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Belén Cogliati
MODELOS VISCOSOS EM MECÂNICA DOS SOLOS:
Análise de uma equação visco-hipoplástica
São Paulo
2011
Belén Cogliati
MODELOS VISCOSOS EM MECÂNICA DOS SOLOS:
Análise de uma equação visco-hipoplástica
Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do grau de Mestre em Engenharia
São Paulo
2011
Belén Cogliati
MODELOS VISCOSOS EM MECÂNICA DOS SOLOS:
Análise de uma equação visco-hipoplástica
Dissertação apresentada à Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para obtenção do grau de Mestre em Engenharia
Área de Concentração: Engenharia Geotécnica.
Orientação: Prof. Dr. José Jorge Nader
São Paulo
2011
4
Este exemplar foi revisado e alterado em relação à versão original, sob responsabilidade única do autor e com a anuência de seu orientador. São Paulo, 3 de dezembro de 2011.
Assinatura do autor ____________________________
Assinatura do orientador _______________________
FICHA CATALOGRÁFICA
Cogliati, Belén
Modelos viscosos em mecânica dos solos: análise de uma equação visco-hipoplástica / B. Cogliati. -- ed.rev. -- São Paulo, 2011.
104 p.
Dissertação (Mestrado) - Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica.
1. Modelos constitutivos 2. Viscoplasticidade 3. Hipoplastici- dade 4. Reologia 5. Mecânica dos solos I. Universidade de São Paulo. Escola Politécnica. Departamento de Engenharia de Estruturas e Geotécnica II. t.
5
Agradecimentos
Ao meu orientador, o Prof. Dr. José Jorge Nader, pela sua dedicação,
incentivo, paciência, amor à pesquisa e ao ensino.
Ao Daniel, pelo seu constante apoio, amizade e amor.
A minha família, pela confiança e incentivo.
A María e Sérgio pelo carinho e apoio ao longo dos anos.
Aos meus amigos, especialmente àqueles que me ajudaram a elaborar as
figuras, verificar cálculos e textos e discutiram comigo os resultados obtidos.
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Resumo
Cogliati, Belén. (2011). Modelos viscosos em mecânica dos solos: análise de
uma equação visco-hipoplástica. Dissertação de Mestrado, Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo, São Paulo.
Esta dissertação estuda o comportamento de um modelo visco-hipoplástico
proposto por Niemunis (2002), com as funções constitutivas da equação
hipoplástica de Nader (2003).
Para entender o papel da viscosidade no comportamento do solo são
discutidos o adensamento secundário, a influência da velocidade de
deformação na resistência não-drenada e a variação do coeficiente de empuxo
com o tempo.
Como etapa preliminar, são apresentados os modelos reológicos simples em
uma dimensão, formados por um só elemento (modelos de Hooke, Newton e
Saint-Venant) e modelos compostos pela combinação desses elementos
(modelos de Maxwell, Bingham, Kelvin- Voigt, sólido linear padrão e visco-
plástico com endurecimento). São deduzidas as equações de fluência e
relaxação para todos esses modelos.
Em três dimensões, são apresentadas as formulações do modelo visco-
hipoplástico de Niemunis (2002) com as funções constitutivas de Nader (2003).
São deduzidas as expressões simplificadas desse modelo para ensaios
triaxiais. Em seguida, as equações são aplicadas à simulação de ensaios de
compressão isotrópica e compressão não-drenada, com o objetivo de
investigar a relaxação e a fluência bem como para analisar a influência dos
parâmetros na resposta do modelo.
Palavras chave: modelos constitutivos, viscoplasticidade, hipoplasticidade,
reologia, mecânica dos solos.
7
Abstract
This thesis studies the behavior of the visco-hypoplastic model proposed by
Niemunis, using Nader's hypoplastic constitutive equations. To understand the
importance of viscosity in soil behavior the following topics are first examined:
secondary consolidation, strain rate effects on undrained strength and the time
variation of the coefficient of lateral pressure at rest. As a preliminary step, the
present work discusses one-dimensional rheological models formed by a single
element (Hooke's, Newton's and Saint-Venant's models) or by the combination
of these elements (Maxwell's, Bingham's, Kelvin-Voigt's models; the standard
linear solid model and the visco-plastic hardening model). For all the rheological
models creep and relaxation are investigated.
Niemunis' visco-hypoplastic model with Nader's constitutive equations is
presented next. First, simplified expressions of this model for triaxial test are
deduced. Then the equations are applied to the simulation of isotropic
compression and undrainded compression tests, with the aim of investigating
relaxation and creep as well as of analyzing the influence of each parameter on
the model response.
Keywords: constitutive models, visco-plasticity, hypoplasticity, rheology, soil
mechanics.
8
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................... 10
2. EFEITOS VISCOSOS NO COMPORTAMENTO DAS ARGILAS .............. 12
2.1. ADENSAMENTO ................................................................................. 12
2.2. INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO NA RESISTÊNCIA NÃO DRENADA ................................................................... 17
2.3. VARIAÇÃO DO COEFICIENTE DE EMPUXO COM O TEMPO (RELAXAÇÃO) .............................................................................................. 21
3. MODELOS REOLÓGICOS ........................................................................ 25
4. ELEMENTOS REOLÓGICOS .................................................................... 27
4.1. MOLA DE HOOKE ............................................................................... 27
4.2. PISTÃO DE NEWTON ......................................................................... 28
4.3. CORPO DE SAINT-VENANT .............................................................. 29
5. EQUAÇÕES REOLÓGICAS COM DOIS ELEMENTOS ............................ 31
5.1. MODELO DE MAXWELL ..................................................................... 31
5.1.1. Fluência ......................................................................................... 33
5.1.2. Relaxação ..................................................................................... 34
5.2. MODELO DE KELVIN-VOIGT ............................................................. 36
5.2.1. Fluência ......................................................................................... 36
5.2.2. Relaxação ..................................................................................... 38
5.3. MODELO DE BINGHAM ...................................................................... 38
5.3.1. Fluência ......................................................................................... 39
5.3.2. Relaxação ..................................................................................... 40
6. MODELOS REOLÓGICOS COM MAIS DE DOIS ELEMENTOS .............. 41
6.1. MODELO DO SÓLIDO LINEAR PADRÃO .......................................... 41
6.1.1. Relaxação ..................................................................................... 42
6.1.2. Fluência ......................................................................................... 44
6.2. MODELO VISCO-PLÁSTICO COM ENDURECIMENTO .................... 46
6.2.1. Relaxação ..................................................................................... 47
6.2.2. Fluência ......................................................................................... 50
7. MODELO VISCO-HIPOPLÁSTICO EM 3D ................................................ 52
7.1. MODELO HIPOPLÁSTICO E EQUAÇÃO CONSTITUTIVA DE NADER 52
7.2. MODELO VISCO-HIPOPLÁSTICO DE NIEMUNIS ............................. 56
7.3. EXEMPLO DE CÁLCULO .................................................................... 58
9
7.3.1. DADOS DO PROBLEMA .............................................................. 58
7.3.2. CÁLCULO DAS CONSTANTES , , , E .................. 59
7.3.3. CÁLCULO DAS FUNÇÕES E NO INSTANTE INICIAL ( ) ............................................................................................... 60
7.3.4. CÁLCULO DE NO INSTANTE INICIAL ( ) ............................... 61
7.3.5. CÁLCULO DE NOS DEMAIS INSTANTES ( ) ................... 63
8. EQUAÇÕES DO MODELO VISCO-HIPOPLÁSTICO PARA ENSAIOS TRIAXIAIS......................................................................................................... 65
9. RESPOSTA DO MODELO NA COMPRESSÃO ISOTRÓPICA ................. 71
9.1. RELAXAÇÃO ....................................................................................... 71
9.2. FLUÊNCIA ........................................................................................... 74
9.3. INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO ......................... 77
10. RESPOSTA DO MODELO NA COMPRESSÃO NÃO- DRENADA ......... 80
10.1. RELAXAÇÃO .................................................................................... 83
10.2. FLUÊNCIA ........................................................................................ 86
11. INTERPRETAÇÃO FÍSICA DOS PARÂMETROS E ..................... 92
11.1. INTERPRETAÇÃO FÍSICA DA CONSTANTE ............................ 92
11.2. INTERPRETAÇÃO FÍSICA DA CONSTANTE ............................. 94
12. CONCLUSÃO E SUGESTÕES DE ESTUDOS FUTUROS .................... 98
13. REFERÊNCIAS ..................................................................................... 101
14. BIBLIOGRAFIA ..................................................................................... 103
10
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
O presente trabalho pretende estudar o comportamento de um modelo visco-
hipoplástico proposto por Niemunis (2002), com as funções constitutivas da
equação hipoplástica de Nader (2003).
Para entender o papel da viscosidade no comportamento do solo serão
discutidos no capítulo 2 o adensamento secundário, a influência da velocidade
de deformação na resistência não-drenada e a variação do coeficiente de
empuxo com o tempo. Para ilustrar esses comportamentos serão apresentados
resultados de ensaios obtidos da bibliografia clássica.
Embora o objetivo da pesquisa seja investigar o comportamento de uma
equação visco-hipoplástica, como etapa preliminar, serão apresentados no
capítulo 3 os modelos reológicos simples: uma mola elástica (modelo de
Hooke), um pistão com um líquido viscoso dentro dele (modelo de Newton) e
duas placas apoiadas uma contra a outra (Saint-Venant). A seguir, no capítulo
6 serão apresentadas combinações desses modelos, descrevendo-se os
modelos reológicos de Maxwell, Bingham, Kelvin-Voigt, sólido linear padrão e o
modelo visco-plástico com endurecimento, em uma dimensão, e deduzidas as
equações de fluência e relaxação.
No capítulo 7 serão apresentadas as formulações em três dimensões,
envolvendo tensores de tensão e deformação, do modelo visco-hipoplástico de
Niemunis (2002) com as funções constitutivas de Nader (2003).
Serão deduzidas também as expressões simplificadas desse modelo para
ensaios triaxiais, no capítulo 8. Com as equações do modelo visco-hipoplástico
em estudo serão reproduzidos ensaios de compressão isotrópica e
compressão não drenada para mostrar o comportamento das mesmas na
relaxação e na fluência e para analisar a influência dos parâmetros do modelo
na sua resposta (capítulos 9 e 10).
11
Por último, no capítulo 12, serão feitas sugestões para estudos futuros.
O modelo estudado nesta dissertação mostrou que representa melhor o
comportamento dos solos do que aquele investigado anteriormente por Talarico
(2005) e não requer de ajustes manuais nas iterações realizadas em planilhas
eletrônicas, como relatado pelo autor.
12
CAPÍTULO 2 - EFEITOS VISCOSOS NO COMPORTAMENTO
DAS ARGILAS
Como já é bem conhecido, num solo argiloso saturado, os grãos estão envoltos
por uma camada de água adsorvida (Terzaghi e Peck,1962). Nas vizinhanças
da superfície dos grãos a água adsorvida se encontra fortemente aderida. À
medida que se afasta da superfície dos grãos a viscosidade da água diminui
até que, a partir de certa distância, a água tem as propriedades da água
comum e é chamada de água livre. A água livre é aquela que, por estar mais
afastada do grão, consegue circular livremente entre as partículas. Quando o
solo é carregado, essa água se movimenta mais facilmente. Esta água livre é
aquela que é expulsa durante o ensaio de adensamento. A água adsorvida, por
outro lado, é a que se encontra mais próxima dos grãos e está aderida aos
mesmos quimicamente. Está tão fortemente aderida aos grãos do argilo-
mineral que as forças de contato entre as partículas não são suficientes para
expulsar essa água, sendo portanto essa água adsorvida a responsável pela
transmissão das forças entre as partículas (Pinto, 2002). Devido à presença
desta água adsorvida, a viscosidade passa a ser importante no estudo dos
solos argilosos.
Nos itens a seguir se apresentam exemplos do papel da viscosidade no
comportamento das argilas.
2.1. ADENSAMENTO
O adensamento é a diminuição do volume de uma camada de solo devido a um
acréscimo de carga. Essa compressão se dá pela acomodação dos grãos,
acompanhada de fluxo de água, com dissipação da pressão neutra.
Nas argilas saturadas a compressão se processa muito lentamente, em parte
pela natureza viscosa dos contatos entre partículas e em parte devido à baixa
permeabilidade.
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Uma analogia mecânica apresentada por Terzaghi e Peck (1962), para
demonstrar o efeito retardador da permeabilidade de um solo elástico sob
carga constante, é um dispositivo formado por um recipiente cilíndrico contendo
uma série de placas perfuradas separadas por molas (figura 2-1). O espaço
entre as placas é preenchido com água. A quantidade de furos nas placas
representa a permeabilidade do solo. Quanto mais furos, mais permeável o
solo. As molas representam o comportamento elástico da parte sólida do solo.
Ao aplicar uma tensão constante na placa superior, a altura das molas fica,
num primeiro instante, inalterada por não ter havido tempo de a água
atravessar os furos. Neste primeiro instante, o que suporta a carga é a água.
Após este instante inicial, as molas começam a se deformar, principalmente as
molas da primeira camada, onde a água sai com maior facilidade. A água das
demais camadas só sairá quando um pouco de água da camada superior já
tiver escoado. Desta forma, a compressão representada pela diminuição de
altura das molas ocorre de cima para baixo. Neste dispositivo a água só pode
sair pela camada superior, pois a base é impermeável. Se a base do dispositivo
fosse perfurada, as primeiras molas a se deformar seriam as superiores e as
inferiores, a diminuição de altura das molas ocorreria da base e topo do
dispositivo em direção ao interior do mesmo.
Figura 2-1– Dispositivo para demonstração mecânica do processo do adensamento – Terzaghi & Peck (1962)
14
O adensamento, obtido em laboratório, através de um ensaio de compressão
confinada com uma amostra de argila saturada, é semelhante ao sistema
apresentado em até aproximadamente 80% de grau de adensamento (linha
contínua na figura 2-2). A partir desse ponto, ao invés da curva tempo-
deformação se aproximar de uma assíntota horizontal, como acontece no
dispositivo mecânico mola-pistão, a curva da argila saturada continua com uma
inclinação suave (linha tracejada na figura 2-2).
Figura 2-2– Curva tempo – deformação. As linhas cheias representam o comportamento do dispositivo mecânico apresentado na Figura 2-1 – Terzaghi & Peck (1962)
Na prática o adensamento é tratado dividindo-se o problema em duas partes:
adensamento primário e adensamento secundário.
Figura 2-3– Relação idealizada entre o índice de vazios e o logaritmo do tempo mostrando o adensamento primário e o secundário – Mitchell e Soga (2005)
15
O adensamento primário é explicado pela Teoria do Adensamento
Unidimensional de Terzaghi. Esta teoria trata o problema como uma situação
simultânea de percolação e deformação com dissipação de pressões neutras,
equivalente ao mecanismo apresentado na figura 2-1. E supõe, entre outras
hipóteses, variação linear do índice de vazios varia linearmente com o aumento
da tensão efetiva, solo completamente saturado e validade da Lei de Darcy.
O adensamento secundário, por sua vez, constitui uma redução volumétrica a
tensões efetivas constantes e está associado a deformações viscosas. O
adensamento secundário acontece devido ao escorregamento entre partículas,
expulsão da água viscosa dos contatos entre grãos de argila e rearranjo das
moléculas de água adsorvida e cátions.
A relação entre o índice de vazios, ou deformação, e o logaritmo do tempo é
linear na maioria dos solos (Mitchell e Soga, 2005) e por isso o adensamento
secundário do solo é expresso pelo coeficiente de adensamento secundário
(
; =índice de vazios e =tempo, definido também como
; =deformação). Segundo Ladd (1973) (apud Vieira, 1988), o coeficiente
de adensamento secundário varia com a história de tensões, decrescendo com
o sobreadensamento.
Mesmo que o problema seja tratado separadamente, e seja considerado que o
adensamento secundário só começa quando o primário houver terminado,
existem evidências de que o adensamento secundário se inicia durante o
processo de dissipação de pressões neutras (Pinto, 2000).
Sendo assim, o problema poderia ser tratado como um só se, em lugar de
tratar o solo como se fosse elástico (mola), fosse utilizado um mecanismo que
inclua a viscosidade do solo.
Leroueil et al. (1985) apresentaram um conjunto de ensaios realizados em
argilas de Batiscan (Quebec, Canadá) para demonstrar que a relação tensão
16
efetiva – índice de vazios depende, diferentemente do suposto na Teoria do
Adensamento Unidimensional de Terzaghi, do tempo.
Para demonstrar a relação ( : tensão vertical efetiva,
: deformação e : velocidade de deformação) realizaram dois ensaios de
compressão edométrica especiais, onde a velocidade de deformação foi
mudada diversas vezes para diferentes valores de deformação. Esta relação é
apresentada na figura 2-4.
Figura 2-4– Ensaios especiais de compressão edométrica em argila de Batiscan (Quebec, Canadá) - Leroueil et al. (1985)
O ensaio SP1 começou com uma velocidade de deformação
até uma deformação de 3,7%, onde foi mudada para até
e mudada novamente a . O ensaio na amostra SP2 começou a
uma velocidade até uma deformação de 4,5%, a seguir a velocidade de
deformação foi aumentada a até uma deformação de 8,8% e novamente a
. Na amostra SP2 também foi utilizada a velocidade de deformação
entre 17,7% e 21,8% de deformação.
17
Segundo Leroueil et al. (1985) esta figura demonstra que existe uma relação
única entre para esta argila, pelo menos para deformações
menores do que 16%. Para deformações maiores do que 23% eles concluíram
que a deformação resultou diferente para a mesma velocidade devido a
pequenas diferenças entre as amostras.
Graham, Crooks e Bell (1983) apud Leroueil et al. (1985), também observaram
este comportamento em argilas de Belfast.
2.2. INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO NA RESISTÊNCIA NÃO DRENADA
A resistência não-drenada de uma argila pode ser obtida mediante a execução
de ensaios de laboratório, de campo ou correlações.
Os ensaios de laboratório em amostras indeformadas que podem ser
realizados para determinação da resistência não-drenada das argilas são os
ensaios UU (unconsolidated undrained, não-consolidado não-drenado), U
(compressão simples) e CU (consolidated undrained, consolidado
não-drenado).
No ensaio UU a amostra é submetida à pressão confinante na câmara triaxial
e, sem permitir qualquer drenagem, em seguida é submetida à carga axial. Se
o corpo de prova estiver saturado, ocorrerá a ruptura sem mudança de volume
na amostra. A envoltória de resistência de tensões totais obtida neste ensaio é
uma reta horizontal, onde o ponto de interseção com o eixo das ordenadas é a
resistência não-drenada. A velocidade na qual é realizado o ensaio possui
grande influência no resultado.
No ensaio de compressão simples (U) o corpo de prova é submetido a uma
carga axial sem aplicação de confinamento. O ensaio demora de 10 a 15
18
minutos, não ocorrendo drenagem da amostra. Este ensaio pode ser
considerado um caso particular do ensaio UU, com pressão confinante nula.
O ensaio de campo que pode ser realizado para obtenção da resistência não-
drenada da argila é o Vane Test ou ensaio da Palheta. Este ensaio, quando
corrigido pelo fator de Bjerrum, dá bons resultados (Pinto, 2000).
Outra forma de obter a resistência não-drenada de uma argila são as
correlações. A correlação de Mesri (apud Pinto, 2000) pode ser utilizada para
obter a resistência não-drenada que deve ser utilizada nos projetos ( )
sendo que a mesma é proporcional à tensão de pré-adensamento ( , com
fator de proporcionalidade igual a 0,22 (
). Esta correlação leva
em consideração os fatores de anisotropia e tempo de solicitação.
Existem diversos fatores que afetam a resistência não-drenada obtida a partir
de ensaios. Eles são a amostragem, a estocagem, a anisotropia e a velocidade
de carregamento ou velocidade de deformação.
A penetração do amostrador no subsolo, a retirada da amostra do amostrador e
a moldagem do corpo de prova perturbam a amostra mecanicamente. Além
disso, quando a amostra é retirada, o estado de tensões na amostra muda,
passando do estado anisotrópico ao estado isotrópico. Estes processos
envolvidos na amostragem fazem com que a resistência seja menor do que a
de campo.
Durante o procedimento de estocagem ocorre o rearranjo estrutural das
partículas e ocorre a perda de pressão neutra negativa, diminuindo a tensão
confinante efetiva e consequentemente a resistência.
A seguir se apresenta um esquema de como são transferidas as cargas nas
situações indeformada e amolgada (Lambe e Whitman, 1969).
19
Figura 2-5– Esquema mecânico da transferência de carga durante o amolgamento. Lambe & Whitman (1969)
A resistência de uma camada de solo mole depende também da direção em
que é carregada, como mostrado na figura 2-6 a seguir:
Figura 2-6– Tipos de solicitações no terreno por efeito de carregamento na superfície e
resultados típicos de cada solicitação. Pinto (2000). : resistência não drenada e : tensão de pré-adensamento.
Por último, e o mais importante no nosso assunto, é a influência da velocidade
com que a amostra é carregada, ou o tempo que ela leva para se deformar, no
valor da resistência não drenada.
Como se pode observar na figura 2-7 abaixo (Pinto, 2000), a resistência não-
drenada de uma argila depende da velocidade de ensaio. Sendo maior a
20
resistência não-drenada, quanto mais rápido for o carregamento. Esta
influência é tanto mais importante quanto mais plástico é o solo em termos de
índice de plasticidade, porque quanto maior for o seu índice de plasticidade,
maior é o número de contatos entre minerais de argila, ocorrendo
escorregamento entre partículas, devido à característica viscosa dos contatos
entre grãos.
Figura 2-7– Resultados de ensaios de compressão não-drenada com diferentes velocidades de carregamento, expressas pelo tempo decorrido até a ruptura. Pinto, 2000
Pinto (2000) apresentou também a figura 2-8 a seguir, que mostra como muda
o coeficiente de segurança de um aterro hipotético. Mantendo-se a condição de
não-drenagem, quanto mais rápido for construído um aterro, maior o
coeficiente de segurança. Mas isso não significa que, se o aterro não rompeu
ao acabar a construção, a ruptura não ocorrerá alguns dias depois. Tudo
21
dependerá da velocidade em que foi construído e do aumento da resistência
devido à diminuição do índice de vazios, que pode compensar a diminuição da
resistência devida ao carregamento lento.
Figura 2-8– Mudança do coeficiente de segurança de um aterro hipotético em função da velocidade de construção do aterro e da diminuição do índice de vazios. Pinto (2000)
De acordo com Taylor (1948) (ver também Martins, 1992), o efeito da
velocidade de deformação é provocado pela natureza viscosa do material nas
zonas de adsorção nos pontos de contato ou “quase contato” das partículas de
argila.
2.3. VARIAÇÃO DO COEFICIENTE DE EMPUXO COM O TEMPO (RELAXAÇÃO)
O coeficiente de empuxo em repouso é definido como a relação entre a tensão
horizontal efetiva e a tensão vertical efetiva, quando se trata de um maciço de
superfície horizontal, sujeito apenas ao próprio peso.
Para os solos sedimentares existem correlações que podem ser utilizadas para
determinar o valor do coeficiente de empuxo em repouso, que são função do
ângulo de atrito efetivo e/ou da razão de sobre-adensamento.
22
Tabela 2-1 – Correlações empíricas para determinação do coeficiente de empuxo em repouso.
Autor Equação Observações
Jaky (1944) apud Lambe e Whitman (1969)
ângulo de atrito
interno efetivo
Kulhawy e Mayne (1990), apud Mitchell e Soga (2005)
( )
OCR razão de sobre-adensamento
A determinação do coeficiente de empuxo em repouso também pode ser
realizada a partir de ensaios de laboratório, só no caso de argilas normalmente
adensadas, e ensaios de campo.
No laboratório, pode ser obtido no ensaio de compressão edométrica para os
solos sedimentares normalmente adensados. No campo, pode ser obtido no
ensaio pressiométrico.
Segundo Pinto (2000), o valor do coeficiente de empuxo em repouso é menor
que a unidade e varia de 0,4 a 0,5 para areias e de 0,5 a 0,7 para argilas
normalmente adensadas. No caso de argilas sobre-adensadas com razão de
sobre-adensamento superior a 4, o valor do coeficiente de empuxo é superior a
1 (se o ângulo de atrito efetivo do solo for )
Como se pode observar, os métodos utilizados para determinação do
coeficiente de empuxo em repouso supõem que o mesmo não varia com o
tempo.
Porém, existem evidências conclusivas que demonstram que o valor do
coeficiente de empuxo em repouso é variável com o tempo. Ensaios de
laboratório apresentados por Kavazanjian e Mitchell (1984) demonstram que o
coeficiente de empuxo em repouso de argilas normalmente adensadas
23
aumenta com o tempo. Eles sugerem que, em solos sobre-adensados, com
razão de sobre-adensamento maior do que quatro, onde o coeficiente de
empuxo em repouso é maior do que a unidade, o mesmo diminua,
aproximando-se da unidade.
Ensaios de laboratório realizados por Lacerda em 1976 (apud Kavazanjian e
Mitchell, 1984), em argilas normalmente adensadas da baía de São Francisco,
mostraram que o valor de aumentou do valor de 0,53, no adensamento
primário, a 0,58 após 10.000 minutos do término do adensamento primário
(aumentando aproximadamente 9,5%).
Figura 2-9– Variação de Ko em função do tempo – Argilas normalmente adensadas da baía de São Francisco – Lacerda, 1976 (apud Kavazanjian e Mitchell, 1984)
Segundo Kavazanjian e Mitchell (1984), Tatsuoka também mediu o valor de
em ensaios triaxiais realizados em amostras compactadas de caulinita e
mostrou que o valor do coeficiente de empuxo em repouso aumentou de 0,54,
no final do adensamento primário, a 0,70 após 14.000 minutos de
adensamento secundário (aproximadamente 29,6%). Em 1984, quando
Kavazanjian e Mitchell publicaram estes resultados, Tatsuoka ainda não tinha
publicado os ensaios aos Kavazanjian e Mitchell se referem.
24
Kavazanjian e Mitchell (1984) concluíram que a variação de é devida às
tensões desviadoras não serem nulas quando o coeficiente de empuxo em
repouso for diferente da unidade.
Lacerda e Martins, 1985, (apud Vieira, 1988) explicaram de forma simplificada
o mecanismo que ocorre, segundo eles, que justificaria que o valor de se
aproximasse da unidade no adensamento unidimensional de argilas
normalmente adensadas. Como , há, em qualquer plano (com exceção
dos horizontal e vertical), tensões cisalhantes. Essas tensões cisalhantes
atuam no contato entre os grãos. Supõe-se que as ligações entre partículas
não suportam as forças de cisalhamento, dissipando-se com o tempo. Isso faz
que a tensão horizontal efetiva ( ) aumente e que a tensão desviadora
( ) diminua (fenômeno de relaxação de tensões). Como a tensão
desviadora pode diminuir até se anular, o fenômeno acabaria quando ,
o que justificaria o fato de se aproximar da unidade.
Andrade (2009) apresentou um resumo dos estudos realizados para comprovar
ou tentar dar uma justificativa ao suposto de que deve-se aproximar da
unidade e mostrou que o fim do secundário não ocorre para a condição ,
como sugerido por Kavazanjian e Mitchell (1984) e Lacerda e Martins (apud
Vieira, 1988).
25
CAPÍTULO 3 - MODELOS REOLÓGICOS
A reologia investiga e expressa a relação entre tensão, deformação e
velocidade de deformação, entre outras grandezas. As equações reológicas
gerais podem envolver o tensor das tensões de Cauchy ( ), o tensor de
deformações ( ), o tensor das velocidades de deformação ( E ou D) e a
derivada no tempo do tensor das tensões ( ). Nos modelos unidimensionais, as
equações envolvem a tensão ( ), a deformação ( ), a velocidade de
deformação ( ) e a variação da tensão no tempo ( ).
Uma abordagem que pode ser dada para prever o comportamento de materiais
submetidos a tensão é a da análise dos resultados, sem se importar com a
microestrutura do material.
Os modelos reológicos explicam o comportamento de um material
representando-o por modelos simples ou combinações de modelos simples,
cujo comportamento é de fácil interpretação.
Pode-se imaginar, por exemplo, que a primeira parte (pequenas deformações)
da curva tensão-deformação de um solo, obtida de um ensaio de compressão
simples, corresponde à deformação que sofre uma mola elástica quando
comprimida. Seria uma forma de tratar o solo como uma “caixa preta”, sem nos
interessar, em um primeiro momento, com o que acontece com as partículas
quando submetidas a uma tensão e sim com o resultado que esse esforço
provoca.
Pensando desta forma, podem-se combinar elementos, além de molas, para
representar o resultado de ensaios realizados em solos. Cada elemento possui
uma constante que o caracteriza, influenciando no resultado da curva tensão-
deformação.
Por isso, como etapa preliminar, serão apresentados, primeiramente, os
modelos reológicos simples, formados por um só elemento. Estes elementos
26
são: uma mola elástica (modelo de Hooke), um pistão com um líquido viscoso
dentro dele (modelo de Newton) e duas placas apoiadas uma contra a outra
(Saint-Venant). A seguir serão apresentadas combinações desses elementos,
descrevendo-se os modelos reológicos de Maxwell, Bingham, Kelvin-Voight,
sólido linear padrão e o modelo visco-plástico com endurecimento, em uma
dimensão. Serão depois deduzidas as equações de fluência e relaxação.
Na seção a seguir são apresentados os elementos reológicos que serão
utilizados nesta dissertação.
27
CAPÍTULO 4 - ELEMENTOS REOLÓGICOS
4.1. MOLA DE HOOKE
O elemento físico que representa o comportamento de um corpo de Hooke é
uma mola elástica (figura 4-1).
Figura 4-1– Mola elástica de Hooke. A constante E relaciona a tensão aplicada e a deformação da mola
No corpo de Hooke a relação entre a tensão e a deformação é linear, a
constante que relaciona as duas grandezas é o módulo de elasticidade (E). A
equação reológica é a seguinte:
(4.1)
Quando é aplicada uma tensão constante imediata numa mola de Hooke ( ),
ocorre uma deformação instantânea e constante igual a
(figura 4-2).
28
Figura 4-2 – Deformação de uma mola elástica de Hooke quando submetida a uma tensão constante
O comportamento de uma mola elástica linear é elástico, pois quando a mola é
descarregada ela volta a sua configuração original, e é linear porque a
deformação é proporcional à tensão aplicada.
4.2. PISTÃO DE NEWTON
O modelo mecânico de Newton é um pistão contendo um líquido viscoso (figura
4-3).
Figura 4-3 – Pistão de Newton.
Os líquidos são substâncias que fluem continuamente sob a ação de tensões
de cisalhamento. Um fluido viscoso oferece resistência ao escoamento.
A equação reológica que representa o comportamento de um pistão de Newton
é a seguinte:
(4.2)
29
Quando um pistão de Newton é submetido a uma tensão constante, a
deformação inicial é nula, aumentando com o tempo de forma linear. Isto se
deve à resistência que o fluido oferece ao escoamento. Essa resistência é
caracterizada pelo coeficiente de viscosidade . Quando submetido a tensão
constante positiva a deformação cresce linearmente com tempo e quando
submetido a tensão constante negativa, decresce (figura 4-4).
Figura 4-4 – Deformação do pistão de Newton quando submetido a uma tensão constante.
4.3. CORPO DE SAINT-VENANT
O modelo mecânico que representa um corpo de Saint-Venant é a resistência
de atrito entre dois corpos rugosos, pressionados um contra o outro, como na
figura 4-5 a seguir:
30
Figura 4-5 – Corpo de Saint Venant.
O movimento acontece somente quando a tensão aplicada iguala certo valor
. A partir desse momento, a velocidade de deformação deixa de ser nula.
Tem-se:
se
se
31
CAPÍTULO 5 - EQUAÇÕES REOLÓGICAS COM DOIS
ELEMENTOS
Os elementos reológicos podem ser combinados em série ou em paralelo,
analogamente aos modelos elétricos.
Quando os elementos são combinados em paralelo, a tensão total aplicada é
dividida nos elementos e a deformação é a mesma em cada um deles.
O contrário acontece quando os elementos são combinados em série. As
tensões aplicadas são iguais nos elementos da série e a deformação total do
sistema é a soma das deformações de cada um deles.
Os modelos reológicos mais importantes formados por dois elementos são os
modelos de Maxwell, de Bingham e Kelvin-Voigt. Nos itens a seguir são
apresentados estes modelos.
Para cada modelo são apresentados os comportamentos na fluência e
relaxação.
5.1. MODELO DE MAXWELL
O modelo de Maxwell é formado por um pistão de Newton em série com uma
mola elástica linear (corpo de Hooke) (figura 5-1).
32
Figura 5-1 – Modelo de Maxwell. Pistão de Newton em série com uma mola elástica de Hooke.
O modelo de Maxwell é formado, portanto, por uma porção elástica e uma
porção viscosa.
Como os elementos do modelo são conectados em série, a tensão em ambos
os elementos é a mesma, e as deformações e velocidades de deformação são
somadas.
Temos então:
(5.1)
(5.2)
Onde é a tensão atuante na mola (componente elástica), é tensão
atuante no pistão (componente viscosa) e e são as velocidades de
deformação elástica e viscosa, respectivamente.
Substituindo as equações 4.1 e 4.2 na equação 5.1 temos:
(5.3)
(5.4)
Derivando em relação ao tempo a equação 5.3, combinando com a equação
5.4 e substituindo-as na equação 5.2, obtemos a equação reológica do modelo
de Maxwell.
33
(5.5)
5.1.1. Fluência
A fluência é o fenômeno caracterizado com uma deformação sob tensão
constante. Quando uma mola elástica é submetida a uma tensão constante
( ), ocorre uma deformação instantânea de valor
, que no caso de
materiais perfeitamente elásticos é mantida constante ao longo do tempo. Nos
materiais viscosos a deformação não ocorre de maneira instantânea e sim ao
longo do tempo. O crescimento dessa deformação é linear. Portanto, no
modelo de Maxwell (visco-elástico) ocorre fluência.
Temos:
(5.6)
Derivando a equação 5.6 em função do tempo temos:
(5.7)
Substituindo a equação 5.7 na equação 5.5 e considerando que, em ,
, obtemos:
(5.8)
No instante , a deformação do conjunto é igual à deformação da mola
.
Integrando a equação 5.8 em função do tempo, obtemos a função que
descreve a variação da deformação com o tempo.
(5.9)
34
No instante inicial, ocorre a deformação na mola e, ao longo do tempo, ocorre a
deformação do pistão de Newton, que cresce linearmente com tempo. A seguir
se apresenta o gráfico que representa a fluência do elemento de Maxwell
(figura 5-2).
Figura 5-2 – Modelo de Maxwell. Gráfico de fluência.
5.1.2. Relaxação
A relaxação de tensões é caracterizada pela variação das tensões com
deformação constante.
Nos materiais elásticos perfeitos não ocorre o fenômeno de relaxação. Quando
submetidos a uma tensão, ocorre uma deformação, ao manter-se essa
deformação constante, a tensão também se mantém constante.
Nos materiais viscosos ocorre de uma maneira diferente: depois de sofrida uma
deformação, se esta for mantida constante, em seguida a tensão diminuirá com
35
o tempo. Como consequência, um material visco-elástico, representado pelo
modelo de Maxwell, sofre relaxação.
Como a deformação é mantida constante no tempo, a velocidade de
deformação é nula.
(5.10)
Substituindo a equação 5.10 na expressão 5.5 obtemos:
(5.11)
Integrando em função do tempo, obtemos a variação da tensão com o tempo,
quando a deformação é constante, no modelo de Maxwell (figura 5-3):
(5.12)
Analisando a equação acima, percebe-se que, quanto maior for a relação
,
mais rápida é a relaxação ao longo do tempo.
Figura 5-3 – Modelo de Maxwell. Relaxação.
36
5.2. MODELO DE KELVIN-VOIGT
O modelo de Kelvin-Voigt é formado por um pistão de Newton em paralelo com
uma mola de Hooke (figura 5-4).
Figura 5-4 – Modelo de Kelvin-Voigt. Pistão de Newton em paralelo com uma mola elástica de Hooke.
Quando dois modelos simples são dispostos em paralelo, a deformação nos
dois modelos são iguais e a tensão aplicada ao conjunto se divide entre as
partes.
Temos então:
(5.13)
(5.14)
Substituindo as equações 4.1 e 4.2 na equação 5.14, temos a equação
reológica do modelo de Kelvin-Voigt:
(5.15)
5.2.1. Fluência
Substituindo na equação 5.15, temos:
(5.16)
Reescrevendo e integrando a equação acima em função do tempo, obtemos a
equação que relaciona a deformação com o tempo no modelo de Kelvin-Voigt
(figura 5-5).
37
(
) (5.17)
Figura 5-5 – Modelo de Kelvin-Voigt. Fluência.
Nesta configuração o elemento que comanda a velocidade de deformação é o
pistão, não ocorrendo deformação instantânea. Como a mola possui um limite
de deformação, o conjunto tem deformação limite igual à deformação máxima
da mola (
).
38
5.2.2. Relaxação
Quando a deformação é mantida constante no tempo, a velocidade de
deformação é nula.
(5.18)
Substituindo a equação acima na expressão 5.15 (figura 5-6):
(5.19)
A tensão cai abruptamente para o valor dado pela equação 5.19, no momento
em que a velocidade de deformação se anula, mantendo-se constante com o
tempo quando a deformação é mantida constante.
Figura 5-6 – Modelo de Kelvin-Voigt. Não ocorre relaxação.
5.3. MODELO DE BINGHAM
O modelo de Bingham é formado por um corpo de Saint Venant em paralelo
com um pistão de Newton (figura 5-7).
Figura 5-7 – Modelo de Bingham. Pistão de Newton em paralelo com um corpo de Saint Venant.
39
Quando é aplicada uma tensão ao conjunto, não ocorre nenhuma deformação
se a tensão aplicada for menor que um determinado valor ( ), que depende do
atrito entre as placas do corpo de Saint Venant. Quando a tensão ultrapassa
esse valor, ocorre uma deformação no conjunto, cuja velocidade de
deformação depende do coeficiente de viscosidade do pistão de Newton ( ) e
da tensão crítica ( ).
(5.20)
5.3.1. Fluência
Quando submetido a uma tensão constante maior que a tensão crítica, a
velocidade de deformação é constante. Integrando a velocidade de deformação
em função do tempo e considerando que em a deformação é nula,
mostra-se que a deformação varia linearmente em função do tempo.
A seguir se apresenta a mudança da deformação em função do tempo (figura
5-8):
Figura 5-8 – Modelo de Bingham. Fluência.
40
5.3.2. Relaxação
Quando a deformação é mantida constante no tempo, a velocidade de
deformação é nula. O valor da tensão neste caso é igual à tensão crítica,
ocorrendo uma queda de tensão (figura 5-8):
Figura 5-9 – Modelo de Bingham. Não ocorre relaxação.
41
CAPÍTULO 6 - MODELOS REOLÓGICOS COM MAIS DE DOIS
ELEMENTOS
6.1. MODELO DO SÓLIDO LINEAR PADRÃO
O modelo do sólido linear padrão é formado pela associação de dois elementos
elásticos e um elemento viscoso. Esta associação pode ser feita com um
elemento elástico em paralelo a um elemento de Maxwell (figura 6-1) ou um
elemento elástico associado em série a um elemento de Kelvin- Voigt.
Figura 6-1 – Sólido Linear Padrão – Elemento de Maxwell em paralelo com um elemento elástico linear
Adotando a configuração do sólido linear padrão mostrada na figura acima,
onde a mola elástica linear de constante está em paralelo a um elemento de
Maxwell de constantes e , temos:
(6.1)
(6.2)
Onde:
(6.3)
(6.4)
(6.5)
(6.6)
42
Derivando a equação 6.2 em função do tempo e combinando com as equações
6.5 e 6.6, temos:
(6.7)
Substituindo as equações 6.1 e 6.3 na expressão 6.7, obtemos:
Reagrupando os termos, temos a equação do sólido linear padrão:
[ ]
(6.8)
6.1.1. Relaxação
Quando o sólido linear padrão é submetido a uma deformação constante
no ensaio de relaxação, a velocidade de deformação é zero.
Consequentemente, passa a ser representado pela seguinte equação:
(6.9)
A solução desta equação diferencial é a soma da solução homogênea
(indicada com o índice H) e da solução particular (indicada com o índice P ).
43
A equação homogênea é:
Sua solução geral é
Onde é uma constante.
Se a solução particular for uma constante ,
Temos,
A solução geral da equação diferencial 6.9 é:
Em ,
44
A equação que mostra a variação da tensão em função do tempo num sólido
linear padrão é:
[ ]
(6.10)
A seguir se apresenta a variação da tensão em função do tempo, quando a
velocidade de deformação é nula (figura 6-2).
Figura 6-2 – Sólido linear padrão. Relaxação.
6.1.2. Fluência
Quando submetido a uma tensão constante, a derivada da tensão é nula.
Da equação 6.8:
[ ]
Reagrupando, obtemos a equação diferencial:
[ ]
[ ]
45
A solução desta equação diferencial é a soma da solução homogênea e da
solução particular. A equação homogênea é:
[ ]
[ ]
Se a solução particular for uma constante ,
Obtemos a solução geral da equação diferencial:
[ ]
Em ,
A equação que mostra a variação da deformação em função do tempo no
sólido linear padrão é:
[
]
[ ]
(6.11)
A seguir se apresenta o gráfico que mostra esta relação (figura 6-3):
46
Figura 6-3 – Sólido linear padrão. Fluência.
6.2. MODELO VISCO-ELASTO-PLÁSTICO COM ENDURECIMENTO
O modelo visco-elasto-plástico é formado por um elemento de Bingham em
série com uma mola de Hooke (figura 6-4).
Figura 6-4 – Modelo Visco-elasto-plástico – Elemento de Bingham em série com um elemento elástico linear
Quando o conjunto é submetido a uma tensão menor do que à tensão crítica do
corpo de Saint Venant, só a mola se deforma. Quando o conjunto é submetido
a uma tensão maior do que a tensão crítica do corpo de Saint Venant, ocorre a
deformação da mola e a deformação do elemento de Bingham. Quando a
tensão aplicada é maior do que a tensão crítica, a velocidade de deformação
do modelo visco-elasto-plástico é a soma entre a velocidade de deformação da
mola e à diferença entre a tensão aplicada e a tensão crítica do corpo de Saint
Venant dividida pela viscosidade ( ). A derivada da tensão crítica, por sua vez,
é proporcional à diferença entre a tensão aplicada e a tensão crítica. Temos:
(6.12)
47
[ ] (6.13)
É de interesse o caso onde a tensão crítica é menor do que a tensão aplicada.
Portanto, substituindo a equação 6.13 na equação 6.12 obtemos:
(6.14)
Integrando esta equação em função do tempo:
(6.15)
6.2.1. Relaxação
Quando submetido a uma deformação constante no ensaio de
relaxação, a velocidade de deformação é zero. Consequentemente, a equação
6.14 passa a ser:
(6.16)
[ ]
(6.17)
[ ] (6.18)
48
Substituindo a equação 6.18 na equação 6.16, temos:
[ ]
Substituindo o valor de da equação 6.17, temos:
(
)
(6.19)
A solução da equação diferencial pode ser obtida a partir da soma das
soluções homogênea e particular.
A equação homogênea é:
(
)
Portanto,
(
)
Se a solução particular for uma constante :
Substituindo na equação 6.19, temos:
(
)
(
) (
)
49
A solução geral da equação diferencial apresentada acima é portanto:
(
)
Em ,
Temos a seguinte equação de relaxação do modelo visco-elasto-plástico com
endurecimento:
(
)
Onde
(
) (
)
O gráfico que mostra o comportamento da tensão em função do tempo é o
seguinte (figura 6-5):
Figura 6-5 – Modelo Visco-elasto-plástico com endurecimento – Relaxação
50
6.2.2. Fluência
Quando submetido a uma tensão constante, a derivada da tensão é nula.
Assim, a equação que descreve a variação de com o tempo é:
(6.20)
A solução homogênea desta equação é:
Logo,
Se a solução particular da equação 6.20 for uma constante temos:
Logo, a solução geral da equação é:
Onde a constante é determinada a seguir:
51
Em , e , logo:
Assim, obtém-se a variação de com o tempo:
(6.21)
Considerando que em , , e e substituindo
em 6.15, obtemos:
[( ) ]
Na Fluência , logo:
[( )
]
O gráfico que mostra a variação da deformação em função do tempo, sob
tensão constante, no modelo visco-elasto-plástico com endurecimento, é o
seguinte (figura 6-6):
Figura 6-6 – Modelo Visco-elasto-plástico com endurecimento – Fluência
52
CAPÍTULO 7 - MODELO VISCO-HIPOPLÁSTICO EM 3D
Neste capítulo será apresentado o modelo visco-hipoplástico de Niemunis
(2002), introduzindo-se nele as funções constitutivas da equação hipoplástica
de Nader (2003).
7.1. MODELO HIPOPLÁSTICO E EQUAÇÃO CONSTITUTIVA DE NADER
Embora o objetivo desta tese não seja apresentar o modelo hipoplástico, nesta
seção será realizada uma breve introdução a ele para, na próxima, passar mais
facilmente à visco-hipoplasticidade
Na hipoplasticidade a equação constitutiva tem a seguinte forma:
),( DThTo
Onde o
T é a derivada corrotacional do tensor das tensões de Cauchy ( e é
o tensor velocidade de deformação. A função não é linear em , para
representar deformabilidades diferentes no carregamento e no
descarregamento.
Segundo Nader (2009), a maioria das equações constitutivas possui a seguinte
forma :
)(])[( TNDDTLTo
(7.1)
Onde e são duas funções dependentes do estado de tensões (L(T) é um
tensor de quarta ordem e N(T), um tensor de segunda ordem). ‖ ‖ é a norma
do tensor velocidade de deformação, que é calculada da seguinte forma
‖ ‖ √ .
53
Nader (2003) apresentou as seguintes expressões para [ ] e :
[ ]
Onde e são funções escalares que dependem do tensor das tensões e
do tensor das velocidades de deformação (mais precisamente, a segunda
delas depende apenas de ). O índice representa a parte desviadora do
tensor e é calculada da seguinte forma:
; e representa o
traço da matriz, que é a soma dos elementos da sua diagonal principal.
As expressões das funções e são as seguintes:
√
(
)
Onde
(
)
√
√
(
)
54
√
Os parâmetros , , e são característicos de cada material e os seus
valores podem ser calibrados a partir de ensaios de laboratório. é o
coeficiente angular da reta tangente, na origem, à curva vs. de um
ensaio triaxial do tipo CD, onde e , sendo o índice
axial e radial. é a inclinação da reta no gráfico vs. no estado
crítico, sendo
. e são as inclinações das retas no gráfico
vs. obtido na compressão isotrópica, no carregamento e no
descarregamento respectivamente (ver figura 7-1). O significado de será
explicado com detalhe no item 11.1. Para uma interpretação física detalhada
dos demais parâmetros veja Nader (2009).
55
Figura 7-1 – Obtenção dos parâmetros , e . (a) Ensaio de compressão isotrópica. (b) Estado crítico.
Cabe salientar, neste momento, que estas equações foram deduzidas
utilizando a convenção de sinais da Mecânica do Contínuo, quer dizer, tensões
e deformações de compressão são negativas.
56
7.2. MODELO VISCO-HIPOPLÁSTICO DE NIEMUNIS
Niemunis (2002) propôs uma equação constitutiva para a visco-
hipoplasticidade, obtida como generalização da equação unidimensional da
viscoplasticidade (equação 6.12, capítulo 6.2). A equação 6.12 reescrita em
função de é a seguinte:
[
] (7.2)
Niemunis sugeriu a seguinte expressão:
])[( v
o
DDTLT (7.3)
Observe que a expressão 7.2 constitui uma simplificação da equação 7.3, onde
, que é a velocidade de deformação num ponto, passa a ser , que é a
matriz cujas componentes são as velocidades de deformação num ponto. As
parcelas
e representam a viscosidade do solo e é equivalente
a .
Na expressão 7.3,
, onde e foram chamados por
Niemunis de razão de relaxação e de índice de viscosidade, respectivamente e
. Os significados físicos destas constantes serão explicados
mais adiante. Niemunis chamou de razão de sobreadensamento e a definiu
da seguinte forma:
Onde:
⁄
57
é o valor de no instante inicial, é a deformação volumétrica (positiva
na compressão) e é o mesmo parâmetro da seção anterior. O valor de é
um dado de entrada do modelo, que pode ser:
Onde é o valor de no instante inicial, sendo a média das tensões da
diagonal principal do tensor das tensões (com o sinal trocado):
é obtido da seguinte equação:
[ (
)
]
Onde é o mesmo parâmetro que o definido no item 7.1 e é:
√
A equação de Niemunis pode ser reescrita na forma que será utilizada nos
cálculos daqui em diante, como segue:
[ ]
⁄
Como o tensor velocidade de rotação é nulo em todos os casos investigados
neste trabalho, a derivada corrotacional de torna-se igual à derivada ordinária
58
de em relação ao tempo. Por isso, na expressão acima, o
T foi substituído por
T .
As expressões de e utilizadas neste estudo são as de Nader (2003),
apresentadas na seção anterior.
Para familiarizar o leitor com a utilização destas equações, no item a seguir se
apresenta um exemplo de cálculo.
7.3. EXEMPLO DE CÁLCULO
Para ilustrar como devem ser realizados os cálculos com estas equações para
obter as tensões em diferentes instantes, serão explicados os cálculos de todas
as variáveis envolvidas na equação no instante inicial ( ) e nos demais
instantes ( ).
7.3.1. DADOS DO PROBLEMA
Para começar os cálculos devem ser definidos os dados de entrada do modelo.
Esses dados têm a ver com as características do material em estudo e com as
condições do ensaio, tais como o estado de tensões inicial da amostra e a
velocidade de deformação.
Os parâmetros do material que devem ser conhecidos são os seguintes: , ,
, , e . Neste estudo foram adotados, para os primeiros quatro, os valores
determinados por Nader (2009) para a argila Weald, com base em ensaios
realizados por Henkel (1956 e 1959): , , , .
Niemunis (2002) afirma que e que Para este
exemplo serão utilizados os seguintes valores: e 1/15.
Foi escolhido o caso do ensaio de compressão não-drenada (CU) como
exemplo. Neste ensaio o corpo de prova é submetido a uma tensão confinante
59
inicial, deixando-se adensar e, a seguir, é comprimido axialmente, a volume
constante.
Sendo assim, os tensores de tensão e velocidade de deformação podem ser,
por exemplo, os seguintes:
[
]
[
]
[
]
Imaginando que , temos .
7.3.2. CÁLCULO DAS CONSTANTES , , , E
A seguir são calculadas as constantes , , , e definidas no item 7.1,
que dependem dos parâmetros , , e .
(
)
√
√
(
)
60
√
7.3.3. CÁLCULO DAS FUNÇÕES E NO INSTANTE INICIAL
( )
√
(
)
Onde
[
]
[
]
[
]
( )
61
Portanto
√
(
)
7.3.4. CÁLCULO DE NO INSTANTE INICIAL ( )
[ ]
⁄
Utilizando as expressões propostas por Nader (2003), apresentadas no item
7.1, temos:
[ ]
Sendo:
[
]
[
]
[
] [
]
62
Temos:
[ ]
[
] [
]
[
]
Para o cálculo do será utilizada a definição de Niemunis (2002):
Onde:
⁄
sendo o número de Euler.
A deformação volumétrica no ensaio de compressão não-drenada é nula,
portanto em todo instante do ensaio.
[ (
)
]
√(
) (
) (
)
63
Portanto
Temos então:
[ ]
⁄
[
] [
]
[
]
7.3.5. CÁLCULO DE NOS DEMAIS INSTANTES ( )
Para calcular nos demais instantes, os cálculos são realizados da mesma
forma que nos itens anteriores, considerando que os estados de tensão e
deformação do corpo de prova mudam com o tempo seguindo o método de
integração numérica de Euler-Cauchy:
Para observar o comportamento do modelo e ver se ele representa o esperado,
em alguns ensaios é necessário realizar gráficos do tipo índice de vazios vs.
tensão. Quando isso se fizer necessário, o índice de vazios deve ser calculado
a partir da relação entre velocidade de deformação volumétrica ( e variação
do índice de vazios ( :
64
Integrando a equação acima temos:
Como o leitor deve ter percebido, mesmo que as equações do modelo pareçam
complexas, o cálculo não o é, sendo necessário somente conhecer operações
simples, tais como soma de matrizes.
Nas seções seguintes serão deduzidas as expressões em função de e e
serão analisadas as respostas dos modelos na compressão não-drenada e na
compressão isotrópica.
65
CAPÍTULO 8 - EQUAÇÕES DO MODELO VISCO-
HIPOPLÁSTICO PARA ENSAIOS TRIAXIAIS
Nos ensaios triaxiais as tensões conhecidas são a tensão axial ( ) e as
tensões radiais ( ), o sinal positivo destas tensões é no sentido indicado na
figura 8-1 a seguir.
Figura 8-1 – Tensões axial e radial dos ensaios traixiais.
Tradicionalmente, no âmbito dos modelos constitutivos, os ensaios são
representados em função de
e . Por esse motivo, nesta
tese serão apresentadas as expressões da visco-hipoplasticidade em função
de e .
Faz-se necessário obter as expressões de e para assim calcular
e . Isso será obtido de:
[ ]
⁄
Como foi mencionado no capítulo 7, a convenção de sinais utilizada é a da
Mecânica do Contínuo, quer dizer, tensões e deformações de compressão são
negativas. Desta forma, para utilizar este modelo com os valores de tensão
obtidos nos ensaios triaxiais, é necessário mudar o sinal das tensões no
modelo. Portanto, os tensores de tensão e de velocidade de deformação são
os seguintes:
66
[
]
[
]
Os traços dos tensores são:
As partes desviadoras dos tensores de tensão e de velocidade de deformação
são os seguintes:
[
]
[
]
[
]
[
]
[
]
[
]
67
[
]
[
]
[
]
Definindo , temos:
[
]
A seguir se apresenta o cálculo de [ ]
[ ]
Onde:
e
√
(
)
68
Sendo:
[
]
[
]
[
]
com traço
e
:
[
]
com traço
, temos:
e
Portanto [ ] é:
[ ]
[ ] (
)
69
A seguir se apresenta o cálculo de :
Portanto:
[
]
[
]
[
]
Substituindo os valores de [ ] e na fórmula da visco-hipoplasticidade,
temos:
[ ]
⁄
(
) [
]
[
]
⁄
[
]
70
Como [
] temos:
⁄
⁄
e
⁄
⁄
Obtemos assim e :
⁄ (8.1)
[
⁄ ]
⁄ (8.2)
Utilizando estas equações serão analisados, nas próximas seções, os ensaios
de compressão isotrópica e compressão não-drenada.
71
CAPÍTULO 9 - RESPOSTA DO MODELO NA COMPRESSÃO
ISOTRÓPICA
No ensaio de compressão isotrópica, o estado de tensões aplicado
corresponde à condição , sendo iguais as deformações nos eixos axial
e radial. Tem-se portanto:
Substituindo as condições do ensaio nas equações 8.1 e 8.2 temos:
(9.1)
⁄ (9.2)
9.1. RELAXAÇÃO
Quando submetido à deformação constante ( ) no ensaio de
relaxação, a velocidade de deformação é nula . Consequentemente,
a equação 9.2 passa a ser:
⁄
72
Substituindo pela sua expressão em função de e isolando temos:
⁄
⁄
(9.3)
Para obter a expressão de , para observar o comportamento na relaxação,
pode-se integrar a equação 9.3 no tempo, com :
(
)
(9.4)
Observe-se na equação acima que, para e que, para .
A seguir (figura 9-1) se apresenta a representação gráfica da função 9.4 ( vs.
):
Figura 9-1 –– Relaxação na compressão isotrópica
A seguir se mostra a influência que tem
, e na velocidade com que
ocorre a relaxação. Os parâmetros do solo utilizados foram os apresentados no
item 7.3.1.
73
Figura 9-2 – Relaxação na compressão isotrópica para distintos valores de , e
Como se pode observar (figura 9-2), no modelo visco-hipoplástico em estudo, a
relaxação ocorre mais rápido com valores de maiores.
Figura 9-3 - Relaxação na compressão isotrópica para distintos valores de , e
A figura acima (figura 9-3) mostra que a relaxação ocorre mais rápido com
valores de menores.
0
20
40
60
80
100
120
0 50 100 150 200 250 300
p (
kPa)
t (h)
Iv1=1/15
Iv2=1/30
0
20
40
60
80
100
120
0 200 400 600 800
p (
kPa)
t (h)
R=1
R=1,3
74
Figura 9-4 – Relaxação na compressão isotrópica para distintos valores de ,
e
Como se pode observar (figura 9-4), no modelo visco-hipoplástico em estudo, a
relaxação ocorre mais rápido com valores de maiores.
9.2. FLUÊNCIA
Quando um corpo de prova é submetido a tensão constante na compressão
isotrópica ( ) temos . Consequentemente, a
equação 9.2 passa a ser:
⁄
Onde
. Portanto:
(
)
⁄
60
65
70
75
80
85
90
95
100
105
0 20 40 60 80
p (
kPa)
t (h)
Dr1=1%
Dr2=1,5%
75
Integrando esta equação para tem-se:
(
(
)
)
Como se pode observar na equação acima, a variação da deformação
volumétrica em função do logaritmo do tempo não é linear.
Figura 9-5 – Fluência na compressão isotrópica para distintos valores de , e
Pode-se observar na figura 9-5 que, para maiores valores de , a velocidade
de deformação volumétrica é maior.
A seguir se apresentam os gráficos vs. para diferentes valores de e ,
mantendo-se .
0,00%
0,50%
1,00%
1,50%
2,00%
2,50%
3,00%
3,50%
1 10 100 1000
ev
(%)
t (h)
Iv2=1/30
Iv1=1/15
76
Figura 9-6 – Fluência na compressão isotrópica para distintos valores de , e
Figura 9-7 – Fluência na compressão isotrópica para distintos valores de , e
Como se pode observar na figura 9-6, a velocidade de deformação é menor
quando maior é o valor de . Na figura 9-7 pode-se observar que distintos
valores de não influenciam na inclinação das retas e portanto também não
influenciam na velocidade de deformação volumétrica.
0,00%
0,50%
1,00%
1,50%
2,00%
2,50%
3,00%
3,50%
1 10 100 1000 10000
ev
(%)
t (h)
R=1,3
R=1
0,00%
0,50%
1,00%
1,50%
2,00%
2,50%
3,00%
3,50%
1 10 100 1000
ev
(%)
t (h)
Dr=1,5%
Dr=1%
77
9.3. INFLUÊNCIA DA VELOCIDADE DE DEFORMAÇÃO
No item 2.1 foram apresentados os resultados de ensaios realizados por
Leroueil et al. (1985), para demonstrar que a relação tensão efetiva – índice de
vazios depende do tempo. Como essa dependência é devida ao
comportamento viscoso do solo, a teoria em estudo deve prever essa relação,
diferentemente de outras teorias que não consideram a viscosidade, tal como a
hipoplasticidade. Para testar o modelo, foram simulados ensaios numa argila
de Weald, partindo-se do mesmo estado de tensões e aplicando-se diferentes
velocidades de deformação. Os resultados obtidos utilizando a teoria da visco-
hipoplasticidade e da hipoplasticidade foram os seguintes:
Figura 9-8 – Visco-hipoplasticidade - Influência da velocidade de deformação na relação
entre o índice de vazios e a tensão aplicada ( , na compressão isotrópica)
1,50
1,52
1,54
1,56
1,58
1,60
1,62
1,64
1,66
1,68
1,70
60 600
1+e
p(kPa)
Visco-hipoplasticidade
𝜺 v
0,1 𝜺 v
0,05 𝜺 v
78
Figura 9-9 – Hipoplasticidade - Influência da velocidade de deformação na relação entre
o índice de vazios e a tensão aplicada ( , na compressão isotrópica)
O resultado do modelo visco-hipoplástico foi o esperado, como mostra a figura
9-8, onde é evidente que existe influência da velocidade de deformação na
relação tensão vs. índice de vazios.
Já, como mostra a figura 9-9, a hipoplasticidade não representa essa influência
da velocidade de deformação, por se tratar de um fenômeno viscoso.
No item 2.1 foi apresentado o resultado de um conjunto de ensaios com
velocidades de deformação distintas (figura 2-4). A teoria da visco-
hipoplasticidade deve prever este tipo de comportamento. Para verificar se isso
acontece, foi reproduzido o ensaio de Leroueil para uma argila de Weald (figura
9-10).
A simulação foi realizada utilizando-se os parâmetros apresentados no item
7.3.1 para uma argila de Weald, com , e tensão inicial de
. O Ensaio 1 foi começado com uma velocidade de deformação
, que foi mantida constante até atingir uma deformação
volumétrica de , onde foi mudada para , até
7,5% de deformação volumétrica, quando a velocidade foi aumentada para
1,50
1,52
1,54
1,56
1,58
1,60
1,62
1,64
1,66
1,68
1,70
100 1000
1+e
p (kPa)
Hipoplasticidade
𝜺 v 0,1 𝜺 v 0,01 𝜺 v
79
e novamente diminuída para , a partir de 10,5% de
deformação. O Ensaio 2 procedeu completamente ao inverso. A velocidade de
deformação até 3,5% de deformação volumétrica foi , entre
3,5% e 7,5% de deformação foi , entre 7,5% e 10,5% foi e,
após essa deformação, voltou a aumentar para . Na figura a seguir se
apresenta o resultado obtido da simulação. Como se pode observar, foi
possível, com a utilização da teoria em estudo, simular o ensaio de Leroureil et
al. (1985), realizado por ele para demonstrar a relação entre .
Figura 9-10 – Simulação do ensaio de Leroueil et al. (1985) para uma argila de Weald
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
100 300 500 700 900
ev(
%)
p (kPa)
Ensaio 1
Ensaio 2
��v
��v
0,1 ��v
0,1 ��v
0,1 ��v
80
CAPÍTULO 10 - RESPOSTA DO MODELO NA COMPRESSÃO
NÃO- DRENADA
O ensaio triaxial não-drenado convencional é realizado a volume constante. Em
termos de tensões totais, a tensão radial é mantida constante durante todo o
ensaio, variando-se apenas a tensão axial, havendo portanto um aumento
gradativo da tensão desviadora, devido ao acréscimo de carga axial. Como
consequência deste carregamento, o caminho de tensões totais no plano vs.
é uma reta com inclinação 1H:3V. A trajetória de tensões efetivas tipicamente
tem a forma indicada na figura a seguir: (figura 10-1)
Figura 10-1 – Caminhos de tensões totais e efetivas no ensaio não-drenado convencional em amostra normalmente adensada.
Como foi dito, no ensaio de compressão não-drenada (tipo CU), a deformação
volumétrica da amostra é nula ( . Tem-se portanto:
Substituindo as condições do ensaio nas equações 8.1 e 8.2, temos:
81
⁄ (10.1)
⁄ (10.2)
Com o intuito de verificar se o modelo dá como resposta o esperado, foram
plotadas as respostas típicas do ensaio CU. No item 2.2 foi explicado que a
velocidade de deformação influencia na resistência não-drenada, sendo esse
comportamento devido a fenômenos viscosos. Sendo assim, o modelo visco-
hipoplástico em estudo deve prever esse comportamento, diferentemente de
um modelo que não inclua a viscosidade na sua formulação (tal como o modelo
hipoplástico). Com o intuito de fazer essa verificação, foi calculado o valor de
no ensaio CU em função de para diferentes valores de velocidade de
distorção utilizando-se as formulações dos modelos visco-hipoplástico e
hipoplástico apresentados nesta dissertação.
Figura 10-2 – Visco-hipoplasticidade - Influência da velocidade de distorção no valor de
no ensaio CU.
0
10
20
30
40
50
60
0,00% 0,50% 1,00% 1,50% 2,00%
q (
kPa)
ea (%)
0,1
0,01
82
Figura 10-3 – Hipoplasticidade - Influência da velocidade de distorção no valor de no ensaio CU.
O resultado do modelo visco-hipoplástico foi o esperado, como mostra a figura
10-2, onde é evidente que existe influência da velocidade de distorção no valor
de do ensaio CU. Esta figura é equivalente à figura 2-7.
Já, como mostra a figura10-3, a hipoplasticidade não representa essa relação,
por se tratar de um fenômeno viscoso. Como esperado, as curvas são
coincidentes.
A seguir (figura 10-4) se apresenta um gráfico com as trajetórias de tensão
obtidas utilizando-se o modelo visco-hipoplástico em estudo:
0
10
20
30
40
50
60
0,00% 0,50% 1,00% 1,50% 2,00%
q (
kPa)
ea (%)
GAMA.3
GAMA4
GAMA2
0,01
0
𝛾
83
Figura 10-4 – Trajetória de tensões do ensaio CU obtida com o modelo visco-hipoplástico em estudo.
A figura 10-4 mostra que o modelo prevê maior desenvolvimento das pressões
neutras para carregamentos mais lentos.
10.1. RELAXAÇÃO
Um ensaio de relaxação de tensões não-drenado pode ser realizado da mesma
forma que é realizado o ensaio convencional. Após o adensamento inicial do
corpo de prova devido à pressão confinante, é aumentada a tensão axial com
uma velocidade de deformação constante. A partir de certo ponto é desligada a
prensa, mantendo-se a deformação constante, sendo medidas a pressão
neutra e a tensão desviadora ( ) ao longo do tempo. O nome relaxação de
tensões tem a ver com que diminui com o tempo.
Quando submetido a deformação constante ( ) no ensaio de
relaxação, a velocidade de deformação é nula: e .
Consequentemente, as equações 10.1 e 10.2 passam a ser:
⁄ (10.3)
⁄ (10.4)
0
20
40
60
80
100
120
0 20 40 60 80 100 120
q (
kPa)
p (kPa)
0,1
84
A seguir se mostra a influência que tem e na velocidade com que ocorre a
relaxação (figuras 10-5 e 10-6). Os parâmetros do solo utilizados foram os
apresentados no item 7.3.1.
Figura 10-5 – Relaxação na compressão não- drenada para distintos valores de e
Diferentemente do que ocorre no ensaio de compressão isotrópica, a relaxação
ocorre mais rápido com valores de menores.
60
65
70
75
80
85
90
95
100
105
0 0,001 0,002 0,003 0,004 0,005
q (
kPa)
t(h)
Iv1=1/20
Iv2=1/30
85
Figura 10-6 – Relaxação na compressão não drenada para distintos valores de e
Como se pode observar, no modelo visco-hipoplástico em estudo, a relaxação
ocorre mais rápido com valores de maiores.
Para ver o que o modelo prevê em relação à variação do coeficiente do
empuxo com o tempo, foram calculados os valores das tensões verticais e
horizontais a partir dos valores de e obtidos das equações 10.3 e 10.4 para
diferentes valores de .
97
98
99
100
101
0 0,02 0,04 0,06
q (
kPa)
t(h)
Dr1=1,5%/h
Dr2=1%/h
86
Figura 10-7 – Variação do coeficiente de empuxo no tempo, para distintos valores de e
Observa-se que o modelo prevê uma tendência do valor do empuxo em
repouso se aproximar da unidade quando simulado o ensaio de relaxação na
compressão não drenada, como previsto por Kavazanjian e Mitchell (1984).
10.2. FLUÊNCIA
Quando submetido um corpo de prova a constante no ensaio CU (
) as equações 8-1 e 8-2 passam a ser:
⁄ (10.5)
⁄ (10.6)
Isolando na equação 10.5, temos:
⁄
(10.7)
0,7
0,75
0,8
0,85
0,9
0,95
1
1,05
0 5000 10000 15000
Ko
t(h)
Iv1=1/15
Iv2=1/30
87
Como , e como temos .
Para simular o ensaio de fluência, foi reproduzida a seguinte situação de
ensaio. Imagine-se que se dispõe de 3 amostras iguais e que as 3 são
adensadas sob o mesmo estado isotrópico de tensões. Em seguida, são
carregadas axialmente, sem drenagem, até diferentes valores de q e p. A partir
deste ponto passa a ser restringida a deformação volumétrica ( ) e se
observa o que acontece com o valor de e com a deformação e a velocidade
de deformação axiais, com calculado com a equação 10.7.
Segundo ensaios realizados por Vaid e Campanella em 1977, na argila Haney
(apud Alexandre, 2006), o comportamento dessas argilas na fluência é o
seguinte (figuras 10-8 e 10-9):
88
Figura 10-8 – Ensaios de fluência, Vaid e Campanella 1977 (apud Alexandre, 2006).
Variação da deformação axial no tempo, para diferentes valores de
.
89
Figura 10-9 – Ensaios de fluência, Vaid e Campanella 1977 (apud Alexandre, 2006).
Variação da velocidade de deformação axial no tempo, para diferentes valores de
.
Procedendo da forma descrita acima, foi simulado o ensaio de fluência em três
amostras com igual , adensadas isotropicamente a 100 kPa, e depois
comprimidas axialmente, sem drenagem, até distintos valores de e , Foram
obtidos os seguintes resultados.
90
Figura 10-10 – Resposta do modelo em estudo na compressão não-drenada. Ensaio de fluência. Variação de p com o tempo.
Figura 10-11 – Resposta do modelo em estudo na compressão não-drenada. Ensaio de fluência. Variação da deformação axial no tempo.
0
20
40
60
80
100
120
0 10000 20000 30000 40000 50000 60000 70000
p (
kPa)
t (s)
p=102,14 kPa e q=27,73 kPa p=103,56 kPa e q=35,81 kPa
p=101,01 kPa e q=19,69 kPa
0%
1%
2%
3%
1 10 100 1000 10000 100000
ea
(%)
t (s)
p=103,56 kPa e q=35,81 kPa p=102,14 kPa e q=27,73 kPa
p=101,01 kPa e q=19,69 kPa
91
Figura 10-12 – Resposta do modelo em estudo na compressão não-drenada. Ensaio de fluência. Variação da velocidade de deformação axial no tempo.
Como se pode observar na figura 10-10 ocorre diminuição de com o tempo
(acompanhada do aumento das pressões neutras).
As figuras 10-11 e 10-12 mostram de forma qualitativa, ao menos em parte, os
mesmos resultados obtidos por Vaid e Campanella (apud Alexandre, 2006)
apresentados nas figuras 10-8 e 10-9, respectivamente.
0,00E+00
2,00E-06
4,00E-06
6,00E-06
8,00E-06
1,00E-05
1,20E-05
1,40E-05
1 10 100 1000 10000 100000
ea
(%/s
)
t (s)
p=102,14 kPa e q=27,73 kPa p=103,56 kPa e q=35,81 kPa
p=101,01 kPa e q=19,69 kPa
92
CAPÍTULO 11 - INTERPRETAÇÃO FÍSICA DOS
PARÂMETROS E
11.1. INTERPRETAÇÃO FÍSICA DA CONSTANTE
A fim de interpretar o significado da razão de relaxação , vamos definir uma
nova constante √ e fazer um breve resumo de alguns aspectos da
hipoplasticidade.
Na hipoplasticidade, as equações em e podem ser deduzidas da mesma
forma que na visco-hipoplasticidade (explicado no item 8), a partir da
expressão 7.1. Temos portanto:
√
√
√
√
No caso da compressão isotrópica, as equações se simplificam, resultando em:
√
Substituindo os valores de e na expressão de , temos:
(
)
(
)
Resultando:
(11.1)
93
Substituindo a velocidade de deformação volumétrica pela sua expressão:
e integrando com e temos:
(11.2)
Na equação 11.2, é a inclinação do gráfico vs. , sendo,
portanto, a inclinação da reta virgem representada nesses eixos.
A fim de encontrar uma interpretação física do parâmetro , imaginemos
agora um ensaio de compressão isotrópica com constante, para que o
valor de não influencie no resultado. A equação 9.2 se simplifica e resulta
em:
Substituindo os valores de , e √ temos:
(
)
(
) (11.3)
Seguindo a mesma linha de pensamento dos parágrafos anteriores, para que
seja constante, a equação 11.3 deve pertencer à reta virgem nos eixos
vs. . Portanto, deve ser válida a expressão 11.1 (
. Para
que essa expressão seja válida . Quer dizer, é a velocidade de
deformação volumétrica num ensaio de compressão isotrópica em que o ponto
no gráfico vs. segue a reta virgem quando . é
portanto, um múltiplo dessa velocidade de deformação ( √
).
94
11.2. INTERPRETAÇÃO FÍSICA DA CONSTANTE
foi definido por Niemunis (2002) como índice de viscosidade. Nos itens
anteriores foram realizados ensaios variando os valores de , e de cada
vez, com o intuito de vislumbrar a influência desses parâmetros no resultado do
modelo. Fazendo isso, no item 9.2 foi mostrado que, quanto maior for o valor
de no ensaio de fluência na compressão isotrópica, maior é a inclinação no
gráfico vs. . A inclinação no gráfico vs. no ensaio de
compressão edométrica é o coeficiente de adensamento (como foi
mostrado na figura 2-3). Isto levou à suspeita de que pode existir uma relação
entre e . Para verificar essa dependência, se é que ela existe, foi
estudado o caso de compressão confinada (também chamado de compressão
edométrica).
No ensaio de fluência na compressão confinada, o corpo de prova é submetido
a uma tensão axial efetiva constante, com deformação radial nula e com
drenagem permitida. Como o carregamento axial é constante temos e
, e, como a deformação radial é impedida, temos e, portanto,
e .
Substituindo estes valores nas equações 8.1 e 8.2 temos:
⁄ (11.4)
⁄ (11.5)
Multiplicando a equação 11.4 por
, somando com a equação 11.5 e isolando
temos:
⁄ ( )
( )
95
A seguir se apresenta a variação da deformação axial com o logaritmo do
tempo para diferentes valores de (figura 11-1):
Figura 11-1 – Resposta do modelo em estudo na fluência na compressão confinada.
Variação da deformação axial no tempo para diferentes valores de com e
.
Observe-se que, para maiores valores de , a inclinação da curva é maior.
Portanto, quanto maior , maior .
Para ver se influência no resultado, foi simulado o ensaio para ,
, com diferentes valores de (figura 11-2).
0,0%
0,1%
0,2%
0,3%
0,4%
0,5%
0,6%
0,01 0,1 1 10
ea
(%)
t (h)
Iv=1/15
Iv=1/20
96
Figura 11-2 – Resposta do modelo em estudo na fluência na compressão confinada.
Variação da deformação axial no tempo para diferentes valores de com e
.
Observe-se que, a partir de um tempo de ensaio de aproximadamente meia
hora, as curvas ficam paralelas, não influenciando no valor de .
Se os valores de e estiverem diretamente relacionados e o modelo em
estudo representar bem o comportamento do solo, ele deve mostrar um
aumento no valor de para menores valores de razão de
sobreadensamento. Niemunis (2002) chama a razão de sobreadensamento de
, definida como foi definida no item 7.2. Portanto, para valores de menores,
o coeficiente de adensamento deve ser menor. A seguir se apresenta o
resultado do modelo para diferentes valores de iniciais ( , e
) mantendo-se os valores de e constantes (figura 11-3).
-0,1%
0,0%
0,1%
0,2%
0,3%
0,4%
0,5%
0,6%
0,01 0,1 1 10e
a (%
)
t (h)
Dr=1%/h
Dr=1,5%/h
Dr=2%/h
97
Figura 11-3 – Resposta do modelo em estudo na fluência na compressão confinada.
Variação da deformação axial no tempo para diferentes valores de iniciais com
e .
Observe-se que a inclinação da curva é maior para menores valores de só no
começo do ensaio; com o passar do tempo as curvas ficam paralelas. Portanto
o valor de não influencia no valor do , como era esperado.
A partir desta resposta do modelo se conclui que não está diretamente
relacionado com . Precisam ser realizados mais estudos para interpretar o
significado físico desta constante.
-0,10%
0,00%
0,10%
0,20%
0,30%
0,40%
0,50%
0,01 0,1 1 10 100 1000
ea
(%)
t (h)
R=1
R=1,2
R=1,3
98
CAPÍTULO 12 - CONCLUSÃO E SUGESTÕES DE ESTUDOS
FUTUROS
Para entender o papel da viscosidade no comportamento do solo foram
discutidos o adensamento secundário, a influência da velocidade de
deformação na resistência não-drenada e a variação do coeficiente de empuxo
com o tempo.
Embora o objetivo da pesquisa fosse investigar o comportamento de uma
equação visco-hipoplástica, como etapa preliminar, foram apresentados os
modelos reológicos simples e combinações desses elementos e deduzidas as
equações de fluência e relaxação.
O modelo em estudo foi o modelo visco-hipoplástico de Niemunis (2002) com
as funções constitutivas de Nader (2003). Foram apresentadas as formulações
desse modelo em termos de tensores de tensão e deformação e tensores de
mudança de tensão e deformação no tempo. Foram deduzidas também as
expressões simplificadas desse modelo para ensaios triaxiais. Com as
equações do modelo visco-hipoplástico em estudo foram reproduzidos ensaios
de compressão isotrópica e compressão não-drenada para mostrar o
comportamento das mesmas na relaxação e na fluência e para analisar a
influência dos parâmetros do modelo na sua resposta.
Quando simulado o ensaio de compressão isotrópica com o modelo em estudo,
foi mostrado que a relaxação ocorre mais rápido com valores de e
maiores e com valores de menores. Foi mostrado também, que no ensaio de
fluência na compressão isotrópica, a velocidade de deformação volumétrica
não é constante no logaritmo do tempo e que a mesma é maior para maiores
valores de e para menores valores de e que o valor de não influencia no
seu valor.
99
Foi possível mostrar que o modelo em estudo consegue representar a
influência da velocidade de deformação na relação entre o índice de vazios e a
tensão aplicada na compressão isotrópica. Assim como foi possível simular o
ensaio de Leroueil et al (1985) que mostra a relação entre .
Quando simulado o ensaio de compressão não-drenada, foi mostrado que o
modelo representa a influência da velocidade de deformação e obtêm a
trajetória de tensões esperada para este ensaio. Na simulação do ensaio de
relaxação de tensões, a relaxação ocorreu com maior rapidez para maiores
valores de e menores valores de e prevê que o empuxo em repouso se
aproxima da unidade com o tempo (assunto este sobre o qual não existe um
consenso entre pesquisadores).
Foi mostrado que o modelo representa qualitativamente, pelo menos em parte,
os resultados dos ensaios de fluência realizados por Vaid e Campanella em
1977.
No item 11 foi mostrado que o parâmetro . é múltiplo da velocidade de
deformação volumétrica num ensaio de compressão isotrópica em que o ponto
no gráfico vs. segue a reta virgem quando .
Com o intuito de interpretar o significado físico do parâmetro foi simulado o
ensaio de compressão confinada. Tinha-se a suspeita de que este parâmetro
fosse diretamente relacionado com o coeficiente de adensamento ( ), o que
foi comprovado que não ocorre.
Para dar continuidade a este estudo, seria importante investigar se o modelo
consegue representar o comportamento de um solo em particular, submetido
aos diferentes tipos de ensaios mencionados acima. Além disso, seria
interessante verificar se o modelo é capaz de prever a variação do coeficiente
de empuxo com o tempo.
100
Podem ser feitos estudos também para verificar se os valores de e
propostos por Niemunis (2002) são representativos das argilas presentes no
Brasil, obtendo os parâmetros a partir de ensaios de laboratório para ajustar o
modelo.
Outros estudos que podem ser realizados para dar continuidade a este trabalho
são a modelagem de mais ensaios para interpretar fisicamente o significado da
constante e a relação entre e .
101
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