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Modernismo em Portugal

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Como toda estética literária advém de um contexto histórico e político, o Modernismo português surgiu sob um clima de grande instabilidade interna, com greves sucessivas, aliado às dificuldades trazidas pela eclosão da Primeira Guerra Mundial.

O assassinato do rei Carlos X, em 1908 foi o ponto de partida para a proclamação da República. Com isso, surgiu a necessidade de defender as colônias ultramarinas, razão pela qual o povo português manifestou todo o seu saudosismo de maneira acentuada.

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A lembrança das antigas glórias marítimas e a lamentação pelo desconcerto que dominou o país após o desaparecimento de Dom Sebastião serviram de berço para o nascimento de uma revista que representaria o Modernismo propriamente dito, a revista “Orpheu”, publicada em 1915.

Fazendo parte dela estavam presentes figuras artísticas importantíssimas, tais como:

Mário de Sá-Carneiro, Luís Montalvor, José de Almada-Negreiros e Fernando Pessoa.

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Sebastianismo

O sebastianismo foi uma crença ou movimento profético que surgiu em Portugal em fins do século XVI como consequência da morte do rei D. Sebastião na Batalha de Alcácer-Quibir, em 1578.

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Características do Modernismo Português

• atitude irreverente em relação aos padrões estabelecidos;• reação contra o passado, o clássico e o estático;• temática mais particular, individual e não tanto universal e genérica;• preferência pelo dinamismo e velocidade vitais;• busca do imprevisível e insólito;• abstenção do sentimentalismo fácil e falso;• comunicação direta das ideias: linguagem cotidiana.• interesse pela vida interior (estados de alma, espírito..)• aparente hermetismo, expressão indireta pela sugestão e associação

verbal em vez de absoluta clareza.• liberdade formal: verso livre, ritmo livre, sem rima, sem estrofação

preestabelecida.

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As três gerações

• 1ª geração - o Orfismo : Fernando Pessoa, Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e outros;

• 2ª geração - o Presencismo: José Régio, João Gaspar Simões, Branquinho da Fonseca e outros;

• 3ª geração - o Neorrealismo: Alves Redol, Ferreira de Castro, Jorge de Sena e outros.

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Fernando Pessoa

Heterônimo: Personagem fictícia, criada por escritores (como o caso de Fernando Pessoa), cujo objetivo é tentar compreender e propagar diferentes maneiras de ver a realidade exterior/interior, tentando manter distância da visão da realidade ortônima.

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Trechos da carta de Fernando Pessoa endereçada a Casais Monteiro, na qual ele tenta explicar a origem dos heterônimos:

(...) A origem dos meus heterônimos é o fundo traço de histeria que existe em mim. Não sei se sou simplesmente histérico, se sou, mais propriamente, um histero-neurastênico. Tendo para esta segunda hipótese, porque há em mim fenômenos de abulia que a histeria, propriamente dita, não enquadra no registro dos seus sintomas. Seja como for, a origem mental dos meus heterônimos está na minha tendência orgânica e constante para a despersonalização e para a simulação. Estes fenômenos - felizmente para mim e para os outros - mentalizaram-se em mim; quero dizer, não se manifestam na minha vida prática, exterior e de contato com outros; fazem explosão para dentro e vivo-os eu a sós comigo. (...)

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Desde criança tive a tendência para criar em meu torno um mundo fictício, de me cercar de amigos e conhecidos que nunca existiram. (Não sei, bem entendido, se realmente não existiram, ou se sou eu que não existo. (...) Lembro, assim, o que me parece ter sido o meu primeiro heterônimo, ou, antes, o meu primeiro conhecido inexistente - um certo Chevalier de Pas dos meus seis anos, por quem escrevia cartas dele a mim mesmo, e cuja figura, não inteiramente vaga, ainda conquista aquela parte da minha afeição que confina com a saudade.(...)Esta tendência para criar em torno de mim um outro mundo, igual a este mas com outra gente, nunca me saiu da imaginação. Teve várias fases, entre as quais esta, sucedida já em maioridade.(...)

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Aí por 1912, salvo erro (que nunca pode ser grande), veio-me à ideia escrever uns poemas de índole pagã. Esbocei umas cousas em verso irregular (não no estilo Álvaro de Campos, mas num estilo de meia regularidade), e abandonei o caso. Esboçara-se-me, contudo, numa penumbra mal urdida, um vago retrato da pessoa que estava a fazer aquilo. (Tinha nascido, sem que eu soubesse, o Ricardo Reis).(...)

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Num dia em que finalmente desistira - foi em 8 de Março de 1914 - acerquei-me de uma cômoda alta, e, tomando um papel, comecei a escrever, de pé, como escrevo sempre que posso. E escrevi trinta e tantos poemas a fio, numa espécie de êxtase cuja natureza não conseguirei definir. Foi o dia triunfal da minha vida, e nunca poderei ter outro assim. Abri com um título, O Guardador de Rebanhos. E o que se seguiu foi o aparecimento de alguém em mim, a quem dei desde logo o nome de Alberto Caeiro. Desculpe-me o absurdo da frase: aparecera em mim o meu mestre. Foi essa a sensação imediata que tive.(...)

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Aparecido Alberto Caeiro, tratei logo de lhe descobrir - instintiva e subconscientemente - uns discípulos. Arranquei do seu falso paganismo o Ricardo Reis latente, descobri-lhe o nome, e ajustei-o a si mesmo, porque nessa altura já o via. E, de repente, e em derivação oposta à de Ricardo Reis, surgiu-me impetuosamente um novo indivíduo. Num jato, e à máquina de escrever, sem interrupção nem emenda, surgiu a Ode Triunfal de Álvaro de Campos - a Ode com esse nome e o homem com o nome que tem.(...)

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Os Heterônimos

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Alberto Caeiro: a poesia da sensação

Com uma formação educacional simples (apenas o primário), este heterônimo fazia poesias de forma simples, direta e concreta. Considera que sentir é a única forma de realidade.É considerado por Fernando Pessoa o seu mestre, assim como o de Ricardo Reis e Álvaro de Campos. Espécie de poeta-filósofo, que extrai seu pensamento não de livros nem da civilização, mas de seu contato direto com as coisas e com a natureza. Ele crê que o homem complicou demais as coisas com a metafísica, com as teorias filosóficas e científicas, com suas religiões.

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Sou um guardador de rebanhos.O rebanho é os meus pensamentos.E os meus pensamentos são todos sensações.Penso com os olhos e com os ouvidosE com as mãos e os pésE com o nariz e a boca.

Pensar uma flor é vê-la e cheirá-laE comer um fruto é saber-lhe o sentido.

Por isso quando num dia de calorMe sinto triste de gozá-lo tanto, E me deito ao comprido na erva,E fecho os olhos quentes,

Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,Sei a verdade e sou feliz.

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Ricardo Reis: o sopro clássico

Era um médico que escrevia suas obras com simetria e harmonia. O bucolismo estava presente em suas poesias. Era um defensor da monarquia e demonstrava grande interesse pelas culturas grega e latina e residente no Brasil.

“De Apolo o carro rodou pra foraDa vista. A poeira que levantaraFicou enchendo de leve névoaO horizonte;A flauta calma de Pã, descendoSeu tom agudo no ar pausado,Deu mais tristezas ao moribundoDia suave.”(trecho do poema De Apolo)

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No plano individual, há a consciência da passagem do tempo e da inevitabilidade da morte. Nada resta a fazer, pois o destino de cada um já foi traçado pelo fado (fatalidade). Porém, enquanto a morte não chega, convém aproveitar os prazeres que a vida pode oferecer.

“Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio.Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamosQue a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.(Enlacemos as mãos.)”

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Álvaro de Campos: a energia futurista

Era um engenheiro português de educação inglesa. Influenciado pelo simbolismo e futurismo, apresentava certo pessimismo em suas obras. Dos três heterônimos, ele é o mais afinado com a tendência modernista.

“Nunca conheci quem tivesse levado porrada. Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo. E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil, Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita, Indesculpavelmente sujo.” (trecho do Poema em Linha Reta)

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Tabacaria (trecho)

Não sou nada.Nunca serei nada.Não posso querer ser nada.À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.

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Todas as cartas de amor são ridículas Todas as cartas de amor são Ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor, Como as outras, Ridículas.

As cartas de amor, se há amor, Têm de ser Ridículas.

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Mas, afinal, Só as criaturas que nunca escreveram Cartas de amor É que são Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia Sem dar por isso Cartas de amor Ridículas.

A verdade é que hoje As minhas memórias Dessas cartas de amor É que são Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas, Como os sentimentos esdrúxulos, São naturalmente Ridículas.)

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Fernando Pessoa - ortônimoFernando Antônio Nogueira Pessoa foi um dos mais importantes escritores e poetas do modernismo em Portugal. Nasceu em 13 de junho de 1888 na cidade de Lisboa (Portugal) e morreu, na mesma cidade, em 30 de novembro de 1935.

Fernando Pessoa foi morar, ainda na infância, na cidade de Durban (África do Sul), onde seu pai tornou-se cônsul. Neste país teve contato com a língua e literatura inglesa.

Adulto, Fernando Pessoa trabalhou como tradutor técnico, publicando seus primeiro poemas em inglês.

Em 1905, retornou sozinho para Lisboa e, no ano seguinte, matriculou-se no Curso Superior de Letras. Porém, abandou o curso um ano depois. Em 1912, começou suas atividade como ensaísta e crítico literário, na revista Águia. A saúde do poeta português começou a apresentar complicações em 1935. Neste ano foi hospitalizado por causa do consumo excessivo de bebida alcoólica. Sua morte prematura, aos 47 anos, aconteceu em função da cirrose hepática.

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Autopsicografia

O poeta é um fingidorFinge tão completamenteQue chega a fingir que é dorA dor que deveras sente

E os que lêem o que escreve,Na dor lida sentem bem,Não as duas que ele teve,Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de rodaGira, a entreter a razão,Esse comboio de cordaQue se chama coração.

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Mar português

Ó mar salgado, quanto do teu salSão lágrimas de Portugal!Por te cruzarmos, quantas mães choraram,Quantos filhos em vão rezaram!

Quantas noivas ficaram por casarPara que fosses nosso, ó mar!Valeu a pena? Tudo vale a penaSe a alma não é pequena.

Quem quere passar além do BojadorTem que passar além da dor.Deus ao mar o perigo e o abismo deu,Mas nele é que espelhou o céu.

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Enquanto isso no Enem...

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A tirinha de Hagar estabelece um interessante contraponto com o poema Eu sou do tamanho do que vejo, de Alberto Caeiro

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...Por isso minha aldeia é grande como outra qualquerPorque sou do tamanho do que vejoE não do tamanho da minha altura...(Alberto Caeiro)

A tira Hagar e o poema de Alberto Caeiro (um dos heterônimos de Fernando Pessoa) expressam, com linguagens diferentes, uma mesma ideia: a de que a compreensão que temos do mundo é condicionada, essencialmente,

a) pelo alcance de cada cultura.b) pela capacidade visual do observador.c) pelo senso de humor de cada um.d) pela idade do observador.e) pela altura do ponto de observação.

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Exercício da Apostila (página 42)

Chove. É dia de Natal. Lá para o Norte é melhor: Há a neve que faz mal, E o frio que é ainda pior.

E toda a gente é contente Porque é dia de o ficar. Chove no Natal presente. Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse O Natal da convenção, Quando o corpo me arrefece Tenho frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra E o Natal de quem o fez, Pois se escrevo ainda outra quadra Fico gelado dos pés.

Fernando Pessoa

Assinale a alternativa que apresenta o tema poético:

a) A festa de Natal é uma convenção que obriga as pessoas a serem cordiais, mesmo sendo “frias” por dentro.

b) O clima de alegria na época de Natal aquece o coração frio do poeta.

c) Apesar de o espírito natalino aquecer o coração das pessoas, o poeta ainda se sente frio como a neve.

d) O Natal faz as pessoas preferirem ir para o Norte, em razão do aparecimento da neve.