morar contemporâneo
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Este trabalho tem a intenção de criar uma reflexão sobre as formas de morar contemporâneas e as alterações que elas sofreram ao longo dos anos procurando compreender fatores e aspectos que influenciaram a mudança de padrões de moradia.TRANSCRIPT
Guilherme Freitas Parra
MORAR CONTEMPORÂNEO
Reflexões sobre os novos espaços e suas adaptações do morar na contemporaneidade
Trabalho de conclusão de curso realizado no
Centro Universitário Senac – Campus Santo Amaro,
como requisito para obtenção do grau de
Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
Orientadora Prof.ª Dr.ª Myrna de Arruda do Nascimento
São Paulo 2015
Gostaria de agradecer primeiramente aos meus pais Gilson Parra e Maria das Graças Freitas Parra, os
quais sempre me apoiaram e me deram forças para continuar e a terminar o que comecei. A eles dedico
esse trabalho, pois graças aos seus esforços cotidianos e ensinamentos me fizeram escolher esse tema.
Agradeço a minha irmã Gabriela Freitas Parra, por todo apoio e credibilidade no meu potencial.
Aos meus amigos, Carol, Victor, Juliana, Eloisa, Eduardo, Laura, Eduardo Flores, Gabriel, Jefferson e
Karina, agradeço o apoio que sempre me deram tanto nos momentos bons como nos ruins, sem eles eu
não chegaria até aqui.
A minha namorada, futura esposa, Maria Teresa do Santos Monteiro, a qual sempre me apoiou, me deu
forças e me ajudou em diversos momentos nessa caminhada sendo minha parceira.
Gostaria também de agradecer, toda a equipe de professores do Centro Universitário Senac, os quais
sempre foram ótimos e bem capacitados. Gostaria de destacar minha Coordenadora Valéria Fialho, por
seu excelente trabalho administrativo e por sua ótima capacidade em lecionar.
E, por fim, agradeço a minha Orientadora Myrna de Arruda do Nascimento, a qual me guiou, me ensinou e
me incentivou a realizar não só esse trabalho, como outros durante o curso. É gratificante estar concluindo
esse curso, com a mesma mestre que me iniciou nele.
Resumo
Este trabalho de conclusão de Curso tem a intenção de criar uma reflexão sobre as
formas de morar contemporâneas e as alterações que elas sofreram ao longo dos anos
procurando compreender fatores e aspectos que influenciaram a mudança de padrões
de moradia. De modo que acaba cada vez mais se tornando menores e fazendo com
que os indivíduos utilizem menos essas habitações.
Palavra-chave: Espaços arquitetônicos residenciais, Morar, Contemporâneo.
Abstract
This final examination intends to create a reflection about contemporary forms of living
and the changes they have undergone over the years trying to understand factors and
aspects that influenced a change in housing standards. This way becoming increasingly
smaller and making that the Individuals use less that kind of dwellings .
Key-words: Architectural spaces Residential, to live, contemporary.
Sumario
Introdução 9
A boa-vida 15
Casas pátios 19
Cabana da Flores Negra 29
Casa Arpel 39
Casa Nômade 49
Casa Bigger Splash 59
Criadores da cultura do inquilino 69
Demandas de uma cidade sem controle 79
Descobrindo um morar 89
Destino de um morar inconstante 97
Considerações finais 111
Referências bibliográficas
Referências das imagens
Este trabalho tem a finalidade, de construir reflexões, sobre o morar contemporâneo. Para defendermos
esta intenção foi inevitável escolher se discutiríamos apenas “o morar” ou se incluiríamos uma análise
sobre a relação entre “o morar/ o habitar”.
Ao estudarmos a significado do termo “ morar”, identificamos os sentidos de ficar, viver. Duas
qualidades fundamentais para a condição de sobrevivência de todo ser vivo, logo a reflexão sobre o
morar pode ser aplicada a indivíduos do mundo todo, de tal modo que seria difícil trabalhar de forma
tão ampla com um tema, para esse tipo de estudo realizado.
Já quando acrescentamos a discussão sobre o habitar sob o ponto de vista da morfologia da palavra
obtemos o significado de: ocupar como residência, residir, estar domiciliado. O que nos leva
consequentemente a refletir sobre a casa. A casa que é um objeto montado não exclusivamente, mas
primordialmente para a família.
De todo modo, esse “morar/habitar” carrega uma carga histórica enorme e foi necessário delimitar
também um período a ser estudado para podermos dimensionar nosso estudo. No caso dessa pesquisa
escolhemos abordar a transição do moderno para o contemporâneo e identificamos nessa passagem
diversos casos arquitetônicos adotados como “modelos” de discussões específicos e correntes de
pensamento filosóficos a serem estudados.
Ao lado disso, contextualizamos o problema para a situação de nossas vivências e de como também
podemos discutir o problema na escala da nossa experiência pessoal.
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Com este questionamento em foco entramos na escolha do espaço a ser trabalhado a cidade de São
Paulo, que será abordado no segundo semestre desta pesquisa.
Para estabelecermos um “campo de discussão” sobre o período de transição que pretendemos estudar,
apresentamos neste trabalho uma leitura pontual e seletiva da obra “A boa-vida: visitas guiadas um
passeio pela modernidade”, de Iñaki Ábalos.
Nestas visitas, pode-se perceber diferentes maneiras de se habitar a casa, desde a casa formada para a
família, até a casa pensada para somente um indivíduo. Em meio a esses estilos, existem ainda hoje
diversos traços de que o homem contemporâneo, ainda carrega alguns dos costumes e ideais sobre o
habitar, típicos da transição para o pós-modernos, até os dias atuais.
Marcelo Tramontano, arquiteto, professor e pesquisador da USP-São Carlos, coordenador do
Nomads.USP, Núcleo de Estudos de Habitares Interativos, comenta em seus artigos e trabalhos
acadêmicos sobre o habitar contemporâneo e sua história, o edifício e da cidade como fragmentos
urbanos informatizados, além de estudar as relações entre comportamentos e espaços de morar
brasileiros junto a estudos sobre modalidades habitacionais metropolitanas. Assumimos este autor,
portanto, como outra referência teórica necessária para este trabalho.
Com a introdução do Tramontano e a visão de alguns arquitetos, o trabalho começa a entrar agora para
um campo temporal, mas atual, onde busca em referências cotidianas como jornais e revistas, visões,
discussões e reflexões sobre os modos de morar na sociedade do século XXI.
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A falta por moradias já é algo presente desde o passado e no nosso tempo atual ela não poderia ser
diferente, o que mudou foi a demanda bem como o tipo de procura existentes atualmente. Antes a
procura era para a família, hoje entramos num panorama mais individual e “solitário”.
A busca por moradias cada vez menores só cresceu, a necessidade de se viver mais próximo aos
centros ou de seus locais de trabalho. Onde outrora foi o berço da burguesia de São Paulo – depois
esquecida pela mesma – hoje está sendo procurada novamente por sua localização ser tão primordial
nessa megalópole. Não só por uma questão de localização como também por uma questão de
diminuição nos integrantes da família, essa redução vem acontecendo ao longo do tempo e isso gerou
uma consequência, que foi necessária criar uma adaptação.
Dentro dessas adaptações começam a surgir pequenas moradias as quais visam os interesses e
necessidades desses moradores contemporâneos. Essas minimoradias começam a ser exploradas
cada vez mais pelos escritórios de arquitetura e as construtoras/incorporadoras. O projeto tenta ser o
mínimo possível seguindo conceitos de moradias náuticas e até mesmo rodoviárias – barcos e trailers –
para comportar tudo que o morador necessite, atendendo ao maior número de indivíduos que estiver à
procura de moradia.
No entanto, essas moradias acabam cada vez mais entrando num pensamento pragmático, afundando
mais o indivíduo a praticidade e o tornando cada vez menos ligado ao seu espaço, deixando de criar
sua identidade. Esse indivíduo deixa de imaginar um local como seu, para começar a observar o mundo
como um local aberto e disponível.
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A utilização de interfaces digitais que proporcionam uma moradia fácil e barata, desvincula o sujeito da
sua busca por uma individualidade. E por essa tamanha facilidade de busca e procura, transmuta o que
hoje poderia ser a casa da pessoa em um vil quarto de hotel.
Muitas dessas interfaces apresentam tanto hotéis, como também casas e quartos de pessoas, que já
estão considerando seus espaços privados como algo normal a ser aberto para o público desconhecido.
Assim, esse trabalho tem como intenção levantar reflexões sobre esse morar contemporâneo, que
sofreu tantas transformações ao longo dos anos, boas como também ruins.
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Iñaki Ábalos, em sua obra “A boa-vida” (2003) nos mostra uma maneira diferente de pensar a casa,
abordando questões do projeto que apresentam outros aspectos a serem avaliados, além do simples
fato de considerar quem a utilizará. O autor nos oferece um percurso, mostrando diversas casas
modernistas do sec. XX, muitas delas referências emblemáticas do conjunto de projetos estudados em
História da Arquitetura do período mencionado.
No entanto, por este estudo ter um carácter mais voltado à pratica do morar, foi decido que se daria
atenção apenas aos capítulos que enfatizam a discussão em espaços e elementos relacionados à
habitação.
A intenção desses estudos de casos é analisar hipóteses de compreensão dos elementos habitacionais
e suas particularidades, para desenvolver posteriormente uma visão crítica em diálogo com autores e
obras contemporâneos como Ábalos e “A boa-vida".
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Figura 1: Casas Pátio. Cada casa segui uma disposição espacial diferente das demais. Cada casa segui sua
individualidade. Fonte: Pinterest
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O primeiro exemplo escolhido para ser analisado, na obra do referido autor, é um projeto de Mies Van
Der Rohe no qual ele projeta uma “casa individual”, um exemplo das conhecidas “casas-pátios” do
arquiteto alemão. O escritor e crítico começa curiosamente a discutir o projeto, tentando entender o
porquê do partido adotado pelo arquiteto, levando em consideração que Mies estava naquela época,
junto com um grupo de arquitetos, estudando possibilidades de desenvolver casas-pátios, onde o
propósito era a criação de casas de baixo custo para as famílias-tipo, de operários e de burgueses, um
conceito de casas em série.
Porém, desviando deste propósito, Mies parte para outro raciocínio projetual, esboçando em papeis os
modelos das casas-pátios, sempre com nítida Individualização, exibindo soluções próprias para cada
projeto; cada casa tinha sua particularidade, todas seguindo um padrão material, porém com diferenças
espaciais. (Figura 1)
Ao estudar o Existenzminimum¹ Ábalos percebe a diferença espacial mencionada e é dentro dessas
diferenças que Pere Joan Ravetllat² propõe estabelecer um paralelismo entre as casas-pátios e as casas
pompeianas, (Figura 2) e a organização em torno de átrios e peristilos. (Ábalos, 2013, p. 22)
¹ Termo criado no CIAM decorrente ao pensamento de Le Corbusier e os alemães socialistas, onde visa a ideia de um espaço minimo de
vivencia a um ser humano.
² Arquiteto espanhol, que escreveu um artigo comparando as residências pompeianas com as casas-pátios de Mies van der Rohe.
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Figura 2: Casa pompeiana. Na
imagem acima podemos ver o
fluxo entre os pátios, representado
em vermelho.
Fonte: khanacademy
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Ábalos não se opõe nem concorda com a
comparação, apenas menciona que sendo ou
não legitima a hipótese, pelo menos ela
serviria de base para mostrar o distanciamento
que há nos projetos sob análise. Entretanto, as
casas pompeianas, seguiam um estilo de vida
diferente, pois naquele contexto urbano não
existia uma separação do espaço público e
privado para a família; a casa seguia uma
organização menos privatizada e com
utilização mais mista por uma questão de
parâmetros de ordem espacial e econômica da
sociedade. Já o projeto de Mies adotou um
caminho diverso; o arquiteto fecha a casa em
quatro grandes muros altos enclausurando o
indivíduo, portanto, neste caso, a busca da
privatização é muito maior. (Figura 3 e 4) Figuras 3 e 4 : Casa Pátio de Mies Van der Rohe. Elevação e
planta, mostrando o isolamento que o arquiteto buscava
Fonte: A boa-vida
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Refletindo sobre estes aspectos, Ábalos se questiona: Para que são construídas essas casas? A quem,
a que formas de vida estão destinadas? Que valores traduzem-se nesse espaço privado, e também
– ainda que tais projetos sejam apenas evidências de como este é negado – no espaço público? Quem
são os seus sujeitos? De que noção de homem partem os projetos dessas casas? Que referência
pressupõem? (Ábalos,2013, p. 23)
Mies chega à conclusão de que se a casa não abrigava uma família, logo o arquiteto não tinha com o
que trabalhar, então ele abre mão da família e de todos os conceitos de convívio familiar para trabalhar a
casa de uma maneira mais abstrata. Embora desejasse compreender a natureza da vida moderna, Mies
deduziu que para compreendê-la ele precisa renunciar à memória que a casa guarda da família como
eterna produtora (Ábalos, 2013, p. 23) seguindo um caminho totalmente oposto do existencialismo de
Heidegger.
Sendo assim pode-se perceber na casa-pátio projetada que o uso do seu espaço é imprevisível, pois
não existe qualquer lugar fechado destinado a uma única atividade ou função (Figura 5). O curioso é o
fato também de não existir mais de uma cama neste espaço residencial, levando o autor a interpretar
que a casa seria destinada a um indivíduo solteiro. Tal informação confere todo o sentido
posteriormente, auxiliando Ábalos a refletir sobre como viveria o homem moderno se atendesse
unicamente a sua individualidade? (Ábalos, 2013, p. 24) Por mais que a casa tenha um amplo espaço
funcional, bem adequado, com aposentos abertos e uma cama de dimensões bem generosas, o projeto
não é pensado para atender as demandas de uma família existente e nem para uma futura família
nascente.
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³ Nietzsche utiliza o termo Super-homem para mostrar uma nova fase que o homem está a alcançar, é no livro “Assim falou Zaratustra”
que ele argumenta poeticamente esse caminho predisposto.
Os muros altos, como mencionado, além de
servir para privatizar a vida do indivíduo
indicam também um refúgio para longe da
cidade. Propõem assegurar a casa como o
império do “eu”, levando assim a percepção de
um eco do conceito de “super-homem” de
Nietzsche e de Zaratustra³. A solução do muro
representa a busca do sujeito para encontrar
sua autoconstrução. Sua autoconstrução que
depende da desconstrução dos valores que a
sociedade implantou no sujeito ao longo do
tempo.
Figura 5: Casa Pátio de Mies Van der Rohe com
influência de Hans Sedmayr. Fonte: A boa-vida
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Chegará um dia – quiçá muito breve- em que se reconhecerá o que falta a nossas grandes cidades:
lugares silenciosos, vastos e espaçosos, para a meditação. Lugares com largas galerias cobertas para
os dias de chuva e de sol, aos quais não atingirá o ruído dos carros nem o pregão dos mercados, e
onde uma etiqueta mais sutil proibir até ao sacerdote de orar em voz alta: edifícios e construções que,
em seu conjunto, expressarão o que há de sublime na meditação e no isolamento do mundo.
Terão passado os tempos em que o monopólio da reflexão pertencia à igreja, em que a vida
contemplativa era unicamente a vida religiosa. Tudo o que a igreja tem edificado expressa este
pensamento, e eu não considero que suas construções nos bastem, ainda que se subtraia delas sua
finalidade religiosa. Essas construções falam uma linguagem demasiado patética e demasiado rígida,
para que nós ímpios, possamos meditar ali. Queremos traduzir a nós mesmo em pedras e plantas,
queremos passear por nós mesmo enquanto circulamos por essas galerias e esses jardins.
(NIETZSCHE, apud ÁBALOS, 2003, p. 27)
O autor acredita que a melhor forma de definir o projeto de Mies seja através dessa citação de
Nietzsche. Levando em consideração que o filósofo no texto cita um espaço equivalente ao das
casas-pátios, as grandes galerias, espaços isolados da cidade, um ambiente para meditação, o autor
levanta uma reflexão sobre a implantação da casa que também não poderia ser em outro lugar que
não fosse na cidade caótica, pois colocar essa casa num local menos desordenado como o campo,
faria o projeto perder todo o argumento nela impregnado.
O miesiano que mora nessa casa é um sujeito urbano que vive seu dia-a-dia como um homem normal
da cidade, trabalhando, criando vínculos. Mas o espaço do morar dele é um espaço onde, embora ele
possa se manter dentro da cidade, será também um espaço de isolamento.
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[...] o efeito de encontrar-se em um templo, em um lugar de recolhimento, associado, porém à
convicção de que o que tal templo celebra não é divindade alguma, mas, sim, o advento do homem
como protagonista, como agente, como sujeito. (Ábalos, 2003, p.32)
A partir do momento em que ele cruzar os grandes muros, o habitante se manterá só, porém sempre na
posição de espectador, capaz de ver as transformações que ocorrem na cidade. (Figura 6)
Figura 6: Casa Pátio de Mies Van der
Rohe. Croqui representando o
homem de Mies isolado em seu
templo. Fonte: blogspot
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A próxima casa a ser estudada no livro, é a casa existencialista de Heidegger. Ábalos apresenta o
ponto de vista do filosofo, com seu texto “Porque vivo nas províncias” explicando que o habitar para
Heidegger é algo muito mais complexo e corpóreo. O filosofo baseia principalmente a sua reflexão
existencialista na “Carta sobre o humanismo” . Vivian Graça Barreira interpreta um dos trechos da carta
em seu artigo Carta sobre El Humanismo, de Martin Heidegger a seguinte consideração “A verdade do
ser está em sua essência. A humanidade do homem está na sua essência. A essência reside na
ex-sistência do homem. ” (Figura 7)
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Texto onde Heidegger argumenta contra a vida nas cidades e sua falta de conexões.
Publicada em 1947, é uma resposta as perguntas que o existencialista francês Jean Beaufret, enviou ao filosofo pergunta o futuro do
humanismo pós duas guerras mundiais. A carta mostra o pensamento de Heidegger quanto ao humanismo.
Vivian Graça Barcellos Barreira é pesquisadora da CECIERJ, suas pesquisas são voltadas para historia, com ênfase em politica. Revista
Eletrônica Boletim do TEMPO, Ano 5, Nº22, Rio, 2010.
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Figura 7: O homem só é humano por
causa de sua essência de modo que
só é ser por causa da mesma. Por
sua vez a essência está vinculada a
sua existência. Fonte: Do autor
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Abandonando a linha da filosofia que envolve a carta, Heidegger desenvolveu uma concepção capaz de
mudar a linguagem filosófica para uma filosofia voltada para o pensamento arquitetônico sobre a
habitação, com base na sua reflexão do existencialismo. Assim o filosofo reflete que a casa desse
indivíduo que se questiona sobre si mesmo é algo maior que um simples refúgio, é esse
questionamento que habita a casa, a casa deixa de ser a construção para ser o indivíduo existencial
“Nela se pode exercer o autêntico habitar, a plenitude do ser.” (Ábalos, 2003, p.45).
Esta casa, porém, não se transforma em um espaço impermeável de nossos conflitos. Na modernidade,
o desarraigamento do existencialismo acabou aumentando por conta do uso excessivo de técnicas de
construção; a casa perdeu seu sentido existencial e se transformou em um conceito banal de espaço
residencial, também influenciando, os habitantes que ali residiam.
Esse discurso será importante para a revisão da modernidade no final dos anos sessenta e por isso
devemos conhecer está cabana, localizada em Todtnauberg, na Floresta negra, onde o filosofo viveu
com sua esposa.
Heidegger apresenta na conferência “Construir-habitar-pensar” em 1951, na Alemanha, as três
motivações que precisamos aprender para possuir e habitar espiritualmente a casa existencial onde o
filosofo sugere uma volta às raízes, contrapondo o pensamento positivista predominante na época.
“O que ou quanto construir não é tão importante quanto saber porque construir, qual o significado
original dessa ação. ” (Ábalos, 2003, p.46); essa reflexão reconhece que através desse raciocínio
poderemos transforma um mero abrigo em uma autêntica habitação.
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indivíduo que se questiona sobre si mesmo é algo maior que um simples refúgio, é esse
A próxima casa a ser estudada no livro, é a casa existencialista de Heidegger. Ábalos apresenta o
A primeira das motivações do filósofo é uma palestra sobre a origem e significado da palavra
Bauen (construir):
“Prestemos atenção ao que a língua, através da palavra – bauen -, diz, e perceberemos três aspectos:
1.Construir é propriamente habitar.
2.Habitar é a maneira como os mortais estão sobre a terra.
3.Construir, enquanto habitar, é empregado no sentido de construir, cuidar, cultivar, e no sentido de construir,
erigir edificações.
(...) O caráter fundamental do habitar é este cuidar. ”
(HEIDEGGER, apud ÁBALOS, 2003, p.46-47)
Com essa citação pode-se perceber que para o escritor o “cuidar” é a essência do habitar. Por
isso Ábalos cita Heidegger e a sua afirmação de que existe naturalmente uma necessidade de
cuidar do nosso planeta, de não perdermos a relação que temos com a natureza, pois somente
esse cuidar vai nos gerar o habitar autêntico.
Nome dado aos quatro pontos focais que determinam a harmonia que existe no existencialismo: terra e céu, divinos e mortais.
Engenheiro mecânico e historiador da arte escreveu a obra Espaço, tempo e arquitetura; que foi responsável em influenciar
várias gerações de arquitetos. O livro analisa a arquitetura moderna e desde o surgimento até a relação que ela vem a ter com
os métodos de se construir, pintura, ciência entre outras.
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Esse pensamento da construção da ideia de habitar revela a inversão de valores que a modernidade
carrega, segundo os quais, todo o padrão progressista e ordenado do positivismo desvincula cada vez
mais o homem da natureza e o distancia da mesma.
Essa explicação etimológica da palavra BAUEN é usada para apresentar a ideia do habitar invertida pela
modernidade. Segundo Heidegger o modernismo além de inverter o conceito do habitar, também alterou
a ideia do espaço; assim chegamos à segunda motivação de Heidegger.
A ponte de Heidegger é uma metáfora não somente da espacialidade, mas da capacidade de definir
uma ligação tanto material quanto espiritual; a quaternidade que habita o ser existencialista.
Para o modernismo o espaço é apenas algo material que se pode utilizar para a construção; uma
separação ou união regrada e pré-moldada para definir uma ordem. Assim na conferencia citada,
Heidegger colocou em dúvida todo o pensamento de Siegfried Giedion, em “Espaço-Tempo” , uma vez
que, segundo ele, há dois pensamentos manifestos em um mesmo documento: o do Lugar, Memória e
Natureza em contraste com o do Espaço, Tempo e Técnica; o pensamento existencialista em
contraponto com o moderno.
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De tal modo, o filosofo caminha para a primeira apresentação da casa para o público da
conferencia. O relato de Ábalos volta- se para observar a imagem de Heidegger e sua esposa
dentro da casa (Figura 8) e se pergunta, a exemplo de como fez sobre as casas-pátios, quem é o
sujeito que habita a casa existencial? – reforça – A quem, afinal, esta concepção doméstica
privilegia? (Ábalos, 2003, p.50)
Figura 8 - O domínio da filosofia é o domínio
do lar, a autoridade patriarcal transforma em
um empregado doméstico ou servo de do-
mesticidade. Fonte: A boa-vida (1934, p.43)
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Assim, Ábalos interpreta que o indivíduo que mora na casa existencialista é o herdeiro da casa e dos
bens inseridos nela, e o mesmo que irá cuidar dela para passa-la aos seus filhos e assim por diante. O
que habita aquela casa é quem do mina suas características, historias, sua linguagem e que constrói seu
pensamento através dela evocando uma nostalgia que propulsiona o poder da casa existencialista.
É extremamente essencial a hierarquia que se deve seguir priorizando o pai na casa pois é ele quem
trará a segurança e o cuidado para passar a casa às gerações seguintes. Interpretando uma citação de
Heidegger, somente com a profundeza de uma noite escura perante uma tempestade de neve
percebemos a máxima relação do habitante com a natureza. A casa serve como refúgio e abrigo, e
também serve como exemplo para as cidades em sua diferenciação de espaços públicos e privados,
procurando oferecer proteção de algo nocivo.
Sendo assim entramos na última motivação de Heidegger, a exposição da sua casa com fotos,
mostrando sua maneira de morar e da sua esposa. A casa é simples e nele só existe o necessário; não
existem equipamentos tecnológicos, a casa é toda regida pelo homem e assim ele segue o papel
hierárquico dado a ele sobre ela. O uso de equipamentos tecnológicos contrapõe-se por duas razões:
primeiro, a de que
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os mesmos traziam um arruinamento para a natureza externa da casa, e também porque a
introdução da opinião externa conferia uma violência ao habitar. O sujeito existencialista não
deve se isolar do mundo, mas no espaço de sua casa só convém a ele saber o que é o melhor a
ele, ele é quem se protege ou protege sua família das nocividades do exterior. (Figura 9)
Figura 9: Heidegger observando sua esposa o servir a mesa de jantar. Em pleno
domínio sobre a casa. Fonte: A boa-vida (1934 e p.42)
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A terceira casa apresentada por Ábalos é uma casa cenográfica do artista Jacques Tati,
representada no seu filme “Mon oncle”, um filme de 1957 que na época expôs uma crítica
o habitar e projetar da rígida modernidade. O filme a todo momento nos mostra duas
maneiras de viver e morar, a do tio Hulot, – interpretado pelo próprio artista Jacques Tati –
que mora num cortiço no centro de Paris e a casa da família Arpel, – onde moram a irmã
de Hulot, o marido e o filho – que fica num bairro mais afastado e nobre. (Figuras 10 e 11)
Figuras 10 e 11: A esquerda o Sr. e Sra. Arpel em frente à casa positivista. A direita o cortiço onde o Tio Hulot mora.
Fonte: Mon oncle (TATIT, 1957)
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Nesse filme a abordagem de Tati é clara quanto ao conflito ideológico dos dois personagens, o do tio e o
do senhor Arpel.
Tati mostra a maneira artificial como as pessoas estão vivendo seguindo esse padrão positivista; a todo
o momento Hulot não aparenta entender os costumes que sua irmã e seu cunhado adotaram, e dos
quais se gabam. O tio acaba assumindo o papel de desconstrutor da casa da irmã e dos seus padrões e
espaço. Já o senhor Arpel aparenta a todo o momento se orgulhar da casa e de seus bens materiais. Ele
segue um ideal positivista, portanto, faz sentido também que ele siga tal modelo: sendo o dono de um
fábrica de plástico, sua ideia de vida e de trabalho sempre são voltadas ao progresso, sempre visando à
ordem. (Figuras 12 e 13)
Figuras 12 e 13: Sra. Arpel apresentando sua casa, para uma convidada. Fonte: Mon oncle (TATI, 1957)
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Corrente filosófica do séc. XIX e começo do séc. XX que defende o conhecimento cientifico e expõem sendo o único capaz a formar
um conhecimento verdadeiro. Somente a comprovação por meio de métodos científicos, que o progresso poderá ser alcançado.
Filosofo francês, fundador da Sociologia e um dos criadores da corrente filosófica Positivista.
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Esse positivismo criticado por Tati e mencionado por Ábalos, acaba se apoderando de certa
forma dos padrões da arquitetura moderna, pois esses padrões sustentam os seus argumentos e
demonstram uma maneira prospera de se viver e evoluir. Não é por acaso que este raciocínio
desencadeia revoltas no campo acadêmico e nos arquitetos da época.
Porém sua apoderação se tornou tão evidente a ponto de entrar nas escolas politécnicas
francesas onde até hoje ainda persiste o predomínio do ideal positivista. Essa linha de
pensamento, seguiu para a ideologização de uma utopia onde a filosofia serviria apenas como
auxilio para a ciência; deste momento para frente o domínio das decisões seriam todos tomadas
seguindo a ciência.
Todo esse progresso ordenado faz com que o positivismo crie a sociologia. O homem e a
sociedade acabam se tornam fenômenos naturais, e se transformando em objeto de estudo para
a ciência, como disse Auguste Comte .
“...os movimentos da sociedade, inclusive os do espírito humano, podem ser realmente previstos, em
certa medida, para cada época determinada, sob cada aspecto essencial, inclusive aqueles que pare-
cem à primeira vista desordenados. ”
(COMTE, apud ÁBALOS, 2003, p.71)
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Nesse filme a abordagem de Tati é clara quanto ao conflito ideológico dos dois personagens, o do tio e o
A argumentação apresentada buscava a criação dessa ciência – sociologia – para mostrar com mais
ferramentas a sua determinação ideal e para poder manipular a arquitetura moderna a sua maneira.
Com esse poder de ordem a família acaba sendo vista como uma estatística, uma ferramenta num
grande sistema que seria a sociedade. Nesse contexto, Ábalos se pergunta novamente: quem habita
esta casa?
E então chega à conclusão que a casa que segue o positivismo só poderia ser habitada por um casal
modelo, que acredita que sua moral esteja ligada ao seu progresso material. O positivismo ensina que
esse progresso só vira no futuro e para isso a família deverá seguir seus dogmas. Essa família acaba
entrando num contexto congênere, para poder entrar no padrão positivista; faz-se necessária essa
perda de diferenças e do senso crítico, para se inserir no mundo positivista. São essas mesmas famílias
-tipo do positivismo que foram a base para o estudo do Existezminimun¹¹.
Essa maneira de pensar começa a mudar o raciocínio projetual dos projetistas e a casa deixa de ser
pensada para o conforto da família para se tornar o espaço necessário; essa casa acaba se tornando
uma imagem para o exterior.
¹¹ Após a guerra, com a necessidade de se construir habitações para as pessoas que haviam perdido as suas casas, surgem vários gru-
pos de arquitetos estudando maneiras de se construir casa de uma maneira rápida. Nesse contexto junto com a modernismo surge o
estudo que visava uma mínima necessário para uma família subsistir.
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O projeto sempre acaba sendo pensando para
ser visível ao lado exterior, a sala deve ser
toda envidraçada, com belo jardim ríspido em
sua frente, parede sempre com cores neutras
e frias, as janelas circulares que mais
parecem dois olhos sempre observando o
exterior, como Jane Jacobs¹² imaginaria, e o
salão se torna o ponto focal da casa, por ser o
espaço de recepção de convidados e por sua
arquitetura panóptica (Figura 14). Os materiais
nele presentes sempre possuem uma
condição moderna, é inaceitável que qualquer
construção siga matérias que evoquem
qualquer tipo de história ou tradição, tudo
deve ser moderno.
¹² Segundo Jacobs (1961) a concepção de janelas viradas para a rua traria a cidade olhos que proporcionaria uma maior segurança, por
conta de tantos olhares sobre a cidade. São as pessoas vivendo a cidade e a protegendo.
Figura 14: Hulot indo embora da casa dos Arpel tarde da noite,
enquanto a casa o observa. Fonte: Mon oncle (TATI, 1957)
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Morar Contemporâneo
Nesse filme a abordagem de Tati é clara quanto ao conflito ideológico dos dois personagens, o do tio e o
A casa e a família são uma peça na grande máquina que chamamos de cidade; a casa vai servir para
algo muito mais além do que um mero refúgio; ela acaba sendo um painel que retrata a família, e cuida
da cidade.
As manias e a organização da casa são sempre regradas, a senhora Arpel sempre está em busca da
limpeza e de mostrar a eficiência de sua casa, com seus moveis e equipamentos domésticos modernos;
o senhor Arpel também sempre exibindo seus utensílios – característica do positivismo.
Porém só no positivismo, com o pensamento de união e ordem, o primeiro caso estudado por Ábalos
apresenta a construção de conjuntos habitacionais. Estes referenciais do socialismo utópico começam a
definir os contornos da construção na cidade e dos espaços públicos através da habitação. Pois,
somente através da habitação, do lazer, da circulação e do trabalho teria uma cidade organizada.
Constatamos assim que a cidade acaba criando a necessidade de um princípio cientifico que venha a
organiza-la, surgindo o urbanismo.¹³
A cidade passa a ser estudada pela ciência e a ser um reflexo das casas positivistas que determina seus
usos internos, como o microzoning¹ faz com a organização da cidade.
¹³ Principio cientifico, que visava naquela época estudar, organizar e planejar a cidade, de uma maneira mecanizada.
¹ São as formações de grupos urbanos com as mesmas características designadas. 4
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Morar Contemporâneo
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Com o maquinismo controlador da das casas modernistas do filme, acaba ficando evidente, que
os Arpel acabam se tornando reféns de seus maquinários e sendo obrigados a seguir a rotina
que a casa designa a eles, assim como o microzoning a cidade.
Fica evidente, pelo pensamento positivista que é impraticável a construção de um “eu “na casa
positivista, é indiscutível comparar o quarto do filho dos Arpel, que é todo pensado por um
terceiro, para a casa de Hulot, que personaliza seu espaço para seu melhor conforto. Ábalos
começo então a recordar com a cena dos Arpel assistindo televisão do lado de fora da sala, o
ponto da fé positivista que levanta questionamentos sobre a maneira de habitar e pensar a casa
positivista.
Sendo assim Ábalos conjectura que o maior estorvo que se carrega do positivismo, não é a
maneira de projetar do arquiteto, mas sim as normas modernas que este nos deixou de legado.
Morar Contemporâneo
Ábalos (2003) insere no grupo de estudos de caso sobre o viver/morar/habitar, selecionados para
a obra que estamos analisando, um exemplo que confronta as casas anteriores.
Citando um pensamento de Michael Hays e comentando a existência de diversas maneiras de
pensar a arquitetura nos anos 1970 sobre o foco humanista, Ábalos inclui na discussão os
pressupostos do desconstrutivismo , uma espécie de “estilo arquitetônico” manifesto na era
pós-moderna, caracterizado por elementos não-lineares e pela elaboração de um edifício
fragmentado, distorcendo o princípio básico da construção arquitetônica.
Mencionando a arquitetura de Peter Eisenman, o escritor faz dela exemplo para ilustrar uma nova
maneira de viver a casa, seguindo outros padrões. (Figura 15)
A casa a ser estudada neste contexto, não será uma casa materializada, mas sim casas
construídas no ambiente virtual, que sugerem desconforto para serem utilizadas no nosso meio.
São casas que não seguem as normas e que nos mostram uma outra maneira de pensar e
habitar esses espaços. Torna-se um problema visitar essas casas, não apenas pelos usos e
atividades que nelas se dão, mas também pela sua disposição, materialização e até mesmo o
modo como se desenvolve este projeto.
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Linha de produção pós-modernista que visa confrontar diretamente ao estruturalismo do modernismo. Com base nos pensamentos dos
filósofos Jacque Derrida e Peter Eisenman o desconstrutivismo caminhavam muito além do que uma simples desconstrução da arquitetu-
ra. Na verdade, existe dentro dele uma desordem controlada e uma aleatoriedade, sua intenção carrega muito mais destacar a edifica-
ção.
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Morar Contemporâneo
Figura 15: House VI do arquiteto Peter Eisenmann,
situada em Cornwall, Connecticult.
Fonte: Plataforma Arquitectura
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Figura 17: Maquete representando a ideia de Dan Graham.
Fonte: “La caixa” foundation
Figura 16: Keaton parado em frente à
casa que construiu, tentando entender o
que houve de errado.
Fonte: One week
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Morar Contemporâneo
A primeira casa analisa é a do ator de Buster Keaton, protagonista do curta One Week (1920). Na
trama do filme, Keaton se casa e ele a esposa recebem uma casa de presente, de um antigo
pretendente da noiva. Os personagens não sabem, no entanto, que a casa precisa ser montada,
seguindo instruções do manual. Porém o antigo pretendente da esposa de Keaton, enciumado, decide
pregar uma peça no concorrente e altera a numeração das caixas de peças pré-moldadas que devem
ser usadas para se montar a casa. Assim a casa acaba ficando totalmente irregular, desrespeitando
padrões e não condizendo com o desenho previsto no manual. (Figura 16)
A próxima casa que Ábalos menciona é uma proposta, que nunca foi materializada de Dan Graham, a
Alterações para uma casa suburbana (1978) (Figura 17). Trata-se de uma proposta radical onde a
fachada frontal é substituída por um pano de vidro e é colocado um espelho continuo no vão, fazendo
assim não existir separação entre o ambiente público e o privado.
O morador deste edifício mantém a privacidade em seu quarto e seu banheiro, porém perde sua
privacidade dos demais espaços domiciliares e o espaço exterior se incorpora ao interior, fazendo assim
com que ambos os planos sejam indistinguíveis e sempre sejam considerados invasores ou invadidos.
Ator e diretor americano de comédias mudas. One week é uma de suas obras, onde o filme retrata a desconstrução da casa e sua
convivência em um ambiente esquizoide para a época.
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Estabelecendo aproximações (Figura 18)
entre as casas de Keaton e Graham e outras
duas casas: a House VI de Peter Eisenman e
a casa de Frank Gehry em Santa Monica,
Ábalos observa que:
As características de Gehry estão mais
ligadas às partes formais e construtivas das
casas do meio virtual.
Em Eisenman as características serão mais
processuais como as do Graham.
Para Keaton existe mais veracidade na sua
atitude maquínica na construção de sua
casa, do que qualquer outro pensamento.
Figura 18: Aproximação entre as casas segundo Ábalos.
Fonte: Do autor
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Morar Contemporâneo
Ábalos questiona-se sobre o paradeiro do sujeito normal, seguidor de normas, que desaparece e se
torna o sujeito que tem como única característica para sua manifestação a sua incapacidade
intelectual e manual.
Citando Michael Foucault em As palavras e as coisas (1966) a “morte do sujeito” nosso autor
reconhece que ao procurar nas Ciências Humanas entender o poder e o conhecimento que ela
conseguiu arrancar e intensificar, transformando o sujeito clássico e renascentista em nada, o filósofo
francês traça uma genealogia do sujeito normal.
O homem perdeu sua liberdade, foi coisificado e perdeu sua individualidade em fazer coisas que não
sejam do interesse do estado, portanto tornou-se um conglomerado heterogêneo.
O sujeito não desaparece: é a determinação da sua unidade que é problemática, já que o que suscita o interesse e a
investigação é precisamente a sua desaparição (ou seja, esta nova maneira de ser que consiste na desaparição), ou
mesmo a sua dispersão, que, embora não chegue a aniquilá-lo, não nos oferece dele mais do que uma pluralidade de
posições e uma descontinuidade de funções. (BLANCHOT, apud ÁBALOS, 2003, p.147)
Este sujeito contemporâneo aprisionado começa a adquirir distintas formas anunciadas pelos
pensadores contemporâneos: o parasita de Derrida, os nômades de Deleuze e Guattari, ou o
vagabundo de Lyotard, que demonstra a reclusão do sujeito.
A sociologia nos revela que essa nova forma de ser causa diminuição da família e da razão doméstica;
esse sujeito individual é um parasita, um nômade que somente usufrui da cidade todos os recursos
que são conquistados pelo coletivo.
Morar Contemporâneo
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O foco da questão, portanto, não está no
sujeito individualista, mas na ideia de
abandono da família tradicional que, está se
perdendo. É cada vez mais evidente a
presença da individualidade conforme o texto
de Ábalos decorre. Logo ele nos mostra os
estudos de Toyo Ito (Figura 19 e 20), para a
“mulher nômade de Tóquio”, projetando
minimamente estruturas, que visam apenas à
privacidade do homem contemporâneo.
Figuras 19 e 20: Acima protótipo da casa
para mulher nômade de Tóquio. Em baixo o
interior de outro modelo.
Fonte: Revista Cultural
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Morar Contemporâneo
Inicia-se neste ponto de tensão, abordado pelo autor, a desconstrução da casa, quebrando os signos
e padrões. A família já não é mais o ponto focal dessa habitação de Ito, o espaço acaba se tornando
meramente singular e para suprir necessidades apenas; a casa deixa de ser atraente. Todos os
pensamentos já estudados nas casas anteriores de Ábalos desaparecem com a contextualização
dessa barraca.
Essa mulher nômade é o parasita, sua inserção na cidade é meramente consumista e, passageira,
ela nunca produz como os habitantes. Suas cabanas, pensadas para ficar flutuando, sobre os prédios
mais altos com as mais belas vistas da cidade (Figura 21), causam uma perda de identidade para a
cidade.
Figura 21: Desenho do
protótipo nômade de
Toyo Ito.
Fonte: Ciudad Sistema
Morar Contemporâneo
Figura 22: Quadro Bigger Splash, por Daviv Hockney, 1968.
Fonte: UOL foto blog
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Morar Contemporâneo
A próxima casa abordada não se trata também de uma materialização, mas sim da imagem em um
quadro de David Hockney pintado em 1968, A bigger splash. Não é o quadro que será analisado, mas
todo o legado que ele deixou por trás da sua praticidade pintada. A bigger splash mostrava o formato de
concepção da arquitetura do século XX, ideal originalmente americana, porém não só utilizada ou aceita
por eles, o quadro expressava toda a sua relação do exterior/interior, habitar/morar. (Figura 22)
Essa maneira de projetar e morar na casa advém desde o final do séc. XIX e começo do séc. XX com os
filósofos pragmáticos, William James, Charles S. Pierce e John Dewey.
Uma casa visivelmente bem resolvida, com herança do modernismo, contudo sem nenhuma ligação
com a casa de Tati, a casa positivista. Com essa casa os valores positivistas serão distantes, nessa
casa volta a se criar um padrão de tradição doméstica, cuja a cultura contemporânea demonstra
vitalidade.
Foi James que lutou para que a verdade não fosse mais pesquisada, para ele a verdade se adapta e
pode se suceder da ideia, como ele diz:
“chega a ser verdadeira, torna-se verdadeira pelos acontecimentos”.
(JAMES, apud ÁBALOS, 2003, p.173)
Morar Contemporâneo
A verdade deixa de ser absoluta para ser algo acidental. James aceita a verdade traçando
ajustes ao mundo, interpretando que a verdade é feita a partir da realidade e da mente. Mas no
pensamento pragmático a mente e o mundo, estão juntos e logo a verdade é criação do homem,
logo contingente.
O pragmatismo entra então ao mundo como um processo, sem raízes, sem heranças, é uma
ferramenta praticamente e não um ideal a ser seguido. Vem com o intuito de organizar as
“verdades”, colocá-las em discussão e procurar caminhos para a melhor solução final. Para
exemplificar tal seguimento James, utiliza a imagem de um corredor de hotel onde se encontram
diversos mundos diferentes, o corredor acaba sendo o meio de conversação de todos.
O sujeito pragmático, é um indivíduo que convive na atualidade, não resgata heranças ou
aguarda o futuro materialista. Sendo assim Ábalos retorna as imagens da casa de Julius
Shulman, a Case Study House ou os desenhos de Alejandro de la Sota, do seu projeto as casas
para Alcudia, com o questionamento de: como seria a concepção da casa para o sujeito pragmá-
tico? Como retirar os valores para tal concepção? O presente é o que procura o sujeito pragmáti-
co, mas não o presente só atual e sim sua poética escondida, que devemos lapidar até encon-
trarmos uma prodigiosidade.
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Morar Contemporâneo
O sujeito não desaparece: é a determinação da sua unidade que é problemática, já que o que suscita o interesse e a in
Esta tarefa é a de restaurar a continuidade entre as formas refinadas e intensificadas da experiência que são as obras
de arte e os acontecimentos, os fatos e os sofrimentos cotidianos, universalmente reconhecidos como constituintes da
experiência. ” E continua advertindo-nos: “A primeira consideração importante é que a vida desenvolve-se em um
entorno, não meramente ‘em’, mas por causa dele, através da sua interação com ele.
(DEWEY, apud ÁBALOS, 2003, p.177)
Assim a arquitetura e a arte se tornam um marco da experiência habitual. Fazendo a casa criar um
vínculo com a paisagem de modo que a presença desta transformasse um ambiente mais pragmático.
Ábalos volta então a analisar a casa pragmática, após levantar diversas elemento críticos no discurso
passado. Começa descrevendo com uma visão pessoal e até com influência de Hockney, levantando
diversos pontos para mostrar que o autor captou a essência do cotidiano daquele momento ali
expressado.
A seguir ele entra na casa de Pierre Koenig, Case Study House (Figura 23). Ábalos objetiva ao olhar
a imagem das duas mulheres conversando sobre as luzes de Los Angeles que o sujeito pragmático, o
protagonista, é essa mulher liberal, que antes não tinha liberdade e era considera em segundo plano
apenas para suprir as necessidades caseiras. É ela que lutou para se igualar e habitar essa casa.
Morar Contemporâneo
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A casa pragmática não tem um limite, portanto
ela não deve ser encarada como uma
passagem de gerações para gerações, como
também não se estuda seu Existenzminimun.
Ela deve ser dissolvida em respeito a
individualidade dos que ali irão morar ou que
moram.
A casa pragmática é construída a partir de
manifestações da mulher de 1868, que estava
insatisfeita e considerava a casa da época
como espaço de escravidão. Com a luta pela
profissionalização do trabalho doméstico,
começaram a se pensar a casa de uma
maneira mais eficiente, visando um trabalho
mais rápido e prático.
Figura 23: Case Study House, Los Angeles, 1948.
Fonte: UOL foto blog
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Morar Contemporâneo
Somente no final da segunda-guerra mundial, a casa pragmática terá uma maior maturidade. É com
ajuda da revista Art & Architecture que a experimentação pela casa pragmática se tornará materializada.
Seu interior será, invadido por utensílios eletrônicos, pois tornavam mais pratica o cotidiano e por
estarem na moda, como outros utensílios diversos, como sofá, mesas de jantar, mesas de centro, que
eram comprados por catálogos. Sendo assim chegamos no ponto onde Ábalos se pergunta qual é a
materialidade especifica pragmática? E logo em seguida responde, percebendo que não existe uma
materialidade essencial para a casa, seus objetos estão ligados no que está em alta no mercado.
(Figura 24)
Sendo assim a casa pragmática, levou anos para ser aceita, porém provou se tornar uma das mais
bem-sucedidas maneiras de se pensar a habitação. Por ela conter diversas vertentes, adquiridas pela
conversação dos corredores de hotéis, ela acaba se tornando algo equilibrado e menos extremista. O
arquiteto que pensa nessa casa pragmática necessita de muita imaginação e compreensão do todo
mundo, para dar um grande passo e conseguir realizar a concepção dessa casa.
Morar Contemporâneo
Figura 24: O casal de designers e arquitetos Charles e Ray Eames, conversando no
interior da casa. Fonte: Smow
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Quando discutimos sobre o morar contemporâneo percebemos que este vem sofrendo uma
grande alteração nos últimos anos, comparando com o passado de Ábalos de a Boa-vida.
Hoje em dia a população mundial, acabou por herdar uma pré-disposição ao individualismo, cada
vez mais os indivíduos estão se desvinculando deixando de se contatar fisicamente; para
Zygmunt Bauman nós estamos perdendo cada vez mais nossa capacidade de amar tanto ao
próximo como a nós mesmo . Um dos impulsos que causam essa desvinculação, é a tecnologia,
que pelo seu avanço e seu fácil acesso as pessoas, acabou criando na cabeça dos indivíduos a
ideia de que muitas das crianças de hoje são autônomas, por dominarem essas tecnologias.
Essa autonomia por sua vez está sempre dependendo dos aparatos tecnológicos, que nos
mostra que ela somente cria essa ilusão de autonomia.
O homem já não precisa mais sair de casa para manter contato com o mundo. O filme
Medianeiras , por exemplo, nos revela uma situação onde os protagonistas, que vivem suas
vidas em busca de um amor, nos encontros e desencontros da grande cidade, acabam utilizando
das redes sociais para conhecer outras pessoas e até si mesmos. No caso desta trama, os
personagens centrais do romance só vão se conhecer graças a um blecaute.
Sociólogo Polonês que estuda em uma de suas obras como as pessoas estão cada vez mais flexíveis em se relacionar e inseguras.
Com a utilização de equipamentos eletrônicos as pessoas estão cada vez mais se vinculando ciberneticamente com diversos usuários do
que tentando construir um vínculo a longo prazo.
Filme argentino de Gustavo Taretto, onde conta a história de amor de dois jovens a procura de um amor, que não se conhecem e vivem
se desencontrando no contexto da cidade grande.
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Apesar de ambos utilizarem da tecnologia para trabalhar em casa – apesar da protagonista ser vitrinista
e montar suas próprias vitrines, ela também utiliza de programas de computador para desenhar e
realizar suas ideias – o que por um lado nos faz pensar de forma crítica sobre a utilização do espaço.
Antigamente era comum que o ambiente particular do morar, fosse aberto em determinado horário ao
público; portanto, este ambiente particular acabava se tornando um ambiente misto onde sempre
poderia se receber alguma visita, nunca havendo um espaço privado propriamente dito, nas
residências .
No filme citado, os personagens também utilizam a tecnologia para pedir comida e até para relembrar
do passado que ainda os atormenta, acabam passando tanto tempo em seus apartamentos – caixa de
sapato/quitinetes – que não é estranho que eles acabem vivendo a cidade como um espaço meramente
de passagem. Essa desvinculação do homem pós-moderno com o espaço da cidade transforma e altera
o espaço onde vivemos e habitamos.
Uma característica, não necessariamente ligada à tecnologia, mas que problematiza todo o espaço
também é a queda da fecundidade; percebida pela demógrafa Elza Berquó que constatou uma queda de
mais de 50% da taxa de fecundidade nos países: França, Inglaterra, Suécia, Itália, Alemanha e Holanda;
Em A história da vida privada vol.5 é retratada uma história de uma família que morava na França e fazia sapatos em casa. Em uma
determinada greve, o chefe da família ao estar sem recursos furou a greve, com isso o povo se revoltou e foi atrás do fura greve,
trazendo assim um conflito público para o âmbito privado. De certo modo a pessoa, quando trabalha em casa, já não tem sua própria
casa. (VINCENT, 1994 p.25)
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entre os anos de 1965 a 1985 . No Brasil desde 2000 existe a previsão de que até o final do ano
de 2015 a queda será de mais de que 40% da taxa de fecundidade²¹. Essa taxa tão baixa,
demonstra as pessoas adotando outros sistemas de família, que antigamente não existiam. A
típica família e os padrões a se conquistar dentro do slogan americano American Dream estão
cada vez mais distantes.
Com essa diminuição sobre o perfil dos integrantes familiares, Marcelo Tramontano (2006) nos
mostra em seus artigos do Nomads²², que os espaços residenciais têm sofrido grandes alterações
espaciais. Houve uma diminuição enorme nos padrões da moradia, não somente em virtude da
taxa de fecundidade, mas também por herança do modernismo.
Darcy Ribeiro (1995), famoso antropólogo brasileiro, conta que pela migração da população nativa
do norte e nordeste do Brasil para o sudeste e sul do país, em busca de emprego nas grandes
cidades, acabou sendo identificada uma falta de moradia pois nenhuma cidade estava preparada
para receber tal contingente populacional²³.
Berquó, E. A família no século XXI: um enfoque demográfico, in Revista Brasileira de Estudos de População, volume 6, no 2; julho/
dezembro 1989.
²¹ IBGE, Projeção da População do Brasil - 2013.
²² Biblioteca digital. Disponível em: <http://www.nomads.usp.br/site/> Maio, 2015.
²³ RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo. 1995.
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poderia se receber alguma visita, nunca havendo um espaço privado propriamente dito, nas
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Com isso o povo teve que se adaptar e optar por morar nas periferias da cidade. Enquanto o povo
oprimido morava em pequenos espaços, a alta sociedade morava em grandes casarões bem
localizados nos centros das cidades. Entretanto essa retorica já não é a mesma nos dias de hoje. As
periferias ainda existem e dentro delas existe hoje uma complexidade em resolver seus problemas
urbanísticos e de moradia, que antigamente não existiam ou melhor, se existiam, não tinha impacto
direto na cidade. As periferias sempre carregaram dentro da sua condição de existência a essência de
um morar minimalista, onde as pessoas não têm muita escolha, por questões sociais, econômicas,
étnicas.
A mudança deste cenário ocorreu dentro da cidade e de seus casarões e os padrões da alta
sociedade. Os abastados adotaram outros tipos de moradias ao longo do tempo, residências em
condomínios fechado, grandes apartamentos luxuosos, mansões afastadas da cidade. Eles acabaram
se isolando, cada vez mais, do centro das cidades e deixando a população media/baixo dominar seus
antigos locais. Com a demanda sempre maior do que o número de moradias disponíveis, o número de
edificações residenciais aumentou cada vez mais dentro das grandes cidades. Com essa demanda e a
taxa de fecundidade tão baixa, os novos padrões de moradia começaram a surgir. Os empreendedores
ao observar o tipo de demanda característica, começaram a produzir edificações menores, levando em
consideração que o padrão da família contemporânea já não era o mesmo de antigamente, pois o
numero pela procura de apartamentos para solteiros só aumentou ao longo dos anos.
Morar Contemporâneo
A busca por uma individualidade é visível na nossa sociedade contemporânea. O poeta chinelo
Alejandro Zambra nos trouxe uma reflexão sobre o tema, comentando que, que a solidão é
necessária, ainda mais nos dias de hoje em que as pessoas têm dificuldade em estarem
sozinhas e sentem uma necessidade de estarem conectadas ou acompanhadas de alguma
maneira, mesmo que não seja pessoalmente, pelo menos acompanhadas por equipamentos
eletrônicos .
Seguindo com esse conceito Allain de Botton (1969) cita em seu filme baseado em um dos seus
livros, o pensamento do filosofo Wilhelm Worringer que expõe o motivo de algumas sociedades
ou pessoas escolherem determinados tipos de arquitetura está atrelado a uma necessidade de
acrescentarmos aquilo que falta em nós.
Sendo assim podemos concluir que as pessoas escolhem esses determinados apartamentos
solitários, buscando um local privado, um ambiente onde ela possa se sentir realmente sozinha
para desfrutar do seu conforto pessoal. Entretanto não alcança uma privacidade, por conta da
tecnologia cada vez mais está atrelada as nossas vidas e seu instinto em sempre se manter
conectado.
Poeta chileno, Alejandro Zambra fala sobre a solidão. Direção: Felipe Nepomuceno. Produção: TvZERO. Entrevista,
24'18". Disponível em: http://canalbrasil.globo.com/programas/sangue-latino/videos/3910556.html .
Acesso em abril de 2015.
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Entretanto, com toda a transformação que vem ocorrendo nos últimos anos, percebesse que o homem
é o centro desse morar. Ao longo dos últimos anos, em todas as referências estudadas das casas
modernistas do Ábalos, por Botton e até os estudos do Tramontano, percebemos que a casa sempre
está se transformando através das vontades e necessidades do homem.
De modo que as casas estão sempre se adaptando para que o homem tenha uma melhor convivência
e conforto físico e até mesmo espiritual, dentro dos limites que ela apresenta.
Se a ideia de o homem ser o centro da casa está atrelada a História, poderíamos nos perguntar por
que motivos se dá ou se desenvolve a História? Se a casa é um objeto inanimado que só se adapta
através do ato do ente, por que o homem tem essa atitude?
O homem tem sofrido muita influência da mídia atualmente sobre determinados assuntos. Essa
manipulação de informações que a população sofre diariamente das redes de comunicação acaba
causando uma reação normal quanto aos problemas reais e uma justiça de valores. Essa normalidade
à qual o homem acaba sendo introduzido imperceptivelmente em seus juízos, levanta a possibilidade
do homem estar adaptando seus ambientes de moradia para ambientes cada vez mais minimalistas,
por influência e intenção de agentes externos.
O mimetismo é uma habilidade que algumas espécies de animais têm para se defender ou atacar suas
presas. Para o homem se caracterizaria como uma habilidade que o ser-humano carrega ao longo do
tempo a de se adaptar sempre aos ambientes que convive.
Morar Contemporâneo
O homem é a única espécie capaz de sobreviver em todos os ambientes por ter criado maneiras
de sobreviver. Esse mimetismo poderia nos levar a considerar, que mesmo que possamos sofrer
certa influência de agentes externos, ainda assim teríamos uma ferramenta de adaptação para
nos proteger de tais influências.
No entanto, essa adaptação da qual estamos predispostos a ter por um traço evolutivo, nos leva
muito mais além. É perceptível que está vinculada na essência da sobrevivência, porém,
levamos essa habilidade para nossos hábitos mais mundanos, como por exemplo, viver em
pequenas habitações.
Essa adaptação implantada dentro de nós junto às necessidades da nossa época, que
começamos a traçar novos esboços da nossa subsistência. Sendo assim, podemos observar a
publicação do jornal “Folha de São Paulo” , sobre as casas dos arquitetos consagrados que
projetaram suas próprias casas.
Nessa matéria temos diversos arquitetos que manifestam suas intenções e olhares sobre suas
casas e o modo como eles moram. Entre todos eles, o que mais despertou o interesse de uma
CHIAVERINI, T. Lição de casa: Um passeio pelos imóveis que arquitetos consagrados projetaram para eles mesmos
morarem. [Editorial]. Folha de São Paulo: O melhor de São Paulo Casa & Decoração. n. #258, p.20 - 30, ago./ set., 2015.
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Discussão, foi o arquiteto Ruy Ohtake, que em sua entrevista apresentou sua ideia de um morar
contemporâneo. Para ele, a casa deve ser mais que um simples local de permanência e descanso, ele
cita;
“Na nossa casa a gente tem de respirar arte. Tanto pelas obras como pela arquitetura. ”
(CHIAVERINI, apud Folha de São Paulo, 2015, p. 22)
Esse olhar sobre a casa ser muito mais do que ela é em essência começa a mostrar a adaptação do
homem quanto as suas maneiras e necessidades de morar. Para ele é necessário esse tipo de
influência artística na casa, toda via não é uma característica que todos concordariam. Do mesmo
modo que essa necessidade por arte seja fundamental para ele, Ruy não vê necessidade em ter
cozinha e lavanderia. Seu apartamento Duplex é um flat que fornece serviço de hotelaria e somente
por isso o possibilita de não ter esses espaços, que o mesmo julga serem perda de tempo. Essa é uma
característica que ele julga ser a melhor para sua própria moradia, é a identidade que ele quer possuir
no seu espaço para construir sua individualidade.
É seguindo essa linha de raciocínio que agora essa pesquisa começa a travar uma discussão sobre
essa questão de adaptação, busca e perda de identidade, justificando de certo modo um porquê
dessas novas maneiras de se viver. E tentando compreender e traçar – mesmo que especulando –
qual será o caminho que esses indivíduos percorrerão.
Morar Contemporâneo
A ausência de planejamento urbano adequado para São Paulo resultou em uma cidade de 11,2
milhões de que necessita, se adaptar às dificuldades enfrentadas no cotidiano. Com o
crescimento populacional cada vez maior, precisamos frequentemente enfrentar e nos adaptar
aos problemas saturados dessa megalópole. O morar dentro dessa cidade sofre transformações
assim como as casas de Añaki Ábalos , analisadas no capítulo anterior, cuja característica serve
para representar um modo de habitar específico, dentro de um contexto temporal.
Entretanto, se as casas de Ábalos foram discutidas neste trabalho sob a ótica de seu morador,
não podemos repetir este modelo para o cenário que temos atualmente.
O crescimento populacional gerou um modo de habitar totalmente desvinculado da família
tradicional brasileira/paulistana. Ao invés desse crescimento se dar em família, ele está se
tornando cada vez mais individual. Cresce também em adjunto o interesse, por parte da
população, em desenvolver um modo de viver que procura se individualizar em tudo.
Dados do IBGE recentes indicam que o último aumento registrado de famílias que estavam no
topo dos procriadores aconteceu na década de 60. Após essa época houve uma queda marcante
no número de famílias, em todo país. Se na década mencionada uma família tinha em média 6,28
filhos, hoje está média passou a ser de 1,9 filhos. Ou seja, as famílias estão diminuindo não só
devido a fatores econômicos, mas também por escolha própria.
Idem p. 17.
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Conforme observamos no gráfico seguinte, a região sudeste do país foi onde alcançou a maior queda
do número de integrantes de família. O paulistano está cada vez mais diminuindo seu interesse em
constituir uma família tradicional.
Figura 25: Tabela de dados do senso demográfico de 2010.
Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2015
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Figura 26: Tabela de dados do senso demográfico de 2010 por região.
Fonte: IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 2015
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Figura 27: Exemplos de plantas de dois quartos ao longo das décadas. Fonte: O GLOBO, 2015
Morar Contemporâneo
A queda da constituição de famílias em São Paulo gera uma transformação urbana caótico. O
arquétipo de moradia para uma família da década de 60 é totalmente diferente do que se tem para
a família atual. Com base em alguns infográficos, de exemplos de plantas de apartamentos de
dois quartos ao longo das décadas, podemos perceber a mudança decrescente na metragem
quadrada dos apartamentos, entre os anos de 1970 e 2010.
Assim como a imagem acima é perceptível que a metragem quadrada dos apartamentos diminuiu
um pouco mais que 40% entre a década de 70 e a atual. Entretanto essa diminuição não seguiu
nas casas construídas pelos chefes daquela época.
O patriarca das famílias dos anos 60 teve de construir sua casa para abrigar toda a sua família. Ou
seja, essa “casa patriarcal” de dimensões generosas e subdividida, continuou a existir até os dias
atuais e com o crescimento e saída dos filhos surge o problema de administrar a necessidade de
tanto espaço sem função. Ao mesmo tempo, os filhos que saíram destas casas estão começando a
constituir famílias – bem poucos, como mostra a estatística acima – e procurando locais menores
por estarem construindo uma família menor. Com essa queda no número de integrantes da família
e a procura por espaços menores, o mercado imobiliário se molda a partir dessas demandas e
assim começam a surgir diversas edificações com apartamentos de pequenas metragens
quadradas. Toda essa demanda acaba criando a necessidade de se desenvolver ferramentas para
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Morar Contemporâneo
melhor trabalhar com a organização e propor novos usos para as residências grandes que se
tornaram obsoletas e para atender à procura por espaços menores dos novos representantes da mão
de obra produtiva e da sociedade contemporânea. Discutiremos este aspecto posteriormente.
Assim, voltamos ao exemplo do patriarca que com sua casa grande, sem saber o que fazer com tanto
espaço, acaba utilizando de acordos por intermédio de imobiliárias para trocar sua casa espaçosa por
um apartamento menor. Nesses acordos tanto pode surgir um contrato de aluguel em que se permuta
a casa e mais alguma parcela em dinheiro pelo aluguel do apartamento, como também pode ser a
venda do imóvel para a compra de um apartamento menor e utilizar o que restar do dinheiro para
uma aplicação financeira, como recomendam muitos economistas.
No meio desses anos que se passaram, o patriarca dos anos 60 sofre uma metamorfose. Sai da
condição de patriarca, para a de proprietário. Ele deixa de ser o chefe da família, para ser o dono da
casa. Isso influencia diretamente em seus princípios. Ele perde sua funcionalidade, para ganhar um
simples bem material.
Outra opção que o proprietário desta casa de dimensões avantajadas pode considerar é a utilização
desta para locação, disponibilizando os espaços dentro da casa, que não estiverem sendo usados.
Como exemplo temos a plataforma de alugueis e acomodações do Airbnb (Figura 28), que serve para
divulgar a locação da sua casa quando você não estiver nela ou até mesmo a locação de um quarto
ou espaço para a estadia de uma pessoa que esteja viajando. É uma pratica muito comum no
exterior, já conhecida nos sistemas Bed & breakfast utilizado no meio turístico.
Morar Contemporâneo
Voltando à discussão, com o surgimento desses pequenos apartamentos, começa a surgir
também uma demanda de organização para esses pequenos espaços criados para oferecer
moradias práticas, funcionais e economicamente viáveis.
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Figura 28: Portal de interface digital, para busca de aluguel de domicílios ou quartos.
Fonte: AIRBNB, 2015.
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Morar Contemporâneo
A cidade está crescendo e cada vez mais está se expandindo e criando novos recursos que
possibilitam que as pessoas não mais necessitem de alguns utensílios domésticos de uso esporádico,
como máquina de lavar, por exemplo. Muitos edifícios estão começando a oferecer projetos em que
se tem uma área de serviço compartilhada onde as pessoas utilizam das mesmas maquinas de lavar
e de secar por um rodízio organizado entre os condôminos. Existem nestes núcleos residenciais com
ambientes, como a cozinha, que estão cada vez menores, uma vez que não são mais utilizados tão
frequentemente.
A conectividade e com ela a facilidade de solicitar alimentos à distância e até mesmo a disponibilidade
de diversos locais para providenciar refeições nos bairros residenciais, fazem com que as pessoas
diminuam gradativamente o interesse em cozinhar, assim como o protagonista de Medianeiras .
Com todas essas transformações surgindo, percebemos a mudança dos ambientes, em termos de
dimensões e funções, e as novas estratégias criadas para melhor utilizar esses pequenos espaços de
moradia que caracterizam a sociedade contemporânea.
Esses espaços mínimos estão cada vez mais instigando a criação de novos aparatos que sejam
funcionais e compactos. A demanda vem a partir dessa mínima metragem quadrada, que ao mesmo
tempo que está abrindo mão do espaço, ainda anseia por uma maior funcionalidade como na casa de
Jacques Tati, em Mon Oncle . (Imagens nas páginas 19 a 22 – No capítulo 2.3)
Idem p. 71
Idem p. 39 - 48
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Morar Contemporâneo
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Figura 29: Casas Typo A.
Fonte: GAYEGO, 2014
Figura 30: Casa typo B.
Fonte: GAYEGO, 2014
Figura 31: Casa Typo E2.
Fonte: GAYEGO, 2014.
Figura 32: Casa Typo X.
Fonte: GAYEGO, 2014
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Morar Contemporâneo
Com tudo isso acaba a se chegar numa pergunta curiosa, qual o destino do morar nas grandes
cidades? De São Paulo para as cidades que a constituem – diversidade e peculiaridade – por exemplo
– Paranapiacaba, localizada no município de Santo André, em São Paulo.
Uma antiga vila criada no ano de 1867 pela São Paulo Railway Co . com o intuito de abrigar os
ferroviários que ali criaram a estrada de ferro Santos-Jundiaí (Figuras 27 a 30). No passado era uma
prospera vila com um crescimento promissor, suas casas foram criadas pelos ingleses e seguiam
arquétipos diferentes que eram disponibilizadas aos funcionários a partir dos cargos que eles tinham
na companhia, quanto maior fosse o seu cargo, maior seria a sua casa.
Com a falência da São Paulo Railway Co. o município de Santo André se apropriou das casas e os
casarões da companhia, como pagamento das dívidas que ela havia adquirido.
Hoje é uma cidade cenário praticamente, que muitos a veem como apenas um museu para se contar
a história do que já foi aquele espaço outrora. Recentemente foi aberto para o público a possibilidade
de se adquirir um imóvel da antiga companhia. Era apenas necessário participar do leilão para adquirir
o imóvel e ter conhecimento de que o imóvel seria restaurado conforme foi construída em sua época e
não poderia haver nenhuma alteração, por parte do novo inquilino.
Com a importância do café e do açúcar se tornando tão grande no país, surgiu a necessidade de estabelecer uma via de
transporte segura para transportar pessoas e mercadorias, entre a Serra do mar. Foi assim que surgiu a primeira
companhia ferroviária do estado de São Paulo, no ano de 1867, ligava o planalto paulista com o litoral.
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Morar Contemporâneo
No entanto a utilização desse exemplo de
Paranapiacaba é por esse exato fator da
importância que se criou por esse bem. Por
estar concorrendo a ser considerada pela
UNESCO como Patrimônio da Humanidade ,
aumentaram os interesses em cima dessas
habitações e muitos quiseram adquiri-las. O
ponto a se chegar é que foi necessária a
desvalorização e depois a revalorização, com
um título de importância para reacender o
interesse no individuo contemporâneo para se
morar nesse ambiente. Aquela área ouve a
desvalorização tanto pela falência da
companhia ferroviário como pela sua
localização geográfica ser tão distante dos
centros econômicos das cidades.
Título desenvolvido pela UNESCO, para preservação do bem considerado de importância mundial.
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Figura 33: Festival do inverno, uma das maiores festas onde reúne um
grande público, para visitação da cidade Fonte: TOTAL NEWS, 2015.
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Morar Contemporâneo
E conforme foi mencionado acima os novos moradores dessas casas recém restauradas, não podem
alterar seu contexto, mas podem morar nelas de uma maneira que não convém com a da época. É o
morar na “página da história“ com as características do habitar contemporâneo, um dilema a ser
escolhido versus a perda do patrimônio imaterial que era o morar daquela década de 70 de XIX.
Sendo assim voltamos a questão do interesse do morador contemporâneo e podemos pensar que
aqui no município de São Paulo essa lógica acaba se tornando a mesma nas edificações de grandes
arquitetos, como o Copan de Oscar Niemeyer ou o Edifício Cinderela do Artacho Jurado, são edifícios
com tamanha importância histórica que faz com eles sejam únicos e que tenham o interesse da
grande maioria, por sua questão singular.
Assim percebemos que dentro desse universo de singularidades que seria a possibilidade de compra
de bens históricos, não se encaixam todos. Tanto por uma questão quantitativa, como principalmente
por uma questão econômica que gira em torno dessas singularidades. Desse modo onde se encaixa a
demanda existente das outras pessoas dentro dessas grandes cidades?
Essas pessoas estão à procura de moradia, seja apartamento ou casa. No entanto que sejam bem
localizadas na cidade, por uma questão de facilitar sua vida que se tornou multifacetada pela
convivência na grande cidade e por uma questão de financeira por conta do alto valor do metro
quadrado na cidade de São Paulo.
Morar Contemporâneo
O melhor exemplo para mostrar essa busca, atualmente é o centro de São Paulo, nele está
ocorrendo uma revalorização por parte das pessoas, por procurarem edificações mais baratas,
menores e melhor localizadas, em questões de locomoção para todos os lados da cidade. Pelas
pessoas estarem procurando tanto e pela busca da prefeitura para a revalorização da área, o
mercado imobiliário está cada vez mais investindo em edificações para essas procuras, tanto
novas como retrofits³¹. O que preocupa nessa necessidade é o padrão das moradias, pelos
preços do metro quadrado estarem tão altos. As pessoas necessitam de ambientes menores, por
opção própria e por condições financeiras. Como foi mostrado na tabela do discurso anterior os
indivíduos estão cada vez mais em busca de suas compactas casas pátios³². Assim começam a
surgir projetos como o do escritório de arquitetura Triptyque, que associam o conceito de
miniapartamento ao de um barco. É a busca por apartamentos tão pequenos que chegam a
25 m², onde o sofá se desmonta e serve de suporte para montar a cama.
Essa lógica de funcionalidade que está sendo criado para ambientes mínimos é por conta dessa
demanda de edificações menores. Essa busca transforma os hábitos do indivíduo em outros. Por
exemplo nesse apartamento do Setin Dowtown São Luís, na consolação não existe área de
serviço para o morador poder lavar suas roupas. Uma maneira americana de se usar o espaço,
³¹ Termo utilizado para mencionar uma reforma ou adaptação de algum imóvel que foi restaurado. Como está ocorrendo no
centro de São Paulo com o restauro de alguns apartamentos antigos.
³² Idem p. 19 - 28
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Morar Contemporâneo
pois lá eles utilizam lavanderias compartilhadas
e é o que estão trazendo para São Paulo, como
foi dito acima. Além dessa disponibilidade os
edifícios oferecem sempre ambientes
diferenciados como, piscinas aquecidas e ao ar
livre, saunas, academias e até mesmo serviços
como payper-use³³.
Desse modo, podemos perceber que as
pessoas, além de “otimizar espaço” na
residência, também estão cada vez mais
economizando seu “tempo” buscando facilitar
suas vidas, para perderem menos tempo, com
coisas cotidianas como lavar a louça. Esse
indivíduo está transformando o seu modo de
morar e inevitavelmente a cidade. E
influenciando outros a seguirem um padrão que
para ele é o ideal, mas, no entanto, não é geral.
³³ Sistema “Payper-use” (Pague se usar) é um serviço que alguns apartamentos disponibilizam aos moradores do edifico.
Você contrata esse serviço apenas quando você quiser.
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Figura 34: Apartamento que segue
conceito de miniapartamento Fonte:
OLX, 2015.
Morar Contemporâneo
Esses miniapartamentos, seguindo conceitos de barcos onde se tem a ideia de um ambiente
prático e articulado. Vagas de garagem sendo estudadas como ambientes mínimos de moradia,
que lembram trailers, porém fixos. Hotéis que cada vez mais oferecem opções de estadia barata e
diversos serviços que já podemos encontrar numa edificação ou até mesmo casa que se
transformam em hotéis para visitantes.
Essas são algumas das transformações que o morar vem sofrendo, na contemporaneidade. Essa
transformação surge a partir da demanda que está sendo criada pelos indivíduos. Esse modo de
vida adaptativo e prático, ligada as ferramentas de comunicação estão, cada vez mais
transformando o indivíduo num viajante. Por mais que o indivíduo construa seu ambiente
característico, ele não necessariamente precisa se fixar naquele ambiente para sempre, como se
fazia nas casas patriarcais. A pessoa tem a opção de poder escolher diversas moradias se for de
sua escolha, a partir de interfaces de alugueis ou até mesmo se quiser escolher ficar em algum
hotel. E ainda assim pode disponibilizar seu ambiente para outra pessoa se quiser.
Sendo assim é possível perceber uma flexibilidade por conta da tecnologia tão avançada. A
possibilidade de poder trabalhar dentro de casa ou até mesmo em outros lugares, ajudou também
nessa transformação de hábitos. Claro que ainda é prioritária a ideia de escritório, e muitas vezes
não existe a opção de fazer um trabalho via remoto. Como também a prioridade ainda é de que as
grandes massas, interpretem que o morar é viver na sua casa própria.
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Morar Contemporâneo
Desse modo as pessoas acabam perdendo um pouco a oportunidade do acaso, ou da vivencia de
novas experiências. Se essa ideia de indivíduo viajante se tornasse mais pratica como os
apartamentos estão se tornando, diversos indivíduos poderiam viver e dormir onde quisessem e
estivessem. Um espaço aberto e disponível a todos. Claro que toda utopia, nem sempre agrada a
todos e essa logico do espaço disponível a todos, gera uma questão de perda de identidade ao
indivíduo. Ao abrir seu espaço a estranhos, esse santuário, pode ser modificado ou destruído.
Dos apartamentos adaptáveis que estão sendo criados, um dos mais em evidencia atualmente é o
projeto Setin Downtown São Luís, localizado no centro de São Paulo. Um empreendimento
residencial que visa apresentar e vender a nova “tendência mundial” de morar em pequenos
apartamentos. O projeto de edificação tem módulos de 18 a 44 metros quadrados, um padrão mínimo
de moradia (Figura 35).
Figura 35: Apartamento de 18m²
projeto do escritório Triptyque da
nova torre Setin Downtown, São
Luís. Fonte: Setin downtown,
2015.
Morar Contemporâneo
O projeto deste empreendimento contém uma
sala com moveis funcionais e adaptáveis, um
banheiro de metragem mínima, uma pequena
sacada e uma cozinha entre o corredor de
entrada e a sala/quarto. Nenhum dos
apartamentos tem área de serviço, pelas
mesmas questões já discutidas acima, e a
edificação como um todo tem uma área de
serviço compartilhada (Figura 36), para os
moradores.
As unidades deste empreendimento são
apartamentos tão pequenos que se
assemelham a quartos de hotéis. Mesmo
inserindo no local, as características e o tempo
de permanência dentro dele não são
suficientes para nos convencer que o indivíduo
está se fixando naquele espaço. Cada vez
mais aparenta que o morador é um viajante e
não um proprietário do lugar.
Figura 36: Área de serviço compartilhada do edifício
Setin Downtown. Fonte: Setin downtown, 2015.
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Morar Contemporâneo
Analisando assim o projeto Office Urban & Hotel, localizado no centro cívico de Curitiba, apresenta
uma certa semelhança com o projeto anteriormente discutido, tanto por apresentar a mesma
metragem – (mesmo o hotel tendo quartos de 30m² estamos aproximando pela maioria) – como pela
disposição de moveis e da utilização do espaço.
O projeto se assemelha muito ao do Setin Downtown, com algumas diferenças como a cozinha, de
que não há necessidade no projeto, pelo hotel ter serviço de quarto, um banheiro mais avantajado, um
espaço maior de circulação e não ter sacada. Neste projeto não existe a necessidade de moveis
adaptáveis e funcionais, tanto por uma questão de espacialidade como para conforto para o hospede.
Claro que se pegar uma planta de um dos quartos da rede de hotéis Íbis, iremos encontrar um quarto
mais compacto ou talvez do mesmo tamanho que o apartamento Setin.
Figura 37: Apartamento de 30m²
projeto do hotel da Office Urban &
Hotel. Fonte: Brasil Brokers, 2015.
Morar Contemporâneo
No entanto a discussão desse trabalho não é a comparação de espaços entre apartamentos e
hotéis, mas sim a reflexão acerca do morar para o indivíduo contemporâneo, que está cada vez
mais se tornando um viajante dentro do seu próprio universo da cidade.
Partindo para um outro ponto de vista, porém não tão desvinculado do anterior. Um estudo
realizado por uma equipe de estudantes da Escola de Construção SCAD, localizada em Atlanta
nos Estados Unidos, mostra-nos um projeto de micro habitação do tamanho de vagas de carros.
Figura 38: Acima temos a imagem de um croqui da planta dos módulos, todos têm a mesma disposição. Ao todo são
4 tipos de casa, com a mesma disposição sempre, porém temos diferentes decorações. Todos os moveis são
adaptáveis e funcionais assim como no apartamento do Setin. Fonte: ArchDaily, 2015.
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Figura 39: Exterior de um dos módulos de habitação
construídos pela SCAD. Fonte: ArchDaily, 2015.
Figura 40: Decoração de um dos módulos de
habitação construído pela SCAD.
Fonte: ArchDaily, 2015.
Figura 41: Decoração de um dos módulos de habitação
construído pela SCAD. Fonte: ArchDaily, 2015.
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O projeto foi aplicado dentro um estacionamento na sede da escola em Atlanta, os protótipos
deveriam seguir a regra de conter todas as comodidades básicas julgadas por eles, que seriam;
banheiro, cozinha, quarto e sala. Tudo isso dentro da dimensão de uma vaga de carro 5m de
comprimento por 2,5 de largura.
Observando seu exterior podemos perceber que as dimensões são pequenas e remetem muito a
lembrança de um trailer, porém fixo. Sua estética é chamativa e bem vivida, pois seguia o tema
que eles designaram. Como o conjunto era de quatro tipos de casas, cada uma tinha seu tema
especifico e cada morador – voluntario para vivenciar a experiência por uma semana – poderia
escolher sua moradia.
Assim como nesse projeto de micro habitação, e no apartamento do Setin, vemos cada vez mais a
utilização de moveis adaptáveis, que possam servir para serem encaixados em quaisquer lugares,
para fornecerem múltipla funcionalidade.
Assim começamos a perceber que essa demanda dos apartamentos pequenos criou uma demanda
por soluções rápidas, eficazes e baratas, no contexto da produção arquitetônica contemporânea.
Essas minis moradias, nem sempre recebem convidados, mas se e quando os recebem, como os
moradores se adaptam?
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Morar Contemporâneo
Figura 42: Movel adaptado para miniapartamentos. Mesa de jantar que se torna a cama de casal.
Fonte: UOL, 2011.
Figura 43: Movel adaptado para miniapartamentos. Mesa de escritório que se torna cama de solteiro.
Fonte: UOL, 2011.
Morar Contemporâneo
São moveis como essa mesa/cama, que estão sendo utilizados e fabricados já dentro desses
espaços. A mesa de jantar que tem espaço para quatro lugares acaba sendo pressionada pela
cama de casal que desce da parede. É a economia de espaço, junto com a de dinheiro, soma-se
junto com a de tempo também.
A mesa de escritório que abaixa e seu fundo desce para se transformar numa cama de solteiro.
Cada vez mais se vê diversos projetos desse tipo, com adaptações e funcionalidades, sempre na
lógica do baixo custo para satisfazer a relação espaço/dinheiro/tempo. Eles estão agora mais
presentes nessas habitações mínimas que estão sendo criadas.
Partindo por esse caminho que o indivíduo está trilhando, de cada vez se tornar um viajante,
podemos pensar que futuramente o morador poder escolher onde morar na cidade;
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Figura 44: Portal de interfaces digitais, para busca de aluguel de domicílios.
Fonte: HOTEL URBANO/ TRIVAGO, 2015.
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Morar Contemporâneo
pode-se imaginar que além de casas ele também poderá escolher passar noites em algum hotel, onde
muitas vezes se oferece mais conforto do que o indivíduo tem no seu próprio apartamento.
Com isso podemos supor que a utilização de interfaces digitais será mais utilizada, pois interfaces do
Hotel Urbano, ou do Trivago e outras, oferecem ao viajante um tipo de catalogo de hotéis que são
avaliados por hóspedes e por serviços de hotelaria, criando uma rede de informações entre hospedes
que vivenciaram a experiência de ficar naquele hotel, e que podem comentar sobre a qualidade do
mesmo com futuros clientes. Essas redes deverão oferecer mais ofertas por diárias e até pernoites,
uma vez que a demanda se tornara maior para as pessoas que estão à procura de passar apenas uma
noite em determinado lugar. Talvez esta seja a transformação que assistiremos no futuro: o Hotel se
convertendo em um Motel.
O viajante contemporâneo terá opções de ficar em seu apartamento, de utilizar da rede de hotéis
disponíveis nas interfaces digitais ou utilizar de outras interfaces digitais para alugar seu espaço e
alugar o de outra pessoa ou acordos com outros moradores para troca de apartamentos.
Uma dessas interfaces, seria a do Airbnb, já mencionada no capítulo anterior (Figura 28). Muitas vezes
a oferta se refere ao apartamento vazio com um espaço mínimo ou mesmo grandes apartamentos, se
for da escolha do usuário, também pode ser escolhido um quarto na casa de uma pessoa
desconhecida – uma das opções do patriarca, que agora é proprietário.
Morar Contemporâneo
Assim como menciona o slogan na capa de entrada da rede do Airbnb, a ideia é exatamente essa,
“sentir-se em casa”. No entanto entramos em um dilema, como nos sentiremos em casa, uma vez
que não carregamos mais “uma dentro de nós”? Esse viajante está se desvinculando cada vez
mais de tudo o que o rodeia. O individualismo que o indivíduo contemporâneo, está adotando,
segue muita mais, além do fato dele não querer mais conceber uma família, ele também está se
desvinculando da sua autoconstrução como sujeito inserido na sociedade.
Esse novo ser, além do super-homem de Nietsche, longe do patriarca do passado, que carrega o
funcionalismo modernista como modelo e referência, e que viaja como um nômade e é prático
como um pragmático, é o que definirá os parâmetros sobre o novo morar.
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Morar Contemporâneo
O morar das casas que Ábalos estudou, serviram como base para evidenciar diversas formas de se
habitar e viver. O indivíduo é quem constroi a casa e o indivíduo é quem a habita. Logo, poderíamos
dizer que o homem é o centro do universo do morar. O ser humano vem ao longo de toda a sua
história buscando controlar aquilo que ele deseja. A necessidade em se sentir o centro do universo,
vem por essa vontade de sempre manter o controle. No entanto, quando não segue o que ele
almeja, o mesmo se sente fora do meio. O que falta para esse sujeito é a percepção de que nós
somos os centros de nossos próprios universos e que isso inevitavelmente acaba gerando
influência no universo do nosso morar.
O espaço do nosso morar é o que define a nossa identidade dentro da casa, o tipo de móvel que
escolhe, o tipo de cortina ou roupa de cama, os eletrodomésticos que escolhemos ter. Todas são
micro necessidades que nós acreditamos ser necessárias a nós mesmos – até quando somos
influenciados por qualquer força externa. Contudo essa identidade é ameaçada quando o sujeito
perde a necessidade de obter a sua casa.
O homem está passando por um momento de racionalidade e pragmatismo. Onde antes – como nas
casas de Ábalos – tínhamos uma reflexão sobre o morar e o indivíduo a partir da sua necessidade
construía sua própria casa; hoje temos os modelos montados, por um grupo que determinou o que
seria preciso para o sujeito contemporâneo viver. Um prática visando resolver os problemas de
custo e demanda contemporânea.
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Morar Contemporâneo
Porém, perde-se uma coisa importante que é a autonomia do seu espaço, pode-se pensar que o
homem ainda tem controle sobre o interior de sua casa, mas o ambiente pensado por esse grupo,
está tornando-se cada vez menor e é preciso maiores buscas de soluções fáceis e práticas para
resolver esses miniespaços.
Projetos são desenvolvidos, para moradores que julgam não ser importantes determinados espaços
dentro da sua casa – Área de serviço, cozinha – pois o indivíduo contemporâneo está mais inserido no
mundo moderno e não vê tempo para executar ações cotidianas. Esse grupo responsável por projetar
para esse sujeito, busca soluções para auxiliar a economizar seu tempo e as encontra o morador se
satisfaz, sem perceber a perda de vínculo com o espaço da sua casa. Não se pode excluir o fato de
que realmente ajuda e facilita a vida desse sujeito, porém será que – assim como o uso das novas
tecnologias – esse sujeito consegue saber ponderar e evitar perder mais vínculos com seu espaço? O
uso dos novos avanços da tecnologia de forma desponderada acaba se tornando maléfica ao ser
humano. Onde antes o indivíduo saía para comer alguma coisa em algum restaurante, hoje ele se
mantém em casa e faz o pedido por algum aplicativo ou solicita pelo seu telefone móvel. São essas
novas tecnologias que evitam que o homem crie uma necessidade de espaços dentro da sua casa.
Morar Contemporâneo
A ameaça de perder a casa vem baseada nessa ideia de má utilização dessas novas tecnologias que
estão sendo utilizadas. A necessidade que antes o homem tinha em ter sua casa está diminuindo,
começou com o tamanho do espaço, – pelo número de moradores ser menor – depois podemos
perceber a falta de vontade do sujeito em realizar ações corriqueiras, – Lavar louça, lavar roupa –
agora temos a má utilização das tecnologias, que poderão levar o homem a procurar novas maneiras
de morar, sem necessariamente ter seu espaço físico.
O homem estar se tornando evidentemente um viajante é de algum modo bom, se refletirmos que ele
se adapta e compartilha diferentes espaços com diferentes pessoas. No entanto é ruim se
pensarmos que ele não consegue obter um ótimo aproveitamento disso, se exercer essa
necessidade apenas para momentos de resoluções do cotidiano. Desvincular-se de tudo o que ele é,
o torna cada vez mais frio e calculista, a perda dessa identidade faz com que ele se pareça a cada
dia mais com uma máquina que não necessita de um local em especial, e pode ser lançada para
qualquer armazém, contanto que exerça a sua função corretamente.
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Morar Contemporâneo
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Morar Contemporâneo
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Morar Contemporâneo
Figura 16: Disponível em: < One week. Direção: Buster Keaton, Estados Unidos, 1920.>
Figura 17: Disponível em: < http://press.lacaixa.es/socialprojects/photo.html?noticia=
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Figura 19 e 21: Disponível em: < https://ciudadsistema.wordpress.com/2013/01/09/el-pao-toyo-ito-suitaloon-michael-
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Figura 26: Disponível em: < http://noticias.r7.com/brasil/noticias/brasileira-tem-um-terco-dos-filhos-da-decada-de-
1940-20121017.html >
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Figura 28: Disponível em: < https://www.airbnb.com.br/ >
Figura 29: KETENDJIAN, J. [ 23º46’37” S | 46º18’10” O ] heranças . território . caminhos, São Paulo, 2015
Figura 30: KETENDJIAN, J. [ 23º46’37” S | 46º18’10” O ] heranças . território . caminhos, São Paulo, 2015
Figura 31: KETENDJIAN, J. [ 23º46’37” S | 46º18’10” O ] heranças . território . caminhos, São Paulo, 2015
Figura 32: KETENDJIAN, J. [ 23º46’37” S | 46º18’10” O ] heranças . território . caminhos, São Paulo, 2015
Figura 33: Disponível em: < http://www.jornaltotalnews.com.br/portal/festival-de-inverno-de-paranapiacaba/ >
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Figura 36: Disponível em: < http://www.setindowntown.com.br/Sao-Luis >
Figura 37: Disponível em: < http://pt.slideshare.net/maiacostavendasbb/urban-office-hotel-curitiba-apresentaao >
Figura 38: Disponível em: < http://www.archdaily.com.br/br/765801/estudantes-projetam-micro-habitacoes-do-
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Morar Contemporâneo
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Morar Contemporâneo
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Figura 41: Disponível em: < http://www.scadpad.com/ >
Figura 42: Disponível em: < http://mulher.uol.com.br/casa-e-decoracao/album/
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Figura 43: Disponível em: < http://mulher.uol.com.br/casa-e-decoracao/album/
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Figura 44: Disponível em: < https://www.hotelurbano.com/ > e < http://www.trivago.com.br/ >