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This study has as main goal to analyze the performance of the trade balance of eachcountry comprising the BRIC grouping on the perspective of the impact ofmacroeconomic determinants - the real exchange rate, domestic income and foreignincome - trying to identify what was the impact on the balance of these trade duringthe 2000s. So that is also present analysis of other empirical determinants besides,who also conditioned the business result of each country. We use the inductivemethod to achieve results and discursive analytical approach to the presentation ofresults. The results indicate that foreign income was the main conditioner increasingthe trade balance of countries, except India, which even has absorbed positivelyincreased external income, the more proportional increase in imports, due to thedomestic GDP growth, its trade deficit increased during the decade. For Brazil, theexchange rate has enormous explanatory power to the poor performance of theindustrial export sector, as well as Brazil and Russia, the rise in commodity pricesraised the level of their surpluses. China, however, has as main determinantmacroeconomic foreign direct investment, which is characterized as a great promoterof Chinese exports, accompanied by a strong influence of external income.TRANSCRIPT
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CENTRO OESTE, UNICENTRO SETOR DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS, SESA
CURSO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS ERICKSON SCHLEMPER
IMPACTO DOS DETERMINANTES MACROECONOMICOS NA BALANÇA COMERCIAL DOS BRICs DURANTE A DÉCADA DE 2000
Guarapuava 2012
ERICKSON SCHLEMPER
IMPACTO DOS DETERMINANTES MACROECONOMICOS NA BALANÇA COMERCIAL DOS BRICs DURANTE A DÉCADA DE 2000
Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Centro Oeste, UNICENTRO, como pré-requisito para obtenção do grau de bacharel, sob orientação do Prof° Dr. Fernando Franco Netto.
Guarapuava 2012
ERICKSON SCHLEMPER
IMPACTO DOS DETERMINANTES MACROECONOMICOS NA BALANÇA COMERCIAL DOS BRICs DURANTE A DÉCADA DE 2000
Monografia apresentada ao curso de Ciências Econômicas da Universidade Estadual do Centro Oeste, UNICENTRO, como pré-requisito para obtenção do grau de bacharel.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________ Prof. Dr. Fernando Franco Netto
_________________________________ Prof. Me. Josélia Teixeira
__________________________________ Prof. Me. Altamir Thimóteo
Aprovado em:___/___/___
Aos meus avôs e avós, meu pai João Wolnei e meu irmão Anderson, cujo apoio incondicional, que tenho recebido pela minha vida toda foi essencial para a minha graduação.
AGRADECIMENTOS
A meu pai e meu irmão, que são minha fonte de inspiração para o sucesso
profissional. A esposa do meu pai Andria Mackeli Freitas Schlemper, a minha mãe
Ana Maria Laurindo, minha irmã Deyse Helen Schlemper e a toda minha família,
muito obrigado pelo apoio e carinho durante este período que morei em Guarapuava.
A meus amigos que conheci durante a graduação, pela ajuda concedida para a superação de momentos difíceis.
Agradeço também a todas as pessoas ligadas ao departamento de economia
pelo conhecimento transmitido e préstimos para a conclusão da graduação. Em especial ao Professor Fernando Franco Netto, pela orientação, apoio e confiança.
“Tudo aquilo que é fundamental é
microeconômico e tudo aquilo que é importante é macroeconômico”. (S.C. Kolm)
RESUMO
Este estudo tem como principal meta analisar o desempenho da balança comercial de cada país que compõem o agrupamento BRICs, sobre a ótica do impacto dos determinantes macroeconômicos – taxa de câmbio real, renda interna e renda externa – procurando identificar qual foi o impacto destes na balança comercial, durante a década de 2000. De forma que, também se faz presente a análise de outros determinantes empíricos, além destes, que também condicionaram o resultado comercial de cada país. Utiliza-se do método indutivo para se alcançar os resultados e a abordagem analítica discursiva para a apresentação dos resultados. Os resultados encontrados indicam que, a renda externa foi o principal condicionador do aumento do saldo comercial dos países, em exceção a Índia, que mesmo que tenha absorvido de forma positiva o aumento da renda externa, o aumento mais proporcional das importações, em razão do crescimento do PIB interno, aumentou seu déficit comercial, durante a década. Para o Brasil a taxa de câmbio possui enorme poder de explicação para o mau desempenho do setor exportador industrial, bem como para o Brasil e Rússia, o aumento dos preços das commodities elevou o nível de seus superávits. Já a China, tem como principal determinante macroeconômico o investimento direto estrangeiro, que se caracteriza como grande dinamizador das exportações chinesas, acompanhado de uma forte influência da renda externa.
PALAVRAS CHAVE: balança comercial, BRICs, taxa de câmbio, renda interna, renda externa.
ABSTRACT
This study has as main goal to analyze the performance of the trade balance of each country comprising the BRIC grouping on the perspective of the impact of macroeconomic determinants - the real exchange rate, domestic income and foreign income - trying to identify what was the impact on the balance of these trade during the 2000s. So that is also present analysis of other empirical determinants besides, who also conditioned the business result of each country. We use the inductive method to achieve results and discursive analytical approach to the presentation of results. The results indicate that foreign income was the main conditioner increasing the trade balance of countries, except India, which even has absorbed positively increased external income, the more proportional increase in imports, due to the domestic GDP growth, its trade deficit increased during the decade. For Brazil, the exchange rate has enormous explanatory power to the poor performance of the industrial export sector, as well as Brazil and Russia, the rise in commodity prices raised the level of their surpluses. China, however, has as main determinant macroeconomic foreign direct investment, which is characterized as a great promoter of Chinese exports, accompanied by a strong influence of external income.
KEYWORDS: trade balance, BRICs, exchange rate, domestic income, foreign income.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Curva da balança comercial ....................................................................... 18 Figura 2: Efeitos do aumento da renda interna na balança comercial ....................... 22 Figura 3: Efeitos do aumento da renda externa na balança comercial ...................... 23 Figura 4: Mundo - Saldo das transações Correntes em (%) PIB ............................... 26 Figura 5: Mundo - Taxas de crescimento da corrente de comércio e PIB (%) .......... 28 Figura 6: Mundo - Índice de volume e preço das exportações .................................. 29 Figura 7: Blocos - Valor total exportado .................................................................... 32 Figura 8: Blocos - Participação das exportações mundiais ....................................... 33 Figura 9: Brics – Entrada de investimento estrangeiro direto (IED) ........................... 46 Figura 10: Brasil – Saldo comercial e taxa de câmbio real efetiva ............................ 52 Figura 11: Brasil - Valor exportado por setor e participação (%) anual ..................... 56 Figura 12: Brasil - Volume e preços das exportações brasileiras. ............................. 58 Figura 13: Brasil - Valor e preço dos principais segmentos exportadores. ................ 60 Figura 14: Brasil - Valor Exportado por segmento de produtos manufaturados ........ 61 Figura 15: Brasil - Taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais (TCPPC) .................................................................................................................................. 67 Figura 16: Brasil - Valor das importações por setor e participação (%) anual ........... 68 Figura 17: Brasil - Taxa de crescimento (%) das importações e índice de taxa de câmbio real ................................................................................................................ 70 Figura 18: Brasil - Índice relativo (Brasil/Mundo) das importações ............................ 71 Figura 19: Brasil - Taxa de crescimento (%) do PIB e taxa de crescimento dos produtos importados .................................................................................................. 72 Figura 20: Brasil - Taxa de juros real, inflação e câmbio nominal (USD/BRL) ......... 73 Figura 21: Rússia - Saldo Comercial ......................................................................... 75 Figura 22: Rússia - Valor total das exportações ........................................................ 79 Figura 23: Rússia – Valores das exportações de produtos manufaturados por intensidade tecnológica ............................................................................................. 82 Figura 24: Rússia – Taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais (TCPPC) .................................................................................................................... 83 Figura 25: Rússia - Valor total das importações ........................................................ 84 Figura 26: Rússia - Índice relativo (Rússia/Mundo) das importações ........................ 85 Figura 27: Rússia - Variação anual das taxas de crescimento dos determinantes das importações ............................................................................................................... 88 Figura 28: Índia - Saldo comercial ............................................................................. 90 Figura 29: Índia - Taxa de câmbio nominal, índice de câmbio real efetiva e inflação (%) ............................................................................................................................. 93 Figura 30: Índia - Valor total exportado por setor e taxa de câmbio real efetiva ........ 95 Figura 31: Índia - Participação por segmento das exportações de produtos primários (%) ............................................................................................................................. 98 Figura 32: Índia - Índices de volume e preços das exportações de combustíveis minerais ..................................................................................................................... 99
Figura 33: Índia – Participação (%) das exportações de produtos manufaturados por segmento................................................................................................................. 100 Figura 34: Índia - Taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais (TCPPC) ................................................................................................................................ 101 Figura 35: Índia - Valor das importações por setor e participação (%) .................... 103 Figura 36: Variação das taxas de crescimento e dos determinantes das importações ................................................................................................................................ 103 Figura 38: Índia - Participação (%) das importações por segmento ........................ 105 Figura 37: Índia - Volume e preços do total das importações e de petróleo ............ 106 Figura 39: China - Saldo comercial e taxa de câmbio real efetiva ........................... 109 Figura 40: China - Participação (%) das exportações por segmento ...................... 112 Figura 41: China - Taxas de crescimento das exportações e taxas de câmbio nominal e real .......................................................................................................... 114 Figura 42: China - Taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais (TCPPC) ................................................................................................................................ 115 Figura 43: China - Participação (%) das importações por segmento ...................... 117 Figura 44: China - Variação das taxas de crescimento e dos determinantes das importações ............................................................................................................. 118
LISTA DE TABELAS TABELA 1: ÍNDICE DE PREÇOS DE COMMODITIES ............................................. 30 TABELA 2: MUNDO - GRAU DE ABERTURA COMERCIAL (SERV. E PROD.) (풙(X+M)/PIB) ............................................................................................................. 31 TABELA 3: BLOCOS - CRESCIMENTO MÉDIO DAS IMPORTAÇÕES EM (%) ...... 34 TABELA 4: BLOCOS - PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS EM (%) 35 TABELA 5: BRICS - POPULAÇÃO EM 2012 ............................................................ 41 TABELA 6: BRICS - ÁREA GEOGRÁFICA ............................................................... 41 TABELA 7: BRICS - VALOR ADICIONADO POR SETOR (% DO PIB) .................... 42 TABELA 8: BRICS - FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL (% PIB) ............................. 43 TABELA 9: BRICS - PIB POR COMPONENTES DA DEMANDA (%) ....................... 44 TABELA 10: BRICS - POUPANÇA INTERNA BRUTA (% DO PIB) .......................... 47 TABELA 11: BRICS - TAXA MÉDIA REAL ANUAL DE CRESCIMENTO DO PIB DE 2000/2011 ................................................................................................................. 48 TABELA 12: BRICS - PIB COM BASE NA PPC PARTICIPAÇÃO MUNDIAL (%) .... 48 TABELA 13: BRICS - PARTICIPAÇÃO (%) NO COMÉRCIO MUNDIAL DE PRODUTOS .............................................................................................................. 49 TABELA 14: BRICS - GRAU DE ABERTURA ((X+M)/PIB) (%) ................................ 50 TABELA 15: BRASIL - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL (2000-2003) ............................................................................................................... 53 TABELA 16: BRASIL - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL (2004-2010) ............................................................................................................... 54 TABELA 17: BRASIL - TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL POR SETOR (%) .......... 57 TABELA 18: BRASIL - VOLUME DAS EXPORTAÇÕES, TAXAS DE CRESCIMENTO E PREÇOS DAS COMMODITIES.................................................. 59 TABELA 19: BRASIL - TAXA DE CRESCIMENTO (%) DAS EXPORTAÇÕES DE MANUFATURADOS E VARIAÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO REAL ........................... 63 TABELA 20: BRASIL - CONTRIBUIÇÕES PARA O CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO (%) ..................................................................................... 65 TABELA 21: BRASIL - CAPACIDADE DE IMPORTAR ............................................. 73 TABELA 22: RÚSSIA - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL .... 76 TABELA 23: RÚSSIA - TAXA DE CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES E VARIAÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO REAL ................................................................ 81 TABELA 24: RÚSSIA - TAXA DE CÂMBIO NOMINAL E INFLAÇÃO ....................... 82 TABELA 25: RÚSSIA - VARIAÇÃO ANUAL (%) DO PIB RUSSO E DAS IMPORTAÇÕES ........................................................................................................ 86 TABELA 26: RÚSSIA - TAXA DE PENETRAÇÃO DAS IMPORTAÇÕES (%) .......... 87 TABELA 27: ÍNDIA - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL ....... 92 TABELA 28: ÍNDIA - TAXA DE JUROS REAL (%) .................................................... 93 TABELA 29: ÍNDIA - TAXA DE CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES POR INTENSIDADE TECNOLÓGICA (%) ......................................................................... 95 TABELA 30: ÍNDIA - TAXA DE PENETRAÇÃO DAS IMPORTAÇÕES (%) ............ 105 TABELA 31: ÍNDIA - RESERVAS INTERNACIONAIS, INCLUÍNDO OURO ........... 107
TABELA 32: CHINA - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL .... 110 TABELA 33: CHINA - INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO ......................... 111 TABELA 34: CHINA - TAXA DE PENETRAÇÃO DAS IMPORTAÇÕES (%) .......... 119
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APTA – Acordo de Comércio Ásia-Pacífico
ASEAN – Associação das Nações do Sudeste Asiático
BACEN – Banco Central do Brasil
BRICs – sigla para Brasil, Rússia, Índia e China.
BSEC – Cooperação Econômica do Mar Negro
COPOM – Conselho Monetário Nacional
EU – União Européia
EUA – Estados Unidos da América
FBCF – Formação bruta de capital fixo
IED – Investimento estrangeiro direto
IMF – International Monetary Fund
MERCOSUL – Mercado Comum do Sul NAFTA – Acordo Norte-Americano de Livre Comércio
OMC – Organização Mundial do Comércio
P&D – Pesquisa e Desenvolvimento
PIB – Produto Interno Bruto
PSI – Processo de substituição de importações
RBI – Banco Central da Índia
TCPPC – Taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais
TPI – Taxa de penetração das importações
WDI – World Development Indicators
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................. 15 2. ASPECTOS TEÓRICOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ......... 16 2.1. Determinantes da balança comercial ............................................................ 16 2.1.1. Taxa de câmbio ............................................................................................ 19 2.1.2. Renda Interna ............................................................................................... 21 2.1.3. Renda Externa .............................................................................................. 23 2.2. Metodologia .................................................................................................. 24 3. COMÉRCIO INTERNACIONAL E OS BRICS NO SÉCULO XXI ................. 26 3.1. Crescimento comercial mundial na década de 2000 .................................... 27 3.2. Caracterização dos BRICs............................................................................ 36 3.2.1. Indicadores macroeconômicos dos BRICs ................................................... 41 4. ANÁLISE DO IMPACTO DOS DETERMINANTES NA BALANÇA
COMERCIAL DOS BRICs............................................................................ 51 4.1. Desempenho da balança comercial brasileira .............................................. 51 4.1.1. Exportações brasileiras ................................................................................ 56 4.1.2. Importações brasileiras ................................................................................. 68 4.2. Desempenho da balança comercial russa .................................................... 74 4.2.1. Exportações russas ...................................................................................... 78 4.2.2. Importações russas ...................................................................................... 84 4.3. Desempenho da balança comercial indiana ................................................. 88 4.3.1. Exportações indianas ................................................................................... 94 4.3.2. Importações indianas .................................................................................. 102 4.4. Desempenho da balança comercial chinesa .............................................. 108 4.4.1. Exportações chinesas ................................................................................. 111 4.4.2. Importações chinesas ................................................................................. 116 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 121 6. REFERÊNCIAS .......................................................................................... 125
ANEXO I..................................................................................................... 131
1. INTRODUÇÃO
A economia internacional tem assistido a uma importante transformação no
grau de desenvolvimento e de articulação entre os mais distintos países. As nações conhecidas como emergentes ampliaram sua participação na economia mundial.
Dentro deste grupo de emergentes, o reconhecimento do peso econômico, em
específico das economias do Brasil da Rússia, Índia e China, levou a que fosse
cunhado a expressão BRIC, como forma de identificar esse conjunto de novos
grandes participantes na economia mundial (BAUMANN et al. 2010).
No início da década dos anos 1990, já era clara e dominante a presença da
economia chinesa no comércio internacional, entretanto os BRICs têm sido alvo de
análises não somente pelo crescimento econômico apresentado durante a década,
mas também pelas singularidades que estes apresentam em conjunto em relação
aos demais. A partir desta ampliação dos BRICs no comércio internacional, a
problemática do estudo está centrada em saber qual foi o impacto de cada
determinante macroeconômico na balança comercial, de cada país, durante a década de 2000.
Têm-se como objetivos a análise do impacto da taxa de câmbio, renda interna
e externa na balança comercial de cada país, bem como a influência e importância
de cada determinante no resultado do saldo comercial dos quatro países, no período
de 2000 a 2010. No entanto, estes três determinantes não são os únicos
determinantes empíricos da balança comercial de um país, sendo assim, é feito a
observação de particularidades em relação aos aspectos institucionais e/ou
comerciais, quando necessário, para compor uma análise mais sólida, de um ou
mais países.
O trabalho está divido em cinco capítulos, o segundo capítulo traz a
fundamentação teórica do modelo utilizado para a determinação do saldo comercial, baseado na teoria de determinação de renda Keynesiana, especificamente no
modelo de determinação das exportações líquidas. Destaque-se que, não é o
objetivo a apresentação das identidades e conceitos macroeconômicos básicos
existentes na teoria de Keynes, mas sim da construção de um campo teórico
sintético do modelo, capaz de identificar e elucidar facilmente os determinantes
macroeconômicos da balança comercial em uma economia aberta.
16
No segundo capítulo também se tem a metodologia adotada, que utiliza a
abordagem analítica discursiva para apresentação dos resultados e para extração
dos resultados utiliza-se do método indutivo. No terceiro capítulo, partindo-se da contextualização do aumento da
interdependência econômica, expressa no aumento do comércio internacional, são
apresentados dados que indicam que, o período da análise é em grande parte de
aumento da expansão da economia mundial e do comércio internacional,
presumindo que, a renda externa influenciou de forma expressiva e positiva na
determinação do saldo da balança comercial da maioria dos países. Isto sugere que,
os BRICs também absorveram de forma positiva esse crescimento da economia
mundial, sendo esta, a hipótese central sustentada pelo estudo – a renda externa foi
o principal determinante de superávits comerciais.
É feito também uma breve revisão literária acerca do modelo da abertura
econômica de cada país e a apresentação de dados macroeconômicos, a fim de, caracterizar estruturalmente a formação da pauta comercial, de cada país, e seus
condicionantes “históricos”. No quarto capítulo, têm-se a apresentação dos
resultados e discussão do trabalho proposto. O quinto capítulo traz as considerações
finais do trabalho seguidas pelas referências utilizadas para elaboração do estudo.
2. ASPECTOS TEÓRICOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
2.1. Determinantes da balança comercial
As exportações líquidas, ou excesso de exportações sobre importações,
depende da renda que afeta o gasto com importações; da renda estrangeira, 푌∗, que
afeta a demanda estrangeira pelas exportações; e a taxa de câmbio real, R. um
aumento de R ou uma depreciação real melhora a balança comercial à medida que
a demanda se desloca de bens produzidos no exterior para bens produzidos
localmente (DORNBUSH et al. 2009)
푵푿 = 푿(풀∗,푹) −푸(풀,푹) = 푵푿(풀,풀∗,푹) ( 1 )
onde:
푁푋 = Exportações líquidas;
푋 = Exportações
푄 = Importações
푌 = Renda interna
푌∗= Renda externa
푅 = Taxa real de câmbio
De acordo com os mesmos autores, podem-se afirmar três resultados
importantes:
i. Um aumento da renda estrangeira, tudo o mais constante, melhora a balança
comercial do país local e, portanto, aumenta a demanda agregada do país
local. ii. Uma depreciação real pelo país local melhora a balança comercial e,
portanto, aumenta a demanda agregada.
iii. Um aumento da renda local eleva o gasto com importações e, assim, piora a
balança comercial
Conforme Blanchard (2007), as importações dependem claramente da renda doméstica ou renda interna (푌). Um aumento do produto interno leva a uma
demanda doméstica maior por todos os bens, tanto bens domésticos quanto bens
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estrangeiros. E dependem também, claramente, da taxa real de câmbio (휖) – o
preço relativo dos bens domésticos em termos de bens estrangeiros. Conforme
Equação 2.
푸 = 푸(풀, 흐) ( 2 )
Já as exportações são parte da demanda estrangeira (푌∗) que recai sobre
bens domésticos. Logo, dependem da renda estrangeira, uma renda estrangeira
maior significa uma demanda estrangeira maior por todos os bens, estrangeiros e
domésticos e dependem também da taxa real de câmbio conforme Equação 3.
푿 = 푿(풀∗, 흐) ( 3 )
Conforme Blanchard (2007), a representação gráfica das exportações líquidas
conforme Figura 1, na qual se verifica as exportações líquidas como função
decrescente do produto.
Figura 1: Curva da balança comercial
Fonte: Blanchard (2007, p. 374)
Blanchard (2007, p. 375) completa que, sendo as exportações líquidas
sinônimo de balança comercial, exportações líquidas positivas correspondem a um
superávit comercial, enquanto exportações líquidas negativas correspondem a um
déficit comercial. Conforme Figura 1, vê-se que as exportações líquidas são função
decrescente do produto, de forma que o ponto em que a curva NX cruza o eixo
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vertical indica o ponto do nível do produto que iguala o valor das exportações com o
valor das importações.
2.1.1. Taxa de câmbio
A taxa de câmbio entre dois países corresponde ao preço no qual os
residentes desses dois países estabelecem comércio um com o outro (MANKIW,
2010). A relação entre quantidades de moeda chama-se de taxa de câmbio
nominal. Diz-se que, ocorreu uma valorização nominal de câmbio quando a moeda
nacional ficou relativamente mais cara que a moeda estrangeira em termos
monetários, ou seja, uma unidade de moeda nacional compra mais unidades de
moeda estrangeira. Já quando a moeda de um país passa a valer relativamente
menos em comparação com uma moeda estrangeira, diz-se que ocorreu uma desvalorização nominal (LOPES e VASCONCELLOS, 2011).
De acordo com Froyen (2001), o mercado de câmbio é o mercado em que
divisas de diferentes países são comercializadas entre si, de acordo com a demanda
por moedas estrangeiras. Assim, por exemplo, para efetuar seus dispêndios no
exterior, os indianos vendem moeda nacional (rúpia indiana) para poder comprar
moeda estrangeira. O mercado oficial de moeda estrangeira é composto por uma
série de corretoras e departamentos bancários de câmbio.
Lopes e Vasconcellos (2011) afirmam que, para determinar os fluxos
comerciais entre os países, a taxa de câmbio relevante é taxa de câmbio real, que
corresponde aos preços relativos entre o produto nacional e o estrangeiro, pela
seguinte expressão:
푹 = 흐푷∗
푷 ( 4 )
onde:
푅= taxa de câmbio real
휖= taxa de câmbio nominal
푃∗= índice de preços do país estrangeiro
푃= índice de preço doméstico
20
Assim, 휖푃∗, é o preço do produto estrangeiro em termos nacionais, com o que
a taxa de câmbio real é na verdade, a razão entre o preço do produto estrangeiro e o
preço do produto nacional, ambos medidos em termos nacionais. Para Dornbusch et
al. (2009) a taxa de câmbio real é a razão entre preços estrangeiros e preços
domésticos, medidos na mesma moeda. Ela mede a competitividade de um país no
comércio internacional.
Conforme Lopes e Vasconcellos (2011), quando o índice taxa de taxa de
câmbio real é igual a 100 ou 1, quando superior a 1 diz se que a moeda nacional está sofrendo uma desvalorização real, sendo que esta poderia ocorrer por uma
elevação dos preços em moedas estrangeiras ou por uma redução dos preços em
moedas nacionais no país doméstico. Uma desvalorização da taxa de câmbio real
significa que o produto nacional ficou relativamente mais barato que o estrangeiro,
estimulando a demanda por estes produtos, tanto pelas exportações quanto pela
diminuição das importações. Se os preços se mantiverem constantes em ambos os países, uma desvalorização nominal da taxa de câmbio acarretará uma
desvalorização real, barateando o produto nacional.
De acordo com Palhuk (2009), uma desvalorização da taxa de câmbio
encarece os bens e serviços produzidos no exterior em relação aos produzidos no
país, estimula a exportação e desincentiva as importações. Sendo assim, em
condições normais, uma desvalorização da taxa de câmbio aumenta o saldo comercial e de serviços não-fatores, considerando-se o mais eficaz dos mecanismos
de correção dos déficits em conta corrente do balanço de pagamentos.
Lopes e Vasconcellos (2011) ressaltam que, outro conceito relativo à taxa de
câmbio é a taxa de câmbio efetiva. Enfim a taxa de câmbio nominal estabelece uma
cotação entre duas moedas, e a taxa de câmbio real o preço relativo do produto de dois países expressos na mesma moeda. Entretanto, um país não possui, em geral,
um único parceiro comercial, mas vários. Logo, ao calcular a taxa real de câmbio,
deveríamos considerar a relação de preços com todos os parceiros comerciais. É
isso que a taxa de câmbio real efetiva busca medir, ao ponderar as diversas taxas
reais de câmbio, de acordo com a importância dos parceiros comerciais.
A determinação da taxa nominal de câmbio pode ser a partir de dois regimes
cambiais: o fixo e o flutuante. A partir destes novos regimes desenvolveram-se em diversos países, merecendo destaque o sistema de “flutuação suja” (dirty-floating).
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No regime de câmbio fixo, a autoridade monetária do país determina o valor
da taxa de câmbio, se comprometendo a comprar e vender divisas à taxa estipulada.
De forma que esta autoridade deve possuir moeda estrangeira em quantidade suficiente para atender a uma situação de excesso de demanda por esta moeda
(situação de déficit na Balança de Pagamentos) à taxa estabelecida, bem como
deve aceitar a perda de graus de liberdade na condução da política monetária,
adquirindo qualquer excesso de oferta de moeda estrangeira (superávit na Balança
de Pagamentos). Assim uma vez fixada a taxa de câmbio, a atuação da autoridade
monetária faz-se no sentido de garantir essa taxa (LOPES e VASCONCELLOS,
2011).
Quanto ao regime de taxas flutuantes de câmbio, conforme, Lopes e
Vasconcellos (2011), sua característica básica é que a taxa de câmbio deve ajustar-
se de modo a equilibrar o mercado de divisas. Em situação de excesso de demanda
por moeda estrangeira, esta terá seu preço elevado, ou seja, a moeda nacional se desvalorizará. Quando houver um excesso de oferta de moeda estrangeira, seu
preço cairá, ou seja, a moeda nacional se valorizará. Nota-se que o princípio básico
do regime de câmbio flutuante é um mercado de divisas do tipo concorrência
perfeita, sem intervenções da autoridade monetária, de modo que qualquer
desequilíbrio seja prontamente eliminado pelo funcionamento do mecanismo de
preços. Com isso, o balanço de pagamentos estará sempre em equilíbrio, pois os déficits (excesso de demanda por divisas) tendem a desaparecer com a
desvalorização cambial, e eventuais superávits (excesso de oferta) são afastados
com a valorização da moeda nacional.
No sistema de flutuação suja o principio básico é o do regime flutuante, que
preconiza que a determinação da taxa de câmbio será dada em mercado livre do
tipo de concorrência perfeita, no entanto, existe a presença da autoridade monetária
como grande interventor que tenta balizar os movimentos desejados da taxa de
câmbio (LOPES e VASCONCELLOS, 2011).
2.1.2. Renda Interna
No modelo de determinação de renda Keynesiano, de uma economia aberta,
um aumento autônomo da renda interna gera um aumento na quantidade da
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demanda, ou seja, um aumento por bens domésticos e bens estrangeiros, este
aumento por bens estrangeiros se mantida a condição ceteris paribus, trará um
déficit na balança comercial e o aumento da demanda agregada interna também irá
corresponder a um aumento da renda agregada.
Figura 2: Efeitos do aumento da renda interna na balança comercial
Fonte: Blanchard (2007, p. 376)
Supondo uma economia em que esteja em equilíbrio, conforme Figura 2, o
ponto A na parte (a) da curva de demanda ZZ representa o equilíbrio. Já na parte (b)
o ponto YTB. Um aumento da demanda agregada em quaisquer dos três itens
básicos do modelo consumo, investimento ou gastos do governo, desloca a relação
de demanda para cima de ZZ a ZZ’. O ponto de equilíbrio desloca-se de A para A’, e
o produto de Y para Y’ (BLANCHARD, 2007).
Como o modelo é de uma economia aberta, um aumento da demanda não
recai apenas sobre os bens domésticos e também por bens estrangeiros. E como
23
parte do aumento da demanda recai sobre as importações – e as exportações não
se alteram, o resultado é um déficit comercial. Ressalta-se que a posição inicial de equilíbrio aqui apresentada quase
sempre não é observado empiricamente, assim um país em análise pode estar em
uma posição inicial em déficit comercial ou superávit. Nota-se também que uma
contração da demanda interna influencia de forma positiva a posição das
exportações líquidas e negativamente o produto. Verifica-se, assim, a relação do
determinante renda interna como uma variável macroeconômica de grande relevância.
2.1.3. Renda Externa
Na figura 3, têm-se os efeitos de um aumento da atividade estrangeira sobre
o produto doméstico e a balança comercial.
Figura 3: Efeitos do aumento da renda externa na balança comercial
Fonte: Blanchard (2007, p. 378)
24
A demanda inicial por bens domésticos é dada pela curva ZZ, onde o
equilíbrio se encontra no ponto A, com um nível de produto, Y. Supondo também o
equilíbrio da balança comercial, YTB. A curva DD representa a demanda doméstica por bens (C+I+G), nota-se que DD é mais inclinada do que ZZ, esta diferença é igual
às exportações líquidas, de modo que, se o comércio está equilibrado no ponto A,
então ZZ e DD interceptam-se no ponto A (BLACNCHARD, 2007).
Conforme Blanchard (2007), um aumento do produto estrangeiro significa
uma demanda estrangeira maior, sendo esta demanda dependente do nível de
atividade do comércio internacional do país doméstico, logo o aumento do produto
estrangeiro é o aumento das exportações do país doméstico em um determinado
montante. De forma que, este aumento da demanda doméstica aumenta as
exportações líquidas, portanto a curva NX também se desloca para cima, de NX
para NX’.
O ponto A’ representa o novo ponto de equilíbrio com um nível de produto Y’, assim o aumento do produto estrangeiro leva a um aumento do produto doméstico,
sendo o canal as exportações, no entanto, o aumento do produto doméstico não
leva a um aumento tão grande das importações que efetivamente deteriora a
balança comercial, mas deve melhorá-la ao invés. Quando a demanda estrangeira
aumenta, a demanda por bens domésticos desloca-se para cima de ZZ para ZZ’
entretanto a curva DD, que representa a demanda doméstica por bens como função do produto não se desloca. No novo nível de equilíbrio Y’, a demanda doméstica é
dada pela distancia DC e a demanda por bens domésticos é dada por DA’, enfim as
exportações líquidas são dadas, portanto, pela distancia CA’ (BLANCHARD, 2007).
2.2. Metodologia
Sendo objetivo deste trabalho, analisar o impacto dos determinantes na
balança comercial, de cada país, parte-se da hipótese que, a renda externa, entre os
três determinantes, é o principal condicionante do desempenho comercial dos
BRICs, porém não o único empiricamente a influenciar o setor externo de cada país. Utiliza-se duas fontes de pesquisa para a construção do trabalho, a pesquisa
quantitativa e a bibliográfica. A coleta dos dados quantitativos é de fonte secundária e foi feita em sua maioria em sites estrangeiros e, pertencentes a algumas das
25
principais organizações socioeconômicas internacionais como os sites das Nações
Unidas, Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial, como também quando
necessário, a fonte utilizada para os dados é relativamente específica a cada país, como os Bancos Centrais e instituições de pesquisa e desenvolvimento dos países
que compõem os BRICs.
A pesquisa bibliográfica é utilizada, para apresentação do modelo teórico e
para a construção do contexto do tema proposto, sendo utilizados livros sobre a
teoria macroeconômica, artigos e teses elaboradas por associações privadas,
órgãos federais e estaduais, em grande parte sendo trabalhos divulgados em eventos, disponibilizados on-line.
A delimitação do espaço temporal será de dados anuais, de 2000 a 2010, no
entanto, há dados que possuem um efeito “defasado”, como o Investimento
Estrangeiro Direto (IED), o qual nem sempre, possui um impacto no curto prazo,
assim, oportunamente é feito uma análise com um corte temporal maior, do que, apenas a década de 2000.
Este trabalho traz apenas um anexo, que trata da composição de cada bloco
econômico abordado no trabalho, discutido na seção 3.1, na qual se aborda seis
blocos econômicos.
No capítulo 4, que trata dos resultados, a análise do impacto dos
determinantes, no desempenho da balança comercial será através dos possíveis resultados da balança comercial em uma economia aberta, dentro do modelo
Keynesiano, sendo assim, os possíveis resultados são de déficit comercial, equilíbrio
comercial e superávit comercial.
A análise delimitada acerca da balança comercial destes quatro países utiliza
a abordagem analítica discursiva para a apresentação e discussão dos resultados –
influência das oscilações do câmbio, renda interna e externa na balança comercial
dos Brics. O estudo utiliza-se do método indutivo que, de acordo com Palhuk (2009,
p. 40), “[...] proporciona alcançar conclusões particulares sob a luz de
conhecimentos gerais, alcançados através da discricionariedade da economia”.
Objetivando uma análise sintética do impacto dos determinantes na balança
comercial, analisasse separadamente as exportações em função da renda externa e
taxa de câmbio real, e as importações em função da renda interna e taxa de câmbio.
3. COMÉRCIO INTERNACIONAL E OS BRICS NO SÉCULO XXI
Nas últimas décadas tem-se registrado uma extraordinária expansão do comércio internacional de bens e serviços, resultado do aprofundamento dos
processos de globalização e propiciando expressivo aumento na interdependência
econômica das nações de todo o mundo. Essa expansão, todavia, também ocorreu
de forma extremamente desigual entre as grandes regiões e países. O comércio
internacional é visto cada vez mais como um poderoso mecanismo de elevação da
produtividade dos recursos produtivos, de promoção do crescimento econômico e de avanço na esfera social, diferenças nos níveis de inserção das economias nacionais
nos fluxo mundiais de bens, de serviços e de tecnologias estão constituindo também
uma fonte de enormes disparidades internacionais de crescimento econômico e de
níveis de bem-estar (GALVÃO, 2007).
O crescimento da economia mundial e também do comércio internacional
proporciona grandes oportunidades para os países em desenvolvimento, além de
haver a possibilidade de haver a entrada de IED, no caso de um país com ajustes
macroeconômicos estáveis e possuir relativos potenciais produtivos, o aumento da
demanda mundial por produtos e bens ocasiona o aumento da produção interna
destinada às exportações, sendo que estas geralmente são exportadas
principalmente para os países desenvolvidos. Esta última situação pode ser evidenciada na Figura 4, na qual mostra a contribuição do comércio internacional na
economia interna, neste caso, das economias desenvolvidas e das economias em
desenvolvimento
Figura 4: Mundo - Saldo das transações Correntes em (%) PIB Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria.
-3%-2%-1%0%1%2%3%4%5%6%
Economias em desenvolvimento Economias desenvolvidas
27
Durante a década de 1990 o fluxo líquido de capital para o exterior das
economias desenvolvidas se manteve oscilante em torno de 0%, já as economias
em desenvolvimento apresentaram uma recuperação instável durante a década de 1990, no entanto, a partir de 1996, passa a recuperar os déficits das transações
correntes, e na década de 2000, o comércio internacional passa a ser um importante
fator de geração de crescimento do produto interno dos países em desenvolvimento.
O aumento da renda mundial e consequentemente da demanda pressupõem
um bom potencial para a expansão do produto interno através do comércio de
produtos e serviços para os países em desenvolvimento durante a década de 2000.
Uma vez que, de acordo com Lopes e Vasconcellos (2011), se a conta de
transações correntes for superavitária, isto significa que o país está recebendo
recursos que podem ser utilizados: (i) no pagamento de compromissos assumidos
anteriormente; (II) para investimentos do país no exterior; (III) para aumentar as
reservas do país etc. Se, porém, esta for deficitária, isto implica necessidade de: (I) contrair empréstimos no exterior; (II) contrair investimentos estrangeiros no país e
(III) diminuir as reservas do país.
3.1. Crescimento comercial mundial na década de 2000
Faz-se importante notar inicialmente que, de acordo com Palhuk (2009),
alguns países emergentes apresentaram sérias crises financeiras e cambiais, ao final do século XX, como Rússia, Brasil e países do sudeste asiático. O início do
século XXI foi bastante apreensivo, denotando dificuldades ligadas ao aumento na
aversão ao risco, tanto no mercado de capitais quanto no comércio de bens.
De acordo com UNCTAD/STAT (2012), no período analisado, de 2000 a
2010, a corrente de comércio mundial (Exportações + Importações) apresentou
crescimento de 135,4% com uma média de crescimento de 9,83% ao ano. Este desempenho fora afetado, principalmente, por duas principais crises apresentadas
durante a década.
A primeira no início da série conhecida como “bolha da internet”, registrando
em 2001 uma retração de 3,5% da corrente do comércio decorrente de uma bolha
especulativa iniciada no final da década de 1990, caracterizada por uma
28
forte alta das ações das novas empresas de tecnologia da informação e
comunicação baseadas na Internet. E em 2008, a crise dos títulos do tipo subprime
norte americanos, relativos à crise da inadimplência imobiliária do país, auferindo uma retração de mais de 22% na corrente de comércio internacional, em 2009 e a
economia mundial, retração de 2,2% (UNCTAD /STAT, 2012; PALHUK, 2009).
A crise do mercado de hipotecas americana, também conhecida como crise do subprime, teve grande repercussão sobre a economia americana e depois sobre
a economia mundial, a partir de 2007. A forte integração do sistema financeiro
internacional ajudou a propagá-la. Os impactos sobre as economias avançadas e
sobre as demais economias – emergentes e em desenvolvimento – não foram
uniformes (MOREIRA; SOARES, 2010).
Apesar destes dois choques externos, o crescimento da economia mundial,
puxado principalmente pelas economias emergentes, sendo a China o grande
destaque. A economia mundial, de 2000 até 2007 manteve um crescimento médio anual de 4,21%, no início do contágio da crise, em 2008, a variação do crescimento
anual do PIB mundial caíra para 2,8% e em 2009, apresenta maior contração,
auferindo taxa negativa de crescimento de 0,6%, conforme mostra Figura 5.
Figura 5: Mundo - Taxas de crescimento da corrente de comércio e PIB (%) Fonte: UNCTAD/STAT, IMF/Data Mapper – Jun/2012; Elaboração própria.
Em relação ao crescimento do comércio internacional, na variação de 2000
para 2001 houve retração de 3,5% e em 2009, retração de 22,7%, no entanto, nos
outros anos a corrente comercial apresentou significativas taxas de crescimento com
crescimento médio de 9,8% ao ano.
-25-20-15-10
-505
10152025
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Taxa de Crescimento da Corrente Comercial Mundial
Taxa de crescimento real do PIB mundial
29
Em 2008, a trajetória de crescimento da economia mundial é alterada com a
desaceleração do crescimento econômico em 2,8% em relação ao ano anterior. A
tendência tem continuidade e é aprofundada, no ano seguinte. Os primeiros sinais de crise, ocorreram entre 2006 e 2007. Porém, a percepção definitiva de que, o
mundo estava adentrando em uma profunda crise ocorreu em 15 de setembro de
2008, com a falência do Lehman Brothers. Em 2009, a desaceleração econômica
transformou-se em recessão, principalmente, nas economias consideradas
desenvolvidas, já as economias em desenvolvimento e emergentes são grandes
responsáveis pela recuperação mais rápida da economia mundial. É importante
avaliar nesse contexto o comportamento das quatro maiores economias emergentes
os BRICs, sendo grande destaque a China e a Índia (MOREIRA; SOARES, 2010, p.
17).
Faz-se notar também que, a economia mundial tem experimentado um
aumento elevado dos níveis de preços exportados, situação que pode ser comprovada a partir da Figura 6, na qual se tem os índices de quantum exportado e
de preços das exportações.
Figura 6: Mundo - Índice de volume e preço das exportações Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Volume e preço em índice base 100 (2000).
Nota-se que, o índice de preços das exportações, a partir de 2003, passa a elevar em proporções maiores que o quantum exportado. Uma vez que, o aumento
do volume exportado total do período considerado foi de 61,8%, mantendo taxas
crescentes até o grande impacto da crise na economia mundial em 2009, recuando
20 pontos percentuais em relação ao ano anterior, o índice de preços também é
crescente, no entanto, mais robusto e sensível, com um crescimento total de 182%,
050
100150200250300
Índice de preço das exportações Índice de volume das exportações
30
durante o período, e em 2009, uma queda de 55 pontos percentuais do índice de
preço das exportações mundiais.
O aumento dos preços das exportações e importações de produtos está possivelmente ligado ao aumento dos preços dos produtos primários ou commodities, logo, conforme Tabela 1, nota-se que, durante a década houve o
aumento de 88,9 pontos percentuais do índice das commodities em geral, sendo
que, de 2003 a 2010, o aumento foi de 87,2 pontos percentuais.
TABELA 1: ÍNDICE DE PREÇOS DE COMMODITIES
Commodities em geral 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 63,3 58,3 58,3 65,0 80,4 100,0 120,8 135,1 172,3 120,7 152,2
Metais 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 62,7 56,3 54,3 60,7 81,7 100,0 156,2 183,3 169,0 136,5 202,3
Alimentos 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 82,1 80,5 83,3 88,6 100,9 100,0 110,5 127,3 157,0 134,0 149,4
Produtos agrícolas 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 98,6 95,2 95,0 95,6 99,6 100,0 108,8 114,2 113,3 94,1 125,4
Petróleo 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 52,9 45,6 46,8 54,1 70,6 100,0 120,7 133,5 182,1 116,2 148,5
Fonte: WDI/ World Data Bank - Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Commodities em índice base (100) 2005.
De acordo com Freitas (2008), em termos reais desde 2003, os preços das principais commodities internacionais elevaram consideravelmente. Os maiores
incrementos ocorreram nos preços dos metais – em particular, minério de ferro,
cobre e estanho. A partir do segundo semestre de 2007, petróleo e alimentos
passaram a registrar os aumentos mais expressivos e forte volatilidade. No caso do
petróleo, a cotação do barril do tipo Brent atingiu nível recorde em termos históricos
no dia 11 de julho de 2008, ao alcançar US$ 147,00 no mercado de Londres. Há
múltiplas razões por trás dessa elevação recente das cotações de várias commodities, algumas das quais se inter-relacionam e se realimentam de modo
complexo.
Um dos principais fatores explicativos da alta recente dos preços das commodities é a existência de desequilíbrios entre oferta e demanda, no caso tanto
31
do petróleo quanto dos alimentos, associados a ampliação do crescimento
econômico dos países em desenvolvimento. Outro fator importante para a elevação
dos preços internacionais dos produtos primários é o enfraquecimento do dólar, moeda na qual esses produtos são cotados e comercializados. Ante a
desvalorização do dólar, os produtores tendem a elevar os preços para neutralizar
as perdas cambiais. Ao lado deste descompasso entre a oferta e a demanda nos
respectivos mercados e da depreciação do dólar, os preços estão sendo
pressionados também pela especulação financeira (FREITAS, 2008).
Interessante notar também que, o aumento da demanda e consequentemente
no preço dos produtos primários fez com que, de acordo com Unctad/Stat (2012), o
valor total exportado mundialmente de produtos primários aumentasse 207%
durante a década, sendo este setor responsável por 24,3% do total exportado em
2000 e em 2010 passa um percentual de 31,7%. Já os produtos manufaturados, em
2000, representavam 75,7% e em 2010 representam 68,30% do total do valor exportado, obtendo um crescimento total do valor exportado de 113% durante o
período.
Entretanto, este aumento do comércio internacional é visivelmente devido
também à incorporação de novos mercados, uma vez que, o comércio de produtos e
serviços, entre os países passa a aumentar, já que seu percentual de participação
na economia mundial, conforme Tabela 2, a qual se tem a participação da média das exportações e importações de bens e serviços mundiais em relação ao PIB mundial,
mantêm-se crescente em quase toda a década. Deixando claro, assim, um aumento
mais proporcional da participação do setor externo na economia mundial do que, o
aumento da própria economia mundial.
TABELA 2: MUNDO - GRAU DE ABERTURA COMERCIAL (SERV. E PROD.) (풙(X+M)/PIB)
Ano 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Participação (%) 24,23 23,66 23,75 24,63 26,53 27,83 29,39 30,27 31,74 26,66 29,05
Variação anual (%) - -2,34 0,35 3,73 7,69 4,91 5,6 2,99 4,88 -16 8,96 Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração Própria.
O comércio mundial apresentou, apenas em dois anos, diminuição do
percentual em relação ao PIB mundial, sendo eles, 2001 e 2009. Do início da
década até 2008, o grau de abertura acumulava crescimento de mais de 27% e
termina série com um crescimento percentual de 4,82, conforme Tabela 2.
32
O crescimento do comércio internacional também é evidenciado a partir do
crescimento das exportações dos principais blocos econômicos mundiais. No
entanto, este crescimento do comércio mundial tem sido regionalmente desigual, sendo impulsionado principalmente pela China, tanto pelo canal das importações em grande parte commodities, como pelas exportações, principalmente, de produtos
industrializados.
Ao contrário de alguns países em desenvolvimento os países desenvolvidos
ou também chamados de industrializados passaram por um processo crescente da
diminuição de sua participação no comércio internacional, tanto da diminuição das
exportações quanto das importações de produtos.
Para uma visão regional do crescimento mundial, têm-se a abordagem de
seis blocos econômicos, sendo eles: Mercado Comum do Sul (MERCOSUL); Acordo
Norte Americano de Livre Comércio (NAFTA); Associação das Nações do Sudeste
Asiático (ASEAN); União Européia (EU); Acordo de Comércio Ásia Pacífico (APTA); Cooperação Econômica do Mar Negro (BSEC). Os países integrantes de cada bloco
podem ser encontrados no ANEXO I. Logo, na Figura 7 têm-se o valor exportado por
bloco econômico durante a década.
Figura 7: Blocos - Valor total exportado Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Exportações em US$ Bilhões FOB.
Nota-se que, inicialmente a grande importância da EU e do NAFTA, durante a
década, sendo responsáveis por exportar, em 2000, US$ 2,2 trilhões e US$ 1,2 trilhões, respectivamente.
01.0002.0003.0004.0005.0006.0007.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Mercado Comum do Sul - MERCOSUL Acordo Norte-Americano de Livre Comércio - NAFTA
Associação das Nações do Sudeste Asiático - ASEAN União Européia - EU
Acordo de Comércio Ásia-Pacífico - APTA Cooperação Econômica do Mar Negro - BSEC
33
De acordo com Galvão (2007), o crescimento global tem-se tornado mais
desequilibrado do ponto de vista geográfico, com disparidades crescentes entre
algumas regiões, sendo significativamente proporcionado nas últimas décadas pelo desempenho das economias dos EUA e da China.
No entanto, este panorama em relação aos Estados Unidos passa a mudar
durante a década de 2000, conforme Figura 8, a qual se tem a participação das
exportações por bloco mundial em relação ao total mundial.
Em contraste a grande participação das exportações do NAFTA e da EU no
início da década, que tiveram um aumento de 60%, 115%, respectivamente, os dois
blocos que maior apresentaram crescimento no período foram o APTA e o BSEC,
com 386% e 285%, respectivamente. Sendo que, o APTA tem como principais
integrantes a China e a Índia, e o BSEC a Rússia, por fim o MERCOSUL que,
obteve uma taxa de crescimento de 226%, e a ASEAN, crescimento de 146%,
durante a década.
Figura 8: Blocos - Participação das exportações mundiais Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria
Merece destaque também o desempenho do APTA que dobrou sua
participação nas exportações de mercadorias, em relação ao total mundial,
chegando a 15%, em 2010, já o MERCOSUL teve um aumento de 48%, atingindo
uma participação de 1,94%, em 2010, nas exportações mundiais. Fica visível a
diminuição da participação dos dois principais blocos econômicos mundiais que são: o NAFTA e a EU, tendo o NAFTA sofrido uma perda de 34% na participação das
exportações, já a EU uma menor perda de 12%, durante toda a década.
0%5%
10%15%20%25%30%35%40%45% Mercado Comum do Sul -
MERCOSUL
Acordo Norte-Americano deLivre Comércio - NAFTA
Associação das Nações doSudeste Asiático - ASEAN
União Européia - EU
Acordo de Comércio Ásia-Pacífico - APTA
Cooperação Econômica doMar Negro - BSEC
34
Importante notar que, esta queda da participação destes dois blocos não se
deve a diminuição de suas exportações, mas sim de, um crescimento menor em
relação ao dos outros blocos, situação evidenciada também nas importações respectivas de cada bloco.
O NAFTA e a EU, por décadas também são os principais importadores
mundiais. Importando em 2010, um valor de US$ 1,6 trilhões e US$ 2,4 trilhões,
respectivamente. Embora se note claramente a diminuição do NAFTA e da EU na
participação das importações mundiais, estes, até 2011 eram os dois principais
importadores mundiais. Novamente nota-se o aumento da participação dos outros
quatro blocos, caracterizado principalmente por países em desenvolvimento.
O APTA foi o bloco que atingiu as maiores taxas de crescimento das
importações durante o período, de 387%, com uma média de crescimento de 18,2%
ao ano, seguido pelo BSEC, que teve crescimento total de 292% durante a década,
mantendo uma média de 16,6%. Comportamento similar as importações do APTA, conforme Tabela 3.
TABELA 3: BLOCOS - CRESCIMENTO MÉDIO DAS IMPORTAÇÕES EM (%)
2000-2002 2003-2005 2006-2008 2009-2010 Acordo de Comércio Ásia-Pacífico - APTA 7,38 27,83 21,03 10,33 Associação das Nações do Sudeste Asiático - ASEAN -1,69 18,31 15,99 4,13
Cooperação Econômica do Mar Negro - BSEC 6,64 28,26 27,64 -7,41 União Européia - EU 2,44 17,21 14,58 -5,82 Mercado Comum do Sul - MERCOSUL -16,40 22,77 31,67 7,13 Acordo Norte-Americano de Livre Comércio - NAFTA -2,46 12,56 8,33 -0,92
Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; Elaboração própria.
O MERCOSUL apresentou crescimento de 194% de suas importações, grande parte deste crescimento auferido, nos de 2003 a 2008. Sendo o bloco que
apresentou maior variação média de crescimento, de 31,67%, no triênio, de 2006 a
2008.
A EU e o NAFTA em conjunto apresentaram um crescimento de 174%, sendo
o NAFTA responsável por apenas 58%. Este pior desempenho do NAFTA pode ter
origem pelo motivo de que, as duas principais crises ocorridas na década tiveram
sua origem nos Estados Unidos. A retração da renda americana influencia
diretamente a contração da demanda agregada por bens americanos e logo também
a contração da demanda por bens estrangeiros, principalmente, de 2009 a 2010.
35
Este menor crescimento apresentado pelos dois blocos reflete na queda da
participação destes também nas importações. Como esperado houve uma grande
elevação na participação do bloco composto por China e Índia, o APTA, auferindo um aumento percentual de 8,3 na participação das importações mundiais. O BSEC,
apresenta crescimento percentual de 2,3, o MERCOSUL e a ASEAN apresentam
crescimento de 0,44 e 0,58, respectivamente. Em outra via estão o NAFTA e a EU
que, diminuíram sua participação nas importações mundiais. Uma vez que, o NAFTA
apresenta as menores taxas de crescimento de suas importações, sua queda na
participação das importações foi maior em relação a EU, de forma que, o NAFTA
recuou 6,45 sua participação percentual e a EU 4,07. Conforme demonstra Tabela 4.
TABELA 4: BLOCOS - PARTICIPAÇÃO NAS IMPORTAÇÕES MUNDIAIS EM (%)
Bloco 2000-2002 2003-2005 2006-2008 2009-2011 Mercado Comum do Sul - MERCOSUL 1,19 0,98 1,33 1,66 Acordo Norte-Americano de Livre Comércio - NAFTA 24,66 21,56 19,08 17,17
Associação das Nações do Sudeste Asiático - ASEAN 5,54 5,42 5,59 6,08
União Européia - EU 38,29 39,29 38,16 34,81 Acordo de Comércio Ásia-Pacífico - APTA 7,19 9,46 11,10 14,11 Cooperação Econômica do Mar Negro - BSEC 2,78 3,63 4,75 4,71
Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria.
Pode-se concluir que, os países avançados sofreram mais com a crise da
década de 2000, do que os países em desenvolvimento. Comparando-se a dos subprimes com crises anteriores, há sinais de que, os ditos países em
desenvolvimento e emergentes passaram por uma curva de aprendizagem em
decorrência dos menores efeitos desta crise sobre suas economias (MOREIRA e
SOARES, 2010).
O grande aumento do produto mundial ocorrido na década foi bastante apoiado pela evolução dos países emergentes. Nos anos de 2008 e 2009, os BRICs,
comparativamente aos países desenvolvidos, apresentaram uma menor
desaceleração econômica. A exceção, no entanto, foi a economia russa, que em
2009 decresceu 7,9%. Isso se deve à acentuada exposição dos países da Europa
Central e do Leste Europeu aos bancos norte-americanos e à expressiva queda dos
preços do petróleo, em 2009 (MOREIRA e SOARES, 2010). A partir deste contexto de expansão e crescimento do comércio internacional
que perdurou até 2008 e de mudanças na participação das exportações e
36
importações dos principais blocos econômicos mundiais, fica claro que, a economia
mundial passa por um processo de mudança gradativa no comércio, sendo que os
países que antes não tinham grande participação no comércio internacional passaram a possuir maior competitividade comercial e maior capacidade econômica,
de alcançar um crescimento comercial, maior que, o das economias avançadas,
durante a década.
3.2. Caracterização dos BRICs
O termo BRIC foi introduzido inicialmente pelo economista Jim O’Nail, chefe
de pesquisa global do grupo financeiro Goldman Sachs, em 2001, em referência aos
quatro países. Na ocasião, o economista caracterizou estas quatro economias em
desenvolvimento como as maiores do mundo emergente, em mais rápido ritmo de
expansão e com maior potencial de tornarem-se os novos propulsores do
crescimento mundial (SOUZA, 2011).
O trabalho de Jim O’Nail, fixou-se em categorias de análise nos meios
econômico-financeiros, empresariais, acadêmicos e de comunicação. Em 2006, o
conceito deu origem a um agrupamento, propriamente dito, incorporado à política
externa de Brasil, Rússia, Índia e China (ITAMARATY, 2012).
Como agrupamento, os BRICs possuem um caráter informal, ou seja, não são um bloco econômico, como os blocos analisados nas seções anteriores deste
trabalho. De forma que, não tem um documento constitutivo, não funciona com um
secretariado fixo e nem tem fundos destinados a financiar suas atividades. Em
última análise, o que sustenta o mecanismo é a vontade política de seus membros.
Ainda assim, os BRICs têm um grau de institucionalização que vai se definindo, à
medida que os quatro países intensificam sua interação nas relações comerciais1. Do maior reconhecimento do potencial econômico e social destes países em
conjunto no cenário internacional veio a surgir o acrônimo BRICs e, com isso, o
aparecimento de diversos estudos de análise econômica a cerca do tema, isso devido em grande a parte ao trabalho divulgado pela Goldman Sachs, em 2001
(BAUMANN et al. 2010).
1BRASIL. Ministério das Relações Exteriores – Itamaraty, 2012. Disponível em: <http://www.itamaraty.gov.br/temas/mecanismos-inter-regionais/agrupamento-brics> Acesso em: 11 set. 2012.
37
Os Brics são um grupo de países em desenvolvimento que possuem
características comuns em termos territoriais, econômicos e demográficos, que lhes
confere um maior potencial de crescimento e, consequentemente, de obtenção de níveis de renda per capita mais próximos daqueles dos países desenvolvidos. Dessa
forma, os últimos anos têm sido marcados por um crescente interesse nas
características e desempenho de países como Brasil, Rússia, Índia e China. Mais do
que possibilidades de crescimento, alude-se aos BRICs um potencial para “mudar o
mundo”, tanto pelas ameaças quanto oportunidades que estes quatro países
representam, do ponto de vista econômico, social e político (BRITTO et al. 2009).
De acordo com Souza (2011), embora os BRICs tenham em comum um
grande potencial de crescimento, há algumas diferenças notáveis na estrutura
econômica destes quatro países. A China e a Índia são países cuja população vive
predominantemente em áreas rurais. Além disso, estes países possuem um
mercado de capital relativamente fechado e controlado pelo Estado, e suas estratégias de desenvolvimento baseiam-se na industrialização doméstica voltada
para exportação dada a grande disponibilidade de mão-de-obra. Já Brasil e Rússia
possuem a maior parte de suas populações vivendo em áreas urbanas, são
economias bem dotadas de recursos primários e possuem uma mistura de controle
de capital privado e estatal sobre o mercado de capitais privado e estatal sobre o
mercado de capitais. São economias cujas exportações são, principalmente, de produtos primários.
Faz-se necessário observar inicialmente, conforme Carvalho (2009) que,
recentemente, as economias emergentes têm preferido adotar regimes de câmbio
administrado, ou não plenamente flutuante, orientados pelo que Calvo e Reinhart (2002) caracterizaram como fear of floating, ou medo de flutuar. Tal resistência é
fundamentada pela volatilidade intrínseca do câmbio de países emergentes em
momentos de reversão das expectativas associadas aos choques externos. O
regime cambial ótimo dependerá das características próprias de cada país e de sua
estratégia de inserção externa. Provavelmente será intermediário àquele que é
rigidamente fixo e seu extremo, plenamente flexível.
No âmbito internacional, importante notar que ambos os quatro países
passaram por um processo de abertura de suas economias, porém processos distintos e com características específicas para cada país.
38
O processo de abertura econômica, característico em diversas economias emergentes no início da década de 1990, foi fundamentado pelo pensamento neoliberal que caracterizava os organismos multilaterais. As reformas estruturais do Consenso de Washington tornaram-se paradigma de nova política econômica baseada na não intervenção Estatal. Para a crítica neoliberal, o desestímulo aos processos concorrenciais, decorrente da elevada proteção tarifária e excessiva regulação, não permitiram a incorporação do progresso tecnológico e aumento da produtividade, evidenciando a incapacidade da via desenvolvimentista de conferir dinamismo às economias latino-americanas. O aumento da concorrência levaria à rápida transformação da estrutura produtiva, herdada do modelo de substituição de importações, a partir da incorporação de novas tecnologias, permitindo o aumento da produtividade e conseqüentemente dos salários reais. Neste sentido, a respeito da perspectiva produtiva, acreditava-se que o processo de abertura comercial, a partir do rebaixamento geral das tarifas e da supressão da proteção não tarifária, permitiria a entrada de novos produtos, ampliando a concorrência nos mercados internos. Supunha-se, que tal processo levasse a uma melhor inserção internacional dos produtos domésticos, em que o aumento da produtividade abriria novos mercados via aumento da competitividade (CARVALHO, 2009, p. 55)
Ainda de acordo com Carvalho (2009), o modelo supracitado foi adotado pela
economia brasileira. Belluzo e Almeida (2002 apud BAUMANN et al. 2009)
completam que, a estratégia de abertura realizada no âmbito dos planos Collor e
Real foi mais rápida e profunda se comparada a outros países, e apoiou-se na
eliminação de parte da propriedade estatal e das restrições fiscais e financeiras à
entrada do capital estrangeiro e na valorização cambial. Depois de 1999, em função da crise de balanço de pagamentos, esta estratégia foi parcialmente alterada
mediante, por exemplo, a desvalorização do câmbio e a concessão de incentivos
financeiros às exportações, embora não tenha sido capaz de tornar o país um
grande competidor em nível global, tendo como exceção o setor agrícola.
Após a crise financeira de 1998, o governo russo adotou uma postura fiscal prudente, favorecido pelo aumento da arrecadação decorrente do crescimento da economia e das exportações, principalmente no setor de petróleo. Em 1999 foi aprovado na Assembléia Federal de um pacote de leis básicas, cujo objetivo era reduzir o peso da tributação na economia e favorecer o crescimento econômico – em particular, os impostos sobre lucro bruto das corporações, que correspondem a 11% dos impostos federais e 19% dos regionais, foram reduzidos, visando, inclusive, atrair o investimento direto estrangeiro. Ademais, depois de implementadas alterações no Código da Federação Russa, em dezembro de 2003, foi criado em 2004 o Fundo de Estabilização Fiscal, visando proteger o orçamento
39
fiscal do ciclo de preços do setor de petróleo, favorecendo o equilíbrio fiscal do governo (BRITTO et al. 2009, p.15).
Acerca da liberalização econômica indiana, Carvalho (2009) afirma que, a
partir da metade da década de 1980, diversas medidas foram adotadas, no sentido
de avançar na liberalização ou abertura econômica, incluindo desregulamentação de
controles sobre a atividade industrial, reduzindo as restrições sobre o monopólio,
liberalização da importação de bens de capital, com a ampliação do coeficiente
tecnológico, ampliando a sofisticação política ativa de depreciação da taxa de câmbio. Estas reformas se caracterizaram mais pela liberalização da indústria
doméstica, do que pela liberalização do comércio internacional, sendo que, muito
pouco se fazia para reduzir o protecionismo à indústria indiana, com relação à
competição externa, a fim de que, houvesse ganhos de produtividade, a partir da
transferência de tecnologia e conhecimento técnico.
A reforma da política comercial indiana fez muito progresso, ao longo da década de 1990, antes disto, entretanto, era caracterizada pelas altas tarifas e pelas amplas restrições às importações. As importações dos bens de consumo manufaturados haviam sido à época totalmente restringida para proteger as indústrias domésticas, nos moldes dos modelos de substituição de importações característico dos países emergentes industrializados, ao longo da segunda metade do século XX até o início da década de 1990, em que várias destas economias aderiram aos modelos postulados pela reforma estruturalista proposta pelo Consenso de Washington (CARVALHO, 2009, p. 60).
Baumann et al. (2010) completa que, se até 2002, o governo indiano havia
adotado um programa estratégico de reformas bem limitado, no qual as importações
foram liberalizadas lentamente, ao mesmo tempo em que, tentou estimular o setor
exportador via política cambial e atração do IED, no período posterior houve
aprofundamento da abertura. Assim, as importações e a conta capital foram
liberalizadas como forma de incentivar a concorrência e não gerar desequilíbrios no balanço de pagamentos.
Como todos os quatro países realizaram reformas de abertura da economia,
os exitosos resultados da China não podem ser simplesmente atribuídos às políticas
de liberalização de modo geral, mas devem ser explicados a partir das
características específicas das políticas implantadas no país. Nesse sentido, longe
de responder a um programa fechado e abrangente de reformas, a abertura chinesa
40
iniciada nos anos 1980, acabou sendo marcada por uma visão fortemente
pragmática, em que as mudanças foram implementadas de forma incremental,
levando-se em conta os resultados de cada reforma no desenho da etapa seguinte. Por conta desta sistemática, foi aplicada uma estratégia de abertura extremamente
cautelosa, estabelecendo uma divisão regional, setorial e patrimonial muito clara
entre os fluxos de comércio protegidos pelo Estado e aqueles liberalizados para o
capital estrangeiro e para outras empresas nacionais de capital não estatal
(NAUGHTON, 1996 apud BAUMANN, 2009).
Conforme Cheng e Feng (2001 apud CARVALHO et al. 2009) desde o início
da política liberalização comercial chinesa, em 1978, a economia chinesa tem se
movido em direção à integração com o mercado global. Deste processo de
descentralização econômica emergiram diversos grupos de interesse, sendo que
alguns obtiveram ganhos associados ao regime econômico orientado ao comércio
exterior, enquanto outros tiveram que buscar ajuda governamental. Neste sentido, o governo chinês busca se legitimar a partir de objetivos sociais normativos, como é o
caso do crescimento econômico.
As evidências indicam que a política comercial chinesa é amplamente determinada por dois interesses do governo: o primeiro diz respeito a proteção às indústrias com alto valor adicionado e alta sofisticação. Esta política industrial é aparentemente inconsistente com a política liberalizante chinesa, entretanto, colabora para o desenvolvimento da indústria de alta tecnologia nacional, no longo prazo, sendo que do contrário não sobreviveria à competição internacional, em virtude da ineficiência inerente a este setor industrial chinês, quando comparado com seus congêneres estrangeiros. O segundo interesse está relacionado à necessidade do governo proteger indústrias que incorrem em perdas financeiras. Tais indústrias são tipicamente empresas estatais, sendo que a eliminação deste tipo de proteção pode levar a perdas produtivas massivas, levando ao caos social e político. Ademais, a política comercial chinesa é principalmente definida por uma política industrial estimuladora das indústrias high-tech e uma política social minimizadora da instabilidade social (CHENG; FENG, 2001 apud CARVALHO et al. 2009, p. 63).
O extraordinário desempenho das exportações chinesas ao longo dos anos
1990 está associado ao crescente movimento de segmentação do processo
produtivo global, que tem sido deliberadamente estimulado por uma política comercial seletiva, garantidora de tarifas alfandegárias preferenciais para
montadoras e indústrias de transformação (CARVALHO, 2009).
41
3.2.1. Indicadores macroeconômicos dos BRICs
Dentre os fatores que o Brics possui em conjunto, que chama a atenção por
sua significância, além de seu potencial econômico, é sua população agregada,
conforme Tabela 5.
TABELA 5: BRICS - POPULAÇÃO EM 2012
País Número de habitantes em milhões
Total do mundo (%)
Brasil 197 2,84 Rússia 142 2,04 Índia 1223 17,61 China 1355 19,51 BRICs Total 2916 41,99 Fonte: WDI/ World Data Bank - Mai/2012; Elaboração própria.
Vê-se que, a participação dos BRICs representa, em 2012, 42% da população
mundial, sendo que, China e Índia representam 37% da população. Além desta
diferença absoluta entre a população em relação a densidade demográfica, vê-se
que, a Índia tem uma proporção de 371 habitantes/km², já a China é de 141
habitantes/km², no Brasil 23 habitantes/km² e na Rússia 8 habitantes/km², estes níveis de concentração populacional “[...] podem ter implicações sobre o aparato
produtivo, seja do ponto de vista do custo da mão de obra, seja da ótica dos
estímulos de demanda, por parte de grandes aglomerações humanas” (BAUMANN
et al. 2010, p. 10).
TABELA 6: BRICS - ÁREA GEOGRÁFICA País Área em milhões de km²
Brasil 8,5 Rússia 17,1 Índia 3,3 China 9,6 Fonte: WDI/ World Data Bank - Mai/2012; Elaboração própria.
Estas implicações ficam facilmente visíveis quando correlacionados aos
setores produtivos de cada país, assim no que tange ao comércio de bens, Índia e
China possuem uma pauta de exportações com maior valor agregado e tecnologia,
42
já Brasil e Rússia uma maior participação de produtos primários, sendo que, estas
situações não permanecem, necessariamente, em todo o período estudado.
TABELA 7: BRICS - VALOR ADICIONADO POR SETOR (% DO PIB)
Brasil
Agricultura Indústria Serviços
2000-2005 6,36 28,15 65,48 2006-2010 5,78 27,34 66,88
Rússia Agricultura Indústria Serviços
2000-2005 6,05 35,56 58,41 2006-2010 3,52 36,02 59,54
Índia Agricultura Indústria Serviços
2000-2005 21,05 26,7 52,25 2006-2010 16,02 27,86 53,96
China Agricultura Indústria Serviços
2000-2005 13,58 45,91 40,51 2006-2010 10,6 47,12 42,22
Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
É notável o peso do setor serviços entre os quatro países que, durante a
década, que foi o único setor a apresentar crescimento nos quatro países,
correspondente a pelo menos 40% do produto interno, que conforme Baumann et al.
(2010, p. 14), “[...] pode ser visto como reflexo da evolução de economias menos
desenvolvidas para emergentes”.
O Brasil é o único país a apresentar retração no setor industrial, além de ser o país com a pior participação relativa do produto interno. Em contrapartida apresenta
as maiores porcentagens o setor de serviços acima de 65% em relação ao PIB. Para
Brasil e Rússia mesmo havendo uma diminuição relativa da agricultura, o setor é um
fator de grande importância para os superávits comerciais recentes. A Rússia
apresentou uma queda de 2,53 pontos percentuais contra queda de 0,58 do Brasil,
conforme Tabela 7.
No setor agrícola é perceptível a diminuição em relação ao produto interno em
todos os países, sendo a Índia o país com maior porcentagem adicionada, de
16,02% no entanto, de acordo com Britto et al. (2009, p. 10), “ se constitui como um
importante determinante econômico indiano”.
43
Já a China é detentora da maior proporção do setor industrial em relação ao
PIB, que se manteve acima dos 45 %, durante a década. E seu setor agrícola é
marcado pela diminuição proporcional de valor adicionado por setor, deixando espaço para o aumento do setor industrial e de serviços.
Baumann et al. (2010) completam que, uma leitura desses indicadores
sugerem que, a economia brasileira tem estrutura produtiva mais aproximada ao
padrão observado nos países desenvolvidos, com predominância do setor de
serviços, enquanto China e Índia estão em etapa de aprofundar e de consolidar seu
processo de industrialização. Estas características da estrutura produtiva têm reflexo
sobre o ritmo de investimento.
TABELA 8: BRICS - FORMAÇÃO BRUTA DE CAPITAL (% PIB)
País 2000 2008 2010 Brasil 18,3 20,7 19,2 Rússia 18,7 25,5 22,8 Índia 24,2 35,4 34,8 China 35,3 43,9 49,3
Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
Na Tabela 8, tem-se a comparação da formação bruta de capital (formação
bruta de capital fixo + variações nos estoques) em relação ao produto interno bruto
entre os quatro países – Rússia e Brasil apresentam as menores proporções da
formação. Nota-se também, a pouca evolução destes dois países durante a década, tendo a Rússia auferido um aumento de 4,1 pontos percentuais e o Brasil um
aumento de 0,9 pontos percentuais. Em situação diferente encontra-se a Índia, com
crescimento percentual de 10,6 e China, crescimento percentual de 12,7. Nota-se
também que, o único país a não contrair sua proporção de formação de bruta de
capital em relação ao PIB, durante a crise de 2008, foi a China.
Nota-se claramente o pequeno nível de investimento de, Brasil e Rússia, no entanto, para se analisar a estrutura econômica de um país é necessária também a
introdução dos outros componentes da demanda agregada do país. De forma que,
na Tabela 9, tem-se a composição do tipo de gasto em proporção do PIB, de cada
país, sendo eles: consumo das famílias, consumo do governo, formação bruta de
capital fixo (FBCF), exportações e importações.
44
TABELA 9: BRICS - PIB POR COMPONENTES DA DEMANDA (%) Brasil
2000-2002 2003-2005 2006-2008 2009-2010 Consumo das famílias 63,18 60,66 59,71 61,16 Consumo do governo 19,85 19,51 20,16 21,49 F.B.C.F 16,74 15,77 17,66 17,70 Exportações Líquidas
Exportações 12,09 15,51 13,80 11,14 Importações 12,61 12,05 12,26 11,66
Rússia 2000-2002 2003-2005 2006-2008 2009-2010 Consumo das famílias 48,83 50,08 48,61 53,28 Consumo do governo 16,79 17,39 17,66 20,24 F.B.C.F 17,94 18,22 20,62 21,95 Exportações Líquidas
Exportações 38,76 34,96 31,74 29,00 Importações 24,25 22,52 21,52 21,11
Índia 2000-2002 2003-2005 2006-2008 2009-2010 Consumo das famílias 63,76 59,71 57,66 57,46 Consumo do governo 12,28 11,03 10,55 11,75 F.B.C.F 24,02 29,10 33,26 31,98 Exportações Líquidas
Exportações 13,49 17,33 21,77 20,68 Importações 14,43 19,07 25,86 24,91
China 2000-2002 2003-2005 2006-2008 2009-2010 Consumo das famílias 45,27 40,53 36,01 35,07 Consumo do governo 15,83 14,22 13,50 12,97 F.B.C.F 35,04 39,77 39,78 46,17 Exportações Líquidas
Exportações 23,76 33,26 37,12 26,68 Importações 21,38 29,86 29,13 22,50
Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
Brasil e Rússia por apresentarem baixas taxas de investimento, baseiam seu
crescimento econômico no consumo, em maior grau a economia brasileira, a qual
mantém a média de cerca de 60% de seu PIB em consumo durante a década, e
mantém uma poupança externa positiva, já que mantêm uma média das
exportações líquidas em proporção do PIB negativa em 1%. As duas economias
também apresentam crescimento percentual do consumo, principalmente, pelos
gastos do governo, ao contrário do setor externo brasileiro, o setor externo russo
apresenta consideráveis superávits com uma média de 8,6% em proporção do PIB.
A Índia e China mantêm o padrão de crescimento econômico, principalmente,
em investimentos, em maior grau a China, que manteve um aumento expressivo da formação bruta de capital fixo. Esta situação se torna clara, a partir, da constatação
45
da diminuição percentual do consumo entre os componentes da demanda e o
aumento da FBCF. China e Índia também se diferem quando se trata dos setores
externos destes dois países, enquanto a Índia apresenta crescentes déficits nas suas transações correntes, a China vem experimentando superávits robustos
durante a década, no entanto, perdendo ritmo após 2008.
Carvalho (2009) afirma que, um fator importante para o crescimento do fluxo
de comércio internacional para países emergentes é o IED, uma vez que, estes são
investimentos no setor produtivo do país doméstico, o que, implica no aumento da
capacidade tecnológica e de inovação do país e logo uma pauta de exportações
com setores mais dinâmicos e diversificados.
Há duas perspectivas que fundamentam a análise do IED: a primeira diz
respeito à intensificação dos fluxos de IED e dos fluxos comerciais entre as nações,
nos tempos recentes e a segunda está associada ao direcionamento dos fluxos
internacionais de IED para os países emergentes, sobretudo em direção aos BRICS, constituindo-se numa importante fonte de recursos financeiros para o
desenvolvimento produtivo. Há dois agentes envolvidos na atividade de IED: a
nação investidora, de onde saem os recursos para se aplicar na nação recebedora
dos investimentos. O primeiro adquire um patrimônio produtivo no território do
segundo e passa a controlar parte da produção local e atividades correlatas, tais
como: distribuição e outras etapas da cadeia produtiva. Ademais, tal movimento pode significar constituição de nova planta produtiva, o que contribui para o aumento
da taxa de investimento (CARVALHO, 2009)
Segundo Britto et al. (2009), os Brics têm sido importantes receptores de
investimento direto estrangeiro. Até 1984, o Brasil era o maior receptor de IED
dentre os Brics. Apesar de alcançado pela China em 1985, o país permanece como
um importante destino de IED em setores como o automobilístico e de bens duráveis
até o final da década de 1980. A entrada total de investimentos cresceu
consideravelmente nos anos 1990, especialmente como resultado do processo de
privatizações vigente no período.
Todos os países que compõem os BRICs apresentaram no período recente,
significativo aumento do volume de IED que entra em suas economias, entretanto,
há entre eles importantes diferenças quanto ao volume e a qualidade do IED. Dentre todos, a China é evidentemente o que mais atrai IED, recentemente, em 2004, se
tornou o país que mais atrai IED no mundo, passando os EUA (ALI; GUO, 2005
46
apud CARVALHO, 2009). De 1980 a 1990, a China recebeu uma média de US$ 1,8
bilhões anuais em IED, já na década seguinte, passa para uma média de US$ 30,1
bilhões, e de 2000 a 2010, uma média de, US$ 72,8 bilhões anuais de entrada de IED.
Carvalho (2009) completa, boa parte deste IED é oriundo de economias como
Hong Kong, Coréia do Sul e Tailândia, indicando a profunda integração regional de
tais economias. O que é positivo do ponto de vista da dinamização das exportações,
na medida em uma maior integração com o processo produtivo global contribui
positivamente para a expansão das exportações.
Conforme Figura 9, China e Brasil, na década de 1990 passam a receber
maiores níveis de IED, mais tardiamente Índia e Rússia. Conforme Carvalho (2009),
o IED que entra no Brasil foi sensivelmente estimulado pelo movimento de
privatização de serviços públicos, a partir da metade da década de 1990, e tem
péssima qualidade, na medida em que, não se concentra em setores intensivos em pesquisa e tecnologia e se caracteriza por sua horizontalidade, ou seja,
desintegrado do processo produtivo global.
Figura 9: Brics – Entrada de investimento estrangeiro direto (IED) Fonte: UNCTAD/STAT – Set/2012; Elaboração própria Nota: IED em US$ Milhões.
A Índia, por outro lado, tem uma melhor qualidade de IED, entretanto, o
volume de IED para a Índia ainda é pequeno, embora tenha vivido expansão
significativa a partir de 1995, apresentando uma média de US$ 4,03 bilhões de
influxo anual, entre 1995 e 2005. A Rússia, no mesmo período apresentou um
crescimento também significativo, com entrada média de US$ 5,73 bilhões de IED
020.00040.00060.00080.000
100.000120.000140.000
Brasil Rússia Índia China
47
anualmente, da mesma maneira que o Brasil apresenta baixa qualidade de IED, cujo
grande parte se estabelece nos setores de commodities energéticas (CARVALHO,
2009). Outro fator de extrema importância na formação da estrutura produtiva dos
países está ligado como o investimento é financiado. Desta maneira, na Tabela 10
têm-se a poupança interna de cada país. Na qual se vê uma diferença notável entre
os quatro países, apenas a poupança russa apresenta retração de 2,1 pontos
percentuais, já a Índia e China, apresentaram um crescimento robusto, tendo a
China ultrapassando os 50 % da poupança interna bruta em relação ao PIB.
Em relação ao Brasil, o mesmo apresenta níveis medíocres do percentual da
poupança interna, obtendo a menor proporção do conjunto analisado, conforme
Tabela 10.
TABELA 10: BRICS - POUPANÇA INTERNA BRUTA (% DO PIB)
2000-2005 2006-2010 Brasil 18,4 19,46 Rússia 33,88 31,78 Índia 26,18 31,92 China 42,18 51,48
Fonte: WDI/ World Data Bank - Mai/2012; Elaboração própria
Baumann et al. (2010) dizem que, dispor de poupança interna não é uma
condição suficiente para que os recursos sejam transformados em capacidade
produtiva efetiva. Neste caso, os dados relativos a Rússia mostram disponibilidade
de poupança interna que só fica atrás da chinesa, nesse conjunto de países, mas ao
mesmo tempo possui taxas de investimento quase tão baixa quanto a brasileira.
Baumann et al. (2010, p. 16) ressaltam que, “a disponibilidade e a capacidade
produtiva instalada tampouco são garantia de desempenho comercial brilhante”.
Esta caracterização da estrutura produtiva e econômica dos países reflete nos
resultados apresentado pelas economias. Na Tabela 11, vê-se a média do
crescimento dos países, a China apresenta as maiores taxas de crescimento,
chegando quase ao triplo da média brasileira, com média de 10% anual. Logo o
Brasil detém a pior média entre os quatro países e mantém também uma média
abaixo dos países emergentes, que foi de 6%.
48
TABELA 11: BRICS - TAXA MÉDIA REAL ANUAL DE CRESCIMENTO DO PIB DE 2000/2011
País Crescimento em %
Brasil 3,7 Rússia 5,3 Índia 7,3 China 10,3
Fonte: IMF/Data Mapper - Mai/2012; Elaboração própria
O crescimento da economia brasileira se manteve na média anual mundial,
que foi de 3,7%, no entanto, mantém-se acima da média do crescimento real das
economias desenvolvidas, que foi de 1,8%. Já a economia chinesa está entre as
cinco maiores taxas de crescimento da década, a economia indiana e russa,
mantiveram uma média anual de crescimento, entre a média de crescimento dos
países emergentes, de 6% (IMF/DATA MAPPER, 2012).
Esse desempenho resulta no aumento da importância dessas economias na
economia mundial, conforme Tabela 12, a qual tem-se a participação do produto
interno bruto baseado na paridade de poder de compra, de cada país, em relação ao
PIB mundial.
TABELA 12: BRICS - PIB COM BASE NA PPC PARTICIPAÇÃO MUNDIAL (%) 2000-2005 2006-2010 Brasil
2,86 2,84
Rússia 2,86 3,10 Índia 3,94 4,92 China
8,53 11,87
Fonte: WDI/ World Data Bank - Mai/2012; Elaboração própria
Em conjunto estes países apresentaram um percentual de 16,4%, em 2000,
passando a 2010 em 24,9% evidenciando a importância destas economias no
cenário mundial. Novamente, o Brasil é o país que apresenta os menores
percentuais, sendo o único a apresentar retração, merecendo destaque a economia chinesa que foi a apresentou maior crescimento durante a década, seguida pela
economia indiana.
De acordo com Baumann et al. (2010), enquanto o Brasil vem mantendo a
grande custo sua participação no PIB mundial, os três outros Brics vem
constantemente ganhando peso e importância no contexto global, com grande
destaque a China, que conquistou quatro pontos percentuais no período
considerado. Embora, agregadamente, os Brics constituam mais de um quinto da
49
economia mundial, os ganhos são todos imputáveis aos três outros ‘parceiros’, posto
que o Brasil, penalizado por sua ínfima taxa de poupança – da qual decorre uma
igualmente irrisória taxa de investimento – continua penosamente a preservar sua parte num bolo crescente.
Esta evolução das economias emergentes também foi expressiva em termos
de comércio internacional não apenas no que tange os serviços e rendas, mas no
também no que, se refere este trabalho, o comércio de bens, conforme Tabela 13.
TABELA 13: BRICS - PARTICIPAÇÃO (%) NO COMÉRCIO MUNDIAL DE PRODUTOS
Exportações 2000-2005 2006-2010 Brasil 0,98 1,21 Rússia 1,84 2,60 Índia 0,78 1,21 China 5,45 9,10
Importações 2000-2005 2006-2010 Brasil 0,77 1,01 Rússia 1,02 1,72 Índia 0,95 1,86 China 4,82 7,40 Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; Elaboração própria.
O peso da corrente do comércio internacional dos Brics correspondia em
2000, a um percentual de 2,08, chegando a 2010 com um percentual de, 3,26. No
que tange as exportações os quatro países representavam 15,73% do comércio
mundial, já as importações 14,38%.
Durante o período todos os países apresentaram crescimento, tanto nas
exportações quanto importações de bens. O grande destaque novamente é a China, cujas exportações representavam 10,35%, em 2010, sendo também grande
responsável pelas importações durante o período. E, novamente a economia
brasileira foi que apresentou pior desempenho, neste caso, no que tange o comércio
de bens em relação aos quatro países.
O aumento da presença desses países no cenário internacional amplia
concomitantemente a participação do setor externo na geração do produto destes países. Conforme se vê na Tabela 14, a qual traz o grau de abertura do comércio
internacional destes países, no que tange o comércio de produtos e serviços,
excluindo-se as rendas.
50
TABELA 14: BRICS - GRAU DE ABERTURA ((X+M)/PIB) (%) Produtos e Serviços
2000-2002 2003-2005 2006-2008 2009-2010 Brasil 23,90 26,93 25,59 22,32 Rússia 63,08 57,74 53,73 50,59 Índia 27,16 34,30 46,69 43,45 China 44,50 62,22 65,44 52,02
Produtos 2000-2002 2003-2005 2006-2008 2009-2010 Brasil 20,16 23,09 21,82 18,41 Rússia 54,24 50,04 47,64 43,82 Índia 20,22 25,29 34,41 31,56 China 40,37 57,75 60,63 47,75 Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; Elaboração própria.
De acordo com Baumann et al. (2010), os BRICs elevaram significamente seu
grau de abertura do comércio internacional desde a década de 1990, até a década
de 2010, com exceção da Rússia o valor transacionado com o resto do mundo
passou a representar, em 2008, percentual maior do produto interno bruto que 1990. Um padrão comum é que a soma de exportações e importações represente entre
40% e 60% do PIB dessas economias. A exceção é a economia brasileira, com
cerca de 26%.
Nota-se que, todos os países possuem concentração no comércio de
produtos, sendo a Índia o país com maior proporção de serviços entre os quatro,
chegando a 2007 a um percentual de 31,4%, do comércio de produtos, em relação ao PIB, já o comércio de serviços, 11,56%. É clara também a grande proporção de
produtos no comércio internacional chinês, já que em 2008 os produtos
representaram 61,25% do PIB e a balança de serviços apenas 4,75%.
Desse conjunto de países, a economia mais fechada é a brasileira. Mesmo
uma economia tradicionalmente resistente ao comércio com o resto do mundo, como
a indiana que, apresentava na primeira metade da década de 90 um grau de abertura semelhante ao da brasileira, mostra-se, desde meados daquela década,
bem mais aberta ao comércio externo. O grau de abertura da economia brasileira
corresponde, na presente década, a menos da metade do observado na China e na
Rússia (BAUMANN et al. 2010).
4. ANÁLISE DO IMPACTO DOS DETERMINANTES NA BALANÇA COMERCIAL DOS BRICs
4.1. Desempenho da balança comercial brasileira
A discussão atual a cerca do desempenho da balança comercial brasileira,
está ligada ao dilema da estrutura produtiva dos setores destinados as exportações,
de forma que é sabido, que a mudança da participação de produtos primários, como
maior setor exportador em detrimento dos produtos manufaturados, não foi em razão de mau desempenho do setor manufatureiro, durante a década, mas sim a um
excelente desempenho do setor de produtos primários, sendo que, este ótimo
desempenho está associado, não apenas a própria formação da estrutura produtiva
brasileira, que é uma das mais competitivas do mundo neste tipo de mercado, mas
também as dos preços dos produtos primários, logo, o valor auferido por este setor
passa a crescer em ritmo maior que o dos produtos industrializados, e passa a ser o principal setor exportador brasileiro (CASARIN, 2010).
Em relação aos determinantes da balança, a literatura atual, traz que a taxa
de câmbio tem sido decisiva na competitividade do mercado externo brasileiro,
durante a década. A conjuntura de crescimento do comércio internacional, após os
primeiros anos, da década de 2000, foi também um fator importante para o
crescimento das exportações brasileiras, e ressalta-se, a renda interna como fator crucial para o aumento das importações a partir de 2004 (MATIAS et al. 2011).
O regime cambial adotado pela política cambial brasileira, desde 1999, é o
regime de câmbio flexível. Dessa forma que, no Brasil não há um controle rigoroso
sobre a taxa de câmbio – e sim sobre as taxas de juros, que são determinadas pelo
Comitê de Política Monetária (COPOM). Tornando o câmbio bastante volátil, se
comparadas a economias avançadas e até grande parte dos países emergentes, e seu controle é realizado pela compra e venda de dólares realizados pelo Banco
Central Brasileiro, apenas para que, se evitem flutuações elevadas, em torno da
banda cambial estabelecida pelo COPOM, e descontrole da balança comercial, o
que aumentou o risco cambial e consequentemente a gestão do comércio exterior
por empresas do País (MATIAS, 2011).
A balança comercial brasileira se manteve em posição superavitária em todo
o período estudado, exceto no ano de 2000 que apresentou déficit de US$ 731
52
milhões. Apresentou forte crescimento do início da série até 2006, como se vê na
Figura 10, no qual alcançou o ápice de superávit da balança comercial de bens e
mercadorias da década com o saldo de US$ 46,5 bilhões. Após 2006, o saldo começa a diminuir em contrapartida do aumento das importações que passa a
influenciar negativamente o saldo das transações correntes. Que a partir de 2008
passa a ter poupança externa positiva, ou seja, passa a ter seu crescimento,
associado a conta corrente, financiado pelo exterior (UNCTAD/STAT, 2012).
Figura 10: Brasil – Saldo comercial e taxa de câmbio real efetiva Fonte: BCB/Depec – Jun/2012 , UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Saldo, exportação e importação em US$ Milhões FOB; taxa de câmbio real efetiva (IPCA) em índice base 100 (1994) plotada no eixo secundário.
Na Figura 10, tem-se o comportamento da balança comercial, o saldo
comercial e a taxa de câmbio efetiva real de 2000 a 2010, assim, vê-se que, em
relação ao impacto da taxa de câmbio na balança comercial, pode-se separar em
dois momentos a mesma, o primeiro momento de 2000 a 2003, o qual a taxa de
câmbio real permanece em crescente depreciação, e de 2004 a 2010, período o qual
a taxa de câmbio passa a apreciar. No fim de 1998 e início de 1999, o Brasil passa a sofrer forte desvalorização
da moeda doméstica, de 2003 em diante o câmbio nominal para o Brasil apresenta
tendência de apreciação cambial (CARVALHO, 2009, p. 94). Conforme Palhuk
(2009), a desvalorização da taxa de câmbio real de, 2000 a 2003, relacionada à
crise argentina e às incertezas associadas à transição presidencial de 2002, não
resultou em grandes resultados nas exportações, uma das explicações para este
contexto está no fato de que o período compreendido ficou representado pelos
infortúnios internacionais devido às recorrentes crises financeiras de relevantes
magnitudes, as quais provocaram a incredibilidade internacional.
0
50
100
150
-50.000
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
Exportações ImportaçõesSaldo balança comercial Taxa de câmbio efetiva real
53
De acordo com Dornbusch e Fisher (1982), uma desvalorização na taxa de
câmbio real nacional estimula as exportações, o que de fato acontece na economia
brasileira, havendo o aumento de 32% nas exportações, frente uma desvalorização de 42% do câmbio real. Para as importações tem-se no primeiro momento, de 2000
a 2003, frente a essa desvalorização cambial, uma queda de 13,4%, o que de
acordo com Lopes Vasconcellos (2011), diminui o poder de compra, de produtos
estrangeiros, já que, estes se tornam mais caros que os produtos nacionais,
influenciando negativamente as importações. Sendo os termos de troca, a razão dos
preços das exportações entre os preços das importações, nota-se a deterioração
dos termos de troca, durante este período, de 2000 a 2003, corroborando para a
importância do impacto da taxa de câmbio real na economia brasileira, durante o
período do estudo, conforme Tabela 15.
TABELA 15: BRASIL - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL (2000-2003)
Período Índices Valores em % PIB
Volume de exportações
Volume de importações
Taxa de câmbio real efetiva
Termos de Troca
Balança comercial
Transações correntes
2000 100,0 100,0 97,1 100,0 -0,11 -3,76 2001 109,6 102,8 120,5 99,6 0,48 -4,19 2002 119,0 90,5 133,1 98,3 2,61 -1,51 2003 137,8 87,3 137,8 96,9 4,50 0,76 Fonte: BCB/Depec – Jun/2012 , UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria Nota: Exportações, importações e termos de troca em índice base (100) 2000; taxa de câmbio real efetiva (IPCA) em índice base (100) 1994.
De 2000 a 2003, o Brasil mantém completa consonância com a literatura econômica, no tocante ao funcionamento do regime de câmbio flutuante, de modo
que a desvalorização da taxa de câmbio real, o que de acordo com Mankiw (2010),
reflete na inibição das importações, aumento das exportações e conseqüentemente
a melhora no saldo comercial, no entanto, diminui o índice de termos de troca, já
que, com uma taxa de câmbio real efetiva depreciada, os produtos produzidos
domesticamente estão relativamente, em termos estrangeiros (moeda estrangeira), mais baratos que, os bens advindos do comércio exterior, ou seja, o país passa a
exportar a preços mais baratos e a importar a níveis de preços maiores, conforme se
pode evidenciar na Tabela 15.
É intuitivo identificar a relação inversa observada entre a taxa de câmbio real efetiva e o desempenho dos termos de troca, e a relação direta assinalada entre a evolução dessa taxa e do saldo da balança
54
comercial. Nesse sentido, a ocorrência de apreciação da taxa de câmbio real estimula a substituição de bens produzidos internamente, cujos preços não se alteram, por produtos importados, que se tornam mais baratos, resultando em recuo do saldo do comércio externo. Em oposição, a melhoria nos termos de troca favorece as exportações, incentivando a produção de bens exportáveis, com desdobramentos positivos sobre o saldo comercial2(BACEN, 2009, p. 94).
Na Tabela 16, se tem o segundo movimento (2004 - 2010) da taxa de câmbio
real efetiva, a qual começa a sofrer crescente apreciação, e notavelmente, os termos
de troca e o volume de importações mantém, novamente, uma relação inversa ao
movimento do câmbio, o que se mantêm de acordo com a literatura econômica. No
entanto, as exportações, que deveriam apresentar sintomas de retração, devido à
perda de competitividade comercial, medida pela taxa de câmbio real, a princípio
não é visível, o que está ligado ao excelente crescimento do comércio mundial, principalmente, pelo aumento da demanda mundial por bens ‘tradable’, que também
elevou significamente os níveis de preços destes produtos, refletindo em melhores
saldos comerciais aos países exportadores destes tipos de produtos, durante a
década.
TABELA 16: BRASIL - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL (2004-2010)
Período Índices Valores em % PIB
Volume de exportações
Volume de importações
Câmbio real efetivo
Termos de Troca
Preço commodities
Balança comercial
Transações correntes
2004 164,0 103,6 135,5 97,8 80,4 5,10 1,77 2005 178,7 109,1 110,4 99,1 100,0 5,09 1,59 2006 184,7 126,0 98,7 104,4 120,8 4,27 1,25 2007 194,8 153,9 91,6 106,6 135,1 2,93 0,11 2008 190,0 181,6 88,3 110,3 172,3 1,50 -1,71 2009 169,6 150,1 87,5 107,7 120,7 1,59 -1,53 2010 185,7 207,0 75,8 125,0 152,2 0,81 -2,27 Fonte: BCB/Depec – Jun/2012 , UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria Nota: Exportações, importações e termos de troca em índice base (100) 2000; taxa de câmbio real efetiva (IPCA) em índice base (100) 1994.
De 2004 a 2010 houve apreciação de 45% no índice da taxa de câmbio real,
no mesmo período o valor anual das exportações cresceu 334%. Já as importações
2 Vale mencionar que os efeitos de choques nos termos de troca sobre a taxa de câmbio real não seguem, necessariamente, a relação inversa sugerida pela teoria econômica, possibilidade associada tanto à influência dos determinantes dos ciclos econômicos sobre a evolução desses indicadores, quanto em razão do impacto da predominância do efeito renda ou substituição sobre o comportamento dos agentes econômicos (BACEN, 2009, p. 98)
55
se comportaram de forma condizente com a literatura econômica geral, assim a
sobrevalorização de 45% na taxa de câmbio real, refletiu num aumento de 385% nas
importações no período de 2002 a 2010 (BLANCHARD, 2007) De forma que, é estreita a relação da taxa de câmbio, dos termos de troca e o
aumento dos preços das commodities, já que, a maior entrada de divisas
estrangeiras, advindas do reflexo do aumento dos preços das commodities, já é um
fator que motiva a apreciação do câmbio real. Segundo BACEN (2009) no caso
brasileiro, as evidências apontam para influência decisiva dos preços internacionais de commodities sobre os termos de troca. Tendo em vista sua importância para o
saldo comercial e para a alocação de recursos na economia.
Assim, a valorização cambial, advinda ou não do elevado crescimento dos
preços de produtos primários, aparentemente não influencia em um pior resultado
comercial para o Brasil, no entanto, a partir da constatação que o saldo comercial
em proporção do PIB vem diminuindo, de 2004 a 2010, a melhora dos termos de troca, que indicam uma razão maior entre os preços das exportações e preços das
compras internacionais, não foram suficientemente robustas, se comparadas com os
resultados do efeito da taxa de câmbio apreciada e do aumento da demanda
doméstica, por importações, denotando o confronto direto, do efeito do câmbio e dos
termos de troca, nos resultados comerciais do Brasil.
Pode-se supor que, mesmo havendo o crescimento absoluto do valor exportado anualmente, a apreciação cambial influenciou negativamente a balança
comercial no segundo momento, já que, consoante com a relação inversa dos
termos de troca, implicou na diminuição do saldo comercial em proporção do PIB, de
forma a afetar por dois canais, diminuindo a competitividade das exportações, e
aumentando o montante da demanda doméstica, destinada as importações.
Contudo, Souza (2009, p. 18) afirma que:
“[...] a apreciação cambial tem um efeito negativo sobre os níveis de produção, porque reduz a fatia do mercado doméstico, atendido por importações, ao mesmo tempo em que, também reduz a parcela da produção que é exportada.”
No entanto, o fato de haver diminuição da proporção do saldo da balança
comercial, pode estar ligado, também ao aumento da atividade econômica interna do
país. Conforme Souza (2009, p. 18), a exuberância do crescimento da demanda
56
doméstica permite acomodar a perda de espaço no mercado doméstico para os
importados e compensar a queda da fração exportada do PIB. Isto significa, por
outro lado, que este crescimento é acompanhado por uma elevação do déficit em conta corrente, e, portanto, do passivo externo líquido do país.
4.1.1. Exportações brasileiras
Em 2000, as exportações brasileiras atingiram um total de US$ 55,1 bilhões,
sendo US$ 31,6 bilhões em produtos manufaturados e o restante em produtos
primários, durante a década apresenta crescimento de 258,1%, exportando em 2010
um total de US$ 197,3 bilhões, US$ 70,6 bilhões em produtos manufaturados e US$
126,7 bilhões em produtos primários, estes últimos que passam a um valor maior
que os produtos manufaturados, a partir de 2007, de forma que, em 2000 os
produtos manufaturados eram responsáveis por 57% das exportações, e em 2010
passa para 36% UNCTAD/STAT (2012). Os fatores fundamentais deste fato podem
estar ligados a: a apreciação cambial a partir de 2003,e a alta dos preços das
commodities, que implicou em um excelente desempenho do setor primário.
Figura 11: Brasil - Valor exportado por setor e participação (%) anual Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Exportações em US$ Milhares FOB; participação por produtos plotada no eixo secundário
Importante notar que, as exportações de produtos primários ou intensivos em
recursos naturais se mostram muito pouco influenciadas pela taxa de câmbio. Dado
que o Brasil exporta para a China, seu principal parceiro comercial,
predominantemente produtos primários, a taxa de câmbio, por exemplo, explica
0,0%10,0%20,0%30,0%40,0%50,0%60,0%70,0%
020.00040.00060.00080.000
100.000120.000140.000
Produtosprimários
Produtosmanufaturados
Participação dosmanufaturados
Participação dosprimários
57
muito pouco a dinâmica de nossas exportações para esse importante parceiro
comercial (MARÇAL e HOLLAND, 2010).
Do início da década, exceto pelo ano de 2009, as exportações brasileiras mantiveram o crescimento até 2010, como se vê na Tabela 17, a qual se tem a
evolução da taxa de crescimento anual das exportações dos produtos primários e
dos bens manufaturados. Durante o período os produtos primários tiveram maior
crescimento, com um total de 565,13%, já os bens manufaturados um crescimento
de 223%. Sendo que o crescimento do produto total exportado foi de 358,06%.
TABELA 17: BRASIL - TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL POR SETOR (%)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Produtos manufaturados 24,04 -1,54 0,64 19,01 36,09 21,71 10,79 9,56 15,44 -32,54 20,95
Produtos primários
3,36 15,79 7,37 24,38 28,19 22,77 22,31 21,92 30,93 -13,85 38,03
Todos os Produtos
14,80 5,75 3,69 21,12 32,07 22,60 16,26 16,58 23,21 -22,71 29,00
Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria.
Percebe-se que, os produtos primários desde o início da década se destacam
nas taxas de crescimento na pauta das exportações, de modo geral os produtos
primários sempre apresentaram maiores taxas de crescimento que o setor de
produtos manufaturados, influenciados pelo aumento dos preços dos produtos
primários, que pode ser visto na Tabela 17.
A inversão da participação em relação ao total, dos bens manufaturados no
período, é reflexo do pior desempenho da taxa de crescimento anual do setor, em
relação, ao setor de produtos primários, devido, principalmente, a apreciação da
taxa de câmbio, sendo que as exportações de produtos primários apresentam
recuperação relativamente mais rápida do que os bens manufaturados após a crise
de 2008, que pode ser explicado pela retração dos mercados mais dinâmicos da
economia mundial, e também pelo nível preço das commodities, que mesmo
retraindo após 2008, mantêm-se elevado, em relação ao início da década.
No período em que, a taxa cambial passa a sobrevalorizar, vê-se que, as
exportações mantiveram o crescimento, mesmo com essa perda da competitividade
dos preços dos produtos brasileiros no mercado externo, o Brasil aumentou o
produto total exportado, fica claro assim, que, outro fator além dos determinantes macroeconômicos convencionais, foi decisivo para os resultados das exportações,
58
que foi a alta dos preços das commodities ou produtos primários, como pode se ver
na Figura 12, na qual também se tem o índice do quantum comercializado
anualmente.
Figura 12: Brasil - Volume e preços das exportações brasileiras. Fonte: BCB/Depec, UNCTAD/STAT, WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Exportações em US$ Milhões FOB; volume exportado em índice base (2000); taxa de câmbio real efetiva (IPCA) em índice base (100) 1994; e preço das commodities em índice base 100 (2005) plotada em eixo secundário.
Pode-se supor que, no primeiro momento, de 2000 a 2003, o processo de
desvalorização da taxa de câmbio real, não implicou em um grande aumento do valor exportado, supondo que não contribuiu3 para o aumento do quantum, que teve
crescimento de 37,86%, presume-se que, este tímido crescimento está ligado as
aversões do mercado mundial, neste período, de fato, a economia mundial crescera
4,9% em 2000, no entanto, só recupera este ritmo de crescimento em 2004. Ainda
de acordo com Palhuk (2009), pode-se constatar que, após um período de
estagnação da economia mundial esta muda seu cenário e inicia um crescimento vertiginoso desde o início de século, este fato está intimamente relacionado com o aumento do quantum exportado. Portanto, para este período, no início do século
verifica-se que, o quantum teve uma maior influência no desempenho da balança
comercial, que qualquer outro fator como o preço, por exemplo. No entanto, é
notório perceber que, a balança comercial brasileira teve reações distintas,
3 Os resultados sugerem que a taxa de câmbio e quantum tem uma relação estatisticamente significativa para alguns destinos e desagregações. Os resultados não são gerais o suficiente para dizer que alterações na taxa de câmbio geram efeitos permanentes sobre o quantum exportado em termos agregados, mas importantes efeitos desagregados com exceção de produtos básicos foram encontrados e documentados (MARÇAL e HOLLAND, 2010, p. 19).
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250.000 Produtosmanufaturados
Produtosprimários
Índice de preçosdas commoditiesem geralÍndice do volumede exportações
Taxa de câmbioreal efetiva
59
inicialmente uma performance deficitária no período pré-1999, e a performances
superavitárias, a partir de 2001. Ao analisar intrinsecamente a taxa de câmbio, pode-
se responsabilizá-la pela dinâmica da balança comercial brasileira, evidenciando a desvalorização de 1999 e a forte depreciação em 2002, as quais provocaram um
cenário mais propício para as exportações.
Contudo, no período posterior, o crescimento do volume exportado mantém-
se abaixo do crescimento visto, de 2000 a 2003, mesmo que, até 2008 tenha
alcançado um crescimento maior, a média anual de crescimento do volume, no
primeiro período foi de 11,34%, e no segundo período de 4,7%.
TABELA 18: BRASIL - VOLUME DAS EXPORTAÇÕES, TAXAS DE CRESCIMENTO E PREÇOS
DAS COMMODITIES
Índice Período
2000/2003 2003/2010 Quantum comercializado 37,86% 34,72% Preço das commodities 2,75% 134,15% Taxa crescimento (%) produtos primários 54,65% 265,44% Taxa crescimento (%) produtos manufaturados 17,94% 89,35%
Fonte: UNCTAD/STAT, WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria.
Visto que, a participação dos produtos manufaturados diminui apenas 6%, de
2000 a 2003, mantendo-se o principal setor exportador brasileiro, e os preços dos
produtos primários se mantiveram estáveis, atribui-se a depreciação cambial o principal determinante positivo para o aumento do volume exportado, de 2000 a
2003. De forma que, neste primeiro período, o Brasil passa a obter maior nível de
competitividade de preços no mercado internacional, ressalta-se também que, neste
período, de 2000 a 2003 além da taxa de câmbio favorável, observa-se que, o
determinante renda externa foi menos influente para os resultados das exportações, logo, destaca a importância do câmbio, durante este período.
Assim, após início da apreciação cambial vê-se que, os preços das
commodities passam a ser mais decisivos que o quantum comercializado, devido ao
crescimento de 134,15% dos preços internacionais das commodities, de 2003 a
2010. Ora, se no momento em que, a política cambial estava favorável as exportações, houve um crescimento de 37,86% do quantum exportado, e no
segundo período tem-se, um cenário de inibição das exportações, vista a política cambial, houve um crescimento de 37,86% do quantum e uma alta de 134,15% dos
60
preços das commodities, fica claro que, o principal fator que proporcionou o aumento
do produto exportado total, no segundo período, foi à alta do preço das commodities.
Os preços das commodities mantiveram-se, relativamente estáveis, até 2003 como visto anteriormente, a partir de 2004, ocorre um processo de aumento dos
preços. Vê-se também que, o preço dos metais, a partir de 2005 até o fim da
década, foram os que mais tiveram valorização dos seus preços, logo o setor de
“matérias brutas”, tendo os metais, como principais produtos exportados deste
segmento, que passa a ser o segmento com maior produto total entre o setor dos
produtos primários, conforme Figura 13, a qual se tem os três principais segmentos
exportadores de produtos primários, e também o índice de preços de tais
segmentos.
Figura 13: Brasil - Valor e preço dos principais segmentos exportadores. Fonte: UNCTAD/STAT, WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Preços das commodities em índice base 100 (2005), para todos, plotada em eixo secundário.
Dentre os principais subgrupos da pauta de exportação do setor de produtos
primários, a alta vertiginosa dos preços, possui grande intimidade com o aumento do produto exportado pelo setor. Deixando claro assim a significância da alta dos preços das commodities nos resultados das exportações a partir de 2004.
Atribui-se então, ao grande aumento do preço das commodities, que como
visto apresentaram um crescimento de 134% neste período, um fator de extrema
relevância para o aumento do produto total exportado de produtos primários, durante
o segundo período. Mesmo tendo grande queda na participação da receita total gerada pelo saldo
comercial, os produtos manufaturados brasileiros mantiverem constante
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2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Alimentos e animaisvivos
Matérias brutas, nãocomestíveis, excetocombustíveisCombustíveis minerais
Índice de preços decommodities - Comida
Índice de preços decommodities - Metais
Índice de preços decommodities - Petróleo
61
crescimento. Fato interessante que, no período de desvalorização cambial o
crescimento do valor total exportado de bens manufaturados foi de 18% e no
período de valorização cambial tem-se um crescimento de 90% do valor exportado, de modo que é atribuído ao crescimento da renda externa, durante o período, o
principal determinante macroeconômico, que assegurou a continuidade do
crescimento do setor, principalmente, a partir de 2004, período em que, a taxa de
câmbio passa a valorizar, e consequentemente o ritmo de crescimento passa a
contrair.
De 2000 a 2002, as exportações brasileiras de produtos manufaturados não
apresentaram crescimento, iniciando a década com um total de US$ 31,62 bilhões e
chegando a 2002 com resultado de US$ 31,33 bilhões. No entanto apresenta
crescimento de 176% até o impacto da crise em 2008, logo em 2010 exporta um
total de US$ 86,5 bilhões, US$ 10 bilhões a menos que 2008, conforme Figura 14,
na qual se tem o valor exportado por segmento do setor de produtos manufaturados.
Figura 14: Brasil - Valor Exportado por segmento de produtos manufaturados Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Exportações em US$ Milhares FOB; Taxa de crescimento dos produtos manufaturados plotada em eixo secundário.
O segmento de máquinas e equipamentos de transporte se manteve em todo
o período sendo o maior responsável pelo valor total exportado, em 2000 exporta um
total US$ 15,4 bilhões, apresenta um crescimento de 114% durante todo o período,
e em 2010, exporta um total de US$ 33,1 bilhões, cerca de US$ 8 bilhões a menos
do que o exportado em 2008, sendo a principal categoria de produtos, deste
segmento, a exportação de veículos rodoviários. O segmento de bens e artigos
manufaturados, composto por manufaturas básicas, apresenta crescimento de 99%,
durante todo o período, em 2000 exporta um total de US$ 12,6 bilhões, e em 2010,
-40%-30%-20%-10%0%10%20%30%40%
05.000
10.00015.00020.00025.00030.00035.00040.00045.000
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Produtos Quimicos
Máquinas eequipamentos detransporte
Bens e artigosmanufaturados
Taxa anual decrescimento dosprodutosmanufaturados
62
um total de US$ 25 bilhões. O segmento que apresenta maior crescimento é o de
produtos químicos, cujo crescimento de 243,2, exportando em 2010 um total de US$
12,2 bilhões, com destaque para o crescimento das exportações de químicos orgânicos que cresceram 253% durante a década.
De fato, no período de desvalorização cambial, as exportações de produtos
manufaturados não apresentam grande crescimento, sendo que na variação anual
de crescimento de 1999 a 2000, o valor exportado cresce 24%, no entanto, em 2001
e 2002, mesmo em um período de desvalorização cambial, o setor fica estagnado,
este fato pode estar ligado ao efeito da curva “J4”.
Uma explicação para o efeito da curva em “j” é que no curto prazo, a desvalorização ou depreciação de determinada moeda levará a desempenhos decrescentes da balança comercial de um país, entretanto conforme períodos se passam há uma tendência a melhores desempenhos da balança comercial. Esta melhora no desempenho se explica pelo tempo que os efeitos de uma desvalorização sobre o preço tendem a chegar até os parceiros comerciais do país e até que estes ajustem seus padrões de comercialização (CARBAUGH, 2004, p. 491 apud PALHUK et al. 2009, p. 95).
Ainda, de acordo com Palhuk (2009), outra elucidação para o efeito seria que
a balança comercial pode ter resultados piores após uma depreciação da moeda,
pois contratos de importações e exportações ocorreram anteriormente. Estes
volumes de importações e exportações podem ter sido ponderados de acordo com a
taxa de câmbio real antiga; o principal efeito aí é a elevação do valor do nível de
importações contratadas anteriormente, em termos dos bens domésticos.
Contudo, Souza (2009) afirma que, no período de flutuação com depreciação
(1999-2004) o índice de participação das exportações brasileiras de produtos manufaturados, sobe, denotando um ganho de market share. A resposta foi tão
positiva que, depois de ter caído para 70% do nível pré-Real até fim de 1990, o
índice de participação externa retorna, em 2005, ao pico prévio observado em 1993, para depois – com a nova fase de apreciação – recuar mais uma vez. Sendo que,
em 2004, têm-se o pico do ritmo de crescimento de 36%, estimulado, pelo câmbio
favorável e secundariamente pelo aumento dos investimentos no setor.
4 O efeito da curva “J” é um efeito antagonista, já que é o conceito teórico da economia postula que uma depreciação cambial gera superávit na balança comercial, mais conhecida como condição de Marshall-Lerner (PALHUK, 2009, p. 95)
63
Vê-se que, no período de 2004 a 2008, mesmo havendo crescimento absoluto
do valor exportado pelo setor, houve uma queda significativa do ritmo do
crescimento. Assim, em uma análise intrínseca do efeito da taxa de câmbio no setor de produtos manufaturados, nota-se que, o impacto da taxa de câmbio apreciada
afetou negativamente a competitividade do setor como se vê na Tabela 19, na qual
se têm os setores exportadores brasileiros de produtos manufaturados, bem como o
crescimento anual separados em função da política cambial brasileira, ou seja, no
período de 2000/2003 (desvalorização cambial) e 2003/2010 (apreciação cambial).
Vê-se que, no período favorável as exportações brasileiras, cenário onde adquirem
maior competitividade frente seus concorrentes, o crescimento médio dos três
setores foi de 19%, se mantendo, assim, em concordância teórica.
TABELA 19: BRASIL - TAXA DE CRESCIMENTO (%) DAS EXPORTAÇÕES DE
MANUFATURADOS E VARIAÇÃO DA TAXA DE CÂMBIO REAL
Ano Total dos produtos
manufaturados
Produtos químicos
Máquinas e equipamentos de transporte
Bens a artigos manufaturados
Taxa de câmbio de real
2000 24,04 18,06 35,39 14,02 97,12 2001 -1,54 -9,19 1,31 -2,86 120,56 2002 0,64 11,93 -5,59 5,61 133,19 2003 19,01 21,30 15,41 22,47 137,88 2004 36,09 30,94 42,67 30,46 135,52 2005 21,71 26,88 25,88 15,39 110,47 2006 10,79 27,02 9,31 7,73 98,70 2007 9,56 15,16 8,62 8,76 91,60 2008 15,44 18,21 15,26 14,60 88,37 2009 -32,54 -16,96 -37,06 -32,79 87,51 2010 20,95 16,68 25,78 17,13 75,87
Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Taxa de câmbio real efetiva (IPCA) em índice base (100) 1994.
Neste período de apreciação cambial, que conforme Lopes Vasconcellos
(2011), havendo apreciação cambial, as exportações tendem a retrair, já que, possui
uma relação direta no aumento do preço (taxa de câmbio) do produto exportado, têm-se um aumento ainda mais robusto, o que a principio não condiz com o
referencial teórico, deixa-se claro, novamente, a importância de outros fatores
macroeconômicos, sobretudo, do aumento da renda externa, e consequentemente o
aumento da demanda agregada que, geram um aumento na parcela destinado as importações, que neste caso, foram expressas através do aumento do quantum
exportado, para o resultado obtido das exportações de produtos manufaturados.
64
De acordo com Matias (2011), a sobrevalorização do real provoca reflexos na
economia brasileira, principalmente no que tange à produção interna voltada para a
exportação, pois os produtos brasileiros acabam tendo seus preços mais elevados para o comprador estrangeiro. De 2000 a 2011 o volume, de exportações de
produtos industrializados, teve uma significante perca na participação na pauta
exportadora.
A partir da construção de um índice relativo das exportações brasileiras de
produtos manufaturados em relação às exportações mundiais, Souza (2009) relata
que, as exportações mundiais de manufaturas, em volume, têm crescido tanto em
termos absolutos como em termos relativos nos períodos em que as exportações
brasileiras destes bens têm estagnado. Isto quer dizer que para o comércio mundial
como um todo, não tem havido uma tendência à desindustrialização das
exportações. Uma vez que, é observável uma tendência razoavelmente uniforme de
aumento das participações de manufaturas no comércio mundial, tanto em relação a produtos agrícolas quanto em relação a minerais.
Os custos de produção em ascensão e a valorização da taxa de câmbio
prejudicam duplamente os produtos manufaturados e a conseqüência natural é
redução ou eliminação da competitividade dos produtos manufaturados destinados a
exportação ao contrário dos produtos primários, onde a sólida conjugação de
aumentos de preços e de quantidade faz com que a defasagem cambial tenha reflexos apenas sobre a rentabilidade das exportações de commodities, sem afetar
sua competitividade externa (AEB, 2012).
Ainda que as evidências empíricas sugiram que as variações de competitividade externa, determinadas em grande parte pela taxa de câmbio, tenham tido um impacto muito importante na determinação do mau desempenho recente das exportações brasileiras de manufaturados, é claro que parte da explicação pode residir também num crescimento excessivo da demanda doméstica, que tenha levado as empresas a desviar produtos do mercado externo para o mercado interno (SOUZA, 2009, p. 15)
Na Tabela 20, se tem o crescimento da produção industrial por fontes de
demanda, interna e externa.
65
TABELA 20: BRASIL - CONTRIBUIÇÕES PARA O CRESCIMENTO DA INDÚSTRIA DE TRANSFORMAÇÃO (%)
Ano Demanda interna (a)
Demanda externa (b)
Cresc. Da Ind. De transformação
(a+b)
2002 -3,30 3,80 0,50 2003 -4,30 4,10 -0,20 2004 6,20 2,30 8,50 2005 1,60 1,10 2,70 2006 4,90 -2,30 2,60 2007 8,30 -2,30 6,00 2008 6,00 -3,00 3,10
Fonte: IBGE, PIA, PIMPF, FUNCEX apud Souza (2009)
Quando se decompõe o crescimento da produção industrial por fonte de
demanda, verifica-se que o crescimento das exportações de manufaturados puxou o
crescimento industrial entre 2002 e 2005, mas que depois disso, sua expansão foi
comandada fundamentalmente pela demanda doméstica, que passa a crescer bem
mais do que a produção e dar uma contribuição para a taxa de crescimento que
supera a própria taxa de crescimento (SOUZA, 2009)
Assim, vê-se que o impacto do câmbio na balança comercial brasileira, possui
bastante significância, mesmo que não tenha condicionado, em todos os momentos,
os valores absolutos das exportações e importações, é notável sua influência nestes dois distintos períodos. No primeiro período, de 2000 a 2003 (depreciação cambial),
não apresenta excelentes resultados, apenas em 2000, este fato pode residir em um
ou ambos destes fatores – período de incertezas internacionais e baixo crescimento
mundial e o efeito defasado do câmbio na economia brasileira
O que se observou na experiência recente brasileira, ao longo dos anos de
1990 e 2000, os saldos comerciais brasileiros respondem às variações cambiais de forma lenta (defasada) e assimétrica (resposta à desvalorização mais intensa que a
valorização) (MARÇAL e HOLLAND, 2010).
Conclui-se também que, o efeito da taxa de câmbio real, no segundo período,
teve influência negativa sobre as exportações e consequentemente do saldo
comercial, afetando principalmente, as exportações de produtos manufaturados, que
pode ser percebida através da diminuição da demanda externa como componente da produção industrial e nas taxas decrescentes do ritmo de crescimento deste
setor, após 2004.
66
Têm-se então que, a renda externa foi determinante crucial para o
desempenho do setor exportador brasileiro, paulatinamente ao crescimento dos preços das commodities, que garantiram um maior nível de rentabilidade para as
exportações brasileiras, e logo, a melhora no termos de troca do país. Além destas
evidências conclui-se que, a influência negativa do câmbio valorizado, no segundo
período, no desempenho das exportações
Em relação ao comportamento econômico do setor externo, caracterizado
neste trabalho, como o determinante, renda externa – no início da década foi de
retração do comércio internacional, e a partir do segundo triênio, passa a ser de
grande liquidez no mercado internacional. De acordo com Palhuk (2009), a partir de
2002, inicia-se a dinamização do crescimento mundial com médias de expansão de
aproximadamente 5%, trazendo um importante impacto nas exportações do país, se
comprova, então, que um aumento da renda externa provocou uma melhora na
balança comercial através da maior demanda externa pelos produtos domésticos traduzidas pelo incremento das exportações. Oliveira, Guerreiro e Bilik (2008)
completam que, o principal responsável pelo crescimento das exportações, no
período de apreciação cambial, foi o crescimento da demanda mundial.
Tendo em vista que, a partir de 2003, as taxas de crescimento do PIB mundial
passam a crescer, e este aumento da renda mundial, reflete uma maior demanda
mundial, assim, uma parcela maior demandada por produtos brasileiros, sendo que, este aumento na demanda pode ser sentido no aumento do quantum exportado e
consequentemente, ao longo da década também no aumento dos preços dos
produtos primários.
Procurando uma variável que, pudesse ser ponderada a cada país, é
construída a Taxa de Crescimento dos Principais Parceiros Comerciais (TCPPC), de
forma que, foi atribuído a cada um dos parceiros, um peso correspondente à sua
participação no fluxo das exportações dos BRICS, ponderada pelo crescimento
destes principais parceiros comerciais no ano correspondente. Esta contribuição a
que se refere cada parceiro comercial é ponderada pela participação no total das
exportações de Brasil, Rússia, Índia, China e ponderada mais uma vez, com relação
à sua contribuição relativa no conjunto dos principais destinos de exportações. Desta
forma, a influência dos principais parceiros comerciais para a evolução das exportações dos BRICS varia ano a ano, de acordo com a participação relativa de
67
cada parceiro como destino para as exportações dos BRICS, ponderada pelo
crescimento econômico deste parceiro (CARVALHO, 2009, p. 90).
Figura 15: Brasil - Taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais (TCPPC) Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria.
No primeiro momento, a TCPPC dos produtos primários, tende a ser mais
significativa para o crescimento das exportações, vista que a retração de 2000 a
2002 foi menor que a TCPPC dos produtos manufaturados, entretanto, no segundo
momento percebe-se que a TCPPC dos produtos manufaturados passam a ter mais
significância, de modo que a TCPPC de todos os produtos permanece abaixo da
média de crescimento econômico mundial. Assim, os produtos manufaturados que, são mais sensíveis a alterações no câmbio, não obtém um melhor desempenho no
início da década, influenciado pela diminuição da demanda externa, expressa na
retração do crescimento dos principais parceiros comerciais do país neste setor. E
no período de, 2002 a 2008, este crescimento se torna o principal fator determinante
do aumento das exportações de produtos manufaturados, conforme Figura 15.
Os resultados apresentados indicam que, os setores mais favorecidos pelo crescimento dos principais parceiros comerciais do Brasil, e que também não
sofreram com variações das taxas de câmbio, foram os mesmos que ganharam
participação no total das exportações brasileiras, são os setores de bens baseados
em recursos naturais (NAKABASHI, 2008).
-2%
0%
2%
4%
6%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
TCPPC Produtos primários TCPPC Produtos manufaturados
TCPPC Todos os produtos PIB Mundial
68
4.1.2. Importações brasileiras
As importações na década de 2000 cresceram junto com a oferta doméstica.
Este aumento das importações pode ser medido pelo coeficiente de importações,
destaca-se que, o crescimento das importações se deve a dois motivos: estabilidade e taxa de crescimento da economia e um segundo fator é a apreciação cambial.
(PUGA, 2009 apud OLIVEIRA; CAMPOS, 2011).
O valor das importações brasileiras cresceu 223,1%, durante a década, em
2000 importou um total de US$ 55,8 bilhões, destes US$ 41bilhões em produtos
manufaturados e US$ 14,8 em produtos primários, logo, os produtos manufaturados
foram responsáveis por 73,6% das importações. De 2000 a 2008, as importações de produtos primários, ganharam participação na pauta importadora do país, no
entanto, após 2008, retornou ao patamar do início da década, em torno de 26%,
conforme Figura 16, na qual se tem o valor total anual das importações de produtos
primários e manufaturados, e a participação relativa de cada tipo de produto no total
das importações.
Figura 16: Brasil - Valor das importações por setor e participação (%) anual Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; Elaboração própria.
Dentre os produtos primários, o principal segmento importador é de combustíveis, especificamente de petróleo e produtos petrolíferos, sendo em 2000,
responsável por 56% do valor total importado, com um total de US$ 8,2 bilhões, e
em 2010, se mantém o principal segmento, detendo 63% de participação nas
importações, com um total de US$ 29,9 bilhões. O segundo maior segmento
importador foi de produtores alimentares, que representavam, em 2000, 24% das
0%10%20%30%40%50%60%70%80%
020.00040.00060.00080.000
100.000120.000140.000160.000180.000200.000
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Valor total dasimportações
Produtos primários
Produtosmanufaturados
Participação dosmanufaturados
Participação dosprimários
69
importações, importando um total de US$ 13,7 bilhões, passam a ser responsáveis
por 17% das importações, em 2010, com um total de US$ 8,3 bilhões.
O principal segmento importador de produtos manufaturados é o de máquinas e equipamentos de transporte, sendo as importações de veículos rodoviários,
máquinas elétricas e maquinário industrial, as principais categorias de produtos
importados por este segmento que em 2000, importou US$ 23,3 bilhões, sendo
responsável por 56%, do total das importações no ano, atingiu um crescimento de
203% durante a década, importando em 2010 um total de US$ 70,9 bilhões.
O segundo maior segmento importador brasileiro era de produtos químicos,
que importou um total US$ 10 bilhões em 2000, e em 2010 importa um total de US$
32,2 bilhões, um crescimento de 223%, durante o decênio, e manteve uma média de
participação anual, de 24%, em relação ao total importado de produtos
manufaturados. O segmento de bens e artigos manufaturados, cujas principais
categorias de produtos são, produtos manufaturados de ferro e aço, e instrumentos científicos e profissionais, eram responsáveis por importar um total de US$ 7,7
bilhões, em 2000, e apresentou o maior crescimento, entre os três segmentos, que
foi de 292%, importando, em 2010, um total de US$ 30 bilhões (UNCTAD/STAT,
2012).
De acordo com Baumann (2010), em 1999, com a crise cambial, houve uma
inflexão na relação entre o crescimento das exportações e o das importações do país. A partir de então, as exportações passaram a apresentar um ritmo mais
acelerado de crescimento, com taxas muito altas entre os anos 2002 e 2008. Já as
importações, embora tivessem apresentado queda nos anos de 2001 e 2002,
também cresceram, nos últimos anos, a um ritmo que se mostrou, entretanto, menor
que o das exportações. Com isso, o saldo do balanço comercial aumentou e tem
alcançado patamares recordes.
O câmbio depreciado auxiliou o Brasil, a ter recorrentes superávits, no início
de década, tanto pelo fato de agregar maior competitividade de preços das exportações, quanto pela diminuição do quantum das importações, mesmo que, em
valores correntes, de fato, não tenha havido uma grande queda. Esta situação
denota o aumento dos preços relativos das importações, no período de 2000 a 2003.
Importante salientar que, durante este período, o crescimento da renda interna se manteve em uma média de 2,35%, o menor ritmo de crescimento do PIB, entre os
quatro países abordados neste estudo, no período.
70
Observa-se que, as importações tendem a serem mais sensíveis as
mudanças na taxa de câmbio, sendo que, nos dois distintos períodos da taxa de
câmbio, esta, se mantém em concordância como postula o conceito teórico. Há uma tendência dos preços de importação, em moeda doméstica, cresça
mais rapidamente do que os preços de exportações, logo após a desvalorização ou
depreciação cambial, com as quantidades inicialmente não sofrendo alteração. Com
o tempo, a quantidade de exportação passa a aumentar e a quantidade de
importação se reduz; os preços de exportação alcançam os preços de importação de
forma que a deterioração inicial da balança comercial da nação é sustada e em
seguida revertida (SALVATORE, 2011 apud PALHUK, 2009).
Conforme Figura, 17 vê-se que no período de progressão da depreciação
cambial, as importações apresentam taxas negativas de crescimento, em 2002 e
2003, não há crescimento, logo em 2004, devido ao ótimo crescimento da economia
interna, de 5,7% no ano, o setor importador cresce 30%, em relação ao anterior. E em 2005, volta ao patamar vivido em 2000, com um índice de taxa de câmbio real
efetivo em cerca de cem, e uma taxa de crescimento anual das importações em
cerca de, 18% ao ano.
Figura 17: Brasil - Taxa de crescimento (%) das importações e índice de taxa de câmbio real Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Taxa de câmbio real efetiva (IPCA) em índice base (100) 1994, plotada no eixo secundário.
Após este período, de 2005 a 2010, a taxa de câmbio passa a apreciar,
possivelmente, ligado também ao aumento do preço das commodities, que
resultaram em uma reserva de divisas estrangeiras maiores que a oferta de moeda
nacional no mercado internacional, as importações passam a crescer em um maior
020406080100120140160
-30%-20%-10%
0%10%20%30%40%50%
Taxa decrescimento (%)das importações
Índice de taxa decâmbio realefetiva
71
ritmo até 2008, e em 2009 apresenta um retração de 26%, em relação ao ano
anterior.
O impacto da taxa de câmbio também pode ser observado, a partir da construção do índice relativo das importações brasileiras e importações mundiais, de
modo que, no período de depreciação cambial têm-se a diminuição do crescimento
das importações brasileiras em relação as importações mundiais, chegando a recuar
cerca de 30 pontos percentuais, de 2000 a 2003. Após 2003, têm-se um crescimento
deste índice, o que indica o aumento da participação do país nas importações
mundiais, chegando a alcançar, em 2008, um índice relativo de 120 pontos
percentuais, com destaque para o crescimento das importações de produtos
manufaturados, que, durante este período, obteve menor crescimento do que os
produtos primários, mas no entanto, as importações brasileiras de produtos
manufaturados, em relação às taxas de crescimento das importações mundiais,
foram maiores, chegando a um índice de 138, ou seja, um aumento de cerca, de 38% da participação das importações brasileiras de produtos manufaturados em
relação às importações mundiais, conforme Figura 18.
Figura 18: Brasil - Índice relativo (Brasil/Mundo) das importações Fonte: UNCTAD/STAT – Set/2012; Elaboração própria. Nota: Índice em base (100) 2000.
Nota-se também que, em 2010 estes índices crescem novamente, uma vez que, o valor das importações, neste ano, recupera o mesmo patamar que 2008, o
aumento deste índice indica, um ritmo menor de crescimento das importações
mundiais do que do crescimento das importações brasileiras.
O principal determinante das importações, a partir de 2004, é o crescimento
da renda interna do país, resultando em uma maior quantidade demanda de bens,
020406080
100120140160180
Valor total dasimportações
Produtosprimários
Produtosmanufaturados
72
sendo uma parcela destas em bens comercializáveis, sendo um montante desta
parcela destinada a produtos estrangeiros. Assim, têm-se na Figura 19, a taxa de
crescimento do PIB brasileira e a taxa de crescimento do valor importado total.
Figura 19: Brasil - Taxa de crescimento (%) do PIB e taxa de crescimento dos produtos importados Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Taxa de crescimento do total de produtos importados plotada no eixo secundário.
No período de depreciação cambial, têm-se taxas tímidas de crescimento do
produto interno bruto, de modo que, a partir de 2004, vê-se uma clara correlação
entre as duas variáveis, enfatizando maior importância, como determinante das importações brasileiras.
De acordo com Baumann (2010), sendo as importações, variável-chave no
controle da inflação no Brasil, viu-se a geração de déficits de 1995 até 2003, nas
transações correntes do país, o recuo das importações a partir de 1999, inicia uma
inversão nas contas externas do país, logo em 2001 têm-se um superávit da balança
comercial, e em 2003 das transações correntes, o que reflete em um nível de
inflação (preços) maior, resultando em um câmbio nominal desvalorizado.
Sendo a capacidade de importar, um índice da razão dos preços das
exportações e importações (termos de troca) multiplicada pelas exportações, a maior
capacidade de importar do Brasil durante a década, advindo segundo Jacomassi
(2011), a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), o que deu acesso ao país a todos os mercados do mundo. Produtora de bens de consumo
duráveis e não duráveis com preços extremamente baixos, a China inundou os
mercados com seus produtos. Por outro lado teve efeito positivo, pois auxiliou na
redução da inflação mundial e contribuiu para menores taxas de juros, conforme se
tem na Tabela 21.
-40%
-20%
0%
20%
40%
60%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Taxa crescimento (%) do PIB brasileiro
Taxa de crescimento (%) das importações
73
TABELA 21: BRASIL - CAPACIDADE DE IMPORTAR
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 100 109 117 133 160 177 192 207 209 182 232
Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; Elaboração própria. Nota: Capacidade de importar em índice base (100) 2000.
Nota-se que, de 2003 a 2010, a um aumento do ritmo de crescimento do
índice, que logo indica um cenário macroeconômico mais estável, através do maior
nível de reservas estrangeiras e do aumento das exportações, durante o período. O aumento das reservas estrangeiras, advindo ao crescimento da economia mundial,
juntamente com um enorme diferencial de juro interno e externo, que tem gerado a
“super” valorização da taxa de câmbio usada oportunisticamente para o controle da
inflação. A história econômica do país já mostra que, este expediente sempre
termina mal no longo prazo (SICSÚ; CASTELAR, 2009).
Figura 20: Brasil - Taxa de juros real, inflação e câmbio nominal (USD/BRL) Fonte: WDI/World Data Bank – Set/2012; OANDA – Set/2012; Elaboração própria
Neste período, a queda da inflação, a diminuição das taxas de juros cria um
ambiente mais favorável à atividade interna, de forma que as empresas voltadas a
exportações de produtos industriais passam a atender a demanda interna; para as importações, o aumento da renda disponível e a taxa de câmbio apreciada,
implicaram em um grande aumento das importações, a partir de 2004, e a partir de
2006, quanto o Brasil aufere o recorde do saldo da balança comercial, de US$ 46,4
bilhões, o nível dos superávits passa a diminuir, chegando a 2010, com um superávit
de US$ 16,8 bilhões.
00,511,522,533,5
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%Taxa de juros real(%)
Inflação (%) preçosdo consumidor
Taxa de câmbionominal USD/BRL
74
De acordo com Souza (2009, p. 18), em suma, a lei de ferro da apreciação
cambial pode ser assim enunciada: quanto maior a apreciação cambial – e, portanto,
a perda de espaço da indústria doméstica nos mercados, externo e interno – maior o déficit em conta corrente associado a uma determina taxa de crescimento do PIB. O
que significa que a partir de certo ponto, o crescimento só é possível gerando-se um
desequilíbrio externo que virá a frear o crescimento – possivelmente no contexto de
uma crise cambial – no futuro. Em suma, a condição para o câmbio apreciado
contribuir para o crescimento é deteriorar as contas externas, o que contribui para
crises e interrupções do crescimento no futuro.
4.2. Desempenho da balança comercial russa
A Rússia, durante a década se manteve entre os cinco maiores superávits
comerciais mundiais, sendo superada, em alguns momentos por Alemanha, China e Arábia Saudita, sendo estes responsáveis por mais de 50% do superávit comercial
mundial (AEB, 2012).
A literatura atual sobre os determinantes da balança comercial, afirma que, o
desempenho comercial russo nos últimos anos tem sido fortemente influenciado pelo, aumento dos preços das commodities, especialmente, pelo preço do petróleo,
que é o principal produto de exportação da federação russa, sendo esta uma pauta
comercial caracterizada pelas exportações de produtos primários, e as importações,
de produtos manufaturados, e também tem proporcionado pelo ótimo crescimento
experimentado pela economia mundial nos últimos anos (VIEIRA; VERÍSSIMO,
2009).
No que diz respeito à performance do setor externo russo, entre 1992 e 1996
o saldo comercial apresentou uma trajetória de crescimento, sendo arrefecido em
1997 e 1998. Ao longo desse período, o saldo comercial médio foi da ordem US$
16,5 bilhões por ano. Por sua vez, entre 1999 e 2003, a balança comercial acumulou
um superávit próximo a US$ 200,0 bilhões, o que representa um saldo médio anual
de US$ 40,0 bilhões, cerca de 205,0% superior ao saldo médio anual do período
1992-1998 (FILHO; DE PAULA, 2006). Na Figura 21, tem se o valor anual do saldo comercial, das exportações e
importações, nota-se um crescimento robusto da corrente de comércio a partir de
75
2002 até 2008, crescimento visto também na corrente de comércio dos países em
desenvolvimento. No ano 2000 o setor externo russo teve superávit de US$ 53,7
bilhões, já em 2008 obteve superávit de US$ 146,8 bilhões, crescimento de 173%. Em 2009, continua a apresentar superávit comercial, de US$ 90,8 bilhões,
entretanto, há forte contração da corrente de comércio, cerca de 35%, em relação a
2008. De forma que, também, apresenta rápida recuperação em 2010, com um
superávit de US$ 151 bilhões, no entanto, não retoma o nível de fluxo comercial
anterior a 2008, sendo que, esta retomada do nível de superávit, em 2010, foi
claramente devido a um aumento mais proporcional das exportações que o
crescimento das importações.
Figura 21: Rússia - Saldo Comercial Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; Elaboração própria Nota: Saldo comercial, exportações e importações em US$ Milhões FOB
Entre 2004 e 2006, a vertiginosa alta dos preços do petróleo tem expandido o
superávit da conta corrente, que na média é superior a 10% do PIB, sendo que o
superávit orçamentário foi em média, acima de 7,5% do PIB. Os indicadores
macroeconômicos se recuperaram muito rapidamente: a desvalorização da moeda
russa recuperou a competitividade do setor exportador. Ademais o recuo das
importações elevou os superávits da conta de transações correntes: 13% em 1999 e 18% no ano 2000, os anos de maior crescimento, depois da retomada do
crescimento (CARVALHO, 2009).
Dada a retomada do crescimento da economia da Rússia, suas importações
cresceram 450% entre 1999 e 2007. Este crescimento reflete o aumento da
demanda doméstica na Rússia nos anos 2000, que, em parte, tem sido importante
0
100.000
200.000
300.000
400.000
500.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Saldo comercial Valor total das exportações Valor total das importações
76
fator de estímulo ao crescimento econômico desse país e, em parte, vem sendo
satisfeita por meio de importações (BRITTO et tal. 2009).
Na Tabela 22, têm-se o volume de exportação e importação, a taxa de câmbio real efetiva, os termos de troca e os superávits, da balança comercial e transações
correntes, em proporção do PIB.
TABELA 22: RÚSSIA - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL
Período
Índices Valores em % do PIB
Exportações em volume
Importações em volume
Taxa de câmbio real efetiva
Termos de Troca
Balança comercial
Transações correntes
2000 100 100 66,7 100 20,72 18,05 2001 100,7 121,4 79,9 96,7 13,30 11,08 2002 111,6 139,2 82,3 92,9 11,48 8,44 2003 121,3 166,9 84,8 104,0 11,61 8,23 2004 132,4 199,2 91,3 119,7 12,60 10,07 2005 131,9 245,9 100,0 153,3 13,54 11,07 2006 139,0 311,7 109,9 175,0 12,13 9,56 2007 146,8 401,9 115,9 183,6 8,19 5,98 2008 143,0 490,4 123,7 234,3 8,84 6,23 2009 126,7 331,1 115,2 174,9 7,43 3,98 2010 143,5 415,9 125,9 197,3 10,23 4,75
Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria Nota: Exportações, importações e termos de troca em índice base (100) 2000; taxa de câmbio real efetiva em índice base (100) 2005.
A Tabela 22 traz informações significativas a cerca do comércio internacional
russo, uma delas é que, nota-se claramente o aumento do volume das importações
em relação ao volume exportado, o que induz, que o nível de preços das exportações fora um grande determinante do desempenho comercial, já que,
ocorreu o aumento dos superávits comerciais mesmo havendo um crescimento de
mais de 300% do volume importado, contra um aumento de cerca de, 43% do
volume exportado.
Esta evidência pode ser observada também, a partir da melhora dos termos
de troca do comércio russo, principalmente de, 2002 a 2008, sendo estes a razão
entre os preços das exportações e das importações, nota-se que, o aumento do
preço das exportações, principalmente dos preços de produtos primários, causou
uma melhora nos termos de troca do país. De acordo com Cysne (2009), a Rússia
se beneficiou da elevação do seus termos de troca com o exterior até 2008, ainda
segundo BACEN (2009), a melhora nesses termos de troca permite importações em condições mais favoráveis, incentivando a produção doméstica de bens exportáveis.
77
A esse efeito real soma-se efeito monetário positivo sobre a balança comercial,
refletido em aumento do saldo, mantidas fixas as quantidades de bens
comercializados, que no caso russo manteve-se crescente, o que implica em um desempenho ainda melhor.
Em um cenário de aumento na relação entre os preços das vendas e das
compras externas, com desdobramentos favoráveis sobre o saldo comercial, espera-
se que essa injeção adicional de recursos externos se traduza em apreciação da
taxa de câmbio, no entanto, para a economia russa este fato não é válido, já que no
período de, 2002 a 2008, a melhora dos termos de troca se fez em um contexto de
depreciação da taxa de câmbio real efetiva, de 41,4 pontos percentuais (BCB, 2009).
Em uma segunda observação nota-se que, como visto na seção 3.3, há a
clara diminuição da participação do comércio internacional na economia russa,
porém, obtém um ótimo desempenho comercial na década, esta diminuição é
possivelmente devida ao robusto crescimento do produto interno advindo da atividade econômica interna. Pode-se ter uma visão deste fato a partir da
constatação da diminuição do percentual, tantos dos saldos comerciais e das
transações correntes, em relação ao PIB, conforme Tabela 22, na qual se têm que a
balança comercial mantém uma média de 11,9% de participação no PIB russo, e as
transações correntes, gradativamente vem diminuindo seu superávit em relação ao
PIB, o que infere em maior significância da balança comercial no comércio internacional da Rússia.
A taxa de câmbio real efetiva se manteve em crescente depreciação, exceto
pelo ano de 2009, contudo, durante todo o período apresenta depreciação de 59,2
pontos percentuais, o que de acordo com Lopes e Vasconcellos (2011), um aumento
do índice da taxa de câmbio real significa uma depreciação da moeda nacional, o
que implica em produtos internos mais baratos em relação aos estrangeiros, e logo
incentiva as exportações e contração das importações.
Para as exportações, a observação dos dados da taxa de câmbio real se
mantém em concordância com a literatura, já que, o período é de depreciação
cambial e há aumento das exportações, no entanto, para as importações, não, uma
vez que, há o aumento das importações, entretanto influi negativamente o valor
importado anualmente, como é apresentado nas seções seguintes. A taxa de câmbio real, que é um nível de comparação de preços expressos em
competitividade comercial, não é o único condicionante para o nível das
78
importações. Faz-se notar que o aumento das exportações já é um condicionante
para o aumento das importações, já que aumenta a capacidade do país de importar
devido ao aumento das divisas estrangeiras (DORNBUSCH; FISCHER, 1982). O segundo principal condicionante é a renda doméstica, que no caso russo, obteve
crescimento médio anual de 5,3% do PIB. Sendo este, o determinante, o qual este
trabalho aponta sendo o principal fator do aumento das importações russas na
década de 2000.
4.2.1. Exportações russas
A variação do IED russo, cuja dinâmica expressa uma trajetória ascendente
nos anos recentes, foi um importante determinante das exportações russas. O
câmbio tem importante contribuição para tal variância, tais resultados são coerentes
com a natureza do mercado russo, em que grande proporção da pauta de
exportações é composta por commodities, especialmente gás e petróleo. Ao câmbio
é atribuído importante papel na explicação da dinâmica das exportações deste país,
(CARVALHO, 2009). A economia russa é muito dependente do complexo de petróleo e gás, setor
que permanece sob controle do Estado. Seu último ciclo de crescimento, após a
crise financeira de 1998, esteve atrelado ao desempenho de suas exportações,
beneficiadas pelo recente ciclo de expansão do comércio internacional. Sua pauta
exportadora é especializada em commodities. Cerca de 70% das exportações
russas derivam do setor de petróleo e gás, com destaque também para manufaturas básicas intensivas em energia (BRITTO et al. 2009).
O crescimento das exportações se deu fundamentalmente por conta da
elevação nos preços de petróleo e no volume exportado, que ocorreu a partir de
1999, permitindo, inclusive, um aumento nas importações do país. Como resultado
do forte aumento nas exportações líquidas, a razão transações correntes/PIB
apresentou um resultado bastante satisfatório entre 1999 e 2004 com média de
11,4% ao ano (FILHO; DE PAULA, 2006.).
Durante todo o período da análise as exportações cresceram 288%,
exportando em 2000, cerca de US$ 103 bilhões. De 2000 a 2008 as exportações
apresentaram crescimento de 353%, chegando a exportar em 2008, um total de US$
79
468 bilhões, no entanto, em 2009 apresenta recuo de 35% em relação ao ano
anterior, e em 2010, cresce 32% em relação ao ano anterior, exportando um total de
US$ 400 bilhões. A participação de combustíveis na pauta exportadora russa é bastante evidente e se intensificou durante a década, como pode ser visto na Figura
22. A qual traz o valor total exportado anual, o índice de preços do petróleo e a taxa
de câmbio real efetiva.
Figura 22: Rússia - Valor total das exportações Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria Nota: Exportações em US$ Milhões FOB; Preço do petróleo e Taxa de câmbio real efetiva em índice base (100) 2005, plotada em eixo secundário.
É notável a correlação do índice de preços do petróleo com o valor total exportado, de forma que, diante de um aumento de 129,2 pontos percentuais, de
2000 a 2008, há o aumento de 353% do valor exportado. Em 2000, os combustíveis
foram responsáveis por 50,6% das exportações, já em 2008 representam 65,6%. A
queda de 65,9% do índice de preços do petróleo e o recuo do PIB externo implicou
em 2009, em forte retração das exportações.
As exportações de combustíveis são compostas principalmente, por petróleo,
produtos petrolíferos, gás natural e manufaturado. Os principais destinos destas
exportações são para: Holanda, com uma participação de 5,5% em 2000, e passa
para 2010, a uma participação de 21,2%; Itália, que era responsável, em 2000, por
10,6% do mercado de combustíveis russo; além da Itália, países da EU, vem
perdendo espaço neste mercado russo, como Alemanha, Polônia, Reino Unido,
sendo estes responsáveis por 23,3% das exportações russas, em 2010, passam para 14%; do outro lado desta situação, China, Turquia, França, Japão, vem
aumento seu percentual participativo, de forma que, em 2000, sua participação
conjunto era de 4%, e em 2010 passa para 17,4%.
0%
50%
100%
150%
200%
0
200.000
400.000
600.000
Total de exportações, excluíndo-se combustíveisCombustíveisÍndice de preços do petróleoTaxa de câmbio real efetiva
80
No setor primário exportador russo, além dos combustíveis, merecem
destaque também as exportações de minérios e metais. Que são o segundo maior
segmento das exportações de produtos primários, exportando em 2000, um total de US$ 9,4 bilhões, apresenta crescimento de 132% e exporta em 2010, um total de
US$ 21,9 bilhões, cabe-se ressaltar que os preços internacionais dos metais,
também vêm sofrendo robusta alta desde 2004, como visto na seção 3.1.
Os principais destinos das exportações de minérios e metais, durante a
década foram: Holanda, que em 2000, foi responsável por 18,8% das exportações
deste segmento, e em 2010 passa para 28,5% seu percentual de participação; a
Suíça que, em 2000 tinha 3,7 percentual de participação nas exportações russas, e
em 2008 chega a um percentual de 18,5, no entanto, em 2010 passa para 9,7%; os
Estados Unidos que vem diminuindo sua participação de, 11,3% em 2000, para 9,3
em 2010; e Turquia que vem aumentando o valor importando de minérios e metais
exportados pela Rússia, durante a década, de 2,7% em 2000, para 11,9% em 2010 (UNCTAD/STAT, 2012).
O setor exportador de produtos manufaturados perdeu espaço nas
exportações russas, mesmo apresentando crescimento de 126%, durante a década,
seu percentual participativo, que em 2000 era de 24%, passa para 14% em 2010.
Exportando em 2000 um total de US$ 24,8 bilhões, chega a exportar em 2008 US$
77 bilhões, entretanto, termina a série analisada com um total de US$ 56,2 bilhões. Dentro do setor manufatureiro russo, merece destaque o segmento de bens e
artigos manufaturados, exportou em 2000, um total de US$ 12 bilhões, atingi um
crescimento de 127%, durante a década, exportando em 2010, um total de US$ 28
bilhões, cerca de onze bilhões a menos que em 2008. Este crescimento foi maior
que o das exportações mundiais, aumentando a participação em 40% em relação às
exportações mundiais, de 2000 a 2008, entretanto, este índice diminui para apenas
6%, em 2010, sendo o único segmento exportador de produtos manufaturados a
aumentar seu percentual em relação às exportações mundiais (UNCTAD/STAT,
2012).
A depreciação da taxa de câmbio real efetiva estimulou a competitividade
russa no mercado internacional, que se manteve em sintonia com a literatura
macroeconômica contemporânea, conforme Lopes e Vasconcellos (2011), uma desvalorização da taxa de câmbio real significa que o produto nacional ficou
81
relativamente mais barato que o estrangeiro, estimulando a demanda por estes
produtos.
Na tabela 23 vê se que, esta concordância se mantém, ou seja, a partir das variações positivas na taxa de câmbio real, que refletem em desvalorização desta
taxa, há o aumento das quantidades exportadas, de produtos manufaturados e de
produtos primários (BLANCHARD, 2007). Passado os efeitos conjunturais, vivido
pela economia russa, a desvalorização cambial crescente, com ritmo médio anual de
crescimento, de 8,14%, de 2000 a 2008, corrobora para o aumento do ritmo de
crescimento, principalmente para os produtos manufaturados, os quais são mais
sensíveis as oscilações cambiais, por serem setores mais dinâmicos e competitivos.
TABELA 23: RÚSSIA - TAXA DE CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES E VARIAÇÃO DA TAXA
DE CÂMBIO REAL 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Taxa de crescimento (%) do total das exportações
-3,13 6,83 25,27 35,87 32,96 24,76 16,94 32,85 -35,51 32,57
Taxa de crescimento (%) produtos primários -1,34 7,86 27,72 36,19 44,88 4,63 43,06 32,92 -36,72 33,85
Taxa de crescimento (%) produtos manufaturados
-10,72 8,21 18,89 39,14 10,47 10,41 20,83 31,68 -37,52 16,66
Variação (%) da taxa de câmbio efetiva real 19,79 3,00 3,04 7,67 9,53 9,90 5,46 6,73 -6,87 9,29
Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria.
Faz se notar também que, em 2006, a taxa de crescimento, em relação ao
ano anterior, dos produtos primários, fica em 4,63%, devido à queda das
exportações de combustíveis, que obteve retração de 1,6% em 2006.
O impacto da taxa de câmbio desvalorizada foi mais sensível para os
produtos manufaturados de baixa intensidade tecnológica, que apresentam crescimento médio de 32,73, de 2000 a 2008, cujas exportações em 2000 foram de
US$ 9,1 bilhões, e após 2008, perde o ritmo de crescimento, e exporta um total de
US$ 22,8 bilhões. As segundas maiores exportações por intensidade tecnológica,
são dos produtos de alta tecnologia, que até 2003, mantinha o mesmo ritmo de
crescimento dos produtos de baixa intensidade, no entanto, durante o restante da
década apresenta menores taxas de crescimento, e chega a exportar em 2010, um total de US$ 18,8 bilhões, conforme Figura 23.
82
Figura 23: Rússia – Valores das exportações de produtos manufaturados por intensidade tecnológica Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; Elaboração própria.
A desvalorização da taxa de câmbio nominal (rublo/dólar), de 5,8 para 24,6,
no final da década de 1990, além de estimular o setor exportador, ajudou a manter o
alto crescimento da produção por meio de um processo de substituição de
importações, principalmente de produtos manufaturados básicos (VIEIRA,
VERÍSSIMO, 2009). A taxa de câmbio russa manteve-se estável durante a década, conforme
Tabela 24, a qual traz também a variação anual da inflação mundial e russa. Pode-
se notar que, a diminuição gradativa da inflação anual russa e o aumento dos níveis
de preços internacionais, principalmente de 2002 a 2007, implicam em um
movimento de apreciação da taxa de câmbio nominal e depreciação da taxa de câmbio real.
TABELA 24: RÚSSIA - TAXA DE CÂMBIO NOMINAL E INFLAÇÃO
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Taxa de câmbio nominal (RUB/USD) 28,2 29,2 31,4 30,7 28,8 28,3 27,2 25,6 24,9 31,7 30,4
Inflação, preços do consumidor (mundo) (%) 3,5 4,0 3,1 3,3 3,6 4,1 4,4 5,0 9,0 2,9 3,5
Inflação, preços do consumidor (Rússia) (%) 20,8 21,5 15,8 13,7 10,9 12,7 9,7 9,0 14,1 11,7 6,9
Fonte: WDI/World Data Bank – Set/2012; OANDA – Set/2012; Elaboração própria.
Além, de manter uma política cambial favorável as exportações e
relativamente estável, para não inibir o crescimento das importações, o crescimento
da renda externa dos principais parceiros econômicos, foi essencial para o
crescimento das exportações russas.
05.000
10.00015.00020.00025.00030.00035.000 Trabalho intensivo
baseado emrecursos fábricaBaixa intensidadetecnológica
Média intensidadetecnológica
Alta intensidadetecnológica
83
Na figura 24, têm-se a taxa de crescimento do PIB mundial, o valor total anual
das exportações e a taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais russos
(TCPPC), a qual é calculada, a partir do peso de sua participação como destino nas exportações russas, sendo que estes quinze países são responsáveis em média por
60% do valor exportado anualmente, durante a década.
Figura 24: Rússia – Taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais (TCPPC) Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Exportações em US$ Milhões FOB; taxas de crescimento plotada em eixo secundário.
Pode-se notar que, tanto a economia mundial como a TCPPC, a partir de
2001 e 2002, respectivamente, passam por uma elevação de seus ritmos de
crescimento, acompanhados pelo aumento das exportações. A quebra do ritmo de
crescimento da TCPPC, em 2005, foi causado pela queda da taxa de crescimento
do PIB ucraniano, que em 2005, foi de 12,1%, e em 2006 passa para 2,7%,
entretanto, não diminui sua participação como destino das exportações russas, ao
contrário, aumenta em 21 %, na variação de 2005 para 2006.
Contudo, vê-se que a TCPPC, mantêm-se durante toda a década, menores
níveis que o PIB mundial, porém, também mantém crescimento durante a década,
denotando a importância da renda externa na determinação das exportações. Já
que, com uma média anual de 2,33% de crescimento do PIB dos quinze principais parceiros comerciais russo, as exportações mantêm um crescimento médio de
16,9% do valor exportado ao ano. E em 2009, com um decréscimo de 2,25% da
TCPPC relação ao ano anterior, há a diminuição de 35% o valor das exportações no
mesmo ano (DORNBUSCH; FISCHER, 1991).
Após longo e acentuado declínio na década de 90, nos últimos anos, a
economia russa tem crescido a taxas significativamente maiores do que a média
-5,00%
0,00%
5,00%
10,00%
0
200.000
400.000
600.000
Valor total das exportaçõesTaxa de crescimento do PIB ponderada pelos principais parceiros comerciaisTaxa de crescimento PIB mundial
84
mundial: 4,7 % em 2002, 7,3% em 2003, 7,2 % em 2004, 6,4 % em 2005 e 7,4 % em
2006, 8,1 % em 2007 e 6,2% em 2008. No entanto, é de se ressaltar que, em virtude
do forte declínio do preço do petróleo e da retração da demanda por outras matérias-primas exportadas pela Rússia, é improvável que a economia russa
ostente números tão expressivos enquanto perdurar o presente quadro recessivo
global (MDIC, 2009).
4.2.2. Importações russas
As importações russas apresentaram um crescimento de 403% de 2000 a
2010, um crescimento médio anual de 19%, uma média de US$ 155 bilhões
importados anualmente. Sendo estas, principalmente de produtos manufaturados,
assim como a maioria dos países em desenvolvimento, a importação de produtos
manufaturados, em 2000 representavam 67% das importações russas, a partir de
2003 passa por um movimento crescente do valor e do volume importado, chegando
a representar em 2008, 82% das importações e, em 2010, passa a representar 79%.
Figura 25: Rússia - Valor total das importações Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria. Nota: Importações em US$ Milhões FOB.
Conforme Figura 25, as importações de produtos primários mantiveram uma
média anual de US$ 30 bilhões, com crescimento médio anual de 12,3%, durante a
década. Importa em 2000, um total de US$ 15 bilhões, e em 2010, importa um total
de US$ 48,3 bilhões, crescimento de 221%, durante a década. O principal segmento
de importação é o de produtos alimentares, que em 2000, representavam 63% das
050.000
100.000150.000200.000250.000300.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Produtos primários, pedras preciosas e ouro não monetário
Produtos manufaturados
85
importações russas de produtos primários, e em 2010 passa a representar mais de
70%. A participação russa, neste segmento, em relação às importações mundiais,
cresceu 55,78%, de 2000 a 2010 (UNCTAD/STAT, 2012). As importações de produtos manufaturados mantiveram uma média de US$
121 bilhões por ano, com um crescimento médio anual de 21,4%. Em 2000 importa
um total de US$ 33,2 bilhões, sendo US$ 14 bilhões em máquinas e equipamentos
de transporte, US$ 13,7 bilhões em bens e artigos manufaturados e US$ 5,4 bilhões
em produtos químicos. Dos três segmentos importadores, o mercado que maior
aufere crescimento é o de máquinas e equipamentos, cujo crescimento foi de 614%,
chegando a importar em 2010, um total de US$ 100 bilhões, sendo os principais
produtos, automóveis e máquinas elétricas, no entanto importa US$ 50 bilhões a
menos que 2008 (UNCTAD/STAT, 2012).
As importações obtiveram um expressivo aumento na participação das
importações mundiais, conforme pode se ver na Figura 26. Na qual se observa que, a partir da construção de um índice relativo, entre as importações, russas e
mundiais, a Rússia aumentou sua participação, chegando a um aumento de 150%,
de 2000 a 2008.
Figura 26: Rússia - Índice relativo (Rússia/Mundo) das importações Fonte: UNCTAD/STAT – Set/2012; Elaboração própria. Nota: Índice em base (100) 2000.
O crescimento das importações em produtos primários manteve entre a média do crescimento mundial, já que o índice relativo permanece estável, em torno do
índice base, 100. Já o índice relativo das importações russas de produtos
manufaturados cresceu em um ritmo bem maior que o mundial, atingindo um
050
100150200250300350400 Valor total das
importações
Produtosprimários, pedraspreciosas e ouronão monetário
Produtosmanufaturados
86
crescimento de 250% na sua participação nas importações mundiais de produtos
manufaturados.
A desvalorização crescente da taxa de câmbio real durante a década, afeta negativamente as importações, uma vez que, de acordo com Lopes e Vasconcellos
(2011), a desvalorização da taxa de câmbio, barateia o produto nacional em relação
ao estrangeiro, ou seja, há a diminuição da demanda por estes produtos. No entanto
esta situação não se comprova durante a década, já que, apresenta um crescimento
de 59,2 pontos percentuais de 2000 a 2010, e as importações crescimento de
403,7% durante a década.
Este crescimento das importações é visivelmente devido ao aumento da
demanda interna, consequência dos crescentes aumentos da renda interna do país,
sendo que este determinante, renda interna, visivelmente é o principal responsável
pelo crescente aumento do valor das importações durante a década.
Seis anos de crescimento, entre 1999 e 2004, com uma taxa média de crescimento de 6,7%, indicam forte recuperação da economia russa, seus principais
indicadores econômicos obviamente refletem um ótimo desempenho econômico, até
mesmo quando comparada com outros emergentes (BRITTO et al. 2009).
TABELA 25: RÚSSIA - VARIAÇÃO ANUAL (%) DO PIB RUSSO E DAS IMPORTAÇÕES
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 PIB 10,00 5,10 4,70 7,30 7,20 6,40 8,20 8,50 5,20 -7,80 4,30 Importações 13,47 19,84 13,40 24,77 28,02 28,81 31,30 35,70 30,64 -34,31 17,88 Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
Conforme Tabela 25, apenas nos anos de 2002, 2008 e 2009 a economia
russa apresenta diminuição do ritmo de crescimento do PIB, em relação ao ano anterior. Durante o resto do período é marcado pela elevação das taxas de
crescimento do total das importações.
Dada a retomada do crescimento da economia da Rússia, suas importações
cresceram 450% entre 1999 e 2007. Este crescimento reflete o aumento da
demanda doméstica na Rússia nos anos 2000, que, em parte, tem sido importante
fator de estímulo ao crescimento econômico desse país e, em parte, vem sendo
satisfeita por meio de importações (BRITTO et tal, 2009). Como visto na seção 3.2, a
participação das importações no PIB russo vem diminuindo, o que é não é explicado
por um fraco desempenho do setor importador russo, mas sim pelo aumento da
demanda destinada a produtos domésticos.
87
Esta situação se confirma também, quando se é calculado a taxa de
penetração das importações, que vem diminuindo, durante a década, sendo esta, de
acordo com Baumann et al (2010, p. 13), “um indicador que mostra o quanto da demanda interna do país é satisfeita por importações”, conforme Tabela 26.
TABELA 26: RÚSSIA - TAXA DE PENETRAÇÃO DAS IMPORTAÇÕES (%)
2000/2002 2003/2005 2006/2008 2009/2010
22,7 21,2 20,9 18,6 Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
Vê-se que a TPI russa, diminui cerca de quatro pontos percentuais, de 2000 a
2010, o que significa que a demanda por bens domésticos cresceu mais
proporcionalmente que a demanda por bens estrangeiros, uma vez que, o demanda
doméstica por bens, satisfeita pelas importações diminui (BLANCHARD, 2007).
Sendo as importações, em função da renda interna e taxa de câmbio, nota-se
que, o período é de claro aumento do produto interno bruto, num contexto de estável
e constante diminuição da inflação, o aumento das reservas de divisas estrangeiras,
eleva capacidade de importar da economia russa, durante a década, implicando no
aumento do nível das importações (FROYEN, 2001).
Entretanto, como visto no período considerado, a taxa de câmbio não corrobora para o aumento das importações, já que, o produto doméstico torna-se
mais barato que o produto estrangeiro, mesmo havendo o aumento absoluto, do
volume e do valor importado, a partir da Figura 27, a qual se tem a correlação da
renda interna e taxa de câmbio como função do nível de importações, nota-se que,
por exceção de 2000 a 2002, que a variação do ritmo de crescimento da taxa de
câmbio real efetiva mantém relação inversa com a variação da taxa de crescimento
das importações.
88
Figura 27: Rússia - Variação anual das taxas de crescimento dos determinantes das importações Fonte: UNCTAD/STAT – Set/2012; Elaboração própria. Nota: Variação percentual da taxa de câmbio efetiva real plotada no eixo secundário.
Observa-se uma estreita relação da desvalorização cambial como
determinante das importações, principalmente após 2003, quando o aumento do
ritmo de crescimento do índice da taxa de câmbio real efetiva, passa de 3,04% em
2003, para 9,9% em 2006, acompanhado pela diminuição do ritmo de crescimento
do PIB russo, implica na diminuição do ritmo de crescimento das importações.
É notável, também a correlação da renda interna como determinante das
importações, que obteve elevadas taxas de crescimento durante o período analisado
e sob uma conjuntura macroeconomia relativamente estável, se comparada à
década anterior, o crescimento da renda interna aumentou a demanda por bens,
sendo que, certo montante desta demanda foi satisfeito por importações, que, de fato quadruplicou, durante todo o período, no entanto, este crescimento foi menor do
que o crescimento da demanda por bens domésticos, que possivelmente está ligado
à desvalorização cambial russa, uma vez que, encarece o produto estrangeiro e
barateia o produto nacional.
4.3. Desempenho da balança comercial indiana
Uma das motivações fundamentais para o caráter gradual das medidas de
liberalização da economia adotadas a partir da crise de 1991 diz respeito à
preocupação com a sustentabilidade do balanço de pagamentos, haja vista que, o país enfrentou sucessivos episódios de restrições das contas externas, bem como o
impacto sobre a estrutura produtiva (SCHATZMANN, 2009).
-10%
-5%
0%
5%
10%
15%
20%
25%
-300%-250%-200%-150%-100%
-50%0%
50%100%150% Variação (%) da
taxa decrescimento doPIB
Variação (%) dataxa decrescimento dasimportações
Variação (%) dataxa de câmbioreal efetiva
89
Através do aumento da sua participação no comércio, objetivando que, o
setor externo no longo prazo passasse a ser mais uma fonte de crescimento do PIB.
A estratégia adotada após 2002 foi a de permitir o aumento das importações como forma de suportar o crescimento do consumo interno. Além disso, essas importações
poderiam acelerar a expansão da competitividade da indústria local e apoiar o
crescimento das exportações. Nesse sentido, o governo formulou o New Foreign Trade Policy (2004/2009),
cujo alvo principal era dobrar a participação do país nos fluxos globais de comércio
de bens até 2009, com crescimento médio de 20% a.a nas exportações. Essa
política estava estruturada sob três pilares centrais: i) continuação do processo de
liberalização comercial com redução de tarifas e de custos de transação; ii)
estabelecimento de zonas de processamento de exportação para atrair IED em
infraestrutura; e iii) estimular exportações de setores com maior potencial de
geração de empregos, particularmente em regiões rurais, por meio da redução de tributos sobre matérias-primas desses setores (BAUMANN et al. 2010).
A utilização de instrumento liberalizantes nesse momento visava possibilitar o
crescimento das exportações em termos absolutos e como percentual sobre o PIB,
melhorar o acesso ao mercado interno e aumentar o nível de competitividade global
da estrutura produtiva da Índia (BAUMANN et al. 2010)
As reformas liberalizantes na Índia têm gerado efeitos positivos, no sentido de estabelecer boas práticas de governança, a criação de um ambiente competitivo,
entretanto, levará um bom tempo. Desregulamentação de controles sobre a
atividade industrial, redução das restrições sobre o monopólio, liberalização da
importação de bens de capital, com a ampliação do coeficiente tecnológico,
ampliando a sofisticação das exortações e política ativa de depreciação da taxa de
câmbio são algumas das políticas adotadas pela Índia, no sentido de melhorar a
inserção externa desta economia (CARVALHO, 2009).
Como vários outros países em desenvolvimento ao longo do ciclo recente de
expansão da economia global, a Índia obteve uma acumulação de reservas considerável; segundo dados do Asian Development Bank, elas passaram de US$
46 bilhões em 2001 para US$ 267 bilhões em 2007. Como é sabido, os países em
desenvolvimento obtiveram, ao longo desses anos, um crescente saldo em conta corrente, a Índia esteve concentrada em um conjunto relativamente reduzido de
países, o dos países deficitários (BRITTO et al. 2009).
90
A Índia não seguiu a estratégia clássica de desenvolvimento asiática baseada
na exportação de produtos de baixo valor para o Ocidente, com a exploração de
mão de obra barata. O crescimento indiano é alavancado por um forte mercado de consumo interno e uma economia de serviços de alta tecnologia (MOYSÉS, 2012).
De fato, como visto na seção 3.2, o setor de serviços durante a década
correspondeu por cerca de, 60% do produto interno, e a atividade industrial cerca
de, 27%. Por isso, é de se esperar déficits na balança comercial indiana, sendo que,
dentre, os quatro países do BRICs, a Índia é o país que detêm o pior desempenho
comercial (excluindo a conta de serviços), no entanto, não obstante a esses déficits,
foram os resultados das transações correntes, que, obtiveram superávits apenas de,
2002 a 2004. Logo, obtendo uma poupança externa positiva, pela maior parte da
década, o que de acordo com Lopes e Vasconcellos (2011), isto implica
necessidade de; contrair empréstimos e/ou contrair investimento estrangeiros no
país e também, pode ocorrer à diminuição das reservas de divisas do país. Durante a década a índia experimentou crescentes déficits da sua balança
comercial, sendo que, de 2000 a 2010, houve o aumento de 1.124% do déficit
comercial (UNCTAD/STAT, 2012), como mostra Figura 28.
Figura 28: Índia - Saldo comercial Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria. Nota: Saldo comercial, exportações e importações em US$ Milhões FOB.
Apesar de apresentar uma melhora na variação de 2000 para 2001, de 35%,
o saldo comercial manteve-se deficitário em toda a série analisada. Em 2000 aufere um déficit total de, US$ 10,5 bilhões e termina a série, em 2010 com um déficit total
de US$ 129,6 bilhões. A partir de 2004, tem-se um ritmo maior de crescimento do
déficit comercial, em razão do maior crescimento das importações do que das
-200.000
-100.000
0
100.000
200.000
300.000
400.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Valor total das exportações Valor total das importaçõesSaldo comercial indiano
91
exportações, como se vê na Figura 28. As exportações indianas cresceram em todo
o período 420%, frente a um crescimento de 561% das importações.
A Índia é estruturalmente deficitária no comércio de bens como, sobretudo devido à sua dependência de importação de insumos energéticos. Apesar do grande
aumento das exportações que se verifica desde 2003, este não foi suficiente para
diminuir o déficit. No âmbito da conta de transações correntes, este déficit no
comércio de bens é em parte compensado pelo comércio de serviços, sobretudo exportações de softwares, e pelas remessas de indianos residentes no exterior.
Mesmo assim a conta é continuamente deficitária em média de 1,2% do PIB entre
1990 e 2008, descontando os anos de 2001 a 2004, quando excepcionalmente
registrou superávit. Com o agravamento do déficit comercial a partir de 2004,
influenciado por uma elevação acentuada das importações, dada a intensificação do
crescimento econômico e aumento dos preços do petróleo, a conta corrente voltou à
sua trajetória deficitária (SCHATZMANN, 2009). Logo nota-se a importância da conta de serviços, rendas e transferências
unilaterais para o resultado das transações correntes indiana, já que, se vê a piora
dos saldos comerciais, de acordo com Nassif (2006), os déficits comerciais têm sido
amortecidos pelas receitas líquidas positivas do setor de serviços e, mais ainda,
pelos saldos positivos das transferências unilaterais privadas, especialmente de
indianos residentes no exterior. Desde a adoção de um regime de câmbio flutuante, a taxa de câmbio
(rúpia/dólar) tem exibido períodos de estabilidade, quebrado por movimentos
discretos e por vezes agudo, como ocorrido durante os efeitos da crise asiática
Comparativamente a outros países que adotam taxas de câmbio flutuante, a
volatilidade da taxa rúpia/dólar tem sido relativamente menor (IMF, 2001, p. 152
apud FILHO; DE PAULA, 2009).
Como tendência geral, o câmbio tem sido desvalorizado nominalmente.
Apesar da desvalorização da taxa de câmbio nominal, a taxa de câmbio efetiva real
tem sido relativamente estável, vindo a se apreciar somente na variação de 2001 a
2002, e em 2008, conforme Tabela 27 (FILHO; DE PAULA, 2009). O que, no
entanto, não implicou na melhora do crescente déficit da balança comercial, que de,
2000 a 2005 manteve uma média de 2,11% negativa em relação ao PIB, e no período de, 2005 a 2010, essa média passa para 6,91% negativa.
92
TABELA 27: ÍNDIA - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL
Ano Índices %PIB
Volume de exportações
Volume de importações
Taxa de câmbio real efetiva
Termos de Troca
Balança comercial
Transações correntes
2000 100 100 102,6 100 -2,26 -0,98 2001 125 99 102,4 94,0 -1,41 0,29 2002 126 103 97,4 92,0 -1,46 1,40 2003 150 109 98,9 83,0 -2,21 1,48 2004 161 128 101,4 86,0 -3,23 0,11 2005 179 150 107,3 83,0 -4,84 -1,23 2006 206 174 105,6 78,0 -6,02 -0,98 2007 227 191 114,2 77,0 -6,03 -0,67 2008 245 218 102,3 79,0 -10,43 -2,41 2009 267 262 102,3 81,0 -6,62 -1,92 2010 264 288 101,9 91,0 -7,53 -3,01 Fonte: RBI – Jun/2012, UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Exportações, importações e termos de troca em índice base (100) 2000; taxa de câmbio real efetiva em índice base (100) 1994.
A partir da observação da Tabela 27, nota-se também que, houve um maior
aumento do quantum das exportações do que o quantum das importações,
rapidamente nota-se que, é devido ao aumento do preço das importações, que
mesmo importando um volume menor, seu valor é consideravelmente maior que, o
volume e os preços das exportações. Esta evidência pode ser observada pelo
comportamento dos termos de troca da economia indiana, sendo este a razão dos
preços exportados e importados, a diminuição deste índice indica exportações mais
baratas e importações mais caras. Conforme Filho e De Paula (2009) o Banco de Reserva da Índia (Reserve
Bank of India) tem sido um ativo participante do mercado cambial, procurando evitar
que transações de grande magnitude neste mercado (tais como pagamentos do serviço da dívida ou de petróleo) possam resultar em uma excessiva volatilidade da
taxa de câmbio, ao mesmo tempo em que busca assegurar uma razoável
estabilidade na taxa de câmbio efetiva real. Baumann (2010, p. 64) completa que, “a
Índia possui, desde 1991, um regime de flutuação administrada, cujo desempenho
tem sido notável nas duas últimas décadas” [...].
Nota-se então que, a taxa de câmbio real manteve-se estável durante a
década, no entanto, conforme Figura 29, apresenta depreciação da moeda na
variação de 2001 para 2002, e em seguida até o ano de 2005 apresenta apreciação
da moeda indiana, vê-se que, enquanto há uma inflação controlada, a taxa de
câmbio nominal não apresenta grande oscilação (2000/2005), entretanto,
acompanha as mudanças da taxa de câmbio real. A partir de 2006, quando há um
93
crescimento da taxa de inflação anual, nota-se a desvalorização da taxa de câmbio
nominal e real, o que de acordo com Dornbusch e Fischer (1982), implica em maior
nível de competitividade dos produtos domésticos perante o mercado internacional, logo há o aumento da quantidade destinada a compra destes produtos. Yokota
(2010, p. 2) completa que, “as análises indianas mostram que a desvalorização tem
sido a variável mais significante na determinação do crescimento no logo prazo”.
Figura 29: Índia - Taxa de câmbio nominal, índice de câmbio real efetiva e inflação (%) Fonte: RBI – Jun/2012, WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Inflação plotada em eixo secundário.
Ainda de acordo com Filho e de Paula (2009), a queda na taxa de inflação, no
período de 2000 a 2005, em relação à década passada, especialmente na crise
asiática em 1997, tem sido acompanhada por uma concomitante queda nas taxas de
juros domésticas. De forma que a partir de do momento em que, se tem o aumento
da inflação têm-se o aumento das taxas de juros, conforme Tabela 28.
TABELA 28: ÍNDIA - TAXA DE JUROS REAL (%)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2,0 -0,1 5,9 4,3 6,9 4,5 6,2 4,7 7,3 7,9 8,6 8,3
Fonte: WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria.
A partir do apresentado, vê-se que, com relação à taxa de câmbio real no
curto prazo, esta não se manteve de acordo com a literatura convencional, já que,
principalmente, a partir de 2001 a 2007, quando apresenta, em grande parte,
movimento de depreciação cambial, o que se observa é que, não se resulta na melhora do déficit comercial. Entretanto, a literatura a cerca do impacto da taxa de
câmbio real na balança comercial indiana, diz que, a taxa de câmbio artificialmente
0%2%4%6%8%10%12%14%
0
20
40
60
80
100
120
Taxa de câmbionominal (RÚP/USD)
Taxa de câmbio realefetiva
Inflação (%), preçosdo consumidor
94
desvalorizada no longo prazo é um importante determinante do saldo comercial
indiano.
Há fortes evidências para uma associação de longo prazo positiva, entre a depreciação real da taxa de câmbio e da balança comercial da Índia, com seus principais parceiros comerciais. A volatilidade da taxa de câmbio real efetiva, também apresenta uma relação de longo prazo negativa. Isto tem importantes implicações políticas para questões como, a convertibilidade da conta de capital e de metas de inflação na Índia (DHASMANA, 2012, p. 7, tradução própria).
Este fato presume que, outros determinantes foram mais influentes em curto
prazo na economia indiana, sendo que, este estudo aponta para os principais
condicionantes: o aumento do preço das importações; o aumento das reservas
internacionais, que inibem possíveis maus resultados dos indicadores da vulnerabilidade externa, que concomitantemente aumentaram a capacidade de
importar do país e implicaram no aumento das importações, e a renda interna, como
principal determinante das importações – o elevado crescimento do produto interno
indiano vem destinando maior parte da demanda doméstica por produtos
estrangeiros. E também, à liberalização comercial, que, porém, parece ter menos
significância para o aumento das importações. Assim, será dada a devida atenção
para cada condicionante supracitado, conforme, sendo estes, em função das
exportações ou das importações, nas seções seguintes.
4.3.1. Exportações indianas
O expressivo crescimento econômico verificado na Índia tem sido
acompanhado pelo aumento do fluxo comercial, com as exportações crescendo 18%
ao ano, nos anos 2000, contra 7,3% na década de 1990. No mesmo período, as
importações passaram de uma taxa de crescimento de 9,9% ao ano, para 21% (DA
SILVA et al. 2011). Baumann (2010), afirma ainda que, essa abertura comercial tem
respaldo em uma política de comércio exterior que buscou ampliar a participação da
Índia no comércio internacional mediante a maior liberalização das importações. Em 2000 o total exportado foi de US$ 42,3 bilhões, sendo US$ 26 bilhões em
produtos manufaturados e US$ 15,4 bilhões em produtos primários, até 2002 não
apresenta grande crescimento, vista que o período foi marcado pela retração do
95
comércio internacional, e houve o aumento do índice da taxa de câmbio real, que
passou de, 102,6 para 97,4, o crescimento do valor exportado foi de apenas 18%.
No período em que, se tem um movimento de depreciação cambial a partir de 2003 até 2007, o índice passa de 98,9 para 114,2, e as exportações cresceram 146%.
Figura 30: Índia - Valor total exportado por setor e taxa de câmbio real efetiva Fonte: RBI – Jun/2012, UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Taxa de câmbio real efetiva plotada em eixo secundário.
De 2008 a 2010, a taxa de câmbio real se mantém estável, assim, saldo
comercial passa a ser influenciado, principalmente, pela renda externa, neste
período, já que, observa-se que, durante este período, não há alterações na taxa de câmbio real, mas se vê a recuperação do crescimento da renda externa, fato que,
não exclui a importância da renda externa para os resultados das exportações no
período anterior a 2007.
TABELA 29: ÍNDIA - TAXA DE CRESCIMENTO DAS EXPORTAÇÕES POR INTENSIDADE
TECNOLÓGICA (%) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 Intensivos em trabalho e recursos naturais 13,9 -2,9 6,6 9,6 14,2 19,8 9,4 7,6 9,3 -3,9 15,7
Baixa intensidade tecnológica (%) 20,9 -1,2 23,6 41,5 44,0 30,5 19,3 22,3 43,7 -25,5 39,2
Média intensidade tecnológica (%) 19,3 15,9 16,8 32,6 31,0 46,1 24,9 21,0 36,8 -12,8 34,9
Alta intensidade tecnológica (%) 19,9 13,0 14,3 21,3 30,1 26,3 22,9 17,9 30,9 6,9 14,5
Commodities (combustíveis, alimentos, minérios e outros (%)
14,9 0,9 20,3 16,9 29,5 42,9 25,1 27,5 24,8 -15,1 46,3
Variação do índice da taxa de câmbio real efetiva (%) - -0,1 -4,9 1,5 2,6 3,3 -0,8 8,1 -9,3 -0,3 12,7
Fonte: RBI – Set/2012, UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria.
859095100105110115120
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000
Produtosmanufaturados
Produtosprimários
Taxa de câmbioreal efetiva
96
Na Tabela 29, têm-se a taxa de crescimento das exportações por intensidade
tecnológica e a variação da taxa de câmbio real efetiva, de modo que, variações
negativas indicam apreciação cambial e variações positivas, que, implicam no aumento do índice de câmbio real, indicam depreciação cambial.
Percebe-se também que, em 2006, houve um recuo na taxa de crescimento
das exportações, vista um recuo de 0,8% na variação do câmbio real, mantendo
consonância com o postulado econômico. Em 2007, têm-se uma variação de 8,1%,
indicando uma depreciação cambial, no entanto, há novamente um recuo do ritmo
de crescimento de alguns setores, e em 2008, têm-se um movimento de apreciação
cambial, que deveria inibir o crescimento das exportações, mas novamente, nota-se
uma relação inversa da depreciação cambial e do crescimento das exportações, já
que, uma variação de 9,3% negativos implica no aumento do ritmo das
exportações5. Mesmo que sejam pequenas variações em relação a variações vistas
nas outras análises, como a do Brasil e Rússia, a manutenção de uma política cambial é um das diretrizes do processo de abertura comercial implantada em 2002.
Dentro do processo de liberalização da economia, um ponto importante foi a
maxidesvalorização nominal adotada em relação ao dólar na década de 1990, que
criou um ambiente favorável às exportações, de modo a aumentar a competitividade
dos produtos e serviços indianos, e que se manteve presente durante a década de
2000 (VIEIRA; VERÍSSIMO, 2009). Os produtos intensivos em trabalho e recursos naturais, composto por bens e
artigos manufaturados básicos é o segmento que apresenta menor crescimento, de
9% a.a, logo diminui sua participação na pauta exportadora indiana, que em 2000
era de 32,74, e em 2010 passa para 13,99%. Observa-se também que, às
exportações de produtos de baixa intensidade tecnológica foi o segmento mais
oscilante, com média de crescimento de 8,55%, e vem ganhando uma modesta
participação nas exportações indianas, que em 2000 era de 6,77% e em 2010 foi de
9,20%. As exportações de produtos com média intensidade tecnológica, que
engloba as exportações de máquinas e equipamentos elétricos, automotivos e
5 Uma explicação para a ocorrência destes movimentos “atrasados” do câmbio é o efeito da curva “J”, que, de acordo com Carbaugh (2004, p. 491 apud PALHUK et al. 2009), este é um efeito defasado do impacto câmbio na balança comercial, de forma que, ocorre uma melhora no desempenho das exportações após certo tempo em que, a depreciação dos preços relativos do país chegue até seus parceiros comerciais, e estes ajustem seus padrões de comercialização.
97
químicos, foi o segmento tecnológico que mais cresceu, a uma média de 9,13% a.a,
e de forma integral apresenta crescimento de 735%, ampliando sua participação de,
6,67% em 2000 para 10,71% em 2010. As exportações de produtos de alta intensidade tecnológica apresentaram
crescimento médio de 13,22% a.a, e ampliaram a participação em 1,76%, durante a
década. Foi o único setor a apresentar taxas de crescimento em todo o período,
sendo que, a explicação para isto pode residir no fato de que, de acordo com
Baumann (2010) as exportações de bens manufaturados de alta tecnologia tendem
a ser mais sensíveis aos preços relativos, por estes serem os setores mais
dinâmicos da economia, sendo assim, a política cambial é um fator extremamente
relevante para a competitividade destes mercados.
Ainda de acordo com Baumann (2010, p) as transformações na pauta de
exportações indiana não evitaram a continuidade da predominância de produtos
pouco elaborados, nos bens importados e nos exportados. Certamente, em função, em um primeiro momento, da modernização dos setores químicos e automobilísticos
e, posteriormente, da expansão do preço internacional do petróleo. A índia sofreu
um processo de alteração em sua pauta de exportações, antes centralizadas em
bens intensivos em trabalho e em recursos naturais. No entanto, apesar da melhora
dos setores de média e alta intensidade, supracitados, o setor que liderou esse processo foi o de commodities. Em contrapartida, as exportações de intensivos em
trabalho e em recursos naturais caíram de participação. Assim, mesmo depois de
aprofundar a liberalização do comércio internacional em 2002, os resultados em
termos de pauta de comércio não se alteraram significamente.
As exportações de produtos primários ganharam participação na pauta de
exportação indiana, que em 2000 era de 37,3%, e em 2010 passa para 46,5%, uma
explicação deste fato pode estar ligado aos preços das exportações de cada setor, que como visto, os preços das commodities aumentaram de forma significativa
durante a década. Em todo o período a taxa de crescimento médio anual do setor foi
de 21,2%, e exporta em 2010, um total de US$ 100,5 bilhões, crescimento total de
420% em relação ao início da série. Sendo destaque as exportações de
combustíveis que, em 2000 representam apenas 3,41% das exportações totais,
passando a representar em 2010, um percentual relativo de 17,23. As exportações de minérios e metais também vêm ganhando participação na pauta exportadora
indiana, a qual participação em 2000 foi de 2,83% passa para 7,59% em 2010. O
98
ganho da participação destes segmentos na pauta exportações, em contrapartida,
vem diminuindo a participação dos segmentos de pedras preciosas e ouro não
monetário, que passa de 16,29% em 2000 para 10,3% em 2010, e o de produtos alimentares, que em 2000 era responsável por 12,79% e em 2010 passam a
representar 8,26% do total das exportações (UNCTAD/STAT, 2012).
As mudanças estruturais supracitadas podem ser observadas mais
claramente quando, a participação relativa destes setores é em relação apenas ao
setor de produtos primários, conforme Figura 31.
Figura 31: Índia - Participação por segmento das exportações de produtos primários (%) Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
Dentre os produtos primários o segmento de exportações de pedras
preciosas, exporta um total de US$ 6,9 bilhões neste ano, cresce 228% durante a
década, exportando um total US$ 22,7 bilhões em 2010. O segmento de minérios e
metais exporta um total de US$ 1,1 bilhões, apresenta crescimento de 1.296%, e exporta em 2010 um total de US$ 16,7 bilhões. As exportações de matérias-primas
agrícolas auferem um total de US$ 533 milhões em 2000, e crescem 819%,
exportando em 2010 um total de US$ 4,9 bilhões, e mantêm-se sendo o segmento
que menos exporta. As exportações de produtos alimentares também perderam
participação nas exportações indianas, exportando em 2000 um total de US$ 5,4
bilhões, cresce relativamente menos que os outros segmentos, com um crescimento
integral de 235%, e exporta em 2010 um total de US$ 18,2. As exportações de
combustíveis auferem um total de, US$ 1,4 bilhões, em todo o período apresenta
crescimento de, 2.532%, exportando em 2010 um total de US$ 37,9 bilhões.
A respeito do crescimento do segmento de combustíveis minerais, estar
ligado ao aumento dos preços do petróleo, esta situação não parece ter muita
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100% Pedras preciosas eouro não monetário
Combustíveis mineraise produtosrelacionadosMinérios e metais
Matérias-primasagrícolas
Todos os produtosalimentares
99
consonância, quando analisasse o quantum exportado por categoria6 de produto das
exportações deste segmento exportador. Conforme Figura 32.
Figura 32: Índia - Índices de volume e preços das exportações de combustíveis minerais Fonte: RBI – Set/2012; Elaboração própria.
Nota-se que, os índices de volume dos produtos petrolíferos (I), crescem mais
que o seu o índice de seus preços, denotando uma maior importância ao próprio
crescimento do setor do que um favorecimento dos preços, mesmo que, o aumento dos preços esteja presente, a partir de 2003, o quantum exportado presume ter
maior relevância que os preços destas exportações. Nota-se também que, o
aumento de preços foi dos produtos petrolíferos, foi puxado pelo aumento dos
preços da categoria ‘petróleo exceto bruto’, o qual aumenta mais 100 pontos percentuais durante a década. E a categoria de ‘produtos petrolíferos’ foi quem
puxou o crescimento do volume exportado, crescendo mais de 2.000 pontos
percentuais. Mantendo a concordância, as exportações de gás, natural e
manufaturado, tiveram um maior desempenho do índice de volume, que, cresceu
mais de 300 pontos percentuais, corroborando para a conclusão que, de certa
6 Salienta-se que a Índia, de acordo com Unctad/Stat (2012), não exporta petróleo bruto, somente importa. Sendo que, exporta dentro do segmento de combustíveis minerais, principalmente, produtos petrolíferos (I), subdividos em, petróleo exceto bruto (I.a) e produtos petrolíferos (I.b), e também de gás natural e manufaturado (II).
0
500
1000
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
I. Produtos petrolíferos e de materiais relacionados
Volume Preço
0
200
400
600
800
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
I. a) Petróleo, exceto bruto
Volume Preço
0500
1000150020002500
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
I. b) Produtos petrolíferos
Volume Preço
0
200
400
600
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
II. Gás (natural e manufaturado)
Volume Preço
100
forma, o crescimento dos preços das exportações de combustíveis contribui para o
aumento da rentabilidade do setor, entretanto, conforme Figura 32, verifica-se que, o quantum de modo geral foi mais influente que o aumento do preço, nas exportações
de combustíveis minerais e produtos relacionados.
Já as exportações de produtos manufaturados cresceram um total de 343,5%,
de 2000 a 2010, com uma média de 16,3% de crescimento anual, mesmo perdendo
participação do total do valor exportado, durante a década, as exportações de
produtos manufaturados, e também vêm passando por uma gradual mudança na
sua estrutura produtiva. Havendo uma diminuição da participação de produtos
intensivos em trabalho, caracterizados por produtos manufaturados básicos, em
contrapartida do aumento das exportações, de produtos de maior valor agregado,
como máquinas e equipamentos de transporte, e produtos químicos.
Figura 33: Índia – Participação (%) das exportações de produtos manufaturados por segmento Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
No segmento de produtos químicos, destacam-se as exportações de
medicamentos genéricos. As quais, a Índia é atualmente a maior exportadora do
mundo. As indústrias farmacêuticas indianas possuem mão-de-obra altamente
qualificada e passaram a ter vantagem comparativa. O desenvolvimento dessas
indústrias ocorreu em função do mercado interno. Elas atendem 80% da demanda doméstica e exportam cerca de um terço da produção total (CHAUVIN, 2003, p. 36
apud BARBOSA; DE SOUZA, 2008).
Ademais em relação ao impacto da renda externa têm-se ainda, a formação
da taxa de crescimento dos quinze principais parceiros comerciais da Índia
(TCPPC), que é construído a partir da ponderação do PIB e da participação de cada
0%
20%
40%
60%
80%
100%Bens e artigosmanufaturados
Máquinas eequipamentos detransporte
Produtos químicos
101
país como destino das exportações indianas, de forma que, a cada ano os quinze
principais parceiros se alteram e suas respectivas participações também.
Figura 34: Índia - Taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais (TCPPC) Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Todas TCPPC plotadas em eixo secundário.
Assim, conforme Figura 34, após crescimento de 4% da TCPPC, em 2000,
esta se mantêm em cerca de 1%, durante 2001 e 2002, e em 2003, apresenta
recuperação de cerca de 2% e mantém uma média de 3,5% de crescimento até
2007, impulsionando a demanda doméstica destes países, e aumentando a
demanda por bens estrangeiros, e logo, uma parcela destinada aos produtos
indianos. Nota-se também que a TCPPC de produtos primários, denota maior importância para os resultados das exportações primárias, mantendo cerca de 2% a
mais de crescimento do que a TCPPC dos produtos manufaturados.
Em um estudo econométrico acerca dos determinantes das exportações dos
BRICs, Carvalho (2009, p. 147) afirma que, “com relação à Índia, a variável que
mede a contribuição dos principais parceiros comerciais (TCPPC) é importante para
explicar os ajustes de curto e longo prazo [...]”. Os principais destinos das exportações indianas, de produtos primários,
durante a década são: os Emirados Árabes, China, Estados Unidos, Singapura e
Japão. Já os principais destinos das exportações de produtos manufaturados são:
Estados Unidos, Emirados Árabes, Reino Unido, Alemanha e Itália.
Enfatiza-se então, a importância da taxa de câmbio artificialmente
desvalorizada, principalmente, no longo prazo, para as exportações, e em maior relevância, o impacto no curto prazo da renda externa. Para os produtos
-2%-1%0%1%2%3%4%5%6%
0
50.000
100.000
150.000
200.000
250.000Produtosmanufaturados
Produtos primários
TCPPC Todos osprodutos
TCPPC Produtosprimários
TCPPC Produtosmanufaturados
102
manufaturados, não se atribui grande relevância do aumento dos preços de produtos
petrolíferos, mas sim, ao excelente impacto da renda externa na pauta exportadora
indiana. Para os produtos primários, excluindo as exportações de combustíveis minerais, destaca-se que, estes absorveram o aumento da rentabilidade, gerada pela alta dos preços das commodities, principalmente os segmentos de minérios e
produtos alimentares (UNCTAD/STAT 2012).
4.3.2. Importações indianas
As importações indianas apresentaram um crescimento de 561%, em todo o
período, este crescimento está associado diretamente ao aumento da renda do país,
que vêm aumento a demanda doméstica destinado aos bens estrangeiros. Outro
fator condicionante do aumento do valor importado foi o aumento dos preços das
importações, puxado pelo aumento do preço do petróleo bruto. Atribui-se, também,
relativa importância ao crescimento das reservas internacionais, que reduziam os
índices de vulnerabilidade externa e aumentaram a capacidade de importar do país,
e em menor nível, ao processo de liberalização das importações adotado em 2002, visando diminuir as alíquotas das importações (SULTAN, 2011).
As estimativas econométricas da função da demanda por importações, para a
Índia, sugerem que a demanda por importação é explicada, em grande parte, pelo
PIB real, e é geralmente menos sensível às variações dos preços relativos das
importações. A respeito do processo de liberalização das importações, essa variável
apresenta pouco impacto sobre a demanda de importação (DUTTA; AHMED, 2006, tradução própria).
A participação das importações indianas, em relação às mundiais, passou de
0,77%, em 2000, para 2,28% em 2010. Importando em 2000 um total de US$ 52,9
bilhões, de 2000 a 2008 as importações cresceram mais de 496%, importando em
2008, US$ 315 bilhões. Em 2009, retrai 15% do valor importado em relação ao ano
anterior, e termina a série importando um total de US$ 350 bilhões, demonstrando
de um lado, a rápida recuperação da economia indiana, e de outro, a dependência
indiana de combustíveis minerais, principalmente de petróleo cru ou bruto, que em
2010 representava mais de 30% das importações.
103
Figura 35: Índia - Valor das importações por setor e participação (%) Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria. Nota: Participação dos setores plotada em eixo secundário.
Nota-se que de 2001 até 2005, a maioria das importações foi de produtos manufaturados, e a partir de 2006 esta situação inverte, as importações commodities
passam a constituir o principal setor importador indiano, que gradativamente passa a
aumentar, até o fim da década. Este menor crescimento dos produtos
manufaturados, em relação aos primários, em 2006, é devido à retração das
importações dos segmentos de ‘produtos minerais não metálicos’, que retrai 32%, e o segmento de produtos ‘químicos inorgânicos’ que diminuíram 10% do valor
importado no ano (UNCTAD/STAT, 2012).
Figura 36: Variação das taxas de crescimento e dos determinantes das importações Fonte: RBI – Set/2012, UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Taxa de crescimento do PIB e variação da taxa de câmbio real plotadas em eixo secundário.
De 2000 a 2002, as importações apresentam uma média de 5,2% de
crescimento anual, e de 2003 a 2008, média de 33,11%, percebe-se que este
aumento está associado primordialmente ao aumento da renda externa, conforme se
0%10%20%30%40%50%60%70%
0
100.000
200.000
300.000
400.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Produtos primários Produtos manufaturados
Participação dos primários Participação dos manufaturados
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
a)
Taxa de crescimento das importações (%)
Taxa de crescimento do PIB (%)
-15%
-10%
-5%
0%
5%
10%
15%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
b)
Taxa de crescimento das importações (%)
Variação do índice de taxa de câmbio realefetiva (%)
104
pode ver na Figura 36, a qual se tem, na parte ‘a’, a taxa de crescimento das
importações sendo em função da taxa de crescimento do produto interno, e na parte
‘b’, tem-se as importações como função da taxa de câmbio real efetiva. Notavelmente, após recuo do aumento da taxa de crescimento da economia
indiana em 2002, tem-se o aumento das importações, de forma que no período de
2000 a 2002, a média de crescimento da economia ficou em torno de 4,5% a.a, e no
período posterior, de 2003 a 2007, a média de crescimento foi de 8,6%,
acompanhado de um crescimento médio de 30% do valor importado anualmente.
A diminuição do crescimento das importações em 2006, como visto, foi devido
a queda do crescimento das importações de produtos manufaturados, que passa de
40,7% em 2005, para 11,1% em 2006. Em 2007, tem-se novamente a quebra do
ritmo do crescimento das importações, desta vez, sendo puxado pelo setor primário,
especificamente pelo segmento de ‘petróleo bruto’, que passa de um crescimento de
182% em 2006, para uma taxa de 29,8% em 2007. O ano de 2008 foi o único ano que houve a diminuição do ritmo de
crescimento da economia indiana, recuando 3,8 pontos percentuais, que, no
entanto, não parece ter tido muito impacto no resultado das importações, já que,
estas crescem 47,8% no ano. Esta falta de consonância teórica, em relação à renda
externa, é possivelmente explicada pela apreciação da taxa de câmbio real efetiva,
que apresenta apreciação de 9,2% em relação ao ano anterior, conforme Figura 36, parte ‘b’, implicando em maior poder de compra da moeda indiana perante o
mercado internacional.
Com relação aos preços relativos, as importações da Índia são
significativamente relacionadas, tanto no longo prazo e no curto prazo. No entanto, o
baixo coeficiente de importação implica que a Índia não é de natureza competitiva, e
a estratégia do seu processo de substituição de importações (PSI), não tem sido
capaz de fornecer os substitutos nacionais, para que estes produtos possam
competir com as importações. Uma vez que a elasticidade-preço é muito baixa,
como sugerido por Heien (1968), mesmo a depreciação cambial não pode ser uma
política eficaz para reduzir os déficits comerciais. Isso é evidente pelo fato de que,
apesar da depreciação da rúpia contínua desde o período da reforma, os déficits
comerciais continuam a subir. (SULTAN, 2011, tradução própria). Esta situação pode ser observável, a partir da Tabela 30, a qual se tem a taxa
de penetração das importações na economia indiana, rapidamente observa-se o
105
crescimento de mais de 10 pontos percentuais de 2002 a 2008, indicando que houve
o aumento da demanda interna satisfeita por importações (BAUMANN et al. 2010).
TABELA 30: ÍNDIA - TAXA DE PENETRAÇÃO DAS IMPORTAÇÕES (%)
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 11,1 10,3 11,2 12,0 13,4 16,0 17,7 17,1 22,3 18,5 18,9
Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
É evidente a relação de equilíbrio de longo prazo entre as importações reais
da Índia, da renda real, e o preço relativo das importações e as reservas cambiais. Através da análise do tamanho dos coeficientes, têm-se que, o rendimento interno
torna-se o fator mais importante na determinação do volume de importação, a longo
prazo, bem como, no curto prazo. A estimativa empírica mostra que, a importação no
longo prazo é elástica em relação à renda, e inelástica em relação ao preço relativo
das importações e reservas internacionais. Isto implica que o volume de importação
iria crescer em ritmo mais rápido do que o crescimento da renda do país e iria
deteriorar a balança comercial do país, se o crescimento da renda não é
acompanhado pelo crescimento das exportações (SULTAN, 2011, tradução própria).
Figura 37: Índia - Participação (%) das importações por segmento Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
Ainda, sobre a dependência energética indiana, concentrada em combustíveis minerais, a literatura tem afirmado que a alta dos preços destas commodities tem
tido um forte impacto na balança comercial indiana, principalmente a partir de 2004, de fato há a alta dos preços do petróleo, principalmente do petróleo bruto, que é o
principal produto importado pela economia indiana, assim o aumento do preço
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100% Pedras preciosas e ouro nãomonetárioMáquinas e equipamentos detransporteMáquinas e equipamentos detransporteProdutos químicos
Combustíveis minerais eprodutos relacionadosMinérios e metais
Matérias-primas agrícolas
Todos os produtosalimentares
106
implicou em uma maior participação deste produto na pauta importadora, e
influenciou de forma negativa o saldo comercial indiano durante a década.
No entanto, se analisado os dados de volume e preços das importações gerais, vê-se que, os índices passam a aumentar paulatinamente, e ao fim da
década, a partir da diminuição dos preços de produtos petrolíferos, o índice de preço
das importações passa a diminuir, em relação ao volume importado, corroborando
para o fato de que, a renda interna foi o principal condicionante do aumento das
importações indianas, e de forma menos expressiva, o aumento dos preços do
petróleo, que a partir de 2005, passa a ser o principal produto importado.
Figura 38: Índia - Volume e preços do total das importações e de petróleo Fonte: RBI – Set/2012; Elaboração própria. Nota: Volume e preço das importações em índice base 100 (2000).
Observa-se que, isto é devido muito mais ao aumento do preço deste, do que
o aumento do quantum importado, não obstante, a inelasticidade da taxa de câmbio,
no longo prazo, afeta de forma positiva as importações, já que, estas continuariam a
ser demandadas mesmo em uma situação muito adversa, no caso indiano, uma
política cambial fortemente depreciada, com intuito de agregar competitividade aos
produtos nacionais, desfavorece as importações. Contudo tem-se que, o aumento dos preços importados foi um fator preponderante para o aumento dos déficits do
saldo comercial indiano, conforme Figura 37.
A Índia adotou como estratégia, a política de câmbio controlado, para evitar a
valorização excessiva da moeda nacional, com acúmulo de reservas, seguindo a
tendência dos demais países da Ásia, sobretudo após a crise de 1997
(SCHATZMANN, 2009). Devido à esta política agressiva de acumulação de reservas do Reserve Bank of India (RBI). Deve-se ressaltar que, o aumento das reservas foi
050
100150200250300350
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Todas as importações
Volume Preço
0
100
200
300
400
500
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
2010
Petróleo e produtos petrolíferos
Volume Preço
107
em boa medida propiciado pelo aumento nos fluxos de capitais externos, em
particular IED e capitais de portfólio, sendo neste último caso de natureza bem mais
volátil (DE PAULA; BARCELOS, 2011, p. 719). Claramente nota-se o crescimento das reservas internacionais, que manteve
média de crescimento de 23,4%, passando de US$ 38,4 bilhões para US$ 276,2
bilhões em 2010, entretanto, após 2007, o crescimento mantêm-se em uma média
de apenas 1,25%, salientando o impacto da crise na economia indiana. “Esse
crescimento resultou fundamentalmente do comportamento de entrada nos fluxos de
capitais de portfólio, das remessas de indianos não-residentes para Índia e do IED
[...]” (IMF, 2008b, p. 20 apud FILHO: DE PAULA, 2009, p. 27).
TABELA 31: ÍNDIA - RESERVAS INTERNACIONAIS, INCLUÍNDO OURO
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 38.427 46.376 68.213 99.536 127.219 132.500 171.344 267.625 248.039 266.166 276.243 Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria. Nota: Reservas internacionais em US$ milhões, a preço e taxa de câmbio corrente.
As reservas cambiais passam a ser um fator estatisticamente significativo
que, afeta a demanda de importação, tanto no curto prazo, bem como no longo
prazo. No entanto, o seu impacto econômico é relativamente pequeno, sendo, a
elasticidade-renda estimada e a elasticidade-preço estimada, de maior significância
que a elasticidade das reservas. Não obstante, constitui um importante determinante
da importação (SULTAN, 2011, tradução própria).
Apesar do ganho de importância do setor externo para a economia da Índia, que se encontra atualmente mais aberta do que no passado, a abertura gradual e o
uso ostensivo da estratégia de acúmulo de reservas cooperam para manter
reduzidos os índices de vulnerabilidade externa, o que de certa forma justifica a
ausência de impactos significativos dos eventos adversos da economia mundial
sobre a trajetória de crescimento do produto indiano. Contudo, a médio-longo prazo
esta condição pode ser agravada dado o aumento da participação da dívida de curto
prazo em relação à dívida total e também da dependência excessiva da conta de
capitais para contrabalancear o déficit em transações correntes (SCHATZMANN,
2009).
108
4.4. Desempenho da balança comercial chinesa
De acordo com Lai (2009), nas últimas duas décadas, a taxa de crescimento
do comércio exterior da China não só ultrapassou a taxa de crescimento da economia mundial, mas também superou significativamente a taxa de crescimento
do comércio mundial. Isto prova que as principais forças motrizes vêm de mudanças
no ambiente econômico doméstico.
Alguns dos fatores mais importantes incluem: reformas econômicas
orientadas para o mercado, políticas comerciais e cambiais adequadas e, o
investimento direto de Hong Kong e da província de Taiwan, bem como
investimentos de empresas multinacionais. Todos estes, também direta e
indiretamente, trouxeram um aumento das importações de bens de capital e um
aumento da eficiência na indústria de transformação, que, por sua vez, promoveu
ainda mais o crescimento das exportações.
A China tem passado por um processo de abertura comercial e tem elevado
substancialmente sua participação no comércio internacional nos últimos 30 anos. As tarifas médias de importação caíram de aproximadamente 40% no início dos
anos 90 para cerca de 6% na década de 2000. A inclusão da China na OMC, a
partir de 2001, reflete sua maior abertura comercial e também contribuiu para
alavancar sua inserção como potência comercial global, ao permitir maior acesso de
produtos chineses aos mercados internacionais (BRITTO et al. 2009).
Cabe notar inicialmente que, dois dos elementos mais marcantes da trajetória
da economia chinesa no período recente – expressivo crescimento do setor
manufatureiro e expansão do comércio internacional – não são independentes. De
fato, boa parte do crescimento industrial pode ser explicada pelas vendas externas
do país. Durante os últimos anos, quase 90% das exportações da China
concentram-se em três setores industriais: equipamento e material de transporte, bens manufaturados e outras manufaturas. Suas importações são também
baseadas nestes setores, embora nos últimos cinco anos tem-se observado
crescente participação de combustíveis e lubrificantes, bem como de produtos
primários em geral. Dado o expressivo crescimento de setores intensivos em
commodities, a China tem sido a principal responsável pela expansão da demanda
mundial por produtos como minério de ferro, petróleo, cobre e soja, o que tem beneficiado países exportadores de matérias-primas, tanto pelo aumento dos
109
volumes exportados, como pela elevação generalizada dos preços de commodities
no mercado internacional (BRITTO et al. 2009).
A China manteve superávit da balança comercial em toda a década, de 2000 a 2004, apresenta crescimento médio de 9,5% do superávit, obtendo um saldo de
US$ 26,9 bilhões anualmente. No período seguinte, de 2005 a 2010, o superávit
passa a crescer acentuadamente até 2008, com uma média de 88,3% crescimento
do valor do superávit anual anual. Em 2009, o superávit recua 34,2%, cujo saldo foi
de US$ 196 bilhões, conforme Figura 39.
Figura 39: China - Saldo comercial e taxa de câmbio real efetiva Fonte: WDI/World Data Bank – Jun/2012, UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Saldo, exportação e importação em US$ Milhões FOB; taxa de câmbio real efetiva em índice base 100 (2005) plotada no eixo secundário.
Nota-se que, exceto pelo ano de 2001, a taxa de câmbio real apresentou
movimentos de apreciação cambial, sendo que, de 2000 a 2004, o índice recua 8
pontos percentuais, possibilitando uma relação de troca mais favorável para a
compra de produtos estrangeiros do que produtos domésticos. Observa-se que,
neste período de apreciação cambial, as exportações crescem 25,3% e as
importações 28,2%. No segundo período, de 2005 a 2010, o índice de taxa de
câmbio deprecia 18,7 pontos percentuais, frente a um crescimento médio de, 19% das exportações e 17,4% das importações. Estes fatos reforçam a afirmação que,
outros determinantes foram mais influentes que, a depreciação real da taxa de
câmbio, que, isoladamente não explica o ótimo desempenho comercial chinês.
A China tem mantido, desde 1994, um regime cambial que é considerado
formalmente um sistema de câmbio flutuante administrado com uma banda restrita –
A administração da taxa de câmbio na China tem sido permitida tanto pelo crescente
9095100105110115120125
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010
Valor total das exportações Valor total das importaçõesSaldo comercial chinês Taxa de câmbio real efetiva
110
e enorme volume de reservas internacionais quanto pela existência de controles na
entrada e saída na conta de capitais, sobretudo através de proibições e limites
quantitativos – o atual nível da taxa de câmbio é considerado, em geral, desvalorizado (FILHO; DE PAULA, 2006).
Na Tabela 32, nota-se a deterioração dos termos de troca, de 2000 até 2007,
o recuo deste índice indica uma pior razão de troca das exportações em relação às
importações, que só apresenta recuperação no final da década.
TABELA 32: CHINA - ÍNDICES SELECIONADOS DA BALANÇA COMERCIAL
Ano Índices %PIB
Volume de exportações
Volume de importações
Taxa de câmbio real efetiva
Termos de Troca
Balança comercial
Transações correntes
2000 100,0 100,0 108,5 100,0 2,02 1,72 2001 109,1 113,2 113,2 94,0 1,83 1,32 2002 135,4 139,4 110,6 92,0 2,09 2,43 2003 179,9 184,8 103,3 83,0 1,54 2,78 2004 235,8 230,7 100,5 86,0 1,65 3,53 2005 300,0 251,1 100,0 83,0 4,47 5,87 2006 375,8 284,1 101,6 78,0 6,36 8,35 2007 458,0 324,7 105,6 77,0 7,55 10,13 2008 506,6 332,1 115,3 79,0 6,58 9,10 2009 436,0 326,0 119,2 81,0 3,88 5,17 2010 562,4 426,3 118,7 91,0 3,17 5,32 Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; WDI/World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria Nota: Exportações, importações e termos de troca em índice base (100) 2000; taxa de câmbio real efetiva em índice base (100) 2005.
Conforme Britto et al. (2009), este fato, possivelmente, está ligado ao aumento dos preços das commodities, e também devido à competitividade da
economia chinesa, caracterizada por possuir vantagens competitivas, além de
apresentar ótimo desempenho, expresso nos resultados das transações comerciais,
possui elevado nível de eficiência sistêmica, estrutural e empresarial, o que implica
em uma maior capacidade de redução de custos e aumento da competitividade e da
expansão da China, que tem contribuído não apenas para elevar os preços das
commodities, mas também para o declínio nos preços de manufaturas, gerando uma
dinâmica de termos de troca desfavorável a países cuja pauta de exportação esteja
concentrada em manufaturas, particularmente, a partir de 2002. Nota-se também que, em todo o período a China foi credor mundial, uma vez
que, o saldo das transações correntes foi superavitário em todos os anos, chegando
111
ao ápice, em 2007, com um superávit de 10% do PIB, o equivalente a US$ 263
bilhões, e em seguida perdeu espaço na composição do PIB.
Podem-se apontar como principais condicionantes do elevado crescimento externo chinês, as altas taxas de investimento, uma maior abertura comercial,
política de estímulos favoráveis às exportações, a atração de investimentos
externos, a manutenção de um regime cambial rígido e favorável ao desempenho do
setor externo a partir de meados dos anos 1990 e os investimentos em capital
humano (VIEIRA; VERÍSSIMO, 2009).
4.4.1. Exportações chinesas
O IED têm importância expressiva na trajetória de crescimento e na expansão
das exportações no país, visto que, as empresas multinacionais são atualmente responsáveis por mais da metade das exportações chinesas (FLASSBECK, 2005
apud BRITTO et al. 2009).
As expressivas taxas de crescimento da economia chinesa, bem como
políticas favoráveis de atração de investimento externo direto, fizeram com que a
China se tornasse um dos destinos preferenciais de IED no período recente. De fato,
a China se tornou a maior receptora mundial de IED a partir de 1993. Cabe ressaltar
que, a política chinesa visa atrair empresas multinacionais como estratégia para
aprimorar seus conhecimentos tecnológicos e, posteriormente, fortalecer empresas
e indústrias nacionais. Portanto, o país estabelece exigências – como o estabelecimento de joint ventures e a realização de pesquisa e desenvolvimento
(P&D) localmente - para permitir que subsidiárias atuem em seu território e usufruam de seu mercado (BRITTO et al. 2009).
Além de se manter como principal destino dos investimentos diretos
estrangeiros mundiais, a partir dos anos 90, a China, também promoveu o aumento
destes investimentos, durante a década de 2000, conforme Tabela 33.
TABELA 33: CHINA - INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 40.715 46.878 52.743 53.505 60.630 72.406 72.715 83.521 108.312 95.000 114.734 Fonte: UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Investimento direto estrangeiro em US$ milhões a preços correntes.
112
Vê-se que, durante toda a década a China vem aumentando a entrada de
investimento estrangeiro no setor produtivo, que cresceu 159%, durante a década,
com uma média de 10,5% de crescimento anual. De acordo com Carvalho (2009, p. 88) o fluxo de IED permite a obtenção de
plantas produtivas muito competitivas, nos setores intensivos em capital e tecnologia
orientada à exportação. A difusão do conhecimento adicionado do ingresso de capital estrangeiro orientado ao setor produtivo permite o movimento de spillover de
métodos e tecnologias para a economia como um todo, em especial para o setor
exportador.
As evidências indicam que uma combinação de fatores é necessária para que se realize um espantoso crescimento do IED, como é o caso da China: tamanho da população chinesa, rápido crescimento econômico, a ascensão da China à OMC e as políticas de incentivo do governo chinês. Os baixos custos de produção e elevado retorno sobre o investimento. A China tornou-se parte integrante fundamental do processo de produção global integrada, na medida em que as firmas estrangeiras investem neste país como parte de suas estratégias globais (ALI; GUO, 2007 apud CARVALHO, 2009, p. 87).
A entrada do IED tem uma importância central na estrutura produtiva do país,
caracterizado por ser de alta qualidade, ou seja, baseado em setores de alta
tecnológica e maior dinâmica, o que reflete o aumento das exportações destes
produtos em contrapartida da diminuição das exportações de produtos intensivos em
trabalho e de produtos primários, conforme se vê na Figura 40.
Figura 40: China - Participação (%) das exportações por segmento Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100% Não classificados
Alta intensidade tecnológica
Média intensidadetecnológica
Baixa intensidadetecnológica
Intensivos em trabalho erecursos naturais
Produtos primários
113
As exportações, de produtos intensivos em trabalho e de produtos primários,
correspondiam a 48% das exportações em 2000, e em 2010 passa para uma
participação de 30%, já as exportações conjuntas, dos produtos de alta tecnologia e de média tecnologia eram responsáveis por 41% das exportações e em 2010,
passam a corresponder a 57%.
Essa mudança estrutural que vem ocorrendo na China desde a década de
1990, o que de acordo com Baumann et al. (2010), ocorreu em razão do
estabelecimento de dois regimes de comércio distintos. No primeiro regime,
caracterizado pela criação de zonas especiais, a partir das parcerias entre o capital
estrangeiro – gradualmente concentrado em setores mais intensivos em tecnologia –
e o capital nacional, o país deu início a um processo de internacionalização do setor
tecnológico. Já no regime ordinário, mediante a expansão das empresas estatais
especializadas no comércio em alta tecnologia, a China impulsionou um processo de
sofisticação de suas plantas produtivas e comandou um processo de difusão de tecnologia de ponta em setores chaves da indústria (como microeletrônica e
energia).
Em economias exportadoras de manufaturas, um dos obstáculos para avaliar
a paridade do poder de compra da moeda nacional é o de medir as mudanças
advindas do progresso técnico e da evolução da produtividade da indústria
doméstica. Por exemplo, quando uma firma lança um novo produto e a inovação é bem sucedida internacionalmente, seus lucros serão maiores se a moeda do país
estiver valorizada, posto que a demanda por produtos recém lançados no mercado
depende mais dos atributos hedônicos e tecnológicos da inovação que do preço. Da
mesma forma, se os índices de crescimento da produtividade da indústria local
forem superiores à média internacional, a apreciação da taxa de câmbio não afetará
o desempenho exportador do país, além de gerar benefícios colaterais, como os de
elevar os termos de troca da economia e reduzir eventuais pressões inflacionárias
utilizando-se do barateamento das importações (BAUMANN et al. 2010).
Esta situação supracitada, em alguns aspectos é observável na economia
chinesa, uma vez que, no período de 2000 a 2004, nota-se que, as exportações de
produtos de alta intensidade tecnológica obtiveram um maior crescimento que outros
setores, que foi de 241%, frente a um período de apreciação cambial real, que recua cerca de dez pontos percentuais. De fato a economia Chinesa é uma das mais
competitivas e inovadores no mundo, em produtos manufaturados, assim pode-se
114
supor que, variações no curto prazo da taxa de câmbio real não trazem significantes
alteração nas taxas de crescimento das exportações chinesas, devido à estrutura
dinâmica das exportações chinesas, fundamentadas em elevados níveis de progresso técnico.
Observa-se também que, a taxa de câmbio nominal, conforme Figura 41,
mantém-se estável, e em 2005 passa a sofrer leve apreciação nominal, que de 2005
a 2008 foi de 20%. Esta estabilidade cambial, que se apóia na subvalorização da
moeda, que favorece as exportações no longo prazo, garante mais segurança aos
agentes envolvidos no mercado chinês e também garante a atratividade de IED
(BRITTO et al. 2009).
Figura 41: China - Taxas de crescimento das exportações e taxas de câmbio nominal e real Fonte: WDI/World Data Bank – Jun/2012, UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Taxa de câmbio real efetiva em índice base 100 (2005) plotada no eixo secundário; e taxa de câmbio nominal plotada no eixo secundário.
A China é sensível às flutuações da taxa de câmbio real efetiva, a estimativa
de longo prazo da elasticidade das exportações chinesas, a partir de mudanças na
taxa de câmbio real efetiva, aponta fortes indícios de que, uma valorização real
reduz, substancialmente, as exportações no longo prazo. Este é o caso para as
exportações de bens processados (ou seja, transformados e re-exportados) e
exportações comuns (HERRERO; KOIVU, 2007, tradução própria). Além de um ambiente propício para o investimento direto estrangeiro, em
setores dinâmicos, subjetivos disseminadores do progresso técnico, apoiado em
uma política de câmbio favorável em setores estratégicos, o crescimento da
economia mundial que foi intrínseco ao crescimento da economia chinesa, foi um
0
2
4
6
8
10
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
a)
Taxa de crescimento (%) alta tecnologia
Taxa de crescimento (%) do total das exportações
Taxa de câmbio nominal (YUA/USD)
90%
95%
100%
105%
110%
115%
120%
125%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
b)
Taxa de crescimento (%) alta tecnologia
Taxa de crescimento (%) do total das exportações
Taxa de câmbio real efetiva
115
importante determinante para o ganho de market share da economia chinesa, no
mercado internacional.
Assim, na figura 42, têm-se a taxa de crescimento do PIB mundial, a TCPPC de produtos high-tech, a TCPPC de todos os produtos e o valor das exportações
chinesas, durante a década.
Figura 42: China - Taxa de crescimento dos principais parceiros comerciais (TCPPC) Fonte: UNCTAD/STAT – Ago/2012; World Data Bank – Jun/2012; Elaboração própria.
Nota-se a correlação entre, as variações do crescimento externo no valor total
exportado. A TCPPC dos produtos de alta tecnologia parece ter maior influência
como determinante das exportações, que a taxa de câmbio, já que, no período de
2000 a 2004, a taxa de câmbio real estava apreciada, e houve o crescimento das exportações, presumindo assim, o impacto da renda externa nas exportações
chinesas. Nota-se também que a paridade das taxas de crescimento do PIB mundial
e da TCPPC dos produtos de alta tecnologia, indicando a grande importância da
expansão do comércio internacional, como condicionante do excelente resultado
comercial chinês, durante a década.
Assim, conforme Ferreira e Cunha et al. (2009), a variável IED é importante para explicar as exportações da China, apresentando um coeficiente positivo e
significativo. Em termos setoriais, constatou-se que, a importância do IED se tornou
superior à medida que o conteúdo tecnológico das exportações aumentou, ou seja,
os coeficientes das estimações dos setores de exportação de média e alta
tecnologia foram superiores àqueles das estimações obtidas para os setores de
baixa tecnologia, que se referem à indústria de têxteis, vestuário e calçados. Outras
variáveis explicativas utilizadas no modelo de determinação das exportações
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
Valor total das exportações TCPPC Todos os produtosTCPPC Produtos de alta tecnologia Taxa crescimento do PIB mundial
116
chinesas apresentaram resultados importantes, como a taxa de investimento, o grau
de abertura, a taxa de câmbio e a renda externa.
A expansão da China nos mercados mundiais e sua maior abertura comercial tiveram também como consequência um aumento das exportações e importações
como proporção do PIB. Em 1990, estes valores eram de 20% e 15%,
respectivamente. Em 2008, as exportações correspondem a 39% do PIB, enquanto
as importações alcançaram 28% do PIB. Estes valores colocam a China como uma
das economias mais abertas do planeta, principalmente se comparada a outros
países de dimensão continental, como Brasil, Estados Unidos, Canadá, cujos fluxos
comerciais (exportações + importações) geralmente correspondem a menos de 30%
do PIB (BRITTO et al. 2009).
4.4.2. Importações chinesas
As importações chinesas cresceram 520%, durante a década, em 2000 a
economia chinesa importa um total de US$ 225 bilhões, e em 2010 passa a importar
anualmente um total de US$ 1,39 trilhões. A pauta importadora é baseada em
produtos manufaturados de maior intensidade tecnológica, merece destaque
também, o aumento das importações de produtos primários, principalmente, de
combustíveis, sendo a importação de petróleo o principal produto, deste segmento.
O desempenho da economia chinesa tem sido muito significativo nas últimas
duas décadas, sendo atualmente a segunda maior economia do mundo. A China
tem sido uma importante fonte de crescimento da economia mundial no período
recente. Esse crescimento tem sido acompanhado por uma notável expansão das exportações e consequentemente das importações, que cada vez mais se baseiam
em produtos de maior qualidade tecnológica, devido ao aumento da importação de
insumos de alta tecnologia, que suprem a indústria de transformação chinesa
(FILHO; DE PAULA, 2006, p. 29).
A concentração de bens sofisticados ocorreu não apenas na pauta de
exportações, mas também nas importações. Como as zonas especiais realizavam atividade de plataforma exportadora7, cada vez mais intensivas em tecnologia e
7 Essa atividade se caracterizava pela montagem mediante a associação de empresas estrangeiras e locais, de bens finais destinados à exportação para terceiros mercados, apoiando-se na importação de insumos produzidos nos países de origem das empresas estrangeiras.
117
cujas importações cumpriam o papel de fornecer insumos para a produção de bens
exportáveis, progressivamente as importações foram se deslocando para setores de
maior conteúdo tecnológico (BAUMANN et al. 2010).
Figura 43: China - Participação (%) das importações por segmento Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
De fato, de 2000 a 2006, os setores de alta intensidade tecnológica e de
média intensidade, vinham aumentando sua participação na pauta importadora, no
entanto, após 2006, suas participações começam a retrair, em contrapartida do
aumento da participação dos produtos primários. Nota-se também que, a
participação dos produtos intensivos em trabalho e recursos naturais,
gradativamente vem perdendo espaço nas importações chinesas, durante a década. O crescimento econômico sustentado na China desencadeou uma onda de
importações de energia, especialmente as importações de petróleo. Os resultados
sugerem que, no longo prazo, o crescimento da produção industrial e expansão dos
setores de transporte afetam as importações de petróleo da China, enquanto a
produção doméstica de energia tem um efeito de substituição. Assim, como a
economia chinesa industrializa e expande o setor automotivo, as importações de petróleo da China tendem a aumentar. Embora a produção de petróleo da China
doméstico tem um efeito de substituição de importações, o seu crescimento é
limitado, devido à reserva nacional de petróleo escassa e os custos de exploração
elevados. Prevê-se que, a China vai ser mais dependente do fornecimento de
petróleo no exterior, independentemente do preço mundial do petróleo. (WU; ZHAO, 2007, tradução própria).
0%10%20%30%40%50%60%70%80%90%
100% Alta intensidadetecnológica
Média intensidadetecnológica
Baixa intensidadetecnológica
Intensivos em trabalho erecursos naturais
Combustíveis minerais eprodutos relacionados
Produtos primários,excluíndo-se combustíveis
118
O equilíbrio comercial da China é sensível às flutuações da taxa de câmbio
efetiva real do yuan, embora o tamanho do superávit é tal que, a política de taxa de
câmbio por si só será incapaz de corrigir o desequilíbrio. Uma das principais razões pelas quais a redução do superávit comercial é limitado é que, as importações
chinesas são reduzidas com uma apreciação real da moeda. Estimando equações
de importação bilaterais, tem-se que, as importações de outros países do Sudeste
Asiático não apresentam grande variação, vista um período de apreciação cambial.
Esse resultado reflete a integração vertical do sudeste da Ásia com a China, através
da "rede de produção asiática". Tem-se por sua vez que, as importações chinesas
de países, com pauta exportadora dinâmica como a Alemanha - que atendem a
demanda doméstica da China - aumentam com valorização real da moeda
(HERRERO; KOIVU, 2007, tradução própria).
Observa-se que, a partir de movimento de apreciação cambial real, as
importações tendem a crescer como pode se ver na Figura 44, a qual na parte ‘a’, tem-se a taxa de crescimento das importações e a taxa real de crescimento do PIB
chinês, e na parte ‘b’ tem-se também a taxa de crescimento das importações, e a
variação do índice da taxa de câmbio real efetiva.
Figura 44: China - Variação das taxas de crescimento e dos determinantes das importações Fonte: RBI – Set/2012, UNCTAD/STAT – Jun/2012; Elaboração própria. Nota: Taxa de crescimento do PIB e variação da taxa de câmbio real plotadas em eixo secundário
Nota-se que, no período de 2000 a 2004, tem-se a média de crescimento
anual de 9,1% do PIB, uma média bem acima, dos países analisados neste estudo e
também da média mundial, o que de acordo com Blanchard (2007), implica em uma
maior demanda doméstica por bens, sendo que uma fatia desta variação da
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Taxa de crescimento das importações (%)
Taxa de crescimento do PIB (%)
-8%
-6%
-4%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
-20%
-10%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
Taxa de crescimento das importações (%)
Variação do índice de taxa de câmbio realefetiva (%)
119
demanda é destinada às importações. Ainda neste período, tem-se a apreciação da
taxa de câmbio real efetiva, cuja variação negativa foi de 8,5%, que indica o
encarecimento dos produtos produzidos domesticamente em relação aos produzidos no exterior, estimulando as importações.
No período de 2005 a 2010, tem-se novamente um cenário de expansão da
demanda, expresso pelo aumento da taxa de crescimento real da renda bruta
chinesa, que chega a crescer em 2007, a uma taxa de 14,2% a.a. De fato, o
desempenho da economia chinesa é notável, ainda mais quando se vê que, no fim
da década a economia chinesa ainda ostentava taxas de crescimento em cerca de
10% a.a.
No entanto, este excepcional aumento da renda chinesa não foi
acompanhado pelo aumento do ritmo das taxas de crescimento das importações,
que de 2005 a 2008, manteve uma média de 19% de crescimento a.a. A explicação
para isto pode residir em dois fatos distintos, o primeiro causado pela queda do ritmo de crescimento das exportações de produtos de alta tecnologia, as quais são
beneficiadas por insumos estrangeiros, e compõem o principal setor da pauta
comercial chinesa, e em segundo, pelo movimento de depreciação cambial real, que
de 2005 a 2008, apresenta variação positiva de 15,3%, o que de acordo com
Mankiw (2010), estimula as exportações e a retração das importações.
Esta menor participação das importações na formação da demanda agregada chinesa pode ser vista através da Tabela 34, a qual tem-se a taxa de penetração
das importações, que de acordo com Baumann et al (2010) indica o quanto da
demanda interna do país é satisfeita por importações.
TABELA 34: CHINA - TAXA DE PENETRAÇÃO DAS IMPORTAÇÕES (%) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 19,3 18,8 20,7 25,4 29,4 30,2 30,3 29,6 26,8 20,7 25,1
Fonte: UNCTAD/STAT – Jul/2012; Elaboração própria.
Nota-se que, de 2000 a 2004, houve o aumento de 52,3% da demanda
destinada as importações, o equivalente a 10,1 pontos percentuais de ganho na formação da demanda interna, e no período posterior, tem-se a queda da
participação das importações na demanda agregada. Presumindo assim que, no
primeiro a apreciação cambial foi o principal determinante do crescimento das
importações, acompanhado pelo crescimento da demanda interna, especialmente,
120
pela demanda de insumos de alta e média intensidade tecnológica, e no período de
2005 a 2010, o crescimento da renda interna assegurou o crescimento de 19% a.a
das importações, até 2008, de modo que, a taxa de câmbio depreciada, neste período, passa a ser um determinante negativo das importações, acompanhado pela queda das exportações de produtos higt-tech, o que fez com que, as importações de
commodities começassem a ganhar mais espaço na pauta comercial chinesa.
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A intenção desta investigação de identificar qual foi o impacto dos
determinantes macroeconômicos na balança comercial, de cada país, que compõem
o agrupamento BRICs. Conforme a teoria macroeconômica, existem três principais
determinantes das exportações líquidas de um país, permanecendo inalterados demais fatores, um movimento de depreciação da taxa de câmbio real aumenta as
exportações e também o saldo comercial; já o aumento da renda interna aumenta a
demanda interna e também a demanda por importações, o que ocasiona a
diminuição do saldo comercial; e o aumento da renda externa aumenta o saldo da
balança comercial. Destacam-se, inicialmente, outros fatores empíricos também
foram de extrema relevância para o desempenho comercial, como a variável preço e IED, assim como as particularidades relativas à abertura comercial e a estrutura
produtiva, se fazem presente na análise, de cada país.
Apoiando a hipótese inicial de que, a renda externa foi o principal
determinante dos resultados da balança comercial dos BRICs, utilizou-se do método
indutivo, sob a luz da teoria macroeconômica, procurando identificar correlações
entre as variáveis e delimitando os principais determinantes de cada país, durante o
período de 2000 a 2010, assim, este estudo procurou demonstrar o ‘peso’ de cada
país no comércio internacional, sob uma perspectiva dos seus respectivos
desempenhos macroeconômicos.
Primeiramente, verificou-se que, o período que se estende de 2000 a 2002 foi
marcado pela estagnação do crescimento do comércio mundial; de 2003 até 2008, tem-se um movimento de expansão comércio internacional, no qual manteve uma
média de 15% a.a de crescimento. Após o impacto da crise norte-americana, em
2009, o comércio internacional retomou crescimento, no entanto, claramente
desigual entre os países.
Este estudo também procurou identificar a formação da estrutura produtiva de
cada país, associado ao seu processo de abertura comercial e, logo, a formação estrutural da pauta comercial destes. Para o Brasil, embora na década de 1990,
tenha conseguido um razoável êxito em incorporar o progresso técnico internacional,
através da abertura econômica, e mesmo havendo uma grande entrada de IED
durante as duas últimas décadas, até porque estes investimentos foram pautados,
122
principalmente, no setor primário, e também devido às ínfimas taxas de crescimento
da formação bruta de capital, a caracterização da estrutura comercial externa
brasileira, durante a década, caminhou para um sentido de maior concentração nas exportações de produtos primários e nas importações de produtos manufaturados.
Não obstante, no caso da Rússia, a transição para uma economia de
mercado aberto foi formalmente definida por um projeto nacional, que busca a
inserção externa competitiva sob a égide de um Estado forte e orientador dos
investimentos e assumindo o controle sobre o setor energético. O que denotou,
durante a década, a dependência das exportações de petróleo da economia russa, e
concentração de produtos manufaturados na pauta importadora.
Para a Índia, a liberalização das importações trouxe consequências que
perduraram por toda a década, que foi sua deficiência estrutural na balança
comercial, uma vez que o IED e o investimento interno são, principalmente,
caracterizados em serviços. Já para a China, desde o início do processo de abertura economia no final
dos anos 1970, a economia chinesa tem caminhado em direção à incorporação ao
mercado global, apoiado pela forte formação bruta de capital fixo e poupança
interna, e também da entrada de IED em setores estratégicos, com políticas de
proteção a indústria de alta tecnologia, a China apresentou um resultado
espetacular, durante a década. Verifica-se a hipótese de que, crescimento mundial afetou de forma positiva a
balança comercial do BRICs, entretanto, de forma diferente para os países, sendo
que, a China foi o país que mais absorveu o crescimento desta variável.
Para o Brasil, de 2000 a 2003, a renda externa estagnada não contribui para
o aumento das exportações, pode-se afirmar que a taxa de câmbio depreciada foi o
determinante mais preponderante, neste período, de forma a aumentar o volume
exportado e diminuir o volume importado. No período posterior, de 2004 a 2010,
têm-se a dinamização da economia mundial acompanhado pela alta dos preços das commodities, sendo que, estes dois fatores foram os principais condicionantes do
aumento do saldo comercial. Em relação à política cambial, neste período tem-se a
apreciação cambial real, que influenciou negativamente as exportações,
principalmente, de produtos manufaturados, e influenciou positivamente as importações. Sendo responsável também, pelo aumento das importações, e com
123
maior importância, o aumento da renda interna, que estimulou a demanda por
produtos estrangeiros.
Para a Rússia a política cambial depreciada, durante toda a década, agregou maior competitividade aos produtos russos. No período, de 2000 a 2002, verificou-se
uma modesta diminuição do saldo comercial, diminuição que está ligada a retração
da economia mundial. No período de 2003 a 2010, o saldo comercial russo passa a
crescer gradualmente, devido principalmente ao aumento da demanda mundial,
expresso pelo aumento do PIB mundial, e pelo aumento dos preços das commodities, especialmente do petróleo, e em menor sensibilidade, os IEDs que, a
partir de 2004, passaram a se intensificar. O aumento da renda interna foi o principal
determinante do aumento das importações, mesmo que tenha sido verificado que, a
demanda destinada a importações venha diminuindo, o valor absoluto das importações, bem como seu quantum aumentou, durante a década.
A Índia foi o país, dentre os quatro, que obteve o pior desempenho da balança comercial, durante a década. De 2000 a 2002, assim como os outros países, não
apresenta grandes resultados, devido as complicação do comércio internacional no
período. No período posterior, embora tenha havido o crescimento das exportações,
associado principalmente ao aumento da renda externa e dos seus principais
parceiros econômicos, aliado a uma taxa de câmbio subvalorizada, que possui
menos importância, no curto prazo, porém importantíssima no longo prazo. O aumento dos déficits comerciais da Índia denota que, a política cambial
depreciada não é suficiente para a melhora do saldo indiano. Assim este estudo
aponta como principais determinantes do crescimento do déficit comercial indiano,
principalmente, o aumento da renda agregada do país, com menor influência tem-se
o aumento dos preços do petróleo, que aumentaram o valor importado, agravando
ainda mais o saldo comercial indiano.Destaca-se também o aumento do nível das
reservas internacionais indianas, auferido através do maior nível de exportações,
que ofereceram maior estabilidade e maior capacidade de importar, durante a
década.
Assim como a Índia, a China mantém um rígido controle sobre a taxa de
câmbio, sendo que, também é uma política cambial que visa estimular as
exportações. De fato, verifica-se que o crescimento econômico da China foi o principal motor do arrefecimento da economia mundial, no período de 2003 a 2010,
de forma a afetar por dois canais: pelas importações, as quais cresceram
124
substancialmente, elevando os preços das commodities, e pelas exportações, as
quais se caracterizam, em produtos manufaturados e de alta tecnologia, que
expandiram-se pelo mundo todo. Este excelente resultado comercial chinês, não pode ser explicado apenas,
pela política comercial, baseada pela proteção a setores dinâmicos, e pela política
cambial, que mantêm uma moeda depreciada. De acordo com a literatura exposta
neste estudo sobre a balança comercial chinesa, o principal determinante do saldo
comercial chinês são as vultosas entrada de investimento direto estrangeiro, que se
intensificou, durante a década.
Além de, uma política econômica voltada à atração de IED em setores
estratégicos, apoiada em uma moeda depreciada, verifica-se que o crescimento da
economia mundial foi intrínseco ao crescimento da economia chinesa. Sendo assim,
influenciando de forma positiva e intensa, o saldo comercial chinês. Nota-se também
que, o ritmo de crescimento das importações chinesas acompanha o nível de exportações, principalmente no setor de alta intensidade tecnológica, o que coloca
as exportações de produtos de alta tecnologia como um determinante das
importações, já que estas são utilizadas, principalmente com insumo para a indústria
da transformação, destinada a exportações.
A partir das conclusões alcançadas neste trabalho vê-se que gradualmente
cada vez mais, o comércio internacional é visto como um mecanismo de elevação da renda interna dos países emergentes, a partir desta afirmação é notável o
interesse de pesquisas científicas nesta vasta área. Assim, em função deste novo
cenário geoeconômico mundial é extremamente relevante a ampliação do
entendimento e pesquisa sobre as relações comerciais, não só das economias
emergentes mas da economia mundial.
125
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ANEXO I – Países integrantes dos blocos econômicos – UNCTAD/STAT (2012).
MERCOSUR (Mercado Común Sudamericano) ASEAN (Association of South-East Asian Nations)
Argentina Brunei Darussalam Brazil Cambodia Paraguay Indonesia Uruguay Indonesia (…2002)
NAFTA (North American Free Trade Agreement) Lao People's Dem. Rep.
Canada Malaysia Mexico Myanmar United States Philippines APTA (Asia-Pacific Trade Agreement) (Former
Bangkok Agreement) Singapore
Bangladesh Thailand China Viet Nam India EU (European Union) Korea, Republic of Austria Lao People's Dem. Rep. Belgium Sri Lanka Bulgaria
BSEC (Black Sea Economic Cooperation) Cyprus Albania Czech Republic Armenia Czechoslovakia Azerbaijan Denmark Bulgaria Estonia Georgia Finland Greece France Republic of Moldova Germany Romania Germany, Democratic Republic of Russian Federation Germany, Federal Republic of Serbia Greece Turkey Hungary Ukraine Ireland
Italy
Latvia
Lithuania
Luxembourg
Malta
Netherlands
Poland
Portugal
Romania
Slovakia
Slovenia
Spain
Sweden
United Kingdom