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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
MULHERES E CONVERSÃO AO ISLAM EM LUANDA (ANGOLA)
Heloisa Maria Paes de Souza1
Resumo: A comunicação é parte de pesquisa de doutorado na qual pretende-se construir uma etnografia das conversões
de mulheres ao islam na província de Luanda (Angola). A partir da compreensão de que conversão religiosa não é
evento único, mas mudança cultural, processual, que implica aprendizagem/internalização de outra perspectiva de
mundo e do sagrado, pretende-se compreender o porquê da opção das mulheres pelo islam, haja vista que a mídia
angolana reproduz imagens negativas sobre a religião e que as lideranças muçulmanas ainda não obtiveram o
reconhecimento jurídico, critério para que uma confissão religiosa seja legal no país. Defendo a hipótese de que quando
mulheres se convertem ao islam, religião aparentemente distante da matriz cultural angolana/lusófona, passam a ocupar
posição entre dois mundos, tendo dificuldades para serem vistas e aceitas como angolanas, principalmente quando
adotam práticas de modéstia como o uso do hijab. Os resultados têm mostrado que as convertidas lutam contra
estereótipos e, em muitos casos, vivenciam situações de conflito na família e no trabalho. Algumas convertidas
procuram conciliar suas realidades com o ideário nativo sobre a “mulher muçulmana”, gerenciando suas vidas
cotidianas a partir de interpretações dos textos canônicos que lhes conferem maior empoderamento.
Palavras-chave: Conversão Religiosa, Islam, Mulheres Angolanas, Etnografia.
Introdução
Os eventos do 11 de setembro e o debate que se sucedeu sobre o islam, despertaram a
curiosidade de muitas pessoas em sociedades ocidentais. Em busca de informações, alguns deram
início à leitura do Alcorão, procuraram informações na internet, visitaram mesquitas/centros
islâmicos e/ou passaram a se relacionar com pessoas muçulmanas nas redes sociais. Uma das
consequências dessas ações foi a conversão de homens e mulheres ao islam em números nunca
vistos nas décadas anteriores. Como também faço parte desse grupo, pois tornei-me muçulmana em
2007, decidi estudar o tema da conversão feminina à fé islâmica e, por causa de relações com a
comunidade muçulmana angolana, escolhi a província de Luanda como campo de estudo.
Neste artigo, apresento uma pequena parte dos dados que até agora obtive por meio de
observação participante, entrevistas e conversas informais com muçulmanas angolanas convertidas.
O objetivo principal é compreender o porquê das conversões, haja vista que são mulheres que foram
socializadas numa cultura predominantemente cristã, que vivem num país cujo governo não
reconhece o islam juridicamente e numa sociedade em que o mesmo é representado negativamente,
geralmente associado à ignorância, atraso, opressão das mulheres, imigração ilegal e terrorismo. O
cenário desfavorável e, porque não dizer, islamofóbico, no qual vivem as muçulmanas angolanas
convertidas, conduzem-nas à uma situação na qual precisam conciliar dois mundos: suas relações na
1 Professora do Ministério da Defesa (I COMAR) e doutoranda no Programa da Pós-Graduação em Sociologia e
Antropologia da Universidade Federal do Pará (PPGSA/UFPA), Belém, Pará, Brasil.
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sociedade angolana e na ummah2, procurando combater estereótipos e reconfigurando as
identidades mediante a aprendizagem/internalização da nova crença.
Para começar, apresento concepções de alguns cientistas sociais que norteiam a pesquisa,
salientando que a conversão religiosa é um processo de mudança cultural para um novo sistema de
crenças ou tradição religiosa, diferente daquela na qual a pessoa foi orientada. Para o artigo, escolhi
apresentar os relatos de conversão ao islam de quatro mulheres por acreditar que representam o
conjunto maior de dezessete interlocutoras entrevistadas até o momento.
Conversão Religiosa
A palavra conversão, do latim conversio e traduzida do grego metanoia, pode ser
compreendida como “arrepender-se”, “mudar de ideia ou sentimento”. Nas Ciências Sociais, o
entendimento da conversão como mudança de percepção de mundo é o único consenso entre os
acadêmicos (GOMES, 2013, p. 73).
Na perspectiva cristã, em geral, o modelo ideal de conversão é exemplificado pela de
Saulo/Paulo, fariseu que perseguiu os seguidores de Jesus e que, depois de ter uma visão do mesmo
na estrada para Damasco, arrependeu-se e mudou seus rumos de imediato3. Contudo, para cientistas
sociais como Rambo (1993) e Austin-Bross (2003), a conversão é um processo de mudança, que
não se resume à um evento único, particular. Ela é processual e contextual, influenciada por
relações sociais, expectativas, desejos e situações diversas que envolve a mudança para um novo
sistema de crenças, modificando a maneira como a pessoa se relaciona com o sagrado e o mundo.
Ser convertido (a) é, portanto, reconstruir/reconfigurar a identidade, através do aprendizado,
reordenamento de si e reorientação na vida. Após um determinado evento inicial4, a pessoa
convertida continua o processo de mudança que não tem tempo determinado para chegar ao fim.
Thangaraj (2005, p. 21-31), que também entende ser a conversão religiosa a orientação para
um novo sistema de crenças, salienta que a mesma só acontece quando a pessoa convertida se
2 A comunidade muçulmana angolana está inserida numa comunidade maior – a ummah – termo (na língua árabe) que
se refere à comunidade imaginada (Cf. ANDERSON, 2008) da qual os crentes no/do Islã, à nível mundial, acreditam
fazer parte. A própria comunidade muçulmana angolana é também uma comunidade imaginada, pelo fato da
impossibilidade de todos os seus membros interagirem face a face. 3 A conversão de Saulo em Paulo é encontrada no livro dos Atos dos Apóstolos 9:1-18 (Cf.
https://www.bibleonline.ru/bible/por/44/09/. Acesso em 11 fev. 2017). 4 No islam, o evento que marca/define a conversão é a proclamação do testemunho de fé ou shahada, ritual de
passagem que torna uma pessoa muçulmana, bastando que diga, com intenção, as seguintes frases em árabe (e na língua
materna): “Ashadu ilaha illa-llah, ana muhammadun rasulu-llah” (Testemunho que não há outra divindade além de
Deus, testemunho que Muhammad é Seu Mensageiro).
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compromete com um sistema diferente daquele no qual foi orientada. Desta maneira, quando uma
pessoa deixa o catolicismo para o protestantismo, por exemplo, passa por um processo diferente
daquela que deixa o cristianismo pelo islam, hinduísmo ou judaísmo. O primeiro caso constituiria
mudança dentro da mesma tradição religiosa (de uma subtradição para outra) ou uma atividade
intrarreligiosa. Já o segundo caso, é o que, segundo o autor, exemplificaria a real conversão no
sentido de mudança, sendo a forma mais dramática e pública, pois a pessoa convertida rejeita uma
tradição religiosa (ou a falta de uma crença religiosa) e a substitui por outra tradição, que muda não
somente sua identidade religiosa, mas seu caráter de filiação/pertencimento religioso. E por que a
pessoa convertida faz tal escolha? Norris (2003, p. 172-174), responde à questão, afirmando que
isso acontece porque, em parte, o novo sistema adotado é preexistente na mente de quem se
converte, correspondendo às ideias, sentimentos, e noções do que é a verdade e o que é
(moralmente) correto.
Angola: um cenário hostil para a comunidade muçulmana
Angola é um país situado na África Austral, banhado à oeste pelo Oceano Atlântico, com
área total de 1.246.700 km², dividido em 18 províncias, sendo a principal Luanda, onde encontra-se
a capital de mesmo nome e que é o centro administrativo, econômico e político da nação5. O país
fez parte do Império Colonial Português por, aproximadamente, cinco séculos. Sua independência
só foi alcançada na metade dos anos 1970, depois de uma guerra colonial (1961-1975) que foi
seguida por outra, desta vez civil, concluída formalmente em 2002 quando da assinatura de um
acordo de paz, o Memorando de Luena. É importante salientar que, desde 1975, um único partido
se mantem no poder – o MPLA6 - do qual são provenientes os dois presidentes da história angolana:
Agostinho Neto (1975-1978) e José Eduardo dos Santos (1979-até o presente) (MILAGRES;
SANTOS, 2013; WHEELER; PÉLISSIER, 2013).
Com relação ao campo religioso, Angola apresenta-se como um país cuja maior parte da
população7 professa o cristianismo – 79,2 % dos angolanos (as) declararam-se seguidores de
5 Recentemente, a província de Luanda passou a ter nove municípios, que são Luanda, Viana, Quiçama, Icolo e Bengo,
Cacuaco, Belas, Cazenga, Talatona e Kilmba-Kiaxi. Os dois últimos são os mais recentes. Fonte:
http://www.redeangola.info/luanda-volta-a-ter-9-municipios/. Acesso em 15 junho 2017. 6 MPLA: Movimento Popular de Libertação de Angola, fundado em 10 de dezembro de 1956, tinha como objetivo de
congregar esforços na luta pela independência. Após a Guerra Colonial (1961-1975), assumiu o controle do Estado
angolano até o presente. Fonte: http://www.mpla.ao/mpla.6/historia.7.html. Acesso em: 24 abril 2017. 7 De acordo com o recenseamento realizado em maio de 2014, Angola possui 25.789.024 de habitantes. (INSTITUTO
NACIONAL DE ESTATÍSTICA, 2016).
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confissões religiosas cristãs no recenseamento, estando divididos (as) em 41,1% de católicos e
38,1% de protestantes8. O restante da população estaria dividido em 12,3% sem religião; 7,4% que
declararam pertencer a credos não indicados no censo; 0,6% de animistas (praticantes das religiões
africanas tradicionais); 0,4% de muçulmanos e 0,2% de judeus (INSTITUTO NACIONAL DE
ESTATÍSTICA, 2016, p. 52).
Segundo a informação prestada por diversos interlocutores, a comunidade muçulmana em
Angola foi organizada no final da década de 1970, quando do retorno de angolanos que se
converteram enquanto estavam exilados por causa dos conflitos entre a Metrópole e os
nacionalistas. Assim, muçulmanos angolanos convertidos e estrangeiros que já residiam no
território, deram início à organização de comunidades/associações para a prática dos rituais
comunitários, auxílio mútuo, ensino e dawa (divulgação da religião). Desde aquela época, observa-
se que a maior parte da comunidade é composta por estrangeiros oriundos do Mali, Guiné, Senegal,
Gana, Costa do Marfim e Mauritânia, ou seja, do oeste da África9.
Em Angola, o governo pratica uma política intervencionista em praticamente todos os
setores, inclusive nos assuntos referentes à religião. Qualquer confissão que pretenda atuar
legalmente no país, precisa ser reconhecida juridicamente. A atual lei que regula as atividades das
confissões religiosas, a Lei Sobre o Exercício de Liberdade de Consciência, de Culto e de Religião,
de 21 de maio de 2004 (Lei nº2/2004), estabelece inúmeras regras que dificultam a legalização.
Entre elas está a produção de um requerimento, endereçado ao Ministério da Justiça e ao Ministério
da Cultura angolanos, que deve ser subscrito por, no mínimo, cem mil fiéis, maiores de 18 anos,
com domicílio em território nacional, com todas as assinaturas reconhecidas em cartório e
recolhidas, pelo menos, em dois terços das províncias (ANGOLA, 2004).
Até o final dos anos 1990, muitos angolanos (as) associavam os muçulmanos (as) ao
curandeirismo e feitiçaria (JÁ, 2007). A partir do 11 de Setembro, quando a mídia internacional
jogou seus holofotes (negativamente) sobre o islam, a mídia angolana, lideranças cristãs e
representantes do governo, passaram a representá-lo como uma religião que permite a violência
contra a mulher, que instiga a intolerância religiosa, além de associá-lo ao fanatismo religioso e ao
terrorismo. No caso de Angola, devido ao fato da presença de grande número de muçulmanos
8 A categoria inclui todos os cristãos não católicos: protestantes históricos, adventistas, testemunhas de Jeová,
pentecostais, neopentecostais, membros das igrejas messiânicas africanas, entre outros 9 Os dados foram fornecidos por líderes religiosos de três das principais mesquitas situadas na província de Luanda –
Assalam, Al Nour e Abu Bakr. As entrevistas foram realizadas no período de 2015 a 2017.
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provenientes do oeste da África e da República Democrática do Congo, o islam também é visto
como promotor da imigração ilegal (MORAIS, 2014).
Mulheres convertidas ao islam e suas motivações
Para o presente artigo, destacarei partes dos relatos de conversão de quatro interlocutoras,
escolhidas dentro de um conjunto de dezessete mulheres que fazem parte da pesquisa para a
constituição de minha tese.
Para minhas interlocutoras, a conversão ao islam não foi apenas uma decisão pessoal, mas
também resultante do encaminhamento divino. Quando passam a conhecer um pouco mais sobre a
religião, ressignificam o sentido de conversão ao islam como um retorno à condição natural dos
seres humanos, ou seja, de ser submisso à vontade de Deus (FERREIRA, 2009). No Brasil, essa
concepção é denominada “reversão”, categoria cada vez mais utilizada nas comunidades
muçulmanas locais em oposição àqueles nascidos em famílias muçulmanas (FERREIRA, 2013).
Em Angola, no entanto, os muçulmanos e muçulmanas com os quais mantive contato,
desconheciam o termo e precisei explicá-lo.
Aminah converteu-se ao islam no final dos anos 1990, aos 18 anos. É microempresária,
casada com um muçulmano angolano convertido, é mãe de quatro filhos e avó de um menino. Filha
de um militar angolano, frequentava a Igreja Batista junto com a mãe e os irmãos. Sua história de
conversão está relacionada a do, então, namorado. O rapaz, que sempre foi interessado em questões
políticas, leu a biografia de Malcom-X10 e interessou-se pelo islam. Numa viagem ao interior do
país, encontrou muçulmanos com os quais tirou suas dúvidas e converteu-se. Ao retornar à Luanda,
encontrou Aminah grávida e vivendo um dilema, pois como estudava medicina, sua família aventou
a hipótese de um aborto para que continuasse os estudos. O namorado disse-lhe que a situação
deveria ser “reparada”, mas que, como agora era muçulmano, desejava constituir uma família
dentro da religião e, para isso, precisava de uma esposa que comungasse das mesmas crenças.
Aminah afirma em seu relato que pediu para que o namorado explicasse princípios da religião e
emprestasse alguns livros. Depois de algumas semanas decidiu converter-se e casar. A notícia da
conversão e do casamento despertou a ira dos familiares, especialmente do pai, que queria impedir a
união do casal a todo custo. Assim, precisaram esconder-se por alguns meses, até o nascimento do
10 Muçulmano convertido e militante afro-americano que lutou contra o racismo nas décadas de 1950 e 1960. Fonte: < http://jornalggn.com.br/blog/tamara-baranov/malcolm-x-lider-da-luta-contra-a-opressao-e-o-racismo>. Acesso em 29 jun. 2017.
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bebê. Atualmente é ela quem sustenta os filhos, pois o marido foi preso em novembro de 2016,
juntamente com outros muçulmanos, acusado de ser líder de uma célula terrorista no país. Segundo
afirmou, o governo angolano não tem provas e, por isso, não fez acusação formal. Ela, juntamente
com outros membros da comunidade muçulmana angolana, luta pela libertação dos acusados.
Málika converteu-se em 2014, embora conheça o islam há mais tempo por intermédio do
marido, um muçulmano egípcio, com o qual manteve união estável por cinco anos antes do
casamento. Aos catorze anos foi mãe pela primeira vez. Em sua trajetória biográfica, percebi seu
trânsito religioso até a conversão: na infância frequentou a Igreja Adventista do Sétimo Dia e os
Testemunhas de Jeová com os pais, na adolescência frequentou outras confissões cristãs –
catolicismo, pentecostalismo e neopentecostalismo. Mas, como afirma, nunca foi batizada.
Pensando em oferecer melhores condições para o filho, no ensino médio decidiu por uma formação
técnica em economia, através da qual pôde empregar-se como supervisora em uma empresa de
material elétrico. Por volta dos vinte anos, conheceu Hassam, imigrante egípcio que veio para
Angola em 2008, período de grande prosperidade do país. Assim, começaram o namoro e, depois de
poucos meses, passaram a viver juntos. Da união, nasceram dois filhos. Em 2013, seu companheiro
decidiu retornar à prática do islam e propôs-lhe casamento. Málika conta que não foi pressionada
para a conversão, mas como desejava ser uma “esposa completa” e apreciava as explicações do
companheiro sobre a religião, decidiu converter-se antes do casamento. O uso do hijab, segundo
ela, foi outra decisão importante que também não foi imposta, mas sua própria decisão.
Recentemente o casal teve mais um filho e, apesar da boa condição financeira proporcionada pelas
atividades desenvolvidas por seu esposo, Málika continua trabalhando fora de casa e emprega uma
jovem muçulmana para ajudá-la nas tarefas domésticas.
Safiya converteu-se em 2016. É divorciada, mãe de quatro adolescentes e está noiva de um
muçulmano congolês. Após a separação, por conta do sofrimento causado pelo abandono,
frequentou a Igreja Universal do Reino de Deus. Foi apresentada ao islam por uma amiga
muçulmana, a qual explicou-lhe as doutrinas básicas e emprestou-lhe livros. Quando a conheci,
Safiya tinha se convertido há uma semana e relatou que havia encontrado no islam o conforto de
que tanto buscava. Venho acompanhando de perto sua transformação desde então. Em meu último
campo, ela completara um ano de conversão e informou que estava noiva, trabalhando com Aminah
e fazendo uso do véu cotidianamente. Seus filhos também haviam se convertido, influenciados pelo
bom exemplo de seu noivo.
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Jamila converteu-se em 2015. Quando da conversão, era casada e tinha duas filhas. Ela
relatou que seu interesse pelo islam começou em 2013, quando passou a questionar sobre o caráter
de Deus e o que haveria depois da morte. Como pertencia à uma igreja pentecostal, procurou pelas
respostas junto aos pastores, mas não ficou satisfeita. Certa vez, porém, a conversa com um primo
muçulmano convertido despertou-lhe a curiosidade pelo islam. Continuando suas pesquisas em
livros islâmicos emprestados, decidiu converter-se, mas o marido não acompanhou sua decisão. Ela
afirmou que continuou casada por mais um ano e meio, esperando pela conversão do esposo, mas
como ele decidiu permanecer cristão, pediu o divórcio e retornou à casa da família com as filhas.
Atualmente estuda o islam nas aulas ministradas por um sheik na mesquita que frequenta e está em
busca de casamento com um muçulmano, tendo alguns interessados.
Alguns acadêmicos que pesquisam sobre a conversão ao islam, ao focarem nos motivos que
impulsionam as pessoas à tal decisão, perceberam determinadas características comuns do
fenômeno e desenvolveram tipologias. Pinto (2010, p. 212), a partir das trajetórias biográficas de
convertidas e convertidos que entrevistou em diversas comunidades muçulmanas brasileiras, dividiu
as conversões em quatro tipos: 1) “conversão matrimonial”, que compreende aqueles (as) que se
convertem para casar com uma pessoa muçulmana; 2) “conversão afetiva”, quando a pessoa
convertida conheceu o islam a partir de relações pessoais com uma muçulmana ou muçulmano; 3)
“conversão intelectual”, que ocorre geralmente entre pessoas da classe média ou estudantes que, ao
conhecer o islam, acabaram se identificando com o mesmo; 4) “conversão ideológica”, quando
pessoas de esquerda acreditam que o islam é um forte aliado na luta contra o sistema
capitalista/imperialismo.
Dumovich (2016, p. 23) cita que, em conversa com o autor, o mesmo havia reelaborado a
referida tipologia. Assim, substituiu a “conversão matrimonial” por “conversão instrumental”. Tal
tipo de conversão aconteceria quando alguém se converte com um fim prático – casar, conseguir um
emprego, etc. E as situações nas quais uma pessoa se converte com o propósito de contrair
matrimônio, enquadrou ora na “conversão instrumental” ora na “conversão afetiva”. Na primeira
situação, a adesão à religião é mantida enquanto durar o relacionamento. Na segunda, a pessoa
mantém-se convertida, mesmo que haja um rompimento da relação afetiva.
Os estudos desenvolvidos por Wohlrab-Sahr (2002, p. 10-12), que estudou a conversão ao
islam entre alemães e estadunidenses, destacam a importância da análise biográfica para que o
processo de conversão não seja compreendido apenas superficialmente e defende a hipótese de que
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as conversões acontecem por causa de períodos de crise e a conversão religiosa seria busca por um
reordenamento da vida.
As trajetórias biográficas de Aminah e Málika apontam que a motivação inicial para a
conversão foi o afeto para com homens muçulmanos. É interessante notar que o marido de Málika,
vivenciou um reencontro com a religião de origem, fenômeno que Hervieu-Léger (2015, p. 111)
denomina “refiliação”, ou seja, a redescoberta da pertença religiosa que, anteriormente, era
vivenciada de maneira formal ou até minimamente, de maneira conformista.
O relato de Safiya, assim como o de Aminah, estão relacionados à uma situação de crise
motivada pelo abandono – no primeiro caso, a separação e a necessidade de criar os filhos sozinha
e, no segundo, a falta de apoio da família quando se descobriu grávida e a possibilidade de
abandono do namorado caso não se converte. Safiya foi apoiada, primeiramente, por uma amiga
muçulmana e, em seguida, por Aminha e pelo noivo. O afeto que desenvolveu por essas pessoas
fortaleceu não só a decisão pela conversão, mas também pela continuação no/do processo. As três
conversões, portanto, poderiam ser caracterizadas, segundo a tipologia apresentada, como
conversões afetivas.
A conversão de Jamila poderia ser compreendida como uma conversão intelectual, pois seus
questionamentos e leituras conduziram-na à uma identificação pessoal com as doutrinas
muçulmanas. O mesmo poderia ser dito das conversões de Aminah e Safiya, pois também
apresentam motivações um tanto semelhantes à de Jamillah. As duas primeiras tomaram
conhecimento do islam através de leituras/estudo e se identificaram com as crenças muçulmanas.
Cobrir-se para agradar a Deus
Segundo Barros (2013, p. 5), aprender a ser muçulmana numa sociedade majoritariamente
cristã, implica na incorporação de um código moral e práticas que são percebidas como exóticas e,
quando está em questão a mulher muçulmana, a “pedra de toque” é o hijab.
Dependendo do contexto no qual é mencionado, o hijab pode ser visto como o véu islâmico.
No entanto, tendo em vista a revelação divina e suas interpretaçãoes, o termo é compreendido, de
fato, como um conjunto de prescrições relativas ao vestuário e comportamento feminino para as
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muçulmanas. Tal conjunto foi exposto em linhas gerais no Alcorão11 e também nos hadiths12 do
Profeta.
Para Ferreira (2013), que estudou a comunidade muçulmana de São Paulo, entre as
muçulmanas o discurso que prevalece é de que o hijab é uma prescrição divina, mas cabendo à
mulher, de forma sábia e levando em consideração o contexto no qual vive, decidir por seu uso. Em
Angola, o discurso apresenta um tom diferente. Para minhas interlocutoras o hijab é um sinal de
conversão – a mulher só é verdadeiramente convertida quando enfrenta as dificuldades e se veste
como o islam determina. Para algumas convertidas a apreciação pelo modo de vestir-se e a noção de
recato islâmicos também contribuíram para a conversão. Jamillah, por exemplo, diz ter se encantado
com esses aspectos quando iniciou seus estudos sobre o islam. Segundo ela, “as angolanas mostram
o corpo e isso é errado. E no islam as mulheres se cobrem, o que agrada a Deus”.
Cobrir-se para a gradar à Deus, portanto, é um ponto essencial para as convertidas. Aminah
relatou que sua decisão em ser microempresária aconteceu porque não conseguiu trabalho como
paramédica em hospitais de Luanda. Quando se candidatou há várias ofertas de emprego, foi
questionada e criticada sobre suas vestimentas. Aminah desabafou.
Acho uma grande hipocrisia as pessoas me pedirem para tirar o hijab no hospital.
Aqui em Angola as enfermeiras usam toucas para cobrir os cabelos. Então, por que
eu não posso continuar cobrindo minha cabeça e meu corpo? Uma vez uma médica
me perguntou porque as muçulmanas usam véu e eu lhe disse que nos vestimos
como rezamos.
Lutando contra estereótipos e buscando empoderamento através do conhecimento
Partindo do pressuposto de que a conversão religiosa ao islam entre as angolanas é um
processo de mudança que envolve a rejeição à uma tradição religiosa cristã e a reconfiguração da
identidade, o fenômeno, então, envolveria formas de negociação do pertencimento em dois
sentidos: junto aos grupos nos quais a pessoa foi socializada e junto à ummah.
11 “Dize às crentes que recatem os seus olhares, conservem os seus pudores e não mostrem os seus atrativos, além dos
que (normalmente) aparecem; que cubram o colo com seus véus e não mostrem os seus atrativos, a não ser aos seus
esposos, seus pais, seus sogros, seus filhos, seus enteados, seus irmãos, seus sobrinhos, às mulheres suas servas, seus
criados isentos das necessidades sexuais, ou às crianças que não discernem a nudez das mulheres; que não agitem os
seus pés, para que não chamem a atenção sobre seus atrativos ocultos. Ó crentes, voltai-vos todos, arrependidos, a
Allah, a fim de que vos salveis! ” (Alcorão 24:315). 12 Hadith: é a narração (fidedigna) transmitida do que o Profeta Muhammad disse, fez ou aprovou. Fonte:
http://islamicbulletin.org/portuguese/portuguese.htm#a15. Acesso em 8 ago. 2015.
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Segundo Woodward (2014, p. 9-10), a identidade é marcada pela diferença e se sustenta na
exclusão. Quanto à diferença, é estabelecida por uma marcação simbólica relativamente a outras
identidades. Entre minhas interlocutoras, a marcação simbólica se dá através do vestuário, o que faz
com que se sintam diferentes das demais mulheres. No que concerne à moralidade, criticam os
contextos nos quais foram socializadas, pois os consideram muito permissivos - excessiva liberdade
sexual, a mulher vista como objeto sexual dos homens, entre outras questões.
Por outro lado, devido às representações negativas do islam comuns na sociedade angolana,
as muçulmanas que fazem uso do hijab e, mais ainda, do niqab13, são vistas como mulheres
oprimidas, submissas, sem vontade própria e sem gerenciamento sobre suas vidas. Mas, quem é o
agente da opressão? Aminah, como consta em seu relato, foi persuadida a não se vestir conforme
suas crenças para poder trabalhar. Málika afirmou que tanto a conversão como o uso do hijab foram
decisões próprias. De fato, quando os direitos de escolha e pertencimento não são respeitados pela
sociedade, as muçulmanas sentem-se oprimidas.
Segundo Aminah, a busca por conhecimento é o único caminho para o empoderamento da
mulher muçulmana na sociedade angolana e na comunidade muçulmanas. Ela fornece um exemplo
de sua própria história de vida, relatando que seu marido apenas lembrava de seus deveres, alguns
que não considerava justos. Então, “como tinha medo de cometer algum erro dentro da religião,
comecei a estudar os livros que ele estudava, passei a ler o Alcorão e procurar informações com as
irmãs e aprendi que, além dos deveres, temos muitos direitos que Allah nos concedeu: divórcio, ser
sustentada, trabalhar, estudar, usar o dinheiro da maneira que quiser e muitos outros”. Aminah, que
também promove atividades para as muçulmanas em diversas mesquitas e centros islâmicos na
província de Luanda, não concorda com vertentes islâmicas que conferem um estatuto desigual à
mulher e condena o wahabismo14, afirmando que, infelizmente, alguns muçulmanos angolanos são
influenciados por essa corrente de interpretação e que deve só poderá ser desmistificada/ combatida
pelo conhecimento da religião.
Considerações finais
13 Niqab: véu que cobre toda a cabeça, rosto, pescoço, colo e seios e é acompanhado de vestes longas e soltas,
preferencialmente de cores sóbrias, sendo a cor preta a mais utilizada. Fonte:
https://amulhereoislam.wordpress.com/2010/08/24/roupas-islamicas/. Acesso em 28 jun. 2017. 14 Wahabismo: corrente de interpretação do islam que surgiu a partir da pregação de Muhammad Ibn ‘Abd al-Wahab
(1703-1792) na Península Arábica. Prega uma abordagem literal dos textos sagrados e um controle estrito da vida
social, impondo códigos severos de vestimenta, uma estrita segregação dos sexos e a obrigatoriedade das práticas
religiosas coletivas. No século XX, financiado por recursos sauditas, tornou-se uma corrente religiosa importante na
ummah (PINTO, 2010, p. 133-135).
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Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Minhas experiências com Aminah, Málika, Safiya, Jamila e outras mulheres angolanas
convertidas ao islam que não foram citadas, levam-me a crer que estão em busca da felicidade nesta
vida e no além-túmulo. No último caso, precisam ser submissas a Deus para alcançá-la. No
primeiro, quando encontram o amor de um homem religioso e a segurança para si e a descendência.
Assim, através do islam, buscam os denominados “valores tradicionais”: casamento heterogâmico,
família, um marido provedor (embora, em vários casos, optem por trabalhar fora do lar) e parceiro
na educação dos filhos e filhas. São vidas que foram reordenadas, reconfiguradas e, até mesmo,
reconstruídas após a conversão por conta de serem agentes nesse processo num contexto onde o
islam é visto negativamente.
Como disse Geertz (2004, p. 17), a fé individual ou coletiva é sustentada por “formas
simbólicas e arranjos sociais” e quando os “homens de sensibilidade religiosa” veem o maquinário
da fé entrar em desgaste e as tradições falharem, podem fazer todo tipo de coisa, incluindo a adoção
de um “credo importado”, como o islam.
As interlocutoras afirmam que suas antigas religiões não respondiam às suas necessidades e
que suas “sensibilidades religiosas” (parafraseando Geertz) rejeitavam a perda dos valores morais
que a sociedade angolana vivencia a partir da modernização e também como resultado das décadas
de conflitos armados. Procuraram, por tanto, no islam, a satisfação de suas necessidades religiosas e
emocionais e que são proporcionadas pela adoração e pelo casamento.
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Women and Conversion to Islam in Luanda (Angola)
Abstract: The communication is part of the doctoral research in which it is intended to construct an
ethnography of the conversions of women to Islam in the province of Luanda (Angola). From the
understanding that religious conversion is not a religious event, but a cultural, procedural change,
which implies learning / internalizing another world perspective and the sacred, it is intended to
understand why women choose for Islam, since Angolan media reproduce negative images about
religion and that Muslim leaderships have not yet obtained legal recognition, a criterion for a
religious confession to be legal in the country. The hypothesis defended is that when women
convert to Islam, a religion apparently distant from the Angolan / Lusophone cultural matrix, they
occupy a position between two worlds, having difficulties to be seen and accepted as Angolan,
especially when adopting practices of modesty such as the use of hijab. The results have shown that
the converts struggle against stereotypes and, in many cases, experience situations of conflict in the
family or work. Some converts seek to reconcile their realities with the native ideas about the
"Muslim woman", managing their daily lives from interpretations of the canonical texts that give
them greater empowerment.
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
Keywords: Religious Conversion, Islam, Angola, Muslim Women Converts.