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MULHERES NA HISTÓRIA
Mulheres no Século das Luzes
Mulheres na Revolução
Mulheres na Sociedade Industrial e Burguesa
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
MULHERES NO SÉCULO DAS LUZES
“O belíssimo género feminino”
Francisco Xavier de Oliveira (Cavaleiro de Oliveira), 1737
Retrato de D. Constança de Portugal da Gama, mãe do 1º conde de Rio-Maior,3º quartel do século XVIII
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
O século da controvérsia
Aspetos a ter em conta na hora de escolher esposa…
“Antes néscia do que engenhosa […] porque a néscia com o tempo se faz avisada e a engenhosa com o tempo se faz insolente”
Diogo Guerreiro Camacho de Aboim, magistrado e escritor,
Escola Moral, Política, Cristã e Jurídica, obra publicada em
1733
“Parecerá paradoxo a estes Catões portugueses ouvir dizer que as mulheres devem estudar […]. A diferença de sexo não tem parentesco com a diferença de entendimento”
Luís António Verney, Verdadeiro Método de Estudar, 1745
Retrato de Sir Robert and Lady Buxton, por Henry Walton, c. 1786
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
O impacto das mulheres notáveis
Laura Bassi (1711-1778)
Maria Gaetana Agnesi (1718 -1799)
“Filão precioso, Inesgotável, […] alto saber”
Francesco Algarotti, Rimas para o famoso doutoramento e a
aclamadíssima agregação ao colégio filosófico da ilustríssima
e excelentíssima Menina Laura Maria Catterina Bassi, 1732
“Este trabalho é caracterizado pela organização cuidadosa, pela clareza e precisão […] consideramo-lo o mais completo e o mais bem escrito Tratado do seu género”
Do Relatório do Comité da Academia das Ciências de Paris que
apreciou o 2º volume da obra, em 1749
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
O paradigma
“As portuguesas são bastante amáveis, espirituosas e vivas. Não são tidas como ariscas, mas poucas ocasiões se lhes oferecem para o provarem, porque quer os pais quer os maridos ou mesmo os irmãos são invulgarmente zelosos, exercendo sobre elas uma fiscalização aturada. De casa só saem para ir à igreja ou para fazer visitas. Tive ensejo de ver algumas que me pareceram muito bonitas.”
César de Saussure ( 1705-1783)
Retrato de dama portuguesa desconhecida, talvez a filha do 1º marquês de Castelo-Melhor
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosa
Mulheres no círculo das Luzes
Émilie de Breteuil, marquesa de Châtelet, retratada por Quentin de La Tour
“Tu chamas-me, vasto e poderoso génio,Minerva de França, imortal Émilie,Acordo ao som da tua voz, caminho na tua Luz,Nos passos das tuas virtudes e da verdade […]”
Primeiros versos do poema que Voltaire dedicou à
Marquesa de Châtelet e fez imprimir no rosto de
“Elementos da Filosofia de Newton”, que publicou entre
1738 e 1742
“Émilie du Chatelet foi um grande homem, cujo único defeito era o ser mulher”
Voltaire
“Uma mulher que […] orienta controvérsias eruditas sobre a mecânica (celeste) como o faz a marquesa de Chatelet merecia bem ter barba”
Immanuel Kant
Em Patricia Fara, “Recensão crítica sobre a obra”
Passionate Minds, The Great Enlightenment Love Affair”,
de David Bodanis, publicada em The Guardian, 2006
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Leonor de Almeida Portugal, 4º marquesa de Alorna. “Alcipe”
“O espaço da nossa vida é tão curto, a Astronomia é tão extensa. Quando é que conseguirei ser geómetra bastante para aprofundar todas essas leis de movimento, calcular as forças que sustêm e dirigem esses corpos imensos de que o espaço se preenche e eu me apercebo? Quando poderei saber medir as suas distâncias ou as suas trajetórias?”
Em Maria Teresa Horta, As Luzes de Leonor, D. Quixote, 2011
“Madame d’Oeynhausen jantou hoje connosco: éramos vinte à mesa e ela a única Portuguesa rodeada de franceses empenhados em agradar-lhe, em escutá-la. Ela elevou-se ao tom da poesia e deu-nos um grande prazer ao improvisar numa língua que não é a sua. Recitou-nos versos de uma grande beleza. É uma mulher que sem contradição possui uma imaginação muito viva e muito brilhante; não a julgo dotada de igual bom senso.”
Diário do embaixador francês em Portugal, marquês de Bombelles,
19 de março de 1788
Mulheres no círculo das Luzes
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
“[…] Precisais de frequentar a casa de Madame…, às quartas-feiras, onde encontrareis…” ”Mas não quero vê-los socialmente, não poderei conversar com eles no seu gabinete?” “No seu gabinete?, admirou-se, […] É nas casas que podemos encontrá-los; é aí que se disserta, que o espírito desabrocha; numas reinam os gracejos, noutras a seriedade, aqui endeusa-se Fontenelle, ali Montesquieu, acolá Voltaire […]”.
Carta de um dinamarquês em visita por Paris, publicada no jornal
“Mercúrio Dinamarquês”, em outubro de 1757
Marie-Thérèse Rodet Geoffrin (1699-1777), retratada por Jean-Marc Nattier
A partir de: Lourdes Leitão-Bandeira, Salões Culturais Abertos por
Figuras Femininas, DisLivro, 2006
Mulheres no círculo das Luzes: os salões
SALÕES CULTURAIS (Do fim do século XVII ao início do século XIX)
Salões abertos por figuras femininas
Salões abertos por figuras masculinas
FRANÇA 39
2
RESTO DA EUROPA 28
EUA E BRASIL 3
TOTAL 70 2
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
François Boucher, Madame de Pompadour, 1754
“Sinto-me muito triste com a morte de Madame de Pompadour. Sinto uma dívida para com ela e choro-a com gratidão.”
Voltaire, 1764
Mulheres no círculo das Luzes: mecenas
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
MULHERES NA REVOLUÇÃO
Viva a Maria da FonteCom as pistolas na mãoPara matar os CabraisQue são falsos à nação
Refrão
É avante PortuguesesÉ avante não temerPela santa LiberdadeTriunfar ou perecer[…]
Hino da Maria da Fonte
A marcha das mulheres parisienses a Versalhes, gravura anónima de 1789
─ Reivindicando o pão
A “Maria da Fonte”, gravura de 1846
─ Reivindicando o afastamento
dos ministros
Mulheres reivindicativas
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Ros
Mulheres na Revolução
Olympe de Gouges (1748-1793)
─ Reivindicando direitos políticos
“As mães, as filhas, as irmãs, como representantes da Nação, pedem para ser constituídas em Assembleia Nacional […]Art. 1.º A mulher nasce livre e permanece igual ao homem em direitos. […]Art. 6.º A lei deve ser a expressão da vontade geral. Todas as cidadãs e todos os cidadãos devem contribuir pessoalmente ou através dos seus representantes para a sua formação […].”
Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, 1791
Mulheres reivindicativas
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Mulheres na Revolução
“E nós, também, sabemos combater e vencer. Sabemos manejar outras armas para além da agulha e do fuso. Oh Belona, companheira de Marte, seguindo o teu exemplo não deverão todas as mulheres marchar para a frente em igualdade com os homens? Deusa da força e da coragem! Pelo menos as Francesas não te farão corar de vergonha.”
Oração das Amazonas a Belona
Uma francesa revolucionária, gravura de 1792
─ Reivindicando a participação militar
Mulheres reivindicativas
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Mulheres na RevoluçãoMulheres reivindicativas
“Já era republicana há muito tempo?─ Ora essa! Eu fui sempre republicana. Nunca o disse a ninguém, porque, compreende... há quem ache ridículo que as mulheres tenham ideias avançadas...─ E como se resolveu a tomar parte na revolta?─ Da maneira mais simples. Compreendi que era esse o meu dever. Então era justo deixar que os homens se estivessem a bater e a morrer pela causa de todos, enquanto nós nos escondíamos, medrosamente em casa? Para empunhar uma arma, tanto serve um homem como uma mulher. É certo que eu não sabia manejá-la; mas também lá estavam homens nas mesmas condições e que depressa aprendiam. Assim fiz eu. [...].”
Amélia Santos, a heroína da Rotunda, ao jornal
A Capital, 14 de outubro de 1910
Amélia Santos, uma heroína republicana, 1910
─ Reivindicando a participação militar
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Mulheres na RevoluçãoLivres de preconceitos
Louis-Léopold Boilly, O Bilhar, 1807
─ Ousando invadir espaços masculinos
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Mulheres na RevoluçãoMulheres proscritas
“Que o reino da lei suceda à anarquia, que a paz, a união, a fraternidade, faça desaparecer qualquer ideia de fação.”
(Addresse aux Français)
“Eu matei um homem para salvar 100 000.”
Marie Anne Charlotte de Corday d’Armont
(1768-1793), gravura de François-Séraphin
Delpech
─ Loucas, assassinas? Corajosas, heroínas?
A morte do patriota Marat, gravura de 1793
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Mulheres na RevoluçãoMulheres proscritas
Elisabeth Vigée-Lebrun, Retrato de Maria Antonieta
com uma rosa, 1783
─ Frívolas, diabólicas? Incompreendidas? Bodes expiatórios?
A rainha, “avestruz austríaca”, c. 1791
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Mulheres na Sociedade Industrial e Burguesa As que saem do lar
Serviço doméstico na Grã-Bretanha, 1886
“Até ao fim do século XIX, quase todos entendem o salário feminino como um salário de «trocos»: pois não é ao homem que compete alimentar a «sua» família? E, caso a mulher viva sozinha, tem ela as mesmas necessidades do homem? A sua natureza mais delicada exige menos alimento; e, também, não tem necessidade de fumar”
Madeleine Rebérioux, Misérable et glorieuse, la
femme du XIXe siècle
Mulheres na fábrica têxtil, França, início do século XX
Empregadas domésticas 905 000
Costureiras 340 000
Operárias têxteis do algodão 272 000
Trabalhadoras rurais 227 000
Lavadeiras 145 000
Operárias têxteis de lã 113 000
Empregos femininos na Grã-Bretanha, 1851, emIndustrial Britain, Cambridge University Press
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Mulheres na sociedade industrial e burguesa
As que saem do lar
“As recordações mais longínquas respeitam à minha vida de jovem professora, de 1909 a 1912, numa escola mista de aldeia, a 15 km da estação, numa casa isolada, quase sem mobília, sem água, gás, eletricidade ou telefone. […] O meu pai arranjou-me um cão e eu comprei um revólver com que inspecionava a casa todas as noites, da cave ao sótão. […] “
Testemunho citado por J. e M. Ozouf,
La République des instituteurs
Professora primária e alunos, c. 1900
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Mulheres na Sociedade Industrial e Burguesa
As que saem do lar
“Não tínhamos dinheiro, não tínhamos laboratório, não tínhamos ajuda para levar a cabo essa importante e difícil tarefa. Era como criar alguma coisa a partir do nada. […] Posso dizer sem exagero que esse período foi, para o meu marido e para mim, o período heroico da nossa vida em comum […]. E, no entanto, foi nesse alpendre velho e miserável que vivemos os melhores e mais felizes anos da nossa vida, inteiramente consagrados ao trabalho. Por vezes, passava todo o dia a mexer uma massa em ebulição com uma vara de ferro tão grande como eu. No fim do dia, estava quebrada de cansaço. “
Testemunho de Marie Curie, citado por sua filha Eva,
em Madame Curie, biografia publicada em 1937
Participantes na Primeira Conferência de Solvay, em 1911
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas
Mulheres na Sociedade Industrial e Burguesa
As que “reinam” no lar
“Acho que quando nos casamos é para ter filhos. […] Verá como é doce ocuparmo-nos das nossas crianças e espero de todo o meu coração que esta ocupação lhe chegará brevemente […], porque ter filhos é na verdade a maior felicidade que pode acontecer a uma jovem mulher. Quando se ama o nosso marido, deseja-se e gosta-se de os ter.”
Em Cartas de D. Maria à rainha Vitória
(1840)
E. Degas, A família Bellelli, 1858-67
F. X. Winterhalter, A rainha Vitória com o marido e
cinco filhos, 1846
D. Maria II (1819-1853), retrato de autor desconhecido
Permitir a frequência do ensino secundário “não se trata de desviar as mulheres da sua verdadeira educação, que é a de cuidar dos seus lares e criar os seus filhos, nem de transformá-las em sábias, em petulantes, em fanfarronas. Trata-se de cultivar os felizes predicados com que a natureza as dotou para […] trabalhar em conjunto para a educação dos filhos.“
Proposta de lei apresentada, em França, pelo
deputado Camille Sée, aprovada em 1880
"A sociedade admite apenas as mulheres que renunciam a toda a aspiração de realização social: no lar, como esposa e mãe, é digna de todo o respeito e o modelo será protagonizado nas páginas literárias."
Stéphane Michaud, em História das
Mulheres, vol. 4
Um novo Tempo da História, 11º ano, Célia Pinto do Couto e Maria Antónia Monterroso Rosas