moral, religiÃo e direito: mecanismo simbÓlico...
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Revista Pensar Direito, v.6, n. 2, Jul./2015
MORAL, RELIGIÃO E DIREITO: MECANISMO SIMBÓLICO DECONTROLE SOCIAL
Admilson Eustáquio Prates1
Kátia Suely de Melo Gusmão2
RESUMOO presente trabalho se propõe a discutir a relação entre moral, religião e direito
entendidos como mecanismo simbólico de controle social. Isso se dá devido à
capacidade humana de transcender as coisas e construir relações entre elas. A
moral prescreve o modo, a maneira como a pessoa deve-se comportar em grupo.
Direito e Moral regulamentam as relações de uns homens com outros por meio de
normas. A religião, além de apresentar os códigos de conduta, também mostra a
forma como será castigado caso as regras não sejam cumpridas.
Palavra chave: Moral; Religião; Direito; Relações Humanas.
O presente texto pretende explorar a ideia que a Moral, a Religião e o
Direito constituem mecanismo simbólico de controle social. Isto é, os humanos são
seres simbólicos. Eles não se relacionam com as coisas em sim, mas com a
representação das coisas. Isto é, os símbolos são produções, construções humanas
pelos quais os possibilitam relacionar com mundo objetivo e com o mundo subjetivo.
Por sua etimologia (do grego sum-ballo, ou sym-ballo), o símbolo refere-seà união de duas coisas. Era um costume grego que, ao se fazer umcontrato, fosse quebrado em duas partes um objeto de cerâmica, entãocada pessoa levava um dos pedaços. Uma reclamação posterior eralegitima pela reconstrução (“pôr junto”=symballo) da cerâmica destruída,cujas metades deviam coincidir. A união das partes permitia reconhecer quea amizade permanecia intacta. (CROATTO, 2001, p.84-85).
1Professor no Instituto Federal de Educação, Ciência e tecnologia de Goiás/Campus Formosa/GO. Doutorandoem Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP. Mestre em Ciências daReligião pela PUC/SP.2Coordenadora adjunta do curso de Direito e professora de Direito nas Faculdades Integradas do Norte deMinas.
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Dessa forma, entendemos símbolo como união, junção que permite ao
ser humano tornar presente aquilo que está ausente, ou seja, nos possibilita
representar o mundo. Por exemplo, quando nos referimos a cruz não significa
determinada cruz, mas a ideia, abstração de cruz.
Quando o mundo é representado, isto é, quando linguagem simbólica é
inventado, ela segue a convenção, aquilo que é aceito por todos do grupo. Enfim, o
símbolo é uma convenção, fruto de uma determinada cultura. Ele está circunscrito
em um determinado tempo e espaço. E, somente neste cenário cultural, ele terá
significado e sentido.
Dessa maneira, o ser humano não é somente um ser natural, mas
também um ser simbólico. Isto é, caminhar, correr, comer, rir/ sorrir, dormir são
atividades naturais de todo os ser humano saudável. Contudo, a maneira de
caminhar, de correr, de comer, de rir/ sorrir, de dormir é vivenciado e interpretado
conforme o grupo social no qual o indivíduo está inserido. O ato de caminhar, que é
uma ação natural de locomover-se de um lugar a outro, pode representar charme,
elegância, sensualidade ou ser repudiado, recebendo determinados adjetivos como
arrogância, soberba.
Isso acontece devido à capacidade humana de transcender as coisas
construindo representações acerca delas. Os indivíduos emitem juízo de realidade e
juízo de valor. O primeiro descreve a realidade, apresenta-a como ela é. Um
exemplo disso é: o carro é vermelho, a cadeira é velha, Joaquim retornou da
viagem, Arnaldo comprou um doce de leite, Maria está rezando, Maria é uma moça.
São exemplos que apresentam e descrevem a realidade sem realizar julgamento ou
avaliar o fato. O segundo emite um parecer, ele faz uma avaliação, ou seja,
apresenta um valor. Isto é, o carro vermelho é tão lindo quanto o prata, a cadeira
velha é mais confortável que a cadeira nova, Joaquim retornou da viagem antes de
concluir as atividades, Arnaldo comprou um doce de leite muito caro, Maria está
rezando para reconfortar o espírito, Maria é uma moça linda.
Na primeira frase, do exemplo, percebe-se uma avaliação estética
assim como na ultima frase. O segundo exemplo emite um juízo de utilidade; o
terceiro, um juízo moral; o quarto realiza uma avaliação acerca do valor econômico
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do produto; o quinto está ligado à dimensão religiosa e de fé. Assim sendo, entende-
se que a emissão de um juízo de realidade vem acompanhada de um juízo de valor.
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Além de o valor ser resultado das relações entre o individuo e ele
mesmo, e das relações entre o individuo o mundo é também herdado em parte pela
sociedade a pertence. Os valores são repassados para as novas gerações, por
exemplo, por meio da família, da escola, da igreja, das brincadeiras, dos jogos.
A cultura, a sociedade, o grupo social do qual o indivíduo faz parte o
objeto pedra - fragmento de rocha -, por exemplo, é compreendido como uma arma,
um enfeite, um ornamento, um símbolo sagrado ou profano, um objeto de
investimento financeiro.
[...] como a prata. Podemos falar nela tal como existe em seu estado naturalnas jazidas respectivas; é então um corpo inorgânico que possui estrutura ecomposição, bem como determinadas propriedades naturais que lhe sãoinerentes. Podemos falar também da prata transformadora pelo trabalho e,então, já não possuímos um mineral em seu estado puro ou natural, masum objeto de prata. Como material trabalhado pelo homem, serve, nessecaso, para produzir braceletes, anéis ou outros objetos de enfeite, para afabricação de serviços de mesa, cinzeiro, etc, podendo ser utilizada comomoeda. Temos assim uma dupla existência da prata: a) como objeto natural;b) como objeto natural humano ou humanizado. Como objeto natural, ésimplesmente um fragmento da natureza com determinadas propriedadesfísicas e químicas. (SANCHEZ VÁSQUEZ, 1998, p. 111-112)
Assim sendo, no universo humano as coisas passam até um valor
simbólico, uma representação resultado da ação humana.
A categoria valor tem sua origem nas atividades econômicas sendo
transferido e utilizado nas diversas áreas da atividade humana, sobretudo, na
dimensão acerca da moral. Conforme Sanchez Vásquez o valor possui alguns
traços essências:
1) Não existem valores em si, como entidades ideias ou irreais, mas objetosreais (ou bens) que possuem valor.2) Dado que os valores não constituemum mundo de objetos que exista independentemente do mundo dos objetosreais, somente existem na realidade natural e humana como propriedadevaliosa dos objetos da mesma realidade.3) Por conseguinte, os valoresexigem – como condição necessária – a existência de certas propriedadesreais – naturais ou físicas – que constituem o suporte necessário daspropriedades que consideramos valiosas.4) as propriedades reais quesustentam o valor, e sem as quais este não existiria, são valiosas empotência. Para passar a ato e transformar-se em propriedades valiosasefetivas, é indispensável que o objeto esteja em relação com o homemsocial, com seus interesses e com suas necessidades. Desta maneira, oque vale somente em potência adquire um valor efetivo. (SÁNCHEZ
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Dessa maneira, visualiza-se que o valor é uma atividade humana que
busca atribuir sentido ao mundo e a si mesmo. Quando atribuímos sentidos
fundamos regras, normas, e isso é resultado da prática valorativa, estabelecimento
de um plano de ação que direcionará as escolhas, buscando o bem e evitando
aquilo que prejudica.
Nesse raciocínio sobre a busca do bem entende-se que matar, roubar,
furtar, mentir, trair são ações imorais, rejeitadas pela sociedade. Na convivência
humana, sendo no mínimo duas pessoas relacionando, é impossível que exista
convívio sem um código moral. Assim sendo, visualiza-se que pode faltar alimentos
e água em uma sociedade, mas não pode deixar de existir um código moral.
O que é moral? Podemos entender por moral um conjunto de regras,
normas, valores que direciona ação do individuo em uma determinada sociedade,
grupo ou comunidade. Conforme Sánchez Vásquez: “Moral vem do latim mos ou
mores, “costume” ou “costumes”, no sentido de conjunto de normas ou regras
adquiridas por hábito. A moral se refere, assim, ao comportamento adquirido ou
modo de ser conquistado pelo homem” (1998, p.14).
Dessa maneira, entende-se que moral é algo que o individuo aprende,
isto é, é imposto ao sujeito desde o momento em que ele nasce. Ela inicialmente
não é uma escolha livre e consciente e, sim, uma imposição que a sociedade, a
comunidade, o grupo, a família impõem sobre a pessoa. Pode-se apresentar alguns
exemplos como: “Menino mastiga com a boca fechada!”; “Não brigue com seu
irmão!”; “Menina, senta direito. Cruza as pernas!”; “Meu filho, vai tomar seu banho,
agora”; “Não pode fazer isso!”; “Está na hora de dormir!”. Esses exemplos são
típicos e especifico de determinada sociedade, ou seja, o código moral é particular,
resultado singular de grupos específicos, e, além disso, está ligado a um
determinado tempo e espaço, como por exemplo, às mulheres há um tempo não era
permito frequentar escola; atualmente as mulheres estudam e ocupam cargos de
executivas em grande empresa, além de, ocupar cargos políticos como: prefeita,
governadora, presidente.
A moral prescreve o modo, a maneira como a pessoa deve-se
comportar em grupo. Ela é constituída estruturalmente em dois aspectos, sendo uma
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normativa e outro fatual. O aspecto normativo está relacionado às normas, as
regras, isto é, ao “dever ser”. O segundo, o fatual, é ato do individuo em ação, isto
é, sendo efetivado.
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Conforme esses dois aspectos podemos classificar a ação humana em
determinado grupo como sendo mora, imoral, amoral e não-moral. O ato moral é
quando a pessoa cumpre, obedece as normas instituída pela sociedade na qual ele
convive. Já a ação imoral é resultado de uma desobediência, uma refeição a regra,
como por exemplo, “Não xingar” e o ato de xingar é imoral.
[...] imoral e amoral. A diferença entre eles é que, enquanto o ato ou posturaimoral é a negação de um determinado código moral vigente, no sentidocorrente de devasso, desregrado, libertino, o termo amoral significa umapostura de neutralidade frente a esta ou àquela moral em questão. Naprática, não nega mas também não adere; simplesmente passa ao largodas normas.Isso é muito comum entre as diferenças de padrões culturais deconduta, notadamente com relação a valores religiosos. A obrigatoriedade,por exemplo, das mulheres usarem véu sobre as cabeças numadeterminada seita pode não ter significado algum para outras mulheresvisitantes. Se uma mulher de uma determinada comunidade deixar de usaro véu para infringir o costume, sua atitude pode ser tida ali como um atoimoral [...] (PEREIRA, 2004, p.15).
No que tange o ato amoral está ligado a ação humana a margem de
qualquer regra ou respeito às normas. E a postura não-moral é quando recorre a
outros critérios de avaliação que não seja moral, por exemplo, analise de uma obra
de arte, uma obra literária isto é, a postura de um crítico de arte é não-moral.
A moral é dinâmica, pois ao mesmo tempo em que os códigos são
recebidos, transmitidos de uma geração para outra, sendo dessa maneira conhecida
como moral constituída ela também transgredi, rompe, enfim, a moral constituinte é
aquela a qual está em movimento, em mudanças. Um exemplo, no período da idade
média na Europa era permito chicotear pessoas em praça publicas e atualmente é
proibido esse comportamento; no Brasil colônia pode-se ter escravo, pessoa negras
eram mercadoria a qual podia-se vender e comprar, e além disso, ser trato como
coisa. No presente momento, a escravidão é proibido.
Segue abaixo um quadro que apresenta elementos comuns e elementos
diferentes entre Moral e Direito.
QUADRO 1Moral e direito
Elementos comuns ente moral edireito
Diferença ente moral e direito
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Direito e Moral regulamentam as
As normas morais se cumprem
através da convicção íntima dos
indivíduos e, portanto, exigem uma
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relações de uns homens com outros
por meio de normas. Postulam,
portanto, uma conduta obrigatória e
devida. O desrespeito de algumas
dessas regras pode originar uma
tácita ou manifesta atitude de
desaprovação;
adesão intima a tais normas. Neste
sentido, pode se falar de interioridade
da vida moral (o agente moral deve
fazer as suas ou interiorizar as
normas que deve cumprir). Já As
normas jurídicas não exigem esta
convicção íntima ou adesão interna, o
indivíduo deve cumprir a
determinação legal mesmo que na
sua intimidade não concorde com ela
(daí falar se da exterioridade do
direito). O importante, no caso é que a
norma se cumpra, seja qual for a
atitude do sujeito (forçada ou
voluntária) com respeitoa seu
cumprimento. Se a norma moral se
cumpre por motivosformais ou
externos, sem que o sujeito esteja
intimamente convencido de que deve
atuar de acordo com ela, o ato moral
não será moralmente bom (senso
comum), de forma inversa, a norma
jurídica é cumprida formal ou
externamente, isto é, ainda que o
sujeito esteja convencido de que é
injusta e intimamente não queira
cumpri la, implica um ato
irrepreensível do ponto de vista
jurídico. Assim, a interiorizarão da
norma, essencial ao ato moral, não o
é, no âmbito do direito.
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As normas morais e jurídicas têm a
forma de imperativos e, por
O fenômeno da coação é exercido de
maneira diversa na moral e no direito:
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conseguinte, acarretam a exigência
de que se cumpram, isto é, de que os
indivíduos se comportem
necessariamente de uma certa
maneira. Mais ainda.
a coação é fundamentalmente interna
na moral e externa no direito.
Respondem a uma necessidade da
vida social: regulamentar as relações
dos homens objetivando garantir a
coesão social;
As normas morais não se encontram
codificadas formal e oficialmente ao
passo que as normas jurídicas gozam
desta expressão formal (escrita,
material, positiva) e oficial em forma
de códigos, leis e diversos atos do
Estado;
Pode se resumir o que foi explanado
dizendo que na concepção de Direito
é exigível, enquanto que atuar
moralmente reside no campo da
espontaneidade.
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Dinamismo Social: a moral e o direito
mudam quando muda historicamente
o conteúdo de sua função social. Em
razões disto estas formas de
comportamento têm caráter histórico.
A moral varia de tempos em tempos,
assim como, o Direito. O Código Civil
Brasileiro de 1916, continha certas
regras que não tinham mais uso na
sua concepção original para os dias
de hoje. As necessidades do
grupamento social mudaram e o
Direito exigiu nova codificação.
A esfera Moral é mais ampla do que a
do direito e atinge todos os tipos de
relação entre os homens e as suas
várias formasde comportamento
qualquer comportamento pode ser
objeto de qualificação moral (retomo
aqui os pensamentos de Kelsen se
qualquer coisa pode ser direito em
face da norma fundamental
pressuposta, então é certo que o
Direito se fundamenta concepção
moral).
O Direito, pelo contrário regulamenta
as relações humanas mais vitais para
o Estado para as classes dominantes
ou para a sociedade em conjunto.
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Iremos observar que algumas formas
de comportamento humano
(criminalidade, por exemplo) se
encontra na esfera do direito. O
mesmo se deve dizer de certas
formas de organização social como o
matrimônio e a família e as
respectivas relações. Outras relações
entre os indivíduos, como o amor a
amizade, a religiosidade, a
sociabilidade, não são objeto de
regulamentos jurídicos, apenas moral.Fonte: Disponível em<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfJK4AF/direito-moral> .Acesso em 16
out. 2014.
Percebe-se que existe uma relação estreita ente moral, direito e religião,
isto é, pode-se compreender religião como sendo um controlador social que exerceu
e exerce um poder, um domínio sobre o ser humano. Paulo Nader, em sua obra
Introdução ao Estudo do Direito, apresenta a categoria religião da seguinte maneira:
Um sistema religioso não se limita a descrever o além ou a figura doCriador. Define o caminho a ser percorrido pelos homens. Para este fim,estabelece uma escala de valores a serem cultivados e, em razão deles,dispõe sobre a conduta humana. [...] Religião é ‘um dos maiores controlessociais de que dispõe a sociedade’[...] ‘a injustiça e a imoralidade quediminuem o homem e impedem o desenvolvimento da personalidade, sãointoleráveis para as pessoas verdadeiramente religiosas’ [...] NelsonHungria, famoso penalista brasileiro, enfatizou a importância da religião napaz e equilíbrio social: ’A Religião tem sido sempre um dos mais relevantesinstrumentos no governo social do homem e dos agrupamentos humanos.Se esse grande fator de controle enfraquece, apresenta-se o perigo doretrocesso do homem ás formas primitivas e antissociais da conduta, deregresso e queda da civilização, de retorno ao paganismo social e moral. Oque a razão faz pela ideias, a religião faz pelos sentimentos’. (NADER,2011, p. 34)
A religião, além de apresentar os códigos de conduta, também mostra a
forma como será castigado caso as regras não sejam cumpridas. Voltaire, em sua
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obra Dicionário Filosófico, apresenta a função social do inferno:
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Desde que os homens começaram a viver em sociedade devem terpercebido que não poucos criminosos escapavam à severidade das leis.Puniam-se os crimes públicos: restava estabelecer um freio para os crimessecretos. Só a religião poderia ser esse freio. Persas, caldeus, egípcios,gregos, imaginaram castigos depois da morte. [...] Enfim, fariseus eessênios, entre eles os judeus, admitiram a crença de um inferno à suamoda. Esse dogma já passara de gregos a romanos, e foi perfilhado peloscristãos. [...] “Meu caro, não creio no inferno mais que você. Mas é bom queo creiam a sua criada, o seu alfaiate e também o seu procurador”.(VOLTAIRE, 2002, p.304-306)
A religião organiza tanto o mundo físico, concreto material quanto o
mundo não físico, ou seja, o mundo invisível. Pode-se entender que religião atribui
sentido a existência do individuo impondo normas, regras e padrões de
comportamento. Isto é, o ser humano não pode ser guiado pelo desejo, pelo
principio de prazer caso isso acontece a sociedade é destruída, ou seja, viver em
sociedade é castrar os desejos, transformá-los em comportamentos aceitáveis pelo
grupo social a qual compõe. Conforme Rodrigo Arnoni Scalquette em História do
Direito: perspectivas histórico-constitucionais da relação entre estado e religião,“A
crença em Deus e, especialmente, o temor que se tem a Ele, traçaram a história da
humanidade, correlacionando poder e dominação.” (Scalquette, 2013, 1)
O Direito Primitivo ou Direito Arcaico, notadamente de um povo ágrafo, ao
estabelecerem regras para viverem em sociedade, usavam o nome dos deuses que
cultuavam para impô-las. Assim sendo, usavam o divino para governar. Neste
aspecto, afirma Atônio Carlos Wolkmerem Fundamentos de História do Direito:
(...) além do formalismo e do ritualismo, o Direito Arcaico manifesta-se nãopor um conteúdo, mas pelas repetições de fórmulas, através dos atossimbólicos, das palavras sagradas, dos gestos solenes e da força dos rituaisdesejados. (...)ainda que, por ser objeto de respeito e veneração, e serassegurado por sanções sobrenaturais, dificilmente o homem primitivoquestionava a sua validez e sua aplicabilidade. (Wolkmer, 2010, 4-.5)
No contexto do aparecimento da escrita, na região da Mesopotâmia, deu-
se a origem dos primeiros códigos da antiguidade, quais sejam, Hammurabi, o de
Manu, o de Sólon e a Lei das XII Tábuas. Estas codificações, eram, nada mais, nada
menos, do que a transcrição dos costumes, crenças e tradições, produzidos na
época. A percepção do fenômeno jurídico encontrava-se de maneira embrionária. O
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não cumprimento das regras estabelecidas pelas leis escritas, implicavam em
penalidades, que por vontade divina, deveriam se materializar em castigos. De
acordo com Rodrigo Freitas de Palma em História do Direito:
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era comum inserir neste vasto rol a mutilação, a decapitação, a empalação,a crucificação, a flagelação, a morte na fogueira ou na forca, oapedrejamento, o banimento, assim como a aplicação de uma série de“ordálias” ou “juízos divinos”, que consistiam em práticas adivinhatórias paraverificar a culpabilidade ou a inocência do réu. Não raro, havia, como sesabe, a aplicação do princípio ou lei de talião e de penas pecuniárias dasmais diversas. A vingança privada, pois, era a tônica do sentido punitivonessas sociedades. (Palmas, 2011, 42-43)
Mesmo com o despontar do monoteísmo, o Direito, que era baseado nos
dez mandamentos e o Sagrado ainda permaneceram indivisíveis e como efeito, atos
desumanos eram aplicados como sanção. Não porque estava previsto no Decálogo,
que possui seus textos legislativos no Antigo Testamento, mas sim pela cultura da
perversidade. Alguns doutrinadores costumam até estabelecer um íntimo
relacionamento entre a Legislação Mosaica e a nossa Carta Magna que zela pelas
garantias fundamentais da pessoa.
Na Escritura Sagrada, conforme a perspectiva cristã, na parte do Antigo
Testamento Salomão escreveu o livro Provérbios ao qual ele apresenta maneira de
como se comportar em sociedade.
1 A resposta branda desvia o furor, mas a palavra dura suscita a ira. 2 Alíngua dos sábios destila o conhecimento; porém a boca dos tolos derramaa estultícia. 3 Os olhos do Senhor estão em todo lugar, vigiando os maus eos bons 4 Uma língua suave é árvore de vida; mas a língua perversaquebranta o espírito. 5 O insensato despreza a correção e seu pai; mas oque atende à admoestação prudentemente se haverá. Fonte: BÍBLIA DEJERUSALÉM, Pro 15:1-5, p.1042-1043
A religião proporcionou um grande progresso moral para a humanidade,
mas não podemos esquecer ou ser ingênuos que algumas pessoas utilizam da
religião como instrumento para realizar os desejos destrutivos, ou seja, “os
fanatismos religiosos ajudaram a obscurecer muitas vezes a mensagem ética
profunda da liberdade, do amor, da fraternidade universal” (VALLS, 2003, p. 37).
Na sequência de pensamento acerca da exploração do conceito de moral
pode-se realizar uma distinção entre moral e direito, sendo que o direito está
relacionado ao Estado, ao poder do Estado que controla a sociedade mediante, por
exemplos, com leis, decretos. Para Paulo Nader:
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o movimento de separação entre o Direito e a Religião cresceu ao longo doséc.XVIII, especialmente na França, nos anos que antecederam aRevolução Francesa. Vários institutos jurídicos se desvincularam da
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Religião, como a assistência pública, o ensino, o estado civil.Modernamente os povos adiantados separaram o Estado da Igreja, ficandocada qual com o seu ordenamento próprio. Alguns sistemas jurídicos,contudo, continuam a ser regidos por livros religiosos, notadamente nomundo muçulmano. Em 1979, o Irã restabeleceu a vigência do Alcorão, livroda seita islâmica, para disciplinar a vida do seu povo.( Nader, 2013, 33-34)
Assim sendo, mesmo com todo este contexto histórico, podemos
interpretar que a Moral, a Religião e o Direito são indissociáveis, uma vez que o
Estado é governado pelo povo que age de acordo com as noções que possuem
sobre o bem que aliado as normas técnicas que possuem neutralidade em relação
aos valores , procuram adequar os princípios adquiridos ao longo da existência, à
tomada de decisões, a fim de satisfazerem às necessidades humana. Afinal, é por
isso que o Direito existe.
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PEREIRA, Otaviano. O que moral? São Paulo: Brasiliense, 2004. PALMA,
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VÁSQUEZ, Adolfo. Ética. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1998.
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VOLTAIRE. Dicionário Filosófico. São Paulo: Martin Claret, 2002.
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Paulo: Unesp, 1999.
WOLKMER, Atônio Carlos (organizador). Fundamentos de História do Direito.Belo Horizonte: Del Rey, 2010. Disponível em
<http://www.ebah.com.br/content/ABAAAfJK4AF/direito-moral> acesso em 16 out.
2014.