monografia gustavo matemática 2006

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UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII GUSTAVO AUGUSTO BARROS MIRANDA A MATEMÁTICA EM AÇÃO: UM ESTUDO DA VIABILIDADE ECONÔMICA DO LIXÃO DE SENHOR DO BONFIM – A COMERCIALIZAÇÃO DO PET SENHOR DO BONFIM AGOSTO DE 2006

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Matemática 2002

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Page 1: Monografia Gustavo Matemática 2006

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

GUSTAVO AUGUSTO BARROS MIRANDA

A MATEMÁTICA EM AÇÃO: UM ESTUDO DA VIABILIDADE

ECONÔMICA DO LIXÃO DE SENHOR DO BONFIM – A

COMERCIALIZAÇÃO DO PET

SENHOR DO BONFIM

AGOSTO DE 2006

Page 2: Monografia Gustavo Matemática 2006

1

GUSTAVO AUGUSTO BARROS MIRANDA

A MATEMÁTICA EM AÇÃO: UM ESTUDO DA VIABILIDADE

ECONÔMICA DO LIXÃO DE SENHOR DO BONFIM – A

COMERCIALIZAÇÃO DO PET

Monografia apresentada ao Departamento de

Educação – Campus VII da Universidade do

Estado da Bahia, como parte das exigências da

disciplina Monografia.

Profª. Orientadora: Maria Celeste de Castro

SENHOR DO BONFIM

AGOSTO DE 2006

Page 3: Monografia Gustavo Matemática 2006

2

GUSTAVO AUGUSTO BARROS MIRANDA

A MATEMÁTICA EM AÇÃO: UM ESTUDO DA VIABILIDADE

ECONÔMICA DO LIXÃO DE SENHOR DO BONFIM – A

COMERCIALIZAÇÃO DO PET

Aprovado em _______/________/__________ ______________________________________________ Orientadora

_______________________________________________ Avaliador

_______________________________________________ Avaliador

Page 4: Monografia Gustavo Matemática 2006

3

Dedico este trabalho: aos meus pais José

Augusto e Marta, meus irmãos, minha

esposa Cristiane e meus filhos Mariana,

Juliana e Sócrates, por compartilharem

comigo a instituição mais sublime da vida:

A família.

Page 5: Monografia Gustavo Matemática 2006

4

AGRADECIMENTOS

A Deus pela oportunidade e pelo privilégio que me concedeu de compartilhar

da gratificante experiência de freqüentar um curso superior e de atentar para a

relevância de temas que não estavam relacionados em profundidade com nossas

vidas;

A minha orientadora Maria Celeste de Castro, pelo incentivo, simpatia,

dedicação e paciência na promoção de atividades e discussões sobre o

desenvolvimento da presente monografia;

Aos meus professores que de uma forma ou de outra contribuíram para minha

formação intelectual;

A minha família pela paciência e incentivo nos anos acadêmicos, em especial

a minha esposa Cristiane;

Aos meus amigos bonfinenses, os quais conquistei durante a minha vida em

Senhor do Bonfim, por acreditar que eu iria atingir esse momento especial;

Aos catadores do lixão de Senhor do Bonfim que muito contribuíram para a

elaboração desse trabalho;

A todos aqueles cujos nomes não menciono para não cometer injustiça, mas

que muito contribuíram para a conquista desta etapa de minha vida, meu muito

obrigado.

Page 6: Monografia Gustavo Matemática 2006

5

“A única revolução possível é dentro de nós.” (GANDHI).

Page 7: Monografia Gustavo Matemática 2006

6

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..........................................................................................................11

CAPÍTULO I

A MATEMÁTICA EM CONSTRUÇÃO E AÇÃO: ALGUMAS REFLEXÕES ..............14

1.1 A MATEMÁTICA EM CONSTRUÇÃO .............................................................14

1.2 A MATEMÁTICA EM AÇÃO ............................................................................16

CAPÍTULO II

QUADRO TEÓRICO .................................................................................................20

2.1 LIXO: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS .....................................................20

2.2 RECICLAGEM: COMO RECICLAR.................................................................22

2.3 PET: POLIETILENO TEREFTALATO..............................................................24

2.4 PET – O MERCADO PARA RECICLAGEM ....................................................26

2.5 CONTRIBUIÇÕES DA LINGUAGEM MATEMÁTICA: O LIXO – UMA FUNÇÃO

MATEMÁTICA? .....................................................................................................28

CAPÍTULO III

O PARADIGMA DA PESQUISA................................................................................31

3.1 O LÓCUS.........................................................................................................32

CAPÍTULO IV

DADOS, ANALISE, APLICAÇÕES E INTERPRETAÇÕES ......................................35

4.1 O LIXO EM SENHOR DO BONFIM.................................................................35

4.2 A FUNÇÃO MATEMÁTICA QUE DEFINE O TEMA ABORDADO...................39

CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..........................................................................47

ANEXO......................................................................................................................49

Page 8: Monografia Gustavo Matemática 2006

7

LISTA DE QUADROS

QUADRO – RECICLAGEM PÓS-CONSUMO DE PET NO BRASIL DE 2001 A 2004

Page 9: Monografia Gustavo Matemática 2006

8

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 – O PROCESSO DA COLETA DE RESÍDUOS SÓLIDOS E SUAS

INTER-RELAÇÕES

FIGURA 2 – MERCADO CONSUMIDOR DE EMBALAGENS PET

FIGURA 3 – CATADORES DO LIXÃO DO MUNICÍPIO DE SENHOR DO BONFIM

EM DIA DE TRABALHO SEM EQUIPAMENTOS DE PROTEÇÃO INDIVIDUAL

FIGURA 4 – COLETA DE MATERIAIS RECICLÁVEIS E PASSIVEIS DE VENDA

NO LIXÃO

FIGURA 5 – COLETA MUNICIPAL DO LIXO EM SENHOR DO BONFIM, DE

ACORDO COM OS BAIRROS E DISTRITOS, COM SEUS RESPECTIVOS

PERCENTUAIS.

FIGURA 6 – DESTINO FINAL DO LIXO (LIXÃO) DO MUNICÍPIO DE SENHOR DO

BONFIM, BAHIA.

FIGURA 7 – ARMAZENAMENTO DO MATERIAL COLETADO (PLÁSTICO E

PNEUS) PELOS CATADORES DE LIXO NO MUNICÍPIO DE SENHOR DO

BONFIM, BAHIA

FIGURA 8 – PRODUÇÃO DO LIXO EM SENHOR DO BONFIM, EM KG, SEGUNDO

DADOS DA PREFEITURA MUNICIPAL.

FIGURA 9 – INTERPRETAÇÃO DAS FUNÇÕES

Page 10: Monografia Gustavo Matemática 2006

9

LISTA DE SIGLAS

ABEPET – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DO PET

ANVISA – AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA

CEMPRE – COMPROMISSO EMPRESARIAL PARA RECICLAGEM

NBR – NORMA BRASILEIRA REGULAMENTADORA

PET – POLIETILENO TEREFTALATO

PMSB – PREFEITURA MUNICIPAL DE SENHOR DO BONFIM

SNB – SENHOR DO BONFIM

SSA – SALVADOR

TNT – TECIDO NÃO TECIDO

Page 11: Monografia Gustavo Matemática 2006

10

RESUMO

Na atualidade a questão do lixo está atrelada à economia e por conseqüente

engloba questões sociais tendo como foco as suas desigualdades. Nesse trabalho

estão sendo resgatados conceitos que subsidiam reflexões referentes ao lixo e a

contribuição da matemática para minimizar essas desigualdades sociais. Assim

temos como objetivos, desenvolver estudos sobre o PET aspectos como resíduos

sólidos e processos de reciclagem, identificando os conceitos matemáticos

presentes no cotidiano dos catadores do lixão e refletindo sobre os caminhos da

matemática em ação neste contexto.

Confronta os conceitos teóricos de lixo apresentado por Houaiss (2002) e

Ferreira (1986) levantando uma discussão sobre a concepção de lixo na atualidade,

discorremos sobre as contribuições da linguagem matemática, utilizando o conceito

de matemática em ação (SKOVSMOSE, 2004) e utilizando a linguagem matemática

(EVES, 2004) como forma de mostrar a viabilidade econômica do lixo produzido em

Senhor do Bonfim.

Na metodologia apresentamos os conceitos teóricos que deram subsídios a

ida ao lócus da pesquisa apresentando dados e construindo uma contextualização

do objeto do estudo.

Nas considerações finais apresento reflexões sobre a viabilidade econômica e

os caminhos da matemática em ação no contexto de Senhor do Bonfim.

Page 12: Monografia Gustavo Matemática 2006

11

INTRODUÇÂO

Uma das grandes preocupações na atualidade é como compatibilizar a

necessidade de consumo para sustentação e desenvolvimento econômico, com

impactos ambientais ligados a degradação e poluição, que agridem tanto os

ecossistemas como a sociedade em geral.

A ampliação da cultura de consumismo, afeta diretamente na produção de lixo

mundial, causando assim um desequilíbrio entre a capacidade de absorção dos

resíduos pelos sistemas naturais e pela produção desenfreada dos materiais

poluentes gerados pelo homem.

Acrescenta-se nesse contexto, as crescentes disparidades sociais entre os

incluídos e os excluídos do atual processo produtivo, afastando ainda mais uma

significativa faixa da sociedade dos benefícios gerados no sistema sócio-econômico

vigente. Sendo assim, nota-se que essa faixa da sociedade excluída busca como

alternativa, para inserção econômica, meios que extrapolam os limites do conceito

que a própria humanidade constrói de cidadania.

Desta forma, é notório o paradoxo construído no interior de uma sociedade,

onde alguns indivíduos buscam a sobrevivência nos dejetos produzidos por outros

indivíduos, enquanto que outra parcela ‘privilegiada’ da sociedade é responsável

pela produção exagerada desses resíduos.

Pretende-se através desse trabalho, analisar a viabilidade econômica da

comercialização de um dos materiais recicláveis mais freqüentes na produção do lixo

no município de Senhor do Bonfim, o plástico Polietileno Tereftalato – PET. Além da

grande quantidade do PET presente no montante dos resíduos, há uma grande

valorização no mercado de recicláveis, devido aos variados usos nas indústrias de

bens de consumo.

Page 13: Monografia Gustavo Matemática 2006

12

No município de Senhor do Bonfim, os catadores do lixão coletam o PET e

vendem aos atravessadores por preços bem abaixo do mercado, gerando uma

constante incapacidade de progressão sócio-econômica.

Sendo assim, o eixo norteador dessa pesquisa é a aplicabilidade de recursos

matemáticos através de definições e interpretações gráficas de funções polinomiais

de 1º grau, mostrando a viabilidade econômica da comercialização do PET.

No capítulo I, discute-se que a matemática em construção reflete uma

tendência contemplativa da análise lógica, não representando tudo dessa ciência.

Entretanto, ela tem conduzido a uma compreensão mais profunda dos fatos

matemáticos e de sua interdependência levando a uma compreensão mais clara da

essência dos seus conceitos. A partir dela, evoluiu um ponto de vista moderno na

matemática típica de uma atitude científica universal. Discute-se também a

matemática em ação e seu papel para a construção de uma sociedade, acarretando

a ampliação da autonomia do sujeito e aproximação de sua realidade, através de

conhecimentos matemáticos.

O capítulo II traz algumas reflexões e conceitos sobre: o lixo, reciclagem, PET

e ainda sobre a matemática e suas considerações, resgatando a linguagem das

funções polinomiais estruturando o estudo para a comercialização de resíduos do

tipo PET pelos catadores do lixão de Senhor do Bonfim.

No capítulo III é enfocado a metodologia dessa pesquisa, estruturado no

método quantitativo e qualitativo associado a uma dimensão social. A fonte natural

desse estudo foi o lixão de Senhor do Bonfim e sua pertinência social está ligada ao

olhar que foi direcionado para os “atores” presentes – os catadores de lixo.

No capítulo IV é feito o estudo prático da quantidade de PET coletado no lixão

de Senhor do Bonfim com os valores da venda do PET tanto nesta cidade como em

Salvador. Este estudo comparativo entre as cidades é necessário, pois aumenta a

demanda do PET nos grandes centros, tornando os preços mais atrativos, mesmo

sabendo que haverá custos para transportá-los. Obedecendo a função polinomial

Page 14: Monografia Gustavo Matemática 2006

13

iremos mostrar a viabilidade econômica para a comercialização após triagem do

plástico tipo PET, pelos catadores do lixão de Senhor do Bonfim.

Não se pretende com essa pesquisa solucionar os amplos problemas sociais

dos catadores, e sim, construir uma melhor relação comercial, utilizando os

conceitos matemáticos identificados no cotidiano das pessoas envolvidas com a

coleta dos resíduos sólidos no lixão de Senhor do Bonfim.

Page 15: Monografia Gustavo Matemática 2006

14

CAPÍTULO I

A MATEMÁTICA EM CONSTRUÇÃO E AÇÃO: ALGUMAS REFLEXÕES

1.1 A MATEMÁTICA EM CONSTRUÇÃO

Refletindo sobre o desenvolvimento da ciência matemática ao longo dos

séculos podemos construir referencial de suas contribuições para o avanço cientifico

da humanidade.

A matemática como expressão da mente humana reflete a vontade ativa, a

razão contemplativa, e o desejo da perfeição estética. Seus elementos básicos são a

lógica, a intuição, a análise, a construção, a generalidade e a individualidade. São

aspectos que definem esta ciência. Embora diferentes tradições possam enfatizar

diferentes aspectos, é somente a influência recíproca destas forças antitéticas e a

luta por sua síntese que constituem a vida, a utilidade, e o supremo valor da ciência

Matemática.

Sem dúvida alguma, todo o desenvolvimento da matemática tem suas raízes

psicológicas em exigências mais ou menos práticas. No entanto, uma vez

desencadeado pela pressão de aplicações necessárias, inevitavelmente ganha

impulso por si e transcende os confins da utilidade imediata. Esta tendência da

ciência aplicada para a prática aparece na História Antiga e também em muitas

contribuições à Matemática moderna por engenheiros e físicos. É a busca de sentido

e significado para uma ciência que surge como resultado de necessidades presentes

no cotidiano.

A matemática registrada inicia-se no Oriente, onde, por volta de 2.000 a.C os

babilônicos colecionaram uma grande quantidade de material que hoje

classificaríamos como álgebra elementar. Contudo, como ciência no sentido

moderno, a matemática emergiu somente mais tarde, em solo grego, nos séculos V

e VI a.C. onde foi logo submetida à discussão filosófica que florescia nas cidades-

estados gregos. Dessa forma, os pensadores tomaram consciência das grandes

Page 16: Monografia Gustavo Matemática 2006

15

dificuldades inerentes aos conceitos matemáticos de continuidade, movimento, e

infinito.

Talvez a antiga descoberta das dificuldades associadas à quantidades

“incomensuráveis” impediram que os gregos desenvolvessem a arte do cálculo

numérico alcançada antes no Oriente. Ao invés disso, eles forçaram seu caminho

através de intricada Geometria axiomática pura. Por quase dois mil anos, o peso da

tradição geométrica grega retardou a inevitável evolução de conceito de número e

da manipulação algébrica, que mais tarde constituiu a base da ciência moderna.

No século XIX, a imanente necessidade de consolidação e o desejo de maior

segurança na extensão de conhecimentos mais avançados que foi desencadeado

pela Revolução Francesa, inevitavelmente reconduziu a uma visão dos fundamentos

da nova matemática, em particular do cálculo Diferencial e Integral e o conceito

subjacente de limite.

Embora a tendência contemplativa da análise lógica não represente tudo da

matemática, ela tem conduzido a uma compreensão mais profunda dos fatos

matemáticos e de sua interdependência e a uma compreensão mais clara da

essência dos conceitos matemáticos. A partir dela evoluiu um ponto de vista

moderna na matemática típica de uma atitude científica universal.

Através dos tempos, os matemáticos têm considerado seus objetos, tais como

números, pontos, etc. como coisas substanciais em si. Uma vez que estas entidades

sempre tinham desafiado tentativas de uma descrição adequada, manifestou-se

corretamente nos matemáticos do século XIX a convicção de que a questão do

significado destes objetos como coisas substanciais não fazia sentido dentro da

matemática, ou mesmo em geral.

As únicas asserções relativas a eles se referem à realidade substancial; elas

enunciam apenas as inter-relações entre “objetos indefinidos” matematicamente e as

regras governando operações com eles.

Page 17: Monografia Gustavo Matemática 2006

16

O que pontos, retas, números “efetivamente” são, não pode e não precisa ser

discutido na Ciência Matemática.. Esta é a visão da ciência como algo pronto e

acabado, linearmente produzido.

No movimento de transposição desta ciência para o contexto de sala de aula

há um espaço indefinido. Não se constrói nem matemática enquanto ciência pura,

com axiomas, postulados e teoremas e nem a reproduz como ciência do cotidiano.

O que importa e o que corresponde a fatos “verificáveis” é a estrutura e as

relações entre objetos; que dois pontos determinam uma reta, que números se

combinam de acordo com certas regras para formar outros números, etc.felizmente,

no contexto descrito, mentes criativas esquecem crenças, filosóficas dogmáticas

sempre que o apego a elas impede realizações construtivas.

Dentro desse contexto a matemática, na qual estão contracenando os

educandos, torna-se uma ferramenta sem significado e sentido não contribuindo

para a sua organização intelectual e social do conhecimento.

1.2 A MATEMÁTICA EM AÇÃO

Certamente, a matemática é uma construção social sujeita à concepção que

cada sociedade tem no saber, da ciência e da perfeição.

Na maioria das sociedades das quais temos registros mais completos, a

chinesa, babilônica, hindu, egípcia, greco-romana, a matemática sempre foi mais ou

menos utilizada para controle da sociedade.

Assim, a escola tem uma responsabilidade social e não deve permitir que

seus alunos saiam despreparados para atuar como cidadãos conscientes em uma

sociedade cada vez mais permeada pela ciência e pela tecnologia.

Parte disso consiste em habilitá-los a resolver problemas do nosso contexto,

que possam ser formulados matematicamente. Mas essa capacidade operativa deve

Page 18: Monografia Gustavo Matemática 2006

17

ser conseqüência da compreensão das estruturas, das idéias e dos métodos

matemáticos desenvolvidos e não de uma simples aplicação de fórmulas.

Essa visão é chamada de “Matemática em ação” que é compreendida como

um dos processos de desenvolvimento da sociedade industrializada e acrescenta

que o recente desenvolvimento é alicerçado matematicamente (SKOVSMOSE 2004,

p. 30). Nesse sentido a matemática pode ser atuante, como elemento de

planejamento tecnológico, em processos decisórios, estruturais e conseqüentemente

nas atividades diárias.

É uma visão que extrapola o conceito de matemática como um conjunto de

técnicas, simbologias e linguagens específicas. A matemática passa a ser

compreendida como um conhecimento que deve ser trazido à ação e valoriza o

saber pensar e o aprender a aprender para melhor intervir e inovar (DEMO, 1996).

Une teoria e prática, privilegiando a crítica e a criatividade no processo de formação

da competência histórica humana. Em vez de manobra ou objeto de manipulação

pretende-se construir um sujeito histórico capaz de manejar seu destino dentro das

circunstâncias dadas.

Esta compreensão do papel da matemática para o desenvolvimento da

sociedade pode acarretar a ampliação da autonomia do sujeito e a aproximação de

sua realidade com a matemática. Isto é, as melhoras obtidas a partir de

conhecimentos matemáticos que propiciem a leitura do mundo e o pensamento

autônomo, o que significa contribuir para o exercício pleno da cidadania.

Neste século XXI, o século da informatização, da globalização, da robótica, da

comunicação, da nova ordem mundial a sociedade e em particular a educação,

passa por grandes transformações.

Essas transformações são resultados de uma geopolítica e dos

questionamentos sobre os conhecimentos dominantes que se mostram insuficientes

para lidar com a complexidade do mundo atual, com dificuldades e perplexidade

para as forças comprometidas com um projeto alternativo de educação centrado na

construção de uma democracia participativa, de igualdade entre os seres humanos e

Page 19: Monografia Gustavo Matemática 2006

18

sua cultura. Diante disso as mudanças são essenciais à implantação de propostas

que visem a justiça social, o desenvolvimento crítico e, conseqüentemente político

oportunizando aos educandos possibilidades de intervenção na realidade onde

estão inseridos.

Utilizando a compreensão de que matemática está situada no núcleo de

desenvolvimento social (D’AMBRÓSIO, 1996) é que neste estudo ela assume um

caráter aplicativo de ação e será resgatada a problemática dos resíduos sólidos1 e a

utilização destes para devolver a cidadania dos sujeitos envolvidos neste processo.

Nesse sentido, visando minimizar as desigualdades sociais no município de

Senhor do Bonfim recorremos a matemática como eixo norteador para estudar e

apresentar alternativas que possibilitem o aproveitamento dos conteúdos

acadêmicos.

Assim os objetivos deste estudo são:

● Desenvolver estudos sobre o PET, seus aspectos como resíduos sólidos e

processos de reciclagem;

● Identificar os conceitos matemáticos presentes no cotidiano dos catadores

do lixão de Senhor do Bonfim;

● Analisar a viabilidade econômica na reciclagem do PET em Senhor do

Bonfim, a partir de estudos matemáticos utilizando os conceitos identificados;

● Refletir sobre os caminhos “a matemática em ação neste contexto”.

1 [...] Em conformidade com a Norma Brasileira NBR 10.004/87, resíduos sólidos são: “aqueles resíduos nos estados sólidos e semi-sólidos que resultam de atividades de origem industrial, doméstico, hospitalar, comercial agrícola, de serviços e de variação. Ficam incluídos nesta definição os dados provimentos de sistema de tratamento de água, aqueles gerados em equipamentos de instalação de controle de poluição, bem como determinados líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento da rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso soluções técnicas e economicamente inviável em face a melhor tecnologia disponível”.

Page 20: Monografia Gustavo Matemática 2006

19

A situação-problema, caracterizado pela quantidade de resíduos sólidos que

são gerados no Brasil especificamente no município de Senhor do Bonfim, leva-nos

a buscar compreender e estudar algumas constatações a partir da linguagem

matemática através do conhecimento de funções polinomiais, a viabilidade

econômica para comercialização do plástico tipo PET pelos catadores do lixão dessa

cidade, buscando assim uma matemática com sentido e ação para a comunidade

que desenvolve seus trabalhos neste local.

Diante do que foi exposto, este estudo assume como pertinência cientifica, o

fato de resgatar a ciência matemática como algo significativo, estruturado com suas

simbologias e linguagens específicas e como pertinência social os estudos que

resgatam um problema vivenciado na região: o lixo, sua viabilidade econômica e o

emprego como forma de inclusão social e a retomada da cidadania.

Page 21: Monografia Gustavo Matemática 2006

20

CAPÍTULO II

QUADRO TEÓRICO

Este capítulo engloba algumas reflexões e conceitos sobre: lixo, reciclagem,

PET e sobre a matemática e suas considerações resgatando a linguagem das

funções polinomiais para estruturar o estudo para a comercialização de resíduos tipo

PET pelos catadores do lixão de Senhor do Bonfim.

2.1 LIXO: CONCEPÇÕES E PERSPECTIVAS

Normalmente ao referir-se ao lixo temos uma representação de algo que não

“serve mais,” algo “sujo e descartado”. Houaiss (2002) salienta que: “Lixo é qualquer

objeto sem valor ou utilidade, ou detrito oriundo de trabalhos domésticos, industriais

que se joga fora”. Já de acordo com Ferreira (1986) encontram-se os seguintes

significados: “1. Aquilo que se varre da casa, do jardim, da rua, e se joga fora;

entulho 2. Tudo que não presta e se joga fora. 3. Sujidade, imundice 4. Ralé”.

Estas concepções nos oferecem um referencial equivocado de lixo, pois na

atualidade o lixo deixa de ser “algo sujo, descartável” e passa a se constituir em um

objeto ou meio de sustentação de uma dada sociedade. Nos últimos anos o “lixo” na

maioria das vezes passa a ser definido como resíduos sólidos.

Segundo estudos de Cunha e Caixeta Filho2:

A quantidade de resíduos produzida por uma população é bastante variável e depende de uma série de fatores, como renda, época do ano, modo de vida, movimento da população nos períodos de férias e fim de semana e novos métodos de acondicionamento de mercadorias com tendência mais recente de utilização de embalagens não retornáveis.

Esta dinâmica determina o gerenciamento, o destino e as formas que

conduzem ao aproveitamento ou não, destes resíduos.

2 Trabalho Monográfico “Gerenciamento da Coleta de Resíduos Sólidos Urbanos”,

Page 22: Monografia Gustavo Matemática 2006

21

Neste sentido, a organização do gerenciamento do processo de coleta deve

estar preocupada em coletar a maior quantidade gerada possível.

A quantidade de resíduos sólidos gerados no mundo tem sido grande e seu

mau gerenciamento, além de provocar gastos financeiros significativos, pode

provocar graves danos ao meio ambiente e comprometer a saúde e o bem-estar da

população.

Grande parte dos materiais que vão para o lixo podem (e deveriam) ser

reciclados. Tendo em vista o tempo de decomposição natural de alguns materiais

como o plástico (450 anos), o vidro (5.000 anos), a lata (100 anos), o alumínio (de

200 a 500 anos), faz-se necessário o desenvolvimento de uma consciência

ambientalista para uma melhoria da qualidade de vida atual e para que haja

condições ambientais favoráveis à vida das futuras gerações (REDEPSI, 2006)

Atualmente a produção anual de lixo em todo o planeta é de

aproximadamente 400 milhões de toneladas e diariamente no Brasil mais de 240 mil

toneladas. O que fazer e onde colocar tanto lixo é um dos maiores desafios deste

final de século (REDEPSI, 2006).

Com isso surge a reciclagem, segundo Houaiss (2002), compreendida como a

recuperação da parte reutilizável dos dejetos do sistema de produção ou consumo,

para reintroduzi-los no ciclo de produção de que provêm. Ex: do papel, do plástico,

do vidro, etc.

Gehlen (s.d) diz que:

Reciclagem é uma alternativa para amenizar o problema, porém, é necessário o engajamento da população para realizar esta ação. O primeiro passo é perceber que o lixo é fonte de riqueza e que para ser reciclado deve ser separado. Ele pode ser separado de diversas maneiras e a mais simples é separar o lixo orgânico do inorgânico (lixo molhado/ lixo seco). Esta é uma ação simples e de grande valor. Os catadores de lixo, o meio ambiente e as futuras gerações agradecem.

Page 23: Monografia Gustavo Matemática 2006

22

A produção de lixo vem aumentando assustadoramente em todo o planeta. O

lixo é o maior causador da degradação do meio ambiente e pesquisas indicam que

cada ser humano produz, em média, pouco mais que 1 quilo de lixo por dia. Desta

forma, será inevitável o desenvolvimento de uma cultura de reciclagem, tendo em

vista a escassez dos recursos naturais não renováveis e a falta de espaço para

acondicionar tanto lixo.

Todo lixo produzido, normalmente é recolhido pelos caminhões e levado até

as centrais de reciclagem. Lá é separado e classificado para o reaproveitamento.

Muitas famílias sobrevivem da venda deste material. A separação do lixo, orgânico

(molhado) do inorgânico (seco), é importantíssima para o processo da reciclagem,

uma vez que, quando misturado dificulta no processo de "garimpagem" dos

catadores de lixo

Em Senhor do Bonfim a situação não é diferente e ainda, como agravante,

não existem centrais de reciclagem, dificultando mais o trabalho dos mesmos. Esses

catadores vendem seus materiais aos atravessadores, nome dado por eles às

pessoas que compram seus produtos. Hoje em dia, devido os catadores não

estarem organizados quer seja em associação ou em cooperativa, há uma grande

dificuldade na comercialização, isto é, os preços dos materiais estão bem abaixo de

valores de mercado. Mais adiante, serão demonstrados estudos matemáticos que

viabiliza essa comercialização nos grandes centros.

2.2 RECICLAGEM: COMO RECICLAR

Segundo a NBR 10004/87 em função da sua origem, os resíduos sólidos

podem ser classificados como: domiciliares, industrial, hospitalares, entulhos e

agrícolas.

Tchobanoglous (1977) afirma que as atividades ligadas aos resíduos sólidos,

podem ser agrupados em seis elementos funcionais, conforme ilustra a figura 1.

Page 24: Monografia Gustavo Matemática 2006

23

Figura 1 – O processo da coleta de resíduos sólidos e suas inter-relações

Fonte: Tchobanoglous (1977)

É de consentimento de todos que a atual forma de disposição dos resíduos

sólidos domésticos se caracteriza como um problema grave. Dentre estes, os

resíduos plásticos chamam mais a atenção devido a total descartabilidade das

embalagens, a resistência à degradação na natureza e a sua baixa densidade,

fazendo-os flutuarem em lagos, cursos de água.

GERAÇÃO

ACONDICIONAMENTO

COLETA

PROCESSAMENTO

E

RECUPERAÇÃO

ESTAÇÃO DE

TRANSFERÊNCIA

OU TRANSBORDO

DISPOSIÇÃO

FINAL

Page 25: Monografia Gustavo Matemática 2006

24

Geralmente, a distinção dos resíduos sólidos pode se dar através da

reciclagem, da incineração, ou da disposição em aterros sanitários, aterros

controlados e lixões.

A disposição de resíduos sólidos em lixões ou aterros (sanitários ou

controlados), embora sendo atualmente a mais utilizada, trata-se de uma forma

inadequada de destinação. Este tipo particular de depósito é um local, usualmente

constituído de depressões (grotas ou barrocas) ou de barrancos a margem de rios,

representando um foco de sérias e duradouras agressões ambientais, além de ser

propício à proliferação e difusão de um grande número de moléstias.

Quando os materiais plásticos são depositados em lixões, os principais

problemas que aparecem são a queima indevida e sem controle. Quando

depositados em aterros, eles dificultam a compactação do lixo e prejudicam o

processo de decomposição dos materiais biologicamente degradáveis, pela criação

de camadas impermeáveis que afetam as trocas de líquidos e gases gerados no

processo de biodegradação da matéria orgânica (PINTO, 1995).

Apesar desses fatos, a grande maioria das cidades brasileiras (inclusive

diversas capitais de Estados) lança seus resíduos, de todas as origens e naturezas

em lixões.

2.3 PET: POLIETILENO TEREFTALATO

O polietileno tereftalato (PET) é uma resina de grande utilização, membro da

família dos poliésteres – Polímeros são constituídos por meros (pequenas unidades

de repetição), que através do processo de polimerização formam a cadeia

polimérica.

A cadeia polimérica tem alta massa molecular e é esta propriedade que

confere aos polímeros características únicas e valiosas (CEMPRE, 2003).

Sua produção é realizada a partir dos etilenoglicol do P-Xileno, sendo ambos

os produtos da indústria petroquímica.

Page 26: Monografia Gustavo Matemática 2006

25

Essa resina plástica foi descoberta por químicos ingleses em 1941, sendo

usada a partir dos anos 60 como material de embalagem (filme PET), com grande

aceitação para acondicionamento de alimentos, devido às suas características de

alta resistência mecânica (impacto) e química, além de ser excelente barreira para

gases e odores.

Em 1973, foi desenvolvido o processo de injeção e sopro, introduzindo o PET

na aplicação para a fabricação de garrafas, o que revolucionou o mercado de

embalagens, principalmente o de bebidas carbonatadas, ou seja, bebidas contendo

CO2.

No Brasil, o PET garrafa se tornou disponível apenas em 1989 e foi a partir de

1993 que as garrafas de refrigerantes passaram a ser produzidas em larga escala.

Essa revolução ocorreu devido às seguintes vantagens das embalagens de

PET, frente aos outros tipos de materiais usuais, tais como (ABEPET, 2003):

� Acabamento do gargalo isento de rebarbas;

� Alta resistência ao impacto e a pressão interna;

� Excelentes propriedades de barreira;

� Estabilidade química;

� Embalagens mais leves, com otimização no transporte e manuseio;

� Baixo custo compatível com os demais termoplásticos de finalidades e

empregos semelhantes;

� Evita interrupções na linha de envase por quebra de embalagens;

� É reciclável;

Page 27: Monografia Gustavo Matemática 2006

26

Tais características fizeram do PET o melhor plástico para a fabricação de

garrafas e embalagens para refrigerantes, águas, sucos, óleos comestíveis,

medicamentos, cosméticos, produtos de limpeza, cervejas, dentre outros.

A demanda nacional de embalagens de PET encontra-se dividida da seguinte

forma:

80%

10%6% 4%

Refrigerantes

Água

Óleo

Outros

Figura 2 – Mercado consumidor de embalagens PET

Fonte: Rhodia-ster, 2003

2.4 PET – O MERCADO PARA RECICLAGEM

O maior mercado para o PET pós-consumo no Brasil é a produção de fibra de

poliéster para indústria têxtil (multifilamento), onde será aplicada na fabricação de

fios de costura, forrações, tapetes, carpetes, mantas de TNT (tecido não tecido),

dentre outras. Outra utilização muito freqüente é na fabricação de cordas e cerdas

de vassouras e escovas (monofilamento). Parte do produto é destinada à produção

de filmes e chapas para boxes de banheiro, placas de trânsito e sinalização em

geral. Também é crescente o uso de embalagens pós-consumo reciclados, na

fabricação de novas garrafas para produtos não alimentícios. É possível utilizar os

flocos da garrafa na fabricação de resinas alquídicas, usadas na produção de tintas

e também resinas insaturadas para produção de adesivos e resinas poliéster. As

Page 28: Monografia Gustavo Matemática 2006

27

aplicações mais recentes estão na extrusão de tubos para esgotamento predial,

cabos de vassouras e na injeção para fabricação de torneiras.

Nos EUA, Europa e Austrália, os consumidores podem comprar refrigerantes

envasados em garrafas de PET produzidas com percentuais variados de material

reciclado.

Essa aplicação poderá crescer com o avanço da reciclagem química deste

material, processo no qual o PET é despolimerizado, recuperando as matérias-

primas básicas, que lhe deram origem. Com essa matéria prima recuperada é

possível produzir a resina PET novamente.

A reciclagem das embalagens PET poli (tereftalato de etileno), como as

garrafas de refrigerantes de 1l; l.5l; 2l; 2,5l; 0,60l descartáveis, está em franca

ascensão no Brasil. O material, que é um poliéster termoplástico, tem como

características a leveza, a resistência e a transparência, ideais para satisfazer a

demanda do consumo doméstico de refrigerantes e de outros produtos, como artigos

de limpeza e comestíveis em geral.

A evolução do mercado e os avanços tecnológicos têm impulsionado novas

aplicações para o PET reciclado, das cordas e fios de costura, aos carpetes, e até

mesmo, como citado anteriormente, novas garrafas para produtos não alimentícios,

já que esta aplicação ainda não é permitida pela ANVISA (Agência Nacional de

Vigilância Sanitária). Sua reciclagem, além de desviar lixo plástico dos aterros, utiliza

apenas 0,3% da energia total necessária para o produto de resina virgem. E tem a

vantagem de poder ser reciclado várias vezes sem prejudicar a qualidade do produto

final.

No Brasil, os plásticos correspondem em média a 10% em peso do lixo

urbano. Na coleta seletiva, o PET representa em média 19% dos plásticos

recicláveis.

Em vista da projeção de crescente utilização do PET e dos problemas

apresentados quanto à disposição dos resíduos sólidos, a reciclagem surge então

Page 29: Monografia Gustavo Matemática 2006

28

como uma solução latente, reduzindo o volume a ser disposto, aumentando a vida

útil dos aterros e permitindo o reaproveitamento dos resíduos que conforme

Demajorovic (1995) possuem valor econômico como matéria-prima, reincorporando-

os ao processo produtivo e reduzindo o impacto ambiental.

O Brasil consumiu 360 mil toneladas de resina PET na fabricação de

embalagens em 2004. A demanda mundial é de cerca de 7 milhões de toneladas por

ano.

Neste país, 48% das embalagens pós-consumo foram efetivamente

recicladas em 2004, totalizando 173 mil toneladas. As garrafas são recuperadas

principalmente através de catadores, além de fábrica e da coleta seletiva operado

por municípios, a taxa de reciclagem de resinas de PET apresenta crescimento

acima de 20% desde 1997, com picos de 35% (entre 2002/2003). Entre 2003 e 2004

o crescimento da indústria recicladora de PET foi da ordem de 22%.

QUADRO – RECICLAGEM PÓS-CONSUMO DE PET NO BRASIL DE 2001 A 2004

ANO QUANTIDADE (toneladas) ÍNDICE

2001 89 33%

2002 105 35%

2003 141,5 43%

2004 173 48%

Fonte: ABEPET

2.5 CONTRIBUIÇÕES DA LINGUAGEM MATEMÁTICA: O LIXO – UMA FUNÇÃO

MATEMÁTICA?

Para estudar a viabilidade econômica do lixo utilizou-se como ferramenta a

concepção de linguagem matemática, esta sendo vista como um instrumento onde

todas as palavras têm um sentido preciso. Por isso, faz-se necessário que

conheçamos seus significados. Esta concepção nos remete a uma linguagem

bastante utilizada no ensino básico, o conceito de função polinomial.

Page 30: Monografia Gustavo Matemática 2006

29

Segundo Eves (2004, p. 660), a palavra função, na sua forma latina

equivalente,

parece ter sido introduzida por Leibniz em 1694, inicialmente para expressar qualquer quantidade associada a uma curva, com, por exemplo, as coordenadas de um ponto da curva, a inclinação de uma curva e o raio de curvatura de uma curva, e acrescenta, Johann Bernoulli havia considerado uma função como uma expressão qualquer formada de uma variável e algumas constantes.

Continuando ele mostra que “Euler considerou uma função como uma

equação ou fórmula qualquer envolvendo variáveis e constantes, Definição que a

maioria dos alunos dos cursos elementares de matemática tem hoje em dia”.

Ainda conforme Eves (2004, p. 661), uma variável é um símbolo que

representa um qualquer dos elementos de um conjunto de números;se duas

variáveis x e y estão relacionadas de maneira que, sempre que se atribui um valor a

x, corresponde automaticamente, por alguma lei ou regra, um valor a y, então se diz

que y é uma função (unívoca) de x.a variável x a qual se atribuem valores a vontade

é chamada variável independente e a variável y cujos valores dependem dos valores

de x é chamada variável dependente.

Iezzi, (2004) salienta que no estudo científico de qualquer fato sempre se

procura identificar grandezas mensuráveis ligadas a ele, e estabelece as relações

existentes entre essas grandezas.

No ensino médio a definição que se apresenta ao aluno sobre o conceito de

função é: Dados dois conjuntos A e B, chama-se de função de A em B, qualquer

relação entre os elementos desses conjuntos, de modo que a cada elemento de A

se associam um único elemento de B (JAKUBOVIC e LELLIS, 2002).

Nestas definições percebemos que uma linguagem matemática simbólica em

que o sentido a ligação com o contexto será dada ou não pelo professor que ministra

esta disciplina. A forma de construir esta definição em sala de aula está relacionada

a fatores pedagógicos e científicos, que não cabe neste estudo.

Page 31: Monografia Gustavo Matemática 2006

30

Assim a resposta à pergunta que norteia este capítulo: o lixo uma função

matemática? Leva-nos a considerar a função polinomial como uma forma de

resgatar a “Matemática em ação” Skosvsmose (2004) uma vez que consideramos

uma função com variáveis definidas e com dependentes, todos os dados de

contextos sociais e econômicos. Sendo assim, considero o lixo uma fonte rica de

estudos matemáticos e a matemática uma ciência que contribui para o

desenvolvimento econômico e social de uma sociedade.

Portanto neste trabalho será abordada essa idéia, adotando algumas

constantes e variáveis com a aplicabilidade da função polinomial na viabilidade

econômica do lixão em Senhor do Bonfim e com interpretação de gráficos. Aqui essa

função é vista como um conceito que direciona os estudos matemáticos para uma

aplicação efetiva no cotidiano.

Page 32: Monografia Gustavo Matemática 2006

31

CAPÍTULO III

O PARADIGMA DA PESQUISA

A palavra pesquisa ganhou ultimamente uma popularização que chega por

vezes a comprometer seu verdadeiro sentido. Para se realizar uma pesquisa é

preciso promover o confronto entre dados, as evidências, as informações coletadas

sobre determinado assunto e o conhecimento teórico acumulado a respeito dele.

Em geral isso acontece a partir do estudo de um problema, que ao mesmo

tempo desperta o interesse do pesquisador e limita sua atividade de pesquisa a uma

determinada porção do saber, a qual ele se compromete a construir naquele

momento. É assim que surge a definição do tema e a pertinência do estudo.

O tema “Lixo em Senhor do Bonfim” teve origem a partir de um envolvimento

com a comunidade e suas necessidades; a viabilidade econômica e a função

matemática surgem como uma forma de procurar sentido aos estudos desenvolvidos

durante a graduação.

Trata-se, assim de uma ocasião privilegiada, reunindo o pensamento e a

ação, no esforço de elaborar o conhecimento de aspectos da realidade que deverão

servir para a composição de soluções propostas aos seus problemas.

Esta concepção de pesquisa, como uma atividade ao mesmo tempo

momentânea, de interesse imediato e continuado, por se inserir numa corrente de

pensamento acumulado, nos remete ao caráter social da pesquisa, muito bem

explicado por vários autores, destacando-se na literatura específica de Demo (1981).

Esse autor soube muito bem caracterizar a dimensão social de pesquisa e do

pesquisador, mergulhados que estão naturalmente na corrente da vida em

sociedade, com suas competições, interesses e ambições, ao lado da legítima busca

de conhecimento científico. Considera-se assim que a pertinência social desse

estudo está ligada ao olhar que foi direcionado para os atores presentes – os

catadores de lixo.

Page 33: Monografia Gustavo Matemática 2006

32

Em seu livro “A Pesquisa Qualitativa em Educação”, Bogdan e Biklen (1982)

discutem o conceito de pesquisa qualitativa apresentando características básicas

que configurariam esse tipo de estudo:

“A pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de

dados e o pesquisador como seu principal instrumento” (BOGDAN e BIKLEN, 1982,

p. 80). Segundo estes autores, a pesquisa qualitativa supõe o contato direto e

prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação que está sendo

investigado, via de regra através do trabalho intensivo de campo.

Os dados coletados são predominantemente descritivos. O material obtido

nessas pesquisas é rico em descrições de pessoas, situações, acontecimento; inclui

transições de entrevistas e depoimentos, além de registros fotográficos. Todos os

dados da realidade são considerados importantes (LUDKE, 1986)

Sendo assim a fonte natural desse estudo foi o lixão de Senhor do Bonfim,

com registro de fotos e vivências que foram construídas num processo interativo

entre pesquisador e os catadores. Entretanto, mais adiante serão demonstrados os

dados coletados nesse trabalho.

3.1 O LÓCUS

A escolha do espaço para o presente estudo está relacionado com o interesse

na busca de informações sobre a coleta de resíduos sólidos, o PET, na economia

das pessoas catadoras e por conseqüência da economia da cidade de Senhor do

Bonfim.

O lixão está localizado a 5 km da sede do município de Senhor do Bonfim e a

1,5 km da BR 407 sentido Senhor do Bonfim – Salvador com uma área de 2

hectares onde são despejadas 55 toneladas aproximadamente por dia de resíduos

sólidos, na qual somente 2% em média é reaproveitado. Os catadores não dispõem

de equipamento de proteção. Além disso, as coletas são feitas tanto de dia como à

noite. (ver figuras 1 e 2).

Page 34: Monografia Gustavo Matemática 2006

33

Figura 3 – Catadores do Lixão do município de Senhor do Bonfim em dia de

trabalho sem equipamentos de proteção individual

Figura 4 – Coleta de materiais recicláveis e passiveis de venda no lixão

Page 35: Monografia Gustavo Matemática 2006

34

Cerca de 50 pessoas que trabalham neste local, sendo 26 homens e 24

mulheres, com idades diferenciadas entre adolescentes, adultos e idosos; em sua

maioria moram em regiões próximas ao lixão; eles trabalham em ambientes

extremamente insalubres, tornando-se vulneráveis a diversos tipos de doenças.

Coletam, na maioria das vezes, três tipos de material: PET, ferro e plástico, devido

esses materiais terem maior facilidade para a comercialização. Os catadores

vendem seus materiais aos atravessadores, nome dado por eles às pessoas que

compram esses materiais. Foi feito um questionário sócio-econômico com os

catadores do lixão cujos dados serão analisados e descritos mais adiante.

Page 36: Monografia Gustavo Matemática 2006

35

CAPÍTULO IV

DADOS, ANÁLISE, APLICAÇÕES E INTERPRETAÇÕES

4.1 O LIXO EM SENHOR DO BONFIM

Atualmente, são produzidos em média 55 toneladas de lixo por dia em Senhor

do Bonfim. De acordo com a população, o valor diario do lixo produzido por pessoa é

de 0,8 kg. A coleta desse lixo é feita na sede e na microrregião desse município, por

caminhões coletores de uma empresa que presta serviços a prefeitura municipal.

Não há coleta seletiva no município. Nota-se que há uma certa quantidade de

pessoas que catam em vias urbanas, ora nas ruas, ora em pontos específicos, como

nos coletores (tipo conteiners), e também uma quantidade de pessoas que catam

no lixão da cidade, sendo essas pessoas um dos objetos de estudo desse trabalho.

A coleta municipal do lixo é dividida por setores, que são englobados por bairros e

distritos como mostra a figura abaixo:

22%

19%

22%

14%

10%12% 1%

AltoGamboaCentroUmburanaPopularesDistritosFeira livre

Figura 5 – Coleta municipal do lixo em Senhor do Bonfim, de acordo com os

bairros e distritos, com seus respectivos percentuais.

Fonte: PMSB

Page 37: Monografia Gustavo Matemática 2006

36

Há uma maior produção do lixo no centro da cidade, cerca de 278.000 kg,

onde atinge a área comercial e também se concentram pessoas com poder

aquisitivo maior. No Alto, outro bairro da cidade, a concentração de renda é menor,

porém este é o mais populoso, produzindo cerca de 275.000 kg. A menor produção

de lixo está localizada na feira livre, em torno de 17.000 kg. Na Gamboa, também

um bairro bastante populoso e com características parecidas com o Alto, cerca de

236.000 kg; Populares 120.000 kg; Umburana 176.000 kg e nos distritos 152.000 kg

(PMSB,2005).

Em Senhor do Bonfim, segundo as duas maiores distribuidoras de bebidas,

são vendidas no mercado consumidor um valor aproximadamente de 300.000

garrafas de PET, entre refrigerantes de 100ml, 600 ml, 1l, 2l, 2,5l e água mineral.

Parte desse consumo é reutilizado, parte é coletado nas residências e o restante

destinado ao lixo.

O destino desse lixo se faz a céu aberto, localizado a 5 km do centro da

cidade e próximo a BR-407, popularmente conhecido como lixão. Trabalham nesse

local cerca de 50 pessoas, dia e noite, em condições insalubres, para garantirem a

sua sobrevivência. (Figura 3)

FIGURA 6 – Destino final do lixo (Lixão) do município de Senhor do Bonfim,

Bahia.

Page 38: Monografia Gustavo Matemática 2006

37

A retirada dos recicláveis do lixo resulta num ganho significativo de espaço

no caminhão compactador. Isto é notado principalmente quanto ao plástico do tipo

PET que possui baixa capacidade de compactação e geralmente é descartado com

tampa.

Na análise dos questionários sócio-econômicos que foi aplicado em 50% dos

trabalhadores no lixão, observou-se que a maioria dos entrevistados moram em seus

arredores, e que sobrevivem da comercialização dos materiais coletados, há mais de

oito anos. Possuem baixo nível de escolaridade e recebem em média menos de 1

salário mínimo. Não usam equipamentos de proteção individual e raramente vão ao

médico.

Em um dos depoimentos sobre a satisfação do trabalho o Catador 1 relatou:

“Gosto, quando não posso ir acho ruim... é de lá que eu vivo”. Em outro depoimento

perguntado porque foi trabalhar no lixão o Catador 2 diz: ”Porque na rua muita gente

cata, e tenho facilidade de encontrar o material no lixão”. Foi perguntado também

qual seriam as sugestões sobre a melhoria das condições de trabalho no lixão, 80%

entrevistados sugeriram melhoria de preço e formação de uma cooperativa.

O baixo preço praticado pelos atravessadores torna-se um grande problema

para comercialização dos materiais, os catadores reaproveitam, em média, somente

2% do lixo, entre metais, vidros, plásticos, papel e papelão, armazenando de forma

bem precária. Sendo assim, sabemos que na atualidade, o lixo deixa de ser algo

“sujo, descartável” e passa a se constituir em um objeto ou meio de sustentação de

uma dada sociedade, deixando de ser o “sujo” para ser o reutilizado (Figura 4).

Page 39: Monografia Gustavo Matemática 2006

38

Figura 7 – Armazenamento do material coletado (plástico e pneus) pelos

catadores de lixo no município de Senhor do Bonfim, Bahia

Tomando como exemplo um mês típico, observou-se a produção de lixo nos

meses de novembro de 2001 a novembro de 2005 em Senhor do Bonfim.

1.160.0001.180.000

1.200.0001.220.0001.240.000

1.260.0001.280.000

1.300.0001.320.0001.340.000

1.360.0001.380.000

2001 2002 2003 2004 2005

nov/01

nov/02

nov/03

nov/04

nov/05

Figura 8 – Produção do lixo em Senhor do Bonfim, em kg, segundo dados da

Prefeitura Municipal.

Page 40: Monografia Gustavo Matemática 2006

39

4.2 A FUNÇÃO MATEMÁTICA QUE DEFINE O TEMA ABORDADO

Para apresentar e interpretar estes dados, serão utilizados conceitos de

função estabelecendo variáveis e constantes.

Neste sentido, a função polinomial é entendida como: se duas variáveis quaisquer x e y estão relacionadas de maneira que se atribui um valor a x corresponde automaticamente por alguma lei ou regra um valor y. Então se diz que y é uma função (unívoca) de x. (EVES, 2004, p. 661)

Entretanto, nesse estudo faremos uma relação da quantidade de PET

coletado no lixão de Senhor do Bonfim com os valores da venda do PET, tanto em

Senhor do Bonfim como em Salvador. Este estudo comparativo entre as cidades é

necessário, pois aumenta a demanda do PET nos grandes centros, tornando os

preços mais atrativos, mesmo sabendo que haverá custos para transportá-los.

Obedecendo a função polinomial escrita abaixo, será demonstrada a

viabilidade econômica para a comercialização após triagem do plástico tipo PET,

pelos catadores do lixão de Senhor do Bonfim.

Resgatando o conceito de variável, citado por Eves (2004), uma variável é um

símbolo que representa um qualquer dos elementos de um conjunto de números.

Page 41: Monografia Gustavo Matemática 2006

40

Eis as variáveis:

Considerando as variáveis dependentes:

W= valor recebido pelo PET vendido em SNB (variável dependente)

Y=valor recebido pelo PET vendido em SSA (variável dependente)

Considerando a variável independente:

T = quantidade de PET coletado no lixão (variável independente)

Considerando as Constantes:

� a= valor do PET em SNB (em kg)

� b= valor do PET em SSA ( em kg)

� c=custo fixo em SNB

� d=custo fixo em SSA

Chega-se as seguintes funções polinomiais:

EM SNB (Função I) EM SSA (Função II)

W = at + c Y = bt + d

Define-se como função polinomial do 1º grau, ou função afim, a qualquer função f de R em R dada por uma lei da forma f (x) = a x + b, em que a e b são números reais dados e a ≠ 0. (DANTE, 2005, p 68)

Dependendo da época do ano meses de festa; (fevereiro, junho e dezembro),

Os valores de T tendem a ter um aumento.

Os valores de W e Y dependem principalmente de T e também variam de

acordo com a e b, pois os catadores ficam sujeitos aos valores praticados pelos

atravessadores ou quando comercializados nos grandes centros, conforme o

exemplo acima.

Page 42: Monografia Gustavo Matemática 2006

41

Recentemente os valores atingiram índices bem abaixo do valor de mercado,

tornando inviável a sua comercialização com os atravessadores no lixão. Foi visto

que, segundo a Função I, em Senhor do Bonfim o valor de c é igual à zero, pois não

há custo fixo. Isto é, os catadores não têm gastos com aluguel, transporte (frete),

transbordo, etc.

Já na Função II, em Salvador, o valor de d é igual a 1.200, visto que há um

custo fixo, pois diferente de Senhor do Bonfim os catadores têm despesas com

aluguel, transporte, transbordo, etc.

Hoje em Senhor do Bonfim os atravessadores estão comprando o PET no

valor de R$0,05. Isto é, como a = 0,05 e c = 0, logo a Função I é dada por:

W=0,05T.

Tomando como base o mês de novembro de 2005 onde os catadores

coletaram 8.000 quilos de PET o valor recebido por eles girou em torno de R$

400,00

Aplicando a função:

W = 0,05 x 8000

W = 400,00

.

Nota-se uma grande dificuldade na comercialização do PET, pois os preços

praticados pelos atravessadores estão bem abaixo do valor de mercado. Isto nos

leva a considerar outros caminhos a serem seguidos.

Como alternativa, definimos a Função II, onde o preço comercializado pelo

PET em Salvador chega a R$ 0,63 e há um custo fixo de 1.200,00 conforme

definimos anteriormente. Isto é teremos b = 0,63 e d = -1.200 Logo:

Y=0,63T-1200, onde;

Y=(0,63 x 8000) – 1200

Y=3.840,00

Page 43: Monografia Gustavo Matemática 2006

42

Resultando num acréscimo de 960% com relação à venda feita em Senhor do

Bonfim.

Será calculada agora a quantidade de PET que viabiliza a venda em

Salvador, isto é, quando Y > W, logo:

0.63T-1200 > 0.05T

0.58T > 1200

T > 1200 / 0.58

T > 2068,96

Portanto, a partir de 2068,96 kg de PET arrecadado no lixão de Senhor do

Bonfim é que se torna viável a comercialização em Salvador.

É separado no lixão ultimamente em torno de 8000 kg. Se compararmos a

venda em Senhor do Bonfim com a venda em Salvador, os catadores deixarão de

ganhar:

Venda em SNB: 8000 x 0,05 = R$ 400,00

Venda em SSA: 8000 x 0,63 – 1200 = R$ 3.840,00,

E considerando, que no lixão de Senhor do Bonfim temos em média 50

catadores, logo a renda per capita, só nesse tipo de material, é de R$ 76,80.

Discutindo as funções

Função I

W = 0,05T

Domínio = R+

Imagem = R+

Page 44: Monografia Gustavo Matemática 2006

43

Estudo do sinal

W > 0, R+

W = 0 , R+

W < 0, não existe, pois o valor de T só admite valores positivos.

Função II

Y = 0,63T – 1200

Domínio = R+

Imagem = [ - 1200, +∞)

Estudo do sinal

Y < 0, T < 1904,76

Y = 0, T = 1904,76

Y > 0, T > 1904,76

Contextualizando as funções dadas

Referente a Função I podemos observar que o domínio equivale a quantidade

de PET coletado em kg que será vendida em Senhor do Bonfim. Nota-se assim que

este valor não poderá ser negativo e, por conseqüência, o valor arrecadado também

não será negativo, isto é, não haverá prejuízo.

Referente a Função II podemos agora observar que a exemplo da função I a

quantidade de PET não poderá ser negativa. Em contra partida o valor arrecado já

se inicia com um custo de R$ 1.200,00, pois há despesas com transporte,

transbordo, separação de materiais e outros. Já no estudo do sinal os valores que

torna inviável a comercialização do PET em Salvador estão representados quando Y

< 0, isto é o valor coletado de PET, é inferior a 1.904,76 kg. Quando Y = 0 percebe-

se que não há nem lucro nem prejuízo na venda em Salvador e por fim quando Y > 0

nota-se que o valor arrecadado de PET tem que ser maior que 1.904,76 kg.

Page 45: Monografia Gustavo Matemática 2006

44

INTERPRETAÇÃO GRÁFICA DAS FUNÇÕES

Valor $

Função II

Função I

103,45

1.904,76 2.068,96 Quant. PET

1.200,00

Figura 9 – Interpretação das Funções

Contextualizando os gráficos

O ponto de intersecção entre as duas funções é (103,5 ; 2068,96), isto é,

quando comercializa-se 2.068,96 kg o valor sobre a venda é de R$ 103,50. E assim

concluímos que o valor arrecadado em Salvador é o mesmo valor de arrecadação

em Senhor do Bonfim.

No intervalo de [0 ; 1904,76[ não é viável a comercialização do PET em

Salvador. Verifica-se no gráfico que a reta da função II, referente a esse intervalo,

fica abaixo do eixo das abscissas.

Page 46: Monografia Gustavo Matemática 2006

45

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi exposto, este estudo foi motivado para visualizar a

matemática como objeto de mudanças, as propostas que visem a justiça social e,

conseqüentemente, a inclusão das camadas mais desfavorecidas em uma

determinada sociedade. O espaço escolhido para o desenvolvimento do estudo em

questão esteve diretamente relacionado com o interesse sócio-econômico das

pessoas catadoras do lixo no município de Senhor do Bonfim.

O papel da matemática como forma de construção social permite que a

escola, o aluno e os profissionais da educação se conscientizem para uma

sociedade menos desigual, sendo que o conhecimento matemático atrelado ao

nosso cotidiano nos permite vislumbrar essa realidade.

Nesse sentido, buscando minimizar as desigualdades sociais nesse

município, resgatam-se os conceitos de matemática, especificamente, a função

polinomial do 1º grau, explorando suas definições, interpretações gráficas e sua

aplicabilidade para mostrar a viabilidade econômica na comercialização do plástico

tipo PET, pelos catadores do lixão, procurando assim um sentido da matemática e

ação para essa comunidade.

Foi demonstrado que, através desses estudos matemáticos, existe plena

viabilidade econômica para comercialização do PET diretamente com empresas

especializadas no ramo de reciclagem na cidade de Salvador, excluindo desta

forma, a atual relação comercial com os atravessadores presentes no lixão, que

reduzem os lucros, e por conseqüência, a qualidade de vida dos catadores.

Além desses conhecimentos matemáticos, também foram desenvolvidos

estudos sobre o PET, os aspectos dos resíduos sólidos, os processos de reciclagem

e algumas reflexões sobre a questão ambiental do lixo no nosso cotidiano.

Enfim, é necessário uma ampla discussão na sociedade sobre alguns pontos

que conduzam meios e atividades para minimizar os problemas dos catadores do

Page 47: Monografia Gustavo Matemática 2006

46

lixão em Senhor do Bonfim. Neste contexto, sugere-se a formação de uma

Cooperativa, que tenham objetivos de integração, socialização e capacitação dos

indivíduos, reduzindo com isso, as condições insalubres de trabalho. Além disso,

melhora a inserção competitiva no mercado de recicláveis, agrega valor ao produto

reciclado. Junta-se a essa ação, a mobilização de forma organizada da comunidade

bonfinense e do poder público, para realização de um programa de coleta seletiva

dos resíduos sólidos.

Enfim esse estudo além de dar um referencial sobre o lixo em senhor do

bonfim, apresenta um caminho utilizando os conceitos matemáticos identificados no

cotidiano nos catadores do lixão desse município.

Page 48: Monografia Gustavo Matemática 2006

47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ABEPET, Enfardamento e Revalorização de sucatas de PET, Reciclagem e Negócios – PET. São Paulo, 1997.

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Page 49: Monografia Gustavo Matemática 2006

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Page 50: Monografia Gustavo Matemática 2006

49

ANEXO

Page 51: Monografia Gustavo Matemática 2006

50

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – UNEB

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO – CAMPUS VII

Solicitamos a sua colaboração na participação da presente pesquisa,

respondendo as questões aqui contidas. Asseguramos o anonimato das declarações

dadas.

QUESTIONÁRIO SÓCIO-ECONÔMICO

Nome ________________________________________ Nasc, ________________

Endereço ___________________________________________________________

Sexo ______________ Estado Civil _______________ Filhos _________________

Nome do Cônjuge ____________________________________________________

Residência: Própria ( ) Alugada ( ) Quantas pessoas moram? ____________

Material que coleta:

1. __________________________________ Quantidade _____________________

2. __________________________________ Quantidade _____________________

3. __________________________________ Quantidade _____________________

4. __________________________________ Quantidade _____________________

N° de trabalhadores da família ___________ Qts na coleta do material __________

Renda mensal da Família _______________ Renda mensal da coleta ___________

Com que freqüência vai ao médico?

___________________________________________________________________

Já teve alguma doença provocada pelo local de trabalho?

___________________________________________________________________

Trabalha com EPI? Usa o que para a sua segurança?

___________________________________________________________________

Por que foi trabalhar no Lixão?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

Page 52: Monografia Gustavo Matemática 2006

51

O que você acha do seu trabalho?

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

SUGESTÕES:

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________

___________________________________________________________________