monografia - thiago pereira lima · 2015. 9. 16. · robson rodovalho, e de etnografias dos...
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO
CENTRO DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS EXATAS E NATURAIS - CECEN
CURSO DE HISTÓRIA
THIAGO PEREIRA LIMA
“POR TRÁS DAS BÊNÇÃOS E MALDIÇÕES” : uma análise do ritual “quebra de
maldições” da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra
São Luís
2011
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THIAGO PEREIRA LIMA
“POR TRÁS DAS BÊNÇÃOS E MALDIÇÕES” : uma análise do ritual “quebra de
maldições” da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra
Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão para obtenção do título de licenciado em História. Orientadora: Profª. Dra. Julia Constança
Pereira Camêlo.
São Luís
2011
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THIAGO PEREIRA LIMA
“POR TRÁS DAS BÊNÇÃOS E MALDIÇÕES” : uma análise do ritual “quebra de
maldições” da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra
Monografia apresentada ao Curso de História da Universidade Estadual do Maranhão para obtenção do título de licenciado em História.
Aprovada em: _____/_____/_____.
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________________ Profª. Dra. Julia Constança Pereira Camêlo (Orientadora)
Doutora em Ciências Sociais Universidade Federal do Pará (UFPA)
_______________________________________________ 1º Examinador (a)
_______________________________________________ 2º Examinador (a)
3
À minha amada mãe, Maria dos
Santos.
Ao meu saudoso pai, Wilson Moreira
Lima (in memorian).
À minha irmã Natália.
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AGRADECIMENTOS
Ao Senhor Jesus, que está acima de todo ritual, o Senhor dos senhores,
Reis dos Reis, o Príncipe da Paz.
À minha mãe, Maria dos Santos Pereira Lima.
Ao meu pai, Wilson Moreira Lima
À minha irmã Natália.
A todos os professores do curso de História, que para mim, são grandes
referências intelectuais.
5
A religião contribui para a imposição
(dissimulada) dos princípios de
estruturação da percepção e do
pensamento do mundo e, em
particular, do mundo social, na
medida em que impõe um sistema
de práticas e de representações cuja
estrutura objetivamente fundada em
um princípio de divisão política
apresenta-se como a estrutura
natural-sobrenatural do cosmos
(BOURDIEU, 2005, p. 34).
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RESUMO
Este trabalho analisa um ritual chamado “Quebra de Maldições” presente em um
grupo considerado de linha neopentecostal, a Comunidade Evangélica Sara Nossa
Terra. A partir da produção bibliográfica do seu fundador e presidente, o bispo
Robson Rodovalho, e de etnografias dos rituais, pretendo compreender as
representações que são construídas sobre outras expressões religiosas. Destaco
que na “Quebra de Maldições” há um redimensionamento dos discursos, práticas e
simbolismos pentecostais e de diferentes matrizes religiosas. Além disso, as
representações construídas em torno dessas religiões estão associadas ao mal, o
que expressam também disputas no campo religioso brasileiro.
Palavras-chave : Representações. Ritual. Quebra de maldições. Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra.
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ABSTRACT
This work analyzes a ritual called "Break Curses" within an online group considered
Pentecostal, Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra. From the bibliographic
production of its founder and chairman, Bishop Robson Rodovalho, and
ethnographies of ritual, I want to understand the representations that are built on
other religious expressions. I point out that the “Break the Curse” is a redefinition of
discourses, practices and symbolism of different Pentecostal and religious
headquarters. In addition, the representations constructed around these religions are
associated with evil, which also express the religious disputes in Brazil.
Keyword : Representations. Ritual. Break curses. Comunidade Evangélica Sara
Nossa Terra.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Quadro 1 Listagem de livros produzidos pelo “bispo” Robson Rodovalho ......... 15
Quadro 2 Lista de igrejas Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra no
Maranhão ........................................................................................... 17
Figura 1 Programação dos cultos na Comunidade Evangélica Sara Nossa
Terra, Brasília – DF, sede da igreja. Os cultos nas igrejas em outras
cidades seguem a mesma programação da sede .............................. 30
Figura 2 Convite para o “culto da prosperidade”, numa das igrejas em São
Luís – MA ........................................................................................... 31
Figura 3 Exemplo de um esquema de árvore genealógica da família .............. 39
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ............................................................................................. 10
1.1 O objeto de estudo e a perspectiva teórico-meto dológica ..................... 10
1.2 O universo empírico e as fontes ............................................................... 14
2 NEOPENTECOSTALISMO E CULTURA BRASILEIRA .............................. 19
3 A COMUNIDADE EVANGÉLICA SARA NOSSA TERRA E A “QUE BRA
DE MALDIÇÕES” ......................................................................................... 28
3.1 A COMUNIDADE EVANGÉLICA SARA NOSSA TERRA ........................... 29
3.1.1 Origem e características ............................................................................... 29
3.2 A “terra está ferida pelas desigualdades sociai s, pela miséria, fome,
corrupção, bruxaria e todas as formas de exploração do mal” : a
Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra e a “quebra de maldições” ....... 32
4 UMA ETNOGRAFIA DO RITUAL “QUEBRA DE MALDIÇÕES” DA
COMUNIDADE EVANGÉLICA SARA NOSSA TERRA ............................... 42
4.1 O “culto de quebra de maldições” ............................................................ 43
4.2 Um momento específico do ritual “quebra de mald ições ”: o “Revisão de
vidas” ............................................................................................................ 49
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................... 53
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 55
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1 INTRODUÇÃO
1.1 O objeto de estudo e a perspectiva teórico-meto dológica
Nas últimas décadas do século XX, a História vem passando por
transformações de natureza epistemológica. Chartier (1991) problematiza o contexto
atual da historiografia, em que as percepções, as leituras, as representações, o
poder são visto por uma nova perspectiva.
A perspectiva da Nova História Cultural fornece elementos teórico-
metodológicos para se entender as formas de apropriação, de percepção e de leitura
do real (CHARTIER, 1986). As representações e percepções da realidade estão
relacionadas com as posições sociais e lutas pelas representações, tendo em vista
justificar e legitimar práticas sociais individuais e coletivas. Chartier (1986, p. 95)
destaca que o contexto ocidental:
Faz com que os confrontos sociais fundados sobre os afrontamentos diretos, brutais, sangrentos, cedam cada vez mais o lugar a lutas que têm por armas e por fundamento as representações. De outro lado, é do crédito concedido (ou recusado) às representações que propõem de si mesmos que depende a autoridade de um poder ou o poderio de um grupo.
Segundo Chartier (1986, p. 16), “[...] a História Cultural, tal como a
entendemos, tem por principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares
e momentos uma determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler”.
O conceito de representação1 engloba o trabalho de classificação e
delimitação do grupo ou do indivíduo com seu conjunto de práticas sociais, sejam
dentro de uma dimensão de demarcação identitária ou institucionalizada
(CHARTIER, 1986, p. 17).
Entendo2 o conceito de representação como uma construção do sentido
do mundo social. Nesse processo de construção, há a produção de estratégias,
práticas sociais e políticas que impõe autoridade. Ressalto que os sujeitos não se
apropriam passivamente dos discursos; dependendo de sua ocupação no lugar
social, redimensionam e se utilizam de variações, manipulações e (re) apropriações.
1 Utilizo em itálico as categorias ou conceitos propostos por autores. Coloco entre aspas os termos ou expressões que são usados pela produção bibliográfica da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, assim como pelos seus membros. 2Utilizo os termos na primeira pessoa do singular, demarcando a minha posição de historiador e sujeito, buscando fugir de uma pretensa objetividade ou neutralidade científica.
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Relacionado a esta discussão, Bourdieu3 (2007, p. 201) destaca o
conceito de habitus, para expressar a mobilidade e respostas dos atores:
É um conjunto das disposições inconscientes que constitui o produto da interiorização das estruturas objetivas e que, enquanto lugar geométrico dos determinismos objetivos e de uma determinação, do futuro objetivo e das esperanças subjetivas, tende a produzir práticas e, por esta via, carreiras objetivamente ajustadas às estruturas objetivas.
As representações são construídas por estruturas, textos, leituras,
práticas sociais e símbolos, a exemplo da religião. Dessa forma, a religião enquanto
objeto de estudo histórico, não pode ser compreendida isoladamente, porém em
conciliação com outras áreas disciplinares.
Busco na perspectiva da História Cultural instrumentais teórico-
metodológicos para explicação do fenômeno religioso. Juntamente com o diálogo
com outros campos de conhecimento, como a Antropologia e a Sociologia, a História
Cultural aborda questões em torno da religião, relacionadas à dimensão cultural e
como geradora de confrontos, sentidos e práticas culturais.
Nessa perspectiva de pensamento, destaco também a discussão de
Bourdieu (2005, p. 64) quando trabalha com o conceito de campo, que para ele
consiste num espaço de forças e conflitos entre agentes sociais e instituições, com
suas estratégias, práticas, discursos e posicionamentos nos arranjos sociais.
Como desdobramento da noção de campo, Bourdieu (2007), tomando
como referência a leitura de Weber, propõe a noção de campo religioso, que permite
situar os sujeitos no campo de disputas, enquanto agentes religiosos.
O campo religioso remete-se à importância da religião nos processos
sociais, e é também entendido como um espaço comparável ao mercado, com suas
relações simbólicas e detentor de lógicas singulares e próprias. Daí, o autor
trabalhar com a ideia de que, dentro deste tipo de campo, há um mercado de bens
simbólicos. Neste mercado, são estabelecidas relações de transação entre agentes
especializados, os produtores religiosos, no atendimento à demanda e necessidades
dos consumidores, os leigos. Ainda, cabe destacar nessa relação, o habitus, que
3 Não classifico os autores como sendo pertencentes a uma corrente de pensamento ou a outra. Porém, neste trabalho, busco relacionar as discussões e contribuições teóricas que cada autor desenvolve. Neste caso, uso Bourdieu (1996; 2005) por contribuir na discussão sobre as representações.
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expressa a (re)produção de representações e práticas articuladas às estruturas
objetivas.
Campo religioso e campo do poder estabelecem relações, em que o
primeiro “[...] cumpre uma função externa de legitimação da ordem estabelecida na
medida em que a manutenção da ordem simbólica contribui diretamente para a
manutenção da ordem política” (BOURDIEU, 2007, p. 69).
Acredito na possibilidade de intercruzamento entre as categorias de
Bourdieu (2005; 2007) e aquelas propostas por Chartier (1986). Entendo que na
dinâmica das relações entre as expressões religiosas, em especial as brasileiras,
existem lutas de representações entre discursos, práticas simbólicas e materiais que
visam a legitimação e reprodução de uma ordem e lógica de pensamento.
Destaco também que o fenômeno religioso precisa ser pensado não
dentro de um viés teológico, porém como um objeto científico. Weber (1991), por
exemplo, afirma que a religião tem um caráter subjetivo e que isto não retira sua
importância e função social. Numa análise sobre a religião deveria ser levado em
consideração:
Não é da essência da religião que nos ocuparemos, e sim das condições e efeitos de determinado tipo de ação comunitária cuja compreensão também aqui só pode ser alcançada a partir das vivências, representações e fins subjetivos dos indivíduos – a partir do “sentido” – uma vez que o discurso externo é extremamente multiforme. [...] A ação ou pensamento religioso ou “mágico” não pode ser apartado, portanto do círculo das ações cotidianas ligadas a um fim, uma vez que seus próprios fins são, em sua grande maioria, de natureza econômica (WEBER, 1991, p. 279).
Weber (1991) propõe uma explicação sociológica ao buscar conexões
racionais nos dogmas religiosos. Este autor buscou os aspectos espirituais do agir
social, a eficácia histórica das crenças religiosas e a relação entre as intenções dos
agentes e o sentido histórico de suas ações.
Bourdieu (2007, p. 86) ao analisar os estudos de Weber sobre religião
afirma que a função da religião não é unicamente livrar os leigos da angústia e
problemas existenciais, mas, sobretudo, fornecer justificativas sociais aos ocupantes
de uma determinada posição na estrutura social.
Bourdieu (2005) articula os fenômenos religiosos à dinâmica das relações
sociais:
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Esta teoria da linguagem como modo de conhecimento que Cassirer estendeu a todas as “formas simbólicas” e, em particular, aos símbolos do rito e do mito, quer dizer, à religião concebida como linguagem, aplica-se também às teorias e, sobretudo, às teorias da religião como instrumentos de construção de fatos científicos (BOURDIEU, 2005, p. 27).
Dessa forma, a religião é um sistema simbólico, com funções sociais
geradoras de consenso e também dissensão em torno do sentido das práticas
sociais. A religião é um campo de poder, que para Bourdieu (2003, p. 52):
[...] o espaço de relações de força entre os diferentes tipos de capital ou, mais precisamente, entre os agentes suficientemente providos de um dos diferentes tipos de capital para poderem dominar o campo correspondente e cujas lutas se intensificam sempre que o valor relativo dos diferentes tipos de capital é posto em questão.
Nesse sentido, o fenômeno religioso pode ser visto como uma esfera
relativamente autônoma, porém não está desarticulada das transformações na
sociedade.
Assim, pretendo neste trabalho analisar o cenário religioso brasileiro, em
especial, uma das expressões da sua religiosidade, o neopentecostalismo – surgido
nos anos 1970 do século XX – a diversidade de seus discursos, estratégias e
práticas ritualísticas. Bourdieu (2005) e Chartier (1986) são usados como autores
importantes neste texto monográfico, visto que problematizam sobre as forças das
representações e lutas de poder.
Problematizo como um ritual chamado “Quebra de Maldição”, presente
em grupos neopentecostais, encarna elementos das diversas matizes religiosas
brasileiras e, ao mesmo tempo, constrói representações, que se articulam não
apenas uma dimensão religiosa, mas a uma dimensão do poder.
Nessa perspectiva, questiono: esta concepção/prática seria uma
possibilidade de legitimação, confronto e concorrência com outras religiosidades,
além de ser outra forma de relacionamento com o sagrado, até então inexistente nos
grupos pentecostais surgidos antes da década de 1970? O que a produção
bibliográfica sobre a “Quebra de Maldições” aponta sobre isso?
Entendo que a produção de representações expressam relações de
poder. De acordo com Certeau (1995), é imprescindível ao historiador analisar os
conflitos, jogos e as estratégias, neste caso, aquelas que são usadas por um grupo
classificado como neopentecostal.
14
1.2 O universo empírico e as fontes
Certeau (1995, p. 28) destaca em sua discussão que “[...] fazer história é
uma prática”. Para o autor, a prática historiográfica precisa ser vista como uma
questão epistemológica. O estabelecimento de fontes consiste numa das operações
específicas do historiador, ou seja, é um procedimento que é operacionalizado para
análise científica em História. Nesse sentido, esta operação se reveste de um
caráter epistemológico.
Uma das implicações das novas abordagens teóricas no campo da
História foi o descentramento das fontes ou dos documentos, conforme afirma
Certeau (1995). O historiador amplia suas possibilidades quanto ao uso das fontes,
que não se restringem a documentos escritos encontrados em arquivos.
Certeau (1995, p. 28), ao discutir sobre as técnicas de produção, afirma
que “[...] a organização da história é relativa a um lugar e a um tempo”. Concordo
com o autor, quando afirma que “[...] o historiador trabalha sobre um material para
transformá-lo em história. Efetua então uma manipulação que, como as outras,
obedece às regras”.
Longe de aceitar os “dados”, ele os constitui. O material é criado por ações combinadas que o repartem no universo do uso, que também vão procurá-lo fora das fronteiras do uso e que fazem com que seja destinado a um reemprego coerente. É a marca dos atos que modificam uma ordem recebida e uma visão social. Instauradora de signos oferecidos a tratamentos específicos, essa ruptura não é, portanto, nem apenas, nem à primeira vista, o efeito de um “olhar”. É necessária uma operação técnica (CERTEAU, 1995, p. 31).
Nessa linha de pensamento, isso não significa que o historiador em sua
operação científica deva eleger sem critérios suas fontes de pesquisa. É necessário
que o próprio historiador as produza, as constitua, desde que no processo de
construção do objeto, se inscrevam problemas teóricos que possibilitem novas
questões e respostas.
Como fonte documental, utilizo a produção bibliográfica sobre a “Quebra
de Maldição”, especialmente a produzida pelo grupo neopentecostal Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra, por meio do seu presidente o Bispo Robson
Rodovalho.
Considero Robson Rodovalho como uma das principais figuras do
neopentecostalismo brasileiro. É presidente de um dos maiores grupos
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neopentecostais no país. Vem de uma família de tradição espírita e que se
convertera ao protestantismo. Rodovalho frequentou a Igreja Presbiteriana do Brasil
e foi presidente do grupo “Mocidade para Cristo” de Goiás e da região centro-oeste
do país. Aos 17 anos inicia sua própria igreja, na cidade de Goiânia, com o nome
“Comunidade Evangélica” (MARIANO, 2005, p. 105). É bacharel em Teologia e
também possui especialização em Nutrição, Naturologia e Ciência em Saúde
Natural, pela Faculdade The Clayton School of Natural Healing e pelo Instituto Vida
Natural. Preside o Fórum Nacional de Ação Social e Política / Fenasp (SAEVEM,
2007, p. 7). Atualmente é Deputado Federal pelo governo do Distrito Federal.
O “bispo” Robson Rodovalho escreve livros tendo em vista a consolidação
do seu discurso e prática, a exemplo dos títulos “Por que não somos católicos” e
“Porque não somos espíritas”. Segundo este princípio, maldições existem sobre a
Terra, nações, famílias e indivíduos, e que precisam ser extirpadas para se viver
segundo a vontade de Deus.
Quadro 1 : Listagem de livros produzidos pelo “bispo” Robson Rodovalho
“Bispo” Robson Rodovalho
A Arte da Liderança A beleza de Cristo e o caráter do cristão A nova Ordem Mundial A Oração de um Intercessor Anatomia do milagre Avivamento Hoje Bíblia: verdade ou ficção? Brasil, antes que seja tarde Conhecendo a glória de Deus
Construindo sistemas que vencem Construindo uma nação de vencedores (co-autor com a “bispa”) Destruindo gigantes: quando os seus problemas irão acabar? Deus ou Darwin? Do princípio ao fim Edificando a Casa de Deus
Ensina-nos a andar em seus caminhos
Formando líderes vencedores Gotas de sabedoria Igreja vencedora Liderança de sucesso (co-autoria com a “bispa”)
Meditações
Menos trabalho, mais resultados O bom samaritano O caminho do sucesso O elo perdido O milagre aconteceu
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O propósito de Deus e a família cristã Olhos da alma Pode um cristão entrar em maldição? Por que será que você está sofrendo?
Por trás das bênçãos e maldições Quebrando as maldições hereditárias Regendo a história da nossa geração
Seguindo a inspiração de Deus
Senhor, ajuda-me a crer
Sociedade, política e a Igreja
Sonhos e destinos
Vencendo a obesidade (A dieta de um sábio / saúde total)
Vencendo conflitos
Você nasceu para reinar Por que não somos católicos
Por que não somos espíritas
Fontes: Saevem (2007, p. 11); Sara Nossa Terra (2011).
Robson Rodovalho é um dos principais precursores desta concepção,
tendo diversos livros a artigos publicados. Entre eles estão: Pode um Cristão entrar
em maldição? Por trás das bênçãos e maldições; O Milagre aconteceu; e Quebrando
as maldições hereditárias.
Além disso, como ferramenta ou técnica metodológica, utilizo a
observação e etnografia dos cultos do universo empírico em questão, o grupo
neopentecostal Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra. Realizo a opção em
realizar uma etnografia, pois o “estar lá” (GEERTZ, 2002), é uma possibilidade de
compreender a dinâmica e lógica desse grupo quanto aos seus rituais, bem como a
construção, as especificidades e o caráter ambivalente destes. A etnografia
enquanto ferramenta metodológica afasta o pesquisador da generalização
(GEERTZ, 2001, p. 125) e oferece diversas possibilidades analíticas.
A Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra nasce no ano de 1992,
tendo sua sede em Brasília-DF e tem como presidente Robson Rodovalho, na qual
foi idealizador, junto com sua esposa Maria Lúcia Rodovalho. No contexto do Estado
do Maranhão, conforme Lima (2010, p. 42) até 2009, existia 15 templos da
Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, assim distribuídos (Quadro 2).
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Quadro 2 : Lista de igrejas Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra no Maranhão.
Cidade Ano de criação
São Luís - Bairro: Calhau 2004
São Luís – Bairro: Vinhais 2006
São Luís - Bairro: Cidade Operária 2006
São Luís - Bairro: Cidade Olímpica 2008
São Luís - Parque Vitória 2008
São Luís – Cohatrac 2009
São Luís – Bairro de Fátima 2008
São Luís - Vila Embratel 2008
Imperatriz 2004
Paço do Lumiar –Maiobão 2009
Santa Inês 2007
Pinheiro 2007
Raposa 2009
São Bento 2009
São João Batista 2009
Fonte: Lima (2010).
Na Sara Nossa Terra existem vários rituais que são denominados pela
igreja como “cultos”. Utilizo a expressão ritual para designar certos tipos de
manifestações que expressam a relação com o sagrado, além dos modos de ser do
grupo e por consistirem em espaço de construção de sociabilidades.
Destaco Peirano (2003) que afirma que o ritual não tem uma definição
rígida, pois a definição “precisa ser etnográfica”, ou seja; é o pesquisador que o
apreende junto ao grupo que observa. Peirano (2003) afirma que existem vários
tipos de rituais, como os “religiosos, profanos, festivos, formais, informais, simples ou
elaborados”. Isto torna uma manifestação um ritual, cujas características são forma,
convencionalidade e repetição.
Ocorrem semanalmente e cada um tem objetivos específicos, como cura,
libertação e quebra de maldições, músicas e ensinamentos para o jovem e louvor e
ministração dos ensinamentos da bíblia (LIMA, 2010).
Dessa forma, no primeiro capítulo da monografia, realizo uma discussão
sobre o fenômeno religioso neopentecostal, destacando sua dinâmica, expressões,
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intercruzamentos e acomodações em relação a chamada cultura brasileira, a partir
dos anos 1970 do século XX. Na discussão, se destacam a (re) elaboração de
aspectos e conteúdos simbólicos de outras expressões religiosas e a presença de
diferentes modalidades ritualísticas.
No segundo momento do trabalho, analiso as representações existentes
na “Quebra de Maldições” da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, a partir da
produção bibliográfica do seu presidente, o bispo Robson Rodovalho, percebendo as
trocas simbólicas significativas com outras experiências religiosas, com elementos
considerados do catolicismo popular, religiões afrobrasileiras e espiritismo, tais como
a magia, o transe, a experiência extática e o pietismo, mantendo um velho / novo
conjunto de concepções e práticas religiosas, com algumas personificações e
formas de representar o mal que as religiões citadas possuem, expressando assim
disputas no campo religioso.
No terceiro capítulo, realizo uma etnografia de um ritual deste em um dos
grupos existentes na cidade de São Luís - MA, tendo em vista entender os rituais,
como uma manifestação que constroem, consagram e instituem representações.
19
2 NEOPENTECOSTALISMO E CULTURA BRASILEIRA
O pentecostalismo consiste numa das expressões da religiosidade
brasileira surgida no limiar do século XX nos Estados Unidos. No Brasil, instala-se
com um grupo chamado Congregação Cristã do Brasil em 1910, seguindo, no ano
de 1911, da Assembléia de Deus. Com o decorrer das décadas, esta religiosidade
se afirmou como uma das expressões do protestantismo que mais cresce no cenário
brasileiro. Recebeu este nome por apresentar uma analogia à descida do Espírito
Santo no dia de Pentecostes4.
É uma das grandes expressões da religiosidade brasileira. Conforme
destaca Mariano (2005, p. 10):
A expansão do pentecostalismo constitui fenômeno de amplitude mundial, posto que este ramo do cristianismo, formado no início do século na América do Norte, vem crescendo aceleradamente em várias sociedades em desenvolvimento no sul do Pacífico, da África, do leste e sudeste da Ásia. Trata-se de um autêntico processo de globalização ou transnacionalização dessa forma de protestantismo popular. Mas nenhum continente supera a América Latina, o caso mais extraordinário de crescimento pentecostal nesse final de milênio. O Brasil se destaca nesse contexto. Em números absolutos, figura como o maior país protestante da América Latina, abrigando pouco menos da metade dos cerca de 50 milhões de evangélicos estimados atualmente no continente.
No Brasil, o fenômeno pentecostal é caracterizado por matizes
eclesiástica, doutrinárias e ritualísticas diversificado. Dentre uma das marcas desta
religiosidade, está a postura de afastamento do mundo:
O pentecostalismo herda a postura de rejeição e afastamento diretamente do metodismo e do movimento holiness, dos quais se originou. Provém daí as raízes puritana e petista do movimento pentecostal. Tal como no puritanismo, para o crente pentecostal mostrar-se santificado, ele precisa exteriorizar sinais, por meio de comportamentos ensinados e exigidos pela comunidade religiosa, que os diferenciem da sociedade inclusiva. Para que o Espírito Santo lhes preencha a vida, santificando-os devem morrer para o mundo, o qual, como causa e lugar do sofrimento, além de rejeitado deve ser combatido (MARIANO, 2005, p. 190).
Campos (1997, p. 36) diz que o Pentecostalismo foi um movimento
religioso que expressava emotividade e a busca pela santidade, surgido nos Estados
Unidos, no início do século XX e se expandiu por este país e aos locais onde havia
os chamados missionários. O “falar em línguas estranhas” e o “batismo com o
4 Episódio bíblico descrito no livro Neotestamentário de Atos, Capítulo 2 (BÍBLIA SAGRADA, 1996).
20
espírito santo” são os princípios basilares deste movimento. Denominados também
de evangélicos5, são heterogêneos e configuram numerosos e diversificados grupos,
com diversas categorizações propostas por autores.
Mariano (2005) agrupa em três grandes grupos: Pentecostais,
Deuteropentecostais e Neopentecostais.
A primeira onda do pentecostalismo brasileiro é chamada por Mariano
(2005, p. 28-29) de Pentecostalismo Clássico, que teve início no país a partir de
1910 até 1950. Caracteriza-se pelo anticatolicismo, por enfatizar o dom espiritual
(significa, segundo a bíblia, habilidades que o cristão possui) de línguas estranhas, a
crença na volta iminente de Cristo e na salvação paradisíaca e pelo comportamento
de radical sectarismo e ascetismo de rejeição do mundo exterior. São
representantes deste grupo, a Congregação Cristã no Brasil (1910) e a Igreja
Evangélica Assembléia de Deus (1911).
A segunda onda – o Deuteropentecostalismo – teve início nos anos 50,
com o surgimento das igrejas Brasil Para Cristo (1955), Deus é Amor (1962), Casa
da Bênção (1964), e outras menores. O Deuteropentecostalismo enfatiza o dom de
cura de enfermidades e só se distingue do Pentecostalismo Clássico nesse aspecto.
Na segunda metade dos anos 70, têm-se a onda do neopentecostalismo,
caracterizada pelo rompimento do sectarismo e ascetismo de rejeição do mundo
exterior do movimento pentecostal, que engendrou a liberalização dos usos,
costumes e regras, e ainda pela proposta da teologia da prosperidade e estrutura
empresarial. Enveredando por este caminho, nasceram as seguintes igrejas:
Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Cristo Vive,
Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Comunidade da Graça, Renascer em
Cristo e Igreja Nacional do Senhor Jesus.
Cabe ressaltar que Mariano (2005) evidencia as fragilidades existentes na
construção desses conceitos que tipificaram os grupos pentecostais. Dentre as
classificações mais usadas, utilizo a proposta de Mariano (2005) que apresenta três
tipificações.
5O termo evangélico, segundo Mariano (2005), diz respeito aos segmentos cristãos nascidos na e descendentes da Reforma Protestante europeia no século XVI. Como exemplos, são citados os grupos considerados protestantes históricos (Luterana, Presbiteriana, Congregacional, Anglicana, Anglicana, Metodista e Batista) e os considerados pentecostais e neopentecostais (Congregação Cristã no Brasil, Assembléia de Deus, Evangelho Quadrangular, Brasil para Cristo, Deus é Amor, Casa da Bênção, Universal do Reino de Deus etc.).
21
A vertente neopentecostal emergiu no final da década dos anos 1970,
como uma ruptura em relação ao pentecostalismo tradicional. Não consiste em um
fenômeno religioso homogêneo, mas composto por diversos grupos. Nesse sentido,
classificá-las é processo complexo e expressa limitações. Diversos são os autores
que constroem tipologias e classificações.
A bibliografia referente ao neopentecostalismo, sempre retoma aspectos
relacionados ao Protestantismo e ao Pentecostalismo e vê esse novo
Pentecostalismo no bojo de uma perspectiva tanto de continuidade quanto de
ruptura de paradigmas. Para se falar sobre esse fenômeno, empregam-se
constantemente termos como neopentecostalismo, pentecostalismo autônomo,
pentecostalismo de cura divina, evangélicos carismáticos e outros mais. Somado a
isso, a “[...] mídia acrescenta outros conceitos e termos que, eivados de
preconceitos, espalham ainda mais a confusão ao discurso do senso comum”
(CAMPOS, 1997, p. 49).
Mendonça (2008, p. 137-138), ao apresentar o crescimento desse
fenômeno religioso no Brasil, articula a expansão dessa vertente com a dinâmica
cultural brasileira, especialmente com o imaginário social, apontando para um novo
cenário religioso no país. Mendonça (1995) foi o primeiro autor a designar este tipo
de religiosidade como neopentecostal, que, segundo ele, é marcado pelo utilitarismo
e emoção.
Este autor assim afirma quando se refere à classificação:
O neopentecostalismo talvez até merecesse hoje um outro nome que não ode neopentecostal. O pentecostalismo clássico traz forte herança cristã e principalmente do cristianismo protestante. O neopentecostalismo perdeu dois elementos fundamentais desses dois ramos: do pentecostalismo clássico praticamente perdeu a segunda bênção (batismo com o Espírito Santo); e do protestantismo, a Bíblia. Em lugar desses elementos, entraram aspectos mágicos com o instrumental herdado das religiões correspondentes ao imaginário social, como novenas (Igreja Universal do Reino de Deus, Igreja da Graça, catolicismo popular), bênção da água (água-benta), óleo, flores, chaves, etc. Os atos de exorcismo entram como instrumental de reorganização do universo dos clientes, separando o bem do mal (MENDONÇA, 2008, p. 139).
Ele ainda destaca que: [...] poderíamos dizer que o neopentecostalismo constitui, ou institui, igrejas mágicas’. [...] uma observação mais atenta mostra que essas igrejas não constituem comunidades de crentes comprometidos com a koinonia cristã. Estão sempre cheias, mas de clientes que buscam solução mágica para os problemas do cotidiano e que estão sempre em trânsito, na maioria das vezes mantendo sua identidade religiosa tradicional. Não são, portanto,
22
Igrejas, mas clientelas de bens de religião obtidos magicamente (MENDONÇA, 2008, p. 139).
Para Freston (1994) a história do pentecostalismo apresenta “ondas”. A
primeira se refere ao Pentecostalismo Clássico através da presença estrangeira e
faz parte dessa “onda” a Assembléia de Deus e a Congregação Cristã do Brasil
(CCB); nos anos 50 e 60 ocorre o momento de formação de grupos pentecostais
brasileiros, que apresentam características peculiares, como a crença na “cura
divina”, combate às concepções e práticas da religião afro-brasileira e, como parte
da estratégia de recrutamento dos fiéis, a utilização de instrumentos midiáticos,
entre eles rádio e televisão. Os grupos da terceira onda são classificados de
neopentecostais por apresentarem rupturas marcantes se comparados em relação
aos pentecostais.
Bittencourt Filho (2003, p. 121, grifo meu) elabora uma tipologia que se
divide em quatro grupos: Protestantismo Histórico ou de Missão (grupos resultantes
de empreendimentos missionários dos Estados Unidos, a exemplo da
Congregacional, Presbiteriana, Batista, Metodista, Episcopal, Evangélica Luterana);
grupos que se radicaram no país a partir da migração e deram origens à Anglicana,
Confissão Luterana e Igrejas Reformadas - Holandesa, Armênia, Suíça, Húngara;
Pentecostalismo Clássico, que se estabeleceu no início do século XX, frutos das
ações missionária e do movimento pentecostal “original” (como exemplo, a
Assembléia de Deus, Congregação Cristã no Brasil, Igreja do Evangelho
Quadrangular); e Pentecostalismo Autônomo ou Neodenominacionalismopor
possuírem doutrinas e práticas religiosas singulares e específicas e por não
reivindicarem vínculos históricos explícitos.
Quanto aos grupos classificados como neopentecostais, autores como
Campos (1997) e Mariano (2005) enquadram como principais representantes os
seguintes: Igreja Universal do Reino de Deus (Rio de Janeiro, 1960), Igreja
Internacional da Graça de Deus (Rio de Janeiro, 1980), Cristo Vive (Rio de Janeiro,
1996); Renascer em Cristo (São Paulo, 1986), Igreja Nacional do Senhor Jesus (São
Paulo, 1994), Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (Goiás, 1976); e outros
como a Igreja Cristo é Vida, Igreja Cristã Ebenézer, Comunidade Internacional da
Zona Sul e Igreja Aliança com Deus.
23
Os Neopentecostais sinalizam mudanças substanciais dentro do universo
religioso pentecostal, como a ênfase na “[...] guerra espiritual, teologia da
prosperidade e a liberalização do rígido legalismo pentecostal” (MARIANO, 2005, p.
9), além da:
[...] dessectarização, a ruptura com o ascetismo contracultural e a progressiva acomodação destes religiosos e suas denominações à sociedade e cultura de consumo. Mudanças consideráveis de caráter secularizante, cujos efeitos mais visíveis tem consistido em torná-los cada vez menos distintos e, por conseqüência, cada vez menos um retrato negativo dos símbolos de nossa brasilidade (MARIANO, 2005, p. 9).
Siepierski (2003) afirma que no neopentecostalismo existe uma
ressacralização, um diálogo com elementos de outras práticas religiosas, produzindo
elementos inovadores:
As ressacralizações efetuadas pelas novas religiões diferem muito entre si, algumas confinadas às dimensões propriamente religiosas da vida, outras se ampliando para as mais variadas áreas da vida social. A reposição da sacralidade, tal como levada a efeito pelo neopentecostalismo, apresenta especificidades marcantes e tem profundas implicações sociais e políticas (SIEPIERSKI, 2003, p. 191).
Nesse processo de ressacralização existem trocas simbólicas com
elementos de outras experiências religiosas, como o catolicismo popular, religiões
afro-brasileiras e espíritas. As crenças neopentecostais foram sendo apropriadas
num terreno cultural eclético e identificadas com o catolicismo e as manifestações
afro-brasileiras, e isso não aconteceu de forma harmônica, porém deu-se de forma
que houve (re) acomodações, (re) construções e configuração de novas identidades.
Siepierski (2003) afirma que as transformações sociais, políticas e
econômicas ocorridas no Brasil ao longo do século XX, engendraram mudanças
significativas para que surgisse um ambiente propício à pluralidade religiosa. Nesse
sentido, acredito que ao se pensar sobre o campo religioso brasileiro, afirmo que
este se tornou plural e maiores os intercruzamentos entre as diversas manifestações
religiosas.
Ainda, Siepierski (2003), pensa em outra designação para esses novos
movimentos religiosos. O autor utiliza o termo pós-pentecostal.
[...] O pós-pentecostalismo é um afastamento do pentecostalismo tendo como cerne a teologia da prosperidade e o conceito de guerra espiritual. Tal afastamento só foi possível mediante a gradual substituição do pré-milenarismo pelo pós-milenarismo (SIEPIERSKI, 2003, p. 79).
24
Conforme Siepierski (2003), o pentecostalismo clássico, que possui bases
americanas, tem a sua mensagem e prática religiosa no que chama de pré-
milenarismo, isto é, a crença na iminente volta do messias, produzindo na vida do
fiel o afastamento das questões relacionadas à vida cotidiana. Quanto ao pós-
milenarismo, característica dos neopentecostais, a mensagem sobre o retorno de
Cristo expressa um futuro imprevisível, o que engendra outro ethos, como a
acomodação dos fiéis aos valores da sociedade e flexibilidade nos sinais externos
de santidade.
Destaco que no pentecostalismo, em suas outras vertentes, há também a
ressacralização, mas no neopentecostalismo, isso parece ser mais evidente. Lima
(2010) utiliza o termo “neopentecostalismos” para expressar a diversidade de
grupos, visto que apresentam distintos aspectos, conteúdos simbólicos e
modalidades ritualísticas.
Concordo com Mariano (2005) quando afirma que o prefixo neo expressa
apropriado tanto pela sua configuração recente, quanto pela sua característica
inovadora, como o diálogo com elementos pentecostais tradicionais, a emotividade
nos cultos, os dons do Espírito Santo, à teologia da prosperidade, a guerra espiritual,
a presença de lideranças carismáticas, o que trouxe mudanças em relação ao
tradicional ascetismo protestante.
Tais mudanças não se restringem às diretrizes religiosas, porém
englobam representações e práticas, expressando uma adaptação à sociedade,
incluindo mudanças para além do êxtase religioso, cura e exorcismo, incluindo
mudanças estéticas, teológicas e comportamentais.
Lima (2010) problematiza em seu estudo as leituras sobre o fenômeno
neopentecostal. Para o autor, a concepção de Neopentecostalismos é mais
adequada para explicar este complexo fenômeno religioso. Lima (2010) propõe que
a concepção de Neopentecostalismos não pressupõem uma descontinuidade ou
rompimento com as fronteiras estabelecidas em relação aos pentecostais, nem
muito menos deve ser pensada dentro de uma perspectiva etapista.
Os Neopentecostalismos podem ser compreendidos como uma categoria classificatória que engloba uma diversidade de movimentos religiosos e culturais sujeito às conjunturas históricas e às práticas sociais. Adicionalmente, possuem traços, identidades e rituais peculiares em sua relação com o sagrado, além de instituições, modos de ser, e construído espaços e redes de sociabilidade e produzido formas de sentir e pensar a cultura brasileira. Afirmo que há um processo de ressacralização que
25
envolve elementos de outras práticas religiosas e elementos inovadores (LIMA, 2010, p. 38, grifo meu).
Weber (1997) analisa que a ética protestante dos calvinistas, que tinha
características específicas, favoreceu o surgimento do capitalismo. A forma de
comportamento avessa aos padrões culturais, a ascese protestante intramundana,
pode explicar o comportamento dos pentecostais no Brasil. No entanto, posso
destacar que há uma nova ascese pentecostal, com os neopentecostais.
Afirmo que tais grupos se apropriaram de capitais simbólicos6 dos
protestantes históricos e dos pentecostais clássicos, reelaborando e reinventando
novas representações e práticas religiosas. Chartier (1986) destaca o conceito de
apropriação, em que problematiza como os indivíduos e grupos se apropriam de
formas culturais.
Santos (2006, p. 221) destaca que a relação entre crença protestante e
cultura no Brasil não ocorreu de forma linear e homogênea, mas conheceu múltiplas
possibilidades de construção e reconstrução, durante o período da primeira
república.
A relação para com a cultura brasileira foi de crítica a partir do discurso oficial dos expoentes e das instituições do campo evangélico. A crítica envolveu seu foco para a questão moral que estava vinculada a uma proposta da sociedade cujos valores estavam no patamar de uma civilização. No entanto, a experiência dos prosélitos oriundos das camadas mais baixas da população, trabalho conteúdos culturais e religiosos dissonantes do discurso oficial. A assimilação da doutrina, a adaptação das condutas, a incorporação das novas regras e dos novos gestos, conjugaram releituras, transposições, e transferências culturais e religiosas (SANTOS, 2006, p. 13).
As crenças pentecostais foram sendo (re) apropriadas numa cultura
formada sobre matizes heterogêneas e hegemonicamente identificada com o
catolicismo. A relação entre crença protestante e cultura no Brasil não se deu de
forma linear e homogênea, mas conheceu múltiplas possibilidades de construção e
reconstrução, conforme Santos (2006, p. 221). Assim, o neopentecostalismo
também pode ser considerado como um espaço de socialização e construção de
identidades (LIMA, 2010).
6 Na concepção de Bourdieu (2003, p. 107), capital simbólico é [...] uma propriedade qualquer (de qualquer tipo de capital; físico, econômico, cultural, social), percebida pelos agentes sociais cujas categorias de percepção são tais que eles podem entendê-la e reconhecê-las, atribuindo-lhes valor.
26
Esta pluralidade de neopentecostalismos (LIMA, 2010, grifo meu) se
expressa na diversidade de grupos religiosos, com representações e práticas
ritualísticas. Considero os rituais como elementos fundamentais na construção de
representações de um grupo. Além disso, os rituais, neste caso, os religiosos,
transcendem uma dimensão religiosa ou mítica, funcionando enquanto um
reprodutor das estruturas de poder dentro do campo religioso.
Os sistemas simbólicos derivam sua estrutura, o que é tão evidente no caso da religião, da aplicação sistemática de um único e mesmo princípio de divisão e, assim, só podem organizar o mundo natural e social recortando nele classes antagônicas, como pelo fato de que engendram o sentido por meio da lógica da inclusão e exclusão, estão propensos por sua própria estrutura a servirem simultaneamente a funções de inclusão e exclusão, de associação e dissociação, de integração e distinção (BOURDIEU, 2005, p. 30).
De acordo ainda com Bourdieu (2007, p. 17):
O sistema mítico-ritual desempenha papel equivalente [...] na medida de em que os princípios de visão e divisão que ele propõe estão objetivamente ajustados às divisões pré-existentes, ele consagra a ordem estabelecida, trazendo-a à existência conhecida e reconhecida, oficial.
Concordo com Foucault (2009, p. 39) quando afirma que o ritual:
[...] define a qualificação que devem possuir os indivíduos que falam (e que, no jogo de um diálogo, da interrogação, da recitação, devem ocupar determinada posição e formular determinado tipo de enunciados); define os gestos, os comportamentos, as circunstâncias, e todo o conjunto de signos que devem acompanhar o discurso; fixa, enfim, a eficácia suposta ou imposta das palavras, seu efeito sobre aqueles aos quais se dirigem, os limites de seu valor de coerção. Os discursos religiosos [...] não podem ser dissociados dessa prática de um ritual que determina para os sujeitos que falam, ao mesmo tempo, propriedades singulares e papéis preestabelecidos.
Bourdieu (1996, grifo meu) trabalha com a categoria rito de instituição.
Também associado aos ritos de instituição o autor trabalha com ritos de
consagração e ritos de legitimação. Os ritos de instituição indicam que:
Qualquer rito tende a consagrar ou a legitimar, isto é, a fazer desconhecer como arbitrário e a reconhecer como legítimo e natural um limite arbitrário, ou melhor, operar solenemente, de maneira lícita e extraordinária, uma transgressão de limites constitutivos da ordem social e da ordem mental a serem salvaguardadas a qualquer preço (BOURDIEU, 1996, p. 98).
Dentro dessa perspectiva, posso inferir que os rituais classificam e
reconhecem como legítimos discursos e práticas que venham a ser de determinados
27
interesses, individuais ou coletivos. Problematizo: Que relações de concorrência e
oposição podem ser identificadas dentro do campo religioso brasileiro, tomando
como referência as manifestações no ritual chamado de “Quebra de Maldições”?
Nessa discussão, retomo Bourdieu (2005, p. 50) que afirma:
As relações de transações que se estabelecem, com base em interesses diferentes, entre os especialistas e os leigos, e as relações de concorrência dentro do campo religioso, constituem o princípio da dinâmica do campo religioso e também das transformações da ideologia religiosa.
Com a emergência dos grupos neopentecostais, houve a introdução de
um conjunto de novas práticas religiosas dentro do cenário religioso brasileiro,
promovendo “[...] uma verdadeira ruptura na identidade estética, na aparência
desses religiosos. Irrompeu, portanto, um novo modo de ser pentecostal”
(MARIANO, 2005, p. 87). Um ritual, neste caso específico a “Quebra de Maldições”,
pode implicar na demarcação de um ethos neopentecostal?
No próximo capítulo da monografia, tento fazer uma discussão sobre este
ritual específico dos Movimentos Neopentecostais, a Quebra de Maldição,
especificamente na Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra.
28
3 A COMUNIDADE EVANGÉLICA SARA NOSSA TERRA E A “QUE BRA DE
MALDIÇÕES”
Ao se passar em frente a um grupo pentecostal, comumente se ouvem
expressões como “sai em nome de Jesus”. Observa-se também o diálogo com a
entidade espiritual como “tá amarrado”, “qual é o seu nome, demônio?”, “o que você
está fazendo com ela?”, “sai encosto”, entre outros. Também nessas manifestações,
o nome da entidade é pronunciada como “Oxum” e “Pomba-Gira”.
Tais manifestações são freqüentes nestes grupos, especificamente nos
neopentecostais, tais como a Igreja Universal do Reino de Deus (1977) Igreja
Internacional da Graça de Deus (1980), Igreja Apostólica Renascer em Cristo (1986)
e Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra (1992) (MARIANO, 2005).
Além das palavras e expressões, nessa guerra contra entidades
consideradas malignas, se usam outras formas como objetos benzidos, óleos,
correntes de oração e rituais de exorcismo e unção. Percebe-se nesses rituais, ao
mesmo tempo, o combate e a presença de elementos considerados de outras
religiões, sobretudo católica, afrobrasileira e espírita.
Na Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), uma das maiores
expressões do neopentecostalismo brasileiro, vê-se a grande diversidade de rituais:
Reunião do Louvor e Adoração, Reunião da Nação dos 318, Vigília da Libertação, a
Sessão do Descarrego e A Terapia do Amor7. É como se para cada problema
humano, houvesse um tipo de prática ritualística.
É importante destacar que os rituais de um grupo neopentecostal para
outro não são iguais, nem a forma de praticá-lo, visto que os grupos apresentam
distinções teológicas, eclesiásticas, doutrinárias, institucional, social, estética e
política.
Nesta seção da monografia, analisarei um ritual específico, comum a
todos os neopentecostais, chamado de “Quebra de Maldição”. Por ser uma
manifestação complexa, delimito a análise, tomando como referência, a produção
sobre a Quebra de Maldição, produzida pela Comunidade Evangélica Sara Nossa
Terra na figura do seu presidente Robson Rodovalho. Dos seus livros, cinco me
chamaram atenção, por discutirem mais diretamente o tema: Por trás das bênçãos e
7Todos estes rituais são praticados nas Igrejas Universal do Reino de Deus em todo o Brasil e no exterior (IGREJA UNIVERSAL DO REINO DE DEUS, 2011).
29
maldições (2007); Quebrando as maldições hereditárias (2005); Por que não somos
espíritas? (2008); Por que não somos católicos (2005); e Brasil, antes que seja tarde
(2006).
3.1 A Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra
3.1.1 Origem e características
A Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra foi fundada por Robson e
Maria Lúcia Rodovalho em 1992, em Brasília - DF. De acordo o site oficial da igreja,
os seus líderes, por “revelação divina”, tiveram o chamado para “[...] sarar o país, a
sociedade e a cultura, pois acreditam que a Terra está ferida pelas desigualdades
sociais, pela miséria, fome, corrupção, bruxaria e todas as formas de exploração do
mal” (SARA NOSSA TERRA, 2011). Existem aproximadamente 550 igrejas no Brasil
e no exterior. A igreja possui um canal de televisão, a TV Gênesis, e uma rádio, a
Sara Brasil FM, além do jornal Sara Nossa Terra e a Revista Sara Brasil.
A origem da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra está “[...]
diretamente vinculada à biografia de seu líder Robson Lemos Rodovalho”
(MARIANO, 2005, p. 104). Além de bispo presidente do grupo, Rodovalho é
proprietário da Editora Koinonia, autor de diversas obras, em torno de quarenta e
cinco (45), na sua grande maioria de caráter teológico.
As temáticas que mais chamam atenção são a “Quebra de Maldições” e a
“Guerra Espiritual”. Estas duas concepções estão intrinsecamente interligadas.
Também chamada de “Batalha Espiritual”, esta linha de pensamento afirma que
entidades celestiais do bem estão em constante confronto invisível com entidades
consideradas do mal no processo de rompimento das maldições.
Segundo Mariano (2005, p. 105) Robson Rodovalho casou-se com Maria
Lúcia que é considerada bispa e “[...] fundou com Cirino Ferreiro, a Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra, cuja terminação Sara Nossa Terra foi incluída em
1992”. Assim como a Renascer em Cristo, outro grande grupo neopentecostal, a
Sara Nossa Terra abriga grandes proporções de fiéis de classe média. Além disso,
é conhecida como uma igreja que possui uma postura liberalizante no tocante a
vestimentas, hábitos e comportamentos, abertas a outros estilos musicais e uma
forte atuação das mulheres que ocupam posições de bispas e pastoras.
30
A Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra se difere da Igreja Universal
do Reino de Deus (IURD) e da Internacional da Graça de Deus – pois nestas duas
últimas, grande parte dos fiéis são membros das classes populares – mas se
aproxima da Igreja Apostólica Renascer em Cristo, por abrigar grande proporção de
fiéis de classe média, além do grande número de jovens (MARIANO, 2005).
Em pesquisa realizada em São Luís - MA sobre a dinâmica das relações
de gênero, Lima (2010) afirma que grande parte dos templos da Sara Nossa Terra
estão localizados em bairros considerados populares.
Na Sara Nossa Terra existem vários rituais que são denominados como
cultos. Ocorrem semanalmente e cada um tem objetivos específicos, como cura,
libertação e quebra de maldições, músicas e ensinamentos para o jovem e louvor e
ministração dos ensinamentos da bíblia. São alguns de seus principais cultos: “Culto
de Quebra de Maldição”, “Culto de Cura Interior”, “ArenaJov”, “Culto da
Prosperidade” e o “Culto de Louvor e Adoração” (Figura 1).
Figura 1 : Programação dos cultos na Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, Brasília – DF, sede da igreja. Os cultos nas igrejas em outras cidades seguem a mesma programação da sede.
Fonte: Sara Nossa Terra (2011)
31
Há uma diversificada programação em seus cultos, tanto em seus
templos, como televisiva. Os cultos podem ter finalidades diferentes como salvação,
cura física, cura emocional, libertação de entidades consideradas demoníacas,
resolução de problemas afetivos e familiares, de crise individual e de relacionamento
interpessoal, além da busca pela prosperidade material. Além disso, há cultos
direcionados a segmentos específicos, tais como homens, mulheres e crianças
(Figura 2).
Figura 2 : Convite para o “culto da prosperidade”, numa das igrejas em São Luís - MA
Fonte: Fonte: Sara Nossa Terra (2011)
A Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra é considerada
neopentecostal por apresentar características específicas. Entre alguma delas, Lima
(2010, p. 42-43) destaca “[...] a relação dos fiéis com os ‘bispos’, a centralização e
as configurações de poder do grupo e o complexo sistema cosmogônico e
ritualístico”.
32
Além disso, Lima (2010, p. 48, grifo meu) destaca:
A CESNT se insere em uma concorrência dentro do campo religioso pelo poder, visto que tenta através do monopólio do exercício legítimo do poder, trazer modificações na prática e na representação dos leigos, impondo-lhes um habitus religioso específico, tais como concepções e práticas como a “quebra de maldição” “cura interior” e prosperidade.
Nesse sentido, a Sara Nossa Terra constrói e possui seu próprio sistema
mágico-religioso que se configuram em seus rituais. Esses rituais oferecem
“mercado de bens simbólicos”, como afirma Bourdieu (2007, p. 95).
No que concerne à Quebra de Maldição, o próprio lema da Sara Nossa
Terra “sarar o país, a sociedade, a cultura” que foi “ferida pelas desigualdades
sociais, pela miséria, fome, corrupção, bruxaria e todas as formas de exploração do
mal” revela um aspecto muito forte no grupo: “A bênção ou a maldição nos foi dada
como estilo de vida” (RODOVALHO, 2007, p. 14).
Bourdieu (2005, p. 31) analisa o papel dos agentes religiosos na
construção da dinâmica do campo religioso. Como idealizadores da Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra, Robson Rodovalho e Lúcia Rodovalho, em especial
este último, têm o monopólio e a legitimação sobre a manipulação dos bens
sagrados, o que o distinguem dos outros fiéis. Conforme afirma Bourdieu (2005, p.
39)
[...] enquanto resultado da monopolização da gestão dos bens de salvação por um corpo de especialistas religiosos, socialmente reconhecidos como os detentores exclusivos da competência específica necessária à produção ou à reprodução de um ‘corpus’ deliberadamente organizado de conhecimento secretos (e, portanto raros), a constituição de um campo religioso acompanha a desapropriação objetiva daqueles que dele são excluídos e que se transformam por esta razão em leigos (ou profanos, no duplo sentido do termo) destituído do capital religioso (enquanto trabalho simbólico acumulado) e reconhecendo a legitimidade dessa desapropriação pelo simples fato de que a desconhecem como tal.
3.2 A “Terra está ferida pelas desigualdades sociai s, pela miséria, fome,
corrupção, bruxaria e todas as formas de exploração do mal ”: a Comunidade
Evangélica Sara Nossa Terra e a “quebra de maldições”
A “Quebra de Maldições” se expressa numa dimensão espiritual:
São as regiões celestiais nas quais são travadas as batalhas espirituais entre os anjos e os demônios. Neste lugar habitam os seres espirituais e celestiais que observam como vivemos, os pactos que fazemos, os pecados que cometemos, e por isso têm o poder de nos alcançar (RODOVALHO, 2007, p. 12).
33
O discurso aponta a necessidade do fiel apresentar uma vida de acordo
com os parâmetros cristãos. Qualquer deslocamento em relação a essa lógica de
pensamento trarão consequências para o fiel.
É assim que temos de viver: de maneira justa e santa. Que não haja em sua vida brechas, faltas, aliança com demônios, pactos com entidades do candomblé, enfim, coisas que possam fazer com que os exércitos dos céus testemunhem contra você e te oprimam. Saiba que os céus te observam, e eles se abrem para deixar a bênção te alcançar, ou se fecham para te oprimir, conforme a maneira como você esteja vivendo. Se você vive em santidade, os anjos ministrarão as bênçãos, se você vive no pecado, os demônios trarão as maldições (RODOVALHO, 2007, p. 12). Se vivermos da Sua Palavra e direção, colhemos bênçãos, se não, colhemos maldições (RODOVALHO, 2007, p. 13).
O confronto com as entidades espirituais são centrais na concepção da
Quebra de Maldição. A produção é repleta de histórias de vida de pessoas que se
envolveram com outras expressões religiosas e terminaram com um final trágico, ou
que se arrependeram, sendo assim escolhidos para perpetuar a “quebra de
maldições”. O próprio bispo escreve sobre sua história:
Lembro-me de uma experiência que passei no começo do meu ministério. Estava orando em uma noite de vigília quando, de repente, tive uma visão. O Senhor vinha com um chifre cheio de azeite sobre a minha cabeça e me dizia: ‘Eu te unjo para destruir as obras do diabo’. Então eu vi um anjo que me vestia com uma nova roupa. Era a armadura espiritual. [...] No final da oração estava tão cheio do Espírito, que parecia estar embriagado. A partir daquela noite, em que fui revestido da proteção celestial, tudo ficou mais fácil para mim no mundo espiritual (RODOVALHO, 2007, p. 59).
Ao abordar o envolvimento do fiel com outras expressões religiosas, há
uma associação com o mal. A ideia de sincretismo religioso está presente, pois
parece que não há uma demarcação nítida sobre outras crenças. Numa referência
ao envolvimento de uma jovem com o Espiritismo, observo como é representada e
descrita esta manifestação religiosa, assim como as implicações disto para sua vida:
Seu nome é Bete. Uma jovem de 22 anos de idade. [...] O desejo de tentar a vida em outro país tomou o seu coração. As primeiras iniciativas foram tentar todos os caminhos conhecidos. [...] Certo dia uma amiga veio e lhe disse que conhecia um modo espiritual que faria as portas se abrirem. Ela aceitou o desafio, então marcaram para ir a um centro espírita que sua amiga conhecia. Ao chegarem lá, o pai de santo recebeu uma entidade espiritual no seu corpo e disse-lhe que, se ela se submetesse ao ritual necessário, ele agiria para que ela pudesse ir para o exterior. Ela aceitou. Ele deu para ela beber um pouco de pinga que estava num copo em que ele mesmo tomara. Além disto, ele fez um despacho que envolvia o corpo dela. Ele tomou sangue de um animal e fez uma cruz nas costas dela, na região
34
dos rins. Ele a orientou a colocar um anúncio no jornal sobre seu desejo de ir à Europa [...] Um mês após o anúncio, alguém lhe telefonou dizendo que queria contratá-la. Ela passou dois anos na Europa [...] Depois deste período ela voltou ao Brasil. Quando chegou ao Rio de Janeiro, ela perdeu sua memória, acordando duas semanas depois em Brasília, num hospital. Ali ela perdeu um de seus rins. Seis meses depois ela perdeu o outro, ficando totalmente dependente de hemodiálise. Hoje se converteu a Jesus em nossa Comunidade. Quebramos as maldições sobre ela e os pactos que fizera (RODOVALHO, 2007, p. 15).
Em outro momento, aponta o sincretismo que há no espiritismo:
O sincretismo religioso contém elementos de vários pensamentos: do cristianismo, budismo, hinduísmo, teosofia, bramanismo e várias formas de esoterismo, que juntas caracterizam o espiritismo. O resultado desta mistura é um fraco sistema doutrinário que deseja fundamentar-se no evangelho de Jesus, observando apenas aspectos morais de seus ensinos (RODOVALHO, 2008, p. 5).
Além disso, relaciona-o às novas religiões contemporâneas:
O espiritismo é uma das religiões que mais cresce no mundo de hoje e está enraizado em quase todas as religiões, principalmente naquelas relacionadas à Nova Era. O espiritismo é o mais antigo engano religioso que se conhece. Porém, em sua versão moderna começou no século 19 (RODOVALHO, 2008, p. 8).
As críticas a esta religião direciona-se à ideia de evolução dos espíritos,
consulta aos mortos a favor dos vivos e a negação da divindade de Jesus Cristo.
Ainda, aponta os responsáveis pelo aparecimento da crença em solo brasileiro:
[...] colonizadores portugueses que, apesar de católicos, trouxeram a crença na bruxaria europeia, os indígenas, que aqui já moravam, com suas crendices e superstições, e os negros africanos vindos para o Brasil, como escravos (RODOVALHO, 2008, p. 35).
Determinadas práticas do Espiritismo, como à consulta aos mortos são
alvos de críticas: “[...] quando você consulta a alguém que morreu, você está
entrando no mundo dos espíritos e certamente será enganado. Os espíritos dos
mortos não se comunicam conosco, quem os faz são os espíritos enganadores”
(RODOVALHO, 2007, p. 18).
Aspectos sincréticos sempre apresentam conotações negativas. Ao
caracterizar o espiritismo quanto as suas vertentes – kardecismo, umbandismo,
racionalismo e esoterismo – demarca suas especificidades. Ao tratar do
Umbandismo, relaciona-o ao Kardecismo, Catolicismo romano, rituais indígenas,
35
quimbanda, candomblé e macumba (RODOVALHO, 2008, p. 40). Quanto ao
esoterismo, apresenta três características: o ocultismo, o esoterismo e o misticismo
(RODOVALHO, 2008, p. 44).
Lugares de rituais de religiões espíritas e afro-brasileiras são
mencionados:
Você precisa desenvolver sua mediunidade. É o que repetem milhares de espíritas a pessoas oprimidas, doentes ou possessas, que procuram terreiros e centros espíritas em busca de ajuda. A saudade dos parentes falecidos. Os familiares curiosos e saudosistas procuram resolver uma pendência ou dívida emocional com os mortos e vão ao terreiro ou centro espírita para ver “baixar” ou “incorporar” alguém em um médium e receber algum recado do além (RODOVALHO, 2008, p. 36).
Rodovalho (2007, p. 31) também se refere ao catolicismo, apontando que
determinadas práticas trazem maldições:
Deus está ensinando que, quando o homem faz imagens, esculturas, semelhanças de qualquer tipo de seres do céu ou da terra, para adorá-los, para prostrar-se diante deles, ele está colocando os deuses no mesmo nível do Senhor. Quando um homem se prostra perante um santo, um guia, um orixá, este homem está colocando aquele deus à altura do Senhor que é Rei dos reis, Senhor dos senhores, o verdadeiro Deus. Isto traz maldição. As entidades espíritas são cultuadas também no catolicismo. [...] para que entidade do candomblé ou da macumba existe uma correlacionada nos santos católicos. Por exemplo: Iemanjá à Nossa Senhora Aparecida, São Benedito (que tem uma imagem negra) ao Preto, Cosme e Damião são duas crianças santas, isto é, duas castas de demônio. São Jorge Guerreiro às castas de Exus, geralmente Exu Sete Flechas, e assim por diante. Existe uma verdadeira relação espiritual que culturalmente é chamada de sincretismo religioso, isto é, uma mistura entre o espiritismo e o catolicismo. Na verdade, não é mistura e sim os mesmos espíritos que conforme a religião são chamados por um nome ou por outro (RODOVALHO, 2007, p. 31-32).
Críticas são realizadas às seguintes concepções: autoridade papal, Maria
como mediadora e intercessora da humanidade, a ideia de salvação, pagamentos de
indulgências e penitências para se tornar um novo homem, canonizações, culto às
imagens, o celibato, o envolvimento com a política e a perseguição à Martinho
Lutero (precursor da Reforma Protestante). Cito como exemplo, uma contundente
crítica lançada à prática de veneração de imagens: “Idolatria é qualificada
biblicamente, como pecado semelhante ao adultério: infidelidade para com Deus. A
idolatria traz maldição e embrutece o homem, cegando seu entendimento”
(RODOVALHO, 2005a, p. 33).
36
Cidades que possuem nomes de santos católicos, segundo Rodovalho
(2005a), recebem influências de espíritos malignos. Nessa ótica, existem espíritos
que atuam em cidades e na vida de seus habitantes, por estas terem sido
consagradas a entidades consideradas malignas, pelos próprios nomes que levam.
As cidades trazem os traços dos espíritos que nela atuam. Às vezes é violência, acidente, morte, feitiçaria ou prostituição. Todos os traços e características são apenas pontos de contato. Há um mundo espiritual submerso com forças espirituais, que atuam no mundo natural [...] Um dos parâmetros importantes que deve ser usado para lhe ajudar no discernimento dos espíritos é entender suas origens e raízes. Nelas estão infiltradas as raízes espirituais. É o caso de cidades que recebem o nome de santos católicos. Você sabia que “Santa Rita” é santa do sofrimento, da tristeza e da dor? A cidade que leva esse nome carrega consigo essa carga espiritual [...] São Jorge Guerreiro: santo, que diz de proteção, mas que na verdade é o demônio de morte e acidentes. São Benedito: imagem de cor negra que normalmente traz opressão e enfermidade. São Antônio: diz-se o santo da família e dos casamentos. Geralmente as pessoas ou famílias debaixo de sua proteção vão ao divórcio ou infidelidade conjugal. Santa Fátima: santa que aparecia à crianças, trazendo aparente piedade, isolamento. Na verdade é um espírito que produz o senso de rejeição, complexo, abandono e autopiedade (RODOVALHO, 2005b, p. 81-83).
É necessário observar o uso constante de textos ou versículos bíblicos
para legitimar e justificar essas concepções. Observo que é o bispo que possui a
“fala autorizada”, “[...] o direito de falar e agir em nome do grupo, de se tomar pelo
grupo [...]” que encarna (BOURDIEU, 1996, p. 83), expressando uma espécie de
poder simbólico (BOURDIEU, 2005).
Outro elemento a ser sublinhado é que a produção sobre a Quebra de
Maldição é escrita pelo bispo e não pela sua esposa, a bispa Lúcia Rodovalho. Lima
(2010) destaca que isso ocorre porque há questões de gênero investidas, que por
sua vez, mantêm e perpetua uma ordem simbólica marcada por valores masculinos.
Destaco que a “quebra de maldições” é usada, não somente para explicar
o envolvimento com outras manifestações religiosas. A concepção é revestida de
elementos morais e disciplinadores da conduta:
Em todos os casos de maldições que temos ajudado, as pessoas têm a mesma raiz, ou elas mesmas ou alguém de sua família, em algum momento, rompeu com os princípios de proteção da Palavra de Deus. Envolveram-se em situações de violência, de sexo explícito ou de espiritismo, de alguma outra forma de pecado, gerando uma brecha na vida pessoa para as maldições se alojarem (RODOVALHO, 2007, p. 19).
37
Outros elementos podem ser citados, a exemplo do divórcio, a quebra de
alianças, como juramentos, primogenitura com Deus e oferecimento de dízimos
(RODOVALHO, 2007, p. 19).
A desobediência à bíblia implica na existência de maldições, não somente
sobre o indivíduo, mas sobre famílias e até mesmo nações. Rodovalho (2006, p. 33;
50) ao abordar sobre o contexto social e político do Brasil, afirma que a “a verdade e
a justiça”, baseada nos princípios bíblicos, são os fundamentos para uma nação ser
próspera econômica e politicamente. O bispo, no seu texto, fornece soluções para
aos cristãos (aqueles pertencentes à linhagem protestante). Sem fazer críticas
diretas a alguma expressão religiosa, Rodovalho (2006) assim se refere aos
aspectos culturais de uma nação.
Como se forma o conjunto de princípios que constituem essa “cultura” de valores? Quem lhes dá forma? De onde vem o ‘jeito’ de viver, de se comprometer, de acreditar em si e nos outros? São forças quase invisíveis que compõe esse quadro, até a pouco tido como inofensivo e sem valor substancial à nação. A chamada cultura popular é sim a base de desenvolvimento de um país, pois nela se sustentam as demais relações da vida [...] (RODOVALHO, 2006, p. 50).
Para ele, uma “reforma social e política” depende do papel da Igreja, nas
entrelinhas, a igreja evangélica (RODOVALHO, 2006, p. 63). O confronto com as
entidades espirituais também ocorre no nível político:
O Congresso Nacional tem sido palco da maior batalha espiritual pelo controle de nossa sociedade remodelando-a por meio de leis que atuam no sentido de destruir a família e os valores cristãos. Hoje a omissão representa a destruição e o caos em 10 ou 15 anos, o que não será perdoado pelas próximas gerações (RODOVALHO, 2006, p.87).
A “quebra de maldições” possui um caráter repressivo a determinadas
condutas, tais como desejos e sexualidades não circunscritas a uma lógica
matrimonial. É dada uma significativa atenção a estas questões, que quando
transgredidas, geram maldições, transmitidas de geração a geração, que precisam
ser quebradas. Práticas como adultérios, relacionamentos considerados ilícitos por
parte dos antepassados familiares e homossexualidade são frequentemente citados
nas passagens dos livros:
Ao se formar um só corpo, automaticamente, o espírito daquela mulher, as ligações, os pecados, passam a ter interferência no mundo espiritual do homem que se uniu a ela, e vice-versa. Passa a existir uma troca entre o mundo espiritual das duas pessoas. Por que se tornam uma só carne,
38
consequentemente, os ambientes e heranças espirituais (RODOVALHO, 2007, p. 36). Esta unidade faz uma mescla no espírito, fazendo com que esta pessoa se torne participante de todos os pecados dela. Quando o corpo se une, a alma e o espírito se unem também. Relação sexual é uma maneira pela qual há uma identidade total, a unidade completa entre duas pessoas. Por isto Deus abençoa o casamento e diz que apenas no casamento estaria santificada a união (RODOVALHO, 2007, p. 76).
Em um depoimento, o bispo traz a questão da homossexualidade,
argumentando que existe “[...] uma transmissão de heranças espirituais das
gerações passa das para as atuais” (RODOVALHO, 2005b, p. 13).
Um homossexual, certa vez, disse chorando: ‘Quando o monstro se levanta dentro de mim, ele me arrasta e me cativa. Sou seu escravo, não consigo raciocinar. A compulsão interior é tão forte, que apenas entrego-me a ela. Depois da experiência, vem a dor, a angústia e o tormento. É o inferno em vida. Minha consciência e meu viver se envolvem em choros de angústia e de horror (RODOVALHO, 2005b, p.13).
Um dos elementos fundamentais na “Quebra de Maldições” é a chamada
“maldição hereditária”. Para explicar o que significa, o bispo escreve, usando
exemplos de personagens bíblicos, citando o episódio descrito no livro de Segundo
Samuel, capítulo 3:
Davi foi claro quando disse: “Jamais falte da casa de Joabe quem tenha fluxo, quem seja leproso, quem se apoie em muleta”. Neste verso você está percebendo a semente das enfermidades. A partir deste instante, provavelmente, uma mutação genética ocorreu nos cromossomos de Joabe. Ele passou a ser portador de doenças hereditárias. Sem dúvida, para que uma genealogia tenha uma doença hereditária, precisa haver uma mutação em seus cromossomos. Esta alteração acontece em algum momento no elo da árvore genealógica. No caso de Joabe, aconteceu neste instante. Houve aqui uma alteração genética maligna, desenvolvendo a partir de então doenças hereditárias para a família de Joabe (RODOVALHO, 2007, p. 48).
O bispo propõe que o fiel identifique se apresenta ou não maldição. Ele
aconselha:
Ao se perceber a existência de maldições hereditárias nas pessoas, deve-se solicitar que elas façam um gráfico da árvore genealógica até a quarta e quinta geração, ou até onde souber informações. É importante que a pessoa tente escrever como foram aqueles antepassados; como foram suas práticas, vícios e a história de vida deles. A partir daí, procure descobrir se existem maldições que entraram na família e, em oração, quebre-os. É necessário interceder, pedir perdão por pecados que aqueles antepassados tiveram e quebrar pactos realizados (RODOVALHO, 2005b, p. 32) (Figura 3).
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Figura 3 : Exemplo de um esquema de árvore genealógica da família
Fonte: Rodovalho (2005b, p. 32)
É necessário ao indivíduo “quebrar” com “autoridade espiritual”
(RODOVALHO, 2005b, p. 34) a herança que herdou dos pais (RODOVALHO, 2007,
p. 54-55). Em um exemplo, é citada a neta de um dos presidentes do Brasil, que
quebrou a egiptologia do avô:
Falei com uma jovem senhora, neta de uma das pessoas mais importantes deste país (ele foi um dos maiores presidentes desta nação). Ela sabia que o avô tinha feito pactos de maldições ligando o Brasil à egiptologia, edificando cidades na forma de pirâmides e trazendo pactos com os espíritos e as entidades. Há uma necessidade de se romper com isto, de quebrar a maldição que sem perceber foi feita. Provavelmente aquele presidente não sabia das implicações espirituais que existiam ao copiar o Egito, trazendo todas as suas formas para cá (RODOVALHO, 2007, p. 55-56).
Como se observa, existe um confronto não somente com as
religiosidades católica e afro-brasileira, porém com outras religiosidades, no caso, as
orientais que também são representadas como maldições.
Em casos de “retaliações do inimigo” (RODOVALHO, 2007, p. 61-62),
princípios como “autoridade e cobertura espiritual” ficam mais evidentes, iniciando
40
um processo de “batalha espiritual”. Nesse processo, é apontada a necessidade de
uma liderança que faça a “cobertura espiritual”, personificada ou não na figura de um
pastor:
A falta de proteção de alguém maduro que entende de autoridade espiritual, num nível suficiente para fazer a guerra, para trazer proteção de Deus sobre a vida das pessoas que estão envolvidas nos conflitos, abre brecha para retaliações. Não podemos mandar um exército despreparado para guerra. Não podemos enviá-lo sem proteção espiritual. Ele perece e morre. Sem dúvida os soldados se prostram. Crianças não vão à guerra. Pessoas adultas, treinadas e subordinadas à cadeia de autoridade serão os melhores soldados para as pelejas espirituais. Contra estes, Satanás não pode resistir. Este é o exército que arrebenta as portas do inferno e traz libertação aos cativos (RODOVALHO, 2007, p. 64).
A produção bibliográfica do bispo Robson Rodovalho sobre a “Quebra de
Maldições” é específica dentro do Neopentecostalismo. Acredito que exista outras
versões desta concepção ritualística, construídas por outros grupos, como a Igreja
Internacional da Graça de Deus, a Igreja Universal do Reino de Deus e a Igreja
Apostólica Renascer em Cristo que poderiam ser objeto de estudo em uma outra
pesquisa.
A “Quebra de Maldições” pode envolver uma dimensão individual, familiar,
hereditária e mesmo cidades, estados e países. Segundo essa leitura, a “libertação”
das entidades espirituais do mal tem início na vida do próprio cristão, estendendo-se
posteriormente a sua família, configurando uma “batalha espiritual”.
Argumento que as concepções da “Quebra de Maldições” expressam não
somente um quadro de confronto com entidades consideradas malignas, tendo em
vista o rompimento com maldições trazidas por elas; ou ainda, não se restringem a
divulgação de uma mensagem religiosa; expressa uma luta pela representação em
torno do bem, usando a linguagem escrita e ritualística, visando construir uma
realidade que apresenta problemas ou conturbações e que precisa ser
transformadas por indivíduos ou grupos considerados separados ou porta-vozes
instituídos para tal tarefa. Concordo com Bourdieu (1996, p. 82-83) quando afirma:
O mistério da magia perfomativa resolve-se assim no mistério do ministério, isto é, na alquimia da representação através da qual o representante constitui o grupo que o constitui: o porta-voz dotado do poder pleno de falar e de agir em nome do grupo, falando sobre o grupo pela magia da palavra de ordem, é o substituto do grupo que existe somente por esta procuração.
41
Posso inferir que há a configuração de uma luta pelo poder com
finalidades de divisão do mundo social, impondo uma perspectiva do mundo social
no processo de enfrentamento em relação a outras visões religiosas. Nessas lutas
simbólicas, os neopentecostais, especialmente na versão Sara Nossa Terra,
mediante a “Quebra de Maldições”, utilizam estratégias, ritualizadas ou não, como
construção de representações que terminam por sua vez, naturalizando-se.
42
4 UMA ETNOGRAFIA DO RITUAL “QUEBRA DE MALDIÇÕES” DA
COMUNIDADE EVANGÉLICA SARA NOSSA TERRA
Compreendo na perspectiva de Geertz (1978, p. 13) que uma escrita
etnográfica expressa uma “descrição densa”, sendo mais interpretativa que
observadora, isto é, um empreendimento em busca dos significados. Desse modo,
posso através do ordinário, do trivial, identificar complexidades da experiência social
na Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra. Peirano (1995, p. 18) destaca sobre a
utilização da etnografia:
É importante então, reter a idéia de que as observações são realizadas não só para descrever o curioso, o exótico, o ou diferente por si mesmos, mas também e principalmente para universalizá-los. São essas duas direções – a especificidade do caso concreto e o caráter universalista da sua manifestação – que levam a antropologia a um processo de refinamento de conceitos e não, como propalam os estereótipos a respeito do seu empirismo, a um acúmulo de informações sobre situações bizarras [...].
Os rituais são formas de criar, difundir e legitimar determinadas
concepções e representações. Defendo que pode ser um objeto de estudo do
historiador por esboçar um plano cultural demarcado historicamente.
Ressalto que a etnografia não fornece todas as respostas possíveis sobre
um determinado fenômeno, porém é apenas uma possibilidade de compreensão.
Geertz (1978) ao estudar sobre a briga de galos no universo social balinês, expressa
que a etnografia deste acontecimento é apenas uma via de análise para se entender
a dinâmica desta sociedade.
Sem problematizações, não existe etnografia. Para construir esta
etnografia, parto dos seguintes questionamentos: Qual a lógica do ritual “Quebra de
Maldições”? Quais são as construções elaboradas pelo ritual “Quebra de Maldição”
da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra em relação a outras expressões
religiosas?
Descrevo dois momentos deste ritual: no primeiro, quando acontece às
terças-feiras, nos templos da Sara Nossa Terra; o outro, quando acontece numa
importante etapa de recrutamento de fiéis, o chamado “Revisão de Vida”. O
acompanhamento se deu sistematicamente no mês de janeiro de 2011.
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A Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra foi escolhida por mim para
realizar este empreendimento etnográfico porque já venho desenvolvendo uma
pesquisa neste espaço religioso8.
O ritual “Quebra de Maldições” ocorre semanalmente nas igrejas,
geralmente nas terças-feiras. Ele se repete em momentos específicos, nestes “ritos
de instituição” (BOURDIEU, 1996, p. 98). Gennep (1978, p. 26), ao estudar os
rituais, destaca que a vida do indivíduo é marcada por transições de uma etapa a
outra, expressando passagens, que são acompanhadas por atos especiais que são
representadas por cerimônias.
A “Quebra de Maldições” expressa um rito de passagem (GENNEP, 1978)
que indica um momento de transição em que “[...] a pessoa dessa maneira sai do
mundo anterior para entrar em um mundo novo” (GENNEP, 1978, p. 36).
Antes de iniciar o meu processo de inserção no grupo para realizar a
pesquisa e a minha descrição, reporto-me a Bourdieu (1996, p. 98), quando diz: que
o rito consagra ou legitima, fazendo desconhecer as arbitrariedades, e operando na
ordem social e mental.
4.1 O “culto de quebra de maldições”
Ao chegar em frente ao prédio onde funciona a Sara Nossa Terra, alguns
carros estavam estacionados na calçada da igreja, dois carros de duas portas e três
de quatro portas. Atravessei a movimentada Avenida Jerônimo de Albuquerque a fim
de chegar no outro lado onde está a igreja. Não fui vestido com roupas consideradas
sociais, mas eu estava com sapatos e roupas esporte, pois, nas minhas pré-noções,
a Sara Nossa Terra era uma igreja que não era rígida e nem pregava um padrão ou
exigia um forma de se vestir dos seus fiéis, como as igrejas evangélicas que eu
conhecia.
Entrei na igreja e ao meu redor algumas pessoas também entravam. À
porta de vidro, duas mulheres, uma vestida de calça preta e com uma camisa social
branca e a outra com um vestido não muito longo recepcionavam a todos sempre
com saudações de “boa noite”, “seja bem vindo” ou “fique a vontade”.
8Desenvolvi uma pesquisa sobre a dinâmica das relações de gênero, em que analiso as representações, além de observar a liderança carismática dos bispos presidentes e como esta relação terá desdobramentos nas questões de gênero (LIMA, 2010).
44
Entrando nas dependências da igreja, mas ainda muito próximo à porta
de entrada e saída, passei entre a parede com um bebedouro e copos descartáveis,
e a outra parede, que possuía encostada uma mesa de vidro de tamanho médio com
um arranjo de flores artificiais e blocos de envelopes brancos, com a logomarca da
igreja, para se colocarem dízimos e ofertas.
Em cima da mesa, porém, fixado na parede, havia uma quadro verde
aveludado com uma folha de chamex que continha os avisos referentes aos cultos e
às pessoas que estariam responsáveis pelas atividades do dia. Na distribuição das
atividades, tinham nomes de mulheres na folha, como o nome das pastoras e das
líderes de células, que são grupos que se reúnem uma vez por semana nas casas,
com objetivo de socialização dos membros das igrejas e daqueles que são novos.
Nas células, há cânticos, estudo bíblico, oração e repasse de avisos
sobre assuntos internos. Além disso, observei um cartaz com uma figura de um
desenho de uma grande muralha e que continha em letras grandes e escritas em
caixa alta o seguinte dizer: “A Unção para tomar as fortalezas”.
Procurei um assento para me acomodar e perceber outros detalhes. Cada
cadeira possuía um envelope branco, o mesmo que estava em cima da mesa de
vidro, próximo à porta de entrada e saída. Dentro do envelope, havia outra folha de
papel que possuía: um versículo bíblico de II Coríntios capítulo 9 versículo 6: “[...] o
que semeia pouco, pouco também ceifará, e o que semeia com fartura, com
abundância também ceifará [...]”; um espaço para o contribuinte colocar o seu nome;
a data da contribuição; um espaço para colocar o valor do dízimo e outro para
colocar o valor da oferta e um outro para colocar um valor para alguma oferta
especial”; e o seguinte dizer: “Escreva seu pedido de oração no verso” (BÍBLIA
SAGRADA, 1996).
As cadeiras eram de plástico e de cor branca e estavam dispostas em
quatro colunas com quatro fileiras de cadeira, sendo que em uma coluna estavam
sentados alguns jovens homens e mulheres que conversavam em baixo som. Havia
outra coluna de cadeiras mais separada e dispersa das outras onde os pastores e
pastoras se sentavam antes e no processar do culto. Atrás das quatro colunas de
cadeiras, havia uma sala de reunião, a qual eu não tive acesso, e uma escada que
levava ao andar superior do prédio que também não subi por estar me envolvendo
com as questões da igreja apenas como visitante.
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O ambiente do prédio é climatizado por um grande ar condicionado fixado
em uma das paredes e as paredes são pintadas de um amarelo com uma tonalidade
fraca e o piso é pintado de cor cinza e existe uma parte mais alta, como se fosse um
pequeno palco, em que está o púlpito, que é de vidro, e alguns jovens do sexo
masculino que terminavam de pôr em ordem os instrumentos musicais como a
bateria, o pandeiro, a guitarra, o contrabaixo, o teclado e a mesa de som e que os
tocavam durante o culto, especialmente durante o período das músicas. Existiam
ainda duas hastes com duas caixas de som, distribuídas por dois cantos do salão,
responsáveis pela emissão de som.
Do lugar onde eu estava sentado, via que na parede, ao meu lado
esquerdo, tinha um banner fixado e com a foto dos líderes da igreja – o casal e
bispos Robson Rodovalho e Lúcia Rodovalho. No banner, os bispos estão vestidos
com uma camisa preta em que tem escrita com letras brancas a palavra “fé” em
letras maiúsculas. Abaixo da foto deles tem um versículo da bíblia, o Salmo 126.5,
que diz “os que semeiam com lágrimas colherão com alegria”, juntamente com a
logomarca da igreja (um desenho vermelho em forma de uma chama de fogo acesa)
e das Rádios Sara Brasil FM e TV Gênesis.
As pessoas iam chegando paulatinamente e se assentando nas cadeiras.
Algumas carregavam a bíblia em suas mãos, enquanto outras as suas bolsas,
pastas ou mochilas e uma minoria vinha sem nada. Grande parte das mulheres
estava de calça jeans e camisa do tipo social, assim como os homens. Eram poucas
aquelas que estavam de saia ou vestido. Dentre estes, alguns estavam de tênis e
calça jeans e camisa esporte. Todos chegavam e se assentavam para esperar o
início do culto, se distribuindo pelas cadeiras.
O “Culto de Quebra de Maldição” começou fora do horário estabelecido,
às 19: 48 horas, com aproximadamente 35 pessoas, e com uma palavra por parte do
Pastor Carlos9, um homem de baixa estatura e voz grave, que vestia uma calça
jeans marrom uma camisa gola pólo verde clara (que estava por dentro da calça
presa por um cinto) e sapato social. Ele é um dos pastores responsáveis pela igreja
do bairro do Cohafuma. O pastor chama atenção para que os participantes tenham
“a mente e o coração abertos” para que Deus possa operar.
9 Modifico o nome das pessoas para manter a identidade preservada.
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Após a oração espontânea do Pastor Carlos, leu-se um versículo bíblico
de Salmos que foi relacionado aos assuntos que seriam abordados. Após isso, deu-
se início ao momento de “louvor e adoração”, coordenado pela Pastora Vanessa –
uma mulher branca, cabelos pretos, jovem e forte e que aparentava ter uns 35 anos
– esposa de um dos pastores, o Pastor Augusto, um homem com aparência de
mesma idade, branco, com um fino bigode e uma barriga saliente. Naquele dia o
casal tinha vindo de outra igreja da Sara Nossa Terra, de outro bairro em São Luís,
para dar apoio e suporte à igreja do Cohafuma.
A Pastora Vanessa, que estava vestida com uma meia calça preta, uma
camisa verde de manga curta e sapato alto começa pedindo que todos participem e
valorizem aquele momento de encontro e comunhão com Deus. São entoadas uma
seqüência de canções em ritmos vibrantes e outras em ritmo lento. Auxiliando a
pastora, tinham quatro jovens, três mulheres de calça jeans, camisas estilo social e
sandálias e um homem com calça jeans, camisa dentro da calça com cinto e sapato
social, que se posicionavam atrás dela cantando com o microfone. Conforme a
canção, as pessoas que estão participam do culto iam se envolvendo, ficando de
olhos fechados ou levantando as mãos ou as colocando no peito ou batendo
palmas, conforme o pedido da pastora que coordenava esse momento lá no púlpito.
Além disso, acompanhando cada música, três jovens e três meninas
crianças, vestidas com uma calça de lycra e uma camisa laranja, faziam movimentos
iguais e compassados, acompanhando cada uma das músicas que eram tocadas e
cantadas pela pastora e pelos jovens que a acompanhavam nesse período do culto.
Os demais participantes acompanhavam a melodia, ou mexendo levemente o corpo
– o que a grande maioria fazia – ou parados, cantando a letra da música.
Após esse momento, as jovens e crianças que dançavam se retiram, bem
como a pastora e os jovens que a acompanhavam. O Pastor Carlos entra em cena e
fala sobre os dízimos. Os dízimos são pedidos após o período de cantos, em que o
pastor fala da importância de todos darem seus dízimos e ofertas. Uma mulher
branca, vestida com um calça preta e camisa sem manga e sorrindo ao público, se
posiciona com uma cesta na frente do púlpito e algumas pessoas interessadas em
contribuir se levantam e levam a (s) cédula (s) ou moeda (s)10. Ao fundo, os
instrumentistas tocam um cântico e uma das jovens que estava no momento do
10Em todos os outros rituais da Sara Nossa Terra, há o momento do pedido das ofertas e dízimos com posterior bênção por parte do pastor.
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louvor cantando com o microfone, retorna e canta uma música, enquanto as
pessoas entregam os valores.
O Pastor Augusto passa a coordenar a outra parte do ritual que é a leitura
de algum versículo da bíblia e posterior estudo e pregação. Finalizando a leitura, o
pastor faz uma oração pedindo que todos os tipos de “encostos”, “linhagens de
espíritos malignos” (algumas vezes o nome da entidade é citada, como Exú) e
“maldições hereditárias”11 não estejam na vida de ninguém que está no culto.
A pregação então começa e o Pastor chama a atenção para que os fiéis
sejam obedientes e atentos às orientações, bem como à participação em outros
rituais da igreja. É destacado que os membros precisavam crer nas promessas de
Deus e que se for fiel às “campanhas” – ritos que o fiel da Sara Nossa Terra faz
visando alguma promessa ou bênção divina – ele alcançaria o que desejasse.
Sempre uma ou outra pessoa respondia, confirmando, com palavras como “amém” e
“aleluia”.
Uma dessas campanhas tinha como lema 7 Domingos, 7 Batalhas e 7
Vitórias. Todos são lembrados e orientados a estarem presentes nos rituais da igreja
e neles fazerem suas orações e pedidos.
Os fiéis também são lembrados de um dos lemas da igreja: “A Unção para
tomar as fortalezas”. O lema é para todas as igrejas Sara Nossa Terra espalhadas
pelo Brasil e exterior e é baseado no versículo bíblico contido no livro de II Coríntios
10.4: “As armas com as quais lutamos não são humanas, ao contrário, são
poderosas em Deus para destruir fortalezas” (BÍBLIA SAGRADA, 1996).
Durante a pregação e estudo da bíblia, lê-se os textos de Isaías capítulo
61 versículos 6 e 7:
Porém vós sereis chamados sacerdotes do SENHOR, e vos chamarão ministros de nosso Deus; comereis a riqueza dos gentios, e na sua glória vos gloriareis. Em lugar da vossa vergonha tereis dupla honra; e em lugar da afronta exultareis na vossa parte; por isso na sua terra possuirão o dobro, e terão perpétua alegria (BÍBLIA SAGRADA, 1996).
Zacarias capítulo 9, versículos 11 e 12: 11: “Ainda quanto a ti, por causa
do sangue do teu concerto, tirei os teus presos da cova em que não havia água.
Voltai à fortaleza, ó presos de esperança; também hoje vos anuncio que vos
recompensarei em dobro” (BÍBLIA SAGRADA, 1996).
11 Estas expressões são frequentemente citados neste ritual.
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Além do (s) texto (s) norteador (es) do culto e do lema, outros são lidos,
visando reforçar a mensagem da noite e para que o fiel vença demônios que trazem
destruição e ruína, seja na vida espiritual, vida financeira e casamento, como
Apocalipse capítulo 9, versículo 11: “E tinham sobre si rei, o anjo do abismo; em
hebreu era o nome Abadom, e em seu grego, Apoliom” (BÍBLIA SAGRADA, 1996).
Todos acompanham silenciosamente o monólogo do pastor, alguns
sempre confirmam o que ele diz, com palavras como “amém”, “glória a Deus” e
“aleluia”. Geralmente quem fazia isso eram as mulheres que pareciam ter mais de 30
anos. O discurso é marcado pela aproximação do pastor com os fiéis. Ele estimulava
que as pessoas repetissem frases que apareciam no decorrer da pregação como: “A
aliança nos leva as grandes conquistas” e “Veja o mundo com os olhos de Deus”.
Grande parte da igreja repetia em coro. Também é incentivada uma aproximação
entre os próprios fiéis, quando, por exemplo, o pastor pede que uma pessoa que
está sentada ao lado da outra, repita as suas afirmativas, como: “Irmão, não
vencemos sem batalha” ou “Irmão, você é um vencedor”.
No término da pregação, o pastor convida todos os ouvintes para que
fiquem em frente ao púlpito. Todos se dirigem e fecham os olhos, enquanto o Pastor
Augusto faz uma oração e o Pastor Carlos retorna com uma pequena garrafa com
um óleo. Ele molha a sua mão e passa na testa das pessoas que nesse momento
estão em pé e com os olhos fechados e coloca as mãos sobre a cabeça delas. As
pessoas, absortas no ritual, aceitam e se submetem normalmente a esta prática.
Como visitante da igreja, fui à frente e participei deste momento.
Depois de orar ele entregou uma folha de papel em forma de espada com
o escrito: “Vencendo a escravidão mental. Sara Nossa Terra (Maranhão), Senhor!”.
E ainda tinha os seguintes escritos: “07 Domingos, 07 Batalhas, 07 Vitórias. Aliança
com Deus”.
No final do culto, que termina às 21: 05 horas, o pastor pede que todos se
abracem e se despeçam. Uns se abraçam ou dão um apertão de mão. As pessoas
então se espalham, uns para tomar água, outros sobem as escadas para os
compartimentos do andar superior do prédio, outros ficam ao redor dos instrumentos
musicais, outros se direcionam aos pastores, ou voltam a conversar entre si. Alguns
se dirigem para irem embora, e encontram as mesmas mulheres que estavam na
recepção, e agora estão na porta se despedindo do público, saudando-o com “volte
sempre” ou “boa noite”.
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4.2 Um momento específico do ritual “quebra de mald ições” : o “Revisão de
vidas”
Após o momento da “conversão”, que pode ocorrer nos cultos, o fiel
participa de um ritual chamado de “Revisão de Vida”. O “Revisão de Vida” é um
momento em que o fiel fica isolado, durante três dias, que geralmente são sextas-
feiras, sábado e domingo. Nesses dias, os fiéis aprendem sobre assuntos da Bíblia e
temas atuais, como Política e Sexualidade, articulados aos ensinamentos bíblicos.
Nesse momento, também pode haver a “conversão”.
O “Pós-Revisão” acontece em um dia posterior, geralmente na segunda-
feira a noite, quando o fiel é incentivado a lembrar e agradecer a Deus aquilo que
viveu no ritual anterior (LIMA, 2010, p. 69).
Após a participação nesses rituais, o fiel tem as condições objetivas de
exercer posições de poder dentro do grupo. Dessa maneira, passa por espécies de
treinamentos, na chamada “Escola de Vencedores”, realizados semanalmente, em
que são ensinadas as doutrinas, como “Quebra de Maldições” e “Batismo com o
Espírito Santo” e são ensinadas também estratégias de recrutamento de fiéis,
através da abertura das chamadas “células”.
A partir daí, o fiel pode galgar posições mais privilegiadas e de prestígio,
sendo que aquele precisa mostrar a sua fidelidade às normas e submissão às
demais hierarquias, como em relação aos outros “líderes”, “pastores”, “pastoras”,
“bispo” e “bispa”.
Durante o contato com o grupo, estabeleci relações pessoais com alguns
membros que me convidaram para participar do “Revisão de Vida”. Fiquei dois dias
e meio alojado em uma escola pública municipal, sem manter contato com o
exterior. Foram dias de estudos bíblicos, acompanhados de forte musicalidade. O
momento específico para a “quebra de maldições” deu-se no final da tarde em que o
bispo Manuel, presidente da Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra no
Maranhão, inicia: “hoje nós vamos falar sobre o velho ou sobre a velha mulher”.
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Diversos versículos bíblicos foram lidos como Efésios capítulo 4. 17 a 2512
e Romanos capítulo 1, versículos 24 a 3213. A interpretação foi no sentido de
reconhecimento e confissão de pecados para “Deus e ao seu líder”. Após o sermão
a todos da plateia que eram jovens, os auxiliares do ritual nos entregaram um
pedaço de folha branca para que colocássemos os “pecados ocultos”.
Os auxiliares se posicionaram em frente à mesa de onde o bispo
divulgava a mensagem religiosa, entre as duas fileiras de homens e mulheres, com
uma cruz de madeira de aproximadamente 1,50 metros com pregos encravados. Os
participantes se direcionavam a cruz e colocavam a folha de papel com seus
pecados sobre os pregos.
Na sequência, leu-se Deuteronômio capítulo 30, versículo 14 a 2014 para
se discutir a questão da remissão de pecados, que é o “cancelamento da pena, o
cancelamento da dívida” em relação a Deus.
12E digo isto, e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade da sua mente. 18 Entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração; 19 Os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para com avidez, cometerem impureza Mas vós não aprendestes assim a Cristo, Se é que o tendes ouvido e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus, Que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade. Pelo que deixai a mentira e falai a verdade a seu próximo; porque somos membros uns dos outros (BÍBLIA, 1996). 13Por isso Deus os entregou, nas concupiscências de seus corações, à imundícia, para serem os seus corpos desonrados entre si; pois trocaram a verdade de Deus pela mentira, e adoraram e serviram à criatura antes que ao Criador, que é bendito eternamente. Amém. Pelo que Deus os entregou a paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural no que é contrário à natureza; semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para como os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a devida recompensa do seu erro. E assim como eles rejeitaram o conhecimento de Deus, Deus, por sua vez, os entregou a um sentimento depravado, para fazerem coisas que não convêm; estando cheios de toda a injustiça, malícia, cobiça, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, dolo, malignidade;sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pais;néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, sem misericórdia;decreto de Deus, que declara dignos de morte os que tais coisas praticam, não somente as fazem, mas também aprovam os que as praticam (BÍBLIA, 1996). 14Porque esta palavra está mui perto de ti, na tua boca, e no teu coração, para a cumprires Vês aqui, hoje te tenho proposto a vida e o bem, e a morte e o mal; Porquanto te ordeno hoje que ames ao SENHOR teu Deus, que andes nos seus caminhos, e que guardes os seus mandamentos, e os seus estatutos, e os seus juízos, para que vivas, e te multipliques, e o SENHOR teu Deus te abençoe na terra a qual entras a possuir; Porém se o teu coração se desviar, e não quiseres dar ouvidos, e fores seduzido para te inclinares a outros deuses, e os servires, Então eu vos declaro hoje que, certamente, perecereis; não prolongareis os dias na terra a que vais, passando o Jordão, para que, entrando nela, a possuas;Os céus e a terra tomo hoje por testemunhas contra vós, de que te tenho proposto a vida e a morte, a bênção e a maldição; escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência, Amando ao SENHOR teu Deus, dando ouvidos à sua voz, e achegando-te a ele; pois ele é a tua vida, e o prolongamento dos teus dias; para que fiques na terra que o SENHOR jurou a teus pais, a Abraão, a Isaque, e a Jacó, que lhes havia de dar (BÍBLIA, 1996).
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Também, leu-se Provérbios, capítulo 26, versículo 215, para ilustrar o
versículo, o bispo deu o exemplo do incesto praticado pelo personagem bíblico Ló,
que se envolveu com suas filhas, gerando Moabe16, que se tornou um “grande
opositor da obra de Deus” e que “proclamava maldições”.
Nesse momento, todos estavam absortos com o discurso do bispo, até
que este chama à frente todos os participantes para orar contra as maldições. Ao
iniciar de forma inflamada a oração, o bispo cita o nome de santos católicos e
entidades consideradas malignas como Exu.
Um dos auxiliares do ritual impõe as mãos sobre a cabeça de um jovem
(com aproximadamente 25 anos de idade), que cai no chão. Acontece uma sessão
de desmaios sucessivos, sendo que alguns entram em transe, contorcendo o seu
corpo ou fazendo movimentos corporais mais agitados.
É quase que geral o estado de êxtase das pessoas, que passam a se
expressar desordenadamente, com um misto de choro, cânticos e línguas estranhas.
Enquanto muitos participantes, tanto homem quanto mulheres, pareciam
inconscientes, deitados no chão, os auxiliares do ritual estendem um pequeno lençol
de cor laranja sobre seus corpos. Uma sucessão de músicas é tocada e a bispa
Regina, esposa do bispo Manuel, entra em cena, orando de maneira emotiva e
expressando autoridade.
Na dinâmica da “quebra de maldições” são muito atuantes a figura tanto
do bispo quanto da bispa. Esta também atua no processo de divulgação do discurso
religioso-institucional, assim como no exorcismo: “amarra, amarra! que as maldições
hereditárias sejam quebradas”!
Os assistentes do ritual faziam as orações sobre a cabeça das pessoas
com o intuito de quebrar as maldições. Um dos assistentes orou para que fossem
quebrados “todo jugo trazido por São José de Ribamar e pela Igreja Católica”.
O bispo se refere às comidas e bombons que foram consagrados a
santos católicos como São Cosme e Damião. Muitos participantes expelem líquido
ou restos de comida em baldes que eram trazidos pelos assistentes.
15 Como o pássaro no seu vaguear, e como a andorinha no seu vôo, assim a maldição sem causa não virá (BÍBLIA, 1996). 16 Episódio descrito no livro de Gênesis, capítulo 19 (BÍBLIA, 1996).
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Na oração, o bispo Emanuel continua pedindo para que haja “a libertação
de maldições trazidas por espíritos malignos, por trabalhos realizados em terreiros
de macumba com o uso de galinhas pretas”.
No final, solicitou a todos os presentes que já estavam menos extasiados,
a repetirem em forma de oração os versículos de Efésios, capítulo 617. Todos são
chamados a se reunirem para um lado da quadra de esporte, local da escola onde
estava acontecendo o ritual, enquanto que a cruz era carregada com os papéis
fixados com os pecados. Uma fogueira é preparada e acesa com todos reunidos em
volta dela. O bispo coordena e chama a atenção para que todos se esqueçam dos
velhos hábitose comportamentos.
Cantando um coro “Ah, eu sou nova criatura”, os papeis são jogados na
fogueira pelos jovens auxiliares que dão suporte ao evento. Todos aplaudem, e o
bispo Manuel pede que todos dêem um “brado de júbilo ao Senhor”, o que os
participantes respondem com gritos de “aleluia, glória a Deus”.
17Finalmente, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda a armadura de Deus, para poderdes permanecer firmes contra as ciladas do Diabo; Pois não é contra carne e sangue que temos que lutar, mas sim contra os principados, contra as potestades, conta os príncipes do mundo destas trevas, contra as hostes Portanto tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, havendo feito tudo, permanecer firmes. espirituais da iniqüidade nas regiões celestes. Estai, pois, firmes, tendo cingidos os vossos lombos com a verdade, e vestida a couraça da justiça, e calçando os pés com a preparação do evangelho da paz, tomando, sobretudo, o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do Maligno. Tomai também o capacete da salvação, e a espada do Espírito, que é a palavra de Deus; com toda a oração e súplica orando em todo tempo no Espírito e, para o mesmo fim, vigiando com toda a perseverança e súplica, por todos os santos, e por mim, para que me seja dada a palavra, no abrir da minha boca, para, com intrepidez, fazer conhecido o mistério do evangelho, pelo qual sou embaixador em cadeias, para que nele eu tenha coragem para falar como devo falar (BÍBLIA, 1996).
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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Neopentecostalismo pode ser compreendido como um movimento
religioso que acompanha as mudanças históricas e a dinâmica das práticas sociais.
Possui traços, identidades e rituais peculiares em sua relação com o sagrado, além
de ter criado instituições e modos de ser, construindo espaços e redes de
sociabilidade. Fundamentalmente, produziu formas de sentir e pensar a chamada
cultura brasileira (LIMA, 2010).
Ademais, (re) criou modalidades ritualísticas, secularizando, em muitos
aspectos, os seus “cultos”. Posso afirmar que apesar de possuírem um sistema de
magia específico, em muitos rituais há trânsito com outras manifestações religiosas,
como o catolicismo popular, religiões afro-brasileiras e espiritismo.
Especialmente na Comunidade Evangélica Sara Nossa Terra, existe um
calendário de rituais: o “Culto da Prosperidade”; o “Culto de Quebra de Maldição”; o
“Culto de Cura Interior”; o “Culto Da Família”, entre outros. Assim como os demais
movimentos neopentecostais, a Sara Nossa Terra construiu seu próprio sistema
mágico-religioso, que se expressa, principalmente, através dos seus rituais,
chamados de “cultos”, que combinam representações, símbolos e mensagens que
visam a realizações espirituais, como a libertação da mente, a quebra de maldições,
a aquisição de valores e metas, como prosperidade material, saúde corporal,
disposição jovem para encarar a vida, conforto psicológico e capacidade individual.
Os rituais da Sara Nossa Terra possuem uma lógica específica, e como o
próprio nome da denominação sugere, o objetivo é “sarar” as vidas dos membros, as
famílias, a nação brasileira, os estados e cidades. O caso específico do ritual
“Quebra de Maldições”, propõe que os fiéis tenham suas “maldições” rompidas,
configurando, nas representações do grupo, uma passagem do profano para o
sagrado, conforme Gennep (1978).
Ressalto a plasticidade e o caráter dinâmico dessas manifestações que
integram os rituais desse grupo neopentecostal. Acredito que há o
redimensionamento dos discursos, rituais e simbolismos pentecostais e de outras
matrizes religiosas. A convergência com a ideia de que “a pessoa dessa maneira sai
do mundo anterior para entrar em um mundo novo” (GENNEP, 1978, p. 36),
demarca uma posição de confronto com outras perspectivas religiosas.
Concordo com Bourdieu (1996, p. 81) quando confere às representações,
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“[...] uma eficácia propriamente simbólica de construção da realidade”. Chartier
(1991, p. 177) afirma que não há “[...] prática ou estrutura que seja produzida pelas
representações contraditórias e em confronto pelas quais os indivíduos e os grupos
dão sentido ao mundo que é deles”.
Nesse sentido, destaco a figura do bispo Robson Rodovalho por ver nele,
alguém que contribui na imposição de “[...] uma maneira mais ou menos autorizada
de ver o mundo social”. Considero toda sua produção bibliográfica um “[...] programa
de percepção” (BOURDIEU, 1996, p. 82) que se materializa no ritual “Quebra de
Maldições”, que, por sua vez, pode ser considerado um “grande ritual coletivo de
nomeação” (BOURDIEU, 1996, p. 82).
Ao se fundar uma ideia de consenso sobre o mundo social, funda-se
também o senso comum (BOURDIEU, 1996, p. 82). Daí que na literatura sobre
“Quebra de Maldições” estarem presentes representações sobre outras expressões
religiosas cujo sentido do “mal”, “demoníaco” ou “satânico” são atribuídas a elas.
Infiro que a especificidade deste ritual na Comunidade Evangélica Sara
Nossa Terra, se dá devido ao seu momento histórico de surgimento (anos 90 do
século XX) e a trajetória social da vida dos seus líderes18. A literatura produzida pelo
bispo Robson Rodovalho coincide com a expansão neopentecostal no Brasil, anos
90 e primeira década do século XXI, tanto em termos quantitativos quanto na
sociedade, em determinados espaços como política e mídia.
Acredito que há uma capacidade de (re) invenção ritualística da Sara
Nossa Terra: por um lado, existem rupturas, a partir do momento em que combina
“quebra de maldição”, “libertação” e “conversão”; por outro lado, há continuidades no
intercruzamento entre elementos de outras crenças. Um ponto de encontro, a meu
ver, é a existência das forças sobrenaturais e o sincretismo das concepções e
práticas ritualísticas, tal como o uso de objetos, óleos e simbolismos. Dessa forma, a
“quebra de maldições” perpetua a existência do grupo religioso em questão,
construindo uma identidade social, uma maneira própria de estar no mundo.
18Destaco a necessidade de outro trabalho em que seja destacada a biografia ou história de vida dos bispos, na perspectiva de situá-los não somente dentro do campo religioso, mas em outras dimensões do campo de poder, tais como a política, mídia e cultura.
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