
Título curto - Caixa alta na primeira letra da primeira palavra e caixa baixa nas demais (sem
negrito /sem itálico).
b)Títulos e subtítulos no interior do artigo:
NÍVEL 1- NEGRITO, CAIXA ALTA.
Nível 2 – Negrito, caixa alta na primeira letra da primeira palavra e caixa baixa nas demais.
Nível 3 – Itálico, caixa alta na primeira letra da primeira palavra e caixa baixa nas demais
Nível 4 – Caixa alta na primeira letra da primeira palavra e caixa baixa nas demais
6. TABELAS E QUADROS – considerar quadro como tabela. Elaborar em Word, no modo
“tabela”, com formato aberto, fonte Arial, tamanho 8. Obedecer as medidas: 8,2 cm (uma
coluna) ou 17 cm (duas colunas), comprimento máximo de 22 cm, incluindo a legenda.
Tabelas muito extensas deverão ser divididas.
a) Na fase de submissão, inserir as tabelas no texto, juntamente com a legenda, com a devida
numeração sequencial.
b) Quando o artigo estiver devidamente aprovado para publicação, as tabelas devem ser
retiradas do texto. Enviá-las separadamente e numeradas, cada uma num arquivo. As legendas
devem vir em um único arquivo, separadas das tabelas.
c) Legendas: fonte Times New Roman, tamanho 12. (sem itálico)
7. ILUSTRAÇÕES – mapas, fotos, figuras, gráficos, pranchas, fotomicrografias etc.,
considerar como figuras. Utilizar fonte Arial, tamanho 9. Obedecer as medidas: 8,2 cm (uma
coluna) ou 17 cm (duas colunas), comprimento máximo de 22 cm, incluindo a legenda.
47
8. CITAÇÕES NO TEXTO – exemplos de citação direta / citação indireta:
a) Um autor
Santos (1980) / (Santos, 1980)
b) Dois autores
Norton e Long (1995) / (Norton e Long, 1980)
c) Mais de dois autores
Moorbath et al. (1992) / (Moorbath et al., 1992)
d) Congressos, conferências, seminários etc.
... no Congresso Brasileiro de Geologia (1984) / (Congresso Brasileiro de Geologia, 1984)
e) Vários trabalhos de diferentes autores
Smith (1985), Rose e Turner (1986) e Johnson et al. (1990) / (Smith, 1985; Rose e Turner,
1986; Johnson et al., 1990)
f) Citação de vários trabalhos de um mesmo autor
Smith (1979a, 1979b, 1981) / (Smith, 1979a, 1979b, 1981)
9. REFERÊNCIAS – listar no final do texto, em ordem alfabética de autores e, dentro dessa
sequência, em ordem cronológica.
DOI: inseri-lo em todas as referências que já o tiverem.