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UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO
CURSO DE LICENCIATURA EM HISTRIA
RELAES SOCIAIS ESCRAVAS-
RIO DE JANEIRO- 1790-1830
Por:
MARIANA SANTOS DE CARVALHO
RIO DE JANEIRO 2014
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MARIANA SANTOS DE CARVALHO
RELAES SOCIAIS ESCRAVAS-
RIO DE JANEIRO- 1790-1830
Trabalho apresentado como avaliao na
disciplina: Seminrio de Concluso de Curso.
Curso de Licenciatura em Histria da
Universidade Castelo Branco. Orientador: Prof.
Dr. Carlos Faria Jnior.
Rio de Janeiro, 11 de julho de 2014.
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TERMO DE APROVAO
Nome: Mariana Santos de Carvalho
Ttulo: Relaes Sociais Escravas- Rio de Janeiro- 1790- 1830
Trabalho de Concluso de Curso submetido coordenao do Curso de
Licenciatura em Histria da Universidade Castelo Branco (UCB), como requisito
parcial para a obteno do grau de Licenciado em Histria.
Aprovado em: ____/_____/____
BANCA EXAMINADORA:
____________________________________________
Primeiro Avaliador
____________________________________________
Segundo Avaliador (a)
____________________________________________
Terceiro Avaliador (a)
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AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus por permitir a concretizao deste sonho e orientar-me nos
momentos de dificuldade.
Ao meu orientador, professor e Dr. Carlos de Faria Jnior por seu apoio, pacincia, e
compreenso, fundamental para a realizao deste trabalho de concluso.
Aos meus pais, a quem tenho uma profunda admirao e respeito, por seu apoio,
carinho, amor e incentivo em toda minha vida.
Jos Augusto, por seu apoio e incentivo nos momentos de dificuldade. Sua
amizade, carinho e companheirismo foram fundamentais para que este trabalho se
realizasse.
Aos meus amigos, companheiros de caminhada, que sempre me apoiaram e
ajudaram direta ou indiretamente e que de alguma forma contriburam para a
realizao deste trabalho.
E a todos que estiveram ao meu lado, o meu muito obrigada.
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Que os vossos esforos desafiem as impossibilidades,
lembrai-vos de que as grandes coisas do homem foram
conquistadas do que parecia impossvel. .
Charles Chaplin
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Resumo
O presente trabalho tem como foco tratar assuntos referentes escravido no Brasil,
mas especificamente no Rio de Janeiro entre os anos de 1790 1830.
O vigente trabalho apresenta as diversas formas de resistncia negra no Brasil
escravista e como ocorriam. parte fundamental deste trabalho de concluso de
curso apresentar como ocorriam as relaes sociais entre os cativos, e quais critrios
eram seguidos para que estas relaes ocorressem. Alm disso, foram analisadas as
formaes da famlia escrava e qual sua importncia como forma legtima de
resistncia negra e para a formao dos costumes herdados pela sociedade atual
brasileira.
Palavras chave- escravido- relaes sociais- famlia- escrava
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Abstract
This work focuses on treating issues relating to slavery in Brazil, but specifically in Rio
de Janeiro between the years 1790-1830.
The current paper presents the various forms of black resistance in Brazil and how
slavery occurred. It is a fundamental part of this work of completion presented as
occurring social relationships among the captives, and what criteria were followed so
that these relationships occur. Furthermore, we analyzed the formation of slave
families and what its importance as a legitimate form of black resistance and the
formation of customs inherited by current Brazilian society.
Keywords slavery- relations social-family-slave
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Sumrio:
Introduo...................................................................................................9
Capitulo I- A Escravido no Brasil 1790-1830...........................................11
Capitulo II- As relaes sociais escravas...................................................24
Capitulo III- A formao das famlias escravas..........................................30
Concluses.................................................................................................38
Referncias Bibliogrficas...........................................................................40
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Introduo
A escravido e toda a sua conjuntura tm sido frequentemente objeto de estudo na
historiografia brasileira.
Entender esse complexo sistema e como perdurou durante tanto tempo no Brasil de
extrema importncia.
O vigente trabalho apresenta de que forma se construiu o Brasil escravista, partindo
desde as primeiras necessidades de adquirir a mo de obra escrava, as relaes
com o trfico transatlntico, e como este se tornaria o meio econmico mais lucrativo
do Atlntico Sul.
O contingente de homens escravizados que tiveram como seu destino o Brasil
estimado em mais de trs milhes, tratando-se somente do trfico legal de cativos.
A apropriao da mo de obra negra, alm de ser lucrativa para o imprio portugus
era justificada em prol de uma suposta salvao dos negros, pois diante das
diferenas tnicas e culturais, os ditos demonacos necessitavam ser salvos deles
mesmos, e a funo do portugus colonizador, era ento, catequiz-lo, o salvando.
Contudo, a viso deste trabalho apresentar o outro lado da escravido.
Por vezes, quando o assunto da escravido tratado no h uma preocupao em
expor as lutas do escravo, o colocando somente como vtima deste terrvel sistema
econmico.
Isto negligencia a histria do negro no Brasil e toda a sua luta.
Os escravos lutaram e sempre resistiram aos meios de controle, seja atravs das
fugas, ou das negociaes e barganhas com o senhor de engenho, mostrando que
seu papel era fundamental para que o trabalho, de fato acontecesse.
Isso se contrape a figura do escravo que vivia somente ameaado pelo aoite e a
violncia.
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A violncia existia de fato, mas caso fosse a nica forma dos senhores conseguirem
o esforo do trabalho, a escravido teria perpetuado por tanto tempo? Haveria
escravos para isto?
O fato que a negociao era fundamental tanto para os senhores, quanto para os
escravos.
A questo fundamental apresentada neste trabalho de concluso mostrar como se
estabeleciam as relaes sociais entre os escravizados no Brasil.
Os cativos formavam grupos seguindo uma linha de afinidades tnicas comuns, estes
grupos criavam laos de solidariedade e resistncia.
A escolha afetiva por parceiros seguia a endogamia, ou seja, era importante pertencer
a um grupo cultural e tnico igual ou similar.
A formao das famlias, assunto de extrema relevncia nos estudos acerca sobre a
escravido, seguia o mesmo modelo de afinidade.
A famlia escrava era um smbolo da luta e das conquistas escravas, era um dos meios
de resistncia para sobreviver a escravido.
O assunto discutvel entre os autores Manolo Florentino e Robert Slenes que
denotam funes diferentes para a estas famlias.
O primeiro sugere que esta foi responsvel pela manuteno da escravido e pelo
maior controle senhorial e o segundo a v como uma forma legtima de resistncia
negra.
O que de fato certo, que estas famlias foram responsveis por deixar as
referncias culturais e as heranas africanas que temos hoje na sociedade brasileira,
seja no mbito religioso, gastronmico ou cultural.
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Capitulo I
Escravido no Brasil: 1790-1830
A escravido no Brasil se apresentou sob aspecto de uma experincia de longa
durao que marcou diversos processos e aspectos da cultura e da sociedade
brasileira e que se tornou historicamente parte essencial para a compreenso de
nossa sociedade, uma vez que a histria seja ela cultural ou social, que temos e
vivemos hoje, em parte uma resultante dos processos histricos ocorridos na poca
supracitada.
necessrio primeiramente compreender como se dera o processo da vinda dos
africanos para o Brasil, atravs do trfico de escravos.
Havia por parte do imprio portugus, objetivos mercantilistas relacionados
expanso econmica, de forma que era necessrio negociar mo de obra para suprir
as necessidades, pois partindo do pressuposto da instalao de uma agricultura
baseada na plantao de cana de acar, a mesma precisaria de um contingente
maior de pessoas. Neste sentido a mo de obra escrava seria uma soluo eficaz.
Segundo estudos de Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho, a preferncia
por escravos de origem africana fez com que os portugueses voltassem o trfico para
o continente africano. Devido ao grande aumento pela procura de escravos no Brasil,
o trfico passou a ser extremamente lucrativo, tornando-se uma fonte de riqueza entre
as duas margens do Atlntico. Modifica-se, desta forma as relaes iniciais advindas
da expanso ultramarina: o trfico de escravos africanos iria transforma-se no meio
econmico mais lucrativo do Atlntico Sul.
1- - ALENCASTRO, Luis Felipe, O trato dos Viventes - Formao do Brasil no Atlntico Sul - Sculos XVI e XVII, So Paulo, Cia das Letras
2- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais;Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. P 41
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Atravs das relaes no Atlntico Sul, foi adquirido mo de obra escrava (que a
expropriao da fora de trabalho). Esta visava garantir mecanismos de controle para
melhor compor a unidade do imprio, utilizando para isto a funo missionria nas
colnias, o que norteia e justifica parte do processo. De modo que para justificar o
trfico de mo de obra escrava inseria-se o sentido de uma suposta salvao
queles que segundo os ideais do imprio portugus necessitavam ser salvos de seus
modos de vida. Como trata a teoria fundamentadora de Padre Antnio Vieira:
S os negros cristos conheceriam o resgate eterno do Paraso. Os outros, vivendo no
paganismo na frica, estavam condenados ao Inferno (ALENCASTRO, 2000, P18)
Neste sentido, relevante compreender que no sculo XVIII, o conceito de civilizao
era complementado pela justificativa religiosa, relacionando o trfico atlntico ideia
de introduo de uma cruzada contra as supostas barbrie e selvageria africana.
Neste mbito, a expropriao dos negros de seu lugar de origem seria justificvel em
prol de uma suposta salvao dos mesmos.
Esta abordagem consistiria em libertar os africanos do paganismo para se tornarem
cristos. Isto era embasado na crena de que era misso deles como, colonizadores,
civilizados e, sobretudo cristos, salvar os negros africanos, retirando-os de seu
continente e assim tornando-os civilizados e cristos na Amrica. Porm esta
cristianizao estaria inserida no projeto de colonizao, uma vez que, realizando a
converso ao cristianismo a dominao e a explorao seria mais eficaz, obtendo
maior xito. Neste sentido a presena e atividade dos jesutas fora essencial para que
este projeto se concretizasse.
3- ALENCASTRO, Luiz Felipe de, O Trato dos Viventes. Formao do Brasil no Atlntico Sul, So Paulo, Companhia das Letras, 2000. P. 18
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Na justificativa teolgica do Sistema Colonial, mais uma vez o Brasil
colnia- purgatrio. Nela, portugueses cristos se viram s voltas
com a escravizao do seu semelhante, e nesta contradio mxima,
teve grande peso o papel da Igreja como formuladora e veculo de uma
teologia justificativa. (SOUZA,1986. P 79)
Pode-se, desta maneira, compreender que este Brasil colonial era visto como um
purgatrio, 4 e o negro africano o ser demonizado que necessitava conhecer os
preceitos e a civilizao crist, para assim ser salvo.
Neste sentindo cabe citar que segundo os preceitos europeus, as religies africanas
no eram aceitveis, sendo costumeiramente relacionada obscuridade e a atos
ditos diablicos
Partindo de um pressuposto de que havia a predominncia do cristianismo, as
religies, ritos e costumes advindos do continente africano eram sempre relacionados
aos atos demonizados, uma vez que eram totalmente distintos do que era at ento,
conhecido por eles.
Pode-se afirmar assim, que incitando a demonizao do negro, ficara mais fcil
justificar a escravido, j que mais uma vez, o sentido missionrio, vem tona.
Com relao mais precisamente a origem destes negros trazidos atravs do trfico
para o Brasil, tem-se os seguintes dados: Alguns estudos tratam de um contingente
de cerca de trs milhes e meio de africanos introduzidos no Brasil at a abolio do
trfico.
4 - SOUZA, Laura de Mello e, O diabo e a Terra de santa cruz: feitiaria e religiosidade popular no Brasil colonial. So Paulo: Companhia das Letras.1986. P 89
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Segundo Curtin 5, o Brasil, importou entre 1761 e 1820, cerca de 1198000 escravos,
destes cerca de 75% eram procedentes de Angola.
O que demonstra o nmero expressivo de pessoas que adentraram no pas a fim de
desenvolver e afirmar a escravido africana como mo de obra bsica da colnia.
No incio do sculo XIX, o Brasil tinha uma populao de 3.818.000
pessoas, das quais 1.930.000 eram escravas. Em algumas partes do
Brasil, o nmero de escravos chegou a superar o nmero de pessoas
livres. (ALBURQUERQUE, 2006. p-66)
Os estudos de Iracy Del Nero da Costa, para a populao de Vila Rica, constam que
em 1804, dos escravos africanos, 15,24% eram sudaneses, e 84,67% eram bantos.
Com relao aos j escravizados no Brasil, 59,22 de seu total j tinha nascido na
colnia, destes 12,33 % eram pardos. 5
No que tange as origens dos escravos africanos, Karasch 6 divide a origem dos
africanos em diversas reas de concentrao, classificando-as em de ocidental,
centro ocidental e oriental. Alm destas, a autora cita aquelas consideradas de
origem africana desconhecida, das quais se destacam as congas, angolas, cabindas,
benguelas, cassanges e moambiques.
Temos, portanto, a partir da historiografia sobre a escravido e o quantitativo de
escravos no Brasil, o quanto a expropriao de mo de obra no continente africano foi
intensa, abrangendo diferentes reas territoriais, de modo que a historiografia sobre a
escravido no Brasil, bem como sobre o trfico de escravos sugere o quanto a
expropriao de mo de obra colaborou para a miscigenao de diferentes povos no
continente.
5- SILVA, Maria Beatriz Nizza da, Nova histria da Expanso portuguesa, O imprio luso- Brasileiro 1750-1822., So Paulo, Editorial Estampa, 1986.P 49
6- KARASCH, Mary. A Vida dos Escravos no Rio de Janeiro (1808-1850). Traduo Pedro Maia Soares. So Paulo: Companhia das Letras, 2000.
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Aps a longa travessia ocenica, os africanos desembarcavam nos portos do Brasil:
Rio de Janeiro, Salvador, Recife, Fortaleza, Belm e So Lus eram os grandes portos
importadores e redistribuidores de escravos para diversas regies da colnia.7
H de se levar em considerao, que estes dados tratam-se do trfico legal, pois de
fato o quantitativo de africanos que embarcaram de forma clandestina, atravs do
trfico ilegal de escravos, expressivamente maior.
Com relao aos destinos de desembarque, pode-se estabelecer que o porto do Rio
de Janeiro era importante para todo comrcio colonial, e consequentemente a cidade
atlntica mais importante para o recebimento de negros africanos entre o final do
sculo XVIII e a primeira metade do sculo XIX, o que de fato favoreceu a expanso
do escravismo na regio.
Segundo Curtin, entre 1723 e 1771, do maior porto negreiro africano do sul do equador
(Luanda) foram exportados 203.904 escravos, dos quais metade teve por destino o
Rio de Janeiro.8
Segundo dados do IBGE:
Chefes polticos e mercadores da frica Centro-Ocidental (hoje regio
ocupada por Angola) forneceram a maior parte dos escravos utilizados
em toda a Amrica portuguesa. No sculo XVIII, o comrcio do Rio de
Janeiro, Recife e So Paulo era suprido por escravos que vinham da
costa leste africana (oceano ndico), particularmente Moambique. No
comrcio baiano, a partir de meados do sculo XVII, e at o fim do
trfico, os escravos eram oriundos da regio do Golfo de
Benin (sudoeste da atual Nigria) . (IBGE, 2000)
7- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais;Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. P 42
8- SILVA, Maria Beatriz Nizza da, Nova histria da Expanso portuguesa, O imprio luso- Brasileiro 1750-1822., So Paulo, Editorial Estampa, 1986.
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Boris Fausto, aponta em Histria do Brasil: "estima-se que entre 1550 e 1855
entraram pelos portos brasileiros 4 milhes de escravos, na sua grande maioria jovens
do sexo masculino 9. Com relao a tipologia dos africanos o autor cita que:
"Costuma-se dividir os povos africanos em dois grandes ramos
tnicos: os sudaneses, predominantes na frica ocidental, Sudo
egpcio e na costa do golfo da Guin, e os bantos, da frica Equatorial
e tropical, de parte do golfo da Guin, do Congo, Angola e
Moambique. Essa grande diviso no nos deve levar a esquecer que
os negros escravizados no Brasil provinham de muitas tribos ou
reinos, com suas culturas prprias. Por exemplo: os iorubas, jejes,
tapas, hauas, entre os sudaneses; e os angolas, bengalas, monjolos
e moambiques entre os bantos (FAUSTO,1986, p 29)
Com relao estrutura econmica do Rio de Janeiro na poca, Joo Fragoso e
Manolo Florentino informam que a economia colonial tardia da cidade poderia ser
compreendida por dois movimentos que estariam ligados: o primeiro seria a mudana
nas formas de acumulao (que estavam intimamente ligadas ao setor agrrio-
exportador) e o segundo seria a transformao do Rio de Janeiro na principal praa
mercantil do Atlntico Sul (que possibilitou grande ascenso comercial devido ao
trfico).
Algo extremamente relevante no que tange o tema de escravido analisar os
processos internos e desmitificar algumas caractersticas que norteiam por vezes o
entendimento geral de como se promoveu a escravido no Brasil, estudando mais
especificamente o Rio de Janeiro. Deste modo cabe pensar algumas particularidades,
no que tange mais precisamente as relaes entre o senhor e o escravo.
9- FAUSTO, Boris, Histria do Brasil, So Paulo, Edusp, 1996, P 29
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Segundo Joo Jos Reis, Os escravos no foram vtimas nem heris o tempo todo,
se situando na sua maioria e a maior parte do tempo numa zona de indefinio entre
um e outro plo (REIS, 1989, p 7)
Partindo deste princpio, pode-se analisar uma das grandes questes acerca dos
estudos sobre o tema escravido. Que a vertente que parte de um pressuposto
aonde o escravo visto somente como vtima do perodo, negligenciando sua histria
e lutas. Esta vertente visa compreender todo o processo, buscando analisar somente
as relaes entre senhor e escravo, no mbito do consenso ou da violncia. Bem
como as diversas formas de vida, o que negligencia as diversas formas histricas que
relatam os meios de sobrevivncia e resistncia negra, no que tange o perodo da
escravido.
Segundo Reis, havia um espao social que tecia tanto de barganhas quanto de
conflitos, (REIS, 1989, P 7) o que incita que havia por diversos momentos entre os
escravos e seus senhores uma relao de negociao.
Com relao a esta negociao, importante ressaltar o fato que at mesmo as fugas
dos escravos eram uma resultante dos meios de negociao, de maneira que quando
a negociao falhava, ou por vezes no era possvel, abriam-se os caminhos para
uma ruptura entre senhor e escravo.
Estas negociaes eram comuns no Brasil colonial, escravos e senhores
estabeleciam o tempo todo um sistema de barganha, afim de uma resoluo em
comum, porm, quando por vezes o senhor de engenho no cedia s negociaes,
escravo como forma de resistncia, fugia.
H inclusive casos de escravos que fugiam como forma de pressionar o senhor a
negociao. Reis cita que: Conhecedores das malhas finas do sistema, escapavam
muitas vezes j com inteno de voltar depois de pregar um susto no senhor e,
assim, marcar o espao de negociao no conflito. (REIS, 1989, P 9)
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A anlise destas negociaes aponta a compreenso e a necessidade da existncia
das mesmas, e um sistema econmico totalmente dependente de mo de obra
escrava, o qual no se desenvolveria nem progrediria sem um sistema de negociao,
uma vez que tal sistema dependia de atitudes cooperativas para seu desenvolvimento.
Reis comenta, por exemplo, que no ano de 1789, os escravos do engenho Santana,
em Ilhus, se rebelaram e redigiram um documento contendo vrias reivindicaes.
Em uma delas, exigiam a reduo do tempo de trabalho na lavoura de cana e o direito
ao lazer. 10
Contudo, no s de negociaes o regime escravista se estabeleceu. Outras
caractersticas tambm o norteiam.
No que se refere ao ritmo de trabalho, Henry Koster observou algumas variantes como
o fato: o escravo rural, sobretudo os que trabalhavam nas plantaes de cana, tinha
um ritmo de trabalho que ia do nascer ao pr do sol, com uma pausa de meia hora s
8 da manh para o almoo e outra pausa do meio-dia s 2 para o jantar. 11
Ainda segundo Koster havia variaes no ritmo de trabalho dependo da regio em que
o escravo se encontrava, de modo que em regies onde a religio catlica prevalecia,
os negros africanos ficavam isentos de participar de festejos e comemoraes
santas. 12
10- REIS, Joo Jos, SILVA, Eduardo, Negociao e conflito, a resistncia negra no Brasil escravista, So Paulo, Companhia das Letras, 1989, P 20
11- SILVA, Maria Beatriz Nizza da, Nova histria da Expanso portuguesa, O imprio luso- Brasileiro 1750-1822., So Paulo, Editorial Estampa, 1986. P 532
12-- SILVA, Maria Beatriz Nizza da, Nova histria da Expanso portuguesa, O imprio luso- Brasileiro 1750-1822., So Paulo, Editorial Estampa, 1986. P 532
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O escravo brasileiro estava submetido a um trabalho menos duro do
que aquele que vivia em regies onde no prevalecia a religio
catlica: os numerosos dias santos, alm de domingos, durante os
quais a igreja exigia descanso, aumentavam a disponibilidade do
escravo que podia simplesmente repousar ou trabalhar para si
prprio. (Koster, p.518)
Com relao mdia de vida e produo do escravo africano Schwartz mostrou que
no Brasil do ltimo quarto do sculo XIX a expectativa de vida dos escravos, ao
nascer, variava em torno de 19 anos. 13
Contudo necessrio considerar os fatores que levavam a uma expectativa de vida
to baixa. Jacob Gorender afirma que:
necessrio levar em conta as condies cotidianas da vida para
entender o tratamento dispensado aos cativos, tais como: quantidade
e qualidade da alimentao, vesturio, habitao, durao da jornada
laboral e outras condies de trabalho, nesse caso, os tipos e a
frequncia dos castigos impostos aos escravos (GORENDER, 1978)
Ainda com relao ao ritmo de trabalho, sabe-se que nos engenhos e fazendas de
caf os cativos o aumentavam na presena de senhores e feitores, mas com o
afastamento dos mesmos, procuravam fazer pequenas pausas para descansar.
13- SCHWARTZ, Stuart B. Segredos Internos: engenhos e escravos na sociedade colonial (1550-1835). So Paulo: Companhia das Letras, 1988.
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Outra caracterstica apresentada pelos cativos era a ao de entoar cnticos
improvisados, chamados de jongos, que serviam para ritmar o trabalho e, quando
preciso, alertar os companheiros da aproximao dos senhores e feitores. Isso
demonstra linguagens utilizadas pelos cativos maioria delas desconhecidas dos
senhores no sentido de manter sua resistncia. 14
Um ponto relevante que no desenrolar da histria da escravido no Brasil, vrias
propostas sobre a administrao ou manuteno do trabalho escravo foram
desenvolvidas, temos como exemplo Lus dos Santos Vilhena.
Este defendia que os senhores deveriam manter os escravos fartos, vestidos e
contentes, pois assim, se reduziriam as chances de rebelies. O que de fato era uma
ttica que atrairia resultados. 15
Os escravos fartos, vestidos e contentes, no sucederia o morrerem-
lhes muito de misria, e trabalho, o que por desfalecidos sucumbem;
ento se poderia com justia puxar alguma vez mais por eles; ento
seriam castigados com razo se furtassem, e ento deixariam de ser
enterrados quase todas as semanas sacos de dinheiro por que se
compram. ( VILHENA, P 136)
Estas propostas administravas visaram, sobretudo, preservar a vida de trabalho do
escravo, prolongando o perodo de servio til do mesmo e assim poupando o senhor
de engenho de repor o servio com um novo escravo.
14- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais;Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. P 78
15- MARQUESE, Rafael de Bivar, Administrao e escravido: Idias sobre gesto da agricultura escravista brasileira. So Paulo: Hucitec: FAPESP, 1999, P 136
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Entre as formas de administrao dos escravos no Brasil colonial, a instruo religio
tinha papel fundamental no controle dos cativos.
Manoel Ribeiro Rocha descreve argumentos que comprovam esta importncia 16:
A propagao da f crist, a no privao dos bens espirituais para
os escravos, e a incitao a obedincia trazida pela catequese, pois a
f, que se recebe no batismo, faz o servo mais pronto e fiel ao servio
de seu senhor. (ROCHA, 1982 p 86-7)
Afirmando assim a importncia desta administrao.
Com relao aos meios de resistncia escrava, pode se afirmar que todo o perodo
de escravido na Amrica foi marcado por fugas e meios de resistncia, assumindo
diferentes faces.
A manuteno de costumes, rituais, e simbologias africanas, era um meio de
resistncia negra contra a imposio de culturas e crenas que eram distintas das
suas.
A tipologia dos meios de resistncia escrava podem basicamente se definir pelos
seguinte componentes: a desobedincia sistemtica, a lentido na execuo das
ordens dadas, a sabotagem da produo e as fugas individuais ou coletivas. 17
Reis e Silva consideram a fuga como o elemento bsico do conceito de resistncia
escrava, ou seja, o elemento principal era a fuga.
16- ROCHA, Manoel Ribeiro, Etope resgatado, empenhado, sustentado, corrigido, instrudo e libertado (1758), Petrpolis, Vozes, 1992, p 86-7
17- REIS, Joo Jos, SILVA, Eduardo, Negociao e conflito, a resistncia negra no Brasil escravista, So Paulo, Companhia das Letras, 1989.
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Os cativos fugiam por vrios motivos: castigos, trabalhos excessivos, pouco tempo
para atividades livres, a desagregao de suas famlias, impossibilidade de ter a
prpria terra, e pelo maior e mais importante dos motivos, a busca por sua liberdade.
Wlamyra R. de Albuquerque e Walter Fraga Filho18, descrevem que:
Por vezes os cativos se ausentavam apenas por tempo suficiente
para pressionar o senhor a negociar melhores condies de trabalho,
moradia e alimentao, ou para convenc-lo a dispensar um malvado
feitor, a manter na mesma fazenda uma famlia escrava, a cumprir
acordos j firmados ou at para conseguir ser vendido a outro senhor.
18
Confirmando as ideais acima, havia de um aspecto de negociata que esteve presente
no regime escravocrata no Brasil, precisamente na relao senhor e escravo.
O tipo de fuga consequente dos tipos de negociao referidas anteriormente pode ser
chamado de fuga reivindicatria, de modo que ao alcanar os objetivos estabelecidos,
o escravo volta para a casa de seu senhor.19
Com relao aos destinos das fugas, eram dos mais variados. A formao dos
quilombos est diretamente relacionada s fugas.
Vale destacar que como forma tpica de resistncia escrava coletiva, as formaes
quilombolas se manifestaram e diferentemente do que se acreditam estas formaes,
reuniam no s escravos em fuga, mas tambm negros libertos, indgenas e brancos
com problemas com a justia.
18- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006.
19- REIS, Joo Jos, SILVA, Eduardo, Negociao e conflito, a resistncia negra no Brasil escravista, So Paulo, Companhia das Letras, 1989, p 9
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Para alm de um lugar que representava liberdade, os quilombos possibilitavam a
continuidade de tradies e culturas africanas.
Diante destas informaes, cabe pensar os escravos como agentes histricos
fundamentais na compreenso da escravido no Brasil.
Sendo relevante assim, compreender as singularidades e as questes que fazem
parte da histria escrava brasileira, partindo-se assim de um pressuposto que
qualquer anlise que venha a tratar da histria de formao do pas ter como ponto
relevante a presena da escravido
Noutros termos, necessrio ter o olhar do negro africano que fora escravizado por
sculos, como agente na construo de sua histria e da histria de formao do pas,
no sendo somente coadjuvantes na formao da histria brasileira, pelo contrrio,
entend-lo como elemento fundamental da formao da histria da mesma. Pois:
Seja como for, j no possvel pensar os escravos como meros
instrumentos sobre os quais operam as assim chamadas foras
transformadoras da histria. No podemos, tampouco, pens-los
como um bloco homogneo apenas por serem escravos. As
rivalidades africanas, as diferenas de origem, lngua e religio- tudo
o que os dividia no podia ser apagado pelo simples fato de viverem
um calvrio comum.20
20- REIS, Joo Jos, SILVA, Eduardo, Negociao e conflito, a resistncia negra no Brasil escravista, So Paulo, Companhia das Letras, 1989, p 20
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24
Captulo II
As Relaes sociais escravas.
Para alm do processo da escravido, a historiografia preocupa-se em estudar as
outras vertentes sobre o tema.
Neste mbito fundamental compreender como se estabeleciam as relaes sociais
e familiares dos negros africanos escravizados no Brasil colonial, mas
especificamente analisar com mais profundidade como se estabeleciam estas
relaes sociais nos ambientes das senzalas localizadas nas fazendas do Rio de
Janeiro.
H de ser levar em considerao que os escravos vinham de diversas reas do
continente africano, possuindo as mais diversas lnguas, costumes e modos de vida.
Isto um fator mpar na construo destas relaes sociais, uma vez que estas foram
reinventadas e reconstrudas aqui no Brasil.
Outro ponto essencial foi desagregao e desintegrao familiar resultante das
relaes do trfico e as condies de vida ao quais os negros foram submetidos no
perodo da escravido no Brasil.
Segundo Walmiria de Alburquerque:
A condio escrava dificultou a formao e consolidao de famlias
e comunidades, j que amigos e parentes podiam ser separados pela
venda para proprietrios diferentes. Para sobreviver sob o cativeiro,
os escravos e escravas buscaram acionar relaes sociais aprendidas
na frica e as aqui inventadas. Os vnculos formados a partir do
trabalho, da famlia, dos grupos de convvio e da religio foram
fundamentais para a sobrevivncia e para a recriao de valores e
referncias culturais 21
21- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006.p 95
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25
Deste modo as medidas de sobrevivncia e perpetuao de suas crenas e costumes
passavam a ser de certa maneira reinventadas a fim de trazer para este africano
escravizado no Brasil uma referncia dos valores e costumes que este perdera.
Neste sentido, h de compreender primeiramente como se estabeleciam estas
relaes iniciais entre os cativos, de modo que ao chegarem ao seu destino, ou seja,
nos engenhos, os mesmos recebiam as instrues necessrias para compreender as
ordens dadas, ora pelos senhores, ora pelos feitores, estes eram responsveis em
ensinar-lhes como as tarefas deveriam ser realizadas, incitar disciplina e formas de
deferncia.
Nos engenhos, as condies de sociabilidade j possuam como fator de desarmonia
a questo das diferentes etnias e religies agrupadas em um mesmo local, o que
gerava um empecilho para a formao harmoniosa das diferentes relaes sociais
entre os cativos.
Nos grandes engenhos, fazendas de caf, nas minas e cidades, a
escravaria geralmente era formada por africanos de etnias diversas,
alm de escravos crioulos. O africano recm-chegado, aqui chamado
de boal, defrontava-se com um ambiente em que coexistiam diversos
povos, alguns que se desconheciam outros divididos por rivalidades
religiosas e tnicas. Muitas vezes as rivalidades na frica se
reproduziram no Brasil, outras vezes elas diminuram sob o peso da
escravido. 22
Desta forma foi estabelecida em um primeiro momento uma agregao dos africanos
ligando-se a uma identidade tica, de maneira que, grupos formados por lnguas
comuns ou semelhantes passaram a formar uma nova identidade, estas recebendo
novos significados e sendo reconstrudas no Brasil.
22- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador,
Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares,2006. p- 96
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26
Para os autores Manolo Florentino e Jos Roberto Ges, a entrada de diferentes
etnias no Brasil, devido ao trfico transatlntico, provocou mais conflitos do que
unio entre os escravos.
As rivalidades j existentes na frica teriam a princpio impedido criao de laos
de solidariedade que seriam fundamentais para a organizao mais efetiva de
resistncia contra os senhores.
provvel at que o cativeiro muito contribusse para exasperar as
diferenas que os constituam, em mais de um sentido. Por que no?
A escravido, afinal, no devia ser um meio muito propcio ao acalanto
de sentimentos mais tolerantes. A verdade que um plantel no era,
em princpio, a traduo de um ns. Reunio forada e penosa de
singularidades e de dessemelhanas como melhor se poderia
caracteriz-lo (FLORENTINO & GES 1997, p. 35.)
Estas relaes ganhavam mais significado e fora, dentro das senzalas (palavra
de origem quimbunda que significa residncia de serviais em propriedade
agrcola, ou morada separada da casa principal) 23
Estas funcionavam como uma espcie de habitao ou alojamento para os cativos,
construdas dentro da unidade de produo (seja de engenho, minas de ouro ou
fazendas de caf), era o lugar onde era possvel estreitar laos comunitrios,
buscar alternativas para os modos de vida aos quais estavam submetidos, alm
de constituir um ambiente para a preservao da cultura africana.
23- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares,2006. p 78
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27
importante assinalar que os laos comunitrios foram formados
nas senzalas em meio a uma diversidade de grupos tnicos. Foram
formados tambm pela necessidade de encontrar sadas e alternativas
vida escrava. No seio dessas comunidades, os escravos puderam
preservar grande parte da cultura africana e transmiti-la aos filhos e
netos.24
Estas diversidades tnicas e rivalidades religiosas faziam parte dos primeiros conflitos
aos quais os cativos se deparavam ao se estabelecerem na colnia. Por vezes estas
rivalidades, que advinham da frica, se reproduziram novamente no Brasil, outras
vezes diminuam devido escravido.
Normalmente os grupos formavam-se em torno de lnguas comuns ou semelhantes,
sendo formadas as identidades dos grupos em grande parte no Brasil.
Dentre estes se podem citar os grupos: angolas, congos, monjolos, cabindas, quiloas
minas, jejes, nags, etc. Cada um destes grupos constitua uma nao
O fato que as divises e diferenas estavam intimamente relacionadas vida do
escravo, pois atravs dela se estabeleciam as relaes de aceitao pelo grupo, alm
das escolhas de parceiros nas relaes afetivas entre os mesmos. 25
24-Idem. P 97
25-idem P 96
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28
Com relao s condies fsicas da senzala constam-se que geralmente eram feitas
de barro, palha, madeira ou telha. Sendo estas pouco ventiladas e abafadas (devido
pouca quantidade de janelas) abrigando um grande contingente de escravos.
Haviam dois tipos de estrutura para as senzalas, a primeira seguia um modelo de
espcie de barraco em uma construo retangular e alongada, repartida em
cubculos. Estas eram construdas pelos senhores e ficam organizadas ao lado ou
atrs das casas-grandes. Neste modelo os alojamentos de homens, mulheres e casais
com filhos geralmente eram separados.
Slenes cita que havia uma distino entre os locais de dormir de escravos que eram
solteiros dos que eram casados, havendo indcios que os cativos casados morassem
em construes separadas.
J o segundo modelo era construdo pelos prprios escravos, sendo formado por
barracos separados, geralmente construdos com paredes de barro e cobertas de
sap ou telhas de cermica. Nesse modelo de senzala os cativos tinham a
oportunidade de inserir seus elementos culturais aprendidos na frica.
Na rea interior das senzalas havia poucos objetos pessoais, um ba para guardar
roupas, camas rudimentares ou esteiras para dormir, panelas e pratos de barro e
fogo a lenha.26
Os escravos deviam valorizar bastante a construo do prprio
barraco, porque l era possvel dispor de maior privacidade e liberdade
para sua vida domstica. Ali era possvel cozinhar a prpria comida e
alimentar-se longe da vista do senhor 27
26- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares,2006. p 78-79
27- idem p 79
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A senzala, alm de ser o local de alojamento dos cativos, era o ambiente onde os
mesmos se reuniam nos momentos de descanso estreitando os laos comunitrios.
Era na senzala que as relaes sociais entre os cativos ganhavam mais fora e
significado.
Este ambiente possibilitava aos escravos viverem e repassarem seus costumes e
crenas.
Alm disso, a senzala era o local onde se organizavam as famlias escravas, objeto
de estudo de estrema importncia para a historiografia que trata do tema.
Esta alm de ser uma organizao social responsvel pela perpetuao dos costumes
e as heranas que temos, foi tambm um dos meios de resistncia legtimo contra o
sistema escravista.
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Captulo III
A formao das famlias escravas
Cabe analisar um ponto essencial no que tange a relao entre os escravos no
perodo da escravido, a constituio e formao das famlias escravas.
A constituio destas famlias possibilitava entre outras coisas a continuidade das
heranas africanas, a recuperao de valores e formas de convivncia, alm das
crenas que eram vivenciadas na frica.
Compreendendo que no havia condies adequadas para a formao destas
famlias, as mesmas foram criadas seguindo as particularidades do perodo.
Segundo Manolo Florentino at pouco tempo no era possvel ter como objeto legtimo
de estudo a famlia escrava, uma vez que a mesma estava entrelaada a
promiscuidade e desagregamento social.
No Brasil, at bem pouco tempo era impossvel tomar a vida familiar
escrava como um legtimo objeto de reflexo, pois afirmava-se que
promiscuidade e desregramento social seriam traos marcantes das
escravarias. Ademais, famlia e trfico atlntico se excluiriam, pois o
fluxo externo de almas, com o seu marcante desequilbrio sexual,
impossibilitaria aos escravos a criao de estratgias parentais
eficazes.28
28- FLORENTINO, M. e GES, J.R. A Paz das senzalas: famlias escravas e trfico atlntico, Rio de Janeiro, 1790-1850. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1997. P 103
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31
Porm, mesmo com as adversidades para a consolidao destas famlias, os cativos
buscavam manter relaes conjugais estveis e construir laos familiares extensos.
Os estudos mais recentes sobre famlia escrava no Brasil tm
demonstrado que, nas grandes plantaes de caf e cana, parte
considervel dos cativos conseguiu criar e manter relaes familiares
ao longo do tempo. 29
No entanto, para alm de sua formao, cabe analisar se a formao da famlia
escrava fora um entrave para o fim da escravido.
Para Robert Slenes, a formao da famlia escrava tinha uma caracterstica oposta,
uma vez que se fortaleciam os laos comunitrios essenciais para as organizaes
de rebelies e resistncia aos senhores, desta maneira uma ameaa ao sistema
escravista, de modo que a formao dos laos familiares ampliava as possibilidades
de sobrevivncia dos cativos, alm de permitir a elaborao de projetos de liberdade.
Sem dvida a famlia cativa constituiu um dos pilares sobre os quais
se formaram as comunidades de senzala. Por mais que parecesse
reforar o domnio escravista atravs da obedincia a uma rotina
cotidiana, a famlia oferecia ao escravo maior poder de negociao
com os senhores e, principalmente, mais vontade de reao a atos
arbitrrios de castigo, venda e desrespeito a direitos adquiridos. 30
Pode-se compreender desta forma, que a famlia foi um pilar importante para os
cativos enfrentarem as transformaes e condies de vida aos quais estavam
submetidos.
29-- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador,
Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares, 2006. p 97
30- idem p- 10
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32
Mas a formao destas famlias seguia mediante suas prprias singularidades,
como por exemplo, o fato dos cativos, em sua maioria, terem como escolha afetiva
aquele com afinidades culturais e tnicas.
Os matrimnios ocorriam principalmente entre parceiros de uma
mesma etnia, e em pocas de grandes desembarques a situao se
invertia, ocorrendo unies entre etnias diferentes. Tendo como regra
as diferenas nas faixas etrias, os homens eram sempre mais velhos
e monopolizavam as mulheres frteis, e aos escravos jovens,
especialmente os nascidos na frica, restavam s mulheres mais
velhas. Destaca-se o maior ndice de masculinidade entre os
escravos, o que poderia dificultar as unies. (FLORENTINO; GOES,
1997, p. 59-127).
A endogamia, estado da pessoa que s se casa com outra porque ambas pertencem
mesma classe e/ou tribo, visando preservar suas nobrezas, raas etc, era fator
determinante e natural na escolha dos parceiros entre os cativos.
O casamento endogmico refletia o desejo de manter e refazer os laos culturais e
comunitrios comuns.
A escolha dos parceiros era presidida por um critrio seletivo no que
concernia naturalidade. Assim, dependendo da conjuntura
considerada, em cada grupo de dez casais, de cinco a sete eram
formados por consortes africanos, de um a trs eram formados por
escravos nascidos no Brasil, e de um a dois uniam cnjuges africanos
e crioulos. A endogamia por naturalidade era a norma. 31
Cabe nesse sentido compreender como estes casamentos eram realizados e vistos
pelos senhores de engenho.
31- FLORENTINO, M. e GES, J.R. A Paz das senzalas: famlias escravas e trfico atlntico, Rio de Janeiro, 1790-1850. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1997.p 109
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33
Segundo o livro Uma histria do negro no Brasil grande parte dos casamentos
ocorria margem do consentimento da igreja, uma vez que esta no garantia direitos
aos escravos e suas famlias.
O primeiro recenseamento oficial da populao brasileira, que data de
1872, mostrou que somente 10 por cento dos escravos brasileiros
eram oficialmente casados. Ocorre que a maioria das famlias
escravas formou-se margem do consentimento da Igreja, que era a
instituio responsvel pela oficializao dos casamentos. Alis,
mesmo os homens e mulheres livres pobres no se casavam, se
juntavam. Alm de caro, o casamento na Igreja no oferecia nenhuma
garantia ao casal escravo de que a famlia no seria dividida caso os
senhores decidissem se desfazer dos pais ou dos filhos
separadamente. 32
Contudo, a igreja defendia que o senhor de escravos permitisse os matrimnios entre
os cativos, uma vez que era seu dever ensin-los a doutrina crist, e no separe os
cativos posteriormente.
Conforme o direito Divino e humano, os escravos e escravas podem
casar com outras pessoas cativas, ou livres, e seus senhores lhes no
podem impedir o Matrimnio, nem vender para outros lugares
remotos, para onde o outro, por ser cativo, ou por ter outro justo
impedimento, o no possa seguir. 33
32--- ALBURQUERQUE, Wlamyra R., FILHO, Walter Fraga, Uma histria do negro no Brasil, Salvador, Centro de Estudos Afro-Orientais; Braslia: Fundao Cultural Palmares,2006. P98
33- ROCHA, Manoel Ribeiro. Etope resgatado, empenhado, sustentado, corrigido, instrudo e libertado (1758). Campinas: IFCH/Unicamp, 1991.p 131
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34
Segundo os preceitos cristos o casamento dos escravos e sua aceitao por parte
do senhor, seriam uma maneira de evitar a propagao do pecado e da imoralidade
entre os cativos.
Pergunto: para que foi institudo o Santo Matrimnio? No s para a
propagao do gnero humano, seno tambm para remdio da
concupiscncia e para evitar pecados 34
Em outro ponto, alguns autores divergem se a formao destas famlias e
oficializao destes casamentos seria um entrave maior para o fim da escravido, uma
vez que o senhor teria mais controle sobre o cativo ou seria uma forma de resistncia
eficaz contra a escravido.
Neste aspecto, Florentino e Goes 35 consideram que a formao da famlia escrava
responsvel por manter a paz nas senzalas, sendo o senhor de escravos favorvel a
estas unies, pois para estes a constituio familiar do negro, resultaria em uma paz
entre eles e assim um maior controle sobre os cativos.
Segundo os autores a construo das famlias escravas tornou-se um pilar da
formao da cultura afro-brasileira, e teve como papel principal ser um instrumento de
paz social nos engenhos, uma vez que a formao destas famlias juntamente com o
favorecimento de um pedao de terra para seu cultivo o manteria preso posse e
assim evitaria fugas.
34- BENCI, Jorge. Economia crist dos senhores no governo dos escravos (1700), p102
35-FLORENTINO, M. e GES, J.R. A Paz das senzalas: famlias escravas e trfico atlntico, Rio de Janeiro, 1790-1850. Rio de Janeiro: Civilizao Brasileira, 1997.
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35
Desta maneira, as relaes familiares teriam por finalidade atender principalmente,
aos interesses da poltica de controle senhorial gerando uma estabilidade social.
Haveria, portanto, segundo eles, um ganho poltico por parte dos
senhores, ao misturar os escravos de maneira consciente e mant-los
em estado de guerra, posto que, ento, dificilmente se uniriam contra
eles. Por outro lado, porm, a permanncia do estado de guerra
impossibilitaria o trabalho regular e sistemtico. Da que a formao
de famlias e de parentelas, estimulada pelos senhores ou por escolha
dos prprios escravos, no importa, teria agido no sentido de instituir
a paz das senzalas, minimizando os conflitos. 36
Em contrapartida, Robert Slenes 37 cita que a formao e manuteno da famlia
escrava tinham um papel que abrangia para alm do controle por parte do senhor de
engenho, no sendo um smbolo de enfraquecimento da resistncia negra.
Ela representava a conquista de espaos de autonomia dentro do cativeiro e fortalecia
os laos de solidariedade e das heranas africanas.
Pois as criaes de laos familiares e de parentesco aliadas as heranas culturais
passam a ser uma das formas de resistncia dos cativos contra o poder senhorial,
tornando-se assim uma ameaa ao escravismo.
36- FARIA, Sheila de Castro. Identidade e comunidade escrava: um ensaio, UFF, 2005.p 135
37- SLENES, Robert W. Na senzala, uma flor: esperanas e recordaes na famlia escrava, Brasil sudeste, sculo XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p.93.
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36
A constituio de ncleos familiares entre as pessoas negras
escravizadas pode ser entendida tambm como forma de resistncia
cativa se considerar a dificuldade enfrentada por tais sujeitos em
manter unida sua famlia; a autonomia para escolher o cnjuge e a
possibilidade de viverem em lugares separados dos escravos
solteiros; alm de ver a famlia como forma de manuteno de traos
da cultura africana. 38
Desta forma plausvel dizer que os escravos pertencentes a uma famlia tinham
menos inteno de ser deslocar do que outros, solteiros e sem filhos, afinal os laos
familiares estabilizavam o cativo, dificultando assim intenes de fugas ou revoltas.
Contudo, isto no significara uma aceitao passiva dos cativos, a formao das
famlias era a representao fiel de resistncia negra e a perpetuao de suas crenas
atravs de suas linhagens.
Podemos supor que os africanos trazidos ao Sudeste do Brasil, apesar
da separao radical de suas sociedades de origem, teriam lutado
com uma determinao ferrenha para organizar suas vidas, na medida
do possvel, de acordo com a gramtica (profunda) da famlia-
linhagem. Encontrando, ou forjando, condies mnimas para manter
grupos estveis no tempo, sua tendncia teria sido de empenhar-se
na formao de novas famlias conjugais, famlias extensas e grupos
de parentesco ancorados no tempo. SLENES (1989-a), pp. 4-5.
Assim, fica evidente que a formao da famlia escrava teve um papel fundamental
para os negros aqui escravizados, de modo que a construo de um ncleo familiar
funcionava como uma das prticas de resistncia dos escravos, alm de garantir a
transmisso e a continuidade de suas culturas e heranas africanas.
38- MIRANDA, Amanda Rodrigues de. Famlia escrava no Brasil: um debate historiogrfico. Temporalidades Revista Discente do Programa de Ps-Graduao em Histria da UFMG.Vol. 4, n. 2, Ago/Dez 2012. P.174
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37
Para alm desse ponto, pertencer a uma famlia ajudava, de certo modo, aliviar as
angstias e os desafios de ser escravo no Brasil.
Pode-se assim concluir que a famlia escrava teve papel fundamental na
historiografia, pois atravs de estudos relacionados a ela, podemos compreender
como se estabeleciam as relaes sociais e de barganha entre os cativos e seus
senhores.
Para alm disso, a famlia escrava foi responsvel pela formao e perpetuao das
heranas africanas deixadas aqui no Brasil, e que hoje, inegavelmente fazem parte
da cultura brasileira.
Mais que isso, importante atenuar que o escravo brasileiro no foi um figurante sobre
as aes sofridas, ele tinha um papel fundamental, que tangia muito alm da
passividade e submisso que nos imposta.
A formao da famlia escrava era, pois um dos meios de se sobreviver ao regime
escravista, de modo que a criao de laos de parentesco tornava o cativo mais forte
para enfrentar as situaes de conflito, alm de proporcionar certas barganhas com
o senhor de engenho.
Para Slenes39 tanto formando famlias quanto sofrendo a mesma disciplina nas
fazendas, os africanos, enquanto escravos teriam forjado mais sociabilidade e
solidariedade do que dissenso.
Sendo desta forma, o estudo sobre a formao da famlia escrava parte essencial para
a compreenso das relaes sociais entre os escravizados no Brasil e mais ainda sua
contribuio para a formao cultural que temos atualmente.
39- SLENES, Robert W. Na senzala, uma flor: esperanas e recordaes na famlia escrava, Brasil sudeste, sculo XIX. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.
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38
Concluses:
O trabalho apresentado tratou de questes relativas vida escrava no Brasil, mas
especificamente no Rio de Janeiro entre 1790 e 1830.
Todos os processos vividos na escravido, desde o trfico at as relaes familiares
entre os cativos, mostram que o escravo trazido para o Brasil utilizou-se de diversos
recursos para obter mais estabilidade nas relaes com os senhores de engenho.
Havendo constantemente situaes de barganha e negociao, mostrando que o
escravo tinha papel fundamental nessas negociaes e, portanto na vida escrava.
A busca do cativo por espaos de autonomia e suas diversas formas de resistncia,
nos mostram o papel fundamental do africano aqui escravizado, sendo mais que um
mero fantoche nas mos da vontade senhorial.
A histria, na maioria das vezes trata do escravizado como uma vtima submissa do
processo escravista, negando toda a luta dos mesmos.
Era fundamental apresentar atravs de fatos como os cativos realizavam suas
diversas formas de resistncia.
Um dos principais objetivos desse trabalho de concluso era apresentar o escravo
como agente de sua histria, formador de heranas perpetuadas at os dias de hoje.
As relaes de vnculo e solidariedade formadas pelos escravos brasileiros foram
fundamentais para a sua sobrevivncia e para a recriao de seus valores e
referncias culturais.
inegvel que grande parte da cultura brasileira foi formada pelas heranas deixadas
pelos escravos, seja no mbito religioso, cultural ou gastronmico.
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39
Deste modo, estabelecer conexes com o passado destes cativos resgatar a
essncia de nossa histria.
E para aprofundar conhecimentos neste tema, entender como se davam as primeiras
relaes sociais e posteriormente a formao das famlias primordial.
Estas relaes se davam pelas afinidades tnicas e culturais dos cativos trazidos para
o Brasil.
Estas afinidades eram responsveis pelas interaes, laos de solidariedade e a
criao de formas de resistncias entre os escravizados, porm por vezes as
diferenas entre as ditas naes foram responsveis por conflitos entre os mesmos.
Porm, mesmo diante das diversas dificuldades que a vida escrava trazia, os cativos
conseguiram estabelecer laos de parentesco, resistncia e luta pela liberdade.
Para, alm disso, fazer parte de uma famlia trazia benefcios e aliviava em parte a
terrvel angstia de ser escravo no Brasil.
A formao da famlia escrava , pois, uma marca smbolo da resistncia negra,
atravs dela os cativos transmitiram seus costumes e crenas, resistindo assim, a
difcil vida escrava.
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40
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